UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA NACIONAL ESCOLA DE GESTORES DA EDUCAÇÃO BÁSICA PÚBLICA
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA – CECOP 3
MARIA DO CARMO DA SILVA SANTANA BARRETO
O DESAFIO DA INDISCIPLINA NO CONTEXTO DA SALA DE AULA: ALTERNATIVAS PARA ATUAÇÃO DOCENTE
Salvador 2015
MARIA DO CARMO DA SILVA SANTANA BARRETO
O DESAFIO DA INDISCIPLINA NO CONTEXTO DA SALA DE AULA: ALTERNATIVAS PARA ATUAÇÃO DOCENTE
Projeto Vivencial apresentado ao Programa Nacional Escola de Gestores da Educação Básica Pública, Faculdade de Educação, Universidade Federal da Bahia, como requisito para a obtenção do grau de Especialista em Coordenação Pedagógica. Orientador: Prof. Ms.Daniel Silva Pinheiro
Salvador 2015
MARIA DO CARMO DA SILVA SANTANA BARRETO
O DESAFIO DA INDISCIPLINA NO CONTEXTO DA SALA DE AULA: ALTERNATIVAS PARA ATUAÇÃO DOCENTE
Projeto Vivencial apresentado como requisito para a obtenção do grau de Especialista em Coordenação Pedagógica pelo Programa Nacional Escola de Gestores, Faculdade de Educação, Universidade Federal da Bahia.
Aprovado em janeiro de 2016.
Banca Examinadora
Primeiro Avaliador.____________________________________________________ Segundo Avaliador. ___________________________________________________ Terceiro Avaliador. ____________________________________________________
O que seria de uma orquestra, se cada músico tocasse o que quisesse? Se não houvesse disciplina? Ela é necessária. E deve ser analisada como um meio e não um fim.
Celso Vasconcellos.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus autor da minha vida, pela fé e perseverança para vencer os
obstáculos.
À minha família pela força, compreensão e paciência nos momentos em que estive
ausente durante as horas de estudos.
À Faculdade de Educação da UFBA e ao Programa Escola de Gestores pela
contribuição nesta formação.
À Secretaria Municipal de Educação de Elísio Medrado, na pessoa do Secretário
professor Willian Panfille Brandão, pela oportunidade a mim concedida e o apoio na
participação do curso.
Aos professores pesquisadores do curso de especialização - CECOP3 que com
dedicação compartilharam conhecimentos para realização desta pesquisa.
A todas as colegas do Polo de Cruz das Almas em especial as colegas de trabalho
Andrea Almeida e Jucileide Silva pela parceria e troca de conhecimentos.
À Tutora Maria Sacramento pela atenção, dedicação, auxílio, incentivo e apoio no
decorrer desta pós- graduação.
Agradeço ao meu professor pesquisador e orientador, Ms Daniel Silva Pinheiro que
muito contribui para a realização desta pesquisa e com suas competentes
orientações, se mostrou, durante o desenvolvimento deste trabalho, o próprio
exemplo de relação afetiva professor-aluno.
E finalmente, meus agradecimentos à Escola de Tempo Integral Gisélia Miranda
Leite, parceria imprescindível na realização desta pesquisa.
BARRETO, Santana Silva Maria do Carmo. O Desafio da Indisciplina no Contexto da Sala de Aula: Alternativas para Atuação Docente. 2015. Projeto Vivencial (Especialização) – Programa Nacional Escola de Gestores, Faculdade de Educação, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2015. RESUMO
A presente pesquisa discorre sobre a indisciplina no contexto da sala de aula. As causas dos problemas disciplinares são analisadas e discutidas a partir das contribuições de teóricos como Aquino, Freire, Garcia, Parrat-Dayan, Vasconcelos e Wallon. Conforme constatação da pesquisa realizada na unidade escolar definida como campo do estudo, a partir da exploração teórica e dos problemas decorrentes da indisciplina, ficou evidenciado que estes não podem ser atribuídos a uma única causa. Diversos fatores se apresentam de forma relevante no processo. Desta forma, são apontadas algumas alternativas para atuação docente tais como a adoção de uma postura de autoridade ao invés de autoritarismo, o fomento a processos de afetividade entre professores e alunos e o estreitamento das relações entre escola-família e comunidade.
Palavras-chave: Escola, sala de aula, indisciplina, aluno, docente, família,
afetividade.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
DIREC
Diretoria Regional de Educação
FNDE
Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação
CECOP
Curso de Especialização em Coordenação Pedagógica
FACE
Faculdades de Ciências Educacionais
INEP
Instituto Nacional de Educação e Pesquisa
LDB
Lei de Diretrizes e Bases
MEC
Ministério de Educação e Cultura
MinC
Ministério da Cultura
NRE
Núcleo Regional de Educação
PDDE
Programa Dinheiro Direto da Escola
PME Plano Municipal de Educação
PNE
Plano Nacional de Educação
PPP
Projeto político Pedagógico
SERPIR
Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial
UNEB
Universidade do Estado da Bahia
UFBA
Universidade Federal da Bahia
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ----------------------------------------------------------------------------- 08
1 TRAJETÓRIAS DE VIVÊNCIAS ------------------------------------------------------ 10
1.1 PERCURSO ESCOLAR E ACADÊMICO ------------------------------------------ 10
1.2 EXPERIÊNCIA DOCENTE-------------------------------------------------------------- 13
1.3 COORDENAÇÃO PEDAGÓGIA: PRÁTICAS E VIVENCIAS ------------------ 13
2. INDISCIPLINA: CONCEITO E CARACTERÍSTICAS---------------------------- 15
2.1 ANÁLISE E DISCUSSÃO DAS CAUSAS------------------------------------------- 16
2.2 FATORES LIGADOS Á FAMÍLIA. ---------------------------------------------------- 16
2.3 FATORES LIGADOS ÀS CONDIÇÕES DO TRABALHO PEDAGÓGICO 17
2.4 ALTERNATIVAS PARA MINIMIZAR A INDISCIPLINA. ------------------------ 20
3. PROPOSTA DE INTERVENÇÃO: A IMPORTÂNCIA DA AFETIVIDADE NA RELAÇÃO PROFESSOR - ALUNO. -------------------------------------------
22
3.1 DIAGNÓSTICO DA UNIDADE ESCOLAR------------------------------------------ 22
3.2 PERFIL DA ESCOLA --------------------------------------------------------------------- 22
3.3 CONTEXTUALIZAÇÃO DO PROBLEMA ------------------------------------------- 25
3.4 OBJETIVOS--------------------------------------------------------------------------------- 25
3.5 OPERACIONALIZANDO A PROPOSTA -------------------------------------------- 26
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ------------------------------------------------------------ 29
REFERÊNCIAS---------------------------------------------------------------------------- 31
8
INTRODUÇÃO
A indisciplina nos tempos atuais é um dos temas mais discutidos no âmbito
educacional. Os professores, por atuarem diretamente em sala de aula, vivenciam
cotidianamente os problemas decorrentes deste tipo de comportamento.
