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ESPIRITISMO, TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

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Page 1: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

ESPIRITISMO,

TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

Page 2: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER
Page 3: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

ESPIRITISMO

TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

Richard Simonetti

Page 4: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

IBSN

Capa:

1ª Edição – OUTUBRO de 2004

10.000 exemplares

Copyright 2004 by

Centro Espírita Amor e Caridade

Bauru SP

Edição e Distribuição

CEAC-Editora

Rua 7 de Setembro, 8-56

FONE/FAX 014 3227 0618

CEP 17015-031 – Bauru SP

Page 5: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

O Espiritismo progrediu principalmente

depois que foi sendo mais bem compreendido na

sua essência íntima, depois que lhe perceberam

o alcance, porque tange a corda mais sensível

do Homem: a da sua felicidade, mesmo neste

Mundo.

Aí a causa da sua propagação, o segredo

da força que o fará triunfar.

Allan Kardec, em O Livro dos

Espíritos.

Mas o Consolador, o Espírito Santo, que o

Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas

as coisas e vos fará lembrar de tudo o que tenho

dito.

Jesus (João, 14:26)

Page 6: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

SUMÁRIO

Pinga-Fogo

O que é o Espiritismo

Novo Espiritualismo

Perenidade do Espiritismo

Allan Kardec

Centro Espírita

Contato com os Espíritos

Literatura Espírita

Deus

Morte

Espírito

Nascimento dos Espíritos

Reencarnação

Lei de Causa e Efeito

Ainda a Lei de Causa e Efeito

Céu

Inferno e Purgatório

Anjos

Demônios

Jesus

Moisés

Mediunidade

Vida Espiritual

Corpo Celeste

Sonhos

Ainda os Sonhos

Fatalidade

Transplante de órgãos

Ecologia

Eutanásia

Prática do Bem

Vícios

Page 7: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

Aborto

Pluralidade dos Mundos Habitados

Suicídio

Pena de Morte

Planejamento Familiar

Reino de Deus

Page 8: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

PINGA-FOGO

Há anos nos submetemos, no Centro Espírita Amor e

Caridade, em Bauru, a um pinga-fogo, realizado no início do

mês.

A expressão é originária de um programa da antiga TV

Tupi. Entrevistadores sagazes submetiam o convidado a uma

bateria de perguntas, geralmente impertinentes, autênticos

“pingos de fogo”.

Algo se evidencia, no desdobramento desse trabalho: as

pessoas que buscam o Centro Espírita, movidas por vários

propósitos, não têm a mínima noção do que é o Espiritismo.

Isso pode ser observado nas perguntas que formulam, tipo:

Espiritismo é religião?

Quem foi Allan Kardec?

Os espíritas aceitam Jesus?

É possível conversar com os mortos?

Quando eu morrer, reencontrarei meus familiares?

Onde ficam o Céu e o Inferno?

Como o Espiritismo vê os anjos e os demônios?

Por que dizem que o Espiritismo é obra do diabo?

O Espírito é criado no momento da concepção?

Page 9: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

O que é o carma?

Quando será o juízo final?

Longe de evocar o questionamento abrasivo dos

contestadores, revelam a simplicidade dos catecúmenos.

Fique tranquilo, prezado leitor. Não é nenhum palavrão.

Refiro-me ao título que davam, na primitiva comunidade cristã,

àqueles que faziam a iniciação evangélic).

Daí a ideia de escrever este livro, selecionando centenas de

indagações, classificando-as e respondendo-as em linguagem

prática e objetiva, que favoreça o entendimento de quem não

conhece a Doutrina.

É, portanto, modesto manual de iniciação espírita, que,

espero, venha a constituir-se em opção a ser sugerida por

livrarias e Centros Espíritas aos que estão chegando.

Que seja um convite à reflexão para quem já se instalou

no majestoso edifício doutrinário.

Atrevo-me, ainda, a imaginar que os companheiros que

fazem uso da palavra, nas reuniões no Centro Espírita,

encontrarão aqui subsídios para o desenvolvimento de temas

relevantes.

Será, também, uma opção para os que, contestando o

Espiritismo, estejam dispostos ao mínimo que a honestidade

recomenda: conhecer o objeto de suas críticas, superando a

condição de meros detratores, como costuma ocorrer.

Oportuno destacar que incluí assuntos de atualidade,

sempre evocados no pinga-fogo, como doação de órgãos,

ecologia, eutanásia, vícios, aborto, suicídio, pena de morte,

planejamento familiar…

Seja qual for a sua motivação, ficarei feliz, leitor amigo, se

você encontrar o que procura nestas páginas.

Que encontre, sobretudo, o estímulo ao contato mais

estreito com a revolucionária obra de Allan Kardec, onde

nenhum “pingo de fogo”, por mais candente, fica sem resposta.

Page 10: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

Bauru, dezembro de 2004

Page 11: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

O QUE É O ESPIRITISMO

1 – Como podemos definir o Espiritismo?

Trata-se de uma filosofia, com bases científicas e

consequências religiosas.

2 – O que é a filosofia espírita?

Partindo da ideia platônica de que filosofar é

procurar o sentido para a vida, podemos dizer que a

filosofia espírita é essa busca, a começar do contato com

o Mundo Espiritual. Quem mora “do outro lado”, tem

visão mais ampla sobre o assunto, sem as limitações

impostas pela armadura de carne, que inibe nossas

percepções.

3 - E o que nos dizem os que vivem “do outro lado”?

Dizem de onde viemos, o que fazemos na Terra e

para onde vamos, dentro de um continuum evolutivo

destinado a nos conduzir à perfeição. Nesse contexto,

explicam os porquês das desigualdades, nas condições

social, financeira, moral, cultural, intelectual e outras

mais que costumam fazer a perplexidade das pessoas,

levando-as a duvidar da justiça divina.

4 – E a ciência espírita?

Se a Doutrina propõe o contato com o Além, de

onde colhemos informações sobre a Vida, quem nos

garante que essas informações estão corretas, exprimem

a verdade? Aí entra a Ciência, em pesquisas sobre a

autenticidade dos fenômenos de intercâmbio.

5 – Como se faz essa pesquisa?

Page 12: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

Avaliando o trabalho de grandes médiuns, que

produzem fenômenos mediúnicos ostensivos, como a

materialização de Espíritos. Se vamos a uma reunião e

surge um familiar falecido; se ele se faz visível e tangível,

permitindo que o toquemos; se evoca fatos que

marcaram nossa convivência, com detalhes que ninguém

conhece, obviamente temos uma demonstração

inquestionável do intercâmbio com os mortos. Haverá,

talvez, alguma dúvida para quem ouve falar sobre o

assunto, mas é de inconfundível autenticidade para

quem passa pela experiência. Acontece com muitos

pesquisadores.

6 – Chico Xavier também participava dessa comprovação

científica?

O grande médium de Uberaba fez mais que isso:

encarnou o próprio aspecto científico da Doutrina

Espírita, porquanto, durante setenta e cinco anos de

profícuo labor mediúnico recebeu milhares de

mensagens assinadas por Espíritos desencarnados,

verdadeiras cartas do outro mundo. Os signatários

identificavam-se pela terminologia, as lembranças, os

nomes citados, as datas significativas, as circunstâncias

de sua morte… Isso tudo revelando a maneira de ser do

comunicante, inconfundível e impossível de ser imitado.

Como enuncia o velho aforismo, o estilo é o homem. Não

há outro modo de explicar o fenômeno Chico Xavier

senão admitindo que os mortos podem comunicar-se com

os vivos.

7 – E o aspecto religioso? Espiritismo é religião?

Se a Doutrina Espírita proclama a existência de

Deus; se defende a sobrevivência do Espírito; se adverte

quanto às consequências das ações humanas no plano

espiritual; se enfatiza a necessidade de reforma íntima;

se exalta o esforço do Bem, valores que nos aproximam

do Criador, é, sem dúvida, uma religião.

Page 13: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

8 – As religiões costumam ser absolutistas, proclamando-se

depositárias da verdade e da salvação. O que nos diz o

Espiritismo?

A verdade fundamental está toda contida no amai-

vos uns aos outros, recomendado por Jesus, o caminho

perfeito para nossa integração nos ritmos do Universo. À

medida que a vivenciarmos estaremos salvos das dores e

desajustes que fazem nossa infelicidade. É o que ensina a

Doutrina Espírita.

Page 14: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

NOVO ESPIRITUALISMO

1 – Espiritismo e espiritualismo têm o mesmo significado?

Não. Espiritualismo é a crença na existência e

sobrevivência do Espírito, o ser pensante. Por isso,

católicos, evangélicos, budistas, maometanos, enfim, os

religiosos em geral, são espiritualistas.

2 – E o espírita?

Também, pelo mesmo motivo. A diferença é que o

Espiritismo descortina o novo espiritualismo, uma

maneira avançada de apreciar a sobrevivência da alma.

3 – Qual seria a diferença entre as religiões espiritualistas e

esse “novo espiritualismo”?

Em se tratando da vida espiritual, elas são

especulativas. À falta de informações precisas, os

teólogos que formularam seus princípios imaginaram

como seria o Além. A Doutrina Espírita faz diferente:

alicerça seus princípios em informações colhidas no

contato com a dimensão extrafísica. Começa onde

terminam as religiões, desbravando o vasto continente

espiritual.

5 – A ideia seria separar a realidade da fantasia?

Exatamente. Se, tentando descobrir como vivem os

franceses, partirmos para a imaginação, resvalaremos

para a fantasia, com noções distanciadas da realidade.

Mais prático entrevistar alguns franceses, de várias

camadas sociais, a nos oferecerem a visão perfeita de

como é a vida na França.

Page 15: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

5 – Ainda que a ciência espírita garanta a autenticidade do

intercâmbio com o Além, como podemos ter certeza de que

as informações colhidas exprimem a realidade?

Pelo critério de universalidade. Se perguntarmos a

um francês sobre a vida na França, e ele mentir, seremos

confundidos. Mas, se perguntarmos a vários franceses,

isoladamente, cotejando as respostas, teremos a verdade.

O mesmo acontece no intercâmbio com o Além. Vários

Espíritos entrevistados, com o concurso de vários

médiuns, nos oferecem visão objetiva de como vivem.

6 – Exorcistas, nas religiões tradicionais, atribuem ao

demônio essas manifestações…

Trata-se de fantasia teológica. Seria superada com

facilidade se os exorcistas se dessem ao trabalho de

pesquisar, usando a metodologia espírita. Constatariam,

então, que são as almas dos mortos que se manifestam.

7 – Como podem os mortos entrar em contato com os vivos se

estão dormindo, num sono que se prolongará até o

chamado juízo final, quando retomarão seus corpos para o

retorno à vida?

Não é o que informam os mortos. O Espírito, o ser

pensante, não necessita do corpo para existir e exercitar

suas faculdades. A morte apenas o libera das limitações

físicas, restituindo-lhe a liberdade que perdera ao

reencarnar. E, porque não vive em compartimentos

estanques, pode comunicar-se com os homens.

8 – Se os princípios espíritas são tão claros e objetivos, com

essa ampla visão das realidades espirituais, por que as

pessoas têm dificuldade em aceitar?

A única dificuldade está na falta de disposição para

apreciá-los. Há preconceitos e condicionamentos

negativos, relacionados ao assunto. Qualquer pessoa que

estude o Espiritismo acabará por converter-se. A

Doutrina é racional e, sobretudo, consoladora. Que o

Page 16: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

digam aqueles que chegam ao Centro Espírita motivados

por situações aflitivas e dolorosas.

Page 17: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

PERENIDADE DO ESPIRITISMO

1 – Há quem diga que o Espiritismo existe desde o

aparecimento do Homem. É assim mesmo?

Podemos fazer tal afirmativa em relação aos

princípios espíritas, como a Reencarnação, a Lei de

Causa e Efeito, a Sintonia Mediúnica… São leis divinas

enunciadas pela Doutrina Espírita, de caráter

atemporal. Há noções a respeito delas em todas as

culturas e religiões.

2 – Quando surgiu a Doutrina Espírita?

Oficialmente, no dia 18 de abril de 1857, com o

lançamento de O Livro dos Espíritos, que resume os

princípios espíritas. Tudo o mais que se escreva sobre a

Doutrina será sempre desdobramento dessa obra maior.

Está para o Espiritismo assim como o Evangelho está

para o Cristianismo, o Alcorão para o Islamismo e a

Torá para o Judaísmo.

3 – Se os princípios espíritas estão em todas as culturas e

religiões, podemos dizer que estão presentes também no

Cristianismo?

Sem dúvida. Exemplo típico, a reencarnação. Em

inúmeras passagens, Jesus reporta-se a João Batista

como o profeta Elias de retorno à carne. No célebre

diálogo com Nicodemos, mostra como o Espírito

reencarna. Há a passagem sobre o cego de nascença. Os

discípulos lhe perguntam se ele tinha nascido cego por

ter pecado, a evidenciar que aceitavam a chamada

palingenesia, familiarizados a partir das informações de

Jesus.

Page 18: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

4 – A Lei de Causa e Efeito, o carma da filosofia hindu,

também está presente no Evangelho?

Sem dúvida. Quando Jesus proclama que a cada

um será dado segundo suas obras, evidencia o princípio

de ação e reação. Quando despede os beneficiários de

suas curas, alertando, vai e não peques mais para que te

não suceda pior, define a relação entre nossos males e as

faltas cometidas.

5 – E a mediunidade, na sintonia com os Espíritos?

Jesus cultivou o intercâmbio com o Além,

conversando com Espíritos perturbadores e afastando-

os de suas vítimas. Ele próprio esteve em contato com o

colégio apostólico, após o Drama do Calvário, em

aparições e materializações notáveis, que levantaram o

ânimo dos discípulos.

6 – Se Jesus mantinha o intercâmbio com o Além, por que não

se manifestam os Espíritos no seio de suas igrejas,

mostrando a realidade da vida espiritual, a fim de corrigir

seus equívocos?

Porque suas portas estão fechadas ao fenômeno

mediúnico, que consideram fruto de mentes perturbadas

ou obra do demônio. Não há nem mesmo interesse em

examinar o assunto.

7 – Agem na base do não provei e não gostei?

Sim, em atitude preconceituosa. Traz lamentáveis

prejuízos àqueles que a adotam. Há multidões de

Espíritos desencarnados a enfrentar sérias dificuldades

de adaptação à vida espiritual, por estarem imbuídos de

ideias fantasiosas sobre o Além.

8 – No futuro teremos sessões mediúnicas nas igrejas católicas

e templos protestantes?

Já acontecem, em reuniões do movimento

carismático, na igreja católica, e no pentecostal, das

Page 19: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

igrejas evangélicas. Mas, são realizadas sem a disciplina

e o conhecimento das técnicas de intercâmbio, conforme

a orientação espírita. Os participantes nem mesmo

percebem que estão lidando com as almas dos mortos.

Poderiam fazer bem melhor, se lessem O Livro dos

Médiuns, de Allan Kardec, esse esclarecedor tratado

sobre o intercâmbio com o Além.

Page 20: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

ALLAN KARDEC

1 – Quem foi o fundador da Doutrina Espírita?

