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FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAIBA- FESP
CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO
JULIANA SANTOS NEPOMUCENO NETO
ALIENAÇÃO PARENTAL
OS EFEITOS DA GUARDA DOS FILHOS
JOÃO PESSOA
2011
JULIANA SANTOS NEPOMUCENO NETO
ALIENAÇÃO PARENTAL
OS EFEITOS DA GUARDA DOS FILHOS
Trabalho de Conclusão de Curso, sob a forma
de Antigo Científico, apresentado à FESP –
Faculdade de Ensino Superior da Paraíba,
como requisito parcial para a obtenção do
título de Bacharel em Direito.
Orientadora Profª: Msc Neusa Monique Dantas
Lutfi Abrantes Cruz
JOÃO PESSOA
2011
N469a Neto, Juliana Santos Nepomuceno
As consequências da alienação parental. / Juliana Santos
Nepomuceno Neto. – João Pessoa, 2011.
23f.
Orientadora: Profª. Neusa Monique Lutfi Dantas de Abrantes
Cruz
Trabalho Conclusão de Curso (Artigo) (Graduação em
Direito) Faculdade de Ensino Superior da Paraíba – FESP.
1. Alienação Parental 2.Guarda dos Filhos 3. Direito de
Família I. Título.
BC/FESP CDU: 347(043)
BC/FESP CDU:
347(043)
JULIANA SANTOS NEPOMUCENO NETO
ALIENAÇÃO PARENTAL
OS EFEITOS DA GUARDA DOS FILHOS
Artigo Científico apresentado ao Curso de Direito
da Faculdades de Ensino Superior da Paraíba -
FESP, como parte dos requisitos para obtenção do
título de Bacharel em Direito.
Aprovado em:____/____/____
BANCA EXAMINADORA
__________________________________________________
Orientadora: Profª. Me. Neusa Monique D. L. Abrantes Cruz
___________________________________________
Examinador
__________________________________________
Examinador
ALIENAÇÃO PARENTAL
OS EFEITOS DA GUARDA DOS FILHOS
JULIANA SANTOS NEPOMUCENO NETO
RESUMO
Este trabalho destaca os principais aspectos da Alienação Parental – as consequências da
guarda dos filhos, sob o enfoque da Ciência Jurídica do tema em questão, favorecendo o
histórico das famílias perante o Judiciário, a partir de seu conceito, da evolução jurídica
perante seus novos “desafios”, a abrangência das questões que envolvem as consequências da
guarda dos filhos. Diante de tantas alterações sofridas em nossa legislação, a partir do código
civil, uma grande provocação para a sociedade é o tema proposto, em que para o Direito
supostamente “novo”, denominado de Alienação Parental, se inicia com a rejeição dos filhos
em relação a um dos genitores, também vítima da alienação. Este fato está sendo estudado por
muitos especialistas, sobretudo nas Varas de Família, e ganhou, no Brasil, regulamentação
através da Lei 12.318 de 2010, que em seu capítulo específico apresenta com clareza o
autêntico significado de Alienação Parental, assim como as pesquisas do IBGE demonstram
os dados recentes que vem dando certa atenção ao tema, por isto, é necessário o cuidado do
legislador com os detalhes ao fazer a análise e julgamento, visando à proteção de um bem
maior; a dignidade e proteção do alienado de acordo com o Estatuto da Criança e do
Adolescente. O que se pretende aqui é discutir sobre a alienação parental, já que é um assunto
novo na área jurídica, porém é uma realidade vivida por filhos vítimas de desentendimentos
de seus pais. Pretendemos fazer uma análise de alguns aspectos desta lei que regulamenta o
procedimento no desvio de conduta dos pais em relação à dissolução do casamento, quando
em vista a guarda dos filhos, e o respeito à identidade e pessoa do cônjuge que não tem a
guarda.
Palavra-chave: Alienação Parental. Consequências. Guarda dos filhos. Dignidade. Proteção.
Acadêmica do Curso de Direito da FESP – Faculdade de Ensino Superior da Paraíba, 2011. E-mail
4
1 INTRODUÇÃO
É papel do Estado, organizar a vida em sociedade e proteger os indivíduos quanto aos
seus direitos essenciais, devendo intervir para coibir excessos e impedir colisão de interesses.
A proposta desse estudo estabelece um tema provocante denominado Alienação
Parental – as consequências da guarda dos filhos, assunto este que surgiu na América do
Norte e se ramificou pelo mundo chegando ao nosso continente. No Brasil recebe aval na
perspectiva visionária do psiquiatra norte-americano Richard A. Gardner, chefe do
departamento de Psiquiatria Infantil da faculdade de medicina e cirurgia da Universidade de
Columbia, Estados Unidos.
A chamada Síndrome de Alienação Parental (SAP) é a síndrome criada por uma
criança em decorrência da conduta da mãe ou do pai que a treina para romper os laços
afetivos com o outro cônjuge, criando fortes sentimentos de ansiedade e temor em relação ao
outro genitor. A criança alienada apresenta atitudes de raiva e ódio contra o genitor alienado,
recusando-se a visitá-lo ou comunicar-se com ele.
Muitas vezes, essa Síndrome decorre do fim do relacionamento conjugal entre os
genitores, em que um deles não se conformando com a separação, desencadeia um processo
de desmoralização e vingança em relação ao ex-cônjuge, onde o filho é utilizado como
instrumento deste processo.
De acordo com Clawa, S.S.; Rivin, B.V.1, estima-se que 80% dos filhos de pais
divorciados já sofreram algum tipo de alienação parental.
No Brasil, a alienação parental tem se apresentado no mesmo patamar que outros
países. É bem verdade que sempre se levanta polêmica à luz dessa questão em razão dos
problemas que sempre surgem nos tribunais brasileiros, chamados que são a solucionar
conflitos oriundos dos múltiplos seios familiares, ante a inabilidade dos pais em resolver tais
situações.
São comuns, portanto, as separações conjugais e os desfazimentos das famílias. Nesta
conjuntura, por vezes, revelam-se situações difíceis para seus integrantes, especialmente para
as crianças, que passam a ter duas casas e muitas vezes convivem com constantes agressões
entre seus pais, sendo que na maioria das vezes as próprias crianças são o objeto das brigas.
É certíssimo o direito das pessoas reconstruírem suas vidas e buscarem a felicidade de
outra maneira, com outros companheiros, mas os filhos das uniões desfeitas, por vezes pagam
1 CLAWA, S.S.; RIVIN, B.V. Children Held Hostage. Dealing with Programmed and Brainwashed Children.
Chicago, American Bar Association. 1991.