Vários autores têm discorrido sobre a indisciplina, com diferentes concepções,
sobre as causas que levam os alunos a desencadear comportamentos dessa
natureza. A indisciplina não se apresenta de forma passiva, mas cada vez o índice
de comportamentos adversos à disciplina vem aumentando causando preocupação
aos docentes, uma vez que este problema está afetando o desempenho da
aprendizagem e gerando sinais de violência na sala de aula. Para muitos
professores, têm se tornado um obstáculo à realização do trabalho pedagógico. Os
comportamentos de indisciplina não são oriundos de uma única causa, diferentes
fatores e influências corroboram para manifestação de conflitos. Na maioria das
vezes o professor fica impotente diante das situações de conflitos, sem a orientação
devida que sinalize alternativas para resolução dos problemas, muitos professores
tomam iniciativas que nem sempre estão de acordo com as referências de conduta
que a comunidade escolar decidiu que deveriam ser adotadas nestes casos e
encontram-se registradas em documentos oficiais.
Os comportamentos avessos á disciplina podem ser sinalizados através da
insatisfação com a metodologia do professor; “aulas sem dinamismo nem
encantamento”; espaço escolar insuficiente para realização das atividades
pedagógicas; falta de participação da família na escola; a relação professor /aluno,
sem vínculos afetivos, alunos ignorados e rotulados de “indisciplinados” ou
“incapazes de aprender”.
A indisciplina seria talvez, o inimigo número “um” do educador atual, cujo
manejo as correntes teóricas não conseguiram propor de imediato, uma vez que se
trata de algo que ultrapassa o âmbito estritamente didático pedagógico. AQUINO
(1996, p.40)
O problema da indisciplina provoca-nos um desejo de aprofundamento das
discussões, com ampliação estratégica do pensamento. O professor é acometido de
várias inquietações, para chegar a um estudo mais aprofundado dos problemas
9
referentes aos conflitos disciplinares, que têm sido alvo de professores
desmotivados, estressados ou até mesmo, doentes. No cotidiano da escola é
comum à manifestação dos alunos com comportamentos indisciplinados, atos de
agressividades, desrespeito e desobediência. Esse fato tem gerado muitos conflitos
na relação entre professor e aluno. Os professores tentam resolver da melhor
maneira possível, mas ficam impotentes e inseguros diante dos comportamentos
agressivos e acabam transferindo os alunos e o problema para a direção da escola
que, por sua vez busca resolver a situação com conversas, com a aplicação das
normas do regimento da escola, ao solicitar a presença da família e, mesmo assim
sem a obtenção de êxito.
Em virtude desta problemática, organizamos esta pesquisa-ação de caráter
exploratório, sobre o tema indisciplina na sala de aula. Diante do que foi exposto
questiona-se: quais as causas que concorrem para o problema da indisciplina dos
alunos do 3º ano do Ensino Fundamental I da Escola de Tempo Integral Gisélia
Miranda Leite?
A proposta de discorrer sobre esse tema surgiu diante das situações de
conflitos decorrentes dos comportamentos, vivenciados na escola e das
inquietações dos professores, durante os encontros de planejamentos, sinalizando
que a indisciplina tem sido um desafio constante, sendo justificativa para a falta de
desempenho na aprendizagem dos alunos.
Para a realização desta pesquisa, buscou-se o embasamento teórico através
das concepções dos autores: Aquino (1996), Freire (1996), Garcia (1994), Parrat-
Dayan (2008), Vasconcelos (1997) e Wallon (1995/96). Aplicou-se também como
instrumento, questionário e entrevista semi estruturada com os pais, professores e
alunos.
Na oportunidade de analisar algumas questões sobre o objeto de estudo,
criou-se a possibilidade da construção da Pesquisa/Projeto Vivencial tendo como
objetivo, analisar as causas da indisciplina no contexto da sala de aula e ao mesmo
tempo propor ações através da afetividade como elemento para minimizar a
indisciplina, mesmo porque o aluno ao chegar à escola já apresenta sinais de
problemas emocionais provenientes da carência de afeto por parte da família. É
10
possível que laços afetivos manifestados na relação professor/aluno contribuam
para minimizar os conflitos da indisciplina na sala de aula.
Para efeito de melhor sistematização esta pesquisa é estruturada e
apresentada em quatro capítulos: O primeiro apresenta o memorial com um relato
sobre vivências pessoais, acadêmicas e profissionais fazendo uma relação com o
percurso na função de coordenadora e o objeto de estudo da pesquisa.
O segundo capítulo trata-se dos conceitos e características da indisciplina;
análise e discussão das causas com os fatores ligados á família, as condições do
trabalho pedagógico, e apresentação de propostas alternativas para minimizar a
indisciplina, tendo por pressuposto os elementos encontrados na fundamentação
teórica e o diálogo com a comunidade escolar.
O terceiro capítulo apresenta a Proposta de Intervenção com a intenção de
contribuir para a minimização da indisciplina na turma do 3º ano / Fundamental I da
Escola em Tempo Integral Gisélia Miranda Leite.
As considerações finais estão no quarto e último capítulo para uma
compreensão maior da pesquisa.
1. TRAJETORIA DE VIVÊNCIAS
Este memorial objetiva a apresentação de relatos da minha vida pessoal,
acadêmica e profissional bem como a trajetória que me levou a uma compreensão
de uma nova visão no mundo acadêmico. Na oportunidade, mostro também como a
busca do conhecimento tem influenciado no percurso da minha profissão
principalmente na função de coordenadora pedagógica.
1.1 PERCURSO ESCOLAR E ACADÊMICO
Meu ingresso na escola aconteceu no tempo dos castigos, das palmatórias e
sanções reprovativas. Sempre fui disciplinada, pois a minha primeira educação veio
do seio da família. Cursei as séries iniciais do Ensino Fundamental I da 1ª a 4ª
séries, com muito sacrifício. Por residir em uma cidade recém-emancipada, a mesma
não dispunha, nos meados de 1972, de escolas que contemplassem as séries 5ª a
11
8ª. Com apenas 12 anos fui residir na cidade vizinha - “Amargosa” para continuar os
estudos, época marcada pela escola tradicional, com difícil acesso para o ingresso
na escola pública, pois a mesma não era gratuita.
No final da década de 70 e início de 80 conclui o 2º grau, curso de Magistério
(atualmente ensino médio). Período de muito aprendizado e ansiedade, pois teria
que passar pela etapa do estágio supervisionado, também chamado estágio de
regência. O estágio é fundamental, tornando-se “[...] um momento de efetivar um
processo de ensino-aprendizagem [...]” (Conselho Nacional de Educação, parecer
nº. 21 2001), basta indagar e refletir os conhecimentos nele providos pelo ambiente
educativo. Realizei o estágio em Escola de 1º grau, como era denominado pela LDB
de 1971, ministrando aulas para uma turma de 2ª série ( atual 1º ano).
Regressei à minha terra natal em 1982, com muitas expectativas e,
sobretudo, ávida para por em prática o aprendizado adquirido e, assim, contribuir
com a educação do meu município.
