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IX ENCONTRO DE ECONOMIA BAIANA – SET. 2013 EFEITOS DA CRISE ECONÔMICA DE 2008/2009 SOBRE OS MUNICÍPIOS BRASILEIROS Lucas Milanez de Lima Almeida* Aléssio Tony Cavalcanti de Almeida** Nelson Rosas Ribeiro*** RESUMO Este estudo tem por objetivo central analisar a reação do desempenho econômico dos municípios brasileiros frente ao ambiente de crise macroeconômica global, na pretensão de inserir uma visão microanalítica a um problema intrínseco ao sistema capitalista de produção. Para tanto foram utilizadas informações geoeconômicas municipais para o período de 2008 a 2009, na tentativa de fazer um recorte temporal que permitisse captar as unidades municipais que seguiram a tendência macroeconômica nacional de crise de modo imediato ou por repercussão, e o modelo de regressão logit ordenado. Os principais resultados da pesquisa apontam que os municípios brasileiros com maior nível de desenvolvimento e com maior composição das atividades de serviços no PIB apresentam maiores chances de seguir a tendência de crise econômica nacional de imediato, ao passo que no efeito repercussão ocorre uma inversão no processo de reação em direção aos municípios menos desenvolvidos e com maior participação do setor agropecuário. Palavras-chave: Crise Econômica. Município. Composição Setorial. Efeito Imediato. Efeito Repercussão. ABSTRACT The central aim of this paper is to analyze the reaction of the economic performance of Brazilian municipalities facing the global macroeconomic crisis, with the intention of inserting a microanalytical perspective to an intrinsic problem intrinsic to the capitalist system of production. Therefore, we used municipal geoeconomic data for the period of 2008 to 2009 in an attempt to make a time frame that allowed us to capture the cities that followed the national macroeconomic trend of crisis immediately or by repercussion, and the ordered logit regression model. The main results of the research show that Brazilian municipalities with higher levels of development and greater composition of service activities in the GDP are more likely to follow the trend of national economic crisis immediately, while within the repercussion effect, an inversion occurs in the process of reaction towards the lesser developed municipalities and with greater participation of the agricultural sector. Keywords: Economic Crisis. Municipality. Sectoral Composition. Immediate Effect. Repercussion Effect. * Mestre em Economia e graduado em Ciências Econômicas pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Professor-assistente do Departamento de Economia da UFPB e pesquisador do Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira (PROGEB). [email protected] ** Doutorando em Economia e mestre em Economia pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Professor-assistente do Departamento de Economia da UFPB. [email protected] *** Doutor em Economia pela Universidade Técnica de Lisboa (UTL) e graduado em Economia pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Professor emérito do Departamento de Economia da UFPB e pesquisador do Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira (PROGEB). [email protected] ECONOMIA REGIONAL 407

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IX Encontro dE EconomIa BaIana – SEt. 2013

EFEITOS DA CRISE ECONÔMICA DE 2008/2009 SOBRE OS MUNICÍPIOS BRASILEIROS

Lucas Milanez de Lima Almeida*Aléssio Tony Cavalcanti de Almeida**

Nelson Rosas Ribeiro***

Resumo

Este estudo tem por objetivo central analisar a reação do desempenho econômico dos municípios brasileiros frente ao ambiente de crise macroeconômica global, na pretensão de inserir uma visão microanalítica a um problema intrínseco ao sistema capitalista de produção. Para tanto foram utilizadas informações geoeconômicas municipais para o período de 2008 a 2009, na tentativa de fazer um recorte temporal que permitisse captar as unidades municipais que seguiram a tendência macroeconômica nacional de crise de modo imediato ou por repercussão, e o modelo de regressão logit ordenado. Os principais resultados da pesquisa apontam que os municípios brasileiros com maior nível de desenvolvimento e com maior composição das atividades de serviços no PIB apresentam maiores chances de seguir a tendência de crise econômica nacional de imediato, ao passo que no efeito repercussão ocorre uma inversão no processo de reação em direção aos municípios menos desenvolvidos e com maior participação do setor agropecuário.

Palavras-chave: Crise Econômica. Município. Composição Setorial. Efeito Imediato. Efeito Repercussão.

AbstrAct

The central aim of this paper is to analyze the reaction of the economic performance of Brazilian municipalities facing the global macroeconomic crisis, with the intention of inserting a microanalytical perspective to an intrinsic problem intrinsic to the capitalist system of production. Therefore, we used municipal geoeconomic data for the period of 2008 to 2009 in an attempt to make a time frame that allowed us to capture the cities that followed the national macroeconomic trend of crisis immediately or by repercussion, and the ordered logit regression model. The main results of the research show that Brazilian municipalities with higher levels of development and greater composition of service activities in the GDP are more likely to follow the trend of national economic crisis immediately, while within the repercussion effect, an inversion occurs in the process of reaction towards the lesser developed municipalities and with greater participation of the agricultural sector.

Keywords: Economic Crisis. Municipality. Sectoral Composition. Immediate Effect. Repercussion Effect.

* Mestre em Economia e graduado em Ciências Econômicas pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Professor-assistente do Departamento de Economia da UFPB e pesquisador do Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira (PROGEB). [email protected]

** Doutorando em Economia e mestre em Economia pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Professor-assistente do Departamento de Economia da UFPB. [email protected]

*** Doutor em Economia pela Universidade Técnica de Lisboa (UTL) e graduado em Economia pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Professor emérito do Departamento de Economia da UFPB e pesquisador do Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira (PROGEB). [email protected]

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EFEITOS DA CRISE ECONÔMICA DE 2008/2009 SOBRE OS MUNICÍPIOS BRASILEIROS

Lucas Milanez de Lima Almeida, Aléssio Tony Cavalcanti de Almeida, Nelson Rosas Ribeiro

IX ENCONTRO DE ECONOMIA BAIANA – SET. 2013 ECONOMIA REGIONAL • 408

1 - Introdução

A produção e a reprodução dos meios materiais necessários à manutenção da vida

humana, sob as condições capitalistas, nunca ocorrem em um processo contínuo. Estão

sujeitas a pulsações, nas quais, periodicamente, sucedem-se fases de maior e menor

crescimento, e até redução, da atividade econômica. Isto não é apenas argumento teórico, mas

uma constatação histórica. Desde o século XIX o mundo conhece as consequências deste

fenômeno econômico. Podemos ver os primeiros relatos em autores como: Williard Phillips,

John Wade, Samuel Jones Loyd, John Stuart Mill, William Langton, além de Karl Marx e

Friedrich Engels1.

Muitos tentaram descrever este fenômeno do Modo de Produção Capitalista, porém, foi

graças aos estudos empíricos que surgiram as primeiras sistematizações do que ficou

conhecido como Business Cycle, ou Ciclo Econômico. A utilização da estatística na análise

de indicadores da produção no Reino Unido permitiu a Clement Juglar, um dos mais famosos

teóricos, identificar e caracterizar as sucessivas fases de desenvolvimento de uma “economia

de mercado” (MITCHELL, 1927).

Utilizando a mesma metodologia, no fim do século XIX e meados do século XX, outros

economistas, das mais diversas escolas do pensamento econômico, deram suas contribuições

acerca das causas, dos efeitos e da periodicidade do ciclo: Marx Wirth, Tugan-Baranowski,

Kondratiev, Kitchin, Schumpeter, Spiethoff, Wicksell, Robertson, Hawtrey, Aftalion, Lescure,

Harbeler, Hayek, Hansen, Veblen, Burns, Mitchell, McCracken, Kuznets.

Com o pós 2ª Guerra Mundial e a necessidade de reconstrução dos países destruídos, à

época do welfare state, o capitalismo viveu um período, chamado por Jean Fourastié (1979)

de “30 anos gloriosos”, no qual a economia mundial seguiu uma trajetória de crescimento sem

precedentes, especialmente na Europa. Chegou-se a criar a tese do chamado capitalismo pós-

cíclico2, segundo a qual o planejamento macroeconômico debelaria a ocorrência de crises

generalizadas de superprodução. Isto pareceu verdade até o 1° Choque do Petróleo, no ano de

1973, quando a crise se manifestou com tal violência que o keynesianismo, ideologia

econômica que dominava o 1° mundo, sofreu um grande abalo.

