UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
TRATAMENTO DA ESQUIZOFRENIA: INTERFACES ENTRE O
PAPEL DA FAMÍLIA E DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE
MENTAL
Por: LUZIA DE FATIMA BARBOSA LOPES
Orientador
Profª. EDLA LUCIA TROCOLI XAVIER DA SILVA
Niterói
2010
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
TRATAMENTO DA ESQUIZOFRENIA: INTERFACES ENTRE O
PAPEL DA FAMÍLIA E DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE
MENTAL
Apresentação de monografia à Universidade
Cândido Mendes como requisito parcial para
obtenção do grau de especialista em TERAPIA DE
FAMÍLIA
Por: LUZIA DE FATIMA BARBOSA LOPES
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AGRADECIMENTOS
Primeiro e principalmente a Deus, por
ter me dado esta oportunidade e mais ainda,
por ter me dado faculdades mentais
satisfatórias para aproveitá-las.
Sou grata também particularmente aos
amigos Charles, Paulo e Wagner.
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Dedicatória
Aos meus filhos Marden e Mércia a
quem dedico esse estudo com muito amor e
carinho. Espero que num futuro bem próximo
ele seja útil na profissão. de minha filha.
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RESUMO
O trabalho aqui apresentado sob o título “Tratamento da Esquizofrenia:
Interfaces entre o Papel da Família e dos Profissionais de Saúde Mental”¨,
originou do tema “Humanização no Tratamento da Esquizofrenia”, ambos
propostos inicialmente pelo nosso Plano de Pesquisa ao curso de Terapia de
Família à UCAM. O objetivo geral deste trabalho é de discutir o papel da família
e dos profissionais de saúde no tratamento dos pacientes esquizofrênicos. Este
estudo possui também objetivos específicos, dispostos da seguinte maneira:
O estudo partiu de uma questão central que considera difícil e doloroso o
relacionamento do paciente psiquiátrico com as pessoas em geral e formulou a
hipótese, arriscando em afirmar que esta barreira na comunicação advém não
só do medo oriundo dos sintomas agressivos na fase aguda da doença, mas
também da falta de informação que existe em torno dos transtornos
psiquiátricos, em particular a esquizofrenia ou loucura, como muitos a chamam.
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METODOLOGIA
Este trabalho é fruto de pesquisa teórica por vários meses,
ensinamentos teóricos obtidos nas aulas de Psicopatologia e da experiência
com pacientes, familiares, auxiliares e técnicos em saúde mental em hospital
psiquiátrico e programa de saúde mental em Unidade Básica Municipal; mas
por motivos éticos e técnicos em nenhum momento explicitamos esse
aprendizado.
A metodologia utilizada para confecção deste trabalho teve por base
uma pesquisa teórica constando de três fases, a saber:
1. Aquisição e seleção da bibliografia
2. Leitura, fichamento - resumo dessa bibliografia
3. Redação do texto e conclusão
Como fonte de pesquisa bibliográfica, foi utilizada a rede de internet, e
também a experiência do autor Paulo Amarantes, “Loucos Pela Vida”¨e
“Familia e Doença Mental” de Jonas Melman entre outros autores.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO I CONHECENDO A ESQUIZOFRENIA 10
CAPÍTULO II A ESQUIZOFRENIA E A FAMÍLIA 19
CAP. III A HUMANIZAÇÃO NO TRATAMENTO DA ESQUIZOFRÊNIA 29
CONCLUSÃO 40
BIBLIOGRAFIA 43
INDICE 50
8
INTRODUÇÃO
A esquizofrenia é considerada a patologia emblemática na história da
psiquiatria e constitui um problema social e sanitário de muita significância;
freqüentemente o paciente esquizofrênico é estigmatizado e excluído do
convívio social
Trata-se de um assunto complexo contraditório e bastante polêmico,
que requer uma abordagem vasta, abrangente e profunda sobre os problemas
apresentados. Tendo em vista os diferentes papéis que a família e os
profissionais de saúde desempenham no tratamento destes pacientes,
acreditamos que a família deve aprender a lidar com o seu doente , assim
como o profissional de saúde precisa aprender a aperfeiçoar seus
conhecimentos ,e desenvolver suas habilidades para melhor relacionar, não só
com o paciente, mas também com o familiar
Para a discussão da temática proposta, dividimos o trabalho em três
capítulos, que abordam pontos pertinentes para compreensão do assunto. A
divisão da monografia é a seguinte:
Capítulo I “CONHECENDO A ESQUIZOFRENIA”. Pretende-se
resgatar um pouco da história da Esquizofrenia e de outros aspectos que
possibilitam entender melhor este transtorno;
Capítulo II “A ESQUIZOFRENIA E A FAMÍLIA”. São apresentadas
algumas das importantes teorias que tentam explicar a origem da
Esquizofrenia; e um breve histórico sobre a família e sua evolução, no intuito
de entender melhor os sentimentos de culpa e sobrecargas, experimentados
pelos familiares dos pacientes esquizofrênicos, dificultando as relações e a
realização de uma vida mais satisfatória.
Capítulo III “A HUMANIZAÇÃO NO TRATAMENTO DA
ESQUIZOFRENIA”. Busca verificar como a família e os profissionais de saúde
podem se relacionar melhor para um tratamento mais humanizado. Aborda os
9
tipos de tratamento existentes para o paciente e as diversas modalidades de
intervenção tanto para o paciente, como também para os familiares; tentando
mostrar a importância do papel da família e do profissional de saúde, na busca
de um tratamento mais humanizado ao paciente. e uma melhoria na qualidade
de relações entre paciente,familiar e profissional de saúde. O Familiar como
Recurso, é descrito num breve resumo de uma experiência mediada por Jonas
Melman, intitulado Grupo de Familiares.
Para finalizar o presente estudo encontra-se em anexo um resumo da
Reforma Psiquiátrica Italiana de Franco Basaglia e a Lei de 6 de Abril de 2001-
Lei Paulo Delgado, como o aparato jurídico e legitimização das lutas
empreendidas em favor do movimento de Desistitucionalização do doente
mental e da reforma psiquiátrica no Brasil
10
CAPÍTULO I
CONHECENDO A ESQUIZOFRENIA
“Que é loucura: ser cavaleiro andante Ou segui-lo como escudeiro?
De nós dois quem o louco verdadeiro? O que, acordado, sonha doidamente? O que, mesmo vendado,
Vê o real e segue o sonho De um doido pelas bruxas embruxado?”
(Carlos Drummond de Andrade)
1.1 - Definição
“A esquizofrenia é uma distonia entre o corpo e a alma, entre pensamento e
sentimento. Uma fragmentação da estrutura básica dos processos de
pensamento, acompanhada pela dificuldade em estabelecer a distinção entre
experiências internas e externas”.
Esquizofrenia é um severo transtorno do funcionamento cerebral; sua
constituição é multifatorial, inclui mudanças na química cerebral, fatores
genéticos e alterações estruturais.
A esquizofrenia é um transtorno psíquico severo que se caracteriza por uma
coleção de sintomas como: alterações de pensamento, alucinações, delírios e
perda de contato com a realidade. Compõe o grupo das psicoses no estudo de
psicopatologia.
Na psicose, inúmeros aspectos da realidade são negados. Na opinião do
especialista e psiquiatra Geraldo José Ballone, psicose é uma doença mental
caracterizada pela distorção do senso de realidade, uma inadequação e falta
de harmonia entre o pensamento e a afetividade. Exemplo, o indivíduo pensa
alegria e demonstra tristeza, ou vice-versa.
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1.2 – Breve histórico
“O louco não é monstro, não é não-humano, e a
loucura é construída ao longo da história de vida do
indivíduo” (Franco Basaglia).
A história sugere que a esquizofrenia atinge a humanidade há milênios,
embora o transtorno não tivesse sido classificado de modo preciso até o fim do
século XIX e desde outrora, relegando os doentes ao isolamento social.
No início do século XX, o psiquiatra Eugen Bleuler (com seu assistente
Carl Gustav Jung) criou o nome esquizofrenia a partir das palavras gregas
“divisão” e “mente” para descrever a doença. Conhecida anteriormente como
Desordem, Dementia Praecox ou Psicose Maníaca Depressiva; passou a ser
designada como Esquizofrenia: (esquizo-a cisão, frenia-mente). Eles
observaram que as pessoas mergulhavam em um quadro de melancolia, sem
discernir qualquer motivo que as levasse a esse sentimento, tornando-se
apáticas, contudo, continuando com suas ocupações e lazeres mecanicamente
sem demonstrar nenhum empenho e interesse.
Historicamente, a definição da esquizofrenia foi criada por Emil
Kraepelin, em 1896,que chegou à sua classificação baseando-se nos sinais do
desenvolvimento da doença em estado relativamente precoce (Precox) e da
progressiva deterioração dos doentes (Dementia).