Prossegui com os estudos sempre foi meu sonho, até que surgiu a
oportunidade e, no intuito de buscar novos conhecimentos, ingressei na
Faculdade das Ciências Educacionais ( FACE) , na cidade de Santo Antonio de
Jesus 45 km da minha cidade, em 2004 no curso de Pedagogia .Foram momentos
de muita aprendizagem, seja através das leituras, discussões e ricos encontros com
orientações, acompanhamentos, análises e procedimentos, em suma, a introdução
ao mundo acadêmico me fez refletir que não era um sonho e sim uma realidade.
Nesse sentido, vale destacar o quão importante é a inserção de um
professor, com formação, apenas no ensino médio, ingressar no Ensino Superior
com a oportunidade de desenvolver um espírito investigativo tornando-se um
professor pesquisador em busca de uma autonomia profissional. FURTER (1974, p.
121) “a educação é permanente porque o homem não acaba nunca de amadurecer,
qualquer que seja a idade, o sexo e a situação sociopolítica. Nunca será
completamente formado” [grifo do autor].
Vale ressaltar o quanto é importante o professor está em constante
formação, para por em prática as experiências pedagógicas significativas
consolidadas nos espaços de conhecimento da formação continuada.
De acordo com Freire (2001),
12
... a formação permanente dos professores, o momento fundamental é o da reflexão crítica sobre a prática”. Na sua concepção o pensar sobre a prática atual ou passada é pressuposto para se melhorar a prática futura. Ele ainda aponta que nenhuma formação docente verdadeira pode estar dissociada do exercício da criticidade que implica promoção da curiosidade ingênua à curiosidade epistemológica e de outro ao reconhecimento do valor dos aspectos emotivos e afetivos. (FREIRE, 2001, p.43)
A caminhada do saber é infinita, no período de 2010 a 2011, participei do
Projeto “A Cor da Cultura” através do Curso de Formação em apoio a Lei
10.639/2003 e 11.645/2008. O Projeto é fruto de uma parceria da Fundação
Roberto Marinho e a SERPIR-Secretaria Política de Promoção da Igualdade Racial,
MEC, Minc e Petrobrás. Aprendizado muito significativo que levou a uma reflexão
sobre o processo de continuação da busca do “saber” , compreendendo que o
processo de formação dos professores torna-se elemento central na organização e
transformação institucional, consolidando um espaço possível de reflexão e
sistematização de experiências do que temos feito dentro da escola, bem como um
mecanismo institucional legítimo para garantir um processo de “formação continuada
de nós mesmos”.
No ano de 2011, aconteceu mais uma realização em minha vida, conclui o
curso de Especialização em Estudos Linguísticos e Literários pela Universidade
Federal da Bahia. Diante do percurso deste conhecimento, é
possível mencionar que o curso se configurou num tempo intenso de vida de um
aprendiz que pode afirmar que a pesquisa em educação é o dispositivo para
adquirirmos mais conhecimento e uma aprendizagem efetivamente significativa.
O educador tem que está em constante movimento na busca do saber. Em outubro
de 2012, conclui mais um Curso de Especialização em Metodologia de
Aprendizagem da Língua Portuguesa pela Faculdade Santa Cruz-BA. Diante do
conhecimento adquirido observo que os saberes acadêmicos passam por outros
significados quando problematizados nos contextos da escola e nas formas de
interagir com os alunos.
Paralelo ao curso de Especialização, participei do Curso de Formação em
Monitoramento Avaliação e Intervenção pelo Instituto Anísio Teixeira em parceria
com a Secretaria do Estado da Bahia. Dando continuidade as minhas experiências
em Formação Continuada, no ano 2013 participei dos cursos: Capacitação
13
profissional em práticas Pedagógicas, pela Universidade de Brasília; Cursos de
Competências Básicas; Programa Nacional da Alimentação Escolar; Programa
Dinheiro Direto da Escola, através do Programa Formação pela Escola/ MEC.
1.2 EXPERIÊNCIA DOCENTE
Logo após a conclusão do curso do Magistério, no ano de 1980 me inscrevi
no concurso público para professor efetivo do estado, fui aprovada, mas o número
de aprovados foi maior que o número de vagas, portanto não consegui a admissão.
A minha vida profissional sempre foi marcada por ricas experiências no
âmbito educacional. No ano de 1983 fui convidada para lecionar na Escola Estadual
João Durval Carneiro, na minha cidade. Comecei lecionar a disciplina de Língua
Portuguesa, grande foi o desafio, pois os alunos em distorção idade série muitas
vezes acabavam não assimilando os conteúdos propostos, dificultando o
desempenho da aprendizagem. Continuei a caminhada na esperança de dias
melhores na educação.
Consegui em 1991 passar no concurso público para professores da rede
estadual de ensino, passando a atuar como docente com a carga horária de 40
horas semanais. Devido à junção de duas, escolas no município a Escola que eu
lecionava passou ser chamada: Colégio Democrático Professor Rômulo Galvão .
Neste percurso profissional as experiências foram muitas. Atuei como professora,
gestora (1987/1991), coordenadora de estágio Curso Normal Médio (2008/2013);
Coordenadora dos Projetos Estruturantes de 18 escolas da Diretoria Regional de
Educação (Direc ), hoje Núcleo Regional de Educação (NRE) no período de 2008 a
2012.
1.3 COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: PRÁTICAS E VIVÊNCIAS
Em fevereiro de 2014 recebi convite do secretário municipal de educação do
município de Elísio Medrado, para atuar na equipe de Coordenação da rede
municipal de ensino, numa parceria de convênio com a Secretaria Estadual da
Educação da Bahia, por tempo determinado, aceitou o desafio e atualmente estou
14
na função de diretora pedagógica realizando atividades com a pedagogia de
projetos, junto aos coordenadores das 18 escolas da rede. Concomitantemente,
atuo também como Tutora do Programa Formação pela Escola do Fundo Nacional
de Desenvolvimento da Educação (FNDE) e Ministério de Educação e Cultura
(MEC), nos cursos que oferecem um rico aprendizado em Políticas Públicas.
Diante de tantos desafios o coordenador precisa colocar a escola em
constante movimento com metodologias motivadoras para facilitar o processo da
aprendizagem. Atualmente um dos grandes desafios na minha vida profissional é a
construção dos limites e da ética no contexto escolar. Os desafios na trajetória do
coordenador pedagógico são constantes, muitas vezes ele é solicitado para resolver
conflitos de “indisciplina”, conflitos estes, que passou a ser um dos principais
problemas da sala de aula, principalmente na turma do 3º ano”, da Escola de Tempo
Integral Gisélia Miranda Leite.
