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UNIVERSIDADE CATLICA PORTUGUESA
CENTRO REGIONAL DE BRAGA
FACULDADE DE CINCIAS SOCIAIS
REDE NACIONAL PARA OS CUIDADOS
CONTINUADOS INTEGRADOS
O Idoso, a Alta e a Capacidade Funcional
II Ciclo de Estudos em Gerontologia Social Aplicada
Carla Alexandra Macedo dos Santos
Orientador
Professor Doutor Eduardo Jorge Duque
Braga, 2011
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UNIVERSIDADE CATLICA PORTUGUESA
CENTRO REGIONAL DE BRAGA
FACULDADE DE CINCIAS SOCIAIS
REDE NACIONAL PARA OS CUIDADOS
CONTINUADOS INTEGRADOS
O Idoso, a Alta e a Capacidade Funcional
II Ciclo de Estudos em Gerontologia Social Aplicada
Carla Alexandra Macedo dos Santos
Orientador
Professor Doutor Eduardo Jorge Duque
Braga, 2011
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RESUMO
A presente investigao tem o intuito de conhecer o grau de dependncia funcional
de indivduos com 65 e mais anos que estiveram internados na unidade de
convalescena dos cuidados continuados integrados. Deste modo, nosso propsito
avaliar o grau de dependncia funcional em 3 momentos distintos: aquando do
internamento na unidade de convalescena, na alta e aps 1 ms da referida alta.
Para o efeito, realizou-se um estudo no internamento da Unidade de
Convalescena, integrada na Rede Nacional para os Cuidados Continuados Integrados
da Santa Casa da Misericrdia de Pvoa de Lanhoso, procedendo-se aplicao de 20
inquritos a idosos, com idades compreendidas entre os 65 e os 91 anos de idade
(M=76,6). Trata-se de um estudo no experimental quantitativo, do tipo longitudinal de
painel. Empregou-se utilmente uma ficha de caracterizao scio-demogrfica e uma
escala: a Escala de Barthel. Os resultados evidenciam diferenas significativas nas
pontuaes mdias entre cada uma das avaliaes. As pontuaes mdias da escala de
Barthel aumentaram significativamente da 1 para a 2 avaliao e da 2 para a 3, ou
seja, a reabilitao dos doentes idosos inquiridos na amostra gradual e efectiva.
Palavras-chave: Idosos, Dependncia Funcional, Rede Nacional para os Cuidados
Continuados Integrados.
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ABSTRACT
The present investigation aims to determine the degree of functional dependence
of individuals aged 65 and older who were admitted to the recovery of continued care.
Thus, our purpose is to assess the degree of functional dependence in three distinct
stages: during the stay in the convalescent unit, at discharge and after one month of that
high.
To this end, we carried out a study of hospitalization in the Convalescent Unit,
part of the National Network for the Continuous Care, Santa Casa da Misericordia in
Povoa de Lanhoso, proceeding to the application of 20 surveys of seniors, aged between
65 and 91 years of age (M = 76.6). It is a non-experimental quantitative study, the
longitudinal panel. Usefully employed to form a socio-demographic and a scale:
"Barthel Index". The results show significant differences in mean scores between each
of the assessments. The mean scores of the Barthel scale increased significantly from
the 1st to the 2nd assessment and the 2nd to the 3rd assessment, in other words, the
rehabilitation of the elderly respondents in the sample is gradual and effective.
Keywords: Elderly, Functional Dependency, National Network for Continuous Care.
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AGRADECIMENTOS
Deixo aqui expresso o mais profundo agradecimento a todos aqueles que contriburam
para a realizao desta dissertao, e que sempre se disponibilizaram a prestar to
imprescindvel apoio..
s pessoas mais importantes da minha vida, os meus
Pais. Pela palavra e pelo exemplo, no relacionamento mtuo e nas opes quotidianas, a
eles um eterno agradecimento pelo amor, dedicao, carinho, confiana, pacincia e
fora incondicional durante todos estes anos. Sem eles os meus objectivos no se teriam
concretizado.
Aos meus avs, exemplos de vida a seguir.
Ao meu orientador, Professor Doutor Eduardo Duque, pelos ensinamentos de
investigao e pelo entusiasmo para a realizao desta investigao.
excelente equipa da Unidade de Convalescena do Hospital da Santa Casa da
Misericrdia da Pvoa de Lanhoso pela total disponibilidade e amabilidade
demonstrada durante todo o processo de recolha de dados, para alm de todos os
esclarecimentos fornecidos.
Aos idosos que participaram no estudo, o meu sincero agradecimento.
Ao Fernando, amigo que funcionou sempre como fora motivadora para prossecuo do
trabalho, para alm, da inesgotvel disponibilidade na optimizao do mesmo.
Aos meus colegas e amigos, muito em especial Patrcia e ao Andr pelo apoio efectivo
na elaborao da tese.
A todos, um muito obrigado!
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NDICE
INTRODUO ............................................................................................................... 11
PARTE I - FASE CONCEPTUAL ........................................................................................ 15
1.1. Formulao do Problema de Investigao ..................................................... 15
PARTE II ENQUADRAMENTO TERICO ........................................................................ 19
2.1. O Envelhecimento Demogrfico ................................................................... 20
2.2. Implicaes Sociais....................................................................................... 22
2.3. Processo de Envelhecimento ......................................................................... 26
2.4. Envelhecimento e Doena ............................................................................. 27
2.5. Rede Nacional para os Cuidados Continuados Integrados ............................. 31
2.5.1. Objectivos da RNCCI ............................................................................. 32
2.5.2. Dependncia Funcional .......................................................................... 33
2.5.3. Coordenao da RNCCI ......................................................................... 35
2.5.4. Tipos de Respostas ................................................................................. 36
2.5.4.1. Unidade de Convalescena ................................................................. 39
2.5.4.2. Unidade de Internamento de Mdia Durao e Reabilitao ............... 41
2.5.4.3. Unidade de Internamento de Longa Durao e Manuteno................ 42
2.5.4.4. Unidade de Cuidados Paliativos ......................................................... 43
2.5.4.5. Cuidados Continuados Domicilirios.................................................. 43
2.5.4.6. Unidade de Dia e Promoo de Autonomia ......................................... 44
PARTE III FASE METODOLGICA ................................................................................ 45
3.1. Desenho da Investigao ............................................................................... 45
3.2. Amostra ........................................................................................................ 47
3.3. Mtodo de Recolha de Dados ........................................................................ 48
vvii
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3.4. Mtodo de Anlise dos Dados ....................................................................... 55
3.5. Consideraes ticas .................................................................................... 55
3.6. Caracterizao da Amostra ............................................................................ 56
PARTE IV FASE EMPRICA .......................................................................................... 58
4.1. Apresentao dos Resultados ........................................................................ 58
4.1.1. Resultados relativos ao nvel de dependncia, na realizao das AVD`s ........59
4.1.2. Resultados relativos ao grau de dependncia, segundo a Escala de Barthel ...65
4.2. Interpretao e Discusso dos Resultados...................................................... 67
CONSIDERAES FINAIS............................................................................................... 70
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS .................................................................................... 72
ANEXOS ...................................................................................................................... 81
ANEXO 1-INSTRUMENTO DE RECOLHA DE DADOS (INQURITO) ..................................... 82
ANEXO 2 - DECLARAO DE AUTORIZAO DA SANTA CASA DA MISERICRDIA DE PVOA DE
LANHOSO PARA RECOLHA DE DADOS ............................................................................ 85
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NDICE DE TABELAS
Tabela 1 Tipologias de Internamento e Fases de Implementao .............................. 45
Tabela 2 - Caracterizao da Amostra ......................................................................... 56
Tabela 3 - Resultados relativos Actividade de Vida Diria Higiene Pessoal ........... 59
Tabela 4 - Resultados relativos Actividade de Vida Diria - Tomar banho ................ 59
Tabela 5 - Resultados relativos Actividade de Vida Diria - Alimentao ................. 60
Tabela 6 - Resultados relativos Actividade de Vida Diria Toilette ........................ 61
Tabela 7 - Resultados relativos Actividade de Vida Diria - Locomoo em Escadas 61
Tabela 8 - Resultados relativos Actividade de Vida Diria - Vestir ........................... 62
Tabela 9 - Resultados relativos Actividade de Vida Diria - Defecao .................... 63
Tabela 10 - Resultados relativos Actividade de Vida Diria - Urinar ........................ 63
Tabela 11 - Resultados relativos Actividade de Vida Diria - Transferncia
Cadeira/Cama ............................................................................................................. 64
Tabela 12 - Resultados relativos Actividade de Vida Diria - Deambulao ............. 65
Tabela 13 - Resultados relativos ao grau de dependncia (Escala de Barthel) .............. 65
Tabela 14 Comparao dos valores mdios obtidos nas trs avaliaes .................... 66
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SIGLAS/ABREVIATURAS
AVDs Actividades de Vida Diria
CAD Centros de Apoio a Deficientes/Centros de Recursos
CF Capacidade Funcional
CS Centros de Sade
CSP Cuidados de Sade Primrios
DC Doena Crnica
DF Dependncia Funcional
ECCI Equipas de Cuidados Continuados Integrados
ECL Equipas Coordenadoras Locais
ECR Equipas Coordenadoras Regionais
ECSCP Equipas Comunitrias de Suporte de Cuidados Paliativos
Ed. Editor
EUA Estados Unidos da Amrica
Fem. Feminino
FORHUM Formao de Recursos Humanos
ICIDH Classificao Internacional de Comprometimento, Incapacidades e
Desvantagens
INE Instituto Nacional de Estatstica
IPSS Instituies Particulares de Solidariedade Social
M Mdia
Masc. Masculino
OMS Organizao Mundial de Sade
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p Grau de significncia
RNCCI Rede Nacional para os Cuidados Continuados Integrados ou Rede
SAD Servios de Apoio Domicilirio
Signif. Significncia
SPSS Statistical Package of Social Science
STA Servios Telealarme
UMCCI Unidade de Misso para os Cuidados Continuados Integrados
WHO World Health Organization
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RNCCI O Idoso, a Alta e a Capacidade Funcional
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INTRODUO
A Gerontologia estuda os processos associados idade, ao envelhecimento e
velhice, sendo uma rea de convergncia entre a biologia, sociologia e a psicologia do
envelhecimento. O envelhecimento, nesse sentido, representa a dinmica de passagem
do tempo e a velhice, por sua vez, o resultado de um processo global de modificaes
progressivas e incessantes no funcionamento do organismo, fazendo com que o
indivduo tenha dificuldades em se adaptar ao meio ambiente, tornando-o
consequentemente mais vulnervel.