A doença mental é com freqüência relacionada com o mendigo que
deambula pelas ruas, que fala sozinho, com a mulher que aparece na TV
dizendo ter 16 personalidades e com o homicida “louco” que aparece nos
filmes. Ela foi durante muitos anos sinônimo de exclusão social, e o seu
diagnóstico significava como destino “certo” os hospitais psiquiátricos ou asilos,
onde os pacientes ficavam durante muitos anos.
A esquizofrenia como doença mental afeta 1% da população mundial.
(Revista Galileu- n 2261 de maio de 2010).
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Famosos com esquizofrenia
Jonh Forbes Nash ganhou o prêmio de
Ciências Econômicas. Nash também é conhecido
por ter tido sua vida retratada no filme “Uma Mente
Brilhante” nasceu em 13 de Junho de 1928 em
Bluedield, West Virginia, nos Estados Unidos.
Vincent Willem van Gogh, aclamado pintor
holandês, considerado o pioneiro na ligação das
tendências impressionistas com as aspirações
modernistas e cujo talento só foi reconhecido após a
sua morte.
Roger Keith Barrett foi um dos membros
fundadores, em 1965, do grupo de rock progressivo
Pink Floyd.
1.3 – Considerações gerais
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Geralmente a esquizofrenia começa durante a adolescência ou quando
adulto jovem. Atinge todos os sexos e classes sociais
A esquizofrenia pode desenvolver-se gradualmente, lentamente, que as
pessoas próximas só vão perceber que algo vai errado, quando
comportamentos abertamente desviantes se manifestam.
Por outro lado há pacientes que desenvolvem a doença rapidamente, de
forma explosiva, em questão de poucas semanas A pessoa muda seu
comportamento e entra no mundo esquizofrênico, o que alarma e assusta
muito os parentes.
Os primeiros sintomas são a dificuldade de concentração, prejudicando
o rendimento nos estudos; estados de tensão de origem desconhecida, insônia
e desinteresse pelas atividades sociais, com conseqüente isolamento. A
permanência da dificuldade de concentração levará à interrupção dos estudos
e perda do trabalho. Aqueles que não sabem o que está acontecendo,
começam a cobrar e até hostilizar o paciente que por sua vez não entende o
que está se passando. É comum nessas fases o desleixo com a aparência, e a
higiene pessoal.
Enquanto o tempo passa os sintomas se aprofundam, o paciente
apresenta uma conversa estranha, irreal, passa a ter experiências diferentes,
fora do comum, o que pode levar as pessoas mais próximas a julgarem, por
exemplo, que o paciente está fazendo uso de drogas ilícitas. É possível que o
paciente já esteja tendo sintomas psicóticos durante algum tempo antes de ser
levado a um médico.
Os mecanismos de defesa no caso dos pais, os impede muita vezes de
verem o que está acontecendo; não é culpa ou escolha do filho, não percebem
que se trata de uma doença mental.
Quando um fato grave acontece não há mais meios de se negar que
algo muito errado está acontecendo, seja por uma atitude fisicamente
agressiva, seja por tentativa de suicídio, seja por manifestar seus sintomas
claramente ao afirmar que é Jesus Cristo ou que está recebendo mensagens
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do além. Nesse ponto, o diagnóstico de psicose é inevitável. Infelizmente o
tratamento precoce não previne a esquizofrenia, que é uma doença inexorável.
Para realização de seu diagnóstico, considera-se que a esquizofrenia
está atualmente fragmentada na CID-10 e no MSD IV que se refere à décima
Revisão da Classificação Internacional de Doenças e de Problemas
Relacionados à Saúde, sendo a última de uma série que se iniciou em 1893
com a classificação de Bertillon.
Não existe um exame que diagnostique de maneira clara, precisa e
precoce a esquizofrenia; sendo considerada inviável a análise através dos
parâmetros bioquímicos ou fisiológicos. O diagnóstico da esquizofrenia é feito
pela observação clínica profissional cuidadosa dos conjuntos de sintomas que
o paciente apresenta ao longo da história Deve-se eliminar diagnóstico de
outras patologias referentes por exemplo,ao uso de drogas, epilepsia, tumor
cerebral,etc.Como se trata de algo subjetivo, é comum haver conflitos de
diagnóstico. Apesar da CID 10 ter criado uma técnica comprovadamente mais
confiável e clara de se proceder ao diagnóstico, somente com o tempo e mais
pesquisas,iremos saber se os critérios hoje adotados correspondem à
realidade de maneira correta.
Os sintomas da esquizofrenia repercutem dentre outros, no
comportamento e nas emoções; o doente tem dificuldade em saber, por
exemplo, “quando uma pessoa está sorrindo para ele ou se está dando risada
dele”.
Durante as crises psicóticas perdem as condições de pensamentos
lógicos e coerentes, chegam a não saber quem são, e a não identificar seus
parceiros de rotina. Raciocinar claramente, controlar os sentimentos, assumir
compromissos, tomar decisões e viver socialmente, constitui para o
esquizofrênico verdadeiro desafio.
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1.4 – Classificações sintomáticas
Segundo Sá Junior (1988) “Entende-se por sintomas, as vivências
subjetivas relatadas pelos pacientes, suas queixas; aquilo que o sujeito
experimenta, e, de alguma forma, comunica a alguém. E acrescenta; os
sintomas objetivos são observados pelo examinador, e os sintomas subjetivos,
são aqueles percebidos pelo paciente.
Lembrando que a esquizofrenia é considerada uma doença mental grave
que caracteriza por uma coleção de sintomas como: alterações do pensamento,
alucinações, (visuais e, sobretudo auditivas), delírios e embotamento emocional,
comportamento excêntrico e extravagante, autodestrutividade impulsiva e
descontrole emocional. Sintomas estes, que podem causar um
disfuncionamento social crônico em todos os grupos humanos.
““Os primeiros sinais e sintomas das esquizofrenias são tidos como insidiosos”,
ardilosos, traiçoeiros.”
1.4.1 – Sintomas Positivos.
São aqueles que estão presentes na fase aguda da doença, como as
alucinações, as idéias delirantes e pensamentos irreais. Por exemplo, quando
um indivíduo acha que está sendo perseguido pela polícia, ou que é
responsável pelas guerras do mundo. As alucinações mais freqüentes são
áudio-visuais; pensamento e discurso desorganizado, frases sem qualquer
sentido, alterações de comportamento, ansiedade, impulsos, agressividade.
Nesse aspecto a doença já está instalada e plenamente visível.
• Alucinações - as mais comuns nos esquizofrênicos são as auditivas. O
paciente geralmente ouve vozes depreciativas que o humilham, falam mal,
ordenam atos que os pacientes reprovam, ameaçam,conversam entre si
falando mal do próprio paciente.
• Delírios – são as idéias falsas, irreais, bizarras, que os pacientes têm de que
estão sendo perseguidos, que querem matá-lo ou fazer-lhe algum mal. O
16
delírio de identidade (achar que é outra pessoa). O mais comum é
considerar-se Deus ou Jesus Cristo.
• Perturbações do Pensamento – paciente com confusão mental, emergência
neurológica.
• Alteração da Sensação do Eu – os pacientes com estas alterações dizem que
não são elas mesmas, que outra entidade apoderou-se de seu corpo e que
este, não existe.
• Inquietações – idéias desordenadas
• Negativismo – quando se revela sob aspecto de perversidade em
contraposição ao seu meio ambiente e aos que o circulam, expressando sua
inadequação pelo mutismo, rejeição alimentar e aos cuidados pessoais para
demonstrar sua contrariedade e hostilidade.
1.4.2 – Sintomas Negativos.
Aqueles que deveriam estar presentes, mas estão ausentes, como o
estado de ânimo, a capacidade de planejamento e execução, etc. Por exemplo,
resultado da perda ou diminuição das capacidade mental, ao nível da
motivação, das emoções, do discurso, do pensamento e das relações
interpessoais, como a falta de vontade ou de iniciativa, isolamento social,
apatia, indiferença emocional e pobreza do pensamento.
A doença pode aparecer e desaparecer em ciclos de recidivas e
remissões. Não há sinais nem sintomas evidentes, que possa indicar
preliminarmente a instalação da doença. Observam-se em grande parte
sintomas negativos, como por exemplo, inversão do ciclo do sono, isolamento,
perda de interesse por atividades anteriormente agradáveis. São sintomas
corriqueiros em nossa sociedade que, em geral, passam despercebidos.
• Falta de Motivação e Apatia: É comum acontecer com os pacientes depois
que as crises com sintomas positivos cessam, eles não terem vontade de
fazer coisa alguma. A única coisa que fazem, é fumar, comer e dormir; não
se interessando por nada.
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• Embotamento Afetivo: As emoções não são sentidas como antes. A
indiferença e apatia que surgem em conseqüência, nem sempre são
compreendidas pelos familiares ou os que o cercam.
• Isolamento Social: O isolamento é praticamente uma conseqüência dos
últimos sintomas descritos. Uma pessoa que não consegue sentir nem se
interessar por nada, cujos pensamentos estão prejudicados e não consegue
diferenciar o real do irreal, não consegue viver normalmente na sociedade.
