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Capítulo
2A Motivação Segundo as Perspectivas Histórica
e Contemporânea
AS ORIGENS FILOSÓFICAS DOS CONCEITOS
MOTIV ACIONAISA VONTADE: A PRIMEIRA GRANDE TEORIA
I NSTINTO: A SEGU NDA GRANDE TEORIA
IMPULSO: A TERCEIR A GRANDE TEORIA
A Teor ia do Impulso de Freud
A Teoria do Impulso Segundo RuI!
O Declínio da Teor ia do Impulso
Os Anos Poster ior es à Teoria do Impulso
A Natureza Ativa da PessoaA R evolução Cognitiva
A Pesquisa Aplicada e de R elevância Social
A ERA CONTEMPOR Â NEA DAS MI NITEORIAS
O Retorno dos Estudos dâ Motivação nos anos 1990
CONCLUSÃO
RESUMO
LEITUR AS PAR A ESTUDOS ADICIO NAIS
Talvez você já tenha visto o f ilme De V olt a para o Futur o, estr e-lado por Michael J. Fax. O protagonista dessa história pilota umcarro que funciona como uma máquina do tempo capaz de trans- portar seus passageiros de volta à década de 1950. Se pegássemosuma carona nesse carr o, poderíamos deixar Michael 1.Fax andandode sk ate nas ruas de sua cidade e vivendo sua aventur a, enquantovisitaríamos uma univer sidade local para ver como er am os cur sos
sobre motivação dados no ensino superior daquela época.Além das meias soquete e dos cortes de cabelo engr açados
das estudantes, o que nos chamaria a atenção em um cur souniversitário sobre esse assunto seria a falta de um livro-texto.O primeiro livro-texto sobr e motivação veio surgir apenas em
1964 (Cofer & Appley, 1964). Outro item a nos chamar a atençãoseria a ementa da disciplina. A folha rnimeograf ada da ementamencionaria tópicos como a teoria do impulso, o incentivo e oreforço, impulsos adquiridos, conflito e emoção. Mas, por maisque procurássemos na ementa, não encontr aríamos nada de real-mente inter essante sobre como aplicar a motivação - não haverianada so bre motivação nas escolas, na psicologia espor tiva, notrabalho, no tr atamento da obesidade e na aplicação de dietas,nas crenças de controle pessoal, e assÍn! por diante. Entretanto, ocurso provavelmente incluiria conceitos psicanalíticos e de auto-atualização - com uma semana de estudos dedicada a Fr eud eoutra a Maslow. Também haveria uma semana dedicada a ativi-dades de laboratório. Cada aluno ficaria com um rato, no qual
estudaria efeitos de mani pulações, como, por exemplo, a influ-ência que um período de 24 horas de privaç ão de alimento exer -
ceria sobr e a velocidade da cobaia ao corr er para uma caixa cheiade sementes de girassol. E, a pós entrar novamente na máquina dotempo de De Lor ean e r etomar ao presente, você pr ovavelmenteconcordar ia em que o estudo da motivação mudou e se a perfei-çoou mais ainda do que os cortes de cabelo e a moda.
AS ORIGENS FILOSÓFICAS DOSCONCEITOS MOTIV ACIONAIS
E se nossa tecnologia de ficção científica fizesse você voltar 100anos no tempo, você simplesmente não encontr aria nenhum cur sode motivação, uma vez que esses cur sos (e também o próprio
campo da motivação) têm uma história recente - de menos deum século.As r aízes do estudo da motivação devem suas origens aos
antigos gregos - Sócrates, Platão e Aristóteles. Platão (que foidiscí pulo de Sócrates) propôs que a motivação surgia de umaalma (ou mente, ou psique) disposta segundo uma hierarquiatripartida. No nível mais primitivo, encontrava-se o as pecto doapetite da alma, que contribuía par a os apetites corporais e osdesejos, tais como a fome e o sexo. No segundo nível, situava-se o aspecto competitivo, que contribuía para os padrões social-mente r eferenciados, como a sensação de honra e de vergonha.
No nível mais elevado estava o aspecto calculista, que contribuía para as capacidades de tomada de decisão, tais como a razão e
a escolhá. Para Platão, esses três aspectos diferentes da almamotivavam diferentes domínios de comportamento. Além disso,
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cada aspecto su perior tinha a capacidade de r egular os motivosdos aspectos inferiores ( p. ex., a razão poderia controlar o a petitecorporal). É interessante notar que a descrição que Platão f ez damotivação antecipou bastante bem a psicodinâmica de Sigmund
Freud(p. ex., veja o Livro IX de Platão, pp. 280-281): de maneir asim plificada, o aspecto a petitivo de Platão corresponde ao id deFreud, o aspecto competitivo, ao su perego, e o as pecto calculista,
ao ego (Erdelyi, 1985).Aristóteles endossou a idéia da alma tripartida e hierarquica-
mente organizada de Platão (apetitiva, competitiva e calculista),embora preferisse utilizar uma terminologia difer ente (nutritiva,sensível e racional). O aspecto nutritivo era o mais impulsivo,ir racional e animalesco, que contribuía par a as necessidadescor por ais urgentes r elacionadas à manutenção da vida. O as pectosensível também se relacionava com o corpo, mas regulava o
prazer e a dor . Já o componente racional da alma era único aosseres humanos, uma vez que se relacionava com as idéias e o
intelecto, car acterizando a vontade. A vontade funcionava comoonívelmais elevado da alma, que se valia da intenção, da escolhae do que é divino e imortal.
Séculos depois, a psique tri par tida dos gregos reduziu-se a umdualismo - as paixões do corpo e a r azão da mente. Essa almade duas partes conser vou a natureza hier árquica dos gregos, jáq ue fazia a distinção principal entre o que era f ísico, irracional,impulsivo e biológico (o corpo) e o que er a imaterial, r acional,inteligente e espiritual (a mente). O ímpeto por tr ás dessa r ein-terpr etação deveu-se principalmente ao compromisso intelectualda época com as dicotomias motivacionais, tais como paixãocontra razão, o bem contra o mal, e natureza animal contra almahumana. Por exemplo, Tomás de Aquino sugeriu q ue o corpo
fornecia os impulsos motivacionais irracionais e baseados no prazer, ao passo que a mente era a res ponsável pelas motivaçõesracionais e baseadas na vontade.
Na era pós-renascentista, o filósof o fr ancês R ené Descartes prestou uma nova contribuição a esse dualismo entre mente ecorpo, fazendo uma distinção entre os aspectos passivo e ativoda motivação. O corpo era um agente mecânico, semelhante auma máquina, e motivacionalmente passivo, enq uanto a vontadeera um agente imaterial, espiritual e motivacionalmente ativo.Como uma entidade física, o corpo possuía necessidades denutr ição e respondia ao ambiente de maneira mecânica, atr avésde seus sentidos, seus reflexos e sua fisiologia. Por outro lado,a mente er a uma entidade pensante e es piritual, possuidor a de
uma vontade dotada de um propósito. A mente controlaria ocorpo; o es pírito governaria os desejos corpor ais. Essa distinçãoera muito importante, uma vez que ditou as regr as para o estudo
da motivação durante os 300 anos seguintes: o que er a preciso para compreender os motivos passivos e reativos era uma análisemecânica do corpo (p. ex., o estudo da fisiologia); e o que er a
preciso para entender os motivos ativos e intencionais era umaanálise intelectual da vontade (p. ex., o estudo da filosofia).
A VONTADE: A PRIMEIRA GRANDETEORIA
Para Descartes, a principal força motivacional era a vontade.
Descartes pensava que, se houvesse condições de entender a
vontade, seria possível compreender a motivação. Segundo ele, avontade inicia e direciona a ação; ca be a ela decidir se e quandoagir . Já as necessidades corporais, as paixões, os prazeres e asdores criam impulsos à ação, mas esses impulsos só excitam a
vontade. A vontade é uma faculdade (ou poder ) que a mente,agindo no interesse da vir tude e da salvação e exercendo seu
poder de escolha, tem para controlar os a petites corpor ais eas paixões. Ao atribuir os poderes exclusivos da motivaçãoà vontade, Descartes proporcionou à motivação sua pr imeir agr ande teoria.
A ex pressão "gr ande teoria" ser á utilizada aqui e ao longo detodo este ca pítulo com o propósito de conotar uma teor ia quetudo engloba, ou se ja, um modelo ger al que pr ocur a expli~ar todo o es pectro da ação motivada - por que nos alimentamos, bebemos, trabalhamos, competimos, tememos certas cois(is,lemos, nos apaixonamos, e assim por diante. A afirmativa ;deque "a vontade motiva todas as ações" é uma gr ande teoria da
motivação, da mesma maneir a que "o amor ao dinheiro é a raiz detodos os males" é uma gr ande teoria do mal. Ambas identificamuma causa única, que tudo a br ange e que ex plica plenamente umfenômeno (toda a motivação, todos os males).
A es per ança de Descartes er a que, uma ve z entendida avontade, inevitavelmente também se compr eenderia a motivação.Portanto, a compreensão da motivação reduziu-se e tornou-sesinônimo de compr eensão da vontade. E em decorrência disso,os filósofos empenharam enorme energia no esf orço de com pr e-ender a vontade. Fizeram-se alguns progressos, tais como a iden-tif icação dos atos de vontade como sendo escolhas (ou seja, adecisão sobre se se deve agir ou não; Rand, 1964), esforços(ou seja, a criação de impulsos par a agir; Ruckmick , 1936) er esistências (ou seja, a a bnegação ou a r esistência à tentação).Entretanto, no fim de tudo isso, dois séculos de análises filosó-ficas produziram resultados desapontadores. A vontade mostrou-se uma f aculdade mental malcompr eendida, que de algumamaneira surgia de um amontoado de capacidades inatas, sensa-ções ambientais, experiências de vida e reflexões sobre si pr ó priae suas idéias. Além disso, uma vez sur gida a vontade, de algumamaneir a ela se contemplava de intenções e propósitos. E tambémse constatava que algumas pessoas demonstr avam ter maior f or çade vontade do que outras.
Par a resumir essa longa história, os f ilósofos constatar am quea vontade é algo tão mister ioso e difícil d e ex plicar quanto amotivação que supostamente ela ger a. Esses pensador es nadadescobrir am da natureza da vontade, nem das leis pelas quaisela oper ava. Essencialmente, foi como se os filósofos estivessemf a bricando mais obstáculos para si própr ios, multiplicando o problema que eles estavam tentando resolver . Ao utilizar avontade, eles agor a tinham que explicar não só a motivação,mas também o agente motivador - ou seja, a vontade. Comose pode ver, o problema simplesmente duplicou. Por essa razão,os pesquisadores envolvidos com a nova ciência da psicologia,que surgiu nos anos 1870 (Schultz, 1987), viram-se em busca deum princípio motivacional menos misterioso. E de fato encon-
traram um, não dentro da filosofia, mas dentro da fisiologia - oinstinto.
