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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE TRATAMENTO DA ESQUIZOFRENIA: INTERFACES ENTRE O PAPEL DA FAMÍLIA E DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE MENTAL Por: LUZIA DE FATIMA BARBOSA LOPES Orientador Profª. EDLA LUCIA TROCOLI XAVIER DA SILVA Niterói 2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

TRATAMENTO DA ESQUIZOFRENIA: INTERFACES ENTRE O

PAPEL DA FAMÍLIA E DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE

MENTAL

Por: LUZIA DE FATIMA BARBOSA LOPES

Orientador

Profª. EDLA LUCIA TROCOLI XAVIER DA SILVA

Niterói

2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

TRATAMENTO DA ESQUIZOFRENIA: INTERFACES ENTRE O

PAPEL DA FAMÍLIA E DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE

MENTAL

Apresentação de monografia à Universidade

Cândido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em TERAPIA DE

FAMÍLIA

Por: LUZIA DE FATIMA BARBOSA LOPES

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AGRADECIMENTOS

Primeiro e principalmente a Deus, por

ter me dado esta oportunidade e mais ainda,

por ter me dado faculdades mentais

satisfatórias para aproveitá-las.

Sou grata também particularmente aos

amigos Charles, Paulo e Wagner.

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Dedicatória

Aos meus filhos Marden e Mércia a

quem dedico esse estudo com muito amor e

carinho. Espero que num futuro bem próximo

ele seja útil na profissão. de minha filha.

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RESUMO

O trabalho aqui apresentado sob o título “Tratamento da Esquizofrenia:

Interfaces entre o Papel da Família e dos Profissionais de Saúde Mental”¨,

originou do tema “Humanização no Tratamento da Esquizofrenia”, ambos

propostos inicialmente pelo nosso Plano de Pesquisa ao curso de Terapia de

Família à UCAM. O objetivo geral deste trabalho é de discutir o papel da família

e dos profissionais de saúde no tratamento dos pacientes esquizofrênicos. Este

estudo possui também objetivos específicos, dispostos da seguinte maneira:

O estudo partiu de uma questão central que considera difícil e doloroso o

relacionamento do paciente psiquiátrico com as pessoas em geral e formulou a

hipótese, arriscando em afirmar que esta barreira na comunicação advém não

só do medo oriundo dos sintomas agressivos na fase aguda da doença, mas

também da falta de informação que existe em torno dos transtornos

psiquiátricos, em particular a esquizofrenia ou loucura, como muitos a chamam.

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METODOLOGIA

Este trabalho é fruto de pesquisa teórica por vários meses,

ensinamentos teóricos obtidos nas aulas de Psicopatologia e da experiência

com pacientes, familiares, auxiliares e técnicos em saúde mental em hospital

psiquiátrico e programa de saúde mental em Unidade Básica Municipal; mas

por motivos éticos e técnicos em nenhum momento explicitamos esse

aprendizado.

A metodologia utilizada para confecção deste trabalho teve por base

uma pesquisa teórica constando de três fases, a saber:

1. Aquisição e seleção da bibliografia

2. Leitura, fichamento - resumo dessa bibliografia

3. Redação do texto e conclusão

Como fonte de pesquisa bibliográfica, foi utilizada a rede de internet, e

também a experiência do autor Paulo Amarantes, “Loucos Pela Vida”¨e

“Familia e Doença Mental” de Jonas Melman entre outros autores.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I CONHECENDO A ESQUIZOFRENIA 10

CAPÍTULO II A ESQUIZOFRENIA E A FAMÍLIA 19

CAP. III A HUMANIZAÇÃO NO TRATAMENTO DA ESQUIZOFRÊNIA 29

CONCLUSÃO 40

BIBLIOGRAFIA 43

INDICE 50

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INTRODUÇÃO

A esquizofrenia é considerada a patologia emblemática na história da

psiquiatria e constitui um problema social e sanitário de muita significância;

freqüentemente o paciente esquizofrênico é estigmatizado e excluído do

convívio social

Trata-se de um assunto complexo contraditório e bastante polêmico,

que requer uma abordagem vasta, abrangente e profunda sobre os problemas

apresentados. Tendo em vista os diferentes papéis que a família e os

profissionais de saúde desempenham no tratamento destes pacientes,

acreditamos que a família deve aprender a lidar com o seu doente , assim

como o profissional de saúde precisa aprender a aperfeiçoar seus

conhecimentos ,e desenvolver suas habilidades para melhor relacionar, não só

com o paciente, mas também com o familiar

Para a discussão da temática proposta, dividimos o trabalho em três

capítulos, que abordam pontos pertinentes para compreensão do assunto. A

divisão da monografia é a seguinte:

Capítulo I “CONHECENDO A ESQUIZOFRENIA”. Pretende-se

resgatar um pouco da história da Esquizofrenia e de outros aspectos que

possibilitam entender melhor este transtorno;

Capítulo II “A ESQUIZOFRENIA E A FAMÍLIA”. São apresentadas

algumas das importantes teorias que tentam explicar a origem da

Esquizofrenia; e um breve histórico sobre a família e sua evolução, no intuito

de entender melhor os sentimentos de culpa e sobrecargas, experimentados

pelos familiares dos pacientes esquizofrênicos, dificultando as relações e a

realização de uma vida mais satisfatória.

Capítulo III “A HUMANIZAÇÃO NO TRATAMENTO DA

ESQUIZOFRENIA”. Busca verificar como a família e os profissionais de saúde

podem se relacionar melhor para um tratamento mais humanizado. Aborda os

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tipos de tratamento existentes para o paciente e as diversas modalidades de

intervenção tanto para o paciente, como também para os familiares; tentando

mostrar a importância do papel da família e do profissional de saúde, na busca

de um tratamento mais humanizado ao paciente. e uma melhoria na qualidade

de relações entre paciente,familiar e profissional de saúde. O Familiar como

Recurso, é descrito num breve resumo de uma experiência mediada por Jonas

Melman, intitulado Grupo de Familiares.

Para finalizar o presente estudo encontra-se em anexo um resumo da

Reforma Psiquiátrica Italiana de Franco Basaglia e a Lei de 6 de Abril de 2001-

Lei Paulo Delgado, como o aparato jurídico e legitimização das lutas

empreendidas em favor do movimento de Desistitucionalização do doente

mental e da reforma psiquiátrica no Brasil

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CAPÍTULO I

CONHECENDO A ESQUIZOFRENIA

“Que é loucura: ser cavaleiro andante Ou segui-lo como escudeiro?

De nós dois quem o louco verdadeiro? O que, acordado, sonha doidamente? O que, mesmo vendado,

Vê o real e segue o sonho De um doido pelas bruxas embruxado?”

(Carlos Drummond de Andrade)

1.1 - Definição

“A esquizofrenia é uma distonia entre o corpo e a alma, entre pensamento e

sentimento. Uma fragmentação da estrutura básica dos processos de

pensamento, acompanhada pela dificuldade em estabelecer a distinção entre

experiências internas e externas”.

Esquizofrenia é um severo transtorno do funcionamento cerebral; sua

constituição é multifatorial, inclui mudanças na química cerebral, fatores

genéticos e alterações estruturais.

A esquizofrenia é um transtorno psíquico severo que se caracteriza por uma

coleção de sintomas como: alterações de pensamento, alucinações, delírios e

perda de contato com a realidade. Compõe o grupo das psicoses no estudo de

psicopatologia.

Na psicose, inúmeros aspectos da realidade são negados. Na opinião do

especialista e psiquiatra Geraldo José Ballone, psicose é uma doença mental

caracterizada pela distorção do senso de realidade, uma inadequação e falta

de harmonia entre o pensamento e a afetividade. Exemplo, o indivíduo pensa

alegria e demonstra tristeza, ou vice-versa.

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1.2 – Breve histórico

“O louco não é monstro, não é não-humano, e a

loucura é construída ao longo da história de vida do

indivíduo” (Franco Basaglia).

A história sugere que a esquizofrenia atinge a humanidade há milênios,

embora o transtorno não tivesse sido classificado de modo preciso até o fim do

século XIX e desde outrora, relegando os doentes ao isolamento social.

No início do século XX, o psiquiatra Eugen Bleuler (com seu assistente

Carl Gustav Jung) criou o nome esquizofrenia a partir das palavras gregas

“divisão” e “mente” para descrever a doença. Conhecida anteriormente como

Desordem, Dementia Praecox ou Psicose Maníaca Depressiva; passou a ser

designada como Esquizofrenia: (esquizo-a cisão, frenia-mente). Eles

observaram que as pessoas mergulhavam em um quadro de melancolia, sem

discernir qualquer motivo que as levasse a esse sentimento, tornando-se

apáticas, contudo, continuando com suas ocupações e lazeres mecanicamente

sem demonstrar nenhum empenho e interesse.

