Download - Revista literatas nº 21 ano II
Literatas Director: Nelson Lineu | Editor: Eduardo Quive | Maputo, 09 de Março de 2012 | Ano II | N°21 | E-mail: [email protected]
PROPRIEDADE DO
Fragmentos de uma poesia doutrinária
Juventude na lupa de Mia Couto
Uma geração consumista,
insaciável e completamente
desorientada.
A problemática da naciona-
lização de línguas ex-
coloniais: o caso do portu-
guês em Moçambique Por Gregório Firmino
PAG. 04
“A
minha
vida está
recheada
de
Miguel Almeida em entrevista PAG. 8 & 9
PAG. 12
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Afinal Maputo é tão perto de Luanda!
U ns dois instantes com a “doutrinária poesia” na idade em que o tempo se
passou em Maputo. Era 08 de Março, quando o tempo se virou para os
anos 80, nos tempos da Revista Charrua, tempos que se viraram geração.
Tempos que os cinco se reuniam em cada um dos seus lares e que a literatura não
sabia das suas longitudes. Afinal Maputo é tão perto de Luanda!?
Na passada quinta-feira, Lopito Feijóo baixou o nível e ficou “poeta aprendiz”, apren-
diz da poesia e vice-versa. Ele mesmo o disse em público “em tempos moçambica-
nos, cabo-verdianos, angolanos, guineenses, brasileiros, formavam um grupo que mantinha o contac-
to literário. Nesses tempos, em Angola surgia a brigada jovem com a revista Aspiração e aqui faziam
Charrua. Hoje ao viver esse momento, recordo-me desses tempos que já não eram vistos.” Disse Lopi-
to, no acto de lançamento da sua obra Lex & Cal Doutrina.
E de facto concordei. A interacção entre os países de língua portuguesa, em particular dos Literatos e
permitam-me só usar o termo LITERATAS para homens e mulher, vai para lá das longitudes. Estamos
tão longe justamente nos tempos em que o tempo faz questão de jogar a nosso favor. Estamos perante
a conjuntura global, tão longe hoje é mesmo por falta de interesse (?).
Contudo, esse é um dilema que não passa só pelo interesse dos fazedores da literatura, mas pelos políticos e
aí, os níveis de debate são outros. O que nos cabe dizer, a este (baixo) nível, é que neste Lexical e Doutrina,
escrito propositadamente como Lex & Cal, pelo autor, Lopito Feijóo trouxe uma outra poesia para nossos
tempos. Tempos que ainda estão no tempo, mas que por este passo já dado por Movimento Literário Kupha-
luxa, com o escritor Angolano que, como me referi, desceu do seu (alto) nível dos chamados escritores con-
sagrados, para nível (baixo) desses chamados jovens escritores (outro debate pertinente).
Mas sobre a juventude, Mia Couto já se debruça, no seu trapézio entre o dever de quem é pai e de quem é
filho, ambos inseridos num contexto sócio económico. Estamos perante uma geração à rasca por culpa da
juventude?
Enquanto isso, Miguel Almeida, um ex-menino que não tinha livros para ler e, por isso, nada escrevia.
Um dia, foi convidado por umas palavrinhas escritas, folheou páginas e descobriu lá palavras novas.
Assim, decidiu debruçar-se sobre ela. E como se chama essa palavra? Chama-se escrita. Por isso, hoje
navega entre as nossas inquietações, numa entrevista molecular, onde a palavra se exala entre o chão
das coisas.
Ler, ler e ler, dizem os LITERATAS. Por isso, óptima leitura.
Eduardo Quive
Editori@l
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Japone Arijuane
doutrinal, mas quando esta visita torna-se constante, o belo revela-se na subli-me racionalidade da construção lexical, destas vivas vivencias que o escultor de
palavras, Lopito Feijóo, propõe-nos. O muito foi dito, mas para percepção do
conteúdo poético aqui exposto, alias, destas figuras tecidas dentro da própria
palavra, obrigam-nos ao mesmo exercício tal e qual a labuta de um escultor maconde.
A transcendência psicopoética tem aqui, nestes mares de letras pré-
seleccionados, um oceano de conteúdo poético, como oceano, com suas rique-zas e mistérios, que requerem arduamente a capacidade do leitor desvendar os
segredos deste oceano, se comparados as gotas e o conteúdo poético de cada
verso aqui reinventado. Esta obra é realmente uma descoberta de quão a palavra pode significar e dar
significados diferentes, quando reinventamos a morfologia.
O facto de, a obra, vir servida em três imensas (imensidade qualitativa) subdivi-
sões: Lexical Doutrina, Memorial Doutrinário E Eros Doutrinários, do conteú-
do poético aqui abordado, obriga o leitor a mais um esforço peregrino na con-
cepção, que se diga: a mesma transpiração que o poeta usa e ousa, deve ser a mesma no leitor para decifrar os signos dessa densa linguagem que o ―Lex &
Cal Doutrina‖ nos traz.
Feijóo a parece aqui, não como uma criança na noite, com medo de escuro, mas como a própria noite com escuro, medo, curiosidades e ocultismos por desven-
dar, como um poeta angolano, que não deixa em nenhum momento a originali-
dade do tradicionalismo (angolanidade), como justifica o poema dedicado ao
seu mestre Luandino Viera, intitulado: Das estradas do céu e do canto do grilito
Gri…gri…gri…
Ngasakidila kanzenze
Insunji mano insunji Ku diulu dia dikanu dié
Ngamono jitetembua
Ni mukengêji iazele
Dia kutululuka kuetu.
(Pag. 49)
Os factos sociais do passado e do presente, guerras sofridas, corrupção, fome,
miséria, e muito mais, tem nessas entrelinhas um destaque quase que explicito,
aliás, como nos ensina Cícero, não conhecer o passado é permanecer criança, Lopito usa este passado, e vem como à voz das vozes que não se ouvem na
labuta árdua do quotidiano subdesenvolvido, e em alguns traços depõe como
testemunha ocular dessa África que lhe vive. É sem escrúpulos um poeta, que
poetiza as vivas e duras vivencias africanas, com muita transpiração, que se diga: felizmente consegue transmitir veementemente as imagens desta angola-
nidade usando a poesia como a fotografia fiel destas convivências.
Há um jogo metafórico, na poesia de Lopito Feijóo, uma mensagem camuflada que tem uma dispo-
nibilidade en los legatos de interpretar, criticamente, a realidade.
Xosé lois Garcia
(investigador)
Muito foi dito, redito, mas para este ―Lex & Cal Doutrina‖, de Lopito Feijóo,
remete-nos a uma profunda reflexão, no que tange ao uso do próprio léxico, alias, este é, sem dúvida alguma, o propósito primordial desta obra. A separação das
palavras em versos diferentes, dotando as, cada uma em dois versos, cria, até certo
ponto uma inibição logo a prior, mas que ao longo da exposição psicológica que as figuras nos remetem, vão se formando e ilustrando as imagens num sentido
figurante, fazendo das palavras uma escultura da própria palavra, num sentido
artístico do próprio léxico. Esta vanguarda de reinvenção vai até no íntimo quebrar
a doutrina morfológica da palavra, rompendo não só com as regras, mas até o pro-fundo sentido da significação da palavra em si.
FULANA
PAIXÃO
É
ter na
mente
terno crepitante
móveis texturas
duas
leve duras stendo
se à tona
da doce fulana
paixão inter
posta
inteira mente
eterna mente
mente que não mente. (pag. 16)
A concepção inovadora, provavelmente única, de tratar a própria palavra, tal e qual um escultor maconde na sua labuta quotidiana ao pau-preto, remete-nos a
estabelecer analogias, sem propriedade categórica, pois, os laivos da (re) invenção
deste ―Lex & Cal Doutrina” produzem na fonografia, se me permitam, um novo neo-concretismo, com tendências similares à poesia concreta brasileira, traços
verosímil apontam a poetas como por exemplo Ferreira Gullar. Pode dizer-se que, metaforicamente, Lopito Feijóo descobre, aqui, mais um dos vastos
territórios da superfície poética, território este que na primeira apreciação o leitor vê na
condição de um turista mal informado, ignorando todas as potencialidades do léxico
Fragmentos do léxico de uma poesia doutrinária
Poeta Lopito Feijóo ao lado do escritor Eduardo Agualusa
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Destaque Notícias
E stá à rasca a geração dos pais que educaram os seus
meninos numa abastança caprichosa, protegendo-os
de dificuldades e escondendo-lhes as agruras da vida.
Está à rasca a geração dos filhos que nunca foram ensinados a lidar com frustrações.
A ironia de tudo isto é que os jovens que agora se dizem (e também estão) à rasca são os
que mais tiveram tudo. Nunca nenhuma geração foi, como esta, tão privilegiada na sua
infância e na sua adolescência. E nunca a sociedade exigiu tão pouco aos seus jovens como
lhes tem sido exigido nos últimos anos.