Porém, -antes de deixarmos a discussão histórica da vontade,consideremos que os psicólogos contemporâneos reconhecem
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que a mente (a vontade) com efeito pensa, plane ja e f or ma inten-
ções que pr ecedem a ação. Mas, se não é a vontade que está pr oduzindo o pensamento e o planejamento, de onde então essesdois pr ovêm? Em outras palavr as, como as pessoas r esistem à
tentação (Mischel, 1996), mantêm seu esfor ço (Lock e &Krístof ,1996), exer citam o autocontrole (Mischel & Mischel, 1983),
controlam seu pensamento (Wegner, 1994), formam inten-ções de agir (Gollwitzer, 1993) e concentram sua atenção nataref a que têm à mão (R and, 1964)? Considere duas ex plica-ções. Primeiro, o bserve como as crianças conseguem concen-tr ar a força de vontade de que necessitam par a r etardar a grati-
f icação e resistir a uma tentação (Mischel, Shoda &R odriguez,1989; Patterson & Mischel, 1976). Em um experimento, umacriança da pr é-escola está sozinha sentada a uma mesa so bre aqual há um doce tentador . O pesquisador propõe então à criançauma escolha - um doce agor a ou dois doces se ela conseguir
es per ar 20 minutos. Em vez de invocarem a for ça de vontade (ouseja, a abnegação, a deter minação severa de algo), os pesquisa-dores constatar am que o meio pelo qual as crianças conseguir amresistir à tentação e r etar daram sua gratificação foi conver tendo aes per a frustrante em algo mais toler ável e divertido ( p. ex., brin-
cando ·com um jogo, cantando ou mesmo tir ando um cochilo).As crianças que usar am essas estratégias resistiram à tentação,enquanto as que não usar am tais estr atégias agir am impulsiva-mente (comer am logo o doce que estava dis ponível). Em outroexemplo, univer sitários f izer am um teste, enquanto pesquisadorestentavam pr edizer quão bem ou mal eles se sairiam (Locke &Kristof , 1996). Os pesquisador es registrar am o objetivo de cadaestudante (a nota que pr etendiam tir ar ) e os métodos de estudo.
Os estudantes que tinham planos claros e métodos eficazes deestudo tiver am bom desempenho, enquanto os estudantes quenão tinham objetivos e possuíam métodos de estudo su per f iciaistiveram mau desempenho. Portanto, objetivos e estratégias, e não
a força de vontade pessoal, produzir am um desempenho ef icaz.Logo, no estudo contemporâneo da motivação, os pesquisador esdeixaram de lado os modelos ger ais da motivação como "for ça devontade", especificando, em vez disso, os processos psicológicosque eles podem mais r a pidamente r elacionar ao compor tamentodas pessoas. Ou se ja, os pesquisadores estudam os pr ocessosmentais mensuráveis, tais como planos, metas e estratégias,em vez dessa coisa mister iosa chamada vontade (Gollwitzer &Bar gh, 1996).
O determinismo biológico de Charles Darwin exerceu dois pr incipais efeitos no pensamento científico. Em primeiro lugar ,forneceu à biologia sua mais importante idéia (a evolução). E,ao fazê-Io, o determinismo biológico fez com que os cientistasse afastassem dos conceitos motivacionais mentalísticos ( p. ex.,a vontade), passando a se aproximar dos conceitos mecanicistase genéticos. Em segundo, o detennínismo biológico de Darwinacabou com o dualismo homem-animal que dominava os estudosmotivacionais anter iores. Em vez disso, ele introduziu questõestais como a maneir a como os animais utilizam seus r ecur sos (ou
seja, a motivação) par a se adaptar às demandas mais importantesde um dado ambiente. Para os f ilósofos anteriores, a vontade
er a um poder mental exclusivamente humano, e a que br a dadistinção entr e motivação humana e motivação animal foi aindamais uma r azão par a que a vontade deixasse de constituir uma
gr ande ex plicação do comportamento motivado.
Par a Darwin, muito do compor tamento animal parecia ser 'algo não-aprendido, automatizado e mecanicista (Darwin, 1859,'.1872). Com ou sem ex periência, os animais se adaptam a seus f
ambientes principais: os pássaros constr oem ninhos, as galinhas
chocam seus ovos, os cães caçam coelhos, e os coelhos fogemdos cães. Para ex plicar esse comportamento ada ptativo apar en-temente predeterminado, Darwin propôs o instinto.
O feito de Darwin foi q ue seu conceito motivacional tinha.condições de ex plicar o que a vontade dos filósofos nãoconse-guia - ou seja, de onde a força motivacional prov~in em pr imeiro lugar . Os instintos surgem de uma substância física;
de uma dotação genética. Os instintos são f isicamente reais: ele~existem nos genes. Os animais têm dentr o de si uma substância 1
material que os f az agir segundo uma maneira es pecífica. Com .
isso, o estudo da motivação deixou o campo da filosofia e entrouno campo das ciências natur ais.
Dada a pr esença do estímulo a pr opriado, os instintos
expr essam-se por meio de reflexos corpor ais herdados - o pássaro constr ói o ninho, a galinha choca os ovos e o cachorrocaça, tudo isso porque cada um deles tem um impulso gene-ticamente dotado e biologicamente excitado par a f azer isso.Essencialmente, os pensador es motivacionais do século XIX 1
retir ar am a por ção inanimada do dualismo filosófico (ou seja,a alma racional) e mantiver am o que restou - os ím petos, osimpulsos e os a petites biológicos.
O primeiro psicólogo a po pular izar a teor ia instintiva da moti-vação foi William James (1890). James baseou-se bastante noclima intelectual criado por Darwin e seus contemporâneos par aatr ibuir aos seres humanos a dotação de um grande númer o de
instintos f ísicos (p. ex., o ato de sugar , a locomoção) e mentais(p. ex., a imitação, o br incar , a sociabilidade). Tudo o que er a
preciso par a traduzir os instintos em um com por tamento dir e-cionado par a uma meta (ou seja, motivado) era a pr esença deum estímulo apr o priado. Os gatos caçam ratos, fogem de cães eevitam o fogo sim plesmente por que biologicamente eles devemfazer isso (ou seja, por que um r ato traz ao gato o instinto decaça, o cão lhe traz o instinto de f uga, e as chamas lhe trazemo instinto de proteção). Ou seja, a visão de um rato (ou de um
cachorro, ou das chamas) ativa no gato um con junto complexode reflexos herdados que ger a impulsos par a ações es pecíf icas( p. ex., caçar , corr er). Por meio do instinto, os animais herdamuma natureza dotada de impulsos para agir e os ref lexos neces-sários par a produzir essa ação intencional.
A afeição, ou mesmo compromisso dos psicólogos por essagrande teoria da motivação cresceu rapidamente. Uma ger açãodepois de James, William McDougall (1908, 1926) pr o pôs umateoria do instinto que incluía os instintos de exploração, de luta,
de proteção materna das crias, e assim por diante. McDougallconsiderava os instintos como sendo f or ças motivacionaisir racionais e impulsivas, que orientavam a pessoa em dir eçãoa uma determinada meta. É o instinto que "f az seu possuidor
perceber e atentar par a os objetos de uma certa classe, ex pe-rimentar uma excitação emocional de uma determinada quali-
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da '.Ida
na'
dade ao per ce ber esse o b jeto, e agir em relação ao objeto demOdoparticular , ou, pelo menos, ex per imentar um im pulso para
essa ação" (McDougall, 1908, p. 30). Portanto, os instintos (eas emoções a eles associadas) ex plicavam o atributo do dire-
cionamento par a uma meta, algo tão facilmente per ceptível nocomportamento humano. Em muitos as pectos, a doutr ina instin-tiva de McDougall foi par alela às idéias de James. Entr etanto,a grande diferença entr e as duas er a o f ato de que a doutr ina deMcDougall sustentava de maneira um tanto extr ema que, sem osinstintos, os seres humanos seriam inca pazes de iniciar qualquer ação. Sem esses "motor es primários", os seres humanos seriamcomomassas iner tes, corpos sem quaisquer impulsos para a ação.Em outr as palavr as, toda a motivação humana deve sua origema um conjunto de instintos geneticamente dotados (ou seja, uma
grande teoria da motivação).Após os pesquisadores terem adotado o instinto como uma
grande teoria da motivação, a tar efa seguinte foi identificar quantos instintos os seres humanos possuem. Porém, a par tir desseponto, o processo rapidamente saiu de controle. A doutr inado instinto tomou-se irremediavelmente es peculativa, à medidaquedif er entes listas de instintos for am aumentando até f ornecer 6.000ti pos difer entes (Bernar d, 1924; Dunla p, 1919). Na pr áticade compilar as listas de instintos, r einava a pr omiscuidade inte-lectual: "se o indivíduo sai com seus com panheiros, então estásendo ativado pelo 'instinto de manada'; se sai sozinho, o q ueestá em ação é o 'instinto anti-social'; se fica girando os pole-gar es, é o 'instinto de gir ar os polegares'; e se não gira os pole-gar es, é o 'instinto de não gir ar os polegar es'" (Holt, 1931, p.428). O pro blema aq ui é a tendência a conf undir a nomeação com
a ex plicação ( p. ex., dizer que as pessoas são agressivas porq ueelas têm o instinto de serem agressivas). Confundir nomeação eexplicação é algo que nada acrescenta ao entendimento da moti-vação e da emoção.
Além disso, constatou-se q ue a lógica subjacente à teoriainstintiva era cir cular (Kuo, 1921; Tolman, 1923). Considere aex plicação de como o instinto de luta motiva os atos de agressão.A única evidência de que as pessoas possuem o instinto de lutaé o f ato de elas às vezes se com por tar em agr essivamente. Parao teórico, esse é o pior tipo de circularidade: a causa explica ocompor tamento (instinto -"> comportamento), porém o compor -tamento é a evidência de sua pr ó pria causa (com por tamento -">
instinto). O que está f altando aqui é um modo inde pendente
de determinar se o instinto r ealmente existe. Uma maneira dedeterminar isso é cr iar dois animais muito semelhantes ( p. ex.,animais dotados de instintos similar es) de modo a ofer ecer-lhesdiferentes ex periências de vida, para então es per ar até que essesanimais atinjam a fase adulta, e verificar se seus comportamentos
são essencialmente os mesmos. Se os instintos dirigem o compor-tamento, então dois animais geneticamente equivalentes devemse comportar essencialmente da mesma maneir a, a des peitodas diferenças entre suas ex periências e suas cir cunstâncias devida. Quando os pesquisador es realizarãm exper imentos dessetipo sobr e o instinto maternal em ratos (Birch, 1956) e sobr e oinstinto de utilização das mãos (destr os ou canhotos) em sereshumanos (Watson, 1924), os ratos e os humanos comportaram-
se de modos que ref letiam suas diferentes ex per iências (em vezde seus instintos similares).
O conceito de instinto sur giu par a pr eencher a lacuna do queé a motivação, e de onde ela provém (Beach, 1955). O romanceda psicologia com a teor ia instintiva começou com uma aceitaçãocalor osa, mas aca bou com uma negação categór ica. IDa mesma
maneira que anter iormente abandonou a vontade, a psicologiatambém abandonou o instinto, e viu-se então em busca de umconceito motivacional substituto que ex plicasse a natur eza inten-
cional do compor tamento.