5
um preço alto demais nessas trajetórias. A raiva e angústia causadas por uma relação desfeita,
sobretudo dos que se sintam abandonados, muitas vezes, são direcionadas de forma irracional
para os filhos que passam a ser usados em uma verdadeira campanha de desmoralização
direcionada contra o outro genitor.
Determinadas vezes, outros membros da família do ex-companheiro são também
tratados como inimigos, e o filho passa a assumir um posicionamento como se realmente
tivesse sido abandonado e passa a sofrer com isso, solidarizando-se com o genitor que realiza
uma espécie de programação das emoções do filho contra a outra família. O comportamento
ora mencionado é denominado de Alienação Parental, a desencadear a síndrome respectiva,
que representa sérios prejuízos na vida e desenvolvimento do filho, além de graves
implicações para ambos os lados que participam do processo, o desgaste para o próprio
familiar alienado que se vê privado da companhia do filho.
A solução passará por um caminho judicial, o alienado terá que se valer de
procedimentos e ações adequadas para mudar tal situação, haverá de ocorrer, certamente,
várias alterações comportamentais dos envolvidos no percurso do processo na guarda, como
também um acompanhamento psicológico sistemático do alienante, como também dos pais.
Em 2010, no Brasil, foi editada a Lei nº. 12.318 que dispôs pela primeira vez sobre a
Alienação Parental. A referida legislação previu algumas consequências ao genitor que pratica
a alienação. São elas:
I - declarar a ocorrência de alienação parental e advertir o alienador; II - ampliar o regime de
convivência familiar em favor do genitor alienado; III - estipular multa ao alienador; IV -
determinar acompanhamento psicológico e/ou biopsicossocial; V - determinar a alteração da
guarda para guarda compartilhada ou sua inversão; VI - determinar a fixação cautelar do
domicílio da criança ou adolescente; VII - declarar a suspensão da autoridade parental.
Para Marília Macedo2 a sanção aplicada pelo Juiz dependerá da gravidade da situação
apresentada. Nota-se que pode ser uma simples advertência quando configurado um caso mais
brando, como a própria suspensão da autoridade do cônjuge alienador sobre a criança em
situações mais graves.
As ações de família atraem, naturalmente, um acervo de disputas pessoais, quase
sempre de graves repercussões na vida dos envolvidos, notadamente quando essas situações
atingem os filhos. E o que é pior: quase sempre os filhos são usados no meio das disputas,
2 MACEDO, Marília. Direito de Família. 2009. p. 187.
6
como se fossem armas de vingança para prejudicar o ex-cônjuge, e, invariavelmente, pouco se
respeita ou se pensa em tais casos acerca do bem estar dos filhos.
O Poder Judiciário e os operadores do Direito haverão de estar permanentemente
vigilantes em relação a situações dessa natureza. Períodos de convivência curta dos filhos
com um dos cônjuges, limitações desnecessárias ao exercício do direito de visita, tudo isso
definido em decisões judiciais, muitas vezes em sede de medidas liminares, podem criar
inúmeros problemas, afetando indelevelmente a vida dos infantes. Os filhos menores não são
propriedade dos pais, são seres humanos em formação, e que têm o direito de conviver com
ambos os genitores, independentemente do estado de litígio entre estes. Aliás, o Poder
Judiciário tem o dever de atuar firmemente em tais casos, para evitar que um cônjuge utilize-
se da guarda para prejudicar o outro, retirando-lhe a paz e o direito natural de parentesco,
algumas vezes para buscar uma vantagem de cunho patrimonial.
O divórcio, por si só, já é uma ruptura e um forte drama a ser vivenciado pelos filhos,
mormente os infantes, e os pais precisam se esforçar no sentido de evitar que esses dramas
sejam potencializados pelo desejo simplório de vingança, a evidenciar Síndrome da Alienação
Parental.
Propõe-se nesta empreitada uma análise da alienação parental e as consequências da
guarda dos filhos, suas decorrências sócio-emocionais no contexto jurídico da
Responsabilidade civil, do Dano moral, à Constituição, do E.C.A, os Direitos da Pessoa
Humana, Direito de Família, o Fator Crescente de Alienação Parental no Brasil, a Lei da
Alienação Parental, as Caraterísticas e Procedimentos do Alienador e da Criança,
Consequências social e Jurídica, tendo como foco a forma salutar da convivência entre pais e
filhos mesmo após a separação conjugal.
2 OS DIREITOS DA PESSOA HUMANA
O conceito de direito do homem se encontra estritamente vinculado ao conceito de
Direito Subjetivo que, compreendido como os direitos inerentes ao indivíduo, originado na
tradição europeia, são uma descoberta relativamente recente no pensamento jurídico
ocidental.
Algumas questões merecem ser ressaltadas diante dessa complexa e permanente
problemáticos – os Direitos Fundamentais da Pessoa Humana:
O valor da pessoa, enquanto conquista histórico-axiológica, encontra a sua expressão
jurídica nos direitos fundamentais do homem;
7
Os direitos fundamentais da segunda geração tendem a se tornar tão justificáveis
quanto os da primeira geração. Com a introdução dos direitos fundamentais da segunda
geração, cresceu o juízo de que esses direitos representam, de certo modo, uma ordem de
valores;
A dignidade da pessoa humana e o exercício da cidadania são considerados princípios
fundamentais da Carta Magna Brasileira de 19883;
A partir da Declaração Universal dos Direitos do Homem (1948), uma série de
instrumentos internacionais veio à luz para abordar os temas mais variados dos direitos
inalienáveis da pessoa humana;
Os direitos contidos na Declaração Universal são uma conquista da humanidade que
conclama a uma luta permanente para dar-lhes vigência e constante responsabilidade. Não é
suficiente que estejam declarados e escritos. Devem torná-los realidade a fim de se evitar que
permaneçam no plano do discurso teórico.
Assim o brilhante Fernando Capez4 reza:
[...] “Verifica-se o Estado Democrático de Direito não apenas pela
proclamação formal da igualdade entre todos os homens, mas pela imposição
de metas e deveres quanto à construção de uma sociedade livre, justa e
solidária; pela garantia do desenvolvimento nacional; pela erradicação da
pobreza e da marginalização; pela redução das desigualdades sociais e
regionais; pela promoção do bem comum; pelo combate ao preconceito de
raça, cor, origem, sexo, idade e quaisquer outras formas de discriminação
(CF, art. 3º, I a IV); pelo pluralismo político e liberdade de expressão das
idéias; pelo resgate da cidadania, pela afirmação do povo como fonte única
do poder e pelo respeito inarredável da dignidade humana.
