ead teoria estado contemporaneo final

Upload: mackson-roberto-farias-dos-santos

Post on 10-Oct-2015

23 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • EaD TEOR IA DO ESTA DO CONTEMPOR NEO

    1

    UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL UNIJU

    VICE-REITORIA DE GRADUAO VRG

    COORDENADORIA DE EDUCAO A DISTNCIA CEaD

    Coleo Educao a Distncia

    Srie Livro-Texto

    Iju, Rio Grande do Sul, Brasil2009

    Dejalma Cremonese

    TEORIA DO ESTADOCONTEMPORNEO

  • EaD TEOR IA DO ESTA DO CONTEMPOR NEO

    2

    2008, Editora UnijuRua do Comrcio, 136498700-000 - Iju - RS - BrasilFone: (0__55) 3332-0217Fax: (0__55) 3332-0216E-mail: [email protected]

    Editor: Gilmar Antonio Bedin

    Editor-adjunto: Joel Corso

    Capa: Elias Ricardo Schssler

    Reviso: Vra Fischer

    Designer Educacional: Karin Strohschoen

    Responsabilidade Editorial, Grfica e Administrativa:

    Editora Uniju da Universidade Regional do Noroestedo Estado do Rio Grande do Sul (Uniju; Iju, RS, Brasil)

    Catalogao na Publicao:Biblioteca Universitria Mario Osorio Marques Uniju

    C915t Cremonese, Dejalma.

    Teoria do estado contemporneo / Dejalma Cremonese. Iju :Ed. Uniju, 2009. 124 p. (Coleo educao a distncia. Srielivro-texto).

    ISBN 978-85-7429-751-4

    1. Estado. 2. Sociedade. 3. Direitos sociais. 4. Neoliberalismo.5. Eleies- Brasil. I. Ttulo. II. Srie.

    CDU : 321 321.01

  • EaD TEOR IA DO ESTA DO CONTEMPOR NEO

    3

    SumrioSumrioSumrioSumrio

    CONHECENDO O PROFESSOR .................................................................................................. 5

    INTRODUO ................................................................................................................................. 7

    UNIDADE 1 A CRTICA CONTRA O ESTADO NO SCULO 19 ......................................... 9

    Seo 1.1 O anarquismo ....................................................................................................... 9

    1.1.1 Os principais representantes:

    Proudhon, Bakunin, Kropotkin e Tolstoi ............................................ 10

    Seo 1.1 O anarquismo ....................................................................................................... 9

    Seo 1.2 O socialismo utpico ........................................................................................ 11

    1.2.1 Os principais representantes:

    Saint-Simon, Fourrier, Owen e Luis Blanc ......................................... 12

    Seo 1.3 O socialismo cientfico ..................................................................................... 12

    1.3.1 Os principais representantes:

    Marx e Engels ........................................................................................ 13

    UNIDADE 2 CRISES E TRANSFORMAES DO ESTADO NO SCULO 20............... 19

    Seo 2.1 Os intrpretes de Marx: Lenin e Rosa Luxemburgo .................................... 20

    Seo 2.2 O debate sobre o Estado na Teoria Democrtica Contempornea .......... 22

    2.2.1 A Teoria das Elites ................................................................................. 22

    2.2.2 A Teoria Pluralista ................................................................................. 26

    2.2.3 A Teoria Neomarxista ............................................................................ 28

    2.2.4 A Teoria Participacionista (Macpherson, Held e Pateman) ............. 30

    Seo 2.3 A procedncia do Estado do Bem-Estar Social:

    a Teoria Keynesiana e a Social Democracia ................................................ 33

    UNIDADE 3 ESTADO, SOCIEDADE E DIREITOS SOCIAIS NO BRASIL ..................... 39

    Seo 3.1 O descobrimento do Brasil: antecedentes ................................................. 40

    Seo 3.2 Estado, Direito e Sociedade em descompasso ............................................. 43

    3.2.1 Direito do colonizador e privilgio das elites ..................................... 43

    3.2.2 A herana colonial e o Estado brasileiro ............................................ 44

    3.2.3 A Repblica Brasileira: nova sociedade,

    novo modelo constitucional, velho autoritarismo ............................. 45

    Seo 3.3 A formao do Estado no Brasil e a questo dos direitos sociais .............. 46

  • EaD TEOR IA DO ESTA DO CONTEMPOR NEO

    4

    UNIDADE 4 OS FUNDAMENTOS TERICOS DO NEOLIBERALISMO:

    Friedrich A. Hayek ............................................................................................ 61

    Seo 4.1 O Neoliberalismo: aspectos tericos e aplicabilidades ................................ 61

    4.1.1 Hayek diverge de Keynes ....................................................................... 63

    4.1.2 A planificao estatal leva ao caminho da servido ...................... 64

    Seo 4.2 As idias neoliberais constitudas no mundo ................................................ 68

    Seo 4.3 Consenso de Washington: reviso do neoliberalismo ................................... 70

    Seo 4.4 A experincia neoliberal do Brasil ................................................................... 72

    4.4.1 Conseqncias das polticas neoliberais no Brasil ............................ 75

    Seo 4.5 A continuidade do colonialismo ...................................................................... 77

    Seo 4.6 A crise atual do neoliberalismo ....................................................................... 79

    UNIDADE 5 ELEIES E DESEMPENHO PARTIDRIO NO BRASIL (2002-2008) ....... 85

    Seo 5.1 Eleies gerais 2002: Lula e o PT vitoriosos .................................................. 87

    5.1.1 Avaliando o primeiro mandato.............................................................. 89

    5.1.2 A composio ministerial ....................................................................... 89

    5.1.3 A mudana programtica se confirmou .............................................. 90

    5.1.4 Comprometimento com as instituies financeiras internacionais ..... 90

    5.1.5 Avanos e retrocessos ............................................................................. 91

    Seo 5.2 As eleies municipais de 2004 ....................................................................... 92

    5.2.1 Primeiro turno: PT e PSDB saem na frente ......................................... 93

    5.2.2 Vitrias eleitorais nos municpios e capitais (1 turno) .................... 94

    5.2.3 Segundo turno: resultados gerais no Brasil ........................................ 94

    5.2.4 Vitria do PSDB ...................................................................................... 95

    5.2.5 Governando as capitais: hegemonia do PT e do PSDB ..................... 97

    5.2.6 O controle poltico nas maiores cidades ............................................. 98

    5.2.7 Total de votos de cada partido .............................................................. 98

    5.2.8 Cenrio poltico gacho (1 turno) ...................................................... 99

    5.2.9 A derrota petista em Porto Alegre ...................................................... 101

    Seo 5.3 As eleies gerais de 2006 ............................................................................. 105

    5.3.1 A campanha eleitoral .......................................................................... 105

    Seo 5.4 Eleies municipais de 2008 ......................................................................... 111

    REFERNCIAS ........................................................................................................................... 119

  • EaD TEOR IA DO ESTA DO CONTEMPOR NEO

    5

    Conhecendo o ProfessorConhecendo o ProfessorConhecendo o ProfessorConhecendo o Professor

    Sou Dejalma Cremonese, tenho 39 anos, nasci no dia 7 de

    dezembro de 1968 no Centro-Serra do Rio Grande do Sul, mais

    precisamente no municpio de Arroio do Tigre (a uma distncia de

    243 Km de Porto Alegre). Sou o dcimo terceiro filho de uma fam-

    lia de pequenos agricultores e realizei meus primeiros estudos (En-

    sino Fundamental) em uma escola interiorana da rede pblica

    (1976-1983). A continuidade dos estudos s foi possvel graas ao

    meu ingresso no Seminrio Diocesano de Santa Maria RS, onde

    conclu o Ensino Mdio, mais o curso propedutico (1984-1987).

    Continuando os estudos, graduei-me em Filosofia (Licenciatura e Bacharelado) pela Fafimc

    de Viamo RS (1988-1990). Ao retornar a Santa Maria, cursei ainda 2 anos do curso de

    Teologia (1991-1992) no Seminrio Mximo Palotino. Minha Ps-Graduao foi em Pes-

    quisa Cientfica (nvel de Especializao) na FIC (1993-1994). Logo aps iniciei o Mestrado

    em Filosofia pela UFSM, o qual conclu em 1997. Quase uma dcada depois, em 2006,

    conclu o Doutorado em Cincia Poltica pela UFRGS. Minha atuao profissional iniciou

    em 1994 como professor nas turmas secundaristas do Colgio SantAnna, em Santa Maria.

    Como professor universitrio, lecionei no Ensino de Graduao da FIC (hoje Unifra) em

    Santa Maria; tambm atuei como professor substituto na UFSM no ano de 1995; fui profes-

    sor da Universidade de Cruz Alta (Unicruz) no perodo de 1997-2002. Desde 1998 exero as

    atividades acadmicas na Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do

    Sul (Uniju). Nesta Universidade, sou professor Associado 1 (40 horas), atuando no Progra-

    ma de Mestrado em Desenvolvimento na Linha de Pesquisa: Direito, Cidadania e Desenvol-

    vimento. Atuo tambm no Departamento de Cincias Sociais da mesma Universidade nos

    seguintes componentes curriculares: Cincia Poltica, Teoria Poltica, Teoria do Estado e

    Sociedade, Poltica e Cultura. O meu eixo de pesquisa est centrado nos temas da Democra-

    cia (teoria e processos democrticos), Cidadania (participao e incluso social), Cultura

    Poltica (Capital Social) e Desenvolvimento. Para maiores informaes, disponibilizo um

    site na Internet no seguinte endereo: . Para contato direto

    informo o meu endereo de e-mail: [email protected]

  • EaD TEOR IA DO ESTA DO CONTEMPOR NEO

    7

    IntroduoIntroduoIntroduoIntroduo

    Este livro tem como objetivo discutir a questo do Estado a partir do perodo histrico

    contemporneo.1 Como disciplina, a Teoria do Estado sistematiza principalmente conheci-

    mentos jurdicos, filosficos, sociolgicos, polticos, histricos e econmicos, valendo-se de

    tais conhecimentos para buscar o aperfeioamento do Estado, concebendo-o, simultanea-

    mente, como um fato social e uma ordem, que procura atingir seus fins com eficcia e justia.

    Esta obra tem como objetivo apresentar aos acadmicos uma viso panormica sobre

    o debate do Estado nos dois ltimos sculos, 19 e 20.2

    Este trabalho est dividido em cinco Unidades especficas. A primeira trata da crtica

    terica do Estado no sculo 19, com a sistematizao das principais idias da teoria anar-

    quista, do socialismo utpico e do socialismo cientfico, com seus respectivos representan-

    tes. A Unidade 2 trata da crise e das transformaes do Estado no sculo 20. Apresenta a

    questo do Estado no debate da Teoria Democrtica Contempornea, alm de discutir a

    conceituao e instituio do Estado de Bem-Estar Social (Welfare State) na Europa e do

    New Deal nos Estados Unidos da Amrica, at a crise desse modelo nos anos 70. J na

    Unidade 3 apresenta-se um debate mais especfico da origem e do desenvolvimento do Esta-

    do e da sociedade no Brasil. Inicialmente procura-se apresentar a estruturao e o desenvol-

    vimento da sociedade, da economia e da poltica, a partir do descobrimento do Brasil,

    passando pelo perodo colonial at a emancipao poltica do pas. Apresenta, igualmente,

    a intalao do Estado a partir da vontade das elites portuguesas aliadas elite brasileira.