No Brasil, o tema começou a tomar força após a década de 1960, quando o país teve sua

primeira crise endógena3. Apesar de alguns autores negarem sua existência, outros deram a

devida importância ao fenômeno: Ignácio Rangel, Alberto Passos Guimarães, Celso Furtado e

os “Cepalinos”, Maria da Conceição Tavares, Caio Prado Jr.4.

Em artigo recente, Lima (2011) fez um compêndio que reúne teses de grande parte dos

economistas que estudaram o Bussines Cycle. Neste trabalho, houve o esforço de mostrar

quais as características e as causas das “flutuações cíclicas”, sob o ponto de vista dos mais

importantes autores da ciência econômica. Isto foi feito por meio de uma apresentação

cronológica: partindo de uma carente visão schumpeteriana da teoria de Marx, a autora expõe

as proposições neoclássicas e keynesianas (de todas as linhagens: neo, novo e pós-

keynesiana), que vão do próprio Keynes e Schumpeter à Romer, Stiglitz, Bernanke e Minsky,

passando por Lucas, Prescott, Kaldor e Kalecki. Segundo ela, é possível separar os autores em

dois grupos: a) aqueles que defendem que os ciclos econômicos são inerentes ao sistema

capitalista; e b) os que defendem que “as principais causas dos ciclos econômicos são os

fatores exógenos”. (p.17).

1 Ribeiro, 1998; Ribeiro, 2000a. 2 Mendonça, 1990; Ribeiro, 1998; Ribeiro, 2000a; Furtado, 2003. 3 Ela é endógena quando causada por elementos internos à dinâmica da acumulação capitalista. Por exemplo, a crise de 1929,

que atingiu o Brasil, não foi causada por uma dinâmica interna, já que o país, além de não ter um capitalismo maduro, não

estava ativamente integrado à acumulação internacional. Neste caso, de maneira passiva, o país sentiu o impacto,

principalmente, sobre o setor primário-exportador. Sobre esta tese ver Ribeiro, 1988. 4 Bielschowsky, 2000.

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Entretanto, não faz parte dos nossos objetivos entrar nesta discussão. O que pretendemos

aqui é analisar os efeitos que a “crise do subprime”, deflagrada em 2007, nos EUA, e que

chegou ao Brasil no fim de 2008, provocou no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro.

O artigo 1° da Constituição de 1988 diz que a República Federativa do Brasil é “formada

pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal”. Entretanto, apesar

de existirem diversos trabalhos recentes que tratam a temática da crise5, poucos são os que a

abordam a partir de uma perspectiva micro-analítica. O presente estudo pretende contribuir

para a apreciação da atividade econômica sob esta ótica. A economia nacional é, assim,

formada por uma complexa rede de elementos particulares, que são as economias dos estados

e, essencialmente, dos municípios. O objetivo central desta investigação é observar a atividade

econômica por esta ótica.

A fim de caracterizar e analisar a reação do desempenho econômico dos municípios

brasileiros frente à crise econômica global, utilizamos as seguintes informações

geoeconômicas, referentes aos anos de 2008 e 2009, de cada cidade do país: a) Produto

Interno Bruto dos Municípios com base nas Contas Regionais e Nacionais do IBGE, que nos

dá uma visão desagregada do PIB; b) Índice FIRJAN de Desenvolvimento Municipal (IFDM),

que nos dá um indicador de desenvolvimento econômico; e c) localização dos municípios de

acordo com a sua respectiva região geográfica (Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sul e Sudeste),

que nos permite mapear a intensidade da crise no país. Estes dados foram tratados em um

modelo não linear de resposta ordenada, que será apresentado nas seções seguintes.

Com estes elementos, procurou-se responder às seguintes questões: quantos municípios

brasileiros tiveram uma redução no ritmo de suas atividades ante o impacto da crise

internacional? Qual a intensidade desta redução? Como a composição do PIB municipal

influenciou este desempenho? Quais as regiões mais afetadas pela crise?

Este estudo está dividido em cinco seções, sendo esta introdução a primeira. Na segunda

seção serão expostos alguns conceitos relacionados à crise no capitalismo e os ciclos

econômicos. A terceira seção aborda a estratégia empírica usada neste trabalho para atender

ao objetivo geral, com destaque para a descrição da base de dados e do modelo estatístico de

probabilidade logit. Por fim, a quarta e a quinta seção trazem, respectivamente, os principais

resultados e as conclusões.

5 Reinhart & Rogoff, 2009; Taylor, 2009; Bispo et al.,2009; WTO, 2008/2009; IPEA 2009a; IPEA 2009b; Freitas 2009;

CEPAL, 2009; Acioly et. al., 2009; Balanco, Filgueiras & Pinheiro, 2009; NBER, 2010; Barbosa, 2010; Moreira & Soares,

2010; Almeida Jr. & Ribeiro, 2010; Almeida, 2011a; Gentil & Araújo 2011.

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2 - A crise no capitalismo

A realidade tem mostrado que a crise, no capitalismo, assume uma forma aparente de

superprodução generalizada de mercadorias. No entanto, como neste sistema as mercadorias

são produzidas por empresas, é através de sua venda que são realizados os lucros dos

capitalistas, ou seja, estas mercadorias representam de fato capital. A crise é, portanto, uma

superprodução de capitais sob todas as formas, e não apenas de mercadorias: Superprodução de capital, não de mercadorias isoladas – embora a superprodução de

capital implique sempre em superprodução de mercadorias –, nada mais significa

que superacumulação de capital [...] Trata-se aqui de superprodução que não

concerne apenas a este ou àquele ou a alguns ramos importantes da produção, mas

que seria absoluta em sua amplitude, abrangendo todos os domínios da produção

(MARX, 2008, p.330).

Assim, todas as atividades ligadas ao processo de produção e distribuição da riqueza

sofrerão com o excesso de oferta sobre a demanda solvente6. Podemos representar

simbolicamente a relação entre os diversos tipos de capitais a partir do esquema a seguir,

baseado em Marx (2008)7.

Fonte: Elaboração própria.

Onde o capitalista bancário (KB) vende sua mercadoria capital (Mk) ao capitalista

industrial (KI), sob a forma de empréstimo monetário, capital produtivo ou mercadoria, e ao

capitalista comercial (KC), sob a forma dinheiro. O KI, após comprar as forças produtivas

(meios de produção e força de trabalho), constitui o capital produtivo (P), responsável pelo

processo de criação de riqueza8, que terminará com a produção de M’, mercadoria acrescida

de mais-valia. Retoma-se novamente o processo de circulação, que pode ser conduzido ou

pelo próprio KI ou pelo KC. Caso a venda de M’ seja feita pelo capitalista comercial, o

capitalista industrial terá que lhe ceder parte de sua mais-valia, sob a forma de lucro

comercial, que está representado pelo D’ do KC. Caso contrário, o próprio KI vende sua

mercadoria, ele não vai dividir com o capitalista comercial a mais-valia produzida por seus

trabalhadores. Entretanto, por ambos terem recorrido ao capital bancário, terão que dividir a

6 Não se produzem meios de subsistência demais em relação à população existente [...] Não se produzem meios de produção

em excesso para empregar a parte da população, apta ao trabalho [...] Não se produz riqueza demais. Mas a riqueza que se

produz periodicamente é demais nas formas antagônicas do capitalismo (MARX, 2008, p.337). 7 Analisaremos aqui as formas industrial (KI), comercial (KC) e bancária (KB). No conceito marxiano, o capital industrial

não se restringe à indústria, mas se estende a todas as atividades criadoras de mais-valia, que, de acordo com a classificação

usada pela contabilidade social, são incluídas nos setores da agricultura, pecuária, transportes e alguns serviços. 8 Ressaltamos aqui o fato de que, apesar de necessárias, as atividades exercidas na circulação, seja pelo KB, KC ou pelo

próprio KI, não acrescentam valor à mercadoria. Estas apenas contribuem indiretamente para a valorização do capital. Não

trataremos aqui do processo de criação de mais-valia em si. Isto é feito por Marx em O Capital.