O Espiritismo tem um codificador, não um

fundador. Nascido em Lyon, na França, em três de

outubro de 1804, Hyppolite Léon Denizard Rivail, que

ficaria conhecido pelo pseudônimo de Allan Kardec. Ele

foi uma espécie de secretário de sábias entidades com as

quais travava contato, servindo-se de vários médiuns, e

das quais colhia as informações que deram origem ao

Espiritismo. Daí dizer-se Doutrina dos Espíritos. Isso está

bem caracterizado no título da obra primeira, básica,

fundamental: O Livro dos Espíritos.

2 – O que fazia Hippolyte Léon antes da codificação da

Doutrina Espírita?

Foi destacado pedagogo francês. Publicou várias

obras versando sobre educação, gramática, aritmética e

outras disciplinas. Foi, sobretudo, um humanista,

interessado em assuntos relacionados com o bem-estar

do Homem e a definição dos porquês da existência.

3 – Por que o pseudônimo?

Para não confundir o professor com o codificador.

Allan Kardec era o seu nome numa encarnação remota,

quando foi druida, uma classe de sacerdotes celtas que

acumulavam as funções de educadores e juízes.

4 – Há registros históricos sobre os celtas?

Embora sejam precários, sabemos que a cultura

céltica floresceu na Europa antes do advento do

Cristianismo. Povo evoluído para os padrões da época.

Page 21: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

Admitia a Reencarnação e a Lei de Causa e Efeito,

princípios consagrados pela Doutrina Espírita. Faz

sentido saber que o Codificador veio de lá, revivendo

aquelas ideias num patamar mais elevado de

conhecimento, a partir do contato com os Espíritos.

5 – Podemos dizer, então, que Allan Kardec era um Espírito

milenar, dotado de grande cultura?

Basta analisar sua contribuição para constatar isso.

Seu primeiro contato com os Espíritos foi em 1855. Em

1857, passados apenas dois anos, lançava O Livro dos

Espíritos. Quem conhece essa obra básica não pode

deixar de admirar sua fulgurante inteligência e o

prodigioso trabalho que realizou, em tempo tão breve.

6 – Tendo em vista a grandeza e a extensão do trabalho que se

propusera realizar, atendendo à convocação da

espiritualidade, Kardec desencarnou cedo, aos sessenta e

cinco anos. Não teria sido conveniente uma moratória?

Ele realizou em catorze anos, de maio de 1855,

quando entrou em contato com o fenômeno mediúnico, a

março de 1869, quando desencarnou, um trabalho que

demandaria existência secular. Exercia múltiplas

funções, em atividades profissionais, publicação dos

livros da Codificação, a Revista Espírita, de

periodicidade mensal, palestras e vasta correspondência,

além da direção da Sociedade de Estudos Espíritas de

Paris, da qual era o fundador e presidente. Para tão

intenso brilho foi vela que queimou dos dois lados,

consumindo-se mais rápido.

7 – Nos círculos religiosos hostis ao Espiritismo circula a

ideia de que teria cometido suicídio. É verdade?

Trata-se de deslavada mentira. Evidencia o caráter

daqueles que a veiculam. Kardec faleceu de aneurisma

cerebral, em 31 de março de 1869, conforme registram

seu atestado de óbito e o testemunho de seus familiares,

amigos e companheiros de Doutrina.

Page 22: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

8 – Kardec tinha esposa e filhos?

Apenas esposa, Amélie Gabrielle Boudet Rivail,

também professora, com quem se casou em 1832. Foi

companheira dedicada, ligada também ao Espiritismo e

deu continuidade ao seu trabalho. Faleceu, em 1883, aos

87 anos. Foi sepultada no cemitério de Père Lachaise, em

Paris, ao lado do marido.

Page 23: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

O CENTRO ESPÍRITA

1 – O que é o Centro Espírita?

É o local onde as pessoas se congregam para tratar

de assuntos relacionados com a Doutrina Espírita.

2 – Por que “Centro”?

Como ocorre com frequência na língua portuguesa,

esse termo tem vários significados. Em se tratando de

Doutrina Espírita, podemos considerá-lo sinônimo de

sociedade, expressão mais adequada, que vem sendo

usada na denominação das instituições doutrinárias

espíritas.

3 – Como poderíamos definir as atividades do Centro

Espírita?

São várias, às quais as pessoas têm acesso à medida

que se integram. Num primeiro momento o Centro

Espírita tem sido para a maior parte dos que chegam um

hospital para tratamento de males do corpo e da alma.

4 – Quais os recursos mobilizados nesse “hospital”?

Há os passes magnéticos, as entrevistas fraternas,

os trabalhos de vibração, as reuniões de desobsessão…

Considere-se, entretanto, que esses recursos são de

superfície. Cuidam de efeitos decorrentes da visão que as

pessoas têm da vida e sua maneira de viver. Para que

tenham efeito duradouro devem os interessados buscar

um segundo estágio.

5 – Qual seria?

Page 24: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

A escola, onde frequentarão cursos de Espiritismo

para a visão objetiva dos porquês da existência e,

sobretudo, das origens de seus problemas de saúde. A

doença é sempre o espelho da alma, mostrando-nos que

algo não vai bem em nossas concepções de vida, em

nossa maneira de viver. O aprendizado espírita faculta-

nos esse entendimento.

6 – As pessoas buscam ajuda e aprendem que é preciso que

ajudem a si mesmas?

Isso é elementar em Espiritismo. Não existe um

destino pontuado, onde as coisas acontecem porque está

escrito. Vivemos num regime de causa e efeito em que

colhemos o que semeamos hoje, ontem, no ano passado,

em existências pretéritas… Se quisermos futuro

diferente devemos mudar nosso presente, buscando

comportamento compatível com a moral evangélica, que

resume os designíos divinos a nosso respeito.

7 – Hospital e escola. O que mais?

Num terceiro estágio, o Centro Espírita é

abençoada oficina de trabalho onde, pelo empenho de

servir, neutralizamos o grande mal de nossa

personalidade – o egoísmo. É a partir do comportamento

voltado para os interesses pessoais que resvalamos para

a inconsequência, a desonestidade, o vício, a

agressividade, e tudo o mais que nos compromete.

8 – E a comunhão com Deus? O Centro Espírita não funciona

também como um templo divino?

Templo é o Universo, a casa de Deus. Vivemos nela.

O Centro Espírita é a escola/oficina que nos permite,

com as iniciativas que sugere, um padrão vibratório

adequado à comunhão com o Pai Celeste. Esse programa

renovador está maravilhosamente definido por Léon

Denis, ao proclamar: Tende por templo o Universo; por

imagem, Deus; por lei, a Caridade; por altar, a

Consciência.

Page 25: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

CONTATO COM OS ESPÍRITOS

1 – Desde quando há o intercâmbio com o Além?

Desde o aparecimento do Homem. Está em todas as

culturas. No Velho Testamento, ressalta o contato de

Saul com o Espírito Samuel, na famosa consulta à

necromante de Endor.

2 – Necromante?

Era o nome que se dava às pessoas que

conversavam com os mortos. Usava-se também a

expressão pitonisa, mulher capaz de adivinhar o futuro.

3 – Ela adivinhou o futuro de Saul?

Mais exatamente, transmitiu a manifestação do

Espírito de Samuel, que informou a Saul que ele

morreria no dia seguinte, em batalha contra os filisteus.

4 – Então o Espiritismo não trouxe novidade nesse particular?

A novidade foi a disciplina desse intercâmbio,

estabelecendo normas para que seja cultivado de forma

produtiva, favorecendo melhor entendimento a respeito

da vida no Além e da relação que há entre o plano físico

e o espiritual.

5 – Que dizer da proibição de Moisés, a ameaçar com a pena

de morte quem evocasse os mortos?

Moisés ameaçou muita gente com a pena de morte,

até mesmo os que se atreviam a realizar qualquer tarefa

no sábado, iniciativa inconcebível nos dias atuais.

Legislou para o seu tempo, para as necessidades de sua

época. Nada tem a ver com os dias atuais.

Page 26: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

6 – Mas não era Deus quem o inspirava?

Dizer que Deus inspirava normas como cortar a

mão dos que roubacem ou condenar à morte por

apedrejamento a mulher adúltera, seria amesquinhar o

Criador. Moisés tinha o mau hábito de atribuir ao Todo-

Poderoso suas extravagâncias, a fim de que fossem

observadas.

7 – Por que Moisés proibiu o contato com os mortos?

Os judeus estavam viciados em consultar os

Espíritos, a pretexto de interesses pessoais. Ao invés de

coibir os abusos, Moisés encasquetou de suprimir o

intercâmbio. Foi um erro. Agiu como o pai que proíbe o

filho de comer porque ele se comporta mal à mesa. Seria

mais razoável ensinar-lhe boas maneiras.

8 – Ante a propagação das ideias espíritas, a teologia ortodoxa

acabará por reconhecer a possibilidade de contato com os

mortos?

Sem dúvida. Dia virá em que os teólogos

lamentarão o tempo perdido e a veemência com que

combateram esse intercâmbio. Se o exercitassem, seriam

menos especulativas, mais condizentes com a realidade.

as suas ideias a respeito da Vida Espiritual.

Page 27: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

LITERATURA ESPÍRITA

1 – Que livro poderíamos eleger para a iniciação espírita?

A obra básica do Espiritismo, fundamental para a

iniciação adequada, é O Livro dos Espíritos. Nele

encontramos a síntese filosófica, com as questões mais

importantes relacionadas com nossa gloriosa destinação

e como fazer para chegar lá mais depressa.

2 – É regra para todos os iniciantes?

É o ideal. Impossível aprender a ler sem conhecer o

alfabeto. Impossível o conhecimento razoável do

Espiritismo sem estudar essa obra monumental, o nosso

bê-á-bá espírita.

3 – E os demais livros escritos por Allan Kardec?

Todos eles são importantes, compondo o majestoso

edifício doutrinário, mas são complementares,

desdobramentos de O Livro dos Espíritos. A Gênese

aprofunda a primeira parte; O Livro dos Médiuns, a

segunda; O Evangelho segundo o Espiritismo, a terceira;

e O Céu e o Inferno, a quarta. Em conjunto constituem o

Pentateuco Espírita, as obras básicas do Espiritismo.

4 – Poderíamos definir os demais livros de Kardec como obras

menores?

Não há nada menor na literatura kardequiana.

Todos os seus livros são importantes e merecem o

interesse dos estudiosos. Vale destacar a Revista Espírita,

que ele publicou durante dez anos, compondo valioso

painel das repercussões da Doutrina em seu tempo. Há

ali vasto material para estudo, que o próprio

Codificador aproveitaria em seus livros.

Page 28: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

5 – Se a pessoa não está familiarizada com a leitura, ainda

assim deve começar por O Livro dos Espíritos?

Não seria recomendável. Kardec foi emérito

professor e pedagogo francês. Escreveu suas obras num

tempo em que Paris era a Cidade Luz, capital cultural do

Mundo, pelo brilho de seus intelectuais e artistas. Não

obstante o Codificador primar pela simplicidade, sua

literatura tem a marca do contexto em que estava

inserida.

6 – Há alternativas?

Sem dúvida. A literatura espírita é vastíssima.

Temos no Brasil dezenas de escritores e médiuns

psicógrafos, com milhares de livros editados, atendendo

a todos os gostos literários e a todos os graus de cultura.

7 – Nesse universo literário, como situar Francisco Cândido

Xavier?

Chico cumpriu duas funções, com seus

quatrocentos e tantos livros publicados. À maneira de

escritores contemporâneos de Kardec, suas obras

complementam a codificação. Mas foi mais longe,

situando-se como um médium revelador, com notícias

importantes sobre o Mundo Espiritual, com destaque

para a coleção André Luiz, médico desencarnado que

transmitiu livros notáveis por seu intermédio.

8 – André Luiz serve à iniciação espírita?

Não é recomendável. É preciso ter conhecimento

doutrinário para ler André Luiz, sob pena de julgarmos

fantasiosa sua contribuição. Para os iniciantes, teríamos

que atentar ao gosto e tendências literárias do leitor. Há

romances, contos, poesia, história, filosofia, ciência,

psicologia, mediunidade, Evangelho. Livrarias e

bibliotecas espíritas poderão orientar o leitor nesse

particular.

Page 29: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

DEUS

1 – Em O Livro dos Espíritos, Allan Kardec aborda como

tema inicial a existência de Deus. Alguma razão especial?

Deus é a ideia primeira, a base de nossas convicções

religiosas e de nossa orientação moral. Sem um Criador

com objetivos definidos para a Criação, sem uma meta a

alcançar, a Vida perde o sentido.

2 – A existência de Deus é princípio de fé, ideia religiosa. Não

compromete a racionalidade em que se situa o

Espiritismo?

O objetivo da Doutrina é dar à crença substância

de racionalidade, como bem exprime o próprio

Codificador na máxima: Fé verdadeira é aquela que pode

encarar a razão face a face, em todas as épocas. Kardec

instituiu o princípio da fé racional.

3 – Pesquisas constatam que perto de cem por cento dos

brasileiros acreditam em Deus, na sobrevivência da alma e

nas consequências das ações humanas. Essa crença

parece não repercutir em seu comportamento. Prevalecem

mentiras, traições, adultérios, corrupção, vícios, isso sem

falar dos que se dedicam ao crime. Como explicar essa

contradição?

A crença em Deus é superficial, distante para o

homem comum. A própria noção de que há uma justiça

divina, a premiar os bons e castigar os maus, não chega a

repercutir no comportamento dos religiosos.

4 – O Espiritismo consegue superar esse descompasso entre a

crença e a vivência?

Page 30: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

Sem dúvida. Num primeiro momento, a Doutrina

racionaliza a ideia de Deus, a partir da resposta do

mentor espiritual a Kardec, na questão número quatro:

podemos provar a existência de Deus considerando que

não há efeito sem causa. O Universo é um efeito

inteligente. Forçoso ter uma causa inteligente.

5 – E num segundo momento?

Mostra-nos de forma clara e objetiva como é a Vida

Espiritual e o que nos espera, se não atendermos à

ordem universal, disciplinando nosso comportamento.

6 – Parece não haver espaço entre os cientistas para a ideia de

um Criador. Concebem que o Universo construiu-se a si

mesmo, atendendo às leis que o regem.

Incrível que pessoas tão inteligentes desenvolvam

raciocínios tão simplistas! Se o Universo criou-se a si

mesmo, atendendo às leis que o regem, quem fez essas

leis, quem as sustenta, quem as faz funcionar? Como

dizia Tomaz de Aquino, se tudo é movimento na Vida

Universal, desde o verme que nas profundezas do solo o

fertiliza, aos mundos que se equilibram no espaço, é

imperioso conceber um motor que sustenta essa

movimentação. Por isso Voltaire, não obstante sua

irreverência proclamava: Se Deus não existisse seria

preciso inventá-lo.

7 – Como é Deus, sob o ponto de vista espírita?

O Deus mostrado pelo Espiritismo é o mesmo pai

generoso revelado por Jesus, que aponta caminhos,

acenando-nos com glorioso porvir.