Estes sintomas às vezes, são confundidos com depressão.
1.5 – Tipos de Esquizofrenia
Descreveremos os tipos de esquizofrenia catalogados segundo o DSM IV.
• Paranóide: é a forma mais facilmente identificada com a doença; com
predominância dos sintomas positivos. Os doentes são desconfiados,
reservados, podendo ter comportamentos agressivos.
• Desorganizado: em que os sintomas afetivos e as alterações do
pensamento são predominantes. As idéias delirantes, embora
presentes, não são organizados. Em alguns doentes pode ocorrer
uma irritabilidade marcada associada a comportamentos agressivos.
Existe um contato muito pobre com a realidade.
• Catatônico: predomínio de sintomas motores, desde um estado de
cansaço até a excitação; podendo apresentar manifestações
motoras.
• Indiferenciado: apresenta habitualmente um isolamento social, uma
diminuição no desempenho laboral e intelectual. Observa-se nestes
doentes, certa apatia e indiferença relativas ao mundo exterior.
• Residual: nesta forma existe um predomínio de sintomas negativos,
isolamento social, embotamento afetivo e uma pobreza ao nível do
conteúdo do pensamento.
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Além dos citados é necessário acrescentar a esquizofrenia Hebefrênica,
com incidência na adolescência, com o pior dos prognósticos em relação às
demais variações da doença, e com grandes probabilidades de prejuízos
cognitivos e sócio-comportamentais. Estes subtipos não são isolados, podendo
um doente em determinada altura da evolução da sua doença apresentar
aspectos clínicos que se identificam com um tipo de esquizofrenia, e ao fim de
algum tempo pode reunir critérios de outro subtipo.
É importante que o profissional identifique qual subtipo que o paciente se
encontra.
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CAPÍTULO II
A Esquizofrenia e a Família
“Eu penso que a loucura, como todas as doenças, são expressões das
contradições do nosso corpo, e dizendo corpo, e dizendo corpo, digo
corpo orgânico e social. É nesse sentido que direi que a doença, sendo
uma contradição que se verifica no ambiente social, não é um produto
apenas da sociedade, mas uma interação dos níveis nos quais nos
compomos: biológico, sociológico e psicológico” (Franco Basaglia. A
Psiquiatria Alternativa. P.79.)
2.1 – Algumas teorias sobre a suposta origem da Esquizofrenia
Não existe uma única causa, mas sim várias que ocorrem entre si para o
aparecimento da esquizofrenia; sendo muitas as teorias que surgiram para
explicar esta doença.
. A doença pode derivar da intromissão de múltiplos fatores
comportamentais e/ou hereditários. Os pesquisadores não chegaram a uma
conclusão comprovadamente sobre os fatores que geram os transtornos
esquizofrênicos.
Sobre sua causa, só sabemos duas coisas: é complexa e multifatorial.
Na história da medicina as doenças foram descobertas muitas vezes pelos
grupos ou atividades de risco.
Na ausência de uma causa determinante da esquizofrenia, investigam-
se diversas teorias, que buscam explicar sua origem. Citaremos algumas a
seguir, com algumas explicações.
Para o psiquiatra e psicoterapeuta Jonas Melman, as teorias são
instrumentos, ferramentas do pensamento que podem ser utilizadas em
múltiplas direções, com conseqüências bastante distintas. Podem estar ao lado
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do cuidado e da emancipação dos sujeitos ou se constituir em mais um
dispositivo disciplinar, normalizador.
2.1.1 – Teoria Neurobiológica
É essencialmente causada por alterações bioquímicas e estruturais do
cérebro, com uma disfunção dopaminérgica.
Esta teoria é parcialmente comprovada pelo fato de a maioria dos
fármacos utilizados no tratamento da esquizofrenia (neuroléptcos), atuarem
através do bloqueio dos receptores (D2) da dopamina.
2.1.2 – Teoria Psicanalítica
As teorias psicanalíticas (ou de ralação precoce) têm como base a teoria
freudiana da psicanálise, e remetem para a fase oral do desenvolvimento
psicológico, na qual a “ausência de gratificação verbal ou da relação inicial
entre mãe e bebê conduz igualmente as personalidades frias ou
desinteressadas (ou indiferentes) no estabelecimento das relações”.
Abordar a questão da esquizofrenia neste enfoque psicológico, significa
considerá-la como produto da interação das condições de vida social, a
estrutura psíquica e a trajetória específica do indivíduo (sua família, os demais
grupos e as experiências significativas).
As condições de vida sociais ou externas podem ser exemplificadas,
dentre outras: perda de alguém muito próximo e querido, condições de trabalho
estressante, trânsito caótico, índices de criminalidade, excesso de apelo ao
consumo, poluição sonora e visual intensas.
As pessoas com esquizofrenia têm muitas vezes dificuldades em
satisfazer as suas necessidades e desejos devido à sua doença. Ausência de
relações interpessoais satisfatórias estaria assim na origem da esquizofrenia.
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2.1.3 – Teoria Familiar
As teorias familiares são baseadas na forma de comunicação entre os
diversos membros da família Através das pesquisas desenvolvidas, aparecem
o conceito (mãe esquizofrenogênica); mães possessivas e dominadoras com
os filhos como causadora da personalidade esquizofrênica.As teorias familiares
apareceram em 1950 e apesar de despertar grande interesse histórico
,apresentam pouco fundamento científico.
O movimento da Antipsiquiatria, na década de 1960, na Inglaterra,
liderado pelos psiquiatras e psicanalistas Ronald Laing, David Cooper e Aaron
Esterson, elabora uma referência teórica para a esquizofrenia, inspirada na
escola de Palo Alto, conhecida como a teoria da lógica das comunicações. É
uma explicação causal da esquizofrenia calcada nos problemas de
comunicação entre as pessoas. (Fleming: 1976, 89).
Entretanto, em 1975, Hirsh e Leff realizaram um amplo e bem
organizado estudo para testar a hipótese da família como causa da
esquizofrenia e concluíram que faltavam evidências substanciais para sustentar
qualquer uma das teorias que imputavam às relações familiares a gênese da
doença.
Porém, muitos resultados de investigação afirmam que o ambiente
familiar é um estressor das doenças mentais.
2.1.4 – Teoria Genética
Admite que vários genes possam estar envolvidos, contribuindo
juntamente com os fatores ambientais para surgir a doença. Sabe-se que a
probabilidade de um indivíduo vir a sofrer de esquizofrenia aumenta se houver
um caso desta doença na família.
Pessoas sem nenhum parente esquizofrênico têm 1% de chances de
virem a desenvolver esquizofrenia; com algum parente distante essa chance
aumenta para 3 a 5%. Com um pai ou mãe aumenta para 10 a 15%, com um
irmão esquizofrênico as chances aumentam para aproximadamente20%;
22
quando o irmão possui o mesmo código genético (gêmeo idêntico) as chances
de o outro vir a ter esquizofrenia são de 50 a 60%.
É provável que a Teoria Genética seja a mais bem demonstrada de
todas as outras.
Além das teorias descritas acima existem outras, a saber: teoria
bioquímica, teoria do fluxo sanguíneo cerebral, teoria biológica molecular,
teoria do estresse, teoria das drogas, teoria nutricional e teoria viral.
2.2 – A Família
Segundo Philippe Áries, 1981 “História Social da Criança e da Família”,
a nossa sociedade ocidental investiu e idealizou intensamente o núcleo
familiar; já que a família é tudo, também é responsável por tudo. Se tudo se
remete á família, tudo é culpa da família.
Compreender o lugar especial da família nas sociedades ocidentais, e
conhecer o seu processo histórico e social, é importante para entender sobre
as vivencias dos familiares, de pacientes com transtornos mentais em especial,
a esquizofrenia; portanto faremos um breve histórico do processo evolutivo da
família, desde a era medieval/colonial; principalmente no que diz respeito à
educação das crianças.
2.2.1 – A família antes
Antes, as famílias eram grandes agrupamentos compostos não apenas
por parentes consangüíneos, mas também, pelos servidores e protegidos.
A casa colonial nessa época era um misto de unidade de produção, de
consumo e de alimentação, dos utensílios domésticos. Não havia nessas
habitações separação entre vida profissional, vida privada e vida social. Na
sociedade medieval, não existia condições objetivas para a formação de uma
noção de privacidade e de intimidade entre os indivíduos em suas habitações.
Exemplo disso, é que somente mais tarde as camas tiveram seu uso reservada
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apenas ao quarto de dormir. O desejo de isolamento e de intimidade é
relativamente recente.
Na Europa medieval a duração da infância era reduzida ao seu período
mais frágil. De criancinha pequena, ela se transformava em adulto jovem, sem
passar pelas etapas da latência e da puberdade, aspectos essenciais da
sociedade moderna.