A biologia do envelhecimento estuda o impacto da passagem do tempo nos
processos fisiolgicos ao longo do curso de vida e na velhice. A psicologia do
envelhecimento, por sua vez, concentra-se nos aspectos cognitivos, afectivos e
emocionais relacionados com a idade, e ao envelhecimento com nfase no processo de
desenvolvimento humano. A sociologia baseia-se em etapas especficas do ciclo de vida
e concentra-se nas circunstncias socioculturais que afectam o envelhecimento e as
pessoas idosas (Alkema e Alley, 2006). Podemos da, constatar que o envelhecimento
varia de acordo com o indivduo.
O fenmeno do envelhecimento um processo relativamente actual. Tal facto
est associado, por um lado, acentuada diminuio da taxa de natalidade e, por outro
lado, ao aumento significativo da esperana de vida. Este envelhecimento traz
consequncias graves para a economia e para a sociedade e representa um desafio a
diversos nveis. A criao de novas infra-estruturas e equipamentos, medidas laborais
que incentivem a aprendizagem dos mais velhos, a validao de experincia e medidas
de combate ao isolamento e inactividade so algumas das medidas a ter em conta.
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RNCCI O Idoso, a Alta e a Capacidade Funcional
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O envelhecimento da populao potencia mudanas e desafios para a sociedade
em todos os aspectos, sejam sociais, polticos, econmicos, culturais ou referentes
sade. Este ltimo talvez consista no mais enfatizado e preocupante entre idosos, j que
a maioria deles apresenta pelo menos uma doena e limitaes de sade (Comisso
Europeia, 2010).
O envelhecimento, visto como um processo de declnio funcional, apresenta
grandes afinidades conceptuais com a sade.
A maior parte das pessoas idosas desfrutam de uma sade que lhes permite viver
de uma forma independente, ou seja, conseguem alcanar um nvel aceitvel de
satisfao das necessidades, atravs de aces adequadas que o indivduo realiza por si
mesmo, sem ajuda de outra pessoa, nomeadamente as actividades de vida diria
(AVDs), onde se incluem: alimentar, vestir, fazer a higiene pessoal, locomover, subir e
descer escadas, controlar os esfncteres, entre outros. (Santos, 2000).
O comprometimento na realizao, com maior ou menor dificuldade das
actividades de vida diria, definida pela World Health Organization como capacidade
funcional (CF), vai condicionar o desempenho satisfatrio das AVDs, potenciando
deste modo a dependncia funcional (DF) dos idosos na vida quotidiana. A dependncia
funcional definida como a incapacidade de realizar uma ou mais AVDs, sem auxlio.
A DF definida em graus, esta pode classificada como leve, moderada ou avanada. A
CF e a DF so dois conceitos que fazem parte de um sistema de Classificao
Internacional de Comprometimento, Incapacidades e Desvantagens (ICIDH) da WHO.
Num estudo realizado por Capelo (2001) verificou-se que as doenas crnicas e
incapacitantes que mais acometem a populao idosa so a diabetes, as cardiopatias, os
problemas osteoarticulares, estas duas com igual frequncia, seguidas da hipertenso
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RNCCI O Idoso, a Alta e a Capacidade Funcional
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arterial, da amputao de membros, da cegueira, da paraplegia, do cancro e, por ltimo,
de doena renal.
A pessoa idosa tem evidentemente necessidades desiguais no que concerne aos
cuidados de sade. Conforme a populao envelhece, os sistemas de sade tm de se
adaptar com o objectivo principal de prestar os cuidados adequados e, simultaneamente,
manter a sua estabilidade financeira.
Com vista a potenciar a prestao de cuidados continuados integrados a pessoas
que, independentemente da idade, se encontrem em situao de dependncia, foi criada
a Rede Nacional para os Cuidados Continuados Integrados (RNCCI ou Rede).
Orientada para a prestao de cuidados numa ptica global de satisfao das
necessidades das pessoas que apresentam dependncia, com necessidade de cuidados de
sade e de apoio social, esta Rede veio preencher uma lacuna em Portugal no mbito da
Sade e do Apoio Social, colocando desta forma o pas ao mesmo nvel dos parceiros
europeus, no que diz respeito a polticas de bem-estar promovidas pelo Estado (Guia da
Rede para os Cuidados Continuados Integrados, 2009).
Para analisarmos a problemtica apresentada, estruturamos o nosso estudo em
quatro captulos. O primeiro captulo corresponde fase conceptual, onde se pretende
formular o problema de investigao, identificando o objecto de estudo, tal como os
objectivos e a finalidade do mesmo. No segundo captulo apresenta-se o enquadramento
terico do tema em investigao atravs da identificao das temticas mais relevantes
para o seu equacionamento. Deste modo, neste captulo, falar-se- de envelhecimento na
sua dimenso global; do envelhecimento demogrfico e suas implicaes sociais; de
seguida abordar-se- o processo de envelhecimento e a sua relao com a doena, mais
propriamente com a dependncia funcional e, o ltimo ponto a incidir relacionar-se-
com o mecanismo de aco da RNCCI, nomeadamente, objectivos, coordenao e tipos
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RNCCI O Idoso, a Alta e a Capacidade Funcional
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de resposta da mesma.
O terceiro captulo do estudo diz respeito fase metodolgica, onde se identifica
o desenho da investigao, tal como a amostra, e o mtodo de recolha de dados mais
conveniente, para alm da referncia ao mtodo de anlise dos dados e s consideraes
ticas. O quarto, e ltimo captulo, compreende a fase de apresentao dos resultados e
a interpretao e discusso dos mesmos.
Nas consideraes finais pretende-se apresentar os resultados derivados deste
estudo, bem como elaborar algumas sugestes para futuros procedimentos na rea em
anlise.
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PARTE I - FASE CONCEPTUAL
A fase conceptual comea quando o investigador trabalha uma ideia para
orientar a sua investigao (Fortin, 1999).
1.1. Formulao do Problema de Investigao
As alteraes demogrficas do ltimo sculo, que se traduziram na modificao
e, por vezes, na inverso das pirmides etrias, reflectindo o envelhecimento da
populao, vieram colocar aos governos, s famlias e sociedade em geral desafios
para os quais no estavam preparados (Direco Geral de Sade, 2004).
Segundo Fernandes (2007), o novo panorama de necessidades resulta
essencialmente de trs factores: o primeiro o envelhecimento progressivo da
populao portuguesa, consequncia do aumento da esperana mdia de vida
nascena; o segundo factor relaciona-se com as mudanas verificadas no perfil das
patologias, com peso crescente das doenas crnicas e degenerativas; e por ltimo, as
alteraes sociolgicas ocorridas, em particular nas estruturas familiares e nas redes
informais de apoio comunitrio.
Segundo o mesmo autor, se o crescimento da esperana mdia de vida o
resultado positivo do progresso humano, tambm o motivo do desencadear de
inquietaes particularmente no que respeita ao aumento dos custos em cuidados de
sade primrios, hospitalares e continuados, aos encargos humanos e financeiros que
decorrem do aumento de situaes de incapacidade e dependncia. Viver mais tempo
significa que se atinge uma idade mais elevada onde maior a probabilidade de
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ocorrncia de situaes patolgicas complexas susceptveis de virem a desencadear
incapacidade e dependncia. a usura do tempo que coloca os organismos em situao
de maior vulnerabilidade fisiolgica.
Embora a doena possa afectar o indivduo em qualquer fase do ciclo vital, a
ocorrncia de problemas associados ao sistema msculo-esqueltico, ainda que a todos
os grupos etrios, mais frequente no idoso. Normalmente, no ameaam a vida, no
entanto, exercem um impacto significativo sobre as suas actividades dirias.
Para a pessoa idosa a independncia funcional normalmente o factor mais
importante na manuteno da qualidade de vida, por estar relacionada com a capacidade
do indivduo se manter na comunidade, desfrutando a sua independncia at s idades
mais avanadas (Devons, 2002).
Com o avanar da idade, as alteraes ao nvel do sistema locomotor surgem
mais rapidamente, alterando no s a aparncia e a estrutura fsica, mas tambm o
funcionamento do organismo (Alves et al., 2005).
As prestaes hoje existentes no respondem com efectividade s necessidades
das pessoas que se encontram em situao de perda de funcionalidade ou de
dependncia devido sua insuficincia, indiferenciao e frgil articulao. A
inadequao ou mesmo a provvel inexistncia de cuidados aps alta hospitalar, vai
originar novos problemas de sade e o regresso ao hospital. Neste panorama, destacam-
se os mais idosos, que representam 50% do total das readmisses (Direco Geral de
Sade, 2006).
H necessidade eminente que a recuperao seja efectiva, da a importncia de a
perceber e de criar equipas de cuidados domicilirios com servios de sade, juntamente
com o apoio das equipas de segurana social.
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RNCCI O Idoso, a Alta e a Capacidade Funcional
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Outra realidade relaciona-se com a vulnerabilidade dos cuidadores informais,
mais especificamente a famlia.
A famlia um lugar primordial para trocas intergeracionais. a que as
geraes se encontram e interagem de forma intensa. o lugar de troca, de entreajuda
incondicional do cuidar. A solidariedade familiar uma fonte inesgotvel, apesar de
se encontrar muitas vezes exposta s perturbaes sociodemogrficas das sociedades
modernas (Fernandes, 2007).
Esta consciencializao social levou a que os encargos com idosos, que
anteriormente eram da responsabilidade da famlia ou de particulares, fossem
transferidos para instncias despersonalizadas e burocratizadas, em que as relaes entre
os agentes se operam de forma annima ignorando mutuamente as suas existncias
(Lenoir, 2007).