    Na Unidade 4, sob o ttulo O neoliberalismo: aspectos tericos e aplicabilidades, procura-

    se discutir questes tericas das origens do neoliberalismo a partir da obra O caminho da

    servido, de Hayek, bem como a discordncia com a teoria keynesiana. Em um segundo

    1 O perodo contemporneo inicia-se logo aps a Revoluo Francesa (1789) e estende-se at nossos dias.

    2 De certa maneira, este livro uma continuidade do manual de Teoria Poltica em que o autor procurou sistematizar as idias centraissobre a questo do poder, da poltica e do Estado (desde as origens, formao, estrutura, organizao, funcionamento e suas finalidades).Conferir Cremonese (2008).

  • EaD TEOR IA DO ESTA DO CONTEMPOR NEO

    8

    momento apresenta-se um debate quanto aplicabilidade das polticas neoliberais no mun-

    do e no Brasil, a partir do chamado Consenso de Washington (1989). Por fim, discutem-se

    alguns aspectos da crise do neoliberalismo atual, pelos quais constata-se a ntida mudana:

    da mo invisvel do mercado para a mo visvel do Estado. A ltima Unidade (5) aborda

    aspectos ligados s eleies e ao desempenho partidrio no Brasil a partir de 2002 at 2008

    no intuito de mostrar o jogo de fora dos principais partidos polticos (PMDB, PSDB, PT e

    DEM) na arena poltica nacional.

  • EaD TEOR IA DO ESTA DO CONTEMPOR NEO

    9

    Unidade 1Unidade 1Unidade 1Unidade 1

    A Crtica Contra o Estado no Sculo 19

    Seo 1.1

    O anarquismo

    Genericamente, pode-se afirmar que o anarquismo uma

    teoria que nega todo tipo de autoridade poltica, religiosa, eco-

    nmica ou ideolgica que se impe sobre os indivduos. Em ou-

    tras palavras, o cerne do anarquismo o repdio aos governantes.

    No mbito poltico, os anarquistas escolhem o Estado mo-

    derno como principal inimigo. Este Estado, dentro de seu territ-

    rio, divide as pessoas em governantes e governados, monopoliza

    os principais meios de coero fsica, reivindica soberania sobre

    todas as pessoas e toda a propriedade; promulga leis visando a

    suprimir todas as outras leis e costumes, pune os que infringem

    suas leis e apropria-se fora, por meio de impostos e de outras

    formas, daquilo que propriedade de seus subordinados. Desta

    forma, os anarquistas se opem aos tericos que justificam e de-

    fendem a existncia do Estado, como Thomas Hobbes, que argu-

    menta que, na ausncia do Estado, no h sociedade e a vida

    solitria, medocre, desagradvel, brutal e curta. Os anarquistas

    defendem a idia de sociedade natural, uma sociedade auto-

    regulada, pluralista, na qual poder e autoridade esto radical-

    mente descentralizados (Outhwaite, W.; Bottomore, 1996, p. 15).

    Thomas Hobbes (Malmesbury,5 de abril de 1588 HardwickHall, 1 de dezembro de 1674)foi um matemtico , tericopolt ico e filso fo ingls, autorde Leviat (1651) e Docidado (1651). Disponvelem: . Acessoem: 16 out. 2008.

  • EaD TEOR IA DO ESTA DO CONTEMPOR NEO

    10

    1.1.1 OS PRINCIPAIS REPRESENTANTES:Proudhon, Bakunin, Kropotkin e Tolstoi

    Foi Joseph Proudhon (1809-1865) o primeiro terico a se

    intitular anarquista. Proudhon est inserido no que chamamos

    de anarquismo socialista. Para este autor, todos os partidos pol-

    ticos so variedades de despotismo; o poder do Estado e do capi-

    tal so sinnimos; o proletariado, portanto, no tem como se

    emancipar mediante o uso do poder do Estado, apenas pela ao

    direta (pacfica); a sociedade deveria ser organizada na forma de

    comunidades locais autnomas de associaes de produtores,

    unidas pelo princpio federativo (Outhwaite, W.; Bottomore,

    1996, p. 16). tambm de Proudhon a famosa frase: A proprie-

    dade um roubo.

    Por outro lado, Mikhail A. Bakunin (1814-1876) e Pyotr

    Alexeyevich Kropotkin (1842-1921), na Rssia, substituram o

    mutualismo de Proudhon, primeiro pelo coletivismo e, depois,

    pelo comunismo este ltimo significando o tudo pertence a

    todos e a distribuio de acordo com as necessidades. Sob a in-

    fluncia de Bakunin, os anarquistas adotaram a estratgia de

    estimular insurreies populares, no decorrer das quais previa-se

    que a propriedade capitalista e fundiria seria expropriada e

    coletivizada, e o Estado abolido. No lugar do Estado surgiriam

    as comunas autnomas, unidas federativamente: uma sociedade

    socialista organizada de baixo para cima, e no ao contrrio.

    Insurreies, atos de terrorismo e assasinatos faziam parte das

    estratgias dos anarquistas para alcanar seus objetivos. Muitas

    foram, no entanto, as formas de represso que os anarquistas

    sofreram, exatamente pelo carter de violncia das suas aes.

    Por isso adotaram uma estratgia alternativa associada ao

    sindicalismo. A idia era transformar os sindicatos em instrumen-

    tos revolucionrios da luta de classes e fazer deles, em vez das

    comunas, as unidades bsicas de uma nova sociedade.

    Pierre-Joseph Proudhon

    (Besanon, 15 de janeiro de1809 Paris, 19 de janeiro de

    1865) Anarquista, filho defamlia muito pobre, foi pastorde pequeno rebanho de gado

    quando cr iana. Em 1840publica um livro que o torna

    conhecido , seu ensaio Quest-ce que la proprit?, af irma

    La proprit cest le vol (Apropriedade o roubo) e, em

    seu livro Les confessions dunrvolu tionna ire, defende que

    lanarch ie cest lordre (A

    anarquia a ordem). Dispon-vel em: . Acesso

    em: 20 set. 2008.

    Mikhail Aleksandrovitch

    Bakun in

    (tambm apor tuguesado emBakun ine ou Baknine, em

    russo ), n asceu no dia 30

    de maio de 1814 (18 de maiono calendrio juliano ) nacidade de Premukhimo,

    provncia de Tver, na Rssia;faleceu em 1 de julho de 1876

    (19 de junho no calendriojuliano) em Berna, na Sua.

    Disponvel em: . Acesso em:16 set. 2008.

    Pyotr Alexeyevich Kropo tkin

    (Moscou, 9 de dezembro de1842 Dmitrov, 8 de

    fevereiro de 1921) foi umescritor russo. Disponvel em:

    . Acesso em:

    12 nov. 2008.

  • EaD TEOR IA DO ESTA DO CONTEMPOR NEO

    11

    Os anarquistas, diferentemente dos marxistas, acreditavam

    que era possvel chegar a uma nova ordem social (ao comunis-

    mo) sem precisar passar pela ditadura do proletariado: em outras

    palavras, advogavam a passagem direta para a sociedade sem

    Estado.

    Leon Tolstoi (1828-1910), romancista russo, se ops radi-

    calmente ao anarquismo revolucionrio e seus mtodos, mas no

    a sua viso de uma nova sociedade socialista. Seu anarquismo,

    no entanto, estava mais ligado tradio pacifista: a lei do

    amor, expressa no Sermo da Montanha, o fez denunciar o

    Estado e sua violncia organizada e conclamar as pessoas a

    desobedecerem suas exigncias imorais. O apelo de Tolstoi dei-

    xou seguidores, entre os quais Gandhi, no desenvolvimento de

    sua Filosofia de no-violncia na ndia. Ele popularizou a tcni-

    ca da resistncia no-violenta de massas e deu origem idia-

    chave do anarco-pacifismo: a revoluo no-violenta, descrita

    como um programa no para a tomada do poder, mas para a trans-

    formao dos relacionamentos.

    Seo 1.2

    O socialismo utpico

    Da mesma forma que o anarquismo, o socialismo utpico

    saiu em defesa do proletariado (oprimidos e explorados), opon-

    do-se ao individualismo econmico (liberalismo ou capitalismo),

    pois este ltimo tem como prioridade a defesa da propriedade

    particular dos meios de produo, o lucro pessoal, a livre concor-

    rncia, a lei da oferta e da procura e o Estado mnimo (no-inter-

    veno na economia).

    Lev Tolstoi

    Tambm conhecido como LonTo lstoi ou Leo Tolsto i ou LeoTo lstoy, Lev Nikolievich Tolstoi(em russo ) (9 de setembro de1828 20 de novembro de1910) considerado um dosmaiores escritores de todos ostempos. Disponvel em: . Acessoem: 14 out. 2008.

  • EaD TEOR IA DO ESTA DO CONTEMPOR NEO

    12

    1.2.1 OS PRINCIPAIS REPRESENTANTES:Saint-Simon, Fourrier, Owen e Luis Blanc

    Um dos mais importantes pensadores do socialismo utpico

    foi Saint-Simon, o qual faz severas acusaes contra a proprie-

    dade privada, a herana e aos lucros sem trabalho. Foi tambm

    contrria a explorao do proletariado.

    Da mesma forma, Charles Fourrier fez crticas indstria,

    as suas crises de pletora ou superproduo e a sua anarquia eco-

    nmica, cujas repercusses abatem fsica e moralmente o oper-

    rio, pois a sua pseudolivre concorrncia d origem a legies fa-

    mlicas de proletrios. Diz Fourrier: A liberdade poltica, a sobe-

    rania do povo: simples fachada! Esse povo, que morre de fome,

    estranho soberano.

    Robert Owen inovou no aspecto da participao dos oper-

    rios nos lucros de sua empresa, ou, nas palavras de Chevallier

    (1986), grande patro ingls, quer regenerar a degenerada raa

    dos operrios. Outro autor que defendia o socialismo utpico

    foi Luis Blanc.

    Seo 1.3

    O socialismo cientfico

    Segundo Outhwaite e Bottomore (1996, p. 699), as idias

    socialistas, em suas vrias formas, expressaram-se de vrios mo-

    dos em sculos anteriores, mas o socialismo, como doutrina e

    movimento caracterstico, s apareceu por volta de 1830, quan-

    do o prprio termo entrou em uso corrente. Logo aps se propa-

    Claude-Henri de Rouvroy,Conde de Saint-Simon

    (Paris, 17 de outubro de 1760 Paris, 19 de maio de 1825),

    foi um filsofo e economistafrancs, um dos fundadores

    do socialismo moderno eterico do socialismo utpico.Fonte: .

    Acesso em: 16 out. 2008.

    Franois Mar ie CharlesFou rier

    (Besanon, 7 de abril de 1772 Paris, 10 de Outubro de

    1837) foi um socia lista fr ancsda primeira par te do sculo

    19, um dos pais docooperativ ismo. Foi tambm

    um crtico ferino doeconomicismo e do capitalismo

    de sua poca e adversrio daindustria lizao, da civilizao

    urbana, do liberalismo e dafamlia. Disponvel em: . Acesso em:

    16 out. 2008.

    Rober t Owen

    (14 de maio de 1771 17 denovembro de 1858) foi um

    reformador socia l gals e umfilso fo socia lista libertrio .

    considerado o pai do movi-men to cooperativo. Disponvel

    em: . Acesso

    em: 24 out. 2008.

