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por: Thiago Salomão, CNPIT João Sandrini, CNPI e CFP “Compre ao som dos canhões, venda ao som dos violinos” (Warren Buffett) “O mercado pode permanecer irracional por mais tempo do que você pode se manter solvente” (John Maynard Keynes) As duas emblemáticas frases sobre o mercado financeiro não foram escolhidas a toa para encabeçar o guia "InfoMoney Onde Investir 2016". Me acompanhem que explicarei melhor. Se existe algo que aprendemos em 2015, foi que a expressão "nada que está tão ruim não pode piorar" de fato é verdadeira. Aquelas projeções para a economia brasileira no final de 2014, que pareciam tão pessimistas, na verdade "esconderam" o pior que estaria por vir. E a ausência de um sinal claro de que aprendemos com os erros cometidos só nos leva a crer que a recuperação não deve chegar em 2016. O reflexo no mercado financeiro foi ruim para uma grande parte, mas houve também quem lucrou nessa história: a taxa de juros e o dólar escalaram novos picos em 2015, enquanto a Bovespa teve um desempenho negativo e completou o 5º ano de "derrota" para a renda fixa. Contudo, a disparada do dólar fez a alegria das exportadoras listadas na bolsa, em especial as produtoras de celulose; já a Selic galopante deu aos investidores de renda fixa ganhos ainda mais gordos, sobretudo com ativos isentos de imposto de renda (LCIs e LCAs) e CDBs de bancos médios. quem diga que as duras quedas de algumas ações na Bolsa abriram uma ótima oportunidade para quem quer fazer uma carteira de longo prazo. A frase do mestre Warren Buffett, citada no começo deste relatório, soa perfeitamente para este momento. No entanto, trago também a frase de Keynes para iniciar meu argumento um tanto quanto cético sobre essa "pechincha" da Bovespa e, dessa forma, acalmar os ânimos dos investidores mais ansiosos por irem às compras. Primeiro, um argumento técnico: historicamente, a Bovespa ainda não está barata. Este link aqui , de uma matéria que eu fiz em setembro e que ainda está bem atual, explica muito bem essa tese. Segundo: a irracionalidade do mercado deve ganhar ainda mais força em 2016, já que certamente vamos presenciar uma piora ainda maior na economia e os "respingos" que cairão na já tão tumultuada cena política. Encontraremos "ações baratas" na Bolsa? Com certeza sim! Mas, quanto tempo irá demorar para que elas voltem ao "preço normal" e você lucre com essa aplicação? Essa questão do "tempo de duração do investimento" que não está explícita na frase do Buffett que seria na prática a duração entre o fim dos sonhos dos

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Page 1: Editor de Mercados do InfoMoney e analista CNPIT · Thiago Salomão, CNPIT ... Essa é a tese que resume o guia "InfoMoney Onde Investir 2016": ao invés de nos ... economia na qual

por: Thiago Salomão, CNPI­T

João Sandrini, CNPI e CFP “Compre ao som dos canhões, venda ao som dos violinos” (Warren Buffett) “O mercado pode permanecer irracional por mais tempo do que você pode se manter solvente” (John Maynard Keynes) As duas emblemáticas frases sobre o mercado financeiro não foram escolhidas a toa para encabeçar o guia "InfoMoney ­ Onde Investir 2016" . Me acompanhem que explicarei melhor. Se existe algo que aprendemos em 2015, foi que a expressão " nada que está tão ruim não pode piorar " de fato é verdadeira. Aquelas projeções para a economia brasileira no final de 2014, que pareciam tão pessimistas, na verdade "esconderam" o pior que estaria por vir. E a ausência de um sinal claro de que aprendemos com os erros cometidos só nos leva a crer que a recuperação não deve chegar em 2016. O reflexo no mercado financeiro foi ruim para uma grande parte, mas houve também quem lucrou nessa história: a taxa de juros e o dólar escalaram novos picos em 2015, enquanto a Bovespa teve um desempenho negativo e completou o 5º ano de "derrota" para a renda fixa. Contudo, a disparada do dólar fez a alegria das exportadoras listadas na bolsa, em especial as produtoras de celulose; já a Selic galopante deu aos investidores de renda fixa ganhos ainda mais gordos, sobretudo com ativos isentos de imposto de renda (LCIs e LCAs) e CDBs de bancos médios. Há quem diga que as duras quedas de algumas ações na Bolsa abriram uma ótima oportunidade para quem quer fazer uma carteira de longo prazo. A frase do mestre Warren Buffett, citada no começo deste relatório, soa perfeitamente para este momento. No entanto, trago também a frase de Keynes para iniciar meu argumento um tanto quanto cético sobre essa "pechincha" da Bovespa e, dessa forma, acalmar os ânimos dos investidores mais ansiosos por irem às compras. Primeiro, um argumento técnico: historicamente, a Bovespa ainda não está barata. Este link aqui , de uma matéria que eu fiz em setembro e que ainda está bem atual, explica muito bem essa tese. Segundo: a irracionalidade do mercado deve ganhar ainda mais força em 2016, já que certamente vamos presenciar uma piora ainda maior na economia e os "respingos" que cairão na já tão tumultuada cena política. Encontraremos "ações baratas" na Bolsa? Com certeza sim! Mas, quanto tempo irá demorar para que elas voltem ao "preço normal" e você lucre com essa aplicação? Essa questão do "tempo de duração do investimento" que não está explícita na frase do Buffett ­ que seria na prática a duração entre o fim dos sonhos dos

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canhões e o início das doces violinadas. E esse ponto ganha ainda mais importância em um país como o Brasil, onde o "custo de oportunidade" é muito alto ­ pra que ficar 5 anos sofrendo ao esperar que uma tese de investimentos na Bolsa dê certo, se eu poderia ganhar tal rendimento de forma gradativa neste mesmo período com alguma aplicação na renda fixa, beneficiada por esta taxa de juros tão alta? Essa é a tese que resume o guia "InfoMoney ­ Onde Investir 2016" : ao invés de nos debruçarmos em busca de barganhas na Bolsa, acreditamos que o melhor ainda é buscar opções sólidas na Bovespa ­ que inclusive ganharam um pouco mais de atratividade com as quedas apresentados nos últimos meses de 2015 ­ e também manter uma fatia da carteira exposta em dólar e em renda fixa. Ou seja: como não vemos sequer resquícios de luz no fim do túnel, preferimos manter a cautela para não pagarmos o preço do "timing" errado da virada ­ preço que é muito alto neste Brasil de Selic acima de 14% ao ano. Tenham todos uma boa leitura e que esse material se converta em ganhos financeiros e, principalmente, muitos aprendizados. Bom 2016 para todos nós! Thiago Salomão Editor de Mercados do InfoMoney e analista CNPI­T

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O QUE É ESTE RELATÓRIO? O guia "InfoMoney ­ Onde Investir 2016" está dividido em duas partes: 1) Perspectivas 2016 ­ Os 10 temas para você ficar de olho Separamos 5 assuntos nacionais e 5 internacionais que todo investidor terá que ficar de olho em 2016. Cada um dos tópicos está separado por: a) contexto atual ; b) por que se preocupar? ; c) como monitorar? . Dicas para iniciantes e leituras recomendadas fazem parte de alguns dos temas. Os 10 temas para 2016 são: 1­ Brasil: impasse político contamina a economia 2­ Política Monetária ­ Selic vai subir ainda mais? 3­ Rebaixamento de ratings do Brasil 4­ Dólar: R$ 4,00 virou piso? 5­ Lava Jato e outras investigações 6­ China e a desaceleração 7­ EUA e o ciclo de alta dos juros 8­ Choque de commodities 1: Petróleo 9­ Choque de commodities 2: Minério 10­ Europa ­ Draghi tranquilizou o mercado; e agora? 2) Carteira Recomendada InfoMoney 2016 Para atender todos os "tipos" de investidores, nossa carteira recomendada terá 5 versões , com base no tamanho do capital disponível de cada investidor. As divisões vão de a partir de R$ 20 mil para acima R$ 200 mil . obs: para quem possui menos de R$ 20 mil , a recomendação do InfoMoney é aplicar em "Tesouro Selic", através através do Tesouro Direto. A carteira terá exposição em três principais segmentos : ações, renda fixa e outros mercados.

