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DONALD WOODS WINNICOTT
Donald Woods Winnicott nasceu em Plymouth (1896) e faleceu em Londres, (1971),
aos 74 anos de idade. Era filho de um político e uma dona de casa. Foi o único homem e
o caçula de duas irmãs bem mais velhas. Além da família nuclear, viviam na casa uma
tia, uma babá, e uma governanta, além de uma cozinheira e várias copeiras (Kahr,
1996). Teve, segundo sua esposa Clare, uma infância feliz, passada numa mansão
britânica onde a família vivia de modo alegre e descontraído. Em uma autobiografia
inacabada, revelada por Clare, Winnicott diz que se sentia um filho único amado por
várias mães. Em sua casa, irmãos, vizinhos, amigos e primos viviam jogando e
brincando freqüentemente com muita imaginação e vitalidade. Winnicott tinha a
liberdade de explorar todos os espaços disponíveis na casa e no jardim e preenchê-los
com fragmentos dele mesmo para edificar assim, progressivamente, seu mundo. Todas
essas experiências de vida foram utilizadas de modo fecundo nos seus escritos e no seu
modo de trabalhar, o que se constata ao longo de sua obra, como é o caso da relevância
atribuída à família ou da importância do brincar, aspectos que ele considerou como
fundamentais na plena posse da nossa saúde mental (Mello, 2003).
Outro traço da sua família era seu incrível senso de humor, também uma
característica de Winnicott, do qual fazia um uso muito inteligente e particular dentro da
situação clínica, amenizando o impacto das dolorosas verdades existenciais sobre seus
pacientes, entremeando-as com humor, metáforas e uma fina sensibilidade para com os
mesmos (Mello, 2003).
Durante sua infância, Winnicott pouco tempo passava com seu pai, que permanecia
muito pouco tempo em casa, deixando seu filho rodeado por mulheres, das quais recebia
muito carinho e atenção, desenvolvendo um conhecimento incomum a respeito de suas
vidas e preocupações particulares. Talvez por essa razão, Winnicott escreveu muito
pouco sobre a figura paterna; a maior parte do seu trabalho é centrada na relação
materno-infantil (Kahr, 1996). Dentre as contribuições importantes criadas por
Winnicott para compreender a relação mãe-bebê, destacam-se os conceitos de
‘Preocupação Materna Primária ’, ‘Mãe Suficientemente Boa ’, ‘Holding’ e ‘Handling’
Winnicott sofreu, por mais de dez anos, de problemas cardíacos progressivos e
isso fez com que convivesse muito de perto com a presença da morte, o que aparece
claramente na sua autobiografia. Ele também escreveu sobre como era difícil para um
homem morrer sem ter tido um filho para poder sobreviver a si. Winnicott sempre
sofreu com sua saúde frágil. Já na escola, aos 16 anos, fraturou a clavícula e anos depois
ficou internado durante três meses com um abscesso de pulmão. Sobre essas
experiências constatou que a melhor maneira de livrar-se da situação de estar nas mãos
dos médicos era ele mesmo se transformar em um médico. Também dizia que todo
médico, pelo menos uma vez na vida, deveria passar pela condição de paciente. Assim,
Winnicott entrou para a medicina, tornando-se pediatra do renomado Paddington Green
Children’s Hospital onde trabalhou por 40 anos (Mello Filho, 2003).
Em sua experiência no hospital fez uso de recursos que lhe deram fama como o
jogo do rabisco (squiggles), aonde ele e a criança iam desenhando partes e formando
figuras que iam se sucedendo. Possuía grande facilidade de comunicação com as
crianças que os compreendiam com muita facilidade. Certa vez, Winnicott atendeu uma
família da Dinamarca e as duas crianças ficaram com a certeza de que ele falava
dinamarquês, apesar dos pais afirmarem que ele nunca falou uma palavra daquele
idioma (Mello Filho, 2003).
Winnicott era um clínico extremamente comunicativo e empático com seus
pacientes e, ao mesmo tempo, um homem-criador imensamente voltado para si, para seu
processo analítico de busca interior e de síntese criativa. Winnicott foi alguém que
conviveu permanentemente com o convívio do fantasma da morte sem que por isso
deixasse de estar extremamente presente e vivo. Winnicott morreu, segundo consta,
debruçado sobre os originais de O Brincar e a Realidade (1971/1975), que ele corrigia
para serem publicados.
Sua obra teve sempre uma dupla origem: as observações sobre o
desenvolvimento infantil que fazia durante seu contato com crianças, mãe a famílias,
por um lado e, por outro, o seu trabalho psicanalítico com pacientes adultos,
principalmente com borderlines e psicóticos que reviviam intensamente na análise, num
setting muito vivo e acolhedor que ele criava, suas experiências infantis precoces. Essas
experiências trouxeram conceitos importantes como o de ‘integração’ e ‘não-integração’
(entre mente e corpo, entre partes do corpo, entre eu e o mundo) que contribuíram,
inclusive, para a medicina psicossomática. Dizia ele que as chamadas dores do
crescimento das crianças tinham raízes psicológicas e, portanto, não deveriam ser
tratadas com o tradicional repouso no leito. Também afirmava que a maior causa de
consultas em pediatria ocorriam em função da depressão ou ansiedade das mães. Suas
idéias foram rejeitadas por muitos de seus contemporâneos em pediatria (Mello Filho,
2003).
