edição nº 74_do_primeira_pauta,_o_jornal_laboratório_do_ielusc,_joinville

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Primeira.Pauta Distribuição Gratuita A maior universidade, um novo shopping-cen- ter, grandes redes varejistas e uma visível desigual- dade social são os cenários do Norte Maior região em extensão e população, Sul sofre com histórico esquecimento do poder público: falta infraestrutura e há enormes problemas sociais Natureza verdejante, área litorânea propícia para pesca, predominância operária e tradição no ensino profissionalizante são destaques do Leste Cortada pela BR-101, a Zona Oeste tem os bair- ros mais distantes do Centro, sofre com problemas de alagamento e faz divisa com duas cidades Que cidade é essa? INVILLE J Jornal Laboratório do Curso de Comunicação Social do Bom Jesus/Ielusc - Maio de 2009 Foto: Linda Tomelin Foto: Cláudio Costa Foto: Ariadna Stralioo Foto: Rayana Borba

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Page 1: Edição nº 74_do_primeira_pauta,_o_jornal_laboratório_do_ielusc,_joinville

Primeira.PautaDistribuição Gratuita

A maior universidade, um novo shopping-cen-ter, grandes redes varejistas e uma visível desigual-dade social são os cenários do Norte

Maior região em extensão e população, Sul sofre com histórico esquecimento do poder público: falta infraestrutura e há enormes problemas sociais

Natureza verdejante, área litorânea propícia para pesca, predominância operária e tradição no ensino profissionalizante são destaques do Leste

Cortada pela BR-101, a Zona Oeste tem os bair-ros mais distantes do Centro, sofre com problemas de alagamento e faz divisa com duas cidades

Que cidade é essa?INVILLEJ

Jornal Laboratório do Curso de Comunicação Social do Bom Jesus/Ielusc - Maio de 2009

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O que cabe em 198 quilômetros quadrados? Uma dica: é o tamanho da área urbana de Joinville. Alguns responderiam que cabem milhares de campos de futebol ou muitos hectares de Mata Atlântica. Para res­ponder, o Primeira Pauta destacou repórteres que percorreram os con­fins da cidade. Estivemos nas últimas casas de dois jardins: o Edi lene, no extremo sul, e o Paraíso, no lado to­talmente oposto. Chegamos à beira do mar na Vigorelli e ao pé da Serra do Mar, na derradeira residência joinvilense antes de Schroeder.

Encontramos realidades dignas de Primeiro Mundo e outras com­paráveis às regiões mais pobres do planeta. A equipe que circulou pela Zona Norte, por exemplo, trouxe um dado curioso: enquanto um terreno médio no Jardim Paraíso custa em torno de R$ 25 mil, não é possível encontrar um bom espaço para con­struir no América por menos R$ 300 mil. Do Norte também vem outro contraste: o aluguel e instalação de meia dúzia de palmeiras que serviram de decoração para a festa de lança­mento do Joinville Garten Shopping, no Centreventos, saíram pela bagate­la de R$ 30 mil. Mais, portanto, que um terreno no Jardim Paraíso, apenas alguns quilômetros à frente, seguindo pela Avenida Santos Dumont.

Nas áreas remotas do Vila Nova, nossa equipe entrou na casa da úl­

tima moradora antes da divisa com Guaramirim. A distância da casa até o Centro de Guaramirim é de 15 quilômetros. Até a parte comercial do Vila Nova, são 18. Até o Centro de Joinville, a viagem é um pouco maior: 30 quilômetros. A energia elétrica é fornecida por Joinville. Já a coleta de lixo é feita por Guaramirim. Paga­se IPTU para a Prefeitura de Joinville, mas todos votam em Guar­amirim. Por estar no meio do cam­inho, a família não conta com cor­reio, telefone, internet, TV a cabo e fornecimento de água. O transporte público quase chega: o ponto final da linha Circular Oeste, a que vai mais longe, fica ainda um quilômetro antes da morada dessa família.

Segundo estimativas divulgadas pelo Ippuj em 2008, Joinville conta com 492.101 habitantes. Em 28 anos, a população mais que dobrou. Porém, o crescimento está se de­sacelerando. A taxa de aumento pop­ulacional, que era de mais de 6% ao ano nas décadas de 50 a 70, hoje mal chega a 1,89%. Os joinvilenses são predominantemente jovens: 35,2% têm entre 20 e 39 anos. A população reside em 129,7 mil domicílios.

Essa gente toda consome 1.557 litros de água por segundo. Con­forme a Águas de Joinville, o sistema funciona no limite. São quase 125 mil ligações que contemplam 98% da população. Os dados são desani­madores quando o assunto é coleta de esgoto: apenas 16,2% das residên­

cias têm acesso à rede. E a Engepasa Ambiental coleta, por mês, quase 11 mil toneladas de lixo.

Entrando na questão da mobi­lidade, a cidade conta com 1.663 quilômetros de vias. Apenas 668 quilômetros são asfaltados. Por es­sas vias trafegam 242.851 veículos, 157 mil dos quais são automóveis. O transporte coletivo, operado pelas concessionárias Gidion e Transtusa, carrega 4,37 milhões usuários por mês. A cidade conta ainda com 217 táxis. O transporte para outras locali­dades movimentou 1,27 milhão de passageiros na Rodoviária e 116,5 mil passageiros no aeroporto em 2007.

Apresentados esses dados, o Primeira Pauta convida você a fazer uma viagem aos quatro cantos de Joinville. Neste passeio, você encon­trará muita gente que mora perto da sua casa ou que você encontra caminhando na Rua do Príncipe ou na 15 de Novembro. Mas também conhecerá pessoas que chegaram aqui há longo tempo e cujos filhos jamais estiveram no Centro. Como o garoto Uesley, morador do Paraíso 2, que tem 12 anos e ainda não foi apresentado à Rua da Palmeiras. Você poderá, nas nossas páginas, defrontar­se com o maior problema que Joinville sofre na atualidade: a falta de identidade com a cidade. Ao mesmo tempo, irá se deparar com o maior atributo de Joinville: a multi­plicidade. Boa leitura!

Aos quatro cantos

492.101 habitantes (esti­

mativa de 2008)

1,89% de crescimento da

população ao ano (nas décadas de 60,

70 e 80 era mais de 6%)

2.267 mulheres a mais, em

relação à população masculina

35,2% da população tem

entre 20 e 39 anos.

129,7 mil domicílios

(83,7% próprios, 10,5% alugados,

5% cedidos e 0,6% ocupados)

1.557 litros de água consumi­

dos por segundo.

125 mil ligações de água

(atendem 98% da população)

16,2% das residências têm

acesso à rede de esgoto

11 mil toneladas de lixo

160 mil linhas telefônicas

fixas instaladas, aproximadamente

1.663 quilômetros de vias

(apenas 668 quilômetros asfaltados)

243 mil veículos (quase

157 mil automóveis)

4,37 milhões usuários

do transporte coletivo por mês

1,27 milhão de pas­

sageiros na Estação Rodoviária em

2007

116,5 mil passageiros no

aeroporto em 2007

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Os números da cidade

Por Jouber Castro

Associação Educacional Luterana Bom Jesus/Ielusc

Coordenação do Curso de Comunica-ção Social - Jornalismo: Sílvio Melatti

Professores responsáveis: Guilherme Diefenthaeler (MTB 6207/RS) e Sílvio Melatti (MTB 6528/RS)

Disciplina: Produção e Difusão emMeios Impressos 2

Edição 74 - Abril de 2009

Produção: Ariadna Straliotto, Ariane Olsen, Charles França, Cláudio Costa, Daniela de Tofol, Francine Hellmann, Jouber Castro, Juliano Reinert, Linda

Tomelin, Rayana Borba, Rafaela Mazzaro, Rosimeri Back e Tatiane Martins.