A visão atual é bem outra, com ampliação das formas de constituição da família e a
consagração do princípio da igualdade de tratamento entre marido e mulher, assim como
iguais são todos os filhos, hoje respeitados em sua dignidade de pessoa humana, independente
de sua origem familiar.
Essas importantes mudanças no plano jurídico da família não vieram somente agora,
com o Código Civil; Na verdade, a evolução vem ocorrendo em etapas, desde meados do
século passado, valendo ressaltar o texto da Lei 4.121, de 1962, conhecida como Estatuto da
Mulher Casada, que afastou muitas das discriminações antes observadas em face da mulher.
3 Carta Magna Brasileira de 1988. 4 CAPEZ, Fernando; PRADO, Stela. Código penal comentado. Porto Alegre: Verbo Jurídico, 2007, p. 542.
8
Na sequência desse evoluir legal, sobreveio, em junho de 1977, a Emenda
Constitucional nº 9, a excluir o caráter indissolúvel do casamento, com a instituição do
divórcio.
Mas a grande virada se deu com a Constituição Federal de 1988, que introduziu
relevantes mudanças no conceito de família e no tratamento dispensado a essa instituição
considerada a base da sociedade.
Podem ser apontadas quatro vertentes básicas nesse facho de luz ditado pelos artigos
226 e seguintes da Carta constitucional: a) ampliação das formas de constituição da família,
que antes se circunscreviam ao casamento, acrescendo-se como entidades familiares a união
estável e a comunidade formada por quaisquer dos pais e seus descendentes; b) facilitação da
dissolução do casamento pelo divórcio direto; c) igualdade de direitos e deveres do homem e
da mulher na sociedade conjugal, e d) igualdade dos filhos, havidos ou não do casamento, ou
por adoção, garantindo-se a todos os mesmos direitos e deveres e sendo vedada qualquer
discriminação decorrente de sua origem.
3 DIREITO DE FAMILIA
3.1 A Família no Código Civil e na Constituição Federal de 1988
Os dogmas que serviram de fundamento para o direito civil durante muito tempo, com
a Constituição Federal de 1988 começaram a perder força, tendendo a serem totalmente
superados.
A Constituição de 1988 conferiu nova conotação a diversos institutos do direito civil,
sendo essencial para redefinição do conceito de família. Analisando esse processo de
constitucionalização do direito civil, Fabíola Santos de Albuquerque5 expõe:
[...] “Na senda da constitucionalização do direito civil, o direito de família,
provavelmente, tem sido o ramo do Direito que mais absorveu as mudanças
e os influxos da humanização das relações jurídicas em nosso tempo”.
(Constituição Federal, art. 1.631).
Na verdade, a Constituição Federal criou mesmo um novo Direito de Família no
Brasil, que passou a ter a nomenclatura Direito Constitucional de Família a partir do novo
conceito de entidade familiar, reconhecendo a união estável entre um homem e uma mulher,
com direitos e deveres iguais para ambos os cônjuges para coibir a violência no âmbito das
5 ALBUQUERQUE, Fabíola Santos. Famílias no Direito Contemporâneo. 2010. p.127.
9
relações familiares, vedando quaisquer tipos de discriminações dos filhos, nascidos ou não da
relação de casamento, acabando, portanto, com o estigma da filiação ilegítima.
Fácil é verificar que a realidade social, a cultura do tempo vivido, levou os Tribunais
antes e após o constituinte de 1988 a incorporar modificações substantivas nas relações
familiares; Com isso, não se pode dizer que o novo Código Civil seja definitivo, devendo se
considerar, sempre, que a sua disciplina reflete o momento de sua elaboração e, portanto, não
dispensará permanentes atualizações.
3.2 O Poder da Família na Proteção da Criança e do Adolescente
O poder familiar, concebido como múnus, um complexo de direitos e deveres, o poder
familiar não é mais o âmbito de competência delegada ou reconhecida pelo Estado para
exercício de poder.
Torna-se fundamental que a criança e o adolescente tenham garantido o direito à vida
com dignidade, ao amor e cuidados básicos que incluem: alimentação, habitação, a atenção
básica de saúde, acesso à educação e ao lazer.
Que a criança e o adolescente tenham seus direitos cumpridos; que esses direitos
devem estar englobados em um compromisso que toda a sociedade deve assumir e que essas
prioridades devem ser mantidas permanentemente.
O Código Civil6 estabelece que:
[...] os filhos estão sujeitos ao poder familiar, enquanto menores, podendo
levar à interpretação ligeira de serem os pais os únicos titulares ativos e os
filhos os sujeitos passivos dele. Para o cumprimento dos deveres decorrentes
do poder familiar, os filhos são titulares dos direitos correspectivos.
Portanto, o poder familiar é integrado por titulares recíprocos de direitos. O
ECA estabelece que o poder familiar seja exercido pelo pai e pela mãe, na
forma do que dispuser a legislação civil. O novo Código refere-se apenas à
titularidade dos pais, durante o casamento ou a união estável, restando
silente quanto às demais entidades familiares tuteladas explícita ou
implicitamente pela Constituição. (Código Civil Brasileiro).
O poder familiar, concebido como múnus, um complexo de direitos e deveres o poder
familiar não é mais o âmbito de competência delegada ou reconhecida pelo Estado para
exercício de poder.
6 BRASIL. Código Civil Brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2010.
10
O Código estabelece que havendo separação judicial dos cônjuges, divórcio ou
dissolução da união estável, o poder familiar permanece íntegro, exceto quanto ao direito de
terem os filhos em sua companhia (art. 1.631).
No art. 1.589, quando tratou da dissolução da sociedade conjugal, estabelece que o pai
ou a mãe que não for guardião poderá não apenas visitar os filhos, mas os ter em suas
companhias, bem como fiscalizar sua manutenção e educação, que são características do
poder familiar. Do mesmo modo, o art. 1.579 prescreve que o divórcio não modifica os
direitos e deveres dos pais em relação aos filhos. O direito e dever à companhia dos filhos,
daquele que o reteve na separação, não exclui o do outro, na forma em que tiver sido
decidido, amigável ou judicialmente, no tocante ao chamado direito de visita. A tendência
mundial, que consulta o princípio do melhor interesse da criança, recomenda a máxima
utilização da guarda compartilhada, da manutenção da co-parentalidade, de modo a que o
filho sinta a presença constante de ambos os pais, apesar da separação física deles. Neste
sentido, o direito à companheira é relativo e não pode ser exercido contrariamente ao interesse
do filho, que deve ter assegurado o direito à companhia do pai ou mãe que não seja o
guardião.