O conceito motivacional que surgiu par a substituir o instinto foio impulso (intr oduzido por Woodworth, 1918). O impulso sur geda biologia funcional, segundo a qual a f unção do comport~-mento está a serviço das necessidades corporais. À medida q ueocor r em os deseq uilíbr ios biológicos ( p. ex., falta de alimento o ude água), os animais ex perimentam esses déficits de necessidade biológica psicologicamente como "impulso". Portanto, o impulsomotiva qualquer comportamento q ue sir va às necessidades d õcor po ( p. ex., comer , be ber , a proximar -se). As duas teor ias doimpulso mais am plamente aceitas foram pr opostas por SigmundFr eud (1915) e Clark Hull (1943).
Fr eud, que estudou fisiologia, acreditava que todo comportamentoé motivado, e que o pr o pósito do com portamento ser ia ser vir àsatisfação de necessidades. Sua visão do sistema nervoso era deque as exigências biológicas ( p. ex., a fome) seriam constante e
inevitavelmente condições recorr entes q ue produzir iam acúmulosener géticos dentr o de um sistema nervoso que f uncionar ia em tomode uma tendência herdada de manter um nível baixo e constantede energia (Freud, 1915). Ao mesmo tem po q ue tentava manter baixo e constante o nível de energia, o sistema nervoso ser ia per pe-tuamente af astado desse o bjetivo pela emer gência e reemergênciadas exigências biológicas. Cada acúmulo de ener gia perturbariaa esta bilidade do sistema ner voso e produzir ia um desconfor to
IA psicologia contempor ânea não mais utiliza o instinto para explicar a com-
plexidade do comportamento humano. Não obstante, a pro posição de que os
animais não-humanos a pr esentam padr ões de compor tamento consistentes, não-
aprendidos e estereotípicos é uma o bser vação inegável. As a belhas constr oem
células hexagonais, os machos do esgana-gato atacam os peixes de coloraçãover melha, e os pássaros constroem ninhos. Os psicólogos contemporâneos (mas
es pecialmente os e tologistas) admitem que esses atos estereotipados podem ser atribuídos aos instintos nos animais. Como James escr eveu há mais de um século:
"o f ato de que os instintos [...) existem em uma enor me escala no reino animal
é algo que não necessita de q ualquer compr ovação" (1890, p. 383). Ao utilizar o termo "instinto", os etologistas (Eibl-Eibesfeldt, 1989; Lorenz, 1965; Moltz,
1965) f alam agor a de estrutur as neur onais herdadas que não são modificadas pelo am biente durante o desenvolvimento do ser vivo. Essas estrutur as neur onais
her dadas ger am, não padrões ger ais de com por tamento, mas sim f rações par ti-
cular es de comportamentos situacionalmente es pecíficos, r efer entes a " padr ões
f ixos de ação". A mudança de foco do instinto de causa do com por tamento com- plexo par a causa das frações de comportamento (padrões fixos de ação) mostr ou
ser um com promisso teór ico confortável. Por outro lado, mesmo sendo teorica-
mente vanta joso, esse compr omisso nitidamente evidenciou o declínio de mais
uma grande teoria. Uma ex plicação que se vale de f rações de compor tamento
ou f r ações dé motivação sim plesmente não é ca paz de explicar plenamente nem
o comportamento nem a motivação.
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psicológico (ou seja, ansiedade). Se o acúmulo de ener gia cres-cesse excessivamente, poderia mesmo ameaçar a saúde f ísica e psicológica. Portanto, o impulso surgia como um tipo de sinal de
emergência para que se tomasse alguma providência. O comporta-mento continuaria até que o impulso ou a exigência que o motivoufossem satisfeitos. Em outras palavras, o comportamento ser viriaàs necessidades corpor ais, e a ansiedade (impulso) atuaria comoum tipo de intermediário para assegurar que o comportamentoocorresse no tempo certo e conforme o necessário.
Uma maneira de entender a visão freudiana da energia do
sistema nervoso (ou seja, a libido) é por meio da analogia comum sistema hidráulico no qual a energia (em forma de um f luxode água constante) aumenta continuamente. À medida que osimpulsos cor porais continuam a acumular energia, a exigênciaansiosa de descarregar essa energia vai se tomando cada vez maisimperiosa e eficaz (caso contr ário, a água irá transbordar ). Quanto
mais alta for a energia psíquica, maior será o impulso par a agir .O comportamento adaptativo acalma tempor ariamente o impulso,mas o constante acúmulo da energia do sistema ner voso sempr eretoma (ou seja, a afluência de água no sistema nunca termina).
Freud (1915) resumiu sua teoria do impulso como tendoquatro componentes: fonte, ímpeto, propósito e objeto. A f ontedo impulso é um déficit corpor al ( p. ex., a f alta de alimento). Oimpulso é dotado de um ímpeto (for ça) que tem o propósito dasatisfação, a qual é a r emoção ( por meio da satisfação) do déf icitcor poral su bjacente. Para alcançar esse propósito, o indivíduoexperimenta a ansiedade em um nível psicológico, e é essa ansie-dade que motiva a busca comportamental por um objeto ca pazde remover o déf icit corpor al. A satisfação do déficit cor poral
acalma o impulso/ansiedade. Após essa introdução, pode-serepresentar a teor ia f r eudiana do impulso da seguinte maneir a:
Fonte do Ímpeto do Objetivo do Propósito do
Impulso -'> Impulso-'> Impulso -'> Impulso -'>
Déficit Intensidade do Objeto ambiental Satisf ação pela
Corporal desconforto ca paz de satisf azer r emoção do
psicológico o déf icit corporal déf icit corpor al
(ansiedade)
A des peito de sua criatividade, a teoria do impulso de Fr eudse ressentiu de pelo menos tr ês críticas: (1) uma relativa superes-timação da contribuição das forças biológicas par a a motivação
(e, com isso, uma r elativa subestimação de fatores r elacionados àa prendizagem e à experiência); (2) um excesso de conf iança nosdados retirados dos estudos de casos de indivíduos portador es detranstornos (e, com isso, uma falta de confiança nos dados prove-nientes de pesquisas experimentais com amostras representativas);e (3) idéias que não são cientificamente (ou seja, experimental-mente) testáveis (p. ex., como é possível criar um teste empíricosobre o fato de as pessoas possuírem ou não impulso para a agres-sividade?). Por outro lado, nenhuma dessas três críticas se aplica àsegunda grande teoria do impulso, proposta por Clark Hull.
A Teoria do Impulso Segundo Hull
Para Hull (1943, 1952), o impulso é uma fonte de energia agru- pada e composta de todos os déficits/distúrbios experimentadosmomentaneamente pelo corpo. Em outras palavras, as necessi-
dades particular es de alimento, água, sexo, sono, e assim por diante, são conc~ntr adas par a constituír em uma necessidade .
corporal total. Par a Hull, assim como para Fr eud, a motivação (ou
seja, o impulso) tem uma base puramente fisiológica, e a neces-sidade corpor al constitui a f onte última da motivação (tendo-se
com isso uma outr a grande teoria da motivação).A teoria do impulso de Hull tem um aspecto notável que
nenhuma outr a teoria anterior da motivação a pr esentou - ou
seja, a de que a motivação pode ser prevista antes de ocorr er .Tanto com o instinto quanto com a vontade, er a impossível .
dizer a priori quando e se uma pessoa estaria ou não motivada. "Porém, se um animal é privado de alimento, água, sexo ou sono, oimpulso irá inevitavelmente crescer proporcionalmente à dunrção
dessa privação. A motivação é responsável pelas condições ante-
cedentes do ambiente. O impulso é uma função monoton jca-
mente crescente da necessidade corporal total, e esta, por 'sua
vez, é uma função monotonicamente cr escente do número dehoras de privação. O fato de que o impulso pode ser conhecidoa partir das condições ambientais antecedentes mar cou o iníciode um estudo cientí f ico da motivação. Isso foi assim porque, se
conhecermos as condições ambientais que cr iar am a motivação, poderemos manipular (e pr edizer ) os estados motivacionais no
la boratór io. Também é possível explorar os efeitos do estadomotivacional manipulado so bre um gr ande número de resultados( p. ex., desempenho, esfor ço, bem-estar ).
O impulso sur ge de uma ampla faixa de distúrbios cor porais,
que incluem a fome, a sede, o sexo, a dor , a res pir ação, a r egu-lação da temper atura, a micção, o sono, a atividade corpor al, a l
construção de ninhos e o cuidado com os f ilhotes (Hull, 1943, pp. ,59-60). Uma vez sur gido, o impulso energiza o com portamento(Bolles, 1975). Porém, embora energize o comportamento, o ;
impulso não o dir eciona. É o há bito, e não o impulso, q ue dir e-ciona o comportamento. Como um contempor âneo disse: "Oimpulso é um energizador , não um guia" (He bb, 1955, p. 249). Oshábitos que guiam o comportamento provêm da a prendizagem,e a aprendizagem ocorr e como conseqüência do refor ço. As pesquisas de Hulllevar am-no a demonstr ar que, se uma r es posta
é seguida rapidamente de uma r edução no impulso, ocor re umaa prendizagem e, com isso, o há bito é r efor çado. Qualquer r es postaque diminua o impulso ( p. ex., comer , beber , copular ) pr oduz umreforço, e o animal a pr ende qual res posta pr oduz a redução de um
impulso nessa situação particular . Para mostr ar como o há bito eo impulso (ou seja, a a pr endizagem e a motivação) produzem ocomportamento, Hull (1943) ela borou a seguinte fórmula:
A variável sEr é a intensidade do comportamento (E significa" potencial excitatório") na presença de um determinado estímulo.
fir é a força do há bito (ou seja, a probabilidade de ocor rênciade uma resposta r edutor a do impulso diante de um determinadoestímulo). D é o impulso (drive).2 Os aspectos observáveis do
20S subscçtos s e r signif icam stimulus e r es ponse ["estímulo" e "r es posta"], e
informamllue ji,r ef er e-se a uma determinada res posta na pr esença de um deter -
minado estímulo. De modo semelhante, os subscritos associados a sE , r ef erem-se
à "energia" potencial da res posta na presença desse estímulo es pecífico.
