ead teoria estado contemporaneo final
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EaD TEOR IA DO ESTA DO CONTEMPOR NEO
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UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL UNIJU
VICE-REITORIA DE GRADUAO VRG
COORDENADORIA DE EDUCAO A DISTNCIA CEaD
Coleo Educao a Distncia
Srie Livro-Texto
Iju, Rio Grande do Sul, Brasil2009
Dejalma Cremonese
TEORIA DO ESTADOCONTEMPORNEO
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EaD TEOR IA DO ESTA DO CONTEMPOR NEO
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2008, Editora UnijuRua do Comrcio, 136498700-000 - Iju - RS - BrasilFone: (0__55) 3332-0217Fax: (0__55) 3332-0216E-mail: [email protected]
Editor: Gilmar Antonio Bedin
Editor-adjunto: Joel Corso
Capa: Elias Ricardo Schssler
Reviso: Vra Fischer
Designer Educacional: Karin Strohschoen
Responsabilidade Editorial, Grfica e Administrativa:
Editora Uniju da Universidade Regional do Noroestedo Estado do Rio Grande do Sul (Uniju; Iju, RS, Brasil)
Catalogao na Publicao:Biblioteca Universitria Mario Osorio Marques Uniju
C915t Cremonese, Dejalma.
Teoria do estado contemporneo / Dejalma Cremonese. Iju :Ed. Uniju, 2009. 124 p. (Coleo educao a distncia. Srielivro-texto).
ISBN 978-85-7429-751-4
1. Estado. 2. Sociedade. 3. Direitos sociais. 4. Neoliberalismo.5. Eleies- Brasil. I. Ttulo. II. Srie.
CDU : 321 321.01
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SumrioSumrioSumrioSumrio
CONHECENDO O PROFESSOR .................................................................................................. 5
INTRODUO ................................................................................................................................. 7
UNIDADE 1 A CRTICA CONTRA O ESTADO NO SCULO 19 ......................................... 9
Seo 1.1 O anarquismo ....................................................................................................... 9
1.1.1 Os principais representantes:
Proudhon, Bakunin, Kropotkin e Tolstoi ............................................ 10
Seo 1.1 O anarquismo ....................................................................................................... 9
Seo 1.2 O socialismo utpico ........................................................................................ 11
1.2.1 Os principais representantes:
Saint-Simon, Fourrier, Owen e Luis Blanc ......................................... 12
Seo 1.3 O socialismo cientfico ..................................................................................... 12
1.3.1 Os principais representantes:
Marx e Engels ........................................................................................ 13
UNIDADE 2 CRISES E TRANSFORMAES DO ESTADO NO SCULO 20............... 19
Seo 2.1 Os intrpretes de Marx: Lenin e Rosa Luxemburgo .................................... 20
Seo 2.2 O debate sobre o Estado na Teoria Democrtica Contempornea .......... 22
2.2.1 A Teoria das Elites ................................................................................. 22
2.2.2 A Teoria Pluralista ................................................................................. 26
2.2.3 A Teoria Neomarxista ............................................................................ 28
2.2.4 A Teoria Participacionista (Macpherson, Held e Pateman) ............. 30
Seo 2.3 A procedncia do Estado do Bem-Estar Social:
a Teoria Keynesiana e a Social Democracia ................................................ 33
UNIDADE 3 ESTADO, SOCIEDADE E DIREITOS SOCIAIS NO BRASIL ..................... 39
Seo 3.1 O descobrimento do Brasil: antecedentes ................................................. 40
Seo 3.2 Estado, Direito e Sociedade em descompasso ............................................. 43
3.2.1 Direito do colonizador e privilgio das elites ..................................... 43
3.2.2 A herana colonial e o Estado brasileiro ............................................ 44
3.2.3 A Repblica Brasileira: nova sociedade,
novo modelo constitucional, velho autoritarismo ............................. 45
Seo 3.3 A formao do Estado no Brasil e a questo dos direitos sociais .............. 46
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UNIDADE 4 OS FUNDAMENTOS TERICOS DO NEOLIBERALISMO:
Friedrich A. Hayek ............................................................................................ 61
Seo 4.1 O Neoliberalismo: aspectos tericos e aplicabilidades ................................ 61
4.1.1 Hayek diverge de Keynes ....................................................................... 63
4.1.2 A planificao estatal leva ao caminho da servido ...................... 64
Seo 4.2 As idias neoliberais constitudas no mundo ................................................ 68
Seo 4.3 Consenso de Washington: reviso do neoliberalismo ................................... 70
Seo 4.4 A experincia neoliberal do Brasil ................................................................... 72
4.4.1 Conseqncias das polticas neoliberais no Brasil ............................ 75
Seo 4.5 A continuidade do colonialismo ...................................................................... 77
Seo 4.6 A crise atual do neoliberalismo ....................................................................... 79
UNIDADE 5 ELEIES E DESEMPENHO PARTIDRIO NO BRASIL (2002-2008) ....... 85
Seo 5.1 Eleies gerais 2002: Lula e o PT vitoriosos .................................................. 87
5.1.1 Avaliando o primeiro mandato.............................................................. 89
5.1.2 A composio ministerial ....................................................................... 89
5.1.3 A mudana programtica se confirmou .............................................. 90
5.1.4 Comprometimento com as instituies financeiras internacionais ..... 90
5.1.5 Avanos e retrocessos ............................................................................. 91
Seo 5.2 As eleies municipais de 2004 ....................................................................... 92
5.2.1 Primeiro turno: PT e PSDB saem na frente ......................................... 93
5.2.2 Vitrias eleitorais nos municpios e capitais (1 turno) .................... 94
5.2.3 Segundo turno: resultados gerais no Brasil ........................................ 94
5.2.4 Vitria do PSDB ...................................................................................... 95
5.2.5 Governando as capitais: hegemonia do PT e do PSDB ..................... 97
5.2.6 O controle poltico nas maiores cidades ............................................. 98
5.2.7 Total de votos de cada partido .............................................................. 98
5.2.8 Cenrio poltico gacho (1 turno) ...................................................... 99
5.2.9 A derrota petista em Porto Alegre ...................................................... 101
Seo 5.3 As eleies gerais de 2006 ............................................................................. 105
5.3.1 A campanha eleitoral .......................................................................... 105
Seo 5.4 Eleies municipais de 2008 ......................................................................... 111
REFERNCIAS ........................................................................................................................... 119
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Conhecendo o ProfessorConhecendo o ProfessorConhecendo o ProfessorConhecendo o Professor
Sou Dejalma Cremonese, tenho 39 anos, nasci no dia 7 de
dezembro de 1968 no Centro-Serra do Rio Grande do Sul, mais
precisamente no municpio de Arroio do Tigre (a uma distncia de
243 Km de Porto Alegre). Sou o dcimo terceiro filho de uma fam-
lia de pequenos agricultores e realizei meus primeiros estudos (En-
sino Fundamental) em uma escola interiorana da rede pblica
(1976-1983). A continuidade dos estudos s foi possvel graas ao
meu ingresso no Seminrio Diocesano de Santa Maria RS, onde
conclu o Ensino Mdio, mais o curso propedutico (1984-1987).
Continuando os estudos, graduei-me em Filosofia (Licenciatura e Bacharelado) pela Fafimc
de Viamo RS (1988-1990). Ao retornar a Santa Maria, cursei ainda 2 anos do curso de
Teologia (1991-1992) no Seminrio Mximo Palotino. Minha Ps-Graduao foi em Pes-
quisa Cientfica (nvel de Especializao) na FIC (1993-1994). Logo aps iniciei o Mestrado
em Filosofia pela UFSM, o qual conclu em 1997. Quase uma dcada depois, em 2006,
conclu o Doutorado em Cincia Poltica pela UFRGS. Minha atuao profissional iniciou
em 1994 como professor nas turmas secundaristas do Colgio SantAnna, em Santa Maria.
Como professor universitrio, lecionei no Ensino de Graduao da FIC (hoje Unifra) em
Santa Maria; tambm atuei como professor substituto na UFSM no ano de 1995; fui profes-
sor da Universidade de Cruz Alta (Unicruz) no perodo de 1997-2002. Desde 1998 exero as
atividades acadmicas na Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do
Sul (Uniju). Nesta Universidade, sou professor Associado 1 (40 horas), atuando no Progra-
ma de Mestrado em Desenvolvimento na Linha de Pesquisa: Direito, Cidadania e Desenvol-
vimento. Atuo tambm no Departamento de Cincias Sociais da mesma Universidade nos
seguintes componentes curriculares: Cincia Poltica, Teoria Poltica, Teoria do Estado e
Sociedade, Poltica e Cultura. O meu eixo de pesquisa est centrado nos temas da Democra-
cia (teoria e processos democrticos), Cidadania (participao e incluso social), Cultura
Poltica (Capital Social) e Desenvolvimento. Para maiores informaes, disponibilizo um
site na Internet no seguinte endereo: . Para contato direto
informo o meu endereo de e-mail: [email protected]
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IntroduoIntroduoIntroduoIntroduo
Este livro tem como objetivo discutir a questo do Estado a partir do perodo histrico
contemporneo.1 Como disciplina, a Teoria do Estado sistematiza principalmente conheci-
mentos jurdicos, filosficos, sociolgicos, polticos, histricos e econmicos, valendo-se de
tais conhecimentos para buscar o aperfeioamento do Estado, concebendo-o, simultanea-
mente, como um fato social e uma ordem, que procura atingir seus fins com eficcia e justia.
Esta obra tem como objetivo apresentar aos acadmicos uma viso panormica sobre
o debate do Estado nos dois ltimos sculos, 19 e 20.2
Este trabalho est dividido em cinco Unidades especficas. A primeira trata da crtica
terica do Estado no sculo 19, com a sistematizao das principais idias da teoria anar-
quista, do socialismo utpico e do socialismo cientfico, com seus respectivos representan-
tes. A Unidade 2 trata da crise e das transformaes do Estado no sculo 20. Apresenta a
questo do Estado no debate da Teoria Democrtica Contempornea, alm de discutir a
conceituao e instituio do Estado de Bem-Estar Social (Welfare State) na Europa e do
New Deal nos Estados Unidos da Amrica, at a crise desse modelo nos anos 70. J na
Unidade 3 apresenta-se um debate mais especfico da origem e do desenvolvimento do Esta-
do e da sociedade no Brasil. Inicialmente procura-se apresentar a estruturao e o desenvol-
vimento da sociedade, da economia e da poltica, a partir do descobrimento do Brasil,
passando pelo perodo colonial at a emancipao poltica do pas. Apresenta, igualmente,
a intalao do Estado a partir da vontade das elites portuguesas aliadas elite brasileira.