Deslumbradas com a melhoria significativa das condições de vida, a minha geração e as
seguintes (actualmente entre os 30 e os 50 anos) vingaram-se das dificuldades em que
foram criadas, no antes ou no pós 1974, e quiseram dar aos seus filhos o melhor. Ansiosos por sublimar as suas próprias frustrações, os pais investiram nos seus descenden-
tes: proporcionaram-lhes os estudos que fazem deles a geração mais qualificada de sempre
(já lá vamos...), mas também lhes deram uma vida desafogada, mimos e mordomias, entra-
das nos locais de diversão, cartas de condução e 1.º automóvel, depósitos de combustível
cheios, dinheiro no bolso para que nada lhes faltasse. Mesmo quando as expectativas de
primeiro emprego saíram goradas, a família continuou presente, a garantir aos filhos cama,
mesa e roupa lavada.
Durante anos, acreditaram estes pais e estas mães estar a fazer o melhor; o dinheiro ia che-
gando para comprar (quase) tudo, quantas vezes em substituição de princípios e de uma
educação para a qual não havia tempo, já que ele era todo para o trabalho, garante do orde-
nado com que se compra (quase) tudo. E éramos (quase) todos felizes. Depois, veio a crise, o aumento do custo de vida, o desemprego,... A vaquinha emagreceu,
feneceu, secou.
Foi então que os pais ficaram à rasca.
Os pais à rasca não vão a um concerto, mas os seus rebentos enchem Pavilhões Atlânticos e
festivais de música e bares e discotecas onde não se entra à borla nem se consome fiado.
Os pais à rasca deixaram de ir ao restaurante, para poderem continuar a pagar restaurante
aos filhos, num país onde uma festa de aniversário de adolescente que se preza é no restau-
rante e vedada a pais.
São pais que contam os cêntimos para pagar à rasca as contas da água e da luz e do resto, e
que abdicam dos seus pequenos prazeres para que os filhos não prescindam da internet de
banda larga a alta velocidade, nem dos qualquercoisaphones ou pads, sempre de última geração.
São estes pais mesmo à rasca, que já não aguentam, que começam a ter de dizer "não". É
um "não" que nunca ensinaram os filhos a ouvir, e que por isso eles não suportam, nem
compreendem, porque eles têm direitos, por-
que eles têm necessidades, porque eles têm
expectativas, porque lhes disseram que eles
são muito bons e eles querem, e querem, que-
rem o que já ninguém lhes pode dar! A sociedade colhe assim hoje os frutos do
que semeou durante pelo menos duas déca-
das.
Eis agora uma geração de pais impotentes e
frustrados.
Eis agora uma geração jovem altamente qua-
lificada, que andou muito por escolas e uni-
versidades mas que estudou pouco e que
aprendeu e sabe na proporção do que estudou.
Uma geração que colecciona diplomas com
que o país lhes alimenta o ego insuflado, mas
que são uma ilusão, pois correspondem a pouco conhecimento teórico e a duvidosa
capacidade operacional.
Eis uma geração que vai a toda a parte, mas
que não sabe estar em sítio nenhum. Uma
geração que tem acesso a informação sem que
isso signifique que é informada; uma geração
dotada de trôpegas competências de leitura e
interpretação da realidade em que se insere.
Eis uma geração habituada a comunicar por
abreviaturas e frustrada por não poder abre-
viar do mesmo modo o caminho para o suces-so. Uma geração que deseja saltar as etapas
da ascensão social à mesma velocidade que queimou etapas de crescimento. Uma
geração que distingue mal a diferença entre emprego e trabalho, ambicionando mais
aquele do que este, num tempo em que nem um nem outro abundam.
Eis uma geração que, de repente, se apercebeu que não manda no mundo como man-
dou nos pais e que agora quer ditar regras à sociedade como as foi ditando à escola,
alarvemente e sem maneiras.
Eis uma geração tão habituada ao muito e ao supérfluo que o pouco não lhe chega e o
acessório se lhe tornou indispensável.
Eis uma geração consumista, insaciável e completamente desorientada.
Eis uma geração preparadinha para ser arrastada, para servir de montada a quem é
exímio na arte de cavalgar demagogicamente sobre o desespero alheio. Há talento e cultura e capacidade e competência e solidariedade e inteligência nesta
geração?
Claro que há. Conheço uns bons e valentes punhados de exemplos!
Os jovens que detêm estas capacidades-características não encaixam no retrato colec-
tivo, pouco se identificam com os seus contemporâneos, e nem são esses que se quei-
xam assim (embora estejam à rasca, como todos nós).
Chego a ter a impressão de que, se alguns jovens mais inflamados pudessem, atirariam
ao tapete os seus contemporâneos que trabalham bem, os que são empreendedores, os
que conseguem bons resultados académicos, porque, que inveja! que chatice!, são
betinhos, cromos que só estorvam os outros (como se viu no último Prós e Contras) e,
oh, injustiça!, já estão a ser capazes de abarbatar bons ordenados e a subir na vida. E nós, os mais velhos, estaremos em vias de ser caçados à entrada dos nossos locais de
trabalho, para deixarmos livres os invejados lugares a que alguns acham ter direito e
que pelos vistos - e a acreditar no que ultimamente ouvimos de algumas almas - ocu-
pamos injusta, imerecida e indevidamente?!!!
Novos e velhos, todos estamos à rasca.
Apesar do tom desta minha prosa, o que eu tenho mesmo é pena destes jovens.
Tudo o que atrás escrevi serve apenas para demonstrar a minha firme convicção de
que a culpa não é deles.
A culpa de tudo isto é nossa, que não soubemos formar nem educar, nem fazer
melhor, mas é uma culpa que morre solteira, porque é de todos, e a sociedade não con-
segue, não quer, não pode assumi-la. Curiosamente, não é desta culpa maior que os jovens agora nos acusam.
Haverá mais triste prova do nosso falhanço?
Mia Couto opina sobre a juventude
Está à rasca a geração dos pais que educara seus meninos numa abastança capricho-sa, protegendo-os de dificuldades e escondendo-lhes as agruras m os da vida. Está à rasca a geração dos filhos que nunca foram ensinados a lidar com frustrações. A ironia de tudo isto é que os jovens que agora se dizem (e também estão) à rasca são os que mais tiveram tudo. Nunca nenhuma geração foi, como esta, tão privilegiada na sua infância e na sua adolescência. E nunca a sociedade exigiu tão pouco aos seus jovens como lhes tem sido exigido nos últimos anos.
Mia Couto
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Livros & Leitores Joyce Celeste Machai
19 anos de idade, de Maputo
Estudante universitária, curso de Administra-ção Pública.
L eu Ualalapi do Ungulani ba Kha Khossa, onde constatou tratar-se
duma manifestação histórica dos acontecimentos, remetendo-nos
a uma realidade questionável porque ao mesmo tempo transcende
a realidade. O autor teve um pensamento proactivo por trazer a história
conhecida com uma abordagem pessoal. Quem não viveu nessa época se
encontra na obra, ao ler sente-se como se estivesse naquele momento. É
um livro fantástico ao lê-lo é um encontro consigo mesmo, numa desco-
berta de si que torna a aventura apaixonante.
Simon Gaspar Jussar 22 anos de idade, natural de Quelimane Cursa Sociologia, em Maputo.
L eu O Último Voo de Flamingo do escritor moçambicano Mia
Couto. Apreciou a maneira que o autor aborda as questões
culturais de um determinado povo, as interpretações que as
pessoas dão aos fenómenos e o encontro ou choque de culturas. No
seu entender a nação moçambicana fez-se presente num ecoar de
um Moçambique para todos sem excepção, que serve como funda-
mento para a libertação do indivíduo, não se prendendo numa for-
ma só de pensar.
TÍTULO: A Cirurgia do Prazer SUBTÍTULO: Contos Morais e Sexuais AUTOR: Miguel Almeida
A moralidade e a sexualidade, a realidade e a ficção, a descrição e a reflexão, exploradas em cada person-agem, em cada atmosfera, em cada situação, em
viagens sensuais que procuram alcançar o centro da comédia humana e o sentido existencial do Homem no mundo. Diz-se que “em Portugal escrevemos pouco sobre sexo e nem sempre sai grande coisa”. E acrescenta-se: “Não é fácil encontrar na literatura portuguesa bons nacos de prosa ou passagens poéticas com conteúdo sexual, talvez porque as palavras do nosso português não ajudam”. Pois bem, este livro dá uma resposta estrondosa a estas lamentações. É um exemplo luminoso de boa literatura com conteúdo sexual e erótico― usando a nossa língua: aquela que nos ensinaram na escola primária! Se os brasileiros conseguem, há portu-gueses que também lá chegam…
Na noite grávida dos nossos sonhos. Reside um morcego pintado de cores
angolenses. Onde em pleno voo rasante aterrou em Maputo. A cidade, a
Infância, a poesia e os homens assistiram a luz eterna do brilho do bronze
estampado nas asas do morcego.
Os mas cépticos diziam – é impossível um morcego com olhos de palanka
ser a voz desta Geração da Revolução. E os mas racionais, com os tímpa-
nos bem assentes no horizonte dos possíveis e os pés abertos para uma
caminhada infindável No Caminho doloroso das Coisas, onde pedras,
lâminas são as fronteiras destes sonhos hasteados Na Idade do Cristo, e o
feitiço que o morcego espalha nas suas constantes viagens a África da
Palavra que idade tem?