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comportamento - correr , per sistir etc. - são representados
põr p,. As variáveis /f , e D referem-se às causas subjacentes
e inobserváveis do comportamento. O sinal de multiplicação é
importante no sentido de que o comportamento só ocorre quando
o hábito e o impulso estão em níveis não-nulos. Em outras pala-
vras, na ausência de impulso (D = O) , ou na ausência de hábito
(H = O) , não há potencial excitatório (E = O) . posteriormente, Hull (1952) ampliou seu sistema comporta-
mentalpara além de H x D, a fim de incluir uma ter ceir a causa de
comportamento: a motivação do incentivo, abreviada como K .3
Alémdas propriedades motivacionais deD, o valor do incentivo
exercido por um objeto-alvo (sua q ualidade, sua quantidade, ou
ambas) também energiza o animal. Afinal de contas, as pessoas
em geral trabalham com mais empenho por US$50 do que por
US$l. Ao reconhecer que a motivação pode provir tanto de f ontes
internas (D) quanto de fontes externas (K), Hull (1952) pr opôs
a seguinte fórmula:
P, =/f,xD xK
Tanto D quanto K são termos motivacionais. A principal dif e-
rença entre eles está em que D origina-se de uma estimulação
interna via distúrbios corpor ais, enquanto K origina-se de uma
estimulação externa via qualidade do incentivo.A teoria comportamental de Hull gr anjeou enor me popula-
r idade. Em seu apogeu, sua teoria do impulso foi uma das mais
populares teorias da história da psicologia. Apesar de obviamente
essa afirmativa parecer exagerada, considere tr ês ocorr ências
históricas que ajustificam. Em primeir o lugar , a proximadamente
metade de todos os artigos publicados nos principais periódicosde psicologia do início dos anos 1950 (p. ex., no Psychological Review e no Journal o/ Experimental Psychology) fazia r ef e-
rência ao livro de Hull de 1943. Em segundo, enquanto livr os
sobre motivação er am praticamente inexistentes em meados
do século XX, dez anos depois eles se tomariam lugar -comum
(Atk :inson, 1964; Bindr a, 1959; Brown, 1961; Hall, 1961;
Lindzey, 1958; Madsen, 1959; McClelland, 1955; Maslow,1954; Olds, 1956; Peter s, 1958; Stacey & DeMartino, 1958;
roman, 1960; Young, 1961). Em terceiro lugar, nos anos 1950,
a American Psychological Association (APA) solicitou a seus
membros que fizessem uma lista das per sonalidades mais impor-
tantes da história da psicologia (até meados do século XX). O
resultado da pesquisa está mostrado na Ta bela 2.1. Obser ve osdois nomes no topo da lista.4
3Por acaso, se você se per guntar por que a motivação de incentivo f oi abr eviada
em inglês por K em vez de I (de i ncenti ve) , o motivo disso é que K vem de K ennethSpence (Weiner , 1972). Spence convenceu Hull da necessidade de se incorporar
a motivação de incentivo a seu s istema comportamental. Além disso, Ier a usado
para outr a variável, inhibition (inibição), que não sÇ.r ádiscutida aqui.
4No alvorecer do século XXI, a lista dos psicólogos eminentes alterou-se bastante
(Haggbloom et al., 2002). Em 2002, Sigmund Freud havia caído para o 3 ° lugar ,
enquanto Clark Hull caía para o 21°. Os dez nomes mais importantes segundo a
lista, do primeiro para o décimo, em uma relação que apr esenta vários pesqui-
sadores da motivação, são: B. F . SkinJ;!er , Jean Piaget, Sigmund Fr eud, A1ber tBandura, Leon Festinger , Carl Roger s;Stanley Schachter , Neal Miller , Edward
Thorndike e Abr aham Maslow.
Tabela 2.1 Os Dez Mais Importantes Nomes da Psicologia,
Segundo uma Classificação de Meados do Século XX
1. Sigmund Fr eud
2. CIark Hull3, WilheIm Wundt
4, Ivan PavIo v5. John Watson
6. Edward Thomdik e
7. WiIliam James
8, Max Wer theimer
9. Edward ToIman
10. Kurt Lewin
A teoria do impulso - tanto na ver são f reudiana quanto na versão
hulliana - baseava-se em tr ês pressupostos f undamentais:1. O impulso emerge de necessidades cor porais.2. A redução do impulso é ref or çada e pr oduz a aprendi-
zagem.3. O impulso energiza o compor tamento.
Ao longo dos anos 1950, testes empíricos desses tr ês pr essu- postos r evelar am muitos pontos de a poio, mas também algunsmotivos de preocupação. Em primeiro lugar, alguns motivosexistem com ou sem necessidades biológicas correspondentes.Por exemplo, as pessoas anoréxicas não comem (e não quer emcomer ), a des peito da existência de uma forte necessidade bioló-gica de fazê-lo (Klien, 1954). Portanto, é possível que a moti-
vação surja de outr as fontes que não os distúr bios corpor ais. Emsegundo lugar, f reqüentemente a a prendizagem ocor r e sem acorres pondente exper iência da redução do impulso. Por exemplo,ratos f amintos aprendem mesmo quando seu comportamento decomer é refor çado pela r ecompensa de sacar inà não-nutritiva(Sheff ield & Roby, 1950). Uma vez que não r e presenta q ual-quer benefício nutricional, a sacar ina não pode r eduzir o impulso(ou se ja, não ser ve às necessidades do corpo). Outras pesquisasmostr ar am que a a prendizagem ocorre a pós a indução do impulso(ou seja, ocor r e um aumento do impulso; Harlow, 1953). Nofinal, f icou claro que, par a a aprendizagem ocorrer , a redução doimpulso não er a nem necessária nem suficiente (Bolles, 1972).Em terceiro lugar , as pesquisas reconheceram a importância das
fontes externas (não-fisiológicas) de motivação. Por exemplo,uma pessoa que não está necessariamente com sede pode expe-rimentar um motivo bastante forte para beber a pós ter provado(ou visto, ou cheirado) sua bebida f avorita. Hull acrescentou amotivação de incentivo (K), mas a questão impor tante é que osmotivos surgem mais do que simplesmente a partir da fisiologiacorpor al. Par a ex plicar fenômenos motivacionais como comer , beber e ter relações sexuais, tomou-se claro que os pesquisa-dores necessitavam concentrar ao menos parte de sua atençãonas fontes externas (ambientais) de motivação.
Os anos 1950 e 1960 representaram uma transição no estudo damotivação. No início dos anos 1950, as teorias motivacionais
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dominantes eram consideradas grandes teorias, sendo historica-mente fundamentadas e bem conhecidas. A teoria do impulso eraa principal perspectiva relativa à motivação (Bolles, 1975; Hull,
1952). Nesse meio de século, outras teorias motivacionais impor-tantes incluíam a teoria do nível ótimo de excitação (Hebb, 1955;Berlyne, 1967), a teoria dos centros de prazer no cérebro (Olds,1969), a teoria dos conflitos de aproximação-evitação (Miller ,1959), a teoria das necessidades universais (Murray, 1938), ateoria dos motivos condicionados (Miller, 1948), e a teoria daauto-atualização (Rogers, 1959). À medida que o estudo da moti-vação progredia e novos achados apareciam, tornou-se claro que,
para haver progresso, era preciso que a área extrapolasse as fron-teiras de suas grandes teorias. Nos anos que se seguiram à teoriado impulso, apareceram de fato teorias alternativas, que tentaramse impor como as novas grandes teorias do momento. Porém,os psicólogos motivacionais estavam simplesmente ganhandoinformações demais para se restringirem a uma grande teoria.Para investigar seus novos achados, os psicólogos motivacio-nais dos anos 1970 começaram a adotar miniteorias da moti-vação (Dember, 1965). A próxima seção discutirá essas minite-orias. Porém, será útil fazer aqui uma pausa para considerarmosos dois princípios motivacionais que, nos anos 1960, surgiram
como possíveis substitutos teóricos do impulso para compor umagrande teoria da motivação: o incentivo e a excitação.
Consideremos o incentivo, que é um evento externo (ou estí-mulo) capaz de energizar ou direcionar um comportamento deaproximação ou de evitação. Segundo a teoria de redução doimpulso, as pessoas são motivadas por meio de seus impulsos,que as "empurram" em direção a determinados objetivos (p. ex.,a fome empurra a pessoa a explorar seu ambiente em busca de
alimento). Já as teorias motivacionais do incentivo dizem queas pessoas são motivadas pelo valor incentivador de diversosobjetos presentes em seu ambiente, que as "atraem" em direçãoa esses objetos (p. ex., a visão de uma torta de morangos faz a
pessoa se aproximar da mesa). Observe que, nesse caso, a moti-vação primária não é a redução do impulso, mas, ao contrário, oaumento e a manutenção do contato com os estímulos incenti-vadores. As teorias do incentivo surgidas nos anos 1960 funda-mentalmente tentavam explicar por que as pessoas buscavamos incentivos positivos e evitavam os incentivos negativos.Essencialmente, o foco dessas teorias era o K, e não o D, deHull, e elas adotaram o conceito de hedonismo, que essencial-mente postula que os organismos se aproximam de sinais de
prazer e evitam sinais de dor. Por meio da aprendizagem, as pessoas formam associações (ou expectativas) de quais objetosno ambiente são gratificantes - sendo, portanto, merecedores deaproximação - e quais outros objetos infringem dor - sendo,
portanto, merecedores de evitação. As teorias do incentivo apre-sentavam três novas características: (1) novos conceitos moti-vacionais, tais como os incentivos, (2) a idéia de que os estadosmotivacionais podem ser adquiridos por meio da experiência e(3) uma descrição da motivação qu-e salienta as alterações queocorrem de momento a momento (uma vez que os incentivosambientais podem variar de um momento para outro).
Consideremos agora a excitação. A crescente insatisfaçãocom a teoria do impulso foi contrabalançada por um crescente
interesse pela teoria da excitação. O achado que assentou as
bases para essa transição proveio da descoberta neurofisiológicade um sistema de excitação no tronco cerebr al (Lindsley, 1957;
Moruzzi & Magoun, 1949). As idéias centrais eram as de que
(1) os aspectos do ambiente (o grau a que eles são estimulantes,novos, estressantes) afetam a maneira de o cérebro ser excitado
e (2) as variações no nível de excitação apresentam uma relação
curvilínea (que têm a forma de um U invertido) com o compor-
tamento. Ou seja, os ambientes não-estimulantes geram baixos
níveis de excitação e emoção, tais como o tédio; já ambientesum pouco mais estimulantes geram níveis ótimos de excitação
e emoções, tais como o interesse; e ambientes extremamente
estimulantes geram excitações e emoções como o medo. O nívelde excitação terminou sendo entendido como algo "sinõnimo de .
um estado geral de impulso" (Hebb, 1955, p. 249): as" pessoas
preferem um nível ótimo de excitação, evitando seus nív~s muito c
baixos ou muito altos. Observe então o que aconteceu com a
teoria do impulso - que foi reinterpretada de uma maneira que 'a afastou de suas raízes biológicas, 1evando-a para a época daneuropsicologia e da cognição. No fim dos anos 1960, os psicó-
logos motivacionais daquele período poderiam se concentrar nas <
necessidades biológicas (impulso), nos incentivos ambientais ou
nos estados cerebrais de excitação.Com a crescente insatisfação em relação à teoria do impulso,
tomou-se cada vez mais evidente que qualquer grande teoriaera simplesmente incapaz de arcar sozinha com todo o ônus
de explicar a motivação (Appley, 1991). Em sua tentativa de
cobrir todo o espectro dos fenômenos motivacionais, o panoramacontemporâneo dos estudos da motivação é agora caracterizado "
por uma enorme diver sidade de teorias ("miniteorias"), e não por
um consenso qualquer em tomo de uma única grande teoria.