    Louis Blanc

    De batismo Louis Jean JosephCharles Blanc (Madr id , 29 deoutubro de 1811 Cannes, 6de dezembro de 1882) foi um

    socialista utpico francs. Teveimportante partic ipao na

    Revoluo de 1848, quandosuas idias foram colocadas

    em prtica devido associaoen tre liberais e socia listas, na

    tentativa de derrubar amonarquia. Eis elas: seriam

    criadas associaes profissio-nais de tr abalhadores de um

    mesmo ramo de produo , asOfic inas Nacionais, financiadas

    pelo Estado. O lucro seriadiv id ido entre o Estado, os

    associados e para f insassistenciais. Disponvel em:. Acesso em: 27set. 2008.

  • EaD TEOR IA DO ESTA DO CONTEMPOR NEO

    13

    gou rapidamente pela Europa, sobretudo aps as revolues de

    1848. No final do sculo 19 muitos partidos socialistas j haviam

    se desenvolvido em muitos pases europeus, como na Alemanha

    e na ustria, bem como em outras partes do mundo.

    Tem-se no marxismo o alicerce intelectual do socialismo

    cientfico, principalmente na Europa Continental. O marxismo

    analisa e revela as principais contradies do sistema capitalista

    moderno, que divide a sociedade em duas classes: a burguesia

    (superestrutura) e o proletariado (infra-estrutura). Critica de for-

    ma direta o individualismo capitalista e prope o socialismo como

    forma de priorizar o bem-estar de toda a sociedade. A teoria mar-

    xista (como fundamento das idias socialistas) passou por cons-

    tantes adaptaes no incio do sculo 20. A mesma teoria

    reavaliada e desembocar em trs tendncias especficas: uma

    reformista (Gr-Bretanha, com o Partido Trabalhista), a outra

    revolucionria (Lenin, os bolcheviques e Stalin), e a terceira,

    de carter centrista (social-democracia, de Kautsky). A tendn-

    cia revolucionria foi posta em prtica na Rssia em 1917 por

    Lenin e os bolcheviques, vindo a ser mais tarde instaurada uma

    ditadura do proletariado de carter totalitrio e centralizador na

    Unio Sovitica, sob o comando de Stalin. O socialismo buro-

    crtico ir abrandando-se aps a morte de Stalin, em 1953, at o

    seu derradeiro colapso a partir de 1990.

    1.3.1 OS PRINCIPAIS REPRESENTANTES:Marx e Engels

    Marx criticou o socialismo utpico pelo seu carter irreal e

    ingenuidade, pois seus defensores queriam substituir o sistema

    econmico existente por outro imaginado por eles: Tudo feito

    apenas por eles mesmos, tal como a aranha faz a sua teia (Marx,

    Karl Heinrich Marx

    nasceu em Trveris no dia 5 demaio de 1818 e faleceu emLondres, no dia 14 de marode 1883. Filho de advogadojudeu convertido ao protestan -tismo. Foi fundador de umadas g randes teor ias que iriainfluenciar os sculos 19 e 20 ,intelectual a lemo, economista,sendo considerado um dosfundadores da Sociologia emilitante da Primeira e SegundaInternacional. Tambm possvel encontrar a influnciade Marx em vrias outrasreas, tais como: Filoso fia eHistria. Teve participaocomo intelectual e comorevolucionrio no movimentooperrio, escrevendo oManifesto Comunista.Disponvel em: . Acesso em: 29out. 2008.

  • EaD TEOR IA DO ESTA DO CONTEMPOR NEO

    14

    apud Prlot, 1973, vol. 4, p. 59). Em outras palavras, Marx critica os socialistas utpicos

    por acreditarem ingenuamente que os burgueses, num gesto de benevolncia e candura,

    vo distribuir seus bens aos famintos.

    Herdeiro da viso hegeliana, Marx inverte a teria de Hegel (na questo do materialis-

    mo dialtico) para o materialismo histrico. Marx partiu ento para a defesa exclusiva do

    proletariado e a sntese de suas idias aparece na obra O Manifesto Comunista. Marx dividiu

    a obra em quatro partes: a primeira, intitulada Burgueses e Proletrios, trata de questes

    da Filosofia e da Histria. A segunda parte, Proletrios e Comunistas, explica a posio

    dos comunistas em relao ao conjunto de proletrios, repelindo as censuras feitas pela

    burguesia. Sob o ttulo Literatura Socialista e Comunista, a terceira parte passa sarcas-

    ticamente em revista as diversas formas, reacionrias ou feudais, de pequena burgue-

    sia, conservadores ou burguesas, crtico-utpicas do movimento social da poca.

    Na quarta parte, brevssima, explica a posio dos comunistas diante dos outros partidos da

    oposio. Eis alguns dos trechos mais importantes da obra O Manifesto Comunista, de Marx

    e Engels:

    A luta de classes:

    A histria de toda a sociedade at hoje a histria de luta de classes (Marx; Engels,

    1996, p. 66).

    A sociedade inteira vai-se dividindo cada vez mais em dois grandes campos inimigos, em

    duas grandes classes diretamente opostas entre si: burguesia e proletariado (p. 67).

    A burguesia:

    A prpria burguesia moderna o produto de um longo processo de desenvolvimento, de

    uma srie de revolues nos modos de produo e de troca (p. 68).

    A burguesia desempenhou na histria um papel extremamente revolucionrio. Onde quer

    que tenha chegado ao poder, a burguesia destruiu todas as relaes feudais, patriarcais,

    idlicas. (...) Afogou nas guas glidas do clculo egosta os sagrados frmitos da exaltao

    religiosa, do entusiasmo cavalheiresco, do sentimentalismo pequeno-burgus (p. 68).

  • EaD TEOR IA DO ESTA DO CONTEMPOR NEO

    15

    A burguesia no pode existir sem revolucionar continuamente os instrumentos de produ-

    o e, por conseguinte, as relaes de produo, portanto, todo o conjunto das relaes

    sociais (p. 69).

    A necessidade de mercados cada vez mais extensos para seus produtos impele a burguesia

    para todo o globo terrestre (p. 69).

    A burguesia submeteu o campo ao domnio da cidade. (...) Suprime cada vez mais a

    disperso dos meios de produo, da propriedade e da populao (...) Criou foras pro-

    dutivas mais poderosas e colossais do que todas as geraes passadas em conjunto (p.

    70-71).

    O proletariado:

    A burguesia no forjou apenas as armas que lhe traro a morte; produziu tambm os

    homens que empunharo essas armas os operrios modernos, os proletrios. (...) O pro-

    letariado passa por diferentes fases de desenvolvimento. Sua luta contra a burguesia co-

    mea com sua prpria existncia. (...) Com o desenvolvimento da indstria, o proletariado

    no apenas se multiplica; concentra-se em massas cada vez maiores, sua fora aumenta e

    ele sente mais tudo isso. (...) De todas as classes que hoje se opem burguesia, apenas o

    proletariado uma classe verdadeiramente revolucionria (p. 72-75).

    Todos os movimentos precedentes foram movimentos de minorias ou no interesse de mi-

    norias. O movimento proletrio o movimento independente da imensa maioria no inte-

    resse da imensa maioria. O proletariado, estrato inferior da atual sociedade, no pode

    erguer-se, pr-se de p, sem que salte pelos ares toda a superestrutura dos estratos que

    constituem a sociedade civil oficial (p. 77).

    O capital fruto da explorao do trabalho:

    A condio mais essencial para a existncia e a dominao da classe burguesa a acu-

    mulao da riqueza nas mos de particulares, a formao e o aumento do capital; a con-

    dio do capital o trabalho assalariado. (...) A burguesia produz, acima de tudo, seus

    prprios coveiros. Seu declnio e a vitria do proletariado so igualmente inevitveis (p.

    77-78).

  • EaD TEOR IA DO ESTA DO CONTEMPOR NEO

    16

    O capital um produto coletivo e s pode ser colocado em movimento pela atividade

    comum de muitos membros da sociedade e mesmo, em ltima instncia, pela atividade

    comum de todos os membros da sociedade. O capital, portanto, no uma potncia pes-

    soal, uma potncia social (p. 81).

    Assim, se o capital transformado em propriedade comum pertencente a todos os mem-

    bros da sociedade, no uma propriedade pessoal que se transforma em propriedade

    social. Transforma-se apenas o carter social da propriedade. Ela perde o ser carter de

    classe (p. 81).

    A ideologia:

    O que demonstra a histria das idias seno que a produo intelectual se transforma

    com a produo material? As idias dominantes de uma poca sempre foram as idias da

    classe dominante (p. 85).

    O comunismo:

    O objetivo imediato dos comunistas o mesmo que o de todos os demais partidos prolet-

    rios: constituio do proletariado em classe, derrubada da dominao da burguesia, con-

    quista do poder poltico pelo proletariado (p. 80).

    O que caracteriza o comunismo no a abolio da propriedade em geral, mas a abolio

    da propriedade burguesa. (...) Nesse sentido, os comunistas podem resumir sua teoria

    nessa nica expresso: abolio da propriedade privada (p. 79).

    O Estado:

    O poder poltico do Estado moderno nada mais do que um comit para administrar os

    negcios comuns de toda a classe burguesa (p. 68).

    Enfim, nesta Unidade voc pde compreender aspectos tericos referentes crtica do

    Estado no sculo 20. Especialmente as principais idias defendidas pelos anarquistas,

    socialistas utpicos e cientficos, tendo em Karl Marx o seu principal expoente. Marx ana-

  • EaD TEOR IA DO ESTA DO CONTEMPOR NEO

    17

    lisou criticamente o processo de acumulao capitalista. Isto , a classe detentora do capi-

    tal, a burguesia, expropria o lucro do proletariado por intermdio da explorao da fora do

    trabalho dos mesmos (explorao da mo-de-obra). A teoria marxista influenciou outros

    intelectuais aps a morte de Marx e, com o passar do tempo, a obra de Marx continua

    atual.1

    Sugestes de leitura: (referncia completa no final)

    Para aprofundar a temtica do socialismo utpico conferir Chevallier (1986).

    Para maiores informaes sobre a crtica ao Estado burgus e a ditadura do proletariado,

    ver a obra de Lenin: Estado e revoluo (1987): Chevallier (1986); Prlot (1973).

    Aprofundar as idias do Manifesto Comunista de Marx e Engels (1996).

    1 Nenhum terico se igualou a Marx na anlise e na compreenso do sistema capitalista. Por isso a leitura de suas obras imprescindvela todos aqueles que se dedicam anlise da sociedade, da economia e da poltica atual. Um exemplo bastante evidente da atualidade daobra de Marx presencia-se neste momento histrico de crise do capitalismo. Marx previu que o prprio capitalismo em excesso haveriade se autodestruir. Estaria ele certo em sua anlise?

  • EaD TEOR IA DO ESTA DO CONTEMPOR NEO

    19

    Unidade 2Unidade 2Unidade 2Unidade 2

    Crises e Transformaesdo Estado no Sculo 20

    Como referimos anteriormente, a teoria marxista foi reavaliada e desembocou em trs

    tendncias especficas: uma reformista (Gr-Bretanha, com o Partido Trabalhista), a outra

    revolucionria (Lenin, os bolcheviques e Stalin) e a terceira de carter centrista (social-

    democracia de Kautsky). Ass im, o objetivo desta Unidade desenvolver, inicialmente, al-

    guns argumentos que tratam da diviso das idias marxistas, principalmente entre o socia-

    lismo democrtico e o comunismo leninista para, logo aps, tratar da questo do Estado na

    teoria democrtica.

