excelentÍssimo senhor doutor juiz de direito da comarca de ... · sanitárias, afetas à dignidade...
TRANSCRIPT
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE NÍSIA FLORESTARua Agripino Marques de Carvalho, nº 43, Conjunto Jessé Freire – CEP: 59164-000 – fone/fax:3277-3871
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA COMARCA DE NÍSIA FLORESTA/RN:
Referente ao Inquérito Civil nº 10/2010
A sensação térmica no interior das celas do
novo pavilhão é extremamente desfavorável
(comparável a uma estufa), não oferecendo
condições humanas de uso. (Prof. Leonardo
Flamarion Marques Chaves e Prof. Paulo
Alysson Brilhante Faheina de Souza).
O MINISTÉRIO PÚBLICO DO RIO GRANDE DO NORTE, por meio
do Promotor de Justiça Substituto que assina a presente, com fundamento no art. 129,
inc. III da Constituição Federal e na Lei 7.347/85, em face do Inquérito Civil que
tramita nesta Promotoria de Nísia Floresta, e com fulcro nos fatos e fundamentos
jurídicos a seguir expostos, vem propor a presente
AÇÃO CIVIL PÚBLICA COM PEDIDO DE TUTELA
em desfavor do ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE, pessoa
jurídica de direito público interno, a ser representado em Juízo por seu bastante
procurador judicial, com endereço para citação e intimação na Procuradoria Geral do
Estado – PGE, sito à Avenida Afonso Bezerra, 115, Tirol, CEP 59020-100, Natal/RN;
pelos fatos e razões de direito a seguir descritos:
e da empresa contratada para realização do serviço, VERDI
CONSTRUÇÕES S.A., CNPJ, 03.928.516/0002-70, a ser citada à Avenida Júlio de
Castilhos, 235/31 - Centro - Porto Alegre - RS - (51) 3072-7594.
I – DOS FATOS
Correu na Promotoria de Justiça de Nísia Floresta o Inquérito Civil nº
10/2010 – PJNF (que segue em anexo à presente ação) que tinha por objeto apurar a
regularidade (ou irregularidade) da construção/expansão do novo pavilhão do presídio
estadual Dr. Francisco Nogueira Fernandes, vulgarmente denominado de Penitenciária
Estadual de Alcaçuz - PEA.
Fato público e notório, encontra-se em vias de construção um novo pavilhão
no citado presídio, que tem por objeto a criação de 400 (quatrocentas) vagas para o
sistema carcerário do Rio Grande do Norte.
Despiciendo afirmar o relevo que a obra apresenta, bem como os múltiplos
aspectos de ordem técnico e jurídicos que o Estado do Rio Grande do Norte, através de
sua Secretaria de Estado da Justiça e Cidadania – SEJUC, deve observar quando
contrata interposta pessoa (através de inexigibilidade de licitação) para realizar a citada
obra.
Há facetas que serão demonstradas de índole ambiental, de segurança,
sanitárias, afetas à dignidade humana dos presos e estruturais (não se tratando o
tema apenas e tão somente de levantar meras paredes) que não foram
corretamente observadas pelos acionados.
Assim sendo, por dever constitucional, este órgão ministerial buscou junto a
Secretaria de Estado da Justiça e Cidadania – SEJUC respostas às pertinentes
indagações, tendo solicitado do Centro de Apoio das Promotorias Criminais – CAOP-
CRIM perícia no sentido de se formar o convencimento sobre a regularidade, ou não, da
citada obra.
A citada perícia fora realizada, havendo graves problemas que devem
ser sanados antes da completa entrega da obra, bem como de seu regular
funcionamento, motivo do acionamento do Poder Judiciário na espécie.
Apenas a guisa de ilustração, indagou-se sobre: a existência de laudo da
vigilância sanitária; a existência de licença prévia do órgão ambiental da Unidade da
Federação, sobre a área edificante; a manifestação prévia do órgão de abastecimento
de água e saneamento básico local; e manifestação prévia do órgão de distribuição
de energia elétrica local.
Estes questionamentos, dentre outros, servem para demonstrar ao MM.
Julgador que a quaestio iuris apurada no procedimento inquisitorial não se limita apenas
e tão somente a aspectos estruturais da obra, devendo a mesma ser analisada em sua
plena totalidade, antes de entrar em funcionamento.
Indagado o órgão ambiental do Rio Grande do Norte – IDEMA, no dia
11/11/2010, nos termos do ofício 693/2010 – PJNF, tendo sido requisitado “cópia do
processo de licença ambiental para construção, instalação e funcionamento da
ampliação do presídio estadual de Alcaçuz, este respondeu através do ofício
1295/2010-DG que “conforme pesquisa realizada em nosso sistema não
encontramos nenhum procedimento administrativo de Licenciamento Ambiental
em nome do Presídio Estadual de Alcaçuz”.
As respostas e esclarecimentos pertinentes ao ajuizamento da presente
ação foram encaminhados pelos órgãos responsáveis, razão pela qual, consoante se
demonstrará, há elementos suficientes para o ajuizamento da presente ação
principal.
Cumpre informar de plano, que houve ajuizamento ação cautelar
preparatória n. 0003175-74.2010.8.20.0145, tendo em vista que a perícia e outras provas
que serão apresentadas e relatadas ainda não haviam sido obtidas, bem como pelos
graves danos que o empreendimento já estava a causar. A título de esclarecimento, e
com o fito de servir de base fática também para a presente ação, esclarece-se abaixo as
razões que deram ensejo a prévia impetração (que atualmente integram a presente actio
principal), sem prejuízo da continuidade narrativa após o tópico seguinte.
I.I – Dos fatos que deram ensejo a impetração cautelar
Na data de 15 de dezembro de 2010 foi amplamente noticiado no Jornal
Tribuna do Norte a matéria jornalística intitulada “Moradores de Alcaçuz reclamam de
obra na penitenciária”. O texto, contido na ação cautelar, detém o seguinte teor:
“Os moradores da comunidade de Alcaçuz, que vivem na
área vizinha à penitenciária, desde ontem tentam evitar o
prosseguimento de uma obra que serviria para despejar
água tratada de esgoto em um afluente do Rio Pium. O
afluente, cuja nascente fica a cerca de 200 metros da
penitenciária, é utilizado como fonte para as plantações e
até mesmo para beber, quando a bomba do poço que serve
à comunidade para de funcionar”.
A citada reportagem também mostra a posição Estatal, nos seguintes termos:
“O engenheiro responsável pela obra não atendeu a
imprensa e havia garantido que se tratará apenas de água
pluvial. No entanto, o secretário de Justiça e Cidadania,
Leonardo Arruda, confirmou que a obra faz parte do
projeto da Estação de Tratamento de Esgotos prestes a ser
concluída na penitenciária. Ele afirmou que as
informações repassadas pela empresa responsável é de que
a água resultante do tratamento terá, pelo menos, 95% de
pureza.
“A estação é para ser uma solução, não um problema.
Agora os resíduos têm de ir para algum lugar”, afirmou o
secretário. Leonardo Arruda disse que vai procurar, junto à
empresa e ao Idema, a melhor saída para o impasse. Uma
reunião deve ocorrer ainda no início desta tarde”.
A Promotoria de Justiça de Nísia Floresta também recebeu termo de
declaração do Sr. José de Alencar Silva que corrobora o noticiado, informando o
prejuízo à nascente e pleiteando imediatas providências do Ministério Público.
Este membro ministerial dirigiu-se imediatamente ao local, tendo
solicitado o comparecimento do Idema para fins de acompanhamento e
providências cabíveis. Na localidade, verificou-se in loco que a obra de descarte
estava em vias adiantadas, estando toda a comunidade local (cerca de seiscentas
pessoas) ameaçadas pelo possível prejuízo ambiental.
Foi entregue a este membro ministerial abaixoassinado onde significativo
número de moradores da comunidade afirmam:
“Viemos por meio deste, denunciar a construção na
penitenciária de Alcaçuz que estar levando encanação de
esgoto até a nascente do rio (de água mineral), localizado
e, Hortigranjeira Nísia Floresta/RN, por sua vez a
população manifestou-se contra e estar organizando este
abaixo assinado para levar a situação ao conhecimento das
autoridades competentes”.
Em contato com o Sr. José de Alencar Silva, o mesmo esclareceu que deu
autorização de mera passagem por seu terreno, tendo descoberto recentemente “que
iriam passar canos por sua propriedade com o intuito de derramar águas no rio da
comunidade (...)”. Apesar do representante da obra ter avisado que o descarte seria
de águas pluviais, o declarante teme que sejam também despejados águas de
esgoto. Afirmou ainda que não conferia autorização para tal fim.
As fotos que seguem em anexo, falam mais do que mil palavras, sobre parte
da temática contida no pleito cautelar.
Foto da obra já realizada, tendo sido paralisada pelos moradores.
Foto das encanações de descarte.
Trecho que seria cavado, sendo a parte de mata verde, o caminho de acesso ao leito do
rio.
Nascente do rio.
Foto que demonstra que o rio não é poluido, sendo possível se inferir sua pureza.
Leito do rio e dimensão.
Extensão e corpo que o rio toma.
Os fiscais ambientais do Idema que compareceram ao local, Dinarte
Lucas, Mat. 153.629-0 e Nivaldo Nicério Gomes, Mat. 1655663, ressaltaram que a
obra não tem licença, que se trata de área de preservação permanente e que,
mesmo se fossem águas pluviais, o que se admite apenas à título de argumentação,
também não seria possível o descarte no rio, tendo em vista o risco de
assoreamento do mesmo. Ademais, pontuaram ainda que o desnível do local do
presídio para o rio leva a crer que se trata de águas de esgoto, consoante
declaração em anexo.
Efetivamente Douto Julgador, é de se estranhar a intenção de extensa
tubulação para se levar apenas águas pluviais... Ainda mais porque, como afirmado
tanto pelos fiscais do Idema quanto pelo próprio Engenheiro responsável pela obra,
tratando-se de uma área de dunas, a água da chuva seria facilmente absorvida sem
necessidade de escoamento para o rio.
Ademais, importa ressaltar que, além da poluição que a mesma gerará ao
rio, soma-se a questão do assoareamento que será gerado, decorrente do descarte na
parte de cima do morro...
Este membro ministerial, junto com os agentes do Idema, deslocou-se
para o interior do presídio, onde o então Secretário Leonardo Arruda e o
responsável da obra encontravam-se presentes. Indagado sobre as licenças
ambientais, notadamente a de instalação, a licença de operação e a possível licença
de funcionamento, foi apresentado o documento que fora anexo na ação cautelar,
que se trata de um “Pedido de Licença de Regularização de Operação”.
No citado documento, lê-se “Secretaria de Estado da Justiça e da Cidadania,
CNPJ nº 40.799.652/0001-52, torna público que está requerendo ao instituto de
desenvolvimento econômico do Rio Grande do Norte – IDEMA a Licença de
Regularização de Operação relativa à Penitenciária Estadual de Alcaçuz, situado no
Município de Nísia Floresta.
IMPÕE-SE DESTACAR QUE O CITADO DOCUMENTO TEM DATA
DE 14 DE DEZEMBRO DE 2010, OU SEJA, UM DIA ANTERIOR A
AVERIGUAÇÃO...
Indagado sobre a problemática do Rio, o responsável pela obra afirmou que
se fosse o caso fecharia a tubulação, e a água poderia ser descartada no interior do
próprio presídio... A solução técnica não foi imediatamente apresentada, ao sentir deste
órgão ministerial.
Ademais Inclíto Julgador, importa afirmar que dentro do pavilhão encontra-
se em fase de conclusão a implantação de uma completa estação de tratamento,
consoante se infere das fotografias anexadas.
Consoante se verifica da denúncia, a presente obra enseja, no mínimo,
alta potencialidade de causação de impactos ambientais, não tendo até a presente
data sido demonstrado que a mesma está de acordo com as exigências afetas à
legislação ambientalista de regência.
Ademais, a obra apresenta sérios riscos ao meio ambiente e à saúde da
população envolvida, sendo relevante ressaltar que a nascente do rio em apreço
alimenta o rio Pium, relevante manancial de água que corta o Município de Nísia
Floresta.