Na Unidade 4, sob o ttulo O neoliberalismo: aspectos tericos e aplicabilidades, procura-
se discutir questes tericas das origens do neoliberalismo a partir da obra O caminho da
servido, de Hayek, bem como a discordncia com a teoria keynesiana. Em um segundo
1 O perodo contemporneo inicia-se logo aps a Revoluo Francesa (1789) e estende-se at nossos dias.
2 De certa maneira, este livro uma continuidade do manual de Teoria Poltica em que o autor procurou sistematizar as idias centraissobre a questo do poder, da poltica e do Estado (desde as origens, formao, estrutura, organizao, funcionamento e suas finalidades).Conferir Cremonese (2008).
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momento apresenta-se um debate quanto aplicabilidade das polticas neoliberais no mun-
do e no Brasil, a partir do chamado Consenso de Washington (1989). Por fim, discutem-se
alguns aspectos da crise do neoliberalismo atual, pelos quais constata-se a ntida mudana:
da mo invisvel do mercado para a mo visvel do Estado. A ltima Unidade (5) aborda
aspectos ligados s eleies e ao desempenho partidrio no Brasil a partir de 2002 at 2008
no intuito de mostrar o jogo de fora dos principais partidos polticos (PMDB, PSDB, PT e
DEM) na arena poltica nacional.
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Unidade 1Unidade 1Unidade 1Unidade 1
A Crtica Contra o Estado no Sculo 19
Seo 1.1
O anarquismo
Genericamente, pode-se afirmar que o anarquismo uma
teoria que nega todo tipo de autoridade poltica, religiosa, eco-
nmica ou ideolgica que se impe sobre os indivduos. Em ou-
tras palavras, o cerne do anarquismo o repdio aos governantes.
No mbito poltico, os anarquistas escolhem o Estado mo-
derno como principal inimigo. Este Estado, dentro de seu territ-
rio, divide as pessoas em governantes e governados, monopoliza
os principais meios de coero fsica, reivindica soberania sobre
todas as pessoas e toda a propriedade; promulga leis visando a
suprimir todas as outras leis e costumes, pune os que infringem
suas leis e apropria-se fora, por meio de impostos e de outras
formas, daquilo que propriedade de seus subordinados. Desta
forma, os anarquistas se opem aos tericos que justificam e de-
fendem a existncia do Estado, como Thomas Hobbes, que argu-
menta que, na ausncia do Estado, no h sociedade e a vida
solitria, medocre, desagradvel, brutal e curta. Os anarquistas
defendem a idia de sociedade natural, uma sociedade auto-
regulada, pluralista, na qual poder e autoridade esto radical-
mente descentralizados (Outhwaite, W.; Bottomore, 1996, p. 15).
Thomas Hobbes (Malmesbury,5 de abril de 1588 HardwickHall, 1 de dezembro de 1674)foi um matemtico , tericopolt ico e filso fo ingls, autorde Leviat (1651) e Docidado (1651). Disponvelem: . Acessoem: 16 out. 2008.
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1.1.1 OS PRINCIPAIS REPRESENTANTES:Proudhon, Bakunin, Kropotkin e Tolstoi
Foi Joseph Proudhon (1809-1865) o primeiro terico a se
intitular anarquista. Proudhon est inserido no que chamamos
de anarquismo socialista. Para este autor, todos os partidos pol-
ticos so variedades de despotismo; o poder do Estado e do capi-
tal so sinnimos; o proletariado, portanto, no tem como se
emancipar mediante o uso do poder do Estado, apenas pela ao
direta (pacfica); a sociedade deveria ser organizada na forma de
comunidades locais autnomas de associaes de produtores,
unidas pelo princpio federativo (Outhwaite, W.; Bottomore,
1996, p. 16). tambm de Proudhon a famosa frase: A proprie-
dade um roubo.
Por outro lado, Mikhail A. Bakunin (1814-1876) e Pyotr
Alexeyevich Kropotkin (1842-1921), na Rssia, substituram o
mutualismo de Proudhon, primeiro pelo coletivismo e, depois,
pelo comunismo este ltimo significando o tudo pertence a
todos e a distribuio de acordo com as necessidades. Sob a in-
fluncia de Bakunin, os anarquistas adotaram a estratgia de
estimular insurreies populares, no decorrer das quais previa-se
que a propriedade capitalista e fundiria seria expropriada e
coletivizada, e o Estado abolido. No lugar do Estado surgiriam
as comunas autnomas, unidas federativamente: uma sociedade
socialista organizada de baixo para cima, e no ao contrrio.
Insurreies, atos de terrorismo e assasinatos faziam parte das
estratgias dos anarquistas para alcanar seus objetivos. Muitas
foram, no entanto, as formas de represso que os anarquistas
sofreram, exatamente pelo carter de violncia das suas aes.
Por isso adotaram uma estratgia alternativa associada ao
sindicalismo. A idia era transformar os sindicatos em instrumen-
tos revolucionrios da luta de classes e fazer deles, em vez das
comunas, as unidades bsicas de uma nova sociedade.
Pierre-Joseph Proudhon
(Besanon, 15 de janeiro de1809 Paris, 19 de janeiro de
1865) Anarquista, filho defamlia muito pobre, foi pastorde pequeno rebanho de gado
quando cr iana. Em 1840publica um livro que o torna
conhecido , seu ensaio Quest-ce que la proprit?, af irma
La proprit cest le vol (Apropriedade o roubo) e, em
seu livro Les confessions dunrvolu tionna ire, defende que
lanarch ie cest lordre (A
anarquia a ordem). Dispon-vel em: . Acesso
em: 20 set. 2008.
Mikhail Aleksandrovitch
Bakun in
(tambm apor tuguesado emBakun ine ou Baknine, em
russo ), n asceu no dia 30
de maio de 1814 (18 de maiono calendrio juliano ) nacidade de Premukhimo,
provncia de Tver, na Rssia;faleceu em 1 de julho de 1876
(19 de junho no calendriojuliano) em Berna, na Sua.
Disponvel em: . Acesso em:16 set. 2008.
Pyotr Alexeyevich Kropo tkin
(Moscou, 9 de dezembro de1842 Dmitrov, 8 de
fevereiro de 1921) foi umescritor russo. Disponvel em:
. Acesso em:
12 nov. 2008.
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Os anarquistas, diferentemente dos marxistas, acreditavam
que era possvel chegar a uma nova ordem social (ao comunis-
mo) sem precisar passar pela ditadura do proletariado: em outras
palavras, advogavam a passagem direta para a sociedade sem
Estado.
Leon Tolstoi (1828-1910), romancista russo, se ops radi-
calmente ao anarquismo revolucionrio e seus mtodos, mas no
a sua viso de uma nova sociedade socialista. Seu anarquismo,
no entanto, estava mais ligado tradio pacifista: a lei do
amor, expressa no Sermo da Montanha, o fez denunciar o
Estado e sua violncia organizada e conclamar as pessoas a
desobedecerem suas exigncias imorais. O apelo de Tolstoi dei-
xou seguidores, entre os quais Gandhi, no desenvolvimento de
sua Filosofia de no-violncia na ndia. Ele popularizou a tcni-
ca da resistncia no-violenta de massas e deu origem idia-
chave do anarco-pacifismo: a revoluo no-violenta, descrita
como um programa no para a tomada do poder, mas para a trans-
formao dos relacionamentos.
Seo 1.2
O socialismo utpico
Da mesma forma que o anarquismo, o socialismo utpico
saiu em defesa do proletariado (oprimidos e explorados), opon-
do-se ao individualismo econmico (liberalismo ou capitalismo),
pois este ltimo tem como prioridade a defesa da propriedade
particular dos meios de produo, o lucro pessoal, a livre concor-
rncia, a lei da oferta e da procura e o Estado mnimo (no-inter-
veno na economia).
Lev Tolstoi
Tambm conhecido como LonTo lstoi ou Leo Tolsto i ou LeoTo lstoy, Lev Nikolievich Tolstoi(em russo ) (9 de setembro de1828 20 de novembro de1910) considerado um dosmaiores escritores de todos ostempos. Disponvel em: . Acessoem: 14 out. 2008.
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1.2.1 OS PRINCIPAIS REPRESENTANTES:Saint-Simon, Fourrier, Owen e Luis Blanc
Um dos mais importantes pensadores do socialismo utpico
foi Saint-Simon, o qual faz severas acusaes contra a proprie-
dade privada, a herana e aos lucros sem trabalho. Foi tambm
contrria a explorao do proletariado.
Da mesma forma, Charles Fourrier fez crticas indstria,
as suas crises de pletora ou superproduo e a sua anarquia eco-
nmica, cujas repercusses abatem fsica e moralmente o oper-
rio, pois a sua pseudolivre concorrncia d origem a legies fa-
mlicas de proletrios. Diz Fourrier: A liberdade poltica, a sobe-
rania do povo: simples fachada! Esse povo, que morre de fome,
estranho soberano.
Robert Owen inovou no aspecto da participao dos oper-
rios nos lucros de sua empresa, ou, nas palavras de Chevallier
(1986), grande patro ingls, quer regenerar a degenerada raa
dos operrios. Outro autor que defendia o socialismo utpico
foi Luis Blanc.
Seo 1.3
O socialismo cientfico
Segundo Outhwaite e Bottomore (1996, p. 699), as idias
socialistas, em suas vrias formas, expressaram-se de vrios mo-
dos em sculos anteriores, mas o socialismo, como doutrina e
movimento caracterstico, s apareceu por volta de 1830, quan-
do o prprio termo entrou em uso corrente. Logo aps se propa-
Claude-Henri de Rouvroy,Conde de Saint-Simon
(Paris, 17 de outubro de 1760 Paris, 19 de maio de 1825),
foi um filsofo e economistafrancs, um dos fundadores
do socialismo moderno eterico do socialismo utpico.Fonte: .
Acesso em: 16 out. 2008.
Franois Mar ie CharlesFou rier
(Besanon, 7 de abril de 1772 Paris, 10 de Outubro de
1837) foi um socia lista fr ancsda primeira par te do sculo
19, um dos pais docooperativ ismo. Foi tambm
um crtico ferino doeconomicismo e do capitalismo
de sua poca e adversrio daindustria lizao, da civilizao
urbana, do liberalismo e dafamlia. Disponvel em: . Acesso em:
16 out. 2008.
Rober t Owen
(14 de maio de 1771 17 denovembro de 1858) foi um
reformador socia l gals e umfilso fo socia lista libertrio .
considerado o pai do movi-men to cooperativo. Disponvel
em: . Acesso
em: 24 out. 2008.