8 – A tradição religiosa sugere um pai à moda de Moisés.

Misericordioso com aqueles que o obedecem, não vacila

em castigar com requintes de crueldade os desobedientes.

É assim para o Espiritismo?

Deus não castiga ninguém. O suposto castigo

divino, quando nos transviamos, é apenas a reação de

Page 31: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

nossa consciência. Fomos programados para o Bem.

Quando praticamos o mal é como se agredíssemos a nós

mesmos, habilitando-nos a sofrimentos regeneradores.

Page 32: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

MORTE

1 – Como o Espiritismo define a morte?

A palavra mais adequada é retorno. A morte é o

regresso à pátria, à morada espiritual, de onde viemos e

para onde iremos quando chegar a nossa hora.

2 – Se é tão simples assim, como um viajante que regressa ao

lar, por que as pessoas encaram com constrangimento a

perspectiva da própria morte ou a do familiar?

Há várias causas: o instinto de conservação; a

condição moral (gente comprometida com a indiferença

e a irresponsabilidade pressente que não será agradável

o retorno) e apego às situações transitórias. Sobretudo, a

ignorância; as pessoas temem o desconhecido.

3 – Com o espírita é diferente?

Sem dúvida. A Doutrina nos coloca em contato com

os Espíritos, não raro amigos e familiares

desencarnados. Então a morte perde aquela atmosfera

pesada, densa, escura, terrível. Prevalece a ideia do

retorno ao lar.

4 – Se há uma pátria espiritual, como situar a experiência

humana?

A Terra pode ser para nós um hospital, uma escola,

uma prisão, um albergue – depende de como vivemos, do

que pensamos, de como encaramos a existência. Em

última instância, ela atende à nossa evolução. As

limitações impostas pela carne, a inibir nossas

percepções espirituais, bem como aflições e dores

Page 33: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

decorrentes delas, atuam como lixas grossas, que

desbastam nossas imperfeições mais grosseiras.

5 – O que seria, fundamentalmente, a Terra?

Uma escola, sem dúvida, onde colhemos

experiências redentoras que nos fazem amadurecer,

aprendendo, com os rigores da Lei de Causa e Efeito, o

que devemos ou não fazer.

6 – A morte é igual para todos?

Biologicamente, sim. Haverá o momento em que,

por causas variadas, o coração deixará de bater.

Espiritualmente, depende de outros fatores. O principal

é o grau de comprometimento do morto com a vida

física. Pessoas apegadas às situações transitórias, às

voltas com vícios e paixões, ambições e interesses

materiais, enfrentarão dificuldades.

7 – Qual a alternativa?

O cultivo da virtude, a prática do Bem, o

alargamento dos horizontes culturais, o estudo dos

porquês da existência, e, sobretudo, a reforma moral…

São valores que, segundo Jesus, as traças não roem nem

os ladrões roubam. Estarão conosco na grande jornada,

compondo precioso capital a nos garantir hotel de cinco

estrelas na Espiritualidade.

8 – O tipo de morte tem alguma influência em nossa situação

futura?

Não importa tanto como saímos da Terra. O

importante é como chegaremos ao continente espiritual.

A pessoa pode morrer num acidente de trânsito e logo se

adaptar. Outra, que morra em avançada idade, após

doença de longo curso, terá problemas, se não cultiva

comportamento disciplinado, voltado para os valores do

bem e da verdade.

Page 34: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

ESPÍRITO

1 – Qual o significado da palavra Espírito?

Como costuma acontecer com boa parte dos

termos, na língua portuguesa, ela tem vários

significados: entidade sobrenatural, sopro criador de

Deus, princípio vital, pensamento, mente, inteligência,

tendência, fantasma, bebida alcoólica… Para o

Espiritismo, conforme está em O Livro dos Espíritos,

questão 76, são os seres inteligentes da Criação. Povoam o

Universo, fora do mundo material.

2 – Esse “fora do mundo material” significa que não estão na

Terra? Por que, então, são observados, com frequência

entre os homens?

Vivem numa dimensão espiritual que interpenetra

a nossa. Se morrêssemos neste momento, afastando-nos

do corpo, estaríamos de imediato nela, embora na crosta

terrestre, ao lado de nosso corpo. Imaginemos que

vivêssemos num mundo de duas dimensões, como ocorre

com as sombras. Se viéssemos para a terceira dimensão,

continuaríamos em contato com a segunda, observando-

a, mas não seríamos vistos por seus habitantes.

3 – Os Espíritos ficam sempre ao lado dos homens?

A dimensão espiritual, muito além do plano físico,

estende-se ao infinito. Permanecem na Terra, jungidos

aos homens, os Espíritos ainda presos às paixões e

seduções da vida material.

4 – Isso significa que à medida que o Espírito evolui, tende a

desligar-se dos laços afetivos da Terra?

Page 35: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

Ao contrário. Quanto mais evoluído é o Espírito,

mais se estreitam os laços de afetividade. Apenas tendem

a desaparecer os impulsos passionais, o amor egoístico

que pretende controle sobre o ser amado. Aqueles que

nos amam, nos acompanham, nos inspiram, nos ajudam,

sem nada impor ou violentar nossa vontade, a espera de

que nos ajustemos às Leis Divinas, para que o

reencontro no Plano Espiritual ocorra em bases de

vitória sobre as fragilidades humanas.

5 – Qual a diferença entre Alma e Espírito?

São sinônimos. Kardec estabelece distinção. Alma

seria o Espírito encarnado. Espírito seria a alma

desencarnada. No Brasil, não pegou. Aqui dizemos

Espírito encarnado e Espírito desencarnado.

6 – Qual o objetivo de Deus ao criar Espíritos?

Bboa pergunta para fazermos ao próprio Criador,

cujos desígnios são indevassáveis para a frágil

mentalidade humana.

7 – Deus cria o Espírito no momento da concepção, como

ensinam as religiões tradicionais?

Se, conforme a questão citada, os Espíritos povoam

o Universo, fora do mundo material, forçoso admitir que

já existiam antes de sua vinda à Terra. Sua criação não

pode ser vinculada à concepção.

8 – Isso significa que nossos filhos têm uma história anterior,

que desconhecemos?

Sim, todos nós. Não é novidade. No célebre diálogo

com Nicodemos, Jesus explica que o Espírito sopra onde

quer; não sabemos de onde vem, nem para onde vai. Se

surgisse a partir da concepção, saberíamos que fora

criado naquele momento, vindo de Deus.

Page 36: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

NASCIMENTO DOS ESPÍRITOS

1 – Como nascem os Espíritos?

Questões dessa natureza são inabordáveis para a

frágil inteligência humana. Não obstante, sabemos que o

Espírito não é criado num átimo, no momento da

concepção, como sugere a teologia ortodoxa.

2 – O ser humano nasce a partir da gestação no ventre

materno, que se estende por nove meses. E o Espírito?

Diríamos que há uma gestação no ventre da

Natureza, com prolongado estágio entre os seres

inferiores, sob orientação de técnicos da Espiritualidade

e estímulos do instinto.

3 – Isso significa que animais e vegetais têm Espírito?

Possuem um princípio espiritual. Ao perpassar de

longas eras ele cresce em complexidade, até atingir o

estágio que lhe permita exercitar a razão. Paralelamente,

conquista o livre arbítrio e passa a desdobrar suas

experiências evolutivas não mais sob o domínio dos

instintos, mas a partir de suas próprias iniciativas.

4 – Um rato, um cachorro, um inseto, uma ave, um peixe ou

qualquer vegetal, todos possuem um princípio espiritual

em evolução? E todos serão, um dia, Espíritos?

Exatamente. Não há vida sem a contraparte

espiritual. O princípio espiritual que a todos anima, será

Espírito, o ser pensante, um dia. Há unidade de vistas na

obra da Criação. Deus não admite privilégios. Estamos

todos a caminho de gloriosa destinação.

Page 37: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

5 – Isso explica por que há indivíduos que guardam um jeito

animalizado, agressivos como um leão, covardes como

uma hiena, venenosos como uma cobra… Estagiaram por

lá há pouco?

Comportamentos assim exprimem nossa natureza

ainda mais próxima da animalidade, distante da

angelitude. Todavia, não revelam vivência recente,

porquanto a transição do princípio espiritual, a alma dos

seres inferiores, para o ser pensante, não ocorre na

Terra, mas em outros planos do Infinito, demandando

largo tempo.

6 – Há escalonamento a ser observado pelo princípio

espiritual em evolução, entre espécies e raças, no reino

vegetal e animal? Arbusto, árvore, inseto, peixe, ave,

mamíferos…

A lógica nos diz que existe essa sequência. Não

sabemos como se opera e não deve abranger todas as

espécies e todas as raças, mesmo porque, no dinamismo

da evolução, surgem e desaparecem espécies ao longo de

milhões de anos.

7 – Se o princípio espiritual passa por vários estágios nos

reinos inferiores, isso significa que ele está submetido à

reencarnação?

Sim. O princípio espiritual desdobra experiências

reencarnatórias, conduzido pelo instinto, conquistando

estágios superiores, até atingir condições para

transformar-se num Espírito.

8 – Se o princípio espiritual que anima o cachorro é imortal e

irá para a Espiritualidade quando morrer seu corpo, isso

significa que poderemos reencontrar animais de estimação,

quando partirmos para o Além?

É possível, mas não frequente, já que, conforme

está em O Livro dos Espíritos, a alma dos animais

permanece pouco tempo na Espiritualidade. É logo

reconduzida à vida física.

Page 38: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER
Page 39: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

REENCARNAÇÃO

1 – O tema reencarnação é sempre evocado quando se fala em

Espiritismo. Trata-se de um dogma espírita?

A reencarnação não é simples princípio espírita,

nem dogma religioso. Como já comentamos, trata-se de

lei divina que orienta a evolução dos Espíritos. O

Espiritismo apenas a enuncia.

2 – Seria, então, tema de caráter científico?

Sem dúvida. Mais cedo ou mais tarde, a Ciência

comprovará que retornamos à carne muitas vezes, no

desdobramento de experiências necessárias à nossa

evolução.

3 – Se a reencarnação é lei divina, por que não foi adotada

pelas religiões?

Isso não é novidade. Princípios bem mais palpáveis,

sob o ponto de vista científico, como os movimentos de

rotação e translação da Terra foram rejeitados pelas

autoridades religiosas durante séculos. Galileu Galilei,

que acumulou provas matemáticas desses movimentos,

teve que se desdizer para não ser conduzido à fogueira,

porquanto os teólogos insistiam na tese delirante de que

a Terra seria imóvel e o centro do Universo.

4 – Qual a finalidade da reencarnação?

Promover nossa evolução. No estágio primário em

que nos encontramos, necessitamos das limitações

impostas pela carne. Elas agitam nossa alma ao mesmo

tempo em que nos habituam às disciplinas do trabalho.

Page 40: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

A simbologia bíblica, ganhar o pão de cada dia com o

suor do rosto, é bastante sugestiva.

5 – É possível comprovar a reencarnação com os recursos da

ciência?

Como não podemos levar a alma para o

laboratório, submetendo-a a testes variados, devemos

buscar essa comprovação nas experiências de vida, com

pessoas que recordam existências passadas; regressão de

memória por hipnose ou técnicas de relaxamento,

crianças geniais, marcas de nascença… No somatório,

fatos dessa natureza evidenciam a reencarnação.

6 – Nota-se que quem não está familiarizado com a

reencarnação tem dificuldade para conceber que possa ter

sido outra pessoa. Como explicar de forma objetiva e

clara?

Imaginemos ator desempenhando sucessivos papéis

– homem, mulher, velho, criança, europeu, asiático,

branco, negro, são, doente… Mudará de trajes e de

aparência, mas será sempre ele mesmo, transvestido.

Assim é o Espírito, que assume sucessivas

personalidades, mas é sempre a mesma individualidade.

7 – A questão crucial é o esquecimento. Por que não

lembramos das existências pregressas se somos sempre a

mesma individualidade?

O esquecimento funciona em nosso benefício, por

inúmeras razões. A principal é que se lembrássemos

haveria perturbadora sobreposição de experiências. Há

pessoas que vão parar em hospitais psiquiátricos por

lembrarem da existência passada, embaralhando duas

personalidades em sua cabeça. Imaginemos se isso

ocorresse em relação a incontáveis personalidades de

vidas anteriores…

8 – De que valem as experiências reencarnatórias, se não

guardamos lembrança delas?

Page 41: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

Guardamos seu substrato, a manifestar-se em

ideias, sentimentos, tendências e vocações. Ninguém

revela facilidade para determinada atividade por mera

influência genética. Tudo é fruto de experiências

passadas, inclusive no relacionamento afetivo e familiar.

Tendemos a reencontrar afetos e desafetos do pretérito,

a fim de consolidar afeições e desfazer aversões. Não

lembramos, mas experimentamos sentimentos fortes,

que transcendem o presente. Remontam a vivências

anteriores.

Page 42: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

LEI DE CAUSA E EFEITO

1 – Ouve-se sempre o espírita falar em débito cármico, quando

alguém passa por determinado sofrimento. O que é o

carma?

A expressão não é espírita. Está no Hinduísmo e no

Budismo. Define as consequências de nossas ações, boas

ou más, que geram reações que nos atingem na mesma

intensidade, nesta encarnação ou nas próximas.

2 – Mas é usada no Espiritismo...

É usada pelos espíritas. Não consta da Codificação.

Mais correto falar em ação e reação ou causa e efeito.

3 – Qual é a diferença?

A expressão carma costuma ter sentido passivo. A

pessoa deve sujeitar-se aos males que lhe são impostos,

sem reagir, para fazer jus a um futuro melhor. A partir

daí temos situações lamentáveis como o sistema de castas

que vige na Índia, a consagrar a discriminação,

principalmente dos párias, a casta inferior.

4 – O pária não está pagando dívidas?

Sendo a Terra planeta de provas e expiações,

habitada por Espíritos comprometidos com o egoísmo,

podemos dizer que todos estamos em prova ou expiação,

pobres e ricos, em qualquer segmento da sociedade. A

condição social pode ser apenas contingência, como

nascer numa favela, por falta de melhor localização.

Não é pela vontade de Deus que surgem as favelas e as

castas, mas pela incúria humana. Deus cria e sustenta a

Vida. A qualidade dela é obra do Homem.

Page 43: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

5 – Se não é cármica, essa situação pode ser modificada?

Sem dúvida! Ainda que se trate de medida

disciplinar relacionada com comprometimentos do

passado, é passível de ser amenizada a partir da

conscientização da sociedade e pelo esforço do pária em

favor de situação melhor, condizente com a dignidade

humana.

6 – Digamos que alguém tenha matado um desafeto, dando-

lhe um tiro no peito. Numa existência futura não deveria

morrer assim também, para resgate de sua dívida?

Isso apenas perpetuaria o mal, porquanto alguém

deveria fazê-lo, assumindo carma idêntico. Esse retorno

implacável, na mesma proporção, evoca a pena de talião,

o olho por olho, dente por dente, de Jeová, o sanguinário

deus mosaico, substituído pelo Deus de amor e

misericórdia, revelado por Jesus.