Em acréscimo, imprescindível a existência, antes da realização da obra,
de uma licença prévia; no curso da mesma, de uma licença de instalação; e, após,
de uma licença de funcionamento. Nada disso existe.
Não nos comove, data máxima vênia, o argumento lançado pelo Ilmo.
Secretário, de que a obra se trata apenas de uma continuação do já existente, sendo
necessário apenas a regularização ambiental do presídio como um todo.
Fato público e notório, a obra praticamente dobra o número de vagas do
presídio. Ademais, consoante reportagem entregue pelo citado representante
governamental, e de também conhecimento de todos os atores que trafegam no presídio,
tem-se “um modelo pioneiro (...) são células pré-moldadas, com paredes e lajes de
concreto de alto desempenho, com fibras de polipropileno, cinco vezes mais resistentes
que o material convencional.”
Cumpre ressaltar que, na citada cautelar n. 0003175-74.2010.8.20.0145 o r.
órgão Judicante atendeu o pedido ministerial, tendo deferido liminar, consoante se
infere do dispositivo infra transcrito:
Relação: 0002/2011 Teor do ato: 28. Por tudo exposto,
defiro o pedido a fim de determinar a paralisação das
obras em curso na Penitenciária Estadual de Alcaçuz bem
como qualquer utilização do novo pavilhão, objeto do
presente feito. 29. Em caso de descumprimento, a ser
demonstrado pelo órgão ministerial, fixo multa diária no
montante de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) a incidir,
individual e pessoalmente, sobre o Secretário de Justiça e
Cidade e Governadora do Estado, a contar a partir da
intimação pessoal. 30. Determino, ainda, a citação dos
demandados. 31. Ciência ao Ministério Público.
Advogados(s): José Duarte Santana (OAB 384A/RN)
Importa gravar para fins de registro, como fora requerido na ação cautelar,
que NÃO houve o atendimento da determinação judicante, tendo HAVIDO A
CONTINUIDADE da continuidade das obras, APESAR DO EMBARGO JUDICIAL.
Desde já, diante da impetração da presente ação principal, pugna-se
pela continuidade da liminar deferida, sem prejuízo dos fatos e fundamentos novos
que embasam a presente, que servem, por si só, para o deferimento de nova tutela
antecipatória, consoante passa-se a expor.
I – DA CONTINUIDADE FÁTICA (após a pausa excursiva que trouxe os
elementos fáticos que subsidiaram a ação cautelar, e ora integram esta ação).
Retornemos.
Como afirmado alhures, correu na Promotoria de Justiça o Inquérito Civil n.
10/10 (que acompanha esta exordial), que tinha por desiderato apurar a regularidade da
construção de expansão do presídio estadual de Alcaçuz, notadamente quanto as
questões de infra-estrutura e de observância à Lei de Execução Penal.
A obra fora licitada por inexigibilidade de licitação, sustentando que se
tratava de fornecedor exclusivo (IC., fl. 09). Tem-se na espécie um encargo
de R$ 10.992.147,86 (dez milhões, novecentos e noventa e dois
mil, cento e quarenta e sete reais e oitenta e seis centavos) (IC., fl. 12) arcado pelo Estado do Rio Grande do Norte.
Assim, diante de elevado valor, espera-se, no mínimo,
que a mesma apresente TODAS as condições imprescindíveis
para seu regular funcionamento. NÃO É O QUE SE
VISUALIZA, CONSOANTE SE DEMONSTRARÁ.Cumpre ressaltar que o novo pavilhão tem por objeto ampliar a capacidade
do presídio, com novas quatrocentas vagas, conforme fl. 28 do incluso IC.
Estabeleceu o contrato administrativo
formalizado entre os réus, enquanto obrigações da
contratada (IC., fl. 41):
“3.1. cumprir fielmente o presente Contrato, de modo que
no prazo estabelecido, as obras e serviços sejam entregues
inteiramente concluídos e acabados, em perfeitas
condições de uso e funcionamento.
3.2. observar, na execução dos serviços, as leis, os
regulamentos, as posturas, inclusive de segurança e
medicina do trabalho e de segurança pública, bem como as
normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas
(ABNT).
3.3. providenciar, as suas expensas, junto às repartições
competentes, o necessário licenciamento dos serviços, as
aprovações respectivas, inclusive de projetos
complementares, a ART, o “Alvará de Construção” e a
“Carta de Habite-se”, quando for o caso (...).
3.13. responsabilizar-se:
c) pela estabilidade dos serviços e o perfeito e eficiente
funcionamento de todas as instalações, responsabilidade
esta que, na forma da lei, subsistirá mesmo após a
aceitação provisória ou definitiva dos serviços.
g) pela entrega dos serviços com as instalações definitivas
de luz, força água, esgoto, telefone e contra incêndio,
devidamente testadas e aprovadas, em perfeitas condições
de uso e funcionamento, e, quando for o caso, ligadas às
redes públicas, com aprovação das concessionárias locais,
se for o caso.
h) pela correção dos defeitos notificados pela
CONTRATANTE ou pela Fiscalização, a
CONTRATADA terá 20 (vinte) dias úteis.
3.16 refazer os serviços, sem ônus para o
CONTRATANTE, caso não atendam as especificações, de
acordo com a Associação Brasileira de Normas Técnicas
(ABNT).”
Todas estas obrigações assumidas pela contratada, ora demandada
(VERDI CONSTRUÇÕES S.A.) devem ser transcritas, para justificar sua inclusão
no pólo passivo da presente demanda, e os pedidos que serão deduzidos ao final. As
mesmas são suficientes para apontar que a empresa, e o Estado do Rio Grande do
Norte (enquanto contratante), tem incumbência plena para que a obra em apreço
tenha PLENA FUNCIONALIDADE, afastando-se qualquer omissão,
irregularidade ou ilicitude no citado empreendimento.
O Estado do Rio Grande do Norte, através da SEJUC, fl. 54 do IC, prestou
esclarecimentos sobre a obra, no sentido da mesma apresentar um conjunto de 52 celas,
sendo cinquenta coletivas, e duas individuais, perfazendo um total de quatrocentas e
duas novas vagas.
Outrossim, não esclareceu efetivamente se haveria a destinação do novo
pavilhão apenas para presos definitivos, pois pontuou de forma vaga: “A COAPE está
estudando a possibilidade da utilização deste novo pavilhão apenas para presos
condenados (...)”.
No que se refere a questões de aeração, qualidade e fluxo do ar, informou a
SEJUC que “A aeração, pela qualidade e fluxo de ar no interior das celas, o conforto
higrotérmico, conforto acústico e os demais, incluindo sua durabilidade, estão
devidamente detalhados na Análise de Desempenho Técnico”. Ocorre Excelência,
consoante será demonstrado, os resultados não são satisfatórios, são inadequados à
realidade do nordeste brasileiro, para se dizer o mínimo, sendo cabalmente
refutados pela perícia ministerial, consoante se afirmará infra.
Outra colocação da COAPE, que não condiz com a perícia a seguir
detalhada, refere-se a seguinte afirmação: “a areação e a circulação do vento no seu
interior estão garantidas por uma circulação do vento cruzado, o que possibilita uma
renovação adequada do ar interno” (IC., fl.55).
No relatório de análise do sistema construtivo penitenciário – SISCOPEN
acostado às fls. 157 e ss. do IC, pode-se compreender efetivamente do que se trata a
construção sub judice, alicerçada na idéia de “monoblocos”, in verbis:
“2.3. O objeto é formado por uma série de módulos,
“caixas”, pré-fabricadas, que podem assumir diferentes
aplicações de acordo com o programa de necessidades de
um estabelecimento penal (...) (fl. 175 do IC).
2.19. O termo “monobloco” surge da solidarização dos
painéis e peças que terminam por caracterizar um
elemento único. Os painéis do piso, paredes e lajes de teto
recebem inserts metálicos que funcionam como esperas
para a união do conjunto por meio de soldas. Os inserts
são galvanizados “a quente” o que garante maior
durabilidade” (fl. 181 do IC).
Como é de conhecimento basilar, não basta a Contratada fixar blocos para
alojar os presos. Mister que sejam atendidos os mandamentos constitucionais e legais
para a alocação dos detentos e que a obra tenha sua funcionalidade atestada, consoante
transcrição das obrigações assumidas no contrato administrativo supra.
A presente ação, por conseguinte, tem por missão estabelecer que o novo
pavilhão, mais do que a mera alocação de celas sequenciais e em bloco, seja
funcionalmente adequada e subsuma-se aos ditames impostos nos ordenamento jurídico
pátrio.
Interessante mencionar que o citado documento de posse do Estado réu já
aponta os problemas que ora serão demonstrados, consoante se infere às fls. 201 e ss. do
IC. Vejamos as “críticas construtivas” que o próprio projeto já prevê, que embasam
sobremaneira a pretensão ministerial deduzida na presente actio:
“A descarga da bacia sanitária é acionada por um
cordão que segue em um duto até a caixa que se localiza
na passarela. Observou-se que a falta de manutenção,
quando do rompimento do cordão, não substitui o
mesmo. Dai a improvisação com cordas de panos passando
por dentro da cela até a caixa.
Sugere-se a colocação de uma tela metálica de proteção
na luminária embutida na parede.
A quina formada pelo encontro dos módulos com o radier
não recebe acabamento algum. Fica então uma fresta por
onde corre a água da lavagem dos pisos, podendo vir a ser
um ponto de vetores, além de esconderijo para objetos
proibidos (...).”
É de se dizer: o projeto, em sua origem, apresenta imperfeições e falhas,
não sendo factível que o Estado, ciente das mesmas, concorde com a permanência
destas.
Ainda no que se refere a problemática do acionamento das descargas,
pontua o relatório, fl. 206 do IC: “As instalações estão funcionando. O único detalhe é o
cordão de acionamento da descarga da bacia sanitária que se parte e é improvisado com
retalhos de pano que passam pela porta”.
O projeto, consoante se infere às fls. 208 e ss. do incluso IC, fora analisado
pelo Ministério da Justiça, que expedira Recomendações (consoante se infere do citado
relatório) exatamente em pontos que são impugnados na presente ação. Transcreve-se
naquilo que é relevante:
3.2.7 As recomendações Gerais (item Dois do Anexo V),
no que tange aos projetos dos módulos, sugerem evitar
revestimentos abrasivos (2.7) ou combustíveis (2.17),
proteger as instalações do acesso as pessoas presas
(2.12) (...) não utilizar elementos que possam ser
utilizados como armas, especialmente os metálicos (...).
3.2.10. As Recomendações ainda reservam três itens
para as portas das celas (2.20, 2.21 2 2.22), que
determinam a necessidade de criação de aberturas
para visualização do interior das celas (...)”. (grifos e
sublinhados nossos).
Tais problemáticas, junto com outras, serão sobejamente demonstradas no
tópico dedicado à perícia desenvolvida por este órgão ministerial.
Houve apresentação pelos acionados, importa ressaltar, de “Análise de
Desempenho Técnico da Penitenciária modulada Pré-Fabricada em CAD+GRC
produzido pelo NORIE – Núcleo Orientado para a Inovação da Edificação da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (IC. fls 274 e ss). Este, item 3.7, apresenta
considerações sobre o conforto higrotérmico, nos seguintes termos:
“O conforto térmico é garantido pela utilização de um
forro formado por um sanduíche com 8,5 cm de CAD, 5,0
cm de isopor e 1.5 cm de GRC em contato com o
ambiente, de aberturas que permitem o controle da
ventilação, proteção à chuva e atenuação da temperatura
nos ambientes internos. Em relação às paredes laterais de
CAD, apesar de possuírem apenas 4.5 cm de espessura,
conforme descrito no item 2, as mesmas encontram-se
justapostas à parede lateral de outra cela, com
preenchimento de 2 cm de graute, resultando em um bom
isolamento térmico e acústico entre as celas. O isolamento
térmico das paredes laterais na extremidade final do
conjunto é garantido pela execução de uma parede de
alvenaria com 19 cm acrescido de um revestimento de 2
cm. As paredes de frente e fundos da cela, com 10 cm de
espessura, propiciam uma atenuação na transmissão da
temperatura.” (Fl. 296 do IC).