Em suma, o direito de um não exclui o direito do outro e o filho tem direito à
companhia de ambos. No caso da guarda compartilhada, por ser modo de preservação das
relações familiares, entre pais e filhos, tendo ambos os pais direitos/deveres equivalentes, a
regra de exclusão do novo Código não pode ser aplicada.
O Código não utiliza os termos criança e adolescente, presentes na Constituição, no
capítulo dedicado à família, porém menor. Mais uma vez, em conformidade com a
Constituição, menor deve ser entendido como criança ou adolescente.
O art. 1.633 do novo Código determina, repetindo essencialmente o Código anterior,
que o filho não reconhecido pelo pai fica sob o poder familiar exclusivo da mãe. A redação
aprovada Senado Federal, para o artigo correspondente, previa autoridade da mãe, muito mais
adequado que o pátrio poder, que prevaleceu na Câmara dos Deputados. Se a mãe for
desconhecida, diz a lei, o menor ficará sob autoridade de tutor.
Para haver guarda, todavia, ambos os pais devem ser desconhecidos.
O disciplinamento do ECA sobre desconhecimento dos pais, que permanece aplicável,
é mais abrangente, pois não apenas se refere à tutela, mas à colocação do menor em família
substituta, mediante guarda, tutela ou adoção (art. 28).
O Estatuto da Criança e do Adolescente quando cuida do poder familiar, incumbe aos
pais (art. 22) "o dever de sustento, guarda e educação dos filhos menores" e, sempre no
11
interesse destes, o dever de cumprir as determinações judiciais. Essa regra permanece
aplicável, pois aos poderes assegurados pelo novo Código somam-se os deveres fixados na
legislação especial e na própria Constituição. O dever de guarda não é inerente ao poder
familiar, pois pode ser atribuído a outrem7.
4 ALIENAÇÃO PARENTAL
4.1 A Lei da Alienação Parental (12.318/2010)
Conforme o art. 2º da Lei nº 12.318/2010, considera-se ato de alienação parental a
interferência na formação psicológica da criança ou adolescente, promovida ou induzida por
um dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou adolescente sob a autoridade,
guarda ou vigilância, para que repudie genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à
manutenção de vínculos com este, e seus incisos apresentam alguns exemplos de condutas
que podem caracterizar o ato, como realizarem campanha de desqualificação da conduta do
genitor no exercício da paternidade ou maternidade, impedir o pai/mãe não guardião (ã) de
obter informações médicas ou escolares dos filhos, criar obstáculos à convivência da criança
com o pai/mãe não guardião (ã) e familiares deste (a), apresentar falsa denúncia contra
genitor, contra familiares deste ou contra avós, para obstar ou dificultar sua convivência com
a criança ou adolescente, ou mudar o domicílio para local distante, sem justificativa, visando
dificultar a convivência da criança ou adolescente com o outro genitor, com familiares deste
ou com avós por falta de entendimento entre os genitores.
4.2 Alienação Parental
A Alienação Parental (AP) é a rejeição do genitor que ficou de fora pelos seus próprios
filhos, fenômeno este provocado normalmente pelo guardião que detêm a exclusividade da
guarda sobre eles, a conhecida guarda física monoparental ou exclusiva. Hoje é considerada
como uma patologia psíquica gravíssima que acomete o genitor que deseja destruir o vínculo
da criança com o outro, e a manipula afetivamente para atender motivos escusos. Quando a
própria criança incorpora o discurso do (a) alienador (a) e passa, ela mesma, a contribuir com
7 BRASIL. Estatuto da criança e do adolescente. Brasília, DF, Senado, 1990.
12
as campanhas de verificação do pai/mãe-alvo, instaura-se a Síndrome de Alienação Parental
(SAP).
A Alienação Parental deriva de um sentimento neurótico de dificuldade de
individuação, de ver o filho como um indivíduo diferente de si, e ocorrem mecanismos para
manter uma simbiose sufocante entre mãe e filho, como a superproteção, dominação,
dependência e opressão sobre a criança. A mãe acometida pela alienação parental não
consegue viver sem a criança, nem admite a possibilidade de que a criança deseje manter
contatos com outras pessoas que não com ela, assim como o pai.
Poderá ocorrer que o genitor que detenha a guarda manifeste ressentimentos ou
mágoas decorrentes da relação desfeita e passe a fazer uma verdadeira campanha com a
finalidade de desmoralizar o outro e até mesmo de impedir a convivência daquele com os
filhos comuns. Tal comportamento é denominado Síndrome de Alienação Parental, nas
palavras de Fabiano A. Hueb de Menezes8:
[...] Talvez o maior problema a ser enfrentado, no transcorrer da separação,
seja quando um dos genitores, enciumado e inconformado com a separação,
passa a insuflar os filhos para que tenham raiva do outro genitor. Tal
processo de destruição da imagem de um dos pais é chamado de Síndrome
da Alienação Parental.
4.3 Características e Procedimentos do Alienador e da Criança
Na visão de Perissini (2009) a alienação parental opera-se pela mãe, ou pelo pai, ou no
pior dos casos pelos pais e terceiros. Essas manobras não se baseiam sobre o sexo masculino
ou feminino, mas sobre a estrutura da interação antes da separação do casal.
Embora seja difícil estabelecer com segurança um rol de características que
identifique o perfil de um genitor alienador, alguns tipos de comportamento e traços de
personalidade são denotativos de alienação: • Exclui o outro genitor da vida dos filhos - Não
comunica ao outro genitor fatos importantes relacionados à vida dos filhos (escola, médico,
comemorações, etc.); - Toma decisões importantes sobre a vida dos filhos, sem prévia
consulta ao outro cônjuge (por exemplo: escolha ou mudança de escola, de pediatra, etc.); -
Transmite seu desagrado diante da manifestação de contentamento externada pela criança em
estar com o outro genitor.
8 MENEZES, Fabiano A. Hueb de. Filhos de pais separados também podem ser felizes. São Paulo: Manuela
Editorial, 2007. p. 31.