Figura 1: As formas do capital

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mais-valia obtida, entre lucro industrial e juros e lucro comercial e juros. Estes juros serão

entregues ao KB no ato de devolução do empréstimo9.

Os capitalistas comercial e industrial, de posse do dinheiro, realizam suas atividades

acionando os mais diversos setores, gerando um círculo virtuoso de produção e distribuição da

riqueza. Os assalariados, com os recursos para sua própria manutenção, estimulam a produção

ao adquirirem os bens de consumo necessários. Teoricamente, os setores que respondem mais

rapidamente aos estímulos da demanda são os ligados a este consumo final, pois o aumento da

circulação da renda, ao aumentar capacidade de consumo dos trabalhadores10

, seja de

produtos industrializados ou de serviços, provoca a elevação da produção nestes setores. Com

isso, novos estímulos são gerados, refletindo-se de volta nos setores produtivo, comercial e

bancário. Devemos acrescentar aqui os gastos necessários à manutenção do Estado, que tem

desempenhado, desde o século passado, um papel ativo na busca do bem estar, seja para a

classe trabalhadora, seja para a classe capitalista.

Como Marx (2006a) previu, o processo de concentração e centralização do capital levou

as empresas a se tornarem grandes aglomerados multinacionais11

, que atuam em todas as

esferas: bancária, comercial e industrial. Da necessidade de fusão, ante a concorrência e a

busca por maior lucratividade, surgiu o que Lênin (s/d) chamou de capital financeiro. Mas os

motivos que, por um lado, tornam as grandes corporações mais fortes, já que a mais-valia

pode se manter sob o mesmo domínio nas três formas do capital, por outro, amplificam ainda

mais os efeitos nocivos e os canais de propagação da crise, ao concentrar os prejuízos em

alguns conglomerados de empresas.

O problema é que, volta e meia, os capitalistas têm dificuldades para manter seus

negócios e, consequentemente, as atividades ligadas à produção e à circulação de

mercadorias12

: se os estoques estão elevados é porque não houve venda e, se não há venda, a

produção para; se não há produção, não se pede capital emprestado, nem há quem queira

emprestar, diante do risco de fracasso. Não alheio a este movimento, os trabalhadores não são

contratados, reduzindo sua renda, seu consumo e, com eles, o comércio, a contratação de

serviços, as operações de crédito, etc. Desta maneira, a crise se propaga para todos os setores,

sendo uns mais e outros menos vulneráveis às perturbações, diante das distintas características

técnicas de cada processo de produção.

2.1 O ciclo econômico e a crise econômica

De maneira sintética, podemos descrever o ciclo econômico como “uma sucessão de 4

fases que se repetem na mesma sequência, ao longo do tempo”13

. Boa parte dos economistas

reconhece a existência do desenvolvimento cíclico da economia capitalista, todavia, “as

representações simbólicas de cada ciclo, bem como os nomes das suas fases, variam

ligeiramente de um autor para outro”14

.

No presente trabalho, recorreremos à caracterização usada por Ribeiro (2000b), segundo

a qual o ciclo econômico é composto pelas fases de: Crise, Depressão, Reanimação e Auge.

Segundo esta caracterização, para uma economia entrar em crise, não necessariamente ela

9 A maneira como isto é agregado e classificado depende da metodologia das contas nacionais. No caso brasileiro, ver a

Classificação Nacional de Atividades Econômicas – CNAE 2.0 – do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Encontramos críticas, fundamentadas na teoria do valor trabalho, à Contabilidade Nacional do mainstream, em Shaikh (1996)

e Almeida (2005). 10 Quanto menor a renda do trabalhador, maior é sua propensão a consumir. Esta só tende a decrescer quando a capacidade de

consumo das famílias é consideravelmente elevada, o que não corresponde à realidade da maioria delas. 11 Lênin, s/d; Draguilev, 1961; Boccara, 1976; Vitali, Glattfelder & Battiston, 2011. 12 Segundo Ribeiro (2008), a superprodução é resultado das leis que decorrem da contradição fundamental do capitalismo: a

contradição entre o caráter social que assume o produto do trabalho humano e o caráter privado da apropriação dele. Já sua

periodicidade é determinada pela renovação do capital fixo. 13 Ribeiro, 1988, p. 6. 14 Ibidem, p.6

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deve estar no que é chamado de “recessão técnica”, quando se tem uma diminuição da

atividade produtiva, em valores reais, por dois trimestres consecutivos. A crise representa a

quebra, em um nível generalizado, na lógica da progressiva capitalização do excedente e

consequente expansão do capital. Por isso utilizaremos no presente estudo as taxas de

variação e não os valores absolutos do Produto Interno Bruto.

Assim, “quando quisermos referir o fenômeno em seu conjunto, usaremos a palavra

ciclo, o que libertará o termo crise apenas para identificar a fase chamada ‘crise’” (p.5).

3 - Estratégia empírica

Conforme vimos anteriormente, procuramos responder às seguintes perguntas: quantos

municípios brasileiros tiveram uma redução no ritmo de suas atividades ante o impacto da

crise internacional? Qual a intensidade desta redução? Como a composição do PIB municipal

influenciou este desempenho? Quais as regiões mais afetadas pela crise?

Para desenvolver a pesquisa, foi necessário cumprir dois estágios empíricos: 1) criar

um indicador que nos permitisse identificar se um município, tal como a economia nacional e

internacional, apresentou alteração ou não no ritmo de crescimento da atividade econômica;

no caso da existência de desaceleração, criou-se uma classificação para a intensidade de tal

diminuição; e 2) utilizar a regressão logit para resposta ordenada com a finalidade de

encontrar os principais fatores que explicam as chances dos municípios brasileiros ‘sentirem’

os efeitos da crise econômica via desaceleração do crescimento econômico.

As fontes de dados principais usadas foram do Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE), Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e Federação das

Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (FIRJAN). A quantidade de municípios analisados foi

de 5.559, o que corresponde a mais de 99% do total de municípios no país, conforme as

informações do Censo Demográfico 2010 do IBGE. Por falta de uma ou mais informações

usadas no modelo estatístico, seis localidades não foram inseridas no estudo15

.

Teoricamente, sabemos que a crise tem manifestações diferentes, dependendo do nível

de desenvolvimento das relações capitalistas de produção existentes no espaço econômico

analisado. Para tornar mais rigorosa a análise dos resultados obtidos, criamos uma

classificação que chamaremos de agrupamentos econômicos (GEC). Cada GEC representa um

dado intervalo quantílico do PIB municipal, no ano de 2009. Variando de um a cinco, os

grupos apresentam valores crescentes, sendo o GEC1 o grupo com as localidades com os

menores valores do PIB e o GEC5 o percentil com os municípios mais ricos em termos de

produção. Da Tabela 3.1, que contém a descrição de cada grupo, nota-se que 559 municípios

do Brasil (que correspondem a 10% dos municípios considerados) estão enquadrados na

categoria econômica GEC5 – o último decil do PIB.

Tabela 3.1: Descrição de grupos utilizados para agrupamento dos resultados

Grupos Descrição Frequência Proporção

(em %)

Econômicos

(GEC)

GEC1 se o PIB do município está abaixo do percentil 25% 1.398 25%

GEC2 se o PIB do município está entre os percentis 25% e 50%. 1.398 25%

GEC3 se o PIB do município está entre os percentis 50% e 75%, 1.398 25%

GEC4 se o PIB do município está entre os percentis 75% e 90%, 839 15%

GEC5 se o PIB do município está acima do percentil 90% 559 10%

Fonte: Elaboração própria a partir das informações do PIB municipal para o ano de 2009 – IBGE.

15 Os municípios que não participaram da análise foram dois do Piauí (Aroeiras do Itaim e Nazária), um do Mato Grosso do

Sul (Figueirão), dois do Mato Grosso (Ipiranga do Norte e Itanhangá) e Brasília.

