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1 \ ALGUMAS PALAVRA'S POBRE Q * tratamento e prophylaxia FEBRE TYPHOÏDE 4é/j EfiG*

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ALGUMAS PALAVRA'S POBRE Q

■ * tratamento e prophylaxia

FEBRE TYPHOÏDE

4é/j EfiG*

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* ^ O K. —«==?

ALGUMAS PALAVRAS SOBRE O

TRATAMENTO E PROPHYLAXIA DA

DISSERTAÇÃO INAUGURAL APRESENTADA A

ESCOLA MEDICO CIRÚRGICA DO PORTO POR

âaUm Augusto Lopes Çardasa

PORTO TVPOGBAPHIA POPULAR

76, R. de Sauto André, 78

i s e r

ESCOLA MEDICO-CIRURGICA DO PORTO

CONSELHEMO-DIIIECTOR

DR. WENCESLAU DE LIMA SECRETARIO

RICARDO D'ALMEIDA JORGE

CORPO DOCENTE Professores proprietários

*.* Cadeira—Anatomia descriptiva Oa IH.mM Ex.*0* Snrs. Geral João Pereira Dias Lebre.

a a Cadeira—Physiologia . . . . Antonîn Placido da Costa. 3-a Cadeira—Historia natural dos

medicamentos e materia me­dica lltydio Ayres Pereira do Vai te.

4* Cadeira—Pãthología externa e therapeutica externa . . . Antonio Joaquim de Moraes Caldas.

5.R Cadeira—Medicina operatória. Eduardo Pereira Pimenta. 6.» Cadeira—Partos, doenças das

mulheres de parto e dos re-cem-nascidos Dr. Agostinho Antonio do Souto.

7* Cadeira—Pãthología interna e therapeutica incerna , Antonio d'Oliveira Monteiro.

8 a Cadeira—Clinica medica. . . Antonio d'Azevedo Maia. 9 a Cadeira—Clinica cirúrgica . , Cândido Augusto Correia de Pinho, iO,a Cadeira—Anatomia patholo-

glca Augusto Henrique d'Almeida Brandão. ii.* Cadeira—Medicina legal, hy­

giene privada e publica e to­xicologia Ricardo d'Almeida Jorge.

ia.* Cadeira—Pathologia geral, se meiologia e historia medica. Maximiano A. d'OHveîra Lemos.

Pharmacia ' . , . Nuno Dias Salgueiro.

Professores jubilados Secção medira / J o s é d* Andrade Gramaxo.

secção medica ^ D n J o s e C a r l o s L o p e s

Secção cirúrgica Pedro Augusto Dias.

Professores substitutos Secção medica I W ° L o p " d-a S I 1 Y Martins J u n i o r -

j Alberto Pereira d Aguiar. Secção cirurgtca . . | R,obertt> Belarmino do Rosário Frias.

&- J Clemente Pinto. Demonstrador de Anatomia

Secção cirúrgica Carlos Alberto de Lima.

A Escola não responde pelas doutrinas expendidas na dissertação e enunciadas nas proposições,

[Regulamento da Escola de 23 d'abril de 1840, art . i55-°)

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A MEUS PRIMOS

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*

A' M B M O R I A DE

MINHAS PRIMAS

€p]l H uru ci l i o

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E EM ESPECIAL A

João Baptista da Silva Guimarães João Fernandes da Silva Leão João Severo Duarte da Silveira Joaquim da Silva Ramalho Augusto Cardia Pires.

Á MEMORIA DO MEU CONDISCÍPULO

I Haioil Correia d'Âlmdda

gr> m mtm mûtmpxmtm

§s i n s àwim E EM ESPECIAL A

P.' Antonio Moreira Dr. Joaquim Augusto de Mattos Dr. Manoel Correia de Barros Francisco da Rocha Cardoso Manoel Lopes Pereira Moutinho Luiz da Rocha P.' Viriato d''Almeida Lima Joaquim Seraphim de Barros Ma7ioel Teixeira Pimentel Antonio José de Bessa.

Ao l l l .m o Ex.

mo 8nr.

|Sa José © H I Ë P %M «■*

Ao meu mui illustre, bondoso e digno presidente

o III™ Ex.mo Snr.

M)r. ^Muaãfitzàa ^Mnfonw cio òouío

I.f-I I M I (■(:.!■ I t I! II I I I I 1 Ptl ' l l III I I I I I ,| | | I I I | | | | | | t I I ®

Obrigado pela lei a apresentar para final dos meus trabalhos escolares uma these, vi-me sobremaneira em­baraçado.

Em primeiro logar a escolha do assumpto, em se­gundo a falta de competência para o tratar como elle deveria ser tratado.

Além de tudo isto a falta de tempo e o desejo de satisfazer o mais rapidamente possível a nossa obri­gação.

Foi com este propósito que lancei mão do assum­pto d'esta these.

Não porque podesse ser mais bem tratado do que outro qualquer, mas porque algum proveito tirarei para a minha futura clinica, visto que é uma das

I doenças mais treviaes da minha terra. Dadas estas explicações, appello para a benevolên­

cia do illustradissimo jury que ha-de julgar o meu insignificante trabalho.

INTRODUCÇÃO

0 que caractérisa a epocha actual, no que respeita a therapeutica, é o desejo de tomar para base do tratamento em qualquer doença todos os conhecimentos sobre a sua natureza, isto é sobre a causa morbigena, e a reacção or­gânica correspondente.

No caso da febre typhoide a causa é uma in­fecção primitiva pelo bacillo de Eberth. A reac­ção orgânica é a serie de processos pathologi-cos que se produzem nos humores, nos tecidos, nos órgãos e apparelhos, devidos á presença do bacillo, processos cuja tendência é a destruição e expulsão do bacillo e da sua toxina.

Mas no nosso caso não ha só isto, porque além da primeira infecção, os numerosos acci­dentes no decurso da febre typhoide são devidos, a novas infecções ; isto devido á penetração no

3

34 I

organismo de outros agentes microbianos, quer pelas ulcerações intestinaes, quer pelas portas de entrada creadas pelos catai rhos das mucosas e pelas excoriações accidents 3s dos tegumentos cuja vitalidade está diminuida.

Terminado o periodo infeccioso, uma nova serie de processos pathologicos subrevèm, pro­venientes das alterações anatómicas deixadas na passagem das successivas infecções; é o periodo da reparação ao qual novos meios the-rapeuticos e nova hygiene convém.

Emflm, é certo que, passado muito tempo depois da cura, na apparencia completa, o orga­nismo solhe ainda a influencia da doença de que se desembaraçou: germens infecciosos quer es­pecíficos quer vulgares, que tinham perdido um pouco da sua virulência ou tinham sido retidos em algum órgão, podem passados mezes, re­adquirir a sua virulência e provocar abcessos; as alterações parenchy matosas produzidas pelos micróbios ou pelas suas toxinas, muito ligeiras para se revelarem por symptomas no decurso da doença, são o ponto de partida de novas doenças.

Porém isto ainda não é tudo : o processo de reparação pela phagocylhosé leucocytica, pôde ultrapassar o seu fim, tornando-se o ponto de partida de uma proliferação exagerada do tecido conjunctivo. Não são raro os exemplos de scle­roses post-typhoicas.

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São portanto nova occasião de applicação da prophylaxia pela hygiene e certas medicações.

Estas leves considerações nos bastarão para o lim a que nos propomos.

Em vista do que apposemos, deduz-se que a medicação racional era o emprego de ura trata­mento especifico, ainda hoje, infelizmente im­possível, apezar dos ensaios e tentativas de al­guns beneméritos da humanidade.

Porém, é de crèr, que mais tarde ou mais cêdo este tratamento seja instituído pela sôro-therapia como o é já hoje para dipheteria, raiva, carbúnculo, etc.

Apezar da falta de tratamento especifico da febre typhoide, diversas medicações ou conjuncto de medicações systematisadas, que nós denomi­naremos methodos, tem sido propostas. Umas com melhor êxito outras com peior, mas ainda nenhuma pôde attingir o seu fim ; tornarem-se únicas, e certas no seu resultado.

O nosso pequeno trabalho constará portanto de duas partes, a primeira o tratamento da fe­bre typhoide e a segunda, a sua prophylaxia.

Para melhor exposição dividiremos a primeira em cinco capítulos e diremos alguma coisa so­bre os ensaios da bacteriotherapia e da sôrothe-

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rapia: a segunda dividil-a-hemos em dois capí­tulos.

