faculdade de ciências educacionais e empresariais de natal
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Faculdade de Ciências Educacionais e Empresariais de Natal
Portaria nº 1.372 de 09.07.2001
Polo de Extensão Universitária e Pós-Graduação
Rua Jundiaí, 421 – Centro – Natal/RN
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Alexandre de Paiva dos Anjos
ESTUDO MORFOLÓGICO DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS
PARNAMIRIN / RN
2017
ALEXANDRE DE PAIVA DOS ANJOS
ESTUDO MORFOLÓGICO DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS
Artigo apresentado a FACEN (Faculdade de
Ciência Educacionais e Empresariais de
Natal), como requisito parcial para a obtenção
do Título de Especialista do Curso de
Especialização em Língua Brasileira de Sinais
- LIBRAS.
Orientador: Prof.º Ms. Eudécio Carvalho
Neco.
FACEN/RN 2017
Artigo apresentado ao Curso de Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS da Faculdade
FACEN
______________________________________________________
Alexandre de Paiva dos Anjos
___________________________________________________________
Orientador: Prof.º Ms. Eudécio Carvalho Neco
___________________________________________________________
Coordenador(a) do Curso
___________________________________________________________
Examinador(a)
___________________________________________________________
Examinador(a)
PARNAMIRIN/RN
2017
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho à Deus, pоr ser essencial
еm minha vida, autor dе mеu destino, mеu
guia, socorro presente nа hora dа angústia.
AGRADECIMENTOS
Ао meu professor orientador Eudécio
Carvalho, ao professor José Elber, ao meu
professor Coach Felipe Sabará, minha filha
Alexia Paiva е a toda minha família.
A esta instituição, sеu corpo docente, direção е
administração quе oportunizaram а janela quе
hoje vislumbro um horizonte superior, eivado
pеlа acendrada confiança nо mérito е ética
aqui presentes.
ESTUDO MORFOLÓGICO DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS
Alexandre de Paiva dos Anjos1
Eudécio Carvalho Neco2
Resumo
Embora o ensino da Língua Brasileira de Sinais esteja vivendo um momento de expansão na
pesquisa acadêmica, ainda existe uma necessidade de pesquisas correlacionadas aos aspectos
gramaticais na aprendizagem dessa língua. Diante disso, o presente trabalho traz alguns
conhecimentos relacionados ao estudo morfológico da Língua Brasileira de Sinais mostrando
e analisando a estrutura interna e as regras que definem a composição desses sinais, dentre as
quais estão: a derivação, composição, incorporação de numeral e a incorporação da negação, e
classe de palavras/sinais. A partir de trabalhos já realizados por Ferreira-Brito (1995),
Quadros e Karnopp (2004) e Felipe (2006) entre outros, o presente trabalho descreve a
ocorrência de processos construtores da variedade de Língua Brasileira de Sinais.
Palavras-chave: Morfologia da Língua de Sinais. Formação de sinais. Classe de palavras.
Abstract
Although the teaching of the Brazilian Sign Language is experiencing a moment of expansion
in academic research, there is still a need for research correlated to the grammatical aspects in
the learning of that language. Thus, the present work brings some knowledge related to the
morphological study of the Brazilian Language of Signals showing and analyzing the internal
structure and the rules that define the composition of these signals, among which are:
derivation, composition, incorporation of numeral and incorporation of negation, and class of
words / signs. This paper describes the occurrence of constructive processes of the Brazilian
Sign Language variety, based on works already performed by Ferreira-Brito (1995), Quadros
and Karnopp (2004) and Felipe (2006).
Keywords: Morphology of Sign Language. Sign formation. Class of words/signs.
1 Graduado em Letras/Libras. UFPB – Campus I – João Pessoa - PB. e-mail:
[email protected] 2 Professor orientador. FACEN. E-mail: [email protected]
Anjos, Alexandre de Paiva dos.