7 – E como fica o assassino?

Terá desajustes espirituais, decorrentes de seu ato

criminoso. Tenderão a refletir-se em seus estados físicos

e emocionais, na presente existência ou em futuras,

originando males que lhe ensinarão a superar a

agressividade. E será chamado ao compromisso de

reajustar-se com sua vítima, compensando-a pelo mal

que lhe fez.

8 – Todos estamos sujeitos a essas consequências?

Sim, mas o grau de comprometimento do criminoso

dependerá de sua capacidade em distinguir o bem do

mal, o certo do errado. Quanto maior o seu

discernimento, maior a responsabilidade.

Page 44: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

AINDA A LEI DE CAUSA E EFEITO

1 – Nossos sofrimentos estão sempre associados ao pagamento

de dívidas contraídas em vidas anteriores?

Estão mais relacionados com nosso estilo de vida no

presente: o que comemos, o que fazemos, como

pensamos… A gordura excessiva, que sobrecarrega o

organismo, é mera consequência de um regime

alimentar desregrado, sem nenhuma vinculação com

existências passadas.

2 – O indivíduo obeso sabe que está pagando pela indisciplina

na alimentação e pelo sedentarismo, o que o ajudará a

superá-los. Quando se trate de débitos de vidas anteriores,

não seria interessante ter consciência deles para suportar

melhor suas consequências e ter estímulo para não

incorrer nos mesmos enganos?

O esquecimento do passado, como já dissemos, é

altamente benéfico. Favorece abençoado recomeço, sem

as lembranças do pretérito, a fim de que superemos

paixões e fixações que determinaram nossos fracassos.

Nem por isso deixamos de aprender as lições da mestra

Dor. Por reflexo condicionado, o criminoso que mata

alguém, e sofre as consequências, incorporará o

sentimento de que a agressividade lhe é danosa.

3 – Como saber se nossos males têm sua origem em vidas

anteriores ou se são resultantes de nosso comportamento

na vida atual?

Os males cármicos são mais entranhados e, não

raro, nos acompanham pela vida toda. A perda de um

membro, a doença crônica, a esterilidade, a grave

Page 45: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

limitação física ou mental… Os resultantes dos maus

cuidados com nossa vida e nosso corpo desaparecem à

medida que nos tornamos mais disciplinados.

4 – É possível amenizar os rigores da Lei de Causa e Efeito?

Deus nos concede duas moedas para resgate de

nossas dívidas – a dor e o amor. Se não há amor,

aumenta a dor. Quanto mais amor, menos dor.

5 – Que amor é esse?

O amor fraterno preconizado por Jesus, que se

exprime em fazer ao próximo o bem que gostaríamos nos

fizessem. Ele cobre a multidão dos pecados, como dizia o

apóstolo Pedro em sua Primeira Epístola aos Coríntios

(4:8).

6 – Os sofrimentos e o exercício do amor promovem a

quitação de nossos débitos perante a Justiça Divina?

A quitação definitiva, que exprime a tranquilidade

de consciência, será alcançada com a reparação de

nossas faltas, compensando as vítimas pelos prejuízos

que lhes causamos.

7 – Se alguém mata seu próprio irmão para entrar na posse de

sua fortuna, como irá compensá-lo pelo mal que lhe fez?

Como se trata de alguém de seu círculo familiar,

poderá recebê-lo como filho, com o que estará lhe

restituindo a vida e os bens roubados. Ressalte-se que

estamos no terreno das possibilidades. Se a vítima for

um Espírito mais amadurecido, seguirá seus próprios

caminhos, sem necessidade do concurso daquele que o

agrediu. O ofensor também encontrará caminhos

alternativos, no esforço do Bem.

8 – As dificuldades de relacionamento no lar podem ter sua

origem na convivência de inimigos do passado, ligados

pela consangüinidade, visando a harmonização?

Page 46: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

Os problemas de relacionamento estão associados à

inferioridade humana. Deus não reúne desafetos do

passado no lar para se amassarem, mas para se amarem,

a partir do exercício das virtudes evangélicas. Perdão,

tolerância, caridade, paciência, são remédios infalíveis,

no presente, para neutralizar a animosidade do passado.

Page 47: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

CÉU

1 – Os antigos situavam a Terra como a parte central de céus

concêntricos que constituíam a Vida Eterna. Falava-se em

“sétimo céu” como o estágio mais alto. É mais ou menos

isso?

Embora as fantasias de que se revestiam suas

concepções teológicas, os antigos intuíam essa realidade,

hoje demonstrada pela Doutrina Espírita. Desdobra-se o

plano espiritual em vários planos, lembrando as

camadas de uma cebola.

2 – Onde fica o primeiro plano?

Na crosta. Aqui permanecem os Espíritos recém-

desencarnados ainda vinculados aos interesses humanos,

não raro inconscientes de sua nova situação, a se

imiscuírem em nossa existência.

3 – A crosta terrestre, como sabemos, está longe de ser um

céu, no sentido teológico. Está mais para inferno. E os

demais planos?

Nos livros da série Nosso Lar, psicografia de

Francisco Cândido Xavier, o Espírito André Luiz situa

as regiões adjacentes como regiões umbralinas, habitadas

por Espíritos atormentados, às voltas com desajustes e

sofrimentos decorrentes de seus desvios, durante a

jornada humana. Estagiam ali até que possam retornar

ao cadinho purificador da reencarnação.

4 – E os planos mais altos?

São habitados por Espíritos depurados, que já

superaram impulsos egoísticos que caracterizam a

Page 48: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

Humanidade, conscientes de suas responsabilidades

perante o Criador.

5 – Todos chegaremos aos estágios mais altos?

Chegaremos e os transcenderemos, rumo aos

mundos divinos, atendendo à dinâmica da evolução.

Situemos essa jornada como a escada que nos conduz à

perfeição. Vamos galgando novos degraus, subindo

sempre, à medida de nosso esforço e de nossas

experiências.

6 – Os antigos concebiam que as almas virtuosas viveriam em

contemplação eterna, no seio de Deus. Como é a

concepção espírita?

Diz Jesus (João, 5:17): Meu Pai trabalha desde

sempre, e eu também. O Mestre deixa claro que o

trabalho é lei universal. Inconcebível, cansativo, tedioso

e desajustante o perene não fazer nada. Trabalho para

Espíritos superiores é sinônimo de bem-aventurança.

7 – E no que consiste o trabalho dos Espíritos puros e

perfeitos, que atingiram o ápice da evolução?

Tornam-se prepostos de Deus, participantes da

obra divina, integrados nos ritmos da harmonia

universal. Lembrando, ainda, Jesus, diz ele, citando o

profeta Oseias (João, 10:34): Sois deuses.

8 – O Espírito puro e perfeito iguala-se a Deus?

Jamais. Deus é o Eterno, o Onipotente, o

Onisciente. Por mais cresçamos em conhecimento,

virtude e poderes, estaremos sempre nos domínios do

relativo, diante do Absoluto, criaturas, diante do

Criador.

Page 49: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

INFERNO E PURGATÓRIO

1 – O Espiritismo admite a existência do inferno?

Não como local geográfico. Trata-se de um estado

de consciência. Jesus dizia que o Reino de Deus está

dentro de nós. O inferno também. Depende do que

fazemos e pensamos. Não obstante, se reunirmos vários

Espíritos atormentados pela consequência de suas ações,

onde estiverem será o inferno.

2 – E quanto aos tormentos de fogo, as almas perenemente

devoradas pelas chamas, sem se consumirem?

Trata-se de interpretação ao pé da letra dos textos

evangélicos. Jesus referia-se ao fogo para representar os

sofrimentos morais das almas comprometidas com o

mal, ao retornarem à vida espiritual. Nos círculos mais

esclarecidos, em vários segmentos do Cristianismo, não

há nenhuma dúvida de que estamos diante de um

simbolismo.

3 – Os antigos situavam o inferno no interior da Terra. Há

Espíritos por lá?

Os mentores espirituais falam de regiões abismais,

habitadas por seres atormentados, em decorrência dos

crimes cometidos durante a existência. Suas penas,

entretanto, não têm caráter de perene. Ali permanecem

como doentes em tratamento de choque para que se lhes

desperte a consciência, habilitando-os à renovação.

4 – Seria o purgatório católico?

Sim. É a ideia mais compatível com a Doutrina

Espírita e com a Justiça Divina. A própria Terra,

Page 50: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

considerada planeta de provas e expiações, habitado por

Espíritos orientados pelo egoísmo, é um purgatório.

Aqui, dores e dissabores desbastam nossas imperfeições

mais grosseiras.

5 – Esses sofrimentos são impostos pela justiça divina?

São impostos por nossa própria consciência. Fomos

programados para o Bem. O exercício do mal é uma

agressão que fazemos a nós mesmos. A partir daí, onde

estivermos levaremos o nosso purgatório, até que nos

ajustemos às leis divinas.

6 – Funciona o arrependimento?

Na Terra ou no Além, o arrependimento, a

consciência dos males que praticamos, aquele cair em si,

da maravilhosa Parábola do Filho Pródigo, contada por

Jesus, é o primeiro passo para que o Espírito deixe o

purgatório.

7 – Por que o primeiro passo? Não é isso que Deus espera de

nós?

O arrependimento é abençoada mudança de rumo

em nossos descaminhos, mas há que se retornar à

estrada principal. Isso demanda esforço de renovação,

reparação dos prejuízos causados ao próximo. Ainda na

parábola, o exemplo perfeito. Após cair em si, o filho

pródigo teve longa jornada pela frente, no retorno à casa

paterna.

8 – Digamos que o Espírito em tormentos purgatoriais, caindo

em si, reconheça-se tão miserável, tão comprometido pelos

males praticados, que não se sinta merecedor da

misericórdia divina. Não estaria justificado o tormento

eterno, não por imposição de Deus, mas por imperativo de

sua própria consciência?

Seria a negação da Onipotência Divina. Deus, o

Senhor Supremo do Universo, que nos criou para a

perfeição, revelaria lamentável incompetência se não

Page 51: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

conseguisse demover um filho da louca ideia de

submeter-se a perene sofrimento, sem cogitar da própria

redenção. Ouvi, certa feita, culto sacerdote a admitir o

inferno irremissível como mera hipótese. Não acreditava

que alguém ficasse lá para sempre.

Page 52: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

ANJOS

1 – Existem seres angelicais?

Em termos. A Doutrina Espírita admite, assim

como o Islamismo, o Cristianismo e o Judaísmo, que os

anjos atuam como prepostos de Deus, intermediários

entre o Céu e a Terra. Todavia, não foram criados à

parte, com privilégios de que não desfrutam os homens.

2 – Que tipo de privilégios?

Não teriam passado pelas atribulações humanas.

Teriam nascido com a plenitude do conhecimento e das

potencialidades que fariam deles seres especiais.

Semelhante ideia constitui flagrante injustiça. Por que

eles e não nós? Não somos todos filhos de Deus? Não é o

Senhor a equidade perfeita, sem preferências, sem

eleitos?

3 – E o que nos diz o Espiritismo sobre os anjos?

São irmãos nossos, Espíritos como nós, em estágios

superiores de evolução. Ao longo dos milênios sem fim

aprimoraram suas potencialidades, superaram suas

imperfeições, harmonizaram-se com o Universo,

aprenderam a vivenciar as leis divinas.

4 – Se são Espíritos como nós, mas à nossa frente na jornada

evolutiva, podemos dizer que são mais velhos, mais

experientes?

Exatamente. Poderiam até estar bem longe nos

caminhos que levam à perfeição, antes que existíssemos.

5 – E o anjo da guarda?

Page 53: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

Mais perto de nós, na jornada evolutiva, pode ser

alguém ligado ao nosso coração, desde existências

pregressas, que se propõe a nos guiar, ajudando-nos a

superar dificuldades e limitações.

6 – Todos têm seu anjo da guarda? E aqueles que se

comprometem no vício e no crime?

Ninguém vive ao desamparo. Mesmo os piores

criminosos têm alguém que lamenta seus desvios e busca

reconduzi-los aos roteiros do Bem. O problema é que

seus tutelados comprometem-se de tal forma em

caminhos escusos que perdem a sintonia com eles.

7 – Nos momentos de dificuldade podemos apelar para nosso

anjo da guarda?

Sem dúvida. Se concentrarmos nosso pensamento

em oração, pedindo que nos ajude, estabeleceremos a

sintonia necessária, habilitando-nos a receber sua

orientação pelos condutos do pensamento. Ficaríamos

espantados se tivéssemos noção de quantas vezes

protetores espirituais se aproximam de nós, nos

momentos difíceis, buscando inspirar-nos a fazer o

melhor.

8 – Entidades angelicais, que atingiram altos estágios de

evolução, também encarnam na Terra?

Sim, e o fazem com frequência em gloriosas missões

em favor das coletividades terrestres ou para ajudar

entes queridos. No livro Renúncia, psicografia de

Francisco Cândido Xavier, temos a história de Alcione,

anjo que transitou, quase no anonimato, pelas lides

humanas, mas beneficiando todos aqueles que

gravitaram em torno de sua figura sublime. É um

romance maravilhoso e inesquecível.

Page 54: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

DEMÔNIOS

1 – O diabo existe?

Não como força a contrapor-se ao poder divino,

devotado ao mal eterno. É apenas um filho transviado de

Deus, sujeito a leis inexoráveis de evolução que o

reconduzirão, mais cedo ou mais tarde, aos caminhos do

Bem.

2 – Segundo as tradições religiosas, os demônios são anjos

que se rebelaram desde a criação do Mundo. São tão

resistentes à renovação que insistem, perenemente, no

exercício do mal…

Assim como na Terra, temos no Além os rebeldes

sem causa, orientados pela própria imaturidade, ainda

que, não raro, de atilada inteligência. Mas não são

impermeáveis à renovação. Mais cedo ou mais tarde,

todos acabam submetendo-se às Leis Divinas, que

objetivam conduzir-nos à perfeição. Para esse glorioso

destino fomos criados por Deus, que jamais falha em

seus objetivos.

3 – Dentre os meios usados pelo Criador para converter seres

demoníacos ao Bem, inclui-se a reencarnação?

Sem dúvida. Muitos deles transitam entre nós,

ainda dominados pela rebeldia e pela ambição de

domínio, destacando-se por iniciativas que geram a

conturbação e a desordem. Adolf Hitler, Joseph Stalin,

Saddam Hussein e Slobodan Milosevic são bons exemplos.

4 – Foi inútill a experiência reencarnatória, já que

conservaram suas tendências à dominação e à maldade?

Page 55: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

Deus não tem pressa, nem impõe sua vontade aos

filhos rebeldes. Deixa que aprendam, ao longo dos

séculos, à custa de dolorosas experiências, que o mal não

é opção inteligente na economia da Vida Eterna.

5 – O que dizer da afirmativa de que o demônio manifesta-se

no Centro Espírita?

A ignorância é sempre atrevida. Pior que ela só a

má-fé dos que têm algum conhecimento sobre o assunto

e insistem em confundir as pessoas ingênuas. Não raro,

depois de desencarnados, esses críticos manifestam-se

em nossas reuniões mediúnicas, convertidos em almas

penadas, a lamentar seus equívocos.