D'esté modo ficará o nosso trabalho repartido da seguinte forma:

1.» PARTE

T R A T A M E N T O

Cap I - - Hygiene e regimen do typhoso. Cap. II — Medicação symptomatica geral. Cap. Ill — Methodos geiaes de tratamento. Cap. IV— Tratamento das complicações. Cap. V — Tratamento da convalescença. Cap. VI — Bacteriotherapia c Sôrotherapia.

2.a PAUTE

I P í l O l J H Y L A X 1 A

Cap. I — Prophylaxia individual. Cap. II — » urbana

Exporemos ura pouco as medicações mais em voga e fatiaremos resumidamente das outras.

Prarçeim Parte T r a t a m e n t o

C!AF»IÍTTJLO I

HYGIENE E REGIMEN DO TYPHOSO

Hygiene do fi/phoso. —- Logo que se é chamado a tratar de um typhoso o primeiro cuidado do medico será instituir uma boa hy­giene, sem a (piai nenhum tratamento pôde ser feito e dar bom resultado. E' indispensável fa­zer comprehender aos que d'elle cuidam a im­portância dos cnidados hygienicos, bem como ao doente para se tornar dócil e confiante.

O doente deve ser collocado num quarto es­paçoso, bem arejado, a uma temperatura pouco elevada (12.° a 13.° segundo Vogl), onde não haja luz muito viva, e onde se não sinta grande bulício.

Melhor ainda dois quartos, contíguos, para onde alternadamente, dia e noite se mude o doente.

No caso de só haver um quarto em boas condições, born será que haja duas camas, que o doente deve occupar alternadamente.

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O quarto que se escolher deve ser desguar­necido de cortinados, tapetes e moveis inúteis, e o chão recoberto de um oleado que melhor se poderá lavar.

A cama collocada de modo que se possa an­dar em volta d'ella, deve ser estreita, para me­lhor se poder cuidar do doente e não fatigar tanto, quer ao medico durante a auscultação, quer aos enfermeiros, e desguarnecida de cor­tinados.

A cama deve ser feita do seguinte modo: dois colchões, um de palha e outro de crina, nunca de pennas, recobertos por um oleado.

Os lençoes de preferencia de linho e já usa­dos, e um cobertor e uma coberta, mas bem le­ves. A. travesseira é bom que seja também de crina. .

Por debaixo do doente deve-se mandar pôr um lençol dobrado, para não se andar constan­temente a mudar e a desfazer a cama, visto que os lençoes serão mudados logo que estejam mo­lhados pelas fezes ou urina.

I Sobre uma meza deverá haver duas bacias, -uma contendo sublimado corrosivo a 1 %o? para lavagem das mãos do enfermeiro, outra contendo thymol, ou vinagre antiseptico para lavagem do doente nos logares sujos pelas fezes.

Esta lavagem deverá ser feita com bocados de algodão hydrophilo, que servidos uma vez são lançados logo fora.

M

Proximo á cama deverá haver uma bacia para recolher as fezes, contendo um pouco de solu­ção de sulfato de cobre a 2 °/oi e que se possa pôr por debaixo do doente facilmente, devendo guardar-se as fezes até á vizita do medico, para as vèr.

No quarto deverá haver também algumas blusas, que o enfermeiro despirá ao sahir, para vestir de novo ao cuidar do doente.

Devendo recommendar-se-lhe que, tanto quan­do sahir, como quando cuidar do doente, tenha sempre o máximo cuidado em lavar bem as mãos e principalmente as unhas com uma escova.

No nosso caso bom será que a pessoa que cuida do doente seja antes um enfermeiro ex­perimentado do que uma pessoa de família. Não porque não seja mais agradável, mas as pessoas de família, com o seu amor podem muitas vezes levadas por elle, não seguir bem á risca o que se lhe ordena, e importunar o doente, com tanto que lhe querem fazer.

Dever-se-ha evitar tanto quanto possível as visitas importunas, porque em geral entre nós, toda a gente que vae vèr um doente, não deixa de lhe perguntar,— então conhece-me ? e outras coisas que taes.

Não se deixarão fazer ao doente esforços de espécie alguma, mesmo para satisfazer qualquer necessidade ; e todos os movimentos devem ser vagarosos de modo a não o incommodarem.

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A posição a dar ao doente deve ser sempre différente; decubitus dorsal, lateral, assentado, encostado, etc.

Loções geraes com thymol ou vinagre anty-septico diluídos em agua fria ou morna, ou mes­mo com alcool.

O cabello deve ser bem limpo, ou melhor cortado rente.

Nos doentes em que nas mãos ou nos pés houver callosidades, em virtude dos banhos con­tinuados, as camadas epidérmicas fendilham-se, e podem tornar-se o ponto de partidida de lym­phangites, ou adenites, é necessário remediar este inconveniente untando as extremidades dos membros com vaselina bórica.

As cavidades boccal, naso-pharingea e os ca-naes auditivos externos devem ser objecto de innumeros cuidados.

Os dentes serão limpos todos os dias, pelo menos duas vezes com pós dentifricos antise-ptícos, exemplo :

Acido bórico porphyrisado .. Pó de quina vermelha Carbonato de cal pulverisada Carbonato de magnesia Escencia de hortelã pimenta .

Depois da lavagem dos dentes, bochechar com agua bórica a 5 % e limpar a lingua das saburros e fuliginosidades. Irrigar-se-ha a gar-

5 gr. 5 »

io »

3 gottas.

m

ganta do doente com a. mesma solução do acido bórico com um pulverisador, bem como os ca-naes auditivos externos.

A antysepsia do intestino grosso far-se-ha por clysteres, cuja melhor formula é a de Bouchard (uma solução de 25 centigrammas de naphtol em 1:000 grammas de agua) ; além de inoffensivo, tem a vantagem de diminuir o cheiro das fezes.

Deve-se examinar com cuidado o urinar do doente, explorando o ventre e recorrendo ao ca-théterismo desde que a bexiga se não esvasie completamente.

Do mesmo modo devemos examinar as uri­nas do doente.

Regimen fio typhoso.—Quando a pyre­xia não seja muito intensa, devemos dar ao doente leite e caldos, muito regularmente, e tão approximados, quanto menor for a quanti­dade ingerida de uma só vez. Nos casos de py­rexia, intensa, caldos, aos quaes ajuntaremos uma colher de sopa com pó de carne.

Mais tarde quando a febre declinar, podemos juntar á alimentação já estabelecida, ovos mor­nos, gallinha bem cosida e bifes.

Emquanto a bebidas, o doente deve beber pelo menos, três litros de liquido por dia ; além' do leite, limonadas aciduladas, com vinho, rhum, champagne ou mesmo agua simples.

u

Todas as bebidas devem ser frias ou. mesmo geladas.

Nas formas adynanicas ou complicadas os vinhos velhos, cognac, etc., tem o seu emprego.

Será também necessário evitar as codeas de pão ou outro corpo duro, por causa das perfura­ções intestinaes a que possam dar origem.

C A P I T U L O II

MEDICAÇÃO SYMPTOMATICA GERAL

Não fallaremos de medicações já desusadas como a sangria, tão somente das mais em voga hoje. Gomo porém aqui nos será necessário uma divisão, adoptaremos a de Dujardin-Beaumetz:

Medicação antitlurmica Medicação antiseptica Medicação tónica Medicação diurética

Medicação antithertnica. A medi­cação an tithermica dividil-a-hemos ainda em me­dicação refrigerante e medicação antypiretica.

1.° Medicação refrigerante. — Já desde Hippo­crates a ideia da refrigeração é mais ou menos adoptada nas pyrexias, mas devido a Carrie o que primeiro a poz em pratica, a Horn (d 805), Ghomel (1825), Wanner (1846) e afinal Brand

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que instituiu o méthode em todos os seus deta­lhes esta medicação é hoje uma das mais usa­das. Nós passaremos em revista os processos até hoje empregados, guardando para outro ca­pitulo o methodo de Brand.

a) Banhos momos. - Riess empregava o banho continuo, sendo a sua temperatura de 37"; no primeiro dia o doente estava sempre no banho; no segundo dia era rei irado do banho quando a temperatura axillar era de 37u,5, e mettido ou­tra vez quando a temperatura rectal subia a 38' ou 39\

Aiï'nassieil' tinha um processo semelhante, mas o doente era mettido no banho a 31° ou 35" e ani estava durante três a quatro horas e to­mava dois banhos por dia.

