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DONALD WOODS WINNICOTT Donald Woods Winnicott nasceu em Plymouth (1896) e faleceu em Londres, (1971), aos 74 anos de idade. Era filho de um político e uma dona de casa. Foi o único homem e o caçula de duas irmãs bem mais velhas. Além da família nuclear, viviam na casa uma tia, uma babá, e uma governanta, além de uma cozinheira e várias copeiras (Kahr, 1996). Teve, segundo sua esposa Clare, uma infância feliz, passada numa mansão britânica onde a família vivia de modo alegre e descontraído. Em uma autobiografia inacabada, revelada por Clare, Winnicott diz que se sentia um filho único amado por várias mães. Em sua casa, irmãos, vizinhos, amigos e primos viviam jogando e brincando freqüentemente com muita imaginação e vitalidade. Winnicott tinha a liberdade de explorar todos os espaços disponíveis na casa e no jardim e preenchê-los com fragmentos dele mesmo para edificar assim, progressivamente, seu mundo. Todas essas experiências de vida foram utilizadas de modo fecundo nos seus escritos e no seu modo de trabalhar, o que se constata ao longo de sua obra, como é o caso da relevância atribuída à família ou da importância do brincar, aspectos que ele considerou como fundamentais na plena posse da nossa saúde mental (Mello, 2003). Outro traço da sua família era seu incrível senso de humor, também uma característica de Winnicott, do qual fazia um uso muito inteligente e particular dentro da

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DONALD WOODS WINNICOTT

Donald Woods Winnicott nasceu em Plymouth (1896) e faleceu em Londres, (1971),

aos 74 anos de idade. Era filho de um político e uma dona de casa. Foi o único homem e

o caçula de duas irmãs bem mais velhas. Além da família nuclear, viviam na casa uma

tia, uma babá, e uma governanta, além de uma cozinheira e várias copeiras (Kahr,

1996). Teve, segundo sua esposa Clare, uma infância feliz, passada numa mansão

britânica onde a família vivia de modo alegre e descontraído. Em uma autobiografia

inacabada, revelada por Clare, Winnicott diz que se sentia um filho único amado por

várias mães. Em sua casa, irmãos, vizinhos, amigos e primos viviam jogando e

brincando freqüentemente com muita imaginação e vitalidade. Winnicott tinha a

liberdade de explorar todos os espaços disponíveis na casa e no jardim e preenchê-los

com fragmentos dele mesmo para edificar assim, progressivamente, seu mundo. Todas

essas experiências de vida foram utilizadas de modo fecundo nos seus escritos e no seu

modo de trabalhar, o que se constata ao longo de sua obra, como é o caso da relevância

atribuída à família ou da importância do brincar, aspectos que ele considerou como

fundamentais na plena posse da nossa saúde mental (Mello, 2003).

Outro traço da sua família era seu incrível senso de humor, também uma

característica de Winnicott, do qual fazia um uso muito inteligente e particular dentro da

situação clínica, amenizando o impacto das dolorosas verdades existenciais sobre seus

pacientes, entremeando-as com humor, metáforas e uma fina sensibilidade para com os

mesmos (Mello, 2003).

Durante sua infância, Winnicott pouco tempo passava com seu pai, que permanecia

muito pouco tempo em casa, deixando seu filho rodeado por mulheres, das quais recebia

muito carinho e atenção, desenvolvendo um conhecimento incomum a respeito de suas

vidas e preocupações particulares. Talvez por essa razão, Winnicott escreveu muito

pouco sobre a figura paterna; a maior parte do seu trabalho é centrada na relação

materno-infantil (Kahr, 1996). Dentre as contribuições importantes criadas por

Winnicott para compreender a relação mãe-bebê, destacam-se os conceitos de

‘Preocupação Materna Primária ’, ‘Mãe Suficientemente Boa ’, ‘Holding’ e ‘Handling’

Winnicott sofreu, por mais de dez anos, de problemas cardíacos progressivos e

isso fez com que convivesse muito de perto com a presença da morte, o que aparece

Priscilla Santos da Silva, 20/05/13,
CONVIVEU POUCO COM O PAI, TALVEZ POR ISSO TENHA ESCRITO POUCO SOBRE A FIGURA PATERNA. A MAIOR PARTE DE SEU TRABALHO É CENTRADA NA RELAÇÃO MATERNO INFANTIL.
Priscilla Santos da Silva, 20/05/13,
EM SUA AUTOBIOGRAFIA FICA CLARO QUE ELE CONVIVEU DE MUITO PERTO COM A PRESENÇA DA MORTE, POIS SOFREU POR MAIS DE 10 ANOS COM PROBLEMAS CARDÍACOS. ELE ESCREVEU COMO ERA DIFICIL P UM HOMEM MORRER SEM TER UM FILHO PARA SOBREVIVER A SI.
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claramente na sua autobiografia. Ele também escreveu sobre como era difícil para um

homem morrer sem ter tido um filho para poder sobreviver a si. Winnicott sempre

sofreu com sua saúde frágil. Já na escola, aos 16 anos, fraturou a clavícula e anos depois

ficou internado durante três meses com um abscesso de pulmão. Sobre essas

experiências constatou que a melhor maneira de livrar-se da situação de estar nas mãos

dos médicos era ele mesmo se transformar em um médico. Também dizia que todo

médico, pelo menos uma vez na vida, deveria passar pela condição de paciente. Assim,

Winnicott entrou para a medicina, tornando-se pediatra do renomado Paddington Green

Children’s Hospital onde trabalhou por 40 anos (Mello Filho, 2003).