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Ações : concentramos as recomendações em Bolsa naquelas empresas com ótima situação de caixa, que têm entregado bons resultados nos últimos trimestres e que conseguem navegar de forma menos traumática neste cenário de recessão na economia brasileira. Alguma delas, inclusive, apresentaram uma boa queda nos últimos meses de 2015, configurando um bom momento de entrada com foco no longo prazo. Nomes como Cielo e Ultrapar aparecem em todas as carteiras recomendadas. Renda fixa : a alocação sugerida é em um fundo DI de crédito privado com liquidez diária da Porto Seguro ou, para investidores com maior quantidade de capital e menor necessidade de dinheiro no curto prazo, em LCAs dos bancos Original ou Fibra . Outros mercados: , para completar este portfólio diversificado, recomendamos exposição em um fundo cambial do Votorantim e no fundo multimercado Bozano Quant . Para os investidores com maior capital, também alocamos uma parte em IVVB11 , o ETF (fundos de índice, na tradução livre) que acompanha o índice de ações S&P500. Além das carteiras, também deixaremos disponível uma planilha de excel bem básica, que pode servir para quem quiser atualizar por conta própria a performance de um ou mais portfólios recomendados. Boa leitura a todos!

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1­ Brasil: impasse político contamina a economia Contexto atual: Desde a corrida presidencial em 2014, ficou nítido que o País se dividiu em dois. E isso não apenas pela minúscula diferença entre a vitoriosa Dilma Rousseff (PT) do segundo colocado Aécio Neves (PSDB), mas também pela dificuldade do governo atual em se articular para conseguir colocar em funcionamento os “remédios amargos” que farão a economia voltar aos trilhos daqui alguns anos. Tentarei ser sucinto para não deixar esse relatório tão longo, mas deixo um convite “quase obrigatório” para a leitura recomendada deste tópico, contendo as 8 entrevistas concedidas por grandes economistas para o Especial InfoMoney Onde Investir 2016 .. Vamos lá, a começar pelo lado político: o PT venceu as eleições de maneira muito acirrada, o que já traria uma certa “divisão” no Congresso. Com o intuito de agradar seus aliados, o governo concedeu muitos cargos importantes para seus partidos mais próximos, em especial o PMDB, partido o qual alguns membros não fizeram a sua parte na hora de reunir a base aliada em prol da governabilidade dentro do Congresso. Além disso, o agravamento da crise econômica piorou ainda mais o clima de insatisfação política, que ganhou ares ainda mais tensos com aliados tornando­se inimigos e com o tema “impeachment” tornando­se um vocábulo cotidiano nos noticiários. Interrompendo esse raciocínio para falar do lado econômico: quem vivenciava o mercado financeiro sabia que, com Aécio ou Dilma, 2015 seria um ano muito difícil para o País. A combinação “estímulo ao consumo + preços represados + indisciplina fiscal” fez com que 10 em cada 10 economistas/gestoras/analistas da Avenida Faria Lima projetasse um ano terrível para o Brasil, independentemente do resultado eleitoral (embora o mercado tivesse a torcida implicitamente para o candidato tucano). Percebendo esse cenário, Dilma movimentou­se para substituir o criticado Guido Mantega por Joaquim Levy, prestigiadíssimo no mercado financeiro pelo conhecimento técnico que só um “Chicago Boy” possui. Ele fez a leitura do cenário e, como um médico, prescreveu a receita do paciente Brasil. Mas as doses cavalares de tão amargo remédio foram rapidamente mal recebidas por todos, desde a população, os oposicionistas e até mesmo os políticos aliados do governo. Tendo pouco êxito na implantação de medidas austeras ­ que incluíam a volta da CPMF e a reforma da Previdência ­, Levy cedeu ao cargo de ministro, que agora passa a ser ocupado por Nelson Barbosa, até então ministro do Planejamento e um economista muito mais voltado para as ideias desenvolvimentistas de Mantega do que do estilo mais rígido do seu último antecessor. É aqui que os mares da “política” e da “economia” se unem: por mais difícil que seja a situação da economia brasileira, não estamos num caminho sem volta (ainda). O grande problema está no enfraquecimento político do governo, que o impede de avançar em medidas tidas como “anti populares” para recuperar a atividade, e com a nuvem do impeachment rondando os céus de Brasília, a paralisia política é ainda maior: ninguém vai querer decidir nada sem antes saber quem vai assumir a culpa caso não dê certo. Adendo importante sobre impeachment: sem querer me alongar muito, mas há um consenso de que, caso a presidente Dilma seja impedida de continuar seu mandato, a reação dos investidores tende a ser bastante positiva num primeiro momento, com forte alta na Bolsa e queda no dólar. Compactuo desta visão, mas a sustentação desses dois movimentos só vira se o novo governo conseguir mostrar que colocará em prática tudo que estava emperrado por conta do impasse político existente. Conclusão: cuidado com o excesso de euforia caso esse evento de materialize. É possível se aproveitar disso com operações bastante lucrativas de curto prazo, mas buscar lucros rápidos não é o objetivo deste relatório de horizonte de longo prazo. Por que se preocupar? Os números falam por si só o quão difícil será mudar esse cenário: a atividade econômica, medida pelo PIB, deve mostrar uma retração na faixa de 3,5%~4% em 2015, podendo cair pelo menos 3% em 2016 segundo as estimativas do ranking Top 5 do último relatório Focus do BC. Cortar os juros, que estão atualmente em 14,25%, seria uma boa alternativa para impulsionar a economia? Sim, se a inflação não estivesse beirando os 10%, muito

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acima do 6,5% estipulado como teto da meta pelo governo (destaco a palavra “teto” da meta, pois a meta de fato do governo é de 4,5%). Como reflexo desse PIB baixíssimo, a produção industrial tem apresentado resultados historicamente negativos, provocando uma forte onda de demissões. O Caged, aliás, já mostra que “queimamos” mais de 1 milhão de postos de trabalho em 2015, elevando nossa taxa de desemprego para a faixa de 7,5% (terminamos 2014 com 4,8% de desempregados). Não bastasse o saldo negativo de contratações, os últimos dados mostram que as demissões, já muito consolidadas no setor industrial, agora atingem o setor de serviços, que ainda conseguia mostrar resiliência. E o que isso significa na Bolsa? O preço de uma ação reflete as expectativas de geração de fluxo de caixa livre dessa empresa no futuro, descontada para valor presente por uma taxa. E expectativa de uma empresa entregar bons resultados no futuro não depende só dela, mas também do que está ao redor dela. Se o cenário da economia na qual ela atua está cada vez pior, nada mais justo do que os investidores esperarem resultados piores no futuro ­ e obviamente isso será ajustado à realidade da ação desta empresa na Bovespa. Como monitorar? Noticiário político diário para ficar por dentro dos “novos capítulos” de Brasília; agenda de indicadores econômicos para medir a dinâmica da crise. Destaco o Boletim Focus, divulgado toda segunda­feira às 8h25 pelo Banco Central, com a mediana das projeções de 50 economistas para os principais indicadores econômicos. Dicas para iniciantes: Quando eventos políticos têm mais impacto no preço das ações do que eventos econômicos, a tarefa de encontrar boas oportunidades de investimento torna­se muito mais difícil. Se comprar a ação de uma empresa significa ter uma perspectiva positiva para ela, projetar esse futuro em um cenário político tranquilo é muito menos complicado do que em um ambiente no qual você não sabe nem ao menos quem será o presidente nos próximos meses. Leitura Recomendada: Todas as entrevistas do Especial InfoMoney Onde Investir 2016 . Segue abaixo: Alexandre Schwartsman: "Vamos continuar pagando pelas burradas feitas pelo BC desde 2011" Otaviano Canuto: Estruturas de mercado estão em estado de convulsão, e isso é positivo Fabio Giambiagi: Brasil chegou à sua "tempestade mais que perfeita" com a conta explosiva nas mãos Marcos Lisboa: Voltamos ao Brasil de Geisel: estamos pagando o preço de 5 anos de populismo Maílson da Nóbrega: PT comete erros "inacreditáveis", mas tirar Dilma a todo custo não resolve Mansueto Almeida: Sentido de urgência aumentou, mas poucos se preocupam: crise terá que piorar Gustavo Franco: "Dilma acumula da Fazenda ao BC ­ e ninguém gosta de trabalhar com ela" Delfim Netto: nenhum dos lados têm força para decidir, a esperança só volta em 2017