13
• Interfere nas visitas; - Controla excessivamente os horários de visita; - Organiza
diversas atividades para o dia de visitas, de modo a torná-las desinteressantes ou
mesmo inibi-la; - Não permite que a criança esteja com o genitor alienado em
ocasiões outras que não aquelas prévia e expressamente estipuladas.
• Ataca a relação entre filho e o outro genitor - Recorda à criança, com insistência,
motivos ou fatos ocorridos que levem ao estranhamento com o outro genitor; -
Obriga a criança a optar entre a mãe ou o pai, fazendo a tomar partido no conflito; -
Transforma a criança em espiã da vida do ex-cônjuge; - Quebra, esconde ou cuida
mal dos presentes que o genitor alienado dá ao filho; - Sugere à criança que o outro
genitor é pessoa perigosa.
• Denigre a imagem do outro genitor - Faz comentários desairosos sobre presentes ou
roupas compradas pelo outro genitor ou mesmo sobre o gênero do lazer que ele
oferece ao filho; - Critica a competência profissional e a situação financeira do ex-
cônjuge; - Emite falsas acusações de abuso sexual, uso de drogas e álcool.
O comportamento de um alienador pode ser muito criativo, sendo difícil oferecer uma
lista fechada dessas condutas que vai desde valor de destruição até mesmo superproteção dos
filhos.
4.4 Consequências sociais e jurídicas
Além de ação para alterar a guarda, o familiar alienado também poderá propor
ação de responsabilidade civil, pleiteando indenização por danos morais, tendo em vista que
restou severamente ofendido e esta ofensa teve consequências sérias, a saber, seu
relacionamento com filho seu foi dilacerado. Fruto do conflito estabelecido entre os genitores,
à alienação parental consiste na atitude egoísta e desleal de um deles.
Segundo Sérgio Cavalieri Filho9 o termo responsabilidade significa responder, ou
juridicamente ser responsabilizado, ser obrigado a responder. Ainda acrescenta que a
obrigação decorre da violação de um dever jurídico; ou em outras palavras a responsabilidade
é um dever jurídico sucedâneo de um dever originário que foi violado. Resume a idéia de ato
e consequência e se insere no contexto atual como a reparação por um prejuízo causado por
ação ou omissão.
9 9CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil. São Paulo: Atlas, 2007.
14
Para Silva10
o alienador não respeita as regras e costuma não obedecer às sentenças
judiciais. Presume que tudo lhe é devido e que as regras são apenas para os outros.
Comenta a Desembargadora Maria Berenice Dias11
:
[...] “Certamente que todos os que se dedicam ao estudo dos conflitos
familiares e da violência no âmbito das relações interpessoais já se
depararam com o fenômeno que não é novo, mas que vem sendo identificado
por mais de um nome”. Uns chamam de “Síndrome da Alienação Parental”;
outros de “Implantação de Falsas Memórias”.
Maria Berenice Dias12
comenta:
[...] A criança é induzida a afastar-se de quem ama e de quem também a
ama. Isso gera contradição de sentimentos e destruição do vínculo entre
ambos. Restanto orfão do genitor alienado, acaba se identificando com o
genitor patológico, passando a aceitar como verdadeiro tudo o que lhe é
informado.
Ensina Rui Stocco13
:
[...] A responsabilidade é, portanto, resultado da ação pela qual o homem
expressa o seu comportamento, em face desse dever ou obrigação. Se atua na
forma indicada pelos cânones, não há vantagem, porque supérfluo em
indagar da responsabilidade daí decorrente..
Ainda na lição de Silvio Rodrigues14
a responsabilidade por ato se justifica no próprio
princípio informador da teoria da reparação, pois se alguém, por sua ação pessoal, infringindo
dever legal ou social, prejudica terceiro, é curial que deva reparar esse prejuízo”. Neste
sentido, a Constituição Federal, em seu artigo 5º, incisos V e X é clara em definir que todo
dano é passível de reparação.
O dano moral é aquele que atinge a esfera personalíssima do indivíduo, que lhe fere a
dignidade, que desrespeita seus direitos de personalidade, logo é de natureza imaterial e de
caráter subjetivo.
10
SILVA, Evandro Luiz. et al. Síndrome da Alienação Parental e a Tirania do Guardião: Aspectos
Psicológicos, Sociais e Jurídicos. Porto Alegre: Equilíbrio, 2007. 11
DIAS, Maria Berenice. Prefácio. In: SILVA, Evandro Luiz. et al. Síndrome da Alienação Parental e a
Tirania do Guardião: Aspectos Psicológicos, Sociais e Jurídicos. Porto Alegre: Equilíbrio, 2007. p. 11. 12
DIAS, Maria Berenice. Prefácio. In: SILVA, Evandro Luiz. et al. Síndrome da Alienação Parental e a
Tirania do Guardião: Aspectos Psicológicos, Sociais e Jurídicos. Porto Alegre: Equilíbrio, 2007. p. 11. 13
STOCO, Rui. Tratado de responsabilidade civil. 6. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004. p. 119. 14
RODRIGUES, Silvio. Comentários ao Código Civil. São Paulo: Saraiva, 2003.
15
Segundo Sérgio Cavalieri Filho15
:
[...] “O dano moral não mais se restringe à dor, tristeza e sofrimentos,
estendendo sua tutela a todos os bens personalíssimos – os complexos e de
ordem ética -, razão pela qual se revela mais apropriado chama-lo de dano
imaterial ou não patrimonial, como ocorre no Direito Português. Em razão
dessa natureza imaterial, o dano moral é insusceptível de avaliação
pecuniária, podendo apenas ser compensado com a compensação pecuniária
imposta ao causador do dano, sendo esta mais uma satisfação que uma
indenização.
Pela lógica decorrente de tais afirmações percebe-se que a tristeza, a dor, o vexame e a
humilhação que caracterizam ofensa ao princípio constitucional da dignidade da pessoa
humana e consequente possibilidade de reparação, são aquelas que fogem à normalidade e
causam ao indivíduo uma aflição, desequilíbrio emocional e angústia que interfiram
diretamente em seu comportamento. Fácil perceber que as vítimas da alienação parental, tanto
o familiar alienado quanto a criança padecem inegavelmente, configurando-se claramente os
danos acima descritos.
Resta evidente, portanto, a obrigação do provocador da síndrome de alienação parental
de responder por todos os danos causados, além das demais sanções impostas na legislação de
regência específica.