Winnicott destacou-se como uma analista de adultos e foi uma autoridade em
análise de crianças, porém igualmente supremo como analista de analistas. Não fundou
nenhuma escola e nem se tornou líder de nenhum grupo para poder exercer suas idéias
livremente. Num período onde a escola de Ana Freud e de Melanie Klein disputavam
espaço no cenário europeu, Winnicott foi uma das principais figuras do chamado middle
group (também constituído por Balint, Margareth Little, etc.). Com sua visão de que a
psicanálise é uma coisa só, ele tentou durante muitos anos conciliar as duas tendências,
freudiana e kleiniana. Winnicott reconhecia que as contribuições de Melanie ajudaram-
no a trabalhar com crianças e enriquecer seu trabalho analítico. No entanto o autor dizia
que o ser humano não poderia aceitar as idéias agressivas e destrutivas como próprias de
si ou de sua natureza sem a experiência de reparação, e por esta razão a contínua
presença do objeto amado é necessária neste estágio, pois somente desta forma há
oportunidade para a reparação (Mello Filho, 2003).
As suas maiores contribuições talvez tenham se dado nos aspectos do
desenvolvimento humano e influenciaram diversos autores como Spitz, Bowlby e
Mahler. Essas contribuições incluem os conceitos de ‘ambiente facilitador ’, ‘objeto e
fenômeno transicional ’, ‘espaço potencial ’, etc. (Mello Filho, 2003). Winnicott
considerava que as experiências vividas, internas ou externas, possuem uma qualidade
diferencial dada pelas diferentes formas possíveis de interação entre elas. Buscou um
sistema compreensivo do viver humano, onde o ponto de partida da compreensão deste
sistema se funda nas condições constitucionais de um indivíduo e nas relações
ambientais que o circundam durante este processo. Também esteve atento ao estudo da
identidade da pessoa total, do Self, mais do que do instinto e do Ego e seus mecanismos
de defesa (Mello Filho, 2003).
Nos dias atuais, Donald Winnicott vem recebendo, por fim, o reconhecimento
merecido por suas extraordinárias contribuições oferecidas à Psicanálise. Entre vários
méritos, Winnicott foi um dos autores que mais colaborou para afastar a psicanálise de
uma posição demasiadamente instintiva, ao acentuar a possibilidade do Ego controlar os
impulsos do Id através da ação de um ambiente facilitador, que vai ao encontro das reais
necessidades da criança, permitindo sua adaptação à vida familiar e social sem prejuízos
na sua individualidade (Mello Filho, 2003).
Quanto à análise e ao espaço terapêutico, Winnicott preocupou-se em não alienar
em campos distintos terapeuta e teoria, tendo como objeto de estudo a relação humana
com o saber instituído, mais especificamente, o relacionamento entre o psicanalista, o
modelo teórico por ele adotado e a prática clínica. Uma passagem ocorrida com
Winnicott, relatada a Grolnick (1993) por Clare Winnicott, ilustra claramente sua
opinião diante da questão. Num debate acirrado dentro da Sociedade Britânica de
Psicanálise sobre determinados procedimentos técnicos, como número mínimo de
sessões semanais, perguntaram a Winnicott o que ele achava ser psicanálise ou não. Ele
responde sucintamente:- “Se é psicanálise? Ora, depende de quem faz”. Para Winnicott,
o espaço analítico é um espaço relacional, um espaço de mudança, criado a partir da
inter-relação dos elementos existentes neste espaço – do analista que aceita e deseja a
responsabilidade de criar este espaço de convivência dentro de um contexto, utilizando
uma espécie de fio condutor e do analisando que aceita compartilhar este espaço e o
modifica através de sua participação, produzindo uma dinâmica na qual ambos mudam.