    O objetivo da Unidade 2 tratar da questo do Estado: crises e transformaes duran-

    te o sculo 20. A unidade comea na seo 2.1 com a discusso sobre o Estado pela tica

    dos tericos marxistas, entre eles Lenin e Rosa Luxemburgo. A seo 2.2 trata do debate da

    participao e da representao na Teoria Democrtica Contempornea. As subsees dis-

    correm sobre a questo do Estado na teoria das elites, pluralistas, neomarxistas e na teoria

    participativa. Na seo 2.3 discute-se a questo do Estado de Bem-Estar Social, modelo de

    Estado aplicado aps a crise do capitalismo na Europa e nos Estados Unidos, inspirado nas

    teorias keynesianas. O Estado de Bem-Estar aproxima-se do modelo poltico-econmico

    da social-democracia de Karl Kautsky (os austro-marxistas), que prev uma passagem gra-

    dual e insensvel do capitalismo ao socialismo exclusivamente pelas vias eleitorais e parla-

    mentares.

  • EaD TEOR IA DO ESTA DO CONTEMPOR NEO

    20

    Seo 2.1

    Os intrpretes de Marx: Lenin e Rosa Luxemburgo

    Vladimir Ilyich Lenin foi estadista, revolucionrio e teri-

    co poltico russo. Estudou por pouco tempo na Universidade de

    Kazan e depois se dedicou inteiramente s atividades revolucio-

    nrias. Lenin l iderou a segunda fase da Revoluo Russa

    (bolchevique), logo aps ter regressado do exlio, tornando-se

    presidente do Conselho de Comissrios do Povo. Em obras como

    Que fazer? (1902) e Estado e Revoluo (1917) descreveu a natu-

    reza do Estado socialista e imprimiu uma nfase diferente teo-

    ria da revoluo de Marx ao sublinhar a centralidade da luta de

    classes liderada por um partido rigorosamente organizado, e, em

    O imperialismo, fase superior do capitalismo (1916), elaborou uma

    teoria do imperialismo como etapa final do capitalismo. Por meio

    da Internacional Comunista, que ele inspirou, suas idias foram

    divulgadas no mundo inteiro. Foi o mais influente lder poltico e

    terico do marxismo no incio do sculo 20, mas a atrao pelo

    leninismo declinou no transcorrer do sculo.

    Desde a sua entrada na vida poltica, Lenin adotou um

    marxismo violento, apelidado por ele de marxismo revolucion-

    rio. Lenin negou a idia de Marx expressa no Manifesto Comu-

    nista de que o Estado burgus deve ser substitudo pela organi-

    zao do proletariado como classe dominante, isto , Lenin re-

    cusou-se a esperar a vitria do socialismo a partir das leis

    imanentes ao desenvolvimento do capitalismo e como conseqn-

    cia inevitvel da sucesso das estruturas econmicas. Tambm

    rejeita a tese de Engels sobre a possibilidade de se chegar ao so-

    cialismo pela via da legalidade democrtica e parlamentar. Criti-

    cou e se ops radicalmente democracia tradicional capitalista.

    Vladimir Ilitch Lenin

    10 de abril/22 de abril de1870, Simbirsk, atual

    Ulyanovsk 21 de janeiro de1924, Gorki, p rximo de

    Moscou) foi um revolucionriorusso, responsvel em grande

    parte pela execuo daRevoluo Russa de 1917,

    lder do Partido Comunista eprimeiro presidente do

    Conselho dos Comissrios doPovo da Unio Sovitica.

    Influenciou teoricamente ospartidos comunistas de todo o

    mundo, e suas contribuiesresultaram na criao de umacorrente terica denominada

    leninismo. Disponvel em:. Acesso em: 19 out.

    2008.

  • EaD TEOR IA DO ESTA DO CONTEMPOR NEO

    21

    Para ele, a democracia capitalista, que se revela inevitavelmen-

    te tacanha e que exclui disfaradamente os pobres, sendo por

    conseqncia hipcrita e enganadora, pois uma democracia

    cada vez mais perfeita no se opera com a simplicidade e com a

    facilidade imaginadas pelos professores liberais e pelos pequenos

    burgueses oportunistas. Para Lenin a evoluo pacfica no bas-

    tava, uma vez que o sufrgio universal um engano. O regime

    democrtico parlamentar encontrava-se falseado pela interven-

    o oculta ou direta dos poderes capitalistas. Lenin acusou a

    democracia clssica burguesa de ser truncada, miservel e

    falsificada; uma democracia apenas para os ricos, ou seja, para

    uma minoria; de ser puramente formal, composta exclusivamen-

    te por normas constitucionais e de deixar de lado o essencial ao

    considerar que as solues econmicas e sociais derivam da pol-

    tica. Segundo Lenin, apenas uma sociedade sem classes resolve-

    ria as contradies polticas e permitiria a existncia de uma de-

    mocracia concreta, em que houvesse liberdade para cada um e

    em que todos participassem do poder. A vida poltica deixaria de

    ser uma luta para se tornar uma comunho, graas ao trabalho

    em comum num esprito de unidade e humanidade.

    Rosa Luxemburgo, revolucionria socialista, ajudou a criar

    o Partido Social-Democrata da Polnia, e em seguida, se mudou

    para a Alemanha. Luxemburgo defendeu a causa da revoluo e

    exps sua posio sobre o reformismo em Reforma social ou revo-

    luo (1899). Em Greve de massas, partido poltico e sindicatos

    (1906), props a greve de massas e no a vanguarda organiza-

    da defendida por Lenin como o mais importante instrumento

    da revoluo proletria. Em sua principal obra terica, A acumu-

    lao do capital (1913), identificou o imperialismo como uma luta

    competitiva entre naes capitalistas que culminaria no colapso

    do sistema capitalista. Fundou juntamente com Karl Liebknecht

    a Liga Espartaquista, e ambos foram brutalmente assassinados

    Rosa Luxemburgo

    Em polons Ra Luksemburg(Zamo, 5 de maro de 1871 Ber lim, 15 de janeiro de1919), foi uma filsofamarxista e militante revolucio-nria polonesa ligada Social-Democracia do Reino daPolnia (SDKP), ao PartidoSocia l-Democrata da Alemanha(SPD) e ao Partido Socia l-Democrata Independente daAlemanha. Partic ipou dafundao do grupo detendncia marxista do SPD,que v ir ia a se tornar mais tardeo Partido Comunista daAlemanha. Foi brutalmenteassassinada, depois de serseqestrada e espancada po rmembros de uma organizaoparamilitar, a soldo do governosocia l-democrata a lemo.Disponvel em: . Acessoem: 28 set. 2008.

  • EaD TEOR IA DO ESTA DO CONTEMPOR NEO

    22

    na priso por oficiais da extrema direita em 1919, depois da su-

    presso de um malogrado levante em Berlim (Outhwaite;

    Bottomore, 1996, p. 814).

    Seo 2.2

    O debate sobre o Estado na Teoria DemocrticaContempornea

    O Estado ser o objeto central das anlises de diferentes

    tericos da Teoria Democrtica Contempornea, principalmente

    no debate da teoria das elites, na teoria pluralista, na teoria

    neomarxista e na teoria participacionista. Este o objetivo desta

    seo.

    2.2.1 A TEORIA DAS ELITES

    Gaetano Mosca, Vilfredo Pareto e Robert Michels inte-

    gram o grupo de autores considerados elitistas clssicos. So, na

    verdade, os fundadores da Teoria das Elites. So autores liberais

    que entendem a poltica como uma prtica de lideranas que,

    por sua origem e formao, atribuem-se o direito de dirigir e co-

    mandar as massas populares, as quais, por sua condio social e

    histrica, no esto aptas a governar. Neste cenrio, natural

    que os inferiores sejam dirigidos pelos superiores, que pos-

    suem o conhecimento da arte de comandar. Para os referidos au-

    tores sempre haver desigualdade na sociedade, em especial a

    desigualdade poltica. Isto , sempre existir uma minoria diri-

    gente e uma maioria condenada a ser dirigida, o que significa

    dizer que a democracia, enquanto governo do povo, uma fan-

    Gaetano Mosca

    Pensador poltico ita liano, foi oprimeiro grande terico da

    teoria das e lites com suadoutrina da c lasse poltica. A

    Teoria das Elites foi plasmadano pensamento de GaetanoMosca com sua doutrina da

    classe poltica. Disponvel em:. Acesso em:16 out. 2008.

    Vilfredo Pare to

    (Paris, 15 de Julho de 1848 Cligny, 19 de agosto de 1923)

    foi polt ico, socilogo eeconomista italiano. Disponvel

    em: . Acesso

    em: 16 out. 2008.

    Robert Michels

    (Colnia, 9 de janeiro de 1876 Roma, 3 de maio de 1936)fo i um socilogo alemo que

    analisou o comportamentopoltico das elites inte lectuais,tornando-se conhecido pela

    sua obra Sociologia dospartidos polticos (1915).

    Disponvel em: . Acesso em:24 set. 2008.

  • EaD TEOR IA DO ESTA DO CONTEMPOR NEO

    23

    tasia inatingvel. Ou seja, os elitistas rejeitam a teoria clssica da democracia, bem como o

    ideal democrtico rousseauniano de autogoverno das massas, que , pois, descartado como

    utpico (apud Pio; Porto, 1998, p. 298). A teoria das elites encontra sua fundamentao

    terica nas idias de Max Weber, para quem a democracia um antdoto contra o avano

    totalitrio da burocracia. O autor entende que a poltica deve ser exercida por profissionais

    e no por aquele poltico que no tem vocao.

    Para os elitistas, a igualdade impossvel. As massas so necessariamente governadas

    por uma minoria, que se impe at mesmo no seio dos partidos que se qualificam a si mes-

    mos de democrticos.

    Os autores da Teoria das Elites defendem que, na vida poltica, h pouco espao para

    a participao democrtica e o desenvolvimento coletivo. Quanto democracia, a enten-

    dem como meio de escolher pessoas encarregadas de tomar decises e de impor alguns limi-

    tes a seus excessos.

    A seguir, as principais concepes e diferenas entre os autores:

    Pareto (1848-1923)

    Fervoroso partidrio do liberalismo econmico, adversrio do socialismo, recusou a

    concepo marxista da luta de classes. Em substituio prope a teoria da circulao

    das elites, que explica a histria como a contnua substituio de um escol por ou-

    tro (apud Schwartzenberg, 1979, p. 226).

    Pareto afirma que elite o nome dado ao grupo de indivduos que demonstram possuir

    o grau mximo de capacidade, cada qual em seu ramo de atividade. Cada um desses

    ramos inclui algumas pessoas que so as mais bem-sucedidas, e a reunio delas forma

    a elite. Para ele, toda sociedade est sempre dividida em uma elite e uma no-

    elite.