A escola foi implantada este ano (2015) e têm como, clientela, crianças
provenientes de diversas camadas sociais, que refletem sobre forma de indisciplinas
os conflitos existentes na convivência familiar, elas estão sujeitas a situações muito
difíceis em casa: falta de afeto, recursos financeiros, brigas, violência por parte dos
pais, desemprego e moradia. A simples compreensão dessa situação permite que o
professor reflita a situação e desenvolva uma relação afetiva em parceria com a
família. Sabemos que o papel da família é educar os filhos com regras, limites e
afetividade para que eles possam conviver ter uma relação sadia no convívio
social. “Atualmente convivemos com a realidade de famílias que colocam os filhos
na escola esperando que a escola exerça a função de educar o que é próprio da
família, Como afirma OLIVEIRA (2005, p.51)” os pais transferem para a escola toda,
ou quase toda responsabilidade da educação de seus filhos como estabelecer
limites e a prática dos valores morais e sociais.
Observando a problemática na Escola em Tempo Integral Gisélia Miranda
Leite, descobri que a maioria dos alunos que apresentam problemas disciplinares
são crianças carentes de afetos, atenção e com a autoestima em baixa. A educação
é um processo que se dá através do relacionamento e do afeto para que possa
frutificar. CHALITA (2004, p.152)
15
Finalmente, motivada por este curso de Pós Graduação em Coordenação
Pedagógica, pretendo colocar em prática todo o conhecimento e experiências
adquiridas e vivenciadas ao longo desta trajetória; desenvolvendo um Projeto de
Intervenção, tendo como objetivo desenvolver a afetividade na relação
professor/aluno, no propósito de minimizar a indisciplina na sala de aula.
2. INDISCIPLINA: CONCEITO E CARACTERÍSTICAS.
A educação tem apresentado no decorrer dos anos, muitas mudanças e
avanços, principalmente, mudanças de posturas dos alunos no contexto da sala de
aula, com bem descreve o professor 1 :
No cotidiano da sala de aula é comum os alunos apresentarem comportamentos que fogem dos padrões de disciplina. Os alunos não têm limites: Pulam nas carteiras, rasgam cadernos, furam os colegas com lápis, saem da sala frequentemente, sem a devida permissão. Diante dessa situação estressante, nós professores estamos perdendo o encantamento pela profissão. (PROFESSOR 1)
O desafio da Indisciplina na sala de aula tem sido motivo de preocupação
para os professores e coordenadores.
O dicionário elaborado por FERREIRA (2008) define o termo “indisciplina” como um
procedimento, ato ou dito contrário à disciplina. Complementando a explicação o
autor define a palavra disciplina como: (1) regime de ordem imposta ou mesmo
consentida, (2) ordem que convém ao bom funcionamento de uma organização, (3)
relações de subordinação do aluno ao mestre, (4) submissão a um regulamento, etc.
Pesquisando-se o verbo disciplinar encontramos como sinônimos: sujeitar (- se) ou
submeter (-se) à disciplina, castigar (-se) com disciplinas.
A indisciplina é um problema real tanto na sala de aula como na escola. Implica desobedecer às normas estabelecidas e pode expressar-se de vários modos: recusar-se a aprender, não respeitar as regras, manifestar condutas. Em geral, o conceito de indisciplina é definido em relação ao conceito de disciplina, que na linguagem corrente significa regra de conduta comum a uma coletividade para manter a boa ordem e, por extensão, a obediência à regra. Evoca-se também a sanção o castigo que se impõem quando não se obedece à regra. Assim, o conceito de disciplina está relacionado com a existência de regras; e o de indisciplina, com a desobediência a essas regras. (PARRAT-DAYAN, 2008, p.45 )
16
Observando o conceito de indisciplina de DAYAN-PARRAT (2008) vale
ressaltar que toda vez que os limites e as regras são quebrados a probabilidade dos
comportamentos de indisciplina são maiores, com manifestações de agressividade e
violência. Esta é a realidade vivenciada no contexto da sala de aula. Alunos que
não respeitam os professores e colegas e também não obedecem as regras e
limites da escola. A escola que era privilegio de “poucos” e demonstrava-se como
um espaço intocável com a frequência de pessoas ditas “ilustres” e “intelectuais” por
fazer parte deste universo do saber; passou a ser modificada com a ampliação ao
acesso da educação pública, disponibilizando a inserção da diversidade da clientela,
oriunda das diversas camadas sociais. E como consequência desta ampliação,
sugiram alguns desafios para os professores no convívio da sala de aula, “a
indisciplina”, problema discutido em todos os âmbitos educacionais.
2.1 ANÁLISE E DISCUSSÃO DAS CAUSAS
Os níveis elevados de indisciplina, manifestos em sala de aula e vivenciados
pelos professores vêm tomando proporções significativas e, como consequência
deste problema, constatam-se dificuldades para execução das atividades de ensino
aprendizagem e a manifestação crescente do relato de doenças psicossomáticas na
vida dos professores. O problema da indisciplina na escola não se apresenta em
uma única causa, mas vários fatores são responsáveis pela manifestação de ordem
indisciplinar.
2.2 FATORES LIGADOS Á FAMÍLIA.
Procurar descobrir as possíveis causas da indisciplina que levam os alunos
a manifestarem comportamentos contrários às regras disciplinares, tem sido motivo
de preocupação para os docentes nos tempos atuais.
OLIVEIRA (2005, p. 38), por exemplo, afirma que “Toda indisciplina tem uma causa
e a mesma não é, simplesmente, uma ação, mas uma reação existe fatores
determinantes da indisciplina, e um deles é a família”.
17
É possível perceber na concepção de OLIVEIRA (2005) que não existe um
único fator responsável pela indisciplina, mas outros fatores contribuem para o
processo dos comportamentos de cunho indisciplinar dos alunos, mesmo porque
eles vivem em uma sociedade que, de certa forma, influencia de forma positiva ou
negativa na vida do aluno. Mais uma vez, OLIVEIRA (2005, p.47) aponta que:
A "educação oferecida" pelos responsáveis reflete na relação da criança no convívio escolar, podendo gerar atitudes indesejáveis na escola que culminam em desobediência, agressividade, falta de respeito perante os colegas e professores. (OLIVEIRA 2005, p.47)
Segundo PARRAT-DAYAN ( 2008 p.52 ):
A indisciplina relaciona-se com conjunto de valores e expectativas que variam ao longo da história entre cultura diferente, nas diversas classes sociais. Se for verdade que sempre houve problemas de indisciplina, o desconhecimento das fronteiras entre disciplina e indisciplina fez com que esta última se tornasse um termo fundamental da educação. Os comportamentos de ordem indisciplinar passaram a ser generalizados os casos de desobediências e a ideia de limite determinados momentos não fazem da vida das crianças. A criança transfere comportamento vivenciado no contexto familiar, interferindo na ação pedagógica da sala de aula. (PARRAT-DAYAN, 2008 p.52)
Os autores em evidência mostram nas suas concepções, que a família tem
participação no processo das atitudes de indisciplinas e os problemas de diversas
ordens oriundas do convívio familiar, podem desencadear ações indisciplinadas na
escola. Observa-se que os nossos alunos refletem em sala de aula, sob forma de
indisciplina, suas insatisfações por vezes até inconscientes das consequências dos
graves problemas relacionados com recursos financeiros, conflitos emocionais,
incompreensões afetiva e violência vivenciados no seio da família. Como
resultado, eles reagem de forma indisciplinar, muitas vezes para chamar atenção
ou, até mesmo, como um pedido de socorro. Assim, a escola precisa buscar meios
de integrar a família no contexto escolar para que possa conhecer a realidade do
aluno e, juntos, desempenhar o papel de educar holisticamente, estabelecendo
limites necessários de comportamentos ao convívio social.