Impressão: Jornal A Notícia (tiragem: 2 mil exemplares)

Contato com a redação:Rua Princesa Isabel, 438, Centro. Caixa Postal: 24 - 89201-270Joinville/SC. Telefone: (47) 3026-8000.E-mail: [email protected]

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Fonte: Cidade em Dados – Ippuj

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Experiências e peculiaridades nos confins de Joinville

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O que há conosco?Especialistas refletem sobre os extremos sociais da cidade

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Jardim Paraíso e Condomínio Orleans: exemplos de como a distribuição de renda é desigual em Joinville

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Em Joinville, há quem more tão longe que jamais pôs os pés no Centro. E também há pessoas que nem sequer se sentem parte de Joinville, com endereços situa­dos lá na divisa com outros muni­cípios – cujos serviços públicos se encontram mais acessíveis e próxi­mos do que os da cidade­mãe.

Que impacto isso traz para a identidade local? De certa forma, a rotina de carências financeiras, o difícil acesso a meios de trans­porte e uma série de ou tros fatores ope ram como limites pessoais – e, consequentemente, fazem com que o reconhecimento do univer­so em que se vive seja reduzido a meia dúzia de particularidades. A partir daí, segundo a psicóloga e mestre em Educação e Cultura Márcia Suely Amaral, infere­se “a relação com o desco nhecido e a ausência do sentimento de per­tencimento a uma determinada comunidade: o homem age sobre seu meio, transformando­o e sen­do transformado por ele”.

A construção da identidade de cada indivíduo é produto da intera ção com o outro e com esse meio. Ao consi derar uma série de aspectos – como re­gionalismos, condições econômicas, etnias e culturas –, nota­se uma multiplicidade de fato­res que podem contri­buir com a formação do ser humano.

Márcia explica que, quando faltam víncu­los do sujeito com sua própria cidade – como ocorre em várias regi­ões de Joinville –, deve­se observar as políticas e estratégias exis tentes de inserção do indiví­duo na sociedade e, por sua vez, as possibilida­des de desenvolver um saudável sentimento de se reconhecer e ser reconhecido nesse ambiente. “Essa é uma condição política”, reforça.

Na opinião do cientista políti­co Elton Zattar Guerra, o joinvi­lense sofre até hoje a influência de lideranças políticas que só pensam em seus próprios inte resses – “os caciques eleitorais de Joinville”, define o especialista. Para solucio­nar, Elton reitera que é necessário um novo panorama político, com novas li deranças e novas ideias. Entre as ferramentas políticas dis­poníveis para tornar a cidade mais iguali tária, com mais espaços para a representatividade do cidadão, o que Elton leva mais em conta é a participação popular, nas associa­ções de moradores e nas reuniões da Câmara de Verea dores, por exemplo, que deveria ser maciça, mas é escassa.

“A participação popular é es­sencial para todas as áreas, como na discussão do Plano Diretor e na aplicação de recursos pela cidade”, argumenta. Segundo o cientista político, a Câmara de Vereado­res de Joinville perdeu o sentido: “Ape nas interesses pessoais são levados em conta, os vereadores estão interessados somente nas be­nesses do poder e nos altos salários recebidos, dentre outras ‘cositas

mas’”. Elton lamen­ta que os quatro cantos de Joinville não recebam aten­ção política sufi­ciente para superar seus problemas e se desenvolver, pois, em seu enten­dimento, os verea­dores, que deve­riam fazer a ligação entre a população e o Poder Executivo, não cumprem esse papel.

O especialis­ta ainda manifesta preocupação com o futuro do gover­no comandado por Carlito Merss: “Eu

estou apreensivo e desmotivado com o ‘des’governo do PT, creio que ele vá cometer os mesmos er­ros do governo fede ral”.

Terra de contrastes (políti­cos, sociais, econômicos), Join­ville sente os efeitos da crise econômica global. De acordo com o Instituto de Planejamen­to para o Desenvolvimento Sus­tentável de Joinville (Ippuj), a cidade é responsável por cerca de 20% das exportações catari­nenses. Segun do a prefeitura, a atividade industrial gera um fa­turamento de US$ 14,8 bilhões por ano. Mas, para a economista Anemarie Dalchau Müller, a eco­nomia de Joinville não tem força suficiente para atra vessar a crise internacional sem solavancos – que, aliás, já foram sentidos. “Joinville, como os demais cen­tros industriais do país, sofre as consequências do enco lhimento do mercado mundial.”

Anemarie cita alguns exem­plos: as exportações de bens de capital sofreram queda de 25,3% no primeiro bimestre de 2009, comparativamente ao mesmo pe­ríodo de 2008. Bens intermediá­

rios tiveram um recuo de 21,6% e bens de consumo experimenta­ram uma redução de 36,3%. “Já pudemos sentir o impacto dessas quedas na geração de emprego”, ressalta. A economista explica que as principais indús trias join­vilenses tiveram um início de ano muito difícil. A Whirlpool per­deu 26,% nas vendas. Na Buss­car, a diminuição foi de 10,8%, enquanto na metalúrgica Schultz a retração chegou a 60%. “Com isso, a geração de novos postos de trabalho fica comprometida e as empresas demitem, último recurso de diminuir despesas.” Mas os segmentos voltados para o mercado interno ainda não sentiram retração tão forte quan­to os exportadores.

Em Joinville, é comum a exis­tência dos “centros de bairro”, como no Vila Nova e Nova Bra­sília. A economista acredita que esse fenômeno já demonstra o que pode ser feito para melhorar a distribuição de renda na cida­

de. “Bairros com ‘vida própria’ geram e deixam riqueza em seu local, contribuindo para o desen­volvimento equitativo e sustentá­vel. Bairros com essas caracterís­ticas passam a ter mais expressão política, social e, logicamente, econômica, contribuindo para o crescimento mais equilibrado.”

Joinville não foge à regra do Brasil na má distribuição de ren­da. “Somos um país com renda altamente concentrada. Mas essa questão não tem solução a curto prazo”, esclarece. “Há necessida­de de uma ação conjunta entre poder público e setor privado, buscando o desenvolvimento de nossos bairros ‘de dentro para fora’, como já vem ocorrendo.”

Para a especialista, há boas perspectivas. “Joinville cami nha para a condição de cidade adul­ta, amadurecida, deixando de ser eminentemente industrial para se transformar em uma cidade voltada ao comércio e à presta­ção de serviços.”

Por Rosimeri Back

“A participação

popular é essencial para todas as áreas,

como na discussão do

Plano Diretor e na aplicação

de recursos pela cidade”, diz cientista

político

Os efeitos da crise

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Quem percorre a Região Nor-te de Joinville, de um extremo ao outro, percebe um contraste de realidades. De prédios com arqui-tetura moderna e edificações que compõem a reserva cultural da ci-dade, chega-se a lugares reféns do descaso, tanto em relação à cultura e ao lazer, quanto – até mesmo – da infraestrutura básica.