  • EaD TEOR IA DO ESTA DO CONTEMPOR NEO

    24

    Mosca (1858-1941)

    Diferentemente de Pareto, que apresenta uma abordagem psicolgica, Mosca prope

    uma abordagem organizacional. Foi professor, deputado e senador italiano. Publicou

    os Elementos da cincia poltica, em 1896, e imps a idia de classe dirigente, segun-

    do a qual todas as sociedades assentam-se na distino entre dirigentes e dirigidos. O

    poder, para ele, no pode ser exercido nem por um s indivduo nem pelo conjunto dos

    cidados, mas somente por uma minoria organizada: a classe dirigente (classe pol-

    tica). A classe dirigente esta minoria de pessoas que detm o poder (verdadeira classe

    social), a classe dirigente ou dominante (apud Schwartzenberg, 1979, p. 228-229).

    No entendimento de Mosca, a elite poltica deriva do fato de que seus membros so

    aqueles que possuem um atributo altamente valorizado e de muita influncia na

    sociedade em que vivem. Isto , possuem qualidades que lhes conferem certa superiori-

    dade material, intelectual e mesmo moral, ou so herdeiros de indivduos que possuem

    tais qualidades. Em sntese, o conceito de elite, para Mosca, uma minoria com inte-

    resses homogneos e, devido a essa homogeneidade, de fcil organizao. justamen-

    te essa organizao que explica sua capacidade de domnio sobre as massas (apud

    Pio; Porto, 1998, p. 294-295).

    Michels (1876-1936)

    Contrariando Mosca, que se recusou a aprovar as leis fascistas sobre as prerrogativas

    do chefe do governo, Michels se tornou um defensor das idias fascistas, estabelecen-

    do, inclusive, uma amizade com o prprio Mussolini.

    Segundo Michels, as massas no podem atuar, dirigir, governar por si prprias. O

    governo direto das massas esbarra numa impossibilidade mecnica e tcnica. De-

    fende a lei de ferro da oligarquia. Isto quer dizer: Quem diz organizao, diz ten-

    dncia para a oligarquia. Em cada organizao (principalmente nos partidos polti-

    cos) o pendor aristocrtico ser preponderante. Observa Michels que em todas as or-

    ganizaes os dirigentes tendem a se opor aos aderentes, a formar um crculo interno

    mais ou menos fechado e a se perpetuar no poder (apud Schwartzenberg, 1979, p.

    230-231).

  • EaD TEOR IA DO ESTA DO CONTEMPOR NEO

    25

    Assim, a lei de ferro da oligarquia, de Michels, significa a

    dependncia poltica das massas em relao s lideranas dos

    partidos. Os lderes resolvem os problemas de ao coletiva do

    partido, ou seja, pagam a maior parte dos custos para a obteno

    dos bens coletivos que o partido prov e, por essa razo, so va-

    lorizados e mesmo considerados imprescindveis pelas massas

    (apud Pio; Porto, 1998, p. 294-295). Para o elitismo, a desigual-

    dade um fato natural entre os seres humanos. Pode-se afirmar

    que a teoria das elites antidemocrtica na medida em que con-

    dena como impossvel qualquer forma de governo do povo.

    exatamente esta viso (Teoria das Elites) que, sobretudo

    a partir da teoria de Schumpeter, publicada nos anos 40, torna-

    se a base da tendncia dominante da teoria democrtica (teoria

    pluralista) e penetra profundamente na concepo corrente so-

    bre a democracia.

    Para Schumpeter (1984), a democracia direta no poss-

    vel porque nem todos na sociedade esto no mesmo estgio de

    desenvolvimento cultural. O autor critica as teorias clssica e

    liberal da democracia pelo seu idealismo e utopismo. A democra-

    cia apenas um processo eleitoral. Importa saber como as demo-

    cracias funcionam e no como elas devem ser.

    Nesse sentido, a democracia no est ligada a ideal ou fim;

    ela um mtodo poltico um tipo de arranjo institucional para

    se chegar a decises polticas. Sua definio processual. Quan-

    to participao, ela fica restrita, e o sufrgio no precisa ser

    universal, ele deve ser suficiente para manter a mquina eleitoral.

    Assim, existem os lderes e os seguidores, os que no esto

    interessados e os que so mal-informados. Segundo este autor,

    os objetivos da sociedade devem ser formulados por lderes, por

    Sufrgio

    Ato ou efeito de sufragar.Processo de escolha porvotao; eleio. Disponvelem: Dicionrio Houaiss.

  • EaD TEOR IA DO ESTA DO CONTEMPOR NEO

    26

    uma elite que seja politicamente atuante, que possa devotar-se ao estudo dos problemas

    sociais relevantes e seja capaz de compreend-los. Em outras palavras, o cidado comum

    mal-informado e facilmente influenciado pela propaganda poltica, vulnervel, portanto.

    Ao eleitor cabe apenas decidir qual grupo de lderes (polticos) ele deseja para condizir o

    processo de tomadas de deciso. Ou seja, os eleitores no decidem nada, apenas escolhem.

    As decises devem ser tomadas por especialistas, pois a maior parte dos cidados so

    desinformados e desinteressados e at mesmo mal-informados e irracionais, com pouca tole-

    rncia pelas opinies polticas rivais.

    A democracia entendida como concorrencial (eleies dos lderes apenas). O autor

    contrrio doutrina clssica da democracia (a democracia o mtodo para promover o bem

    comum mediante as tomadas de deciso pelo prprio povo, com a intermediao de seus

    representantes). Afirma Schumpeter (1984, p. 336) que o mtodo democrtico aquele

    acordo institucional para se chegar a decises polticas em que os indivduos adquirem o

    poder de deciso atravs de uma luta competitiva pelos votos da populao.

    Anthony Downs, seguidor de Schumpeter, prope o uso de regras da economia como

    referncia para um governo que se almeja racional e democrtico. Downs, defensor da teo-

    ria da escolha racional, v o indivduo como ator poltico racional, pois esto em jogo as

    preferncias de cada indivduo, o seu agir estratgico e o custo e benefcio de uma ao

    (maximizar a satisfao e minimizar os danos). Em sntese, a ao eficientemente planeja-

    da para alcanar os fins econmicos ou polticos conscientemente selecionados do ator, seja

    ele o governo ou os cidados de uma democracia.1

    2.2.2 A TEORIA PLURALISTA

    A teoria pluralista da democracia poltica norte-americana tem em Tocqueville o seu

    precursor. Ganhou evidncia a partir de 1940 com Parson e Trumam. Seu maior expoente,

    porm, Robert Dahl, com a obra Um prefcio teoria democrtica (1989). Segundo

    1 O terico Mancur Olson concorda com as idias de Schumpeter ao afirmar que o povo no sabe tomar decises polticas.

  • EaD TEOR IA DO ESTA DO CONTEMPOR NEO

    27

    Outhwaite e Bottomore (1996, p. 575), nas mos de Dahl o pluralismo torna-se uma teoria

    da competio poltica estvel e relativamente aberta e das condies institucionais e

    normativas que a sustentam.

    O pluralismo considerado o elitismo democrtico na teoria poltica contempornea.

    Para os pluralistas clssicos, a democracia no parece requerer um alto grau de envolvimento

    ativo de todos os cidados; ela pode funcionar muito bem sem ele. Pelo contrrio, a apatia

    poltica pode refletir a sade da democracia (Held, 1987). Nas palavras de Carnoy (1994), a

    teoria poltica pluralista a ideologia oficial das democracias capitalistas. Para a tese

    pluralista, no existe uma classe dirigente, mas numerosas categorias dirigentes, que algu-

    mas vezes cooperam, outras se combatem, mas de certo modo se equilibram e representam

    as presses da base (Schwartzenberg, 1979, p. 673).

    A teoria pluralista ope-se concentrao de poder por parte do Estado. Ou seja,

    contra o estatismo (o poder descentralizado e administrado por outras instituies). Em

    outras palavras, a sociedade com diversos centros de poder, mas nenhum deles totalmente

    soberano. Para Dahl, um dos mais importantes expoentes do pluralismo democrtico, o Es-

    tado considerado um elemento neutro, cuja funo promover a conciliao dos interes-

    ses que interagem na sociedade segundo a lgica do mercado. Assim, a multiplicidade de

    centros de poder complementa a existncia das minorias concorrentes. Dahl chamou estes

    diversos centros de poder de poliarquias.2

    O estudo clssico de Robert Dahl, Polyarchy: participation and opposition, publicado

    pela primeira vez em 1972, apresenta as oito garantias institucionais da poliarquia: a) liber-

    dade de formar e se integrar a organizaes; b) liberdade de expresso; c) direito de voto; d)

    elegibilidade para cargos polticos; e) direito de lderes polticos competirem por meio da

    votao; f) fontes alternativas de informao; g) eleies livres e idneas e, h) existncia de

    instituies que garantam que as polticas governamentais dependam de eleies e de ou-

    tras manifestaes de preferncia da populao.

    2 Dahl apresenta um diferenciao substancial entre democracia e poliarquia. Democracia um ideal no alcanado. Poliarquia ogoverno de muitos, capaz de garantir a proteger a liberdade de expresso; liberdade de formar e participar de organizaes; acesso informao; eleies livres; competio de lderes pelo apoio do eleitorado e, ainda, instituies destinadas a formular a polticagovernamental (Oliveira, 2003).

  • EaD TEOR IA DO ESTA DO CONTEMPOR NEO

    28

    O pluralismo tambm chamado de poltica competitiva das elites. Dahl define elite

    como um grupo minoritrio que exerce uma dominao poltica sobre a maioria dentro de

    um sistema de poder democrtico. No pluralismo, poucos tomam as decises polticas ( o

    governo das minorias).

    O pluralismo ope-se concepo participacionista da teoria democrtica, que v a

    soluo na participao mais ampla possvel dos cidados nas decises polticas. Em snte-

    se, os pluralistas nunca sentiram-se muito confortveis com o sufrgio universal e com o

    governo da maioria.

    Para os pluralistas o poder est disperso em toda a sociedade, no-hierrquico e

    estruturado de forma competitiva. Havendo pluralidade de pontos de presso, surgem vrias

    formulaes concorrentes de linhas polticas e vrios centros de tomadas de deciso (Held,

    1987).

    As idias da teoria pluralista so compatveis com a doutrina constitucionalista. Esta

    teoria tambm conhecida como teoria democrtica elitista, institucionalista, procedimental,

    descritiva/normativa ou concorrencial. O pluralismo, na viso norte-americana, uma dou-

    trina da competio poltica.

    Nas palavras de Dahl, a poliarquia o sistema poltico das sociedades industriais mo-

    dernas, caracterizado por uma forte descentralizao dos recursos do poder e no seio do

    qual as decises essenciais so tomadas a partir de uma livre negociao entre pluralidades

    de grupos autnomos e concorrentes, mas ligados mutuamente por um acordo mnimo so-

    bre as regras do jogo social e poltico.

    2.2.3 A TEORIA NEOMARXISTA

    Os tericos neomarxistas, Nikos Poulantzas, Ralph Miliband e Claus Offe, principal-

    mente, rejeitam tanto a tese elitista de Michels como a tese pluralista de Dahl. A primei-

    ra porque no assenta o poder na deteno dos meios de produo. A segunda sobretudo

    porque seria uma tentativa de camuflagem, dando crdito iluso liberal da ordem

    poltica autnoma (Schwartzenberg, 1979, p. 683).

  • EaD TEOR IA DO ESTA DO CONTEMPOR NEO

    29

    A teoria de Poulantzas centra-se na reflexo sobre o papel

    do Estado nas sociedades modernas. Sua obra principal intitula-

    se Poder poltico e classes sociais, publicada pela primeira vez em

    1968.