Louis Blanc
De batismo Louis Jean JosephCharles Blanc (Madr id , 29 deoutubro de 1811 Cannes, 6de dezembro de 1882) foi um
socialista utpico francs. Teveimportante partic ipao na
Revoluo de 1848, quandosuas idias foram colocadas
em prtica devido associaoen tre liberais e socia listas, na
tentativa de derrubar amonarquia. Eis elas: seriam
criadas associaes profissio-nais de tr abalhadores de um
mesmo ramo de produo , asOfic inas Nacionais, financiadas
pelo Estado. O lucro seriadiv id ido entre o Estado, os
associados e para f insassistenciais. Disponvel em:. Acesso em: 27set. 2008.
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gou rapidamente pela Europa, sobretudo aps as revolues de
1848. No final do sculo 19 muitos partidos socialistas j haviam
se desenvolvido em muitos pases europeus, como na Alemanha
e na ustria, bem como em outras partes do mundo.
Tem-se no marxismo o alicerce intelectual do socialismo
cientfico, principalmente na Europa Continental. O marxismo
analisa e revela as principais contradies do sistema capitalista
moderno, que divide a sociedade em duas classes: a burguesia
(superestrutura) e o proletariado (infra-estrutura). Critica de for-
ma direta o individualismo capitalista e prope o socialismo como
forma de priorizar o bem-estar de toda a sociedade. A teoria mar-
xista (como fundamento das idias socialistas) passou por cons-
tantes adaptaes no incio do sculo 20. A mesma teoria
reavaliada e desembocar em trs tendncias especficas: uma
reformista (Gr-Bretanha, com o Partido Trabalhista), a outra
revolucionria (Lenin, os bolcheviques e Stalin), e a terceira,
de carter centrista (social-democracia, de Kautsky). A tendn-
cia revolucionria foi posta em prtica na Rssia em 1917 por
Lenin e os bolcheviques, vindo a ser mais tarde instaurada uma
ditadura do proletariado de carter totalitrio e centralizador na
Unio Sovitica, sob o comando de Stalin. O socialismo buro-
crtico ir abrandando-se aps a morte de Stalin, em 1953, at o
seu derradeiro colapso a partir de 1990.
1.3.1 OS PRINCIPAIS REPRESENTANTES:Marx e Engels
Marx criticou o socialismo utpico pelo seu carter irreal e
ingenuidade, pois seus defensores queriam substituir o sistema
econmico existente por outro imaginado por eles: Tudo feito
apenas por eles mesmos, tal como a aranha faz a sua teia (Marx,
Karl Heinrich Marx
nasceu em Trveris no dia 5 demaio de 1818 e faleceu emLondres, no dia 14 de marode 1883. Filho de advogadojudeu convertido ao protestan -tismo. Foi fundador de umadas g randes teor ias que iriainfluenciar os sculos 19 e 20 ,intelectual a lemo, economista,sendo considerado um dosfundadores da Sociologia emilitante da Primeira e SegundaInternacional. Tambm possvel encontrar a influnciade Marx em vrias outrasreas, tais como: Filoso fia eHistria. Teve participaocomo intelectual e comorevolucionrio no movimentooperrio, escrevendo oManifesto Comunista.Disponvel em: . Acesso em: 29out. 2008.
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apud Prlot, 1973, vol. 4, p. 59). Em outras palavras, Marx critica os socialistas utpicos
por acreditarem ingenuamente que os burgueses, num gesto de benevolncia e candura,
vo distribuir seus bens aos famintos.
Herdeiro da viso hegeliana, Marx inverte a teria de Hegel (na questo do materialis-
mo dialtico) para o materialismo histrico. Marx partiu ento para a defesa exclusiva do
proletariado e a sntese de suas idias aparece na obra O Manifesto Comunista. Marx dividiu
a obra em quatro partes: a primeira, intitulada Burgueses e Proletrios, trata de questes
da Filosofia e da Histria. A segunda parte, Proletrios e Comunistas, explica a posio
dos comunistas em relao ao conjunto de proletrios, repelindo as censuras feitas pela
burguesia. Sob o ttulo Literatura Socialista e Comunista, a terceira parte passa sarcas-
ticamente em revista as diversas formas, reacionrias ou feudais, de pequena burgue-
sia, conservadores ou burguesas, crtico-utpicas do movimento social da poca.
Na quarta parte, brevssima, explica a posio dos comunistas diante dos outros partidos da
oposio. Eis alguns dos trechos mais importantes da obra O Manifesto Comunista, de Marx
e Engels:
A luta de classes:
A histria de toda a sociedade at hoje a histria de luta de classes (Marx; Engels,
1996, p. 66).
A sociedade inteira vai-se dividindo cada vez mais em dois grandes campos inimigos, em
duas grandes classes diretamente opostas entre si: burguesia e proletariado (p. 67).
A burguesia:
A prpria burguesia moderna o produto de um longo processo de desenvolvimento, de
uma srie de revolues nos modos de produo e de troca (p. 68).
A burguesia desempenhou na histria um papel extremamente revolucionrio. Onde quer
que tenha chegado ao poder, a burguesia destruiu todas as relaes feudais, patriarcais,
idlicas. (...) Afogou nas guas glidas do clculo egosta os sagrados frmitos da exaltao
religiosa, do entusiasmo cavalheiresco, do sentimentalismo pequeno-burgus (p. 68).
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A burguesia no pode existir sem revolucionar continuamente os instrumentos de produ-
o e, por conseguinte, as relaes de produo, portanto, todo o conjunto das relaes
sociais (p. 69).
A necessidade de mercados cada vez mais extensos para seus produtos impele a burguesia
para todo o globo terrestre (p. 69).
A burguesia submeteu o campo ao domnio da cidade. (...) Suprime cada vez mais a
disperso dos meios de produo, da propriedade e da populao (...) Criou foras pro-
dutivas mais poderosas e colossais do que todas as geraes passadas em conjunto (p.
70-71).
O proletariado:
A burguesia no forjou apenas as armas que lhe traro a morte; produziu tambm os
homens que empunharo essas armas os operrios modernos, os proletrios. (...) O pro-
letariado passa por diferentes fases de desenvolvimento. Sua luta contra a burguesia co-
mea com sua prpria existncia. (...) Com o desenvolvimento da indstria, o proletariado
no apenas se multiplica; concentra-se em massas cada vez maiores, sua fora aumenta e
ele sente mais tudo isso. (...) De todas as classes que hoje se opem burguesia, apenas o
proletariado uma classe verdadeiramente revolucionria (p. 72-75).
Todos os movimentos precedentes foram movimentos de minorias ou no interesse de mi-
norias. O movimento proletrio o movimento independente da imensa maioria no inte-
resse da imensa maioria. O proletariado, estrato inferior da atual sociedade, no pode
erguer-se, pr-se de p, sem que salte pelos ares toda a superestrutura dos estratos que
constituem a sociedade civil oficial (p. 77).
O capital fruto da explorao do trabalho:
A condio mais essencial para a existncia e a dominao da classe burguesa a acu-
mulao da riqueza nas mos de particulares, a formao e o aumento do capital; a con-
dio do capital o trabalho assalariado. (...) A burguesia produz, acima de tudo, seus
prprios coveiros. Seu declnio e a vitria do proletariado so igualmente inevitveis (p.
77-78).
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O capital um produto coletivo e s pode ser colocado em movimento pela atividade
comum de muitos membros da sociedade e mesmo, em ltima instncia, pela atividade
comum de todos os membros da sociedade. O capital, portanto, no uma potncia pes-
soal, uma potncia social (p. 81).
Assim, se o capital transformado em propriedade comum pertencente a todos os mem-
bros da sociedade, no uma propriedade pessoal que se transforma em propriedade
social. Transforma-se apenas o carter social da propriedade. Ela perde o ser carter de
classe (p. 81).
A ideologia:
O que demonstra a histria das idias seno que a produo intelectual se transforma
com a produo material? As idias dominantes de uma poca sempre foram as idias da
classe dominante (p. 85).
O comunismo:
O objetivo imediato dos comunistas o mesmo que o de todos os demais partidos prolet-
rios: constituio do proletariado em classe, derrubada da dominao da burguesia, con-
quista do poder poltico pelo proletariado (p. 80).
O que caracteriza o comunismo no a abolio da propriedade em geral, mas a abolio
da propriedade burguesa. (...) Nesse sentido, os comunistas podem resumir sua teoria
nessa nica expresso: abolio da propriedade privada (p. 79).
O Estado:
O poder poltico do Estado moderno nada mais do que um comit para administrar os
negcios comuns de toda a classe burguesa (p. 68).
Enfim, nesta Unidade voc pde compreender aspectos tericos referentes crtica do
Estado no sculo 20. Especialmente as principais idias defendidas pelos anarquistas,
socialistas utpicos e cientficos, tendo em Karl Marx o seu principal expoente. Marx ana-
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EaD TEOR IA DO ESTA DO CONTEMPOR NEO
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lisou criticamente o processo de acumulao capitalista. Isto , a classe detentora do capi-
tal, a burguesia, expropria o lucro do proletariado por intermdio da explorao da fora do
trabalho dos mesmos (explorao da mo-de-obra). A teoria marxista influenciou outros
intelectuais aps a morte de Marx e, com o passar do tempo, a obra de Marx continua
atual.1
Sugestes de leitura: (referncia completa no final)
Para aprofundar a temtica do socialismo utpico conferir Chevallier (1986).
Para maiores informaes sobre a crtica ao Estado burgus e a ditadura do proletariado,
ver a obra de Lenin: Estado e revoluo (1987): Chevallier (1986); Prlot (1973).
Aprofundar as idias do Manifesto Comunista de Marx e Engels (1996).
1 Nenhum terico se igualou a Marx na anlise e na compreenso do sistema capitalista. Por isso a leitura de suas obras imprescindvela todos aqueles que se dedicam anlise da sociedade, da economia e da poltica atual. Um exemplo bastante evidente da atualidade daobra de Marx presencia-se neste momento histrico de crise do capitalismo. Marx previu que o prprio capitalismo em excesso haveriade se autodestruir. Estaria ele certo em sua anlise?
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Unidade 2Unidade 2Unidade 2Unidade 2
Crises e Transformaesdo Estado no Sculo 20
Como referimos anteriormente, a teoria marxista foi reavaliada e desembocou em trs
tendncias especficas: uma reformista (Gr-Bretanha, com o Partido Trabalhista), a outra
revolucionria (Lenin, os bolcheviques e Stalin) e a terceira de carter centrista (social-
democracia de Kautsky). Ass im, o objetivo desta Unidade desenvolver, inicialmente, al-
guns argumentos que tratam da diviso das idias marxistas, principalmente entre o socia-
lismo democrtico e o comunismo leninista para, logo aps, tratar da questo do Estado na
teoria democrtica.