O América e o Jardim Paraíso são bairros que representam muito bem essa sobreposição de realida-des. Enquanto o preço médio de um

lote no Jardim Paraíso gira em torno de R$ 30 mil, no América esse valor pode ser multiplicado por dez.

O América, batizado em home-nagem ao América Futebol Clube, que tem sede na região, concentra grande parte dos patrimônios cul-turais de Joinville, como Cidadela Cultural, Museu de Arte, Centre-ventos Cau Hansen, Teatro Jua-rez Machado, Arquivo Histórico e Casa da Cultura. É rodeado por mansões luxuosas, endereço de três dos maiores supermercados e da maioria das lojas de carros, 23 no total.

Grandes redes varejistas na-

cionais e estaduais se instalaram por ali. O Giassi, de Içara, no Sul do Estado, concentrava seus negó-cios naquela região, quando sur-giu a oportunidade de fincar base

no Norte de Santa Catarina, que pouco conhecia a marca. O bairro escolhido para instalar o empre-endimento que exigiria o maior investimento da história do Giassi

foi o América, pela proximidade do Centro e por conta do elevado po-der aquisitivo dos moradores, que, segundo dados do Ippuj, chega a mais de 20 salários mínimos para 29% dos habitantes. Já no Jardim Paraíso, para se ter ideia, a maior parte dos moradores vive com ren-da entre um e três salários.

Vizinho ao Giassi está o Big, da gigante norte-americana Wall Mart. Já o Angeloni, ao expandir sua atua-ção na cidade, fechou a loja do Sho-pping Mueller e migrou para um pedaço do América que contempla também os bairros Bom Retiro, Santo Antônio e Costa e Silva.

Como em todo bairro, o Améri-ca também tem problemas: ruas es-buracadas, calçadas mal feitas e falta de planejamento urbano. A presi-dente da associação de moradores, Gabriela Loyola, conta que a maior preocupação de quem vive ali é a ameaça de alteração no zoneamen-to, com o interesse de transformar algumas ruas limítrofes ao Centro em área comercial. E foi justamen-te por essa possível mudança que a associação surgiu. Mas tais preocu-pações parecem minúsculas quando comparadas às que se pode observar quando se atravessa a longa Santos Dumont rumo ao Jardim Paraíso.

População: 75.818

Bairro: América, Bom Retiro, Costa e

Silva, Jardim Paraíso, Jardim Sofia,

Santo Antônio, Vila Cubatão e Zona

Industrial Norte.

Área total: 45,5 km²

% do território de Joinville: 23%

% da população de Joinville: 16,2%

Mais populoso: Costa e Silva (25.321)

GRANDES REDES SE INSTALARAM

NO AMÉRICA

No América, condomínios luxuosos retratam parte da elevada condição econômica dos moradores do bairro

Os pilares ao NorteCerca de seis mil estudantes

se deslocam diariamente para o bairro Bom Retiro, que abriga o maior complexo universitário da cidade, com a maior instituição de ensino superior local, a Uni-ville, e a única pública, a Udesc. A partir de do ano que vem, um novo shopping será instalado.

Administrado pela Almeida Júnior, dona de outros shoppin-gs no Estado, o Joinville Garten Shopping selecionou a região depois de pesquisa que apontou a Zona Norte como região mais promissora e de melhor infraes-trutura. Universidades próximas e acesso fácil, pela Santos Dumont (caminho para o aeroporto) ou pela Edgar Nelson Meister, que desemboca na BR-101, foram al-guns dos chamarizes.

O empreendimento promete ser o mais moderno da região. O grupo busca, ainda, empresas varejistas de diversos lugares do país, o que pode conferir ainda mais valorização, tanto pelo sho-

pping em si quanto pelas vagas de emprego que serão criadas.

Vizinho ao Bom Retiro, o Distrito Industrial abriga princi-palmente indústrias e suas recrea-tivas. Grande parte da população se desloca até lá para trabalhar, já que as principais fontes de renda, tanto do município quanto de seus moradores, concentram-se no bairro. Só a matriz da Buss-car, fabricante de carrocerias de ônibus, tem mais de seis mil trabalhadores. Além da Embra-co, Whirlpool, Docol, Schultz e Franke Douat, que se localizam no maior bairro em extensão ter-ritorial de Joinville.

Já no Costa e Silva, transpor-tadoras se instalaram ao longo da Rua Benjamin Constant, que dá acesso à BR-101. Por isso, o bairro oferece condições viárias impor-tantes para as empresas. A proxi-midade com o Distrito Industrial também colabora para as trans-portadoras e auxilia no escoamen-to dos produtos fabricados.

Ainda em construção, o Joinville Garten Shopping aposta na Região Norte pelas características promissoras

Por Juliano Reinert e Rafaela Mazzaro

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Brilhos e contrastesN

Realidades díspares fazem parte de uma mesma região

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Norte

Estabelecimentos: 6.741

% dos estabelecimentos de Join­

ville: 20,2%

Perfil: indústrias e universidade

O que é bom: empregos

O que é ruim: áreas esquecidas

O que vem por aí: Joinville Garten

Shopping, novo supermercado da

Wal­Mart e Eixão Norte­Sul

Paraíso distanteMesmo com os problemas roti­

neiros de enchente, Valdeomira de Souza, 41 anos, diz que não troca o Jardim Paraíso por outro bairro. Moradora há 17 anos, ela conta que, quando chegou, o bairro era tomado pelo mato. “Hoje, o Paraíso é uma cidade”, diz Valdeomira, que trabalha como assistente de cabele­leira, cria os filhos e resolve quase todas as necessidades nas imedia­ções de casa. Só embarca no ônibus para cruzar a Região Norte no início de cada mês, para receber a pensão em um banco que fica no Centro, ou quando precisa de consulta médica com algum especialista.

Há três anos, sua comunidade

luta por um posto regional de saúde. Para conseguir atendimento espe­cializado ou medicamento espe­cífico, é preciso se deslocar para o Costa e Silva, onde está a unidade responsável pela região. No Jardim Paraíso, são cinco unidades de saúde para controle pre­ventivo. Uma delas atende em horário estendido para casos mais urgentes.

Para Ademar Nogueira, presidente da Associação de Moradores do Jardim Paraíso (Amopar), o fato de o bairro não dar acesso a nenhum outro, ficando isolado do resto da cidade, dificulta a vinda de investimentos públi­

cos e privados. Até 1992, o Jardim Paraíso pertencia ao município de São Francisco do Sul. Foi anexada a Joinville apenas quando o gover­nador Vilson Kleinübing atendeu o resultado de um plebiscito.

Apesar de todos os proble­mas, muitos projetos sociais são desenvolvidos. O diretor Horácio Dal Zot, da Escola Estadual Nagib Zattar, única responsável pelo en­

sino médio no bairro, afirma que há muitas pessoas interessadas em aplicar iniciativas para melhorar a qualidade de vida das famílias, devido à conhecida carência do Paraíso, mas nem sempre encon­

tram receptividade dos líderes comunitários. “É preciso ter força de vontade para abraçar uma ideia”, revela o diretor.

O esgoto a céu aberto que passa em frente às casas dos lotes invadidos é um perigo

constante para as crianças que brincam livres pelas ruas. O PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), do governo fede­ral, promete mudar essa situação. Serão 360 famílias contempladas com novas moradias.