Historicamente, a definição da esquizofrenia foi criada por Emil

Kraepelin, em 1896,que chegou à sua classificação baseando-se nos sinais do

desenvolvimento da doença em estado relativamente precoce (Precox) e da

progressiva deterioração dos doentes (Dementia).

A doença mental é com freqüência relacionada com o mendigo que

deambula pelas ruas, que fala sozinho, com a mulher que aparece na TV

dizendo ter 16 personalidades e com o homicida “louco” que aparece nos

filmes. Ela foi durante muitos anos sinônimo de exclusão social, e o seu

diagnóstico significava como destino “certo” os hospitais psiquiátricos ou asilos,

onde os pacientes ficavam durante muitos anos.

A esquizofrenia como doença mental afeta 1% da população mundial.

(Revista Galileu- n 2261 de maio de 2010).

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Famosos com esquizofrenia

Jonh Forbes Nash ganhou o prêmio de

Ciências Econômicas. Nash também é conhecido

por ter tido sua vida retratada no filme “Uma Mente

Brilhante” nasceu em 13 de Junho de 1928 em

Bluedield, West Virginia, nos Estados Unidos.

Vincent Willem van Gogh, aclamado pintor

holandês, considerado o pioneiro na ligação das

tendências impressionistas com as aspirações

modernistas e cujo talento só foi reconhecido após a

sua morte.

Roger Keith Barrett foi um dos membros

fundadores, em 1965, do grupo de rock progressivo

Pink Floyd.

1.3 – Considerações gerais

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Geralmente a esquizofrenia começa durante a adolescência ou quando

adulto jovem. Atinge todos os sexos e classes sociais

A esquizofrenia pode desenvolver-se gradualmente, lentamente, que as

pessoas próximas só vão perceber que algo vai errado, quando

comportamentos abertamente desviantes se manifestam.

Por outro lado há pacientes que desenvolvem a doença rapidamente, de

forma explosiva, em questão de poucas semanas A pessoa muda seu

comportamento e entra no mundo esquizofrênico, o que alarma e assusta

muito os parentes.

Os primeiros sintomas são a dificuldade de concentração, prejudicando

o rendimento nos estudos; estados de tensão de origem desconhecida, insônia

e desinteresse pelas atividades sociais, com conseqüente isolamento. A

permanência da dificuldade de concentração levará à interrupção dos estudos

e perda do trabalho. Aqueles que não sabem o que está acontecendo,

começam a cobrar e até hostilizar o paciente que por sua vez não entende o

que está se passando. É comum nessas fases o desleixo com a aparência, e a

higiene pessoal.

Enquanto o tempo passa os sintomas se aprofundam, o paciente

apresenta uma conversa estranha, irreal, passa a ter experiências diferentes,

fora do comum, o que pode levar as pessoas mais próximas a julgarem, por

exemplo, que o paciente está fazendo uso de drogas ilícitas. É possível que o

paciente já esteja tendo sintomas psicóticos durante algum tempo antes de ser

levado a um médico.

Os mecanismos de defesa no caso dos pais, os impede muita vezes de

verem o que está acontecendo; não é culpa ou escolha do filho, não percebem

que se trata de uma doença mental.

Quando um fato grave acontece não há mais meios de se negar que

algo muito errado está acontecendo, seja por uma atitude fisicamente

agressiva, seja por tentativa de suicídio, seja por manifestar seus sintomas

claramente ao afirmar que é Jesus Cristo ou que está recebendo mensagens

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do além. Nesse ponto, o diagnóstico de psicose é inevitável. Infelizmente o

tratamento precoce não previne a esquizofrenia, que é uma doença inexorável.

Para realização de seu diagnóstico, considera-se que a esquizofrenia

está atualmente fragmentada na CID-10 e no MSD IV que se refere à décima

Revisão da Classificação Internacional de Doenças e de Problemas

Relacionados à Saúde, sendo a última de uma série que se iniciou em 1893

com a classificação de Bertillon.

Não existe um exame que diagnostique de maneira clara, precisa e

precoce a esquizofrenia; sendo considerada inviável a análise através dos

parâmetros bioquímicos ou fisiológicos. O diagnóstico da esquizofrenia é feito

pela observação clínica profissional cuidadosa dos conjuntos de sintomas que

o paciente apresenta ao longo da história Deve-se eliminar diagnóstico de

outras patologias referentes por exemplo,ao uso de drogas, epilepsia, tumor

cerebral,etc.Como se trata de algo subjetivo, é comum haver conflitos de

diagnóstico. Apesar da CID 10 ter criado uma técnica comprovadamente mais

confiável e clara de se proceder ao diagnóstico, somente com o tempo e mais

pesquisas,iremos saber se os critérios hoje adotados correspondem à

realidade de maneira correta.

Os sintomas da esquizofrenia repercutem dentre outros, no

comportamento e nas emoções; o doente tem dificuldade em saber, por

exemplo, “quando uma pessoa está sorrindo para ele ou se está dando risada

dele”.

Durante as crises psicóticas perdem as condições de pensamentos

lógicos e coerentes, chegam a não saber quem são, e a não identificar seus

parceiros de rotina. Raciocinar claramente, controlar os sentimentos, assumir

compromissos, tomar decisões e viver socialmente, constitui para o

esquizofrênico verdadeiro desafio.

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1.4 – Classificações sintomáticas

Segundo Sá Junior (1988) “Entende-se por sintomas, as vivências

subjetivas relatadas pelos pacientes, suas queixas; aquilo que o sujeito

experimenta, e, de alguma forma, comunica a alguém. E acrescenta; os

sintomas objetivos são observados pelo examinador, e os sintomas subjetivos,

são aqueles percebidos pelo paciente.

Lembrando que a esquizofrenia é considerada uma doença mental grave

que caracteriza por uma coleção de sintomas como: alterações do pensamento,

alucinações, (visuais e, sobretudo auditivas), delírios e embotamento emocional,

comportamento excêntrico e extravagante, autodestrutividade impulsiva e

descontrole emocional. Sintomas estes, que podem causar um

disfuncionamento social crônico em todos os grupos humanos.

““Os primeiros sinais e sintomas das esquizofrenias são tidos como insidiosos”,

ardilosos, traiçoeiros.”

1.4.1 – Sintomas Positivos.

São aqueles que estão presentes na fase aguda da doença, como as

alucinações, as idéias delirantes e pensamentos irreais. Por exemplo, quando

um indivíduo acha que está sendo perseguido pela polícia, ou que é

responsável pelas guerras do mundo. As alucinações mais freqüentes são

áudio-visuais; pensamento e discurso desorganizado, frases sem qualquer

sentido, alterações de comportamento, ansiedade, impulsos, agressividade.

Nesse aspecto a doença já está instalada e plenamente visível.

• Alucinações - as mais comuns nos esquizofrênicos são as auditivas. O

paciente geralmente ouve vozes depreciativas que o humilham, falam mal,

ordenam atos que os pacientes reprovam, ameaçam,conversam entre si

falando mal do próprio paciente.

• Delírios – são as idéias falsas, irreais, bizarras, que os pacientes têm de que

estão sendo perseguidos, que querem matá-lo ou fazer-lhe algum mal. O

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delírio de identidade (achar que é outra pessoa). O mais comum é

considerar-se Deus ou Jesus Cristo.

• Perturbações do Pensamento – paciente com confusão mental, emergência

neurológica.

• Alteração da Sensação do Eu – os pacientes com estas alterações dizem que

não são elas mesmas, que outra entidade apoderou-se de seu corpo e que

este, não existe.

• Inquietações – idéias desordenadas

• Negativismo – quando se revela sob aspecto de perversidade em

contraposição ao seu meio ambiente e aos que o circulam, expressando sua

inadequação pelo mutismo, rejeição alimentar e aos cuidados pessoais para

demonstrar sua contrariedade e hostilidade.

1.4.2 – Sintomas Negativos.

Aqueles que deveriam estar presentes, mas estão ausentes, como o

estado de ânimo, a capacidade de planejamento e execução, etc. Por exemplo,

resultado da perda ou diminuição das capacidade mental, ao nível da

motivação, das emoções, do discurso, do pensamento e das relações

interpessoais, como a falta de vontade ou de iniciativa, isolamento social,

apatia, indiferença emocional e pobreza do pensamento.

A doença pode aparecer e desaparecer em ciclos de recidivas e

remissões. Não há sinais nem sintomas evidentes, que possa indicar

preliminarmente a instalação da doença. Observam-se em grande parte

sintomas negativos, como por exemplo, inversão do ciclo do sono, isolamento,

perda de interesse por atividades anteriormente agradáveis. São sintomas

corriqueiros em nossa sociedade que, em geral, passam despercebidos.

• Falta de Motivação e Apatia: É comum acontecer com os pacientes depois

que as crises com sintomas positivos cessam, eles não terem vontade de

fazer coisa alguma. A única coisa que fazem, é fumar, comer e dormir; não

se interessando por nada.

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• Embotamento Afetivo: As emoções não são sentidas como antes. A

indiferença e apatia que surgem em conseqüência, nem sempre são

compreendidas pelos familiares ou os que o cercam.