4.5 A Jurisprudência
Como já mencionado neste estudo, necessário que os Tribunais mergulhem e se
debrucem no tema da alienação parental, de modo que a criança e o adolescente possam ter
seus direitos de convivência amplamente assegurados, e quando isso não for respeitado, a
intervenção estatal, através do Estado-Juiz há de ser firme, como aconteceu nos casos citados
adiante:
1-“APELAÇÃO CÍVEL. ALTERAÇÃO DE GUARDA. GUARDA
INICIALMENTE CONCEDIDA À AVÓ MATERNA. ALIENAÇÃO
PARENTAL. PERDA DA GUARDA DE OUTRA NETA EM RAZÃO DE
MAUS-TRATOS. GENITOR QUE DETÉM PLENAS CONDIÇÕES DE
DESEMPENHÁ-LA.
Inexistindo nos autos qualquer evidência de que o genitor não esteja
habilitado a exercer satisfatoriamente a guarda de seu filho, e tendo a prova
técnica evidenciado que o infante estaria sendo vítima de alienação parental
por parte da avó-guardiã, que, inclusive, perdeu a guarda de outra neta em
razão de maus-tratos, imperiosa a alteração da guarda do menino.
15
CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil. São Paulo: Atlas, 2007.
16
PRELIMINAR rejeitada. APELAÇÃO PROVIDA. Apelação Cível no.
70043037902 – 8ª. câmara cível – tribunal de justiça do rio grande do sul.
2-AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DECLARATÓRIA DE
ALIENAÇÃO PARENTAL. SUSPENSÃO DO DIREITO DE VISITAÇÃO
POR PARTE DA MÃE. CABIMENTO.
Em que pese seja evidente a importância da convivência da criança, de
apenas cinco anos de idade, com sua genitora, considerando serem
verossímeis as alegações de prática de atos de alienação parental, deve ser
mantida a decisão que suspendeu as visitas até o esclarecimento dos fatos.
AGRAVO DE INSTRUMENTO DESPROVIDO, POR MAIORIA.
AGRAVO DE INSTRUMENTO NO. 70042885384 – 8ª. CÂMARA CÍVEL
– TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RIO GRANDE DO SUL”.
3-“DES. MARIO ROBERT MANNHEIMER - Julgamento: 26/04/2011 -
DECIMA SEXTA CAMARA CIVEL SINDROME DA ALIENACAO
PARENTAL ATO PRATICADO PELO PAI ESTUDO SOCIAL E
PSICOLOGICO COMPROVACAO GUARDA MATERNA DIREITO DE
VISITA A FILHO
APELAÇÃO CÍVEL. CIVIL. FAMÍLIA. AÇÃO DE GUARDA.
ALEGAÇÃO DE PRÁTICA DE ALIENAÇÃO PARENTAL POR PARTE
DO GENITOR. ESTUDOS SOCIAL E PSICOLÓGICO INDICANDO A
EXISTÊNCIA DE SEQÜESTRO PSICOLÓGICO PELO PAI SOBRE OS
FILHOS MENORES, ATRAVÉS DO ATAQUE E AFASTAMENTIO DA
IMAGEM MATERNA. ELEMENTOS DE CONVICÇÃO DOS AUTOS
QUE INDICIAM A CONFUSÂO EMOCIONAL PAULATINA DA
MADRASTA COM A FIGURA DA GENITORA PERANTE OS
MENORES. SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA. DEFERIMENTO DA
GUARDA À GENITORA COM VISITAÇÃO REGULAMENTADA
PARA O PAI. MANUTENÇÃO DO JULGADO. IMPROVIMENTO AO
APELO. Ementário: 29/2011 - N. 18 - 28/07/2011
Precedente Citado : TJRJ AI 0013895-77.2010.8.19.0000, Rel. Des.
Sidney Hartung, julgado em 08/06/2010 e AC 0142612-80.2005.8.19.0001,
Rel. Des.Marco Aurélio Fróes, julgada em 27/10/2010”.
4-DES. CONCEICAO MOUSNIER - Julgamento: 30/01/2008 - VIGESIMA
CAMARA CIVEL MODIFICACAO DE CLAUSULA AMPLIACAO DO
REGIME DE VISITACAO DO FILHO PERNOITE SINDROME DA
ALIENACAO PARENTAL CARACTERIZACAO INTERESSE
PREVALENTE DO MENOR
Modificação de Cláusula. Pretensão de ampliação do regime de visitação.
Inclusão de pernoite. Caracterização da Síndrome da Alienação Parental.
Relações parentais no moderno Direito de Família brasileiro. Direito
fundamental à convivência familiar assegurado pela Constituição da
República e na Legislação Infraconstitucional. Interesse prevalente do
menor. Princípios do Cuidado e Afeto. Relevância jurídica. Sentença de
procedência parcial do pedido. Inconformismo da apelante, genitora.
Entendimento desta Relatora pela rejeição das preliminares argüidas.
Manutenção integral da prestação jurisdicional final. Conhecimento do
recurso e improvimento do apelo. Ementário: 23/2008 - N. 12 -
03/07/2008 REV. DIREITO DO T.J.E.R.J., vol 76, pag 294.
17
A jurisprudência reiterada tem garantido o direito de pais em relação aos filhos e dos
filhos em relação aos pais, e com isso resgata a paz social, pois quando as famílias não
resolvem impasses dessa natureza, por óbvio que o Poder Judiciário tem de intervir,
equilibrando assim o querer-poder em face do estado de direito, que não pode se quedar a
ilegalidades, como as que estão sendo objeto do presente estudo.
5 ALIENAÇÃO PARENTAL CRESCE NO BRASIL
No Brasil, a questão da Alienação Parental, para fins de estudo e aplicação de sanções,
surgiu com mais força quase que simultaneamente com a Europa, em 2002, e, nos Tribunais
Pátrios a temática vem sendo ventilada desde 2006.
Com a Lei de Alienação Parental um grande passo foi dado no Brasil, pois são
criminalizadas as formas de alienação parental realizar campanha de desqualificação da
conduta do genitor no exercício da paternidade ou maternidade, impedir o contato da criança
com o outro genitor, omitir informações pessoais sobre o filho, principalmente acerca de
paradeiro e mesmo e inclusive informações escolares, médicas e alterações de endereço para
lugares distantes, visando a dificultar a convivência da criança ou adolescente com a outra
parte e com familiares desta.