André Green (1988) faz a analogia de que, se Freud às vezes comparava a
situação analítica ao jogo de xadrez, poderíamos comparar a obra de Winnicott ao jogo
que este criou, o jogo do rabisco, tradução gráfica do espaço analítico, da maneira como
ele o percebe. Neste espaço analítico, para Winnicott, a criatividade é a condição do
sentir-se real no mundo. Em decorrência disso, a direção do tratamento com qualquer
paciente está vinculada à instauração da capacidade criativa muitas vezes perdida, ou
sequer adquirida, devido às falhas no processo de trocas do indivíduo com o meio
ambiente (Lins, 2006)MA obra de Winnicott, ao encontro do pensamento
contemporâneo, pulveriza a crença na verdade única, na supremacia da exatidão, na
necessidade da convergência, que traz em seu bojo a imutabilidade. Ela nos abre novas
perspectivas onde é possível ser original, é possível ter uma linguagem pessoal e é
possível que estas contribuições acrescentem algo ao conhecimento psicanalítico. O
trabalho analítico nos ensina que o saber é uma experiência de permanente rearticulação
e re-significação, onde as experiências posteriores modificam e reordenam a memória e
a compreensão do passado. É esta plasticidade que faz a vida e a psicanálise
interessantes e apaixonantes, mas também faz da vida e da psicanálise algo que temos
que abrir mão do controle total. A criatividade surge quando se é possível usufruir, sem
medo do aniquilamento, o desconhecido. Winnicott nos ensinou que a ação criativa é
uma atividade que se estende por toda a existência e nos permite fazer de nosso trabalho
uma tarefa que vale a pena ser exercida (Green, 1988; Grolnik, 1993; Mello, 2003). Eis
aí o grande colorido da vida e obra de Winnicott!
TEORIA DO DESENVOLVIMENTO
Para Winnicott cada ser humano é produto de uma constante e permanente
integração com meio e cada ser humano traz consigo um potencial inato para
amadurecer, desenvolver-se, porém esta questão do desenvolvimento das
potencialidades depende de um ambiente facilitador que forneça cuidados
suficientemente bons, sendo este ambiente, no início, representado pela mãe.
Para Winnicott as bases da Psicologia do inter-relacionamento humano têm suas
origens no momento da gravidez da mulher, mais especificamente no pré-natal, quando
a mulher adquire um estado de alta sensibilidade durante e, especialmente, nas semanas
finais da gravidez, podendo perdurar por algumas semanas após o nascimento bebê.
Este estado Winnicott denominou “Preocupação Materna Primária”. Ao se recuperar
deste estado, ele não será facilmente recordado pela mãe.
Na “Preocupação Materna Primária” a mãe deve ser capaz de atingir o estado
de alta sensibilidade, quase uma doença, e recuperar-se dele. Doença porque a mãe deve
ser capaz tanto para desenvolver este estado de sensibilidade aumentada quanto para
recuperar-se dele quando o bebê a liberar. Caso o bebê morra, este estado assume,
repentinamente, o estado de doença.
Vale ressaltar que quando uma mulher tem uma forte identificação masculina,
dificilmente alcançará esta função maternal, já que a inveja reprimida do pênis não
libera espaço para esta preocupação materna.
Assim, na fase intrauterina há uma forte identificação da mãe com seu bebê, a
qual se acredita ser consciente, porém também profundamente inconsciente, surgindo a
partir disto uma “mãe devotada comum” ou “mãe suficientemente boa”.
- E o que significa uma mãe suficientemente boa?
É importante que a mãe olhe para o seu filho com o intuito saber a hora de
alimentar, o momento de dar banho, entre outros, mas ser uma mãe suficientemente boa,
é mais do que isto, é ir além disto, é ter a percepção de como satisfazê-lo, é reconhecê-
lo em suas peculiaridades, ou seja, é a mãe que vivencia este estado de “mãe devotada
comum”, dedicando-se de forma natural às tarefas da maternidade, temporariamente
alienada de outras funções, sociais e profissionais.
Desta forma, o bebê é dotado de tendências inatas do desenvolvimento,
possuindo pulsões e instintos num conjunto ainda desorganizado, devido ao ego ainda
estar despreparado para as demandas do ID, dependendo de uma interferência
permanente da mãe, a qual criará um ambiente facilitador, um ambiente mais próximo
da condição intrauterina, precisando da mãe para realizar o processo de interação. Neste
estado o bebê está num processo não integrado, está vivenciando uma fase denominada
de dependência absoluta. Diante disto, não integrado significa que o bebê ainda se sente
parte da mãe, envolvendo, inclusive, um sentimento de segurança.
Assim, como a “Preocupação materna primária” se instala de forma gradual, em
condições normais, da mesma forma ele vai se desinstalando, dependendo da saúde
física do bebê e da mãe, isto é, após um parto não traumático ou, até mesmo, uma
amamentação tranquila. Então, após algumas semanas de intensa adaptação às
necessidades do recém–nascido, este sinaliza que seu amadurecimento já o torna apto a
suportar as falhas maternas. Assim, a mãe suficientemente boa deve compreender esse
movimento do bebê rumo à dependência relativa e a ele corresponder, permitindo falhas
que abrirão espaço ao desenvolvimento.
- Então, para Winnicott, o desenvolvimento do bebê se dá em 3 processos:
- Integração
- Personalização
- Adaptação à realidade
- INTEGRAÇÃO:
Como foi mencionado acima, logo após o nascimento o bebê possui um ego
ainda “imaturo”, formado por núcleos que não se relacionam, assim o bebê funciona
como um mero somatório de partes físicas e psíquicas não-integradas, necessitando da
mãe para gradualmente, sentir-se um ser coeso, integrado em si. Isto é garantido? Não,
será necessário um ambiente facilitador provido pela própria mãe. Desta forma, a
integração surge, gradualmente, de um estado primário não-integrado.