2.3 FATORES LIGADOS ÁS CONDIÇÕES DO TRABALHO PEDAGÓGICO.
18
A abordagem metodológica das atividades pedagógicas trabalhada de forma
desmotivada, desprovida de encantamento, sem recursos didáticos lúdicos que
possam adequar a metodologia aos conteúdos; sem a relação da vivência do aluno
ao que é proposto nos diversos componentes curriculares, são fatores que podem
provocar o desinteresse e, consequentemente, desencadear comportamento
indisciplinar. Vale lembrar que o problema da indisciplina tem sido motivo constante
no cotidiano escolar para a formação de um crescente exército de educadores
estressados, deprimidos e emocionalmente doentes. A compreensão desse fato
permite que o professor deixe de lado o autoritarismo e desenvolva uma postura de
autoridade mediante normas e regras diante das situações de conflitos.
As causas encontradas no interior da escola, por sua vez, incluem o ambiente escolar e as condições de ensino-aprendizagem, os modos de relacionamento humano, o perfil dos alunos e sua capacidade de se adaptar aos esquemas da escola. Assim, na própria relação entre professores e alunos habitam motivos para a indisciplina, e as formas de intervenção disciplinar que os professores praticam podem reforçar ou mesmo gerar
modos de indisciplina. ( GARCIA 1999, p.104). Na maioria das vezes a escola não leva em consideração o ambiente em que
vive o aluno e o seu tempo de aprender. A escola pode rever alguns aspectos de
autoritarismo que diante da situação de indisciplina passa a fazer parte do processo
da relação professor aluno. Vale ressaltar que a escola precisa estar atenta às
situações adversas vivenciadas pelo aluno e ao mesmo tempo desenvolver
atividades pedagógicas lúdicas e prazerosas, com o envolvimento e participação
efetiva da família nos projetos da escola e assim aproveitar para conhecer o
contexto social/familiar do aluno. Dessa forma, o professor poderá sentir-se
fortalecido na busca de estratégias para amenizar os conflitos da sala de aula.
O professor competente e cioso de seus deveres não é, em absoluto, um desconhecido para os alunos; muito ao contrário. Estes sabem reconhecer e respeitar as regras do jogo quando ele é bem jogado, da mesma forma que eles também sabem reconhecer quando o professor abandona seu posto. Nesse sentido, a indisciplina parece ser uma resposta clara ao abandono ou à habilidade das funções docentes em sala de aula; porque é só a partir de seu papel evidenciado concretamente na ação em sala de aula que eles podem ter clareza quanto ao seu próprio papel de aluno, complementar ao de professor. Afinal, as atitudes de nossos alunos são um
pouco da imagem de nossas próprias atitudes. (AQUINO, 1998, p.194)
19
A perspectiva de AQUINO (1998) ressalta que, o docente precisa rever suas
práticas pedagógicas e as suas funções competentes no ato de educar, muitas
vezes as reações dos problemas da relação professor/aluno são reflexos das
ações do professor, pois de acordo a nossa vivência na sala de aula é “espelho
refletido”. O professor precisa compreender que ele precisa ser menos exigente
menos inflexível em relação aos comportamentos indisciplinares.
VASCONCELOS (1997) estabelece que:
“Sem autoridade não se faz educação; o aluno precisa dela, no processo de constituição de sua personalidade. O que se critica é o autoritarismo, que é a negação da verdadeira autoridade, pois se baseia na coisificação, na domesticação do outro”. “Não existe autoridade em si, a autoridade se define sempre em contextos históricos concretos”. A autoridade pedagógica é uma prática complexa e contraditória, pois a autêntica autoridade leva em si sua negação, qual seja, a construção da autonomia do outro. (VASCONCELOS, 1997, p.248)
Na afirmação de Vasconcelos nota-se, no entanto, que o professor precisa e
deve se apropriar da autoridade para desenvolver suas funções quanto educador,
mantendo assim o equilíbrio da autonomia na sala aula. Os problemas de ordem
indisciplinar deverão ser resolvidos de forma competente através do diálogo sem
autoritarismo. De fato precisamos rever as nossas posturas enquanto formadores e
aguçarmos o interesse em melhor compreender as atitudes de nossos alunos para
que possamos intervir de forma positiva no comportamento. FREIRE (1996), por sua
vez, evidência que:
“O professor autoritário , o professor licencioso, o professor competente, sério, o professor incompetente, irresponsável, o professor amoroso da vida e das gentes, o professor mal amado, sempre com raiva do mundo e das pessoas, frio, burocrático, racionalista, nenhum deles passa pelos alunos sem deixar sua marca. (FREIRE, 1996, p.73)
Levando em consideração o pensamento de Freire, a autoridade não se
impõe por meio da força, grito e poder, mas por meio do diálogo e da afetividade
vivida na relação professor/aluno. É importante enfatizar que o professor precisa
desenvolver uma relação de respeito mútuo, afetividade e autoridade com o
aluno para que as situações adversas sejam resolvidas da melhor forma possível
deixando marcas positivas na vida do aluno.
20
Entendemos que os conflitos nas relações familiares e os aspectos
externos como: problemas sociais, baixa qualidade de vida , são fatores que
contribuem para o processo da indisciplina, mas, não os únicos responsáveis, o
espaço escolar também tem contribuição relevante para o desenvolvimento de
determinadas ações. A relação professor e aluno mediante situações que envolve
o autoritarismo e a motivação do professor na sala de aula também pode
desencadear a indisciplina. Enfrentar a indisciplina requer medidas conjugadas em
diferentes planos de intervenção: atividades pedagógicas lúdicas e motivadoras;
acompanhamento e participação da família no cotidiano escolar.
2.4 ALTERNATIVAS PARA MINIMIZAR A INDISCIPLINA.
Diante das diversas possibilidades de lidar com a problemática da indisciplina,
as vivências cotidianas no chão da sala de aula, o momento de interação
através diálogo com os professores, pais e alunos entrevistados, a vertente que se
mostrou mais eficiente dentro da realidade dos comportamentos de
indisciplina apresentados pelos alunos, foi a utilização da exploração dos
canais, das relações de afetividade como possibilidades de amenizar o problema.
A afetividade está definida como um conjunto de fenômenos psíquicos que se manifestam sob a forma de emoções, sentimentos e paixões, acompanhados sempre da impressão de dor ou prazer, de satisfação, ou insatisfação, de agrado ou desagrado, de alegria ou tristeza (Dicionário Aurélio –1994).
Podemos definir afetividade como formas de sentimentos relativo a dor ou
prazer no envolvimento das emoções, muitas vezes controladas ou desordenadas.