Em sua experiência no hospital fez uso de recursos que lhe deram fama como o

jogo do rabisco (squiggles), aonde ele e a criança iam desenhando partes e formando

figuras que iam se sucedendo. Possuía grande facilidade de comunicação com as

crianças que os compreendiam com muita facilidade. Certa vez, Winnicott atendeu uma

família da Dinamarca e as duas crianças ficaram com a certeza de que ele falava

dinamarquês, apesar dos pais afirmarem que ele nunca falou uma palavra daquele

idioma (Mello Filho, 2003).

Winnicott era um clínico extremamente comunicativo e empático com seus

pacientes e, ao mesmo tempo, um homem-criador imensamente voltado para si, para seu

processo analítico de busca interior e de síntese criativa. Winnicott foi alguém que

conviveu permanentemente com o convívio do fantasma da morte sem que por isso

deixasse de estar extremamente presente e vivo. Winnicott morreu, segundo consta,

debruçado sobre os originais de O Brincar e a Realidade (1971/1975), que ele corrigia

para serem publicados.

Sua obra teve sempre uma dupla origem: as observações sobre o

desenvolvimento infantil que fazia durante seu contato com crianças, mãe a famílias,

por um lado e, por outro, o seu trabalho psicanalítico com pacientes adultos,

principalmente com borderlines e psicóticos que reviviam intensamente na análise, num

setting muito vivo e acolhedor que ele criava, suas experiências infantis precoces. Essas

experiências trouxeram conceitos importantes como o de ‘integração’ e ‘não-integração’

(entre mente e corpo, entre partes do corpo, entre eu e o mundo) que contribuíram,

inclusive, para a medicina psicossomática. Dizia ele que as chamadas dores do

crescimento das crianças tinham raízes psicológicas e, portanto, não deveriam ser

Priscilla Santos da Silva, 20/05/13,
PsicosesPsicoses são distúrbios psiquiátricos graves onde o paciente perde contato com a realidade, emite juízos falsos (delírios), podendo também apresentar alucinações (ter percepções irreais quanto a audição, visão, tato), distúrbios de conduta levando à impossibilidade de convívio social, além de outras formas bizarras de comportamento.
Priscilla Santos da Silva, 20/05/13,
BODERLINE São pessoas simpáticas e agradáveis, mas em sua intimidade são explosivas, agressivas, intolerantes, irritáveis, com tendência a manipular.um grupo de pacientes que se caracterizam, basicamente, por apresentar uma alteração na fronteira (ou na borda) entre a neurose e a psicose.
Priscilla Santos da Silva, 20/05/13,
POSSUÍA GRANDE FACILIDADE DE COMUNICAÇÃO COM AS CRIANÇAS. DE MODO GERAL, ERA CRIATIVO, EMPÁTICO COM SEUS PACIENTES, HOMEM CRIADOR, IMENSAMENTE VOLTADO PARA SI, PARA SEU PROCESSO DE BUSCA INTERIOR E SÍNTESE CRIATIVA.
Priscilla Santos da Silva, 20/05/13,
A SUA MOTIVAÇÃO DE ENTRAR PARA MEDICINA FOI JUSTAMENTE A SUA SAÚDE FRÁGIL, DIZIA QUE A MELHOR MANEIRA DE LIVRAR-SE DA SITUAÇÃO DE MÉDICO ERA SE TRANSFORMAR EM UM. DIZIA TB QUE PELO MENOS UMA VEZ NA VIDA TODO MÉDICO DEVERIA PASSAR PELA CONDIÇÃO DE PACIENTE.
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tratadas com o tradicional repouso no leito. Também afirmava que a maior causa de

consultas em pediatria ocorriam em função da depressão ou ansiedade das mães. Suas

idéias foram rejeitadas por muitos de seus contemporâneos em pediatria (Mello Filho,

2003).

Winnicott destacou-se como uma analista de adultos e foi uma autoridade em

análise de crianças, porém igualmente supremo como analista de analistas. Não fundou

nenhuma escola e nem se tornou líder de nenhum grupo para poder exercer suas idéias

livremente. Num período onde a escola de Ana Freud e de Melanie Klein disputavam

espaço no cenário europeu, Winnicott foi uma das principais figuras do chamado middle

group (também constituído por Balint, Margareth Little, etc.). Com sua visão de que a

psicanálise é uma coisa só, ele tentou durante muitos anos conciliar as duas tendências,

freudiana e kleiniana. Winnicott reconhecia que as contribuições de Melanie ajudaram-

no a trabalhar com crianças e enriquecer seu trabalho analítico. No entanto o autor dizia

que o ser humano não poderia aceitar as idéias agressivas e destrutivas como próprias de

si ou de sua natureza sem a experiência de reparação, e por esta razão a contínua

presença do objeto amado é necessária neste estágio, pois somente desta forma há

oportunidade para a reparação (Mello Filho, 2003).

As suas maiores contribuições talvez tenham se dado nos aspectos do

desenvolvimento humano e influenciaram diversos autores como Spitz, Bowlby e

Mahler. Essas contribuições incluem os conceitos de ‘ambiente facilitador ’, ‘objeto e

fenômeno transicional ’, ‘espaço potencial ’, etc. (Mello Filho, 2003). Winnicott

considerava que as experiências vividas, internas ou externas, possuem uma qualidade

diferencial dada pelas diferentes formas possíveis de interação entre elas. Buscou um

sistema compreensivo do viver humano, onde o ponto de partida da compreensão deste

sistema se funda nas condições constitucionais de um indivíduo e nas relações

ambientais que o circundam durante este processo. Também esteve atento ao estudo da

identidade da pessoa total, do Self, mais do que do instinto e do Ego e seus mecanismos

de defesa (Mello Filho, 2003).