Para Winnicott, embora os processos de maturação incluam uma tendência para
a formação de uma unidade, é através do holding materno que a criança se sente
integrada em si mesma e começa a experimentar a sensação de diferenciação do mundo
externo.
HOLDING MATERNO
Expressão utilizada por Winnicott que provém do verbo “to hold” que significa
sustentar, conter, dar suporte. No caso específico da relação mãe-bebê isto pode ser feito
baseando-se no ato de segurar fisicamente a criança no colo ou no sentido genérico da
mãe entender as necessidades da criança e atendê-lo da forma mais adequada, utilizando
sua capacidade de ser colocar no lugar do outro e de sua intuição inconsciente,
prevalecendo nesta relação o sentido figurativo. Winnicott considera esta comunicação
silenciosa e base para todas as outras comunicações entre seres humanos.
Winnicott ressalta que as falhas grosseiras e constantes deste holding materno
podem gerar na criança sensações de desintegração, denominadas por ele de angústias
inimagináveis ou de aniquilamento, que nada mais são do que sensações de
despedaçamento, de estar caindo em abismos sem fim, desconexão entre partes do
corpo, entre outros.
Winnicott relaciona a questão da insegurança numa pessoa à relação mais
primitiva entre a mãe e a criança, ou seja, está se referindo ao contato corporal
proporcionado pelo fenômeno “pegar no colo”.
Ex de sua paciente Ana (nome fictício).
- PERSONALIZAÇÃO
É o desenvolvimento da capacidade de se estar dentro do próprio corpo e isto é
proveniente do contato físico, do sentimento de cuidado corporal, denominando isto
personalização satisfatória. Sendo assim, em um desenvolvimento normal a criança
“alcança” um esquema-corporal, sendo isto denominado psique-soma.
- ADAPTAÇÃO À REALIDADE
Winnicott considera a relação entre bebê e o seio da mãe, bebê com suas pulsões
e ideias predatórias, já a mãe possui o seio e o poder, além de ter a ideia de ser atacada
por um bebê faminto, porém isto lhe é prazeroso. Estes fenômenos se inter-relacionam,
fazendo com que ambos vivam uma experiência juntos. Assim, Winnicott vê este
processo como se duas linhas viessem de direções opostas e se aproximassem, porém se
elas se sobrepõem há um momento de ilusão, cujo bebê pode tomar por alucinação, ou
seja, ele tem a ideia de que o seio seja algo criado por ele.
Com isto, pode-se destacar como já foi mencionado que o bebê possui uma
potencialidade inata que tende ao desenvolvimento; pressupondo um ambiente
facilitador oferecido pela mãe, é aberto espaço para uma área ilusória, a qual faz parte
do desenvolvimento, inserida num ambiente externo, dará margem para uma relação
mais próxima da realidade externa que a própria mãe proporciona. Nesta 1ª fase as
falhas naturais da mãe, levam o bebê a um sentimento de separação, angústia, então é
quando se vê uma criança apropriando-se de um objeto como fralda, brinquedo e,
inclusive, o polegar. Neste caso, tem-se o conceito de objeto transicional, que
funcionarão como intermediários entre o mundo interno e externo, auxiliando ao bebê
na transição da dependência absoluta para a dependência relativa e rumo à futura
independência. Esta experiência ele também chamou de Criatividade Primária.
Sendo assim, na fase do holding materno, o bebê vive a fase de dependência
absoluta da mãe. Através de sinais corporais à mãe, o bebê já começa expressar que já
não necessita de cuidados intensos, fase de dependência relativa e, a partir disto, começa
a manter um contato cada vez maior com a maturação, sendo denominado “rumo à
independência”. Portanto através da conjunção destes 3 processos começará haver a
distinção entre o “eu” do “não-eu”.
Além disto, pode-se ressaltar alguns sintomas provenientes de falhas no holding,
uma mãe insuficientemente boa, inclusive, como a desintegração, sintoma este visto em
indivíduos psicóticos e bordelines. A desintegração nada mais é que um mecanismo de
defesa contra a ansiedade inimaginável. Também, vale ressaltar a dissociação que
também se configura num mecanismo de defesa primitiva do bebê, uma vez que
Winnicott acredita que ele não consegue saber quando se encontra em seu estado de
satisfação, ou seja, a criança se vê, sem distinção, a mesma quando está no estado de
satisfação e a mesma que chora por fome. Ambos os sintomas constituem-se em defesa
contra a não-integração.
O SETTING ANALÍTICO E A REGRESSÃO
Para Winnicott o HOLDING é o principal atributo do setting analítico, o qual é
produzido com os aspectos do holding materno (temperatura adequada, iluminação
suave, ausência de ruídos perturbadores, etc.)