No que se refere ao cuidado com as crianças, a família costumava
enviar seus filhos a partir dos sete anos de idade, para outros lares, onde eram
educadas e realizavam tarefas diversas; em troca, recebiam em suas casas
outras crianças, todas chamadas de aprendizes. Desta forma, não cabia à
família de origem a função de socialização, transmissão de conhecimentos e
valores, às crianças; não havendo, contudo condições de nutrir um sentimento
intenso entre pais e filhos Nesse contexto, à família era entendida como uma
realidade moral e social e não de natureza sentimental.
A transformação da família medieval para a moderna foi possível porque
a família modificou suas relações e atribuições com a criança. Áries defende a
idéia de que a escola se constituiu no marco fundamental dessa passagem,
rompendo o convívio da criança com o mundo dos adultos. Simultaneamente
ao fortalecimento da escola, a casa da família foi perdendo seu caráter de
espaço social aberto a visitação publica e aos negócios, para se fechar em sua
privacidade.
A partir do século XVIII, esse modelo de família, nuclear e
sentimental, antes reservado a burguesia e à nobreza, se espalhou lentamente
na consciência de todas as camadas da população. Os pais, por seu lado,
passaram a desejar estar cada vez mais próximo dos filhos, o que lhes permitia
fortalecer os laços afetivos e exercer uma vigilância mais adequada.
A partir dessa transição novas questões apareceram, a mulher nervosa,
a esposa frigida, a moça estérica, o marido impotente, a homossexualidade, os
desvios sexuais perversos. Repentinamente a família, coluna mestra da
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sociedade além dos desvios do sexo e das mazelas do desenvolvimento infantil
insatisfatório passou a manifestar o germe da irrupção da psicose.
A família nuclear moderna passou a ser uma ávida consumidora de tudo
aquilo que poderia ajudá-la a cumprir suas funções.
Nasceu assim uma demanda incessante por parte da família que
mergulhada em suas dificuldades pede ajuda. Foi apoiada pelos padres, pelos
médicos higienistas, psiquiatras (psiquiatria moral, pedagogos, psicanalistas e
mais recentemente pelos terapeutas de família).
Concluindo, no início do séc.XX, ainda competiam duas formas
diferentes de gestão da sexualidade: a do padre, atrelado ao poder das
famílias, e a do médico, que operava no registro da higiene pública e do
interesse superior da sociedade.
2.2.2 – A família atual
O conceito de família é bastante modificado com a história, chegando a
idéia de grupo social que mantêm laços de afetividade. A família
contemporânea está mudando seus padrões de forma muito acelerada. Nossa
sociedade atribui grande importância a família, lugar obrigatório dos afetos, do
sentimento e do amor.
Se pode dizer que a família é um sistema social imprescindível para a
continuação da espécie humana. para Ackerman (1986): “A família é um
modelo universal para o viver. Ela é unidade de crescimento, de experiência,
de sucesso e fracasso; ela é também a unidade da saúde e da doença.”
A estrutura familiar atual, centrada na afeição e na intensificação das
relações entre pais e filhos e na privacidade de suas casas, é uma invenção
relativamente recente na história do homem ocidental.
O casamento baseado na concepção moderna de amor indissolúvel, que
habitou o imaginário social romântico e burguês do período de ouro da
modernidade, parece estar em franca decadência. Nas condições históricas
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atuais, casamentos e famílias passaram a desfazer-se e refazer-se
continuamente.
A típica família moderna, é formada geralmente pelo homem provedor
financeiro, pela mãe dona de casa e pelos filhos solteiros vivendo sobre o
mesmo teto. Sendo assim, os pais, os cônjuges, tornaram-se os principais
agentes de constituição da família nuclear sentimental.
Observa-se que tanto homens quanto mulheres contemporâneas, têm
apresentado diversas formas de arranjos, de se relacionarem afetiva e
sexualmente, tanto dentro como fora do casamento. E, com o decorrer das
mudanças, a família não sumiu; ela tem procurado estabelecer os seus limites,
se tornando mais plástica e flexível.
No que se refere à educação e à formação das crianças até a idade
adulta, são grandes os deveres e as exigências a que os pais estão sujeitos na
sociedade contemporânea. Numa sociedade que busca a racionalidade, a
eficiência e a qualidade de vida, tornou-se uma tarefa muito difícil e complexa
amar e cuidar dos filhos. Os pais nem sempre estão seguros de seus sentimentos e de como agir
em relação a seus filhos. Nem sempre sabem se estão agindo corretamente.
Eles deveriam encontrar a justa medida, nem mais, nem menos que o
necessário para moldar os filhos em seu desenvolvimento.
A família moderna tem procurado sem cessar respostas para suas
questões e contradições. Responsabiliza-se quase que integralmente pela
educação, desenvolvimento e formação das crianças, pela felicidade e bem-
estar de seus membros. Nesse sentido, se a família é tão relevante, se a
família é tudo ou quase tudo, ela também, torna-se responsável por tudo o que
possa suceder a seus membros.
Os discursos psiquiátricos e psicanalíticos atribuem muitas vezes, a
gênese dos transtornos psíquicos aos problemas nas relações familiares.
26
2.3 – Sentimentos vivenciados pelos familiares dos
esquizofrênicos
“Nem culpados, nem inocentes, nem vitimas. E
possível sair do registro do julgamento e da dualidade, para
além do “bem” e do “mal”. É possível escapar da
necessidade de encontrar um responsável por todos os
eventuais infortúnios da vida”. (Jonas Melman).
Na história da humanidade, a moral e a culpa sempre andaram de mãos
dadas uma se apoiando na outra. Com o nascimento da psicopatologia familiar,
centrada no estudo dos transtornos familiares, além da ampliar e enriquecer, os
conhecimentos nesse campo inauguraram a chamada fase de culpabilização
da família. ¨
A doença mental continua sendo motivo de muita vergonha para os
familiares. Em geral, sabemos como nos comportar no trabalho, nas situações
sociais corriqueiras, nos rituais religiosos, mas ninguém nos ensina a relacionar
com as doenças mentais, a não ser com modelos de rejeição e indiferença.
É comum já desde crianças, incorporarmos os valores e preconceitos
com relação à loucura, valores estes muitas vezes presentes em nossos
familiares.
A maioria das pessoas não sabe como agir quando precisa lidar com
comportamentos estranhos. Perdem o chão, ficam paralisadas quando alguém
da família alucina. Não sabem se confrontam, brigam ou se colocam limite.
Devem-se calar, ou fingir aceitar a “realidade” do outro, tão estranha do mundo
coloquial. Ficam na dúvida se explicam ou não para as outras pessoas o que
está acontecendo com o doente. e se devem ou não afastá-lo dos outros.
Atualmente, a família tem assumido a responsabilidade por qualquer
anormalidade que possa romper com a expectativa de criar filhos fortes,
saudáveis, preparados para o mercado de trabalho e para viverem em
comunidade.
27
A culpa reflete o processo vivido por muitos familiares que passam a se
sentir responsabilizados pelo adoecimento de um dos seus membros.
A pesar das profundas mudanças pelas quais a família está passando,
muitos pais ainda vivenciam muita insegurança no que diz respeito à formação
e a educação dos filhos, e usualmente os pais demonstram sentimentos de
culpa, revolta, tristeza, medo e frustração. Não somente com relação ao filho,
mas quando qualquer elemento da família adoece mentalmente, é comum
ocorrer esses mesmos sentimentos.
O adoecimento de um filho abala geralmente de forma intensa, a auto-
estima dos pais; o filho doente parece manifestar para muitos pais, uma
denuncia das falhas do sistema familiar, que não geriu com vitória sua missão
de formar os filhos. A ferida no narcisismo dos pais expõe fragilidades e
conflitos, estimulando reflexões relativas à eventual responsabilidade na origem
e desencadeamento do quadro psicótico.
Da mesma forma que o paciente esquizofrênico sofre duas vezes, pela
doença e pelo preconceito, a família também sofre duas vezes, com a doença
do filho e com a discriminação da sociedade.
O surto psicótico de um membro da família e a convivência diária com a
pessoa adoecida mentalmente é razão para muita angústia, desorganizando e
sobrecarregando a vida de todos aqueles mais envolvidos no relacionamento
cotidiano.
Com o movimento de Desistitucionalização / Desospitalização, resultado
da Reforma Psiquiátrica, as famílias se viram estimuladas e pressionadas a
voltar a assumir a responsabilidade pelo cuidado de seus membros doentes;
isto é, elas se sentiram sobrecarregadas por encargos que envolvem a função
de acompanhar e de cuidá-los Esta demanda acontece em todos os níveis:
afetivo, econômico e social.
Sobrecarga econômica: Se refere entre outras, aos custos com
medicação, tratamento, alimentação, vestuário, transporte, mesmo quando
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fazem uso do serviço público de saúde. Freqüentemente, um familiar precisa
ficar cuidando da pessoa adoecida, o que impossibilita seu acesso ao trabalho.