Diferentemente das grandes teorias que explicam todo o espectroda motivação, as miniteorias limitam sua atenção a um fenômenomotivacional específico. As miniteorias buscam compreender ou 'investigar um(a) determinado(a):
• Fenômeno motivacional (p. ex., o fluxo da experiência)• Circunstância que afeta a motivação (p. ex., a retroalimen-
tação de um fracasso)
• Grupos de pessoas (p. ex., extrovertidas, crianças, traba-lhadores)
• Questão teórica (p. ex., "Qual é a relação entre cogniçãoe emoção?")
Uma miniteoria explica parte, porém não todo o comporta-
mento motivado. Sendo assim, uma teoria motivacional de reali-
zação (uma miniteoria) surgiu para explicar por que as pessoasrespondem a padrões de excelência, e por que algumas pessoas
demonstram ter entusiasmo e aproximação e agem com método,ao passo que outras demonstram ansiedade e evitação diante
desses padrões. A teoria motivacional de realização não consegue
explicar uma grande parte da ação motivada, mas, por outro lado, '
presta ~ma boa contribuição à explicação de uma interessantefatia da'ação motivacional. A lista a seguir identifica algumas das
miniteorias (com uma referência básica) surgidas nos anos 1960
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e 1970 com o objetivo de substituir as grandes teorias enfraque-cidas do impulso, do incentivo e da excitação:
• Teoria motivaciona1 de realização (Atkinson, 1964)
• Teoria atribucional da motivação de realização (Weiner ,1972)
• Teoria da dissonância cognitiva (Festinger , 1957)• Motivação dos efeitos (White, 1959; Harter , 1978a)
• Teoria da expectativa x valor (Vroom, 1964)• Teoria do fluxo (Csikszentmihalyi, 1975)• Motivação intrínseca (Deci, 1975)
• Teor ia do estabelecimento de metas (Locke, 1968)• Teoria do desamparo aprendido (Seligman, 1975)
• Teoria da reatância (Brehm, 1966)• Teoria da auto-eficácia (Bandura, 1977)• Auto-esquemas (Markus, 1977)
Três tendências históricas explicam por que o estudo da moti-vação deixou para trás a tradição das grandes teorias em favor das miniteorias. Em primeiro lugar , os pesquisadores moti-vacionais reavaliaram a propriedade da idéia de que os sereshumanos são inerentemente passivos. A próxima seção discutirá
essa tendência. Em segundo, a motivação, como todo o campo da psicologia, tornou-se acentuadamente cognitiva. Essa tendênciaveio a ser conhecida como a revolução cognitiva. E, em terceirolugar , os pesquisadores motivacionais tornaram-se cada vez mais
interessados nos problemas e nas questões aplicadas e social-mente relevantes. Além dessas tendências históricas, o primeiro
jornal dedicado exclusivamente ao tópico da motivação surgiu
em 1977, Motivation and Emotion. Esse jornal focalizou quase
toda a SU<lc atenção na exploração empírica das miniteorias moti-vacionais.
o propósito da teoria do impulso era explicar como um animal passava de inativo a ativo (Weiner , 1990). Em meados do séculoXX, supunha-se que os animais (inclusive os seres humanos)eram naturalmente inativos, e que o papel da motivação seria
excitá-Ios, fazendo com que, de passivos, eles passassem a ser ativos. Com efeito, "motivar " significa "mover". Dessa forma,o impulso, como todos os constructos motivacionais anteriores,
explicava o motor instigante do comportamento. A título de ilus-
tração, uma definição comum para motivação em meados doséculo XX era: "o processo de excitar a ação, sustentar a atividadeem progresso e regular o padrão de atividade" (Young, 1961, p.24). A motivação era o estudo da energização dos passivos.
Já os psicólogos da segunda metade do século XX pensavamde maneira bastante diferente. Eles enfatizariam o fato de que as
pessoas estão sempre conseguindo e fazendo algo. As pessoassão inerentemente ativas, estando sempre motivadas. Segundoum dos proponentes da natureza ativa das pessoas, "uma teoria
motivacional bem fundada deve (...] supor que a motivação éconstante, incessante, flutuante e complexa, e que é uma carac-
terística quase universal de praticamente qualquer processo queenvolva interesse do organismo" (Maslow, 1954, p. 69). Talveznas crianças, mais do que em quaisquer outros seres, isso seja
mais evidente: "elas pegam os objetos, sacodem-nos, cheiram-
nos, colocam-nos na boca, atiram-nos para longe e estão sempre perguntando 'O que é isso?' Sua curiosidade é infindável" (Deci
& R yan, 1985a, p: 11). Na revisão das teorias motivacionais que fizeram em meados
dos anos 1960, Charles Cofer e Mortimer Appley (1964) divi-diram as teorias motivacionais da época entre aquelas que supu-nham que os organismos eram passivos e conservadores deenergia e aquelas que supunham que os indivíduos er am ativose que buscavam o crescimento. O número das teorias de or ien-
tação passiva era dez vezes superior ao das teorias de orientaçãoativa. Entretanto, as teorias ativas começaram a se propagar . Nos
dias de hoje, as idéias sobre a motivação e a emoção aceitam a premissa da existência do organismo ativo, tratando bem povcodas motivações ocorridas por déficit (p. ex., redução na tensão,homeostase, equilíbrio) e bem mais das motivações por cr esci-mento (p. ex., criatividade, competência, significados pessoais
possíveis, auto-atualização; Appley, 1991; Benjamin & Jones,1978; Rapaport, 1960; White, 1960). O estudo da motivação
é hoje o estudo do dir ecionamento do propósito nas pessoasinerentemente ativas.
Os primeiros conceitos motivacionais - impulso, excitação,homeostase - fundamentavam-se na biologia e na fisiologia.Portanto, muito do pensamento sobre a motivação era moldadoem uma herança e uma perspectiva biológicas. Os estudoscontemporâneos da motivação continuam a manter essa aliança
.com a biologia, a fisiologia e a sociobiologia. Entretanto, no
início dos anos 1970, o Zeitgeist ("clima intelectual") da psico-logia passou decisivamente a ser cognitivo (Gardner, 1985; Segal&Lachman, 1972), e a revolução cognitiva tomou conta da áreada motivação da mesma maneira que fez com praticamente todasas outras áreas' da psicologia (D' Amato, 1974; Dember, 1974).
Os pesquisadores da motivação começaram a complementar seus conceitos biológicos com os conceitos que enfatizavam
os processos mentais internos. Alguns desses constructos moti-vacionais mentalísticos incluem os planos (Miller , Galanter &Pribram, 1960), as metas (Locke & Latham, 1990), as expecta-tivas (Seligman, 1975), as crenças (Bandura, 1977), as atribui-ções (Weiner , 1972) e o autoconceito (Markus, 1977).
A revolução cognitiva exerceu dois outros efeitos sobr e o
pensamento referente à motivação. Primeiro, as discussões inte-lectuais sobre a motivação enfatizaram os constructos cognitivos(ou seja, as expectativas, as metas), deixando de enfatizar os
constructos biológicos e ambientais. Essas discussões alter arama imagem que a psicologia fazia do funcionamento humano,deixando-a "humana em vez de mecânica" (McKeachie, 1976,
p. 831). Essa passagem ideológica da mecânica para a dinâmica(Carver &Scheier, 1981, 1990; Markus &Wurf , 1987) foi muito
bem captada no título de um dos mais populares textos motiva-cionais daquela época, Theories of Motivation: From Mechanismto Cognition (Weiner, 1972). Uma revisão dos estudos moti-vacionais realizados a partir dos anos 1960 e 1970 mostra um
acentuadp declínio de exper imentos que manipulam estadosde privação em ratos, acompanhado por um igualmente acen-tuado aumento nos experimentos que manipulam a retroalimen-
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tação que acompanhava o sucesso ou o fracasso no desempenhohumano (Weiner , 1990). O plane jamento ex per imental não émuito difer ente, mas é inegável o f ato de seu foco ter passado a
se concentr ar em pessoas, em vez de animais.Segundo, a revolução cognitiva veio complementar o emer -gente movimento do humanismo. Os psicólogos humanistas criti-cavam as teorias motivacionais dominantes nos anos 1960 comosendo decididamente não-humanas. Os humanistas resistir am autilizar a metáfor a da máquina, que apr esenta a motivação deuma maneir a deterrninista, como sendo uma r es posta a f orças biológicas incômodas, a destinos desenvolvimentais (p. ex.,ex periências traumáticas na inf ância), ou a controles exercidos pelo ambiente ou pela sociedade (Bugental, 1967; Wertheimer ,1978). As idéias de A br aham Maslow e Carl R oger s (Capítulo15) expr essam a nova compreensão que a psicologia tem dosseres humanos como seres inerentemente ativos, cognitiva-
mente flexíveis e motivados par a o crescimento (Ber lyne, 1975;Maslow, 1987; R oger s, 1961).
Uma ter ceir a importante alteração que ajudou a iniciar a er adas miniteor ias f oi o fato de que os pesquisador es voltar amsua atenção par a questões relevantes à solução dos problemasmotivacionais enfrentados pelas pessoas em sua vida diária(McClelland, 1978) - no tra balho (Lock e & Latham, 1984), naescola (Weiner , 1979), ao enfrentarem o estr esse (Lazarus, 1966),na solução de pr oblemas de saúde (Polivy, 1976), na luta contraa de pressão (Seligman, 1975), e assim por diante. À medida que
estudavam menos os animais não-humanos e mais as pessoas, os pesquisadores descobr ir am uma riqueza de exemplos de moti-vação que ocorrem naturalmente fora do laboratório. Em funçãodisso, os pesquisadores motivacionais começaram cada vez mais
a se concentr ar em problemas e questões a plicadas e de relevânciasocial. Tam bém passar am a ter contato mais f reqüent~ com os
psicólogos de outras áreas, tais como os da psicologia social, da
psicologia industrialJorganizacional, da psicologia clínica e deaconselhamento, e assim por diante. No geral, a área tomou-se
menos interessada em estudar , por exem plo, a fome como fontedo impulso, e mais inter essada em estudar as motivações que seencontr am por tr ás do comer , da dieta, da obesidade e da bulimia(R odin, 1981; Taubes, 1998).
A ênfase na pesquisa a plicada e socialmente relevante fez comque os estudos motivacionais contempor âneos assumissem umtipo de papel de "Johnny Appleseed"5, em q ue os pesq uisadoresmotivacionais saíram de seus la boratórios para fazer perguntasdo ti po "O que causa o compor tamento?" nas mais diversas áreasde es pecialização da psicologia. As novas alianças moti'{acionaiscom outros campos da psicologia podem ser ilustradas na Figura
2.1, que mostra ex plicitamente como a motivação se relacionacom os outros cur sos de psicologia que o leitor possivelmente
já fez ou far á. Ou se ja, par te do conteúdo dos cursos de psico-logia social, da psicologia da personalidade e da psicologia daeducação é certamente motivacional. Em virtude dessa super po-sição, às vezes é difícil dizer onde o estudo da cognição aca bae onde o estudo da motivação começa (Sorrentino & Higgins,1986), ou onde o estudo da per cepção aca ba e onde o estudo damotivação começa (Bindra, 1979). As tênues fronteiras entre amotivação e seus campos afins em ger al sugerem a existênciade uma cr ise de identidade no estudo da motivação; por outro
5Liter almente, "Joãozinho Plantador de Maçãs", a pelido de um su jeito chamadoJohn Chapman, que, nas primeiras décadas a pós a independência dos EUA,
perambulou pela costa leste do país plantando macieir as e estimulando os outr os
a f azer em o mesmo. O nome passou então a se aplicar a q ualquer pessoa q ue se
toma ade pta ou pr o pagandista entusiasta de urna causa. (N. T.)