Estudo Morfológico da Língua Brasileira de Sinais / Alexandre de Paiva
dos Anjos. Natal: Artigo do Curso de Especialização em Língua
Brasileira de Sinais da Faculdade de Ciências Empresariais e Estudos
Costeiros de Natal – FACEN, 2017. Orientador Professor Ms. Eudécio
Carvalho Neco.
1 INTRODUÇÃO
A morfologia é a área de estudo na linguística que analisa a estrutura interna de cada
palavra3 pertencente à classe gramatical, observando cada palavra separadamente, ou seja,
sem essas estarem participando de um enunciado. Ela também examina os processos que
geram palavras recém-criadas nas línguas.
A morfologia indica as regras que definem a formação das palavras/sinais tanto nas
línguas de sinais quanto nas línguas orais. A palavra morfema deriva do grego morphé, que
significa forma. Os morfemas são menores unidades significativas que se podem identificar,
são constituintes morfológicos. (QUADROS; KARNOPP, 2004, p.86)
A falta de conhecimento básico da morfologia da LIBRAS dificulta a aprendizagem
correta que posteriormente traz problemas no entendimento comunicativo. A análise
morfológica na aprendizagem da LIBRAS é importante para que se possa entender toda
estrutura de formação de palavra/sinal e fazer uma comunicação com excelência.
Este trabalho tem por objetivo descrever os processos de formação de palavras,
derivação, composição, incorporação de numeral e a incorporação da negação.
No que se refere ao procedimento técnico adotado para este trabalho, foi feito uma
pesquisa bibliográfica, pelo fato do desenvolvimento deste estudo ocorrer a partir de trabalhos
já realizados.
Embora o ensino da LIBRAS esteja vivendo um momento de expansão na pesquisa,
ainda existe uma falta de pesquisas correlacionadas aos aspectos gramaticais na aprendizagem
da LIBRAS. Dessa maneira, o presente trabalho é de suma importância porque colabora para
o desenvolvimento e renovação dos conhecimentos relacionados à análise morfológica na
aprendizagem da Língua Brasileira de Sinais.
3 A ‘palavra’ indica que o sinal também é estudado.
2 MORFOLOGIA DA LÍNGUA DE SINAIS
Morfologia é uma área da linguística que analisa a estrutura interna, a formação e
classificação linguística das palavras ou sinais. Para Quadros (1997, p. 86) morfologia é “[...]
o estudo da estrutura interna das palavras ou dos sinais, assim como das regras que
determinam a formação das palavras”.
Fundamentado no conceito que foi citado acima, pode-se declarar que as formações
dos sinais tem origem na combinação dos parâmetros: configuração de mão, ponto de
articulação, movimento, expressão facial e corporal, nesta ocasião julgados morfemas, ou
seja, unidades significativas mínimas que, ao se unirem, formam cada palavra/sinal com
significado, assim como explica Felipe:
Estes cinco parâmetros podem expressar morfemas através de algumas
configurações de mão, de alguns movimentos direcionados, de algumas
alterações na frequência do movimento, de alguns pontos de articulação na
estrutura morfológica e de alguma expressão facial ou movimento de cabeça
concomitante ao sinal, que, através de alterações em suas combinações,
formam os itens lexicais das línguas de sinais (FELIPE, 2006, p. 202).
Poucos morfemas por si só formam palavras/sinais, entretanto, há alguns itens lexicais
que carecem da combinação mínima de dois morfemas para sua construção.
A libras é dotada de uma gramática constituída a partir de elementos
constitutivos das palavras ou itens lexicais e de um léxico (o conjunto das
palavras da língua) que se estruturam a partir de mecanismos morfológicos,
sintáticos e semânticos que apresentam especificidade mas seguem também
princípios básicos gerais. Estes são usados na geração de estruturas
linguísticas de forma produtiva, possibilitando a produção de um número
infinito de construções a partir de um número finito de regras
(BRITTO,1995, p. 1).