Winnicott ressaltou, citando Freud, que existem 3 pessoas, uma das quais
encontra-se fora do consultório, mas se há 2 envolvidas significa que houve regressão
do paciente no setting. Este funciona como a mãe e o paciente como o bebê. Há um
estado de regressão ainda maior quando há apenas uma pessoa no setting, mesmo que
na visão do observador existam 2.
Winnicott, preocupava-se em construir um setting que limitasse e contivesse.
Para ele a espontaneidade só fazia sentido a partir do controle. Além disto, o manuseio
do setting era essencial, já que era o principal recurso no tratamento dos pacientes muito
regredidos, esquizóides, etc.
O QUE É MANUSEIO DO SETTING?
Winnicott fala neste manuseio referindo-se à habilidade do analista em
administrar o lar onde é feito o tratamento, além do modo de como ele se dava aos
pacientes.
No setting o trabalho é feito individualmente ou em grupo, cujo neste o terapeuta
funciona como uma mãe que cuida da arrumação da casa, sendo os demais componentes
do grupo como os demais membros da família. O pai se apresenta, nas fases iniciais,
como protetor e auxiliar, além disto, como aquele que cria o “ambiente indestrutível”.
Também, na incapacidade materna de adaptação à fase inicial, há a aniquilação
do self do bebê. Estes fracassos maternos são sentidos como ameaça à existência
pessoal do self e não como fracasso.
Assim, ambiente suficientemente bom, permite ao bebê começar a existir, a ter
experiências e, até mesmo, dominar as pulsões, construindo um ego pessoal. Em
contrapartida, caso o ambiente seja insuficientemente bom, o ego não morre, porém não
desenvolve, havendo, por exemplo, a ausência de realidade, sentimento de futilidade e
entre outros. Assim o falso self advém do inadequado holding, o qual provoca alteração
no desenvolvimento do self. Logo, o indivíduo cria uma espécie de “capa” ou proteção,
enquanto o self verdadeiro está “oculto” sem poder desenvolver.
TEORIA DO OBJETO
Para Winnicott a criança nasce indefesa. É Um ser desintegrado, que percebe de
maneira desorganizada os diferentes estímulos provenientes do exterior. O bebê nasce
também com uma tendência para o desenvolvimento. A tarefa da mãe é oferecer um
suporte adequado para que as condições inatas alcancem um bom desenvolvimento.
O ser humano, para Winnicott, nasce como um conjunto desorganizado de
pulsões, extintos, capacidades perceptivas e motoras que conforme progride o
desenvolvimento vão se integrando, até alcançar uma imagem unificada de si e do
mundo externo.
O papel da mãe é prover o bebê de um ego auxiliar que permita integrar suas
sensações corporais, os estímulos ambientais e suas capacidades motoras nascentes.
Para Winnicott a sustentação ou holding protege contra a afronta fisiológica. O
holding deve levar em consideração a sensibilidade epidérmica da criança: tato,
temperatura, sensibilidade auditiva, sensibilidade visual, sensibilidade as quedas. Assim
como o fato de que a criança desconhece a existência de tudo o que não seja ela própria.
Inclui toda rotina de cuidados ao longo do dia e da noite. A mãe adquire graças a esta
sensibilização, uma capacidade particular para se identificar com as necessidades do
bebê.
Ou seja, na etapa inicial do desenvolvimento a questão primordial é a presença
de uma mãe-ambiente confiável que se adapte as suas necessidades de maneira
virtualmente perfeita.
A integração é obtida a partir de duas séries de experiências: por um lado tem
especial importância a sustentação exercida pela mãe, que “recolhe os pedacinhos do
ego”, permitindo a criança que se sinta integrada dentro dela; por outro lado há um tipo
de experiência que tende a reunir a personalidade em um todo, a partir de dentro (a
atividade mental do bebê). Chega um período que a criança graças as experiências
citadas consegue reunir os núcleos do seu ego, adquirindo a noção de que ela é diferente
do mundo que a rodeia. Esse momento de diferenciação entre “eu” e “não-eu” pode ser
perigoso para o bebê pois o exterior pode ser sentido como perseguidor ou ameaçador.
Essas ameaças são neutralizadas, dentro do desenvolvimento sadio, pela existência do
cuidado amoroso por parte da mãe.
A medida que o desenvolvimento progride, a criança tem um ego relativamente
integrado, e com a sensação de que o núcleo do si-próprio habita o seu corpo. Ela e o
mundo são duas coisas separadas. A etapa seguinte é conseguir alcançar uma adaptação
à realidade.
Nessa etapa a mãe tem o papel de prover a criança com os elementos da
realidade com que irá construir a imagem psíquica do mundo externo. A adaptação
absoluta do meio ao bebê se torna adaptação relativa, através de um delicado processo
gradual de falhas em pequenas doses.
A mente se desenvolve através da capacidade de compreender e compensar as
falhas. Portanto, se no início, a tarefa da mãe é adaptar-se de maneira absoluta às
necessidades do bebê, em seguida, será de fundamental importância que ela possa
fornecer um fracasso gradual da adaptação para que a função mental do bebê se
desenvolva satisfatoriamente. O resultado disto será a emergência da capacidade do
próprio sujeito de cuidar de seu self, atingindo um estágio de dependência madura.