Ziemssem dava ao doente um banho, cuja temperatura era Inferior a sua 5o e baixada gra­dualmente até 20" no espaço de meia hora. N'es­te momento ou mesmo em antes o doente tinha arrepios e era logo retirado. O numero de ba­nhos era de quatro a seis por dia e dados quan­do a temperatura axillar subia a 40 '.

Bouchard, empregava um banho cuja tempe­ratura era inferior dois grãos á do doente, e di­minuída até 30° durante o espaço de uma hora ou mais. O banho repetia-se seis a oito vezes, e era dado logo que a temperatura fosse acima de 37°,5.

b) Affusões, loções, coberturas frias.—Gurrie COl-

(

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locava o doente completamente nú, de pé, n'orna banheira, e mandava duas pessoas deitar alter­nadamente na cabeça e em todo o corpo agua fria com uma esponja, durante cinco a dez mi­nutos. Quanto mais fria fôr a agua e mais curta a affusão, mais acção estimulante se obtém, quanto menos fria for a agua e mais duradoura a affusão maior acção antypiretica.

Com uma douche o tempo deve ser de dois a três minutos.

Durante a affusão deve-se friccionar os mem­bros e o thorax com a esponja. Acabada a affu­são enxuga-se rapidamente o doente, envolve-se num cobertor e leva se para a cama.

Wanner empregava loções que eram dadas com uma esponja embebida em agua fria ou ad-dicionada de um pouco de vinagre antyseptico, sobre todo o corpo, excepto o ventre e cuja du­ração era de alguns segundos; o doente levemen­te enxuto era mettido na cama.

As loções podem ser mesmo dadas na cama, tendo o cuidado de estender um oleado por bai­xo do doente.

Dujardin-Beaumetz - envolvia o doente ra­pidamente n'um lençol humedecido com agua fria, e depois de vinte ou trinta segundos man­dava friccional-o e mettel-o na cama.

Liebermeister envolvia ainda o doente n'um lençol humedecido e em um cobertor de lã, dei-xando-o estar assim quinze ou dez minutos, fin-

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dos os quaes o mandava friccionar. Isto três ou quatro vezes por dia.

Jacques (de Lure) empregava compressos de agua fria sobre o abdomen, e saccos de gelo so-, bre a cabeça e thorax.

2.° Medicação antipirética. a) Medicação pelo quinino. — A principio, mal

administrado, deu logar a numerosos acciden­tes, e por isso foi posto em desuso, porém hoje emprega-se com maior moderação nas doses e é de todos para mim o melhor antipirético.

O quinino administra-se na forma de sulfa­to, principalmente, chlorhydrato,'bromhydrato e chlorhydro-sulfato em cachets ou em poção.

Segundo Liebermeister, devem dar-se doses massiças e de uma maneira discontinua, da for­ma seguinte: na tarde do primeiro dia, dois a três grammas de chlorhydrato de quinino, em cachets de meio gramma, com intervalo de um quarto de hora ou meia hora; passados dois dias administra-se novamente e faz-se esperar outros dois dias, e assim successivamente.

Jaccoud dá o bromhydrato de quinino em cachets de meio grain ma de outra forma: no pri­meiro dia dois grammas, no segundo um gram-rna e meio, e no terceiro um gramma, variando a hora conforme quer obter um abaixamento de temperatura matinal ou vespéral.

Germain-Sée dá o quinino todos os dias mas só um ou dous cachets de meio gramma.

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Porém parece-me como a Dujardin-Beaumotz que devemos empregar o sulfato de quinino na dose de dois grammas, esperando depois três ou mais dias até nova administração.

b) Medicação sa/icy/ada.-Riess foi O primeiro que empregou no tratamento da febre typhoide o acido salicylico (1875). Dava-o na dose de cinco a sete grammas em soluções de soda, obser­vando uma notável diminuição no pulso e na temperatura.

Schrœder, bem como Nathan (de Kiel) em­pregavam também o acido salicylico.

Liebermeister preferia o salicylate de soda e notou que o seu effeito, era mais activo de que o do acido salicylico, e mesmo do que o quinino empregado na dose de cinco grammas em solução.

Baelz, dava o salicylate de soda na dose de quatro a seis grammas, duas vezes ao dia, e no­tava além de um abaixamento de 6' na tempe­ratura do doente, um augmente na quantidade de urina e o seu rápido apparecimento nella.

Como estes dois foram adeptos d'esta medi­cação pelo salicylate de soda, Ewald Rèegel (de Cologne), Goltdammer e outros.

Jaccoud empregava também o acido salicylico, do mesmo modo que o sulfato de quinino, pre­ferindo com tudo este.

Desplats, administrava o salicylate de bis-

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mutlio em doses fraccionadas de um a dois grammas.

Vulpian o maior adepto d'esta medicação, em­pregava quer o salicylate de bismutho na dose de dez a doze grammas, em cachets de meio gramma, de hora em hora, quer o acido salicy-lico na dose de quatro a seis grammas em ca­chets com urna hora de intervallo.

A defervescencia produzida pelo acido saly-cilico segue uma progressão continua, e as exa­cerbações vesperaes são continuas, de modo que ao fim de vinte e quatro a trinta e seis ho­ras, a temperatura baixa a 37", ou mais. Mas este medicamento não tem acção sobre o pulso, produz um melhoramento de todos os sympto-mas geraes. Egualmente não influe sobre a mar­cha da doença, nem impede as recahidas. Taes foram as observações feitas por Vulpian.

c) Medicação pela anlipyrina. — A antipyrina administra-se como em todas as pyrexias na do­se de dois a quatro grammas em cachets de meio gramma.

Clement (de Lyon) dava-a em alta dose da seguinte forma: de très em très horas gramma e rneio, logo que a temperatura passava de 39". Porém, segundo os trabalhos de Albert Robin, parece que se não deve empregar muito a anti­pyrina, pela diminuição que opera na quantidade de urina.

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Jletlit'Aiuao (intiseptica.—Esta medica­ção antiseptica dividil-a-hemos em duas partes: medicação purgativa exclusiva e medicação pe­los antisepticos intestinaes.

a) Medicação purgativa.— Sem remontar a Hy-pocrates que proscrevia os purgantes «Fuge pur-gantia tanquam pestem» esta medicação pouco valor tem ern si.

A principio esta medicação instituída por Lar-roque em 4 832, levada um pouco longe pelo exaggero das doses, pois que chegavam a dar ao doente todos os dias tri ata grammas de óleo de rícino, ou uma garrafa de agua de Sedlitz, ou dois grammas de caloinelanos era mais nociva do que util.

Além de enfraquecer o doente, o movimento que os purgantes imprimiam ao intestino podia ser causa de hemorrhagia, ou mesmo de perfo-ração intestinal, o que é bastante grave.

A idêa de Larroque, de que as matérias sé­pticas contidas nas fezes, e demorando-se no in­testino o alteravam, e penetravam no organismo, era com certeza boa; mas o empenho em fazer a evacuação levava-o ao exaggero.

Hoje porém, subsistindo ainda a idèa de Lar­roque, esta medicação é empregada, como adju­vante, mas em doses mais reduzidas e mais es­paçadas.

Assim segundo Bouchard, dez a quinze gram-

m

mas de sulfato de magnezia de très em tes dias bastarão.

Se nos primeiros sete dias da doença houver phenomenos gástricos, com um pouco de diar­rhea, um purgante leve tem o seu emprego. Se houver constipação o seu emprego é forçoso; podendo então empregar pequenas doses de óleo de ricino ou mesmo aguas naturaes purgativas (Choutei).

Fora d'estas occasiões devemos administral-os com a maxima prudência e cuidado. Só em casos extremos.

b) Medicação pelos antisepticos intestinaes. Antigamente applicados a creosota por Pé-

cholier e Morache, o iodo e iodetos por Aran, Magonty e Wilbrand, o chloro e os hyposulíitos por Ghomel e Beaufort, os preparados de cobre por Burq e os de mercúrio por Serre, Wanderli-ch e Liebermeister todos elles passaram de moda, porque os medicamentos também têm moda. Gomtudo diremos, posto que ao de leve, alguma coisa sobre a sua administração.

Pécholier dava a creosota associada á essên­cia de limão, na dose de duas a três gottas e Morache quatro a oito gottas.

Sauer quando em 1840 se propoz tratar a fe­bre typhoide, dava ao doente o iodeto de potás­sio. Aran em 1853 empregava a tintura de iodo, na dose de quinze a trinta gottas por dia. Ma­gonty e Wilbrand davam de preferencia a solu-

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cão de iodeto de potassa iodada, très ou duas gottas n'uni quarteirão d'agua.