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2­ Política Monetária ­ Selic vai subir ainda mais? Contexto atual: Tanto este quanto o próximo capítulo (rebaixamento de rating) poderiam estar inseridos dentro do primeiro capítulo. Mas vale a pena a abordagem separada de ambos para explicar com mais detalhes o impacto que eles trazem no mercado. A taxa básica de juros brasileiro (a Selic) terminou 2015 em 14,25% ao ano. O corte dessa taxa seria o caminho natural para estimular a economia neste momento de crise. Contudo, a insistência da inflação nestes níveis altíssimos mesmo em um ambiente recessivo tem mostrado que são altas as “apostas” dos investidores para uma alta de juros na primeira reunião de 2016 (marcada para 19 e 20 de janeiro), conforme nos mostra a curva dos contratos de juros futuros negociados na BM&F. Tudo isso se torna ainda mais forte se seguirmos os últimos discursos das autoridades. O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, reforçou o compromisso de alcançar em 2016 o teto da meta do IPCA, de 6,5%, para em 2017 voltar ao centro da meta, de 4,5% de inflação. É importante frisar, no entanto, que essa “aposta” está longe de ser unânime: o economista Ilan Goldfajn, do Itaú BBA, por exemplo, acredita que a Selic será mantida em 14,25%, por estar menos pessimista com a evolução da inflação neste ano. Projeção compartilhada pela equipe de economistas do Credit Suisse, que espera manutenção em 14,25% até o final de 2017. Por que se preocupar? Não é uma regra, mas a relação entre juros e Bolsa costuma ser inversamente proporcional (aliás, não se apegue a regras no mercado, às vezes ativos completamente descorrelacionados andarão na mesma direção). Na maioria dos casos, subir juros significa queda no preço das ações ­ em alguns casos, a expectativa de alta dos juros funciona até mais forte do que a decisão de subir em si. Dois fatores técnicos ajudam a explicar isso:

1) Valuation: o primeiro está ligado diretamente à forma de precificação de uma ação. Quando você compra uma ação, está comprando toda a expectativa de geração de fluxo de caixa livre futuro da empresa, trazida a valor presente por uma taxa de desconto. E essa taxa de desconto ficará maior conforme a expectativa sobre a taxa de juros no futuro aumentar. Ou seja: se a Selic subir, a curva futura de juros tende a subir, e tende a aumentar a taxa para descontar o fluxo futuro para o valor presente. Conclusão : a ação valerá “menos” hoje.

2) Concorrência da renda fixa: outro fator fundamental está na migração de investimentos para a renda fixa, que passa a apresentar um retorno mais atrativo com a alta na Selic (já que ela é o referencial para os produtos deste mercado). Ainda mais se tratando do Brasil, onde os juros são extremamente altos em relação ao resto do mundo e as projeções econômicas frustram qualquer tentativa de um investidor mais conservador de entrar na Bolsa.

Quem costuma sofrer na Bolsa quando a Selic sobe? As empresas mais expostas a um cenário de juros maior: imobiliárias (segmento altamente dependente de crédito, que fica mais caro com a Selic maior ­ mesmo que o crédito imobiliário não tenha lastro direto com a Selic), varejistas (em momentos em que a população consumirá menos, esses itens são os primeiros a serem descartados), empresas com alto endividamento (assim como uma pessoa comum, a dívida da companhia ficará mais cara com a Selic maior) ou empresas cujo fluxo de caixa já é bem definido e seu valor presente depende quase que unicamente da taxa de desconto, como no caso das empresas de concessões . E há quem ganhe com a alta dos juros? É difícil usar o termo “ganhadora”, mas empresas que possuem uma posição em caixa mais confortável tendem a se “blindar” disso, já que o dinheiro em caixa pode render mais com os juros subindo. É o caso das seguradoras e também dos grandes bancos , que conseguem repassar quase que toda essa alta.

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obs: para ilustrar essa explicação tenho um material de junho de 2015 explicando quais as ações que ganhariam ou perderiam com a Selic a 15%. Clique aqui para acessá­lo. Como monitorar? As reuniões do Copom (Comitê de Política Monetária) acontecem a cada 45 dias. São dois dias de reunião, com o resultado sendo divulgado apenas ao final do segundo dia ( veja abaixo as datas das reuniões de 2016 ). Indicadores de atividade e principalmente os índices de preços ajudam a trazer uma avaliação prévia de como o Copom deve agir na reunião ­ muitos bancos e consultorias divulgam projeções, que são amplamente divulgadas na mídia. Além das projeções macroeconômicos, uma boa forma de monitorar qual pode ser a decisão do Copom na reunião é acompanhar a curva dos contratos futuros de DI, negociados na BM&F. De uma maneira simples: eles mostram quanto o mercado acredita que será a taxa de juros média ao ano no mês de vencimento do contrato. Esses contratos podem ser “curtos”, que são aqueles com vencimentos não muito além de 24 meses, ou então “longos”, com alguns vencimentos chegando a quase 10 anos. Veja abaixo o gráfico com os preços de 4 contratos de DI futuro (cotação do dia 23/12/2015), obtido do Terminal Bloomberg :

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Reuniões do Copom em 2016

19 e 20 de janeiro

1º e 2 de março

26 e 27 de abril

7 e 8 de junho

19 e 20 de julho

30 e 31 de agosto

18 e 19 de outubro

29 e 30 de novembro

Dicas para iniciantes:

1. Juntamente com a decisão do Copom, é emitido um documento breve, explicando o motivo pelo qual foi tomada a decisão (de manter, cortar ou elevar a Selic), bem como o voto de cada um dos membros do comitê.

2. Os dois dias de reunião sempre acontecem às terças e às quartas­feiras. Na quinta­feira da semana seguinte (ou seja, 8 dias após a reunião do Copom), é divulgada ao mercado a ata da reunião do Copom, trazendo com muitos detalhes os pontos discutidos na reunião que justificaram a decisão tomada.

Leitura Recomendada: Mercado põe Selic em 17,15% em 2016, mas sou teimoso, diz Ilan, do Itaú Dólar a R$ 5 em 2017, PIB caindo 3,5% em 2016: os números aterradores do Credit Selic a 16,25 % é praticamente inevitável e traders do Brasil ignoram Tombini Selic a 15%? Veja as ações mais prejudicadas ­ e algumas que conseguiriam “comemorar”

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3­ Rebaixamento de ratings do Brasil Contexto atual: Não é nenhuma novidade que o Brasil deve perder o grau de investimento da Moody’s ­ as outras duas principais agências de classificação de risco, Standard & Poor’s e Fitch, já cortaram a nota brasileira em 2015. Quanto a isso, não se preocupe, já está mais do que “no preço” dos ativos brasileiros. O grande problema está no na perspectiva negativa que as duas agências que já colocaram o Brasil em nível “junk” deram para as notas atuais, o que na prática significa: se as coisas piorarem nos próximos meses, vamos rebaixa­los mais uma vez.. Por que se preocupar? A preocupação sobre esse tema é simples: agências de rating servem para te avaliar como credor: quanto maior a sua nota, melhor credor você é ­ e quanto pior a nota, mais arriscado fica deixar o dinheiro contigo. E assim como um banco faz com aquele cliente que tem mais dificuldades em quitar suas dívidas, o mercado passa a exigir de um País de rating baixo uma taxa maior de juros para que ele (o mercado) empreste dinheiro a você. Para qualquer país, a notícia de que está mais caro fazer captações no exterior já é ruim; para um país com endividamento crescente e graves problemas orçamentários e fiscais, a notícia torna­se péssima. Outra preocupação importante: existem grandes investidores institucionais responsáveis por administrar bilhões de dólares, e esse dinheiro precisa seguir algumas “regras” antes de ser aplicado em algum país. E uma dessas regras está em investir ou não dentro de um determinado nível de rating. Então, a cada degrau que o Brasil desce na escala de crédito das agências, bilhões de dólares passam a ser impedidos de entrar aqui, além dos outros bilhões que já estavam aqui e precisarão deixar o País. Estimativas da LCA Consultores apontavam que havia um potencial de saída entre US$ 10 bilhões e US$ 20 bilhões após o corte de rating promovido pela Fitch em dia 16 de dezembro, devido aos investidores que possuem estatutos com a exigência de investir apenas em países que são “grau de investimento” por duas agências de rating.

Tabela com ratings das 3 principais agências de classificação.