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lado, na pr ática, a ausência de fronteir as bem def inidas facilita
a troca de idéias e estimula uma exposição a diferentes perspec-
tivas e metodologias (Feshbach, 1984), incluindo aquelas vindasde fora da psicologia ( p. ex., a sociologia; Tur ner , 1987). Como
conseqüência disso, os estudos contempor âneos da motivaçãoganharam uma riqueza, um interesse e uma vitalidade es peciais
(McNally, 1992).
A ERA CONTEMPORÂNEA DASMINITEORIAS
Thomas Kuhn (1962, 1970) descreveu a história da maioria dasciências enfatizando o f ato de que uma certa disciplina tanto faz
pr ogressos contínuos q uanto descontínuos. Quando ocorr e um progresso contínuo, os participantes r ealizam progressos lentos,incrementais e cumulativos, à medida que novos dados vão sendo
acrescentados e vão suplantando os velhos dados, e as novasidéias se somam e suplantam as idéias antigas. Por outro lado,quando ocorre um progresso descontínuo, aparecem idéias radi-cais que rivalizam (e não mais se somam) com as idéias antigas.Se as idéias radicais ganharem aceitação, há uma rápida e drás-
tica alteração no modo de pensar dos pesq uisadores, fazendo
com q ue os antigos modelos caiam em desuso para dar lugar aos novos modelos.
A Tabela 2.2 mostra a visão desenvolvimental de Kuhn. Em
seu estágio pré-par adigmático, os estágios primitivos de umadisciplina começam a se enraizar à medida que os participantes
vão formulando diferentes questões, utilizam métodos difer entes,tentam resolver problemas diferentes, sugerem diferentes solu-ções e, basi~amente, discordam e discutem bastante entre si. Jáno estágio' paradigmático, os participantes da disciplina conse-guem alcançar um consenso sobre o que constitui sua estr uturateórica e metodológica comum. Essa estrutura compartilhada
(um " paradigma") possibilita que cada contribuinte compre-enda os métodos e problemas da disciplina da mesma maneira.Com isso, os participantes têm condições de trabalhar coletiva-
mente, o que os f az ganhar em uma compreensão cada vez maisdetalhada e apurada da sua área de interesse. Entretanto, como tempo as limitações e as inadequações do paradigma aceito
tornam-se evidentes, à medida que vão surgindo anomalias quenão podem ser explicadas com o par adigma então endossado.
Isso faz com que toda a área ex perimente um desconforto ger al.
Em conseq üência, sur gem novos insights e novas descobertas,
e esses insights e descobertas f azem surgir um novo modo de
pensar ("um paradigma"). Munidos desse novo modo de pensar ,
os pesquisadores terminam por chegar a um acordo sobre um
novo e aperfeiçoado paradigma, em um processo que ger almente
engloba várias gerações de cientistas. Por exemplo, dois casosclássicos de mudança de paradigma ocorreram com a revolução
copernicana, que substituiu as antigas idéias do geocentr ismo,
e com a teoria einsteiniana da relatividade geral, que substituiu
a geometria euclidiana. Com essas mudanças, a astronomia e a
física ficaram para sem pr e alteradas.Como disciplina, o estudo da motivação tem participa po
da ascensão e da queda de três pr incipais modos de pensar: a
vontade, o instinto e o impulso. Cada um desses conceitos moti-vacionais ganhou ampla aceitação, mas, à medida que novos
dados foram sur gindo, constatou-se que cada um desses conceitoser a bastante limitado para produzir mais progr essos, e isso fez
com que, no final, cada um deles fosse substituído por umaidéia mais nova, radical e aperfeiçoada. Atualmente, o estudo
da .motivação encontra-se em meio à era das miniteorias, e ostrês avanços recentes (ou seja, a natureza ativa da pessoa, a revo-
lução cognitiva e a pesquisa socialmente relevante) que há poucorevisamos explicam por q ue a era das miniteorias acabou semostrando mais produtiva do que a era da teoria do impulso entre
nós. Outr a tendência dos estudos motivacionais contemporâneosé o afastamento que essa ár ea vem experimentando das ciências
natur ais e sua aproximação das ciências sociais. Entretanto, essasatuais es pecializações, debates e discordâncias têm produzidonos estudos motivacionais uma "crise de identidade".
Nessa "crise de identidade" que acompanhou a tr ansição dateoria do impulso para a era atual das miniteorias, houve conse-
qüências boas e más. No lado r uim, a motivação perdeu o tronoque tinha como talvez a mais importante disciplina da psicologia
par a ser relegada a um tipo de área de estudo de segunda classe.Esse destronamento da motivação foi tão sever o que, em certa
medida, a área sofreu um cola pso que durou uma década e meia.
Entretanto, o estudo da motivação não desa par eceu. As ques-tões que definem a motivação, discutidas no Ca pítulo 1, perma-necem. E, em vez de desaparecer, os especialistas motivacio-
nais se dispersaram para praticamente todas as outras áreas da
Floresce uma nova ciência, cujos participantes não compartilham uma mesma linguagem ou um mesmo
conhecimento básico. São fr eqüentes os de bates so bre quais deveriam ser os métodos, os problemas e
as soluções da disciplina.As facções pré- paradigmáticas se f undem em um consenso sobr e o que constitui os métodos, os problemas
e as soluções da disciplina. Esse consenso é chamado de paradigma. Os participantes que compartilham
desse paradigma acumulam conhecimento e fazem avanços consideráveis.
Surge uma anomgHa que não pode ser explicada pelo consenso/ paradigma existente. Desencadeia-se então
um choque entre a velha maneira de pensar (que não consegue explicar a anomalia) e a nova maneira de
pensar (que consegue explicá-Ia).A nova maneira de pensar produz um progresso que modifica a disciplina. Ao chegar a um novo consenso,
os participantes se estabilizam em um novo paradigma (ou novo estágio paradigmático). O progresso retoma,e com ele são feitos novos avanços consideráveis. -'
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psicologia. Sem o uso de conceitos motivacionais, os teóricos
da a prendizagem, os psicólogos da per sonalidade, os psicólogos
sociais, os clínicos e outros eram incapazes de ex plicar todos os
tipos de comportamento q ue tentavam entender . Em outr as pala-vr as: os demais campos da psicologia precisavam de res postas
par a suas questões motivacionais. E o que emergiu disso for amas teorias da motivação social (Pittman & Heller , 1988), da moti-
vação fisiológica (Stellar &Stellar , 1985), da motivação cogni-
tiva (Sorrentino &Higgins, 1986), da motivação no desenvolvi-
mento (Kagan, 1972), e assim por diante. Além disso, tambémsurgiram teorias motivacionais es pecíficas a domínios par ticu-
lares de aplicação: teor ias q ue explicam a motivação relacionada
ao ato de f azer dieta e de se embebedar (Polivy & Herman, 1985),ao tra balho (Locke & Latham, 1984, 1990; Vroom, 1964), aos
esportes (Rober ts, 1992; Straub &Williams, 1984), à educação
(Weiner , 1979), e assim por diante. Por volta de 1980, os psicó-
logos motivacionais estavam em literalmente todas as áreas da psicologia, enq uanto investigavam as bases motivacionais da
cognição, da interação social, da saúde, da per sonalidade, daeducação, e daí por diante.
Nos anos 1960, o estudo da motivação basicamente entrou
em colapso. Os conceitos motivacionais foram postos de lado,enquanto a disciplina er a dominada pelos behavioristas, que viama motivação como algo que acontece fora da pessoa (em forma de
incentivos e reforçadores). E q uando as forças internas à pessoaeram reconhecidas, elas eram tidas como forças f isiológicas,
inconscientes ou subconscientes. Em função disso, estudar nessaépoca os aspectos conscientes da motivação era algo, por assim
dizer , proibido (Locke &Latham, 2002). O estudo da motivaçãonecessitava de teorias que explicassem como as pessoas inten-cionalmente regulam seu próprio comportamento. Felizmente,
em outras áreas, os psicólogos não-motivacionais desejavam
saber a mesma coisa. Ou seja, veio a se constatar que as questões
sobre a motivação eram significantes e relevantes para pratica-mente todas as áreas da psicologia. Portanto, os pesquisadoresmotivacionais estabeleceram uma série de alianças com outras
áreas, formando assim uma rede dis per sa de pesquisadores quecompartilhavam uma mesma preocupação e compromisso com
as questões e problemas relevantes do ponto de vista motiva-cional. Foi nas especialidades da psicologia - psicologia social,
psicologia educacional, psicologia industriaIJorganizacional, etc.
- que se criar am as teorias sobre como as pessoas intencional-mente regulam seu comportamento.
Diante desse presente "estado de crise", há duas maneiras
de conceitualizar os estudos contempor âneos da motivação. A primeira delas é basicamente admitir que a ár ea da motivação é
jovem, imatura e basicamente arraigado a um estágio pr é-para-
digmático de 100 anos de duração (veja a Tabela 2.2). Em vez deexistir em forma de uma disciplina própria e bem-estabeleci da, o
estudo contemporâneo da motivaç~o depende das alianças destacom outros campos da psicologia, como mostra a Figura 2.1. A
Figura 2.1 também apresenta uma superposição intelectual entre
o núcleo dos estudos motivacionais e esses dez campos afins.
A título de ilustração, observa-se que a psicologia educacional
estuda como os estudantes aprendem e como os professores osajudam a aprender (Renninger , 1996). Como a motivação afeta
a maneira como os estudantes estudam, e como os professor esafetam a motivação dos estudantes para aprender , o cam poda motivação é r elevante par a a psicologia educacional. Esse
interesse mútuo é mostr ado em fonna de círculos super postos,mostrados na Figur a 2.1, e manifesta-se nas pesquisas reali-zadas pelos psicólogos educacionais, que f azem per guntas como"Qual é o papel do interesse na a prendizagem?" (Ainley, Hidi &Berndorff , 2002) e "De que modo o elogio de um pr of essor afeta
a motivação dos alunos?" (Henderlong & Le pper , 2002).Uma segunda maneira de conceitualizar os estudos contempo-
r âneos da motivação pode ser vista na Figur a 1.1 (do Ca pítulo 1).Essa figura identificou o assunto dos estudos motivacionais em
tomo de quatro constructos: necessidades, cognições, ~moçõese eventos externos. Todos os pesquisadores da motivação erif a-tizam a contribuição de um ou mais desses constructbs par aex plicar a energia e a direção do compor tamento. Por exem plo,
no estudo das necessidades, alguns teóricos ar gumentam que"o estudo da motivação humana é o estudo das necessidadeshumanas e dos processos dinâmicos relacionados a essas neces-sidades" (Deci, 1980, p. 31). Já os teóricos motivacionais pr eo-
cupados com a emoção argumentam que "as emoções constituemo sistema motivacional primário" (Tomkins, 1970, p. 101). E um
estudo cognitivo da motivação supõe que "as cr enças [...] das pessoas determinam seu nível de motivação" (Bandur a, 1989, p.1176). Outros teóricos concentram-se nas propriedades motiva-
cionais de eventos externos, enfatizando-se par a uma análise decomo os eventos ambientais energizam e direcionam o compor -tamento (Baldwin & Baldwin, 1986; Skinner , 1953).