O objetivo da Unidade 2 tratar da questo do Estado: crises e transformaes duran-
te o sculo 20. A unidade comea na seo 2.1 com a discusso sobre o Estado pela tica
dos tericos marxistas, entre eles Lenin e Rosa Luxemburgo. A seo 2.2 trata do debate da
participao e da representao na Teoria Democrtica Contempornea. As subsees dis-
correm sobre a questo do Estado na teoria das elites, pluralistas, neomarxistas e na teoria
participativa. Na seo 2.3 discute-se a questo do Estado de Bem-Estar Social, modelo de
Estado aplicado aps a crise do capitalismo na Europa e nos Estados Unidos, inspirado nas
teorias keynesianas. O Estado de Bem-Estar aproxima-se do modelo poltico-econmico
da social-democracia de Karl Kautsky (os austro-marxistas), que prev uma passagem gra-
dual e insensvel do capitalismo ao socialismo exclusivamente pelas vias eleitorais e parla-
mentares.
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Seo 2.1
Os intrpretes de Marx: Lenin e Rosa Luxemburgo
Vladimir Ilyich Lenin foi estadista, revolucionrio e teri-
co poltico russo. Estudou por pouco tempo na Universidade de
Kazan e depois se dedicou inteiramente s atividades revolucio-
nrias. Lenin l iderou a segunda fase da Revoluo Russa
(bolchevique), logo aps ter regressado do exlio, tornando-se
presidente do Conselho de Comissrios do Povo. Em obras como
Que fazer? (1902) e Estado e Revoluo (1917) descreveu a natu-
reza do Estado socialista e imprimiu uma nfase diferente teo-
ria da revoluo de Marx ao sublinhar a centralidade da luta de
classes liderada por um partido rigorosamente organizado, e, em
O imperialismo, fase superior do capitalismo (1916), elaborou uma
teoria do imperialismo como etapa final do capitalismo. Por meio
da Internacional Comunista, que ele inspirou, suas idias foram
divulgadas no mundo inteiro. Foi o mais influente lder poltico e
terico do marxismo no incio do sculo 20, mas a atrao pelo
leninismo declinou no transcorrer do sculo.
Desde a sua entrada na vida poltica, Lenin adotou um
marxismo violento, apelidado por ele de marxismo revolucion-
rio. Lenin negou a idia de Marx expressa no Manifesto Comu-
nista de que o Estado burgus deve ser substitudo pela organi-
zao do proletariado como classe dominante, isto , Lenin re-
cusou-se a esperar a vitria do socialismo a partir das leis
imanentes ao desenvolvimento do capitalismo e como conseqn-
cia inevitvel da sucesso das estruturas econmicas. Tambm
rejeita a tese de Engels sobre a possibilidade de se chegar ao so-
cialismo pela via da legalidade democrtica e parlamentar. Criti-
cou e se ops radicalmente democracia tradicional capitalista.
Vladimir Ilitch Lenin
10 de abril/22 de abril de1870, Simbirsk, atual
Ulyanovsk 21 de janeiro de1924, Gorki, p rximo de
Moscou) foi um revolucionriorusso, responsvel em grande
parte pela execuo daRevoluo Russa de 1917,
lder do Partido Comunista eprimeiro presidente do
Conselho dos Comissrios doPovo da Unio Sovitica.
Influenciou teoricamente ospartidos comunistas de todo o
mundo, e suas contribuiesresultaram na criao de umacorrente terica denominada
leninismo. Disponvel em:. Acesso em: 19 out.
2008.
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Para ele, a democracia capitalista, que se revela inevitavelmen-
te tacanha e que exclui disfaradamente os pobres, sendo por
conseqncia hipcrita e enganadora, pois uma democracia
cada vez mais perfeita no se opera com a simplicidade e com a
facilidade imaginadas pelos professores liberais e pelos pequenos
burgueses oportunistas. Para Lenin a evoluo pacfica no bas-
tava, uma vez que o sufrgio universal um engano. O regime
democrtico parlamentar encontrava-se falseado pela interven-
o oculta ou direta dos poderes capitalistas. Lenin acusou a
democracia clssica burguesa de ser truncada, miservel e
falsificada; uma democracia apenas para os ricos, ou seja, para
uma minoria; de ser puramente formal, composta exclusivamen-
te por normas constitucionais e de deixar de lado o essencial ao
considerar que as solues econmicas e sociais derivam da pol-
tica. Segundo Lenin, apenas uma sociedade sem classes resolve-
ria as contradies polticas e permitiria a existncia de uma de-
mocracia concreta, em que houvesse liberdade para cada um e
em que todos participassem do poder. A vida poltica deixaria de
ser uma luta para se tornar uma comunho, graas ao trabalho
em comum num esprito de unidade e humanidade.
Rosa Luxemburgo, revolucionria socialista, ajudou a criar
o Partido Social-Democrata da Polnia, e em seguida, se mudou
para a Alemanha. Luxemburgo defendeu a causa da revoluo e
exps sua posio sobre o reformismo em Reforma social ou revo-
luo (1899). Em Greve de massas, partido poltico e sindicatos
(1906), props a greve de massas e no a vanguarda organiza-
da defendida por Lenin como o mais importante instrumento
da revoluo proletria. Em sua principal obra terica, A acumu-
lao do capital (1913), identificou o imperialismo como uma luta
competitiva entre naes capitalistas que culminaria no colapso
do sistema capitalista. Fundou juntamente com Karl Liebknecht
a Liga Espartaquista, e ambos foram brutalmente assassinados
Rosa Luxemburgo
Em polons Ra Luksemburg(Zamo, 5 de maro de 1871 Ber lim, 15 de janeiro de1919), foi uma filsofamarxista e militante revolucio-nria polonesa ligada Social-Democracia do Reino daPolnia (SDKP), ao PartidoSocia l-Democrata da Alemanha(SPD) e ao Partido Socia l-Democrata Independente daAlemanha. Partic ipou dafundao do grupo detendncia marxista do SPD,que v ir ia a se tornar mais tardeo Partido Comunista daAlemanha. Foi brutalmenteassassinada, depois de serseqestrada e espancada po rmembros de uma organizaoparamilitar, a soldo do governosocia l-democrata a lemo.Disponvel em: . Acessoem: 28 set. 2008.
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na priso por oficiais da extrema direita em 1919, depois da su-
presso de um malogrado levante em Berlim (Outhwaite;
Bottomore, 1996, p. 814).
Seo 2.2
O debate sobre o Estado na Teoria DemocrticaContempornea
O Estado ser o objeto central das anlises de diferentes
tericos da Teoria Democrtica Contempornea, principalmente
no debate da teoria das elites, na teoria pluralista, na teoria
neomarxista e na teoria participacionista. Este o objetivo desta
seo.
2.2.1 A TEORIA DAS ELITES
Gaetano Mosca, Vilfredo Pareto e Robert Michels inte-
gram o grupo de autores considerados elitistas clssicos. So, na
verdade, os fundadores da Teoria das Elites. So autores liberais
que entendem a poltica como uma prtica de lideranas que,
por sua origem e formao, atribuem-se o direito de dirigir e co-
mandar as massas populares, as quais, por sua condio social e
histrica, no esto aptas a governar. Neste cenrio, natural
que os inferiores sejam dirigidos pelos superiores, que pos-
suem o conhecimento da arte de comandar. Para os referidos au-
tores sempre haver desigualdade na sociedade, em especial a
desigualdade poltica. Isto , sempre existir uma minoria diri-
gente e uma maioria condenada a ser dirigida, o que significa
dizer que a democracia, enquanto governo do povo, uma fan-
Gaetano Mosca
Pensador poltico ita liano, foi oprimeiro grande terico da
teoria das e lites com suadoutrina da c lasse poltica. A
Teoria das Elites foi plasmadano pensamento de GaetanoMosca com sua doutrina da
classe poltica. Disponvel em:. Acesso em:16 out. 2008.
Vilfredo Pare to
(Paris, 15 de Julho de 1848 Cligny, 19 de agosto de 1923)
foi polt ico, socilogo eeconomista italiano. Disponvel
em: . Acesso
em: 16 out. 2008.
Robert Michels
(Colnia, 9 de janeiro de 1876 Roma, 3 de maio de 1936)fo i um socilogo alemo que
analisou o comportamentopoltico das elites inte lectuais,tornando-se conhecido pela
sua obra Sociologia dospartidos polticos (1915).
Disponvel em: . Acesso em:24 set. 2008.
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tasia inatingvel. Ou seja, os elitistas rejeitam a teoria clssica da democracia, bem como o
ideal democrtico rousseauniano de autogoverno das massas, que , pois, descartado como
utpico (apud Pio; Porto, 1998, p. 298). A teoria das elites encontra sua fundamentao
terica nas idias de Max Weber, para quem a democracia um antdoto contra o avano
totalitrio da burocracia. O autor entende que a poltica deve ser exercida por profissionais
e no por aquele poltico que no tem vocao.
Para os elitistas, a igualdade impossvel. As massas so necessariamente governadas
por uma minoria, que se impe at mesmo no seio dos partidos que se qualificam a si mes-
mos de democrticos.
Os autores da Teoria das Elites defendem que, na vida poltica, h pouco espao para
a participao democrtica e o desenvolvimento coletivo. Quanto democracia, a enten-
dem como meio de escolher pessoas encarregadas de tomar decises e de impor alguns limi-
tes a seus excessos.
A seguir, as principais concepes e diferenas entre os autores:
Pareto (1848-1923)
Fervoroso partidrio do liberalismo econmico, adversrio do socialismo, recusou a
concepo marxista da luta de classes. Em substituio prope a teoria da circulao
das elites, que explica a histria como a contnua substituio de um escol por ou-
tro (apud Schwartzenberg, 1979, p. 226).
Pareto afirma que elite o nome dado ao grupo de indivduos que demonstram possuir
o grau mximo de capacidade, cada qual em seu ramo de atividade. Cada um desses
ramos inclui algumas pessoas que so as mais bem-sucedidas, e a reunio delas forma
a elite. Para ele, toda sociedade est sempre dividida em uma elite e uma no-
elite.
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Mosca (1858-1941)
Diferentemente de Pareto, que apresenta uma abordagem psicolgica, Mosca prope
uma abordagem organizacional. Foi professor, deputado e senador italiano. Publicou
os Elementos da cincia poltica, em 1896, e imps a idia de classe dirigente, segun-
do a qual todas as sociedades assentam-se na distino entre dirigentes e dirigidos. O
poder, para ele, no pode ser exercido nem por um s indivduo nem pelo conjunto dos
cidados, mas somente por uma minoria organizada: a classe dirigente (classe pol-
tica). A classe dirigente esta minoria de pessoas que detm o poder (verdadeira classe
social), a classe dirigente ou dominante (apud Schwartzenberg, 1979, p. 228-229).