Notas em azul são da Moody’s

Fitch/S&P (Moody’s) Fitch S&P Moody’s

BBB­ ( Baa2 )

Namíbia, Azerbaijão, Indonésia, Aruba, Marrocos, Romênia, Bulgária, Rússia, Filipinas, Índia, Turquia, Uruguai, África do Sul e Bahrein

África do Sul Bahamas Romênia Marrocos Andorra Azerbaijão Montserrat

Bahamas Bulgária Panamá Colômbia

BB+ ( Baa3 ) BRASIL Hungria Portugal Macedônia Costa Rica

BRASIL Hungria Portugal Turquia Rússia Bulgária Indonésia

BRASIL Bahrein Índia Turquia Eslovênia Romênia Indonésia Azerbaijão

BB ( Ba1 ) Bolívia Croácia Paraguai Guatemala

Bolívia Croácia Paraguai Guatemala Costa Rica

Costa Rica Hungria Portugal Rússia Croácia Marrocos Paraguai Guatemala

BB­ ( Ba2 ) Nigéria Sri Lanka Vietnã Tunísia Geórgia Lesoto Bangladesh Seicheles Suriname

Chipre Jordânia Vietnã República Dominicana Geórgia Bangladesh Macedônia Suriname Sérvia

Angola

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Como monitorar? Não há como saber de fato quando o rating será cortado. Mas as agências de classificação dão diretrizes claras sobre o que está sendo bem visto e mal visto por elas. Sendo assim, acompanhar a evolução dos indicadores políticos ou econômicos citados por elas como cruciais para a manutenção do rating lhe dará boas pistas sobre as próximas notas a serem anunciadas. Dicas para iniciantes: Embora sejam importantes referenciais para o mercado agências de classificação de risco não gozam de uma reputação muito boa. Basta lembrar que em 2008, ápice da crise do subprime nos Estados Unidos, muitas seguradoras e outras empresas do setor financeiro que vieram a quebrar pro conta da crise apresentavam as maiores notas dadas por essas três agências. Leitura Recomendada: O material é relativamente antigo, mas dará uma bela explicação do que são CDSs (Credit Default Swaps), que funcionam como uma espécie de seguro contra calote de um país. CDS: o que é e por que ele pode mostrar o fim do nosso “grau de investimento”

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4­ Dólar: R$ 4,00 virou piso? Contexto atual: Dólar nasceu para envergonhar economista: se tem alguma coisa quase impossível de prever é o rumo do dólar. Contudo, com base nos fundamentos econômicos e nas perspectivas para 2016, temos motivos de sobra para acreditar, pelo menos, que há mais chances do dólar subir do que cair neste ano. Mas antes, é preciso lembrar os motivos que fazem o dólar variar: ele representa tanto a quantidade de dólar que entra no Brasil (ou seja, por fluxo de capital ) como também representa uma medida de risco (um exercício interessante para confirmar este aspecto é observar a variação da moeda americana e do CDS brasileiro, que funciona como uma espécie de seguro contra calote ­ tema que já foi abordado no capítulo sobre corte de rating). Bom, motivos não faltam para esperar mais apreciação do dólar: a China (principal comprador de commodities do mundo) está pisando no freio e ninguém sabe por quanto tempo isso vai durar; o Federal Reserve pode continuar subindo os juros nos EUA, trazendo de volta cada vez mais dólares para sua terra natal; novos rebaixamentos do rating brasileiro podem provocar novas evasões de divisas; e o impasse político no Brasil, que não só traz incerteza para o investidor estrangeiro como também deve atrasar ainda mais a aprovação dos ajustes necessários para a economia. Do lado favorável para uma queda do dólar, poderíamos ver a moeda americana se desvalorizar versus o Real por conta de dois fatores: a(s) possível(eis) alta(s) da Selic no ano que vem, o que traria mais dólares para dentro do Brasil ( entrada de fluxo de capital ), e um possível acordo no âmbito político que melhore as condições de governo no país ( redução de risco) . Por isso mesmo que hoje em dia é difícil achar um economista que acredite em tendência de queda do dólar. Mas 2015 foi um ótimo professor de projeções furadas: quando o dólar bateu R$ 4,20 em setembro, muita gente do mercado falava de “questão de tempo” para os R$ 4,40, R$ 4,50 e até R$ 5,00. Mas a moeda foi aos poucos recuando até voltar aos R$ 3,80, voltando a operar na faixa de R$ 4,00 somente no fim do ano. Por que se preocupar? Dólar alto atrapalha mais do que ajuda a economia: prejudica o importador, pressiona a inflação, atrai capital especulativo, entre outros fatores. Na Bolsa, no entanto, os impactos podem ser tanto positivos quanto negativos. Do lado das vencedoras , empresas com receitas lastreadas em dólar e custos em reais (as famosas exportadoras) tendem a mostrar um aumento de margem. Em 2015, Fibria e Suzano foram bons exemplos disso. Já as perdedoras neste cenário são empresas cujo custo operacional segue a cotação da moeda e boa parte das receitas fica em reais (caso de companhias aéreas , cujo custo principal é combustível, que é precificado em moeda estrangeira), ou então as empresas com dívidas em dólares ­ na Bovespa, tivemos o caso em 2015 da General Shopping, classificada como o “primeiro colapso do real” . Como monitorar? O dólar é um bom “termômetro” de como anda a economia. Sendo assim, nada melhor do que acompanhar a evolução dos indicadores econômicos brasileiros para perceber se os investidores estão ficando mais otimistas ou não com o rumo do Brasil. Além disso, alguns indicadores são importantes, como a balança comercial (divulgado toda segunda­feira à tarde), trazendo o saldo de exportações e importações brasileiras, ou o fluxo cambial (apresentado às quartas­feiras), que mostra a diferença entre a quantidade de dólares que entrou no País e a quantidade que saiu. Por fim, fique de olho em fusões e aquisições: há uma percepção de que o Brasil está “barato” aos olhos dos estrangeiros. Compras de cifras bilionárias podem trazer uma remessa grande de dólares para cá, apreciando o real. É o que vimos em 2015 após a venda bilionária de ativos da Hypermarcas para a Coty.

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Dicas para iniciantes: 1. Diferente de uma empresa, que você consegue apurar qual preço ela está muito cara ou muito barata, o

dólar não tem “valuation”. O que isso significa? Que o preço dele está diretamente relacionado ao fluxo, à relação “oferta x demanda” do mercado. Existem algumas fronteiras psicológicas de preço, mas o fato é que argumentos como “está caro” ou “está barato” não se aplica ao dólar.

2. Vivemos numa política de câmbio flutuante. Contudo, é mais do que sabido que o Banco Central costuma intervir no mercado sempre que considerar que a taxa de câmbio não está em um nível confortável ou sempre que verificar muita volatilidade. Atualmente, o Banco Central possui cerca de US$ 370 bilhões em reservas internacionais, o que lhe deixa em uma posição relativamente confortável para atuar no mercado cambial.

Leitura Recomendada: Dólar acima de R$ 4,00: quem ganha e quem perde com isso na Bolsa? Entenda como a venda de parte da Hypermarcas derrubou o dólar para R$ 3,77

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5­ Lava Jato e outras investigações Contexto atual: A onipresente operação da Polícia Federal e seus desdobramentos têm uma abrangência impressionante e mostram até que ponto a corrupção se institucionalizou no Brasil. Cada nova descoberta incluiu uma empresa ou um político diferente, deixando um cenário extremamente incerto no qual talvez nem os próprios investigadores saibam até onde vai essa intrincada rede de propinas em que cada ponto é ligado por uma nova delação premiada. Por que se preocupar? Ninguém sabe quem é o próximo político, empresário ou personalidade que vai parar na cadeia por conta das investigações da Operação Lava Jato. Até agora não foram poupados diretores da Petrobras (caso de Nestor Cerveró), executivos de empreiteiras (lembrar de Marcelo Odebrecht), políticos (o ex­tesoureiro do PT, João Vaccari Neto), senadores em exercício (Delcídio Amaral) e nem banqueiros (CEO do BTG Pactual, André Esteves, que perdeu o cargo após a prisão). Se por um lado há unanimidade em afirmar que isso é positivo no longo prazo, já que o efeito moral dessas prisões pode inibir a corrupção e mostra um mais do que positivo fortalecimento das instituições brasileiras, no curto prazo é um foco de tensão. As prisões de Esteves e Delcídio derrubaram as ações do setor financeiro. A de Marcelo Odebrecht preocupou os detentores de debêntures da Odebrecht. Não é fácil fazer uma estratégia de curto prazo de investimentos quando a cada operação nova da Polícia Federal uma ação pode cair 20% em um dia. No entanto, no longo prazo, mais do que um motivo para acreditar em uma ou outra ação, a Lava Jato pode ser um motivo para acreditar no Brasil. Como monitorar? Ficar de olho no noticiário político dos principais jornais. Especialmente no que sai de manhã cedo, já que as operações de busca e apreensão ou de prisão são normalmente realizadas de madrugada, antes das 6h. Dicas para iniciantes: 1. Fique longe de ações que são diretamente afetadas pelas investigações se você não tiver estômago para volatilidade. Leitura Recomendada: Por que as prisões da Lava Jato são ruins para a Bolsa?