Sobrecarga afetiva ou emocional: diz respeito ao estresse, as vivências
de instabilidade e insegurança, os conflitos freqüentes nas relações que fazem
parte do cotidiano dessas pessoas.
Sobrecarga social: Os familiares, motivados pela vergonha, cansaço ou
frustração, comumente se distanciam de certas atividades sociais , como por
ex. festas e eventos culturais; restringindo a visitas na casa de amigos
próximos e parentes.
As maneiras dos familiares se relacionarem com as dificuldades e
sentimentos são decisivamente influenciados pelos seus valores religiosos,
econômicos, ideológicos e culturais, etc.
Para tanto, os estudos da Antropologia Psiquiátrica procuram elucidar as
eventuais influências da cultura de uma determinada sociedade na maneira
como os indivíduos olham, sentem e experimentam o fenômeno do adoecer
psíquico, incluindo as atitudes e respostas ao tratamento.
29
CAPÍTULO III
A Humanização no tratamento da esquizofrenia
“Estou de acordo que um esquizofrênico é um
esquizofrênico, mas uma coisa é importante: ele é
um homem e tem necessidade de afeto, de dinheiro
e de trabalho; é um homem total e nós devemos
responder não à sua esquizofrenia, mas ao seu ser
social e político”
Franco Basaglia
3.1 – O tratamento do esquizofrênico
3.1.1 – Farmacológico ou Medicamentoso
Os remédios são considerados a alternativa mais eficaz para tratar a
esquizofrenia. Outras formas de terapia complementam, mas não o substituem
As medicações servem para regular as atividades cerebrais desequilibradas,
isto é, ajustar o que estava desajustado. Infelizmente, no tratamento da
esquizofrenia elas não realizam essa função completamente.
Entretanto, há uma resistência natural com relação ao uso das
medicações, geralmente em conseqüência da maneira como se entende a
doença.
Os antipsicóticos são eficazes no combate dos sintomas da
esquizofrenia em 70% dos casos. Existem os típicos e os atípicos. Os mais
conhecidos, inibem fortemente os receptores D2 da Dopamina das vias
dopaminérgica ligadas ao Sistema Límbico do cérebro.
Os exemplos mais comuns de antipsicóticos típico é o haloperidol, o
amplictil, o haldol e a clorpromazina. Os antipsicóticos atípicos são uma
evidência contrária á hipótese dopamínica, pois agem fracamente sobre os
receptores D2. Onde predomina a sintomatologia negativa, a clozapina tem
30
apresentado sucesso e necessário se faz a realização periódica de um
hemograma.
A referência bibliográfica indica também como atípicos, a risperidona e a
olanzapina, ambos apresentam um alto custo econômico.
É bastante útil que o doente tenha conhecimento sobre a doença, seus
sintomas, que tenha um papel ativo no tratamento e controle de sua
enfermidade. Sendo por isso vantajoso que sigam alguns cuidados, a saber:
• Permanecer fiel ao seu tratamento; se achar que a medicação não está a
ajudar ou sentir efeitos não desejáveis,
• Deve avisar o médico; ter o cuidado de conservar um ritmo de sono e
vigília correto, com as horas de sono necessárias;
• Evitar o estresse;
• Deve manter rotinas normais, de higiene, alimentação, atividade dentro e
fora de casa;
• Evitar as drogas;
• Procurar ter horas para dormir, comer e trabalhar;
• Fixar um programa de atividades para cada dia;
• Permanecer em contato com as outras pessoas (relacionamento
interpessoal);
• Manter o contato com o psiquiatra/equipe de saúde mental; e
• Praticar esporte pelo menos uma vez r semana.
3.1.2 – Psicoterápico e extra-hospitalar
A maioria dos serviços de saúde mental em todo mundo, ou mais
especificamente, as diversas abordagens terapêuticas na intervenção ao
doente esquizofrênico, sustentam seus projetos de tratamento basicamente em
torno de dois instrumentos: psicofármacos ou acompanhamento médico-
medicamentoso e a psicoterapia. A psicoterapia (individual ou grupal), a
intervenção familiar, a musicoterapia, a terapia ocupacional e a psicoeducação.
A psicoterapia é indicada dentre outras razões, quando há necessidade
de apoio para alívio das ansiedades de fundo emocional.
31
A Desospitalização e Desistitucionalização, o movimento crítico e a
reforma na psiquiatria, presente em muitos países, inclusive no Brasil, se
orienta no sentido de substituir o tratamento centrado no hospital psiquiátrico
para a assistência na comunidade. Com essa nova realidade, cada vez mais
pessoas passam a ser assistidas em serviços extra-hospitalares.
Com o movimento da reforma psiquiátrica no Brasil surge como
“alternativa” ao modelo psiquiátrico clássico o modelo preventivista que postula
o seguinte.
• “Um novo objeto – a saúde mental
• Um novo objetivo – a prevenção da saúde mental
• Um novo sujeito do tratamento – a coletividade
• Um novo agente profissional – as equipes comunitárias
• Uma nova concepção de personalidade – a unidade biopsicossicial”
(Segundo Paulo Amarante, a Trajetória da reforma Psiquiátrica no Brasil, p, 41)
Esse fenômeno de diminuição de leitos e fechamento de alguns
hospitais trouxe a necessidade de reinserir na comunidade pacientes que
estiveram internados por períodos prolongados.
Importância também deve ser dada à reabilitação psicossocial, que deve
ser encarada como um processo contínuo, pois uma das grandes dificuldades
dos doentes portadores de esquizofrenia é a sua integração no mercado de
trabalho.
Para Jonas Melman, psicóticos crônicos são pessoas com sérios
problemas existenciais que experimentam repetidos insucessos pessoais e
sociais na tentativa de satisfazer suas necessidades e desejos; nessa
concepção o trabalho de reabilitação psicossocial seria entendido como um
processo visando reabilitar e desenvolver novas atitudes e comportamentos
nos pacientes, familiares e nos profissionais de saúde; isto é, propiciar
mudanças, o que se trata de um processo bastante complexo.
32
Para atingir os objetivos necessários, já se encontra em funcionamento
em nossos dias uma rede ampla e diferenciada dos chamados serviços
substitutivos ao modelo psiquiátrico tradicional, ou , à estrutura manicomial ; a
saber: Centros de Atenção Psicossocial- CAPS; Núcleos de Atenção
Psicossocial- NAPS; Hospitais-Dia; Residências Terapêuticas ou Projetos de
Moradia Assistida; Centros de Convivência e Cultura; Leitos Psiquiátricos em
Hospitais Gerais; Programa de Volta Para Casa.
Procura-se ampliar essas iniciativas para a esfera do trabalho, da
moradia, do direito, do lazer e da cultura.
Esse conjunto de medidas terapêuticas e práticas psicossociais, não se
reduzem a intervir somente na bioquímica do cérebro ou na dimensão
psicológicas dos fenômenos; mas sim, são dirigidas a manter a pessoa na
comunidade.
Infelizmente os programas político-sociais de inserção dos doentes
mentais na sociedade, costumam ignorar o grande sofrimento e necessidades
da família. Num país como o Brasil, a assistência à família do esquizofrênico
tem que ser um programa governamental indispensável, para que se possa
preservar o desempenho social (estudo, trabalho, profissão) dos parentes dos
pacientes esquizofrênicos.
Ciompi,1987, concluiu que o peso das variáveis sociais e situacionais é
maior do que o peso das variáveis psicopatológicas para o sucesso do
tratamento.
3.2 – Modalidades de intervenção
3.2.1 – Terapias Familiares Sistêmicas:
No final da década de 50, uma equipe de norte-americanos liderados
por Bateson, utilizando a teoria Geral de Sistemas formulada por Von
Bertalanff, realizou uma pesquisa com familiares de pacientes esquizofrênicos
procurando identificar os padrões de interação de comunicação nos vínculos
interpessoais estáveis. Também com o grupo de Palo Alto esta teoria passou a
33
enfocar seu trabalho, não na clarificação dos conteúdos inconscientes, mas na
mudança dos padrões interativos no seio de uma família.
3.2.2 – Terapias Familiares Psicanalítica:
A psicanálise exerceu influência expressiva nos conceitos que se refere
à participação da família no fenômeno do adoecimento mental.
Na Argentina, no final da década de 50, Pichon-Rivière inclui a família
na sua compreensão de doença mental. O autor desenvolve a noção do
paciente como emergente de um grupo familiar doente, assumindo a função de
depositário e porta-voz da patologia de toda à família.
O paciente, ao carregar o papel de doente do grupo, permite que os
outros caminhem relativamente bem e se encontram protegidos dos sintomas
mais graves.
A psicanalista Denise Morel (1990) revela que as terapias investem
quase toda a sua energia principalmente ou apenas na superação dos
sintomas. Ela partiu da hipótese de que todas as pessoas, mesmo as mais
doentes, além de sintomas, possuem talentos. E sugere que quando o olhar
consegue se deslocar para o talento, para o lado mais saudável, para as forças
da vida¨ , o espaço terapêutico pode mobilizar o potencial criativo de cada
pessoa.