No Brasil desde Agosto de 2010 a Lei 12.318/2010, conceitua e reconhece a alienação
parental e a síndrome da alienação parental, inserindo-as no direito brasileiro e inclusive
prevendo punições para seus praticantes. A iniciativa da lei, aprovada por unanimidade pelas
comissões do congresso pelas quais tramitou, teve origem na organização político-social de
centenas de genitores pais e mães.
O principal objetivo desta lei é garantir maior celeridade nos procedimentos
processuais, de modo a garantir uma maior efetividade na resolução dos conflitos das ações
litigiosas que visam à dissolução da sociedade conjugal. Nesse sentido, levando em
consideração a possibilidade da dissolução, de maneira amigável, da sociedade conjugal pela
via extrajudicial, por intermédio dos cartórios, haverá uma diminuição nos processos judiciais
que tramitam nas varas de Família e, como consequência, os futuros processos e os que já
estão em andamento serão resolvidos de maneira mais célere e ágil16
.
Também é criminalizado apresentar falsa representação ou fabricar e exagerar e
distorcer dolosamente dados ou fatos triviais como se fossem verdadeiras ameaças de morte,
16
VIEIRA.Leila Cruz. Direito de Família. São Paulo: Saraiva, 2009.
18
criando nos autos um falso clima de terror e situações forjadas envolvendo o Estado-Juiz, o
que só traumatiza e piora todo o processo já altamente destrutivo para o pai - agora rotulado
de agressor -, tudo para obstar a convivência com o filho, e salvar a mãe vítima, que se abriga
sob o manto da Lei Maria da Penha - tida por muitos como inconstitucional, simulando e
exagerando e alterando a verdade, o que, esperamos, sejam os julgadores hábeis a notar e
mesmo passem a analisar com extrema cautela e a indeferir os inúmeros pedidos cautelares de
mães alienantes que se vitimizam, e repreendê-las, bem como os profissionais que alimentam
tais atos e incentiva esta vil estratégia de banalizar e inundar a justiça com um sem número de
representações munindo-se das cautelares da Lei de Violência Doméstica - inaudita altera
pars, sem contraditório, sem ampla defesa e sem nem sequer clara previsão recursal para o pai
ou companheiro, agora rotulado de agressor.
Outro extraordinário avanço no combate à Alienação Parental será a inclusão da
Síndrome na próxima versão do - Manual de diagnóstico e estatístico das perturbações
mentais - DSM, atualizada pela Associação Americana de Psiquiatria.
O Projeto de Lei que dispunha sobre a Alienação Parental teve em 15 de julho de
2009, o seu substitutivo aprovado pela Comissão de Seguridade Social e Família, passando
pela Comissão de Constituição e Justiça, e, confirmado no Senado, seguiu para a sanção
Presidencial em 26 de Agosto de 2010, nascendo, assim, a novel Lei 12.318, de 26 de Agosto
de 2010.
Seguindo a linha do i. Juiz de Direito, Dr. Fábio Henrique Prado de Toledo em seu
artigo, Os filhos e as separações dos pais:
[...] Sabemos como leigos e por especialistas que filhos, mormente em tenra
idade, da 1ª à 3ª infâncias, se sentem muito mais amados e seguros em notar
que os pais se amam a ponto de buscar a reconciliação entre si e por eles, e
que tentarão ao máximo permanecer eternamente juntos do que com
demonstrações isoladas de afeto diretamente para com os próprios filhos,
pois, mais que ser verdadeiramente amados, as crianças desejam
ardentemente se sentir fruto de um amor, deste amor de pai e mãe. Daí o
porquê do verdadeiro caos se instalando com a banalização de separações,
mormente inflamadas com conteúdos de Alienação Parental, pois o mal
maior é infinito, e, isto sim, refletirá nos filhos. Desentendimentos ocorrem
mas deve haver sempre o esforço mútuo e constante, lidando sempre juntos
com a situação, nunca separados, nem buscando culpa e culpados. Erramos e
aprendemos com os erros e a tomada de consciência promove aproximação,
elevação, crescimento. É importante que não se procure por culpa nem
culpados, e, sim, descobrir, mais do que travar uma batalha, juntos, com
determinação, e recuperar o trecho perdido, por vocês, e mais, ainda pelos
filhos, pois, por eles o nosso esforço deve ser eterno, deve ser infinito.
Verdadeira prova de amor, de pai, e de mãe.17
17
TOLEDO, Fábio Henrique Prado de. Os filhos e as separações dos pais. 2009.
19
A prática de qualquer destes atos fere o direito fundamental da criança ao convívio
familiar saudável, constitui abuso moral contra a criança e o adolescente e representa o
descumprimento dos deveres inerentes ao poder familiar, atingindo, secundária, ou mesmo
paralelamente, também o pai.
Havendo indício da prática de Alienação Parental, o juiz determinará a realização de
perícia psicológica na criança ou adolescente, ouvido o Ministério Público.
O laudo pericial terá base em ampla avaliação, compreendendo, inclusive, entrevista
pessoal com as partes e exame de documentos. O resultado da perícia deverá ser apresentado
em até 90 dias, acompanhado da indicação de eventuais medidas necessárias à preservação da
integridade psicológica da criança.
Caracterizada a prática de Alienação, o magistrado poderá advertir e multar o
responsável; ampliar o regime de visitas em favor do genitor prejudicado; determinar
intervenção psicológica monitorada; determinar a mudança para guarda compartilhada ou sua
inversão; e até mesmo suspender ou decretar a perda do poder familiar.
O legislador pátrio, conscientemente ou não, pois que a temática do que chamam de
Ambiente Familiar Hostil é pouco conhecida em nosso país, mesclou as características deste
com as da Síndrome da Alienação Parental, mas andou bem, ampliando o sentido e
abrangência qualquer interferência de mesma natureza, promovida ou induzida, agora não só
por um dos genitores, mas também, no diapasão do retrocitado Ambiente Familiar Hostil,
pelos avós ou tios ou dos que tenham a criança ou o adolescente sob sua autoridade, guarda
ou vigilância.
Hoje os casos de alienação parental são crescentes, uma vez que também cresce o
número de separações. Os paraibanos são os que mais pedem separação no Brasil,
informação revelada pelo IBGE que divulgou uma pesquisa sobre indicadores sociais 2010,
nela a PB aparece em 1º lugar no ranking dos Estados com a maior taxa de separações
O que se percebe, efetivamente, é um paralelismo entre o crescimento de separações e
divórcios e os casos de alienação parental, o que demonstra a necessidade de efetiva
intervenção estatal nestes casos, e ainda, de uma campanha educacional aberta e ampla
voltada para alertar os pais acerca dos riscos e danos causados aos filhos em decorrência das
disputas sobre os temas de família, notadamente para conter o impulso de vingança e
desmoralização da figura do outro cônjuge, de molde a coibir os casos de alienação parental.