A constatao da existncia de escassos trabalhos de investigao no mbito da
recuperao e manuteno da independncia funcional nos idosos, aps um perodo de
convalescena, contribuiu para uma crescente motivao na realizao deste estudo.
Para alm desta manifesta relevncia a nvel acadmico e nvel social, tambm a nvel
profissional e pessoal houve um interesse pela investigar desta temtica.
O objectivo de um estudo permite orientar a investigao, indicando o porqu da
investigao, sendo [] um enunciado declarativo que precisa as variveis-chave, a
populao alvo e a orientao para a investigao (Fortin, 1999: 100) .
Neste sentido, definiu-se como objectivo deste estudo:
-- Conhecer qual o grau de dependncia funcional dos indivduos com 65 e mais
anos que estiveram internados na unidade de convalescena dos cuidados continuados
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RNCCI O Idoso, a Alta e a Capacidade Funcional
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integrados, em 3 momentos distintos: aquando do internamento na unidade de
convalescena, na alta e aps 1 ms da referida alta.
A finalidade deste estudo o de contribuir para um melhor conhecimento do
contributo das unidades de convalescena, integradas na Rede para os Cuidados
Integrados, na reabilitao e promoo da qualidade de vida dos idosos. Uma vez que o
processo de envelhecimento individual, a recuperao de um estado dependente
assume caractersticas particulares em cada indivduo, nomeadamente, ao que s AVDs
dizem respeito, para tal fulcral o planeamento das intervenes multidimensionais a
pr em prtica, afim de manter a independncia dos idosos pelo maior tempo possvel.
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PARTE II ENQUADRAMENTO TERICO
A aproximao a esta temtica remete para a delimitao de alguns conceitos
que esto intimamente ligados mesma, e que so de fulcral importncia para a sua
compreenso. Assim, neste captulo ser feita uma abordagem dos diferentes conceitos
presentes neste estudo.
O envelhecimento populacional um dos maiores desafios da sade pblica na
actualidade (OMS, 2000).
A evoluo demogrfica da populao portuguesa, traduzida, entre outros, pelo
aumento progressivo da esperana de vida e dos ndices de envelhecimento, leva a
prever um aumento acentuado do nmero de pessoas em situao de fragilidade e de
risco de perda de funcionalidade (Direco Geral de Sade, 2004).
A Organizao Mundial de Sade afirma que o conjunto de doenas,
denominado por doenas crnicas no transmissveis, responsvel por 60% das mortes
e incapacidades em todo o mundo, numa escala progressiva, podendo chegar a 73% de
todas as mortes em 2020 (Mathers, 2002).
O facto de que para a populao com 65 e mais anos, a presena de uma
limitao fsica, seja ela causada por uma doena ou resultante de acidente, representa
um risco para a sua autonomia, principalmente quando esta limitao sugere a
dependncia na realizao AVDs e, consequentemente, um dfice do seu bem-estar
psicolgico. Quando questionados relativamente sua percepo de qualidade de vida,
o idoso refere, frequentemente, a falta de sade e a dependncia como uma das suas
principais preocupaes (OMS,2000).
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RNCCI O Idoso, a Alta e a Capacidade Funcional
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Com o desenvolvimento da geriatria e da gerontologia, em conjunto outras reas
afins, tem-se demonstrado que os idosos tm potencial para enfrentar diferentes
situaes na vida, tais como, a doena e a limitao fsica (Ramos, 2002; Veras, 2002).
2.1. O Envelhecimento Demogrfico
Tm-se sido significativas as profundas mudanas no perfil demogrfico das
populaes que explicam o fenmeno do envelhecimento. Segundo Guillemard (2003),
o envelhecimento no s um fenmeno demogrfico, dado que, sendo portador de
transformaes sociais, econmicas e culturais, constitui-se como fenmeno
estruturante das nossas sociedades. concomitante com os fenmenos migratrios,
designadamente com o xodo rural, com a reduo do tempo de trabalho, com a
implementao da segurana social, com a feminizao do emprego so indissocivel
dos progressos em termos de saneamento bsico, alimentao, escolarizao, formao
profissional e acesso a cuidados de sade. No que se refere melhoria das condies de
sade pblica, fazem parte o controlo efectivo sobre doenas infecto-contagiosas e um
melhor domnio sobre algumas patologias, devido aos avanos da cincia e da
tecnologia, e proteco social da velhice, o que correspondeu para a maioria dos
pases europeus implementao do Estado de Providncia.
Estas drsticas modificaes na estrutura da populao nos pases desenvolvidos
resultam, por um lado, no aumento da esperana de vida1 e, por outro, na diminuio da
taxa de natalidade2.
11 Esperana de vida o nmero de anos que, em mdia, se pode esperar viver a partir de um certo
momento de existncia, em geral o nascimento (mas tambm pode ser o incio da velhice, etc.).
2 Taxa de natalidade o nmero de nados-vivos, por mil habitantes, num determinado perodo de tempo
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RNCCI O Idoso, a Alta e a Capacidade Funcional
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No que concerne esperana de vida nascena em Portugal, em 1960 era de
60,7 anos para os homens e de 66,4 anos para as mulheres. Em 2001, estes valores eram
de 73,7 anos (o que equivale a um acrscimo de 13 anos) e de 80,6 anos (aumento de
14,2 anos), respectivamente (INE, 2002).
Quanto taxa de natalidade, a mdia era de 23,7% em 1960, sendo que, em 2001
o valor diminuiu para 10,8%, o que indica uma diminuio do nmero de nascimentos
(Ibidem).
Estes dados evidenciam um duplo envelhecimento da populao, ou seja, se por
um lado, h um aumento do nmero de idosos, por outro, observamos uma diminuio
do nmero de jovens.
Projeces recentes do INE apontam para o agravamento do envelhecimento
demogrfico no futuro. O abrandamento do ritmo de crescimento da populao
residente em Portugal encontra-se associado ao decrscimo das taxas de crescimento
migratrio (0,09% em 2008, face a 0,61% em 2003), a par de uma reduo das taxas de
crescimento natural (0,00% em 2008, face a 0,04% em 2003). Paralelamente ao
reduzido aumento da populao, manteve-se a tendncia de envelhecimento
demogrfico. Entre 2003 e 2008, e relativamente ao total da populao, a proporo de
jovens (com menos de 15 anos de idade), aumentou de 16,8% para 17,6%. A
conjugao de ambas as tendncias consubstancia-se num continuado envelhecimento
da populao, tendo o ndice de envelhecimento aumentado de 107 idosos por cada 100
jovens, valor registado em 2003, para 115 em 2008.
Para o perodo 2007/2009, a esperana mdia de vida nascena foi estimada
em 78,9 anos, sendo de 81,8 para as mulheres e 75,8 para os homens. Em relao
estrutura da populao por idades, observa-se que em 2009, segundo as estimativas da
populao residente, a percentagem de indivduos entre os 0 e os 14 anos era de 15,2%,
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RNCCI O Idoso, a Alta e a Capacidade Funcional
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o grupo dos 20 aos 24 anos registava 11,1%, dos 25 aos 64 anos a percentagem
estimada foi de 55,8% e o grupo dos 65 e mais anos atingia 17,9% da populao. Em
2008, a distribuio pelos mesmos grupos etrios era a seguinte: 15,3%, 11,4%, 55,7% e
17,6%, respectivamente. A evoluo de 2008 para 2009 vem confirmar, mais uma vez, o
envelhecimento da populao portuguesa, envelhecimento visvel tanto pela diminuio
da proporo da populao jovem, como pelo aumento da proporo da populao
idosa. Em 2000, as mesmas propores eram de 16,0%, 14,3%, 53,4% e 16,4%,
respectivamente (INE, 2010).
De acordo com o cenrio mais esperado, continuar a declinar a percentagem de
jovens da populao, atingindo, segundo perspectivas do INE, os 13% em 2050,
representando os idosos nesse mesmo ano 32% da populao, ou seja, o dobro do valor
percentual registado, em 20013.
2.2. Implicaes Sociais
Actualmente, o envelhecimento constitui um problema social que ocupa um
lugar de crescente relevncia, com importantes implicaes na qualidade de vida das
pessoas, nas perspectivas de realizao dos seus projectos de vida e na sustentabilidade
dos sistemas de proteco social.
Face estimada diminuio do nmero de activos, o acrscimo da percentagem
de inactivos poder exigir quotizaes mais elevadas da populao activa de forma a
manter o nvel de retribuies. Contraditoriamente, a longevidade com melhores
condies de vida poder chocar com a antecipao do tempo mdio de vida activa. O
33 De acordo com o cenrio mais plausvel, a esperana de vida nascena passar, neste perodo (2000-
2050), para 79 anos no caso dos homens, e para 84,7 anos no caso das mulheres.
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reconhecimento das dificuldades de assegurar financeiramente o sistema de segurana
social no quadro actual um dos maiores problemas com que se deparam as sociedades,
cujos regimes se baseiam no princpio de repartio, tal como Portugal, em virtude de
dependerem de obrigaes recprocas entre geraes, pelo facto de financiamento da
reforma de uma determinada gerao ser sustentada pela sua gerao sucessora. A
possibilidade de assegurar o mesmo direito a geraes futuras aparenta colidir quer com
o processo de envelhecimento demogrfico, quer com determinadas formas de
organizao econmica (Filipa Alvarenga, 2001).
No entender de Jos Lus Casanova (2001), vive-se hoje com crescente
perplexidade e incmodo social um dos paradoxos mais notveis do desenvolvimento e
da modernizao nos pases industrializados: aumenta sistematicamente a esperana de
vida, mas esvazia-se de autonomia, de status social, de oportunidades e de qualidade de
vida a condio social da maior parte da populao idosa.
Nas sociedades modernas industriais, mais estruturadas pelo trabalho, mais
voltadas para o seu exterior e mais prospectivas, o desenvolvimento econmico,
cientfico e tecnolgico, associado a uma mais intensa valorizao social da longevidade
e da sade, criaram condies para o aumento da esperana de vida. Por sua vez, os
movimentos sociais e a consagrao de sistemas de proteco social estatais
determinaram a institucionalizao da reforma como direito social (Fernandes, 2004), e
a organizao capitalista da produo (com a tnica no crescimento econmico e na
produtividade) associada ao investimento social no progresso, no futuro e na adaptao
a mudanas rpidas, contriburam decisivamente para fomentar o culto da inovao e da
juventude.