3.2.3 – Intervenções Psicoeducativas
Esta intervenção tem por finalidade essencial diminuir ou impedir
recaídas, correlacionando vulnerabilidade individual com fatores de estresse
ambiental.
O modelo sugere que contingências estressantes da vida, podem
desencadear episódios psicóticos a partir de algum grau de vulnerabilidade
individual.
Na década de 60, os ingleses Wing e (Brown et al,1972) , dirigiram
suas investigações para avaliar o grau de adaptação social dos paciente
egressos do hospital que retornaram ao convívio com a família. Observaram
34
que nos familiares que apresentaram um alto grau de envolvimento emocional,
havia maior taxa de recaídas, no que se refere à regudização dos sintomas.
3.2.4– Intervenções na rede social
A presença de doenças de curso prolongado, como câncer, doenças
neurológicas, esquizofrenia etc., comprometem a qualidade da interação social,
reduzindo o tamanho da rede social.
Incluem todo o conjunto de vínculos interpessoais significativos do
sujeito: família, amigos, relações de trabalho, de estudo, vínculos na
comunidade, vínculos coletivos, sociais e políticos.
Atualmente, existem fortes evidências de que uma rede social estável,
forte e solidária protege a pessoa contra doenças, aumenta a sobrevida e
acelera os processos de cura.
(Lehtinen ,1994) O manejo da rede de apoio é um instrumento
fundamental para o tratamento dos pacientes psiquiátricos.
Os vínculos interpessoais que se estabelecem no cotidiano dos
serviços de saúde também fazem parte da rede social.
(Durkhein ,1951) Já apontava a importância das redes sociais , ao
evidenciar uma maior probabilidade de suicídio nos indivíduos mais isolados
socialmente.
3.2.5 – O Psicodrama - O Grupo Como Espaço de Acolhimento
O Psicodrama de Moreno é um tipo de terapia grupal que utiliza
técnicas adaptadas do teatro. Pouco reconhecido, mas representa uma das
contribuições pioneiras para a formação do campo da terapia familiar.
A ação terapêutica considera todas as pessoas envolvidas em uma
determinada situação conflitante. Ação centrada no próprio grupo; onde os
terapeutas passam a compartilhar a responsabilidade pela superação dos
conflitos. Falar dos sentimentos e das vivências íntimas pressupõe confiança
na capacidade do terapeuta e no comprometimento do grupo com os objetivos
da proposta.
35
No lugar da busca incessante, e tantas vezes inútil das “causas” e das
verdades, emerge um campo rico de possibilidades que valoriza as reflexões
do grupo, no qual ninguém tem a palavra final.
Na tentativa de conhecer a natureza das relações dos familiares com
parentes adoecidos, a experiência grupal volta-se mais para a “fisiologia” das
relações parentais, que de sua psicopatologia.
- Oficinas Culturais e Cursos para Familiares
Diferentes tipos de oficinas podem ser inventados, a saber: de rádio
Cantoria, percussão, papel reciclável, marcenaria, danças folclóricas,
pintura, teatro, artes plásticas e assim por diante.
Elas são coordenadas por profissionais habilitados de uma
determinada área e com vivência pessoal no uso do material e das técnicas a
serem transmitidas.
Os familiares, com muita freqüência, solicitam informações e opiniões
sobre as mais diferentes questões do campo da saúde mental. Perguntas
sobre o uso e o efeito dos fármacos, modalidades de tratamentos, quadros
clínicos dos transtornos, vida sexual dos pacientes, como lidar com os
pacientes em casa enfim, tudo o que possa contribuir para a compreensão do
problema.
Importância deve ser dada a natureza da comunicação e da linguagem
utilizadas pelos responsáveis dos Cursos; que devem ser adaptadas às
características da clientela a que se destina. Temas sugestivos:
• História da loucura e da psiquiatria
• Concepções atuais sobre tratamento em saúde mental
• Noções gerais sobre medicamentos
• Vivência dos familiares nos transtornos mentais
36
3.3 – A família e o profissional de saúde no tratamento do
esquizofrênico:
3.3.1 O papel da Família e do Profissional de Saúde
O papel ativo da família é essencial para o tratamento, a reabilitação e a
reinserção social do paciente que sofre de esquizofrenia. O nível de
recuperação que se tem com o tratamento da esquizofrenia é muito baixo.
Muitas famílias procuram apoio junto aos técnicos de saúde, permitindo assim
que superem e sobrevivam às dificuldades que encontram. .
Na tentativa de se obter melhores resultados, é de suma importância
que o tratamento como um todo, seja realizado por uma equipe interprofissional
especializada em saúde mental.
É comum os contatos iniciais entre terapeutas, pacientes ou familiares
serem por meio de entrevistas individuais, pois, costuma ser através destas
que as pessoas se sentem mais desinibidas e menos constrangidas para
abordar os seus problemas.
A família também deve estar preparada para quando uma eventual
internação hospitalar se fizer necessária, procurando sempre estar presente
apoiando o paciente internado e participando da evolução do tratamento.
Um ambiente familiar excessivamente crítico e estressante é
desfavorável para o tratamento. Alguns familiares mostram uma tendência para
a superproteção e o hiperenvolvimento, intensificando muito os conflitos e
dificultando os acordos.
É comum os familiares se depararem com expectativas pessimistas em
relação à possibilidade de melhora do quadro. Resgatar a esperança é
fundamental em qualquer modalidade de intervenção.
Comumente se verifica que os familiares manifestam algum grau de
resistência a modificar suas concepções e valores sobre o fenômeno do
adoecer mental. Ainda relatam com alguma freqüência, a existência de
comentários culpabilizantes por parte de alguns técnicos, que direta ou
37
indiretamente responsabiliza a família pelo adoecimento do paciente. A família
costuma ser vista como desestruturada, fria, indiferente ou mesmo hostil ao
paciente. Essa natureza de relação contribui para reforçar a resistência das
pessoas em participar mais ativamente do tratamento.
Ao iniciar sua participação em alguma prática de cuidado, a maioria
dos familiares está envolvida em suas próprias vidas de dor, dificuldades e
culpa Como resultado de um cotidiano sobrecarregado, da ausência de
informações qualificadas, de experiências repetidas de fracasso, muitos
indivíduos organizam sua existência de forma empobrecida e estereotipada,
diminuindo suas reais possibilidades de vida.
Sem dúvida, é nos familiares que mais se envolvem e menos toleram
as mudanças geradas a partir do surgimento de um transtorno mental que se
encontra as maiores dificuldades em lidar com a nova realidade de vida. Aqui
também, existirá necessidade de readaptação e de aquisição de novas tarefas
e habilidades.
A relação terapêutica com os familiares é um campo tenso, permeado
pelo medo e pela culpa. Trata-se de uma relação assimétrica, na qual o poder
maior do técnico pode ser utilizado de diferentes maneiras. . A aproximação do
universo desses familiares pede paciência e sensibilidade...
O profissional de saúde no papel de cuidador, daquele que é
responsável pelo tratamento, deve procurar reforçar os aspectos mais
saudáveis e criativos das pessoas envolvidas, sejam elas paciente ou familiar
Os problemas, sentimentos e situações que ocorrem na família dos
esquizofrênicos, são interligados, portanto, devem ser vistos de maneira global;
geralmente são os seguintes:
• Medo - “Ele poderá fazer mal a si ou às outras pessoas?”
• Negação da gravidade -“Isso daqui a pouco passa”
• Incapacidade de falar ou pensar em outra coisa que não seja a doença-
“Toda a nossa vida gira em torno do nosso filho doente”
• Isolamento social -“As pessoas até nos procuram, mas não temos como
fazer os programas que nos propõem”
38
• Constante busca de explicações -“Ele está assim por algo que fizemos”
• Depressão -“Não consigo falar da doença do meu filho sem chorar”
Atualmente, existem muitas evidências que demonstram a eficácia das
intervenções familiares em promover melhora do quadro clínico, diminuir ou
atenuar recaídas e reduzir o número de internações psiquiátricas nos pacientes
com transtorno mental severo.
3.3.2 – A Família como Recurso
Exemplo de Experiência de Familiar como Recurso: Grupo de Familiar
de Jonas Melman
Experiência onde somam o desejo de mudança pessoal com a
ambição de transformação social
O Grupo de Familiares, surgiu da parceria entre o Centro de Atenção
Psicossocial Prof. Luís da Rocha Cerqueira (CAPS), serviço público dirigido ao
tratamento, ao ensino e à pesquisa na área da saúde mental e a Associação
Franco Basaglia, organização não-governamental, sem fins lucrativos que, que
atua no campo da saúde mental , reunindo usuários, familiares e profissionais
no estado de São Paulo .