Desnecessário dizer, a mais não poder, que o clima da região sul (onde
se localiza a Universidade que desempenhou o estudo) é completamente diverso do
existente na região nordeste do Brasil. Essa afirmação foi efetivamente comprovada
através do laudo pericial do Ministério Público, consoante será exposto abaixo.
Ademais, consoante transcrição supra e igualmente presente no original (anexo I do IC,
fl. 22), o estudo limita-se a levar em consideração as espessuras da parede, reproduzindo
referência bibliográfica, sem considerar o que se vivencia na prática no interior da cela,
bem como as condições climáticas do local onde a estrutura é instalada.
Consta ainda no procedimento ministerial, a título de menção, o anexo II,
volume 1 e 2, que foram acostadas as plantas do projeto em análise. Em acréscimo, no
que se refere ao sistema de esgotamento sanitário, tem-se um amplo sistema de
tratamento de esgoto, consoante acima apontado nas fotos.
Os laudos e arguições das partes demandadas não convenceram o órgão
ministerial, que pugnou pela realização de perícia técnica, que demonstra de forma
científica aquilo que saltava aos olhos de todos os que visitam o presídio.
O parecer técnico apresentado pelo Ministério Público (que segue com a
presente vestibular) fora executado pela FUNPEC – FUNDAÇÃO NORTE
RIOGRANDENSE DE PESQUISA E CULTURA / DEC - DEPARTAMENTO DE
ENGENHARIA CIVIL – UFRN, instituição da mais alta credibilidade, passemos as
suas considerações e implicações nos pedidos desta Ação Civil Pública.
I.II – DO PARECER TÉCNICO E DOS PROBLEMAS APONTADOS NA OBRA
EM APREÇO
IRREGULARIDADES ENCONTRADAS
A seguir, transcrevem-se irregularidades encontradas pelos peritos, que variam
de gravidade e devem ser corrigidas pelos acionados, antes do funcionamento do novo
pavilhão.
“A Vistoria Técnica realizada na obra de expansão do
Presídio Estadual de Alcaçuz detectou falhas que podem
comprometer a funcionalidade e a segurança desta unidade
prisional. As irregularidades e/ou ineficiências
encontradas serão apresentadas a seguir”:
Cumpre ressaltar que, naquilo que foi possível, o órgão ministerial
apresenta, desde já, solução para a problemática apontada.
I.II.A - Janelas de acrílico
A janela de acrílico não é segura; pode ser facilmente arrancada; virará
arma nas mãos dos detentos; pode servir de instrumento de tortura entre os
detentos; e, quando retirada, ocasionará que os presos sejam expostos a chuva
diuturnamente. Incabível pensar que, em pleno século XXI, os reclusos sejam
expostos à chuva, para se dizer o mínimo.
Foto 14 – Janela de acrílico das celas
Foto 15 – Risco de acidente durante manuseio da janela de acrílico
Detalhe do fechamento
“As janelas de acrílico não consistem numa opção
adequada à proteção da chuva pelos usuários por
alguns motivos:
Trata-se de um painel de acrílico que pode ser facilmente
arrancado pelo detendo.
O fechamento é inadequado e oferece risco ao se manuse-
ar a janela de acrílico. O Foto 15 mostra que, ao fechar ou
abrir a janela de acrílico, há grande risco de acidente, po-
dendo desencadear ferimentos grave nas mãos e dedos.
Por fora, o painel pode ser quebrado e, posteriormente,
ser entregue aos detentos. Dessa forma, existe possibili-
dade desse material se transformar em arma pontiagu-
da, comprometendo a segurança de outros detentos e
agentes carcerários.
A janela de acrílico aumenta a temperatura no interior
da cela, conforme apresentado no relatório de conforto
térmico ambiental.
O elemento de sustentação da janela de acrílico (no deta-
lhe da Foto 14) é frágil e deverá não suportar o manuseio
por parte dos detentos.
Sugere-se que seja instalado um beiral mais comprido (1,5
m) ou instalado qualquer forma de anteparo que possa evi-
tar a penetração da chuva. Dessa forma, a janela de acríli-
co poderá ser retirada. Este novo elemento proposto pode
ser parafusado no beiral de concreto existente, como mos-
tra a Foto 16.”
Foto 16 – Simulação de novo beiral
I.II.B - Luminárias da cela
Apesar de haver um vidro protetor, possivelmente o mesmo será
arrancado pelos detentos, gerando celas escuras ou ponto de energia para os
detentos que o usarão para recarregarem celulares ou ligarem fogões elétricos que
servirão para efetuar choque térmico nas paredes (propiciando fugas). Importa
ressaltar que a sugestão do laudo ministerial, no sentido de se apor uma grade
protetora, também fora apontada pelo estudo apresentado pela SEJUC, consoante
transcrição feita acima. O Estado contratante tinha plena ciência da imperfeição, e
anuiu com a mesma, devendo haver a correção.
1,5 m
Foto 17 – Luminárias no interior da cela
“As celas do novo pavilhão do Presídio de alcaçuz são
dotadas de duas luminárias embutidas, com proteção de
policarbonato de 1 cm de espessura, como mostra a Foto
17.
Sugere-se que, para aumentar a segurança, esta luminária
receba uma proteção adicional em forma de gradil, que
pode ser fixada com adesivo estrutural. Dessa forma,
diminui o risco do detendo tentar quebrar e retirar o
policarbonato para realizar adaptações e transformá-la
também em tomadas.”
Foto 18 – Simulação de gradil de proteção fixado com adesivo estrutural
I.II.C - Acionamento da descarga do vaso
Foto 19 – Acionamento da descarga
Apesar de haver uma “cordinha” para o acionamento das descargas a
mesma será arrancada pelos detentos, gerando celas com problemas de
higienização. A fragilidade das descargas já era de conhecimento das autoridades,
sendo apontada nos documentos que foram enviadas ao órgão ministerial. O
Detalhe do acionamento da descarga
Estado contratante tinha plena ciência da imperfeição, e anuiu com a mesma,
devendo haver a correção. Passemos as considerações técnicas, sobre o citado
problema.
“O acionamento da descarga é feito a partir de uma corda
que tem uma extensão superior a 5 metros. Em virtude da
distância e das curvas realizadas, o acionamento
através desta corda é muito pesado e desconfortável.
Estima-se que seja necessária uma força de 30 Kgf
para acionamento da descarga.
“Existe, ainda, grande risco da
corda não suportar as solicitações
diárias, romper-se e, transformar-se
em elemento para prática de
suicídio. A Foto 20 mostra a caixa de descarga
instalada no pavimento superior distante do vaso que está
no térreo, próximo a janela. Por isso, outro dispositivo
deve ser adotado.
Foto 20 – Caixa de descarga no pavimento superior
Cabível que a empresa demandada instale mecanismo para que haja o
acionamento automático por parte dos agentes penitenciários, de forma central e
automática.
I.II.D - Canos hidráulicos e elétricos expostos no hall
Como afirmado acima, pelas próprias recomendações do Ministério da
Justiça, não podem haver tubulações expostas, que facilmente serão destruídas
pelos detentos. Permitir que o empreendimento venha a funcionar com tais
instalações significará, em pouco tempo, a inviabilidade da obra, pela quebra das
instalações, tornando o bem público inservível e o dinheiro público desperdiçado.
Foto 21 – Tubulação exposta no corredor de circulação
“A tubulação individual de cada cela é composta por canos
hidráulicos e elétricos. Estes elementos estão expostos e,
portanto, não oferecem nenhuma proteção contra
vandalismo. Ao circular pelos corredores existe acesso a
essa tubulação e, portanto, é possível transformá-la
numa arma. Canos hidráulicos ao se partirem
forçadamente apresentam extremidades pontiagudas.
Sugere-se que seja feito um fechamento com chapa de aço
Detalhe da tubulação exposta
parafusada, oferecendo proteção a esta tubulação. Este
fechamento deve ser removível para se permitir
manutenção.
Foto 22 – Simulação de fechamento desta tubulação.
I.II.E - Plataformas de ferro do hall
Os agentes penitenciários e funcionários outros também merecem um
ambiente de trabalho que atenda os rigores de segurança do trabalho.
Foto 23 – Espaço entre elementos da plataforma
Aqui aponta-se problemática para a segurança dos agentes e dos
funcionários que transitarão no estabelecimento. Há espaços no piso feito de
grades (segundo piso) que colocam em risco a atividade diária dos servidores.
“As fotos 23 e 24 mostram que, no pavimento superior,
existem espaçamentos nas barras e plataformas do piso
que comprometem a segurança dos usuários. O espaço
existente é propicio à ocorrência de acidentes e, por isso,
deve ser fechado. Para tanto, pode ser adotado chapas de
aço chumbadas ou soldadas. Nas aberturas que tenham
engrenagens de portas de cela podem ser utilizadas chapas
basculantes ou removíveis.”
Requer-se, nos termos apostos, chapas de aço chumbadas ou soldadas. Nas
aberturas que tenham engrenagens de portas de cela podem ser utilizadas chapas
basculantes ou removíveis.
Foto 24 – Espaço entre barras da plataforma
I.II.F - Fechaduras inadequadas em áreas de recepção
Foto 26 – Fechaduras frágeis e de baixo tráfego
Neste particular, consoante demonstrado pelos peritos, há desconformidade
dos materiais empregados com a obrigação assumida, mormente as contidas nas normas
da ABNT.
“As fechaduras instaladas nos ambientes da recepção
caracterizam-se como populares, de baixo tráfego e de
material ferroso. Este tipo de fechadura não é indicado
para ambientes de grande circulação de pessoas.
Sugere-se que as fechaduras existente sejam substituídas
por fechaduras normatizadas pela ABNT, de alto tráfego e
resistentes à maresia.”
Pleiteia-se a troca, por material pertinente, nos termos contratados.
I.II.G - Acúmulo de água em corredor de circulação
Tratando-se de um sistema pré-moldado, o mesmo deveria prever um
mecanismo de escoamento das águas. Ocorre que este (caso exista) não se verificou
efetivo, havendo grave risco para a saúde humana dos detentos. Mister um
mecanismo para impedir a entrada de água do solário e propiciar a saída evitando
acúmulo no piso.
Foto 27 – Piso molhado após chuva.
Foi possível detectar durante Vistoria Técnica que nas
áreas de circulação do presídio (corredor de acesso às
celas), existia o acúmulo de água. Após a ocorrência de
chuva, foi possível perceber que o escoamento desses
ambientes não funcionou adequadamente. Dessa forma, há
risco de queda ao se trafegar nessas condições.
A água acumulada foi proveniente do solário, como
mostra a Foto 28.
Foto 28 – Porta do solário e corredor de circulação
Deve a empresa contratada estabelecer mecanismo para impedir a
entrada de água e acúmulo da mesma nos corredores, bem como sistema de
escoamento para a retirada natural da mesma.
I.II.H - Ausência de armazenamento e sistema de bombeamento da água tratada
na Estação de Tratamento de Esgoto
Solário
Foto 29 – Estação de Tratamento de Esgoto sem reaproveitamento
Após tratamento da água servida, não há um
reaproveitamento dessa água para fins secundários. A
tubulação de saída da água tratada, evidente na saída do
menor tanque, mostra que não há nenhum tipo de
instalação cujo objetivo seja o de reaproveitar a água.
Requer-se que sejam instalados dispositivos para o armazenamento e
posterior bombeamento desta água para irrigação da área verde, ou usos outros (CASO
HAJA ANUÊNCIA DO ÓRGÃO AMBIENTAL E A SOLUÇÃO SEJA
AMBIENTALMENTE CORRETA). A empresa contratada não propiciou o pleno
funcionamento do sistema, tendo em vista que não há solução para a água que
venha a ser tratada.
Os dejetos humanos entram para tratamento, não sabendo a empresa
acionada informar efetivamente para onde os mesmos serão enviados, em uma
perspectiva ambiental.
Este ponto deve ser considerado em conjunto com a análise técnica a ser
efetuada pelo órgão ambiental, caso haja o licenciamento. Até a presente data, o
licenciamento não fora apresentado ao parquet.