É de suma importância salientar que a Libras não é o português sinalizado, a libras não
depende da língua oral, por esse motivo necessita de estudos específicos, já que não se pode
aplicar estudos de línguas orais a ela.
Na Língua Brasileira de Sinais também existe, uma sequência de sinais que são
constituídos por processos de derivação, composição e incorporação. Na Libras, o
processamento de derivação é aquele que os nomes advém de verbos, caracterizando um
processo conhecido como nominalização. Em relação ao processo de composição, duas ou
mais raízes se combinam e posteriormente forma outra palavra, outro sinal. Outro
processamento normal na composição de palavras da Libras é a incorporação, cujo há dois
tipos: A incorporação de numeral e a incorporação de negação. A incorporação de numeral
mostra um limite na expressão de quantidade. Já a incorporação de negação se limita a um
número reduzido de sinais.
As línguas de sinais são línguas e contém classe de palavras/sinais, assim como o
português. No que e refere à classe de palavras/sinais e às classes lexicais que fazem parte das
línguas de sinais, estão nomes, verbo, advérbio, adjetivo, numeral, conjunção.
3 FORMAÇÃO DE SINAIS EM LIBRAS
Com relação à existência das línguas que há no mundo, independente de sua
particularidade linguística, elas mostram processos responsáveis pela geração de novas
palavras nessas línguas. Em Libras há um léxico vasto e um sistema de geração de novos
sinais no qual os morfemas são ligados. Tal ligação se dá entre os morfemas: lexicais,
gramaticais ou derivacionais, de acordo com Felipe (2006, p. 201):
Nos estudos sobre os processos de formação de palavras [composição,
aglutinação, justaposição e derivação], as línguas são sempre apresentadas
em relação aos seus morfemas lexicais (raízes/radicais) que se prendem a
morfemas gramaticais formantes (desinências e vogais temáticas) e/ou a
derivacionais (afixos e clíticos).
Segundo a autora os cinco parâmetros das línguas de sinais apresentam morfemas
mediante a algumas configurações de mão, movimentos, alterações na frequência do
movimento, pontos de articulação na composição morfológica e em expressão facial ou
movimento de cabeça simultâneo ao sinal. A LIBRAS apresenta a formação dos sinais
baseada nos parâmetros que se combinam, principalmente fundamentada na concomitância.
• Configuração das mãos: É a forma que as mãos assumem ao longo da produção de um
sinal, ou seja, está relacionada, principalmente, na posição de cada dedo da mão no
que se refere aos demais. Segue abaixo a tabela das configurações de mãos.
Figura 01: Configuração de mãos.
Fonte:http://2.bp.blogspot.com/-
KZs2KEsltNQ/VD8hSSQCUFI/AAAAAAAAADk/DE3oNMmFQeo/s1600/CM%2B61%2BNPb.jpg
• Ponto de articulação: está relacionado ao local em que o sinal é realizado, ou seja, o
ponto espacial em que as mãos incidem quando da realização do sinal. Um sinal pode
ser realizado apoiado no corpo ou não. Os sinais podem ser feito à frente do corpo ou
apoiados na parte frontal do sinalizador, nas alturas compreendidas entre o ventre e
pouco acima da cabeça, conforme apresenta a imagem abaixo:
Figura 02: Espaço de sinalização.
Fonte: Autor
• Movimento: movimentação das mãos no momento da produção do sinal. Vejamos um
exemplo a seguir:
Figura 03: Sinal de TERREMOTO. Movimentação das mãos para frente e para trás de forma alternado.
Fonte: Autor
• Orientação/Direcionalidade: apontamento da palma da mão no momento em que o
sinal é realizado. Vejamos a seguir alguns exemplos apontamento da palma da mão no
momento de realização dos sinais:
Figura 04: Sinal de OUVINTE. Orientação da Palma da mão para frente.
Fonte: Autor
Figura 05: Sinal de CHUVA. Orientação da Palma da mão para baixo.