Objetivamente o Grupo de Familiares é dividido em Reunião de
Projetos (discutem e realizam ações e iniciativas ligadas à Associação) e
Grupo Terapêutico (espaço de acolhimento e demandas subjetivas dos
participantes).
Os integrantes passaram a participar ativamente da organização e da
administração da Associação, possibilitando múltiplas atividades, tais como:
Exercer cargos na diretoria, organizar festas e eventos para
arrecadação de fundos, desenvolverem campanhas para aumentar o número
dos sócios, organizarem reuniões para reivindicar mudanças na assistência
oferecida pelo CAPS, visitar familiares e pacientes em dificuldades,
acompanhar comissões oficiais de avaliação de hospitais psiquiátricos públicos
39
e conveniados, ajudar na confecção de chocolates para venderem na Páscoa
etc.
O profissional de saúde deve desenvolver modalidades de cuidado mais
apropriadas às necessidades peculiares dos familiares, pois, não existe um
modelo universal de familiar. Cada pessoa tem um estilo singular de viver e de
lidar com as situações de vida. Cada um tem sua maneira particular de olhar e
reagir em relação às doenças mentais
40
CONCLUSÃO
.Na nossa sociedade, a doença mental, loucura ou a esquizofrenia.,
ainda é encarada com muito preconceito. O que torna o assunto que
abordamos neste trabalho de difícil discussão
A visão do louco e da loucura sofreu mudanças no decorrer da história;
mas é certo que, o conceito de normal e patológico é relativo e depende do
ponto de vista cultural.
Tentando retomar a questão inicial de nosso estudo onde se questiona
a dificuldade e o sofrimento que o esquizofrênico sente no seu relacionamento
com os outros, podemos arriscar em afirmar que novamente os motivos são
devido ao preconceito, vergonha e medo que as pessoas geralmente sentem.
O preconceito também é sentido dentro da estrutura familiar, que
também rejeita o seu doente, por questões culturais..No entanto, a nossa
sociedade valoriza muito a família, responsabilizando-a por tudo.Responsável
pela transmissão de bens e valores, não é ensinado como nos relacionar com
indivíduos doentes mentalmente; e quando se tem um filho esquizofrênico, a
família se destabiliza, se sente culpada, por algo que ninguém, nem ela, nem o
paciente tem culpa.
Muitos autores imputam na família a origem dos transtornos mentais,
sob as mais diversas alegações: problema na qualidade da comunicação na
família, violência explícita ou implícita, pobreza material ou afetiva,,etc,
justificando que tais condições podem colaborar para o surgimento das
enfermidades mentais
No contexto de importância da qualidade das relações familiares, a
presença, e o apoio da família são de grande importância, para possibilitar a
recuperação do indivíduo portador de esquizofrenia.
Quando a doença se instala, não há dúvida de que tanto o paciente,
como seus familiares precisam de ajuda, não só dos amigos, mas de ajuda
profissional. É necessário que toda a família mude se adapte à nova situação.
41
O paciente, precisa de ajuda, a família, precisa ser ajudada, para ajudar o
paciente. O profissional de saúde desempenha o papel de mediador, de
prestador de serviço, de cuidador. De acordo com depoimentos familiares, ö
psiquiatra tem de ter um envolvimento total com a pessoa. Sua atuação é
fundamental no difícil processo de tentar mudar o papel da família, de ao invés
de vítima, poder ser considerada como Recurso em todo o processo de
tratamento, reabilitação e reinserção do paciente psiquiátrico na sociedade. .
Mas, nem sempre os profissionais estão sensibilizados, motivados ou
especializados para a tarefa de acolher e cuidar dos familiares. Atualmente
existem evidências significativas que garantem a eficácia dos programas de
intervenção familiar em conjunto com medicação neuroléptica e psicoterapias,
tanto para a diminuição das recaídas dos pacientes esquizofrênicos, como para
auxiliar pacientes e familiares a encontrar nova maneira de viver.
Embora, infelizmente em nosso país sejam escassos os programas
que atenda de maneira satisfatória, os familiares de pacientes portadores de
transtorno mental.
A reforma psiquiátrica foi um grande ganho no campo da saúde mental,
entendida como processo amplo de promoção da cidadania. É sustentada por
documentos, conferências e portarias, que objetiva a substituição progressiva e
gradual do hospital psiquiátrico, por uma rede de atenção integral à saúde
mental, com o objetivo de integrar na comunidade as pessoas portadoras de
transtorno mental. Vivemos numa sociedade onde o trabalho está no centro
dos valores e das preocupações, tanto que quando nos apresentamos a
alguém usamos de cara a nossa atividade profissional como referência; nesse
ínterim, a potencialização do trabalho, como um instrumento de inclusão social,
constitui um dos principais desafios da reforma psiquiátrica
Outro grande avanço no campo da saúde mental no Brasil foi a
promulgação da lei 10.216, do deputado Paulo Delgado, em 2001; constando
em anexo nesse trabalho; onde todo o movimento de desistitucionalização do
doente mental, recebe o aparato jurídico, legitimando as lutas empreendidas
em favor da reforma psiquiátrica. Importa agora, a sua real aplicação.
42
Enfim, a saúde mental, além de uma questão psicológica, se trata de
uma questão política e, portanto, interessa a todos comprometidos. Não só os
sistemas, as instituições, mas também as pessoas, precisam mudar.
Pacientes, familiares e profissionais de saúde podem aprender a trocar
experiências, trabalhar em parceria, multiplicar as conexões, para juntos,
lutarem para criar novas soluções para os velhos problemas, na tentativa de
fazer um mundo com mais amorosidade, isto é, mais humanizado.
43
BIBLIOGRAFIA
AMARANTE, P. Loucos pela vida. Rio de Janeiro: Panorama ESNP, 1995.
ARIÉS, P, O. História social da criança e da família. Rio de Janeiro:
Guanabara, 1981.
BIRMAN, J. A psiquiatría como discurso da moralidade. Rio de Janeiro, Graal,
1978.
MELMAN, J. Família e doença mental. São Paulo, Escrituras, 2006
DSM-IV. (American Pschiatric Association). Manual diagnóstico e estatístico
dos transtorno mentais. Porto Alegre: Artmed, 1995.
KAPLAN, H; SADOCK, B. J.; GREBB, J. A. Compêndio de psiquiatria: ciência
do comportamento e psiquiatria clínica. Porto Alegre: Artmed, 1997.
< http://www.cerebromente.org.br/n10/doencas/psicoses.html > Acesso em 28
jun. 2010.
< http://www.psicosite.com.br/tra/psi/esquizofrenia.html > Acesso em 04 mar.
2010.
< http://pt.wikipedia.org/wiki/Esquizofrenia > Acesso em 04 mar. 2010.
44
ANEXOS
Índice de anexos
Anexo 1 >> A reforma psiquiátrica italiana de Franco Basaglia; Anexo 2 >> Lei nº 10.216 de 06 de abril de 2001 (Lei Paulo Delgado);
ANEXO 1
REFORMA PSIQUIÁTRICA: Na Itália: A mesma inquietação diante de realidades não menos cruéis, leva a
Itália à busca de novas soluções no trato com a loucura.
A Tradição Basagliana e a Psiquiatria Democrática Italiana:
Franco Basaglia em “A Psiquiatria Alternativa: Contra o Pessimismo da
Razão, O Otimismo da Prática”, afirma que a psiquiatria sempre colocou o
(homem) entre parênteses e se preocupou com a doença.
A tradição basagliana traz em seu interior a necessidades de uma análise
histórico-crítica a respeito da sociedade e da forma como ela se relaciona com
o sofrimento e a diferença, isto é, com o problema da loucura (
doença mental ) e da exclusão social.
Franco Basaglia critica a psiquiatria tradicional e realiza no início da
década de 1960 um trabalho de humanização no manicômio de Gorizia, na
Itália.
Em “Realidades Cruéis – Itália 1971” Franco Basaglia fecha os
manicômios acabando com a violência dos tratamentos e põe fim no aparelho
da instituição psiquiátrica tradicional; isto é, realiza a desconstrução do aparato
manicomial,concebendo novas formas de lidar com a loucura e a doença
mental,criando novos espaços na região de Trieste, a saber: constrói sete
centros de saúde mental (um para cada área da cidade, com 20 a 40 mil hab.),
funcionando 24 hs, diariamente.
45
Vários grupos-apartamentos (residências), para usuários, técnicos ou
operadores voluntários, em 30 locais diferentes; cria Cooperativas de trabalho
(modalidade de cuidado/criação de possibilidades), como posto de trabalho,
para atender à necessidade dos ex-internos do hospital. Há cerca de alguns
anos as mesmas receberam novo estatuto legal na Região Friuli Venezia-
Giulia,como empresas-sociais;
Institui o Serviço de Diagnose e Cura (ou Serviço de Emergência
Psiquiátrica), com funcionamento diuturno ; no total de 8 leitos. É bom lembrar
que a lei 180 prevê 15 leitos. Este serviço serve de apoio e atua de forma
coordenada com os outros.