Saída da água tratada sem re-aproveitamento
I.II.I - Telhado subdimensionado da Estação de Tratamento de Esgoto
Foto 30 – Cobertura dos tanques de infiltração da Estação de Tratamento de Esgoto
A cobertura dos tanques de infiltração da Estação de
Tratamento de Esgoto foi sub-dimensionado e, por isso,
não apresenta condições de sustentabilidade da telha
instalada. Mesmo o elemento de cobertura sendo de baixo
peso (telha de alumínio), a estrutura composta por
tubulação metálica não confere segurança e condições de
uso.
Durante a segunda Vistoria Técnica realizada pela equipe,
foi observado que a cobertura desmoronou parcialmente
ao não suportar a incidência de chuvas ocorridas no dia
anterior.
Portanto, aconselha-se que a estrutura seja inteiramente
reforçada, principalmente diminuindo a distância entre os
apoios de sustentação das telhas.
Nos termos do laudo, a estrutura precisa ser reforçada, sob pena de
desmoronar muito em breve. Ressalta-se que a mesma já teve uma
ruptura/desabamento, consoante relatado pelos peritos.
Distância muito longa entre apoios
I.II.J - Falta de reservatório elevado para abastecimento do novo pavilhão do PEA
Foto 31 – Ausência de reservatório elevado
Não basta o Estado levantar paredes, sendo necessário colocar as utilidades
necessárias para a alocação dos presos. Consoante afirmado exaustivamente, a empresa
se obrigou a fixar todos os meios para o pleno funcionamento da obra em apreço.
Embora haja a instalação de encanamentos, não há reservatório próprio. Incabível se
pensar que, após elevado gasto público, a situação verificada nos outros pavilhões (de
ausência de água de forma contínua, e acionamento de descargas e banhos poucas vezes
ao dia, em afronta a dignidade humana) venha a se repetir nas novas instalações.
Incabível se pensar em qualquer instalação sem reservatório hídrico
(caixa). Seria o mesmo que uma casa sem caixa d´água, onde os integrantes da
mesma aguardariam a boa vontade da distribuidora, ensejando graves problemas
à salubridade mínima inerente a qualquer espaço de convivência.
As celas são sujas em Alcaçuz não pelo fato dos presos omitirem-se na
limpeza, mas sim porque não há água suficiente para tal fim. Incabível o novo
pavilhão ocasionar o mesmo problema.
A demanda por água no novo pavilhão do Presídio
Estadual de Alcaçuz requer a construção de um
reservatório próprio. O reservatório existente atualmente
no Presídio não suporta a demanda atual pela baixa
capacidade.
Com a ocupação das novas unidades prisionais, será
necessário dotar o presídio de maior suprimento de água e,
para isso, será necessário construir um reservatório
elevado que deverá ter, no mínimo, uma capacidade de 80
m3.
Obs. Foi considerado no cálculo um consumo per/capto de
200 litros e 400 detentos.
Pugna o Ministério Público pela efetiva construção de um reservatório
próprio, que tenha capacidade para abastecer os detentos, de no mínimo 90 m3
(ciente de que haverá superpopulação carcerária, devendo o Estado prever folga
para ).
I.II.L - Visibilidade da guarita
Foto 32– Ala do pavilhão 4 sem visualização da guarita
A construção do novo pavilhão na forma atual, gera risco evidente a
segurança e a administração, visto que as guaritas que vigiavam o pavilhão 4
tiveram sua visibilidade suprimida.
Com a construção do novo pavilhão do Presídio Estadual
de Alcaçuz, a área para banho de sol do pavilhão 4 ficou
sem visualização por parte dos agentes localizados nas
guaritas.
Por isso, aconselha-se a construção de uma nova guarita
cujo local deverá ser determinado por um especialista em
segurança.
Requer a construção de novas guaritas, de modo que o pavilhão 4 não
fique com pontos cegos de observação.
I.II.M – Sobre o fornecimento de energia
Não consta no procedimento inquisitorial documentação afeta à
empresa de energia, atestando de forma cabal que há a possibilidade de
fornecimento elétrico, bem como que as adaptações necessárias foram feitas até a
entrada do presídio. A título de prudência, pugna-se que as partes demandadas
esclareçam, sobre a adequação das instalações até a rede da COSERN, bem como
se a referida empresa terá condições de alimentar a nova demanda de detentos.
Cumpre relembrar que o novo pavilhão praticamente dobra o número
de detentos, sendo, no mínimo, factível se pensar que haverá um excessivo aumento
na demanda diária, cabendo as partes acionadas responderem pela efetividade da
rede existente e instalada.
Pede-se com a presente ação que sejam feitas as instalações necessárias
até a rede pública, bem como que haja o (re)dimensionamento das instalações até a
rede pública para atender a nova demanda; caso a empresa fornecedora não tenha
condições de suprir a nova demanda, pelo embargo da obra e do funcionamento do
novo pavilhão, até que a Cosern ateste que há a possibilidade de atender a nova
demanda a ser contratada e que os equipamentos existentes são aptos para tal
desiderato.
I.III - DA PROBLEMÁTICA DO CONFORTO TÉRMICO AMBIENTAL NO
INTERIOR DAS CELAS.
Diante da gravidade do tema, dedica-se um tópico apartado para o
problema. Ademais, pela contundência do laudo pericial, transcreve-se a conclusão
pericial mais relevante:
“A sensação térmica no interior das celas
do novo pavilhão é extremamente
desfavorável (comparável a uma estufa),
não oferecendo condições humanas de
uso.”
Relevante desde logo pontuar que o conceito de conforto térmico é
eminentemente técnico (não se confundido com o senso comum), nos termos
esclarecidos pelos especialistas contratados:
A expressão “desconforto térmico” trata-se de um
conceito tipicamente utilizado em estudos de engenharia
cujo objetivo é detectar a influência da temperatura no
habitat das pessoas. Não se trata de uma simples
expressão para determinar se há conforto ou desconforto
por parte do usuário. Trata-se de uma expressão cujo
alcance é determinar se há condições mínimas de um ser
humano utilizar àquele ambiente de forma digna e
saudável diante das condições de ventilação e
temperatura. Não consiste, portanto, numa expressão que
possa estar atrelada ao conforto no sentido de luxo ou
privilégio.
Cumpre repisar e transcrever a mais não poder que a empresa contratada
obrigou-se a:
3.2. observar, na execução dos serviços, as leis, os
regulamentos, as posturas, inclusive de segurança e
medicina do trabalho e de segurança pública, bem como
as normas da Associação Brasileira de Normas
Técnicas (ABNT).
3.13. responsabilizar-se:
c) pela estabilidade dos serviços e o perfeito e eficiente
funcionamento de todas as instalações,
responsabilidade esta que, na forma da lei, subsistirá
mesmo após a aceitação provisória ou definitiva dos
serviços.
g) pela entrega dos serviços com as instalações definitivas
de luz, força água, esgoto, telefone e contra incêndio,
devidamente testadas e aprovadas, em perfeitas condições
de uso e funcionamento, e, quando for o caso, ligadas às
redes públicas, com aprovação das concessionárias locais,
se for o caso.
h) pela correção dos defeitos notificados pela
CONTRATANTE ou pela Fiscalização, a
CONTRATADA terá 20 (vinte) dias úteis.
3.16 refazer os serviços, sem ônus para o
CONTRATANTE, caso não atendam as especificações,
de acordo com a Associação Brasileira de Normas
Técnicas (ABNT).”
Pois bem. O sistema adotado de módulos enseja, quando colocado no
nordeste brasileiro, um calor excessivo dentro das celas, notadamente pelo emprego de
portas chapeadas. Praticamente não há fluxo de ar o que, somado com o fato do presídio
se situar em uma baixa no terreno, gera uma situação fática que não se coaduna com o
ordenamento jurídico pátrio.
Foram feitos estudos técnicos, com análise da temperatura no interior
das celas, que demonstram cabalmente que os limites são indesejáveis. Colaciona-
se os resultados do estudo:
Tendo em vista a necessidade de uma medição mais
apurada no que se refere a conforto térmico ambiental,
foram realizadas medições nas unidades mais
desfavoráveis do novo pavilhão do PEA.
Foto 06 – Medição da temperatura de globo no interior da cela mais exposta ao sol
Foto 07 – Medição da temperatura de superfícies externas à cela mais exposta ao
sol
I.III.I - RESULTADO DA AVALIAÇÃO DA CONDIÇÃO DE CONFORTO TÉRMICO
EM CELA DO PRESÍDIO DE ALCAÇUZ - RN
Transcreve-se abaixo o resultado apresentado pela perícia técnica do Ministério
Público.
CARACTERÍSTICAS: cela situada em ponto extremo (paredes
norte e oeste voltadas ao meio externo), no nível do solo, com
cobertura de laje exposta (cor cinza), com capacidade para 8
indivíduos, que se encontrava desocupada no momento das
medições. As medições foram realizadas no período da tarde de
um dia em que choveu durante toda a madrugada e parte da
manhã, mas encontrava-se ensolarado no momento da coleta de
dados.
INSTRUMENTAÇÃO: Termômetros de bulbos úmido e seco e
de globo, anemômetro de fio quente e medidor de umidade do
ar, conforme recomendações[1]
.
PROCEDIMENTO: Realização de três séries de medições
(Tbu, Tbs, Tg, velocidade e umidade do ar no interior da cela),
em duas situações – janela aberta e janela fechada.
Determinação das médias de cada série. Análise da condição de
conforto predominante no interior da cela com base no Anexo 3
da Norma Regulamentadora NR-15, do Ministério do
Trabalho[2]
. Análise da condição de conforto com base em
diagrama bio-climático [3]
. Comparação de resultados para
emissão de parecer.
RESULTADOS: Nas tabelas 1 e 2 vêem-se os resultados (valores médios) para cada situação.
Tab. 1 – Medições de variáveis ambientais / cela com janela fechada
Hora Tbu Tbs Tg U.R. Var14h00 – 14h30 26,5ºC 29,5ºC 31,0ºC 74,3% 0,0 m/s
Tab. 2 – Medições de variáveis ambientais / cela com janela aberta
Hora Tbu Tbs Tg U.R. Var14h45 – 15h15 25,0ºC 29,0ºC 31,0ºC 67,9% 0,1 m/s
ANÁLISES: O limite de tolerância para exposição ao calor, de
acordo com o Ministério do Trabalho[2]
, é estabelecido com
base no “Índice de Bulbo Úmido – Temperatura de Globo
(IBUTG)”, dado pela seguinte equação:
IBUTG = (0,7 x tbn
) + (0,3 x Tg) (1)
Substituindo-se os dados das tabelas 1 e 2 na eq. (1), obtém-se:
(a) para cela com janela FECHADA ............... IBUTG = 27,85
(b) para cela com janela ABERTA ................... IBUTG = 26,80
Considerando-se o regime de trabalho CONTÍNUO equivalente
à atividade LEVE, o limite estabelecido para o IBUTG é de até
30,0 (conforme consta no Quadro 1, do Anexo 3 da NR-15).
As análises realizadas com base no diagrama bio-climático
sugerido por Koenigsberger et al. (1977), segundo Frota et al.
(1990)[3]
, indicaram que, em ambas situações (janela
FECHADA ou ABERTA), o interior da cela apresenta condição
classificada FORA DA ZONA DE CONFORTO.
Os valores obtidos para o IBUTG ficaram abaixo do limite
estabelecido pela NR-15. Contudo, nessa análise, não foi
considerada a ocupação da cela. Conforme Lamberts et al.
(1997)[1]
, a taxa de metabolismo de um único indivíduo em
repouso chega a 80 W. Logo, em uma cela com 8 indivíduos,
haverá uma carga térmica adicional de 640 W, fato que
modificará a condição de conforto no local. Além disso, os
dados constantes nas tabelas foram obtidos a partir de medições
realizadas em uma única tarde, que foi precedida por uma
madrugada e parte de uma manhã com chuva.
Considerando-se a análise realizada com base no diagrama bio-
climático apresentado em Frota et al. (1990)[3]
, constatou-se
que a condição térmica no interior da cela está fora da zona
de conforto nas duas situações – com janela fechada ou
aberta. Parte desse resultado pode ser atribuído à situação da
cela, com duas faces voltadas ao sol, teto de laje exposta e
pouca ventilação. Portanto, são necessárias alterações no
local para amenizar a carga térmica no ambiente das celas
do Presídio de Alcaçuz. Tendo sido implementadas essas
medidas, sugere-se que sejam feitas novas medições para
determinação da taxa de ocupação adequada em cada cela.