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6­ China e a desaceleração Contexto atual: Acostumada a reportar um crescimento anual de dois dígitos na década passada, a economia chinesa tem passado por um longo e árduo processo de mudança estrutural, trocando a “quantidade” da expansão pela “qualidade”, tornando seu PIB (Produto Interno Bruto) mais sustentável. Em 2015, a economia da China deve crescer em torno de 7,0% A pressão pela desaceleração do crescimento econômico tem sido uma preocupação constante por novos estímulos. No final do ano, a Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma (NDRC, na sigla em inglês) recomendou que o governo chinês continue em 2016 com a política de cortar a taxa de juros e a taxa do compulsório dos bancos, para impulsionar o crescimento vacilante da segunda maior economia do mundo. Embora essa desaceleração já tenha começado a ganhar forças nos primeiros anos da década, ainda não é claro para o mercado qual será a intensidade do “freio” chinês, bem como quais serão as áreas mais afetadas nessa desaceleração. Além do aspecto da atividade, outro fator preocupante da economia chinesa foi a recente desvalorização do renminbi (moeda da China) frente ao dólar. Num cenário em que uma economia gigantesca como a chinesa pretende praticar uma desvalorização da sua moeda, todos os outros agentes do mercado (como o Brasil, por exemplo) devem realizar uma desvalorização ainda maior se quiserem aumentar sua competitividade no âmbito global. Por que se preocupar? Segunda maior economia do mundo, a China carrega com si o status de “locomotiva do mundo”, tendo em vista a força consumidora que o país formado por uma população de 1,4 bilhão de habitantes. Por conta disso, sinais de desaceleração trazem preocupações para a dinâmica da economia global, sobretudo daqueles países exportadores de matérias­primas ­ caso do Brasil ­, já que o choque entre oferta e demanda provocaria uma queda nos preços das commodities. Um exemplo de como esses sinais negativos têm sido cada vez mais evidentes: a produção de aço da China, que já caiu 2,2% de janeiro a novembro, precisaria cair mais 17% para chegar ao “ponto de equilíbrio” entre oferta e demanda, estimam os analistas do Goldman Sachs. O mesmo banco espera que até 2040 a demanda chinesa por minério de ferro possa contrair em 2040, consequência de uma queda do consumo de aço e uma reciclagem maior de sucata. Resultado: o minério de ferro, que chegou a valer US$ 80 em 2014, atualmente tem sido negociado entre US$ 35 e US$ 45. Como monitorar? A agenda de indicadores econômicos da China é um ótimo balizador para medir a evolução da economia asiática ­ embora muito se critique a veracidade dos dados divulgados pelos órgãos públicos do país. Dados como balança comercial, PMI, vendas do varejo, produção industrial e PIB costumam ter impacto imediato na precificação dos ativos do mercado. Dicas para iniciantes:

1. Pelo fuso horário, tanto as negociações nas bolsas asiáticas como a divulgação dos indicadores econômicos acontecem enquanto a maioria dos brasileiros estão prestes a dormir. Então, acompanhar a reação das bolsas asiáticas e europeias antes da abertura da Bovespa é um bom indicativo de como os investidores reagiram a essas novidades.

2. A mineradora Vale tem a China como principal destino de suas exportações. Por isso, ela costuma ser a ação mais “sensível” a indicadores chineses dentro da Bovespa. Outras produtoras de minério de ferro, como CSN e Usiminas, também costumam reagir.

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7­ EUA e o ciclo de alta de juros Contexto atual: Depois de muita espera do mercado, o Federal Reserve finalmente elevou a taxa de juros nos Estados Unidos, saindo da faixa entre 0% e 0,25% ao ano ­ patamar que estava desde dezembro de 2008, no ápice da crise do subprime ­ para os atuais 0,25%~0,50% ao ano. Além da alta já esperada, a autoridade americana manteve também suas expectativas para encerrar 2016 com juros em torno de 1,375% ao ano. Mesmo após a elevação amplamente esperada pelo mercado ­ e para muitos, feita até com atraso ­, não ouse tirar a política monetária dos EUA do seu radar em 2016. Se em 2015 o tema foi “quando o Fed irá elevar juros”, a temática de 2016 será “qual será a intensidade do ciclo de alta, e isso tem mostrando uma falta de consenso tão grande quanto a que vimos no começo de 2015, quando muita gente errou o “timing” em que Janet Yellen (presidente do Fed) decidiria pelo aperto monetário. Inclusive o Fed já deixou claro que não necessariamente irá esperar a inflação subir para 2,0% (meta estipulada por eles antes de começar a subir os juros) para continuar o ritmo de aperto. Isso porque o mercado de trabalho já caminha a passos largos para a situação de pleno emprego, enquanto a excluindo­se os preços de combustíveis e alimentos já se encontra na casa dos 2,0%. Por que se preocupar? À primeira vista, uma alta de juros nos Estados Unidos deveria que ser encarada como uma boa notícia. Afinal, é um claro sinal de que a maior economia do mundo está cada vez mais recuperada da crise do subprime, que nasceu no setor imobiliário norte­americano ao longo dos anos 2000, estourou em 2007 e se espalhou pelo mundo todo em 2008 (não, não foi uma marolinha, Lula). A saber: a última vez que o Fed elevou os juros tinha sido em 29 de junho de 2006, quando a taxa estava em 5,25%. Contudo, a “verdade” do mercado é diferente: subir juros nos Estados Unidos significa dizer ao investidor que aquele país que nunca deu um calote sequer em toda sua história está pagando um “yield” um pouco menos modesto para quem quiser comprar seus títulos de dívida pública ­ os famosos “treasuries”. Em outras palavras: o “spread” (diferença) entre o juro pago pelos EUA diminui em relação aos altos juros oferecidos por economias emergentes que não gozam da mesma credibilidade, como o Brasil, cuja taxa de juros premia o investidor com um ganho bruto de dois dígitos ­ algo muito distante da realidade do resto do mundo. Resumindo: juros subindo demais nos EUA significa saída de capital de emergentes. Pegando o Brasil como exemplo, as consequências imediatas são a desvalorização do real frente ao dólar e queda das ações negociadas na Bovespa. Como monitorar? A cada 45 dias, o Fomc (Federal Open Market Committee) para definir o rumo da taxa de juros dos EUA. Mas além das reuniões, o investidor pode acompanhar as principais “variáveis” utilizadas pelo Fed para decidir se sobe ou não os juros. Estas variáveis são: o relatório de emprego (divulgado na primeira sexta­feira do mês seguinte), índices de preço e dados de atividade, como o PIB. Além disso, os membros votantes do Fed costumam realizar discursos públicos para falar sobre a economia, dando algumas boas “pistas” sobre como eles devem votar nos próximos encontros do comitê. Dicas para iniciantes:

1. Alguns termos em inglês costumam ser muito usados pelo mercado mesmo no Brasil. É o caso do “hawkish” e “dovish”, que definem se a linha de pensamento ou opinião do interlocutor é mais rígida (“hawk” = águia) ou “dovish” (“dove” = pomba). Os membros votantes do Fed costumam apresentar claramente uma dessas duas linhas de pensamento, então vale a pena ficar atento não apenas com quem

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está falando, mas também qual a postura normal dele.

2. Diferentemente do Brasil, onde a inflação alta é um problema recorrente, os EUA sofrem com uma inflação baixa. A saber: inflação é o termo técnico para quando os preços de uma cesta de produtos sobe. O contrário de inflação (quando os preços caem) chama­se deflação, que é um sinal claro de que esta economia está em franca recessão ­ as pessoas consomem menos, a demanda cai e os preços caem, não se equilibrando com a oferta. Esta era uma das grandes preocupações dos EUA durante o agravamento da crise de 2008.

3. A maneira mais simples de saber se um indicador econômico foi bom ou ruim é comparar o resultado apresentado com a média das estimativas do mercado. No InfoMoney disponibilizamos uma agenda do investidor com os principais eventos dos EUA, mas essas informações também podem ser acompanhadas por relatórios de sua corretora ou em sites internacionais, como a Bloomberg ou o Briefing.com .