A crescente visibilidade da velhice, enquanto problema social, articula-se com a
necessidade de novas orientaes polticas sociais dirigidas terceira idade e ao
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reconhecimento da urgncia de modernizao da proteco social neste domnio que,
inevitavelmente, questiona os prprios sistemas pblicos de penses actualmente em
vigor (Filipa Alvarenga, 2001).
A identificao das pessoas idosas em situao de fragilidade econmica e que
apresentam nveis elevados de dependncia enquanto grupos de risco, face aos quais
urge proporcionar o direito a envelhecer com segurana e dignidade, torna pertinente
uma abordagem ao nvel do combate das desigualdades perante a velhice, atravs de
medidas de discriminao positiva indispensveis melhoria do seu acesso aos direitos
consagrados para todos os cidados (Ibidem).
Posto isto, os governantes vem-se, assim, obrigados ao desenvolvimento de
uma rede de apoio social integrado atravs tanto da optimizao dos recursos
disponveis - numa ptica de melhoria da qualidade e eficcia dos servios e
equipamentos sociais existentes e das prprias metodologias de interveno -, como da
criao de novas infra-estruturas de apoio aos idosos que permitam uma maior cobertura
do pas (Ibidem).
Neste sentido, desenvolveram-se algumas medidas e respostas sociais que vo ao
encontro dos princpios mencionados, nomeadamente dos Programas seguintes:
Programa de Apoio Integrado a Idosos (PAII) tem como objectivo
evidenciar os direitos das pessoas idosas a uma vida condigna, qualquer que
seja o seu estado de sade ou situao familiar e social, prevenindo e
erradicando situaes de excluso. Entre os objectivos deste programa
desenham-se contributos para a solidariedade entre geraes, a implementao
de respostas inovadoras, a promoo de parcerias e a criao de postos de
trabalho. Privilegia-se, assim, a execuo de projectos de implementao local,
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atravs do desenvolvimento de um trabalho em rede que rena vrios sectores,
entidades e instituies, bem como parceiros naturais (famlia, vizinhos,
comunidade). Os principais projectos de promoo local visados so:
Servios de Apoio Domicilirio (SAD), projectos de alargamento
da cobertura existente, extenso do apoio totalidade das 24
horas, a melhoria dos servios prestados e a adequao do
ambiente domicilirio s necessidades das pessoas idosas;
Centros de Apoio a Deficientes/Centros de Recursos (CAD),
servios pluridisciplinares de cuidados integrados de carcter
temporrio, continuando o apoio a diferentes grupos etrios para
a preveno, reabilitao e reinsero de pessoas com
dependncia;
Formao de Recursos Humanos (FORHUM), visa-se o
incentivo habilitao para a prestao de cuidados formais e
informais junto de profissionais, familiares, vizinhos e
voluntrios.
No que concerne ao domnio dos projectos de promoo central, prev-se a
continuidade dos projectos Sade e Termalismo, Passes para a Terceira Idade, Turismo
Snior e servios de telealarme (STA)4.
44 O Servio de Telealarme uma resposta social complementar que, atravs de um sistema inovador de
telecomunicaes nacional, permite a partir do accionamento de um boto de alarme o contacto com a
rede social de apoio de cada pessoa; os passes para a terceira idade vieram eliminar as restries horrias
nos transportes pblicos nas coroas dos passes sociais de Lisboa e Porto; no que respeita sade e
termalismo snior, trata-se de comparticipaes, em funo dos rendimentos das pessoas idosas, na
estadia em termas, mediante prescrio de tratamentos termais pelo mdico de famlia. O PAII, resulta do
Despacho Conjunto, de 1 de Julho de 1994, dos Ministros da Sade e do Emprego e Segurana Social
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Programa de Apoio Iniciativa Privada Social (PAIPS)5 destina-se
a apoiar a criao, desenvolvimento e melhoria, qualitativa e quantitativa, de
equipamentos e servios locais dirigidos populao idosa;
Programa Idosos em Lar (PILAR)6 procura desenvolver e
intensificar a oferta de lares e outras respostas sociais para idosos, atravs do
realojamento de pessoas oriundas de instituies com fins lucrativos sem
condies de funcionamento, da cobertura de necessidades de colocao
institucional em zonas deficitrias de servios e equipamentos sociais e de
apoio criao e remodelao de lugares dirigidos a utentes de Instituies
Particulares de Solidariedade Social (IPSS) sem condies de financiamento.
Trata-se no s de dar respostas s carncias sentidas pelas pessoas idosas em
Portugal, apoiando o incentivo cooperao e articulao das intervenes tanto
governamentais como no-governamentais, como consagrar o direito a optarem pelo
modo como preferem viver a sua velhice.
2.3. Processo de Envelhecimento
Torna-se pertinente aferir a idade para se considerar que se idoso, no entanto a
imposio de um limite cronolgico meramente arbitrrio. A entrada na velhice
depende de vrios factores que ultrapassam os limiares da mera cronologia. Cada
indivduo reage de forma diferente ao avano da idade. A velhice construda
paulatinamente, para a qual concorrem variveis biolgicas e sociais (Farinnatti, 2002:
129).
55 Resoluo do Conselho de ministros n 91/99, 12 de Agosto
6 Resulta do Despacho do secretrio de Estado da Insero Social, de 20 de Fevereiro de 1997
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Por uma questo estrutural, funcional e regulamentar, tem sido considerada a
proposta da Organizao Mundial de Sade (OMS) e da Organizao das Naes
Unidas (ONU), que conceptualizam o idoso pela idade e grau de desenvolvimento do
seu pas, propondo para os pases desenvolvidos um limite inferior de 65 anos e 60 anos
para os pases em desenvolvimento (Paschoal, 2000).
Paralelamente s alteraes normativas do envelhecimento, estudos
epidemiolgicos descrevem uma maior morbilidade e mortalidade associados a esta
faixa etria. Sanchez (2000) refere que as transformaes fsicas e a fragilidade das
condies de sade dos idosos podem comprometer a sua capacidade funcional,
originando com frequncia a perda da autonomia.
Segundo Berger (2003), na maioria dos pases industrializados, a actual taxa de
dependncia cerca de dois adultos independentes, para cada pessoa dependente. A
idade no um prognstico exacto de dependncia das pessoas, no entanto, dados do
Instituto Nacional de Estatstica (INE), revelam que entre a populao com dependncia
o ndice de envelhecimento de cerca de 5,5 vezes superior ao da populao total.
2.4. Envelhecimento e Doena
Como temos vindo a fazer referncia, relativamente ao processo de
envelhecimento, torna-se difcil estabelecer um nico conceito, devido variedade de
definies existentes, e cada uma com enfoques em diferentes aspectos. No sentido
biolgico, envelhecer entendido como um processo natural (irreversvel) e progressivo
envelhecimento primrio ou natural, e que faz parte do ciclo de vida do ser humano
pois inicia-se com a concepo e termina com a morte, passando pelas fases de
desenvolvimento intra-uterino, nascimento, infncia, maturidade e velhice (Magalhes,
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2004), esta ltima etapa traz consigo a diminuio fsica, mental e social, consequente
das alteraes estruturais e funcionais que experimenta no corpo e na mente todos
quantos envelhecem. E que no podendo ser evitadas podem ser minimizadas e adiadas.
Por outro lado, temos ainda o processo de envelhecimento como um fenmeno
complexo, designado por envelhecimento secundrio ou patolgico, que submete o
organismo a inmeras alteraes anatmicas e fisiolgicas, afectando a sua integridade,
permitindo o surgimento das doenas crnicas e, ou degenerativas e predispondo a uma
maior mortalidade.
Em 1946, a Organizao Mundial de Sade definiu sade como um completo
estado de bem-estar fsico, mental e social, e no s a ausncia de doena ou
enfermidade. Esta definio deixou bem assente que a doena e a enfermidade, quando
isoladas da experincia subjectiva, so inadequadas para qualificar sade.
A sade deve definir-se de forma positiva e descentralizada do indivduo,
percebendo-o como um ser integrado no meio.
Alargar a sade s dimenses psicolgicas e sociais foi um avano significativo,
mas, embora conceptualmente importante, revela-se desprovido de valor operacional.
Envelhecer com sade, autonomia e independncia, constitui, assim, hoje, um desafio
responsabilidade individual e colectiva, com traduo significativa no desenvolvimento
econmico dos pases (Rodrigues, 2006).
So vrias as tentativas de definir sade, apresenta-se de imediato algumas
dessas definies, assim sendo:
Plena adaptao fsica, mental e social ao ambiente em que vive
(Polgar, 1963);
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Estado dinmico de bem-estar, caracterizado por um potencial fsico e
mental, que satisfaz as necessidades da vida consoante a idade, a cultura, e a
responsabilidade pessoal (Bircher, 2005);
Capacidade de funcionamento eficaz, dentro do possvel e atendendo ao
meio, e de utilizao plena das suas capacidades (Dubos, 1968).
Segundo o Alto Comissariado da Sade, a definio que melhor descreve o
termo sade, e que est a ser adoptada, a de Bircher, uma vez que a formulao que
mais se enquadra no pensamento actual.
O aparecimento da doena nem sempre est associado etapa de velhice, no
entanto, sabemos que o envelhecimento aumenta a probabilidade de surgimento de
doena e, prolonga o tempo de recuperao.
A importncia da varivel sade/doena no envelhecimento de tal modo
importante que est na origem da distino clssica entre envelhecimento normal ou
primrio (um processo natural), em que est subjacente a ausncia de doena e
envelhecimento patolgico ou secundrio, induzido ou agravado pela ocorrncia de
doena, e em que esta se torna causa prxima da morte (Birren & Cunningham, 1985).
De acordo com a OMS, a doena crnica (DC) uma doena de longa durao
e de progresso geralmente lenta, sendo definida pelo Centers for Disease Prevention
and Control como condio que no cura, uma vez adquirida [] e que se pode
prolongar 3 meses ou mais (Sociedade Portuguesa de Medicina Interna, 2009).