6 – O Espiritismo é contrário ao exorcismo?

O exorcismo parte do princípio de que estamos

lidando com representantes do mal, que devem ser

expulsos. A experiência em reuniões de intercâmbio com

o Além nos ensina que são irmãos nossos em estado de

desequilíbrio, necessitados de orientação, não de

exorcização.

7 – São sempre malévolos os propósitos de Espíritos

perturbadores?

Negativo. Não raro, lidamos com Espíritos

inconscientes de sua situação, que se aproximam de

familiares encarnados e lhes transmitem algo de suas

perplexidades, perturbando-os. Não há a intenção de

prejudicar. São como náufragos que se agarram a uma

tábua de salvação.

8 – Se são as almas dos mortos que se manifestam,

influenciando, como não o percebem aqueles que lidam

com elas, nas reuniões de exorcismo, em determinados

grupos religiosos?

Não percebem porque não se dão ao trabalho de

dialogar, procurando definir as motivações e

necessidades dessas entidades. Partem do pressuposto de

Page 56: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

que é o demônio e tratam logo de exorcizá-lo com

palavras de ordem. Lamentável!

Page 57: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

JESUS

1 – Quem é Jesus para o Espiritismo?

Allan Kardec define, na questão 625 de O Livro dos

Espíritos: Para o Homem, Jesus constitui o tipo da

perfeição moral a que a Humanidade pode aspirar na

Terra. Deus no-lo oferece como o mais perfeito modelo e

a doutrina que ensinou é a expressão mais pura da lei do

Senhor, porque, sendo ele o mais puro de quantos têm

aparecido na Terra, o Espírito Divino o animava. Está

claro: Jesus é o Mestre Maior.

2 – Jesus é Deus encarnado?

O Mestre referia-se a si mesmo como enviado,

servo de Deus. E usava, também, a expressão filho do

homem. Queria dizer que era um ser humano, um

Espírito encarnado, como todos nós.

3 – Por que, admitindo Jesus como a maior figura da

Humanidade, não está o Espiritismo ligado às religiões

cristãs?

É que não admitem possa o Espiritismo avançar

além das fantasias teológicas sobre o destino humano.

Considere-se, ainda, que todas são salvacionistas, situam-

se como portas de ingresso das almas às regiões

celestiais. A Doutrina Espírita derruba essa concepção,

explicando que nosso futuro espiritual depende de como

vivemos, não de nossa vinculação religiosa.

4 – Jesus aceitava o intercâmbio com o Além?

Não só aceitava como o exercitava. São inúmeras as

passagens em que conversa com os Espíritos, afastando

Page 58: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

entidades perturbadoras de suas vítimas. Fala-se em

demônios, em relação a elas, mas as traduções fiéis aos

textos originais registram Espíritos impuros, definindo

melhor o fato de que são irmãos nossos, agindo no Além

de conformidade com suas imperfeições. Jesus

evidenciou esse intercâmbio nas maravilhosas

materializações diante do colégio apostólico.

5 – Os princípios evangélicos estão presentes na Doutrina

Espírita?

Estão presentes em todas as obras básicas,

particularmente em O Evangelho segundo o Espiritismo.

Nesse livro Kardec estuda a moral cristã, sob orientação

dos Espíritos que o inspiravam.

6 – Apenas a moral?

Em outras obras o Codificador estuda aspectos

variados do apostolado de Jesus – os milagres, as

predições, as curas… Em O Evangelho segundo o

Espiritismo privilegia o aspecto moral, por entender que

é o mais importante, em relação ao qual não há

controvérsias entre as religiões.

7 – Por exemplo?

Quando Jesus diz que o amor a Deus acima de

todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos resume

toda a revelação do Velho Testamento, está nos

ensinando o fundamental. Quando as religiões se unirem

em torno do amor, que se exprime em fazer ao próximo

o bem que gostaríamos nos fosse feito, estaremos às

portas do Reino de Deus.

8 – Se o amor sintetiza a revelação de Jesus, o que sintetiza o

Espiritismo?

O dever. A Doutrina evidencia ser indispensável

cultivar o amor, ao revelar as consequências das ações

humanas na Espiritualidade. Dores e amarguras

aguardam quem não estiver disposto a exercitar a

Page 59: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

solidariedade, que é o amor atuante e empreendedor,

preconizado por Jesus.

Page 60: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

MOISÉS

1 – Nas igrejas cristãs, em especial as chamadas pentecostais,

valoriza-se o estudo do Velho Testamento, colocado em pé

de igualdade com a trajetória de Jesus. Isso não acontece

no Espiritismo. Por quê?

O Velho Testamento é a história do povo judeu,

sem maior relevância como fundamento religioso. O

deus ali apresentado é um tirano sanguinário, que

orientava os judeus a passarem a fio de espada, em terra

inimiga, tudo o que tivesse fôlego, homens e mulheres,

velhos e crianças, sãos e doentes, animais, aves, peixes…

Bem diferente do Pai de infinito amor e misericórdia

revelado por Jesus.

2 – Não está ali “a palavra de Deus”, conforme se apregoa?

Deus não escreve livros. Os textos do Velho

Testamento englobam a tradição oral, histórias e

ensinamentos que se fixaram na memória popular ao

longo dos séculos, antes de serem organizados nos livros

que os contêm.

3 – Como situar Moisés nesse contexto?

Foi um missionário. Veio consolidar o monoteísmo,

a crença num único deus, base necessária, a fim de que a

Humanidade recebesse a primeira revelação divina: a

Justiça.

4 – Sabemos que Moisés foi um grande legislador. Há

centenas de orientações atribuídas a ele, nos livros Êxodo,

Levítico, Números e Deuteronômio. Temos nelas a

revelação da justiça?

Page 61: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

É preciso distinguir a legislação transitória, por ele

instituída, que servia à sua época e ao seu povo, da

orientação de caráter universal e perene, contida na

Tábua dos Dez Mandamentos, que recebeu, por via

mediúnica, no Monte Sinai.

5 – Por que a revelação da justiça, se já no primeiro

mandamento há grande injustiça, quando Deus diz que se

vinga até a quarta geração daqueles que o aborrecem?

Semelhante expressão deve ser debitada à

preocupação de Moisés quanto à observância daquelas

orientações. Um pouco de medo estimularia o povo a

cumprir os mandamentos.

6 – E quanto aos demais?

Em alguns temos também o dedo de Moisés. Ele se

situou como o médium que põe algo dele mesmo no

intercâmbio. No terceiro mandamento há preocupação

excessiva com o descanso no sábado, num texto

demasiado longo; o quarto passa a equivocada ideia de

que quem não honrar pai e mãe viverá pouco.

7 – Eliminados esses equívocos, como sintetizaríamos a Tábua

dos Dez Mandamentos?

É a revelação do que não devemos fazer. Não usar o

nome de Deus em vão, não matar, não roubar, não trair,

não mentir, não cobiçar, não cometer adultério… Os

nossos direitos terminam onde começam os direitos do

próximo.

8 – Se esses princípios fossem observados eliminaríamos o mal

na Terra. Não obstante, o que se verifica é o contrário. Por

quê?

A Humanidade ainda engatinha na observância da

justiça. Crescemos intelectualmente. Moralmente,

permanecemos subdesenvolvidos, não obstante os quase

três mil anos da revelação mosaica.

Page 62: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

MEDIUNIDADE

1 – O que significa o termo mediunidade?

Vem de médium, do latim medius, o que está no

meio ou intermediário. Na terminologia espírita,

possuem mediunidade as pessoas capazes de favorecer

fenômenos de contato com os Espíritos.

2 – Todas as pessoas possuem mediunidade?

Sim, todas as pessoas podem sofrer a influência dos

Espíritos, mas nem todas possuem essa faculdade

suficientemente apurada para transmitir seus

pensamentos.

3 – Seria uma condição orgânica?

Costuma-se dizer que os Espíritos comunicam-se

pelo pensamento. Quando encarnados, o corpo físico

situa-se como armadura a inibir suas percepções,

dificultando o contato com os desencarnados. No

médium há condição orgânica especial, ainda não

detectada pela ciência humana, que o ajuda a superar as

limitações impostas pela carne.

4 – Nota-se que as pessoas dotadas dessa sensibilidade

enfrentam, em princípio, perturbações variadas, de ordem

mental e física. Isso é normal?

Se fôssemos todos surdos congênitos, alguém que

começasse a ouvir ficaria, em princípio, perturbado por

algo desconhecido, a agitar seus ouvidos e sua mente,

com extrema dificuldade para definir sons e palavras.

Page 63: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

5 – O que pode acontecer com pessoas que experimentam

esses fenômenos, sem a mínima noção a respeito do

assunto?

Tendem a procurar tratamento médico, sem

resultado, já que mediunidade não é doença. Trata-se de

da sensibilidade exacerbada que as faz confundir

influências espirituais com problemas físicos e mentais.

6 – Um exemplo…

Digamos que se aproxime do médium o Espírito de

familiar que faleceu vitimado por câncer no estômago.

Ele começará a sentir dores na mesma região, o que lhe

trará grandes preocupações. O médico nada descobrirá

e nenhum tratamento surtirá efeito, até que o Espírito

seja esclarecido e afastado.

7 – Isso pode ser feito no Centro Espírita?

É onde mobilizamos os melhores recursos, com

pleno entendimento do processo mediúnico e a

orientação adequada.

8 – E se a pessoa não é espírita e não quer procurar o

Espiritismo?

Se impossibilitados de levar alguém que fraturou a

perna ao centro médico especializado em ortopedia,

podemos quebrar o galho num ambulatório. O mesmo

ocorre em relação aos problemas espirituais. A Doutrina

Espírita vem numa vanguarda de esclarecimento e

ajuda, quanto aos problemas gerados pela influência dos

Espíritos. Se não há possibilidade ou interesse em

procurar o Centro Espírita, que o paciente busque

auxílio em sua igreja.

Page 64: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

VIDA ESPIRITUAL

1 – Os relatos da Doutrina Espírita sobre a vida além-túmulo

passam a ideia de existência semelhante à Terra, com

cidades, construções, veículos, escolas, hospitais… Não

são meras fantasias?

Quem assim pensa deve informar como imagina a

Vida Espiritual. Seria diferente da Terra, sem formas,

sem nada disso? Podemos conceber que a paisagem é

diferente, mas não podemos afirmar que inexistam

paisagens.

2 – Um mundo de formas sugere a existência de matéria. A

dimensão espiritual também é feita de matéria?

Os cientistas admitem hoje a existência de

universos paralelos, em múltiplas dimensões.

Obviamente, são feitos de matéria também, em outra

faixa de vibração, inacessíveis aos sentidos humanos. O

chamado mundo espiritual ocupa uma dessas dimensões.

3 – Admitidas essas ideias, podemos conceber a existência de

cidades no Além?

Sim, com grande diferença: na Espiritualidade os

Espíritos se congregam por afinidade. Cidades como

Nosso Lar, descrita por André Luiz, no livro homônimo,

psicografia de Francisco Cândido Xavier, são habitadas

por Espíritos já conscientes de suas responsabilidades,

empenhados em cumprir as leis divinas.

4 – As cidades da Terra têm governante eleito pelo voto. Ele

forma o secretariado com pessoas ligadas ao seu partido

Page 65: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

ou de acordo com suas conveniências. Isso também

acontece no plano espiritual?

As cidades espirituais do tipo Nosso Lar têm o

modelo que lembra os antigos ideais de um governo

aristocrático, no bom sentido, uma sociedade dirigida

pelos mais experientes e sábios.

5 – São eleitos pela população?

Não há eleições. Os governantes são nomeados por

instâncias superiores da Espiritualidade, como um

prefeito que fosse escolhido pelo governador ou um

governador empossado pela Presidência da República.

6 – Esse critério lembra as ditaduras, em que governantes são

impostos ao povo, atendendo às conveniências dos

ditadores. Isso não poderia acontecer nas cidades

espirituais?

Não, porque as nomeações obedecem ao critério do

mérito. São indicados os mais sábios e experientes, sem

favorecimentos, sem interesses pessoais, lembrando o

ensinamento evangélico: serão escolhidos os que mais

estiverem dispostos a servir.

7 – Os Espíritos mais atrasados também vivem em cidades?

Congregam-se em agrupamentos transitórios que

podem ser tomados à conta de favelas espirituais. Para

ali são atraídos Espíritos que guardam afinidade com

aquele ambiente.

8 – Também têm governantes?

Sim, na base do mais forte e astuto, semelhante aos

regimes tribais da Terra. Inteligências refinadas, mas

moralmente subdesenvolvidas, que lembram a figura

mitológica do demônio, exercem ali um domínio

transitório. Isso porque estão todos submetidos a leis

inexoráveis de evolução que, mais cedo ou mais tarde,

modificarão as disposições de governantes e governados,

convocando-os a experiências redentoras na carne.

Page 66: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER
Page 67: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

CORPO CELESTE

1 – Se o Espírito movimenta-se e interage no Mundo

Espiritual de matéria sutil, podemos dizer que também é

feito de matéria?

Na questão 88, de O Livro dos Espíritos, está

registrado que o Espírito pode ser representado por uma

chama. Não temos informações sobre a sua constituição,

mas sabemos que se reveste de matéria etérea, veículo de

sua ação no plano onde atua.

2 – Seria um corpo espiritual?

Sim, e não é novidade. Em todas as culturas temos

referências a respeito. No budismo esotérico era

chamado de kama-rupa; Pitágoras fala em carne sutil da

alma; Leibnitz, corpo fluídico; era o corpo astral para

hermetistas e alquimistas. Kardec o chama de perispírito

(em torno do Espírito).

3 – Há alguma referência nos textos evangélicos?

Na Primeira Epístola aos Coríntios, o apóstolo Paulo

fala de um corpo celeste, com o qual o Espírito transita

no plano espiritual. Mesmo durante a vida física isso

seria possível, durante o sono. É o que dá a entender na

Segunda Epístola aos Coríntios, 12:2: Conheço um

homem em Cristo que há quatorze anos foi arrebatado até

o terceiro céu. Se no corpo, não se;, se fora do corpo, não

sei; Deus o sabe.

4 – Não diz quem foi?

Segundo Emmanuel, no livro Paulo e Estêvão,

psicografia de Francisco Cândido Xavier, seria o próprio

Page 68: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

Paulo, que se sentiu transportado ao Além, onde se

avistou com sua noiva desencarnada, Abigail. Encontro

emocionante de influência decisiva em seu futuro.

5 – A ortodoxia religiosa baseia-se nas afirmações de Paulo

para informar que o corpo celeste seria o próprio corpo

físico, ressuscitado no juízo final e revestido de

imortalidade…

É a fantasia que poderia atender às necessidades do

passado, mas não atende à racionalidade do presente. O

próprio Paulo afirma na Primeira Epístola aos Coríntios:

Nem toda a carne é a mesma: uma é a carne dos homens,

e outra a dos animais, outra a das aves e outra a dos

peixes. E há corpos celestes e corpos terrestres. Fica

evidente que o corpo celeste não é a carne restaurada e

imortalizada.