A organização dos ca pítulos deste livro r eflete essa últimaconceitualização do estudo motivacional. Ou seja, um ca pítulocobre as maneir as como as necessidades motivam o compor -tamento, outro capítulo trata de como as cognições motivamo comportamento, e assim por diante. Essa é uma o bser vaçãocrítica a fazer, pois revela que quem estuda a motivação e aemoção reconhece que os fenômenos motivacionais inerente-mente possuem vários níveis (Driver -Linn, 2003). Ou se ja, é
possível entender um estado motivacional em nível neurológico,
em nível cognitivo, em nível social, e assim por diante (veja oBoxe 2). Reconhecer que a motivação e a emoção são ineren-temente fenômenos de vários níveis significa que essa área deestudo necessariamente inclui suposições contr aditórias, métodos
variados e diferentes formas de compreensão dos fenômenos.Uma boa maneira de concluir essa análise da motivação comosendo uma disciplina em desenvolvimento é f azer uma r evisãodas atuais definições de motivação e emoção. Essas definições
estão aqui repetidas do Capítulo 1:
Motivação: refere-se aos processos q ue dão ao comportamentosua energia e sua direção.
O termo pr ocessos faz reconhecer que os pesquisa-dor es da motivação não chegaram a um acordo sobre seos motivos são essencialmente necessidades, cognições,emoções ou reações a eventos ambientais. Portanto, ouso desse termo é uma confissão involuntária de que o
~studo contemporâneo da motivação é multiparadigmá-
tico, encontrando-se, por conseqüência, em um estágio pré- paradigmático de desenvolvimento.
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Emoção: fenômeno subjetivo, fisiológico, funcional, expres-
sivo e de vida curta, que orquestra a maneira como reagimos
adaptativamente aos eventos importantes de nossa vida.
A expressão subjetivo , fisiológico , funcional , e x pressivo
reconhece que os pesquisadores da motivação compre-
endem as emoções observando-as a partir de diferentes
pontos de vista. Portanto, essa expressão é outra confissão
involuntária de que os estudos contemporâneos da emoção
apresentam vários níveis e, por conseqüência, também se
encontr am em um estágio pré- paradigmático de desenvol-
vimento.
Admitir que os estudos motivacionais encontram-se em um
estágio pré-paradigmático de desenvolvimento poderia soar
como algo pejorativo. Afinal, qualquer disciplina gostaria de
ver a si mesma como madura, avançada, paradigmática e coesa
(como a física), e não como imatura, lenta, pré-paradigmática e
Por que essa informação é importante?
Para que se perceba todo o espectro de vozes partici- pantes do esforço de compreender a motivação.
i~~O:sfenôm~no~ motivacionais ~ã~eventos. ~omplex.os que e.xistemt41:emdiversos ruvels (p. ex., neurologJ.i:o,cogruuvo, SOCIal,ambIental).,.Entretanto, na prática, a maioria das tentativas de explicar uma-. '~xperiêtÍcia motivacional baseia-se em uma única perspectiva. Por
'. exemplo, quando um adolescente perde interesse pela escola, o paia mãé,(ou um pesquisador) geralmente sai à procura "da" expli-ão p1tr~.a dimi~ição do interesse. As pessoas tendem a esco-
e; a pr imeira idéia razoável e satisfatór la que lhes vem à mente.
ntretanto, uma outra maneira de pensar sobre a motivação é tornar-••. se consciente de uma ampla gama de possíveis idéias, para então
seÍecionar aquelas que melhor se adeqüem a uma experiência em, particular ., .",
M 9 i a ~vozes pâr ticipam das discussões sobre os estudos édntem-
porâneos da motivação, das quais, sete são particularmente impor-tantes:
Fisiológica!
neurológica _ Cognitiva .~ '"
, i'
~r '.', ,...., .,CogruUVO-SOCIal _
". (cultural)
Os m.otivos são de origem ... ,j' ~" 4 i . > , • - "~l; . ,<,}
Incentivos e recompensas ambientais (p.'ex.,dinheiro)
Atividade cerebral e hormonal Cp.ex., fome)
Eventos mentais e mod?s de pensar Cp.ex.,metas)
.Ma1'l.êirasd~ pensar apÓ~uma exposição a
outros indivíduos, tais como aqueles quedesempenham papéis modelares (p. eX.,
possíveis l)ignificaâos pessoais) .D0ta.ção genéticlf 'de c,ada indivíduo
. ' i . (p.·~x:~ex o)!:~ ,( fi" '.I: '.", "" b~t f
Encorajamento o potenCial humano(p: ex., auto-atualizllÇão) "
Vida ÍneIítalhIconsciente
( p . ex., ansiedade)
I- ~ _ ,'-"
dividida (como a motivação; Driver-Linn, 2003). Dessa f orma,
os estudos motivacionais existem como um "trabalho intelectual
em progresso" ..
o Retorno dos Estudos da Motivaçãonos Anos 1990
A partir de 1952, a Universidade de Nebr aska passou a convidar
os mais proeminentes teóricos motivacionais da época a se
reunirem anualmente em um simpósio sobre motivação. No
primeiro ano desse encontro, entre os participantes estavam
Harry Harlow, Judson Brown e Hobart Mowrer (nomes céle-
bres nos estudos da motivação). No ano seguinte, John Atk $son
e Leon Festinger a presentaram artigos, o mesmo ocorr end b no
terceiro ano com Abraham Maslow, David McClelland, James
Olds e Julian Rotter (de novo, todos eles pesquisadores fam1sos
no estudo da motivação). O simpósio logo se tomou um sucesso,
A título de ilustração, considere como é possível ter a melhor
compreensão e explicação da motivação sexual. Os behavioristas
apontam para a parte do desejo que depende do grau a que a outra pessoa é atraente e tem a capacidade de reforçar essa atração física.
Já os psicofisiologistas apontam para a parte do desejo que depende
da liberação de dopamina no sistema límbico do cérebro. Os cogui-
tivistas acrescentam que o desejo provém de expectativas, metas,
valores, esquemas e crenças sobre o que é e o que não é possível.
Os pesquisadores cognitivo-sociais ajuntam que nossas crenças eexpectativas surgeIil das interações com os outros, tais.como nossos
colegas e as pessoas q u e para 'nós representam modelos de pa pel
culturais. Os ewolucionistas diz~m que os homens ~ as mulheres
têm diferentes estratégias de acasalamento e que, portanto, desejamencontrar diferentes qualidades em um parceiro. Os humanistassalientam a parte do desejo que deriva da oportunidade de participar
de uma relação íntima e promotora de crescimento. E os psicanalistas ê
acrescentam que desejamos relações com as pess;~s que se enqua-dram nos nossos primeiros vínculos e do modelo mental enraizado
na infância a respeito de quão próximo de um ideal romântico o
. parceiro deve se situar.
Quando ouvimos todas essas "ozes que participam da discussãosobre motivaçio, temos à impres[ão de esWmos diante tanto de UIil
ponto for te quanto de um p~ntà fraco. Quanto ao ponto fraco, pode-
riamos ter a impressão (córreta) de que a motivação não parece ser
um campo de estudo isolado - ou seja, ela está dividida em espe-.dalidades, e ninguém parece chegar a um acordo que nos permita
compreender e expJiçar ~,qu~ sãç a mqtiyação e a,~m<?ção.~U!ll).to ' .ao ponto forte, entretantô,vêni~sque se ganha a'ôyortufiidade de
juntar ,n;,~s peças do quebra-cabéça. Pesquisadores de diferentes
perspectivas fazem diferentes perguntas sobre a motivação; .muitas
- ·das quais podetiárn ser impensáveis a nós,. caso não tivessem sido
~formúlªdas por meio de perspectivas que"nQs são' pouco familiares.
"É prováVel qU~ N9cê nãii a<:;hetodas !Is .J:es~ostàs,s~tis(àtdda;, mas;z , ''07>,;;.; / 14fí -'.' "',- , _ "!!i ·-·. ,C~"A," ?ii ' •. _ ,4 '"
uma compreensão profunda e sofisticada dá motivaç~o e da.emoção
começa pnrner r o colocando todo 6 ' conheéhnento dispónív'elsobre
~ mesa,: para entãoseledonar aquelas idéias qu~ são mais empiri-càniente.tfef ensaveis e pessoalmente utiliiâ~êis. ' .
. .\Jlt" .~. "",",,''. Iik. .í'.~'
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passando a desempenhar um pa pel de lider ança na definição e naref lexão sobr e a ár ea. Ao longo de 25 anos, o simpósio se realizouininterruptamente, até que uma mudança fundamental ocorreu em1978 (Benjamin &Jones, 1978). Em 1979, o simpósio quebr ou
a seqüência de seu tema motivacional, passando, em vez disso,a considerar tópicos que variavam de ano par a ano, sendo quenenhum deles tinha muito, ou mesmo nada a ver , com motivação.O simpósio de 1979 concentrou-se nas atitudes, e simpósios
posterior es detiver am-se em tó picos como gênero, comporta-mentos de adictos e envelhecimento. Lembre-se de que essesanos corr es pondem à perda de posto que a motivação sofreu, deser talvez o campo mais importante da psicologia para se ver r ele-gada a uma ár ea de segunda classe. Basicamente, o Simpósio de
Nebr aska, assim como a psicologia em ger al, perdeu o inter esse pelo estudo da motivação ( pelas r azões descritas anteriormente).Com o declínio de suas gr andes teorias, os estudos da motivação
perder am seu foco e sua identidade.
Entretanto, a história não termina com a motivação vivendoessa crise irremediável. R econhecendo o r enascimento dos estudosda motivação e de seus feitos contempor âneos (ou se ja, da er adas miniteorias), os or ganizadores do Simpósio de Nebrask a de1990 mais uma vez convidaram os pesquisador es mais proemi-
nentes da motivação par a se reunirem em um simpósio dedicadoexclusivamente ao conceito de motivação (Dienst bier , 1991).Durante essa confer ência, os organizador es perguntar am aos
participantes - Mortimer Appley, Albert Bandur a, Edward L.Deci, Douglas Derr y berr y, Carol Dweck, Don Tucker , RichardRyan e Bemard Weiner (de novo, todos nomes famosos no estudoda motivação) - se eles achavam que a motivação era nova-mente um campo forte e madur o o suficiente par a mer ecer quehouvesse um r etorno exclusivo aos tó picos so br e motivação. Demaneira unânime e entusiástica, os participantes disser am quea motivação era de novo um campo de estudo r ico o suf iciente
par a justificar o encontro anual em Nebr aska. Os or ganizador esconcordaram com essa decisão e, ao f azer em isso, deram aoestudo da motivação um voto de conf iança e um senso de iden-tidade pública. Desde então, a cada ano o sim pósio voltou a ter seu foco na motivação.