Iodeto de potássio 2 gr. Iodo 3o centigr. Agua io gr.

Ghomel empregava o hypochlorite de soda dissolvido em agua na proporção de noventa cen-tigrammas para quinhentas grammas de agua, além d'isto clystei'es contendo uma gramma de hypochlorite.

Beaufort empregava a limonada chlorhydrica na proporção de três a quatro grammas de aci­do chlorhydrico por litro d'agua.

Liebermeister dava por dia, três a quatro ve­zes, cinco centigrammas de colomelanos. Burq além, d'isto fundado na immunidade contra o cholera e febre typhoïde que pareciam possuir os trabalhadores em bronze, propoz-se dar ao doente a immunidade pela seguinte formula:

Sulfato de cobre ammoniacal 3o centigr. Julepo gommoso 120 gr. Xarope de capillaria 3o »

Uma colher de sopa de duas em duas horas.

Além d'esta fórmula, sulfato de cobre n'uma infusão de musgo d'Islandia.

Porém de todos os medicamentos os mais empregados hoje são o iodoformio, o naphtol, a

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naphtalina, e sobre todos o solol, só, on. asso­ciado.

O iodoformio foi muito tempo empregado con-junctamente com o carvão por Bouchard e Re-naut (de Lyon) na dose de setenta e cinco cen-tigrammas, três vezes ao dia.

Hoje Bouchard emprega de preferencia o na-phtol Beta em cachets de vinte centigrammas, na dose de dois grammas e meio por dia, isto é de hora em hora, ou na mistura seguinte:

Naphtol BJa. j - _ _ %c> d e d Sihcylato de bismutho \ Carvão 5o gr. Assucar Q- b. para granular

Uma colher de café de hora em hora.

Maximowitch diz que devemos preferir o na-phtol alpha ao Beta em virtude de ser o primeiro menos toxico e mais aseptico. .

Robin dava também o naphtol associado ao benzoato de soda na poção seguinte:

Benzoato de soda 4 gr. Nephtol . 3 » Agua 160 »

Robin viu que esta medicação trazia uma di­minuição rápida de temperatura e julgou ter no­tado uma diminuição nos symptomas, bem como na duração da doença.

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Sehrwald, depois de pesquizas conscienciosas reconheceu que o poder bactericida da naphta-lina augmentava com a elevação de temperatura, e como a temperatura do meio intestinal é favo­rável ao desenvolvimento d'esté poder, concluiu d'ahi que logo desde o principio se deve admi­nistrar a naphtalina.

Mandava administral-a todas as horas em ca­chets de vinte e cinco centigrammas.

Dujardin-Beaumetz prefere a todos estes me­dicamentos o salol, só na dose de um a quatro grammas por dia, ou melhor associado ao sali­cylate de bismuto.

Salo l . . . i „ Salicylate) de bismutho ;

Para um cachet mais n.° 14—dois a quatro por dia

E' esta também a formula que eu prefiro, quando tenha de fazer desinfecção intestinal.

Medicação tónica. — E' com certeza uma das mais empregadas, para reparar as perdas constantemente soffridas pelo organismo ; além da alimentação e dos preparados de quina, nós temos as bebidas alcoólicas, as quaes eu prefi­ro, porque muitas vezes os preparados de quina atravessam o intestino sem soffrer alteração al­guma, encontrando-se no mesmo estado nas fe­zes (Dujardin-Beaumetz).

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Em Inglaterra administram-se doses de al­cool que no nosso paiz seriam exaggeradas, as­sim chegam a dar ao cliente quatrocentas a mil grammas n'um dia ! . . .

Jaccoud, porém, dá segundo o habito e cons­tituição do doente trinta a oitenta grammas de rhum ou cognac na poção seguinte:

Vinho fino ioo gr. Alcoolatura de c a n e l l a . . . . . . . 3 » Extracto aquoso d'opio 3 » Cognac ou rhum . 3o • Xarope de casca de laranja.... 3o »

Uma colher de sopa de duas em duas horas.

Eu prefiro o vinho velho do Porto (já se vè vinho) acompanhado de um pouco de quina.

Segundo Murchison o alcool não se deve dar aos doentes com menos de vinte annos, áquelles que tem a pelle secca, em casos de delirio, quando haja urinas raras, pouco densas, pobres em urea e ricas em albumina. Ao contrario de­ve dar-se quando haja fraqueza e irregularidade de pulso, delirio doce, tremores, evacuações in­voluntárias, e sobretudo quando o doente fôr um alcoólico n'este caso pode mesmo dar-se o co­gnac simples.

Entendo que sendo do nosso vinho o pode­mos dar mesmo a doentes com menos idade, pelo menos dos dez em diante.

Ao lado do alcool podemos também juntar a

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glycerina (medicamento de poupança) que se­gundo Semmola, daremos na formula seguinte :

Glycerina pura 3o gr. Acido cítrico 2 » Agua 5oo »

Medicação diurética. — Gomo em todas as infecções, nós devemos pôr o rin de modo a poder eliminar pela urina os productos tóxicos contidos no sangue. E' portanto ao seu bom funccionamento que devemos attender.

Para este fim servimo-nos do leite e da gran­de quantidade de bebidas. Ha também quem te­nha empregado a digitalis só ou associada aos ácidos mineraes (Murchison) mas pouco valor tem porque o leite por si só é sufficients para obter a diurese além d'isso é um grande ali mento.

OAF»I"TIJI .O III

METHODOS GERAES DO TRATAMENTO

Exporemos n'este capitulo tão somente os methodos mais em voga, para não tornar-mos fastidioso o assumpto.

Methodo de Brand. —Brand, formulou os banhos frios da forma seguinte : «Il faut admi­nistrer, dés le debut de la fièvre typhoide des bains de 18° a 20°, de quinze minutes de durée, répétés jour et nuit, tous lés trois heures, tant due la temperature rectale dépasse 38°,5».

Desde o começo da doença e o mais rapida­mente possível, deve proceder-se da forma se­guinte : O doente é transportado o mais cuidado­samente possível para uma banheira, de grande capacidade, e da altura quasi do doente, meia cheia de agua, de modo que o doente mettido n'ella, a agua lhe dê pelos hombros. A agua deve ser renovada todos os dias, precaução indispensá­vel, segundo Chauffard, em virtude dos acciden-

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tes cutâneos resultantes das inoculações, devi­das á agua suja, na pelle mais ou menos exco-riada do doente e cuja resistência está enfraque­cida.

O doente completamente nú, é mettido na banheira docemente ; logo que entra no banho começa a ter arripios e a sentir oppressão, mas isto em breve passa.

Faz-se-lhe uma affusão de agua fria a 10°, affusão que se continua no meio do banho e no fim, e cuja duração deve ser pouco mais ou me-

. nos de dois minutos. Segundo Tripier e Bouveret esta affusão de­

verá ser continua. Durante o banho friccionar-se-ha o doente no

peito e nos membros superiores, ou melhor em todo o corpo, exceptuando o abdomen. Quando está imminente novo arrepio friccionar mais in­tensamente e administrar um pouco de vinho, o qual pôde também ser dado no principio do banho.

Logo que este arrepio se dá é bom acabar o banho e administrar-se nova porção de vinho.

Tira-se do banho, e leva-se para a cama, es-tende-se sobre um lençol bem secco e um pou­co quente, enxuga-se em seguida e docemente sem tocar no abdomen.

Envolvem-se as pernas em um cobertor de lã e friccionam-se.

; Passado um quarto de hora mais ou menos,

01

o doente já mais alliviado, veste­se e dá­se­lhe a beber algum caldo ou leite.

No intervallo dos banhos, Brand aconselha que se recubra o peito e o abdomen, com com­pressas de agua fria, e que serão renovadas, logo que estejam um pouco aquecidas.

A temperatura tira­se iim quarto de hora de­pois do banho, e de novo três lioras depois para ver se sim ou não é necessário banho immé­diate.

Os banhos não devem deixar de se dar senão quando a temperatura axillar fôr inferior a 39".

Este methodo é usado para as formas beni­gnas ou pouco graves, porém quando a forma fòr hyperpiretica, cardíaca, renal, pulmonar ou adynamica. o methodo tem uma outra techina especial, é o methodo intensivo (Juhel­Renoy).

N'estes casos o banho primeiro será á tem­peratura de 26", o segundo é de 24° e assim em seguida, diminuindo sempre a cada novo banho dois graus de modo a chegar a 18°.

A duração do banho será menor, e as fricções e affusões continuas.