Segundo a mesma fonte, as doenas crnicas so a principal causa de morte e
incapacidade.
A OMS indica que as doenas crnicas de declarao no obrigatria, como as
doenas cardiovasculares, a diabetes, a obesidade, o cancro e as doenas respiratrias,
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representam cerca de 59% do total de 57 milhes de mortes por ano e 46% do total de
doenas no mundo. Afectam pases desenvolvidos e pases em vias de desenvolvimento,
Portugal no excepo.
Estudos laboratoriais e clnicos baseados na populao sugerem que um nmero
restrito de factores de risco modificveis responsvel pela maioria das doenas
crnicas: dietas no saudveis com alta ingesto energtica, falta de actividade fsica e
uso do tabaco. Estes factores de risco so os mesmos para homens e mulheres em toda a
regio europeia (Sociedade Portuguesa de Medicina Interna, 2009), disseminando-se
por todo o mundo como consequncia do fenmeno da globalizao dos estilos de vida.
As doenas crnicas representam hoje um dos desafios mais importantes que enfrentam
os sistemas de sade do sculo XXI (Institute of Medicine, 2001).
Muitas pessoas com doenas crnicas sobrevivem durante perodos
considerveis de tempo, em consequncia das intervenes mais eficazes
disponibilizadas pelos sistemas de sade, tornando-se deste modo, necessria uma
continuidade de cuidados. Os factores de risco tais como a obesidade, o sedentarismo e
o tabagismo tm uma elevada prevalncia, pelo que, sem polticas de interveno
efectivas e duradouras visando a sua reduo, as taxas de doenas crnicas continuaro
a subir, significativamente.
Ao contrrio de alguns mitos instalados, as doenas crnicas no respeitam
estratos sociais e econmicos, atingem tanto mulheres como homens, embora seja nas
idades avanadas que se verifica uma maior compresso da morbilidade. Em termos
mundiais, as DC afectam hoje mais pessoas do que as doenas infecciosas e so
responsveis pelo maior peso da doena na Europa (OMS, 2008).
Apesar das DC serem as que mais se evidenciam durante o processo de
envelhecimento, importante que no limitemos a a anlise: por um lado, nem todas as
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doenas crnicas so igualmente incapacitantes; por outro lado, a incapacidade
funcional tambm pode decorrer de acidente ou de doena aguda, definida como
patologia, que tm um desenvolvimento acelerado, terminando com convalescena ou
at mesmo morte. So exemplo destas doenas, as infeces por vrus, bactrias, trauma
fsico, enfartes, hemorragias e outras condies cardiovasculares.
Outras das causas de restrio da actividade nos idosos so as que comprometem
o aparelho steo-articular (por exemplo, fractura do colo do fmur e artroses), as
doenas do aparelho crebro-vascular (como o caso do acidente vascular cerebral) e as
perturbaes da viso e da audio.
O sistema de sade dispe, numa perspectiva individual, de uma rede de
prestao de cuidados de sade (com servios integrados, centrados em equipas
multidisciplinares e com recursos humanos devidamente formados) com uma
componente de recuperao global e de acompanhamento das pessoas idosas,
designadamente atravs da rede de cuidados continuados integrados, que integram
cuidados a diversos nveis (DGS, 2006).
2.5. Rede Nacional para os Cuidados Continuados Integrados
Em Portugal, tal como noutros pases desenvolvidos, o aumento crescente da
esperana de vida e o consequente aumento do envelhecimento da populao, para alm
da prevalncia continuada de situaes de cronicidade mltipla, de incapacidade, de
pessoas com doena incurvel em estado avanado e em fase final de vida, e as
alteraes na organizao e dinmicas familiares com o isolamento dos idosos a
ampliar-se quotidianamente, fizeram emergir novas necessidades sociais e de sade,
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RNCCI O Idoso, a Alta e a Capacidade Funcional
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associadas a novas atitudes e expectativas da sociedade (Entidade Reguladora da Sade,
2011).
Em 2005, no mbito da actividade da coordenao Nacional para as Pessoas
Idosas e Cidados em Situao de Dependncia, iniciou-se o projecto de desenho e
implementao de um novo modelo de cuidados continuados integrados para Portugal
continental. O objectivo era facilitar o estabelecimento de estratgias e intervenes
adequadas para a constituio de um novo espao de cuidados que contribusse para dar
uma resposta coerente a quem necessitasse, no s de cuidados de sade como tambm
de apoio social. Em 2006, foi criada pelo Decreto-lei n101/2006 de 6 de Junho, a Rede
Nacional para os Cuidados Continuados e Integrados (RNCCI), no mbito dos
Ministrios da Sade e do Trabalho e da Solidariedade Social (RNCCI, 2006).
2.5.1. Objectivos da RNCCI
O principal objectivo da criao da Rede a prestao de cuidados continuados
integrados a pessoas que, independentemente da idade, se encontrem em situao de
dependncia. Como tal, existem objectivos que devem ser observados:
Prestao individualizada e humanizada de cuidados;
Continuidades dos cuidados entre os diferentes servios, sectores e nveis de
diferenciao, mediante a articulao e coordenao em rede;
Equidade no acesso e mobilidade entre os diferentes tipos de unidades e
equipas da Rede;
Proximidade da prestao dos cuidados, atravs da potenciao de servios
comunitrios de proximidade;
Multidisciplinaridade e interdisciplinaridade na prestao de cuidados;
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RNCCI O Idoso, a Alta e a Capacidade Funcional
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Avaliao integral das necessidades da pessoa em situao de dependncia e
definio peridica de objectivos de funcionalidade e autonomia;
Promoo, recuperao contnua ou manuteno da funcionalidade e da
autonomia;
Participao das pessoas em situao de dependncia, e dos seus familiares
ou representante legal, na elaborao do plano individual de interveno e no
encaminhamento para as unidades e equipas da Rede;
Participao e co-responsabilizao da famlia e dos cuidadores principais na
prestao dos cuidados;
Eficincia e qualidade na prestao dos cuidados.
Neste contexto, pretende-se dinamizar a implementao de unidades e equipas
de cuidados, dirigidas s pessoas em situao de dependncia (Ibidem).
2.5.2. Dependncia Funcional
O conceito de dependncia, definido pelo grupo multidisciplinar do Conselho da
Europa, consiste na evidncia de que a pessoa que por razes ligadas perda de
autonomia fsica, psquica ou intelectual tem necessidade de uma ajuda importante a fim
de realizar necessidades especficas resultantes da execuo das actividades da vida
diria (AVD`s) , como por exemplo, subir e descer escadas, cuidar da sua higiene
pessoal, vestir-se, alimentar-se, locomover-se, ter controlo dos esfncteres, deslocar-se
dentro de casa, entre outro.
Segundo Botelho (2000), o conceito de capacidade funcional est relacionado
com a autonomia na execuo de tarefas de prtica frequente e necessria a todos os
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indivduos, representando a sua perturbao uma consequncia de determinadas
situaes patolgicas. A avaliao funcional pode ser definida como uma tentativa
sistematizada de medir, de forma objectiva, os nveis nos quais uma pessoa capaz de
desempenhar determinadas actividades ou funes em diferentes reas, utilizando-se de
habilidades diversas, para o desempenho das tarefas de vida quotidiana, para a
realizao de interaces sociais, nas suas actividades de lazer e noutros
comportamentos do seu quotidiano (Devons, 2002; Duarte et al., 2007). Representa uma
maneira de avaliar se uma pessoa ou no capaz de independentemente desempenhar as
actividades necessrias para cuidar de si mesma e, caso no seja, verificar se essa
necessidade de ajuda total ou parcial (Ibidem).
Em termos prticos, por exemplo, uma pessoa idosa com dificuldades de
locomoo e at mesmo portadora de algum tipo de invalidez no determina
necessariamente descontinuidade do funcionamento intelectual e afectivo. Como se tem
vindo a fazer referncia, as pessoas de quaisquer idades, nomeadamente os idosos so
capazes de activar mecanismos de compensao e optimizao para enfrentar perdas de
funcionalidade (Neri, 2005).
Como referem Saura Hernndez e Sangesa Gimnez (2000), tambm a OMS
diz como se avalia melhor a sade atravs da funo, admitindo que a capacidade
funcional melhor indicador de sade que o estudo de prevalncia de doenas. Assim
sendo, a promoo da autonomia e a minimizao do nvel de dependncia funcional
por isso, o principal pressuposto da dignidade humana e de melhoria da qualidade de
vida destas pessoas.
Relativamente s escalas para avaliao funcional do idoso, a OMS classificou o
grau de autonomia ou capacidade funcional dos pacientes idosos em 3 classes:
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RNCCI O Idoso, a Alta e a Capacidade Funcional
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Funcionalmente Independente: so indivduos saudveis, que podem
apresentar uma ou duas doenas crnicas no graves e controladas por
medicao e/ou com algum declnio sensorial associado idade, mas que
vivem sem necessitar de ajuda;
Parcialmente Independente: so indivduos lcidos, porm com
problemas fsicos incapacitantes crnicos, de carcter mdico ou emocional,
com perda do seu sistema de suporte social, o que faz com que estejam
incapazes de manter independncia total sem uma assistncia continuada. A
maioria dessas pessoas vive com a famlia ou em instituies com servios de
suporte;
Totalmente Dependente: so aqueles cujas capacidades esto afectadas
por problemas fsicos incapacitantes crnicos, mdicos e/ou emocionais, que os
impossibilitam de manter autonomia. Essas pessoas esto impossibilitadas de
viver com independncia e geralmente esto institucionalizadas, recebendo
ajuda permanentemente.