O movimento Psiquiatria Democrática, é um movimento político constituído a
partir de 1973 com o objetivo de construir bases sociais para
a viabilização da reforma psiquiátrica na tradição basagliana em todo o
território italiano.
O projeto de lei apresentado inspira-se em suas idéias, passando a ser
conhecido como ¨Lei Basaglia¨ (aprovada em 13 de maio de 1978).
Comparada com a legislação de 1904, a nova lei introduz importantes avanços
na assistência psiquiátrica, mesmo considerando a¨velha¨ fórmula que justifica
o internamento compulsório ( perigoso para si ou para os outros ou de
escândalo público) é substituído por um artigo de lei que, por conservar ao
médico a inteira responsabilidade do julgamento de periculosidade
social,introduz confusamente um elemento novo, a avaliação dos recursos
disponíveis a resolver o caso, permanecendo , enfim, o julgamento de
gravidade avaliado pela rejeição do paciente à internação voluntária.
Porém, abre-se a possibilidades de soluções alternativas à internação.
Contudo, não existem garantias de que a situação mudará substancialmente.
46
ANEXO 2
LEI No 10.216, DE 6 DE ABRIL DE 2001.
Dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos
mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faz saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Art. 1o Os direitos e a proteção das pessoas acometidas de transtorno mental, de que trata esta Lei, são assegurados sem qualquer forma de discriminação quanto à raça, cor, sexo, orientação sexual, religião, opção política, nacionalidade, idade, família, recursos econômicos e ao grau de gravidade ou tempo de evolução de seu transtorno, ou qualquer outra.
Art. 2o Nos atendimentos em saúde mental, de qualquer natureza, a pessoa e seus familiares ou responsáveis serão formalmente cientificados dos direitos enumerados no parágrafo único deste artigo.
Parágrafo único. São direitos da pessoa portadora de transtorno mental:
I - ter acesso ao melhor tratamento do sistema de saúde, consentâneo às suas necessidades;
II - ser tratada com humanidade e respeito e no interesse exclusivo de beneficiar sua saúde, visando alcançar sua recuperação pela inserção na família, no trabalho e na comunidade;
III - ser protegida contra qualquer forma de abuso e exploração;
IV - ter garantia de sigilo nas informações prestadas;
V - ter direito à presença médica, em qualquer tempo, para esclarecer a necessidade ou não de sua hospitalização involuntária;
VI - ter livre acesso aos meios de comunicação disponíveis;
VII - receber o maior número de informações a respeito de sua doença e de seu tratamento;
VIII - ser tratada em ambiente terapêutico pelos meios menos invasivos possíveis;
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IX - ser tratada, preferencialmente, em serviços comunitários de saúde mental.
Art. 3o É responsabilidade do Estado o desenvolvimento da política de saúde mental, a assistência e a promoção de ações de saúde aos portadores de transtornos mentais, com a devida participação da sociedade e da família, a qual será prestada em estabelecimento de saúde mental, assim entendidas as instituições ou unidades que ofereçam assistência em saúde aos portadores de transtornos mentais.
Art. 4o A internação, em qualquer de suas modalidades, só será indicada quando os recursos extra-hospitalares se mostrarem insuficientes.
§ 1o O tratamento visará, como finalidade permanente, a reinserção social do paciente em seu meio.
§ 2o O tratamento em regime de internação será estruturado de forma a oferecer assistência integral à pessoa portadora de transtornos mentais, incluindo serviços médicos, de assistência social, psicológicos, ocupacionais, de lazer, e outros.
§ 3o É vedada a internação de pacientes portadores de transtornos mentais em instituições com características asilares, ou seja, aquelas desprovidas dos recursos mencionados no § 2o e que não assegurem aos pacientes os direitos enumerados no parágrafo único do art. 2o.
Art. 5o O paciente há longo tempo hospitalizado ou para o qual se caracterize situação de grave dependência institucional, decorrente de seu quadro clínico ou de ausência de suporte social, será objeto de política específica de alta planejada e reabilitação psicossocial assistida, sob responsabilidade da autoridade sanitária competente e supervisão de instância a ser definida pelo Poder Executivo, assegurada a continuidade do tratamento, quando necessário.
Art. 6o A internação psiquiátrica somente será realizada mediante laudo médico circunstanciado que caracterize os seus motivos.
Parágrafo único. São considerados os seguintes tipos de internação psiquiátrica:
I - internação voluntária: aquela que se dá com o consentimento do usuário;
II - internação involuntária: aquela que se dá sem o consentimento do usuário e a pedido de terceiro; e
III - internação compulsória: aquela determinada pela Justiça.
Art. 7o A pessoa que solicita voluntariamente sua internação, ou que a consente, deve assinar, no momento da admissão, uma declaração de que optou por esse regime de tratamento.
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Parágrafo único. O término da internação voluntária dar-se-á por solicitação escrita do paciente ou por determinação do médico assistente.
Art. 8o A internação voluntária ou involuntária somente será autorizada por médico devidamente registrado no Conselho Regional de Medicina - CRM do Estado onde se localize o estabelecimento.
§ 1o A internação psiquiátrica involuntária deverá, no prazo de setenta e duas horas, ser comunicada ao Ministério Público Estadual pelo responsável técnico do estabelecimento no qual tenha ocorrido, devendo esse mesmo procedimento ser adotado quando da respectiva alta.
§ 2o O término da internação involuntária dar-se-á por solicitação escrita do familiar, ou responsável legal, ou quando estabelecido pelo especialista responsável pelo tratamento.
Art. 9o A internação compulsória é determinada, de acordo com a legislação vigente, pelo juiz competente, que levará em conta as condições de segurança do estabelecimento, quanto à salvaguarda do paciente, dos demais internados e funcionários.
Art. 10. Evasão, transferência, acidente, intercorrência clínica grave e falecimento serão comunicados pela direção do estabelecimento de saúde mental aos familiares, ou ao representante legal do paciente, bem como à autoridade sanitária responsável, no prazo máximo de vinte e quatro horas da data da ocorrência.
Art. 11. Pesquisas científicas para fins diagnósticos ou terapêuticos não poderão ser realizadas sem o consentimento expresso do paciente, ou de seu representante legal, e sem a devida comunicação aos conselhos profissionais competentes e ao Conselho Nacional de Saúde.
Art. 12. O Conselho Nacional de Saúde, no âmbito de sua atuação, criará comissão nacional para acompanhar a implementação desta Lei.
Art. 13. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Brasília, 6 de abril de 2001; 180o da Independência e 113o da República.
FERNANDO HENRIQUE CARDOSO Jose Gregori José Serra Roberto Brant
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FOLHA DE AVALIAÇÃO
Nome da Instituição: Universidade Cândido Mendes
Título da Monografia: Tratamento da esquizofrenia interfaces entre o papel da
família e dos profissionais de saúde mental
Autor : Luzia de Fátima Barbosa Lopes
Data da entrega: 19/07/2010
Avaliado por: Edla Lucia Trocoli Xavier da Silva
Conceito:
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Índice
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO I CONHECENDO A ESQUIZOFRENIA 10
1.1. Definição 10
1.2. Um breve histórico 11
1.3. Considerações gerais 13
1. 4- Classificações sintomáticas 15
1.4.1- Sintomas positivos 15
1.4.2- Sintomas negativos 16
1.5- Tipos de esquizofrenia 17
CAPÍTULO II A ESQUIZOFRENIA E A FAMÍLIA 19
2.1- Algumas teorias sobre a suposta origem da Esquizofrenia 19
2.1.1 – Teoria Neurobiológica 20
2.1.2 – Teoria Psicanalítica 20
2.1.3 – Teoria Familiar 21
2.1.4 – Teoria Genética 21
2.2- A família 22
2.2.1- A família antes 22
2.2.2- A família atual 24
2.3- Sentimentos vivenciados pelos familiares dos esquizofrênicos 26
CAPÍTULO III A HUMANIZAÇÃO NO TRATAMENTO DA ESQUIZOFRENIA
3.1 - O tratamento do esquizofrênico 29
3.1.1- Farmacológico ou Medicamentoso 29
3.1.2- Psicoterápico e extra- hospitalar 30
3.2- Modalidades de intervenção 32
3.2.1- Terapias Familiares Sistêmicas 32
3.2.2 – Terapias Familiares Psicanalítica: 33
3.2.3- Intervenções Psicoeducativas 33
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3.2.4 – Intervenções na rede social 34
3.2.5 – O Psicodrama - O Grupo Como Espaço de Acolhimento dos familiares
nos transtornos mentais 34
3.3 - A família e o profissional de saúde no tratamento do esquizofrênico
3.3.1- O papel da Família e do Profissional de Saúde 36
3.3.2 – A Família como Recurso 38
CONCLUSÃO 40
ANEXOS 44
Anexo 1 44
Anexo 2 46
BIBIOGRAFIA CONSULTADA 43
FOLHA DE AVALIAÇÃO 49