6 – O que acontece com o perispírito quando o Espírito

reencarna?

Funciona como elo, intermediário entre o Espírito,

o ser pensante, e a carne. Por isso se diz, sob o ponto de

vista doutrinário, que o Homem é constituído de três

partes: Espírito, perispírito e corpo físico.

7 – O perispírito exerce alguma influência na formação do

corpo?

O perispírito é o chamado organizador biológico,

espécie de fôrma que modela a vestidura carnal, segundo

as necessidades e programas do Espírito, ao encarnar,

em consonância com as leis da genética, que determinam

detalhes como a estrutura física, a cor dos olhos e da

pele…

8 – Um exemplo:

Um Espírito comprometido com a violência terá

impresso em seu corpo espiritual desajuste

correspondente aos seus crimes. Ao reencarnar poderá

ter problemas neurológicos que lhe afetarão a

Page 69: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

mobilidade dos braços, de forma a conter a tendência de

resolver suas pendências na base do bato e arrebento.

Page 70: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

SONHOS

1 – Há quem diga que durante o sono temos contato com o

mundo espiritual. É possível?

Essa é a realidade demonstrada pela Doutrina

Espírita. Quando dormimos, podemos transitar pelo

Além. Por isso costuma-se dizer que o sono é o mergulho

na eternidade.

2 – Os sonhos são lembranças de nossas atividades no plano

espiritual, durante o sono?

Nem sempre. Diríamos que há três tipos de sonhos:

fisiológicos, psicológicos e espirituais, definindo situações

diferentes vivenciadas durante o repouso noturno.

3 – O que é o sonho fisiológico?

É aquele que dramatiza o que acontece com nosso

corpo. Se está frio e nos descobrimos, sono pesado, sem

despertar, poderemos nos ver num campo de neve,

tiritando. Pessoas com incontinência urinária sonham

que estão satisfazendo essa necessidade fisiológica,

enquanto molham a cama. Adolescentes sonham que

estão mantendo relação sexual quando experimentam

poluções noturnas, naturais em sua idade.

4 – O que é o sonho psicológico?

É aquele que exprime nossos estados íntimos. Nos

velhos tempos, quando não havia os recursos da

informática, eu passava dias e dias procurando

diferenças nas fichas gráficas de contas correntes, no

Banco do Brasil, onde trabalhava. À noite sempre me

via, durante o sono, na agência, repetindo intermináveis

Page 71: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

verificações. Era a dramatização de meu envolvimento

com aquele problema.

5 – E o sonho espiritual?

É o resíduo de uma atividade desenvolvida pelo

Espírito, afastado do corpo durante o sono. Kardec

denomina essa situação como emancipação da alma.

6 – Como podemos saber se um sonho exprime atividade

espiritual ou se trata de simples dramatização de situações

fisiológicas ou psicológicas?

Os sonhos de caráter fisiológico ou psicológico são

fugidios, mal delineados. Os sonhos espirituais são mais

nítidos, mais claros. Guardamos melhor. E um detalhe:

geralmente são coloridos, o que não costuma ocorrer

com as demais formas, que se apresentam em branco e

preto.

7 – Há sonhos repetitivos. A pessoa se vê sempre na mesma

situação, não raro dramática. Está se afogando, ou

envolvida num incêndio, ou sofrendo um acidente. Tem a

ver com o mundo espiritual?

Chamam-se recorrentes os sonhos repetitivos.

Geralmente reportam-se a experiência dramática, em

passado próximo, na vida atual, ou remoto, em vidas

anteriores. Esses registros, sepultados no inconsciente,

podem aflorar na forma de sonhos, principalmente

quando passamos por alguma tensão ou preocupação

exacerbada.

8 – Freud concebia que, interpretando os sonhos de seus

pacientes, poderia ajudá-los a vencer traumas e desajustes.

É possível?

Freud estava no caminho certo. Faltou-lhe a crença

na imortalidade e na reencarnação para perceber que

sonhos perturbadores podem ter origem em influências

espirituais ou em reminiscências de vidas anteriores.

Page 72: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

AINDA OS SONHOS

1 – Existem sonhos proféticos, em que a pessoa tem visões de

acontecimentos futuros?

A experiência o demonstra. A Bíblia é repositório

de fatos dessa natureza. Destaque especial para os

sonhos do faraó, interpretados por José, filho de Jacó,

sobre anos de fartura e de escassez que se aproximavam.

2 – Os sonhos do faraó falavam de sete vacas gordas e sete

vacas magras, imagem nebulosa. É assim mesmo?

Sonhos proféticos exprimem, geralmente,

intervenção de mentores espirituais. Eles não falam de

forma simbólica, mas a pessoa registra como simbolismo,

diante da dificuldade em fazer a transposição da

experiência extracorpórea para o cérebro físico.

3 – Por que isso acontece?

Nosso cérebro tem registro objetivo apenas para

experiências que passam pelos cinco sentidos – tato,

paladar, olfato, visão e audição. Essa é uma das razões

pelas quais não lembramos das existências anteriores. Ao

reencarnar, ficamos na dependência de um cérebro zero-

quilômetro, sem registros do pretérito. Guarda

semelhança com o que ocorre em relação ao nosso

trânsito no plano espiritual, durante o sono.

4 – É sempre assim?

Há exceções, pessoas dotadas de mediunidade

especial, chamada onirofania, que permite o registro

objetivo das experiências vividas no mundo espiritual

durante as horas de sono. Exemplos típicos são os sonhos

Page 73: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

de José, pai de Jesus, que, em inúmeras oportunidades,

foi orientado durante o sono por Gabriel, mentor

espiritual de elevada hierarquia que o acompanhava.

5 – Pode não se cumprir um sonho profético?

Sim, mesmo porque, não raro, sonhos

premonitórios apenas exprimem uma fantasia

relacionada com nossas preocupações. O familiar viaja.

Apreensivos, sonhamos com um acidente.

6 – Quando ocorre legítimo sonho premonitório, fatalmente

se concretizará?

Não, necessariamente. A premonição pode apenas

exprimir o aviso da Espiritualidade para que sejamos

cuidadosos. É como se nossos mentores avisassem: “Há

problemas na estrada. Seja prudente! Vá com cuidado!”

Lembro, ainda José. Se ele não seguisse as orientações de

Gabriel, a história de Jesus ficaria limitada a alguns

dias.

7 – Há premonições que não são meros avisos, mas a

antecipação do que ocorrerá?

Sim, sinalizando situações difíceis, doenças,

problemas e até a morte. A literatura psíquica é pródiga

em exemplos dessa natureza. O presidente Lincoln

sonhou que acordava em plena noite e, dirigindo-se para

o salão principal da Casa Branca, surpreendeu-se com

um velório. Perguntou a um soldado quem era o morto.

Respondeu-lhe tratar-se do presidente, que fora

assassinado. Comparecendo a um teatro, naquele mesmo

dia, Lincoln foi morto num atentado.

8 – Há pessoas que têm horror a esses sonhos, situando-os “de

mau agouro”. Afinal, constituem um bem ou um mal?

Vêm para o bem, a fim de que a pessoa haja com

prudência no que possa ser evitado, ou se prepare para o

inevitável, com a convicção, neste caso, de que não terá

sido fruto de circunstâncias fortuitas.

Page 74: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER
Page 75: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

FATALIDADE

1 – Os construtores do navio Titanic apregoavam: “Nem

Deus afundará nosso navio”. Deus castigou?

O despótico Jeová da tradição mosaica, que se

vinga até a quarta geração daqueles que o aborrecem,

como está no texto bíblico, é mera fantasia. Somente um

Deus antropomórfico, a refletir as fraquezas humanas,

promoveria aquela tragédia para castigar alguns

presunçosos.

2 – Se não foi Deus, quem afundou o grande navio?

Em primeiro lugar, a desonestidade. Recentes

pesquisas revelam que o aço empregado na construção

daquele gigante dos mares era quebradiço e poroso, de

qualidade inferior. Jamais poderia ser usado em

embarcação de tal porte. Deu mais lucro para os

construtores, mas irreparável prejuízo de vidas

humanas, vitimando mil, quinhentas e treze pessoas.

3 – E o que mais?

A imprudência e a incompetência. Havia a intenção

de bater o recorde de tempo na travessia do Atlântico. O

navio seguia a pleno vapor, uma temeridade num mar

gelado, minado de icebergs. Por outro lado, a desastrada

manobra do timoneiro que jogou seu frágil costado no

gigante de gelo.

4 – Não poderíamos debitar a tragédia à fatalidade?

A morte é uma fatalidade – todos morreremos! Mas

não há dia certo para morrer. Depende das

contingências geradas pelas ações humanas. Tragédias

Page 76: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

como a do Titanic seriam evitadas se os homens agissem

sempre orientados pela prudência, à distância das

ambições e paixões que costumam inspirá-los.

5 – As pessoas que morreram no naufrágio do Titanic não

estavam pagando dívidas?

Se alguém, pela sua índole e pelos crimes que

cometeu, é remetido à prisão para condenados de alta

periculosidade, poderá ser assassinado, seviciado,

agredido, sem que isso faça parte de sua pena. O

egoísmo, motivação maior do espírito humano, nos

sujeita a residir num planeta de provas e expiações, onde

inúmeros males podem nos atingir, sem que façam parte

de nosso destino. Nós os merecemos, pelo simples fato de

estarmos aqui.

6 – Então aquelas mortes não estavam “escritas”, conforme o

maktub da tradição oriental?

Sabe-se que a maioria dos que morreram estava na

terceira classe, destinada aos passageiros de baixa renda.

Não havia barcos salva-vidas para eles. Só o mais

retrógrado e fantasioso preconceito poderá imaginar

entre os pobres a quantidade maior de pecadores,

cumprindo suposto carma. Foram vitimados pela

lamentável discriminação. Deus nos dá o dom de viver.

As condições de vida e as contingências da morte, nós as

fazemos.

7 – E como fica a ideia de que “não cai folha de uma árvore

sem ser pela vontade de Deus”, conforme ensina Jesus?

É preciso entender essa vontade como

consentimento. Não posso imaginar assassinatos e

estupros, genocídios e atrocidades cometidos pela

vontade de Deus. O Senhor da Vida consente,

permitindo-nos exercitar o livre-arbítrio, mas

responderemos por nossas ações, sempre que levarem

prejuízo ao semelhante.

Page 77: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

8 – Isso significa que no futuro, numa Humanidade

disciplinada e moralizada, tragédias como a do Titanic não

acontecerão?

Positivo. Observemos que nos últimos anos houve

redução no número de mortes nas estradas brasileiras.

Haverá menos problemas cármicos hoje? Negativo! Esse

resultado é fruto do novo código de trânsito. Mais

rigoroso, impõe multas pesadas e sanções severas aos

infratores, disciplinando o comportamento dos

motoristas.

Page 78: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS

1 – Qual o ponto de vista espírita sobre transplante?

Ponto de vista espírita seria o que está na

Codificação, a obra de Allan Kardec. Como ele não

abordou o assunto, podemos ter a opinião dos espíritas. A

minha é favorável.

2 – A retirada de seus órgãos não poderá ocasionar problemas

para o Espírito?

A situação do Espírito, no trânsito para o Além,

depende dele próprio, de seus patrimônios morais e

culturais, não das circunstâncias de sua morte.

3 – O paciente cujos órgãos foram aproveitados para

transplante não terá repercussões em seu perispírito? Se

lhe tiraram os olhos, não poderá, por exemplo,

experimentar a cegueira no plano espiritual?

Se assim fosse, como ficaria alguém cujo corpo foi

desintegrado numa explosão? Nosso perispírito é afetado

pelo que fazemos, não pelo que fazem ao nosso corpo.

4 – Sendo indispensável retirar o órgão ainda vivo, a fim de

viabilizar o transplante, a Medicina adotou o conceito de

morte cerebral. O paciente é declarado morto, embora o

coração ainda esteja funcionando. Isso não é eutanásia?

Há apenas vida vegetativa, a morte em vida

sustentada por aparelhos. Quando forem desligados, ou

mesmo antes disso, o paciente não tardará em exalar o

último suspiro.

Page 79: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

5 – Alguns dias ou horas a mais no corpo não o preparariam

melhor para o desencarne?

Talvez, dependendo das pessoas ao redor. Às vezes

os familiares cercam o paciente em tal onda de desespero

e inconformação que lhe impõem mais atribulações do

que as supostamente decorrentes dos procedimentos

cirúrgicos para o aproveitamento de seus órgãos.

6 – Se a retirada é feita à revelia do paciente terminal, não

poderá ele converter-se num obsessor da pessoa

beneficiada pelo transplante?

Essa fantasia daria belo filme de horror, mas não

tem nada a ver com a realidade. O aproveitamento do

órgão antecipa-se algumas horas ao banquete dos

vermes, preservando-o. Motivo maior teria o Espírito de

aborrecer-se com os nauseantes invasores que lhe

devoram o corpo inteiro.

7 – O coração é situado como a sede dos sentimentos. Isso não

poderá causar embaraços à pessoa que receba o coração

de alguém em desajuste, como um suicida, por exemplo?

O coração é uma bomba, cuja função primordial é

fazer circular o sangue no organismo. A sede dos

sentimentos está na alma, não no corpo ou em algum

órgão específico.

8 – Aos cinquenta anos um homem está no fim da existência,

com grave problema cardíaco. No entanto, recebe

coração “novo”, em transplante, e vive mais 20 anos. Não

estaria a ciência médica interferindo nos desígnios de

Deus?

A Medicina é instrumento de Deus. Suas conquistas

fazem parte do planejamento divino em favor da

longevidade da espécie humana, programada para viver

perto de um século.

Page 80: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

ECOLOGIA

1 – Organizações não governamentais de proteção ao meio

ambiente advertem que o Homem poderá acabar com sua

própria espécie se continuar perturbando a Natureza com

seus desatinos. É possível que isso aconteça?

Está acontecendo. A poluição da atmosfera e dos

mananciais de água e do oceano, a devastação das

florestas, a dizimação de espécies animais e vegetais, são

alguns dos crimes que o Homem vem perpetrando,

incapaz de uma convivência pacífica com a Natureza. Os

resultados serão desastrosos.

2 – E onde fica Deus nessa tragédia? Não pode o Criador

conter a ambição e a estultice humanas?

Vale repetir: Deus nos dá o dom da Vida. A

qualidade de vida é fruto de nossa iniciativa. A ecologia,

que nos ensina a respeitar o meio ambiente, pode ser

considerada a ciência do bem viver. É de fundamental

importância nos ajustemos à Natureza, para que não

sejamos suprimidos por ela.

3 – E se isso acontecesse? O que seria da imensa população

encarnada e desencarnada que evolui na Terra?

Certamente Deus arranjaria outro lugar para

morarmos. Antes que isso ocorra é imperioso que

desenvolvamos uma consciência ecológica, aprendendo a

respeitar a Natureza.

4 – As religiões podem contribuir em favor dessa consciência

ecológica?