No entendimento de Mosca, a elite poltica deriva do fato de que seus membros so
aqueles que possuem um atributo altamente valorizado e de muita influncia na
sociedade em que vivem. Isto , possuem qualidades que lhes conferem certa superiori-
dade material, intelectual e mesmo moral, ou so herdeiros de indivduos que possuem
tais qualidades. Em sntese, o conceito de elite, para Mosca, uma minoria com inte-
resses homogneos e, devido a essa homogeneidade, de fcil organizao. justamen-
te essa organizao que explica sua capacidade de domnio sobre as massas (apud
Pio; Porto, 1998, p. 294-295).
Michels (1876-1936)
Contrariando Mosca, que se recusou a aprovar as leis fascistas sobre as prerrogativas
do chefe do governo, Michels se tornou um defensor das idias fascistas, estabelecen-
do, inclusive, uma amizade com o prprio Mussolini.
Segundo Michels, as massas no podem atuar, dirigir, governar por si prprias. O
governo direto das massas esbarra numa impossibilidade mecnica e tcnica. De-
fende a lei de ferro da oligarquia. Isto quer dizer: Quem diz organizao, diz ten-
dncia para a oligarquia. Em cada organizao (principalmente nos partidos polti-
cos) o pendor aristocrtico ser preponderante. Observa Michels que em todas as or-
ganizaes os dirigentes tendem a se opor aos aderentes, a formar um crculo interno
mais ou menos fechado e a se perpetuar no poder (apud Schwartzenberg, 1979, p.
230-231).
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Assim, a lei de ferro da oligarquia, de Michels, significa a
dependncia poltica das massas em relao s lideranas dos
partidos. Os lderes resolvem os problemas de ao coletiva do
partido, ou seja, pagam a maior parte dos custos para a obteno
dos bens coletivos que o partido prov e, por essa razo, so va-
lorizados e mesmo considerados imprescindveis pelas massas
(apud Pio; Porto, 1998, p. 294-295). Para o elitismo, a desigual-
dade um fato natural entre os seres humanos. Pode-se afirmar
que a teoria das elites antidemocrtica na medida em que con-
dena como impossvel qualquer forma de governo do povo.
exatamente esta viso (Teoria das Elites) que, sobretudo
a partir da teoria de Schumpeter, publicada nos anos 40, torna-
se a base da tendncia dominante da teoria democrtica (teoria
pluralista) e penetra profundamente na concepo corrente so-
bre a democracia.
Para Schumpeter (1984), a democracia direta no poss-
vel porque nem todos na sociedade esto no mesmo estgio de
desenvolvimento cultural. O autor critica as teorias clssica e
liberal da democracia pelo seu idealismo e utopismo. A democra-
cia apenas um processo eleitoral. Importa saber como as demo-
cracias funcionam e no como elas devem ser.
Nesse sentido, a democracia no est ligada a ideal ou fim;
ela um mtodo poltico um tipo de arranjo institucional para
se chegar a decises polticas. Sua definio processual. Quan-
to participao, ela fica restrita, e o sufrgio no precisa ser
universal, ele deve ser suficiente para manter a mquina eleitoral.
Assim, existem os lderes e os seguidores, os que no esto
interessados e os que so mal-informados. Segundo este autor,
os objetivos da sociedade devem ser formulados por lderes, por
Sufrgio
Ato ou efeito de sufragar.Processo de escolha porvotao; eleio. Disponvelem: Dicionrio Houaiss.
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uma elite que seja politicamente atuante, que possa devotar-se ao estudo dos problemas
sociais relevantes e seja capaz de compreend-los. Em outras palavras, o cidado comum
mal-informado e facilmente influenciado pela propaganda poltica, vulnervel, portanto.
Ao eleitor cabe apenas decidir qual grupo de lderes (polticos) ele deseja para condizir o
processo de tomadas de deciso. Ou seja, os eleitores no decidem nada, apenas escolhem.
As decises devem ser tomadas por especialistas, pois a maior parte dos cidados so
desinformados e desinteressados e at mesmo mal-informados e irracionais, com pouca tole-
rncia pelas opinies polticas rivais.
A democracia entendida como concorrencial (eleies dos lderes apenas). O autor
contrrio doutrina clssica da democracia (a democracia o mtodo para promover o bem
comum mediante as tomadas de deciso pelo prprio povo, com a intermediao de seus
representantes). Afirma Schumpeter (1984, p. 336) que o mtodo democrtico aquele
acordo institucional para se chegar a decises polticas em que os indivduos adquirem o
poder de deciso atravs de uma luta competitiva pelos votos da populao.
Anthony Downs, seguidor de Schumpeter, prope o uso de regras da economia como
referncia para um governo que se almeja racional e democrtico. Downs, defensor da teo-
ria da escolha racional, v o indivduo como ator poltico racional, pois esto em jogo as
preferncias de cada indivduo, o seu agir estratgico e o custo e benefcio de uma ao
(maximizar a satisfao e minimizar os danos). Em sntese, a ao eficientemente planeja-
da para alcanar os fins econmicos ou polticos conscientemente selecionados do ator, seja
ele o governo ou os cidados de uma democracia.1
2.2.2 A TEORIA PLURALISTA
A teoria pluralista da democracia poltica norte-americana tem em Tocqueville o seu
precursor. Ganhou evidncia a partir de 1940 com Parson e Trumam. Seu maior expoente,
porm, Robert Dahl, com a obra Um prefcio teoria democrtica (1989). Segundo
1 O terico Mancur Olson concorda com as idias de Schumpeter ao afirmar que o povo no sabe tomar decises polticas.
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Outhwaite e Bottomore (1996, p. 575), nas mos de Dahl o pluralismo torna-se uma teoria
da competio poltica estvel e relativamente aberta e das condies institucionais e
normativas que a sustentam.
O pluralismo considerado o elitismo democrtico na teoria poltica contempornea.
Para os pluralistas clssicos, a democracia no parece requerer um alto grau de envolvimento
ativo de todos os cidados; ela pode funcionar muito bem sem ele. Pelo contrrio, a apatia
poltica pode refletir a sade da democracia (Held, 1987). Nas palavras de Carnoy (1994), a
teoria poltica pluralista a ideologia oficial das democracias capitalistas. Para a tese
pluralista, no existe uma classe dirigente, mas numerosas categorias dirigentes, que algu-
mas vezes cooperam, outras se combatem, mas de certo modo se equilibram e representam
as presses da base (Schwartzenberg, 1979, p. 673).
A teoria pluralista ope-se concentrao de poder por parte do Estado. Ou seja,
contra o estatismo (o poder descentralizado e administrado por outras instituies). Em
outras palavras, a sociedade com diversos centros de poder, mas nenhum deles totalmente
soberano. Para Dahl, um dos mais importantes expoentes do pluralismo democrtico, o Es-
tado considerado um elemento neutro, cuja funo promover a conciliao dos interes-
ses que interagem na sociedade segundo a lgica do mercado. Assim, a multiplicidade de
centros de poder complementa a existncia das minorias concorrentes. Dahl chamou estes
diversos centros de poder de poliarquias.2
O estudo clssico de Robert Dahl, Polyarchy: participation and opposition, publicado
pela primeira vez em 1972, apresenta as oito garantias institucionais da poliarquia: a) liber-
dade de formar e se integrar a organizaes; b) liberdade de expresso; c) direito de voto; d)
elegibilidade para cargos polticos; e) direito de lderes polticos competirem por meio da
votao; f) fontes alternativas de informao; g) eleies livres e idneas e, h) existncia de
instituies que garantam que as polticas governamentais dependam de eleies e de ou-
tras manifestaes de preferncia da populao.
2 Dahl apresenta um diferenciao substancial entre democracia e poliarquia. Democracia um ideal no alcanado. Poliarquia ogoverno de muitos, capaz de garantir a proteger a liberdade de expresso; liberdade de formar e participar de organizaes; acesso informao; eleies livres; competio de lderes pelo apoio do eleitorado e, ainda, instituies destinadas a formular a polticagovernamental (Oliveira, 2003).
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O pluralismo tambm chamado de poltica competitiva das elites. Dahl define elite
como um grupo minoritrio que exerce uma dominao poltica sobre a maioria dentro de
um sistema de poder democrtico. No pluralismo, poucos tomam as decises polticas ( o
governo das minorias).
O pluralismo ope-se concepo participacionista da teoria democrtica, que v a
soluo na participao mais ampla possvel dos cidados nas decises polticas. Em snte-
se, os pluralistas nunca sentiram-se muito confortveis com o sufrgio universal e com o
governo da maioria.
Para os pluralistas o poder est disperso em toda a sociedade, no-hierrquico e
estruturado de forma competitiva. Havendo pluralidade de pontos de presso, surgem vrias
formulaes concorrentes de linhas polticas e vrios centros de tomadas de deciso (Held,
1987).
As idias da teoria pluralista so compatveis com a doutrina constitucionalista. Esta
teoria tambm conhecida como teoria democrtica elitista, institucionalista, procedimental,
descritiva/normativa ou concorrencial. O pluralismo, na viso norte-americana, uma dou-
trina da competio poltica.
Nas palavras de Dahl, a poliarquia o sistema poltico das sociedades industriais mo-
dernas, caracterizado por uma forte descentralizao dos recursos do poder e no seio do
qual as decises essenciais so tomadas a partir de uma livre negociao entre pluralidades
de grupos autnomos e concorrentes, mas ligados mutuamente por um acordo mnimo so-
bre as regras do jogo social e poltico.
2.2.3 A TEORIA NEOMARXISTA
Os tericos neomarxistas, Nikos Poulantzas, Ralph Miliband e Claus Offe, principal-
mente, rejeitam tanto a tese elitista de Michels como a tese pluralista de Dahl. A primei-
ra porque no assenta o poder na deteno dos meios de produo. A segunda sobretudo
porque seria uma tentativa de camuflagem, dando crdito iluso liberal da ordem
poltica autnoma (Schwartzenberg, 1979, p. 683).
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EaD TEOR IA DO ESTA DO CONTEMPOR NEO
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A teoria de Poulantzas centra-se na reflexo sobre o papel
do Estado nas sociedades modernas. Sua obra principal intitula-
se Poder poltico e classes sociais, publicada pela primeira vez em
1968.