O arrepio deve ser mais prolongado, para isso faz­se baixar ainda a temperatura do banho a 15°. As compressas de agua fria mudadas mais amiudadas vezes.

Quando o mal se aggravar, então os banhos serão mais approximados, de duas em duas ho­ras pelo menos. ' - ■

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Esté raethodo, é, segundo différentes estatís­ticas o que menor lethalidade tem dado ; assim comparando as estatísticas de Brand 7,4 por 100, e 12 por 100, nos hospitaes, a de Liemssen 9,2 por 100, a Lauber 8,8 por 100, Groldtammer 13,4 por 100, Juhel-Renoy 7,92 por 100, e a Tripsier e Bouveret 7,3 por 100, e obtem-se uma mortali­dade media 8 a 11 por 100.

Method» de ISouehai'd. — O fim deste methodo é fazer com que o doente perdendo parte do seu colorico, não soffra choque nervo­so, nem spasmos dos vasos cutâneos.

Assim Bouchard aconselha que o banho seja dado a uma temperatura inicial de 2° abaixo da temperatura do doente, e seja resfriado insensi­velmente até 30°. Banho que será dado oito ve­zes por dia.

Desde que a doença está completamente de­clarada aconselha esta medicação systematica.

Desde o principio oito banhos por dia, até á cura completa, logo que a temperatura do doen­te passe de 37°.

Um regimen dietético composto de caldos em larga escala, e de limonada de limão addiciona-da de cincoenta grammas de glycerina.

Um purgante (quinze grammas de sulfato de magnesia) de três em três dias.

Durante quatro dias seguidos e a todas as ho­ras quarenta centigrammas de calomelanos, em

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papeis ou cachets de dois centigraramas cada vim.

Diariamente dois clysteres de agua com na­phtol, um de manhã outro de tarde, e a mistu­ra de que já antecedentemente falíamos (naphtol e salicylato de bismutho) todas as horas.

Reserva o quinino para quando os banhos não sejam sufficientes para abaixar, como é de dese­jo, a temperatura. Então aconselha o modo se­guinte, na sua administração: nos primeiros quinze dias, dois grammas, nos sete immedia­tos gramma e meio, e nos últimos um gramma. Depois de um dia de administração aconselha a que se não renove a administração senão passa­dos que sejam três dias, e quando a temperatu­ra rectal for de 40" a 41°.

Além d isto, como em todos, o combater as complicações.

Com este methodo seguido bem á risca, Bou­chard, obteve ema mortalidade de 9,74 por 100.

Methodo de Jaccoud.— O methodo de Jaccoud repousa sobre três principaes indica­ções: poupar e restaurar as forças do doente; combater a febre; combater as congestões pas­sivas do pulmão.

Paia estas indicações aconselha Jaccoud: %.*■ Administração de tónicos; extracto de quina, vi­nho; alcool; caldos, e sobretudo o leite em gran­de quantidade.

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2.a Loções com uma esponja embebida em agua fria, addicionada de vinagre antiseptico, cu­ja duração será de cinco a dez minutos, renova­das de duas ou de três em três horas. Em se­guida enxugar-se-ha o doente, e recobrir-se-ha com pouca roupa. Além d'estas loções o acido salicylico, altemando-se com o bromhydrato de quinino, assim: no primeiro dia dois grammas de acido salicylico, no segundo uma gramma e meia, no terceiro uma gramma; passados dois dias, administra-se o quinino pela mesma for­ma.

Quando porém a febre for muito intensa acon­selha a substituição das loções por banhos frios.

3.a Applicação de ventosas seccas de manhã e de tarde sobre os membros, e na base do peito.

Com este methodo assim regulado e bem or­denado, Jaccoud obteve uma mortalidade de 11,16 por 100.

Methodo de Dwjardin-licaiimete, -Consiste este methodo (expectativo) em que logo que haja suspeitas de febre typhoide se deve cercar o doente de todos os cuidados hygienicos possíveis, bem assim em todos os outros, man­dando tirar duas vezes por dia e a horas fixas a temperatura axillar, que o mais das vezes basta, posto que seja preferível a rectal.

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Vigiar bem de perto as funcçõc; do abdomen, régularisai' as evacuações administrando purgan­tes leves, purgantes salinos ou melhor aguas purgativas naturaes preferíveis aos purgantes oleosos.

Recobrir o ventre com algodão em rama e le­vemente apertado com um cinto. Este algodão evita os choques bruscos do intestino e immo-bilisa-o um pouco, o que é de grande vantagem.

Quando a temperatura não passa de 39" e não sobrevem complicação estes simples cuidados bastam, no caso contrario aconselha que se pra­tiquem loções frescas renovadas duas ou mais vezes, segundo a elevação da temperatura.

Quando a temperatura continua a subir re­corre então á antipyrina, administrada do modo seguinte: de quatro em quatro horas um gram­ma, até obter o abaixamente da temperatura a 37».

Em todo e qualquer caso dá o salol associa­do ao salicylate de soda na dose de dois a qua­tro grammas por dia.

Além disto diversas medicações no caso de complicações e das quaes nós fadaremos n'ou-tro capitulo.

Além d'estes methodos temos o de Debove, principalmente dirigido a beneficiar a diurese, fazendo ingerir ao doente grandes quantidades de liquido; o de Jurgensen, com o emprego dos banhos frios e do quinino, o de Liebermeister

«

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feito pelos banhos é envolvimentos frios, o de Ziemssem feito com banhos mornos, resfriados até 20\ e outros tendo todos como fundamento a boa hygiene e alimentação do doente. Moroso nos seria descrevel-os todos. Descrevemos só os mais usados hoje.

C A P I T U L O l\r

TRATAMENTO DAS COMPLICAÇÕES

Nós exporemos n'este capitulo as principaes complicações a que o doente está sujeito no de­curso da febre typhoide, porque fallar de todas estaria, além do impossível, visto que tínhamos de expor quasi toda a therapeutica conhecida, fora do nosso alcance e do nosso fim.

Accidentes pulmonares (Congestões, Bronchites, Broncho-pneumonias, pneumonias e raras vezes pleuresia).

Como preventivo temos a posição do doente na cama, a qual já nós dissemos que deveria ser variada.

Declarada a congestão deita-se o doente so­bre o lado opposto, porém se ella for bilateral aconselha-se (Duguet) o decubitus abdominal. O melhor tratamento é a applicação das vento­sas seccas, tanto a miúdo e tão abundantemente quanto a congestão é maior.

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Pura os outros accidentes os meios usuaes de tratamento, pondo completamente de parte os vesicatórios. , /

Os accidentes são pouco de temer, a não ser no caso de laryngo-typhus em que é preciso re­correr á trocheotomia.

Accidentes do tubo digestivo, (Vómitos, diarrhea, meteorismo, perforação e hemorrhagias).

Os vómitos serão combatidos pelo gelo, be­bidas geladas, limonada de Champagne e poção de Riviera ('), e quando não derem resultado es­tes meios, recorre-se á applicação local do frio por meio de bexigas cheias de gelo, pulverisa-ções de ether, chloreto d'ethyla, chloroformio sobre a região epigastrica. Em caso de ulcera só o leite nos prestará bons serviços.

A diarrhea posto que seja normal no decur­so da doença é necessário, quando eila se torna muito abundante, recorrer á administração do

l1) Acido cítrico 2 gr. Xarope simples 15 » Bicarbonato de potassa 2 » Agua 100 » Xarope de acido cítrico i5 »

Faz-se dissolver o acido cítrico em metade da agua, jun-tando-se o xarope cítrico, e o bicarbonato e o xarope na ou­tra porção de agua. Dá-se uma colher de uma solução e em seguida outra da outra solução.

salicylate) de bismutho na dose de très a quatro grammas por dia, n'a ma das formulas seguintes:

i

Salicylate) de bismutho ] Naphtol ' , . Crê preparada ( aa 10 gr, Phosphato de cal ., j

Para 40 papeis—3 a 4 por dia.

Salicylate de bismutho \ Salol Bicarbonato de soda !

Para 3o cachets - 3 a 4 por dia.

aa 10 gr.

Ou então o ópio em gottas, pooão ou clyste-res:

. Tintura thebaica 3 gr. Hoffman j Tintura de canella 3 »

( Tintura de noz vomica . . . . . . 1 » 10 a i5 gottas em um quarteirão d'agua.

Carbonato de cal 3o » -p \ Agua distillada 60 » írousseau < ° . , I Xarope simples 40 »

\ Laudano de Sydenham 4 got. 3 a 4 colheres por dia.