Fonte: Autor
• Expressão facial e/ou corporal: apresentam traços que diferenciam uma sentença
afirmativa de uma interrogativa; por funcionar, a depender de como é realizada, como
marcador de plural ou de intensidade etc. A seguir algumas expressões faciais mais
recorrentes em Libras:
Figura 06: Expressões faciais.
Fonte: Autor
Por meio das alterações nas combinações desses morfemas, os itens lexicais das
línguas de sinais são construídos. Segundo Felipe (1998), esses morfemas podem ser:
morfemas lexicais, que podem ser uma raiz ou um radical; morfemas derivacionais, que
podem ser um afixo; ou morfemas gramaticais, definindo uma marca de concordância de
número pessoal ou de gênero.
A LIBRAS mostra processos derivacionais, que são processos construtores de novos
sinais a começar de sinais que já existem na língua. Alguns deles são: a derivação, a
composição e a incorporação, que são processos bem produtivos na Língua Brasileira de
Sinais.
3.1 Processo de derivação
De acordo com Basílio (1987, p. 26), derivação é processo que “se caracteriza pela
junção de um afixo (sufixo ou prefixo) a uma base para a formação de uma palavra”.
Conforme o conceito citado anteriormente pelo autor, as maneiras abaixo são exemplos de
derivação, porque neles contém estruturação base + sufixo ou base + prefixo ou base +
prefixo: carta + eiro = carteiro; planta + ção = plantação; des + leal = desleal
Na Língua Brasileira de Sinais, os nomes derivam de verbos, que caracteriza um
processo conhecido como nominalização. Quadros e Karnopp (2004) alegam que a LIBRAS
consegue derivar nomes de verbos mediante a alteração na forma da movimentação. A
movimentação dos nomes repete e a movimentação dos verbos diminui como nos sinais
CADEIRA (substantivo) e SENTAR (verbo).
Nos sinais CADEIRA (substantivo) e SENTAR (verbo), é provável perceber que o
sinal SENTAR tem uma movimentação diminuída. Para compor o sinal CADEIRA, foi
fundamental a repetição da movimentação. Parâmetros como configuração de mão e a locação
são iguais nos pares de sinais.
Felipe (2006) sugere a ocorrência na derivação zero como forma de derivação presente
na Língua Brasileira de Sinais. Nesse processo de derivação, itens lexicais são distintos
apenas a começar do seu papel no contexto linguístico em que estão incluídos. Isto significa
que dependerá do contexto linguístico saber se o sinal está relacionado a um verbo ou a um
nome. Como por Ex.: DIRIGIR e CARRO.
O sinal de DIRIGIR é usado em enunciados como: EU DIRIGIR (verbo) ÔNIBUS
MEU TIO. O sinal de CARRO é usado em enunciados como: EU COMPRAR CARRO
(substantivo) NOVO. Esses itens lexicais são sinalizados de maneira iguais (mesma
configuração de mão, locação e movimento). Ao serem efetuados, o que vai distingui-los
(quando substantivo CARRO ou verbo DIRIGIR) é o contexto do enunciado.
3.2 Derivação através da modificação de parâmetros do sinal primitivo
A derivação por alteração no mínimo de um dos parâmetros do sinal primitivo
aparenta ser um processo muito produtivo na composição de novas palavras/sinais na Língua
Brasileira de Sinais. Podemos considerar como exemplo o sinal PESQUISAR, o qual é
representado na figura 07, derivado de PERGUNTAR.
Figura 07: Sinal derivado através da alteração no movimento.
Fonte: Autor
O sinal PESQUISAR significa a produção do sinal PERGUNTAR várias vezes, em
vez de passar a lateral da mão direita (ativa) na palma da mão esquerda (passiva) apenas uma
vez, que ocorre no sinal PERGUNTAR, roçar-se a lateral da mão direita na palma da esquerda
várias vezes para frente e para trás. Um processo parecido pode acontecer com os sinais
VIZINH@ e FAVELA, derivados de CASA.
Figura 08: Sinais derivados através da modificação do movimento.