Nos dias atuais, Donald Winnicott vem recebendo, por fim, o reconhecimento

merecido por suas extraordinárias contribuições oferecidas à Psicanálise. Entre vários

méritos, Winnicott foi um dos autores que mais colaborou para afastar a psicanálise de

uma posição demasiadamente instintiva, ao acentuar a possibilidade do Ego controlar os

Priscilla Santos da Silva, 20/05/13,
TINHA A VISÃO QUE A PSICANALISE ERA UMA COISA SÓ, POR ISSO, TENTOU DURANTE ANOS CONCILIAR AS TENDENCIAS FREUDIANA E KLENIANA
Priscilla Santos da Silva, 20/05/13,
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impulsos do Id através da ação de um ambiente facilitador, que vai ao encontro das reais

necessidades da criança, permitindo sua adaptação à vida familiar e social sem prejuízos

na sua individualidade (Mello Filho, 2003).

Quanto à análise e ao espaço terapêutico, Winnicott preocupou-se em não alienar

em campos distintos terapeuta e teoria, tendo como objeto de estudo a relação humana

com o saber instituído, mais especificamente, o relacionamento entre o psicanalista, o

modelo teórico por ele adotado e a prática clínica. Uma passagem ocorrida com

Winnicott, relatada a Grolnick (1993) por Clare Winnicott, ilustra claramente sua

opinião diante da questão. Num debate acirrado dentro da Sociedade Britânica de

Psicanálise sobre determinados procedimentos técnicos, como número mínimo de

sessões semanais, perguntaram a Winnicott o que ele achava ser psicanálise ou não. Ele

responde sucintamente:- “Se é psicanálise? Ora, depende de quem faz”. Para Winnicott,

o espaço analítico é um espaço relacional, um espaço de mudança, criado a partir da

inter-relação dos elementos existentes neste espaço – do analista que aceita e deseja a

responsabilidade de criar este espaço de convivência dentro de um contexto, utilizando

uma espécie de fio condutor e do analisando que aceita compartilhar este espaço e o

modifica através de sua participação, produzindo uma dinâmica na qual ambos mudam.

André Green (1988) faz a analogia de que, se Freud às vezes comparava a

situação analítica ao jogo de xadrez, poderíamos comparar a obra de Winnicott ao jogo

que este criou, o jogo do rabisco, tradução gráfica do espaço analítico, da maneira como

ele o percebe. Neste espaço analítico, para Winnicott, a criatividade é a condição do

sentir-se real no mundo. Em decorrência disso, a direção do tratamento com qualquer

paciente está vinculada à instauração da capacidade criativa muitas vezes perdida, ou

sequer adquirida, devido às falhas no processo de trocas do indivíduo com o meio

ambiente (Lins, 2006)MA obra de Winnicott, ao encontro do pensamento

contemporâneo, pulveriza a crença na verdade única, na supremacia da exatidão, na

necessidade da convergência, que traz em seu bojo a imutabilidade. Ela nos abre novas

perspectivas onde é possível ser original, é possível ter uma linguagem pessoal e é

possível que estas contribuições acrescentem algo ao conhecimento psicanalítico. O

trabalho analítico nos ensina que o saber é uma experiência de permanente rearticulação

e re-significação, onde as experiências posteriores modificam e reordenam a memória e

a compreensão do passado. É esta plasticidade que faz a vida e a psicanálise

Page 5: Trabalho sobre Winnicott.docx

interessantes e apaixonantes, mas também faz da vida e da psicanálise algo que temos

que abrir mão do controle total. A criatividade surge quando se é possível usufruir, sem

medo do aniquilamento, o desconhecido. Winnicott nos ensinou que a ação criativa é

uma atividade que se estende por toda a existência e nos permite fazer de nosso trabalho

uma tarefa que vale a pena ser exercida (Green, 1988; Grolnik, 1993; Mello, 2003). Eis

aí o grande colorido da vida e obra de Winnicott!

TEORIA DO DESENVOLVIMENTO

Para Winnicott cada ser humano é produto de uma constante e permanente

integração com meio e cada ser humano traz consigo um potencial inato para

amadurecer, desenvolver-se, porém esta questão do desenvolvimento das

potencialidades depende de um ambiente facilitador que forneça cuidados

suficientemente bons, sendo este ambiente, no início, representado pela mãe.

Para Winnicott as bases da Psicologia do inter-relacionamento humano têm suas

origens no momento da gravidez da mulher, mais especificamente no pré-natal, quando

a mulher adquire um estado de alta sensibilidade durante e, especialmente, nas semanas

finais da gravidez, podendo perdurar por algumas semanas após o nascimento bebê.

Este estado Winnicott denominou “Preocupação Materna Primária”. Ao se recuperar

deste estado, ele não será facilmente recordado pela mãe.

Na “Preocupação Materna Primária” a mãe deve ser capaz de atingir o estado

de alta sensibilidade, quase uma doença, e recuperar-se dele. Doença porque a mãe deve

ser capaz tanto para desenvolver este estado de sensibilidade aumentada quanto para

recuperar-se dele quando o bebê a liberar. Caso o bebê morra, este estado assume,

repentinamente, o estado de doença.

Vale ressaltar que quando uma mulher tem uma forte identificação masculina,

dificilmente alcançará esta função maternal, já que a inveja reprimida do pênis não

libera espaço para esta preocupação materna.