Perguntou a cidade ao homem, e em seguida o silêncio agachou-se no colo
do homem, e lá do alto do chão que o mesmo homem pisava. Havia uma
máquina fotográfica que em paralelo com as lágrimas, e o sangue de um
passado muito presente e pouco distante, formavam a orquestra da dor cuja
Percepção Intima do maestro revela-nos As Marcas de Guerra.
Antes de iniciar a sinfonia, o silêncio divorcia-se do homem e o homem
respondeu a questão levantada pela cidade: para conheceres a idade do fei-
tiço do morcego:
POEGRAFIA AO LOPITO FEIJÓO
- Construa uma ilha com a
Doutrina dos sonhos, e nas
nuvens do mar asfalte um
barco (antes de iniciar o
périplo apague a vela, colo-
que uma Rosa e pinte o
mesmo com a Cor-de-
Rosa. feito isto chame a tua
musa Meditando. daí des-
cobrirás a idade do Lex &
Cal do Morcego, e que a
sua cegueira não o impede
de ver, de dar a voz na
orquestra sinfónica do seu
dia a dia, mesmo que com o seu esperma consegue fabricar e com a sua
colher cozinhar Outros Fonemas Doutrinários. quanto mas o morcego
aperfeiçoa a sua profissão de andarilho, mas aprendizes namora, e conse-
quentemente o feitiço das suas palavras embrulhado nas Cartas de
Amor que espalha incansavelmente pelo universo fazem o poeta.
Amosse Mucavele
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Revista Blecaute
Revista Culturas & Afectos Lusofonos
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FICHA TÉCNICA
Cartas Eduardo,
Bom dia!
Querido amigo, fico feliz em receber notícias
suas e a da nossa África.
Rita Dahl é nossa Confreira, pertence como
você para nosso orgulho a Confraria Cultural
Brasil-Portugal.
Parabéns. Graciosas, ricas materiais. Gostamos
de recebe-las e apreciá-las, repassar aos amigos.
Divulgar.
Obrigada e um beijo,
Fátima Quadros
Espaço aberto para debate e comentários sobre assun-tos literários. Mande-nos uma carta pelo e-mail:
Chamo-me Celso Celestino Cossa. Sou alguém
que adora escrever. Alguém
que tem mais de 10 obras escritas (não publica-
das). Quando soube,
através de Izidro Dimande, que o Kuphaluxa
lançava uma revista
literária, não resisti em mandar algumas coisas
que tenho escrito,
para que possam analisar. Obrigado pela aten-
ção!
A Seguir, o texto de Celso Celestino
Cossa em estreia na LITERATAS.
D. Amália hoje não esperou o galo cantar. Seria tarde para ela. Tinha que fazer mais do que sempre fazia, acordar às 5 horas para procurar o “pão da vida”. Devia ser mais cedo. Às vezes, só com a força de duas ou mais pessoas é que
se pode continuar a vida de apenas uma. Pior ainda, se for na época das festas de fim de ano, como agora. Ela estava
cabalmente ciente disso.
As contas todas já haviam sido feitas no dia anterior, sob pena de atrasar, se as fizesse pela manhã. Quando amanhe-ce, para gente como D. Amália, amanhecer é para pôr o pé na estrada e tentar viver. Ou seria sobreviver. Dormir é o
mesmo que estar morto, para muitos de nós que aprendemos como viver todos os dias, nós que aprendemos a driblar
a vida. Esta vida que muitas das vezes não sabe ser mãe. A porta range como sempre: fazendo jus ao descanso que constantemente pede. Como quem não sabe fazer mais
nada se não gritar por socorro, por reforma, pela abolição da escravatura a que é diariamente sujeito. Devia estar num
Museu, na secção de antiguidades. Ou melhor: na secção de ―coisas podres‖, ―coisas que não podem mais‖, ―coisas que não podem nem mais um segundo‖.
A sua casa, este amontoado de caniço cansado, e estacas sulcadas pelo tempo, que servem de arranha-céus para
insectos, vai se saracoteando ao sabor da música do vento, que brinca por perto. Ainda que não falte muito para tocar
o chão. Ou já lá está. Muitos de nós é que não vemos, com estes olhos pobres, de pobres. As permeáveis paredes da sua casa deixam escapar o espaçado ronco de um dos seus filhos, dos 9 que tem. Ou 10.
Com certeza não se trata do mais novo. Porque esse tem pouco mais de 7 meses que desenvolve no seu ventre escra-
vo de pouco espaçadas gestações (somente Deus pode saber como dormem neste amontoado minúsculo a que pode-mos, com sérias desconfianças, chamar de casa). Ou o ronco seria do Alberto, seu marido, esse desempregado que
nada sabe fazer para além de medir forças com a afamada ―Tentação‖, bebida de alto teor alcoólico. Ou com outra
―tentação‖: sua indefesa mulher, D. Amália. Esta mulher que tudo faz para que nunca falte pão e água na mesa, ape-sar dos pesares, ser feita de saco de boxe todos os dias, sem hora e sem razão aparente.
Amália não precisou abrir o portão do quintal para que se fizesse à rua. Somente fez-se para além da fronteira imagi-
nária que cerca a sua casa. Aqui neste bairro é assim: ou os muros que cercam as casas são verdes, de ―espinhosa‖,
ou que o imaginemos. Aqui todo mundo mal come. Mal dorme. Mal tudo um pouco. Mas há uma esperança — ―Ser pobre não é o fim do Mundo. É apenas o começo de um mundo novo, ou de um novo mundo.‖
O olhar que D. Amália lança, sobre o seu ombro ocupado por um saco vazio, parece uma súplica para que a casa não
caia. Para que ao menos ela continue com a mesma escoliose de sempre. Para que aguente mais um dia. Para que não derrube a esperança mal viva, que ainda lhe resta.
-―Mal comemos, mal fazemos quase tudo, agora não ter onde dormir...‖, pensa ela, enquanto apressa os seus passos
sonolentos.
-―Para os pobres não é preciso morrer, ou ter pecado muito na vida para conhecer o Inferno. Aqui na terra pode ser mais inferno que aquele que alcançamos após a morte.‖
D. Amália não é a única que, antes do cantar do Galo, já se faz a vida, a procura do ―pão da vida‖. Colegas suas, car-
regadas de caixotes, bidões, e sacos de todos os tamanhos, que servem para meterem as coisas que irão comprar (revender), já a saúdam. Já encetam com os “Updates” das fofocas. Sem esquecer das reclamações sobre as especula-
ções de preços que sempre se verificam quando estamos nas Quadras Festivas. Pouco, ou quase nada se fala sobre a
Ceia de Natal. Para quê pensar em sapato enquanto não se tem o pé?! A paragem dos ―Chapas-cem‖, Transportes semi-colectivos, já está infestada de gente. Uns vão ao serviço; outros,
para escola; D. Amália e as suas colegas, ―guevar‖, revender produtos, dito em portuguesa língua, no Mercado Gros-
sista do Zimpeto.
Como já era de se esperar, os ―Chapas‖ não estão às formigas, como devia ser. A estas alturas, o ―Machibombo‖ dos TPM (Transporte Públicos de Maputo) está atrasado; já devia ter passado. São 5h10. Não resta mais nada, se não
rezar para que apareça uma ―caixa-aberta‖, para que as dê uma ajuda. Ou para que se ajudem mutuamente. Com libe-
ração dos carros não licenciados para ajudarem o sistema dos transportes públicos todos saímos a ganhar — há como chegar cedo em casa para nós que voltamos do serviço, da escola, e de outros lugares; as camionetas ganham um
combustível extra.
Parece que Deus as escutou. Uma camioneta vem vindo. Mordem-se de ansiedade. Rezam para que a camioneta as leve. ―Pisca!‖, dizem de si para si, a maioria das mulheres. Parece que o motorista da camioneta as escutou. Pisca. À
medida que a camioneta era estacionada, havia outro sentido da reza: que a camioneta fosse para o destino da maio-
ria. O motorista desce o vidro do carro. E, para a felicidade de D. Amália e dos demais presentes, confirmaram que
Deus dá àquele que verdadeiramente querem. — Zimpeto, Drive-in — grita o Motorista da camioneta.
EM BUSCA DO “PÃO DA VIDA”
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Poesia
Talvez hoje eu não estaria aqui sofrendo sozinho
Sem ter onde ir nem quem fique comigo
Talvez alguém cuidaria de mim nessa hora em que não me precisas
mais
Se me dissesses marta
Podia não ficar chorando por tua causa...
Talvez quem sabem por não teres lido este poema
Ou seria por ter perdido este poema sem te mostrar
Mas se me dissesses...
Que tinhas alguém em teu coração...
Este poema seria soneto
Eu seria a névoa das noites adormecidas
E não o que me fazes hoje... MARTA... O sangue do poeta
O sangue do poeta seca-se ao verso racional, alguem o apaga támbem,
diz que amas e o sangue recreia,
sobe à cabeça e recebo outro tratamento.