OBS: O objeto objetivo é quando a criança reconhece o objeto como objeto. Ou
seja, isso é uma caneta, ele reconhece que o objeto pertence a ele mas não é ele. Ele
começa a dar nomes aos objetos.
O objeto transicional representa a primeira posse “não-ego” da criança, têm um
caráter de intermediação entre o seu mundo interno e externo.
Em Winnicott o conceito de objeto ou fenômeno transicional recebe três usos
diferentes: um processo evolutivo, como etapa do desenvolvimento; vinculada às
angústias de separação e às defesas contra elas; representando um espaço dentro da
mente do indivíduo.
O objeto transicional é algo que não está definitivamente nem dentro nem fora
da criança; servirá para que o sujeito possa experimentar com essas situações, e para ir
demarcando seus próprios limites mentais em relação ao externo e ao interno. O objeto
transicional está situado em uma zona intermediária, na qual a criança se exercita na
experimentação com objetos, mesmo que estejam fora, sente como parte de si mesma.
Para explicar a constituição do objeto transicional, Winnicott remonta ao
primeiro vínculo da criança com o mundo externo, a relação com o seio materno. No
princípio, a criança tem uma ilusão de onipotência, vivenciando o seio como sendo
parte do seu próprio corpo. Mas, uma vez alcançada esta onipotência ilusória, a mãe
deve idealmente, ir desiludindo a criança, pouco a pouco, fazendo com que o bebê
adquira a noção de que o seio é uma “possessão”, no sentido de um objeto, mas que não
é ele (“pertence-me, mas não sou eu”).
Winnicott aponta algumas características que são comuns aos objetos
transicionais: a criança afirma uma série de direitos sobre o objeto; o objeto é
afetuosamente ninado e excitadamente amado e mutilado; deve sobreviver ao ódio, ao
amor, e à agressão. É muito importante que o objeto sobreviva à agressão,
possibilitando a criança neutraliza-la, dando-lhe, posteriormente, um fim construtivo, ao
notar que esta não destrói os objetos.
A ligação e o afastamento do objeto transicional deixa em cada sujeito uma marca:
fica na mente do indivíduo um espaço que, assim como o objeto transicional, é
intermediário entre o interno e o externo. É nesse espaço que se produz muitas das
atividades criativas do homem, como as artes, a musica, etc. que “representam” o
mundo interno para o exterior e, em certo sentido, “representa” a realidade para si
mesmo.
Após alguns meses, observa-se um apego dos bebês a algum objeto
Existe um relacionamento entre esses dois conjuntos de fenômenos: uma área
intermediária de experiência designada “objeto transicional ou fenômeno
transicional”
O objeto transicional representa:
- a transição da criança pequena, que passa do estado de união com a mãe para o
estado em que se relaciona com ela como uma coisa externa e separada;
- a passagem do controle onipotente, exercido na fantasia, pelo controle pela
manipulação;
- e antecede o reconhecimento da realidade externa percebida como tal e não de
maneira fantasística.
A criança descobre aos poucos que ela e sua mãe são separadas e que ela depende da
mãe para a satisfação de suas necessidades
A fantasia não corresponde mais com a realidade
Após uma fase de ilusão ela enfrenta a desilusão
É para se sustentar nessa experiência difícil, geradora de angústia depressiva, que a
criança pequena desenvolve estas atividades
Os objetos ou fenômenos transicionais revestem-se de uma importância vital para a
criança no momento em que ela vivencia a angústia por ocasião das separações da
mãe, especialmente na hora de dormir
O adjetivo transicional indica que esses fenômenos ocupam um lugar na vida
psíquica, pois se alojam num espaço intermediário entre a realidade interna e a
realidade externa
Esse espaço intermediário tem um papel de amortecedor no choque ocasionado pela
conscientização de uma realidade externa, povoada de coisas e pessoas
O próprio espaço também pode ser qualificado de transicional
Esse espaço transicional persiste ao longo de toda a vida
Será ocupado por atividades lúdicas e criativas extremamente variadas
O ambiente é fundamental no aparecimento e evolução dos fenômenos transicionais
Seu aparecimento é o sinal de que a mãe da primeira fase foi suficientemente boa
Quanto à evolução, o ambiente tem por missão respeitar e proteger sua expressão
Pode ocorrer um desenvolvimento psicopatológico decorrente da dificuldade da
criança de manter a lembrança da mãe viva em sua mente: tendência anti-social,
hipocondria, paranóia, psicose maníaco-depressiva e algumas formas de depressão
TEORIA DO SELF, COM A POLARIZAÇÃO ENTRE O VERDADEIRO SELF,
ESPONTÂNEO E CRIATIVO, FONTE DE ALEGRIA E SAÚDE MENTAL; O
FALSO SELF, ARTIFICIALMENTE CONSTRUÍDO POR SUBMISSÃO E
EXCESSIVA ADAPTAÇÃO AO MEIO.