Quem passeia de carro pelo Jardim Paraíso precisa ter cuidado para desviar das crianças que brin­cam com bolinhas de gude nas ruas sem asfalto. O único lazer de que o bairro dispõe é a quadra de areia e um parquinho localizado logo na entrada. Nesse sentido, o Paraíso se assemelha ao América: o bairro mais próximo ao Centro

da cidade também carece de lu­gares para diversão.

Já os filhos da ajudante de cabelereira, que nunca sentou em um banco escolar, conhecem pouco o resto da cidade. Eles não têm noção dos limites territoriais de Joinville. Para essas crianças, o Jardim Paraíso é a sua cidade. Os quatro nunca foram à Rua das Pal­meiras, que fica a 10 quilômetros de casa. Mas Uesley, 12 anos, tem a vaga lembrança de ter visitado uma vez o Shopping Mueller.

Além do Jardim Paraíso, ou­tros bairros sofrem as conse­quencias da desigualdade social. O Jardim Sofia, também carente, padece ainda mais que o Paraíso, visto que este, por uma fama de longa data em relação à pobreza, recebe mais ajuda e é mais co­nhecido pelas necessidades, em­bora esteja longe de conquistar tudo que almeja. Já no Sofia, a população reclama da falta de iniciativas e investimentos bási­cos, apontando que são ainda mais esquecidos que muitos bairros.

Crianças brincam próximas às valetas onde corre o esgoto nas ruas sem infraestrutura do Jardim Paraíso – um dos bairros mais pobres do extremo norte da cidade

ISOLAMENTO DO BAIRRO DIFICULTA

INVESTIMENTOS

hOJE O PARAÍSO É UM BAIRRO QUE

VIROU CIDADE.”Valdeomira de Souza“

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População: 189.279

Bairros: Adhemar Garcia, Anita Ga-

ribaldi, Boehmerwald, Bucarein, Fá-

tima, Floresta, Guanabara, Itaum,

Itinga, Jarivatuba, João Costa,

Paranaguamirim, Parque Guarani,

Petrópolis, Profipo, Santa Catarina

e Ulysses Guimarães

Área total: 72,3 km²Sul

Grande, mas deficienteValas a céu aberto e poeira fazem parte da maior região da cidade

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Homogênea. Essa é a palavra que um visitante pouco atento po-deria utilizar ao começar a percor-rer a Zona Sul. Ruas longas e bem desenhadas, contornadas com prédios que oferecem de tudo. São lojas, supermercados, farmá-cias e restaurantes dividindo as atenções dos moradores. No vai-vém de automóveis que disputam lugar com pedestres e ciclistas, a urbanidade se mistura com a mo-dernidade. Mas essa sensação de unidade chega ao fim quando se alcançam os bairros mais periféri-cos. Estradas de chão, muito bar-ro e valas a céu aberto compõem o cenário de onde vivem milhares de joinvilenses.

Quase nos limites territoriais de Joinville, onde a cidade abraça o município vizinho de Araquari e reparte com ele o bairro Itinga, estão amostras da precariedade so-cial. O crescimento desordenado, somado à falta de infraestrutura, resulta em localidades sem sanea-mento básico, asfalto e transporte eficiente.

A doméstica Leonordete Mar-tins, 41 anos, é uma das perso-nagens dessa realidade. Mora em uma casa precária de madeira, isolada no alto de um morro des-matado e de barro vermelho. Para chegar lá, há duas formas: por uma rua não asfaltada ou atraves-sando um barranco. Em ambas, o pé sai sujo e enlameado. A diarista vive em Joinville há 14 anos e há 10 se mudou para o Itinga. Junto

com os irmãos, veio do interior de São Paulo atrás da mãe que já morava aqui. Tem três filhos, dois moram com o pai. Leonordete ressalta que o que mais gosta na cidade é a liberdade que não ti-nha em São Paulo. “Mas de sobre-vivência...”, lamenta, sublinhando as reticências.

Ao falar do bairro, a doméstica conta que gosta do lugar e que não há muitos problemas, mas basta es-tender a conversa para lembrar que só para pegar ônibus é preciso an-dar cerca de três quadras pelas ruas

de barro até a avenida principal. No posto de saúde, acentua que a de-mora para conseguir consultar com um médico é de cerca de 30 dias. Se surgirem emergências, é necessário se deslocar até um Pronto Atendi-mento em “Joinville”. Mas, ao olhar para a sua casa, a doméstica afirma que “a comunidade precisa mesmo é de habitação”.

Além de ressaltar os proble-mas já citados pela diarista, o presidente da Associação de Mo-radores do Bairro Itinga, Sérgio Aristides Corrente, aponta como principal reclamação a água que se acumula na pista da rodovia. A estrada corta todo o bairro e, em dias de chuva, já causou acidentes graves. Entretanto, a reivindicação mais antiga da comunidade é a pa-vimentação. “A Zona Sul sempre

foi ignorada pelos governantes”, desabafa o morador. Ele relata ainda que a região precisa de mais uma escola de ensino fundamen-tal, de mais profissionais nos dois postos de saúde e de reforço no transporte coletivo. “Mais do que construir coisas novas, é preciso investir no que já se tem”.

Diante de tantas necessidades, o secretário Paulo Roberto Rodri-gues, responsável pela Regional do Boehmerwaldt, que atende tam-bém o Itinga, reconhece que a uni-dade acaba se tornando um órgão ineficiente para a comunidade. “A demanda é enorme. Não tem como atender todas as necessidades, a se-cretaria não dá conta.” São cerca de 40 pedidos recebidos por dia. Eles chegam pelos próprios moradores ou por representantes locais. Em geral, as solicitações se referem ao ensaibramento das ruas. “Quando percebemos que a secretaria não pode resolver o problema, encami-nhamos para o Seinfra.”

Mais próximo do Centro está o bairro Floresta, cuja infraestrutura, embora ainda tenha o que ser me-lhorada, é bem mais avançada que nas regiões periféricas. Lá, o prin-cipal problema enfrentado pelos moradores são as enchentes, cada vez mais frequentes. Só neste ano, a comerciante Rosa Maria de Sou-za, 51 anos, já teve a casa invadida pelas águas oito vezes. “A cada chu-va é um novo desespero”, lamenta a comerciante.

De acordo com o secretário regional do Itaum, Manoel de Medeiros Machado, as principais causas das enchentes são o entupi-mento das bocas-de-lobo e tubu-lação obstruída. Além de disponi-bilizar pessoal para esse serviço, há também a necessidade de desasso-reamento dos córregos da região.

ESTRADA DE CHÃO COMPÕE

O CENÁRIO

O Sul é uma região de contrastes entre bairros extremamente carentes e com boa qualidade de vida. Em todos eles, o asfalto poderia estar mais presente

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Por Linda Tomelin, Tatiane Martins e Francine Hellmann

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Maio.2009 P.P 7

trabalho até o dia 15

de cada mês. depois, dou

uma parada.” leopoldo teixeira

Sul

% do território de Joinville: 36,6%

% da população: 40,6%

Estabelecimentos: 9.264

Perfil: maior região de Joinville, tem

atraído novos investimentos

O que vem por aí: nova fábrica da

GM, campus da UFSC, condomínio

industrial da Ajorpeme e

Eixão Norte-Sul

Diz-se por aí que Joinville é a cidade das flores e dos príncipes, mas quem conhece a Zona Sul pouco vê de flores ou de rea leza nos bairros. Dividida pelo con-traste entre o asfalto das ruas prin-cipais e o pó das estradas de chão, a região é a maior em tamanho e população. São 72,3 km2 reparti-dos entre 189.279 habitantes.