Os filhos do divórcio merecem respeito, e esse respeito inicia com os seus pais, pois,
inevitavelmente, os filhos irão conviver em tecidos sociais diversos, e precisam ter a
segurança necessária de que, apesar do divórcio, a sua família não está em guerra, e está junta
20
em torno do projeto comum, que é proporcionar ao filho um ambiente saudável para um
crescimento livre de disputas, inclusive para evitar que esse aprendizado danoso se transfira
para posteriores gerações.
6 CONCLUSÃO
Durante muito tempo, a criança foi considerada uma pessoa em desenvolvimento,
merecedora de cuidados e de proteção especiais durante o período de formação. A trajetória é
longa e o empenho na construção de modelos assertivos é grande, aliados a uma rede de
profissionais e agentes solidários que acreditam na ética e dignidade como características
principais que farão a nova história. A ausência de vontade política de fazer com que a
primazia absoluta garantida às crianças e adolescentes deixe de ser letra morta na nossa Carta
Cidadã e no Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA apresenta uma limitação do alcance
da garantia de absoluta prioridade. Em seu art. 4º, parágrafo único, diz que tal garantia
compreende a primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias; a
precedência do atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública; a preferência na
formulação e na execução das políticas sociais públicas e a destinação privilegiada de
recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção à infância e à juventude.
Um mundo bom para as crianças é aquele em que todas adquirem a melhor base
possível para sua vida futura, têm acesso ao ensino básico de qualidade, incluída a educação
primária obrigatória e gratuita para todos, e em que todas as crianças e adolescentes desfrutam
várias oportunidades para desenvolver sua capacidade individual em um meio seguro e
propício.
Solicitar como parte das prioridades global e nacional, o desenvolvimento físico,
psicológico, espiritual, social, emocional, cognitivo e cultural das crianças.
A criança tem direito a receber proteção e apoio completos. A proteção, a educação e
o desenvolvimento da criança são, em princípio, responsabilidade da família. A dificuldade de
lidar com a frustração gera conflitos internos que fazem com que o homem, em vez de
espalhar afeto, passe a abafar e ferir aqueles que estão sob seu poder.
A Carta Magna estabeleceu um sistema especial de proteção aos direitos fundamentais
de criança e adolescentes, que tem como características básicas conferir um gama maior de
valores e apoio, contemplando premissas exclusivas norteadoras desses sujeitos especiais.
O Estatuto da Criança e do adolescente, com a instituição de Conselho Tutelar como
elemento de medidas preventivas funciona como aparelho fundamental no combate à
21
violência no seio familiar. A guarda e a tutela e até a destituição do poder familiar e a
recolocação da criança em outra família que substitua, tende a salvaguarda dos interesses da
criança.
Verificar no decorrer deste tema, que a Alienação Parental é um assunto atual, sério e
importante no Direito de Família. A visão da família como instituição protegida na
Constituição Federal deve ser interpretada de forma sistemática de forma a permitir a proteção
de cada um de seus integrantes, ainda que algumas vezes pareça complicado proteger uma
criança de uma ação nociva de um pai ou uma mãe que a use para sua vingança pessoal.
Obviamente, não parece nada lógico, mas por outro lado absolutamente irracional que
um genitor use seu filho como uma absurda medida catártica, como um meio de promover
retaliações contra seu ex-cônjuge ou companheiro e talvez com isso amenizar a própria
angústia.
Absurdo imaginar que além do sofrimento natural que a dissolução de uma união traz
aos filhos, estes ainda tenham que sofrer em consequência de uma campanha contra o outro
genitor ao ponto de serem conduzidos a acreditar que sofreram abusos, que foram
abandonados por ele. É impor uma carga muito pesada sobre um ser em desenvolvimento que
necessita amparo, proteção e amor de ambos.
Ainda que todas essas considerações pareçam inconcebíveis, negar que situações
como estas ocorrem diariamente seria propagar a impunidade e promover uma situação de
prejuízo irreparável aos envolvidos. O genitor alienador precisa de ajuda para resolver sua
dor, o genitor alienado precisa da tutela jurisdicional que lhe permita reverter um quadro de
injusta separação daquele filho que ama e que dele precisa para desenvolver-se de forma
equilibrada e completa. A criança precisa de ambos os pais para ter seus referenciais, para ter
modelos de conduta para seguir, para sentir-se segura e protegida.
Cabe à toda sociedade desenvolver uma consciência sobre o papel da família na
atualidade, entender a dinâmica das relações entre seus membros e, mormente ao judiciário,
em um sistema integrado de cooperação com profissionais habilitados e bem treinados
transformar uma realidade que muitas vezes não se quer enxergar.
É importante entender que a criança é sujeito de direitos e que todos têm a clara
obrigação de zelar por sua proteção, pleno desenvolvimento e felicidade, afinal, o futuro será
escrito pelas crianças de hoje e os padrões vividos normalmente são repetidos: neste contexto,
aquele que sofre hoje o abuso pode ser o que o cometerá amanhã.
22
PARENTAL ALIENATION
THE EFFECTS OF CHILD CUSTODY
ABSTRACT
This paper highlights key aspects of Parental Alienation - The costs of child custody under the
focus of the Legal Science of the topic, the history of encouraging families to the judiciary,
from its concept of legal developments before their new "challenges", the scope of the issues
surrounding the consequences of child custody. With so many changes in our law suffered
from the civil code, a great challenge for society in which the proposed theme for the law
supposedly "new" so-called Parental Alienation begins with the rejection of children in
relation to one of the alienating . This fact is being studied by many experts in the Family
Court gains the regulation of Law 12,318 of 2010 in their specific chapter presents clearly the
true meaning of alienation, as well as the IBGE surveys show that recent data has given some
attention the theme for this you need the care of the legislator with the details to make the
examination and trial, in order to protect the greater good, the dignity and protection of the
alien in accordance with the ECA. The intention here is to discuss parental alienation, since it
is a new issue in the legal field, but it is a reality experienced by child victims of a
misunderstanding of their parents. We intend to make an analysis of this law regulating the
procedure in the deviant behavior of parents toward the dissolution of marriage.
Key word: Parental Alienation. Costs. Child custody. Ddignity. Protection.
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