Assim, na fase intrauterina há uma forte identificação da mãe com seu bebê, a

qual se acredita ser consciente, porém também profundamente inconsciente, surgindo a

partir disto uma “mãe devotada comum” ou “mãe suficientemente boa”.

Page 6: Trabalho sobre Winnicott.docx

- E o que significa uma mãe suficientemente boa?

É importante que a mãe olhe para o seu filho com o intuito saber a hora de

alimentar, o momento de dar banho, entre outros, mas ser uma mãe suficientemente boa,

é mais do que isto, é ir além disto, é ter a percepção de como satisfazê-lo, é reconhecê-

lo em suas peculiaridades, ou seja, é a mãe que vivencia este estado de “mãe devotada

comum”, dedicando-se de forma natural às tarefas da maternidade, temporariamente

alienada de outras funções, sociais e profissionais.

Desta forma, o bebê é dotado de tendências inatas do desenvolvimento,

possuindo pulsões e instintos num conjunto ainda desorganizado, devido ao ego ainda

estar despreparado para as demandas do ID, dependendo de uma interferência

permanente da mãe, a qual criará um ambiente facilitador, um ambiente mais próximo

da condição intrauterina, precisando da mãe para realizar o processo de interação. Neste

estado o bebê está num processo não integrado, está vivenciando uma fase denominada

de dependência absoluta. Diante disto, não integrado significa que o bebê ainda se sente

parte da mãe, envolvendo, inclusive, um sentimento de segurança.

Assim, como a “Preocupação materna primária” se instala de forma gradual, em

condições normais, da mesma forma ele vai se desinstalando, dependendo da saúde

física do bebê e da mãe, isto é, após um parto não traumático ou, até mesmo, uma

amamentação tranquila. Então, após algumas semanas de intensa adaptação às

necessidades do recém–nascido, este sinaliza que seu amadurecimento já o torna apto a

suportar as falhas maternas. Assim, a mãe suficientemente boa deve compreender esse

movimento do bebê rumo à dependência relativa e a ele corresponder, permitindo falhas

que abrirão espaço ao desenvolvimento.

- Então, para Winnicott, o desenvolvimento do bebê se dá em 3 processos:

- Integração

- Personalização

- Adaptação à realidade

- INTEGRAÇÃO:

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Como foi mencionado acima, logo após o nascimento o bebê possui um ego

ainda “imaturo”, formado por núcleos que não se relacionam, assim o bebê funciona

como um mero somatório de partes físicas e psíquicas não-integradas, necessitando da

mãe para gradualmente, sentir-se um ser coeso, integrado em si. Isto é garantido? Não,

será necessário um ambiente facilitador provido pela própria mãe. Desta forma, a

integração surge, gradualmente, de um estado primário não-integrado.

Para Winnicott, embora os processos de maturação incluam uma tendência para

a formação de uma unidade, é através do holding materno que a criança se sente

integrada em si mesma e começa a experimentar a sensação de diferenciação do mundo

externo.

HOLDING MATERNO

Expressão utilizada por Winnicott que provém do verbo “to hold” que significa

sustentar, conter, dar suporte. No caso específico da relação mãe-bebê isto pode ser feito

baseando-se no ato de segurar fisicamente a criança no colo ou no sentido genérico da

mãe entender as necessidades da criança e atendê-lo da forma mais adequada, utilizando

sua capacidade de ser colocar no lugar do outro e de sua intuição inconsciente,

prevalecendo nesta relação o sentido figurativo. Winnicott considera esta comunicação

silenciosa e base para todas as outras comunicações entre seres humanos.

Winnicott ressalta que as falhas grosseiras e constantes deste holding materno

podem gerar na criança sensações de desintegração, denominadas por ele de angústias

inimagináveis ou de aniquilamento, que nada mais são do que sensações de

despedaçamento, de estar caindo em abismos sem fim, desconexão entre partes do

corpo, entre outros.

Winnicott relaciona a questão da insegurança numa pessoa à relação mais

primitiva entre a mãe e a criança, ou seja, está se referindo ao contato corporal

proporcionado pelo fenômeno “pegar no colo”.

Ex de sua paciente Ana (nome fictício).

- PERSONALIZAÇÃO

É o desenvolvimento da capacidade de se estar dentro do próprio corpo e isto é

proveniente do contato físico, do sentimento de cuidado corporal, denominando isto

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personalização satisfatória. Sendo assim, em um desenvolvimento normal a criança

“alcança” um esquema-corporal, sendo isto denominado psique-soma.

- ADAPTAÇÃO À REALIDADE

Winnicott considera a relação entre bebê e o seio da mãe, bebê com suas pulsões

e ideias predatórias, já a mãe possui o seio e o poder, além de ter a ideia de ser atacada

por um bebê faminto, porém isto lhe é prazeroso. Estes fenômenos se inter-relacionam,

fazendo com que ambos vivam uma experiência juntos. Assim, Winnicott vê este

processo como se duas linhas viessem de direções opostas e se aproximassem, porém se

elas se sobrepõem há um momento de ilusão, cujo bebê pode tomar por alucinação, ou

seja, ele tem a ideia de que o seio seja algo criado por ele.