Para Poulantzas, a tese da pluralidade das elites apenas
uma reao ideolgica tpica teoria marxista do poltico: a da
corrente funcionalista. Esta tese visa a esconder a luta das clas-
ses e a verdadeira natureza do poder do Estado. Considerando o
poder como que disperso entre diversos grupos, os elitistas-
pluralistas querem fazer esquecer a realidade do poder da classe
dominante, para fazer crer, pelo contrrio, na autonomia do po-
ltico e na neutralidade do Estado. Para este autor, parece que a
tese elitista de Mosca, Pareto e Michels procura ter sempre como
objetivo sustentar o esquema geral do domnio poltico. Para um
pensador marxista, no entanto, evidente que a classe politica-
mente dirigente identifica-se necessariamente com a classe eco-
nomicamente dominante (aqueles que possuem os meios de pro-
duo) (Schwartzenberg, 1979, p. 683).
Em sntese, os neomarxistas, especialmente Poulantzas, tra-
varam discusses com os pluralistas, especialmente no que se
refere s relaes entre economia, classes sociais e Estado. Para
os neomarxistas, as relaes de classe so relaes de poder, e as
polticas estatais so reflexos dos interesses do capital.
Para os neomarxistas o Estado configura-se pela luta de
classes, de forma direta ou indireta. Poulantzas argumenta que
democracia socialismo e no h socialismo verdadeiro que no
seja democrtico. Por outro lado, Poulantzas defende que se deva
manter a democracia representativa, no entanto somente uma
transio ao socialismo pode expandir e aprofundar mais a de-
mocracia sob essas condies. Segundo Poulantzas, o Estado no
Nicos Poulantzas
( em grego)(1936-1979) foi um greco francs marxista socilogopolt ico. Na dcada de 70Poulantzas era conhecido,junto com Louis Althusser,como um lder, ele f inalmentese tornou um proponente doeurocomunism. Ele maisconhecido pelo seu trabalhoter ico sobre o Estado, mastambm ofereceu contribuiespara a anlise marxista dofascismo , c lasse social nomundo contemporneo, aqueda das ditaduras do Su l daEuropa na dcada de 70.Disponvel em: Wikipdia.
Ralph Miliband
(7 de janeiro de 1924 21 demaio de 1994 ) foi um notvelter ico marxista. E le era o paide dois deputados b ritn icos,David e Ed Miliband, ambosmembros do gabinete britnicoao abrigo do primeiro -ministroGordon Brown. Disponvel em:Wikipdia.
Claus Offe
(Nascido em 1940 em Berlim) um dos mais importantessocilogos polt icos do mundode orientao marxista. Assimcomo J rgen Habermas,pertence segunda gerao daEscola de Frankfurt. Atualmen -te leciona em uma universidadepr ivada em Berlim, o Her tieEscola de Governana.Disponvel em: . Acesso em: 24set. 2008.
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mais simplesmente um aparelho repressivo ou os aparelhos ide-
olgicos e repressivos da burguesia, mas produto da luta de
classe (Schwartzenberg, 1979, p. 683).
Diferentemente de Poulantzas, que rejeita a noo de elite,
Miliband entende que possvel admitir o conceito de elite e at
reconhecer a pluralidade das elites. No se pode nunca, contu-
do, omitir que as elites, ainda que diversificadas, pertencem sem-
pre classe dominante. Elites distintas existem na sociedade ca-
pitalista (elites econmicas, polticas, etc.), mas todas estas fa-
zem parte da classe dominante (1979, p. 684).
Na viso de Claus Offe, a burocracia de Estado representa
os interesses dos capitalistas, pois ele depende da acumulao de
capital para continuar existindo como Estado. O autor v o Es-
tado como um mediador das crises capitalistas um administra-
dor de crises.
2.2.4 A TEORIA PARTICIPACIONISTA(Macpherson, Held e Pateman)
A origem da referida teoria pode ser encontrada em Rousseau
na defesa terica da democracia direta do Contrato Social.3 Con-
trariando a teoria pluralista, surge a escola da teoria participativa,
que entende que a democracia no se limita seleo de lderes
polticos, mas supe, igualmente, a participao dos cidados.
Os defensores desta corrente fazem tambm uma crtica abor-
dagem elitista.
Carole Pateman uma das principais autoras que defen-
dem a teoria participativa. As suas idias centrais esto expostas
na sua obra clssica Participation and Democratic Theory, escrita
3 Rousseau pode ser considerado o terico por excelncia da participao (Pateman, 1992, p. 35).
Carole Pateman
uma feminista britnica eterica polt ica. Ela obteve o
Ph.D. na Universidade deOxford. Desde 1990 Pateman
professora no Departamentode Cincias Polticas na
Universidade da Califrnia, emLos Angeles (Ucla). Disponvel
em: . Acesso
em: 14 out. 2008.
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em 1970. Pateman apresenta, no primeiro captulo, as Teorias recentes da democracia e o
mito clssico. A autora procura demonstrar a crtica dos tericos institucionalistas teo-
ria clssica de democracia, dominante at ento. Os institucionalistas refutam com vee-
mncia a teoria poltica clssica de democracia porque a consideram perigosa na medida em
que abre espao para a participao popular na poltica (a Repblica de Weimar, baseada
na participao das massas com tendncias fascis tas, citada como exemplo).4
Os tericos da teoria clssica da democracia originam-se da tradio de Thomas
Madison e encontram em Locke, Rousseau, Tocqueville, Mill e Bentham seus principais
representantes. Por outro lado, Mosca, Michels, Schumpeter, Berelson, Dahl e Sartori inte-
gram o grupo dos tericos que regeitam o idealismo dos tericos clssicos. Para estes teri-
cos a participao no desempenha um papel especial ou central. Tudo o que se pode dizer
que um nmero suficiente de cidados participa para manter a mquina eleitoral os
arranjos institucionais funcionando de modo satisfatrio.5
Como vimos, o pressuposto da teoria institucionalista da democracia (teoria elitista)
resume-se em considerar que o povo deve seguir as diretrizes da elite e no question-las.
Ento, para Samuel Huntington e outros autores que defendem esta teoria, muita democra-
cia poderia ameaar o governo democrtico.
Oposta viso dos institucionalistas, a corrente da teoria participativista v o maior
grau de participao da sociedade civil diretamente, na funo de governo, como condio
fundamental para a construo de um Estado democrtico, desenvolvido politicamente.
Ao avaliar a origem da corrente da democracia participativa, percebe-se que ela nos
remete para os anos 60 do sculo passado, quando as idias que configuram esta proposta
vem-se envolvidas no clima de transformaes vividas nos campi universitrios, nas esco-
las, nas fbricas, nos lares, nas ruas das grandes urbes. Os participacionistas, segundo Vitullo,
4 O medo de que a participao ativa da populao no processo poltico levasse direto ao totalitarismo permeia todo o discurso de Sartori.Da mesma forma, para Dahl, um aumento da taxa de participao poderia reapresentar um perigo para a estabilidade do sistemademocrtico.
5 Na teoria de Schumpeter, os nicos meios de participao abertos ao cidado so os votos para lder e a discusso. O autor (1984) nosprope uma definio de democracia que rompe com o ideal clssico ligado etimologia da palavra. A democracia deixa de ser entendidacomo o governo do povo, e passa a ser vista como um mtodo ou procedimento de escolha de lideranas que devem conduzir oscomplexos assuntos pblicos das sociedades modernas.
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buscavam suste nto e consis tncia terica s propostas alternativas dos novos atores que apare-
ciam em cena, e dar algum grau de sistematicidade a suas demandas e reivindicaes. Procura-
vam construir um modelo de democracia que, resgatando a participao como um valor funda-
mental, pudesse se opor ao modelo centrado da teoria das elites, j ento predominante. Em
suma, para os tericos que defendem esta corrente, sem participao no seria possvel pensar
em uma sociedade mais humana e eqitativa (1999, p. 9).
Ainda segundo a descrio de Vitullo (1999, p. 3-4), a corrente participativista nega-
se a aceitar que a democracia seja apenas um mtodo de seleo de lderes por parte de um
conjunto de cidados desinformados, desinteressados, alienados e apticos. No concorda
com o modelo de democracia baseado na teoria das elites nem com a perspectiva atemoriza-
da do mundo poltico. Para os tericos que defendem esta corrente, a democracia deveria ir
alm do simples voto individual e da escolha no-refletida. Os participacionistas propem,
ainda, o alargamento do entendimento de poltica. Os autores que defendem esta linha
entendem que preciso democratizar todos os espaos em que interagem os indivduos.
Procuram levar a democracia vida cotidiana das pessoas nos mais diferentes mbitos,
tornando-as politicamente mais responsveis, ativas e comprometidas, estimulando-as a
construir um nvel de conscincia mais efetivo em relao aos interesses dos grupos.
Os participacionistas criticam a democracia com seus instrumentos procedimentais,
no se contentam com o simples fato do comparecimento s urnas a cada dois, trs ou
quatro anos, como a nica e quase exclusiva atividade delegada ao cidado comum em
uma democracia. Ambicionam atividades mais comprometidas, aspiram estabelecer a demo-
cracia direta em diversas esferas e atividades. Procuram maximizar as oportunidades de
todos os cidados intervirem, eles mesmos, na adoo das decises que afetam suas vidas,
em todas as discusses e deliberaes que levem formulao e instituio de tais decises
(Vitullo, 1999, p. 11).
Os defensore s desta teor ia b usc am mul tiplicar as prtic as democrtic as,
institucionalizando-as dentro de uma maior diversidade de relaes sociais, dentro de no-
vos mbitos e contextos: instituies educativas e culturais, servios de sade, agncias de
bem-estar e servios sociais, centros de pesquisa cientfica, meios de comunicao, entida-
des desportivas, organizaes religiosas, instituies de caridade, em sntese, na ampla gama
de associaes voluntrias existentes nas sociedades atuais (p. 17).
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No entendimento de Pateman, para que exista uma forma de governo democrtico
imprescindvel a existncia de uma sociedade participativa, isto , uma sociedade na qual
todos os sistemas polticos tenham sido democratizados e em que a socializao possa ocor-
rer em todas as instncias. Para concluir, segundo Pateman (1992, p. 61), a rea mais im-
portante de participao o prprio lugar de trabalho, ou seja, a indstria, pois exatamen-
te ali que a maioria dos indivduos despende grande parte de sua vida e pode propiciar uma
educao na administrao dos assuntos coletivos, praticamente sem paralelo em outros
lugares.