Page 81: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

Podem e devem. O Espiritismo tem mensagem

esclarecedora a respeito do assunto, falando-nos,

inclusive, de uma ecologia espiritual, que deve merecer

nossa atenção, em favor do bem-estar humano.

5 – No que consiste essa ecologia espiritual?

Nossas ações afetam o ambiente físico. Nossos

sentimentos afetam o ambiente psíquico, com vibrações

que, em conjunto, no somatório de bilhões de Espíritos

encarnados e desencarnados, formam a atmosfera

psíquica na qual estamos mergulhados.

6 – Não é boa?

Diria que é muito ruim. Diz Emmanuel, o mentor

espiritual de Chico Xavier, que a Terra é chamada

planeta das faixas escuras, em virtude do baixo padrão

vibratório da maioria de seus habitantes, ainda mais

próximos da animalidade do que da angelitude.

7 – Seria o chamado umbral, a que se refere o Espírito André

Luiz, em seus livros?

Exatamente. Uma de suas surpresas, no Além, foi

constatar a existência dessas faixas, habitadas por

Espíritos atormentados, não preparados para a Vida

Espiritual. Os teólogos medievais intuíram a sua

existência ao falar sobre o purgatório.

8 – Como podemos contribuir para o exercício de uma

ecologia espiritual, de maneira a reduzir a densidade do

umbral e nos livrarmos de indesejável estágio por aquelas

paragens?

É só imitar cidades como Nosso Lar que, não

obstante situadas em plena zona umbralina, possuem

atmosfera psíquica livre desses miasmas mentais. Isso

porque os seus habitantes assumem o compromisso de

agir com integridade e respeito à própria consciência,

exercitando os valores do Evangelho e a disposição de

servir.

Page 82: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

EUTANÁSIA

1 – A mídia vem abrindo grande espaço para o debate sobre a

eutanásia. Nota-se que hoje é encarada com alguma

simpatia por muita gente. Como explicar essa mudança?

É lamentável. Embora condenada por todas as

religiões, a chamada morte branda ganha espaço porque

as pessoas não estão levando a sério os princípios

religiosos. Pensa-se demais em termos de imediatismo,

sem cogitações quanto às implicações espirituais. Mesmo

países que a consideram crime, não exercitam

fiscalização rigorosa, no sentido de evitá-la. Uma dose

mais forte de anestésico e o paciente morre por falência

múltipla dos órgãos, eufemismo para esse assassinato

cometido em nome da piedade.

2 – Quais as consequências para o Espírito?

Enfrentando uma morte que não tem nada de

branda, porque é um ato de violência, o Espírito situa-se,

em estado de torpor no plano espiritual, com maior

dificuldade de adaptação. Por outro lado, estará

interrompendo o cumprimento de seu carma, porquanto

não é por acaso que enfrenta agonia prolongada.

3 – Há dois termos que entram no debate sobre a eutanásia. O

primeiro é a distanásia. Poderia falar a respeito?

Trata-se da morte lenta, com grande sofrimento. É

usado hoje para caracterizar a utilização de aparelhos

que suprem deficiências orgânicas e mantêm o paciente

vivo. Discute-se se não seria lícito desligá-los quando se

trata de paciente terminal, alguém com câncer

Page 83: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

disseminado por exemplo, sem nenhuma possibilidade de

recuperação, em sofrida agonia.

4 – Sustentar o corpo com aparelhos não seria uma maneira

de ajudar o paciente a cumprir o seu carma?

Talvez estivéssemos apenas retardando a libertação

do prisioneiro que cumpriu sua pena, como o faz a

família, junto ao leito do moribundo, orando, vibrando,

torcendo para ele não morrer, a sustentar uma teia de

retenção. Não evita a morte; apenas prolonga a agonia.

5 – E quanto à ortotanásia?

O termo define a morte sem sofrimento. Se Deus

inspirou a descoberta de medicamentos para aliviar a

dor, eles devem ser usados no paciente terminal, em

favor de morte suave, sem tormentos para ele e para os

familiares.

6 – E como fica o carma, o pagamento das dívidas?

Dizem os mentores espirituais que todos os

sofrimentos decretados pela justiça divina são

amenizados pela divina misericórdia, quando nos

apresentamos para o resgate. Isso explica a presença dos

analgésicos.

7 – Os efeitos colaterais de drogas potentes contra a dor

podem apressar a morte. Não teríamos aqui uma

eutanásia?

Sim. Por isso é preciso usar com critério esses

medicamentos, evitando excessos passíveis de provocar a

falência dos órgãos.

8 – Essas questões são complicadas. Não seria razoável

deixar nas mãos dos médicos?

Não é aconselhável. E se eles forem favoráveis à

eutanásia? Evitando generalizações, pois cada caso tem

suas particularidades, compete à família dialogar com os

médicos, enfatizando não usarem excesso de medicação,

Page 84: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

capaz de provocar a morte do paciente ou de recursos

tecnológicos que apenas prolonguem sua agonia. E

entregar nas mãos de Deus, cultivando confiança e

resignação, formando ambiente que favoreça a

assistência dos mentores espirituais, a definirem quando

e como se dará o desenlace.

Page 85: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

PRÁTICA DO BEM

1 – Os espíritas revivem o trabalho da primitiva comunidade

cristã, dedicando-se a obras assistenciais. Não é pouco

para a edificação de uma sociedade melhor?

Sem dúvida, mas é um começo. Podemos não

resolver os problemas sociais, mas estamos ajudando a

criar uma mentalidade participativa, em que as pessoas

disponham-se a trabalhar pelo próximo.

2 – Jesus, há dois mil anos, já ensinava que devemos fazer ao

semelhante todo o bem que gostaríamos nos fosse feito.

Suas palavras têm motivado muita gente, ao longo dos

milênios, mas o apelo da Doutrina Espírita parece ser bem

maior, porquanto, embora numa minoria em nosso país,

os espíritas realizam significativo trabalho nesse campo. A

que atribuir esse comportamento?

Jesus nos convidava ao Bem. O Espiritismo,

descortinando ampla visão das realidades espirituais,

demonstra ser indispensável exercitemos a bondade ou

incorreremos em crimes de omissão e indiferença, pelos

quais responderemos.

3 - Não há aí ameaça velada, inspirando a adesão pelo medo?

Negativo. O Espiritismo é a doutrina da consciência

livre. Não ameaça com o inferno nem promete o Céu.

Apenas confirma que, conforme ensinava Jesus, o Céu e

o inferno são estados de consciência. E enfatiza que o

empenho de servir é a porta de acesso a estados de

consciência que nos situam em paraíso interior.

4 - O jeito é irmos todos para a periferia socorrer os pobres?

Page 86: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

Seria pouco. Não basta determinado compromisso –

a visita a enfermos ou à favela, por exemplo. O exercício

da caridade é uma postura diante da vida, com a

convicção de que, onde estivermos poderemos ajudar o

próximo.

5 - Poderia citar alguns exemplos?

São incontáveis – a atenção ao familiar; o empenho

de preservar a paz no ambiente doméstico; o perdão

diante das ofensas; a palavra branda contrapondo-se à

agressividade; a oração por alguém em dificuldade; o

silêncio diante de fofocas que denigrem reputações; a

cooperação ativa no ambiente profissional; o esforço por

preservar a ordem e a limpeza no logradouro público; a

participação em mutirões que visam realizar

determinada obra comunitária…

6 – Considerando assim, sempre haverá um bem a exercitar,

mesmo que enfrentemos limitações?

Lembro-me de uma senhora paralítica que eu e

companheiros visitávamos, prestando-lhe assistência

material e espiritual. Com todas as suas limitações, ela

mais nos dava do que recebia, oferecendo eloquente

exemplo de coragem e otimismo. Enfrentava sua

provação sempre alegre, risonha e corajosa. Quando nos

despedíamos, seu Deus os abençoe iluminava nosso dia.

7 – No fundo ela fazia bem a si mesma?

Sim. Não estava apenas resgatando o passado. Com

sua atitude construía glorioso futuro. Não apenas

depurava o Espírito. Dava-lhe brilho e luz.

8 - Também podemos exercitar o bem em favor de nosso

corpo?

É imperioso o façamos. O corpo é uma máquina.

Deus o empresta para nossas experiências na carne.

Responderemos por todos os prejuízos que lhe

causarmos. Costumamos imaginar a enfermidade como

Page 87: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

problema cármico. Nem sempre isso ocorre. Os

problemas do corpo são decorrentes, não raro, de mau

uso – ausência de exercícios, comportamento

indisciplinado, vícios, gula e, sobretudo, a pressão

violenta exercida sobre ele quando nos deixamos

dominar por irritação, ressentimento, mágoa, rancor,

impaciência e outros sentimentos próprios de nossa

imaturidade.

Page 88: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

VÍCIOS

1 – Há algum componente espiritual em vícios como o álcool,

o fumo, as drogas?

Sem dúvida. Os viciados de lá sempre procuram

viciados de cá para se satisfazerem.

2 – O viciado desencarnado continua sob o domínio do vício?

O vício atinge também o corpo espiritual, o

perispírito. Como no Além não há as substâncias de que

é dependente, o viciado desencarnado liga-se aos viciados

encarnados, a fim de que, por associação psíquica, possa

satisfazer-se.

3 - O encarnado atuaria como médium para satisfazer o

Espírito?

Exatamente. Seria um transe mediúnico às avessas.

Ao invés de o médium captar as impressões do Espírito,

este capta as sensações do viciado. Em perfeita simbiose,

fumam, bebem, consomem drogas…

4 - Considerando essa pressão, podemos dizer que há

indivíduos que caem no vício em virtude de assédio

espiritual?

Os Espíritos não impõem o vício. Apenas exploram

o viciado.

5 - A experiência demonstra que poucos vencem o vício. Isso

não seria decorrente da pressão espiritual?

Ela é apenas um dos fatores. O problema maior é

que raramente o viciado reconhece seu envolvimento.

Engana a si próprio e acaba regressando ao plano

Page 89: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

espiritual na condição de suicida inconsciente, alguém

que nunca tomou consciência de que estava se matando.

6 - Vai ser outro obsessor?

É possível. Isso apenas ampliará seus

comprometimentos diante das Leis Divinas, o que

resultará em penosas experiências de resgate e reajuste.

7 - Como será?

Poderá reencarnar com graves limitações físicas e

mentais, reflexos dos comprometimentos perispirituais

provocados pelo vício. Atuarão como elementos de

reajuste e, ao mesmo tempo, o impedirão de reincidir nos

mesmos desvios.

8 - O que deve fazer o alcoólatra que deseja livrar-se do vício?

Em primeiro lugar, não se isolar. Reconhecer que

precisa de ajuda. No Centro Espírita há recursos

importantes, em reuniões de atendimento fraterno,

fluidoterapia, esclarecimento, desobsessão... Participar

de grupos de apoio como os Alcoólicos Anônimos,

benemérita organização internacional que oferece

inestimável ajuda aos dependentes do álcool. Evitar a

ociosidade. A compulsão para o vício chega mais forte na

hora vazia. Trabalhar em favor do semelhante. Quando

nos empenhamos no Bem, as sugestões do mal não nos

atingem. E dispor-se a enfrentar com coragem e fé as

primeiras semanas de abstenção, as mais difíceis e

decisivas.

Page 90: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

ABORTO

1 – Há uma tendência, na legislação humana, de permitir o

aborto em casos de estupro ou grave risco de vida para a

gestante. Qual o ponto de vista espírita?

A posição espírita está bem definida na questão

359, de O Livro dos Espíritos. Só se justifica o aborto na

segunda situação. Ao tempo de Kardec, ocorria, não

raro, no momento do nascimento. Por problemas

variados, a criança não nascia. Morreriam mãe e filho.

Então, o médico optava por salvar a mãe, sacrificando a

criança. Hoje isso não aconteceria. A cesariana

resolveria o assunto. Mesmo em casos de grave

cardiopatia, é possível levar a gestação até o fim, com

cuidados médicos especializados.

2 – Considerando a tendência mundial de deixar a mulher

decidir, diante da gravidez indesejada, não seria correto a

revisão dos postulados espíritas nesse sentido, iniciativa

que o próprio Kardec admitia?

Kardec admitia que a Doutrina é dinâmica. Deve

acompanhar o progresso da Ciência e a evolução

humana. Jamais, entretanto, proclamou que deveríamos

mudar a postura espírita de respeito à Vida.

3 – Não seria admissível o aborto em casos de estupro,

considerando que a concepção foi resultante de um ato de

violência contra a mulher?

Um crime não justifica outro. A agressão sexual

que sofreu não outorga à mulher o direito de exercitar

violência mais grave e comprometedora – um assassinato

intrauterino.

Page 91: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

4 – Não seria impor uma carga psicológica que nem sempre a

vítima está em condições de suportar? Há mulheres

estupradas que não conseguem sequer conceber que

asilam um filho no seio. Referem-se a ele como uma

“coisa” ou um “monstro”.

Não é fácil. Não obstante, em seu próprio benefício,

deveria evitar a comprometedora iniciativa, corrigindo

sua postura. Não traz dentro de si uma coisa ou um

monstro. Trata-se de um filho de Deus, irmão nosso,

iniciando uma nova experiência na carne. Pelo menos

conceda ao reencarnante a bênção do nascimento. Se não

quiser ficar com ele, entregue-o à adoção. Há casais que

receberiam de bom grado um recém-nascido, sem

necessidade de conhecer a mãe ou as circunstâncias de

seu nascimento.

5 – Hoje, exames sofisticados permitem detectar graves

deficiências físicas na criança, em pleno seio materno.

Não seria benéfico o aborto, evitando problemas para

ambos?

Sim, se eliminarmos a ideia de Deus e adotarmos a

postura de Hitler que, a pretexto de favorecer uma raça

ariana forte e saudável, recomendava a eliminação dos

recém-nascidos nessas condições.

6 – E numa situação mais drástica? O exame revela que a

criança sofre de anencefalia, falta de cérebro. Nascerá

morta ou morrerá em seguida…

Admitindo a presença de Deus e a existência de um

reencarnante, com a carga de seus compromissos e

débitos, que originaram a má-formação, não há como se

justificar o aborto, a não ser que essa situação represente

grave risco para a gestante.

7 – Quais são as consequências do aborto para a mulher?

Ela agride o perispírito com o ato de violência

contra si mesma, contrariando a Natureza. Terá lesões

Page 92: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

perispirituais que se refletirão no corpo, nesta existência

ou numa próxima, gerando problemas como fibromas,

tumores, esterilidade, frigidez, depressão… A extensão

dessas consequências dependerá do grau de

envolvimento da gestante. A jovem de doze anos,

obrigada pelos pais a submeter-se ao aborto, terá

consequências brandas. Já a mulher adulta, consciente

do que é o aborto, estará mais comprometida.

8 – Há mulheres que se apavoram ao tomar conhecimento das

consequências do aborto, por tê-lo praticado. Haverá

condições para minimizar seus males?

Que tenham outros filhos ou os adotem. Se não for

possível, dediquem-se a crianças carentes. Simão Pedro

diz em sua epístola universal, lembrando o ensinamento

de Jesus, que o amor cobre a multidão dos pecados.