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Esta diferenciação entre os percentis GEC4 e GEC5 foi feita com base na

diferenciação quantitativa que existe dentro do quartil dos 25% mais ricos. Caso não houvesse

tal discriminação, igualaríamos cidades consideravelmente distintas. Nosso objetivo foi

separar o comportamento das cidades de maior produção do país, a fim de observar seu

comportamento de maneira isolada.

3.1 Regra de caracterização, Efeito Imediato e Efeito Repercussão

A estratégia usada para identificar se o desempenho econômico do município foi

afetado ou não pelo cenário macroeconômico internacional adverso, partiu de uma avaliação

da tendência do comportamento da taxa de crescimento anual do PIB real dos municípios.

Por questões metodológicas, não podemos transformar a realidade em uma função de

produção derivável, pois, assim, estaríamos violando uma infinidade de elementos que a

lógica formal é incapaz de captar16

. Assim, não podemos utilizar aqui a regra da primeira e

segunda derivada, que nos mostra, respectivamente, a variação imediata e a aceleração

imediata de uma variável. Mas, com base na variação percentual do PIB em duas instâncias, é

possível ver qual o movimento da atividade econômica e a tendência de mudança deste

movimento: a primeira instância nos mostra a taxa de variação do PIB e a segunda nos mostra

a tendência desta primeira variação. A tendência foi obtida pela segunda variação do PIB real,

o que corresponde à variação da taxa de crescimento do produto. A expressão 3.1 evidencia

esse cálculo.

(3.1)

Onde: taxa de crescimento do PIB no período t; segunda variação do PIB

ou a variação de . Caso , tem-se uma redução no ritmo de variação da taxa de

crescimento econômico do período em relação a .

Como afirmamos na seção um, a economia nacional é o todo formado pela associação

das partes, que no nosso caso são os municípios. O conceito de crise definido anteriormente,

por sua vez, é aplicável a este todo17

. O ideal seria fazer a análise numa periodicidade mais

curta, trimestral por exemplo. Contudo, dado que as informações do PIB municipal só estão

disponíveis de forma anual, faremos a análise do comportamento econômico de acordo com a

mesma base de tempo.

O Gráfico 3.1 a seguir no mostra o comportamento da taxa de crescimento anual do

PIB do Brasil, dos países do G718

e da economia mundial entre 2005 e 2009:

Gráfico 3.1: Primeira* (taxa de crescimento) e Segunda

** variação do PIB real da economia mundial,

do G7 e do Brasil (2005-2009)

16 Sobre os princípios básicos e metodológicos que fundamentam as diversas correntes da ciência econômica, ver Corazza

(2003). 17 No Brasil, não encontramos município que apresente, individualmente, todas as condições necessárias para a manifestação

da crise. Sobre estas condições, ver Ribeiro (2008). 18 G7 é formado pelos países: Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão, Reino Unido.

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Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do IPEADATA. * Primeira variação corresponde à curva tracejada (em percentual); ** Segunda variação a curva contínua (não está em

percentual)

Nota-se que já em 2007 ocorre uma leve redução no crescimento internacional,

ocorrendo uma intensificação desse processo nos anos de 2008 e 2009, onde, por exemplo, a

economia formada pelos sete países mais ricos do mundo sofreu uma redução de mais de

1200% na velocidade do crescimento econômico. Nesses dois últimos anos a segunda

variação do produto foi negativa para todas as localidades consideradas, com destaque para as

economias mais desenvolvidas. Veja que já houve uma redução do ritmo de crescimento do

Brasil de 2007 para 2008, porém, ela foi menos brusca do que para o resto do mundo.

A caracterização dos municípios brasileiros foi feita segundo uma escala ordinal que

varia de 0 a 4, dividida de acordo com os resultados encontrados na segunda variação do

produto (ver Equação 3.1). Atribuímos aos municípios que não acompanharam a tendência de

reversão econômica o valor mínimo , enquanto que, para os municípios que

apresentaram as mais fortes reversões da atividade produtiva, atribuímos o valor máximo

. As localidades que apresentaram foram classificadas com o indicador

e aquelas que possuíram foram distribuídas de acordo com a intensidade da redução

da atividade econômica no interregno de tempo avaliado. Tal distribuição foi feita por quartis,

a saber: , se a segunda variação do produto de uma dada localidade foi menor que o

valor do primeiro quartil da regra de segunda variação para todas as localidades que

apresentam redução; , se a segunda variação do produto do município está entre o

primeiro e segundo quartil; , se a segunda variação está entre o segundo e o terceiro

quartil; , se a segunda variação está acima do terceiro quartil.

Nessa linha de raciocínio, os municípios que apresentaram uma redução anual no

ritmo de crescimento econômico seguiram a tendência macroeconômica nacional e

internacional de reversão da atividade econômica. Porém, há dois comportamentos distintos

na variação dos PIBs municipais. Há cidades que reagiram sincronicamente com o

comportamento da economia mundial, que, neste caso, chamamos de Efeito Imediato (EI), e

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há outros municípios que reagiram com defasagem de um ano, comportamento que

chamamos de Efeito Repercussão (ER).

Tabela 3.2: Frequência absoluta e relativa dos efeitos imediato e repercussão Efeito Imediato

(2008)

Efeito Repercussão

(2009)

Intensidade da diminuição do ritmo de crescimento Frequência relativa Frequência relativa

Y=0 44,8% 39,2%

Y=1 13,8% 15,2%

Y=2 13,8% 15,2%

Y=3 13,8% 15,2%

Y=4 13,8% 15,2%

Total 100,0% 100,0%

No acumulado de Y=1 a Y=4 55,2% 60,8%

Número de Observações 5.559

Fonte: Elaboração própria.

A tabela 3.2 evidencia a frequência relativa da variável , o indicador de que o

município apresentou uma redução do ritmo de crescimento econômico. Nota-se que a

quantidade de municípios que acompanharam a tendência de reversão macroeconômica em

2009, pela regra da segunda variação, foi, no acumulado, maior (60,8%) do que em 2008

(55,2%). Destacamos que não necessariamente os municípios que apresentaram uma redução

no desempenho econômico em 2008 serão os mesmos que apresentaram tal tendência no ano

posterior.

3.2 Modelo de resposta ordenada e descrição das variáveis usadas

Nos modelos de resposta qualitativa, como ressalva Wooldridge (2010), o grande

interesse é encontrar os efeitos das variáveis explicativas sobre a probabilidade de resposta.

No caso deste artigo, como a variável de resposta tem uma escala hierárquica entre as

categorias de 0 a 4, onde cada resposta indica a 'intensidade' da redução no ritmo de

crescimento econômico do município num ambiente de crise macroeconômica nacional e

internacional, o modelo econométrico usado foi o logit ordenado.

O regressando , para municípios possui uma de alternativas possíveis. Com

, se o resultado for j-ésima opção, onde . O indicador de performance status

obedece a seguinte ordem: não alteração ou estabilidade do ritmo de crescimento econômico

, redução do ritmo com intensidade baixa , moderada , alta

e extrema . A probabilidade que o resultado para o município com a

resposta , condicionado ao vetor de variáveis explicativas é dada pela expressão 3.2.

(3.2)

Onde: é a função de distribuição acumulada , onde para o caso do modelo logit,

tem uma fda logística, isto é, ; é a matriz de variáveis explanatórias

(descritas no quadro 3.1); vetor de parâmetros da regressão; parâmetros

de limite. Os resultados ordenados são modelados considerando a sequência hierárquica da

variável.

No caso deste estudo, a variável de análise é o indicador de redução ou não do ritmo

de crescimento econômico e o foco é avaliar como, por exemplo, a composição setorial no

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IX ENCONTRO DE ECONOMIA BAIANA – SET. 2013 ECONOMIA REGIONAL • 416

valor adicionado do PIB do município, aumenta ou não as chances dessa localidade ser

afetada pela crise econômica.

Com as devidas transformações, o modelo logit ordinal pode ser expresso pela

Equação 3.3, na qual a estimação dos parâmetros de interesse é feita através do método de

Máxima Verossimilhança19

(MV) para cada unidade municipal e para cada nível de

intensidade , em que é o termo de erro aleatório com distribuição de probabilidade

logística.