Leitura Recomendada: Por que a alta de juros do Fed não condena a América Latina

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8­ Choque das commodities 1 ­ Petróleo Contexto atual: O petróleo já custou mais de US$ 100 e encheu os olhos das autoridades brasileiras, que viam na commodity a solução mágica para o crescimento brasileiro ­ especialmente após a descoberta das reservas do pré­sal. Mais de agosto de 2014 para cá o “ouro negro” despencou violentamente, e as perspectivas para 2016 apontam uma chance muito maior de se manter nos níveis de US$ 40 ­ se não abaixo disso ­ do que de se recuperar. Mas projetar o preço do barril do petróleo é uma tarefa extremamente complicada, e as próprias projeções existentes mostram isso: há quem já fale do barril chegando a US$ 10, mas quem viveu o mercado em junho de 2014 se lembrará de previsões apontando para US$ 200 o barril. Tamanha incerteza será explicada a seguir.

Por que se preocupar? É o insumo mais importante do mundo, mas mesmo assim a oferta está na mão de poucos ­ e muito loucos ­ produtores. Vimos desde 2014 uma forte alta na oferta de petróleo provocada justamente pelos maiores produtores da commodity, que queriam com a queda nos preços tirar a concorrência que o xisto americano possuía ­ mesmo que com isso eles prejudicassem suas economias, extremamente dependentes desta receita para o resultado do PIB. Isso sem contar que relações geopolíticas estremecidas entre os maiores produtores podem provocar consequências tão antagônicas quanto um corte inesperado na produção ou uma enxurrada de petróleo na economia. E quem sofre com isso? Petrolíferas são obviamente as maiores perdedoras, já que a receita delas depende de um bom preço do barril no mercado. No Brasil, a vítima natural seria a Petrobras, mas em alguns casos até mesmo o petróleo muito alto acaba prejudicando a empresa ­ tendo em vista sua política de não repassar os preços aplicados no exterior para dentro do Brasil. Lembrando ainda que o pré­sal pode perder sua viabilidade caso o petróleo fique muito baixo ­ estudos da própria Petrobras indicam que US$ 35 seria um “break even” justo.

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Quem também sofre com isso são as companhias aéreas, já que mais da metade do custo operacional delas vem do combustível ­ que é lastreado no petróleo. Um caso emblemático no Brasil é a Gol, que sofre forte volatilidade em momentos de alta relevante do petróleo. Se bem que no caso da Gol mesmo a queda do petróleo não foi suficiente para ajudá­la, já que o dólar subiu muito forte ­ e como o barril é cotado na moeda americana, a queda no preço foi ofuscada por um real mais depreciado. A saber: a ação da Gol acumulava quedas de mais de 80% em 2015 (até o fechamento de 23/12). Como monitorar? O indicador mais “sincero” são os relatórios de estoques de petróleo divulgados pela EIA e também pelos Estados Unidos. Acompanhar o noticiário geopolítico envolvendo os maiores produtores da commodity, localizados no Oriente Médio e no norte da África, também é importante. Dicas para iniciantes:

1. Os relatórios de estoque de petróleo costumam ser divulgados às terças ou quartas­feiras. Acompanhe a Agenda InfoMoney do Investidor para saber quando serão divulgados.

Leitura Recomendada: Os motivos que explicam a derrocada do petróleo para o pior nível em 11 anos Caos da Opep agora lembra queda dos anos 90: época que o petróleo valia US$ 10

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9­ Choque das commodities 2 ­ Minério de Ferro Contexto atual: Pressionada pela China, a cotação do minério de ferro também segue ladeira abaixo. E enquanto não soubermos até onde vai o pé no freio chinês, não saberemos o quanto a demanda da commodity vai ser pressionada. Por ora, o que vemos é fechamento de fábricas, minas e indústrias no gigante asiático, o que significa queda na demanda ­ ou seja, ajuste a oferta ou os preços cairão. Para resumir o cenário para o minério de ferro, trago um trecho do relatório do Goldman Sachs sobre perspectivas para as commodities: “o setor de minério de ferro poderá ter que hibernar por um período extenso antes de os mercados alternativos do aço em outras regiões assumirem o lugar da China e gerarem o próximo mercado altista”. A projeção para o banco era de US$ 40 para o minério, preço atual da commodity no final de dezembro. Por que se preocupar? Assim como o petróleo, a queda na demanda de minério é um indicativo de que a economia global não está tão aquecida assim. Isso afeta diretamente os países produtos da matéria­prima, como o Brasil, que tem como principal representante a Vale. Por ter a China como seu principal destino de exportação, a cotação das ações da Vale acompanha de forma bastante fiel os preços do minério no mercado chinês (veja no gráfico abaixo, extraído do Terminal Bloomberg). Pressionada pela China, a cotação do minério de ferro também segue ladeira abaixo. E enquanto não soubermos até onde vai o pé no freio chinês, não saberemos o quanto a demanda da commodity vai ser pressionada.

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Como monitorar? Embora o preço do minério apareça constantemente na mídia, não há uma cotação única para a matéria­prima, pois ela varia de acordo com o porto em que ela é entregue na China, bem como não há um site que entregue essas informações com confiabilidade e de graça. Contudo, acompanhar os indicadores econômicos chineses ajudará a ter uma noção da dinâmica de preços do minério. Dicas para iniciantes: Fica a mesma dica dada sobre China: referências desse mercado vêm da Ásia, ou seja, elas costumam chegar durante a noite no horário brasileiro. Leitura Recomendada: Goldman prevê minério abaixo de US$ 40 nos próximos 3 anos por causa da China A "tempestade perfeita" da Vale: queda de 80% do minério e R$ 247 bi perdidos em 4 anos “Simplesmente não pode acontecer”, diz CEO da Rio Tinto sobre minério de ferro a US$ 30

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10­ Europa ­ Draghi tranquilizou o mercado; e agora? Contexto atual: A Europa tem demonstrado muita dificuldade em sair da crise. Praticamente todas as economias da Zona do Euro seguem patinando, até mesmo a Alemanha, antes tida como “porto seguro” do Velho Continente, começou a dar sinais de cansaço. Por isso mesmo que o presidente do BCE (Banco Central Europeu), Mario Draghi, decidiu ampliar para março de 2017 o prazo do programa de estímulos conhecido como Quantitative Easing (mesmo programa utilizado nos Estados Unidos entre 2009 e 2014, que consiste na injeção de dinheiro na economia pelo Banco Central por meio de compra de títulos no mercado). A medida adotada por Draghi foi de agrado de quase todos os analistas, que esperam ver a ameaça de deflação diminuir na Europa neste novo ano. A saber: a inflação na Zona do Euro encontrava­se em 0,1% em novembro, bem distante da meta de 2,0% proposta pelo BCE. Por que se preocupar? Não há muito com o que se preocupar nesse quesito: os investidores brasileiros já olhariam menos para a Europa, tendo em vista as preocupações na política interna, com os EUA e com a China. Além disso, o anúncio da extensão do Quantitative Easing para março de 2017 significa dizer que haverá maior liquidez no mundo ­ com o BCE “jogando” dinheiro no mercado ­, o que pode beneficiar economias emergentes a receberem mais investimentos, tendo em vista a quantidade abundante de divisas. Como monitorar? Mercado europeu inicia suas negociações no começo da manhã e encerram entre o começo e o meio da tarde, dependendo do horário de verão. Então, novidades vindas da Europa costumam chegar no começo da manhã ou no máximo ao final da manhã. Leitura Recomendada: Plano do BCE bastará para aumentar inflação, segundo analistas