O controle dessas emoções garante uma saúde emocional equilibrada.
No cotidiano escolar são comuns as situações de conflito envolvendo professores e alunos: turbulência e agitação motora, dispersão, crises emocionais, desentendimentos entre alunos e destes com o professor; irritação, raiva, desespero e medo. (WALLON, 1996, p.104).
Diante das situações de conflitos mencionadas por Wallon (1996), o professor
precisa esta com equilíbrio emocional para ministrar atividades de cunho afetivos,
21
apropriando-se da autonomia, fortalecendo os limites necessários para conseguir
amenizar os conflitos.
Wallon, é um dos teóricos de referência na discussão da emoção e
afetividade em relação com o ensino e aprendizagem do aluno, ele elaborou uma
teoria psicogenética para explicar a sua concepção sobre a afetividade no processo
de desenvolvimento cognitivo do ser humano. A afetividade na concepção de Wallon
(1996) é debruçada sobre a dimensão afetiva e tem papel imprescindível no
processo de desenvolvimento da personalidade e este por sua vez se constitui sob
a alternância dos domínios funcionais.
O teórico afirma que a ausência de uma educação que aborde a emoção na
sala de aula, traz prejuízo para a ação pedagógica e o comportamento dos alunos.
O professor precisa se conscientizar que a relação de afetividade no contexto da
sala de aula, não influencia na perda de autonomia e sim fortalece a
possibilidade de conhecer a vida do aluno. A afetividade na relação professor e
aluno são significativos para que o processo ensino aprendizagem seja satisfatório.
As emoções, assim como os sentimentos e os desejos, são manifestações da vida afetiva. Na linguagem comum costuma-se substituir emoção por afetividade, tratando os termos como sinônimos. Todavia, não o são. A afetividade é um conceito meio abrangente no qual se inserem várias
manifestações. (WALLON, 1995 apud GALVÃO, 1996, p.61)
Convém ressaltar que outros autores também, fazem referência a afetividade
no processo ensino aprendizagem e na dinâmica de relação professor-aluno na sala
de aula:
Para que o relacionamento entre professor e aluno seja positivo o professor precisa combinar autoridade com respeito e afetividade, [...] o professor precisa estabelecer normas, [...] deve também respeitar a individualidade dos mesmos, em respeito mutuo. A afetividade por parte do professor não o abdica de sua responsabilidade e de sua autoridade a prática educativa vivida com alegria e afetividade não prescinde da formação científica séria e da clareza política dos educadores. Enquanto os professores não perceberem que é, também através da dinâmica relacional do docente com a turma e da análise detalhada do que se passa no seio do grupo que podem melhorar o ambiente da sala de aula, não obterão grandes resultados. (FREIRE, 1996, p.96)
Os docentes precisam manter uma relação afetiva com os alunos, laços
de amizades frequentes ajudarão a manter o respeito, e não correrá o risco de
impor a disciplina por "ameaça", que por sua vez cria revolta e “incita a indisciplina”.
22
Os alunos precisam se sentir amado, pois ao sair de casa para a escola, chegam à
sala de aula, com o emocional abalado por conflitos familiares, falta de atenção, e a
falta da participação efetiva dos pais na vida escolar. Ele necessita do olhar
diferenciado do professor, com manifestações de atenção, carinho e cuidado, pois
tanto no convívio familiar quanto na escola, os vínculos afetivos são imprescindíveis
e ajudarão no desenvolvimento psicológico e nas relações sociais saudáveis do
aluno. O professor precisa se aprofundar nos estudos da “afetividade”, pois é um
suporte necessário para a atuação docente. Os momentos afetivos desenvolvidos no
contexto da sala de aula são de extrema importância no estreitamento
da relação professor-aluno, no fortalecimento do desempenho da aprendizagem e
como resultado, amenizar as ocorrências de indisciplina.
.
3. PROPOSTA DE INTERVENÇÃO: A IMPORTÂNCIA DA AFETIVIDADE NA
RELAÇÃO PROFESSOR ALUNO
3.1 DIAGNÓSTICO DA INSTITUIÇÃO
O diagnóstico pautou-se na realização de observação in loco, visando
identificar o comportamento dos alunos da turma do 3ºano no contexto da sala de
aula, durante uma semana. Da análise dos questionários aplicados e entrevista semi
estruturada realizada com os professores, pais e alunos, bem como das visitas
frequentes á escola, por fazer parte da equipe de coordenação, diagnosticou-se no
cotidiano da turma, situações de indisciplina.
3.2 PERFIL DA UNIDADE ESCOLAR
Os dados informativos do diagnóstico da Escola Municipal em Tempo
Integral Gisélia Miranda Leite, tem como referência o Projeto Político Pedagógico-
PPP/2015 municipal.
A Escola esta localizada á Rua Nossa Senhora de Fátima s/n ao lado do
estádio municipal. Foi registrada no Ministério da Educação em 16 de março de
1982, e regulamentada no mês de outubro do mesmo ano, com o INEP 29093112,
23
código 09458 e portaria 2984. O nome da instituição foi em homenagem à primeira
professora Gisélia Miranda Leite residente no município e que, com esforço e
dedicação, muito contribuiu para o funcionamento da escola.
Nos últimos anos, houve o aumento da clientela, com isso, veio a
necessidade de realizar uma reforma na escola para adequar o espaço de
atendimento para melhor atender a sua clientela, foram construídas mais 3 salas, 01
diretoria e 01 cozinha.
Nos anos de 2013 e 2014 a Escola foi destinada para a realização das
oficinas do Projeto Mais Educação e o Atendimento Educacional Especializado -
AEE.
A clientela desta escola na sua maioria é oriunda de famílias de baixa renda,
beneficiadas pelo Programa Bolsa Família, provenientes não só do bairro onde a
unidade está inserida, mas também de localidades rurais do município. A Escola de
Tempo Integral foi idealizada para que o aluno participe integralmente de modo a
realizar e expandir suas necessidades e potencialidades de aprendizagem. A
unidade escolar contempla em sua matrícula a quantidade de cento e vinte e dois
(122) alunos conforme censo escolar 2015.
O quadro funcional da escola é formado por: 01 gestora e duas vices, 01
coordenadora pedagógica, 01 secretária escolar, 03 manipuladoras de alimentos,
02 porteiros, 12 professores com formação superior, 02 monitores, 03 oficineiros, 02
auxiliares serviços gerais. Os professores e equipe gestora possuem Licenciatura
em Pedagogia e Letras, com pós-graduação em diversas áreas da educação. É
importante destacar que a minoria dos profissionais citados são funcionários efetivos
da Secretaria Municipal de Educação e os demais atuam em regime de contrato de
trabalho temporário.