(3.3)

A equação (3.3) evidencia que o logaritmo natural das chances favoráveis de um

município ter sofrido uma alteração no ritmo da atividade econômica, acompanhando a

tendência macroeconômica do país, é uma função linear dos parâmetros e das covariadas.

Desse modo, com as variáveis descritas no Quadro 3.1, a ideia é entender o papel que a

composição do PIB municipal e outras variáveis contextuais, como o nível de

desenvolvimento do município (IFDM), têm sobre as chances de uma localidade possuir uma

desaceleração no ritmo de crescimento econômico, tal como a economia mundial no período.

É válido realçar, que, de posse das estimações dos coeficientes obtidos a partir da equação

3.3, é possível calcular os efeitos das variáveis explanatórias sobre as probabilidades de uma

dada unidade municipal acompanhar a tendência de crise do cenário macroeconômico.

Quadro 3.1: Descrição das variáveis usadas no modelo de regressão logística e grupos de análise Sigla Variável Descrição Fonte

Y1 Efeito Imediato

O ritmo da atividade econômica reduziu em 2008? Não=0.

Se sim, qual intensidade? Intensidade Baixa=1; Intensidade

Moderada=2; Intensidade Alta=3; Intensidade Extrema=4. Elaboração

própria

Y2 Efeito Repercussão

O ritmo da atividade econômica reduziu em 2009? Não=0.

Se sim, qual intensidade? Intensidade Baixa=1; Intensidade

Moderada=2; Intensidade Alta=3; Intensidade Extrema=4.

COM Composição do PIB

COM1, participação do setor de Serviços no PIB

IBGE COM2, participação da Administração Pública no PIB

COM3, participação do setor Agropecuário no PIB

COM4, participação do setor Industrial no PIB

DES IFDM Indicador de desenvolvimento municipal FIRJAN

REG Dummies regionais

REG1=1 se o município está situado no Norte, 0 c.c.

Elaboração

própria

REG2=1 se o município está situado no Nordeste, 0 c.c.

REG3=1 se o município está situado no Sudeste, 0 c.c.

REG4=1 se o município está situado no Sul, 0 c.c.

REG5=1 se o município está situado no Centro-Oeste, 0 c.c.

Destaca-se que a sumarização estatística das principais informações usadas neste

estudo encontra-se no Apêndice A1. Por fim cabe ressaltar que foram feitas duas análises,

uma utilizando a variável Y1 (Efeito Imediato) frente às demais covariadas e outra levando

em consideração a variável Y2 (Efeito Repercussão) como dependente.

A ausência de estudos sob uma a perspectiva por nós adotada nos impediu de assinalar

o comportamento das variáveis acima descritas por meio de uma revisão da literatura. Porém,

do ponto de vista teórico, podemos esperar o seguinte:

Setor de serviços: diante dos novos paradigmas de produção e gestão que

emergiram após a “Crise do Petróleo”, essencialmente a manufatura enxuta e a produção

flexível, que defendem a não verticalização do processo produtivo e a externalização de boa

parte das atividades, podemos afirmar que este é o setor mais vulnerável a oscilações na

19 Para maiores detalhes sobre as propriedades e características do citado modelo ver, por exemplo, Cameron & Trivedi

(2005) e Wooldridge (2010).

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atividade econômica20

. Neste setor, há, ainda, a nebulosa regulamentação jurídica das

atividades de terceirização e a consequente precarização das relações trabalhistas, a

proximidade, numa cadeia produtiva, com o consumo final, a inclusão das atividades

financeiras, etc. Tudo isso nos leva a afirmar que este indicador é o mais sensível a

alterações do produto, sejam elas positivas ou negativas;

Administração pública: este setor, teoricamente, tem menor vulnerabilidade

às oscilações, pois, além de ter de cumprir o orçamento aprovado como lei em anos

anteriores, recebe o impacto direto apenas sobre as empresas estatais, enquanto que recebe

maior parte da influência por meio de ações fiscais. Neste caso, os municípios que mais

dependem do governo tendem a sentir um efeito indireto e retardatário. Porém, desde a

primeira metade do século XX, o Estado se tornou um agente ativo na atividade econômica,

seja para garantir o bem-estar social ou a lucratividade dos empresários. É inegável o caráter

intervencionista em momentos chaves do ciclo econômico. Durante as fases de ascensão, há

uma tendência de redução da interferência estatal, na medida em que a produção, o emprego

e a renda entram numa espiral positiva de elevação, cabendo apenas garantir o bom

funcionamento das instituições e o chamado “equilíbrio macroeconômico”21

. Por outro lado,

quando o ciclo atinge o momento de crise e depressão, é imediata a atuação por meio de

políticas econômicas. Neste trabalho, não é mister discutir os fundamentos teóricos e

ideológicos de tais intervenções22

. Cabe a nós ressaltar que tais medidas têm, inicialmente,

um caráter negativo, pois as políticas macroeconômicas neoliberais, que dominam os

governos desde a década de 1980, tem claro caráter restritivo (contenção da demanda para

garantir as metas de inflação), enquanto que, após a deflagração da crise, o setor público

toma medidas anticíclicas de combate à redução da atividade. Assim, as cidades que menos

dependem do governo para compor seu PIB, e que são as mais influenciadas pelas políticas

cíclicas, terão a contribuição deste setor para aumentar a volatilidade no ritmo de mudança

da atividade;

Agropecuária: dentre todos os setores, esse deve ser o menos vulnerável a um

impacto imediato, pois, dadas as suas características, o produto obtido no período é

determinado pelo início da produção no período , tendo em vista o tempo de

maturidade dos produtos agrícolas e pecuários. Assim, é de se esperar que a maior parte do

impacto da crise seja sentida algum tempo após a sua deflagração. Soma-se a isto o fato de

que as alterações climáticas são um elemento perturbador, pois podem interferir na produção

e mascarar o movimento cíclico;

Indústria: este setor deve se encontrar em um nível intermediário, entre a

volatilidade do setor de serviços e a rigidez do setor agropecuário. Isto porque as

características inerentes à indústria nos levam a afirmar que boa parte do capital está

imobilizado em contratos, máquinas, etc., porém outra parte pode ser rapidamente ajustada

às condições de demanda, tal como o nível de produção, os custos variáveis, etc.;

Índice FIRJAN de Desenvolvimento Municipal: este índice, calculado pela

Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro, tem como base os dados oficiais,

disponíveis nos Ministérios da Educação, da Saúde e do Trabalho, nas áreas de educação,

saúde, emprego e renda. Utilizamos este índice como variável de controle, com a finalidade

de relacionar um indicador de desenvolvimento com as demais variáveis. É esperado que o

IFDM, dada a sua composição, se comporte de maneira semelhante ao setor que mais

emprega e distribui renda. Nas cidades mais desenvolvidas, como o setor que predomina no

valor adicionado tende a ser aquele que mais abre postos de trabalho, podemos prever que o

20 Antunes, 2000; Antunes & Alves, 2004; Borges, 2004; Kon, 2007; 21 No Brasil este equilíbrio se resume ao tripé: superávit primário, câmbio flutuante e metas para inflação. 22 Sobre a temática ver: Bird (1997); Bobbio & Bovero (1996); Keynes (1996); Anderson (1995); Poulantzas (1986); Lênin

(1985); Salama (1983); Lukács (1975); Carvalho (s/d); Almeida (2011a).

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índice influenciará o modelo de forma semelhante ao setor dominante. Por outro lado, as

atividades de educação e saúde, que juntas correspondem a 2/3 do índice, são ofertadas por

dois setores: serviços e/ou administração pública. Assim, é de se esperar que o IFDM se

comporte de maneira correspondente a eles;

Dummies Regionais: varável de controle que permitirá uma ilustração

regional das chances calculadas.

4 – Resultados & Discussões

Como o Brasil é um país de dimensão continental, apresentando diferentes contextos

demográficos, econômicos e sociais, é relevante compreender a fase negativa do último ciclo

econômico numa perspectiva desagregada, tendo por escopo as menores unidades política-

administrativa-econômica do desenho federativo brasileiro.