Com isto, pode-se destacar como já foi mencionado que o bebê possui uma

potencialidade inata que tende ao desenvolvimento; pressupondo um ambiente

facilitador oferecido pela mãe, é aberto espaço para uma área ilusória, a qual faz parte

do desenvolvimento, inserida num ambiente externo, dará margem para uma relação

mais próxima da realidade externa que a própria mãe proporciona. Nesta 1ª fase as

falhas naturais da mãe, levam o bebê a um sentimento de separação, angústia, então é

quando se vê uma criança apropriando-se de um objeto como fralda, brinquedo e,

inclusive, o polegar. Neste caso, tem-se o conceito de objeto transicional, que

funcionarão como intermediários entre o mundo interno e externo, auxiliando ao bebê

na transição da dependência absoluta para a dependência relativa e rumo à futura

independência. Esta experiência ele também chamou de Criatividade Primária.

Sendo assim, na fase do holding materno, o bebê vive a fase de dependência

absoluta da mãe. Através de sinais corporais à mãe, o bebê já começa expressar que já

não necessita de cuidados intensos, fase de dependência relativa e, a partir disto, começa

a manter um contato cada vez maior com a maturação, sendo denominado “rumo à

independência”. Portanto através da conjunção destes 3 processos começará haver a

distinção entre o “eu” do “não-eu”.

Além disto, pode-se ressaltar alguns sintomas provenientes de falhas no holding,

uma mãe insuficientemente boa, inclusive, como a desintegração, sintoma este visto em

indivíduos psicóticos e bordelines. A desintegração nada mais é que um mecanismo de

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defesa contra a ansiedade inimaginável. Também, vale ressaltar a dissociação que

também se configura num mecanismo de defesa primitiva do bebê, uma vez que

Winnicott acredita que ele não consegue saber quando se encontra em seu estado de

satisfação, ou seja, a criança se vê, sem distinção, a mesma quando está no estado de

satisfação e a mesma que chora por fome. Ambos os sintomas constituem-se em defesa

contra a não-integração.

O SETTING ANALÍTICO E A REGRESSÃO

Para Winnicott o HOLDING é o principal atributo do setting analítico, o qual é

produzido com os aspectos do holding materno (temperatura adequada, iluminação

suave, ausência de ruídos perturbadores, etc.)

Winnicott ressaltou, citando Freud, que existem 3 pessoas, uma das quais

encontra-se fora do consultório, mas se há 2 envolvidas significa que houve regressão

do paciente no setting. Este funciona como a mãe e o paciente como o bebê. Há um

estado de regressão ainda maior quando há apenas uma pessoa no setting, mesmo que

na visão do observador existam 2.

Winnicott, preocupava-se em construir um setting que limitasse e contivesse.

Para ele a espontaneidade só fazia sentido a partir do controle. Além disto, o manuseio

do setting era essencial, já que era o principal recurso no tratamento dos pacientes muito

regredidos, esquizóides, etc.

O QUE É MANUSEIO DO SETTING?

Winnicott fala neste manuseio referindo-se à habilidade do analista em

administrar o lar onde é feito o tratamento, além do modo de como ele se dava aos

pacientes.

No setting o trabalho é feito individualmente ou em grupo, cujo neste o terapeuta

funciona como uma mãe que cuida da arrumação da casa, sendo os demais componentes

do grupo como os demais membros da família. O pai se apresenta, nas fases iniciais,

como protetor e auxiliar, além disto, como aquele que cria o “ambiente indestrutível”.

Page 10: Trabalho sobre Winnicott.docx

Também, na incapacidade materna de adaptação à fase inicial, há a aniquilação

do self do bebê. Estes fracassos maternos são sentidos como ameaça à existência

pessoal do self e não como fracasso.

Assim, ambiente suficientemente bom, permite ao bebê começar a existir, a ter

experiências e, até mesmo, dominar as pulsões, construindo um ego pessoal. Em

contrapartida, caso o ambiente seja insuficientemente bom, o ego não morre, porém não

desenvolve, havendo, por exemplo, a ausência de realidade, sentimento de futilidade e

entre outros. Assim o falso self advém do inadequado holding, o qual provoca alteração

no desenvolvimento do self. Logo, o indivíduo cria uma espécie de “capa” ou proteção,

enquanto o self verdadeiro está “oculto” sem poder desenvolver.

TEORIA DO OBJETO

Para Winnicott a criança nasce indefesa. É Um ser desintegrado, que percebe de

maneira desorganizada os diferentes estímulos provenientes do exterior. O bebê nasce

também com uma tendência para o desenvolvimento. A tarefa da mãe é oferecer um

suporte adequado para que as condições inatas alcancem um bom desenvolvimento.

O ser humano, para Winnicott, nasce como um conjunto desorganizado de

pulsões, extintos, capacidades perceptivas e motoras que conforme progride o

desenvolvimento vão se integrando, até alcançar uma imagem unificada de si e do

mundo externo.

O papel da mãe é prover o bebê de um ego auxiliar que permita integrar suas

sensações corporais, os estímulos ambientais e suas capacidades motoras nascentes.

Para Winnicott a sustentação ou holding protege contra a afronta fisiológica. O

holding deve levar em consideração a sensibilidade epidérmica da criança: tato,

temperatura, sensibilidade auditiva, sensibilidade visual, sensibilidade as quedas. Assim

como o fato de que a criança desconhece a existência de tudo o que não seja ela própria.

Inclui toda rotina de cuidados ao longo do dia e da noite. A mãe adquire graças a esta

sensibilização, uma capacidade particular para se identificar com as necessidades do

bebê.

Page 11: Trabalho sobre Winnicott.docx

Ou seja, na etapa inicial do desenvolvimento a questão primordial é a presença

de uma mãe-ambiente confiável que se adapte as suas necessidades de maneira

virtualmente perfeita.