• Isolamento Social: O isolamento é praticamente uma conseqüência dos

últimos sintomas descritos. Uma pessoa que não consegue sentir nem se

interessar por nada, cujos pensamentos estão prejudicados e não consegue

diferenciar o real do irreal, não consegue viver normalmente na sociedade.

Estes sintomas às vezes, são confundidos com depressão.

1.5 – Tipos de Esquizofrenia

Descreveremos os tipos de esquizofrenia catalogados segundo o DSM IV.

• Paranóide: é a forma mais facilmente identificada com a doença; com

predominância dos sintomas positivos. Os doentes são desconfiados,

reservados, podendo ter comportamentos agressivos.

• Desorganizado: em que os sintomas afetivos e as alterações do

pensamento são predominantes. As idéias delirantes, embora

presentes, não são organizados. Em alguns doentes pode ocorrer

uma irritabilidade marcada associada a comportamentos agressivos.

Existe um contato muito pobre com a realidade.

• Catatônico: predomínio de sintomas motores, desde um estado de

cansaço até a excitação; podendo apresentar manifestações

motoras.

• Indiferenciado: apresenta habitualmente um isolamento social, uma

diminuição no desempenho laboral e intelectual. Observa-se nestes

doentes, certa apatia e indiferença relativas ao mundo exterior.

• Residual: nesta forma existe um predomínio de sintomas negativos,

isolamento social, embotamento afetivo e uma pobreza ao nível do

conteúdo do pensamento.

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Além dos citados é necessário acrescentar a esquizofrenia Hebefrênica,

com incidência na adolescência, com o pior dos prognósticos em relação às

demais variações da doença, e com grandes probabilidades de prejuízos

cognitivos e sócio-comportamentais. Estes subtipos não são isolados, podendo

um doente em determinada altura da evolução da sua doença apresentar

aspectos clínicos que se identificam com um tipo de esquizofrenia, e ao fim de

algum tempo pode reunir critérios de outro subtipo.

É importante que o profissional identifique qual subtipo que o paciente se

encontra.

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CAPÍTULO II

A Esquizofrenia e a Família

“Eu penso que a loucura, como todas as doenças, são expressões das

contradições do nosso corpo, e dizendo corpo, e dizendo corpo, digo

corpo orgânico e social. É nesse sentido que direi que a doença, sendo

uma contradição que se verifica no ambiente social, não é um produto

apenas da sociedade, mas uma interação dos níveis nos quais nos

compomos: biológico, sociológico e psicológico” (Franco Basaglia. A

Psiquiatria Alternativa. P.79.)

2.1 – Algumas teorias sobre a suposta origem da Esquizofrenia

Não existe uma única causa, mas sim várias que ocorrem entre si para o

aparecimento da esquizofrenia; sendo muitas as teorias que surgiram para

explicar esta doença.

. A doença pode derivar da intromissão de múltiplos fatores

comportamentais e/ou hereditários. Os pesquisadores não chegaram a uma

conclusão comprovadamente sobre os fatores que geram os transtornos

esquizofrênicos.

Sobre sua causa, só sabemos duas coisas: é complexa e multifatorial.

Na história da medicina as doenças foram descobertas muitas vezes pelos

grupos ou atividades de risco.

Na ausência de uma causa determinante da esquizofrenia, investigam-

se diversas teorias, que buscam explicar sua origem. Citaremos algumas a

seguir, com algumas explicações.

Para o psiquiatra e psicoterapeuta Jonas Melman, as teorias são

instrumentos, ferramentas do pensamento que podem ser utilizadas em

múltiplas direções, com conseqüências bastante distintas. Podem estar ao lado

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do cuidado e da emancipação dos sujeitos ou se constituir em mais um

dispositivo disciplinar, normalizador.

2.1.1 – Teoria Neurobiológica

É essencialmente causada por alterações bioquímicas e estruturais do

cérebro, com uma disfunção dopaminérgica.

Esta teoria é parcialmente comprovada pelo fato de a maioria dos

fármacos utilizados no tratamento da esquizofrenia (neuroléptcos), atuarem

através do bloqueio dos receptores (D2) da dopamina.

2.1.2 – Teoria Psicanalítica

As teorias psicanalíticas (ou de ralação precoce) têm como base a teoria

freudiana da psicanálise, e remetem para a fase oral do desenvolvimento

psicológico, na qual a “ausência de gratificação verbal ou da relação inicial

entre mãe e bebê conduz igualmente as personalidades frias ou

desinteressadas (ou indiferentes) no estabelecimento das relações”.

Abordar a questão da esquizofrenia neste enfoque psicológico, significa

considerá-la como produto da interação das condições de vida social, a

estrutura psíquica e a trajetória específica do indivíduo (sua família, os demais

grupos e as experiências significativas).

As condições de vida sociais ou externas podem ser exemplificadas,

dentre outras: perda de alguém muito próximo e querido, condições de trabalho

estressante, trânsito caótico, índices de criminalidade, excesso de apelo ao

consumo, poluição sonora e visual intensas.

As pessoas com esquizofrenia têm muitas vezes dificuldades em

satisfazer as suas necessidades e desejos devido à sua doença. Ausência de

relações interpessoais satisfatórias estaria assim na origem da esquizofrenia.

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2.1.3 – Teoria Familiar

As teorias familiares são baseadas na forma de comunicação entre os

diversos membros da família Através das pesquisas desenvolvidas, aparecem

o conceito (mãe esquizofrenogênica); mães possessivas e dominadoras com

os filhos como causadora da personalidade esquizofrênica.As teorias familiares

apareceram em 1950 e apesar de despertar grande interesse histórico

,apresentam pouco fundamento científico.

O movimento da Antipsiquiatria, na década de 1960, na Inglaterra,

liderado pelos psiquiatras e psicanalistas Ronald Laing, David Cooper e Aaron

Esterson, elabora uma referência teórica para a esquizofrenia, inspirada na

escola de Palo Alto, conhecida como a teoria da lógica das comunicações. É

uma explicação causal da esquizofrenia calcada nos problemas de

comunicação entre as pessoas. (Fleming: 1976, 89).

Entretanto, em 1975, Hirsh e Leff realizaram um amplo e bem

organizado estudo para testar a hipótese da família como causa da

esquizofrenia e concluíram que faltavam evidências substanciais para sustentar

qualquer uma das teorias que imputavam às relações familiares a gênese da

doença.

Porém, muitos resultados de investigação afirmam que o ambiente

familiar é um estressor das doenças mentais.

2.1.4 – Teoria Genética

Admite que vários genes possam estar envolvidos, contribuindo

juntamente com os fatores ambientais para surgir a doença. Sabe-se que a

probabilidade de um indivíduo vir a sofrer de esquizofrenia aumenta se houver

um caso desta doença na família.

Pessoas sem nenhum parente esquizofrênico têm 1% de chances de

virem a desenvolver esquizofrenia; com algum parente distante essa chance

aumenta para 3 a 5%. Com um pai ou mãe aumenta para 10 a 15%, com um

irmão esquizofrênico as chances aumentam para aproximadamente20%;

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quando o irmão possui o mesmo código genético (gêmeo idêntico) as chances

de o outro vir a ter esquizofrenia são de 50 a 60%.

É provável que a Teoria Genética seja a mais bem demonstrada de

todas as outras.

Além das teorias descritas acima existem outras, a saber: teoria

bioquímica, teoria do fluxo sanguíneo cerebral, teoria biológica molecular,

teoria do estresse, teoria das drogas, teoria nutricional e teoria viral.

2.2 – A Família

Segundo Philippe Áries, 1981 “História Social da Criança e da Família”,

a nossa sociedade ocidental investiu e idealizou intensamente o núcleo

familiar; já que a família é tudo, também é responsável por tudo. Se tudo se

remete á família, tudo é culpa da família.

Compreender o lugar especial da família nas sociedades ocidentais, e

conhecer o seu processo histórico e social, é importante para entender sobre

as vivencias dos familiares, de pacientes com transtornos mentais em especial,

a esquizofrenia; portanto faremos um breve histórico do processo evolutivo da

família, desde a era medieval/colonial; principalmente no que diz respeito à

educação das crianças.

2.2.1 – A família antes

Antes, as famílias eram grandes agrupamentos compostos não apenas

por parentes consangüíneos, mas também, pelos servidores e protegidos.

A casa colonial nessa época era um misto de unidade de produção, de

consumo e de alimentação, dos utensílios domésticos. Não havia nessas

habitações separação entre vida profissional, vida privada e vida social. Na

sociedade medieval, não existia condições objetivas para a formação de uma

noção de privacidade e de intimidade entre os indivíduos em suas habitações.

Exemplo disso, é que somente mais tarde as camas tiveram seu uso reservada

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apenas ao quarto de dormir. O desejo de isolamento e de intimidade é

relativamente recente.