Nesse cenário, evidenciamos os resultados estatísticos auferidos através da estimação

da Equação 3.3 para o que chamamos de Efeito Imediato (EI - modelo 1) e Efeito

Repercussão (ER - modelo 2), que sinalizam uma redução do ritmo de crescimento

econômico, respectivamente, para os anos de 2008 e 2009.

A tabela 4.1 nos mostra dois rankings: um que ordena a relação dos setores com os

efeitos imediato e repercussão e outro que ordena as chances de uma região sofrer esses

efeitos. Os coeficientes correlacionam com uma base, que tem coeficiente igual a zero (já que

está contido no intercepto), as chances de uma variável contribuir ou não para EI e ER23

. Isto

quer dizer que um sinal positivo indica que a variável tende a ter mais influência numa

alteração no ritmo de crescimento do que a base correspondente, enquanto que um sinal

negativo indica o contrário.

Tabela 4.1: Resultado das estimações Logit Ordinal para os casos dos municípios que sofreram a crise de forma

imediata e por repercussão

Variáveis Modelo (1) Modelo (2)

Efeito Imediato Efeito Repercussão

Coeficientes Erro-Padrão Coeficientes Erro-Padrão

Composição do PIB#

Participação do setor Serviços 3,34*** 0,2490 -3,35*** 0,2488

Participação da Administração Pública 2,66*** 0,2648 -2,50*** 0,2441

Participação do setor Industrial 0,67*** 0,2125 -0,90*** 0,1961

Desenvolvimento Municipal

IFDM 0,88** 0,4271 -1,99*** 0,4162

Dummies Regionais##

Nordeste (NE) -0,72*** 0,0972 0,52*** 0,0959

Sudeste (SE) -0,83*** 0,1083 1,00*** 0,1080

Sul (S) -0,22* 0,1151 0,90*** 0,1183

Centro-Oeste (CO) -0,43*** 0,1287 0,43*** 0,1273

Intercepto

/cut1 1,68 0,2773 -2,90 0,2538

/cut2 2,26 0,2779 -2,24 0,2528

/cut3 2,90 0,2783 -1,55 0,2523

/cut4 3,79 0,2803 -0,64 0,2527

Número de observações 5.559

Fonte: Elaboração própria. *p<0,10; **p<0,05; ***p<0,01. #A participação da agropecuária no PIB está na base da regressão; ## A região Norte está na base da regressão.

23 No presente trabalho, o setor agropecuário e a região Norte (N) se encontram na base do modelo.

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Diante dos parâmetros estimados, é possível destacar que, com exceção da variável

dummy referente à região sul no modelo (1), todos os demais coeficientes foram

estatisticamente representativos ao menos a 5% de significância.

4.1 – Dummies Regionais

Em geral, analisando os coeficientes gerados pelo modelo 1 (EI), nota-se que,

considerando apenas os aspectos locacionais, em média, os municípios situados no Sudeste e

no Nordeste possuem menores chances de apresentarem redução na taxa de crescimento,

quando comparados aos municípios situados nas demais regiões. Neste mesmo modelo,

vemos que as chances do Norte (N) sofrer uma desaceleração é maior do que as demais, pois

seu coeficiente é igual a zero e o das outras regiões é menor do que zero. Este quadro se

inverte em ER, quando todas as outras regiões possuem maiores chances de responderem com

desaceleração em seu desempenho econômico, tendo o S e o SE as maiores propensões.

Vimos que o coeficiente da região Sul não é significativo a 5%, denotando uma

inexpressiva diferença entre a importância do Sul e do Norte para o Efeito Imediato, ou seja, o

nível de significância de aceitação do parâmetro mostra que não há expressiva diferença entre

as chances do N e do S sofrerem com EI. Tal fato é consistente com o cálculo das

probabilidades de resposta (predição das probabilidades) a mudanças no ritmo econômico

para cada município, agrupado em sua respectiva região geográfica – esse cálculo leva em

conta todas as variáveis explanatórias e o termo estocástico de erro. A figura a seguir

apresenta tal probabilidade média de resposta por nível regional.

Figura 4.1.1: Distribuição das Probabilidades médias de resposta à redução da atividade

econômica por regiões brasileira – Efeito Imediato e repercussão

De acordo com a probabilidade prevista, nota-se que as localidades situadas no Norte

possuem uma probabilidade média de 63,8% de sofrerem algum tipo de redução, seja baixa,

moderada, alta ou extrema, no ritmo de crescimento econômico em 2008. Por sua vez, as

localidades do Sudeste e Centro-Oeste são aquelas que possuem uma menor chance de serem

afetadas de imediato, possuindo uma probabilidade média de 51,7% e 52,5%,

respectivamente.

É válido destacar que, em média, os municípios de todas as regiões, exceto os da

região Sul, invertem suas respectivas probabilidades entre 2008 e 2009: os que tinham

Legenda - Efeito Repercussão

0,513 - 0,570

0,570 - 0,594

0,594 - 0,626

0,626 - 0,6640 420 840 1.260 1.680210

Km

ÜLegenda - Efeito Imediato

0,517 - 0,525

0,526 - 0,536

0,537 - 0,596

0,597 - 0,6380 420 840 1.260 1.680210

Km

Ü(2008) (2009)

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maiores chances de sentir EI são os que têm menores chances de sentir ER, e vice-versa. Isto

denota a consistência da inversão dos sinais dos coeficientes das dummies regionais.

Porém, ao considerar todas as variáveis do nosso modelo e calcularmos os logs das

chances de um município sofrer EI e ER, verificamos que aqueles que se localizam na região

Sul têm um aumento na probabilidade de sentir ER, em relação à EI. Para o caso das cidades

desta localidade, que estão no espaço geográfico com maiores chances de terem uma

desaceleração econômica, encontramos uma explicação para tal comportamento na

composição setorial do PIB da região, uma vez que a mesma apresenta uma elevada

participação tanto dos serviços (33,1%) quanto da agropecuária (32%) em seu produto. Dessa

forma, como as localidades que apresentam alta participação de serviços têm maiores chances

de sofrer uma desaceleração econômica de imediato e aquelas com maiores participação da

agropecuária têm maior probabilidade de sofrerem impactos retardatários, os municípios da

região Sul possuem essas duas forças de atração para a mudança da performance econômica.

4.2 – Composição do PIB municipal

A Tabela 4.1 nos mostrou que os coeficientes dos setores se comportaram como

previsto: o setor de serviços é o que acompanha de maneira mais contundente a trajetória de

crise em 2008, mas, por outro lado, é o que primeiro reage contra o Efeito Repercussão,

denotando sua velocidade de reação à situação adversa; em seguida vem a administração

pública, que ocupa a segunda posição no ranking tanto para o aumento das chances de ocorrer

EI quanto para diminuir ER; já o coeficiente do setor industrial revela que este é o que tem a

terceira menor contribuição tanto para o EI quanto para ER, visto que o valor se encontra

entre 1 e -1; no caso da agropecuária, que está na base da regressão, sua análise é feita em

comparação com os outros setores, sendo o valor do seu coeficiente igual a zero. Isto quer

dizer que todos os setores têm maior contribuição do que o setor agropecuário, quando

observamos o Efeito Imediato, enquanto que, para o Efeito Repercussão, este último setor foi

o que mais contribuiu. O Gráfico abaixo nos dá uma visualização mais concreta do que o

modelo apresenta.

Gráfico 4.2.1: Taxa de variação do índice encadeado dessazonalizado do PIB trimestral do

Brasil por setores (2007:4 a 2009:4)

Fonte: Elaboração própria, a partir dos dados do IPEADATA.

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IX ENCONTRO DE ECONOMIA BAIANA – SET. 2013 ECONOMIA REGIONAL • 421

Note que desde o final do ano de 2007 até o terceiro trimestre de 2008, em todo o

Brasil, o setor de serviços apresentou uma taxa de crescimento praticamente constante e

abaixo de 2%. Isto vem se alterar com a deflagração da crise aqui no Brasil, em 2008T4,

quando decresce 2,6%. O setor industrial, por sua vez, apresenta oscilações no crescimento do

valor adicionado em todo o ano de 2008. Porém, é no final do ano que ele de fato sente a

crise, quando sua taxa de decrescimento se aproxima de 8%. Já o setor agropecuário nacional

apresenta dois trimestres de crescimento negativo, -0,04% (2007T4) e -0,11% (2008T1).