Page 93: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

PLURALIDADE DOS MUNDOS HABITADOS

1 – O Espiritismo aceita a existência de vida fora da Terra?

Antes que a ciência humana e as religiões

tradicionais admitissem essa possibilidade, revelaram os

Espíritos, na questão 55, de O Livro dos Espíritos, que

são habitados todos os mundos que giram no espaço e

que a Terra está longe de ser o único planeta a abrigar

vida inteligente.

2 – Não há exagero nessa afirmativa? Tomando por base

nosso sistema solar, está demonstrado que apenas a Terra

guarda condições para a vida…

Se assim for sob o ponto de vista biológico – essa

concepção não é definitiva –, consideremos a vida

espiritual. Todos os mundos são habitados por Espíritos,

na dimensão extrafísica, constituindo populações

situadas em variados estágios de evolução.

3 – Diríamos, então, que Marte, Júpiter, Saturno e os demais

planetas de nosso sistema são habitados por Espíritos?

Pode parecer estranha essa ideia, mas mais

estranho seria imaginar que Deus houvesse criado

miríades de mundos, apenas para enfeitar o Universo ou

para contemplação do Homem, como imaginavam os

teólogos na antiguidade.

4 – Há, na Terra, Espíritos originários de outros planetas do

sistema solar?

Certamente. Há os Espíritos que chegam e os que

partem, atendendo à dinâmica da evolução e ao salutar

intercâmbio entre mundos.

Page 94: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

5 – As obras de ficção científica abordam com frequência a

possibilidade de a Terra ser invadida dia por alienígenas.

Isso poderia acontecer?

Se recebermos a visita de seres extraterrestres, suas

intenções não serão belicosas. A tecnologia necessária

para vencer as grandes distâncias e os problemas

decorrentes, somente será alcançada por civilizações em

alto estágio de desenvolvimento intelectual, o que se fará

acompanhar pelo desenvolvimento moral. Banida estará

dessas civilizações a ambição de poder e domínio que

caracterizam a inferioridade humana.

6 – E quanto à aparência? Seriam monstruosos, como

costuma situar a ficção científica?

A beleza obedece a padrões de simetria e estética

universais. Seres mais evoluídos terão harmonia de

formas, belos, ao olhar humano, ainda que diferentes.

Temos exemplo típico na comparação entre os

hominídeos que viveram há duzentos mil anos e o

homem de hoje.

7 – Há um grande movimento científico, na atualidade, em

vários países, visando estabelecer contato com seres de

outros mundos por meio da radioastronomia, que capta as

ondas hertzianas. Acontecerá?

Sem dúvida. Mais cedo ou mais tarde, os grandes

radiotelescópios captarão transmissões de outros

mundos. Mas não pensemos em diálogos. Considerando

que a velocidade limite do Universo é trezentos mil

quilômetros por segundo, e que planetas com vida

inteligente situam-se a trilhões de quilômetros, uma

simples troca de mensagens demandaria décadas ou

séculos anos para se consumar.

8 – O Espiritismo teria contribuição a respeito do assunto,

favorecendo contatos extraterrestres?

Page 95: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

Segundo Emmanuel, no livro A Caminho da Luz,

psicografado por Francisco Cândido Xavier, há um

planeta do sistema Capela, na constelação de Cocheiro, a

quarenta e dois anos-luz da Terra, habitado por

civilização capaz de nos enviar mensagens, via rádio. O

difícil é convencer os cientistas de que não se trata de

mera fantasia e que deveriam apontar seus

radiotelescópios naquela direção.

Page 96: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

SUICÍDIO

1 – Em circunstâncias adversas, o suicídio é a saída para

muita gente. O que diz o Espiritismo?

Nenhuma religião admite o suicídio. Essa

unanimidade evidencia tratar-se de decisão infeliz,

contrária às leis divinas. O Espiritismo corrobora essa

ideia. Em qualquer tipo de morte podemos dizer que se

cumpriram os desígnios divinos. No suicídio, não. Deus

não quer que ninguém elimine a própria vida.

2 – Fundamentalistas islâmicos vêm se matando, explodindo

como bombas humanas, levando consigo muita gente. E se

dizem religiosos...

Não conheço nenhum princípio islâmico que

recomende o suicídio ou o assassinato. Os que o fazem

são fanáticos movidos pelo ódio, negação da

religiosidade, e por total ignorância quanto às

consequências do suicídio.

3 – Quais são?

Todo ato de violência que cometemos contra nós

mesmos, ferindo ou aniquilando o corpo, atinge o

perispírito, nosso corpo espiritual. Em lamentável

destrambelho, os suicidas são confinados em regiões de

tormentos indescritíveis que, segundo eles próprios, não

têm similar na Terra.

4 – Todos sofrem na mesma intensidade?

Depende do tipo de suicídio, das circunstâncias

agravantes, como é o caso dos homens-bomba, ou

Page 97: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

atenuantes, como depressão grave, desequilíbrio

mental…

5 – A obsessão é circunstância atenuante?

Sem dúvida. Há suicídios que se afiguram como

verdadeiros assassinatos, cometidos por inimigos

desencarnados. Influenciam de tal forma a vítima que a

induzem a matar-se.

6 – Nesse caso o suicida isenta-se de responsabilidade?

Negativo! Sempre há responsabilidade no ato do

suicídio. Nenhum obsessor nos obriga ao suicídio. Ele

nos induz. A decisão é sempre nossa. Mesmo nos casos

de subjugação, em que o obsessor domina a vítima, esta

tem o instinto de conservação a seu lado e tenderá a

resistir, a não ser que a ideia a seduza.

7 – Em incêndios de edifícios tem ocorrido de pessoas presas

em andares superiores saltarem para a morte, ante a

proximidade das chamas. É suicídio?

É apenas um gesto instintivo de fuga. O calor, nessa

situação, é tão intenso que, literalmente, pode derreter a

vítima.

8 – O que podemos fazer pelos suicidas?

Esquecer as circunstâncias de sua morte. Deixar de

lembrar deles morrendo em decorrência da

autoagressão. Pensar neles vivos, no mundo espiritual, e

orar por eles. Dizem os suicidas que as orações em seu

benefício constituem abençoado refrigério para suas

almas.

Page 98: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

PENA DE MORTE

1 – O Espiritismo é favorável à pena de morte?

É frontalmente contrário. Lembrando Jesus, os

doentes devem ser medicados, não eliminados.

2 – Se assim é, por que Moisés instituiu a pena de morte para

determinados crimes?

Nos mandamentos da Tábua da Lei, recebida pelo

próprio Moisés, no Monte Sinai, base da justiça humana,

está registrado que não é lícito ao homem matar o

semelhante. Ao instituir a pena de morte, ele sobrepôs

sua vontade aos desígnios divinos, num lamentável

exemplo do faça como falo, não como faço.

3 – A pena de morte não pode funcionar como medida

extrema de contenção da criminalidade?

A experiência demonstra que onde ela é instituída

não há redução nos índices de criminalidade. A razão é

simples: nenhum criminoso cogita da possibilidade de

ser preso. Sente-se sempre mais esperto do que os

representantes da lei.

4 – De qualquer forma não teríamos um criminoso a menos?

Pura ilusão. O criminoso executado ganha o

benefício da invisibilidade e passa a assediar pessoas

com tendência à criminalidade, ampliando-a.

5 – Mas o criminoso executado não é confinado em regiões

purgatoriais, a distância das cogitações humanas?

As regiões purgatoriais começam na crosta

terrestre. Em princípio ele tende a ficar por aqui,

Page 99: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

envolvido com suas paixões e vícios, ligando-se a pessoas

que guardam suas mesmas tendências, exacerbando-as.

6 – Esses criminosos desencarnados também formam grupos

no Além?

Sim, atendendo às suas tendências. Causam

estragos nas pessoas dominadas por vícios e mazelas,

vulneráveis à sua influência.

7 – Enquanto encarnados, sua motivação era o dinheiro? E

quando desencarnados?

O exercício do poder, o prazer em dominar, o

espírito de vingança e, também, o atendimento de suas

viciações.

8 – Em relação aos criminosos encarnados, trancamos nossas

casas e nos cercamos de medidas de prevenção. E quanto

aos desencarnados?

Seria fechar nossa casa mental às suas investidas,

cultivando os valores do Bem e da Verdade, definidos

por Jesus em suas lições. Toda influência espiritual

relaciona-se com o fator sintonia. Se sintonizarmos com

os bons, os maus não terão acesso à nossa Alma.

Page 100: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

PLANEJAMENTO FAMILIAR

1 – É lícito o planejamento familiar, o casal definir quantos

filhos deseja?

Quem cuidará deles? Quem os sustentará,

alimentará, protegerá, medicará, orientará, educará?

Então, se os pais assumem tão sérios compromissos,

guardam o direito de decidir quantos serão os seus

filhos.

2 – Não devemos deixar que Deus decida?

Quando conquistamos a inteligência, Deus

concedeu-nos o livre arbítrio, a liberdade de decidir

quanto à nossa vida. Isso inclui a prole. É assim que

crescemos para a responsabilidade. Deixar que venham

filhos à vontade, sem depois cuidar deles, como acontece

com casais menos esclarecidos, está longe de representar

o cumprimento da vontade de Deus.

3 – Aprendemos com a Doutrina Espírita que muitas vezes a

família é planejada na Espiritualidade. O casal que limita

a natalidade não corre o risco de estar negligenciando

seus deveres?

Colocaríamos melhor a questão dizendo que

algumas vezes esse planejamento é feito, porquanto

poucos Espíritos revelam, ao reencarnar, suficiente

maturidade para assumir tal compromisso. Se há o

planejamento, o casal tende a observá-lo. Reencarna

com essa ideia. Ambos, por intuição, desejam

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determinado número de filhos, e acabam por consumar

o que foi planejado.

4 – E se o casal resolver limitar a natalidade, aquém do que

foi planejado?

Pode acontecer. Nossa visão no mundo espiritual é

mais ampla e esclarecida. Do outro lado identificamos

melhor nossas necessidades. Aqui, de percepções

bloqueadas pela armadura física, temos visão limitada e,

inspirados pelo egoísmo, nem sempre cumprimos nossos

compromissos.

5 – O casal planejou, ao reencarnar, receber determinados

Espíritos como filhos. Se não o faz, o que acontece com

eles?

Depende de sua condição evolutiva. Espíritos mais

esclarecidos irão cuidar da vida. Desafetos, que viriam

para harmonizar-se com os pais, podem persegui-los.

Amigos carentes, em estado de desequilíbrio, que

deveriam reajustar-se na nova existência física, podem

vincular-se ao lar, agindo como almas penadas a

perturbá-los.

6 – Nos países subdesenvolvidos a prole é numerosa. Os

pobres são mais fiéis ao planejamento espiritual?

Não se trata de fidelidade ao planejamento, mas da

incapacidade para planejar, decorrente da própria

condição cultural. Os nascimentos em lares assim

obedecem à Natureza. Espíritos vinculados ao psiquismo

do casal são atraídos à reencarnação pelo campo

vibratório formado na comunhão carnal.

7 – Não há interferência da Espiritualidade?

Um evento tão importante como a reencarnação

jamais ocorre sem a assistência de mentores espirituais.

Podem até favorecer que determinado Espírito seja

conduzido àquele lar, num planejamento sumário.

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8 – Nota-se que, à medida que a população evolui no terreno

cultural e econômico, há uma tendência para a limitação

da natalidade. Isso não representa um “fechar de portas”

aos Espíritos que precisam reencarnar?

Há excessos. Casais com maior poder aquisitivo

podem não querer compromissos dessa natureza, a fim

de gozar a vida. A virtude está no meio. Nem

despreocupação com a quantidade de filhos, nem

limitação excessiva. Nem porta escancarada, nem porta

trancada antes da hora. Os filhos dão trabalho e

preocupações, mas oferecem, também, significado e

objetivo à existência, contribuindo para a mudança de

pessoa na conjugação do verbo de nossas ações. Da

primeira do singular – eu, sob orientação do egoísmo,

para a primeira do plural – nós, iniciando-nos nos

domínios abençoados da fraternidade.

Page 103: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

REINO DE DEUS

1 – As religiões tradicionais proclamam que o terceiro milênio

será marcado pelo advento do Reino de Deus, quando as

coletividades terrestres se habilitarão à vivência plena do

Evangelho. Há tempo certo para isso?

Um milênio tem mil anos. Não há data marcada.

Talvez aconteça nos próximos séculos.

2 – Por que essa imprecisão?

O Reino de Deus será edificado quando superarmos

o egoísmo, característica fundamental do comportamento

humano, que faz da Terra um Mundo de Provas e

Expiações. Aprendendo a exercitar o altruísmo,

favoreceremos a promoção de nosso planeta a Mundo de

Rregeneração. Semelhante conquista não está

subordinada a decretos divinos. Depende de nós.

3 – O que será fundamental em favor desse advento?

Sem dúvida, a educação. O Espiritismo situa-se

numa vanguarda, nesse particular. À medida que as

coletividades terrestres assimilarem noções sobre a

imortalidade, com o conhecimento claro e objetivo do que

vai nos acontecer na vida espiritual, em decorrência de

nosso comportamento, decisivas transformações

acontecerão.

4 – Será a religião do futuro?

Mais correto dizer que será o futuro das religiões,

como afirmava Léon Denis, notável escritor espírita. Seus

princípios, que exprimem leis divinas, serão assimilados

por todos os movimentos religiosos.

Page 104: ESPIRITISMO TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

5 – E a ciência?

Será a primeira a admitir a legitimidade dos

princípios espíritas, a começar pela reencarnação. Há

muitas pesquisas em torno do assunto, apontando para as

vidas sucessivas. O reconhecimento oficial operará uma

revolução no campo das ideias, semelhante àquelas

promovidas por Galileu, com a teoria heliocêntrica, e por

Darwin, com a teoria evolucionista.

6 – O Reino de Deus parece ainda distante, tendo em vista o

mal que há no Mundo…

Temos entre nós a minoria barulhenta, Espíritos

recalcitrantes, que insistem em ignorar os valores do

Bem, dominados pelos impulsos egocêntricos. Estes,

quando chegar a hora deixarão o planeta. Serão

degredados para mundos inferiores, onde as limitações

maiores trabalharão como lixas grossas, a desbastarem

sua impertinência.

7 – Teríamos a prometida separação do joio e do trigo, dos

bodes e das ovelhas, da expressão evangélica?

Sem dúvida. Quando nos habilitarmos à vivência

dos princípios cristãos, estaremos próximos da Nova Era,

marcada pelo afastamento daqueles que não se

enquadrarem.

8 – Um milênio será suficiente para vencer o egoísmo?

Creio que sim. Vamos atingindo um estágio de

desenvolvimento mental e intelectual que nos habilitará a

admitir quão imperiosa é essa transformação. Como dizia

o apóstolo Paulo (I Coríntios, 13:11), …quando eu era

menino, falava como menino, pensava como menino,

raciocinava como menino. Mas, logo que cheguei a ser

homem, acabei com as coisas de menino. Já não somos

meninos. É tempo de assumir nossas responsabilidades.