2.5.3. Coordenao da RNCCI
A coordenao da RNCCI processa-se a trs nveis: nacional, regional e local. A
nvel nacional, a coordenao e implementao da Rede so asseguradas pela Unidade
de Misso para os Cuidados Continuados Integrados (UMCCI), responsvel pela
articulao entre os diversos intervenientes e parceiros, adicionalmente elaborao e
apresentao de propostas de planos e normas para desenvolvimento e melhoria da
Rede. A nvel regional, a coordenao e implementao so asseguradas por cinco
equipas constitudas por elementos da Sade e da Segurana Social. A Equipa
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RNCCI O Idoso, a Alta e a Capacidade Funcional
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Coordenadora Regional (ECR) integra um grupo multidisciplinar, assim como
profissionais com conhecimentos e experincia nas reas de planeamento, gesto e
avaliao. A nvel local, a coordenao assegurada por equipas sediadas nos Centros
de Sade (CS). As Equipas Coordenadoras Locais (ECL) so tambm constitudas de
modo multidisciplinar por elementos da Sade e da Segurana Social, devendo integrar,
no mnimo, um mdico, um enfermeiro, um assistente social e, sempre que possvel, um
representante da autarquia local. As equipas Coordenadoras Regionais (ECR) articulam
com a coordenao, aos nveis nacional e local, e asseguram o planeamento, a gesto, o
controlo e a avaliao da Rede. As Equipas Coordenadoras Locais (ECL), por sua vez,
articulam com a coordenao a nvel regional, asseguram o acompanhamento e a
avaliao da Rede, bem como a articulao e coordenao dos recursos e actividades.
No se poderia falar em rede sem se falar em parceria, enquanto princpio
estratgico de combate aos mecanismos de excluso das sociedades actuais. Isto
envolve a aco de diferentes instituies/sectores governamental, autrquico,
sociedade civil, sector da sade, sector social que, actuando em conjunto, conseguem
ter um melhor conhecimento da realidade, desenvolvendo polticas de comunicao,
informao e sensibilizao mais eficazes junto das comunidades (RNCCI, 2006).
2.5.4. Tipos de Respostas
Garantir a continuidade e a adequao das intervenes ao nvel da sade e do
apoio social so algumas das questes prioritrias face aos novos desafios no actual
contexto sociodemogrfico europeu. Neste sentido, define como objectivo a instaurao
de polticas de sade, integradas no Plano Nacional de Sade, e de polticas de
segurana social que permitam: desenvolver aces mais prximas das pessoas em
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RNCCI O Idoso, a Alta e a Capacidade Funcional
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situao de dependncia; investir no desenvolvimento de cuidados de sade e de longa
durao que garantam a qualidade, a equidade e a sustentabilidade dos sistemas, e
ajustar ou criar respostas adequadas diversidade que caracteriza o envelhecimento
individual e s alteraes de funcionalidade.
Tal finalidade dever ser alcanada atravs da implementao da RNCCI que
tem como objectivo estratgico garantir a prestao de cuidados integrados de sade e
de apoio social a pessoas que, independentemente da idade, se encontram em situao
de dependncia e necessitam deste tipo de cuidados, contribuindo para a sua
recuperao, reabilitao e reintegrao.
Considerando que os utentes da Rede se caracterizam por terem, usualmente,
doenas crnicas, e que devem continuar a sua recuperao fora do hospital, procura-se
criar uma lgica de servios que passe pela adequao dos cuidados s necessidades de
reabilitao e/ou de manuteno de funes bsicas, aps a ocorrncia de um episdio
de doena agudo ou de agudizao de uma doena crnica que conduz ou agrava
situaes de dependncia. O desenvolvimento da Rede visa garantir que as necessidades
de cuidados continuados integrados so satisfeitos pela oferta criada neste mbito
atravs de parcerias pblicas, sociais e privadas, quer ao nvel das tipologias, quer ao
nvel geogrfico, contribuindo, assim, para a reduo do tempo mdio de internamento
hospitalar e para uma mais completa reabilitao destes utentes.
A prestao dos cuidados de sade e de apoio social assegurada pela RNCCI
atravs de unidades de internamento e de ambulatrio, bem como de equipas
hospitalares e domicilirias. Neste contexto, importante distinguirem-se as seguintes
tipologias de Cuidados Continuados:
Unidades de Internamento
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RNCCI O Idoso, a Alta e a Capacidade Funcional
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o Unidade de Convalescena
o Unidade de Mdia Durao e Reabilitao
o Unidade de Longa Durao e Manuteno
o Unidade de Cuidados Paliativos
Equipa Intra-Hospitalar de Suporte em Cuidados Paliativos
o Cuidados Continuados Domicilirios
Equipa Comunitria de Cuidados Continuados Integrados
Equipa Comunitria de Suporte em Cuidados Paliativos
o Ambulatrio
Unidades de Dia
Como se tem vindo a referir, os Cuidados Continuados Integrados visam a
reduo do nmero de altas hospitalares tardias, a reduo do reinternamento hospitalar
e a identificao e planeamento das necessidades de cuidados do cidado. Segundo
dados da UMCCI, mais de metade dos utentes que entraram nas unidades de
internamento da RNCCI provm do hospital (72%) e aproximadamente um tero do
domiclio (28%). As tipologias com maior percentagem de utentes provenientes do
hospital so as de Convalescena e Cuidados Paliativos (cerca de 80%).
A mesma fonte estima que ocorram mais de 95 mil readmisses hospitalares por
ano. Ou seja, mais de noventa e cinco mil casos de cidados voltam ao hospital, num
prazo inferior a setenta e duas horas, em grande medida por consequncia dos efeitos de
algum grau de dependncia motora e outras. Deste total, cerca de metade so pessoas
com mais de 65 anos de idade. Este fenmeno uma das problemticas fundamentais
que sustenta a necessidade de promover a adequao dos servios de sade e apoio
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RNCCI O Idoso, a Alta e a Capacidade Funcional
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social s necessidades decorrentes do aumento da incidncia de dependncia e que
justifica a criao e dinamizao da RNCCI. O controlo dos doentes constitui um
instrumento de reduo de reinternamentos (RNCCI, 2006).
Seguidamente sero definidas as tipologias de cuidados continuados referentes
s diferentes unidades de internamento, sendo dado mais nfase Unidade de
Convalescena.
2.5.4.1. Unidade de Convalescena
A Unidade de Convalescena uma unidade de internamento, com espao fsico
prprio para prestar tratamento e superviso clnica, continuada e intensiva, e para
dispensar cuidados clnicos de reabilitao, na sequncia de internamento hospitalar
originado por situao aguda, recorrncia ou descompensao de processo crnico. A
Unidade de Convalescena tem por finalidade a estabilizao clnica e funcional, a
avaliao e reabilitao integral da pessoa com perda transitria de autonomia
potencialmente recupervel e que no necessita de cuidados hospitalares de agudos
(Ibidem).
Pretende-se, com este tipo de unidades, responder a necessidades transitrias,
visando maximizar os ganhos em sade, isto , promover a reabilitao e a
independncia dos utentes, contribuir para a gesto das altas dos hospitais de agudos,
evitar a permanncia desnecessria nos servios dos hospitais de agudos e optimizar a
utilizao de unidades de internamento de mdia e longa durao. Destina-se a
internamentos de curta durao com previso at 30 dias consecutivos por cada
admisso7. Os utentes das Unidades de Convalescena so maioritariamente doentes
77Artigo 13, Decreto-lei n 101/2006, de 6 de Junho, publicado em D.R. n. 109, 1.srie, de 6 de Junho
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RNCCI O Idoso, a Alta e a Capacidade Funcional
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dependentes e a necessitar de componente de reabilitao intensiva. So sobretudo
doentes oriundos de servios de Medicina Interna, Cirurgia, Ortopedia/ Traumatologia e
de Neurologia. A prestao de cuidados garantida por uma equipa multidisciplinar que
compreende profissionais das reas da sade, nomeadamente enfermeiros, mdicos,
dietistas, fisioterapeutas, auxiliares de aco mdica. No que rea da aco social diz
respeito incluem se os tcnicos de servio social e os assistentes administrativos.
Os cuidados de convalescena recebem diferentes denominaes, dependendo
do pas onde esto inseridos.
Assim, nos EUA e nos pases anglo-saxnicos designam-se por Unidades de
Avaliao Geritrica ou Unidades de Reabilitao Geritrica (Applegate, 1983). Em
Frana, denominam-se por Internamento Mdio, por sua vez na Catalunha recebem o
nome de Unidades de Convalescena e no resto da Espanha designam-se por Unidades
de Mdia Estncia (Carbonell, 1986).
Com o enquadramento de conceitos internacionais mais recentes podemos
considerar as Unidades de Convalescena como: unidades destinadas a pessoas com
uma doena crnica, ou que se encontrem em fase de recuperao de um processo
agudo com perda de autonomia potencialmente recupervel.
As unidades a que nos referimos esto orientadas para o restabelecimento das
funes, actividades ou capacidades alteradas em consequncia dos processos
patolgicos prvios. Constituem um dos recursos intermdios entre a alta hospitalar e o
domiclio. So utilizveis para a recuperao de situaes agudas e nos casos de
exacerbao de processos crnicos.
A coordenao e a articulao so feitas preferencialmente com hospitais de
agudos e centros de sade (CS), tal como os outros nveis de cuidados continuados, de
modo a assegurar a continuidade dos cuidados aos utentes atendidos.
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Actualmente so consideradas como um recurso de sade absolutamente
necessrio na garantia da continuidade do processo de prestao de cuidados. O
objectivo principal das unidades de convalescena a recuperao da independncia
funcional (DGS, 2006).
O presente estudo incidir a sua ateno exclusivamente nas unidades de
convalescena. Segundo alguns especialistas, nesta unidade que os idosos apresentam
um menor grau de dependncia, logo, maior predisposio para uma recuperao mais
efectiva.
de extrema importncia perceber o que esta rede nacional para os cuidados
continuados integrados significa ao nvel da unidade de convalescena para o doente, e,
neste sentido, monitorizar a qualidade dos servios que so postos disposio, alm de
reconhecer quais os ganhos mais evidentes em autonomia sada da rede e qual o
destino dos idosos aps a alta.