    Para Poulantzas, a tese da pluralidade das elites apenas

    uma reao ideolgica tpica teoria marxista do poltico: a da

    corrente funcionalista. Esta tese visa a esconder a luta das clas-

    ses e a verdadeira natureza do poder do Estado. Considerando o

    poder como que disperso entre diversos grupos, os elitistas-

    pluralistas querem fazer esquecer a realidade do poder da classe

    dominante, para fazer crer, pelo contrrio, na autonomia do po-

    ltico e na neutralidade do Estado. Para este autor, parece que a

    tese elitista de Mosca, Pareto e Michels procura ter sempre como

    objetivo sustentar o esquema geral do domnio poltico. Para um

    pensador marxista, no entanto, evidente que a classe politica-

    mente dirigente identifica-se necessariamente com a classe eco-

    nomicamente dominante (aqueles que possuem os meios de pro-

    duo) (Schwartzenberg, 1979, p. 683).

    Em sntese, os neomarxistas, especialmente Poulantzas, tra-

    varam discusses com os pluralistas, especialmente no que se

    refere s relaes entre economia, classes sociais e Estado. Para

    os neomarxistas, as relaes de classe so relaes de poder, e as

    polticas estatais so reflexos dos interesses do capital.

    Para os neomarxistas o Estado configura-se pela luta de

    classes, de forma direta ou indireta. Poulantzas argumenta que

    democracia socialismo e no h socialismo verdadeiro que no

    seja democrtico. Por outro lado, Poulantzas defende que se deva

    manter a democracia representativa, no entanto somente uma

    transio ao socialismo pode expandir e aprofundar mais a de-

    mocracia sob essas condies. Segundo Poulantzas, o Estado no

    Nicos Poulantzas

    ( em grego)(1936-1979) foi um greco francs marxista socilogopolt ico. Na dcada de 70Poulantzas era conhecido,junto com Louis Althusser,como um lder, ele f inalmentese tornou um proponente doeurocomunism. Ele maisconhecido pelo seu trabalhoter ico sobre o Estado, mastambm ofereceu contribuiespara a anlise marxista dofascismo , c lasse social nomundo contemporneo, aqueda das ditaduras do Su l daEuropa na dcada de 70.Disponvel em: Wikipdia.

    Ralph Miliband

    (7 de janeiro de 1924 21 demaio de 1994 ) foi um notvelter ico marxista. E le era o paide dois deputados b ritn icos,David e Ed Miliband, ambosmembros do gabinete britnicoao abrigo do primeiro -ministroGordon Brown. Disponvel em:Wikipdia.

    Claus Offe

    (Nascido em 1940 em Berlim) um dos mais importantessocilogos polt icos do mundode orientao marxista. Assimcomo J rgen Habermas,pertence segunda gerao daEscola de Frankfurt. Atualmen -te leciona em uma universidadepr ivada em Berlim, o Her tieEscola de Governana.Disponvel em: . Acesso em: 24set. 2008.

  • EaD TEOR IA DO ESTA DO CONTEMPOR NEO

    30

    mais simplesmente um aparelho repressivo ou os aparelhos ide-

    olgicos e repressivos da burguesia, mas produto da luta de

    classe (Schwartzenberg, 1979, p. 683).

    Diferentemente de Poulantzas, que rejeita a noo de elite,

    Miliband entende que possvel admitir o conceito de elite e at

    reconhecer a pluralidade das elites. No se pode nunca, contu-

    do, omitir que as elites, ainda que diversificadas, pertencem sem-

    pre classe dominante. Elites distintas existem na sociedade ca-

    pitalista (elites econmicas, polticas, etc.), mas todas estas fa-

    zem parte da classe dominante (1979, p. 684).

    Na viso de Claus Offe, a burocracia de Estado representa

    os interesses dos capitalistas, pois ele depende da acumulao de

    capital para continuar existindo como Estado. O autor v o Es-

    tado como um mediador das crises capitalistas um administra-

    dor de crises.

    2.2.4 A TEORIA PARTICIPACIONISTA(Macpherson, Held e Pateman)

    A origem da referida teoria pode ser encontrada em Rousseau

    na defesa terica da democracia direta do Contrato Social.3 Con-

    trariando a teoria pluralista, surge a escola da teoria participativa,

    que entende que a democracia no se limita seleo de lderes

    polticos, mas supe, igualmente, a participao dos cidados.

    Os defensores desta corrente fazem tambm uma crtica abor-

    dagem elitista.

    Carole Pateman uma das principais autoras que defen-

    dem a teoria participativa. As suas idias centrais esto expostas

    na sua obra clssica Participation and Democratic Theory, escrita

    3 Rousseau pode ser considerado o terico por excelncia da participao (Pateman, 1992, p. 35).

    Carole Pateman

    uma feminista britnica eterica polt ica. Ela obteve o

    Ph.D. na Universidade deOxford. Desde 1990 Pateman

    professora no Departamentode Cincias Polticas na

    Universidade da Califrnia, emLos Angeles (Ucla). Disponvel

    em: . Acesso

    em: 14 out. 2008.

  • EaD TEOR IA DO ESTA DO CONTEMPOR NEO

    31

    em 1970. Pateman apresenta, no primeiro captulo, as Teorias recentes da democracia e o

    mito clssico. A autora procura demonstrar a crtica dos tericos institucionalistas teo-

    ria clssica de democracia, dominante at ento. Os institucionalistas refutam com vee-

    mncia a teoria poltica clssica de democracia porque a consideram perigosa na medida em

    que abre espao para a participao popular na poltica (a Repblica de Weimar, baseada

    na participao das massas com tendncias fascis tas, citada como exemplo).4

    Os tericos da teoria clssica da democracia originam-se da tradio de Thomas

    Madison e encontram em Locke, Rousseau, Tocqueville, Mill e Bentham seus principais

    representantes. Por outro lado, Mosca, Michels, Schumpeter, Berelson, Dahl e Sartori inte-

    gram o grupo dos tericos que regeitam o idealismo dos tericos clssicos. Para estes teri-

    cos a participao no desempenha um papel especial ou central. Tudo o que se pode dizer

    que um nmero suficiente de cidados participa para manter a mquina eleitoral os

    arranjos institucionais funcionando de modo satisfatrio.5

    Como vimos, o pressuposto da teoria institucionalista da democracia (teoria elitista)

    resume-se em considerar que o povo deve seguir as diretrizes da elite e no question-las.

    Ento, para Samuel Huntington e outros autores que defendem esta teoria, muita democra-

    cia poderia ameaar o governo democrtico.

    Oposta viso dos institucionalistas, a corrente da teoria participativista v o maior

    grau de participao da sociedade civil diretamente, na funo de governo, como condio

    fundamental para a construo de um Estado democrtico, desenvolvido politicamente.

    Ao avaliar a origem da corrente da democracia participativa, percebe-se que ela nos

    remete para os anos 60 do sculo passado, quando as idias que configuram esta proposta

    vem-se envolvidas no clima de transformaes vividas nos campi universitrios, nas esco-

    las, nas fbricas, nos lares, nas ruas das grandes urbes. Os participacionistas, segundo Vitullo,

    4 O medo de que a participao ativa da populao no processo poltico levasse direto ao totalitarismo permeia todo o discurso de Sartori.Da mesma forma, para Dahl, um aumento da taxa de participao poderia reapresentar um perigo para a estabilidade do sistemademocrtico.

    5 Na teoria de Schumpeter, os nicos meios de participao abertos ao cidado so os votos para lder e a discusso. O autor (1984) nosprope uma definio de democracia que rompe com o ideal clssico ligado etimologia da palavra. A democracia deixa de ser entendidacomo o governo do povo, e passa a ser vista como um mtodo ou procedimento de escolha de lideranas que devem conduzir oscomplexos assuntos pblicos das sociedades modernas.

  • EaD TEOR IA DO ESTA DO CONTEMPOR NEO

    32

    buscavam suste nto e consis tncia terica s propostas alternativas dos novos atores que apare-

    ciam em cena, e dar algum grau de sistematicidade a suas demandas e reivindicaes. Procura-

    vam construir um modelo de democracia que, resgatando a participao como um valor funda-

    mental, pudesse se opor ao modelo centrado da teoria das elites, j ento predominante. Em

    suma, para os tericos que defendem esta corrente, sem participao no seria possvel pensar

    em uma sociedade mais humana e eqitativa (1999, p. 9).

    Ainda segundo a descrio de Vitullo (1999, p. 3-4), a corrente participativista nega-

    se a aceitar que a democracia seja apenas um mtodo de seleo de lderes por parte de um

    conjunto de cidados desinformados, desinteressados, alienados e apticos. No concorda

    com o modelo de democracia baseado na teoria das elites nem com a perspectiva atemoriza-

    da do mundo poltico. Para os tericos que defendem esta corrente, a democracia deveria ir

    alm do simples voto individual e da escolha no-refletida. Os participacionistas propem,

    ainda, o alargamento do entendimento de poltica. Os autores que defendem esta linha

    entendem que preciso democratizar todos os espaos em que interagem os indivduos.

    Procuram levar a democracia vida cotidiana das pessoas nos mais diferentes mbitos,

    tornando-as politicamente mais responsveis, ativas e comprometidas, estimulando-as a

    construir um nvel de conscincia mais efetivo em relao aos interesses dos grupos.

    Os participacionistas criticam a democracia com seus instrumentos procedimentais,

    no se contentam com o simples fato do comparecimento s urnas a cada dois, trs ou

    quatro anos, como a nica e quase exclusiva atividade delegada ao cidado comum em

    uma democracia. Ambicionam atividades mais comprometidas, aspiram estabelecer a demo-

    cracia direta em diversas esferas e atividades. Procuram maximizar as oportunidades de

    todos os cidados intervirem, eles mesmos, na adoo das decises que afetam suas vidas,

    em todas as discusses e deliberaes que levem formulao e instituio de tais decises

    (Vitullo, 1999, p. 11).

    Os defensore s desta teor ia b usc am mul tiplicar as prtic as democrtic as,

    institucionalizando-as dentro de uma maior diversidade de relaes sociais, dentro de no-

    vos mbitos e contextos: instituies educativas e culturais, servios de sade, agncias de

    bem-estar e servios sociais, centros de pesquisa cientfica, meios de comunicao, entida-

    des desportivas, organizaes religiosas, instituies de caridade, em sntese, na ampla gama

    de associaes voluntrias existentes nas sociedades atuais (p. 17).

  • EaD TEOR IA DO ESTA DO CONTEMPOR NEO

    33

    No entendimento de Pateman, para que exista uma forma de governo democrtico

    imprescindvel a existncia de uma sociedade participativa, isto , uma sociedade na qual

    todos os sistemas polticos tenham sido democratizados e em que a socializao possa ocor-

    rer em todas as instncias. Para concluir, segundo Pateman (1992, p. 61), a rea mais im-

    portante de participao o prprio lugar de trabalho, ou seja, a indstria, pois exatamen-

    te ali que a maioria dos indivduos despende grande parte de sua vida e pode propiciar uma

    educao na administrao dos assuntos coletivos, praticamente sem paralelo em outros

    lugares.