Fonte: NR-15
I.III.II - CONCLUSÕES DA AVALIAÇÃO DA CONDIÇÃO DE CONFORTO TÉRMICO
EM CELA DO PRESÍDIO DE ALCAÇUZ - RN
Segue infra as conclusões dos peritos técnicos, transcritas do laudo e da
complementação do laudo, referentes aos resultados obtidos.
• O novo presídio de alcaçuz não ofere-
ce condição de funcionamento. Exis-
tem muitos elementos que necessitam
de providências e correções (item
4.0); (esta conclusão é feita de forma
geral, aplicando-se também a proble-
mática do conforto térmico, ora abor-
dada).
• A temperatura no interior das celas
está acima do recomendado por
Norma, mesmo sem detentos;
• Os resultados do estudo de conforto
térmico ambiental revelaram que,
sem serem feitas correções e/ou
adaptações no local, não é possível
inserir pessoas para residirem nas
unidades carcerárias. As celas volta-
das para o oeste e sudoeste recebem
o sol da tarde e, dessa forma, atin-
gem temperaturas internas que re-
sultam em grande desconforto tér-
mico, mesmo vazias;
• O número de detentos em cada uni -
dade prisional dependerá da locali-
zação da cela. Porém, no presente
momento, não há condição térmica
e de segurança para acomodar nin-
guém em nenhuma cela, mesmo nas
celas mais favoráveis à temperatu-
ra, por falta de circulação de ar;
• O estudo revelou que nas celas loca -
lizadas à oeste e sudoeste não há
condição de ninguém habitar. A
temperatura destas celas, mesmo
vazias, ultrapassa a zona de confor-
to térmico. Nas demais celas, mes-
mo a situação térmica sendo um
pouco melhor, não se recomendaria
mais que (02) dois detentos por
cela;
• Portanto, é inviável a utilização do
presídio sem que sejam feitas inter-
venções para melhoria das proprie-
dades térmicas;
• Sugere-se que, depois de sanados os
problemas apontados neste PARE-
CER TÉCNICO, seja feito um novo
estudo de conforto térmico ambien-
tal, porém, individualizado, em cela
por cela. Somente dessa forma, será
possível determinar o número ade-
quado de detentos por unidade car-
cerária, tendo em vista os aspectos
desfavoráveis no que se refere à
temperatura e ventilação;
• O novo pavilhão do PEA foi edifica -
do numa depressão e apresenta uma
metodologia construtiva não muito
indicada para regiões quentes, como
o Nordeste brasileiro. Um estudo
prévio técnico acerca das proprie-
dades dessas unidades carcerárias
na nossa região teria sido, no míni-
mo, mais prudente, tendo em vista o
alto investimento realizado.
Qual a influência da madrugada e do
início da manhã ter sido de chuva sobre
os resultados obtidos? Amplia ou diminui
o fator térmico negativamente aos
presos? O que poderia acontecer em
situações outras, como no verão?
R - A ocorrência da chuva no dia anterior e
na manhã pode ter influenciado nas
temperaturas medidas, mas de forma
discreta. A medição foi feita em horário
tipicamente quente (13:00), com sol, em
pleno verão, ou seja, numa situação muito
desfavorável. Portanto, acredita-se que não
houve influência significativa da chuva
sobre os resultados.
É possível sugerir a substituição das
portas chapeadas por portas de grades
como medida solucionadora da
problemática térmica? Caso positivo, e
seja solução mais evidente para a
problemática, favor acrescer.
R - A substituição de portas de chapa por
portas de grade favoreceria a circulação
de ar nas celas do presídio. Dessa forma, a
temperatura no interior das celas tenderia
a diminuir. Haver circulação do ar de
ambientes fechados é fator determinante
para diminuição da temperatura e
conseqüente melhoria das condições de
trabalho e uso.
A metodologia utilizada no fechamento
das celas do novo pavilhão do PEA (portas
de chapa) não é compatível com o clima
do Nordeste. Antes da instalação do novo
pavilhão, deveria ter havido um estudo
técnico para avaliação e adaptação da
metodologia do presídio às condições
locais. Por isso, recomenda-se a
substituição.
O que é cota do novo pavilhão ? (item 6)
R - Cota corresponde à altura de um plano
em relação a outro. O item 6 mostra que
existe uma diferença de nível (altura)
entre o terreno externo do presídio e o
terreno do novo pavilhão. O terreno do
novo pavilhão é mais baixo que o terreno
externo, dificultando a ventilação. Além
disso, a altura das celas do novo pavilhão
é pequena, dificultando ainda mais a
ventilação.
O laudo trabalha com o conceito de
desconforto térmico, que precisa ser
melhor explicitado ou mudado, sob risco
de leigos entenderem que há apenas um
incômodo. Ademais, o laudo, se possível,
poderia expor e discriminar o quão
elevado é este desconforto térmico e os
riscos para a saúde humana.
R - A expressão “desconforto térmico”
trata-se de um conceito tipicamente
utilizado em estudos de engenharia cujo
objetivo é detectar a influência da
temperatura no habitat das pessoas. Não se
trata de uma simples expressão para
determinar se há conforto ou desconforto
por parte do usuário. Trata-se de uma
expressão cujo alcance é determinar se há
condições mínimas de um ser humano
utilizar àquele ambiente de forma digna e
saudável diante das condições de
ventilação e temperatura. Não consiste,
portanto, numa expressão que possa estar
atrelada ao conforto no sentido de luxo ou
privilégio.
A sensação térmica no interior das celas
do novo pavilhão é extremamente
desfavorável (comparável a uma estufa),
não oferecendo condições humanas de
uso.
Não foi respondida diretamente as
indagações: “A porta de chapa uniforme
de metal pode ensejar o aquecimento
excessivo dentro da cela?”
R - Conforme já respondido, as portas de
chapa diminuem a circulação de ar,
colaborando, dessa forma, para o
aquecimento excessivo no interior das
celas.
Evidencia-se ínclito julgador, a mais não poder, que as
novas celas, nos moldes atuais, não propiciam a permanência
de presos em seu interior. HÁ GRAVE DESRESPEITO AOS
DIREITOS HUMANOS A ALOCAÇÃO DE PRESOS EM
CONDIÇÕES QUE SE ASSSEMELHAM A UMA SAUNA,
NO NOVO PAVILHÃO OBJETO DESTA LIDE! Não pode o
Ministério Público e o Judiciário anuírem a condutas lesivas
aos direitos fundamentais previstos na Constituição Federal,
notadamente a vida e a dignidade humana.
Os peritos são categóricos ao afirmar pela
impossibilidade de presos permanecerem no interior das celas
recém construídas.
I.III.III - MEDIDAS MITIGADORAS À PROBLEMÁTICA TÉRMICA
DEMONSTRADA
Na engenharia, sempre há uma possível solução. Apontamos algumas, de
ordem paliativa/mitigadoras e outra de ordem solucionadora, que devem ser adotadas
cumulativamente. Como o Estado é uno, cabível o Ministério Público apontar idéias
(ventiladas pelos peritos) com o desiderato de resolver a contenda.
Ressalte-se, desde logo, que as idéias lançadas devem ser, após
implementadas, periciadas para saber do seu efetivo resultado. Enquanto as
condições técnicas mostrarem-se insatisfatórias à permanência dos
presos (objeto desta lide) entende e pugna o parquet pela
impossibilidade de alocação dos presos no novo pavilhão. Caberá a
empresa e o Estado comprovar que o conforto térmico retornou à
níveis satisfatórios e desejáveis, sob pena de permanência do embargo
da obra, mesmo que as soluções abaixo descritas sejam tomadas em
sua inteireza.
1 - Pintar de branco as lajes da cobertura das celas (medida mitigadora).
Foto 08 – Lajes das celas com temperatura excessiva
Com a pintura dessas superfícies, a temperatura no interior das celas deverá
diminuir.
2 - Melhorar a circulação de ar através da retirada dos anteparos visuais (medida
mitigadora).
Foto 09 – Anteparos visuais que impedem a circulação do vento
Os anteparos visuais são importantes para não permitirem a comunicação entre
presos, mas impedem a circulação do vento. A diminuição da temperatura no interior
das celas depende de circulação de ar nos ambientes.
3 - Instalar insufladores de ar no teto das lajes dos corredores do 1° pavimento para
induzir a penetração forçada de ar no interior dos corredores de circulação e das celas
(medida mitigadora).
Foto 10 – Simulação de insufladores no teto do 1° andar
A instalação de insufladores de ar vai permitir a circulação do vento nos
corredores e a consequente penetração para o interior das celas.
4 - A pequena janela das portas das celas deverão permanecer sempre abertas (medida
mitigadora).
Foto 11 – Janela das portas que deve permanecer aberta para ajudar na circulação
No relatório realizado pela UFRS apresentado nos autos, a janela da porta das
celas estão abertas para permitir a circulação do ar. Considerando o clima e a
temperatura do Nordeste, esta medida é indispensável em Alcaçuz.
5 - Retirada de painel de acrílico nas aberturas das janela (medida mitigadora).
Foto 12 – Painéis de acrílico que devem ser removidos
Os painéis de acrílico aumentam a temperatura no interior das celas. No item 4.1
consta a alternativa para substituição deste elemento.
6 – Substituição das portas chapeadas por portas de grade
Como afirmado pelos experts, a porta chapeada impede sobremaneira a
circulação de ar. Sua substituição definitiva é condição sine qua non para a sensível
diminuição do conforto térmico.
Ressalte-se outrossim que as citadas portas chapeadas não são adequadas ao
regime imposto, sendo cabíveis em regimes outros, como os disciplinares diferenciados
existentes nos presídios federais., onde apenas um preso encontra-se recluso em sua
cela. Adotar a porta chapeada para celas coletivas (com oito, quiça até quatorze presos),
impedindo o Estado de saber o que ocorre no interior das celas, é propiciar
sobremaneira o cometimento de ilícitos no interior dos presídios, morte entre os
detentos, tráfico de entorpecentes, uso de celulares, entre outros problemas comumente
conhecidos.
Ademais, tem-se, como afirmado alhures, toda a problemática afeta ao
conforto térmico.
Por estas TODAS razões, vem o Ministério Público pugnar pelas reformas e
adequações acima expostas (que são muitas), consoante fundamentos jurídicos infra
aduzidos. Diante do volume fático, e pelas problemáticas se dividirem em ordens
diversas, para a compreensão da matéria e facilitação da apreciação da presente lide, os
fundamentos jurídicos a seguir expostos serão subdivididos em três ordens, a saber:
relativos ao contrato administrativo; relativos a dignidade humana dos presos; e
relativos a temática ambiental.
Passa-se a fundamentação, nos termos explicitados.
II - FUNDAMENTOS JURÍDICOS
II.I - DA NECESSÁRIA OBSERVÂNCIA AO PACTUADO EM SEDE
ADMINISTRATIVA
Como demonstrado alhures, a empresa acionada tem por dever contratual
corrigir todas as falhas apontadas, e o Estado réu tem por missão constitucional a plena
fiscalização e imposição de ônus, caso a empresa mantenha-se inerte.
A Constituição Federal impõe que a administração pública direta, indireta
ou fundacional, de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios obedecerá aos princípios de LEGALIDADE, IMPESSOALIDADE,
MORALIDADE e PUBLICIDADE (art. 37). Para tanto, tem-se que a administração
pública, seja a nível federal, estadual ou municipal, realiza as suas políticas públicas e
sociais diretamente, através de seus órgãos, e por meio de contratos celebrados com
empresas privadas ou outros órgãos administrativos.
O Contrato Administrativo é o ajuste, o acordo de vontades, que a
administração pública celebra com o particular ou outra entidade administrativa para
realização de objetivos de interesse público.
O regime jurídico dos contratos administrativos instituído pela Lei nº
8.666/93 confere à Administração Pública, em relação a eles, a prerrogativa de
fiscalizar-lhes a execução. Essa Lei estabelece que a execução do contrato deverá ser
acompanhada e fiscalizada por um representante da Administração especialmente
designado, sendo permitida a contratação de terceiros para assisti-lo e subsidiá-lo de
informações pertinentes a atribuição de fiscalização.
Estabelece o art. 54 da Lei 8.666/93 que:
Art.54. Os contratos administrativos de que trata esta Lei regulam-
se pelas suas cláusulas e pelos preceitos de direito público, aplican-
do-se-lhes, supletivamente, os princípios da teoria geral dos contra-
tos e as disposições de direito privado.
§ 1o
Os contratos devem estabelecer com clareza e precisão as
condições para sua execução, expressas em cláusulas que definam
os direitos, obrigações e responsabilidades das partes, em confor-
midade com os termos da licitação e da proposta a que se vincu-
lam.
Incabível se pensar que a administração gaste mais de dez milhões de
reais e as obras em comento apresentem graves incongruências, como as contidas
nesta inicial.
RESSALTE-SE QUE JÁ HOUVE INAUGURAÇÃO, COM A
APOSIÇÃO DE PLACA, NO APAGAR DAS LUZES DA ÚLTIMA
ADMINISTRAÇÃO.
A fiscalização é uma prerrogativa ínsita à administração, nos termos
normativos infra transcritos:
Art.55. São cláusulas necessárias em todo contrato as que estabele-
çam:
I- o objeto e seus elementos característicos;
II- o regime de execução ou a forma de fornecimento;
(...)
VI- as garantias oferecidas para assegurar sua plena execução,
quando exigidas;
VII - os direitos e as responsabilidades das partes, as penalida-
des cabíveis e os valores das multas;
VIII - os casos de rescisão;
IX- o reconhecimento dos direitos da Administração, em caso de
rescisão administrativa prevista no art. 77 desta Lei;
XI - a vinculação ao edital de licitação ou ao termo que a dis-
pensou ou a inexigiu, ao convite e à proposta do licitante vence-
dor;
XII - a legislação aplicável à execução do contrato e especialmente
aos casos omissos;
Consoante contido no contrato assinado pelas partes, TODOS os custos
para a plena realização da obra correm por conta da empresa acionada. Ademais,
enquanto prerrogativa exorbitante da administração, compete-lhe o dever de fiscalizar o
contrato em apreço, in verbis:
Art. 58. O regime jurídico dos contratos administrativos instituído
por esta Lei confere à Administração, em relação a eles, a prerro-
gativa de:
I - modificá-los, unilateralmente, para melhor adequação às fi -
nalidades de interesse público, respeitados os direitos do con-
tratado;
II - rescindi-los, unilateralmente, nos casos especificados no inciso
I do art. 79 desta Lei;
III - fiscalizar-lhes a execução;
IV - aplicar sanções motivadas pela inexecução total ou parcial
do ajuste;
V - nos casos de serviços essenciais, ocupar provisoriamente bens
móveis, imóveis, pessoal e serviços vinculados ao objeto do con-
trato, na hipótese da necessidade de acautelar apuração administra-
tiva de faltas contratuais pelo contratado, bem como na hipótese de
rescisão do contrato administrativo.
A execução dos contratos deve ser a mais fiel possível, o que não ocorrera
na espécie. Nestes termos, fixa a legislação de regência:
Art. 66. O contrato deverá ser executado fielmente pelas par -
tes, de acordo com as cláusulas avençadas e as normas desta
Lei, respondendo cada uma pelas conseqüências de sua inexe-
cução total ou parcial.
Art. 67. A execução do contrato deverá ser acompanhada e fis -
calizada por um representante da Administração especialmen-
te designado, permitida a contratação de terceiros para assisti-
lo e subsidiá-lo de informações pertinentes a essa atribuição.
§ 1o O representante da Administração anotará em registro pró-
prio todas as ocorrências relacionadas com a execução do contrato,
determinando o que for necessário à regularização das faltas ou de-
feitos observados.
§ 2o As decisões e providências que ultrapassarem a competência
do representante deverão ser solicitadas a seus superiores em tem-
po hábil para a adoção das medidas convenientes.
Além do dever da administração em fiscalizar a obra, compete ao contratado
todos os ônus para a execução do contrato, inclusive correções, reparos, substituições,
conforme fixa a Lei pátria:
Art. 69. O contratado é obrigado a reparar, corrigir, remover, re -
construir ou substituir, às suas expensas, no total ou em parte, o
objeto do contrato em que se verificarem vícios, defeitos ou incor-
reções resultantes da execução ou de materiais empregados.
Art. 70. O contratado é responsável pelos danos causados direta -
mente à Administração ou a terceiros, decorrentes de sua culpa ou
dolo na execução do contrato, não excluindo ou reduzindo essa
responsabilidade a fiscalização ou o acompanhamento pelo órgão
interessado.
Art. 71. O contratado é responsável pelos encargos trabalhistas, previ-
denciários, fiscais e comerciais resultantes da execução do contrato.
Caso o contratado não venha a corrigir os vícios apontados, resta presente
causa de rescisão contratual, devendo a administração impor todos os ônus decorrentes
de tal regime jurídico, conforme se infere da Legislação de regência:
Art. 77. A inexecução total ou parcial do contrato enseja a sua res-
cisão, com as conseqüências contratuais e as previstas em lei ou re-
gulamento.
Art. 78. Constituem motivo para rescisão do contrato:
I - o não cumprimento de cláusulas contratuais, especificações,
projetos ou prazos;
II - o cumprimento irregular de cláusulas contratuais, especifi -
cações, projetos e prazos;
(...)
VII - o desatendimento das determinações regulares da autoridade
designada para acompanhar e fiscalizar a sua execução, assim
como as de seus superiores;
VIII - o cometimento reiterado de faltas na sua execução, anotadas
na forma do § 1o do art. 67 desta Lei;
(...)
Restou sobejamente demonstrado que o contrato em apreço não fora
completamente bem executado pela empresa ré. Igualmente, o Estado acionado pouco
fez para efetivamente fiscalizar a obra, anuindo as várias irregularidades demonstradas
nesta exordial.
Passa-se a enfrentar a fundamentação jurídica afeta problemática ambiental,
que também serve de sustentáculo a presente ação.
II.II - DA AUSÊNCIA DE LICENÇA AMBIENTAL
Como afirmado alhures, a obra não tem licença prévia, de instalação ou de
operação. O Estado (deveria ter sido a empresa contratada) entrou com um pedido de
regularização de obra, o que não supre a exigência legal.
A ausência de análise prévia pelos técnicos ambientais levou aos problemas
acima ventilados, e outros, como o gasto desmedido de dinheiro público com áreas
verdes, quando sequer há um sistema de irrigação.
Os peritos pontuaram que:
• Existe área verde no entorno do novo pavilhão do
PEA, mas não há sistema de irrigação;
• Não existe re-aproveitamento da água tratada. Não
existe reservatório inferior e nem sistema de bom-
beamento para re-utilização da água para irrigação,
limpeza do presídio, como mostra o item 4.9;
• Na Estação de Tratamento, a cobertura dos tanques
é sub-dimensionada, não conferindo segurança e
durabilidade, como mostra o item 4.10;
• Não há reservatório elevado no novo pavilhão.
Provavelmente, haverá falta de água decorrente da
inexistência de um reservatório de grande capaci-
dade para suprir o novo pavilhão, como demonstra-
do no item 4.11;
Assim, imprescindível o estudo prévio de impacto ambiental e a licença
ambiental, para se autorizar o funcionamento da obra em comento.
A defesa do meio ambiente é uma das funções atribuídas expressamente
pela Carta Magna ao Ministério Público, em razão de ser um bem de grande interesse a
toda a sociedade e que, maculado, poderá trazer transtornos de toda ordem, dentre eles o
dano à saúde da população.
Estabelece a Constituição Federal em seu art. 225, in verbis:
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à
coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as
presentes e futuras gerações.
§ 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao
Poder Público:
I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e
prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas;
II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio
genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e
manipulação de material genético;
III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços
territoriais e seus componentes a serem especialmente
protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente
através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a
integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;
IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou
atividade potencialmente causadora de significativa
degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto
ambiental, a que se dará publicidade;
(...)
§ 3º - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio
ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou
jurídicas, a sanções penais e administrativas,
independentemente da obrigação de reparar os danos
causados.
(Grifo acrescido)
Infere-se da citada norma constitucional que se impõe ao Poder Público o
dever de defender e preservar o meio ambiente para as presentes e futuras gerações,
incumbindo-lhe adotar todas as providências previstas nos diversos incisos da referida
disposição, para assegurar a efetividade do direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado.
Para tanto exigiu-se das atividades potencialmente poluidoras o estudo
de impacto ambiental. O Estudo de Impacto Ambiental tem por objetivo avaliar as
proporções das possíveis alterações que um empreendimento, público ou privado,
pode ocasionar ao meio ambiente.
Trata-se de um meio de atuação preventiva, que visa evitar as conseqüências
danosas, sobre o ambiente, de um projeto de obras, de urbanização ou de qualquer
atividade.”.1 Tal estudo é exigido pelo art. 225, § 1º, IV da Constituição Federal, para
instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do
meio ambiente.
E o estudo de impacto ambiental não é instrumento para o qual exista
sucedâneo, sobre o qual se possa transigir. Discorrendo acerca da Resolução CONAMA
n.º 01/86, Paulo Afonso Leme Machado adverte sobre o cuidado que deve ter a
Administração no concernente ao EIA/RIMA:
“A Lei 6.938/81 já houvera dado à Administração Pública
ambiental o direito de exigir a elaboração do ElA. A vantagem
1 José Afonso da Silva, Direito Ambiental Constitucional. 4. ed., São Paulo: Malheiros Editores, 2002, p. 286-287.
de se arrolarem algumas atividades no art. 2º obriga também a
própria Administração Pública, que não pode transigir,
outorgando a licença e/ou autorização sem o EIA.”.2
O “EIA - Estudo de Impacto Ambiental” não é mero rótulo, mas instrumento
cuja forma, metodologia e procedimentos encontram-se definidos na Resolução
CONAMA n.º 01/86, sendo insuscetível de substituição ao alvedrio dos órgãos
ambientais. Doutrina e jurisprudência são tranqüilas a esse respeito:
No caso da aplicação do princípio da precaução, é
imprescindível que se use um procedimento de prévia
avaliação, diante da incerteza do dano, sendo este procedimento
o já referido Estudo Prévio de Impacto Ambiental. Outras
análises, por mais aprofundadas que sejam, não podem
substituir esse procedimento.
Não se verifica até a presente data, pelos fatos narrados, que tenha
havido um PRÉVIO estudo de impacto ambiental, razão pela qual se busca a
suspensão da atividade para fins de correção dos equívocos.
II.II.I - DO CONCEITO DE IMPACTO AMBIENTAL
O conceito de impacto ambiental saiu da esfera eminentemente técnica e
pode ser encontrado com facilidade no próprio Dicionário Aurélio, nos seguintes
termos:
Qualquer alteração do meio ambiente causada por atividades
humanas, e que afetam direta ou indiretamente o bem-estar da
população, suas atividades, a biota, as condições estéticas,
sanitárias e a qualidade dos recursos ambientais: 2 [Tb. us.,
menos freqüentemente, para alterações causadas pela natureza
no meio ambiente.]
O art. 1º da Resolução CONAMA 001/86 estabelece o conceito legal de
impacto ambiental da seguinte forma:
2 Op. cit., p. 205.
Art. 1 Para efeito desta Resolução, considera-se impacto
ambiental qualquer alteração das propriedades físicas,
químicas e biológicas do meio ambiente, causada por
qualquer forma de matéria ou energia resultante das
atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetem:
I- a saúde, a segurança e o bem estar da população;
II- as atividades sociais e econômicas;
III- a biota;
IV- as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente;
V- a qualidade dos recursos ambientais
Como se extrai dos conceitos acima, o controle dos impactos negativos ao
meio ambiente dependem, necessariamente de estudos prévios e de plano de controle
ambiental. Sem uma atividade de controle ambiental, não é possível mitigar os
impactos decorrentes das atividades utilizadoras dos recursos naturais.
No caso dos autos, até a presente data não restou plenamente
demonstrado que o contratante tenha as licenças ambientais para operar a obra,
razão pela qual se busca sua suspensão através da presente Ação, tendo em vista
que a obra não possui qualquer garantia de que não acarretará impactos
ambientais negativos ao ambiente.
A Lei 6938/81, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente
considerou o LICENCIAMENTO AMBIENTAL como uma das formas mais
importantes de se prevenir danos aos recursos ambientais.
Quem pretende construir, instalar, ampliar ou funcionar um
estabelecimento ou atividade com utilização de recursos ambientais que podem,
sob qualquer forma, causar degradação ambiental, deverá submeter a sua intenção
a um LICENCIAMENTO no órgão ambiental competente..
O licenciamento ambiental é tão importante que o legislador estabeleceu que
a ausência da licença ambiental constitui crime ambiental, como se observa no art. 60
da Lei 9.605/98 que diz:
Art. 60. Construir, reformar, ampliar, instalar ou fazer
funcionar, em qualquer parte do território nacional,
estabelecimentos, obras ou serviços potencialmente poluidores,
sem licença ou autorização dos órgãos ambientais competentes,
ou contrariando as normas legais e regulamentares pertinentes.
Pena – detenção de um a seis meses ou multa ou ambas as
penas cumulativamente.
Com já mencionado, regulamentando os aspectos do licenciamento
ambiental estabelecidos na Política Nacional do Meio Ambiente, Lei 6938/81, a
Resolução CONAMA 237/97, em seu art. 1º, incisos I e II, define licenciamento e
licença ambiental como:
I - Licenciamento Ambiental: procedimento administrativo
pelo qual o órgão ambiental competente licencia a localização,
instalação, ampliação e a operação de empreendimentos e
atividades utilizadoras de recursos ambientais, consideradas
efetiva ou potencialmente poluidoras ou daquelas que, sob
qualquer forma, possam causar degradação ambiental,
considerando as disposições legais e regulamentares e as
normas técnicas aplicáveis ao caso.
II- Licença Ambiental: ato administrativo pelo qual o órgão
ambiental competente estabelece as condições, restrições, e
medidas de controle ambiental que deverão ser obedecidas pelo
empreendedor, pessoa física ou jurídica, para localizar, instalar,
ampliar e operar empreendimentos ou atividades utilizadoras
dos recursos ambientais consideradas efetiva ou potencialmente
poluidoras ou aquelas que, sob qualquer forma, possam causar
degradação ambiental.
A Resolução detalha quais são as licenças expedidas durante o procedimento
de licenciamento ambiental, esclarecendo:
Art. 8.º O Poder Público, no exercício de sua competência de
controle, expedirá as seguintes licenças:
I- Licença Prévia (LP) – concedida na fase preliminar do
planejamento do empreendimento ou atividade, aprovando sua
localização e concepção atentando sua viabilidade ambiental e
estabelecendo os requisitos básicos e condicionantes a serem
atendidos nas próximas fases de sua implementação;
II- Licença de Instalação (LI) – autoriza a instalação do
empreendimento ou atividade de acordo com as especificações
constantes dos planos, programas ou projetos aprovados,
incluindo as medidas de controle ambiental e demais
condicionantes da qual constituem motivo determinante;
III- Licença de Operação (LO) – autoriza a operação da
atividade ou empreendimento após a verificação do efetivo
cumprimento do que consta das licenças anteriores, com as
medidas de controle ambiental e condicionantes determinados
para a operação.
Parágrafo Único. As licenças ambientais poderão ser expedidas
isolada ou sucessivamente, de acordo com a natureza,
características e fase do empreendimento.
Na situação em análise, o Estado do Rio Grande do Norte e a empresa
contratante queimaram etapas do procedimento ambiental tendo havido a construção
sem a Licença Prévia e de Instalação, bem como sem o efetivo conhecimento do
projeto aprovado, sem a garantia da implantação das medidas de controle ambiental dos
efeitos nefastos ao meio ambiente que podem ser ensejados pelo sistema mal realizado.
II.II.II - DOS PARÂMETROS DE LANÇAMENTO DE EFLUENTES
Como a obra pode ter impactos graves ao rio e a bacia hídrica,
necessário pontuar os fundamentos jurídicos afetos ao tema.
Sobre a proteção das águas, é importante mencionar que o art. 26 da
Constituição Federal estabelece que:
Art. 26. Incluem-se entre os bens dos Estados:
I- as águas superficiais ou subterrâneas, fluentes,
emergentes e em depósito, ressalvadas, neste caso, na forma
da lei, as decorrentes de obras da União.
(...)
A Constituição Federal, em seu art. 22, IV, diz que compete privativamente à
União legislar sobre águas. Com essa premissa constitucional, a Lei 9.433/9 instituiu a
Política Nacional de Recursos Hídricos. Vale transcrever alguns preceitos dessa Política:
OBJETIVOS
Art. 2º São objetivos da Política Nacional de Recursos Hídricos:
I- assegurar à atual e às futuras gerações a necessária
disponibilidade de água em padrões de qualidade adequados
aos respectivos usos;
(...)
DAS DIRETRIZES GERAIS DE AÇÃO
Art. 3º. Constituem diretrizes gerais de ação para
implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos
I- a gestão sistemática dos recursos hídricos, sem dissociação
dos aspectos de quantidade e qualidade;
II- a adequação da gestão de recursos hídricos às diversidades
físicas, bióticas, demográficas, econômicas, sociais e culturais
das diversas regiões do Pais;
III- a integração da gestão dos recursos hídricos com a
gestão ambiental;
(...)
No âmbito Estadual, existe a Lei Estadual 6.908/96 – que dispõe sobre a
Política Estadual de Recursos Hídricos. O art. 1º, I, da referida Lei inclui como objetivo
assegurar que a água possa ser controlada e utilizada em padrões de quantidade e
qualidade satisfatórios por seus usuários atuais e pelas gerações futuras.
A Resolução 357/05 do CONAMA atualizou a Resolução 20/86. No
Capítulo IV, constam as prescrições sobre as CONDIÇÕES E PADRÕES DE
LANÇAMENTO DE EFLUENTES. Dita a Resolução:
CAPÍTULO IV - DAS CONDIÇÕES E PADRÕES DE
LANÇAMENTO DE EFLUENTES
Art. 24. Os efluentes de qualquer fonte poluidora somente
poderão ser lançados, direta ou indiretamente, nos corpos de
água, após o devido tratamento e desde que obedeçam às
condições, padrões e exigências dispostos nesta Resolução e em
outras normas aplicáveis.
Parágrafo único. O órgão ambiental competente poderá, a
qualquer momento:
I - acrescentar outras condições e padrões, ou torná-los mais
restritivos, tendo em vista as
condições locais, mediante fundamentação técnica; e
II - exigir a melhor tecnologia disponível para o tratamento dos
efluentes, compatível com
as condições do respectivo curso de água superficial, mediante
fundamentação técnica.
Os padrões para o lançamento de efluentes no corpo d’água estão previstos
no art. 34 da Resolução 357/05. Aos padrões da Resolução devem ser acrescidos os
padrões adicionais impostos pelo órgão ambiental licenciador.
O lançamento de efluentes fora dos padrões estabelecidos pela Resolução e
em dissonância das demais características das águas receptoras ocasionam a alteração
da qualidade original, dando ensejo a poluição do corpo hídrico. Não se pode descurar,
ainda, que o lançamento de efluentes, também tem de estar de acordo com a capacidade
de auto-depuração do corpo receptor.
No caso em apreço, verifica-se que a entidade contratante, deseja com sua
obra lançar os efluentes, pluviais, ou quiça de esgotos, na nascente do Rio, consoante
fartamente demonstrado. Assim, diante do total desrespeito as normas invocadas, busca-
se o socorro do Poder Judiciário com o fito de tal conduta ser obstada.
II.III - DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA INERENTE AOS PRESOS, E
DA IMPOSSIBILIDADE DOS MESMOS SEREM RECOLHIDOS EM CELAS
COM ELEVADO DESCONFORTO TÉRMICO
Até a presente data, as celas são inabitáveis, nos termos descritos pela
perícia técnica.
A Constituição Federal, em vigor no país, inaugurou um novo sistema de
proteção aos direitos fundamentais da pessoa humana, conformando, inclusive, um novo
modelo de sistema penal, submetido a esses mesmos princípios.
Assim, é a partir da CF/88 que deve partir o propósito de exigibilidade do
pedido da presente ação civil pública de ver garantido aos presos o recolhimento em
celas habitáveis, com conforto térmico satisfatório.
Neste sentido, prescreve a CF/88 que:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de
qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do di-
reito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento
desumano ou degradante;
Ora, degradante ou desumano, como o próprio termo nos revela será o trata-
mento dispensado ao indivíduo que o retire de sua condição humana. E não se pode con-
ceber que um ser humano seja recolhido em celas com elevadas condições térmicas, sob
pena de estar-se impondo, por via transversa, a pena de morte, posto seja este o re-
sultado final da ausência de condições para se manter no cárcere.
E assim, surgem duas possibilidades: ou o Estado, responsável pela custódia
dos presos fornece local adequado, reformando as celas do novo pavilhão, ou constrói,
novamente, no sistema prisional, uma infra-estrutura adequada para que presos possam
ser recolhidos.
Outra observação que nos parece pertinente, respeita a questão da responsa-
bilidade civil do Estado, que pode advir de quaisquer danos à saúde ou a vida de um
preso que esteja sob custódia da administração pública em função da omissão no dever
de fornecer local adequado para recolhimento.
Assim, custos de possíveis indenizações recairão sobre a sociedade não sen-
do, pois, admissível a perpetuação do discurso de alguns que julgam impertinente o gas-
to do dinheiro público com presos.
No mesmo sentido, prossegue a CF/88, segundo a qual:
XLVII - não haverá penas:
e) cruéis [...]
Ora, a pena deve ser imposta nos estritos limites previstos na lei, de forma
que não poderá, por exemplo, ultrapassar a pessoa do preso para atingir sua família, e
nem poderá impor um encargo sobre o réu que ele não possa suportar, como no caso das
penas cruéis, ou seja, que impõem um sofrimento desmedido, além do querido pelo
constituinte e necessário para a reabilitação do transgressor.
Neste diapasão, a CF/88 prescreve que:
XLIX - é assegurado aos presos o respeito à integrida-
de física e moral; [...]
Decerto que a integridade física do preso estará garantida se ao mesmo não
forem impostos métodos de tortura, para fins de investigação ou intimidação, mas não é
menos verdade que a integridade física e psíquica só restará preservada se ao indivíduo
for permitido recolher-se adequadamente.
O Supremo Tribunal Federal já teve a oportunidade de manifestar-se quanto
ao caráter humanista da CF/88, ante a consagração de valores que privilegiam a dignida-
de da pessoa humana. Neste sentido:
Tanto quanto possível, incumbe ao Estado adotar me-
didas preparatórias ao retorno do condenado ao conví-
vio social. Os valores humanos fulminam os enfoques
segregacionistas. A ordem jurídica em vigor consagra o
direito do preso de ser transferido para local em que
possua raízes, visando a indispensável assistência pelos
familiares. Os óbices ao acolhimento do pleito devem
ser inafastáveis e exsurgir ao primeiro exame, conside-
radas as precárias condições do sistema carcerário pá-
trio." (HC 71.179, Rel. Min. Marco Aurélio, julgamen-
to em 19-4-94, DJ de 3-6-94)
Não fossem os argumentos e normas acima expostos suficientes ao conven-
cimento da existência de um local digno para o preso ser recolhido, a CF/88, ao inserir o
país no âmbito das relações internacionais, restou por admitir a validade dos tratados in-
ternacionais relativos aos direitos humanos.
Prescreve a CF/88 que:
§ 3º - Os tratados e convenções internacionais sobre di-
reitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do
Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos
dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes
às emendas constitucionais.
Destacam-se:
a) Declaração Universal dos Direitos Humanos, cujo art. 10, incisos 1 e 3,
destaca:
Art. 10 – 1. Toda pessoa privada de sua liberdade deve-
rá ser tratada com humanidade e respeito à dignidade
inerente à pessoa humana; (...) 3. O regime penitenciá-
rio consistirá em um tratamento cujo objetivo princi-
pal seja a reforma e a reabilitação moral dos prisionei-
ros.
b) a Convenção Americana de Direitos Humanos, segundo a qual:
Art. 5° - Direito à integridade pessoal: 1. Toda pessoa
tem direito a que se respeite sua integridade física, psí-
quica e moral; (...) 6. As penas privativas de liberdade
devem ter por finalidade essencial a reforma e a rea-
daptação social dos condenados.
Conclui-se, portanto, que há uma evidente relação entre a preservação da
dignidade da pessoa presa e a finalidade ressocializadora da pena, razão pela qual o em-
prego de penas ou a sua execução de maneira cruel, desumana ou degradante, viola, a
um só tempo, o direito individual do preso e o direito difuso de toda a coletividade a
uma atividade estatal que contribua para o bem comum.
A Lei n° 7.210, de 11 de julho de 1984, que institui as normas para a execu-
ção penal, é anterior à CF/88, mas foi recepcionada pela mesma em razão da coaduna-
ção entre seu conteúdo e os dos princípios acima expostos, motivo pelo qual podemos
asseverar que, sob o prisma material, a lei em questão encontra seu fundamento de vali-
dade na Carta Magna.
Por fim, a preocupação com a integridade física dos presos é de tal ordem
que o Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, órgão ligado ao Ministé-
rio da Justiça, editou a Resolução n° 14, de 11 de novembro de 1994, que fixou as Re-
gras Mínimas para o Tratamento do Preso no Brasil, que dentre outras regras, prevê
que:
Art. 3° É assegurado ao preso o respeito a sua individu-
alidade, integridade física e dignidade pessoal.
Como visto, a gama de normas que disciplinam e conformam a execução
penal no país assegura firmemente o direito do preso, provisório ou não, a integridade
física e, via de conseqüência, ao direito de não permanecer em celas com desconforto
térmico.
III - DO PEDIDO DE LIMINAR
Avaliando os requisitos para concessão da liminar autorizada legalmente, em
especial o art. 12 caput, da Lei 7.347/85, pode-se afirmar que esses requisitos básicos,
quais sejam o fumus boni juris e o periculum in mora, são de fácil percepção.
Com certeza, pela análise dos elementos colhidos no presente procedimento
administrativo, o Ministério Público pede a continuidade da liminar deferida na ação
cautelar.
Caso a continuidade da mesma seja incabível, pugna por nova cautelar, ora
incidental.
A defesa ambiental aqui pleiteada encontra completo respaldo jurídico e
conseqüentemente, a plausibilidade do direito substancial encontra-se palpável.
Ademais, os dispositivos invocados afetos ao tema da dignidade humana dos presos e
aos requisitos administrativos ínsitos à fiscalização da obra e da obrigação da contratada
impõe a percepção de que há uma fumaça de bom direito no caso sub examine.
Ademais, há grave risco para os presos no que se refere ao funcionamento
da obra. Há igual risco para os próprios funcionários, consoante demonstrado. As
instalações, consoante afirmado pelos próprios peritos, não tem condições de entrar em
funcionamento.
Pede-se a vênia para não transcrever os múltiplos fatos acima apontados,
que integram o presente capítulo, como se aqui estivessem transcritos.
Quanto ao perigo da demora (periculum in mora), forçoso é convir que
esse quesito também se encontra atendido. A demora de um provimento jurisdicional
voltado para proteger o caso em apreço pode ocasionar danos irreversíveis tanto ao
meio ambiente, quanto à vida humana.
Como bem ensina LUIZ GUILHERE MARINONI em sua obra Técnica
Processual e Tutela dos Direitos:
A probabilidade do dano deve merecer socorro em face de qualquer
direito ameaçado, e por isso tem vinculação com o princípio da
preventividade, que assume particular importância no direito
ambiental, diante de sua natureza inviolável. (RT, 2004)
Ao Ministério Público, portanto só resta apontar as tantas ilegalidades
verificadas e pedir ao Poder Judiciário, como mérito, o embargo da obra, até a
apresentação de todas as licença respectivas e da correção de todas as
irregularidades/ilegalidades apontadas.
IV - PEDIDOS
Diante do exposto, e no afã de obter a melhor tutela ambiental, REQUER a
Vossa Excelência:
a) liminarmente, a imediata paralisação de todas as obras em curso , bem como o
impedimento de alocação de apenados no novo pavilhão no intuito de se
evitar que seja causado algum dano, bem como que o impedimento perdure até
a realização do estudo de impacto ambiental, relatório ambiental e licenciamento
ambiental; do conserto de todas as irregularidades apontadas nesta exordial (que
passam a constar deste pedido como se aqui estivessem transcritas); e da
adequação do conforto térmico no interior das celas, considerando-se o
número de apenados (usando-se como parâmetro o número de oito
apenados) que eventualmente venham a ser alojados, no limite estabelecido
pela NR-15 (30,0 IBUTG).
b) liminarmente, declarar-se nulo o eventual ato de entrega da obra pela empresa
contratada, bem como o de recebimento por parte do Estado réu, impondo a este
o ônus de fiscalizar e comprovar a adequação do objeto aos termos contratuais,
apresentando manifestação circunstanciada sobre a execução da obra ao presente
órgão judicante.
c) liminarmente, obstar o Estado réu de efetuar quaisquer pagamentos referentes ao
citado contrato à empresa Contratada dos valores pertinentes ao contrato
administrativo objeto desta lide, até que a obra esteja completamente acabada e
com possibilidade de entrar em funcionamento, mediante a realização do estudo
de impacto ambiental, relatório ambiental e licenciamento ambiental; do
conserto de todas as irregularidades apontadas nesta exordial (que passam a
constar deste pedido como se aqui estivessem transcritas); e da adequação do
conforto térmico no interior das celas, considerando-se o número de
apenados que eventualmente venham a ser alojados (usando-se como
parâmetro o número de oito apenados), ao limite estabelecido pela NR-15
(30,0 IBUTG).
d) a citação dos demandados, pelos seus representantes, nos endereços já indicados,
para contestarem ou concordarem com o pedido, sob pena de revelia;
e) a procedência do pedido, no sentido de tornar a tutela antecipada pleiteada
definitiva, condenando os demandados a procederem os reparos necessários ao
pleno funcionamento da obra objeto desta lide, nos termos discriminados nesta
exordial que passam a integralizar este pedido como se aqui estivessem
transcritos, notadamente:
e.1) obtenção do licenciamento ambiental,
notadamente a licença de instalação e operação.
e.2.) correção das janelas de acrílico; colocação de
anteparo para chuva, impedindo a penetração de
chuva no interior da cela.
e.3) colocação de gradil de proteção nas
luminárias.
e.4) Substituição do mecanismo de acionamento de
descarga. Colocação de mecanismo de descarga
central, passível de ser acionado pelos agentes
penitenciários.
e.5) Fechamento e proteção das tubulações e
instalações elétricas expostas.
e.6) Conserto do piso superior, impedindo
acidentes.
e.7) Substituição das fechaduras por materiais de
alta qualidade.
e.8) Estabelecimento de mecanismo que impeça a
entrada de água no pavimento/piso, bem como
estabelecimento de mecanismo que possibilite a
retirada da água no corredor de circulação. Na
segunda parte deste item, caso a medida seja
inviável ou impossível, pela readequação do
equilíbrio financeiro do contrato, reduzindo-se o
gasto público pela ineficiência da obra.
e.9) Implantação de sistema para armazenamento e
bombeamento da água oriunda da estação de
esgoto. Embargo específico da obra até que tal
medida seja implementada.
e.10) Reforço da estrutura dos tanques de
infiltração da estação de tratamento, diminuindo-se
as distâncias entre os apoios de sustentação das
telhas.
e.11) Instalação de reservatório hídrico para
abastecimento do novo pavilhão, com capacidade
para abastecer, no mínimo, quatrocentos apenados.
Embargo específico da obra até que tal medida seja
implementada.
e.12) Construção de novas guaritas, com o fito de
estabelecer a visibilidade do pavilhão 4.
e.13) Estabelecimento de medidas que
restabeleçam o conforto término no interior das
celas e do pavilhão, no limite máximo de 30,0
IBUTG (considerando-se a cela com as janelas
abertas ou fechadas, vazias ou com número de até
14 apenados, tendo em vista a factível
superpopulação carcerária que possivelmente se
implantará no pavilhão).
e.14) Instalação elétrica até a rede pública,
obrigando os acionados a providenciar as
adequações pertinentes ao atendimento da nova
demanda elétrica.
e.15) Condenação do Estado na obrigação de
não fazer, no sentido de se inviabilizar a
alocação de presos no interior de TODO O
PRESÍDIO DE ALCAÇUZ , bem como no novo
pavilhão (ou no citado empreendimento, caso o
mesmo venha a ser destacado e fixado como
novo presídio, qualquer que seja a
nomenclatura a ser adotada) caso o IBUTG seja
superior a 30,0 no interior da cela.
e.16) Condenação do Estado na obrigação de
fazer, no sentido de se retirar quaisquer presos
no interior de TODO O PRESÍDIO DE
ALCAÇUZ , bem como no novo pavilhão (ou no
citado empreendimento, caso o mesmo venha a
ser destacado e fixado como novo presídio,
qualquer que seja a nomenclatura a ser
adotada) CASO O IBUTG SEJA SUPERIOR A
30,0 NO INTERIOR DE QUAISQUER CELAS.
e.17) Substituição das portas chapeadas por portas
de grade, como forma de reduzir o desconforto
térmico, e permitir a visualização do interior das
celas, pelos agentes, evitando o cometimento de
crimes no interior do presídio.
f) objetivando conferir eficácia real à decisão liminar concedida, postula-se a
fixação de multa diária para o caso de não cumprimento da medida dentro do
prazo estipulado, cujo ônus deverá recair sobre os demandados e, no caso do
Poder Público, sobre as pessoas dos agentes públicos que derem causa ao
descumprimento da ordem, de forma a não onerar o erário.
Tal possibilidade, salutar para os cofres públicos e para a respeitabilidade
das decisões judiciais, conta com o aval da ilustre processualista LUCIANE
GONÇALVES TESSLER, que colaciona, a seu favor, entendimento doutrinário
sufragado pelo e. Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. In verbis:
“Nessas situações, nunca se alcançará a execução indireta, se
a sanção não for pessoal. Qualquer forma de coação, para
efetivamente ameaçar o agente responsável pelo ilícito, terá
que atingir sua própria esfera individual. É por isso que, sendo
o demandado pessoa jurídica de direito público, compete ao
juiz analisar o caso concreto, para, se for o caso, dirigir a
ameaça de multa ao próprio agente responsável pela prática
do ato.
“Perceba-se que a imposição da multa à pessoa jurídica de
direito público sacrifica duplamente a sociedade. (...). O
Egrégio Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, em
magnífico julgado, já consagrou tal entendimento. O
Desembargador Relator, com inteligência, ressaltou que “o
poder público não está acima do controle jurisdicional. A
multa aplicada ao poder público genericamente apena o
próprio povo, daí que essa cominação deve ser estabelecida
somente para o agente que deve cumprir a decisão judicial.”
(in Tutelas Jurisdicionais do Meio Ambiente; Coleção Temas
Atuais de Direito Processual Civil; vol. 9; São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais; 2004; p. 298).
g) a realização de perícia, para se constatar que a obra em comento é
potencialmente poluidora ao meio ambiente; que há graves irregularidades na
obra; e que o desconforto térmico no interior das celas é demasiado, afrontando
a condição humana e a NR-15 (notadamente quando alojados presos no interior
da cela).
h) a condenação dos demandados nos honorários de peritos, que porventura forem
precisos, e verbas sucumbenciais de praxe.
Protesta provar o alegado por todas as formas admitidas em Direito,
notadamente a pericial, a documental que ora se junta, bem como pela oitiva dos peritos
que produziram o laudo do Ministério Público, notadamente o Prof. Leonardo
Flamarion Marques Chaves e o Prof. Paulo Alysson Brilhante Faheina de Souza, da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Dá-se a causa o valor de R$ 100.000,00 (cem mil reais).
Nestes termos;
Pede deferimento.
NÍSIA FLORESTA/RN, 14 de fevereiro de 2011.
_______________________________________
RAFAEL SILVA PAES PIRES GALVÃO
PROMOTOR DE JUSTIÇA SUBSTITUTO