Gomma adraganta 1 gr. P | Amido 8 »

I Laudano de Sydenham 20 got. vAgua 200 gr.

O meteorismo exaggerado favorece a perfO'

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ração intestinal; para o combater, aconselha-se os pós absorventes pela via estomacal ou em clysteres. Gueneau de Mussy, que poucos re­sultados obteve com os pós absorventes, acon­selha o introduzir no rectum uma sonda grossa, tanto acima quanto se possa, e em ultimo re­curso a punção capillar do abdomen.

A perforação intestinal de todas as compli-caçõs, a mais terrível tem os tratamentos medi­co e cirúrgico. O tratamento medico consiste na immobilisação do intestino pelo emprego do gelo interna e externamente ; na administração do ópio em alta dose, podendo elevar-se até um gramma ou gramma e meio por dia, porque a tolerância para este medicamento é proporcional á intensidade das doses; por ultimo recorre-se âs injecções de morphina.

O tratamento cirúrgico consiste na laparoto­mia, e que poucas vezes tem dado resultado, porque a intervenção é quasi sempre tardia. Se se conhecesse o momento da ruptura, a laparo­tomia immediata daria bom resultado, mas infe­lizmente só tarde se reconhece.

Na Allemanha, Luche operando doze horas depois, o doente succumbia, bem como Fubrin-ger fazendo seis laparotomias nenhuma deu re­sultado.

Na Inglaterra, Weller Van Hook obteve uma cura, intervindo nove horas depois, porém em outros dois casos não obteve bom resultado.

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Hemorrhagias intestinaes.—Contra as hemor-rhagias emprega-se o gelo applicado sobre o abdomen. O gelo mettido em saccos é suspenso de modo que toque somente ao de leve sem exercer pressão a parede abdominal e separado d'ella por uma baeta ou gaze dobrada para pre­venir o erithema por conjelação que pode ir até ao esphacelamento dos tecidos.

A administração do leite será suspensa e substituída pelos caldos, dados ás colheres de sopa, de dez em dez minutos.

Egualmente tem applicação o perchloreto de ferro, a ergotina e a hydrastis canadensis, esta ultima, manejada com muito cuidado, pela sua acção sobre o coração e atrazo das pulsações.

Se porém os phenomenos geraes denotarem uma grande perda sanguínea, injectar-se-ha a cafeína, o ether, e melhor ainda o soro artificial (dez a cincoenta centímetros cúbicos de cada vez) de que nós daremos algumas fórmulas :

ÍSulfato de soda 10 gr. Chloreto de sódio 5 » Agua distillada íoo »

/ Acido phenico crystalisado . . i » L Chloreto de sódio puro 2 »

Chéron} Phosphato de soda 4 » /Sulfato de soda 8 » V Agua distillada sterelisada . . 100 «

Além d'isto ainda se tem proposto a trans

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fuzão do sangue. M. Gibert e Daréne emprega­ram este meio com successo.

Accidentes cardíacos (miocardites, endocardites pericardites, etc).—Estes accidentes como uma das principaes causas de morte súbita, deve la­zer com que vigiemos bem de perto a circula-lação, a frequência e caracter do pulso, e aus­cultemos o coração pelo menos uma vez por dia, porque logo que elle dê signaes de enfra­quecimento ou arythemia devemos combatel-os de prompto.

Gomo primeiro recurso temos o frio applica-do localmente sobre a região precordial, e de­pois as injecções subcutanes mais ou menos frequentes de cafeina e sparteina:

Cafeína Benzoato de soda Agua

4 a 8 injecções por dia

Sulfato neutro de sparteina 5o centigr. Agua fervida IO gr.

2 a 3 seringas de Pravaz por dia.

Além d'estas medicações a ergotina que M. Démange utilisou com grande successo, empre­gando uma injecção subcutânea de um gram­ma de ergotina n'uma doente sujeita a syncopes e com uma temperatura bastante elevada.

Quando os accidentes se aggravam a applica-

ãã 3 gr.

io »

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ção de bexigas com gelo, fricções d'alcool sobre os membros e a administração em larga escala das bebidas alcoólicas e estimulantes, champa­gne, chá com rhum, ponche, vinho quente com canella e assucar, etc., dão bons resultados.

Accidentes do apparelho urinário (nephrites, he-morrhagias, paralysia vesical, etc.).-Gomo uma das primeiras indicações na febre typhoïde é o pôr o rin em estado de bom eliminador, esta in­dicação é obtida pela administração dos diuréti­cos, como bagas de zimbro, digitilis, scilla, e sobre todos o leite.

A bexiga do doente deve também ser vigiada de perto, e no caso de não se esvaziar comple­tamente, em virtude da paralysia, o accidente mais ordinário, a sondagem, com todos os cui­dados e regras de antisepsia basta.

Podem ainda empregar-se clysteres frios, ou purgativos, feitos de quinze grammas de sulfato de soda em infuso de sene. Banhos mornos de vinte minutos, seguidos de fricções cutâneas ou mesmo da applicação de ventosas.

Accidentes cutâneos.—-De todos o mais usual é a eschara, que que se evita um pouco pela mu­dança continuada de posição do doente e de cuidados hygienicos.

Se apesar d'estas precauções ella se formar, o melhor penso a fazer-lhe é o emprego das so­luções chloradas (Dujardin-Beaumetz); dissolu­ção a um por cento de chloral, fazendo repetir

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o penso varias vezes ao dia e tendo o cuidado de introduzir bem na ferida o algodão imbebido n'esta solução.

Além disto também fazem bom effeito o sa-lol e as soluções antisepticas.

Os. íleimões, e os abcessos, caracterisados pela ausência da dor, devem ser immediatamen-te abertos, evacuados e drenados com todos os cuidados antisepticos.

Accidentes nervosos (delírio, insomnia, adyna­mia, ataxo-adynamia, etc.) — Para o delírio se o doente tolera, o banho morno progressivamente resfriado é um bom meio, ou melhor ainda o ba­nho frio conjunctainente com as compressas frias sobre a cabeça. Se apesar d'estes meios o delírio não acalma recorre-se ao chloral e sulfo-nal na dose de um a três grammas, em leite com assucar e uma gemma de ovo.

Sulfonal 2 gr. Julepo gommoso 120 »

Em quatro porções no espaço de duas horas.

A insomnia combate-se pelos mesmos meios e pelo ópio, xarope de morphina e pelos bro-metos.

A adynamia.—Quando o numero de pulsa­ções é superior a 90 por minuto administrate-o alcool; o vinho velho, o rhum, cognac ou a po­ção de Tood:

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Rhum ou aguardente velha. . . . 40 gr. Xarope simples 3o » Tintura de canella 4 ■ Agua i5o »

Uma colher de sopa de hora em hora.

A ataxo adynamia é combatida pelos banhos mornos; duas vezes por dia, ou também pelos envolvimentos com pannos embebidos de agua fria.

Porém de todos o melhor tratamento e o que menos produz estes accidentes é sem duvida a balneotherapia.

C A P I T U L O V

TRATAMENTO DA CONVALESCENÇA

Além dos diversos accidentes a que está su­jeita a convalescença de um typhoso (feridas e ulcerações da lingua, farfalho, gangrena, pertur­bações gástricas, diarrhea, constipação, typhili-te, hemorrhagia, morte súbita, thrombose arte­rial ou venosa, laryngo-typhos, pneumonia, pleu-resia, accidentes cutâneos, lesões musculares, nephrites, œdemas, orchite, amenorrhea, dys­menorrhea, etc.): e para as quaes se applicam medicações ordinárias, o ponto para que deve­mos ligar a nossa attenção é o regimen.

Porque o perigo primordial da convalescen­ça é o desvio de regimen, que dá em resultado uma recahida tanto de temer.

O medico deve regular o regimen do doente, com todo o cuidado e prudência, permittindo-lhe

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uma alimentação boa, mas ligeira e progressiva­mente crescente; pondo de parte todo o alimen­to indigesto e que possa offender o intestino ha pouco cicatrisado.

Assim o primeiro alimento solido que deve dar-se ao doente será um ovo aquecido.

Ao fim de dois dias um pouco de frango bem cosido, passados outros dias um pouco de vitel-la ou um pouco de bife feito na brasa.

Pode acontecer que na tarde de um dos dias em que o doente já toma alimentos sólidos, haja um augmento embora ligeiro, de temperatura. E' a febris carnis. Porém este augmento de tem­peratura em algumas horas passa.