Fonte: autor
A movimentação realizada entre as mãos, onde ambas tocam uma a outra através das
pontas dos dedos no sinal CASA é alterado em VIZINH@4 e FAVELA. Em VIZINH@, as
mãos são mantidas em contato por meio das pontas dos dedos, sendo movimentadas para os
lados várias vezes. Da mesma forma ocorre com o sinal FAVELA, a diferença é que as mãos
são movimentadas para frente do corpo, girando simultaneamente pelos pulsos. As mudanças
do sinal CASA são provocadas pela semântica das maneiras derivadas. No sinal VIZINH@, a
movimentação das mãos para os lados propõe proximidade. Já no sinal FAVEL@, a
movimentação sitiada dos pulsos para frente propõe as más condições dos barracos e a seu
grande número.
3.3 Processo de composição
Na LIBRAS, o processo de composição forma vários sinais nessa língua. Segundo
Felipe (2006), a composição pode se fazer de três formas na Língua Brasileira de Sinais:
1) Através da justaposição de dois itens lexicais – como em ALMOÇAR, composta
pela junção de MEIO-DIA + COMER.
2) Através da justaposição de um classificador com um item lexical – como em
FORMIGA, composta pela junção de INSETO + COISA PEQUENA [classificador].
3) Através da justaposição da datilologia da palavra em português+sinal que
representa a execução feita pelo substantivo, como, por ex.: AGULHA, feito pela ligação de
COSTURAR-COM-AGULHA com A-G-UL-H-A. Além dessas formas de produção da
composição em Língua Brasileira de Sinais, existe ainda três regras morfológicas para dar
origem aos compostos. Quadros e Karnopp (2004) mostram estas regras:
a) Regra do contato: a formação de um sinal composto se originaliza da junção de dois
sinais que realizados juntos. O contato do primeiro sinal ou do segundo é preservado. Segue o
exemplo prático: O sinal composto ESCOLA, formado pelos sinais CASA e ESTUDAR, em
que o contato de ambos é preservado no composto.
4 A Libras não apresenta desinência de gênero e número. As palavras em Língua Portuguesa que as possuem
deverão ser transcritas com o símbolo @ (arroba) no lugar da desinência. Ex.: EL@ (ela ou ele), ME@ (meu ou
minha).
Figura 09: Exemplo de sinal composto: Escola.
Fonte: Autor
b) Regra da sequência única: em relação aos compostos, a repetição do movimento é
suprimida. Por ex.: os sinais: PAI e MÃE, separadamente, mostram uma movimentação
repetitiva, mas quando estão juntos para compor o sinal composto PAIS, esse movimento é
suprimido;
c) Regra da antecipação da mão não dominante: a junção dos sinais:
SABER+ESTUDAR compõem o sinal composto de ACREDITAR, nesse sinal a mão não
dominante estará no espaço neutro à frente do sinalizador com a configuração de mão
pertencente ao composto.
Em LIBRAS, o sinal que é realizado isoladamente tem um significado próprio.
Quando os sinais se juntam para compor outro novo sinal, eles passam a ter outro significado.
Geralmente, Nesses sinais compostos há um significado bastante distante do significado dos
sinais que o deram origem. Em razão disso, é certo alegar que, no resultado da composição,
não há como presumir o significado do novo sinal apenas analisando o significado dos sinais
de primitivos (QUADROS; KARNOPP, 2004).
3.4 Processo de incorporação
A incorporação é um processamento bastante normal na construção de palavras da
Língua Brasileira de Sinais, tendo duas formas nessa língua: a incorporação de numeral e a
incorporação da negação.
De acordo com Quadros e Karnopp (2004), morfemas retidos (menores unidades
significativas que não ocorrem sozinhos) conseguem se combinar (ou combinar com um
morfema livre) para gerar novos significados em Língua Brasileira de Sinais. Isto acontece no
processamento de incorporação de numeral, onde a alteração na configuração de mão (de 1
para 2, para 3 ou para 4) de um sinal pode alterar o número de meses, dias, horas, anos e
dentre outros advérbios. Os outros elementos dos sinais continuam os mesmos. Apenas a
configuração de mão é modificada. Ex.: UM-MÊS, DOIS-MESES, TRÊS-MESES e
QUATRO-MESES.