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CARTEIRAS RECOMENDADAS PARA 2016 Diferente das carteiras recomendadas que vocês costumam ver de bancos e corretoras no próprio site do InfoMoney, a nossa carteira de recomendações possui algumas peculiaridades para que nossas dicas possam ser as mais úteis possíveis para diferentes tipos de investidores. A começar pela divisão de carteiras por capital disponível do investidor : é meio óbvio que um investidor com mais de R$ 200 mil possui muito mais alternativas de diversificação de portfólio do que um investidor com menos capitalizado, seja pela maior quantidade de ativos que um grande investidor pode comprar ou pelo acesso a ativos caros demais para serem encarteirados por pequenos players. Mesmo assim, as carteiras recomendadas tradicionais não buscam mostrar (ou pelo menos não deixam claro) para qual público é destinado o portfólio. Por isso fizemos essas separações: para que o investidor tenha ciência de que há um portfólio que foi feito exatamente para alguém como ele. Se ele quer seguir esse portfólio personalizado ou mesmo assim ele quer "comprar" outra carteira, aí já vai da decisão dele. As divisões de carteiras são: Carteira 1: de R$ 20 mil a R$ 30 mil Carteira 2: de R$ 30 mil a R$ 60 mil Carteira 3: de R$ 60 mil a R$ 100 mil Carteira 4: de R$ 100 mil a R$ 200 mil Carteira 5: a partir de R$ 200 mil Lembrando que investidor com menos de R$ 20 mil , nossa recomendação é aplicar em "Tesouro Selic", através do Tesouro Direto. Essa é a forma mais segura e barata de ficar posicionado ao elevado patamar que se encontra a Selic ­ sobretudo pela chance de novas altas de juros em 2016. Ao final do relatório, deixaremos uma breve explicação da escolha de cada um dos ativos e também o link com uma planilha de excel contendo cada uma das carteiras, para quem quiser atualizar por conta própria a performance dos portfólios. Além disso, ele poderá calcular com mais facilidade quantas ações ele precisa comprar para atingir a participação percentual pretendida. IMPORTANTE : estas recomendações são fruto do nosso cenário base esperado para 2016. Contudo, mudanças extraordinárias poderão provocar alterações nos portfólios. Sempre que ocorrer uma mudança em qualquer portfólio, avisaremos todos vocês. Uma possível mudança que provocaria alterações nas carteiras e que já podemos adiantar para vocês está relacionada a um possível impeachment da presidente Dilma Rousseff (já citado no começo do relatório, inclusive). Uma eventual troca de governo faria com que ações de estatais e do setor bancário fiquem mais atraentes. Hoje, minha preferência ficaria em Banco do Brasil , Petrobras e Itaúsa (holding que detém forte participação em ações do Itaú Unibanco). Mas como dissemos, esse é um caso ainda hipotético.

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CARTEIRA 1: DE R$ 20 MIL a R$ 30 MIL Essa quantia ainda é baixa para buscar uma boa diversificação. Então escolha um dos dois cenários , baseado no seu perfil de risco: MAIS CONSERVADOR: concentre suas aplicações no fundo Porto Seguro FI Referenciado DI Crédito Privado . É um fundo que mescla a compra de títulos privados com a compra de títulos públicos, o que propicia a liquidez diária para os cotistas (ou seja, se você precisar resgatar suas aplicações, conseguirá fazer isso no mesmo dia). Desde sua fundação em 2014, o fundo tem performado acima de 100% do CDI. A aplicação inicial é de R$ 20 mil (para mais detalhes do fundo, clique aqui ).

Ativo Participação em R$ Participação em %

Porto Seguro FI Referenciado DI Crédito Privado R$ 20.000 100%

TOTAL R$ 20.000 100%

MAIS ARROJADO: coloque entre 65% e 75% em ações da Cielo , Ultrapar e Raia Drogasil . Os 35%/25% restantes, distribua igualitariamente nos fundos Votorantim FIC de FI Cambial Dólar e no Bozano Quant . O fundo cambial de dólar Votorantim é um ótimo veículo para ficar posicionado em dólar, devido à baixa aplicação inicial baixa (R$ 1 mil) e à liquidez diária que propicia aos cotistas. Já o fundo multimercado da Bozano tem entregado um retorno de 133% do CDI nos últimos 12 meses, possui resgate em 4 dias e aplicação inicial de R$ 5 mil. Carteira recomendada, baseada nas cotações atuais das ações:

Ativo Participação em R$ Participação em %

200 ações Cielo R$ 6.840 22,7%

100 ações Ultrapar R$ 6.250 20,7%

200 ações Raia Drogasil R$ 7.100 23,5%

Fundos Bozano Quant R$ 5.000 16,6%

Fundo cambial dóar Votorantim R$ 5.000 16,6%

TOTAL R$ 30.190 100,0%

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CARTEIRA 2: DE R$ 30 MIL a R$ 60 MIL 40%/50% renda fixa, 25%/30% ações e 25%/30% outros mercados

Ativo Participação em R$ Participação %

Renda Fixa 20,000.00 50.4%

Porto Seguro FI Referenciado DI Crédito Privado

20,000.00 50.4%

Ações 9,670.00 24.4%

100 ações Ultrapar 6,250.00 15.8%

100 ações Cielo 3,420.00 8.6%

Outros mercados 10,000.00 25.2%

Votorantim FIC de FI Cambial Dólar 5,000.00 12.6%

Bozano Quant 5,000.00 12.6%

TOTAL R$ 39.670 100%

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CARTEIRA 3: DE R$ 60 MIL a R$ 100 MIL 40% renda fixa, 40% ações e 20% outros mercados

Ativo Participação em R$ Participação %

Renda Fixa (um ou outro) 30,000.00 41.0%

LCA Banco Original (1 ano, 98,5% CDI) ou LCA Banco Fibra (2 anos, 100,5% CDI)

30,000.00 41.0%

Ações 31,240.00 42.7%

300 ações da Cielo 10,260.00 14.0%

100 ações da Ultrapar 6,250.00 8.5%

200 ações da Raia Drogasil 7,100.00 9.7%

100 ações da Cetip 3,770.00 5.1%

200 ações da SulaAmérica 3,860.00 5.3%

Outros mercados 12,000.00 16.4%

Votorantim FIC de FI Cambial Dólar 6,000.00 8.2%

Bozano Quant 6,000.00 8.2%

TOTAL 73,240.00 100.0%

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CARTEIRA 4: ENTRE R$ 100 MIL E R$ 200 MIL 45%/50% ações, 35%/30% renda fixa, 20% outros mercados

Ativo Participação em R$ Participação %

Renda Fixa 50.000,00 30,5%

Porto Seguro FI Referenciado DI Crédito Privado 20.000,00 12,2%

LCA Banco Original (1 ano, 98,5% CDI) ou LCA Banco Fibra (2 anos, 100,5% CDI)

30.000,00 18,3%

Ações 81.440,00 49,7%

500 ações da Cielo 17.100,00 10,4%

300 ações da Ultrapar 18.750,00 11,4%

400 ações da Raia Drogasil 14.200,00 8,7%

300 ações da Cetip 11.310,00 6,9%

400 ações da SulaAmérica 7.720,00 4,7%

400 ações da Ambev 7.200,00 4,4%

100 ações da Fibria 5.160,00 3,2%

Outros mercados 32.365,00 19,8%

Votorantim FIC de FI Cambial Dólar 12.000,00 7,3%

Bozano Quant 12.000,00 7,3%

ETF do S&P 8.365,00 5,1%

TOTAL 163.805,00 100,0%

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CARTEIRA 5: ACIMA DE R$ 200 MIL

Ativo Participação em R$ Participação %

Renda Fixa 75.000,00 24,6%

Porto Seguro FI Referenciado DI Crédito Privado 45.000,00 14,7%

LCA Banco Original (1 ano, 98,5% CDI) ou LCA Banco Fibra (2 anos, 100,5% CDI)

30.000,00 9,8%

Ações 183.590,00 60,1%

Cielo 41.040,00 13,4%

Ultrapar 31.250,00 10,2%

Raia Drogasil 28.400,00 9,3%

Cetip 26.390,00 8,6%

SulaAmérica 21.230,00 7,0%

Ambev 19.800,00 6,5%

Fibria 15.480,00 5,1%

Outros mercados 46.730,00 15,3%

Votorantim FIC de FI Cambial Dólar 15.000,00 4,9%

Bozano Quant 15.000,00 4,9%

ETF do S&P 16.730,00 5,5%

TOTAL 305.320,00 100,0%

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EXPLICAÇÃO DAS RECOMENDAÇÕES

Ações Justificativas para a recomendação

Cielo ( CIEL3 )

Líder no seu segmento, a empresa ainda tende a se beneficiar do processo de bancarização (transição do uso do papel moeda para o cartão magnético) da população brasileira, apesar do cenário de recessão na economia. Além disso, a queda das ações nos últimos meses do ano distanciou o preço das máximas históricas e garantiu um bom ponto de entrada. Caixa sólido e resultados constantemente fortes. Para saber mais da Cielo, clique aqui para ver o vídeo de perspectivas para o setor financeiro em 2016 do InfoMoneyTV.