Para Winnicott, cada ser humano traz um potencial inato para amadurecer, para
se integrar, porém, o fato de essa tendência ser inata não garante que ela realmente vá
ocorrer. Isto dependerá de um ambiente facilitador que forneça cuidados
suficientemente bons, sendo que no início, esse ambiente é representado pela mãe. A
mãe intervém como ativa construtora do espaço mental da criança. Winnicott acreditava
que a mãe suficientemente boa é aquela que possibilita ao bebê a ilusão de que o mundo
é criado por ele, concedendo-lhe, assim, a experiência da onipotência primária, base do
fazer criativo. E a o percepção criativa da realidade é uma experiência do self, núcleo
singular de cada indivíduo.
Winnicott escreveu sobre a formação do self básico, sob dois pontos de vista:
como parte de sua teoria geral do desenvolvimento, e como centro de suas discussões
acerca da ideia de self verdadeiro e falso.
Durante o processo de integração, a mãe, ao cuidar da criança, estará oferecendo
o “holding” e o “handling” num ambiente confiável, seguro e, portanto sensivelmente
equilibrado, de forma que a criança ao ter a sensação de segurança e confiabilidade
possa vir a se integrar gradativamente, ligando a psique com o soma. A psique
encontrará, aos poucos, a sua morada no corpo. A psique se incumbe da elaboração
imaginativa das funções somáticas e vai se desenvolvendo, resultando no processo de
“personificação” que é fruto da ligação psique-soma. Desta forma, teremos o
surgimento do Self como unidade, levando ao gradual reconhecimento da mãe como um
“outro”. De vez em quando, de um impulso, surge um gesto espontâneo, que é um
potencial do self verdadeiro. O self verdadeiro é o núcleo da personalidade, o núcleo do
ego que permanecerá oculto e integrado. A mente, segundo a concepção de Winnicott, é
uma instância especializada da psique, que se desenvolverá a medida que a criança
começa a ter consciência do meio externo, e permitirá que ela possa lidar com as falhas
crescentes do meio ambiente, de acordo com o estágio e possibilidades no seu processo
de amadurecimento. O self verdadeiro só se torna uma realidade viva se a mãe
responder adequadamente ao gesto espontâneo. Por exemplo, se o bebê está na fase em
que precisa ter sua onipotência (poder de fazer tudo) alimentada, a mãe lhe disponibiliza
os objetos de tal forma a criar a área de ilusão. Quando a mãe, ao lidar com o bebê,
substitui o gesto espontâneo do bebê pelo seu próprio gesto, este se submete, e este é o
estágio inicial do falso-self. A mãe suficientemente boa não pode colidir com a
onipotência do filho. É ele que vai, no momento certo, atingir a possibilidade de
renunciar à onipotência. O self verdadeiro tem espontaneidade. Depois de gozar
suficientemente a ilusão onipotente é que ele pode, gradativamente, reconhecer o
momento ilusório e aí brincar e imaginar.
Winnicott afirma que do mesmo modo que a criança constrói o Self verdadeiro
num desenvolvimento normal, ele também desenvolverá normalmente o falso Self
(1982). O falso Self surge como uma defesa natural, para que a criança possa adaptar-se
ao meio ambiente social no qual ela vive. O falso Self irá suprir o verdadeiro quando se
fizer necessário para uma adaptação adequada, constante, ao meio ambiente, o que
consiste em poder negociar e conceder. Numa relação patológica com o meio ambiente,
o falso Self é utilizado como uma forte defesa onde seu uso se torna exclusivo, a fim de
atender e simplesmente agradar ao meio ambiente. O uso do falso Self numa forma
excessiva encobriria, nos casos mais graves, o verdadeiro Self (1982), deixando
transparecer somente a “casca”, o “socialmente aceito” e não a real pessoa. Podemos,
portanto, facilmente depreender como este ser em desenvolvimento precisa de um
“meio ambiente materno”, capaz de dar o “holding” e o “handling” que o bebê
necessita, para que possa alcançar um desenvolvimento saudável. Porém, nem sempre é
possível um desenvolvimento infantil sustentado, com uma mãe capaz de dar o
“holding” e “handling” que a criança necessita. Winnicott, 2001, afirma que “uma boa
proporção de mães e pais, em virtude de doenças sociais, familiares e pessoais, não
consegue fornecer à criança condições suficientemente boas à época de seu nascimento”
(p.4). Durante o desenvolvimento, o bebê é capaz de suportar adversidades e tensões,
contanto que ele possa confiar no “meio ambiente materno”. Porém, se o meio ambiente
primário se apresentar como inóspito (sem condições de habitar) provocando “tensão”
e/ou inconstância afetiva, a sensação de segurança e continuidade de ser deixa de
existir, e surge, então, uma tendência natural de sobrevivência, de buscar defesa fazendo
uso do falso Self a fim de poder lidar com este meio ambiente e se adequar a ele.