Se o augmento de temperatura não tornou a apparecer, bem como a diarrhea, e as fezes não tem o cheiro fétido especial pode continuar-se a alimentação, podendo mesmo dar-se duas vezes ao dia refeições solidas. No caso contrario deve ser substituído este regimen pelo antigo, leite e caldos.

Ha também um outro accidente que são os vómitos, algumas vezes tenazes, que segundo Trosseau podem ter duas origens bem différen­tes. Ora se trata de que provem da alimentação mal regu ada, ou de lesões estomacaes persis­tentes, e a vclta ao regimen lácteo põe tudo no seu logar. Ora estes vómitos são devidos á into­lerância estomacal, produzida pela inanição, e então o estômago deve ser violentado por meio

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de um regimen substancial, o único que poderá triumphar da sua inércia.

Continuando; os alimentos que em seguida se podem dar, são o peixe (linguado, pescada, rodavalho bem cosidos) tendo o máximo cuida­do em engulir alguma espinha, embora pequena.

Entre os legumes o primeiro que daremos é a batata, em purée com leite, e depois os outros farináceos.

O queijo fresco, as marmeladas de fructas, formarão as primeiras sobremezas.

O pão fresco só será permittido alguns dias depois d'esté tratamento alimentar e mesmo substituído por biscoitos, pão torrado ou duro, recommendando ao doente o mastigal-o bem.

Só se permittirá ao doente o comer a horas lixas. A refeição da manhã mais abundante do que a da tarde. Se o appetite fôr imperioso en­tão dar-lhe uma ou duas taças de leite.

As primeiras bebidas serão o vinho velho, um cálix em um copo de agua a cada refeição.

E' indispensável o insistir não só com o doen­te, mas com as pessoas que o cuidam sobre a gravidade de qualquer alteração no regimen.

Segundo Ziemssem, o melhor é escrever o re­gimen hora a hora, para um dia, e até ao fim da doença.

Bom será visitar o doente de vez em quando á hora da refeição, ou durante a digestão para

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ver bera o seu estado, e uma vez por outra as fezes.

Ao menor indicio de recahida, toda a alimen­tação solida deve ser suspensa, e na convales­cença que se lhe seguir os mais minuciosos cui­dados para evitar novas imprudências.

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C A P I T U L O V I

BACTERIOTHERAPIA E SOROTHERAPIA

A idea de applicar ao tratamento da febre ty­phoïde as tentativas da bacteriotherapia veio de vários experimentadores.

Ora se tem proposto utilisai- a concorrência vital de espécies bacteriannas, pondo em pre­sença do bacillo de Eberth um outro micróbio susceptível de se tornar pathogenico no homem, posto que não o seja senão em certas espécies animaes; n'este caso estão o bacillo pyocyanico e as bactérias saprophytas.

Ora se tem procurado crear a immunidade por culturas attenuadas e esterelisadas do bacillo de Eberth.

Bacteriotherapia com a cultura de bacillos pyocyanicos. —O professor Rumpf (de Hamburgo) injectou na região nadegueira a cultura esterilisada de bacillo pyocyanico come­çando pela dose de meio centímetro cubico.

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Observou a princio uma ligeira elevação de tem­peratura, em seguida um abaixamento da tem­peratura primitiva.

Se no segundo dia se faz nova injecção, novo abaixamento se nota e o estado geral melhora-se; vè-se desapparecer o delirio e a somnolencia.

Se as injecções não continuam a temperatu­ra sobe de novo, mas a evolução da doença é menos grave.

Quando porém as injecções tem continuado injectando no quarto dia já dois centimetros cú­bicos; no sexto quatro; no oitavo seis; em seis ou oito dias viu desapparecer a febre e a conva­lescença estabeleceu-se.

A elevação de temperatura depois de cada injecção acompanha-se em regra de um arrepio.

O auctor d'esté methodo tem visto febres ty-phoides evolucionar rapidamente com este trata­mento. Observou que a febre em alguns doen­tes diminuía, á injecção de dois centimetros cú­bicos. Outros tem tido recahidas que cedem ao mesmo tratamento. O tratamento é tanto mais efticaz quanto mais cedo for applicado. Sobre 30 casos tratados assim teve dois mortos (he-morrhcigia e pneumonia); 6,6 por cento de mor­talidade.

M. Kraus que recentemente adoptou esta therapeutica não tem sido tão feliz. Preparou um liquido de injecção aquecendo durante vinte

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minutos, a 60° e 80° um caldo, contendo uma cultura, de três dias, de bacillo pyocyanico.

Tratou com este liquido doze casos de febre typhoide, tendo os, doentes de 18 a 33 annos, e um alcoólico de 50 annos. O tratamento foi co­meçado desde o principio do segundo seteno, até ao meio do terceiro.

Eram casos de gravidade, mas sem complica­ções. Dois doentes morreram, e pelas autopsias pôde assegurar-se que o bacillo .pyocyanico não mata o bacillo typhico, nem impede a evolução das lesões anatómicas.

Nos casos seguidos de cura, os symptomas geraes não soffreram alteração. Só em três ca­sos a febre parece ter soffrido uma acção bené­fica. Em alguns casos o estado geral foi muito melhorado

Kraus, conclue que pouco ha a esperar d'es­té tratamento, na mesma relação que a tubercu-lina de Kock, na cura da tuberculose.

Jtaeteriotherapia com as bactérias de ptitrefação. Ghelmonski fez o tratamen­to pelas injecções de bactérias de putrefação: um extracto aquoso obtido pela maceração de carne de boi no seu peso d'agua durante oito dias submettido á ebullição, em seguida filtrado.

Ghelmonski injecta uma quantidade de ex­tracto aquoso, que corresponde de um a oito milligrammas de extracto secco.

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Experimentando sobre o homem são, obser­vou, passados cinco a oito horas depois da in­jecção, uma reacção febril com mal estar, suo­res, etc., cuja duração era de 24 a 36 horas.

Experimentando nos typhosos observou um abaixamento considerável de temperatura.

ISaeteriotherapia com cultura de hacillo de JEberth.—Frœnkel (de Hambur­go) e Mouchot empregaram as culturas de ba-cillo typhico, esterelisadas com cuidado.

As injecções foram feitas quer no tecido cel­lular da região illiaca, quer nos músculos da re­gião nadegueira, com muito pouca dôr e sem reacção inílammatoria. Gincoenta e sete casos, nenhum benigno, e doze graves foram submet-tidos a este tratamento, e cujo diagnostico foi bem feito e confirmado.

Depois de dois dias de observação, o doente recebia a primeira injecção de meio centímetro cubico; nenhum effeito se notava. No segundo dia, com uma injecção de um centímetro cubico notava-se um arrepio e uma elevação de tempe­ratura. No terceiro e quarto dia a temperatura baixava até um grau abaixo da que o doente ti­nha no principio do tratamento.

Quando se faziam as injecções de dois ern . dois dias, augmentando sempre um centímetro Cubico a cada injecção, a temperatura baixava á normal. Era tempo de acabar as injecções.

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Gomo em todas as medicações, notoii-se que a resistência ao tratamento é proporcional á ap-plicação tardia.

As remissões da febre são acompanhadas de suores profusos e de uma abundante diurese. O período febril diminuído, a perda de forças menor, e a convalescença mais rápida, taes são os resultados d'esté tratamento que não impede, nem previne as complicações.

Sôrotherupia.—Em França tem-se utili-sado as injecções de soro d'animaes immunisa-dos contra a febre typhoyde. Começando por fundar-se que uma dose variável de cultura de bacillo typhico, que mata um caviá, não o mata, só muito excepcionalmente, desde o momento em que se lhe tenha inoculado o caldo de cul­tura esterilisado do bacillo typhico, isto é os pro-ductos elaborados pelo bacillo.

Ao mesmo tempo tem-se demonstrado que o soro de um homem atacado de febre typhoide é prophylactico e therapeutico para um animal typhoso.

Strum, injectando simultaneamente culturas de bacillo typhico e soro de indivíduos ataca­dos de febre typhoide no peritoneo de um caviá obteve alguns bons resultados. Notando que o soro extrahido com 26 dias de convalescença,

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ou ainda dez annos depois da cura, e mesmo dos que morreram de febre typhoide, e dos que nunca a tiveram dão bom resultado com a con­dição de serem empregados em grandes doses.

Emflra experimentaram em homens com (10 e 11 dias de doença) a injecção subcutânea de soro de caviás immunisados, mas nada obtive­ram.