Analisando o Projeto Político Pedagógico da Escola foi possível verificar
alguns aspectos que definem caminhos para um bom andamento da escola e uma
educação de qualidade tendo como Missão: Assegurar um ensino de qualidade,
garantindo a participação ativa da comunidade escolar com profissionais
qualificados e comprometidos, contribuindo para a formação holística dos
educandos, para que possam agir construtivamente na transformação da
convivência social e, Visão: Ser uma escola de qualidade, democrática, participativa
24
e comunitária, um espaço cultural de socialização e desenvolvimento do/a
educando/a visando prepará-lo/a para o exercício da cidadania através da prática e
cumprimento de direitos e deveres.
Quanto aos Valores ficou definido que a escola “caminha de forma unida com
a comunidade pondo em prática valores que contribuem para a formação do
cidadão”. Partindo do princípio que leva a refletir sobre a respeito do que fazemos na
vida e com a vida, ressaltando alguns valores necessários para a convivência
coletiva no espaço social: respeito; compromisso pontualidade; justiça social;
participação e amor. (Projeto Político Pedagógico -2015)
A escola dispõe de 05 salas de aulas, 01 secretaria, 01 refeitório, 01 cozinha,
01 laboratório de informática (computadores sem funcionalidade), 01 brinquedoteca
(espaço insuficiente) 08 banheiros, 01 pequena área livre para recreação. A escola
necessita de 01 sala de leitura e mais duas salas de aula.
O Conselho Escolar da Escola Municipal em Tempo Integral Gisélia Miranda
Leite, foi implementado sob a forma de eleição direta, sendo composto por
representantes: equipe gestora, pais, alunos, professores e funcionários, atuando
com participação efetivamente na escola.
Segundo os professores da instituição escolar, os problemas mais comuns,
são os casos de indisciplina e a falta de interesse dos alunos mediante as
atividades propostas. A escola dispõe apenas de dois monitores para auxiliar as
atividades de monitoramento escolar, dificultando o controle disciplinar. O currículo
da escola contempla as oficinas de karatê, dança, música, capoeira, informática e
esporte, mas por falta de recursos didáticos, espaço físico e profissional capacitado
para desenvolver as atividades, apenas a oficina de karatê e capoeira são
desenvolvidas no horário do almoço ,o que pedagogicamente é um horário
impróprio. A jogoteca da escola é instalada em um espaço insuficiente para
comportar o número de alunos, dificultando a realização das atividades propostas
nos planejamentos. Todas as dificuldades mencionadas contribuem para o
fortalecimento da agitação dos alunos e o desencadeamento dos comportamentos
indisciplinarem, uma vez que eles passam o tempo integral na escola.
A Escola recebe o repasse do Programa Dinheiro Direto da Escola (PDDE)
do governo federal que é gasto com o capital e o custeio. Todo recurso é gasto a
25
partir de planejamento junto à comunidade escolar e administrado pela Secretaria
Municipal de Educação em parceria com a equipe gestora, uma vez que de acordo a
afirmação do secretário municipal, a gestora está participando de formação
continuada através do curso “Formação pela Escola” para adquirir conhecimento e
autonomia para administrar os recursos financeiros.
3.3 CONTEXTUALIZAÇÃO DO PROBLEMA
No cotidiano da turma do 3º ano é comum a manifestação dos alunos na sala de
aula com comportamentos indisciplinados, atos de agressividades, desrespeito e
desobediência, tem gerando muitos conflitos na relação professor-aluno. Os
professores tentam resolver da melhor maneira possível, mas ficam impotentes e
inseguros diante dos comportamentos agressivos. Eles encaminham á diretoria, a
equipe gestora busca resolver a situação com conversas, aplicam as regras do
regimento da escola, solicitam a presença da família e mesmo assim não obtém
êxito. Através da observação nota-se que o problema da indisciplina é desafiador e
está influenciando no desempenho da aprendizagem dos alunos.
3.4 OBJETIVOS
1. Contribuir para o fortalecimento do relacionamento entre professores e
alunos.
2. Fomentar o estabelecimento de um espaço de convivência mais prazeroso,
para os alunos e os profissionais da educação, por meio de jogos e atividades
recreativas.
3. Priorizar valores e princípios na busca por tornar a vida social dos alunos
mais agradável.
26
3.5 OPERACIONALIZANDO A PROPOSTA
AÇÕES RESPONSÁVEL PERÍODO
Atividade 1
Encontros para a apresentação da Proposta Intervenção com atividades dinâmicas com a participação gestores, professores, Conselho escolar, pais e alunos.
Coordenador pedagógico 2ªquinzena
Fevereiro 2016
Atividade 2 Revisão dos documentos: Projeto Político Pedagógico (PPP), para contemplar as ações do Projeto de Intervenção e o Regimento escolar para discutir as normas e regras da escola, com a comunidade escolar.
Coordenador pedagógico Professores e gestores
Março/2016
Atividade 3 Implantação de uma sala de leitura, através da adaptação de um ônibus escolar do “Programa Caminhos da Escola /FNDE” (ônibus com defeito de mecânica por conta de incêndio, abandonado em pátio de garagem municipal) para o desenvolvimento de atividades de leituras contação e encenação de histórias da literatura infantil. Cronograma de atividades para o controle ao acesso.
Coordenador pedagógico, professores, gestores e pais.
1ª quinzena de março
Atividade 4 Implantação do correio da amizade, com intuito de consolidar a valorização da afetividade e regras de convivência no meio social iniciando com os alunos sala de aula e posteriormente intercâmbio afetivo com outras séries.
Março a dezembro
Professores, alunos e monitores.
27
Atividade 5 Realização de oficinas: desenho, pintura, artesanato com material reaproveitado, teatro, musica, dança, culinária, manicure, maquiagem, cabeleireiro envolvendo a participação dos pais e alunos.
Coordenador,
professores, pais.
Março, Abril
Atividade 6 Construção coletiva e aplicação de uma cartilha ilustrada com noções de princípios, valores e competências sociais: respeito, solidariedade, caráter, amizade, responsabilidade, honestidade, cooperação e obediência, com a participação dos alunos e realização de auto avaliação, semanal.
Professores e alunos
Março até 21 de dezembro
Atividade 7 Realização de oficinas de auto massagem, equilíbrio emocional, relaxamento e vivências emocionais, ministradas por psicólogos em parcerias com a secretarias: Saúde e Ação Social, tendo como público alvo : pais , professores e alunos e coordenadores.
Coordenador,
Professores, psicólogo (a) da Secretaria de ação
Social.
quinzenal Abril a novembro
Atividade 8 Momentos de interatividade com a família / escola, no desenvolvimento de atividades com contação de histórias
Professores e pais
Semanal Abril a dezembro
28
As atividades das etapas desta proposta de intervenção serão planejadas em
conjunto por professores e a coordenadora pedagógica no horário destinado a este
fim. A confecção de recursos didáticos para programar as ações será realizada nos
Atividade 09 Cinemando na escola: exibição filmes “A Procura da Felicidade “ “A Prova”; “A Educação da Pequena Árvore” “Ensina-me a Viver”;’A Corrente do Bem”;”Uma Lição de Amor” ; “Como uma Estrela na Terra” com temas voltados para o fortalecimento da convivência social e valorização do “eu” e do “outro”, mediante momentos de reflexão. Participação pais e alunos.