O falso self não é, portanto, em si, um problema. Ele protege o verdadeiro self
do aniquilamento quando há qualquer interrupção deste curso natural. O problema
existe quando existe uma divisão muito grande entre o self verdadeiro e o falso self, e
então o falso oculta o verdadeiro, impedindo a criatividade e a espontaneidade.
TEORIA PSICOSSOMÁTICA
É um processo que se inicia na “dependência absoluta”, que começa logo após o
nascimento e vai até a “dependência relativa” que é quando atinge a maturidade na fase
adulta. Para o autor todo individuo apresenta uma tendência para o desenvolvimento
que associado a um ambiente facilitador, levará a integração da personalidade. Donald
desenvolveu a teoria do amadurecimento pessoal e afetivo.
Esse processo possui três fases: dependência absoluta, dependência relativa e ruma a
independência. O autor nomeia a última fase de “rumo a independência”, pois não é
possível alcançar a total independência, mesmo na fase adulta.
Fase da dependência absoluta: Fase iniciada logo após o nascimento, onde surgem os
pilares da construção humana, que são determinantes para o processo de integração
psicossomática. Nesta fase acontece o desenvolvimento emocional infantil. Nesta fase o
bebê não tem uma noção de “eu”, mas apresenta uma tendência para esta integração,
necessitando de cuidados maternos que garantem sua preservação, criando uma mãe
“suficientemente boa” que se coloca a disposição para atender as necessidades do bebê,
desta maneira o ego da mãe é tido como complementar ao da criança, proporcionando
um desenvolvimento gradual do bebê. Nesta fase o bebê ainda não consegue se
diferenciar do mundo, não sabe diferenciar o eu do não-eu, não possui uma maturidade
para reconhecer suas necessidades, neste caso a mãe exerce a função de ego para
auxiliar o filho. Somente através de uma intensa relação mãe-bebê, se é possível a
conquista da integração, consequentemente a passagem para a fase de dependência
relativa, onde o bebê avança no processo de amadurecimento e essa separação pode
ocorrer gradualmente, com a distinção do que é interno e externo. Porém se o ambiente
não é favorável as necessidades do bebê, acaba comprometendo o processo de
continuidade do ser, podendo se formar uma mente forçada, causando danos ao
desenvolvimento psicossomático.
Fase de dependência relativa: Quando o bebê é capaz de tomar consciência sobre suas
reais necessidades, como inicio da capacidade mental, que o ajudam a lidar com as
falhas ambientais. Nesta fase acontecem os “fenômenos transicionais” que remete aos
primeiros momentos de ilusão, onde possibilita a relação entre psique individual e
realidade externa. O processo de desilusão ocorre logo depois do desmame, sendo um
momento importante para o amadurecimento, quando surgem também as funções
mentais e a criatividade. Nesta fase as pequenas falhas cometida pela mãe, aceleram o
processo de amadurecimento, é o inicio da separação mãe e bebê, onde ele se mostra
integrado com o mundo externo.
Rumo a independência: nos dois últimos estágios, independência relativa e rumo a
independência, o bebê desenvolveu ferramentas que transmitem confiança com o meio,
neste momento o ego se distancia do materno e ele vive uma vida psicossomática, numa
completude do si. Para o autor a dependência nunca deixa de existir, pois o sujeito está
em constante contato com o ambiente, que deve ser favorável a ele. O termo
“integração” é um conjunto de memórias e a união do passado, presente e futuro dentro
do relacionamento com ele e com o mundo.
Soma e Psique: Nos primeiros momentos do desenvolvimento emocional, o corpo e a
psique se misturam, no inicio há o soma que vai gradualmente juntando-se a psique.
Acontece uma integração entre eles. Para que a psique se aloje no corpo é necessário um
ambiente satisfatório. Os cuidados ambientais são fundamentais para este processo, caso
contrario, poderá surgir prejuízos psicossomáticos. No estado primário do ser, onde a
ligação entre soma e psique não se faz, não existe uma “unidade do eu” que consiga
perceber o ambiente como alheio a si, estabelecendo uma clara separação entre “eu e
não-eu”. A base da psique é o soma, o surgimento da mente é conseqüência da relação
entre psique e soma. A mente se forma a partir da desaptação materna, quando o bebê
cria recursos para lidar com as falhas da mãe, neste momento a compreensão intelectual
do bebê se desenvolve.
Transtornos psicossomáticos: Com base em um desenvolvimento saudável a soma e a
psique, devem estar ligadas. Diante das falhas do meio, o bebê que não está preparado
para lidar com a angustia provocada, acaba formando uma unidade psicossomática
precária, podendo ocorrer o desligamento entre psique e soma, numa situação definida
como “falso self”. Esse mecanismo é entendido como uma defesa contra as invasões
ambientais. A doença psicossomática é entendida pelo autor como uma dissociação que
surge como defesa no amadurecimento individual, como um fracasso no processo de
personalização, gerando um prejuízo no alcance da integração “eu”, separado do mundo
externo.