D'aqui concluíram que é necessário para a sôrotherapia ser efficaz, que a injecção de soro, deve seguir immediatamente a penetração do bacillo, coisa que é impossível no estado da sciencia, de hoje reconhecer.

Talvez não venha longe o tempo em que a sôrotherapia occupe o primeiro logar no trata­mento da febre typhoide.

Eis aqui o conjuncto de meios therapeu ticos que nós temos ao nosso dispor para o trata­mento da febre typhoide.

Quaes d'elles serão os que devemos empre­gar? Qual será o methodo preferido?

Nenhum até hoje tem podido arrogar-se de ser especifico, todos mais ou menos falliveis.

Por isso eu entendo que todo e qualquer nos serve contanto que a boa hygiene e a boa ali­mentação sejam postas em pratica com todo o cuidado. Porém dentre elles aquelle que parece merecer mais confiança é o methodo de Brand, posto que muitas vezes o não empreguemos em vista do estado d'espirito dos nossos nacionaes, isto já se vê no geral.

Direi portanto como Dujardin-Beaumetz: Le meilleur traitement de la fièvre typhoide est un bon medicin.

Seôuixla Parte P r o p h y l a x i a

PROPHYLAXIA DA FEBRE TYPHOÏDE

Começando esta parte do nosso trabalho, de­vemos nós lembrar do que hoje é corrente em materia de etiologia da febre typhoïde ; é esta doutrina que dicta as regras da prophylaxia.

A febre typhoïde é como já dissemos o re­sultado de uma infecção pelo bacillo d'Eberth.

Este micróbio emigra do organismo do ty-phoso pelas fezes, urina, etc., e introduz-se nas vias digestivas de um organismo são, onde elle encontrando um meio adquado se implanta e pullula.

Para penetrar no tubo digestivo, o micróbio tem diversos vehiculos, dos quaes o principal é a agua.

Pôde dizer-se que qualquer objecto ou subs­tancia, sujo directa ou indirectamente pelas fe­zes pôde ser meio de contagio, vindo ap con­tacto da mucosa digestiva.

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Á pratica da prophylaxia mostra que deve­mos considerar não só o individuo em si, mas principalmente no seu conjuncto.

Dividiremos pois esta segunda parte em dois capítulos.

OAF»ITUI^O I

PROPHYLAXIA INDIVIDUAL

Um individuo considerado isoladamente pôde ter que se protoger contra os germens typhicos em duas circumstancias : 1.° Em contagio directo, quando por exemplo se approxima ou trata de um typhoso. 2." Em contagio indirecto muito mais generalisado e mais de temer.

Para o contagio directo exporemos as regras seguintes: Desinfecção das fezes, e de tudo o que seja sujo por ellas.

Para este primeiro fim empregaremos o leite de cal e as soluções de sulfato de cobre.

0 leite de cal actua melhor do que a cal e mais rapidamente, comtanto que seja empre­gado de fresco ; para o que se prepara da forma seguinte (Richard et Chantemeuse):

Queima-se a cal, com uma porção de agua egual a metade do seu peso, burrifando-a pouco a pouco. Quando a operação estiver acabada,

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recolhe-se o pó era um frasco bem tapado, e põe-se em logar bem secco. Quando se queira utilisar o leite de cal; dissolve-se uma porção de cal já assim preparada, no seu duplo volume de agua, obtendo-se assim o leite de cal a 20 %•

Porém o seu manejo não é dos mais fáceis, e hoje está substituído pelo sulfato de cobre.

Este ultimo emprega-se em solução forte de 5 %, á qual se junta um por cento de acido sulfúrico.

Para desinfectar as fezes, recobre-se o fundo do vazo de um pouco de solução e depois de re­cebidas as fezes recobrem-se deitando mais so­lução, e deixa-se assim estar durante uma ou duas horas, passadas as quaes se deitam nas fossas.

Todos os objectos que servem ao doente de­vem ser submttidos á desinfecção.

As roupas, os colchões, os travesseiros e as roupas de cama, devem ser desinfectados pelo vapor húmido debaixo de pressão, á tempera­tura prolongada de 100°. Os lençoes podem ser também desinfectados de um modo mais sim­ples, lançando-os n'uma cuva cheia de agua a ferver, ou de solução de sublimado, durante meia hora.

Depois d'esta desinfecção é que se devem mandar lavar as roupas.

Terminada a doença deve-se mandar fazer a desinfecção dos moveis, e do quarto onde esteve

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o doente. Para isso lava-se tudo com soluções de sublimado corrosivo a 1 0/"°-

E' bom mandar branquear, com leite de cal as paredes. Póde-se ainda desinfectar os quar­tos, fazendo arder 60 grammas de enxofre por metro cubico da capacidade, e fechando herme­ticamente durante 24 horas, fazendo depois uma larga arejaeão.

Todas as pessoas que se approximarem do typhoso, devem ter o grande cuidado em lavar as mãos, primeiro com uma escova e sabão, e depois com solução de sublimado, tendo o maior cuidado com a limpeza das unhas.

2." Para se defender do contagio indirecto o primeiro meio que temos é mandar esterilisar a agua. Ha dois meios de a esterilisar: a filtração, por meio de filtros (Chamberland, Pasteur, etc ), ou pela ebulição.

O processo da ebullição é o mais simples, mais económico, e mais seguro.

A agua suspeita deve ser banida de todos os usos domésticos, porque não só pelas vias di­gestivas o micróbio penetra. Não se devendo es­quecer também que muitas vezes os legumes e hortaliças são regados com aguas typhogeneas, e por isso não se devem usar crus, isto é, em saladas, mas sim muito bem cosidos.

C A P I T U L O I I

PROPHYLAXIA URBANA

O medico, logo que reconheça um caso de febre typhoïde, deve logo avisar os poderes pú­blicos para que se imponha a isolação ao doen­te, e se por acaso achar mais casos, para que os meios prophylaticos sejam postos em acção.

0 principal de todos os meios, e aos quaes nos devemos dirigir, são o conservar a pureza das aguas, e depois ao systema de evacuação das matérias fecaes.

De todas as aguas, nós devemos preferir em primeiro logar as das fontes que brotem das ro­chas, e que sejam conduzidas até ao logar da fonte por canalisações bem vedadas. As aguas das fontes não tendo esta origem devem ser ba­nidas. Em segundo logar as dos rios, e em ulti­mo a dos poços.

Com o systema agora adoptado na maior par­te das cidades, isto é, alimentadas quasi exclu-

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sivamente por agua dos rios, deve-se quanto hu­manamente for possível, fazer recorrer á sua purificação. Esta purificação pode ser feita por filtração mechanica, como em Berlin; por filtros d'areia, ou por filtros chimicos.

As fossas devem ser bem vedadas, ou como agora se usa em communicação com os canos de esgoto centraes. Além d'isso todas as fossas distantes das fontes ou dos poços a menos de mil metros deverão ser desinfectadas e atulha­das, sendo ainda mais necessário, se o seu fun­do estiver em plano superior ao fundo dos po­ços. O melhor meio séria mandar fazer fossas moveis, nos logares onde não houvesse systema de canalisação de esgotos. Impedir-se-ha tam­bém que os canos de ventilação das fossas es­tejam em communicação com o interior das ca­sas.

Protecção de logares restrictos. — N'este caso temos melhores meios para obter a purificação das aguas, por meio de batterias de filtros e por apparelhos estérilisados, que nos dão a agua á temperatura de 129° e debaixo de pressão, por isso isempta de micróbios.

Emfim em toda a prophylaxia nós teremos em vista a destruição do gérmen, bem como o impedir que a agua contendo-os seja ingerida.

PROPOSIÇÕES

Anatomia.—A rotula é um osso semoideo.

Physiología. —O pulmão é uma glândula.

Materia medica.—Como diurético prefiro o leite.

Anatomia pathologica.—O bacillo de Eberth é especifico da febre typhoïde.

Pathologia interna.—O apparecimento das manchas róseas lenticulares ao fim de 7 a 8 dias de doença indicam a febre typhoide.

Pathologia externa.—Na arthrite tuberculosa coxo-femerol sempre que o pus se apresenta em abcessos circumscriptos, opto pela expectação.

Operações.- Nas amputações prefiro o methodo circular.

Partos.--A primiparidade é a causa mais importante da albuminuria gravidica ordinária.

Hygiene.—A boa hygiene é meia cura e ás vezes única da febre typhoide.

Pathologia geral.—As diflerenças de melo fazem variar a mortalidade nas epidemias.

Visrn. Pode ia piímir se,

Dr. Souto. W. de Lima. D I RE CT O ».