Porém, nos trimestres seguintes, alcança os maiores patamares de crescimento dentre os três

setores, até que a crise chega e há uma redução de 2,79%.

Passado o impacto inicial, os setores começam a se recuperar, cada um ao seu ritmo. O

setor de serviços já no primeiro trimestre de 2009 volta a crescer, aproximadamente, no

mesmo patamar do começo de 2008. Já a indústria sofre por dois trimestres consecutivos, até

que em 2009T2 cresce 3,14%.

Por sua vez, o setor agropecuário sofreu durante quatro trimestres, dos quais três

consecutivos de crescimento negativo e um (2009T3) com aumento de apenas 0,09%. Se, por

um lado, o aumento dos preços de 16 commodities ligadas à atividade, ao longo de 2007 até o

primeiro semestre de 2008, contribuiu para a expansão do setor em 2008, por outro, a redução

dos preços de 14 destas mercadorias, entre o segundo semestre de 2008 e o terceiro trimestre

de 2009, desestimulou ainda mais a produção neste último ano.

Podemos destacar ainda a administração pública, que atuou de forma contra-cíclica, de

maneira tal que o crescimento do seu PIB trimestral não atingiu, durante a crise, um valor

negativo.

Para termos uma dimensão da atuação fiscal da administração pública, vejamos:

Gráfico 4.2.2 – Taxa de crescimento entre 2007 e 2009

Fonte: elaboração própria a partir de dados do IPEADATA e da Secretaria do Tesouro Nacional.

Veja que em 2009 houve um forte sintoma de que o governo se esforçou mais, na

esfera fiscal, para estimular a atividade econômica, tendo em vista que houve um aumento

significativo do pessoal ocupado e das despesas líquidas, além da redução da arrecadação,

motivada pela isenção e redução de tributos. Estas últimas medidas agem indiretamente sobre

o consumo privado, seja ele pessoal ou produtivo, o que pode estimular tanto os serviços,

quanto a indústria e agropecuária.

É o que defende Almeida (2011b): [a política econômica] teve consequência relevante porque evitou que a crise se

propagasse para toda a economia brasileira. A sustentação do gasto público

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IX ENCONTRO DE ECONOMIA BAIANA – SET. 2013 ECONOMIA REGIONAL • 422

"blindou" o setor serviços da economia, responsável por 60% do PIB e grande

empregador. Este setor, salvo em segmentos de maior relação com a dinâmica

agroindustrial, a exemplo de transportes, praticamente não foi afetado pela crise.

Isso significa dizer que os efeitos desta no Brasil, embora graves, ficaram restritos

aos setores da indústria e da agropecuária. Nesses casos era inevitável um grande

impacto inicial da crise internacional, dada a sua natureza (p.332, colchete nosso)

Dos que caíram, o setor de serviços foi o único que, de fato, se recuperou ainda em

2009, ou seja, no 3° trimestre do ano, o valor adicionado já era superior ao do penúltimo

trimestre de 2008, auge do ciclo. Já a indústria e a agropecuária conseguiram tal feito apenas

em 2010, nos 2° e 1° trimestres, respectivamente. O problema da indústria foi,

principalmente, a magnitude das quedas registradas ainda em 2008 (-7,32%) e no começo de

2009 (-6,49%).

4.3 – Probabilidade de resposta por grupos econômicos

Vejamos agora as probabilidades calculadas das cidades sentirem o Efeito Imediato e

o Efeito Repercussão por grupos econômicos.

Um corte horizontal na Tabela 4.3.1 abaixo nos mostra que, quanto maior o PIB de um

município, maior sua chance de sentir o Efeito Imediato da crise global, enquanto que, quanto

menor for o produto, menores são as suas chances de sentir EI. Esta ordem se inverte quando

tratamos de ER, na medida em que os maiores municípios tendem a ter menor propensão de

sofrer alteração na atividade em 2009.

Tabela 4.3.1: Probabilidade média de resposta à crise e composição média do PIB por grupos

econômicos e IFDM médio Grupos

Econômicos

Efeito Imediato

(Probabilidade - média)

Intensidade baixa

Intensidade

moderada Intensidade alta Intensidade extrema Acumulado

1 14,1% 13,7% 13,2% 12,6% 53,6%

2 13,9% 13,5% 13,1% 12,6% 53,1%

3 13,8% 13,6% 13,5% 13,4% 54,3%

4 13,6% 13,9% 14,4% 15,1% 57,0%

5 13,3% 14,5% 16,1% 18,3% 62,2%

Efeito Repercussão

(Probabilidade - média)

Intensidade baixa

Intensidade

moderada Intensidade alta Intensidade extrema Acumulado

1 15,6% 15,5% 15,2% 15,2% 61,6%

2 15,3% 15,6% 15,8% 16,6% 63,3%

3 15,4% 15,4% 15,3% 15,6% 61,8%

4 15,5% 14,8% 14,1% 13,9% 58,3%

5 15,1% 13,1% 11,5% 10,4% 50,1%

Composição do PIB e IFDM

(média)

Serviços Governo Agropecuária Indústria IFDM

1 22,9% 40,8% 26,9% 9,4% 0,5974

2 26,7% 31,8% 29,9% 11,6% 0,6072

3 30,9% 26,1% 27,4% 15,7% 0,6322

4 36,5% 19,6% 19,6% 24,2% 0,6740

5 45,9% 14,4% 5,9% 33,8% 0,7567

Um corte vertical nos mostra a relação entre a probabilidade de sentir EI e ER, de

acordo com sua intensidade e composição do produto municipal. Veja que os municípios com

maiores probabilidades de sentir EI com baixa intensidade são aqueles que têm menor

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participação dos serviços e indústria. Por outro lado, são eles os que têm a maior participação

da administração pública e agropecuária. O inverso ocorre com o Efeito Repercussão.

O grupo de municípios com menor chance de ser afetado por EI é o grupo 2, seguido

de 1, 3, 4 e 5, respectivamente. Observe o padrão que se apresenta na alteração do ritmo do

crescimento em 2008: para os três grupos que agregam os menores municípios, há uma

relação inversa entre a intensidade e a probabilidade de ocorrer, ou seja, quanto maior a

intensidade, menor a chance de ocorrer. Já no caso dos grupos 4 e 5, vemos que, quanto maior

a intensidade, maior a propensão a sentir tal efeito.

Em 2009 há também uma tendência: os grupos 2 e 3 aumentam suas propensões a

sentir alteração no ritmo de crescimento, na medida em que esta mudança se torna mais forte.

Para os grupos 1, 4 e 5, temos o inverso, quanto maior a intensidade de ER, menores as

chances de sentir tal efeito. O fato do GEC1 apresentar tal comportamento nos dá indícios de

que, apesar do setor governamental contribuir para o Efeito Repercussão, sua influência

enquanto setor dominante não é tão negativa quanto no caso da agropecuária.

Quando cruzamos as informações da composição média do PIB com a probabilidade

média por grupos, vemos que, no acumulado, aqueles mais propensos a sentir EI são os que

têm, gradativamente, maior participação dos serviços e indústria. Por conseguinte, quanto

mais representativo o setor agropecuário e o governo, menor a probabilidade do grupo

econômico sentir os efeitos da crise em 2008. Partindo do elemento que mais contribui para

EI, no Grupo 5, temos um total de 45,9% de domínio dos serviços, enquanto que para o

Grupo 2, temos uma participação de 29,9% da agropecuária no PIB, o que contribuiu para

reduzir as chances de EI.