A integração é obtida a partir de duas séries de experiências: por um lado tem

especial importância a sustentação exercida pela mãe, que “recolhe os pedacinhos do

ego”, permitindo a criança que se sinta integrada dentro dela; por outro lado há um tipo

de experiência que tende a reunir a personalidade em um todo, a partir de dentro (a

atividade mental do bebê). Chega um período que a criança graças as experiências

citadas consegue reunir os núcleos do seu ego, adquirindo a noção de que ela é diferente

do mundo que a rodeia. Esse momento de diferenciação entre “eu” e “não-eu” pode ser

perigoso para o bebê pois o exterior pode ser sentido como perseguidor ou ameaçador.

Essas ameaças são neutralizadas, dentro do desenvolvimento sadio, pela existência do

cuidado amoroso por parte da mãe.

A medida que o desenvolvimento progride, a criança tem um ego relativamente

integrado, e com a sensação de que o núcleo do si-próprio habita o seu corpo. Ela e o

mundo são duas coisas separadas. A etapa seguinte é conseguir alcançar uma adaptação

à realidade.

Nessa etapa a mãe tem o papel de prover a criança com os elementos da

realidade com que irá construir a imagem psíquica do mundo externo. A adaptação

absoluta do meio ao bebê se torna adaptação relativa, através de um delicado processo

gradual de falhas em pequenas doses.

A mente se desenvolve através da capacidade de compreender e compensar as

falhas. Portanto, se no início, a tarefa da mãe é adaptar-se de maneira absoluta às

necessidades do bebê, em seguida, será de fundamental importância que ela possa

fornecer um fracasso gradual da adaptação para que a função mental do bebê se

desenvolva satisfatoriamente. O resultado disto será a emergência da capacidade do

próprio sujeito de cuidar de seu self, atingindo um estágio de dependência madura.

OBS: O objeto objetivo é quando a criança reconhece o objeto como objeto. Ou

seja, isso é uma caneta, ele reconhece que o objeto pertence a ele mas não é ele. Ele

começa a dar nomes aos objetos.

Page 12: Trabalho sobre Winnicott.docx

O objeto transicional representa a primeira posse “não-ego” da criança, têm um

caráter de intermediação entre o seu mundo interno e externo.

Em Winnicott o conceito de objeto ou fenômeno transicional recebe três usos

diferentes: um processo evolutivo, como etapa do desenvolvimento; vinculada às

angústias de separação e às defesas contra elas; representando um espaço dentro da

mente do indivíduo.

O objeto transicional é algo que não está definitivamente nem dentro nem fora

da criança; servirá para que o sujeito possa experimentar com essas situações, e para ir

demarcando seus próprios limites mentais em relação ao externo e ao interno. O objeto

transicional está situado em uma zona intermediária, na qual a criança se exercita na

experimentação com objetos, mesmo que estejam fora, sente como parte de si mesma.

Para explicar a constituição do objeto transicional, Winnicott remonta ao

primeiro vínculo da criança com o mundo externo, a relação com o seio materno. No

princípio, a criança tem uma ilusão de onipotência, vivenciando o seio como sendo

parte do seu próprio corpo. Mas, uma vez alcançada esta onipotência ilusória, a mãe

deve idealmente, ir desiludindo a criança, pouco a pouco, fazendo com que o bebê

adquira a noção de que o seio é uma “possessão”, no sentido de um objeto, mas que não

é ele (“pertence-me, mas não sou eu”).

Winnicott aponta algumas características que são comuns aos objetos

transicionais: a criança afirma uma série de direitos sobre o objeto; o objeto é

afetuosamente ninado e excitadamente amado e mutilado; deve sobreviver ao ódio, ao

amor, e à agressão. É muito importante que o objeto sobreviva à agressão,

possibilitando a criança neutraliza-la, dando-lhe, posteriormente, um fim construtivo, ao

notar que esta não destrói os objetos.

A ligação e o afastamento do objeto transicional deixa em cada sujeito uma marca:

fica na mente do indivíduo um espaço que, assim como o objeto transicional, é

intermediário entre o interno e o externo. É nesse espaço que se produz muitas das

atividades criativas do homem, como as artes, a musica, etc. que “representam” o

mundo interno para o exterior e, em certo sentido, “representa” a realidade para si

mesmo.

Page 13: Trabalho sobre Winnicott.docx

Após alguns meses, observa-se um apego dos bebês a algum objeto

Existe um relacionamento entre esses dois conjuntos de fenômenos: uma área

intermediária de experiência designada “objeto transicional ou fenômeno

transicional”

O objeto transicional representa:

- a transição da criança pequena, que passa do estado de união com a mãe para o

estado em que se relaciona com ela como uma coisa externa e separada;

- a passagem do controle onipotente, exercido na fantasia, pelo controle pela

manipulação;

- e antecede o reconhecimento da realidade externa percebida como tal e não de

maneira fantasística.