2.5.4.2. Unidade de Internamento de Mdia Durao e Reabilitao
A unidade de mdia durao e reabilitao uma unidade de internamento, com
espao fsico prprio para a prestao de cuidados clnicos, de reabilitao e apoio
psicossocial (Ordem dos Mdicos Seco Regional do Norte, 2008). Existe para
responder a situaes clnicas decorrentes da recuperao de um processo agudo ou
descompensao de processo patolgico crnico a pessoas com perda transitria de
autonomia potencialmente recupervel (RNCCI, 2006). A unidade de mdia durao e
reabilitao tem por finalidade a estabilizao clnica, a avaliao e a reabilitao
integral da pessoa que se encontra nesta unidade (Ibidem). Os utilizadores das unidades
de mdia durao e reabilitao so doentes oriundos do hospital e de outras unidades
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da rede, de instituies de sade ou de solidariedade e segurana social, ou ainda, do
domiclio, que caream de cuidados integrados em regime de internamento que vise a
sua reabilitao (RNCCI, 2009). Est definido para este tipo de resposta um
internamento superior a 30 dias e inferior a 90 dias consecutivos por cada admisso8.
Podem, ainda, existir unidades de mdia durao e reabilitao, com caractersticas
prprias, destinadas a grupos especficos de doentes.
2.5.4.3. Unidade de Internamento de Longa Durao e Manuteno
A unidade de longa durao e manuteno uma unidade de internamento de
carcter temporrio ou permanente, com espao fsico prprio, para prestar apoio social
e cuidados de sade de manuteno a pessoas com doenas ou processos crnicos, com
diferentes nveis de dependncia e que no renam condies para serem cuidadas no
domiclio. Tem por finalidade proporcionar cuidados que previnam e retardam o
agravamento da situao de dependncia, favorecendo o conforto e a qualidade de vida,
por um perodo de internamento superior a 90 dias consecutivos9.
Os destinatrios das unidades de internamento de longa durao e manuteno
so pessoas, que pela sua situao de dependncia, por razes de doena ou patologias
associadas idade, necessitam de cuidados continuados integrados. So oriundos de
outras respostas da rede, de instituies de sade ou de solidariedade e segurana social
ou, ainda, do domiclio (RNCCI, 2009).
88Artigo 15, Decreto-lei n 101/2006, de 6 de Junho, publicado em D.R. n. 109, 1.srie, de 6 de Junho
99Artigo 17, Decreto-lei n 101/2006, de 6 de Junho, publicado em D.R. n. 109,1.srie, de 6 de Junho
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2.5.4.4. Unidade de Cuidados Paliativos
A unidade qual se faz referncia uma unidade de internamento, com espao
fsico prprio para acompanhamento, tratamento e superviso clnica a doentes em
situao clnica complexa e de sofrimento decorrentes de doena severa e/ou avanada,
incurvel e progressiva, nos termos do consignado no Programa Nacional de Cuidados
Paliativos do Plano Nacional de Sade. Presta acompanhamento, tratamento e
superviso clnica de doentes em situao clnica complexa e de sofrimento decorrente
de doena severa e/ou avanada, incurvel ou progressiva10
.
2.5.4.5. Cuidados Continuados Domicilirios
A Rede Nacional para os Cuidados Continuados Integrados define como
tipologia de resposta, no mbito do Apoio Domicilirio, as Equipas de Cuidados
Continuados Integrados (ECCI), que se constituem como ncleo base de prestao dos
cuidados continuados integrados no contexto domicilirio. Estas so equipas
multidisciplinares, integradas nos Cuidados de Sade Primrios (CSP) ou sob a
dependncia de entidades de apoio social, para a prestao de servios domicilirios
decorrentes da avaliao integral de cuidados mdicos, de enfermagem, de reabilitao
e de apoio social, ou outros a pessoa em situao de dependncia funcional ou doena
terminal, bem como a todos os que esto em processo de convalescena e cuja situao,
apesar de no requerer internamento, no possibilita que se desloquem de forma
autnoma (Conselho de Enfermagem, 2009).
1100Artigo 19, Decreto-lei n 101/2006, de 6 de Junho, publicado em D.R. n. 109,1.srie, de 6 de Junho
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2.5.4.6. Unidade de Dia e Promoo de Autonomia
O regime de unidade de dia destina-se a pessoas em situao de dependncia,
cujas condies clnicas e sociofamiliares no so as mais adequadas. Tm como
objectivo a reabilitao, recuperao e insero do doente, trata-se de uma unidade de
prestao de cuidados integrais de suporte, de promoo de autonomia e apoio social a
pessoas com diferentes nveis de dependncia que no renam condies para serem
cuidadas no domiclio11
.
Aps a etapa da distino das tipologias de Cuidados Continuados existentes,
parece oportuno enunciar as trs fases em desenvolvimento da RNCCI, sendo elas:
Fase 1 (de 2006 a 2008), a qual tem como objectivo a criao e consolidao de
experincia no mbito da prestao de cuidados continuados integrados, bem
como no mbito do planeamento, gesto e avaliao;
Fase 2 (de 2009 a 2012), na qual se prev a evoluo a nvel dos sistemas de
informao e instrumentos, possibilitando a obteno de resultados;
Fase 3 (de 2013 a 2016), na qual se prev a consolidao e estabilizao do
modelo.
A Tabela 1 traduz para cada uma das fases de implementao previstas, o
nmero de camas e a tipologia de internamento em causa.
1111Artigo 21, Decreto-lei n 101/2006, de 6 de Junho, publicado em D.R. n. 109,1.srie, de 6 de Junho
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Tabela 1 Tipologias de Internamento e Fases de Implementao
Tipologia de Cuidados FASE 1
(2006 2008)
FASE 2
(2009 2012)
FASE 3
(2013 2016)
Unidade de
Convalescena N camas 977 1.954 2.931
Unidade de Mdia
Durao e Reabilitao N camas 1.139 2.117 3.257
Unidade de Longa
Durao e Manuteno N camas 2.720 5.374 8.143
Unidade de Cuidados
Paliativos N camas 326 651 977
Unidade de Dia e
Promoo da Autonomia
N de
lugares 814 1.629 2.443
Fonte: Relatrio de Monitorizao da Implementao das Experincias Piloto da Rede Nacional para os
Cuidados Continuados Integrados, 27 de Julho de 2007.
Depois de identificadas e definidas as temticas de fulcral importncia para
avaliar o tema em estudo, ser feita a abordagem metodolgica do trabalho de
investigao.
PARTE III FASE METODOLGICA
A metodologia uma fase decisiva num trabalho de investigao, uma vez que
s atravs da utilizao de mtodos adequados possvel percorrer o caminho para
alcanar os objectivos traados, conferindo validade cientfica ao estudo.
3.1. Desenho da Investigao
O desenho e o mtodo de investigao constituem uma das partes nobres do
nosso estudo. So estes que permitem recolher a informao necessria (quantitativa,
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qualitativa ou mista) de modo apropriado, com os procedimentos apropriados, que
permitem identificar e exaltar os aspectos mais importantes da investigao (Ribeiro,
2007).
A investigao quantitativa caracteriza-se por trabalhar em dados empricos (ou
seja, por entidades abstractas que representam uma contagem, uma medio, um
clculo). Tendo em conta os objectivos que se pretende alcanar, a escolha da
investigao quantitativa parece a mais adequada, uma vez que a este estudo esto
subjacentes aspectos quantificveis, caractersticos do mtodo quantitativo, sendo este
() um processo sistemtico de colheita de dados observveis e quantificveis
(Fortin, 1999: 22).
O tipo de estudo especifica as actividades que permitem a obteno de respostas
fiveis s questes de investigao. Descreve ainda que () a estrutura utilizada
segundo a questo de investigao visa descrever variveis ou grupos de sujeitos,
explorar ou examinar relaes entre variveis (Fortin, 1999: 133).
Neste mesmo estudo optaremos pela investigao no experimental quantitativa,
uma vez que a mesma se realiza sem recorrer manipulao deliberada das variveis,
como a idade, o sexo, a escolaridade, com quem reside e a profisso. Analisar-se-o os
fenmenos tal como ocorrem no seu contexto natural, para posteriormente serem
analisados (Kerlinger & Lee, 2002).
Trata-se de um desenho do tipo longitudinal, de painel, uma vez que, a
focalizao ser feita em mais do que um momento distinto, com o mesmo grupo de
indivduos, seleccionados no incio da investigao. (DAncona, 2001).
O estudo em causa desenvolver-se- em trs fases. Numa 1 etapa, atravs de
uma grelha de avaliao, utilizando a Escala de Likert, ser realizada uma avaliao
funcional dos indivduos com 65 ou mais anos que foram admitidos na RNCCI, no
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perodo de 24 de Fevereiro a 25 de Abril de 2011, mais propriamente no internamento
da unidade de convalescena. Posteriormente, numa 2 etapa, ser aplicada a mesma
escala aos indivduos seleccionados na 1 etapa, que cumpriram os 30 dias de
internamento e lhes foi atribuda alta mdica. A 3 e ltima etapa compreender o
perodo correspondente aos 30 dias aps a alta mdica. Em termos prticos a recolha de
dados desenvolveu-se entre os dias 24 de Fevereiro e 25 de Maio de 2011.
3.2. Amostra
A amostragem o procedimento pelo qual um grupo de pessoas ou um
subconjunto de uma populao escolhido com vista a obter informaes relacionadas
com um fenmeno, e de tal forma que a populao em estudo esteja representada
(Fortin, 1999).
No estudo iremos recorrer a uma amostragem no probabilstica por critrio,
uma vez que temos como objectivo trabalhar exclusivamente com indivduos de 65 e
mais anos, que permaneceram nos cuidados continuados na unidade de convalescena
da Santa Casa da Misericrdia da Pvoa de Lanhoso, num determinado perodo, j
referido anteriormente.
Justifica-se este processo de amostragem uma vez que pretendemos estudar
indivduos com 65 e mais anos que estiveram internados na referida unidade de
cuidados. A escolha desse critrio determinante no que se refere ao aporte de
informao relevante para a investigao pretendida (DAncona, 2004).
A amostra ser constituda por 20 indivduos. O nmero em causa justifica-se,
tendo em conta que a investigao se desenvolver em 3 fases distintas, prevendo-se um
perodo de recolha de dados superior a 3 meses. Uma amostra superior tornaria a
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investigao no vivel, tanto em termos econmicos como em termos de recursos de
tempo propriamente dito.