Não podem lavar o sangue do poeta com o seu sangue sujo!
O coração, só isso, suporta saltar da pedra
que anteriormente provocou um escândalo.
Primeiro o olhar deu uma volta à China,
onde o sangue borbotou do peito da imigrante.
Por que não circula o sangue até à cabeça da cada indivíduo?
Infelizmente não havia o sangue do poeta em mim mesma
embora conseguisse agora com muita força.
Onde vai todo o sangue, perguntou a mosca a mosquito?
A mulher é um espelho do poeta, a vasilha do incenso,
o status. O sangue gotejou para o chão pela tinta.
A junta torturou as impressões escondidas
nos sentidos. O sangue corre dentro alguém de seminal. Os sentidos escondidos nos lençóis
do poeta, rebelde para que o sangue circulasse, esvaziaría a terra exuberante. Nele realizou-se
o idiomatismo: ―que Deus te acompanhe‖.
Se corre unicamente uma gota do sangue nas veias
do poeta, ele será batido e violentado
até sangrem os olhos.
Acima de tudo soa: ―sem o corpo / o sangue é / uma poça de
áqua‖. O poeta fez chichi para ti,
trocou as fraldas, despejou na garganta
bebeu até o ultimo gole. A arma do poeta livre é
esse sangue duma jovem virgem que jorra
da ferida para o peito. Não ajudava
o algodão ou a protecção maior.
Ele decidiu ficar estudante mesmo transpirando sangue.
SE ME DISSESSES MARTA
Rita Dahl - Finlândia
Mouzinho do Rosário Narope — Lichinga
Depois do Carnaval, cinzas – e a ressaca
Desacelerar as partículas do forfé
Tirar as máscaras – encarar o dra-gão real
E reabitar solo parado sem sonhos ou tapetes voadores
Depois do Carnaval, cinzas – e a rotina
De segunda à sexta-feira, o traba-lho
Parecer gente – se é que isso seja possível
E de novo demarcar território arle-quinal sem fantasia
Depois do Carnaval, cinzas – e recuperar
O tempo; o corpo a alma a mente, tudo
Que edifica o cidadão, na volta ao recomeço
Capa e espada. E a coragem de sobreviver a palo seco.
Mauro Brito — Maputo
POEMAS DE PERNOITES
DE ÁFRICA
Maravilhosamente
Esta Maravilha (os) mente Maravilhoso país de pais
Maravilha -o solo Maravilha
Este osso Mar de
Ave & ilhas Mar (ave) ilhas
Mar ilha Mar Ave Ilha
Mar Marado Mar amado Mar de sorrisos Gira sem volta
Passando o fio de esperança Hastes nas nossas ilhas humanas
MAR, AVE, E ILHAS
E MAIS
Eliseu Armando
melhor maneira: liberdade
coerente no estado inercial
do tempo (não antes: outubros
equilibram planejamentos)
acalorado em expectativas: tristezas
invadem e sentem o bater
das pedras (desacerto de corpos
compactados em estreitas
formas).
Pedro du Bois — Brasil
MANEIRAS
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Entrevista por Amosse Mucavele
Literatas (L): Na infância qual foi o seu primeiro contacto marcante
com a escrita?
Miguel Almeida (M.A): Na infância... O meu primeiro contacto com os
livros foi tardio, tanto na perspectiva da leitura como da escrita. Até ter
terminado o ensino secundário, o meu contacto com os livros foi essen-
cialmente escolar, com livros e manuais escolares.
L: Que espaço os livros ocupam no seu dia-a-dia? A leitura de alguma
forma influência o seu trabalho e o seu quotidiano?
M.A: Sou pai, professor e agora também escritor. Para além disso, tam-
bém sou leitor, embora o tempo que tenho disponível para ler seja pouco,
muito pouco e cada vez menos. Ainda assim, com algum exagero à mistu-
ra, bem se pode dizer que a minha vida está recheada de livros: os que li e
os que desejo ler, os que escrevi e os que desejo escrever, os que utilizo
para preparar e para levar à prática as minhas actividades lectivas...
L: O escritor peruano Mario Vargas Losa certa vez disse o seguinte:
”a minha passagem pelo jornalismo foi fundamental como escritor”.
Como porta-voz da sociedade você percebe na literatura ou no jorna-
lismo uma função definida ou mesmo prática?
M.A: Hoje em dia temos muitos escritores, alguns deles autores de
«bestselleres», que confirmam o acerto das palavras de Mario Vargas Llo-
sa, tanto no plano internacional como no nacional. Para além de Vargas
Llosa, que o reconhece, no plano internacional, temos o exemplo de Jona-
than Littell. Em portugal temos, por exemplo, os nomes dos escritores José
Rodrigues dos Santos e Júlio Magalhães, que são também «pivots» de
informação na televisão. Pessoalmente, não reconheço uma mais-valia no
facto de se ser ou ter sido jornalista para se poder ser um excelente escri-
tor. Mas já quanto ao potencial de promoção e de divulgação das obras
de um escritor... mas isso já é uma outra questão. Quando é bem feito, o
jornalismo informa-nos, mantém-nos a par dos acontecimentos do mun-
do e ensina-nos a crescer juntos com ele – o mesmo me parece que se
aplica à literatura, que, para além do que disse, também nos ocupa,
diverte e entretém.
L: Como escritor e leitor, quais são os autores imprecindiveis nas
sua leituras? Quais são os que nunca o abandonam?
M.A: Primeiro que tudo, os clássicos: Homero, Vergílio, Cervantes,
Camões, Dostoievski, Tolstoi, Pessoa... e quase todas as obras dos gran-
des filósofos de todos os tempos. No plano mais actual, há uma situação
deveras curiosa que se passa comigo quando leio qualquer texto ou
qualquer livro do Mia Couto. Através do Facebook, por exemplo, já o
confessei várias vezes: para mim, ler Mia Couto é um perigo, porque
me obriga logo a escrever. Os diversos livros do Mia Couto que li estão
cheios de sublinhados, de notas e de pequenos textos, que escrevo, qua-
se instintivamente, enquanto estou a ler o que ele escreve. Aquela sua
escrita poética na prosa, aquela recriação linguística marcante e cons-
tante, aquelas suas personagens e ambiências ―fabulásticas‖... Enfim,
para mim, o Mia Couto é sempre uma tremenda inspiração. Através do
Facebook já fiz a proposta do Mia Couto para Prémio Nobel da Litera-
tura e os «posts» que fiz tiveram imensas pessoas a clicar no ―gosto‖ e a
deixarem comentários no mesmo sentido.
L: Neste mundo cada vez mais globalizado, tão afeito ao imagético,
com um nível elevado de analfabetismo e com uma diversidade cul-
“A minha vida está recheada de livros”
M iguel Almeida inspirado nas lusitanas palavras, fala
sobre as letras que guiam o seu quotidia-no. Do tardio contacto com os livros, este autor, galgou na cegueira do não ler e, consequentemente, abdicado da escrita. Contudo, há um dom que norteia um cego, o dom da sensibilidade, do tacto, manobra e superação. Por isso, uma viri-lidade o atacou um dia e se solveu pelo demónico paladar das palavras. Decidiu ser criador. E o que cria? Cria coisas, umas fingidas a gente e outras não. Mas falam e locomovem-se, são as palavras. Assim, debruça-se durante esta conversa a dois, trazida por Amosse Mucavele, como entrevistador “virtual” em que, desde Moçambique, alcançou Miguel Almeida, nas terras lusas, e porquê pala-vras, se a voz do silêncio se debruça fora do seu esconderijo (livro).
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Entrevista por Amosse Mucavele
tural abrangente, o que o leva a dedicar-se a arte de escrever numa era
onde ler um livro não é a palavra de ordem?
M.A: A pergunta é quase um diagnóstico... e, infelizmente, certeiro. Remar
contra a maré... Ter consciência da importância de uma causa e contribuir, com
um pouco que seja, para que tenha sucesso. O mundo é o que é, não é o que
deveria ser... Mas nós, sobretudo os que têm as capacidades e os meios neces-
sários, temos a obrigação acrescida de tentar que o mundo seja o mais parecido
possível com aquilo que achamos que deveria ser, para ser melhor, mais justo,
mais bonito e perfeito. A leitura e a escrita podem ser agentes poderosos de
luta contra o facilitismo e o comodismo, contra o vazio intelectual e espiritual.
Se não o são, deviam sê-lo. Se já o são, deviam sê-lo ainda mais.
L: O escritor angolano José Agualusa disse certa vez que “o escritor afri-
cano deve sair do gheto”, sendo o escritor a voz dos que não tem voz, a sua
intervenção social não só deve cingir-se a escrita num país com baixos
niveis de leitura, o escritor deve se expor na sociedade, comunga da mesma
ideia? Ser escritor compensa? Qual é o papel do
escritor?
M.A: Comungo por inteiro e penso que na minha res-
posta à pergunta anterior já disse o essencial do que
penso acerca disso. Às palavras do Zé, só acrescento
que elas são válidas para África e para todas as partes
do mundo, porque por todo o lado há gente sem voz.