Na Europa medieval a duração da infância era reduzida ao seu período

mais frágil. De criancinha pequena, ela se transformava em adulto jovem, sem

passar pelas etapas da latência e da puberdade, aspectos essenciais da

sociedade moderna.

No que se refere ao cuidado com as crianças, a família costumava

enviar seus filhos a partir dos sete anos de idade, para outros lares, onde eram

educadas e realizavam tarefas diversas; em troca, recebiam em suas casas

outras crianças, todas chamadas de aprendizes. Desta forma, não cabia à

família de origem a função de socialização, transmissão de conhecimentos e

valores, às crianças; não havendo, contudo condições de nutrir um sentimento

intenso entre pais e filhos Nesse contexto, à família era entendida como uma

realidade moral e social e não de natureza sentimental.

A transformação da família medieval para a moderna foi possível porque

a família modificou suas relações e atribuições com a criança. Áries defende a

idéia de que a escola se constituiu no marco fundamental dessa passagem,

rompendo o convívio da criança com o mundo dos adultos. Simultaneamente

ao fortalecimento da escola, a casa da família foi perdendo seu caráter de

espaço social aberto a visitação publica e aos negócios, para se fechar em sua

privacidade.

A partir do século XVIII, esse modelo de família, nuclear e

sentimental, antes reservado a burguesia e à nobreza, se espalhou lentamente

na consciência de todas as camadas da população. Os pais, por seu lado,

passaram a desejar estar cada vez mais próximo dos filhos, o que lhes permitia

fortalecer os laços afetivos e exercer uma vigilância mais adequada.

A partir dessa transição novas questões apareceram, a mulher nervosa,

a esposa frigida, a moça estérica, o marido impotente, a homossexualidade, os

desvios sexuais perversos. Repentinamente a família, coluna mestra da

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sociedade além dos desvios do sexo e das mazelas do desenvolvimento infantil

insatisfatório passou a manifestar o germe da irrupção da psicose.

A família nuclear moderna passou a ser uma ávida consumidora de tudo

aquilo que poderia ajudá-la a cumprir suas funções.

Nasceu assim uma demanda incessante por parte da família que

mergulhada em suas dificuldades pede ajuda. Foi apoiada pelos padres, pelos

médicos higienistas, psiquiatras (psiquiatria moral, pedagogos, psicanalistas e

mais recentemente pelos terapeutas de família).

Concluindo, no início do séc.XX, ainda competiam duas formas

diferentes de gestão da sexualidade: a do padre, atrelado ao poder das

famílias, e a do médico, que operava no registro da higiene pública e do

interesse superior da sociedade.

2.2.2 – A família atual

O conceito de família é bastante modificado com a história, chegando a

idéia de grupo social que mantêm laços de afetividade. A família

contemporânea está mudando seus padrões de forma muito acelerada. Nossa

sociedade atribui grande importância a família, lugar obrigatório dos afetos, do

sentimento e do amor.

Se pode dizer que a família é um sistema social imprescindível para a

continuação da espécie humana. para Ackerman (1986): “A família é um

modelo universal para o viver. Ela é unidade de crescimento, de experiência,

de sucesso e fracasso; ela é também a unidade da saúde e da doença.”

A estrutura familiar atual, centrada na afeição e na intensificação das

relações entre pais e filhos e na privacidade de suas casas, é uma invenção

relativamente recente na história do homem ocidental.

O casamento baseado na concepção moderna de amor indissolúvel, que

habitou o imaginário social romântico e burguês do período de ouro da

modernidade, parece estar em franca decadência. Nas condições históricas

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atuais, casamentos e famílias passaram a desfazer-se e refazer-se

continuamente.

A típica família moderna, é formada geralmente pelo homem provedor

financeiro, pela mãe dona de casa e pelos filhos solteiros vivendo sobre o

mesmo teto. Sendo assim, os pais, os cônjuges, tornaram-se os principais

agentes de constituição da família nuclear sentimental.

Observa-se que tanto homens quanto mulheres contemporâneas, têm

apresentado diversas formas de arranjos, de se relacionarem afetiva e

sexualmente, tanto dentro como fora do casamento. E, com o decorrer das

mudanças, a família não sumiu; ela tem procurado estabelecer os seus limites,

se tornando mais plástica e flexível.

No que se refere à educação e à formação das crianças até a idade

adulta, são grandes os deveres e as exigências a que os pais estão sujeitos na

sociedade contemporânea. Numa sociedade que busca a racionalidade, a

eficiência e a qualidade de vida, tornou-se uma tarefa muito difícil e complexa

amar e cuidar dos filhos. Os pais nem sempre estão seguros de seus sentimentos e de como agir

em relação a seus filhos. Nem sempre sabem se estão agindo corretamente.

Eles deveriam encontrar a justa medida, nem mais, nem menos que o

necessário para moldar os filhos em seu desenvolvimento.

A família moderna tem procurado sem cessar respostas para suas

questões e contradições. Responsabiliza-se quase que integralmente pela

educação, desenvolvimento e formação das crianças, pela felicidade e bem-

estar de seus membros. Nesse sentido, se a família é tão relevante, se a

família é tudo ou quase tudo, ela também, torna-se responsável por tudo o que

possa suceder a seus membros.

Os discursos psiquiátricos e psicanalíticos atribuem muitas vezes, a

gênese dos transtornos psíquicos aos problemas nas relações familiares.

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2.3 – Sentimentos vivenciados pelos familiares dos

esquizofrênicos

“Nem culpados, nem inocentes, nem vitimas. E

possível sair do registro do julgamento e da dualidade, para

além do “bem” e do “mal”. É possível escapar da

necessidade de encontrar um responsável por todos os

eventuais infortúnios da vida”. (Jonas Melman).

Na história da humanidade, a moral e a culpa sempre andaram de mãos

dadas uma se apoiando na outra. Com o nascimento da psicopatologia familiar,

centrada no estudo dos transtornos familiares, além da ampliar e enriquecer, os

conhecimentos nesse campo inauguraram a chamada fase de culpabilização

da família. ¨

A doença mental continua sendo motivo de muita vergonha para os

familiares. Em geral, sabemos como nos comportar no trabalho, nas situações

sociais corriqueiras, nos rituais religiosos, mas ninguém nos ensina a relacionar

com as doenças mentais, a não ser com modelos de rejeição e indiferença.

É comum já desde crianças, incorporarmos os valores e preconceitos

com relação à loucura, valores estes muitas vezes presentes em nossos

familiares.

A maioria das pessoas não sabe como agir quando precisa lidar com

comportamentos estranhos. Perdem o chão, ficam paralisadas quando alguém

da família alucina. Não sabem se confrontam, brigam ou se colocam limite.

Devem-se calar, ou fingir aceitar a “realidade” do outro, tão estranha do mundo

coloquial. Ficam na dúvida se explicam ou não para as outras pessoas o que

está acontecendo com o doente. e se devem ou não afastá-lo dos outros.

Atualmente, a família tem assumido a responsabilidade por qualquer

anormalidade que possa romper com a expectativa de criar filhos fortes,

saudáveis, preparados para o mercado de trabalho e para viverem em

comunidade.

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A culpa reflete o processo vivido por muitos familiares que passam a se

sentir responsabilizados pelo adoecimento de um dos seus membros.

A pesar das profundas mudanças pelas quais a família está passando,

muitos pais ainda vivenciam muita insegurança no que diz respeito à formação

e a educação dos filhos, e usualmente os pais demonstram sentimentos de

culpa, revolta, tristeza, medo e frustração. Não somente com relação ao filho,

mas quando qualquer elemento da família adoece mentalmente, é comum

ocorrer esses mesmos sentimentos.

O adoecimento de um filho abala geralmente de forma intensa, a auto-

estima dos pais; o filho doente parece manifestar para muitos pais, uma

denuncia das falhas do sistema familiar, que não geriu com vitória sua missão

de formar os filhos. A ferida no narcisismo dos pais expõe fragilidades e

conflitos, estimulando reflexões relativas à eventual responsabilidade na origem

e desencadeamento do quadro psicótico.

Da mesma forma que o paciente esquizofrênico sofre duas vezes, pela

doença e pelo preconceito, a família também sofre duas vezes, com a doença

do filho e com a discriminação da sociedade.

O surto psicótico de um membro da família e a convivência diária com a

pessoa adoecida mentalmente é razão para muita angústia, desorganizando e

sobrecarregando a vida de todos aqueles mais envolvidos no relacionamento

cotidiano.

Com o movimento de Desistitucionalização / Desospitalização, resultado

da Reforma Psiquiátrica, as famílias se viram estimuladas e pressionadas a

voltar a assumir a responsabilidade pelo cuidado de seus membros doentes;

isto é, elas se sentiram sobrecarregadas por encargos que envolvem a função

de acompanhar e de cuidá-los Esta demanda acontece em todos os níveis:

afetivo, econômico e social.