3.3. Mtodo de Recolha de Dados
O mtodo de recolha de dados de uma investigao caracterizado por tcnicas
rigorosas que permitam assegurar a validade e fidelidade dos dados recolhidos.
De acordo com o mtodo de investigao a que iremos recorrer neste estudo, o
instrumento de recolha de dados a utilizar ser o inqurito, uma vez que este permite
recolher informaes baseando-se, geralmente, na inquisio de um grupo
representativo da populao em estudo. Para tal, colocar-se- uma srie de questes que
abarquem o tema em causa, no havendo interaco directa entre estes e os inquiridos
(Ribeiro, 2007).
A seleco da Santa Casa da Misericrdia da Pvoa de Lanhoso, para a
realizao do estudo, est estreitamente relacionada com a proximidade geogrfica da
zona de residncia da investigadora. Uma vez que a investigao foi concretizada nesta
instituio, foi antecipadamente solicitada autorizao atravs de carta dirigida
direco do mesmo, a qual foi concebida com muito agrado.
Aquando da recolha de dados, os participantes foram abordados pessoalmente
pela investigadora, foram informados acerca dos objectivos da pesquisa, a possibilidade
ou no de participar, o tempo de aplicao do questionrio e o sigilo da identidade. Aps
resposta afirmativa, o preenchimento dos questionrios foi realizado. A aplicao dos
mesmos, nas trs avaliaes, teve a durao mdia de 20 minutos.
A escala que foi aplicada foi a Escala ou Indice de Barthel (em anexo) trata-se
de um ndice que avalia as actividades de vida diria, sobretudo na avaliao funcional,
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cujos aspectos mais focados so a autonomia/dependncia. Pretende-se avaliar se o
doente capaz de executar certas actividades independentemente, ou qual o grau de
ajuda necessrio. A pontuao compreendida entre 0 e 100 valores. Valores entre 80-
100 os idosos so considerados independentes; entre 60 e 79 necessitam de uma ajuda
mnima nas AVDs; com 48-59 valores so parcialmente dependentes; de 20-39 so
muito dependentes e com menos de 20 so totalmente dependentes.
A Escala ou Indice de Barthel (1989) constituda por dez questes que
visam avaliar o grau de dependncia dos inquiridos.
questo 1, relativa AVD de Higiene Pessoal, deu-se a seguinte pontuao:
0: O paciente incapaz de fazer a higiene pessoal, e dependente em todos os
aspectos;
1. Assistncia requerida em todos os passos da higiene pessoal;
3 . Alguma assistncia requerida em um ou mais passos da higiene pessoal;
4 . O paciente capaz de efectuar a sua prpria higiene pessoal, mas requer a
mnima assistncia antes e/ou aps a operao;
5 . O paciente pode lavar suas mos e face, cabelo, lavar os dentes e barbear. Um
paciente do sexo masculino pode usar qualquer tipo de gilete, mas deve inserir a
lmina, ou retir-la da gilete sem ajuda, assim como retir-la da gaveta ou
armrio. Um paciente do sexo feminino deve aplicar a sua prpria maquilhagem,
se utilizar, mas no necessita de auxilio a pentear ou entrelaar o seu cabelo.
questo 2 relativa AVD tomar banho, atribuiu-se a seguinte pontuao:
0. Total dependncia enquanto toma banho;
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RNCCI O Idoso, a Alta e a Capacidade Funcional
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1. Assistncia requerida em todos os aspectos do banho;
3. Assistncia requerida quer na transferncia para o duche/banheira, quer
com o lavar ou secar, incluindo incapacidade de completar a tarefa devido sua
condio ou doena, entre outros;
4. Superviso requerida para a segurana, no ajustar da temperatura da gua
ou na transferncia;
5. O paciente pode usar uma banheira, um duche ou tomar um banho completo
de esponja. O paciente deve ser capaz de fazer todos os passos seja qual for o
mtodo empregue sem que outra pessoa esteja presente.
questo 3 relativa AVD relacionada com a Alimentao, deu-se a seguinte
pontuao:
0. Dependente em todos os aspectos e necessidade para alimentar-se;
2. Pode manipular um dispositivo de alimentao, usualmente uma colher, mas
algum deve providenciar assistncia activa durante a refeio;
5. Capaz de se alimentar sem superviso. Assistncia requerida em tarefas
associadas, como colocar leite/acar no ch, sal, pimenta, espalhar manteiga, voltar
um prato ou qualquer outra actividade.
8. Independncia na alimentao com treino anterior, excepto no cortar da
carne, abrir pacotes de leite, tapar jarro, entre outros. A presena de outra pessoa no
requerida.
10. O paciente pode alimentar-se de uma mesa ou tabuleiro quando algum
coloca a comida ao seu alcance. O paciente deve pr um dispositivo de assistncia se
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RNCCI O Idoso, a Alta e a Capacidade Funcional
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necessrio, cortar a comida e se desejado, usar sal ou pimenta, espalhar manteiga,
entre outros.
questo 4 relativa s AVDs referente toilette atribuiu-se a seguinte
pontuao :
0. Total dependncia na casa de banho/toilette;
2. Assistncia requerida em todos os aspectos da toilette;
5. Assistncia pode ser requerida no manuseio da roupa, transferncias ou lavar
as mos;
8. Superviso pode ser requerida para segurana na toilette normal. Uma pia
pode ser utilizada noite mas assistncia requerida para esvaziar ou limpar;
10. O paciente capaz de sair ou entrar da casa de banho, apertar e desapertar
as roupas, prevenir o sujar das roupas e usar papel higinico sem auxlio. Se necessrio
o paciente pode utilizar uma pia, uma tina ou urinol noite, mas deve ser capaz de
esvazi-lo e limp-lo.
questo 5 relativa AVD subir e descer escadas conferiu-se a seguinte
pontuao:
0. O paciente incapaz de utilizar as escadas;
2. Assistncia requerida em todos os aspectos, durante a utilizao das
escadas, incluindo assistncia com meios auxiliares;
5. O paciente capaz de subir/descer mas incapaz de transportar auxiliares de
marcha, e necessita de superviso e assistncia;
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RNCCI O Idoso, a Alta e a Capacidade Funcional
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8. Geralmente nenhuma assistncia requerida. Em certos momentos
superviso requerida para a segurana aliada rigidez matinal, dificuldade na
respirao, entre outros;
10. O paciente capaz de subir/descer um lano de escadas em segurana sem
auxlio ou superviso. O paciente capaz de utilizar o corrimo, apoios, ou canadianas
quando necessrio e capaz de transportar esses auxiliares medida que ele/ela desce
ou sobe.
questo 6 relativa AVD vestir deu-se a seguinte pontuao:
0. O paciente dependente em todos os aspectos do vestir e incapaz de
participar nesta actividade;
2. O paciente capaz de participar em alguns aspectos, mas dependente em
todos os aspectos do vestir;
5. Assistncia necessria em colocar e/ou remover alguma roupa;
8. Apenas a mnima assistncia requerida com a roupa de apertar, como os
botes, feixes, cintos, sapatos, entre outros;
10. O paciente capaz de pr, remover e apertar roupa, dar laos nos
atacadores dos sapatos, coloc-los, apert-los, remover cintas/coletes, suspensrios,
como pedido.
questo 7 relativa AVD defecar, atribui-se a seguinte pontuao:
0. O paciente incontinente;
2. O paciente necessita de auxlio para assumir a posio apropriada, e com
tcnicas de facilitao dos movimentos intestinais;
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RNCCI O Idoso, a Alta e a Capacidade Funcional
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5. O paciente pode assumir a posio apropriada, mas no consegue utilizar
tcnicas de facilitao, ou limpar-se sem auxlio e tem acidentes frequentes.
Assistncia requerida com os auxiliares de incontinncia com fraldas, etc.
8. O paciente pode requerer superviso com o uso de supositrios, ou clister e
tem acidentes ocasionais;
10. O paciente pode controlar os intestinos e no tem acidentes, pode usar
supositrios, ou utilizar clister quando necessrio.
questo 8 relativa AVD urinar deu-se a seguinte pontuao:
0. O paciente dependente enquanto urina, incontinente, ou tem um cateter;
2. O paciente incontinente, mas capaz de assistir com a aplicao de um
dispositivo interno ou externo;
5. O paciente est geralmente seco durante o dia, mas noite necessita de
alguma assistncia com os dispositivos;
8. O paciente est geralmente seco durante o dia ou noite, mas pode ter
acidentes ocasionais ou necessita de mnima assistncia com dispositivos internos ou
externos;
10. O paciente capaz de controlar a bexiga durante o dia ou noite e/ou
independente com dispositivos internos ou externos;
questo 9 relativa AVD referente s transferncias cadeira / cama, conferiu-
se a seguinte pontuao:
0. Incapaz de participar na transferncia. Dois indivduos auxiliares so
requeridos para transferir o paciente com ou sem dispositivo mecnico;
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3. Capaz de participar mas com a mxima assistncia de outra pessoa,
requerida em todos os aspectos da transferncia;
8. A transferncia requer a assistncia de outra pessoa. Assistncia pode ser
requerida em alguns aspectos da transferncia;
12. A presena de outra pessoa requerida como uma medida preventiva, ou
para providenciar superviso como segurana;
15. O paciente pode seguramente aproximar-se da cama numa cadeira de rodas,
tirar os braos da cadeira de rodas, levantar os apoios dos ps, transferir-se com
segurana para a cama, deitar-se, voltar posio de sentado num dos lados da cama,
alterar a posio da cadeira de rodas, voltar a transferir-se para a cadeira de rodas com
segurana. O paciente deve ser independente em todas as fases da sua actividade;
questo 10 relativa AVD deambular, atribuiu-se a seguinte pontuao:
0. Dependente na deambulao;
3. Presena constante de um ou mais assistentes requerida durante a
deambulao
8. Assistncia requerida com meios auxiliares e/ou a sua manipulao. Um
indivduo requerido para oferecer assistncia;
12. O paciente independente na deambulao mas incapaz de andar 50 metros
sem auxlio, superviso requerida para a proteco ou segurana em situaes
difceis;
15. O paciente deve ser capaz de utilizar canadianas se necessrio,