De ponta a ponta, 17 bairros compõem a região, sendo o Buca-rein o mais próximo do centro, a apenas 1,61 quilômetros. O mais distante é o Itinga, situado a 8,39 km, já na divisa com Araquari e que chega a se dividir entre as duas cidades.

De acordo com os limites geo gráficos, ficam na Região Sul o Hospital Municipal São José e a Maternidade Darcy Vargas. Além desses dois principais centros de atendimento, cada bairro conta com pelo menos um posto de

saúde. São exceção o Anita Ga-ribaldi e o Itinga, que têm dois, e o Paranaguamirim, que tem quatro.

No Panágua, apelido dado pela população, o maior número de postos de saúde se explica pelo fato de o bairro ser o mais populo-so da região. A estrutura de saúde precisa atender 23.366 pessoas que vivem em 12,65 km². Tam-bém no Paranaguamirim, estão os principais loteamentos da cidade. São conglomerados de pessoas que dividem áreas com estruturas deficientes de saneamento e infra-estrutura. Jardim Edilene, Morro do Amaral e Estevão de Matos são cenários dessa realidade.

A Zona Sul é também a maior região em estabelecimen-tos, com 27,8% do total da cida-de. Estão incluídos nessa conta indústrias, serviços, comércio e autônomos.

apaixonado pelo bairroSábado, por volta das 9 horas.

Leopoldo Teixeira, 68 anos, ajeita galões de produtos coloridos nas caixas fixadas em frente e atrás de uma bicicleta vermelha. Aproxi-ma-se do portão e se dispõe calma-mente a contar sua própria história desde que chegou a Joinville há 14 anos, frisando que a casa onde mora, localizada na quadra 5, lote 15, do loteamento Jardim Edilene, no Paranaguamirim, foi construída com as próprias mãos.

Teixeira é natural de Getúlio Vargas, cidade gaúcha que fica na região do Alto Uruguai. Saiu da sua cidade em busca de melhores con-dições de vida. Veio para cá porque uma irmã já morava em Joinville. “O custo de vida aqui é bem me-

lhor, lá é um lugar difícil para fazer qualquer coisa”, conta.

Logo que chegou, morou no Guanabara. Depois, comprou um terreno no extremo sul da cidade, local irregular que, na época, per-tencia a Araquari. “Era um lugar muito feio”, relembra Teixeira. Não havia coleta de lixo, nem insta-lações de luz. “Um vizi nho tinha ‘gam biarra’ para cinco casas”, re vela seu Teixeira.

Trouxe consigo a esposa e três filhos, hoje já casados. A família viu a região progredir. Os cinco netos da família estudaram na escolas pú-blicas próximas, há fornecimento de água e luz, os terrenos foram regularizados e transferidos para Joinville e o caminhão de lixo passa

três vezes por semana. Porém, essas melhorias apenas deram à comuni-dade condições mínimas de vida.

Teixeira gosta do bairro, mas lembra que por lá não há oportu-nidade de emprego, que ainda exis-tem valas abertas em muitas ruas, que há poucos horários de ônibus e que o asfalto chegou apenas até a rua principal de acesso ao lotea-mento. A falta de saneamento bási-co ainda é o principal problema e os esgotos a céu aberto propiciam a proliferação de bichos e doenças.

Hoje, já aposentado, pedala pela região vendendo produtos de limpeza que compra concentrado e dilui. Ele conta que trabalha até o dia 15 de cada mês. “Depois a gente dá uma parada”.

As múltiplas faces da Zona Sul

Falta de saneamento básico está presente em toda a região, porém nos bairros periféricos é mais visível

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Maio.20098 P.P

LestePopu-

lação:

137.998

Bairros:

Aventureiro,

Boa Vista,

Comasa,

Espinheiros,

Iririú, Jar-

dim Iririú,

Saguaçu e

Zona Indus-

trial Tupy

Área to-

tal: 38,7 km²

% do

território de

Joinville:

19,5%

% da

população

de Joinville:

29,6%

Mais

populoso:

Aventureiro

(34.917)

Região operáriaL

Panorâmica da Zona Leste, vista do Mirante: arborizada, contornada por água, a região compreende oito bairros e está em ritmo acelerado de desenvolvimento

Fábricas, pescadores e um pólo de ensino pioneiroPor Ariadna Straliotto e

Daniela de Tofol

Contornada por uma quantidade imensa de água, entre rios e man­guezais, a Zona Leste se destaca pelas características litorâneas e pelas ruas pavimentadas. São 134 quilômetros de asfalto, segundo dados do Ippuj de 2006. A área residencial é ocupa­da, principalmente, por operários da indústria.

Um dos aspectos que contri­buíram para a ocupação dessa região foi a instalação da Fundição Tupy, na década de 30. Em 1959, a Escola Técnica Tupy foi inaugurada com o

objetivo de oferecer ensino profis­sionalizante aos funcionários da fá­brica. Até hoje, a procura por cursos técnicos promove um movimento de migrantes de outras cidades. Vitor Gabriel Ramos, 14 anos, é um desses estudantes. Desde março, ele reside em Joinville, atraído pela ETT. Ape­sar das dificuldades enfrentadas por morar sozinho, garante que “vale a pena pela qualidade do ensino”. Os exemplos de sucesso de familiares que trabalham na instituição moti­varam o garoto a ingressar na escola.

Cortando o Boa Vista, logo se pode chegar à via principal do bairro Espinheiros, a Rua Prefeito Baltasar

Buschle. Da janela do ônibus, obser­va­se um bairro em franco desenvol­vimento, com casas em construção e asfalto, inclusive em algumas ruas paralelas. Do lado direito da Baltasar Buschle, o mangue avisa que aquele é o limite do território. Ali, o lixo joga­do sobre o mangue contrasta com a beleza natural da paisagem

As casas próximas à região dos manguezais são invadidas com as fre­quentes cheias. A maré alta aliada às chuvas contínuas traz transtornos aos moradores. Na Secretaria Regional do Boa Vista, que atende também ao Espinheiros, as principais reivindica­ções dos moradores são por saibro,

desentupimento de boca­de­lobo e colocação ou troca de tubulação. No Iririú e no Jardim Iririú, os cidadãos solicitam limpeza de boca­de­lobo, pavimentação e reparo de buracos.

Percorrendo a Rua São Borges, já em um braço da Baía da Babitonga, encontra­se a associação de pescadores do Boa Vista, com 37 boxes para batei­ras – que são barcos pequenos de fun­do achatado. Ali, pescadores da região e de outras cidades ancoram as embar­cações até o momento de voltar para o alto mar. Em algumas casas, vizi nhas à associação, as redes de pesca pen­duradas nas varandas evidenciam a profissão dos moradores.

Associação de Pescadores reúne adeptos do ofício no bairro Boa VistaFundada em 1959, ETT nasceu para oferecer formação aos operários da Tupy

Foto

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Page 9: Edição nº 74_do_primeira_pauta,_o_jornal_laboratório_do_ielusc,_joinville

Maio.2009 P.P 9

LesteEstabe-

lecimentos:

6.370

% dos

estabele-

cimentos

de Joinville:

19,1%

Perfil:

região

litorânea,

mistura de

manguezais

e indústrias

O que é

bom: eco-

nomia em

constante

crescimento.