Se, por um lado, o grupo 5, que representa 10% dos municípios mais ricos do Brasil,

foi o que mais sofreu com a crise em 2008, por outro, ele é o que menos sofre em 2009. A

recuperação dos serviços, no 1ª trimestre de 2009, e da indústria, no segundo, foi decisiva

para este grupo, pois, juntos, os setores corresponderam, em média, a 79,7% dos respectivos

produtos. Aqui podemos perceber que as intervenções do governo contribuíram para diminuir

os efeitos da crise em 2009 nas cidades mais ricas do país, as que já têm maior nível de

desenvolvimento, segundo o IFDM.

Noutro caso, dos grupos 1, 2 e 3, temos que, os motivos pelos quais estes municípios

tiveram as menores chances de sofrer EI, foram os mesmos que contribuíram para aumentar a

propensão de ocorrer ER: somando os setores administração pública e agropecuária, temos,

respectivamente, 67,7%, 61,7% e 53,5% de participação no PIB.

Quando analisamos o grupo 4, vemos que não houve grande alteração na

probabilidade média acumulada entre EI e ER. Isto também se explica pela composição, na

medida em que, de um lado, serviços e indústria respondem por um total de 60,7%, enquanto

o governo e a agropecuária apresenta uma menor participação conjunta na composição média

do PIB municipal de tal grupo. Perceba a grande diferença entre o percentual médio da

agropecuária no PIB do grupo 4 e do grupo 5, que, em termos proporcionais, é três vezes

maior, o que foi decisivo para a diferença de 8,2% na probabilidade acumulada. Soma-se a

isso a já mencionada política anticíclica que “blindou o setor de serviços”, fazendo com que o

GEC5 sofresse ainda menos com ER.

A variável de controle IFDM nos mostra que, quanto maior o PIB municipal por

grupo, maior o seu valor médio. Isto era de se esperar, já que a renda é uma distribuição

daquilo que foi produzido. Avaliando de forma geral os coeficientes da tabela 4.1, referentes

ao modelo 2 – o Efeito Repercussão –, nota-se que comparativamente aos resultados do

modelo 1 (EI), houve grandes alterações nos sinais dos parâmetros e inversões no ranking das

covariadas que mais afetam as chances de se ter uma diminuição do ritmo das atividades

econômicas.

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IX ENCONTRO DE ECONOMIA BAIANA – SET. 2013 ECONOMIA REGIONAL • 424

Os municípios mais desenvolvidos são aqueles que tendem a ter uma menor resposta a

ER. As localidades menos desenvolvidas foram mais afetadas pela repercussão da crise

econômica, uma vez que suas atividades econômicas, por exemplo, são mais atreladas as

transferências intergovernamentais. Como a arrecadação tributária em momentos de crise é

afetada negativamente pela própria dinâmica recessiva da economia e pelos incentivos fiscais,

as transferências, como são percentuais constitucionais destas, por decorrência, também se

reduzem. Além do mais, a crise, no Brasil como um todo, se manifestou mais intensamente no

final de 2008, de modo que o repasse das transferências para a esfera de governo municipal só

foi afetada no ano posterior.

Gráfico 4.3.2: Taxa de variação das receitas reais24

com transferências correntes dos municípios

brasileiros entre os anos de 2008 e 2009

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do STN.

O gráfico 4.3.2 evidencia justamente esse cenário de redução no repasse das

transferências de recursos para os municípios, com duas exceções, de modo que aquelas

localidades menos desenvolvidas, que possuem um elevado peso do setor público nas suas

atividades econômicas, foram mais afetadas em 2009 do que em 2008.

5 - Conclusões

Com o intuito de entender a resposta dos municípios brasileiros a crise econômica

instaurada no mundo, em 2007, e na economia brasileira, em 2008, foram usadas informações

geoeconômicas que pudessem inserir nas discussões sobre o ciclo econômico a perspectiva do

menor ente federativo do Brasil, os municípios. Dado que o país em questão apresenta

dimensões continentais e municípios com diferentes contextos sociais, políticos,

demográficos e econômicos, tornou-se relevante compreender os mecanismos e fatores que

fizeram com que certas localidades municipais tivessem uma reação econômica que seguiu o

comportamento de crise da economia nacional e outras, por outro lado, em que esse fenômeno

do capitalismo passou sem deixar sequelas.

À luz dessa problemática, propusemos a categorização de Efeito Imediato e Efeito

Repercussão da crise. Os municípios que reduziram o seu desempenho econômico no período

que foi deflagrado o colapso na economia do país (2008) foram enquadrados no Efeito

Imediato, enquanto que as cidades que apresentaram uma reação negativa à mudança na 24 A transformação do valor nominal para real das receitas de transferências correntes dos municípios foi feita considerando o

deflator implícito do PIB, tendo como referência o ano de 2009.

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IX ENCONTRO DE ECONOMIA BAIANA – SET. 2013 ECONOMIA REGIONAL • 425

atividade econômica nacional apenas em 2009 foram classificadas como Efeito Repercussão.

Com isto, chegamos ao resultado de que, em 2008, 55,2% dos municípios brasileiros tiveram

alguma redução no ritmo de crescimento econômico, enquanto que em 2009 este percentual

foi de 60,8%.

Dadas as suas respectivas características, os setores apresentaram diferentes reações à

crise internacional. Os setores de serviços e indústria foram os que mais contribuíram para um

município apresentar mudança negativa na trajetória de crescimento do PIB em 2008. Por

outro lado, estes, na mesma sequência, foram os que menos contribuíram para o chamado

Efeito Repercussão. O setor agropecuário, que serviu como base, e a administração pública

foram os que mais contribuíram para a ocorrência de uma alteração negativa na taxa de

crescimento do PIB municipal em 2009.

Os municípios que se encontram na região Norte foram os que tiveram mais chances

de sentir a crise em 2008, seguidos dos da região Sul, Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste,

respectivamente. Já em 2009, as que cidades mais propensas ao chamado Efeito Repercussão,

na ordem, foram as que se encontram no Sul, Sudeste e Centro-Oeste. As do Nordeste e do

Norte foram as que tiveram a menor probabilidade.

Quanto à classificação nos grupos econômicos, quanto menor o município, menor a

participação dos serviços e da indústria no seu PIB e maior a participação do governo e da

agricultura. Por isto, os municípios menores foram os menos afetados pela crise em 2008,

enquanto os maiores, por terem maior proporção da indústria e, principalmente, serviços,

foram os que apresentaram maior redução no ritmo da atividade produtiva. Por outro lado, no

ano seguinte o quadro se inverte, colocando os municípios menores na lista dos mais afetados,

enquanto os maiores diminuíram suas chances de retração no ritmo da atividade. Vimos

também que as medidas anticíclicas tomadas pelo governo serviram para beneficiar as cidades

mais ricas e mais desenvolvidas do país, que tem o setor de serviços como principal fonte do

PIB.

Por fim, cabe ressaltar que este trabalho serve como ponto de partida para futuras

investigações, na medida em que uma visão micro-analítica desagregada nos dá uma maior

capacidade de investigar as reações dos municípios à crise e às políticas econômicas.

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EFEITOS DA CRISE ECONÔMICA DE 2008/2009 SOBRE OS MUNICÍPIOS BRASILEIROS

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APÊNDICE A1 – Estatística descritiva das variáveis utilizadas no modelo logit

Variáveis Média Desvio-

Padrão Mínimo Máximo

Composição do PIB

Participação do setor Serviços 0,30 0,12 0,01 0,89

Participação da Administração Pública 0,29 0,15 0,02 0,79

Participação da Agropecuária 0,25 0,17 0,00 0,85

Participação do setor Industrial 0,16 0,14 0,01 0,94

Desenvolvimento Municipal

IFDM (2009) 0,64 0,10 0,34 0,93

Primeira Variação do PIB

2007-2008 0,00 0,18 -0,69 7,13

2008-2009 -0,05 0,13 -0,67 3,15

Segunda Variação do PIB

2007-2008 -5,45 311,21 -21730,05 2.084,56

2008-2009 -3,58 44,82 -1.573,92 380,70

Performance Status

GR1 - Efeito Imediato 1,38 1,50 0,00 4,00

GR2 - Efeito Repercussão 1,52 1,50 0,00 4,00

Número de observações: 5.559