Nos anos 1970, os estudos da motivação encontr avam-se à beir a da extinção, "com as costas achatadas", conforme disser amdois pesq uisador es (Sorrentino &Higgins, 1986, p. 8). O simplesf ato de que os organizador es da conf er ência tiver am que perguntar aos participantes do simpósio se a motivação, por si só, cons-titui ou não um campo diz algo so bre sua crise de identidade. O
estudo da motivação so br eviveu aliando-se a outros campos deestudo, e o Simpósio de Nebraska de 1990 simbolicamente a pre-goou seu retorno em dir eção a um campo integr ado e coerente deestudo. Com o novo milênio, o estudo da motivação mais uma
vez logrou atingir uma massa crítica de participantes interes-sados e proeminentes. Para documentar essa conclusão otimista,
o leitor pode consultar os principais per iódicos de psicologia (p.ex., Psychological Review, Ps ychological Bulletin , Ps ychologicalScience) e esperar encontr ar um ar tigo relacionado à motivação
em praticamente todas as edições. O que parece é que as ques-tões e problemas motivacionais são simplesmente interessantese importantes demais par a ser em ignor ados. E o mesmo se podedizer em relação aos per iódicos de diver sas outr as ár eas de es pe-
cialidade ( p. ex., J ournal 0 / Ed ucat ional Psychology, J ournal 01Personality and Social Psychology). No novo milênio, o estudo
da motivação está clar amente de volta à f r onteir a da psicologia. Nos 14 ca pítulos que se seguir ão, o leitor pode es per ar encontrar
um campo cr escente e em estado de f lor escimento - um poucodesor ganizado, porém inter essante, r elevante e vital.
Como disse um participante do simpósio, "se o que você temé uma maneira de a judar as pessoas a tr atar de q uestões signifi-cantes em suas vidas, então você ver á por todos os lugar es avisosdo tipo 'Pr ecisa-se de A juda"'.
f Muito se pode ganhar per corr endo os 24 séculos de pensamentosobr e a motivação. Consider e as antigas q uestões: por que secomportar ? Por que f azer algo - por que se levantar 4e manhãcedo par a f azer alguma coisa? Diante de q uestões como essas,
ao longo da história, os pesquisadores da motivação começar ama buscar os agentes instigador es do com portamento - ou seja,começar am a pr ocurar identif icar o que energiza ou inicia ocomportamento. Dur ante dois milênios (de Platão [c. 428-348a.c.] a Descar tes [c. 1596-1650]), o esf orço intelectual para se
compr eender a motivação concentr ava-se na vontade, q ue residena alma imaterial. Estudar essa substância imaterial e es piri-tual f oi algo que se mostrou muito difícil par a a nova ciênciada psicologia. A biologia (fisiologia) mostrou-se uma alterna-tiva mais conveniente, uma vez q ue seu sujeito era material emensur ável. Ao r es ponder à per gunta "Por que se compor tar?",
a r es posta veio a ser que o comportamento serve às necessi-dades do or ganismo. O instinto, o impulso e a excitação, todosesses motivos se tor nar am atr aentes, visto q ue cada um deles 'er a nitidamente ca paz de ener gizar os tipos de compor tamentoque servem às necessidades do or ganismo ( p. ex., as pessoaslevantam-se da cama porque têm f ome e pr ecisam comer algo).O incentivo também se somou a esses constr uctos, uma vez q ueo hedonismo (a busca do pr azer e a evitação da dor ) ex plica omotivo pelo qual os eventos ambientais também são ca pazes deenergizar o compor tamento (ou se ja, as pessoas se levantam dacama para buscar o prazer e af astar a dor ). Século a pós século, os
pensadores f or am a perfeiçoando suas r es postas à questão so breo que instiga o comportamento, propondo a vontade, o instinto,o impulso, o incentivo, a excitação.
Todo o processo estava indo r elativamente bem, até que umamassa crítica de pesquisadores da motivação perce beu que se
estava fazendo e tr atando da questão err ada! A questão da insti-gação do comportamento pr essupõe um or ganismo passivo e
biologicamente r egulado; ou se ja, alguém que está ador mecidoe, ao acordar , precisa de algum motivo par a agir de um modocomportamental. Em algum ponto, os pensadores motivacio-nais perceber am que dor mir er a também um comportamento, e 'que o dorminhoco notório estava ativamente enga jado em seu
ambiente. A percepção que se teve é de que estar vivo signi-fica estar ativo: portanto, os or ganismos estão sempre ativos,sempre se comportando. Não existe tempo em que um orga-nismo vivo não esteja se comportando; e não existe tempo noqual utP. _ organismonão esteja a presentando tanto energia quantodir eção de comportamento. Portanto, as questões f undamentais
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da motivação passar am a ser as do tipo: por q ue o com porta-mento varia de intensidade? E por que as pessoas fazem uma
coisa e não outr a?Essas duas questões aumentar am o poder do estudo da moti-
vação. Os estudos contemporâneos da motivação passar am a seconcentrar não só na energia do comportamento, mas também nasua direção. Esse é o motivo pelo qual tr ês tendências histór icas
_ a do or ganismo ativo, a da revolução cognitiva e a da preocu-
pação com as pesquisas a plicadas e socialmente r elevantes -,são tão importantes, uma vez que o campo passou a se basear menos nos agentes instigadores do comportamento, na biologiae noS experimentos laboratoriais com cobaias, e a se interessar cada vez mais pelos agentes diretores do comportamento, dacognição e dos problemas motivacionais humanos.
Essa mudança de per s pectiva abr iu as comportas intelectuais par a a chegada ao campo das miniteorias. No lugar das gr andesteorias, o cenário contempor âneo agor a ofer ece uma coleção deminiteorias, como a motivação de realização, do estabelecimentodemetas e da auto-eficácia. Essas miniteorias res pondem a ques-tões es pecíf icas e ex plicam a motivação em situações par ticu-lares de maneira um tanto eficiente, como ver emos nas pr óximas
páginas.
Uma visão histór ica do estudo da motivação permite ao leitor considerar
como o conceito de motivação veio a atingir sua pr oeminência, comoo campo se modif icou e se desenvolveu, como suas idéias f oram desa-
f iadas e substituídas e, f inalmente, como o campo r essur giu e passou aenglo bar diver sas disciplinas na psicologia (Bolles, 1975). Os conceitos
motivacionais têm origens f ilosóf icas. Desde a Antiguidade grega até aRenascença européia, a motivação er a entendida dentr o de dois temas,sendo um deles o de que a motivação er a boa, racional, imaterial e ativa
(ou seja, a vontade) e outr o de que a motivação era primitiva, im pul-
siva, biológica e r eativa (ou se ja, os dese jos corpor ais). Entr etanto, oestudo f ilosófico da vontade veio a se tomar um beco-sem-saída, que
ex plicava muito pouco so br e a motivação, e que de fato fazia muitomais per guntas do que podia r es ponder .
Par a ex plicar a motivação, o novo campo da psicologia passou a buscar uma análise mais f isiológica, concentr ando-se no conceito meca-nicista do instinto ger ado geneticamente. O aspecto atr aente da doutrina
do instinto er a sua ca pacidade de explicar o compor tamento não-apren-
dido dotado de ener gia e de pr o pósito (isto é, os impulsos biológicosdir ecionados par a uma meta). Entr etanto, o estudo f isiológico do instinto
também provou ser um beco-sem-saída, pelo menos em termos da suacapacidade de ser vir como uma grande teoria da motivação. A ter ceira
gr ande teoria da motivação foi o impulso. Na teoria do impulso, ocomportamento é motivado à medida que serve às necessidades do
organismo e restaura a homeostase biológica. Assim como a vontade
e o instinto, o impulso a pr incípio pareceu algo bastante promissor ,es pecialmente porque er a capaz de fazer o que nenhuma outr a teoria
motivacional havia conseguido antes - ou seja, pr edizer a motivação
antes que ela ocorr esse, a partir de suas condições antecedentes (p. ex., passar horas de privação). Em conseqüência, essa teoria conquistougrande aceitação, es pecialmente manifestada nas teor ias de Fr eud e de
Hull. Porém, também no final a teoria do impulso se mostrou extr ema-
mente limitada em termos de escopo, e com essa re jeição sobreveio adesilusão do campo com as gr andes teorias em ger al, embora diver sos
Princípios adicionais derivados das gr andes teor ias tenham a par ecido
com algum sucesso, podendo-se mencionar entr e eles o incentivo e aexcitação.
No final, tomou-se clar o que, par a se o bter um pr ogr esso na compr e-
ensão da motivação, er a preciso que o campo saísse dos limites de suas
gr andes teorias e'a br açasse o cam po menos ambicioso, porém mais
pr omissor , das miniteorias. Tr ês tendências históricas ex plicam essa
tr ansição. Em primeir o lugar , os estudos da motivação re jeitaram seucompromisso com uma visão passiva da natureza humana, passando a
adotar um r etr ato mais ativo dos ser es humanos. Em segundo, a moti-
vação tomou-se algo decididamente cognitivo, e também um tanto
humanista. Em ter ceir o, o campo concentrou-se nos pr oblemas apli-
cados e de r elevância social. O f ato de o cam po ter mudado o foco para
as miniteor ias foi em par te um desastr e e em parte um gol pe de sorte.
No que diz res peito ao desastr e, a motivação per deu seu status confor -
tável de principal disciplina da psicologia, caindo ra pidamente par a um
s~atus de segunda clas~e. Diante disso, os, pesquisador es da motivafão sedis persaram par a pr aticamente todas as ar eas da pSicologia ( p. ex.', par a
a psicologia social, do desenvolvimento e clínica) e f orjaram ali~nças
com outr os campos, com eles dividindo idéias, constructos, metodolo-
gias e per s pectivas. Porém, isso aca bou sendo o gol pe de sorte da ~oti-
vação, uma vez que a dis per são do campo por uma am pla faixa de outroscampos de estudo pr ovou ser um ter r eno fértil par a o desenvolvimentode um grande número de miniteorias esclar ecedoras.
O tema que perpassa todo este ca pítulo é que os estudos motivacio-nais têm sof r ido um constante pr ocesso de desenvolvimento, embora
continuem a permanecer em um estágio pré- par adigmático de desenvol-
vimento. Em r etr ospecto, os estudos da motivação progrediram desde
conceitualizações relativamente simplistas par a uma coleção cada vezmais crescente de insights sof isticados e empiricamente defensáveisa r es peito das for ças que ener gizam e direcionam o com portamento.
Com a vir ada do novo milênio, as gr andes teorias aca bar am. E o q uesur giu par a substituir um campo outrora unificado e dominado por um
compr omisso consensual a uma série de gr andes teor ias foi a adoção
de três pontos em comum por par te de um eclético gru po de pesq ui-
sador es: (1) questões f undamentais (p. ex., o q ue causa o comporta-mento ener gético e dir ecionado?); (2) constr uctos f undamentais (ouse ja, necessidades, cognições, emoções e eventos exter nos) e (3) uma
história compartilhada.
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