A criança descobre aos poucos que ela e sua mãe são separadas e que ela depende da

mãe para a satisfação de suas necessidades

A fantasia não corresponde mais com a realidade

Após uma fase de ilusão ela enfrenta a desilusão

É para se sustentar nessa experiência difícil, geradora de angústia depressiva, que a

criança pequena desenvolve estas atividades

Os objetos ou fenômenos transicionais revestem-se de uma importância vital para a

criança no momento em que ela vivencia a angústia por ocasião das separações da

mãe, especialmente na hora de dormir

O adjetivo transicional indica que esses fenômenos ocupam um lugar na vida

psíquica, pois se alojam num espaço intermediário entre a realidade interna e a

realidade externa

Esse espaço intermediário tem um papel de amortecedor no choque ocasionado pela

conscientização de uma realidade externa, povoada de coisas e pessoas

O próprio espaço também pode ser qualificado de transicional

Esse espaço transicional persiste ao longo de toda a vida

Será ocupado por atividades lúdicas e criativas extremamente variadas

O ambiente é fundamental no aparecimento e evolução dos fenômenos transicionais

Seu aparecimento é o sinal de que a mãe da primeira fase foi suficientemente boa

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Quanto à evolução, o ambiente tem por missão respeitar e proteger sua expressão

Pode ocorrer um desenvolvimento psicopatológico decorrente da dificuldade da

criança de manter a lembrança da mãe viva em sua mente: tendência anti-social,

hipocondria, paranóia, psicose maníaco-depressiva e algumas formas de depressão

TEORIA DO SELF, COM A POLARIZAÇÃO ENTRE O VERDADEIRO SELF,

ESPONTÂNEO E CRIATIVO, FONTE DE ALEGRIA E SAÚDE MENTAL; O

FALSO SELF, ARTIFICIALMENTE CONSTRUÍDO POR SUBMISSÃO E

EXCESSIVA ADAPTAÇÃO AO MEIO.

Para Winnicott, cada ser humano traz um potencial inato para amadurecer, para

se integrar, porém, o fato de essa tendência ser inata não garante que ela realmente vá

ocorrer. Isto dependerá de um ambiente facilitador que forneça cuidados

suficientemente bons, sendo que no início, esse ambiente é representado pela mãe. A

mãe intervém como ativa construtora do espaço mental da criança. Winnicott acreditava

que a mãe suficientemente boa é aquela que possibilita ao bebê a ilusão de que o mundo

é criado por ele, concedendo-lhe, assim, a experiência da onipotência primária, base do

fazer criativo. E a o percepção criativa da realidade é uma experiência do self, núcleo

singular de cada indivíduo.

Winnicott escreveu sobre a formação do self básico, sob dois pontos de vista:

como parte de sua teoria geral do desenvolvimento, e como centro de suas discussões

acerca da ideia de self verdadeiro e falso.

Durante o processo de integração, a mãe, ao cuidar da criança, estará oferecendo

o “holding” e o “handling” num ambiente confiável, seguro e, portanto sensivelmente

equilibrado, de forma que a criança ao ter a sensação de segurança e confiabilidade

possa vir a se integrar gradativamente, ligando a psique com o soma. A psique

encontrará, aos poucos, a sua morada no corpo. A psique se incumbe da elaboração

imaginativa das funções somáticas e vai se desenvolvendo, resultando no processo de

“personificação” que é fruto da ligação psique-soma. Desta forma, teremos o

surgimento do Self como unidade, levando ao gradual reconhecimento da mãe como um

“outro”. De vez em quando, de um impulso, surge um gesto espontâneo, que é um

potencial do self verdadeiro. O self verdadeiro é o núcleo da personalidade, o núcleo do

Page 15: Trabalho sobre Winnicott.docx

ego que permanecerá oculto e integrado. A mente, segundo a concepção de Winnicott, é

uma instância especializada da psique, que se desenvolverá a medida que a criança

começa a ter consciência do meio externo, e permitirá que ela possa lidar com as falhas

crescentes do meio ambiente, de acordo com o estágio e possibilidades no seu processo

de amadurecimento. O self verdadeiro só se torna uma realidade viva se a mãe

responder adequadamente ao gesto espontâneo. Por exemplo, se o bebê está na fase em

que precisa ter sua onipotência (poder de fazer tudo) alimentada, a mãe lhe disponibiliza

os objetos de tal forma a criar a área de ilusão. Quando a mãe, ao lidar com o bebê,

substitui o gesto espontâneo do bebê pelo seu próprio gesto, este se submete, e este é o

estágio inicial do falso-self. A mãe suficientemente boa não pode colidir com a

onipotência do filho. É ele que vai, no momento certo, atingir a possibilidade de

renunciar à onipotência. O self verdadeiro tem espontaneidade. Depois de gozar

suficientemente a ilusão onipotente é que ele pode, gradativamente, reconhecer o

momento ilusório e aí brincar e imaginar.

Winnicott afirma que do mesmo modo que a criança constrói o Self verdadeiro

num desenvolvimento normal, ele também desenvolverá normalmente o falso Self

(1982). O falso Self surge como uma defesa natural, para que a criança possa adaptar-se

ao meio ambiente social no qual ela vive. O falso Self irá suprir o verdadeiro quando se

fizer necessário para uma adaptação adequada, constante, ao meio ambiente, o que

consiste em poder negociar e conceder. Numa relação patológica com o meio ambiente,

o falso Self é utilizado como uma forte defesa onde seu uso se torna exclusivo, a fim de

atender e simplesmente agradar ao meio ambiente. O uso do falso Self numa forma

excessiva encobriria, nos casos mais graves, o verdadeiro Self (1982), deixando

transparecer somente a “casca”, o “socialmente aceito” e não a real pessoa. Podemos,

portanto, facilmente depreender como este ser em desenvolvimento precisa de um

“meio ambiente materno”, capaz de dar o “holding” e o “handling” que o bebê

necessita, para que possa alcançar um desenvolvimento saudável. Porém, nem sempre é

possível um desenvolvimento infantil sustentado, com uma mãe capaz de dar o

“holding” e “handling” que a criança necessita. Winnicott, 2001, afirma que “uma boa

proporção de mães e pais, em virtude de doenças sociais, familiares e pessoais, não

consegue fornecer à criança condições suficientemente boas à época de seu nascimento”

(p.4). Durante o desenvolvimento, o bebê é capaz de suportar adversidades e tensões,

contanto que ele possa confiar no “meio ambiente materno”. Porém, se o meio ambiente

primário se apresentar como inóspito (sem condições de habitar) provocando “tensão”

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e/ou inconstância afetiva, a sensação de segurança e continuidade de ser deixa de

existir, e surge, então, uma tendência natural de sobrevivência, de buscar defesa fazendo

uso do falso Self a fim de poder lidar com este meio ambiente e se adequar a ele.