Ultrapar ( UGPA3 )

Assim como a Cielo, a Ultrapar está consolidada dentro de um setor que pouco tende a sofrer com a desaceleração da economia, por trabalhar com itens de primeira necessidade (ela é dona das marcas Ultragaz, Ipiranga, Extrafarma, Oxiteno e Ultracarga). E assim como a Cielo, as ações foram bastante penalizadas nos últimos meses de 2015, garantindo um bom ponto de entrada.

Raia Drogasil ( RADL3 )

Uma das melhores ações da Bolsa em 2015, a Raia Drogasil ainda se destacar perante o restante do mercado pela resiliência do seu setor de atuação ­ no qual ela é líder em participação. Com posição de caixa confortável, a empresa pretende abrir mais 145 farmácias em 2016, disse o diretor de RI da empresa, Eugenio de Zagottis, em entrevista ao InfoMoney .

Cetip ( CTIP3 )

Conhecida antes como a "BM&FBovespa da renda fixa", a empresa vem crescendo em outros segmentos e vem entregando resultados consistentes a cada trimestre. Recentemente ela recebeu uma oferta de compra da BM&FBovespa no valor de R$ 39 por ação, que foi negada pelos seus acionistas. Com espaço para crescer no mercado, a ação pode se valorizar tanto com uma nova oferta mais alta da Bolsa como pela melhoria de seus resultados. Para saber mais da Cetip, clique aqui para ver o vídeo de perspectivas para o setor financeiro em 2016 do InfoMoneyTV

SulAmérica ( SULA11 )

Empresa com ótima situação de caixa, pode se beneficiar em um cenário de alta de juros e pode se beneficiar do ambiente adverso para a economia. Para saber mais da SulAmérica, clique aqui para ver o vídeo de perspectivas para o setor financeiro em 2016 do InfoMoneyTV

Ambev ( ABEV3 )

Maior empresa da Bovespa, a Ambev possui uma excelente equipe de gestão, atua nos mais diversos mercados mundiais de bebida e possui uma posição de caixa confortável para passar por esse ambiente de crise. É a opção mais "defensiva" da carteira, já que a ação não costuma andar muito na Bolsa. Para saber mais da Ambev, clique aqui para ver o vídeo de perspectivas para o setor de alimentos e bebidas para 2016 do InfoMoneyTV.

Fibria ( FIBR3 )

Ela foi uma das campeãs de 2015, graças à disparada do dólar e da manutenção nos preços da celulose no mercado internacional (ao contrário do que vimos com outras commodities). Para 2016, os preços da celulose podem até sofrer um pouco pelo excesso de oferta, mas a expectativa do dólar apreciado e os novos planos de expansão da empresa garantem o viés otimista. Para mais detalhes sobre os planos da Fibria, assista à entrevista do CFO da empresa , Guilherme Cavalcanti, ao InfoMoneyTV. Para saber mais do setor de papel e celulose, confira o vídeo de perspectivas para o setor clicando aqui .

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RENDA FIXA: Fundo Porto Seguro FI Referenciado DI Crédito Privado ­ é um fundo que mescla em sua carteira títulos privados com títulos públicos, o que propicia a liquidez diária para os cotistas (ou seja, se você precisar resgatar suas aplicações, conseguirá fazer isso no mesmo dia). Desde sua fundação em 2014, o fundo tem performado acima de 100% do CDI. A aplicação inicial é de R$ 20 mil (para mais detalhes do fundo, clique aqui ). LCA : LCA é a sigla para Letra de Crédito para o Agronegócio. São títulos emitidos por bancos garantidos por empréstimos concedidos ao setor agronegócio, criados pelo governo para ampliar os recursos disponíveis para financiamento do setor agropecuário. O importante mesmo para o investidor são dois pontos: esses títulos são isentos de imposto de renda e possuem até R$ 250 mil garantido pelo FGC (Fundo Garantidor de Crédito), ou seja, se o banco emissor do título quebrar, o FGC te reembolsa até R$ 250 mil do que você tinha aplicado (leia mais sobre LCA clicando aqui ). Recado importante sobre LCA: tem ganhado forças os rumores de taxação de IR sobre esses ativos. A princípio, a situação está "controlada", mas vale a pena monitorar ( leia mais sobre essas mudanças clicando aqui ). Por conta da isenção de IR, LCAs têm rendido mais que outros ativos de renda fixa. Existe uma lista enorme de LCAs no mercado, mas recomendamos as do Banco Original ou do Banco Fibra pelo rendimento delas. Banco Original Vencimento : um ano (27/12/2016). Retorno : 98,5% do CDI isento de IR. Aplic. inicial: R$ 30 mil (30 títulos a R$ 1 mil cada). Banco Fibra Vencimento : dois anos (16/01/2018). Retorno : 100,5% do CDI isento de IR. Aplic. inicial : R$ 30 mil (30 títulos a R$ 1 mil cada).

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OUTROS MERCADOS: Bozano Quant ­ O fundo multimercado da Bozano usa estratégias quantitativas em diversos mercados da BM&F. Ele tem entregado um retorno de 133% do CDI nos últimos 12 meses, possui resgate em 4 dias e aplicação inicial de R$ 5 mil. (mais informações sobre o fundo, clique aqui ) . Votorantim FIC de FI Cambial Dólar ­ fundo cambial de dólar Votorantim é um ótimo veículo para ficar posicionado em dólar, devido à baixa aplicação inicial baixa (R$ 1 mil) e à liquidez diária que propicia aos cotistas (mais detalhes sobre o fundo, clique aqui ). ETF do S&P500 (IVVB11) ­ ETF é a sigla para "Exchange Traded Funds", ou fundos de índice. Quando você compra uma cota de um ETF, está comprando a carteira de um fundo que replica a performance do índice que este ETF representa. Ou seja: ter este ETF em carteira te deixará exposto ao principal índice de ações dos Estados Unidos e um dos principais "benchmarks" (referência) do mundo. Dessa forma, você obterá lucro tanto com a valorização das ações que fazem parte do índice quanto com a alta do dólar em relação ao real. Detalhe Importante: embora este ETF seja muito pouco transacionado na Bovespa, não é difícil negociá­lo, já que ele possui um Formador de Mercado. Entre diversas obrigações que possui, o Formador de Mercado precisa negociar pelo menos uma vez por dia o ativo. Gerido pela BlackRock (a maior gestora de recursos do mundo), o ETF do S&P500 é negociado na Bovespa e pode ser comprado direto pelo home broker pelo código IVVB11 . LINK PARA BAIXAR A PLANILHA COM AS CARTEIRAS RECOMENDADAS

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DISCLAIMER: 1) Este relatório foi elaborado pela InfoMoney e tem como objetivo fornecer informações que possam auxiliar o investidor a tomar sua própria decisão de investimento, não constituindo qualquer tipo de oferta ou solicitação de compra e/ou venda de qualquer produto. As informações contidas neste relatório são consideradas válidas na data de sua divulgação e foram obtidas de fontes públicas. A InfoMoney não se responsabiliza por qualquer decisão tomada pelo cliente com base no presente relatório. 2) Este relatório foi elaborado considerando a classificação de risco dos produtos de modo a gerar resultados de alocação para cada perfil de investidor. 3) O(s) signatário(s) deste relatório declara(m) que as recomendações refletem única e exclusivamente suas análises e opiniões pessoais, que foram produzidas de forma independente, inclusive em relação à InfoMoney e que estão sujeitas a modificações sem em decorrência de alterações nas condições de mercado. As modificações, no entanto, serão avisadas assim que forEm realizadas. 4) Os produtos apresentados neste relatório podem não ser adequados para todos os tipos de cliente. Antes de qualquer decisão, os clientes deverão realizar o processo de suitability e confirmar se os produtos apresentados são indicados para o seu perfil de investidor. 5) Este relatório é destinado à circulação exclusiva para a rede de relacionamento da InfoMoney. Fica proibida sua reprodução ou redistribuição para qualquer pessoa, no todo ou em parte, qualquer que seja o propósito, sem o prévio consentimento expresso da InfoMoney. 6) A InfoMoney se exime de qualquer responsabilidade por quaisquer prejuízos, diretos ou indiretos, que venham a decorrer da utilização deste relatório ou seu conteúdo. 7) ­ A InfoMoney pode ser remunerada por serviços prestados ou possuir relações comerciais com a(s) empresa(s) analisada(s) neste relatório ou com pessoa natural ou jurídica, fundo ou universalidade de direitos, que atue representando o mesmo interesse dessa(s) empresa(s).

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