O que é

ruim: polui-

ção da área

litorânea

O que

vem por aí:

Parque Por-

ta do Mar

Eu não tEnho mEdo.

nasci no mar, EssE é o mEu

lugar.” genésio Batista, 65

Uma vida divididaentre o mar e a terra

Às margens de um dos braços da Baía da Babitonga, em uma região majoritariamente residencial, há um recanto de pescadores. A Associação de Pescadores Boa Vista é só o ponto de partida de Genésio Batista da Silva, 65 anos, para o seu refúgio de descanso. “Eu não tenho medo. Nasci no mar, esse é o meu lugar”, afirma, sorrindo. Aposentado desde 1991, ex-operário da Fundição Tupy e da antiga Consul, a pesca é um passatempo. Aos sábados e feriados, pela madrugada, a bateira, de motor 8 HP, enfrenta os movimentos do mar há 15 anos e volta carregada com cerca de 45 quilos de camarão. Cada quilo é vendido a R$ 12. “O pessoal do bairro conhece, procura e compra. São muitos anos aqui.”

Ali, no mangue, também é possível pescar tainhotas, quando a maré sobe. “Só que tem muita poluição. Acaba com tudo”, lamenta o homem com olhar perdido. Genésio conhece o ofício da pesca desde os 12 anos de idade, quando acompanhava o pai na localidade de Barracos, em Garuva. De lá para cá, já teve quatro bateiras. A pretensão agora é comprar um motor de 15 HP para chegar mais rápido a

Barra do Sul. Embora a família, que por vezes o acompanha, goste da velocidade da navegação, “eles dizem que devagari nho é bom para ver a paisagem e os passarinhos revoando”.

Integrante da associação de pescadores, que dispõe de 32 boxes para bateiras, ele paga aluguel de R$ 15, com taxas de água e luz inclusas. Quer dizer: até o momento, só taxa de água, porque a “luz vai ser puxada ainda”. Apenas 18 dos 32 boxes já têm instalação elétrica.

Morador da região há mais de 20 anos, Genésio afirma que os habitantes da comuni-dade já não têm mais o sossego de antes: “A gente podia dormir sem trancar as portas, sem grade nas janelas. Agora, tem que ser amigo de longe. Sempre desconfiando”.

A marginalidade dos jovens dependentes das drogas assombra quem mora no local. De madrugada, para sair mar afora ele precisa da ronda da viatura da polícia militar, que ilumina o local e o protege das emboscadas. Ainda assim, o pescador quer coletar muito peixe e colecionar histórias. É cedo para se aposentar do ofício: “Quero pescar até quando puder, enquanto a saúde deixar”.

A infraestrutura do Iate Clube e a beleza da paisagem atraem sócios, que partem dali para outras praias

Ajuda entre moradores

Em um bairro de classe operária da Região Leste, a associação de moradores reivindica a necessidade de uma área de lazer. Nada parecido com o Iate Clube, mas um lugar para a meninada se divertir. Com 17.630 moradores, o Boa Vista tenta jun-tar fundos para tirar do papel o projeto de uma recreativa com quadra polies portiva, quiosques e parque infantil. O objetivo da associação é visitar as empresas da região, apresentar o projeto e tentar parcerias para construção. O terreno onde hoje fica a sede da entidade é o local escolhido para a obra.

Atualmente, 27 sócios contribuem mensalmente com uma quantia que varia entre R$ 2 e R$ 10. O valor banca parte dos gastos mensais da instituição. Rosane Belmiro, secretária da associação, relata que a maioria dos moradores procura a entidade em busca de auxílio na procura de emprego ou quando precisam de ajuda para conser-tar suas casas.

A comunidade realiza bingos benefi-centes, ações entre amigos ou doações. “A parceria com empresas ajudaria muito, mas são poucas as que colaboram”, ressalta Ro-sane. Na sede, a comunidade também pode receber assessoria jurídica gratuita uma vez por semana.

Luxo no bairro dos manguesCom vista privilegiada, em uma

região distante do centro, o Joinville Iate Clube ( JIC), fundado há trinta anos por um grupo de amigos, é o recanto de muitos empresários e executivos. Situado no miolo do Espinheiros, colado em uma região pobre, o local tem uma área con-struída de 7.788 metros quadrados. A coordenadora administrativa Lu-cimar de Almeida Valentim conta que cerca de 90% dos associados moram em Joinville. Os demais são de Blumenau, Curitiba e São Paulo.

Opulência é característica marcante no JIC. A ostentação e o luxo chamam atenção de quem mora nos arredores e até mesmo

de turistas que, por um atrativo ou outro, acabam passando por ali. Claro que, dos 8.154 moradores do Espinheiros, nenhum é associa-do ao clube. A maioria dos 22 fun-cionários mora nas redondezas, no Espinheiros ou no Comasa.

Uma estra-da paralela de acesso restrito leva os curiosos até a portaria. Lá, a segurança é reforçada. Lu-cimar conta que muitos conseguem entrar pedin-do para usufruir do restaurante, mas acabam passeando pelo local.

Mesmo assim, o clube evita liberar a entrada, “porque o patrimônio é muito grande”, justifica a adminis-tradora.

A região foi estrategicamente escolhida para abrigar o em-preendimento pela facilidade de

navegação de grandes embarcações. Enquan-to os navegantes par-tem para destinos como Capri, em São Francisco do Sul, e An-gra dos Reis, no Rio de Janeiro, os passageiros

do ônibus circular que passa perto dali já estão acostumados com o mesmo percurso.

iatE cluBE ostEnta

BElEza no EspinhEiros

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Maio.2009 10 P.P

OestePopulação:

57.515

Bairros:

Atiradores,

Glória, Morro

do Meio, Nova

Brasília, São

Marcos e Vila

Nova

Área total:

39,8 km²

% do território

de Joinville:

20,1%

% da popula-

ção de Joinvil-

le: 12,3%

Bairro mais

populoso: Vila

Nova (19.824)

Estabeleci-

mentos: 3.954

% dos estabe-

lecimentos de

Joinville: 11,8%

Seja bem-vindoO

No perímetro joinvilense da SC-413, há três cemitérios. O mais antigo é propriedade da Igreja Lu-terana e fica na esquina com a es-trada que leva ao bairro Duas Ma-mas, em Schroeder. Lá, ninguém foi enterrado há menos de 50 anos. O mais velho dos “moradores” do cemitério é Karl Wille, nascido em 1847 e falecido em outubro de 1922. Pon to comum entre os enterrados: todos são de des cendência alemã.

Mas não é só no bairro Vila Nova que a colonização germâ-nica predomina. Os alemães se espalha ram por todo o Sul do Bra-sil. Em Santa Catarina, as colônias se formaram aos poucos.

A partir do início do século 20, foram trazidos do Rio Gran-de do Sul mais imigrantes para ocu par novas colônias no Oeste do Estado, que já não eram ex-clusivamente alemãs – também continham outros grupos de imi-grantes, principalmente italianos. Mesmo assim, estima-se que pelo

menos um quarto da popu lação cata-rinense seja de ori-gem germânica.

Em cidades como Joinville e

Blumenau, ainda é preservada como valor cultural a arquitetura germânica das casas. Só na SC-413, da Rua 15 de Novembro até o limite com Guaramirim, exis-tem quatro dessas casinhas.