Seo 2.3
A procedncia do Estado do Bem-Estar Social:a Teoria Keynesiana e a Social Democracia
O Estado de Bem-Estar Social teve a sua origem na Gr-Bretanha e foi difundido aps
a Segunda Guerra Mundial, opondo-se ao modelo liberal de Estado (laissez-faire), que foi
dominante durante todo o sculo 19 e incio do sculo 20. O modelo liberal prescindia da
existncia do Estado. Isto , a funo do Estado era apenas proteger o indivduo em seus
direitos naturais (direito vida, liberdade e propriedade), deixando que a economia se
regulasse pela mo invisvel do prprio mercado. Em outras palavras, o Estado no deve-
ria intervir na economia, no entanto, com a crise do modelo liberal, com o crash da Bolsa de
Valores de Nova York de 1929 (Grande Depresso), o Estado foi convocado a salvar a
falida economia capitalista. Ente 1930 e 1940 o Estado passou a pr em prtica e financiar
programas e planos de ao destinados a promover interesses sociais coletivos de seus mem-
bros, alm de subsidiar, estatizar e socorrer empresas falidas.
O Estado de Bem-Estar Social teve a sua fundamentao terica em John Maynard
Keynes.
Para Keynes, o Estado deve assumir um papel de liderana na promoo do crescimen-
to e do bem-estar material e na regulao da sociedade civil. Em outras palavras, os merca-
dos livres no regulados, por si ss no conseguem gerar crescimento estvel, nem eliminar
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as crises econmicas, o desemprego e a inflao. Keynes prega
que o Estado tenha um papel central no crescimento e no bem-
estar material. Em sua teoria, o pleno emprego ganhava priorida-
de como um direito do cidado.
Falando-se no Estado Social, pode-se afirmar que foi com a
Constituio mexicana, de 1917, e a Constituio de Weimar, de
1919, que teve incio a construo do modelo constitucional do
Welfare State, ou o Estado de Bem-Estar Social. O Welfare State
seria o Estado no qual o cidado, independentemente de sua si-
tuao social, tem direito a ser protegido, por intermdio de me-
canismos e prestaes pblicas estatais, emergindo assim a ques-
to da igualdade c omo o f undamento para a ati tude
intervencionista do Estado (Morais, 2002, p. 38).6
Como j mencionado anteriormente, a formao deste Es-
tado algo que perpassa muitos anos. possvel afirmar que o
mesmo modelo acompanha o desenvolvimento do projeto liberal
transformado em Estado do Bem-Estar Social no transcurso da
primeira metade do sculo 20, ganhando contornos definitivos
aps a Segunda Guerra Mundial. Para Morais (2002, p. 38), a
histria desta passagem tem vnculo especial com a luta dos mo-
vimentos operrios pela conquista de uma regulao/garantia/
promoo da chamada questo social. Caracterstica do Welfare
State, a idia de interveno no novidade surgida no sculo
20. Assim o Estado, com sua ordem jurdica, implica interveno.
Cabe lembrar e reconhecer, conforme Morais (p. 35), que o
processo de crescimento/aprofundamento/transformao do pa-
pel, do contedo e das formas de atuao do Estado no benefi-
ciou unicamente as classes trabalhadoras. O papel do Estado,
6 Argumentos elaborados a partir de Marks (2008).
John Mainard Keynes
Nasceu em 1883 emCambridge, na Inglater ra, e
morreu em 1946 em Tilton. Fo ieconomista, estudou em Eton
e no Kings College, emCambridge, e permaneceu
nesta c idade depois deformado a fim de estudar
Cincia Econmica com AlfredMarshall. Depois de breve
perodo no servio pblico,voltou a Cambridge para
lecionar Cincia Econmica ese tornou editor do EconomicJournal em 1911. Du rante a
Pr imeira Guerra Mundialtrabalhou no Tesouro e foi o
seu principal representante emVersalhes. Na Segunda Guerra
Mundial Keynes foi responsvelpela negociao com os
Estados Unidos do acordo doEmprstimo e Arrendamen to e
partic ipou do acordo deBretton Woods, que estabele-
ceu o Fundo MonetrioInternacional. especialmente
conhecido por seus escr itossob re Economia, com desta-
que para The General Theoryof Employment, Interest and
Money (1936) . Fonte:Outhwaite, W.; Bottomore, T.
(Eds.). Dicionrio do pensa-mento social do sculo XX.Rio de Janeiro: Zahar, 1996.
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em vrios setores, possibilitou investimentos em estruturas bsicas que alavancaram o pro-
cesso produtivo industrial, as quais mostraram-se viveis para o investimento privado (como
a construo de usinas hidreltricas, estradas, financiamentos, etc.).
Essa dupla face faz parte da peculiar trajetria do Estado Social em que a interveno
pblica refletia as reivindicaes dos movimentos sociais e, ao mesmo tempo, a ao
intervencionista do Estado tornava possvel a flexibilizao do sistema, o que garantia a
sua prpria manuteno e continuidade, bem como dava condies de infra-estrutura para
o seu desenvolvimento.
Constatado o progresso por parte do Estado nas atividades econmicas, sociais,
previdencirias, educacionais, entre outras, o Estado visto como liberal v-se a um passo de
um Estado Social. Importante destacar que a presena do Estado se faz absolutamente
necessria para a correo de desequilbrios muito grandes a que so submetidas as socie-
dades ocidentais que, por sua vez, no tm um comportamento disciplinar com relao a
sua economia, ou seja, no possuem um planejamento centralizado.
Nesse nterim, o Estado passa a assumir um papel de controlador, regulador da econo-
mia, por meio de normas geralmente de cunho disciplinar. Por assim dizer, o Estado torna-se
um gigante, um grande empregador, dando complexidade vida social. Fala-se, nesse mo-
mento, da burocracia estatal (Bastos, 1999, p. 142).
Segundo vrios autores, at o final dos anos 60 o pensamento de Keynes constituiu a
ideologia oficial do que chamavam de compromisso de classe, quando diferentes grupos
podiam entrar em conflito nos limites do sistema capitalista e democrtico. Por esse motivo
a crise do keynesianismo entendida como uma crise do capitalismo democrtico.
O keynesianismo, desde o ps-guerra, defende a tese de que o Estado pode harmoni-
zar a propriedade privada dos meios de produo com a gesto democrtica da economia.
So fornecidas as bases para que ocorra o compromisso de classe, oferecendo aos partidos
polticos representantes dos trabalhadores uma justificativa para que exeram o governo em
sociedades capitalistas, engajando metas na plenitude de emprego e na redistribuio de
renda em favor das classes populares. Nesse sentido, o Estado visto como provedor de
servios sociais e tambm um regulador de mercado, sendo desta forma o mediador das
relaes e dos conflitos sociais.
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A crise do keynesianismo, portanto, nada mais do que a crise das polticas de admi-
nistrao de demanda, ou seja, quando emergem sinais de insuficincia de capital, as pol-
ticas que so voltadas eliminao da juno entre a produo corrente e a produo
potencial no mais apontam solues (Bresser Pereira; Wilhelm; Sola, 1999, p. 225).
Streck e Morais (2004, p. 91) lembram que, apesar de sustentado o contedo prprio
do Estado de Direito no individualismo liberal, faz-se mister a sua reviso frente prpria
disfuno ou desenvolvimento do modelo clssico do liberalismo. Sendo assim, o Estado
conserva aqueles valores jurdico-polticos clssicos, porm, em consonncia com o sentido
que vem tomando no curso histrico, como tambm com as necessidades e as condies da
sociedade do momento. Nesse sentido, inclui direitos para limitar o Estado e direitos com
relao s prestaes do Estado. Faz-se necessrio corrigir o individualismo liberal por meio
de garantias coletivas. Isso se d pela correo do liberalismo clssico pela reunio do capi-
talismo na busca do bem-estar social, que a frmula geradora do Welfare State neocapitalista
no ps-Segunda Guerra Mundial.
Na Europa Ocidental esse modelo poltico-econmico foi chamado de Estado de Bem-
Estar Social (Welfare State), na Amrica Latina foi denominado de desenvolvimentismo e,
nos Estados Unidos da Amrica, esse modelo de Estado ficou conhecido como New Deal e
colocado em prtica por Franklin Delano Roosevelt entre os anos de 1933 e 1940. Este
modelo tinha como finalidade promover a recuperao da Grande Depresso e corrigir os
defeitos no sistema que se acreditava terem sido por ela revelados. Entre as medidas toma-
das pelo New Deal nos EUA estavam: a) substancial libertao da poltica monetria das
restries do padro-ouro e maior aceitao da responsabilidade da poltica monetria para
a estabilizao da economia; b) crescente confiana na poltica oramentria governamen-
tal para levar a cabo e manter altos nveis de emprego; c) instituio do Estado de Bem-
Estar Social (o fortalecimento do sistema de seguridade social, fornecendo benefcios de
aposentadoria para trabalhadores; sistema de seguro-desemprego; o fornecimento de aux-
lio financeiro a famlias pobres com filhos dependentes); d) interveno do governo para
controlar preos e produo agrcola; e) promoo governamental da organizao sindical;
f) novo ou ampliado controle governamental de preos, tarifas ou outros aspectos dos trans-
portes, energia, comunicao e indstria financeira e, g) movimento no sentido de uma
poltica mais liberal de comrcio internacional.
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O Estado de Bem-Estar Social alcana seu pice entre os anos 40 e 70 (considerados
os anos de ouro do capitalismo). A partir dos anos 70 comea a ser questionado por investir
e gastar demasiadamente nas questes sociais (sade, emprego, moradia, previdncia e edu-
cao). Os gastos sociais aumentam, o que desencadeia uma crise fiscal do Estado, alm de
estancamento econmico, elevadas taxas de desemprego e inflao. Ressurge a defesa das
idias liberais do livre mercado, agora sob um novo rtulo chamado de neoliberal, tendo em
Friedrich von Hayek o seu principal interlocutor. Para Hayek, a vida social sob a gide do
Estado o caminho indefectvel para a servido. A crtica dos neoliberais incide sobre o
dirigismo e a planificao do Estado sobre a economia, ou seja, defendem o mercado
desregulamentado e menores presses tributrias.
Por fim, procuramos expor nesta unidade idias e autores que tratassem das crises e
das transformaes do Estado no sculo 20. Desde as teorias de Lenin e Rosa Luxemburgo
(experincias totalitrias), passando pelos diferentes entendimentos do Estado na Teoria
Democrtica, at a experincia do Estado de Bem-Estar Social na Europa. Em sntese, o
Estado de Bem-Estar Social foi institudo basicamente por partidos sociais democratas, de-
limitando uma terceira via entre o socialismo de esquerda e o liberalismo de direita. Os
social-democratas prevem uma passagem gradual do capitalismo ao socialismo exclusiva-
mente pelas vias eleitorais e parlamentares.