Sobrecarga econômica: Se refere entre outras, aos custos com

medicação, tratamento, alimentação, vestuário, transporte, mesmo quando

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fazem uso do serviço público de saúde. Freqüentemente, um familiar precisa

ficar cuidando da pessoa adoecida, o que impossibilita seu acesso ao trabalho.

Sobrecarga afetiva ou emocional: diz respeito ao estresse, as vivências

de instabilidade e insegurança, os conflitos freqüentes nas relações que fazem

parte do cotidiano dessas pessoas.

Sobrecarga social: Os familiares, motivados pela vergonha, cansaço ou

frustração, comumente se distanciam de certas atividades sociais , como por

ex. festas e eventos culturais; restringindo a visitas na casa de amigos

próximos e parentes.

As maneiras dos familiares se relacionarem com as dificuldades e

sentimentos são decisivamente influenciados pelos seus valores religiosos,

econômicos, ideológicos e culturais, etc.

Para tanto, os estudos da Antropologia Psiquiátrica procuram elucidar as

eventuais influências da cultura de uma determinada sociedade na maneira

como os indivíduos olham, sentem e experimentam o fenômeno do adoecer

psíquico, incluindo as atitudes e respostas ao tratamento.

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CAPÍTULO III

A Humanização no tratamento da esquizofrenia

“Estou de acordo que um esquizofrênico é um

esquizofrênico, mas uma coisa é importante: ele é

um homem e tem necessidade de afeto, de dinheiro

e de trabalho; é um homem total e nós devemos

responder não à sua esquizofrenia, mas ao seu ser

social e político”

Franco Basaglia

3.1 – O tratamento do esquizofrênico

3.1.1 – Farmacológico ou Medicamentoso

Os remédios são considerados a alternativa mais eficaz para tratar a

esquizofrenia. Outras formas de terapia complementam, mas não o substituem

As medicações servem para regular as atividades cerebrais desequilibradas,

isto é, ajustar o que estava desajustado. Infelizmente, no tratamento da

esquizofrenia elas não realizam essa função completamente.

Entretanto, há uma resistência natural com relação ao uso das

medicações, geralmente em conseqüência da maneira como se entende a

doença.

Os antipsicóticos são eficazes no combate dos sintomas da

esquizofrenia em 70% dos casos. Existem os típicos e os atípicos. Os mais

conhecidos, inibem fortemente os receptores D2 da Dopamina das vias

dopaminérgica ligadas ao Sistema Límbico do cérebro.

Os exemplos mais comuns de antipsicóticos típico é o haloperidol, o

amplictil, o haldol e a clorpromazina. Os antipsicóticos atípicos são uma

evidência contrária á hipótese dopamínica, pois agem fracamente sobre os

receptores D2. Onde predomina a sintomatologia negativa, a clozapina tem

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apresentado sucesso e necessário se faz a realização periódica de um

hemograma.

A referência bibliográfica indica também como atípicos, a risperidona e a

olanzapina, ambos apresentam um alto custo econômico.

É bastante útil que o doente tenha conhecimento sobre a doença, seus

sintomas, que tenha um papel ativo no tratamento e controle de sua

enfermidade. Sendo por isso vantajoso que sigam alguns cuidados, a saber:

• Permanecer fiel ao seu tratamento; se achar que a medicação não está a

ajudar ou sentir efeitos não desejáveis,

• Deve avisar o médico; ter o cuidado de conservar um ritmo de sono e

vigília correto, com as horas de sono necessárias;

• Evitar o estresse;

• Deve manter rotinas normais, de higiene, alimentação, atividade dentro e

fora de casa;

• Evitar as drogas;

• Procurar ter horas para dormir, comer e trabalhar;

• Fixar um programa de atividades para cada dia;

• Permanecer em contato com as outras pessoas (relacionamento

interpessoal);

• Manter o contato com o psiquiatra/equipe de saúde mental; e

• Praticar esporte pelo menos uma vez r semana.

3.1.2 – Psicoterápico e extra-hospitalar

A maioria dos serviços de saúde mental em todo mundo, ou mais

especificamente, as diversas abordagens terapêuticas na intervenção ao

doente esquizofrênico, sustentam seus projetos de tratamento basicamente em

torno de dois instrumentos: psicofármacos ou acompanhamento médico-

medicamentoso e a psicoterapia. A psicoterapia (individual ou grupal), a

intervenção familiar, a musicoterapia, a terapia ocupacional e a psicoeducação.

A psicoterapia é indicada dentre outras razões, quando há necessidade

de apoio para alívio das ansiedades de fundo emocional.

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A Desospitalização e Desistitucionalização, o movimento crítico e a

reforma na psiquiatria, presente em muitos países, inclusive no Brasil, se

orienta no sentido de substituir o tratamento centrado no hospital psiquiátrico

para a assistência na comunidade. Com essa nova realidade, cada vez mais

pessoas passam a ser assistidas em serviços extra-hospitalares.

Com o movimento da reforma psiquiátrica no Brasil surge como

“alternativa” ao modelo psiquiátrico clássico o modelo preventivista que postula

o seguinte.

• “Um novo objeto – a saúde mental

• Um novo objetivo – a prevenção da saúde mental

• Um novo sujeito do tratamento – a coletividade

• Um novo agente profissional – as equipes comunitárias

• Uma nova concepção de personalidade – a unidade biopsicossicial”

(Segundo Paulo Amarante, a Trajetória da reforma Psiquiátrica no Brasil, p, 41)

Esse fenômeno de diminuição de leitos e fechamento de alguns

hospitais trouxe a necessidade de reinserir na comunidade pacientes que

estiveram internados por períodos prolongados.

Importância também deve ser dada à reabilitação psicossocial, que deve

ser encarada como um processo contínuo, pois uma das grandes dificuldades

dos doentes portadores de esquizofrenia é a sua integração no mercado de

trabalho.

Para Jonas Melman, psicóticos crônicos são pessoas com sérios

problemas existenciais que experimentam repetidos insucessos pessoais e

sociais na tentativa de satisfazer suas necessidades e desejos; nessa

concepção o trabalho de reabilitação psicossocial seria entendido como um

processo visando reabilitar e desenvolver novas atitudes e comportamentos

nos pacientes, familiares e nos profissionais de saúde; isto é, propiciar

mudanças, o que se trata de um processo bastante complexo.

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Para atingir os objetivos necessários, já se encontra em funcionamento

em nossos dias uma rede ampla e diferenciada dos chamados serviços

substitutivos ao modelo psiquiátrico tradicional, ou , à estrutura manicomial ; a

saber: Centros de Atenção Psicossocial- CAPS; Núcleos de Atenção

Psicossocial- NAPS; Hospitais-Dia; Residências Terapêuticas ou Projetos de

Moradia Assistida; Centros de Convivência e Cultura; Leitos Psiquiátricos em

Hospitais Gerais; Programa de Volta Para Casa.

Procura-se ampliar essas iniciativas para a esfera do trabalho, da

moradia, do direito, do lazer e da cultura.

Esse conjunto de medidas terapêuticas e práticas psicossociais, não se

reduzem a intervir somente na bioquímica do cérebro ou na dimensão

psicológicas dos fenômenos; mas sim, são dirigidas a manter a pessoa na

comunidade.

Infelizmente os programas político-sociais de inserção dos doentes

mentais na sociedade, costumam ignorar o grande sofrimento e necessidades

da família. Num país como o Brasil, a assistência à família do esquizofrênico

tem que ser um programa governamental indispensável, para que se possa

preservar o desempenho social (estudo, trabalho, profissão) dos parentes dos

pacientes esquizofrênicos.

Ciompi,1987, concluiu que o peso das variáveis sociais e situacionais é

maior do que o peso das variáveis psicopatológicas para o sucesso do

tratamento.

3.2 – Modalidades de intervenção

3.2.1 – Terapias Familiares Sistêmicas:

No final da década de 50, uma equipe de norte-americanos liderados

por Bateson, utilizando a teoria Geral de Sistemas formulada por Von

Bertalanff, realizou uma pesquisa com familiares de pacientes esquizofrênicos

procurando identificar os padrões de interação de comunicação nos vínculos

interpessoais estáveis. Também com o grupo de Palo Alto esta teoria passou a

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enfocar seu trabalho, não na clarificação dos conteúdos inconscientes, mas na

mudança dos padrões interativos no seio de uma família.

3.2.2 – Terapias Familiares Psicanalítica:

A psicanálise exerceu influência expressiva nos conceitos que se refere

à participação da família no fenômeno do adoecimento mental.

Na Argentina, no final da década de 50, Pichon-Rivière inclui a família

na sua compreensão de doença mental. O autor desenvolve a noção do

paciente como emergente de um grupo familiar doente, assumindo a função de

depositário e porta-voz da patologia de toda à família.

O paciente, ao carregar o papel de doente do grupo, permite que os

outros caminhem relativamente bem e se encontram protegidos dos sintomas

mais graves.