    Seo 2.3

    A procedncia do Estado do Bem-Estar Social:a Teoria Keynesiana e a Social Democracia

    O Estado de Bem-Estar Social teve a sua origem na Gr-Bretanha e foi difundido aps

    a Segunda Guerra Mundial, opondo-se ao modelo liberal de Estado (laissez-faire), que foi

    dominante durante todo o sculo 19 e incio do sculo 20. O modelo liberal prescindia da

    existncia do Estado. Isto , a funo do Estado era apenas proteger o indivduo em seus

    direitos naturais (direito vida, liberdade e propriedade), deixando que a economia se

    regulasse pela mo invisvel do prprio mercado. Em outras palavras, o Estado no deve-

    ria intervir na economia, no entanto, com a crise do modelo liberal, com o crash da Bolsa de

    Valores de Nova York de 1929 (Grande Depresso), o Estado foi convocado a salvar a

    falida economia capitalista. Ente 1930 e 1940 o Estado passou a pr em prtica e financiar

    programas e planos de ao destinados a promover interesses sociais coletivos de seus mem-

    bros, alm de subsidiar, estatizar e socorrer empresas falidas.

    O Estado de Bem-Estar Social teve a sua fundamentao terica em John Maynard

    Keynes.

    Para Keynes, o Estado deve assumir um papel de liderana na promoo do crescimen-

    to e do bem-estar material e na regulao da sociedade civil. Em outras palavras, os merca-

    dos livres no regulados, por si ss no conseguem gerar crescimento estvel, nem eliminar

  • EaD TEOR IA DO ESTA DO CONTEMPOR NEO

    34

    as crises econmicas, o desemprego e a inflao. Keynes prega

    que o Estado tenha um papel central no crescimento e no bem-

    estar material. Em sua teoria, o pleno emprego ganhava priorida-

    de como um direito do cidado.

    Falando-se no Estado Social, pode-se afirmar que foi com a

    Constituio mexicana, de 1917, e a Constituio de Weimar, de

    1919, que teve incio a construo do modelo constitucional do

    Welfare State, ou o Estado de Bem-Estar Social. O Welfare State

    seria o Estado no qual o cidado, independentemente de sua si-

    tuao social, tem direito a ser protegido, por intermdio de me-

    canismos e prestaes pblicas estatais, emergindo assim a ques-

    to da igualdade c omo o f undamento para a ati tude

    intervencionista do Estado (Morais, 2002, p. 38).6

    Como j mencionado anteriormente, a formao deste Es-

    tado algo que perpassa muitos anos. possvel afirmar que o

    mesmo modelo acompanha o desenvolvimento do projeto liberal

    transformado em Estado do Bem-Estar Social no transcurso da

    primeira metade do sculo 20, ganhando contornos definitivos

    aps a Segunda Guerra Mundial. Para Morais (2002, p. 38), a

    histria desta passagem tem vnculo especial com a luta dos mo-

    vimentos operrios pela conquista de uma regulao/garantia/

    promoo da chamada questo social. Caracterstica do Welfare

    State, a idia de interveno no novidade surgida no sculo

    20. Assim o Estado, com sua ordem jurdica, implica interveno.

    Cabe lembrar e reconhecer, conforme Morais (p. 35), que o

    processo de crescimento/aprofundamento/transformao do pa-

    pel, do contedo e das formas de atuao do Estado no benefi-

    ciou unicamente as classes trabalhadoras. O papel do Estado,

    6 Argumentos elaborados a partir de Marks (2008).

    John Mainard Keynes

    Nasceu em 1883 emCambridge, na Inglater ra, e

    morreu em 1946 em Tilton. Fo ieconomista, estudou em Eton

    e no Kings College, emCambridge, e permaneceu

    nesta c idade depois deformado a fim de estudar

    Cincia Econmica com AlfredMarshall. Depois de breve

    perodo no servio pblico,voltou a Cambridge para

    lecionar Cincia Econmica ese tornou editor do EconomicJournal em 1911. Du rante a

    Pr imeira Guerra Mundialtrabalhou no Tesouro e foi o

    seu principal representante emVersalhes. Na Segunda Guerra

    Mundial Keynes foi responsvelpela negociao com os

    Estados Unidos do acordo doEmprstimo e Arrendamen to e

    partic ipou do acordo deBretton Woods, que estabele-

    ceu o Fundo MonetrioInternacional. especialmente

    conhecido por seus escr itossob re Economia, com desta-

    que para The General Theoryof Employment, Interest and

    Money (1936) . Fonte:Outhwaite, W.; Bottomore, T.

    (Eds.). Dicionrio do pensa-mento social do sculo XX.Rio de Janeiro: Zahar, 1996.

  • EaD TEOR IA DO ESTA DO CONTEMPOR NEO

    35

    em vrios setores, possibilitou investimentos em estruturas bsicas que alavancaram o pro-

    cesso produtivo industrial, as quais mostraram-se viveis para o investimento privado (como

    a construo de usinas hidreltricas, estradas, financiamentos, etc.).

    Essa dupla face faz parte da peculiar trajetria do Estado Social em que a interveno

    pblica refletia as reivindicaes dos movimentos sociais e, ao mesmo tempo, a ao

    intervencionista do Estado tornava possvel a flexibilizao do sistema, o que garantia a

    sua prpria manuteno e continuidade, bem como dava condies de infra-estrutura para

    o seu desenvolvimento.

    Constatado o progresso por parte do Estado nas atividades econmicas, sociais,

    previdencirias, educacionais, entre outras, o Estado visto como liberal v-se a um passo de

    um Estado Social. Importante destacar que a presena do Estado se faz absolutamente

    necessria para a correo de desequilbrios muito grandes a que so submetidas as socie-

    dades ocidentais que, por sua vez, no tm um comportamento disciplinar com relao a

    sua economia, ou seja, no possuem um planejamento centralizado.

    Nesse nterim, o Estado passa a assumir um papel de controlador, regulador da econo-

    mia, por meio de normas geralmente de cunho disciplinar. Por assim dizer, o Estado torna-se

    um gigante, um grande empregador, dando complexidade vida social. Fala-se, nesse mo-

    mento, da burocracia estatal (Bastos, 1999, p. 142).

    Segundo vrios autores, at o final dos anos 60 o pensamento de Keynes constituiu a

    ideologia oficial do que chamavam de compromisso de classe, quando diferentes grupos

    podiam entrar em conflito nos limites do sistema capitalista e democrtico. Por esse motivo

    a crise do keynesianismo entendida como uma crise do capitalismo democrtico.

    O keynesianismo, desde o ps-guerra, defende a tese de que o Estado pode harmoni-

    zar a propriedade privada dos meios de produo com a gesto democrtica da economia.

    So fornecidas as bases para que ocorra o compromisso de classe, oferecendo aos partidos

    polticos representantes dos trabalhadores uma justificativa para que exeram o governo em

    sociedades capitalistas, engajando metas na plenitude de emprego e na redistribuio de

    renda em favor das classes populares. Nesse sentido, o Estado visto como provedor de

    servios sociais e tambm um regulador de mercado, sendo desta forma o mediador das

    relaes e dos conflitos sociais.

  • EaD TEOR IA DO ESTA DO CONTEMPOR NEO

    36

    A crise do keynesianismo, portanto, nada mais do que a crise das polticas de admi-

    nistrao de demanda, ou seja, quando emergem sinais de insuficincia de capital, as pol-

    ticas que so voltadas eliminao da juno entre a produo corrente e a produo

    potencial no mais apontam solues (Bresser Pereira; Wilhelm; Sola, 1999, p. 225).

    Streck e Morais (2004, p. 91) lembram que, apesar de sustentado o contedo prprio

    do Estado de Direito no individualismo liberal, faz-se mister a sua reviso frente prpria

    disfuno ou desenvolvimento do modelo clssico do liberalismo. Sendo assim, o Estado

    conserva aqueles valores jurdico-polticos clssicos, porm, em consonncia com o sentido

    que vem tomando no curso histrico, como tambm com as necessidades e as condies da

    sociedade do momento. Nesse sentido, inclui direitos para limitar o Estado e direitos com

    relao s prestaes do Estado. Faz-se necessrio corrigir o individualismo liberal por meio

    de garantias coletivas. Isso se d pela correo do liberalismo clssico pela reunio do capi-

    talismo na busca do bem-estar social, que a frmula geradora do Welfare State neocapitalista

    no ps-Segunda Guerra Mundial.

    Na Europa Ocidental esse modelo poltico-econmico foi chamado de Estado de Bem-

    Estar Social (Welfare State), na Amrica Latina foi denominado de desenvolvimentismo e,

    nos Estados Unidos da Amrica, esse modelo de Estado ficou conhecido como New Deal e

    colocado em prtica por Franklin Delano Roosevelt entre os anos de 1933 e 1940. Este

    modelo tinha como finalidade promover a recuperao da Grande Depresso e corrigir os

    defeitos no sistema que se acreditava terem sido por ela revelados. Entre as medidas toma-

    das pelo New Deal nos EUA estavam: a) substancial libertao da poltica monetria das

    restries do padro-ouro e maior aceitao da responsabilidade da poltica monetria para

    a estabilizao da economia; b) crescente confiana na poltica oramentria governamen-

    tal para levar a cabo e manter altos nveis de emprego; c) instituio do Estado de Bem-

    Estar Social (o fortalecimento do sistema de seguridade social, fornecendo benefcios de

    aposentadoria para trabalhadores; sistema de seguro-desemprego; o fornecimento de aux-

    lio financeiro a famlias pobres com filhos dependentes); d) interveno do governo para

    controlar preos e produo agrcola; e) promoo governamental da organizao sindical;

    f) novo ou ampliado controle governamental de preos, tarifas ou outros aspectos dos trans-

    portes, energia, comunicao e indstria financeira e, g) movimento no sentido de uma

    poltica mais liberal de comrcio internacional.

  • EaD TEOR IA DO ESTA DO CONTEMPOR NEO

    37

    O Estado de Bem-Estar Social alcana seu pice entre os anos 40 e 70 (considerados

    os anos de ouro do capitalismo). A partir dos anos 70 comea a ser questionado por investir

    e gastar demasiadamente nas questes sociais (sade, emprego, moradia, previdncia e edu-

    cao). Os gastos sociais aumentam, o que desencadeia uma crise fiscal do Estado, alm de

    estancamento econmico, elevadas taxas de desemprego e inflao. Ressurge a defesa das

    idias liberais do livre mercado, agora sob um novo rtulo chamado de neoliberal, tendo em

    Friedrich von Hayek o seu principal interlocutor. Para Hayek, a vida social sob a gide do

    Estado o caminho indefectvel para a servido. A crtica dos neoliberais incide sobre o

    dirigismo e a planificao do Estado sobre a economia, ou seja, defendem o mercado

    desregulamentado e menores presses tributrias.

    Por fim, procuramos expor nesta unidade idias e autores que tratassem das crises e

    das transformaes do Estado no sculo 20. Desde as teorias de Lenin e Rosa Luxemburgo

    (experincias totalitrias), passando pelos diferentes entendimentos do Estado na Teoria

    Democrtica, at a experincia do Estado de Bem-Estar Social na Europa. Em sntese, o

    Estado de Bem-Estar Social foi institudo basicamente por partidos sociais democratas, de-

    limitando uma terceira via entre o socialismo de esquerda e o liberalismo de direita. Os

    social-democratas prevem uma passagem gradual do capitalismo ao socialismo exclusiva-

    mente pelas vias eleitorais e parlamentares.

    Mais frente, na Unidade 4, voltaremos a tratar das relaes entre o Estado de Bem-Estar

    Social e o neoliberalismo.