Ser escritor compensa, compensa muito, embora as
maiores compensações, pelo menos para mim, não
sejam a nível financeiro, como muita gente pensa.
Mas, felizmente, há outro tipo de compensações, bem
melhores, pelo menos para mim, do que as compensa-
ções que se medem pelo valor exclusivo ou principal
do dinheiro. O papel do escritor... Entreter e divertir,
ocupar as pessoas, e, sempre que possível, fazer pensar
um pouco os seus leitores.
L: A língua nos une, mas continuamos muito dis-
tantes um do outro, em termos globais qual é o esta-
do clínico da literatura de expressão portuguesa? O
que a literatura do seu país recebe dos outros qua-
drantes lusófonos, concretamente os africanos, refi-
ro-me a literatura moçambicana, angolana, gui-
neense, cabo-verdiana, etc.
M.A: É verdade... mas vem aí o novo acordo ortográfi-
co (risos)... Pessoalmente, sou contra. Todos ficamos a
ganhar uns com os outros. Infelizmente, apesar da
identidade da língua portuguesa, é grande, muito gran-
de até, o desconhecimento entre os autores da chamada
lusofonia. Em Portugal, por exemplo, penso que se
aposta pouco nos autores portugueses, tanto no plano
da publicação como no plano da divulgação, onde pen-
so que a situação ainda é mais gritante. Neste último
plano, em concreto, chego a pensar que os mecanismos
estão viciados: existem só para alguns autores, que são
quase sempre os mesmos. Para além do espaço para a
divulgação e promoção do livro ser muito diminuto, é
muito raro ver crítica literária de autores portugueses,
sobretudo dos novos autores, nas poucas publicações
que têm algum espaço para esse efeito.
L: Se em Moçambique, Angola, Cabo-Verde, São Tomé, Timor Leste, etc.,
o grande problema que cruza o caminho do escritor é encontrar uma Edi-
tora onde possa publicar o seu trabalho e em seguida alguém que compre e
lê a mesma, creio que em Portugal e no Brasil acontece o inverso. Ou seja,
COMPRENDE-SE QUE as possibilidades de publicação, NESSES DOIS
PAÍSES, são bem maiores ao que as nossas, com isso, não corre-se o risco
de se ter muita obra imatura nas prateleiras. Qual a sua opinião sobre
isso?
M.A: Não sei se o diagnóstico está totalmente acertado... Mas acho que sim,
que deve ser mais fácil publicar em Portugal ou no Brasil do que em Moçambi-
que, ou em qualquer outro país da África Lusófona. Também estou
de acordo que andam por aí muitas ―obras imaturas‖ nas pratelei-
ras. A triagem devia ser feita pelas editoras, aquando da publica-
ção... mas nem sempre é feita. Assim sendo, acabam por ser os lei-
tores a ter que separar o trigo do joio. Se o fizessem com autono-
mia e com conhecimento de causa, a coisa até nem estaria mal. O
problema é que não é isso que se passa... mas essa é outra questão.
L: Que obra de um escritor de qualquer quadrante do mundo
que os moçambicanos deviam ler urgentemente? Como formar
leitores?
M.A: As minhas (risos)... Tenho seis livros publicados, cinco deles
no último ano. Posso recomendá-los? (mais risos)... Aos moçambi-
canos e a todos aqueles que vierem a ler esta entrevista, recomendo
-lhes que leiam, que façam as suas escolhas e depois tirem as suas
próprias conclusões. Ler faz bem, porque entretém e também nos
faz crescer!
QUEM É?
Miguel Almeida. Licenciado em Filosofia e Mestre em Filosofia da
Natureza e do Ambiente pela Faculdade de Letras da Universidade
de Lisboa. Os seus trabalhos de investigação centram-se na área da
filosofia das ciências, nomeadamente na aplicação das ciências às
questões do ambiente e da ecologia planetários. Desenvolve
actividade docente nas áreas da filosofia e da psicologia.
Continuação
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Colunistas Filosofonias
Marcelo Soriano — Brasil [email protected]
Imagem: "winds of change", by Khalid Albaih. http://www.flickr.com/
photos/khalidalbaih/6135664166/
Comentário: Os Literofagistas
O onívoro devora tudo; o canibal a própria espécie... O
carnívoro, carne... O vegetariano, folhas e frutos... Mas
aqueles que devoram livros, como seriam chamados?
....................................................................
Mini crônica: Vento Norte
[O vento Norte é uma característica marcante na Cidade de Santa Maria,
RS, Brasil]
Há algo semelhante entre as árvores transtornadas pelo
Vento Norte e as senhoras pelas ruas do centro,
garantindo as saias com as mãos e entregando o
penteado à loucura.
....................................................................
Poema: Das Minhas Gavetas
(Lazariana, em 21/01/2005 23:58)
Pior que o assassínio, é a ocultação do cadáver!
Levanta-te, e vem! Levanta-te, e vem! Não tarda!
Os gentios estão inquietos. E logo virarão a cara.
E logo darão as costas. Levanta-te! Levanta-me!
Salva-nos do vexame!
....................................................................
- E tenho dito!
Não escrevo filosofismos; escrevo vivências. O que é lido e
interpretado daquilo que escrevi, independe do que, para mim, eu
tenha escrito.
O passo certo
no caminho errado
Nelson Lineu - Maputo
D esta vez a Palmira é décima sétima na bicha, e acontece o
contrário das outras bichas por ela frequentada quase que
assiduamente, nesta não está por necessidade como ela diz
para si é por desnecessidade. Espera pela vez de ser ouvida pela
autoridade. Vai vendo uma e outra pessoa entrando, as que saem
pelas aparência notasse que são pessoas de posses, o seu semblante
continua invariável, como as outras vezes não fez carretas, nem des-
peja palavrões, convive com aquele calvário como em casa com
mosquito. Entre nós, não existem serviços que se abdiquem das
bichas, funciona como sinal de procura, prosperidade, o que mais a
incomoda é facto dos prestadores desses serviços não darem sinal de
melhoria das condições, o bem-estar dos clientes está em último na
bicha deles.
A Palmira sabendo que os idosos, as mulheres grávidas não se fazem
as bichas, pela prioridade assim convencionada, não via a hora de
engravidar e ter os seus nove meses de acesso livre. Já que para além
de pagar os produtos tinha que pagar o acesso, ficando na bicha. Ela
vivia maritalmente com o Palmar, de princípio dizia que ainda queria
viver a sua juventude por isso como as campanhas de luta contra o
sida dizia ser só para mais tarde, por causa das bichas mudou de
ideia logo, inverteram-se os papéis, hoje é o palmar que é posto con-
tra parede para ela engravidar, pela demora ela passou a chamar-lhe
por incompetente. Pediu para o esposo ir ao curandeiro, ambos eram
religiosos ferrenhos, mas ele não seria capaz de cometer esse pecado,
se fosse por forças sobrenaturais só tinha que ser Deus, passou a
rezar mais do que pensar, ela foi à uma curandeira para se sentir mais
a vontade por causa do sexo, mas para dar certo tinha que ter anuên-
cia do marido, daí que resultou num fracasso, viviam esse impasse
enquanto ela continuava a sofrer nas bichas.
Até que tomou uma atitude, a mesma que lhe faz ficar nessa bicha de
hoje, pegou num pano foi cozendo e pegou em esponjas e pós até
que o Palmar indaga: - estas a fazer uma almofada. - Estou a fazer
grávida - respondeu ela. O palmar não tinha como discutir com ela,
aliás ela não deixaria, ele próprio fazia das dores da mulher nas
bichas a sua, ele até podia aceitar aquilo menos ir ao curandeiro, não
podia desobedecer ao Padre. Ela vestiu a bata que já tinha comprado
à muito e dirigiu-se a bicha consoante a sua necessidade, mas teve
que andar alguns quilómetros do seu bairro para não merecer suspei-
tas, qualquer sacrifício para evitar as bichas eram bem-vindos.
Embora dela fosse falsa, percebia porquê as mulheres grávidas sen-
tiam-se donas do mundo, eram centros de atenção. Já no combate só
faltava tapete vermelho para pisar ao entrar naquela porta que ela
acabou de decifrar o enigma. Os dias foram passando, embora ela
tivesse que caminhar um pouco mais do que o habitual para comprar
a vida como ela mesmo dizia, o tempo para alcançar os seus objecti-
vos era curto e é que contava mais, porque ele é que o dinheiro. Hoje
foi numa em que a situação fazia com que todos se tratassem da mes-
ma maneira, a desordem impunha-se, viu ambulância a levar um
velho, quando ela mesma subia o carro da policia com uma pulseira
mais pesada do que a que ela usava nos seus passeios, essa não tinha
nada a ver com vaidade, descobriram a sua farsa, no meio da confu-
são e tensão, entre empurros e apuros a almofada ou seja a grávida
caiu, a policia estava lá para repor a ordem inclusive repôs a barriga
dela. E agora esta mais uma vez numa bicha a espera de ser ouvida
pelo policia. E vai jogando a culpa ao marido. – Se aquele palmar
desse coco – lamentava.
O bicho bicha
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Croniconto Dany Wambire [email protected]
Em Agosto de 2012
Maputo será a capital da Literatura
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M ais um dia lectivo perdeu existência. Todos estudantes se divergiam para as suas respectivas casas. E eu, na companhia de uma colega,
fazia o mesmo, se evadia do recinto escolar. Ou melhor do recinto
universitário ou da faculdade, pois assim, dizem alguns, que me ponho no meu
digno lugar. São uns amigos de curta data que assim me admoestam, esses que inventaram um verbo que lhes distinguisse dos outros, quaisquer estudantes, que
não estavam nas faculdades: facular. Estuda quem está numa qualquer escola e
facula quem está na faculdade, julgam eles. Engraçado, nem?! Isso é vírus de faculdade, de diploma universitário?! E do conhecimento? Ah, do conhecimen-
to, do saber fazer, poucos se importam. É uma pena desses ignorantes ignorá-
veis! No fim desse dia lectivo, eu e minha amiga caminhávamos falando mal de um docente
nosso. A bem dizer, falávamos verdade. Lamentávamos, ainda, o facto de existir docen-
tes universitários que nem para o Ensino Primário prestavam. Mal dominavam os con-
teúdos programáticos. Não planificavam suas aulas. Apenas vinham passear a sua clas-
se. Ou melhor, a sua burrice.
Mas, falar desses professores não é meu propósito, não é ordenado por esse croniconto.
O que quero cronicontar vem nos sequentes parágrafos.
Quando já estávamos próximo da terminal de ―chapas‖, uma buzina de certo carro nos
pediu atenção. Com efeito, eu e a minha amiga, Marieva Espinha, olhamos a fonte do
som da buzina. E, de imediato, constatamos trejeitos de dedos, envidraçados, a solicitar
presença nossa junto ao carro. Nossa, como quem diz. O proprietário daqueles trejeitos era com minha companheira que queria falar. O moço fora atraído pelas carnes que
enchiam as calças da moça? Pela beleza externa da moça? Afinal, uma coisa é certa: as
calças lhe desenhavam bem os contornos do corpo. Vaidade feminina! Essa que atrai
―moscas‖ para si. É sugada esta vaidade e as proprietárias, depois, jogadas à lixeira.
Convenci, no resto, a minha companheira, com ajuda de algumas pessoas ali
presentes, a ir falar com o fulano. Mas, depois, fiquei arrependido, pesado de culpa. Se tratasse de sequestros, desses que estão vitimando mormente cidadãos
asiáticos? Dose de culpa, eu teria. Então fiquei a expiar os contornos da conver-
sa, em benefício da minha colega.
Foi, então, a partir desse momento que sucedeu o inesperado, uma pergunta feita pelo colocutor da minha companheira mal disposto me deixou.
― Aquele é teu empregado?
Incrível! A Marieva com pena de mim ficou. Mas, de instantâneo, lhe explicou
que eu era colega e amigo dela, sem competência para ser empregado doméstico. Depois, lhe recusou com o número de contacto móvel. E eu, de lado onde me estacionava a contemplar a conversa dos dois, desonrado me senti.
Me olhei, de cima para baixo, nada de anormal eu constatei. Os meus sapatos? Eles não
eram novos e custosos, mas não eram ultrapassados, capazes de confundir a modernidade.
As minhas calças? Eram simples, sem adornos dessas ―pré-lavadas‖, mas venciam escas-
sos elogios dos viciados em roupa. A minha camisa? Essa, não. Era a camisa mais confia-
da. Era barata, mas bastante bonita. Então, o homem só queria alcançar, de qualquer
modo, os seus fins. Afinal, os fins justificam os meios! Mas dessa vez justificaram os
fracassos. Depois, ao longe, procurei caracterizar o homem que se resguardava no carro, que aposto
ser de Estado, produto dos nossos impostos. O senhor era rechonchudo, com roupas caras
adornando a sua ignorância, a pobreza de seu conhecimento. O senhor era desses tipos,
que andavam pela cidade caçando mulheres alheias, prostiputas inclusive. Gastava mal o
dinheiro que ganhava, com prostiputas e bebidas, e depois saía a atirar culpas para o
governo: o salário que nos dão é pouco, que não cobre as necessidades. O salário é pou-
co, ou o juízo que é pouco?!
Pensei seguir com agressões, mas antes medi a dimensão de meus braços para a tarefa. E lisos eram os meus braços, próprios para não intimidarem a ninguém. E
a inteligência? A inteligência, não? Inteligência não é usada para ninharias, frivo-
lidades, para violências com analfabrutos. Inteligência é coisa de muito respeito. Para mais, a pergunta daquele jovem não me surpreendeu. Habituado, eu estava a
pais, medíocres, que conquistam namoradas dos filhos, usando mais ingénuas
astúcias.
― Este meu filho, o que te dá? Sabes que a mesada que consigo partilha, sou eu que lhe dou! E tenho mais!
Para o caso que me aconteceu, a explicação é breve. Afastar o inimigo era forma
fácil do moço ganhar a presa. Quer dizer, fosse namorado daquela mulher e ela mal se sentiria. Teria acesas meditações sobre o seu namorado, da sua aparente
má apresentação, parecendo um doméstico empregado. Por fim, desataria a
namorar com genial observador de namorados ou maridos mal apresentados. De início, em simultâneo, pois espertas mulheres raramente mandam passear o pri-
meiro namorado antes de segurado, e bem segurado o segundo.
Aquele é teu empregado?
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Personagem Angola
J OÃO ANDRÉ DA
SILVA FEIJÓ, de seu
nome completo, nas-
ceu em Malange, ao 29 de
Setembro de 1963, Estudou
Direito em Luanda na Universi-
dade Agostinho Neto (UAN). É
deputado (reformado) da
Assembleia Nacional da Repú-
blica de Angola.
Como criador assina usualmen-
te J.A.S. Lopito Feijóo K. Poeta e critico literário, ensinou Lite-
ratura angolana. Membro fundador da Brigada Jovem de Litera-
tura de Luanda (BJLL), e do colectivo de trabalhos literários
OHANDANJI, é membro da União dos Escritores Angolanos
(UEA), onde exerceu o cargo de secretário para Relações Inter-
nacionais, é actualmente presidente da Sociedade Angolana de
Direito do Autor (SADIA). Tem colaboração dispersa em publi-
cações de Angola, Portugal, Espanha, Brasil, Estados Unidos da
América (EUA), Moçambique, São Tomé e Príncipe, Nigéria,
etc. É membro da academia Brasileira de Poesia ―casa Raúl De
Leoni‖. É membro da International Poetry dos EUA e da Mai-
son International de la Poesie, sediada em Bruxelas, Reino da
Bélgica.
Está repertoriado na 10ª. Edição do International Directory of
Distinguished (2004-2005),do American Biographical Institute,
bem como no Dicionário de Autores de Literaturas Africanas de
Língua Portuguesa (1997), de Aldónio Gomes e Fernanda
Cavacas.
Lopito Feijóo é titular do cartão de LEITOR DE HONRA da
biblioteca da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa -
FLUL.
Do autor
Poesia
Doutrina (1987)
Me ditando (1987)
J.A.S. Lopito Feijóo K.
Rosa Cor-de-rosa (1987) Cartas de amor (1990)
Na idade de Cristo. Poesia declamada em CD (1997)
O Brilho de Bronze – Haikais (2005) Marcas de Guerra (2011)
Lex & Cal Doutrina (2012)
Ensaio: Critica Literária
Meditando - Textos sobre Literatura (1992)
Geração da Revolução – (1993)
Organização e divulgação
No campo doloroso das coisas: Antropologia Panorâ-mica dos Jovens poetas angolanos (1988)
África da Palavra: Antologia de poesia de amor dos
anos 80 – (1995)
DE
PEDRA
E
SAL
Sonhado sóbrio
Subo ao alto
Da altivez
Sério
sorvo o sumo
que somei
semeando o sentido
nem tido
nem perdido so
licito sol
dado sem
sílaba tónica
somente samaritano
servente servindo só
rindo volta e meia
de soslaio
FINALMENTE FEITICEIROS
Todo aquele angaria
dor do
ente ferido
tanto aquele mor
cego amor
talhado
resvala psíco
pata ama
chacando no breu.
S E X T A - F E I R A , 0 9 D E M A R Ç O D E 2 0 1 2 | L I T E R A T A S | L I T E R A T A S . B L O G S . S A P O . M Z | 1 3
Gregório Firmino * Ensaio
O BJECTIVO DA APRESENTAÇÃO
• DISCUTIR ASPECTOS RELACIONADOS COM A
MOÇAMBICANIZAÇÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA (LP)
QUESTÃO PRINCIPAL
• A LÍNGUA PORTUGUESA É/PODERÁ SER UMA LÍNGUA
MOÇAMBICANA(ZINADA)?
HIPÓTESE PARA A DISCUSSÃO
HÁ ASPECTOS LINGUÍSTICOS E (sobretudo) SÓCIO-SIMBÓLICOS
QUE JUSTIFICAM O PRESSUPOSTO DE QUE A LP ESTÁ NUM PRO-
CESSO DE NATIVIZAÇÃO (justificando-se assim a sua moçambicaniza-
ção)
O que é nativização? Segundo Kachru (1982) a ―nativização‖ (também chamada indigenização ou endogeniza-
ção ) pode ser definida como um processo de aculturação através do qual uma LWC
[língua ex-colonial] se aproxima do contexto sócio-cultural de um país pós-colonial. Atra-
vés da nativização, uma variedade não-nativa é culturalmente integrada na ecologia social
da pós-colónia e adquire novas funções sociais. Além disso, ela desenvolve inovações lin-
guísticas que ganham significado comunicativo e social no contexto destas novas funções.
MOTIVAÇÃO
• Uso da expressão língua(s) moçambicana(s)/língua(s) naciona(l/is) como referên-cia às línguas bantu (nunca tratadas como línguas étnicas)
• Uso da expressão língua oficial como referência à LP (nunca tratada como língua nacional/moçambicana, apesar de ser símbolo da unidade nacional
• Resistência/Contestação/problematização do uso da LP (ex. Lázaro Mabunda: Erro Apocalíptico, artigo no semanário ―O País‖ de 17 e 24/08/2007)
• A questão linguística em África: Discussão perene
• Contestação do uso/oficialização de línguas ex-coloniais
• Elitização social (Djité 1991)
• Afastamento das “massas” da vida nacional (Mazrui & Tidy 1984)
• Alienação cultural (“subjugação espiritual” Ngugi wa Thiongo, 1987)
• Insucesso escolar (Bokamba & Tlou 1980)
• Há vozes com uma visão mais pragmátca (Chinua Achebe, Milton Obote, etc.)
Língua africana (No matter what!) • ―However, Africa has a unique problem stemming from its multilingual situation and
the fact that there are a number of ex-colonial languages competing for supremacy in the
continent. Since these many foreign languages are known by a very insignificant few, the
only way of bringing as many Africans to own our development initiatives is by a shift in
the language policy. We must develop our languages for effective communication with the
masses. We have proposed Kiswahili as the language best suited for development as a
language for the African union. If that is not easy to attain in the short term, we can de-
velop a number of African languages initially. Towards this end we can pick on Hausa for
West Africa, Arabic in the north; Zulu in South Africa, Kiswahili in East and Central Af-
rica while encouraging the continued development of Kiswahili. If for valid reasons
Kiswahili is not acceptable, I will vote for any other language as long as it is an African language‖ (ênfase minha, Mohochi, 2002).
―Contudo, África tem um problema único que deriva da sua situação multilingue e do
facto de haver línguas ex-coloniais lutando pela supremacia no continente. Uma vez que
estas muitas línguas estrangeiras são conhecidas por um número insignificante, a única
forma de trazer muitos africanos para as nossas próprias iniciativas de desenvolvimento é
através da mudança na política linguística. Nós devemos desenvolver as nossas línguas para se conseguir uma efectiva comunicação com as massas. Nós propusemos o Kiswahili
como a língua mais adequada para ser desenvolvida como língua para a união africana. Se
tal for não fácil de obter a curto prazo, podemos desenvolver inicialmente um número de
línguas africanas. Para este fim, podemos escolher Hausa na África Ocidental, Árabe
no norte; Zulu na África do Sul, Kiswahili na África Central e Oriental, ao mesmo
tempo que se encoraja o desenvolvimento contínuo do Kiswahili. Se, por razões váli-
das, Kiswahili não é aceitável, eu votarei por uma outra língua, desde que seja uma
língua africana‖ (ênfase minha, Mohochi, 2002)
Questões prévias para a discussão
• Qual é a situação do Português?
• Até onde a visão generalizante de estudiosos africanistas se enquadra ao caso do
Português em Moçambique?
• Língua colonial?
• Língua estrangeira/exógena?
• Língua nacional(izada)?
» Pode haver uma língua que seja símbolo da nação/língua da unidade nacional
sem ser língua nacional?
» Por que geralmente não se aceita a designação línguas nacional/língua moçam-
bicana para o Português?
― (…) Diferentemente de muitos países do continente, a situação da língua portugue-
sa não é a de uma herança incómoda com carácter provisório enquanto se não encon-
tra uma língua ‗genuinamente‘ africana. (...) É um projecto que visa anular todas as
consequências da arbitrariedade do traçado geográfico do País, dar-lhe uma identida-
de nacional e uma consciência cultural, através do povo que nele habita‖ (Rosário 1982: 64-5).
Nativização do Português? • Reconstrução linguística
• Novas estruturas gramaticais
• Ex. A música que ela gosta (dela) está a tocar na RM.
• Novas formas lexicais
• Ex. Moleque/empregado doméstico, patrão, cabritar
• Novos usos discursivos/retóricos
• Ex. Dizer que …, Portanto …
• Aquele gajo pá é um grande cabrito!
• (Cf. Gonçalves 1996; Gonçalves 2010)
• Reconstrução sócio-simbólica
• Nova ideologia linguística
• (língua colonial Vs língua “anti-colonial” Vs língua nacionalizada)
• Novas valorizações sociais do desempenho linguístico, que mostram a inser-
ção da língua numa nova ecologia social
• Sotaque
• O Português está a interiorizar-se no contexto sócio-cultural do Moçambique
pós-colonial (…). Este processo corresponde ao desenvolvimento de uma nova ideo-
logia linguística, à medida que as autoridades oficiais e a opinião pública percebem e
reconhecem o Português como uma língua oficial e língua franca. Entretanto, à medi-
da que a esta ideologia evolui, a língua portuguesa em Moçambique incorpora novas
características linguísticas distintivas. Assim, o processo de nativização do Português compreende duas dimensões: uma simbólica, com a emergência de novas atitudes e
ideologias sociais face ao uso da língua; e uma linguística, com o desenvolvimento
de novas formas de uso da língua (Firmino 2002).
Impacto da nativização
• Expansão do uso da língua (indo para além dos domínios públicos e oficiais)
• Alargamento de utentes da língua (nas suas variadas formas, principalmente nos
meios urbanos)
• ―O Português em Moçambique pode ser visto como um continuum que oscila
desde as formas do “mau” Português (pejorativamente chamado pretoguês) até às
formas mais próximas do Português europeu. ― ( cf. Firmino 2002)
A LP NÃO ESTARÁ DESCOLONIZADA?
Descolonizámos o Land-Rover (Albino Magaia)
Já não é carro cobrador de impostos
Nós descolonizámo-lo
Já não é terror quando entra na povoação
Já não é Land-Rover do induna e do sipaio
(...)
Com a nossa luta
Transformámos em amigo este inimigo
Nós, descolonizadores
Libertámos o Land-Rover
Porque também ficou independente, afinal
Transformaram-se os objectivos que servia E hoje é militante mecânico
Um desviado reeducado
Uma prostituta reconvertida em nossa companheira
Descolonizámo-la e com ela casámos
E não haverá divórcio.
(...)
Descolonizámos uma arma do inimigo
Descolonizámos o Land-Rover
A PROBLEMÁTICA DA NACIONALIZAÇÃO DE LÍNGUAS EX-
COLONIAIS: O CASO DO PORTUGUÊS EM MOÇAMBIQUE
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Concursos
REMATE FINAL (I)
(…) as sociedades africanas nunca foram sistemas fechados imunes à integração
de novos elementos e transformações ou mudanças resultantes de influência
externa. Antes pelo contrário, elas mantêm estruturas abertas que num processo
contínuo permitem que novas realidades e elementos vindos de fora possam ser
absorvidos, transformados e adaptados aos contextos africanos. As transforma-
ções dos padrões das línguas europeias em África são parte deste processo à
medida que se adequam a realidades políticas e sócio-culturais em rápida
mudança (cf. Tengan 1994: 128-130, in Firmino 2004: 345).
• Diversidade Linguística em Moçambique
– Coexistência entre LP e várias LB
• Como entender a situação da LP fora da sua relação com as LB?
• Competição ou complementaridade entre LP e LB?
• Como superar alguns efeitos negativos da implantação de LP
(desequilíbrios em termos de género, região, idade)?
Bibliografia
Bokamba, E. & Tlou, J. S. (1980). The Consequences of the Language Policies
of African States vis-à-vis Education. In Reconsideration of African Linguistic
Policies. Kampala: OAU Bureau of Languages, pp. 45-66
Djité, Paulin G. (1991). Langues et Development en Afrique. Language Prob-
lems and Language Planning, vol. 15, No. 2, pp. 121-138
Firmino, G. (2002). A ―Questão Linguística‖ na África Colonual: O Caso do
Português e das Línguas Autóctones em Moçambique. Maputo: Promédia
Gonçalves, P. (1996). Português de Moçambique- Uma Variedade em Forma-
ção. Maputo: UEM
Gonçalves, P (2010a). A Génese do Português de Moçambique. Lisboa: Casa
da Moeda
Mohochi, Ernest (2002). Language and Regional Integration:
Foreign or African Languages for the African Union? Comunicação
apresentada na 10a Assembleia Geral da CODESRIA General
Assembly, Kampala, Uganda, 8-12 December 2002
Mazrui, Ali & M. Tidy (1984). Nationalism and the New States in
Africa. London: Heinemann
Ngugi Wa Thiongo (1987). Decolonizing the Mind: The Politics of
Language in African Literature. Harare: Zimbabwe Publishing
House
Rosário, Lourenço (1982). Língua Portuguesa e Cultura Moçambi-
cana: De Instrumento de Consciência e Unidade Nacional a Veícu-
lo e Expressão de Identidade Cultural. in Cadernos de Literatura.
Coimbra: Centro de Literatura Portuguesa da Universidade de
Coimbra, pp. 58-66
Tengan, A. B. (1994). European Languages in African Society and
Culture: A View on Cultural Authenticity. in Putz, M. ( ed. ). Lan-
guage Contact and Language Conflict. Amesterdam/Philadelphia:
John Benjamins Publishing Company, pp. 125-138
Texto apresentado no dia da CPLP, em Maputo,
por Prof. Dr. GREGÓRIO FIRMINO , docente
de linguística na Faculdade de Letras e Ciências
Sociais da
Universidade Eduardo Mondlane (FLCS-UEM)
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Concursos
PRÉMIO LITERÁRIO KARINGANA WA KARINGANA UNIVERSIDADE DO MINHO
Regulamento:
Artigo 2º (Objectivo)
O ―Prémio Literário Karingana Wa Karingana - Universidade do Minho‖, tem por objectivo incentivar a escrita criativa em língua portu-guesa em Moçambique e destina-se a galardoar uma obra inédita sob a forma de conto, de novela ou de um conjunto de contos.
Artigo 3º (Candidatos)
Podem candidatar-se ao Prémio os estudantes nacionais finalistas da 12ª Classe do Ensino Pré Universitário nos anos 2010 e 2011, e que com-provadamente tenham frequentado este ciclo de estudos em Moçambi-que.
Artigo 4º (Publicitação)
O Prémio será publicitado e divulgado pelo Ministério da Educação de Moçambique, junto de todas as Escolas Secundárias de Moçambique, pelos meios que tiver por convenientes, até final de Novembro de 2011.
Artigo 5º (Valor do prémio)
O prémio a atribuir será constituído por: a) Uma bolsa de estudos para a realização de estudos de licenciatura em Portugal, na Universidade do Minho, por um período de 3 (três) anos; b) A edição conjunta das 3 (três) melhores obras a concurso e de um conto escrito por Mia Couto. alteração.
Artigo 6º (Objecto)
1) Cada concorrente elaborará o seu texto tendo como linhas iniciais as escritas por Mia Couto tal como transcrito no ponto 3) deste artigo; 2) A obra terá de ser individual, original e redigida em português, podendo conter expressões em outras línguas (devidamente explicadas em glossário); 3) Texto de Mia Couto em itálico e entre aspas: ―O livro que fechou a menina Marília fechou o livro escolar como quem encerra as duas partes do mundo. As mãos pequenas alisaram a capa com tristeza de despedida. A menina sabia que, junto com o livro, se cerravam as portas do tempo.
Mas, pai, não dá para prosseguir mais um ano? - Está a ver o que dá a escola? Agora, já pensa que tem escolha… - Mas o professor pediu… O pai ergueu a mão como se as palavras não bastassem para exprimir a sua indignação. O que mão dele dizia era simples: Marília que ficas-se calada, no lugar de silêncio que lhe competia. Depois, ainda azedou: - Esse professor pediu para falar comigo? Que abusos são esses, o que quer este homem da minha filha?
- Ele não quer de mim, ele quer de si, pai. O professor acha que eu devia continuar os estudos. Quer pedir que o senhor não me mande interromper a escola. - Pois esse professor vai ver. Vou denunciá-lo na administração. E você é muito burra, não vê as intenções que este homem tem consigo? Marília contemplou o livro pousada na mesa. E de repente, lhe pareceu que as mãos do livro é que a tinham fechado a ela. Para sempre.‖
Artigo 7º
(Características da obra) a) Os textos deverão ser apresentados por escrito, sob pseudónimo, deve-rão ter um mínimo de 30 folhas e um máximo de 60 folhas formato A4 (210 x 297mm), apenas frente, espaço 1 ½ entrelinhas e letra Times New Roman, tamanho 12; b) Deverão ser enviados 6 (seis) exemplares em papel, assim como uma
cópia em suporte electrónico (que poderá ser enviada via correio electrónico, protegida contra
Artigo 8º (Processo de envio)
Forma de apresentação: a) As obras a concurso – trabalho dactilografado – devem ser encerradas em envelope opaco e fechado, no rosto do qual deve ser escrita a palavra «Obra»; b) Em envelope com as características indicadas na alínea anterior, no rosto do qual deve constar a identificação, morada e pseudónimo do concor-rente, devem ser incluídos documentos que contenham os seguintes elemen-tos: 1. Fotocópia do Bilhete de Identidade; 2. Indicação de morada, nº. de telefone e e-mail; 3. Indicação do Estabelecimento de Ensino e número de aluno; 4. Declaração de renúncia a qualquer pagamento a título de direitos de autor, no caso de a obra vir a ser publicada pela ―Karingana Wa Karingana‖ ou por a quem esta ceda os direitos de publicação; c) No caso de se tratar de concorrente menor é obrigatória a apresentação de uma declaração assinada pelos pais ou por quem detenha a tutela do parti-cipante, autorizando a sua participação no concurso e expressando o seu acordo com o presente regulamento. Esta declaração deverá ser acompanha-da por cópia bem legível dos pais ou tutor(es) do participante; d) Os envelopes a que se referem as alíneas anteriores são encerrados num terceiro, igualmente opaco e fechado, que se denominará «Invólucro exte-rior», para ser remetido sob registo ou entregue pessoalmente, contra recibo. e) Os trabalhos deverão ser enviados, até 31 de Maio de 2012 (inclusive) – a comprovar pela data no carimbo do correio e/ou do correio electrónico – para: 1. ‖Prémio Literário Karingana Wa Karingana – Universidade do Minho‖ Rua Patrice Lumbumba nº 899, Maputo, Moçambique 2. e em suporte digital, para: [email protected] f) Os exemplares dos trabalhos apresentados não serão devolvidos aos concorrentes. g) Serão excluídos todos os trabalhos que não respeitem as disposições deste regulamento.
Regulamento
Prazo para envio dos textos: 03 de abril de 2012
1.1. A presente antologia é promovida pela Literarte- Associação Internacional de escritores e artistas .
1.2. Poderão participar da antologia todas as pessoas físicas maiores de 18 anos, ou
menores com permissão do responsável, residentes legais no Brasil, bem como bra-
sileiros residentes no exterior. Também poderão participar da Antologia escritores de outras nacionalidades, desde que a língua mantida seja a língua portuguesa.
1.3. Das características da antologia: A Antologia , receberá única e exclusivamen-
te contos, poesias, trovas, haikais,sonetos e crônicas, sendo que a criatividade e imaginação do escritor darão o toque e estilo ao trabalho. 1.4. Poderão participar da
antologia autores com menos de vinte e um anos,mediante autorização por escrito
de um responsável legal, acompanhada de fotocópia do original de documento de identidade do mesmo para conferência e registro de inscrição.
1.5. A participação se dará no sistema de cotas, sendo que cada autor deverá proce-
der ao pagamento da seguinte forma:
Cada autor pagará o valor de R$ 500,00 (quinhentos reais) que podem ser pagos em duas parcelas, por cota de publicação com o primeiro pagamento até 10 de abril
e o segundo até 10 de maio.·
(Caso receba notificação que seu texto foi aprovado)·
1.6 Os participantes receberão um total de 12 exemplares da Antologia por participação.
Título;
Formato: 230 X 160 mm (fechado)
Paper: OFF SET 1.7. A presente antologia será confeccionada pela Editora Literarte, será regis-
trada , receberá ISBN , mas cada autor é responsável por registrar suas obras, a
antologia tem como finalidade estimular a produção de contos, formação e divulgação de novos autores.
2)DA ACEITAÇÃO DOS CONTOS, CRÔNICAS E POESIAS 2.1. Serão aceitos apenas contos , crônicas e poesias em língua portuguesa, de
temática pertinente a antologia, com limite de cinco mil caracteres por texto
com espaços, em formato A4, espaços de 1,5 entre linhas, fontes times ou arial
tamanho 12, acompanhados dos dados de inscrição que constam no parágrafo 5.5 desse regulamento.2.3. Os contos devidamente formatados deverão ser
enviados para o
email:[email protected] ou [email protected] ou enviados diretamente pelo site: www.grupoliterarte.com.br Assunto: Anto-
logia New York , junto com os dados de inscrição e demais documentos de
autorização.
Antologia:Brazilians Days
Divulgado e lançado na Expo-America em New York – EUA