De origem alemã

Por Charles França e Rayana Borba

A Zona Oeste é a porta de entra-da de Joinville. O tradicional pórtico da Rua 15 de Novembro dá as boas-vindas aos turistas. A região oferece várias opções de acomodação, tan to para os que têm Joinville como des -

tino quanto para quem está só de pas-sagem. Os dois principais acessos da cidade estão localizados nessa parte do mapa, que também abriga a ro-doviária.

É a BR-101 que divide os quase 40 quilômetros quadrados da Zona Oeste. Os bairros Glória e Atira-dores, mais próximos do centro, fo-

ram colonizados pelos descendentes de alemães. A localização permitiu o desenvolvimento dessa porção mais nobre, na qual estão situados os prin-cipais restaurantes e lojas da cidade. Os dois bairros também abrigam os principais complexos de segurança de Joinville: os batalhões da Polícia Militar e do Exército. Do outro lado

da rodovia, espalham-se os bairros Vila Nova, São Marcos, Nova Brasília e Morro do Meio. Is so não apenas torna aquelas localida des desconhe-cidas pela maioria da população, mas também faz com que elas apresentem características únicas, em comparação aos bairros quase homogêneos e mais próximos à região central.

Colonização germânica predomina

Em estilo germânico, o pórtico, um dos cartões -postais de Joinville, dá as boas-vindas aos que chegam à cidade; Zona Oeste é dividida pela BR-101

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O Vila Nova é um bairro de ex tre-mos. Afastado do centro, para chegar lá é preciso atravessar a BR-101. Na Rua 15 de Novembro – onde está o terminal de ônibus –, a vida comercial do bairro tomou forma. As ruas liga-das à 15 de Novembro foram pensa-das de modo a conferir organização ao bairro. São todas paralelas à via princi-pal, da mesma forma que as transver-sais são paralelas umas às outras. Isso se deve à partilha que as imobiliárias fizeram dos loteamentos.

A maior concentração de mora-dores está do lado direito da 15, sen-tido Centro-bairro. No lado esquerdo, onde mora Joana Luz, o relevo é mais baixo e propício às enchentes. A dona de uma barraquinha de produtos ca-seiros ainda lembra da primeira vez que viu a água porta adentro, há mais de 15 anos. “Era final da tarde e eu

estava voltando do trabalho. Na rua, a água batia quase no joelho. Dentro de casa, na canela”, conta, exaltada. Ela diz que não conseguiu tirar nada da cozinha. Prejuízos: fogão e refrige-rador enferrujados, compressor da ge-ladeira estragado e móveis podres. Jo-ana viu a água entrar em sua casa mais “duas ou três vezes”. O saneamento básico chegou até onde ela mora. O esgoto não existe mais. Mesmo assim, Joana não pensa em sair do Vila Nova. “Sair para quê? Não me falta nada aqui”, diz, levantando os ombros.

A parte rural é mais deslocada. Lá, encontra-se a área de turismo rural, algumas propriedades com planta-ção de arroz, morros, rios e o parque aquático Water Valley. O Vila Nova é o único bairro de Joinville a fazer li-mite com duas cidades: Schroeder e Guaramirim.

Minicidade

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Maio.2009 P.P 11

Oeste

Pobre e distanteLigado ao Vila Nova pela Estrada

Aratacas, onde fica o campo de treina­mento do JEC, o Morro do Meio é um dos bairros mais desconhecidos e de­sassistidos de Joinville. Seguindo pela longa estrada é fácil descobrir quando se chega ao Morro do Meio. É grotes­ca a diferença na urbanização entre os dois bairros. Se na SC­413 as poucas casas são, em sua maioria, de alvena­ria – rebocadas, pintadas, em terrenos grandes, com jardins bem cuidados –, no Morro do Meio a situação é outra. Quase todas as moradias são de ma­deira, algumas com paredes podres. Dá até para ver a marca deixada pelas enchentes passadas: uma faixa em marrom claro, de quase um metro.

São raras as casas de alvenaria e com paredes rebocadas. Os terrenos não são murados e o esgoto corre a céu aberto. Nessas condições, vive a viúva Maria Zenita da Silva, 61 anos. A aposentada recebe R$ 600 por mês e paga R$ 200 de prestação pelo terreno onde mora. Na última chuva que alagou Joinville, em março, a casa dela foi parcialmente destelhada e a

água chegou a entrar na cozinha. Os sinais da lama continuam na parede de madeira. O forno do fogão tam­bém estragou.

Do lado de fora, a boca­de­lobo aberta quase deixa o esgoto transbor­dar. Como a entrada do terreno é mais alta do que os fundos, a casa de Maria, para se manter na horizontal, está equilibrada por alguns pilares. Embaixo da casa, que abriga ainda os dois filhos, a nora e a neta de Maria, há uma pequena lagoa esver­deada. Lembrança das enchentes de novembro passado, que aceleraram o apodrecimento das paredes. Ela reclama que já pediu ajuda para a Vigilância Sanitária por ter medo de que a água fomentasse a proliferação dos mosquitos da dengue. Até agora, diz, nada foi feito.

Muitas quadras dos loteamentos do Morro do Meio se encontram em zonas de alagamento. Essa é a razão pela qual mais de 15 famílias foram proibidas de voltar para suas casas quando as cheias tomaram Santa Cata­rina em 2008.

Do outro lado do rioEles moram bem longe: a casa da família de Ademar Felipe fica a 30 quilômetros do Centro de Joinville e a apenas 15 do Centro de Guaramirim

No limite entre Joinville e Guara­mirim mora a família Felipe. Eles não têm vizinhos. O terreno onde resi­dem é cortado pelo mesmo rio que separa as duas cidades. A casa, que fica em Joinville, pertence à família de Ademar Felipe, 49 anos. Lá, as corres­pondências só chegam por meio de Sedex. Pudera: nem transporte pú­blico passa por ali. O ponto de ônibus

mais próximo fica a um quilômetro de distância. A família não teve es­colha senão comprar um carro.

A água não é fornecida pela Com­panhia Águas de Joinville: vem direta­mente da serra e é extraída do poço. O lixo é recolhido pelo município de Guaramirim, mas a energia elétrica é suprida por Joinville. Telefone fixo, eles não têm, usam o “celular rural”.

O aparelho permanece preso a uma antena de captação de sinal para fun­cionar.

Ademar trabalha na Engepasa de Joinville. A esposa, Janete, 44 anos, é dona­de­casa. O filho do casal, Marcos Antônio, trabalha em Guara­mirim. O rapaz namora uma moça de outra cidade vizinha, Jaraguá do Sul, e costuma passar os finais de semana na

casa dela. A filha Fátima, de 13 anos, estuda na parte urbanizada do Vila Nova e vai para a escola com o ônibus que a cidade disponibiliza para trans­portar os estudantes de regiões mais afastadas. Qualquer coisa de que pre­cisam, compram em Guaramirim. E é para a cidade do outro lado do rio que a família Felipe pretende se mudar ainda neste ano.

Foto

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a

Maria zenita, do Morro do Meio, teM Medo

de que a água parada eMbaixo da casa transMita

dengue para a faMília

Perfil: região

onde se

encontram os

bairros mais

distantes do

Centro, carac-

teriza-se por

conter bairros

praticamente

autônomos

do resto da

cidade, como

Vila Nova e

Nova Brasília.