    Sugesto de leituras: (referncias completas no final)

    Para aprofundar o tema dos interpretes de Marx, conferir Outhwaite e

    Bottomore (1996, p. 814).

    Para um aprofundamento das idias de Lenin, conferir Prlot (1973, p. 69-79).

    Sobre a Teoria das Elites, conferir o trabalho de Oliveira (2003).

  • EaD TEOR IA DO ESTA DO CONTEMPOR NEO

    38

    Sobre a Teoria Participativa ler a obra Participao e teoria democrtica, de Carole Pateman

    (1992), a qual divide-se em duas partes: a primeira trata do impulso gerado pelas obras de

    Rousseau, John Stuart Mill e G. H. Cole para substanciar a relao entre democracia e

    participao. Na segunda parte Pateman apia-se nas idias de Sidney Webb e Beatrice

    Webb para discorrer sobre a perspectiva de democratizar as relaes no interior das fbricas.

    Sobre a questo dos direitos naturais e da mo invisvel do mercado, conferir as obras de

    Locke (2001) e Smith (1981), respectivamente.

    Sobre o Estado social e o enfrentamento de suas crises, ver obra de Morais (2002).

    Para uma leitura mais detalhada sobre o Estado de Bem-Estar Social, conferir Outhwaite

    e Bottomore (1996, p. 522).

  • EaD TEOR IA DO ESTA DO CONTEMPOR NEO

    39

    Estado, Sociedade e Direitos Sociais no Brasil

    A definio de brasileiro tem sido feito e refeito, ao longo dos anos, por diversos auto-

    res de livros famosos. Paralelamenta, no entanto, a sociedade dominante que deu a base

    do conceito, uma vez que, para ser escritor, era preciso ser letrado, um privilgio no Brasil

    que h pouco tempo havia se estabelecido como repblica.

    Um Brasil no qual imperava o conceito europeu de superioridade sobre os negros,

    ndios e mestios, que constituam a maioria do povo brasileiro, aos quais, por muito tempo,

    os escritores deram as costas, fazendo com que seus escritos apenas revelassem a diminuta

    face europia do pas.

    Com o sculo 20 chegando, porm, essa idia estava fadada runa, como demonstrou

    Euclides da Cunha na sua narrao do Nordeste brasileiro; Monteiro Lobato, com o Jeca

    Tatu, e Gilberto Freyre, com Casa-Grande & Senzala, s para citar uns poucos exemplos. A

    partir deste ltimo livro o Brasil aspirou tornar-se uma democracia social. Segundo o relato,

    os africanos no eram selvagens e, dentre outras coisas, sabiam manejar o gado, trabalhar o

    ferro, irrigar o solo, adub-lo e cuid-lo, fazer fortificaes e organizar as tropas para o

    combate. Sabiam ler e escrever, e muitos j tinham lido o Alcoro, enquanto seu dono no

    sabia escrever o prprio nome.

    No Brasil no ramos apenas trs raas branco, ndio e negro mas sim uma mistura

    de povos, oriundos de diversos pases. Cmara Cascudo tinha a ambio de que os brasilei-

    ros gostassem de verdade do Brasil. O livro Razes do Brasil (1936), de Srgio Buarque de

    Holanda, destaca que a expanso portuguesa foi s aventura, sem mtodo nem rumo. J

    Manuel Bonfim afirma que os portugueses tinham obstinao em cumprir o projeto do pri-

    meiro imprio moderno. Srgio Buarque de Holanda afirma que o portugus era adaptvel,

    se entendia com os nativos, mas queria ficar rico logo e voltar para casa. Segundo ele, os

    portugueses tinham uma cultura da aventura e no do trabalho.

    Unidade 3Unidade 3Unidade 3Unidade 3

  • EaD TEOR IA DO ESTA DO CONTEMPOR NEO

    40

    Silva (2000) argumenta que o Brasil tinha de deixar de ser um pas de portugueses

    transplantados nos trpicos, porque os ndios e os africanos se adaptaram ao molde lusita-

    no, e no o contrrio. A arte e a literatura tiveram grandes expoentes nesse perodo: Portinari,

    Nelson Rodrigues, Ceclia Meireles, Jorge Amado e Graciliano Ramos.

    A histria do Brasil era apenas mais um captulo da histria do comrcio europeu:

    tnhamos surgido para fornecer bens tropicais. No incio do sculo tnhamos classes sociais

    em luta escravos, semi-escravos, pobres, explorados e empobrecidos. A obra Bandeirantes e

    pioneiros (1955), de Viana Mogg, explica porque o Brasil no cresceu como os Estados

    Unidos, pas modelo e meta para as classes mdias brasileiras.

    Com a descoberta do ouro criou-se um mercado interno, e, assim, a base para uma

    economia nacional. Essa base aumentou com o caf, quando se substituiu escravos por

    assalariados. Surgiam, a, consumidores em potencial. As misturas de raa fizeram o brasi-

    leiro que temos hoje. De tantas raas presentes em nosso pas, no h tipo humano que

    no caiba no passaporte do Brasil.

    Neste sentido, esta Unidade tem como objetivo discutir aspectos ligados ao Estado,

    sociedade e aos direitos sociais no Brasil a partir da anlise de algumas Constituies Fede-

    rais. A seo inicial discute o descobrimento do Brasil como conseqncia de um pensa-

    mento racional instrumental moderno. Os espanhis e portugueses seguem a lgica da con-

    quista, do enriquecimento a qualquer custo, da expanso do Imprio juntamente com a

    expanso do cristianismo. A seo 3.2 discute aspectos do Estado, do Direito e da sociedade

    no Brasil a partir da herana lusitana da centralidade do Estado, do patrimonialismo e do

    direito transplantado da metrpole para a colnia. Na seo 3.3 apresenta-se a discusso

    do Estado no Brasil e a relao com os direitos sociais mediante uma leitura das diferentes

    Constituies do Brasil, desde 1824 at a Constituio Cidad de 1988.

    Seo 3.1

    O descobrimento do Brasil: antecedentes

    A modernidade emergiu sob o mito da criao de uma racionalidade instrumental, que

    levou o homem europeu a se confrontar com o outro, que habitava o Novo Mundo. Cris-

    tvo Colombo, representante mximo da mentalidade moderna europia, deixou regis-

  • EaD TEOR IA DO ESTA DO CONTEMPOR NEO

    41

    trado em seu dirio que o objetivo final de suas viagens era o

    enriquecimento e a expanso do cristianismo, porm logo perce-

    beu que o Deus dos espanhis era o ouro: Estava atento e trata-

    va de saber se havia ouro... No quero parar, para ir mais longe,

    visitar muitas ilhas e descobrir ouro. Colombo pedia, em suas

    oraes, que Deus o ajudasse a encontrar o referido metal: Que

    Nosso Senhor nos ajude, em sua misericrdia, a descobrir este

    ouro.... A segunda inteno de Colombo era a de expandir o

    cristianismo aos povos brbaros, com o apoio dos bispos e do

    Papa, juntamente com toda a Igreja, com o objetivo final de ob-

    ter maior financiamento para tal empreendimento: as viagens s

    Amricas. A sua prxima viagem ser para a glria da Santssima

    Trindade e da Santa religio crist e, para isso, Colombo espe-

    ra a vitria do eterno Deus, como ela sempre me foi dada no pas-

    sado e sintetiza: Espero em Nosso Senhor poder propagar seu

    Santo nome e seu Evangelho no universo. Todos sabiam que

    Colombo era um fervoroso cristo, inclusive que no viajava aos

    domingos, respeitando, assim, os mandamentos de Deus, seguin-

    do os ensinamentos da Igreja.

    O conquistador Gonzalo Fernandes Oviedo pregava, igual-

    mente, aos nativos das ndias, a existncia de um Deus, de um

    Papa e de um Rei que deveriam ser adorados; caso contrrio, so-

    freriam penas durssimas: Caciques e ndios desta terra firme do

    lugar tal: ns vos fazemos saber que existe um Deus, um Papa e

    um Rei de Castela que o S enhor destas terras : vinde

    incontinenti render-lhe homenagens, porque se no o fizerdes,

    sabei que ns vos faremos guerra e vos mataremos e vos escravi-

    zaremos.

    Bartolomeu de Las Casas, um dos poucos bispos europeus

    que defenderam a causa indgena, relatou que Colombo, quando

    era recepcionado com festas pelos americanos, recebendo pre-

    Vinde incontinenti

    uma expresso do conquista-dor Gonzalo Fernandes Oviedoaos nativos das Amrica.Significada prestar homenagems auto ridades (Deus, Rei,Papa).

  • EaD TEOR IA DO ESTA DO CONTEMPOR NEO

    42

    sentes como ouro e objetos preciosos, logo acorria a seu oratrio, seguindo os rituais da

    tradio crist, e dizia: Agradecemos ao Nosso Senhor que nos tornou dignos de descobrir

    tantos bens.

    A primeira referncia feita por Colombo, em relao populao que aqui vivia, no

    deixa de ser significativa, especialmente se relacionada ao aspecto natural em que vivia,

    mas a anlise foi feita apenas quanto ao aspecto fsico: ento viram gentes nuas, logo

    relacionaram como sendo povos selvagens, sem moral: Vo completamente nus, homens e

    mulheres, como suas mes os pariram, at mesmo os reis, as mulheres e as crianas, tudo

    dentro da maior naturalidade. Colombo, ao descrever o aspecto fsico dos habitantes ameri-

    canos (estatura, cor da pele...), chegou concluso de que so selvagens e que, pelo menos,

    tendem a parecer-se mais com os humanos do que com os animais.

    Os ndios foram considerados, inicialmente, seres dceis, generosos, gente boa; mas,

    com o passar do tempo, o europeu passou a consider-los como ladres, aplicando-lhes

    castigos por seus atos.

    Bem antes de o homem branco europeu chegar por estas terras, o ndio tinha suas

    normas morais e seus ritos religiosos. Ele respeitava a si prprio e aos demais, me Terra,

    gua, Lua, s estrelas, ao Sol. Os espanhis chegaram e impuseram a sua religio: em

    uma das mos, a cruz do Cristo europeu, simbolizando o poder da Igreja; na outra, a espada

    para a conquista.

    Colombo no descartou a possibilidade de os espanhis serem considerados de ori-

    gem divina pelos nativos, o que daria uma boa explicao para o medo inicial e seu desa-

    parecimento diante do comportamento indubi tavelmente humano dos conquistadores: os

    ndios associaram-nos com os deuses, por isso aceitaram pacificamente a dominao dos

    espanhis. Colombo assim se expressou ao se referir religio do ndio: So crdulos, sa-

    bem que h um Deus no cu, e esto convencidos que viemos de l... Um dos ndios que

    vinham com o almirante falou com o Rei dizendo-lhe que os cristos vinham do cu e anda-

    vam procura de ouro.

  • EaD TEOR IA DO ESTA DO CONTEMPOR NEO

    43

    E foi ass im, por essas e outras, que o grau de despudoramento do esprito do homem

    europeu no se furtou a lanar mo do libi de Deus para sacramentar e justificar o incio

    do massacre da cultura indgena nas Amricas, cuja vileza dos atos s ironicamente pode

    receber o nome de descobrimento. Em outras palavras: a ideologia religiosa serviu para

    justificar a dominao dos europeus para com os nativos que viviam