A psicanalista Denise Morel (1990) revela que as terapias investem

quase toda a sua energia principalmente ou apenas na superação dos

sintomas. Ela partiu da hipótese de que todas as pessoas, mesmo as mais

doentes, além de sintomas, possuem talentos. E sugere que quando o olhar

consegue se deslocar para o talento, para o lado mais saudável, para as forças

da vida¨ , o espaço terapêutico pode mobilizar o potencial criativo de cada

pessoa.

3.2.3 – Intervenções Psicoeducativas

Esta intervenção tem por finalidade essencial diminuir ou impedir

recaídas, correlacionando vulnerabilidade individual com fatores de estresse

ambiental.

O modelo sugere que contingências estressantes da vida, podem

desencadear episódios psicóticos a partir de algum grau de vulnerabilidade

individual.

Na década de 60, os ingleses Wing e (Brown et al,1972) , dirigiram

suas investigações para avaliar o grau de adaptação social dos paciente

egressos do hospital que retornaram ao convívio com a família. Observaram

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que nos familiares que apresentaram um alto grau de envolvimento emocional,

havia maior taxa de recaídas, no que se refere à regudização dos sintomas.

3.2.4– Intervenções na rede social

A presença de doenças de curso prolongado, como câncer, doenças

neurológicas, esquizofrenia etc., comprometem a qualidade da interação social,

reduzindo o tamanho da rede social.

Incluem todo o conjunto de vínculos interpessoais significativos do

sujeito: família, amigos, relações de trabalho, de estudo, vínculos na

comunidade, vínculos coletivos, sociais e políticos.

Atualmente, existem fortes evidências de que uma rede social estável,

forte e solidária protege a pessoa contra doenças, aumenta a sobrevida e

acelera os processos de cura.

(Lehtinen ,1994) O manejo da rede de apoio é um instrumento

fundamental para o tratamento dos pacientes psiquiátricos.

Os vínculos interpessoais que se estabelecem no cotidiano dos

serviços de saúde também fazem parte da rede social.

(Durkhein ,1951) Já apontava a importância das redes sociais , ao

evidenciar uma maior probabilidade de suicídio nos indivíduos mais isolados

socialmente.

3.2.5 – O Psicodrama - O Grupo Como Espaço de Acolhimento

O Psicodrama de Moreno é um tipo de terapia grupal que utiliza

técnicas adaptadas do teatro. Pouco reconhecido, mas representa uma das

contribuições pioneiras para a formação do campo da terapia familiar.

A ação terapêutica considera todas as pessoas envolvidas em uma

determinada situação conflitante. Ação centrada no próprio grupo; onde os

terapeutas passam a compartilhar a responsabilidade pela superação dos

conflitos. Falar dos sentimentos e das vivências íntimas pressupõe confiança

na capacidade do terapeuta e no comprometimento do grupo com os objetivos

da proposta.

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No lugar da busca incessante, e tantas vezes inútil das “causas” e das

verdades, emerge um campo rico de possibilidades que valoriza as reflexões

do grupo, no qual ninguém tem a palavra final.

Na tentativa de conhecer a natureza das relações dos familiares com

parentes adoecidos, a experiência grupal volta-se mais para a “fisiologia” das

relações parentais, que de sua psicopatologia.

- Oficinas Culturais e Cursos para Familiares

Diferentes tipos de oficinas podem ser inventados, a saber: de rádio

Cantoria, percussão, papel reciclável, marcenaria, danças folclóricas,

pintura, teatro, artes plásticas e assim por diante.

Elas são coordenadas por profissionais habilitados de uma

determinada área e com vivência pessoal no uso do material e das técnicas a

serem transmitidas.

Os familiares, com muita freqüência, solicitam informações e opiniões

sobre as mais diferentes questões do campo da saúde mental. Perguntas

sobre o uso e o efeito dos fármacos, modalidades de tratamentos, quadros

clínicos dos transtornos, vida sexual dos pacientes, como lidar com os

pacientes em casa enfim, tudo o que possa contribuir para a compreensão do

problema.

Importância deve ser dada a natureza da comunicação e da linguagem

utilizadas pelos responsáveis dos Cursos; que devem ser adaptadas às

características da clientela a que se destina. Temas sugestivos:

• História da loucura e da psiquiatria

• Concepções atuais sobre tratamento em saúde mental

• Noções gerais sobre medicamentos

• Vivência dos familiares nos transtornos mentais

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3.3 – A família e o profissional de saúde no tratamento do

esquizofrênico:

3.3.1 O papel da Família e do Profissional de Saúde

O papel ativo da família é essencial para o tratamento, a reabilitação e a

reinserção social do paciente que sofre de esquizofrenia. O nível de

recuperação que se tem com o tratamento da esquizofrenia é muito baixo.

Muitas famílias procuram apoio junto aos técnicos de saúde, permitindo assim

que superem e sobrevivam às dificuldades que encontram. .

Na tentativa de se obter melhores resultados, é de suma importância

que o tratamento como um todo, seja realizado por uma equipe interprofissional

especializada em saúde mental.

É comum os contatos iniciais entre terapeutas, pacientes ou familiares

serem por meio de entrevistas individuais, pois, costuma ser através destas

que as pessoas se sentem mais desinibidas e menos constrangidas para

abordar os seus problemas.

A família também deve estar preparada para quando uma eventual

internação hospitalar se fizer necessária, procurando sempre estar presente

apoiando o paciente internado e participando da evolução do tratamento.

Um ambiente familiar excessivamente crítico e estressante é

desfavorável para o tratamento. Alguns familiares mostram uma tendência para

a superproteção e o hiperenvolvimento, intensificando muito os conflitos e

dificultando os acordos.

É comum os familiares se depararem com expectativas pessimistas em

relação à possibilidade de melhora do quadro. Resgatar a esperança é

fundamental em qualquer modalidade de intervenção.

Comumente se verifica que os familiares manifestam algum grau de

resistência a modificar suas concepções e valores sobre o fenômeno do

adoecer mental. Ainda relatam com alguma freqüência, a existência de

comentários culpabilizantes por parte de alguns técnicos, que direta ou

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indiretamente responsabiliza a família pelo adoecimento do paciente. A família

costuma ser vista como desestruturada, fria, indiferente ou mesmo hostil ao

paciente. Essa natureza de relação contribui para reforçar a resistência das

pessoas em participar mais ativamente do tratamento.

Ao iniciar sua participação em alguma prática de cuidado, a maioria

dos familiares está envolvida em suas próprias vidas de dor, dificuldades e

culpa Como resultado de um cotidiano sobrecarregado, da ausência de

informações qualificadas, de experiências repetidas de fracasso, muitos

indivíduos organizam sua existência de forma empobrecida e estereotipada,

diminuindo suas reais possibilidades de vida.

Sem dúvida, é nos familiares que mais se envolvem e menos toleram

as mudanças geradas a partir do surgimento de um transtorno mental que se

encontra as maiores dificuldades em lidar com a nova realidade de vida. Aqui

também, existirá necessidade de readaptação e de aquisição de novas tarefas

e habilidades.

A relação terapêutica com os familiares é um campo tenso, permeado

pelo medo e pela culpa. Trata-se de uma relação assimétrica, na qual o poder

maior do técnico pode ser utilizado de diferentes maneiras. . A aproximação do

universo desses familiares pede paciência e sensibilidade...

O profissional de saúde no papel de cuidador, daquele que é

responsável pelo tratamento, deve procurar reforçar os aspectos mais

saudáveis e criativos das pessoas envolvidas, sejam elas paciente ou familiar

Os problemas, sentimentos e situações que ocorrem na família dos

esquizofrênicos, são interligados, portanto, devem ser vistos de maneira global;

geralmente são os seguintes:

• Medo - “Ele poderá fazer mal a si ou às outras pessoas?”

• Negação da gravidade -“Isso daqui a pouco passa”

• Incapacidade de falar ou pensar em outra coisa que não seja a doença-

“Toda a nossa vida gira em torno do nosso filho doente”

• Isolamento social -“As pessoas até nos procuram, mas não temos como

fazer os programas que nos propõem”

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• Constante busca de explicações -“Ele está assim por algo que fizemos”

• Depressão -“Não consigo falar da doença do meu filho sem chorar”

Atualmente, existem muitas evidências que demonstram a eficácia das

intervenções familiares em promover melhora do quadro clínico, diminuir ou

atenuar recaídas e reduzir o número de internações psiquiátricas nos pacientes

com transtorno mental severo.

3.3.2 – A Família como Recurso

Exemplo de Experiência de Familiar como Recurso: Grupo de Familiar

de Jonas Melman

Experiência onde somam o desejo de mudança pessoal com a

ambição de transformação social

O Grupo de Familiares, surgiu da parceria entre o Centro de Atenção

Psicossocial Prof. Luís da Rocha Cerqueira (CAPS), serviço público dirigido ao

tratamento, ao ensino e à pesquisa na área da saúde mental e a Associação

Franco Basaglia, organização não-governamental, sem fins lucrativos que, que

atua no campo da saúde mental , reunindo usuários, familiares e profissionais

no estado de São Paulo .