Mais frente, na Unidade 4, voltaremos a tratar das relaes entre o Estado de Bem-Estar
Social e o neoliberalismo.
Sugesto de leituras: (referncias completas no final)
Para aprofundar o tema dos interpretes de Marx, conferir Outhwaite e
Bottomore (1996, p. 814).
Para um aprofundamento das idias de Lenin, conferir Prlot (1973, p. 69-79).
Sobre a Teoria das Elites, conferir o trabalho de Oliveira (2003).
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Sobre a Teoria Participativa ler a obra Participao e teoria democrtica, de Carole Pateman
(1992), a qual divide-se em duas partes: a primeira trata do impulso gerado pelas obras de
Rousseau, John Stuart Mill e G. H. Cole para substanciar a relao entre democracia e
participao. Na segunda parte Pateman apia-se nas idias de Sidney Webb e Beatrice
Webb para discorrer sobre a perspectiva de democratizar as relaes no interior das fbricas.
Sobre a questo dos direitos naturais e da mo invisvel do mercado, conferir as obras de
Locke (2001) e Smith (1981), respectivamente.
Sobre o Estado social e o enfrentamento de suas crises, ver obra de Morais (2002).
Para uma leitura mais detalhada sobre o Estado de Bem-Estar Social, conferir Outhwaite
e Bottomore (1996, p. 522).
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Estado, Sociedade e Direitos Sociais no Brasil
A definio de brasileiro tem sido feito e refeito, ao longo dos anos, por diversos auto-
res de livros famosos. Paralelamenta, no entanto, a sociedade dominante que deu a base
do conceito, uma vez que, para ser escritor, era preciso ser letrado, um privilgio no Brasil
que h pouco tempo havia se estabelecido como repblica.
Um Brasil no qual imperava o conceito europeu de superioridade sobre os negros,
ndios e mestios, que constituam a maioria do povo brasileiro, aos quais, por muito tempo,
os escritores deram as costas, fazendo com que seus escritos apenas revelassem a diminuta
face europia do pas.
Com o sculo 20 chegando, porm, essa idia estava fadada runa, como demonstrou
Euclides da Cunha na sua narrao do Nordeste brasileiro; Monteiro Lobato, com o Jeca
Tatu, e Gilberto Freyre, com Casa-Grande & Senzala, s para citar uns poucos exemplos. A
partir deste ltimo livro o Brasil aspirou tornar-se uma democracia social. Segundo o relato,
os africanos no eram selvagens e, dentre outras coisas, sabiam manejar o gado, trabalhar o
ferro, irrigar o solo, adub-lo e cuid-lo, fazer fortificaes e organizar as tropas para o
combate. Sabiam ler e escrever, e muitos j tinham lido o Alcoro, enquanto seu dono no
sabia escrever o prprio nome.
No Brasil no ramos apenas trs raas branco, ndio e negro mas sim uma mistura
de povos, oriundos de diversos pases. Cmara Cascudo tinha a ambio de que os brasilei-
ros gostassem de verdade do Brasil. O livro Razes do Brasil (1936), de Srgio Buarque de
Holanda, destaca que a expanso portuguesa foi s aventura, sem mtodo nem rumo. J
Manuel Bonfim afirma que os portugueses tinham obstinao em cumprir o projeto do pri-
meiro imprio moderno. Srgio Buarque de Holanda afirma que o portugus era adaptvel,
se entendia com os nativos, mas queria ficar rico logo e voltar para casa. Segundo ele, os
portugueses tinham uma cultura da aventura e no do trabalho.
Unidade 3Unidade 3Unidade 3Unidade 3
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Silva (2000) argumenta que o Brasil tinha de deixar de ser um pas de portugueses
transplantados nos trpicos, porque os ndios e os africanos se adaptaram ao molde lusita-
no, e no o contrrio. A arte e a literatura tiveram grandes expoentes nesse perodo: Portinari,
Nelson Rodrigues, Ceclia Meireles, Jorge Amado e Graciliano Ramos.
A histria do Brasil era apenas mais um captulo da histria do comrcio europeu:
tnhamos surgido para fornecer bens tropicais. No incio do sculo tnhamos classes sociais
em luta escravos, semi-escravos, pobres, explorados e empobrecidos. A obra Bandeirantes e
pioneiros (1955), de Viana Mogg, explica porque o Brasil no cresceu como os Estados
Unidos, pas modelo e meta para as classes mdias brasileiras.
Com a descoberta do ouro criou-se um mercado interno, e, assim, a base para uma
economia nacional. Essa base aumentou com o caf, quando se substituiu escravos por
assalariados. Surgiam, a, consumidores em potencial. As misturas de raa fizeram o brasi-
leiro que temos hoje. De tantas raas presentes em nosso pas, no h tipo humano que
no caiba no passaporte do Brasil.
Neste sentido, esta Unidade tem como objetivo discutir aspectos ligados ao Estado,
sociedade e aos direitos sociais no Brasil a partir da anlise de algumas Constituies Fede-
rais. A seo inicial discute o descobrimento do Brasil como conseqncia de um pensa-
mento racional instrumental moderno. Os espanhis e portugueses seguem a lgica da con-
quista, do enriquecimento a qualquer custo, da expanso do Imprio juntamente com a
expanso do cristianismo. A seo 3.2 discute aspectos do Estado, do Direito e da sociedade
no Brasil a partir da herana lusitana da centralidade do Estado, do patrimonialismo e do
direito transplantado da metrpole para a colnia. Na seo 3.3 apresenta-se a discusso
do Estado no Brasil e a relao com os direitos sociais mediante uma leitura das diferentes
Constituies do Brasil, desde 1824 at a Constituio Cidad de 1988.
Seo 3.1
O descobrimento do Brasil: antecedentes
A modernidade emergiu sob o mito da criao de uma racionalidade instrumental, que
levou o homem europeu a se confrontar com o outro, que habitava o Novo Mundo. Cris-
tvo Colombo, representante mximo da mentalidade moderna europia, deixou regis-
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trado em seu dirio que o objetivo final de suas viagens era o
enriquecimento e a expanso do cristianismo, porm logo perce-
beu que o Deus dos espanhis era o ouro: Estava atento e trata-
va de saber se havia ouro... No quero parar, para ir mais longe,
visitar muitas ilhas e descobrir ouro. Colombo pedia, em suas
oraes, que Deus o ajudasse a encontrar o referido metal: Que
Nosso Senhor nos ajude, em sua misericrdia, a descobrir este
ouro.... A segunda inteno de Colombo era a de expandir o
cristianismo aos povos brbaros, com o apoio dos bispos e do
Papa, juntamente com toda a Igreja, com o objetivo final de ob-
ter maior financiamento para tal empreendimento: as viagens s
Amricas. A sua prxima viagem ser para a glria da Santssima
Trindade e da Santa religio crist e, para isso, Colombo espe-
ra a vitria do eterno Deus, como ela sempre me foi dada no pas-
sado e sintetiza: Espero em Nosso Senhor poder propagar seu
Santo nome e seu Evangelho no universo. Todos sabiam que
Colombo era um fervoroso cristo, inclusive que no viajava aos
domingos, respeitando, assim, os mandamentos de Deus, seguin-
do os ensinamentos da Igreja.
O conquistador Gonzalo Fernandes Oviedo pregava, igual-
mente, aos nativos das ndias, a existncia de um Deus, de um
Papa e de um Rei que deveriam ser adorados; caso contrrio, so-
freriam penas durssimas: Caciques e ndios desta terra firme do
lugar tal: ns vos fazemos saber que existe um Deus, um Papa e
um Rei de Castela que o S enhor destas terras : vinde
incontinenti render-lhe homenagens, porque se no o fizerdes,
sabei que ns vos faremos guerra e vos mataremos e vos escravi-
zaremos.
Bartolomeu de Las Casas, um dos poucos bispos europeus
que defenderam a causa indgena, relatou que Colombo, quando
era recepcionado com festas pelos americanos, recebendo pre-
Vinde incontinenti
uma expresso do conquista-dor Gonzalo Fernandes Oviedoaos nativos das Amrica.Significada prestar homenagems auto ridades (Deus, Rei,Papa).
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sentes como ouro e objetos preciosos, logo acorria a seu oratrio, seguindo os rituais da
tradio crist, e dizia: Agradecemos ao Nosso Senhor que nos tornou dignos de descobrir
tantos bens.
A primeira referncia feita por Colombo, em relao populao que aqui vivia, no
deixa de ser significativa, especialmente se relacionada ao aspecto natural em que vivia,
mas a anlise foi feita apenas quanto ao aspecto fsico: ento viram gentes nuas, logo
relacionaram como sendo povos selvagens, sem moral: Vo completamente nus, homens e
mulheres, como suas mes os pariram, at mesmo os reis, as mulheres e as crianas, tudo
dentro da maior naturalidade. Colombo, ao descrever o aspecto fsico dos habitantes ameri-
canos (estatura, cor da pele...), chegou concluso de que so selvagens e que, pelo menos,
tendem a parecer-se mais com os humanos do que com os animais.
Os ndios foram considerados, inicialmente, seres dceis, generosos, gente boa; mas,
com o passar do tempo, o europeu passou a consider-los como ladres, aplicando-lhes
castigos por seus atos.
Bem antes de o homem branco europeu chegar por estas terras, o ndio tinha suas
normas morais e seus ritos religiosos. Ele respeitava a si prprio e aos demais, me Terra,
gua, Lua, s estrelas, ao Sol. Os espanhis chegaram e impuseram a sua religio: em
uma das mos, a cruz do Cristo europeu, simbolizando o poder da Igreja; na outra, a espada
para a conquista.
Colombo no descartou a possibilidade de os espanhis serem considerados de ori-
gem divina pelos nativos, o que daria uma boa explicao para o medo inicial e seu desa-
parecimento diante do comportamento indubi tavelmente humano dos conquistadores: os
ndios associaram-nos com os deuses, por isso aceitaram pacificamente a dominao dos
espanhis. Colombo assim se expressou ao se referir religio do ndio: So crdulos, sa-
bem que h um Deus no cu, e esto convencidos que viemos de l... Um dos ndios que
vinham com o almirante falou com o Rei dizendo-lhe que os cristos vinham do cu e anda-
vam procura de ouro.
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E foi ass im, por essas e outras, que o grau de despudoramento do esprito do homem
europeu no se furtou a lanar mo do libi de Deus para sacramentar e justificar o incio
do massacre da cultura indgena nas Amricas, cuja vileza dos atos s ironicamente pode
receber o nome de descobrimento. Em outras palavras: a ideologia religiosa serviu para
justificar a dominao dos europeus para com os nativos que viviam