O falso self não é, portanto, em si, um problema. Ele protege o verdadeiro self

do aniquilamento quando há qualquer interrupção deste curso natural. O problema

existe quando existe uma divisão muito grande entre o self verdadeiro e o falso self, e

então o falso oculta o verdadeiro, impedindo a criatividade e a espontaneidade.

TEORIA PSICOSSOMÁTICA

É um processo que se inicia na “dependência absoluta”, que começa logo após o

nascimento e vai até a “dependência relativa” que é quando atinge a maturidade na fase

adulta. Para o autor todo individuo apresenta uma tendência para o desenvolvimento

que associado a um ambiente facilitador, levará a integração da personalidade. Donald

desenvolveu a teoria do amadurecimento pessoal e afetivo.

Esse processo possui três fases: dependência absoluta, dependência relativa e ruma a

independência. O autor nomeia a última fase de “rumo a independência”, pois não é

possível alcançar a total independência, mesmo na fase adulta.

Fase da dependência absoluta: Fase iniciada logo após o nascimento, onde surgem os

pilares da construção humana, que são determinantes para o processo de integração

psicossomática. Nesta fase acontece o desenvolvimento emocional infantil. Nesta fase o

bebê não tem uma noção de “eu”, mas apresenta uma tendência para esta integração,

necessitando de cuidados maternos que garantem sua preservação, criando uma mãe

“suficientemente boa” que se coloca a disposição para atender as necessidades do bebê,

desta maneira o ego da mãe é tido como complementar ao da criança, proporcionando

um desenvolvimento gradual do bebê. Nesta fase o bebê ainda não consegue se

diferenciar do mundo, não sabe diferenciar o eu do não-eu, não possui uma maturidade

para reconhecer suas necessidades, neste caso a mãe exerce a função de ego para

auxiliar o filho. Somente através de uma intensa relação mãe-bebê, se é possível a

conquista da integração, consequentemente a passagem para a fase de dependência

relativa, onde o bebê avança no processo de amadurecimento e essa separação pode

ocorrer gradualmente, com a distinção do que é interno e externo. Porém se o ambiente

não é favorável as necessidades do bebê, acaba comprometendo o processo de

Page 17: Trabalho sobre Winnicott.docx

continuidade do ser, podendo se formar uma mente forçada, causando danos ao

desenvolvimento psicossomático.

Fase de dependência relativa: Quando o bebê é capaz de tomar consciência sobre suas

reais necessidades, como inicio da capacidade mental, que o ajudam a lidar com as

falhas ambientais. Nesta fase acontecem os “fenômenos transicionais” que remete aos

primeiros momentos de ilusão, onde possibilita a relação entre psique individual e

realidade externa. O processo de desilusão ocorre logo depois do desmame, sendo um

momento importante para o amadurecimento, quando surgem também as funções

mentais e a criatividade. Nesta fase as pequenas falhas cometida pela mãe, aceleram o

processo de amadurecimento, é o inicio da separação mãe e bebê, onde ele se mostra

integrado com o mundo externo.

Rumo a independência: nos dois últimos estágios, independência relativa e rumo a

independência, o bebê desenvolveu ferramentas que transmitem confiança com o meio,

neste momento o ego se distancia do materno e ele vive uma vida psicossomática, numa

completude do si. Para o autor a dependência nunca deixa de existir, pois o sujeito está

em constante contato com o ambiente, que deve ser favorável a ele. O termo

“integração” é um conjunto de memórias e a união do passado, presente e futuro dentro

do relacionamento com ele e com o mundo.

Soma e Psique: Nos primeiros momentos do desenvolvimento emocional, o corpo e a

psique se misturam, no inicio há o soma que vai gradualmente juntando-se a psique.

Acontece uma integração entre eles. Para que a psique se aloje no corpo é necessário um

ambiente satisfatório. Os cuidados ambientais são fundamentais para este processo, caso

contrario, poderá surgir prejuízos psicossomáticos. No estado primário do ser, onde a

ligação entre soma e psique não se faz, não existe uma “unidade do eu” que consiga

perceber o ambiente como alheio a si, estabelecendo uma clara separação entre “eu e

não-eu”. A base da psique é o soma, o surgimento da mente é conseqüência da relação

entre psique e soma. A mente se forma a partir da desaptação materna, quando o bebê

cria recursos para lidar com as falhas da mãe, neste momento a compreensão intelectual

do bebê se desenvolve.

Transtornos psicossomáticos: Com base em um desenvolvimento saudável a soma e a

psique, devem estar ligadas. Diante das falhas do meio, o bebê que não está preparado

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para lidar com a angustia provocada, acaba formando uma unidade psicossomática

precária, podendo ocorrer o desligamento entre psique e soma, numa situação definida

como “falso self”. Esse mecanismo é entendido como uma defesa contra as invasões

ambientais. A doença psicossomática é entendida pelo autor como uma dissociação que

surge como defesa no amadurecimento individual, como um fracasso no processo de

personalização, gerando um prejuízo no alcance da integração “eu”, separado do mundo

externo.