Objetivamente o Grupo de Familiares é dividido em Reunião de

Projetos (discutem e realizam ações e iniciativas ligadas à Associação) e

Grupo Terapêutico (espaço de acolhimento e demandas subjetivas dos

participantes).

Os integrantes passaram a participar ativamente da organização e da

administração da Associação, possibilitando múltiplas atividades, tais como:

Exercer cargos na diretoria, organizar festas e eventos para

arrecadação de fundos, desenvolverem campanhas para aumentar o número

dos sócios, organizarem reuniões para reivindicar mudanças na assistência

oferecida pelo CAPS, visitar familiares e pacientes em dificuldades,

acompanhar comissões oficiais de avaliação de hospitais psiquiátricos públicos

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e conveniados, ajudar na confecção de chocolates para venderem na Páscoa

etc.

O profissional de saúde deve desenvolver modalidades de cuidado mais

apropriadas às necessidades peculiares dos familiares, pois, não existe um

modelo universal de familiar. Cada pessoa tem um estilo singular de viver e de

lidar com as situações de vida. Cada um tem sua maneira particular de olhar e

reagir em relação às doenças mentais

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CONCLUSÃO

.Na nossa sociedade, a doença mental, loucura ou a esquizofrenia.,

ainda é encarada com muito preconceito. O que torna o assunto que

abordamos neste trabalho de difícil discussão

A visão do louco e da loucura sofreu mudanças no decorrer da história;

mas é certo que, o conceito de normal e patológico é relativo e depende do

ponto de vista cultural.

Tentando retomar a questão inicial de nosso estudo onde se questiona

a dificuldade e o sofrimento que o esquizofrênico sente no seu relacionamento

com os outros, podemos arriscar em afirmar que novamente os motivos são

devido ao preconceito, vergonha e medo que as pessoas geralmente sentem.

O preconceito também é sentido dentro da estrutura familiar, que

também rejeita o seu doente, por questões culturais..No entanto, a nossa

sociedade valoriza muito a família, responsabilizando-a por tudo.Responsável

pela transmissão de bens e valores, não é ensinado como nos relacionar com

indivíduos doentes mentalmente; e quando se tem um filho esquizofrênico, a

família se destabiliza, se sente culpada, por algo que ninguém, nem ela, nem o

paciente tem culpa.

Muitos autores imputam na família a origem dos transtornos mentais,

sob as mais diversas alegações: problema na qualidade da comunicação na

família, violência explícita ou implícita, pobreza material ou afetiva,,etc,

justificando que tais condições podem colaborar para o surgimento das

enfermidades mentais

No contexto de importância da qualidade das relações familiares, a

presença, e o apoio da família são de grande importância, para possibilitar a

recuperação do indivíduo portador de esquizofrenia.

Quando a doença se instala, não há dúvida de que tanto o paciente,

como seus familiares precisam de ajuda, não só dos amigos, mas de ajuda

profissional. É necessário que toda a família mude se adapte à nova situação.

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O paciente, precisa de ajuda, a família, precisa ser ajudada, para ajudar o

paciente. O profissional de saúde desempenha o papel de mediador, de

prestador de serviço, de cuidador. De acordo com depoimentos familiares, ö

psiquiatra tem de ter um envolvimento total com a pessoa. Sua atuação é

fundamental no difícil processo de tentar mudar o papel da família, de ao invés

de vítima, poder ser considerada como Recurso em todo o processo de

tratamento, reabilitação e reinserção do paciente psiquiátrico na sociedade. .

Mas, nem sempre os profissionais estão sensibilizados, motivados ou

especializados para a tarefa de acolher e cuidar dos familiares. Atualmente

existem evidências significativas que garantem a eficácia dos programas de

intervenção familiar em conjunto com medicação neuroléptica e psicoterapias,

tanto para a diminuição das recaídas dos pacientes esquizofrênicos, como para

auxiliar pacientes e familiares a encontrar nova maneira de viver.

Embora, infelizmente em nosso país sejam escassos os programas

que atenda de maneira satisfatória, os familiares de pacientes portadores de

transtorno mental.

A reforma psiquiátrica foi um grande ganho no campo da saúde mental,

entendida como processo amplo de promoção da cidadania. É sustentada por

documentos, conferências e portarias, que objetiva a substituição progressiva e

gradual do hospital psiquiátrico, por uma rede de atenção integral à saúde

mental, com o objetivo de integrar na comunidade as pessoas portadoras de

transtorno mental. Vivemos numa sociedade onde o trabalho está no centro

dos valores e das preocupações, tanto que quando nos apresentamos a

alguém usamos de cara a nossa atividade profissional como referência; nesse

ínterim, a potencialização do trabalho, como um instrumento de inclusão social,

constitui um dos principais desafios da reforma psiquiátrica

Outro grande avanço no campo da saúde mental no Brasil foi a

promulgação da lei 10.216, do deputado Paulo Delgado, em 2001; constando

em anexo nesse trabalho; onde todo o movimento de desistitucionalização do

doente mental, recebe o aparato jurídico, legitimando as lutas empreendidas

em favor da reforma psiquiátrica. Importa agora, a sua real aplicação.

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Enfim, a saúde mental, além de uma questão psicológica, se trata de

uma questão política e, portanto, interessa a todos comprometidos. Não só os

sistemas, as instituições, mas também as pessoas, precisam mudar.

Pacientes, familiares e profissionais de saúde podem aprender a trocar

experiências, trabalhar em parceria, multiplicar as conexões, para juntos,

lutarem para criar novas soluções para os velhos problemas, na tentativa de

fazer um mundo com mais amorosidade, isto é, mais humanizado.

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BIBLIOGRAFIA

AMARANTE, P. Loucos pela vida. Rio de Janeiro: Panorama ESNP, 1995.

ARIÉS, P, O. História social da criança e da família. Rio de Janeiro:

Guanabara, 1981.

BIRMAN, J. A psiquiatría como discurso da moralidade. Rio de Janeiro, Graal,

1978.

MELMAN, J. Família e doença mental. São Paulo, Escrituras, 2006

DSM-IV. (American Pschiatric Association). Manual diagnóstico e estatístico

dos transtorno mentais. Porto Alegre: Artmed, 1995.

KAPLAN, H; SADOCK, B. J.; GREBB, J. A. Compêndio de psiquiatria: ciência

do comportamento e psiquiatria clínica. Porto Alegre: Artmed, 1997.

< http://www.cerebromente.org.br/n10/doencas/psicoses.html > Acesso em 28

jun. 2010.

< http://www.psicosite.com.br/tra/psi/esquizofrenia.html > Acesso em 04 mar.

2010.

< http://pt.wikipedia.org/wiki/Esquizofrenia > Acesso em 04 mar. 2010.

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ANEXOS

Índice de anexos

Anexo 1 >> A reforma psiquiátrica italiana de Franco Basaglia; Anexo 2 >> Lei nº 10.216 de 06 de abril de 2001 (Lei Paulo Delgado);

ANEXO 1

REFORMA PSIQUIÁTRICA: Na Itália: A mesma inquietação diante de realidades não menos cruéis, leva a

Itália à busca de novas soluções no trato com a loucura.

A Tradição Basagliana e a Psiquiatria Democrática Italiana:

Franco Basaglia em “A Psiquiatria Alternativa: Contra o Pessimismo da

Razão, O Otimismo da Prática”, afirma que a psiquiatria sempre colocou o

(homem) entre parênteses e se preocupou com a doença.

A tradição basagliana traz em seu interior a necessidades de uma análise

histórico-crítica a respeito da sociedade e da forma como ela se relaciona com

o sofrimento e a diferença, isto é, com o problema da loucura (

doença mental ) e da exclusão social.

Franco Basaglia critica a psiquiatria tradicional e realiza no início da

década de 1960 um trabalho de humanização no manicômio de Gorizia, na

Itália.

Em “Realidades Cruéis – Itália 1971” Franco Basaglia fecha os

manicômios acabando com a violência dos tratamentos e põe fim no aparelho

da instituição psiquiátrica tradicional; isto é, realiza a desconstrução do aparato

manicomial,concebendo novas formas de lidar com a loucura e a doença

mental,criando novos espaços na região de Trieste, a saber: constrói sete

centros de saúde mental (um para cada área da cidade, com 20 a 40 mil hab.),

funcionando 24 hs, diariamente.

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Vários grupos-apartamentos (residências), para usuários, técnicos ou

operadores voluntários, em 30 locais diferentes; cria Cooperativas de trabalho

(modalidade de cuidado/criação de possibilidades), como posto de trabalho,

para atender à necessidade dos ex-internos do hospital. Há cerca de alguns

anos as mesmas receberam novo estatuto legal na Região Friuli Venezia-

Giulia,como empresas-sociais;

Institui o Serviço de Diagnose e Cura (ou Serviço de Emergência

Psiquiátrica), com funcionamento diuturno ; no total de 8 leitos. É bom lembrar

que a lei 180 prevê 15 leitos. Este serviço serve de apoio e atua de forma

coordenada com os outros.

O movimento Psiquiatria Democrática, é um movimento político constituído a

partir de 1973 com o objetivo de construir bases sociais para

a viabilização da reforma psiquiátrica na tradição basagliana em todo o

território italiano.

O projeto de lei apresentado inspira-se em suas idéias, passando a ser

conhecido como ¨Lei Basaglia¨ (aprovada em 13 de maio de 1978).

Comparada com a legislação de 1904, a nova lei introduz importantes avanços

na assistência psiquiátrica, mesmo considerando a¨velha¨ fórmula que justifica

o internamento compulsório ( perigoso para si ou para os outros ou de

escândalo público) é substituído por um artigo de lei que, por conservar ao

médico a inteira responsabilidade do julgamento de periculosidade

social,introduz confusamente um elemento novo, a avaliação dos recursos

disponíveis a resolver o caso, permanecendo , enfim, o julgamento de

gravidade avaliado pela rejeição do paciente à internação voluntária.

Porém, abre-se a possibilidades de soluções alternativas à internação.

Contudo, não existem garantias de que a situação mudará substancialmente.

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ANEXO 2

LEI No 10.216, DE 6 DE ABRIL DE 2001.

Dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos

mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faz saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1o Os direitos e a proteção das pessoas acometidas de transtorno mental, de que trata esta Lei, são assegurados sem qualquer forma de discriminação quanto à raça, cor, sexo, orientação sexual, religião, opção política, nacionalidade, idade, família, recursos econômicos e ao grau de gravidade ou tempo de evolução de seu transtorno, ou qualquer outra.

Art. 2o Nos atendimentos em saúde mental, de qualquer natureza, a pessoa e seus familiares ou responsáveis serão formalmente cientificados dos direitos enumerados no parágrafo único deste artigo.

Parágrafo único. São direitos da pessoa portadora de transtorno mental:

I - ter acesso ao melhor tratamento do sistema de saúde, consentâneo às suas necessidades;

II - ser tratada com humanidade e respeito e no interesse exclusivo de beneficiar sua saúde, visando alcançar sua recuperação pela inserção na família, no trabalho e na comunidade;

III - ser protegida contra qualquer forma de abuso e exploração;

IV - ter garantia de sigilo nas informações prestadas;

V - ter direito à presença médica, em qualquer tempo, para esclarecer a necessidade ou não de sua hospitalização involuntária;

VI - ter livre acesso aos meios de comunicação disponíveis;

VII - receber o maior número de informações a respeito de sua doença e de seu tratamento;

VIII - ser tratada em ambiente terapêutico pelos meios menos invasivos possíveis;

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IX - ser tratada, preferencialmente, em serviços comunitários de saúde mental.

Art. 3o É responsabilidade do Estado o desenvolvimento da política de saúde mental, a assistência e a promoção de ações de saúde aos portadores de transtornos mentais, com a devida participação da sociedade e da família, a qual será prestada em estabelecimento de saúde mental, assim entendidas as instituições ou unidades que ofereçam assistência em saúde aos portadores de transtornos mentais.

Art. 4o A internação, em qualquer de suas modalidades, só será indicada quando os recursos extra-hospitalares se mostrarem insuficientes.

§ 1o O tratamento visará, como finalidade permanente, a reinserção social do paciente em seu meio.

§ 2o O tratamento em regime de internação será estruturado de forma a oferecer assistência integral à pessoa portadora de transtornos mentais, incluindo serviços médicos, de assistência social, psicológicos, ocupacionais, de lazer, e outros.

§ 3o É vedada a internação de pacientes portadores de transtornos mentais em instituições com características asilares, ou seja, aquelas desprovidas dos recursos mencionados no § 2o e que não assegurem aos pacientes os direitos enumerados no parágrafo único do art. 2o.

Art. 5o O paciente há longo tempo hospitalizado ou para o qual se caracterize situação de grave dependência institucional, decorrente de seu quadro clínico ou de ausência de suporte social, será objeto de política específica de alta planejada e reabilitação psicossocial assistida, sob responsabilidade da autoridade sanitária competente e supervisão de instância a ser definida pelo Poder Executivo, assegurada a continuidade do tratamento, quando necessário.

Art. 6o A internação psiquiátrica somente será realizada mediante laudo médico circunstanciado que caracterize os seus motivos.

Parágrafo único. São considerados os seguintes tipos de internação psiquiátrica:

I - internação voluntária: aquela que se dá com o consentimento do usuário;

II - internação involuntária: aquela que se dá sem o consentimento do usuário e a pedido de terceiro; e

III - internação compulsória: aquela determinada pela Justiça.

Art. 7o A pessoa que solicita voluntariamente sua internação, ou que a consente, deve assinar, no momento da admissão, uma declaração de que optou por esse regime de tratamento.

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Parágrafo único. O término da internação voluntária dar-se-á por solicitação escrita do paciente ou por determinação do médico assistente.

Art. 8o A internação voluntária ou involuntária somente será autorizada por médico devidamente registrado no Conselho Regional de Medicina - CRM do Estado onde se localize o estabelecimento.

§ 1o A internação psiquiátrica involuntária deverá, no prazo de setenta e duas horas, ser comunicada ao Ministério Público Estadual pelo responsável técnico do estabelecimento no qual tenha ocorrido, devendo esse mesmo procedimento ser adotado quando da respectiva alta.

§ 2o O término da internação involuntária dar-se-á por solicitação escrita do familiar, ou responsável legal, ou quando estabelecido pelo especialista responsável pelo tratamento.

Art. 9o A internação compulsória é determinada, de acordo com a legislação vigente, pelo juiz competente, que levará em conta as condições de segurança do estabelecimento, quanto à salvaguarda do paciente, dos demais internados e funcionários.

Art. 10. Evasão, transferência, acidente, intercorrência clínica grave e falecimento serão comunicados pela direção do estabelecimento de saúde mental aos familiares, ou ao representante legal do paciente, bem como à autoridade sanitária responsável, no prazo máximo de vinte e quatro horas da data da ocorrência.

Art. 11. Pesquisas científicas para fins diagnósticos ou terapêuticos não poderão ser realizadas sem o consentimento expresso do paciente, ou de seu representante legal, e sem a devida comunicação aos conselhos profissionais competentes e ao Conselho Nacional de Saúde.

Art. 12. O Conselho Nacional de Saúde, no âmbito de sua atuação, criará comissão nacional para acompanhar a implementação desta Lei.

Art. 13. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 6 de abril de 2001; 180o da Independência e 113o da República.

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO Jose Gregori José Serra Roberto Brant

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição: Universidade Cândido Mendes

Título da Monografia: Tratamento da esquizofrenia interfaces entre o papel da

família e dos profissionais de saúde mental

Autor : Luzia de Fátima Barbosa Lopes

Data da entrega: 19/07/2010

Avaliado por: Edla Lucia Trocoli Xavier da Silva

Conceito:

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Índice

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I CONHECENDO A ESQUIZOFRENIA 10

1.1. Definição 10

1.2. Um breve histórico 11

1.3. Considerações gerais 13

1. 4- Classificações sintomáticas 15

1.4.1- Sintomas positivos 15

1.4.2- Sintomas negativos 16

1.5- Tipos de esquizofrenia 17

CAPÍTULO II A ESQUIZOFRENIA E A FAMÍLIA 19

2.1- Algumas teorias sobre a suposta origem da Esquizofrenia 19

2.1.1 – Teoria Neurobiológica 20

2.1.2 – Teoria Psicanalítica 20

2.1.3 – Teoria Familiar 21

2.1.4 – Teoria Genética 21

2.2- A família 22

2.2.1- A família antes 22

2.2.2- A família atual 24

2.3- Sentimentos vivenciados pelos familiares dos esquizofrênicos 26

CAPÍTULO III A HUMANIZAÇÃO NO TRATAMENTO DA ESQUIZOFRENIA

3.1 - O tratamento do esquizofrênico 29

3.1.1- Farmacológico ou Medicamentoso 29

3.1.2- Psicoterápico e extra- hospitalar 30

3.2- Modalidades de intervenção 32

3.2.1- Terapias Familiares Sistêmicas 32

3.2.2 – Terapias Familiares Psicanalítica: 33

3.2.3- Intervenções Psicoeducativas 33

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3.2.4 – Intervenções na rede social 34

3.2.5 – O Psicodrama - O Grupo Como Espaço de Acolhimento dos familiares

nos transtornos mentais 34

3.3 - A família e o profissional de saúde no tratamento do esquizofrênico

3.3.1- O papel da Família e do Profissional de Saúde 36

3.3.2 – A Família como Recurso 38

CONCLUSÃO 40

ANEXOS 44

Anexo 1 44

Anexo 2 46

BIBIOGRAFIA CONSULTADA 43

FOLHA DE AVALIAÇÃO 49