Os sinais vistos anteriormente são construídos por dois morfemas retidos: um
morfema que significa MÊS e engloba a orientação da mão, as expressões não manuais e a
locação; e o outro morfema é a configuração de mão, que leva o significado de um numeral.
Esses morfemas são feitos simultaneamente, compondo o sinal UM-MÊS, DOIS-MESES,
TRÊS-MESES ou QUATRO-MESES, que depende do numeral que é incorporado.
Segundo Felipe (2006, p. 204), ele também comprova a existência do processo de
incorporação de numeral, e em relação a ele admite: “a incorporação do numeral,
representando os numerais de um até quatro através de configurações de mão, acrescenta à
raiz um quantificador”. A autora declara algo que é essencial salientar: a configuração de mão
para os sinais DIAS, MESES, ANOS OU HORAS poderá ser alterada até o número 4. A
contar do número 5, o numeral é pronunciado de maneira separada dos sinais.
A negação é outro processo de incorporação. Nesse processo, o item lexical negado
admite modificação em um dos parâmetros, normalmente no movimento, resultando em sua
contrapartida negativa (FERREIRA-BRITO, 1995). Felipe (2006) relata que essa modificação
acontece da seguinte maneira: o sufixo de negação se agrega à raiz de alguns verbos que tem
uma raiz com um primeiro movimento, concluindo-os com uma movimentação contrária,
como, por ex.: o verbo GOSTAR e a sua contraparte NÃO-GOSTAR.
Em relação a incorporação da negação através da modificação de um parâmetro,
Felipe (2006) e Ferreira-Brito (1995) apontam outra maneira de negação além da citada
anteriormente: a negação através da expressão facial, incorporada ao sinal e sem modificação
dos parâmetros. Segundo Felipe (2006), o infixo de negação se incorpora à raiz de alguns
verbos através da movimentação negativa realizada com a cabeça. Essa expressão facial é
feita concomitantemente ao sinal, como no verbo CONHECER e na sua contraparte NÃO-
CONHECER.
4 CLASSE DE PALAVRAS/SINAIS
No que se refere à classe de palavras e às categorias lexicais concernentes às línguas
de sinais, encontram-se: nomes, verbo, advérbio, adjetivo, numeral, conjunção. Conduzindo o
estudo morfológico para Libras, fundamentado em uma curta análise sugerida por Silva
(1998, apud SANTOS, 2013, P. 63), encontram-se os seguintes casos:
a. Quando se quer diferenciar o sexo entre pessoas ou animais, usa-se o sinal
HOMEM e MULHER para fazer referência ao nome, mas geralmente sem
apresentar flexão de gênero, como se pode perceber no sinal de AMIG@,
que pode ser usado tanto para o sexo masculino ou feminino. Sinais como
PAI e MÃE não necessitam dessa marcação de gênero, pois possuem sinais
próprios.
b. Os adjetivos trazem como características a expressão facial e
intensificação do sinal, não há marca de gênero ou número. Cita-se como
exemplo a sinalização de BONITINHO e de MUITO BONITO, que precisa,
cada um a sua maneira, de expressão facial e intensificação do sinal, sendo
que o segundo necessita também de expressão facial. Essas marcações
linguísticas trazem o significado real do sinal.
c. Os pronomes na Libras são realizados em diferentes pontos no espaço, a
articulação do sinal depende da pessoa que se faz referência e do número, ou
seja, singular e plural. Destacam-se ainda as conjunções, sendo que as
manifestadas em Libras são MAS, PORQUE (explicativo e interrogativo),
COMO e o SE.