Seu território é

cortado pela

BR-101.

O que é bom:

infra-estrutura

comercial

O que é ruim:

transporte

para localida-

des distantes

O que vem

por aí: pavi-

mentação das

ruas

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Carlito, com os servidores da Saúde e da Educação, aos 100 dias de governo: ampliar horizontes

Desafios de CarlitoPor Jouber Castro

O prefeito Carlito Merss comple­tou os clássicos cem dias de mandato com uma pilha de proble mas sobre a mesa. Ele passou boa parte desse perío­do reclamando das dívidas deixadas pelo antecessor. Segundo o balanço de 2008, são R$ 9.015.677,28 de défi­cit e R$ 51.391.464,38 em empenhos anulados no final de dezembro. Contas que Carlito considera dívidas a pagar. Mesmo assim, o prefeito está otimista em relação às obras de infraestrutura, contando com os recursos que a cidade tem recebido do governo federal. Car­lito revela o que o deixaria satis feito ao término do mandato, em 2012: “Che­gar a 70% da cidade com saneamento, o que é difícil; acabar com o turno inter­mediário, começando pelas duas escolas que estamos inau gurando; e manter o Hospital São José funcionan do 100% legal, como também os postos e o PA do Aventureiro”. A equipe do Primeira Pauta, na viagem aos quatro cantos da cidade, recolheu observações e proble­mas que foram levados à mesa de reu­niões do gabinete do prefeito. Foram selecionados os três assuntos mais ques­tionados pelas pessoas ouvidas: sanea­mento básico, enchentes e habitação.

Saneamento: dinheiro no bolso e trabalho

Uma das reclamações recor­rentes entre moradores do Jardim Edilene e do Jardim Paraíso, regiões pobres da cidade, foi a ausência de saneamento básico. O esgoto a céu aberto corre ao lado de casas e torna o ambiente propício para doenças. A cidade conta, oficialmente, com 11 mil ligações de esgoto e 130 mil domicílios. Carlito diagnostica pro­blema e solução: “Hoje, as residên­cias ligadas à rede de esgoto são menos de 5% do total. Isso ocorre porque durante quase 30 anos se permitiram loteamentos irregulares. Agora a legislação é dura. De dez

anos para cá, a prefeitura só licencia loteamento se o loteador garantir o básico: iluminação, tubulação. Nos­so objetivo é chegar, em 2012, a 70% das casas com saneamento básico”. Segundo o prefeito, boa parte dos terrenos da cidade não está regulari­zada, o que dificulta a chegada do poder público: “Essa regularização atingiria de 3 a 5 mil lotes. Parte de­les tem esgoto a céu aberto. A maior solicitação dos secretários regionais é de tubos, para colocar na frente das casas e não deixar o esgoto assim”.

Carlito se reuniu com repre­sentantes da empreiteira SL, de Brasília, que ficou responsável pe­lo saneamento do Jardim Paraíso e de uma área do Paranaguamirim. A intenção era permitir o reinício das obras. Para isso, alguém precisará abrir os cofres: “Teremos que rene­gociar, pois eles querem aditivos no contrato. Vamos utilizar os recursos do PAC [Programa de Aceleração do Crescimento, do governo fede­ral]”. Carlito se refere aos R$ 66 mil­hões destinados ao investimento na rede de água e esgoto de Joinville pelo Ministério das Cidades. O pre­feito conta, nesse processo, com a solidez da Águas de Joinville: “Te­mos intervenções em andamento no Morro do Amaral, no Morro do Meio, no Jardim Paraíso. A principal parceira que tenho nesse campo é a Águas de Joinville. Por isso a preo­cupação de que ela continue saudá­vel. Se for inviável, não pode ser usada para conseguir empréstimos”.

Enchentes: a dor de cabeça vai longe

O fim de 2008 e o início de 2009 foram marcados pela intensificação de um fenômeno já conhecido dos moradores de Joinville: as enchentes. Foram abundantes as imagens divul­gadas na imprensa de casas arrasadas, famílias desabrigadas e ruas alagadas. Regiões como Jardim Sofia, Jativoca

e Morro do Meio ainda se recu­peravam de uma das cheias quando foram atingidos novamente, com intensidade ainda maior. O prefeito atribui o problema à falta de cuidado que moradores e poder público vêm tendo com o leito dos rios e com as bocas­de­lobo. “Temos 96 quilôme­tros de rios e valas. Encontramos ca­sos de lugares onde há dez anos não se faz uma limpeza. Realizamos, em 70 dias, a limpeza básica de quase 40 quilômetros. O trabalho está sendo feito pela Secretaria de Infraestru­tura Urbana, pela Defesa Civil e por três equipes da Engepasa, duas delas contratadas por nós”, explica.

A medida principal da atual gestão deverá ser a formalização do Plano Diretor de Dragagem da Bacia do Rio Cachoeira, que prevê ações para evitar as cheias nos bairros próximos do Centro. O montante total – mais de R$ 300 milhões, em regime de empréstimo – está vindo do Banco Interamericano de Desen­volvimento (BID). “A primeira inter­venção deverá ser no Rio Morro Alto, que passa perto do Ginásio Ivan Ro­drigues. Com as medidas do plano,

a velocidade do rio deve aumentar e ele será desafogado. Haverá indeni­zações, casas serão retiradas e pontes alargadas, já que o rio está estrangu­lado. São apenas dois quilômetros e meio, mas o custo de desapropriação será altíssimo”. Carlito enumera os lugares que serão contemplados pelo plano: “Toda a bacia do Cachoei ra, para tentar resolver seis ou sete pon­tos de enchentes no Bom Retiro, na Getúlio Vargas, no Floresta. A gente sabe onde estão os rios entupidos. Não precisa ser engenheiro ambien­tal para entender isso”.

Pedidos de limpeza da região cen­tral do Cachoeira ainda não po derão ser atendidos. “Desobstruir bocas­de­lobo e fazer as limpezas possíveis são paliativos. O governador tenta há quase dois anos uma dragagem do Cachoei ra, mas não consegue porque a Fatma [Fundação do Meio Ambiente, de nível estadual] não libe ra. Não tem onde deixar o entu lho. Quem draga deve dizer onde vai o bota­fora.” Qual a solução? O prefeito responde: “Fazer esse grande plano de drenagem e não permitir mais que se construa em al­gumas áreas. Simplesmente proibir”

ampliar rede de esgoto e resolver dramas da

saúde são prioridades

Habitação: onde res ta uma esperança

A cidade planeja uma revira­volta habitacional, com os recur­sos do novo programa do gover­no fede ral. “É a primeira vez na história que temos um programa nacional. Não havia política para quem ganha até cinco salários mínimos. Temos de atingir esse público e a prefeitura não tem dinheiro”, argumenta Carli to. O planejamento deve se intensificar, para garantir a parcela de novas moradias que cabe a Joinville. Em se tratando de saneamento e infraes trutura para habi tação, a parceria com Brasília será vital: “Temos, hoje, entre 7 e 8 mil pes­soas que podem entrar nesse pro­grama, e a Secretaria da Habitação está refazendo o cadastro. Temos potencial para conseguir 4 mil moradias do pacote. Com os pro­jetos que já encaminhamos, po­demos a 700 casas neste ano, em áreas regularizadas. Basta, a partir de agora, não deixar a ocupação ser feita de maneira desordenada”. (Colaboração: Ariane Olsen)

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