Coordenador pedagógico e professores, monitores.
quinzenal Abril a novembro
Atividade 10 Semana da família na escola, com atividades de Jogos e recreação: “baleado”, “festival de pipas”, “passar a bola”, “futebol de pares”, “corridas de três pernas,” “pega bandeira”, “coelho na toca”, “circuito” , “sapatos embaralhados,” “quebra pote”,(realizados no estádio municipal) ,sarau poético e musical , teatro,desfile,oficinas e exposição de jogos tradicionais,evidenciando a infância dos pais e avós.
Família, alunos, monitores, professores,
coordenadores gestores e pessoal de apoio.
Atividade 11 Dia “D” da escola, intitulado: “Minha escola meu espaço” , para demonstrar atitudes de cuidado e valorização com o meio em que vive ,realizando atividades de limpeza, construção de jardins e pequenos reparos no que for necessária, a realização das atividades serão culminados com um lanche no momento de partilha.
Gestão, pais, alunos, professores, coordenador pedagógico, monitores.
Junho e outubro
Abril, junho, agosto e outubro.
29
horários das Atividades Complementares (AC’s), visto que é o único momento
disponível para a dinâmica deste trabalho. A proposta será desenvolvida durante a
primeira unidade do ano letivo de 2016, tendo início previsto para fevereiro e
encerramento em dezembro.
A avaliação ocorrerá durante todo processo de implementação das ações,
observando o interesse e a participação dos envolvidos. A cada planejamento
quinzenal será efetivada a avaliação das ações realizadas na semana, através de
fichas de acompanhamento e monitoramento disponibilizadas pela coordenadora
pedagógica.
Espera-se que as ações desta Proposta de Intervenção repercutam numa
mudança de postura, de comportamentos, através da participação efetiva da
família na escola; nas dinâmicas de atividades pedagógicas lúdicas e motivadoras;
das atitudes menos agressivas na sala de aula, nos intervalos e na postura de
colaboração dos vínculos afetivos na relação professor/aluno.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A indisciplina, conforme é apresentada na literatura educacional a que
tivemos acesso para esta pesquisa, revela que este tipo de comportamento não
apresenta uma causa única, são vários os fatores que nos ajudam a compreendê-lo
e intervir sobre sua ocorrência. Por isso a discussão sobre o tema não se encerra
nesta pesquisa, este trabalho, na verdade, se propôs apresentar algumas posições
teóricas sobre as causas da indisciplina, permitindo construir uma análise em
relação ao convívio familiar, as atividades docentes e na relação afetiva professor/
aluno.
O estudo bibliográfico, o diálogo fomentado com o pensamento, as
concepções dos teóricos mencionados nesta pesquisa, a aplicação dos
questionários, a realização das entrevistas com os segmentos de pais, alunos e
professores e a construção da proposta de intervenção, agregaram valores para o
meu aprendizado e fortalecimento da minha prática pedagógica. Diante dos estudos
e as observações realizadas aprendi que a escola precisa rever os conceitos no
processo do ensino aprendizagem e valorizar não apenas o desenvolvimento
30
cognitivo, mas, sobretudo fortalecer o desenvolvimento afetivo e social do aluno. A
relação professor aluno não deve ser apenas de passar conhecimentos, mas, uma
relação que deixa marcas positivas na vida do aluno.
Essa pesquisa colaborou muito na minha função de coordenadora
pedagógica mostrando as possibilidades da mediação entre professor aluno e
família diante dos conflitos disciplinares, mostrando como posso agir e ao mesmo
tempo propor sugestões de ações viáveis que possam auxiliar na questão dos
problemas ocasionados pela indisciplina.
A pesquisa necessitou da participação e apoio dos professores, pais e equipe
gestora da Escola de Tempo Integral Gisélia Miranda Leite. Ao ser relatado a
proposta do trabalho observou-se a unanimidade na aceitação e ao mesmo tempo
todos se disponibilizaram para colaborar efetivamente na aplicação dos instrumentos
da pesquisa, a começar pelo encaminhamento dos convites aos pais feitos pela
gestora e a organização do espaço para realização das entrevistas.
A expectativa quanto à realização da proposta de intervenção, é que os
professores se envolvam de forma comprometida e entusiasmada; uma vez que são
sugeridas orientações metodológicas pertinentes com a demanda por afetividade
com objetivo de ajudar os docentes e a família a influir de forma significativa na
mudança dos comportamentos e no desempenho da aprendizagem.
Os resultados esperados devem se traduzir em estímulos positivos de forma
que possamos multiplicar este aprendizado com outras escolas da rede municipal,
pois a indisciplina é um problema atual que se manifesta em outras escolas do
nosso município. Sabemos que o problema da indisciplina não é estanque, ele
perpassa na sua maior constância, na linha dos fatores sociais, que foram relatados
no âmbito desta pesquisa. Portanto, diante desta situação, é preciso futuramente a
realização de outras propostas que viabilizem a possibilidade de resolução dos
problemas sociais que dão origem à indisciplina.
31
REFERÊNCIAS
AQUINO, Julio, Groppa. A Indisciplina e Escola Atual..Fac.Educ,v.24,n.2p.181-
204,jul/dez.1988.
______. et al. Indisciplina na escola: alternativas teóricas e práticas. 3ª Edição,
São Paulo: Summus,1996 .
CHALITA, G, Educação: A solução está no afeto. São Paulo: Editora Gente, 2001
1ªed. , 2004 edições revista e atualizada..
FREIRE, Paulo, Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática
educativa. 30ª edição. São Paulo: Editora Paz e Terra, 1996.
FERREIRA, A.B.H. Dicionário do Aurélio. 7.Ed. Curitiba : Positivo ,2008.
GALVÃO, Izabel. Henry Wallon: Uma Concepção Dialética do Desenvolvimento
Infantil. Petrópolis: Vozes, 1996.
GARCIA, J. Indisciplina na Escola: uma reflexão sobre a dimensão preventiva.
Revista Paranaense de Desenvolvimento, Curitiba, n. 95, p. 101-108, jan./abr. 1999.
OLIVEIRA, Maria Izete. A indisciplina escolar: determinações, conseqüências e
ações. Brasília: liber livro 2005.
PARRAT-DAYAN, S. Como enfrentar a indisciplina na escola. São Paulo:
Contexto, 2008.
THIOLLENT, Michel. Metodologia da pesquisa-ação. São Paulo :Cortez . 1947 :
Autores Associados, 1986.
TRIVIÑOS, A.N.S.Introdução á pesquisa em ciências sociais:a pesquisa
qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1987.
VASCONCELOS, Celso dos Santos Os desafios da Indisciplina em Sala de Aula
e na Escola. Ideias. São Paulo, n. 28, p. 227-252, 1997.
WALLON, Henri. A evolução psicológica da criança. Lisboa, Portugal: Edições 70,
1995.
______. et al. Psicologia. Maria José Soraia Weber e Jaqueline Nadel Brulfert (org)
São Paulo, Ártica 1996.