d. Em relação aos numerais, estes são classificados em quantidade, cardinal
e ordinal, trazendo como parâmetros de diferenciação na articulação dos
números a configuração de mão, ponto de articulação e movimento, além do
contexto.
e. A marcação do tempo verbal é realizada através de itens lexicais ou sinais
adverbiais como afirma Brito: “Dessa forma, quando o verbo refere-se a um
tempo passado, futuro ou presente, o que vai marcar o tempo da ação ou do
evento serão itens lexicais ou sinais adverbiais como ONTEM, AMANHÃ,
HOJE, SEMANA-PASSADA, SEMANA-QUE-VEM.” (BRITO, 1998, p.
46).
Na Língua Brasileira de Sinais, quando o verbo está relacionado a um tempo passado,
futuro ou presente, a marcação do tempo da ação será itens lexicais ou sinais adverbiais como
ONTEM, AMANHÃ, HOJE, SEMANA-PASSADA, SEMANA-QUE-VEM. Os sinais que
apresentam conceito temporal vêm seguidos de marcação de passado, futuro ou presente da
seguinte maneira: Movimentação para trás (passado); Movimentação para frente (futuro); e
Movimentação no plano do corpo (presente).
Figura 10: Passado.
Fonte: autor
Figura 11: Ontem estudei português.
Fonte: autor
Figura 12: Futuro.
Fonte: autor
Figura 13: Amanhã irei estudar.
Fonte: autor
Figura 14: Presente.
Fonte: AUTOR
Figura 15: Hoje vou dançar.
Fonte: autor
5 CONCLUSÃO
Conclui-se que este trabalho expôs os principais conceitos existentes nos estudos
morfológicos da Língua Brasileira de Sinais, como formação de sinais em LIBRAS, processo
de derivação, composição e incorporação, e classe de palavras/sinais.
Observamos que além da composição, construções de novos sinais através da
justaposição de dois outros sinais já existentes podem derivar sinais através da modificação de
um dos parâmetros do sinal primitivo ou por meio da junção de partes de outros sinais.
Por fim, percebe-se que este estudo atingiu o objetivo proposto, tendo em vista que
demonstrou os principais conceitos morfológicos considerados importantes na Língua
Brasileira de Sinais. Os resultados do presente trabalho podem ser utilizados para continuação
de pesquisas sobre o tema ou aperfeiçoamento de futuras pesquisas na área estudada.
REFERÊNCIAS
BASÍLIO, M. Teoria lexical. SP: Ática, 1987.
BRITO, Lucinda Ferreira. Por uma gramática de línguas de sinais. Rio de Janeiro: Tempo
Brasileiro/UFRJ, Departamento de Linguística e Filologia, 1995.
BRITO, L. F. et. al. Língua Brasileira de Sinais-Libras. In:________. (Org.) BRASIL,
Secretaria de Educação especial. Brasília: SEESP, 1998.
FELIPE, T.A. O Signo Gestual-Visual e sua Estrutura Frasal na Língua dos Sinais dos
Centros Urbanos Brasileiros. Dissertação de Mestrado, UFPE, PE, 1988.
FELIPE, Tanya Amara. Os processos de formação de palavra na Libras. Estudos
Linguísticos: Grupos de Estudos e Subjetividade, Campinas, v. 7, n. 2, p. 200-
217, jun. 2006.
FERREIRA-BRITO, Lucinda. Por uma gramática de línguas de sinais. Rio de
Janeiro: Tempo Brasileiro, 1995.
QUADROS, Ronice Müller. Educação de surdos: aquisição da linguagem. São Paulo:
Artmed, 1997.
QUADROS, Ronice Müller; KARNOPP, Lodenir Becker. Língua de sinais
brasileira: estudos linguísticos. Porto Alegre: Artmed, 2004.
SILVA, Ayonan Santos. Linguagem e surdez: A coesão em textos de surdos. São Paulo/SP.
2013. 114f. Trabalho de Conclusão Estágio (Mestrado em Língua Portuguesa) –
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP.