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SEBASTIÃO CEZAR PAREDES DO AMARAL GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS DA CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO E A SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL – Uma análise das práticas instituídas na Cidade de João Pessoa UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA Programa Regional de Pós-Graduação Em Desenvolvimento e Meio Ambiente PRODEMA João Pessoa – PB 2007

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  • SEBASTIO CEZAR PAREDES DO AMARAL

    GESTO DE RESDUOS SLIDOS DA CONSTRUO E DEMOLIO E A

    SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL Uma anlise das prticas institudas na Cidade de Joo Pessoa

    UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARABA Programa Regional de Ps-Graduao Em Desenvolvimento e Meio Ambiente

    PRODEMA

    Joo Pessoa PB 2007

  • UFPB UEPB UERN UESC UFAL UFS UFRN UFS UFPI

    UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARABA / UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARABA PROGRAMA REGIONAL DE PS-GRADUAO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE

    SEBASTIO CEZAR PAREDES DO AMARAL

    GESTO DE RESDUOS SLIDOS DA CONSTRUO E DEMOLIO E A SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL Uma anlise

    das prticas institudas na Cidade de Joo Pessoa

    Joo Pessoa-PB 2007

  • SEBASTIO CEZAR PAREDES DO AMARAL

    GESTO DE RESDUOS SLIDOS DA CONSTRUO E DEMOLIO E A SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL

    Uma anlise das prticas institudas na Cidade de Joo Pessoa

    Dissertao apresentada ao Programa Regional de Ps-Graduao em Desenvolvimento e Meio Ambiente PRODEMA, Universidade Federal da Paraba, Universidade Estadual da Paraba em cumprimento s exigncias para obteno de grau de Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente.

    Orientadora: Prof. Dra. Jovanka Baracuhy C. Scocuglia

    Joo Pessoa PB 2007

  • SEBASTIO CEZAR PAREDES DO AMARAL

    GESTO DE RESDUOS SLIDOS DA CONSTRUO E DEMOLIO E A SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL

    Uma anlise das prticas institudas na Cidade de Joo Pessoa

    Dissertao apresentada ao Programa Regional de Ps-Graduao em Desenvolvimento e Meio Ambiente PRODEMA, Universidade Federal da Paraba, Universidade Estadual da Paraba em cumprimento s exigncias para obteno de grau de Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente.

    Aprovado em: ___/___/___

    BANCA EXAMINADORA

    _________________________________________ Prof. Dra. Jovanka Baracuhy C. Scocuglia

    UFPB - Orientador

    _________________________________________ Prof. Dr Edson Leite Ribeiro.

    Examinador

    _________________________________________ Prof. Dr. Alusio Braz de Melo UFPB

    Examinador

  • Dedico esta dissertao de mestrado minha

    famlia: Michelly (esposa), Cezar e Giovanna

    (filhos), Lcia (me), Eduardo e Ricardo (irmos),

    Enildes (pai, in memoriam) que foram meus ps

    para caminhar, minhas mos para levantar e

    apoiar, meus olhos para ver o caminho certo a

    seguir. Contribuio sine qua non para que eu

    chagasse ao fim de uma de minhas jornadas.

  • AGRADECIMENTOS

    prof Dra. Jovanka, orientadora e amiga, pela incomensurvel pacincia e compreenso ao longo da pesquisa, contribuindo de forma veemente.

    Ao prof. Dr. Valderi Duarte Leite pela pacincia e acompanhamento desde o projeto inicial, com suas correes incisivas e construtivas.

    Hlia Ramalho, smbolo de correo e eficincia to fortes que chegava a antever necessidades.

    Aos professores que ministraram as disciplinas que cursei e a outros com os quais tive contato extra-oficial, que aqui renego a nomeao para no cometer

    bvias injustias, mas que ao lerem esta passagem, estou certo de saberem de

    quem trato.

    Aos meus colegas, companheiros de curso, cuja convivncia se deu numa harmonia quase perfeita tornando-se referncia indelvel de minhas lembranas:

    Ana Nery (personalidade forte e cativante), Lydiane (prestatividade inigualvel e dignidade constante), Davi (amigo incontestvel), Aline (pessoa sui generis muito estimada) e Marisa (trabalhadora incansvel de meiguice e suavidade sempre presentes).

    A Rodrigo Ragliano que conheci pelo PRODEMA e tornou-se meu grande amigo, compartilhando idias e sentimentos para a vida.

    prof Dr. Loreley Garcia, primeiro como professora, depois como coordenadora e por fim como amiga, talvez no necessariamente nesta ordem.

    A todos que passaram por minha vida nestes 24 meses de mestrado, contribuindo direta ou indiretamente, pois no h como separar meu viver do curso,

    nem o curso de meu viver.

  • Uma grande verdade verdade cujo oposto tambm

    uma grande verdade.

    Niels Bohr (Fsico)

  • viii

    RESUMO

    Apenas recentemente, v-se com maior clareza que o descaso ao meio

    ambiente nos levar a uma catstrofe. O crescimento descontrolado das cidades,

    sejam de grande ou mdio porte, com o alto custo energtico que demandam,

    atravs de materiais e tcnicas, causam enormes graus de desperdcio. Muitas

    vezes esse desperdcio atribudo falta de um desenvolvimento pleno das

    tecnologias envolvidas. O consumo de energia, na construo civil, manifesta-se em

    vrias frentes, desde a explorao de matrias primas, a fabricao dos materiais e

    componentes da prpria construo, no transporte e, nas obras, desde o incio at a

    fase de concluso. Mas no s o consumo de energia passa a ser preocupao nos

    processos que envolvem a construo, fatores como a gesto do processo

    produtivo, controle de resduos e a flexibilidade das solues de projeto, tambm

    so alvos da busca de avanos em prol de melhores solues para a

    sustentabilidade das construes. Vises puramente tecnocrticas como estas so

    motivos para uma letargia no setor da construo civil, deixando-a muito aqum

    duma viso mais sistmica e integrada da realidade que vivemos. Faz-se mister a

    busca de parmetros, junto a arquitetura contempornea, que venham a trazer

    respostas mais equilibradas. A arquitetura em sua grande maioria ainda est sob o

    lastro deixado pelo pensamento das correntes arquitetnicas modernistas, onde o

    urbano ainda se sobreporia ao natural, enfatizando uma viso dicotmica e tomando

    a natureza apenas como provedora de recursos em carter inesgotvel. Este

    trabalho se d na busca pela anlise das prticas daqueles envolvidos com a

    construo civil, e diretamente ligados produo, destinao e tratamento dos

    resduos slidos na cidade de Joo Pessoa na Paraba, pretendendo, a partir disso,

    suscitar uma discusso mais profunda no mbito da prtica arquitetnica

    contempornea e sua possvel contribuio para um desenvolvimento sustentvel.

    Foram trabalhados dados qualitativos e quantitativos levantados e aferidos, bem

    como, entrevistas semi-estruturadas, e, ainda, consulta direta a arquivos pblicos.

    Foi traado um panorama de como a construo civil vem tratando os resduos por

    ela produzidos em busca da contribuio para um modelo de cidade sustentvel.

    Palavras-chave: sustentabilidade, resduos slidos, construo civil.

  • ix

    ABSTRACT

    Only recently it is possible to see more clearly that lack of environmental care

    can carry us towards a catastrophe. The cities and their uncontrolled growth,

    associated with high energy consumption when using new building materials and

    techniques, cause enormous amounts of waste. In many times, this waste is

    attached only to lacks in the development of the involved technologies. The power

    consumption in Civil Engineering shows up in many ways, from raw material

    exploration, material and component manufacturing, material and staff transportation

    and at the construction site from the beginning to the end of the work. But not only

    the energy consumption is a worry in the processes involved in a construction site:

    factors like productive process management, waste residues and project solutions

    flexibility are all targets in searching for advances towards better solutions for the

    constructions sustainability. Purely technocratic points of view like these are reasons

    for lethargy in the Civil Engineering Sector, leaving it far beyond a more systemic and

    integrated vision of the reality we live. So, it is necessary to search for parameters

    inside the contemporary architecture to bring more balanced answers to these

    problems. Architecture, in its majority, is still under the thoughts left behind by the

    modern architectonical drafts, where the urban is superimposed to the natural and

    even being avoided, emphasizing a dichotomist vision that only sees the nature as a

    inexhaustible resource provider. This work searches and analyses the common

    practices of those which are directly connected to the production, destination and

    treatment of solid wastes in the Civil Construction Sector at the city of Joo Pessoa,

    Paraba, aiming to bring up a more profound discussion in the scope of the

    contemporary architectonical practice and its possible contribution towards a

    sustainable development. To do this, we worked with quantitative and qualitative

    data, as well as semi-structured interviews and direct consults to public archives. We

    traced a panorama of how the Civil Construction Sector has been dealing with its

    residues, searching to contribute for a sustainable city model.

    Keywords: sustainability, solid waste, Civil Construction.

  • x

    LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

    ABNT Associao Brasileira de Normas Tcnicas

    CIB International Council for Research and Innovation in Building and Construction

    CONDIAM Consrcio de Desenvolvimento da Regio Metropolitana de Joo Pessoa

    CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente

    EMLUR Autarquia Municipal Especial de Limpeza Urbana

    EUA Estados Unidos da Amrica

    Hab. - Habitante

    IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

    IDH ndice de Desenvolvimento Humano

    NBR Notao Brasileira

    PIB Produto Interno Bruto

    RCD Resduo de Construo e Demolio

    Rev. Revestimento

    RSS Resduo de Servio de Sade

    RSU Resduo Slido Urbano

    SUDEMA Superintedncia de Administrao do Meio Ambiente

    ton tonelada

  • xi

  • xii

    LISTA DE FOTOS

    FOTO 1 - ENTULHO EM TERRENO 27 FOTO 2 ENTULHO EM RUA 27 FOTO 3 - ENTULHO EM AVENIDA 28 FOTO 4 ENTULHO EM FRENTE CASA 28 FOTO 5 USINA DE RECICLAGEM DE RESDUO DA CONSTRUO CIVIL 43

  • xiii

    LISTA DE QUADROS

    QUADRO 4.1 CLASSIFICAO DE RESDUOS SLIDOS QUANTO FONTE GERADORA. 11

    QUADRO 4.2 CLASSIFICAO DOS RESDUOS SLIDOS PELA ABNT

    NBR10.004/2004 12 QUADRO 4.3 CLASSIFICAO DOS RESDUOS DE CONSTRUO E

    DEMOLIO 13 QUADRO 4.4 QUANTIDADE DE ENTULHO PRODUZIDO NO PAS E OUTRAS

    PARTES DO MUNDO 22 QUADRO 4.5 - PRINCIPAIS DIFERENAS DETECTADAS ENTRE AS PESQUISAS

    REALIZADAS 23

  • xiv

    LISTA DE TABELAS

    TABELA 4.1 COMPOSIO MDIA DA FRAO MINERAL DO ENTULHO (%) 17

    TABELA 4.2 VALORES PERCENTUAIS DE PERDAS DE MATERIAIS SEGUNDO

    DIVERSAS PESQUISAS 19 TABELA 6.1 DESTINO E QUANTIDADE DE RESDUOS DE CONSTRUO E

    DEMOLIO DECLARADOS PELAS EMPRESAS COLETORAS 29

  • xv

    LISTA DE FIGURAS

    FIGURA 4.1 CLASSIFICAO DOS RESDUOS SLIDOS SEGUNDO A BIODEGRABILIDADE 10

    FIGURA 6.1 PERCENTUAL DE RCD COLETADOS POR BAIRRO PELA EMPRESA COLETORA A 30

    FIGURA 6.2 PERCENTUAL DE RCD COLETADOS POR BAIRRO PELA EMPRESA COLETORA B 31

    FIGURA 6.3 PERCENTUAL DE RCD COLETADOS POR BAIRRO PELA EMPRESA COLETORA C 31

    FIGURA 6.5 PERCENTUAL DE RCD COLETADOS POR BAIRRO PELA EMPRESA COLETORA D 344

    FIGURA 6.6 SITUAO DOS MUNICPIOS QUANTO A PRESENA DE DIAGNSTICO DOS RESDUOS SLIDOS NO ESTADO DA PARABA 36

    FIGURA 6.7 SITUAO DOS MUNICPIOS QUANTO A PRESENA DE AREAS ESCOLHIDAS PARA ATERROS SANITRIOS 37

    FIGURA 6.8 SITUAO DOS MUNICPIOS QUANTO AO LICENCIAMENTO DE ATERROS SANITRIOS 38

    FIGURA 6.9 SITUAO DOS MUNICPIOS QUANTO AO LICENCIAMENTOS UNIDADES DE TRIAGEM E COMPOSTAGEM DE R.S.U. (RESDUOS SLIDOS URBANOS) 39

    FIGURA 6.10 SITUAO DOS MUNICPIOS QUANTO A DESTINAO FINAL DOS RESDUOS SLIDOS 40

    FIGURA 6.11 CONDIAM - PB 41

    FIGURA 6.12 MUNICPIOS COM POTENCIAL DE GERAO DE RESDUOS DE CONSTRUO E DEMOLIO - RCD 42

  • xvi

    SUMRIO

    LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS X LISTA DE FOTOS XII LISTA DE QUADROS XIII LISTA DE TABELAS XIV LISTA DE FIGURAS XV

    1. INTRODUO 1

    3. OBJETIVOS 3.1 GERAL..........................................................................................................6 3.2 ESPECFICOS..............................................................................................6

    4. FUNDAMENTAO TERICA 7 4.1 CARACTERIZAO DOS RESDUOS SLIDOS......................................10 4.2 CARACTERIZAO DOS RESDUOS SLIDOS DE CONSTRUO E

    DEMOLIO.............................................................................................12 4.3 LEGISLAO PERTINENTE AOS RESDUOS DE CONSTRUO E

    DEMOLIO.............................................................................................14 4.4 COMPOSIO DOS RESDUOS DE CONSTRUO E DEMOLIO ......17 4.5 AS PERDAS GERADORAS DE RESDUOS DE CONSTRUO E

    DEMOLIO.............................................................................................18 4.6 OS RESDUOS DE CONSTRUO E DEMOLIO NO BRASIL E NO

    MUNDO.....................................................................................................20 4.7 PRINCIPAIS PESQUISAS FEITAS SOBRE AS PERDAS DE MATERIAIS.23

    5. ASPECTOS METODOLGICOS 24

    6. APRESENTAO E DISCUSSO DOS RESULTADOS 27 6.1 OS RESDUOS DE CONSTRUO E DEMOLIO EM JOO PESSOA..27

    6.11 AS EMPRESAS COLETORAS ...............................................................27 6.1.2 COMPOSIO DOS RESDUOS DE CONSTRUO E DEMOLIO

    (RCD) PRODUZIDOS NA CIDADE DE JOO PESSOA........................33 6.1.3 PANORAMA DA SITUAO DOS RESDUOS DE CONSTRUO E

    DEMOLIO NO ESTADO DA PARABA..............................................35 6.1.4. OS RCD EM JOO PESSOA E A USINA DE RECICLAGEM DE

    ENTULHO ..............................................................................................43 6.2 A VIABILIDADE DA RECICLAGEM DOS RESDUOS DA CONSTRUO E

    DEMOLIO.............................................................................................45

  • xvii

    7. CONSIDERAES FINAIS 51

    8. REFERNCIAS 57

    9. APNDICES 61

  • 1

    1. INTRODUO

    Os nossos antepassados j reconheciam a interdependncia de todas as

    formas de vida, inclusive a deles prprios. Muito embora, ao longo dos anos, a

    humanidade tenha desenvolvido explorao intensiva dos recursos naturais, sem

    preocupao mais acurada com os prejuzos causados aos ecossistemas. Pode-se

    dizer que, apenas recentemente, passou-se, atravs das conseqncias de alguns

    dos nossos atos, a ver que o descaso ao meio ambiente nos levar a uma

    catstrofe.

    At a dcada de 50, a natureza era considerada somente como um pano de fundo

    em qualquer discusso que abordasse a atividade humana e suas relaes com o

    meio. Acreditava-se que a natureza existia para ser compreendida, explorada e

    catalogada, desde que utilizada em benefcio da humanidade. Por outro lado, o

    avano da tecnologia no ps-guerra, dava sinais que no existiriam problemas que

    no pudessem ser resolvidos.

    Os movimentos sociais que tiveram incio nos anos 70 representaram um marco na

    humanidade e em particular para a formao de uma conscincia preservacionista

    embasada, naquele momento, nos princpios do equilbrio csmico e harmonia com

    a natureza. A palavra ecologia passa a ser um termo muito utilizado.

    Concomitantemente, a crise do petrleo, faz com que se passe a dar uma

    importncia maior economia de energia. Diante de uma perspectiva de reduo de

    consumo, destacam-se vrios pontos pertinentes: desde a explorao de matrias-

    primas, a fabricao dos materiais e componentes da prpria construo, no

    transporte e, nas obras, desde o incio at a fase de concluso. Mas no s o

    consumo de energia passa a ser preocupao nos processos que envolvem a

    construo civil, fatores como a gesto do processo produtivo, controle de resduos

    e a flexibilidade das solues de projeto, tambm so alvos da busca de avanos

    em prol de melhores solues para a sustentabilidade.

  • 2

    A construo uma atividade econmica com efeitos adversos no ambiente e no bem estar da populao, pois contribui para o esgotamento de recursos naturais, para o consumo de energia, para a poluio do ar e para a criao de resduos. Apenas a construo de edifcios, responsvel pelo consumo anual de 25% de madeira virgem e 40% de materiais ptreos de diversos tipos (pedra natural, britas e areias) (BOONSTRA, 1996).1

    A indstria da construo civil uma das grandes fontes de gerao de resduos

    slidos no meio urbano, uma vez que seus resduos so muito volumosos e em

    algumas cidades brasileiras representam mais da metade do total da produo de

    RSU (Resduos Slidos Urbanos). Por esse motivo a construo civil muitas vezes

    vista pela sociedade apenas por seus impactos negativos, no levando em

    considerao os inmeros benefcios por ela proporcionados.

    A dcada de 80 foi um perodo de grande desenvolvimento econmico e tcnico,

    muito embora tenha ficado conhecido como a dcada perdida . O bem estar

    material voltou a ser relevante, independentemente dos prejuzos natureza que

    sua produo pudesse provocar. Esse perodo ficou ainda mais marcante aps o

    fracasso da economia dita socialista e o advento da hegemonia do capitalismo.

    Somente no final dos anos 80, entretanto, no processo preparatrio da Conferncia

    das Naes Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento Humano, a RIO 92,

    que foi aprofundada a questo do Desenvolvimento Sustentvel, que se

    contrapunha tese-chave que imperara at ento de que possvel desenvolver

    sem destruir o meio ambiente.

    O documento resultante da RIO 92, a Agenda 21, resultou de um despertar sobre

    uma conscincia ambiental, sobre a importncia da conservao da natureza para o

    bem estar e sobrevivncia das espcies, inclusive a humana. O documento

    propunha que a sociedade assumisse uma atitude tica entre a conservao

    ambiental e o desenvolvimento. Denunciava a forma perdulria com que at ento

    eram tratados os recursos naturais e propunha uma sociedade justa e

    economicamente responsvel, produtora e produto do desenvolvimento sustentvel.

    1 Apesar de no ser explcito na citao, o termo construo refere-se construo civil.

  • 3

    Na indstria da construo civil no havia nenhuma apreenso quanto ao o

    esgotamento dos recursos no renovveis utilizados ao longo de toda sua cadeia de

    produo e, muito menos, com os custos e prejuzos causados pelo desperdcio de

    materiais e destino dados aos rejeitos produzidos nesta atividade. No Brasil, em

    particular, a falta de uma conscincia ecolgica na indstria da construo civil

    resultou em estragos ambientais irreparveis, agravados pelo macio processo de

    migrao havido na segunda metade do sculo passado, quando a relao

    existente de pessoas no campo e nas cidades, de 75 (setenta e cinco) para 25%

    (vinte e cinco por cento), foi invertida, ocasionando uma enorme demanda por

    novas habitaes urbanas.

    No contedo das discusses sobre a Agenda 21, nasceu um movimento denominado de construo sustentvel, que visava o aumento das oportunidades ambientais para as geraes futuras e que consistia em uma estratgia ambiental com viso holstica. Repensava toda a cadeia produtiva, iniciando pela extrao de matrias primas. Levava em considerao os processos produtivos, com preocupaes extensveis sade dos trabalhadores envolvidos no processo e considerava os consumidores finais das edificaes. Fundamentava-se na reduo da poluio, na economia de energia e gua, na minimizao da liberao de materiais perigosos no ambiente, na diminuio da presso de consumos sobre matrias primas naturais, no aprimoramento das condies de segurana e sade dos trabalhadores, e na qualidade e custo das construes para os usurios finais. (SCHENINI, 2004).

    Dentre as vrias frentes de atuao junto busca da sustentabilidade nas

    construes, a do controle de resduos desperta considervel interesse. O

    tratamento dos resduos se mostra como uma grande preocupao ambiental, pois

    ao se fazer sua reutilizao h diminuio da demanda extrativista dos materiais

    empregados em obras, economizando energia, e melhorando, por conseqncia, as

    condies de oferta de moradia, pois se prov um menor custo de produo. Alm

    do mais, dissemina-se uma conscientizao ecolgica maior, enfatizando o

    paradigma holstico na produo do espao urbano e indo de encontro aos

    princpios de cidade sustentvel.

  • 4

    Nesse contexto indispensvel que sejam adotados modelos de gesto apropriados

    e que sejam desenvolvidas tcnicas e procedimentos que permitam o progresso

    desse setor indispensvel ao desenvolvimento urbano, e que eliminem ou

    minimizem ao mximo seus impactos.

    No que se refere aos procedimentos e tcnicas a serem adotadas pode-se destacar

    a racionalizao dos processos de produo, que j se encontra em estgio mais

    avanado, a prtica da coleta seletiva e a reciclagem dos RCD, uma vez que de

    acordo com a Resoluo CONAMA N. 307, deve-se priorizar a no gerao dos

    resduos, sua reutilizao, reciclagem e, somente nos casos em que nenhum dos

    procedimentos anteriores possam ser adotados, a destinao final em aterros para

    inertes.

    Porm, para a adoo de qualquer modelo de gesto indispensvel que se

    conhea as particularidades do tema a ser tratado, uma vez que a simples

    importao de modelos aplicados com sucesso em algumas cidades podem no

    obter xito em outras localidades, tendo em vista as caractersticas regionais e os

    processos construtivos adotados. Para os Resduos de Construo e Demolio

    RCD, h a necessidade desde uma anlise da situao ambiental dos RCD na rea

    a ser implantado o modelo quanto o conhecimento das caractersticas de gerao

    dos resduos gerados na regio.

    A escolha da Cidade de Joo Pessoa como rea de estudo foi realizada com base

    em diversos fatores, dentre os quais um elevado ndice de novas construes e um

    acelerado processo de verticalizao e por apresentar um contnuo crescimento de

    sua populao e atividades, aumentando assim a necessidade por novas

    habitaes.

    Na Cidade de Joo Pessoa, a situao bastante preocupante, visto que, at o ano

    de 2002, s existia na regio uma rea para deposio de todos os tipos de resduos

    gerados na cidade (Lixo do Roger), alm da presena de inmeras deposies

    irregulares e da falta de fiscalizao no que se refere ao cumprimento das leis

    vigentes. A partir de 5 de agosto de 2003 (data comemorativa do aniversrio da

    cidade de Joo Pessoa) foi inaugurado o aterro sanitrio que visou atender o

  • 5

    CONDIAM (Consrcio de Desenvolvimento da Regio Metropolitana de Joo

    Pessoa).

    Em busca dos processos pertinentes a essa gesto dos Resduos de Construo e

    Demolio que o presente trabalho se prope a fazer uma anlise das prticas

    institudas na Cidade de Joo Pessoa.

    Num primeiro momento so apresentados os objetivos no captulo de mesmo nome;

    ponto norteador de toda a linha de pesquisa. So elucidados, no captulo

    FUNDAMENTAO TERICA, a caracterizao dos resduos slidos, de uma

    maneira mais genrica, passando em seguida a caracterizao dos Resduos de

    Construo e Demolio (RCD). Ainda nesse captulo, foi feito um levantamento da

    normativa e legislao que rege a questo dos RCD. Foi feito ainda uma busca pela

    composio do RCD em nvel de Brasil e algumas comparaes internacionais.

    Depois de tal embasamento passou-se a descrio dos ASPECTOS

    METODOLGICOS, apresentando a prtica da presente pesquisa.

    Seguindo com a APRESENTAO E DISCUSSO DOS RESULTADOS mostrado

    uma panorama da situao dos Resduos Slidos Urbanos (RSU) chegando ao

    detalhe dos Resduos de Construo e Demolio (RCD). Foi buscada, ainda, a

    composio dos RCD especfica para a Cidade de Joo Pessoa atravs das

    empresas de coleta e remoo de entulho2. Fez-se ainda uma discusso do papel

    que ocupar a futura usina de reciclagem de RCD da construo civil. Demonstrou-

    se, ainda neste captulo, a viabilidade tcnica e econmica da reciclagem de RCD.

    Finalmente, em CONSIDERAES FINAIS, so feitas ponderaes sobre todo o

    panorama apresentado, intentando pela contribuio para melhorias prticas no trato

    dos RCD de uma maneira geral e mais especificamente para a Cidade de Joo

    Pessoa em uma busca pela sustentabilidade digna e verdadeira.

    2 O termo entulho usado mais comumente por essas empresas de coleta e remoo, passando a fazer parte at de suas denominaes.

  • 6

    3. OBJETIVOS

    3.1 GERAL

    Contribuir com a sustentabilidade na construo civil investigando a

    problemtica envolvida no tratamento, destinao e reciclagem dos resduos slidos

    por ela produzidos na Cidade de Joo Pessoa.

    3.2 ESPECFICOS

    - Identificar os agentes que estejam relacionados produo, trato, transporte,

    destino e fiscalizao dos Resduos de Demolio e Construo (RCD)3 da Cidade

    de Joo Pessoa;

    - Verificar o destino dado aos resduos slidos provenientes da construo civil, na

    cidade de Joo Pessoa, pelas empresas que o produzem e pelas que se prestam a

    recolh-los;

    - Caracterizar e quantificar os RCD produzidos na Cidade de Joo Pessoa em busca

    de modelo regional;

    - Traar um panorama de como a construo civil vem tratando os resduos slidos

    por ela produzidos;

    - Verificar a atuao dos rgos pblicos responsveis pela fiscalizao e

    gerenciamento dos RCD;

    - Identificar e relacionar normativa que regula o trato dos RCD;

    - Buscar, atravs de pequisa bibliogrfica, publicaes e artigos que demonstrem a

    viabilidade da reciclagem dos RCD.

    3 O termo Resduos de Construo e Demolio que concerne a construo civil e a sigla RCD advm da publicao CONAMA 307/2002.

  • 7

    4. FUNDAMENTAO TERICA

    Com o advento da Agenda 21, concebida na Conferncia das Naes Unidas

    sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento realizada no Rio de Janeiro em 1992, os

    valores ambientais da Sustentabilidade e do Desenvolvimento Sustentvel passaram

    a ter um maior destaque e ganharam maior prestgio. Os conceitos nela contidos

    passaram por diversas interpretaes regionais, onde pode-se citar a Agenda

    Habitat II, advinda da Conferncia das Naes Unidas de 1996, em Istambul. A

    internacionalizao da Agenda 21 deu-se com o Congresso Mundial da Construo

    promovido pelo CIB (International Council for Research and Innovation in Building

    and Construction), em Gayle, na Sucia em 1998. Essa Agenda 21,

    internacionalmente aceita, trata da construo sustentvel e foi publicada em 1999.

    Sua premissa de construo sustentvel seria [...] a gesto responsvel de um

    ambiente construdo saudvel baseado em princpios ecolgicos e de eficincia de

    recursos (AGENDA 21, 1999). Os conceitos de sustentabilidade nas construes

    ainda passam por vrias interpretaes ligadas realidade de cada pas. Em alguns

    casos so apreciados juntos com os conceitos padres os aspectos econmicos,

    culturais e sociais, mas na grande maioria dos pases o aspecto que predomina

    sobre os demais o ecolgico.

    Diante deste contexto, se pode constatar que o processo construtivo, nos ltimos

    anos, vem passando por vrias mudanas, devido a uma maior preocupao

    ambiental. Isso se d na abordagem de aspectos particulares de alguns materiais,

    at o edifcio e os materiais utilizados como um todo; nasce na concepo,

    passando pela execuo, continuando na fase de utilizao, indo por toda a vida til

    do edifcio, inclusive na sua provvel demolio.

    A Agenda 21 trata o problema da sustentabilidade, ou poderamos dizer, da soluo

    para sustentabilidade com a delimitao de um grupo de facetas: a sustentabilidade

    econmica, funcional, ambiental, humana e social.

  • 8

    Dentre os principais desafios da Agenda 21, est o que trata dos recursos naturais.

    Faz-se uma explanao sobre a reduo do uso de matrias primas na produo de

    materiais de construo, onde se pode citar a explorao de reservas de menor

    dimenso, maior ateno a recursos no usados e a resduos, aumento da

    explorao de reservas ricas de diversos recursos, aumento da utilizao de

    recursos renovveis e maior reciclagem de resduos durante a produo de alguns

    materiais.

    Na adoo de materiais reciclveis no projeto de construo h algumas

    observaes a serem feitas, pois,

    Os materiais reciclveis so os que podem adquirir uma segunda utilizao atravs de um processo de transformao. Atravs da reciclagem em vez do fabrico custa de matrias primas novas, muitos danos podem ser acautelados, de tal forma que um material que pode ser facilmente reciclado poder apresentar vantagens ambientais relativamente a um inicialmente verde, mas que no pode ser reciclado. habitual considerar-se vrios nveis de reciclagem de um material ou componente da construo (BERGE, 1996).

    Em uma escala decrescente desses nveis teramos a reutilizao, a reciclagem e o

    reaproveitamento energtico.

    Um ponto bastante pertinente na Agenda 21 trata da gesto ambiental na

    construo civil que permeia entre outros fatores o do tratamento e destinao

    adequados a serem dados aos resduos slidos por ela produzidos. Tais fatores tm

    uma ligao direta com a possibilidade de reciclagem e consequentemente com a

    economia do consumo energtico.

    Mesmo que de forma sucinta, a preocupao ambiental na construo se d em

    diversas esferas, desde a extrao do material utilizao da edificao construda.

    A conscientizao ambiental da sociedade, nos dias de hoje, e ainda a presso

    legislativa nos mais variados temas que envolvem a questo ambiental sinalizam

    uma busca por uma construo sustentvel.

  • 9

    So vrios caminhos a serem considerados, vrias vertentes possveis, mas todas

    levam a um mesmo destino o da preservao ambiental atravs da sustentabilidade

    nas construes.

  • 10

    4.1 CARACTERIZAO DOS RESDUOS SLIDOS

    Resduo, oriundo do Latim residuu, que significa aquilo que sobra de qualquer

    substncia, entrou para o jargo dos sanitaristas na dcada de 1960, em

    substituio ao desgastado termo lixo. O substantivo resduo, to logo fez parte do

    linguajar tcnico, foi seguido do adjetivo slido, a fim de diferenciar os resduos

    slidos tanto dos restos lquidos lanados com os esgotos sanitrios como das

    emisses gasosas das chamins (Neto, 2005, p. 13).

    Segundo a ABNT 10004(2004), os resduos slidos so definidos como:

    Resduos nos estados slido e semi-slido, que resultam de atividades de origem industrial, domstica, hospitalar, comercial, agrcola, de servios e de varrio. Ficam includos nesta definio os lodos provenientes de sistemas de tratamento de gua, aqueles gerados em equipamentos e instalaes de controle de poluio, bem como determinados lquidos cujas particularidades tornem invivel o seu lanamento na rede pblica de esgotos ou corpos de gua, ou exijam para isso solues tcnica e economicamente inviveis em face melhor tecnologia disponvel. (NBR 1004, 2004)

    Segundo Schalch (1997 apud Neto, 2005), os resduos slidos so classificados de

    acordo com seu grau de biodegrabilidade.

    Figura 4.1 Classificao dos resduos slidos segundo a biodegrabilidade. Fonte Schalch (1997 apud Neto, 2005, p. 16)

    De acordo com a fonte geradora os resduos slidos podem ser classificados como

    domiciliar, comercial, industrial, de atividades pblicas, de vias pblicas e de servio

    de sade.

    Os Resduos de Construo e Demolio (RCD) obedecem primeiramente a

    classificao de resduos slidos sendo regidos por suas normativas de trato,

  • 11

    cuidados e destinao e depois mais especificamente a suas normativas

    particulares.

    Como vemos no quadro 4.1, os Resduos de Construo e Demolio (RCD), aqui

    denominados Resduos de Construo Civil possuem uma classe prpria, pois tm

    sua origem claramente definida e caractersticas particulares, permitindo sua

    identificao e isolamento, o qu viabiliza bastante a questo da reciclagem.

    Quadro 4.1 Classificao de Resduos Slidos quanto fonte Geradora. Fonte: SCHUELER, 2005.

  • 12

    4.2 CARACTERIZAO DOS RESDUOS SLIDOS DE CONSTRUO E DEMOLIO

    Os RCD (Resduos de Construo e Demolio) podem ser definidos como todo rejeito de material utilizado na execuo de etapas de obras de construo civil.

    Podem ser provenientes de construes novas, reformas, reparos, restauraes,

    demolies e obras de infra-estrutura.

    essa classificao ilustrada no quadro 4.2 que nortear, a princpio, a triagem e

    separao dos Resduos de Construo e Demolio que sofrero triagens por tipo

    de material constituinte com o intuito de reciclagem.

    Quadro 4.2 Classificao dos Resduos Slidos pela ABNT NBR10.004/2004 Fonte: SCHUELER, 2005.

  • 13

    Segundo Tchobanoglous (1997 apud Neto 2005) os resduos oriundos de

    edificaes derrubadas e outras estruturas so classificados como resduos de

    demolio, enquanto os resduos de construes novas, remoldagem e conserto de

    residncias, edifcios comerciais e outras estruturas so classificados como resduos

    de construo.

    A partir da Resoluo 307 do CONAMA (2002) temos uma classificao mais

    especfica que rege apenas os Resduos de Construo e Demolio, e est

    ilustrada no quadro 4.3 a seguir. Essa classificao subdivide os RCDs quanto ao

    seu nvel de reinsero a cadeia produtiva.

    I - Classe A - so os resduos reutilizveis ou reciclveis como agregados, tais como:

    a) de construo, demolio, reformas e reparos de pavimentao e de outras obras de infra-estrutura, inclusive solos provenientes de terraplanagem; b) de construo, demolio, reformas e reparos de edificaes: componentes cermicos (tijolos, blocos, telhas, placas de revestimento etc.), argamassa e concreto; c) de processo de fabricao e/ou demolio de peas pr-moldadas em concreto (blocos, tubos, meios-fios etc.) produzidas nos canteiros de obras;

    II - Classe B - so os resduos reciclveis para outras destinaes, tais como: plsticos, papel/papelo, metais, vidros, madeiras e outros;

    III - Classe C - so os resduos para os quais no foram desenvolvidas tecnologias

    ou aplicaes economicamente viveis que permitam a sua reciclagem/recuperao, tais como os produtos oriundos do gesso;

    IV - Classe D - so os resduos perigosos oriundos do processo de construo, tais

    como: tintas, solventes, leos e outros, ou aqueles contaminados oriundos de demolies, reformas e reparos de clnicas radiolgicas, instalaes industriais e outros.

    Quadro 4.3 Classificao dos Resduos de Construo e Demolio Fonte: adaptao de CONAMA 307/2002.

  • 14

    4.3 LEGISLAO PERTINENTE AOS RESDUOS DE CONSTRUO E DEMOLIO

    A resoluo CONAMA n 307, de 5 de julho de 2002, em vigor desde janeiro de

    2003, estabelece diretrizes, critrios e procedimentos para gesto dos resduos da

    construo civil e disciplina aes necessrias minimizao dos impactos.

    A resoluo CONAMA n 307 (2002) parte de algumas consideraes:

    y Poltica urbana de pleno desenvolvimento da funo social da cidade e da propriedade urbana, conforme disposto na Lei n 10.257, de 10 de julho de

    2001;

    y Necessidade de implementar diretrizes para efetiva reduo dos impactos ambientais gerados pelos RCD;

    y Disposio dos RCD em locais inadequados contribui para a degradao da qualidade ambiental;

    y RCD representam significativo percentual dos resduos slidos produzidos em reas urbanas;

    y Geradores de RCD devem ser responsveis pelos resduos das atividades de construo, reforma, reparo e demolio de estruturas e estradas, bem

    como pelos resultantes de remoo de vegetao e escavao de solos;

    y Viabilidade tcnica-econmica da produo e uso de materiais reciclados oriundos da construo civil;

    y A gesto integrada dos RCD deve proporcionar benefcios de ordem social, econmica e ambiental.

  • 15

    O art. 5 da resoluo n 307 estabelece que, para a gesto dos RCD, deve ser

    implementado o Plano Integrado de Gerenciamento de Resduos da Construo

    Civil, a ser elaborado pelos Municpios e pelo Distrito Federal. Esse plano

    incorporar um programa municipal de gerenciamento dos RCD e projetos de

    gerenciamento desses resduos pelos geradores.

    Devem constar desse citado plano:

    y Diretrizes tcnicas e procedimentos para o programa municipal de gerenciamento de resduos da construo civil e para projetos de

    gerenciamento de RCD a serem elaborados pelos grandes geradores,

    possibilitando o exerccio de suas responsabilidades;

    y Cadastramento de reas, pblicas ou privadas, adequadas para recebimento, triagem e armazenamento temporrio de pequenos volumes, permitindo a

    destinao posterior dos resduos vindos dos pequenos geradores s reas

    de beneficiamento;

    y Elaborao de processos de licenciamento de reas para beneficiamento e destinao final dos RCD;

    y Proibio do descarte em reas no licenciadas;

    y Incentivo reutilizao e reciclagem dos resduos no processo produtivo;

    y Definio dos critrios para o cadastramento de transportadores;

    y Aes de orientao, fiscalizao e controle dos agentes envolvidos;

    y Programas educativos visando a reduzir a gerao dos RCD e a possibilitar sua reciclagem.

    Segundo o art. 9, ainda na Resoluo n 307 do CONAMA, os projetos de

    gerenciamento de resduos da construo civil devero ser elaborados de acordo

    com as seguintes etapas:

  • 16

    y Caracterizao: o gerador dever identificar e quantificar os resduos;

    y Triagem: ser realizada, preferencialmente, na origem ou nas reas de destinao licenciadas para essa finalidade, respeitando as classes dos

    resduos;

    y Acondicionamento: o gerador dever garantir o acondicionamento correto dos resduos desde a produo e o transporte at a destinao final;

    y Transporte: seguir as normas tcnicas para transporte de resduos slidos;

    y Destinao: de acordo com o estabelecido nessa resoluo.

    Segundo a resoluo CONAMA n 307 (2002), as responsabilidades pelo

    gerenciamento dos RCD devem ser divididas entre os geradores e as prefeituras

    municipais, proporcionando um modelo de gesto integrada para esses resduos.

  • 17

    4.4 COMPOSIO DOS RESDUOS DE CONSTRUO E DEMOLIO

    O Resduo de Construo e Demolio tem caractersticas bastante

    peculiares por ser produzido por um setor com gama muita variada de tcnicas e

    metodologias e onde o controle de qualidade do processo produtivo relativamente

    recente. A composio qumica e a quantidade produzida desse resduo depende

    diretamente do estgio de desenvolvimento da mo de obra empregada, das

    tcnicas construtivas usadas, dos programas de qualidade implementados entre

    outros.

    O entulho , talvez, o mais heterogneo dentre os resduos industriais. Ele constitudo de restos de praticamente todos os materiais de construo (argamassa, areia, cermicas, concretos, madeira, metais, papis, plsticos, pedras, tijolos, tintas, etc.) e sua composio qumica est vinculada composio de cada um de seus constituintes. (ZORDAN, s.d.)

    Ainda sim, h exemplos de pesquisas feitas no intuito de demonstrar a constituio

    do entulho a partir de sua frao mineral. Na tabela 4.1 foi feita uma racionalizao

    da variada gama de materiais componentes dos RCD, apresentando os de maior

    interesse econmico para reciclagem.

    Tabela 4.1 Composio mdia da frao mineral do entulho (%)

    MATERIAL PINTO (1987) 1 ZORDAN e PAULON (1997) 2 Argamassa 64,4 37,6 Concreto 4,8 21,2 Material Cermico 29,4 23,4 Pedras 1,4 17,8 1 Local: cidade de So Carlos, SP, Brasil. 2 Local: cidade de Ribeiro Preto, SP, Brasil.

    Fonte: ZORDAN(s.d.)

    Apesar da importncia de se conhecer a composio do entulho, essa dever ser

    feita regionalmente, dados os motivos ora expostos.

  • 18

    4.5 AS PERDAS GERADORAS DE RESDUOS DE CONSTRUO E DEMOLIO

    Diz-se imprescindvel a gerao de resduos na Construo Civil, tanto que se

    chega a dizer que uma conseqncia inerente prpria atividade. Na verdade isso

    se deve ao modo operandi da atividade e a seu processo como um todo, pois se

    costuma encarar a atividade como parte, ou a parte de um todo. Segundo uma viso

    tecnocrata pode-se acreditar que apenas uma questo de tempo ou de mtodo,

    mas vai mais alm, chega posio tica de compromisso com o meio ambiente.

    Praticamente todas as atividades desenvolvidas no setor da construo civil so geradoras de entulho. No processo construtivo, o alto ndice de perdas do setor a principal causa do entulho gerado. Embora nem toda perda se transforme efetivamente em resduo - uma parte fica na prpria obra - os ndices mdios de perdas (em %) apresentados abaixo fornecem uma noo clara do quanto se desperdia em materiais de construo - a quantidade de entulho gerado corresponde, em mdia, a 50% do material desperdiado. (ZORDAN, s.d.)

    J nas obras de reformas a falta de uma cultura de reutilizao e reciclagem so as

    principais causas do entulho gerado pelas demolies do processo.

    Como podemos ver na tabela a seguir, as pesquisas nem sempre apresentam

    coincidncias quanto aos materiais relacionados. Isso se a regionalidade dos

    mtodos, tcnicas e insumos utilizados, evidenciando a busca de um modelo local.

  • 19

    Tabela 4.2 Valores percentuais de perdas de materiais segundo diversas pesquisas

    Fonte: SOUZA et. al (2004)

    Nas obras de demolio propriamente ditas, a quantidade de resduo gerado no

    depende dos processos empregados ou da qualidade do setor, pois se trata do

    produto do processo, e essa origem, sempre existir.

  • 20

    4.6 OS RESDUOS DE CONSTRUO E DEMOLIO NO BRASIL E NO MUNDO

    A indstria da construo civil ocupa posio de destaque na economia

    nacional, sendo responsvel por uma parcela significativa do Produto Interno Bruto

    (PIB) do pas. Dados recentes indicam que o macro complexo construo civil

    responde por 15% do PIB nacional (CONSTRUBUSINESS, 2003).

    Alm desta participao direta no PIB, destaca-se tambm o grande contingente de

    mo-de-obra direta empregada, que corresponde a 3,92 milhes de empregos,

    sendo o maior setor empregador da economia nacional (CONSTRUBUSINESS,

    2003).

    A cadeia produtiva da construo civil consome entre 14 e 50% dos recursos

    naturais extrados do planeta; no Japo corresponde cerca de 50% dos materiais

    que circulam na economia; nos EUA o consumo de mais de dois bilhes de

    toneladas representa cerca de 75% dos materiais circulantes (JOHN 2000).

    A produo de grandes volumes de materiais de construo e a atividade de

    canteiro de obras construo, manuteno e demolio so responsveis por

    cerca de 20 a 30% dos resduos gerados pelos pases membros da Unio Europia

    (MURAKAMI et al. 2002 apud SCHNEIDER et al, 2004).

    Este percentual corresponde a um valor compreendido entre 221 e 334 milhes de

    toneladas por ano (VAZQUEZ, 2001). Nos EUA, segundo a agncia ambiental

    americana, so gerados aproximadamente 136 milhes de toneladas de RCD por

    no (EPA 1998).

    O Brasil, at 2002 no tinha polticas pblicas para os resduos gerados pelo setor

    da construo civil. Na cidade de So Paulo, at aquele ano a legislao municipal

    limitava-se a proibir a deposio de RCD em vias e logradouros pblicos, atribuindo

    ao gerador a responsabilidade pela sua remoo e destinao. (SCHNEIDER et al.,

    2004).

  • 21

    No incio do sculo XX, quando se registraram diversas epidemias, as terras altas da

    cidade de So Paulo, tiveram forte valorizao, provavelmente por estarem

    afastadas dos locais de disposio final dos resduos. O primeiro bairro paulista

    implantado em local elevado tanto expressou a preocupao da elite paulistana com

    as questes sanitrias, que foi chamado de Higienpolis - cidade da higiene

    (IACOCCA, 1998 apud SCHNEIDER et al., 2004).

    No incio do sculo XXI milhares de toneladas de RCD so depositados diria e

    sistematicamente em centenas de vias e logradouros pblicos do municpio

    (SCHNEIDER et al., 1999) e comprometem a paisagem urbana, o trfego de

    pedestres e de veculos e a drenagem urbana, alm da atrao de resduos no

    inertes, multiplicao de vetores de doenas e outros efeitos, conforme observado

    em diversas cidades brasileiras (PINTO, 1999).

    Podemos ver no Quadro 4.3 que a produo das cidades brasileiras supera em

    muito os pases europeus e o Japo, pois possui uma mdia de 86.300 t/ms.

    Notamos a relevncia e o estado preocupante da produo de RCD no Brasil.

  • 22

    Estimativas da quantidade do entulho produzido no pas e no exterior so

    apresentadas abaixo.

    Quadro 4.4 Quantidade de Entulho Produzido no Pas e outras partes do Mundo Fonte: ZORDAN, s.d.

    O quadro apresentado serve como referencial, muito embora torne a comparao

    entre as parte muito difcil. Isso vem a demonstrar a lacuna temporal e espacial em

    termos de pesquisas de quantificao na reas de RCDs.

    LOCAL GERADOR GERAO ESTIMADA (t/ms)

    So Paulo 372.000 Rio de Janeiro 27.000 Braslia 85.000 Belo Horizonte 102.000 Porto Alegre 58.000 Salvador 44.000 Recife 18.000 Curitiba 74.000 Fortaleza 50.000

    Brasil 1 Florianpolis 33.000

    Europa 2 16.000 a 25.000

    Reino Unido 3

    6.000

    Japo 3 7.000 1 PINTO (1987)

    2 PERA (1996)

    3 CIB (1998)

  • 23

    4.7 PRINCIPAIS PESQUISAS FEITAS SOBRE AS PERDAS DE MATERIAIS

    PALIARI (1999) fez apresentao e anlise das principais pesquisas que

    tratavam da perda de materiais. Todas as pesquisas feitas abarcaram o escopo do

    canteiro de obras civis de edificaes de mdio a grande porte. Na anlise feita por

    PALIARI (1999) enfatizou-se a metodologia empregada, os principais resultados e

    as principais concluses.

    O quadro a seguir traz um resumo das anlises feitas e demonstra que a

    preocupao com a perda de materiais j bem recorrente, mas vale salientar que

    no contexto no qual se inseriam essas pesquisas, as perdas eram ilustradas com

    intuito de reduz-las para uma melhor administrao financeira das obras e no por

    responsabilidade com o trato ao meio ambiente.

    Quadro 4.5 - Principais diferenas detectadas entre as pesquisas realizadas Fonte: Paliari, 1999.

  • 24

    5. ASPECTOS METODOLGICOS

    A presente pesquisa lidou com informaes e dados onde foi exigida a

    combinao e articulao de mtodos de anlise quantitativos e qualitativos a fim de

    se traar um quadro da situao de como vm sendo tratados os resduos slidos da

    construo civil da Cidade de Joo Pessoa, comparando o discurso e a prtica.

    Neste sentido, foram realizados os seguintes procedimentos de pesquisa:

    Busca bibliogrfica de toda legislao e normatizao pertinente ao trato dos resduos resultantes da construo civil. Toda essa busca se

    pautou numa srie de normativas: Resoluo 307 do CONAMA (2002), Resduos da construo civil e resduos volumosos - reas de

    transbordo e triagem - Diretrizes para projeto, implantao e operao

    NBR 15112(2004b), Resduos slidos da construo civil e resduos inertes - Aterros - Diretrizes para projeto, implantao e operao

    NBR 15113(2004c), Resduos slidos da construo civil - reas de reciclagem - Diretrizes para projeto, implantao e operao NBR 15114(2004d), Agregados reciclados de resduos slidos da construo civil - Execuo de camadas de pavimentao

    Procedimentos NBR 15115(2004e), Agregados reciclados de resduos slidos da construo civil Utilizao em pavimentao e

    preparo de concreto sem funo estrutural Requisitos NBR 15116(2004f), Resduos slidos Classificao - NBR 10004(2004). Na verdade uma publicao acabava levando a outra

    conseqentemente.

    Identificao dos agentes envolvidos na produo, remoo, destinao e tratamento dos resduos slidos da construo civil na

    Cidade de Joo Pessoa, por meio de anlise documental em arquivos

    cadastrais institucionais e empresariais. Aps visita a EMLUR

  • 25

    (Autarquia Municipal Especial de Limpeza Urbana) pode-se identificar,

    se no todos, grande parte dos agentes envolvidos devido a prtica e

    conhecimento dos seus integrantes sobre o tema.

    Aferio dos dados quantitativos sobre a produo dos resduos slidos da construo civil na Cidade de Joo Pessoa junto a EMLUR

    (Empresa Municipal de Limpeza Urbana de Joo Pessoa). Foram

    fornecidas planilhas com valores de aferio feitos pela prpria

    EMLUR, mas no havia uma preciso ratificada. Foi feita meno

    sobre um trabalho cientfico que poderia ter valores mais precisos

    sobre a produo de RCD na cidade de Joo Pessoa, que seria Lima

    (2005);

    Verificao do discurso para se comparar a prtica no concernente a destinao dada aos resduos slidos da construo civil na Cidade de

    Joo Pessoa, por meio de entrevistas semi-estruturadas gravadas junto

    aos agentes envolvidos. Essas entrevistas foram feitas junto a

    SUDEMA (Superintendncia de Administrao do Meio Ambiente) e

    EMLUR, representados respectivamente pelos Srs. Acio Germano e

    Francisco Lucas Rangel. Foi feita ainda entrevista com o Sr. Ricardo

    Coutinho, prefeito da Cidade de Joo Pessoa, para que se pudesse

    saber se haviam, e quais seriam, as perspectivas do poder pblico

    municipal, concernente ao destino e tratamento dos Resduos de

    Construo e Demolio.

    Identificao do tratamento dispensado utilizao, reutilizao e reciclagem dos resduos da construo produzidos na cidade de Joo

    Pessoa a partir dos dados quantitativos aferidos e das entrevistas feitas

  • 26

    aos rgos responsveis pela fiscalizao e gerncia, no caso,

    SUDEMA e EMLUR, respectivamente.

    Constante pesquisa bibliogrfica, atualizando e aprofundando o referencial sobre o tema. Os trabalhos relacionados ao tema no so

    muitos, em se tratando especificamente da gesto de Resduos de

    Construo e Demolio, mas existem muitos trabalhos correlatos que

    parcialmente tratam de alguns pontos levantados durante a pesquisa, o

    qu veio a tornar a busca bibliogrfica um pouco rdua.

    Cruzamento das informaes aferidas na cidade em estudo com o material pesquisado, para demonstrar a situao em que se encontra o

    tratamento dispensado aos RCDs, na inteno de uma contribuio, a

    partir de retratao de sua realidade, para a sustentabilidade nas

    construes.

  • 27

    6. APRESENTAO E DISCUSSO DOS RESULTADOS

    6.1 OS RESDUOS DE CONSTRUO E DEMOLIO EM JOO PESSOA

    6.11 AS EMPRESAS COLETORAS

    A cidade de Joo Pessoa tem 672.081 habitantes segundo o IBGE (2000)

    e considerada uma cidade de porte mdio com um acelerado processo de

    desenvolvimento da construo civil, principalmente nos bairros que acompanham a

    costa martima. Possui um IDH de 0,783 segundo o IBGE (2000) e uma

    densidade de 3.146,6 hab/km. composta, oficialmente, por 64 bairros, sendo

    Mangabeira, o maior deles, com aproximadamente 70 mil hab. Recebeu o ttulo

    de segunda cidade mais verde do mundo poca de ECO-92 com mais de 7 m

    de floresta por hab.

    Mas nem tudo caminha to bem. A demanda predatria da especulao imobiliria e

    busca voraz do turismo de cidades litorneas vm mudando um pouco o quadro.

    Casas residenciais so demolidas dando lugar a construo de espiges para

    apartamentos residenciais multifamiliares sufocando as demais residncias

    unifamiliares ali existentes, um estigma de todas as cidades litorneas brasileiras.

    Foto 1 - Entulho em terreno Foto 2 Entulho em rua Fonte: LIMA, 2005. Fonte: LIMA, 2005.

  • 28

    Foto 3 - Entulho em avenida Foto 4 Entulho em frente casa Fonte: LIMA, 2005. Fonte: LIMA, 2005.

    Este processo gera grande quantidade de resduos de construo e de demolio

    como podemos ver nas fotos 1, 2, 3, 4. Desde 2002, segundo Sr. Francisco

    Lucas Rangel4, Gerente do Departamento Tcnico e Planejamento da EMLUR

    (Autarquia Municipal Especial de Limpeza Urbana), devido a um decreto

    municipal a coleta de RCD (Resduos de Construo e Demolio) passou a ser

    concedido a empresas privadas. Ainda segundo o Sr. Francisco de Lucas

    Rangel e com a corroborao de LIMA (2005) existem, na cidade, quatro

    Empresas Coletoras de Entulhos de Construo.

    Estas Empresas trabalham basicamente com a retirada e deposio final

    dos resduos gerados pela Indstria da Construo Civil na Cidade de

    Joo Pessoa e juntas afirmam coletar aproximadamente 3.760 ton/ms

    (mdia de 2003). Na maioria dos casos, o destino final o Aterro Sanitrio

    do Consrcio da Grande Joo Pessoa. Como o Aterro Sanitrio atualmente

    se encontra a uma distncia mdia de 25 km do local da coleta(bairros do

    Bessa, Manaira, Tamba, Cabo Branco e outros) e ainda se paga

    uma taxa de R$ 7,50 (sete reais e cinqenta centavos) por tonelada de

    resduo depositado, de se imaginar que muitos destes resduos tm

    destino final ignorado. (LIMA, 2005)

    LIMA (2005) denominou as quatro empresas coletoras como empresas Coletoras

    4 Declarao feita em entrevista que constar na ntegra na verso digital da dissertao.

  • 29

    A, B, C e D e podemos ver os dados referentes a essas empresas na tabela 6.1

    a seguir.

    A tabela 6.1 evidncia uma discrepncia ntida. A empresa Coletora D representa

    aproximadamente 79,8% do valor total da amostra. Lima (2005) no explica a

    que se deve essa discrepncia, mas de qualquer forma conclumos que

    aproximadamente 55,8% de todo o material coletado, ou seja, 70% do material

    coletado pela empresa Coletora D, no destinado ao Aterro Sanitrio. No se

    sabe se segue para deposies clandestinas ou se ser, de alguma forma,

    reaproveitado, pois o local indicado pelo contratante no traz maiores

    informaes, nem muito menos de interesse da empresa coletora embora faa

    dela co-autora da destinao dada.

    Tabela 6.1 Destino e Quantidade de Resduos de Construo e Demolio Declarados pelas Empresas Coletoras EMPRESA COLETORA

    DESTINO DO MATERIAL RECEPTADO

    PERCENTUAL DO TOTAL (%)

    QUANTIDADE ABSOLUTA DE MATERIAL (ton.)

    Aterro Sanitrio

    70 A

    Local indicado pelo contratante

    30

    120

    Aterro Sanitrio

    100 B

    Local indicado pelo contratante

    0

    240

    Aterro Sanitrio

    100 C

    Local indicado pelo contratante

    0

    400

    Aterro Sanitrio

    30 D

    Local indicado pelo contratante

    70

    3000

    Fonte: Adaptao de LIMA (2005)

    H ainda o quantitativo de coleta de RCD de cada bairro por cada empresa onde fica

    clara a maior demanda vinda dos prximos praia, como vemos claramente nas figuras

    6.1, 6.2, 6.3, 6.4. Se faz necessrio chamar ateno para um detalhe constando na figura

    6.3, pois foi includo o bairro de Intermares que j faria parte do municpio de Cabedelo.

  • 30

    Ainda assim, a especulao imobiliria e a crescente demanda turstica fazem com que

    haja uma desocupao da orla martima da Cidade de Joo Pessoa por parte das

    edificaes unifamiliares, sendo paulatinamente substitudas por edificaes

    multifamiliares ou equipamento e servios tursticos. Esse fenmeno j ocorreu e ocorre

    em praticamente todas as cidades litorneas, com mais nfase s capitais. H uma

    preocupao, pois nem sempre isso vem a trazer benefcios para a populao em geral,

    a no ser que emprego e renda, independente de qualquer outra varivel, seja

    considerado benefcio suficiente e justificvel.

    Figura 6.1 Quantidade Absoluta de RCD, em toneladas, coletados por bairro pela Empresa Coletora A Fonte: LIMA, 2005

  • 31

    Figura 6.2 Quantidade Absoluta de RCD, em toneladas, coletados por bairro pela Empresa Coletora B Fonte: LIMA, 2005

    H de se notar na figura 6.4 que 2410 toneladas, 64% de um total de 3760, so

    provenientes dos bairros da orla. Ao compararmos o valor da produo mensal total da

    Cidade de Joo Pessoa com o quadro 4.4 (p. 22) vemos que essa um pouco mais da

    metade da produo do Japo em 1998 e bem longe das 18.000 t/ms da Cidade do

    Recife em 1987. Se considerarmos a devidas propores e o lapso temporal, ainda

    assim, vemos que so necessrias medidas para controle e destino adequado aos

    Resduos de Construo e Demolio.

    Figura 6.3 Quantidade Absoluta de RCD, em toneladas, coletados por bairro pela Empresa Coletora C Fonte: LIMA, 2005

  • 32

    Figura 6.4 Quantidade Absoluta de RCD, em toneladas, coletados por bairro pela Empresa Coletora D Fonte: LIMA, 2005

    Segundo LIMA (2005), em Joo Pessoa,

    (...) a maioria das construes e demolies so ainda uni familiares e executadas pelos proprietrios, que geralmente acumulam os seus resduos dentro do prprio terreno, no contratam coletores de resduos e descartam estes materiais, na primeira oportunidade, em qualquer terreno baldio da proximidade. Em alguns casos contratam qualquer transporte de aluguel que geralmente coletam em horrio noturno e fazem o despejo em terrenos baldios, margens de estradas, margens de rios, cursos dgua ou qualquer rea de depresso.

    Grande parte do solo que constitui o espao urbano da Cidade de Joo Pessoa

    predominantemente de plancies litorneas planas, de baixa altitude e algumas

    depresses (dolinas) sobre tabuleiro superior dificultando a drenagem. No perodo

    chuvoso, o nvel do lenol fretico sobe formando verdadeiros alagadios. Isto faz

    com que os proprietrios de terrenos destas reas despertem o interesse em

    transform-los em verdadeiros aterros, sem nenhum critrio ou seleo de material

    depositado. Com o aterramento de determinados terrenos, a gua da chuva perde o

    de permeabilidade no solo e as ruas ficam intransitveis, pois passam a ser o

    caminho natural das guas. Fossas residenciais no resistem presso das guas,

  • 33

    superlotam e transbordam contaminando todas as reas circunvizinhas causando

    problemas de natureza ambiental.

    Estes procedimentos irregulares provocam grandes prejuzos cidade, poluindo e

    proporcionando enchentes e inundaes nos perodos chuvosos, por obstruir

    galerias pluviais e interferindo no encaminhamento das guas.

    H ainda a alternativa, como nos lembra o Sr. Francisco Lucas Rangel, Gerente do

    Departamento Tcnico e Planejamento da EMLUR, da deposio dos RCD em via pblica,

    como exemplo podemos citar o bairro do Bessa, que na poca chuvosa para contornar a

    falta de pavimentao e o alagadio que dificulta o trnsito de carros e pedestres faz uso de

    tal procedimento.

    6.1.2 COMPOSIO DOS RESDUOS DE CONSTRUO E DEMOLIO (RCD) PRODUZIDOS NA CIDADE DE JOO PESSOA

    Para tratarmos das questes concernentes a gesto de RCD precisamos conhecer

    sua composio, pois no h como tratar, acomodar e programar a destinao, seja

    para reutilizao, reciclagem, reaproveitamento ou deposio definitiva sem

    conhecer esse dados.

    Foi conseguido por LIMA (2005) a composio estimada dos RCD produzidos em Joo

    Pessoa. Os dados para essa composio foram fornecidos pelas empresas coletoras e esto

    mostrados na figura 6.5. Na seo que descreve os dados desse grfico, LIMA (2005) no

    explicita se os materiais foram quantificados em massa ou volume, mas se pode inferir que

    sejam em massa, pois todos os dados fornecidos pelas empresas coletoras so assim

    expressos. H materiais que no constam na figura por terem uma representao muito

    pequena, mas que so considerados no momento de triagem, devendo ser separados para

    a possibilidade de reciclagem ou reutilizao dos demais materiais.

  • 34

    Componentes dos Resduos

    34%

    12%12%10%

    9%

    8%

    15%Tijolos e telhasBarroAreiaMadeiraPapelConcretoCompensado/Gesso/Lata

    Figura 6.5 Percentual de RCD coletados por bairro pela Empresa Coletora D Fonte: LIMA, 2005

    Os materiais mais representativos, ou seja, tijolos e telhas, barro e areia que perfazem 58%

    do total amostrado, so objetos de pesquisas em reciclagem. As denominaes dos

    materiais podem variar, pois como vimos no quadro 4.1 (p.17) h uma racionalizao da

    nomenclatura, mas algumas vezes essa racionalizao no to veemente como visto na

    tabela 4.2 (pg 19) e na figura 6.5, recm vista. Pode-se notar, ainda que a figura 6.5

    demonstra um fato interessante, a maioria do material aferido considerado inerte, ou seja,

    material que poderia ser reinserido no ciclo produtivo, muito embora, LIMA (2005), no

    esclarea em que moldes foi feita esta composio e se este material foi gerido de forma

    correta para, havendo sua separao, que se possa reutiliz-lo. De qualquer forma isso

    aponta para uma perspectiva bem animadora quanto a potencialidade da do RCD coletado.

  • 35

    6.1.3 PANORAMA DA SITUAO DOS RESDUOS DE CONSTRUO E DEMOLIO NO ESTADO DA PARABA

    Na Paraba, a SUDEMA (Superintendncia de Administrao do Meio Ambiente)

    realizou o diagnstico dos resduos slidos em apenas algumas cidades do estado, como

    podemos ver a seguir.

    Como podemos ver na figura 6.6, apenas uma poro limitada dos municpios do Estado da

    Paraba possui diagnstico de resduos slidos, isso se deve em parte a limitao numrica

    de pessoal para realizar tal tarefa, bem como a abrangncia territorial. Isso vem a dificultar

    uma avaliao mais precisa da situao do Estado como um todo, no havendo assim a

    possibilidade de tomada de medidas conjuntas. O Estado da Paraba possui um total de 223

    municpios dos quais 40 diagnosticados esto assinalados na figura seguinte.

  • Figura 6.6 Situao dos Municpios quanto a presena de diagnstico dos Resduos Slidos no Estado da Paraba Fonte: SUDEMA (2005)

  • Ao se fazer o confrontamento das figuras 6.6 e 6.7, vemos um ntido decrscimo das

    manchas em destaque, pois a realizao dos diagnsticos no implica

    necessariamente na existncia de aterros. Os municpios que possuem aterro ou

    rea selecionada para tal, precisam fazer a comunicao e posteriormente pleitear o

    seu licenciamento junto a SUDEMA.

    Figura 6.7 Situao dos Municpios quanto a presena de reas escolhidas para

    aterros sanitrios Fonte: SUDEMA (2005)

  • 38

    Na figura 6.8 vemos apenas os municpios que possuem aterros e destes h os que

    so licenciados, os que no so, bem como os que tm suas licenas vencidas , ou

    seja, que no houve renovao da mesma no prazo adequado ou que deixaram de

    atender as solicitaes impostas pela Lei ou pelos rgos competentes, nesse caso

    a SUDEMA.

    E muito importante frisar que os aterros sanitrios devem prever dentro de sua

    prpria rea uma espao especfico para receptao de resduos de construo e de

    demolio e ainda sua triagem, separao e compactao para que ocupem o

    menor espao possvel. A separao dos materiais se d segundo as classes

    descritas na Resoluo 307 do CONAMA e NBR 15113:2004, para que sejam

    posteriormente reutilizados, reciclados ou reaproveitados, caso contrrio sero

    receptados para guarda. Os materiais receptados devem ser monitorados e sua

    origem controlada para que se permita a reconstituio da cadeia de

    responsabilidades de cada depositrio.

    .

    Figura 6.8 Situao dos Municpios quanto ao Licenciamento de Aterros

    Sanitrios Fonte: SUDEMA (2005)

  • 39

    Na figura 6.9 so identificados os municpios que possuem unidades de triagem e

    compostagem licenciadas e os que no possuem. Essas unidades, presentes em

    apenas trs municpios, no implicam relao nenhuma com os Resduos de

    Construo e Demolio (RCD), mas sim com os Resduos Slidos Urbanos, ou

    seja, a produo de lixo urbano de origem domiciliar e comercial.

    Figura 6.9 Situao dos Municpios quanto ao Licenciamentos Unidades de Triagem e Compostagem de R.S.U. (Resduos Slidos Urbanos)

    Fonte: SUDEMA (2005)

  • 40

    A situao descrita pela figura 6.10 preocupante a nvel estadual, pois quase a

    totalidade dos municpios destina seus resduos a lixes. Isso reflete, no mnimo, um

    descaso e demonstra a despreocupao com o meio ambiente. Nesses municpios

    no d sequer para conceber a prtica da destinao adequada dos Resduos de

    Construo e Demolio. No lado direito da figura onde traz a nomenclatura Joo

    Pessoa, vemos alguns municpios com a legenda de aterro sanitrio mas com

    hachuras diferenciadas, isso se deve a representao do CONDIAM, explicado logo

    adiante, e pare explicitar que no se trata de um nico municpio apenas.

    Figura 6.10 Situao dos Municpios quanto a Destinao Final dos Resduos Slidos

    Fonte: SUDEMA (2005)

  • 41

    Para o caso especfico de Joo Pessoa, foi estabelecido o CONDIAM PB

    (Consrcio para o Desenvolvimento da Regio Metropolitana de Joo Pessoa) pela

    Lei Complementar Estadual 59, de 2003, onde entre outras coisas faz-se o

    compartilhamento do Aterro Sanitrio. So integrantes desse consrcio os

    municpios de Joo Pessoa, Cabedelo, Lucena, Conde, Santa Rita, Bayeux, Rio

    Tinto, Mamanguape e Cruz do Esprito Santo, e conta com uma populao de

    1.062.801 habitantes. Podemos v-lo ilustrado na figura 6.11.

    Figura 6.11 CONDIAM - PB Fonte: CONDIAM (s.d.)

  • 42

    Segundo a SUDEMA PB, representada na pessoa do Sr. Acio Germano5, Diretor

    Tcnico, seo de Resduos Slidos, nenhum municpio apresentou solicitao de

    licena para manejo de RCD e que no existe empresa de beneficiamento de RCD

    no estado da Paraba, bem como no houve treinamento para o licenciamento de

    reas de disposio de RCD de acordo com a resoluo 307 do CONAMA.

    Foram detectados pela SUDEMA os municpios que teriam potencial de maior

    gerao de RCD como mostra a figura 6.12. Esses Municpios precisariam se

    enquadrar nas exigncias da Resoluo do CONAMA 307/2002, para que tenham

    controle sobre os Resduos de Construo e Demolio gerados buscando

    incentivos minimizao da produo e uma destinao adequada, podendo, ento,

    conceber a possibilidade de recicl-los ou reutiliz-los. Vale salientar que os

    municpios assinalados na figura 6.12 so apenas parte dos 40 que possuem

    diagnstico de resduos slidos no estado da Paraba, restando 183.

    Figura 6.12 Municpios com Potencial de Gerao de Resduos de Construo e Demolio - RCD

    Fonte: SUDEMA (2005)

    5 Declarao feita em entrevista que constar na ntegra na verso digital da dissertao.

  • 43

    6.1.4. OS RCD EM JOO PESSOA E A USINA DE RECICLAGEM DE ENTULHO

    Recentemente, dia 27 de novembro de 2006, foi divulgado, no portal

    eletrnico da Prefeitura Municipal de Joo Pessoa, a aquisio de equipamentos

    que compe a usina de Reciclagem de Resduos da Construo Civil que ser

    instalada na Rua Antonieta Stiro, no Bairro do Jos Amrico. Esses equipamentos

    custaram na ordem de um milho de reais e foram adquiridos numa parceria entre a

    Ministrio da Cincia e Tecnologia, a Secretaria Executiva de Cincia e Tecnologia e

    a Autarquia Especial Municipal de Limpeza Urbana (Emlur). Na semana anterior, o

    diretor de Operaes da Emlur, Luiz Antnio Gualberto, e o tcnico Francisco Lucas

    Rangel estiveram em So Paulo, capital, vistoriando os equipamentos e assinando o

    contrato de inspeo e guarda do material at o incio da instalao da usina na

    Capital, previsto para o ms de fevereiro de 2007.

    Foto 5 Usina de Reciclagem de Entulho6

    Dados da Emlur revelam que Joo Pessoa produz 70 ton/dia de entulhos de

    construes, volume menor que a capacidade de processamento da Usina que pode

    chegar a 480 toneladas por dia trabalhando ininterruptamente e produzindo na 20

    ton/hora (PREFEITURA, 2006). No se sabe como se chegaram a esses valores j

    6 Foto proveniente de acesso a internet (http://www.reciclagem.pcc.usp.br/a_utilizacao_entulho.htm) em 03.01.2007

  • 44

    que se aponta o trabalho de LIMA (2005) como um dos norteadores do

    dimensionamento e esse nos mostra valores bem diferentes que seriam na ordem

    de pouco mais de 125 ton/dia o que nos levaria a 3750 ton/ms. No foram levados

    em conta tambm os entulhos gerados que no so encaminhados pelas empresas

    coletoras ao aterro. H ainda que se considerar que no haja qualquer omisso de

    dados pelas mesmas empresas coletoras estudadas, ou seja, a estimativa estaria

    toda pautada em aferies de terceiros, sendo, esses, parte envolvida. De qualquer

    forma os valores aproximam-se dos valores declarados pela EMLUR ao se

    considerar apenas os RCD que so encaminhados pelas empresas coletoras ao

    Aterro Sanitrio, ou seja, 66 ton/dia. De qualquer forma a capacidade de

    processamento da Usina de Reciclagem de Resduos da Construo Civil adquirida

    supera com uma boa margem de segurana os valores veiculados.

    De acordo com Luiz Antnio Gualberto, a usina possibilitar um melhor

    aproveitamento desse tipo de resduo e a diminuio do impacto ambiental, j que

    ao invs de ir para o Aterro Sanitrio ou at para reas de preservao ambiental,

    ser reciclado. Muito embora no se tenha garantia da segregao adequada que

    esse RCD venha a ter, pois ele pode tornar-se imprestvel se contaminado.

    A implantao da usina foi precedida de um Plano de Controle Ambiental (PCA) e o Plano de Recuperao de reas Degradadas, contidas na Licena Prvia n 015/05 da Secretaria de Meio Ambiente. O diretor da Emlur revela que o estudo teve o objetivo de contribuir com a preveno da degradao e o controle das interferncias ambientais provocadas nas fases de implantao e operao do empreendimento. "Tomamos todos os cuidados operacionais e de controle ambiental para a implantao da usina sem comprometer o meio ambiente", explicou.(PREFEITURA, 2006)

    Isso representa, indiscutivelmente, um passo importantssimo na direo da

    soluo ou da minimizao da problemtica dos RCD.

  • 45

    6.2 A VIABILIDADE DA RECICLAGEM DOS RESDUOS DA CONSTRUO E DEMOLIO

    A reciclagem de resduos, assim como qualquer atividade humana, tambm

    pode causar impactos ao meio ambiente. Variveis como o tipo de resduo, a

    tecnologia empregada, e a utilizao proposta para o material reciclado, podem

    tornar o processo de reciclagem ainda mais impactante do que o prprio resduo o

    era antes de ser reciclado. Dessa forma, o processo de reciclagem acarreta riscos

    ambientais que precisam ser adequadamente gerenciados.

    A quantidade de materiais e energia necessrios ao processo de reciclagem pode representar um grande impacto para o meio ambiente. Todo processo de reciclagem necessita de energia para transformar o produto ou trat-lo de forma a torn-lo apropriado a ingressar novamente na cadeia produtiva. Tal energia depender da utilizao proposta para o resduo, e estar diretamente relacionada aos processos de Transformaes utilizados. Alm disso, muitas vezes, apenas a energia no suficiente para a transformao do resduo. So necessrias tambm matrias-primas para modific-lo fsica e/ou quimicamente.(NGULO et al., 2001)

    Como qualquer outra atividade, a reciclagem tambm pode gerar resduos, cuja

    quantidade e caractersticas tambm vo depender do tipo de reciclagem escolhida.

    Esses novos resduos, nem sempre so to ou mais simples que aqueles que foram

    reciclados. possvel que eles se tornem ainda mais agressivos ao homem e ao

    meio ambiente do que o resduo que est sendo reciclado. Dependendo de sua

    periculosidade e complexidade, estes rejeitos podem causar novos problemas, como

    a impossibilidade de serem reciclados, a falta de tecnologia para o seu tratamento, a

    falta de locais para disp-lo e todo o custo que isto ocasionaria. preciso tambm

    considerar os resduos gerados pelos materiais reciclados no final de sua vida til e

    na possibilidade de serem novamente reciclados - fechando assim o ciclo.

  • 46

    Dessa forma, preciso que a escolha da reciclagem de um resduo seja criteriosa e

    pondere todas as alternativas possveis com relao ao consumo de energia e

    matria-prima pelo processo de reciclagem escolhido.

    Comparativamente a outros pases com maior tradio, a reciclagem de resduos, no

    Brasil, de materiais de construo, tmida, com a possvel exceo da intensa

    reciclagem praticada pelas indstrias de cimento e de ao. Este atraso tem vrios

    componentes. Em primeiro lugar, os repetidos problemas econmicos e os

    problemas sociais ocupam a agenda de discusses polticas.

    No Brasil, a problemtica ambiental tratada como sendo apenas um problema de

    preservao da natureza, particularmente florestas e animais em extino,

    deposio em aterros adequadamente controlados e controle da poluio do ar, com

    o estado exercendo o papel de polcia. A lei federal de crimes ambientais (n9.605,

    13 Fev 1998) revela um estado ainda mais voltado a punio das transgresses a

    legislao ambiental vigente do que em articular os diferentes agentes sociais na

    reduo do impacto ambiental das atividades, mesmo que legais, do

    desenvolvimento econmico.

    Surge como diferencial, nesse contexto, a resoluo n 307 de 2002 do CONAMA,

    que faz meno a preocupao em reduo da produo de entulhos, reciclagem e

    reaproveitamento de materiais.

  • 47

    Sobre a viabilidade do aproveitamento dos RCD discute Paiva & Ribeiro (2005),

    mostrando pontos como o Gerenciamento Ambiental e seus Benefcios, Reciclagem,

    A Contabilidade Ambiental, Gastos Ambientais, A Construo Civil e a Reciclagem,

    Impactos Ambientais, Anlise Financeira da Reciclagem na Construo Civil, Custos

    de Reciclagem. Paiva & Ribeiro (2005) chegaram a concluso que sim vivel a

    reciclagem dos resduos da construo civil. A anlise foi toda pautada na viso

    Contabilista.

    Com o resultado apurado pelo demonstrativo de resultado, chega-se a concluso que um bom negcio investir em tecnologias que trazem benefcios o meio ambiente. Hoje em dia o processo de reciclagem numa construo civil no o normal, no faz parte do negcio principal, e este trabalho usando de uma reviso bibliogrfica consistente e de testar o processo de reciclagem na prtica, conseguiu contribuir para uma possvel mudana de paradigma aos empresrios da industria da construo civil. (Paiva & Ribeiro, 2005)

    H, tambm, um manual que trata sobre a implantao de uma usina de reciclagem

    pubilcado pelo SEBRAE SP em 2005, onde mostrado desde o clculo do

    investimento inicial, passando por custos, preo de venda, lucro, ponto de equilbrio,

    atrao dos clientes, fluxo de caixa, os licenciamentos exigidos at o processo de

    abertura da empresa e contratao de empregados.

    J o SINDUSCON SP publicou uma cartilha intitulada Gesto Ambiental de

    Resduos da Construo Civil - A experincia do SindusCon-SP de autoria de

    Tarcsio de Paula Pinto, consta de uma descrio pormenorizada a Gesto

    Ambiental dos Resduos da Construo Civil onde abordada a seqncia de

    atividades feitas, como foi a qualificao dos agentes, a gesto de resduos no

    canteiro de obras, a remoo dos resduos do canteiro e sua destinao, chegando

    at a especificao tcnica de dispositivos e acessrios, oferecendo at um check

    list para acompanhamento de todo o processo e para a feitura de um relatrio.

    Em Desenvolvimento de Novos Mercados para a Reciclagem Massiva de RCD

    NGULO et al. (2002) privilegia o uso dos resduos reciclados de RCD em

    pavimentao e para a produo de componentes do concreto. O uso para

  • 48

    pavimentao o que demanda uma menor qualificao do resduo reciclado, uso

    esse apontado como meta, pelo menos a princpio, para Usina de Reciclagem de

    Resduos de Construo de Joo Pessoa pelo seu prefeito Ricardo Coutinho.7 Isso

    nos faz inferir que a usina estaria, a princpio, super dimensionada e com sua

    utilizao muito aqum do que se almejaria para um processo sistmico e de

    economia de energia na produo de materiais.

    Ao se buscar o uso dos RCD para a produo de componentes do concreto, deve se

    observar alguns aspectos tais como a demolio seletiva ou desconstruo, a

    homogeneizao do agregado reciclado, mudana no processamento dos RCD

    seco, processamento mido dos RCD, otimizao da britagem. NGULO et al.

    (2002) chega a concluso,

    O uso de agregados de RCD reciclados em bases de pavimentao no garante uma reciclagem massiva deste resduo. Este mercado no capaz de consumir mais de 50% deste resduo e dificulta o envolvimento mais expressivo da iniciativa privada, posto que muito limitado ao setor pblico. Existe um grande potencial para a utilizao dos agregados de RCD reciclados em concretos atravs da substituio parcial dos agregados naturais convencionais com pouca ou nenhuma reduo no desempenho dos concretos produzidos se comparados com concretos convencionais de referncia. No entanto este mercado necessita ser desenvolvido e vai requerer mudanas na gesto e no processamento do RCD.

    Em discusso a NGULO et. AL (2002), LIMA (2005) aponta como soluo tcnica

    para a substituio total do agregado natural pelo reciclado a adio de

    superplastificante que viria a ser compensadora em alguns casos, quando no a

    utilizao se faria na ordem dos 50% de agregado reciclado. Mas para tal

    necessitaria de uma ponderao custo/benefcio na adio deste superplastificante.

    Essa soluo tcnica poderia funcionar caso houvesse algum incentivo por parte do

    poder pblico na insero deste material como substituto ao agregado natural.

    Poderamos consider-lo vivel se contabilizados os custos ambientais da

    reinsero deste material no ciclo produtivo.

    7 Declarao feita em entrevista que constar na ntegra na verso digital da dissertao.

  • 49

    Como resultados prticos da viabilidade da reciclagem dos RCD podemos citar o

    exemplo de Resduos da Construo Civil em Salvador: Os Caminhos para uma

    Gesto Sustentvel de Azevedo et al (2006) que nos mostra:

    reduo em 61,66% do nmero de pontos de disposio clandestinos, passando de 420 em 1996 para 161 em 2000. Em 2002, contudo, foram contabilizados mais de 250 pontos;

    recepo de 99,4t/dia de RCC8 nos postos em funcionamento;

    aumento da participao de RCC no total dos resduos coletados com uma mdia de 2.746t/dia ou quase 50% do resduo total coletado em Salvador no ano 2000, embora no abranja a totalidade de RCC gerado na cidade;

    aumento de 1.490t/dia ou cerca de 119% de variao na quantidade de entulho coletado entre 1997 e 2000;

    coleta de 508.732 t/ano (2000), realizada pelo prprio gerador, que resultou numa economia de R$ 10.528.717,00 para a Prefeitura;

    aumento da participao do gerador na coleta e transporte de RCC, evoluindo de 3% em 1996 para 61% em 2000, com reduo para 44,2%, em 2002.

    Azevedo et al. (2006) aponta duas estratgias para gesto dos RCD e sua possvel

    reciclagem ou reutilizao. A primeira visa promover a reduo no canteiro de obras

    e seria composta por busca de desenvolvimento tecnolgico por presses do

    gerador sobre a indstria produtora e fornecedora dos materiais construtivos, das

    embalagens que os recobrem e do aparato ferramental para que considerem a

    possibilidade de melhorias para reduo dos resduos gerados; da melhoria nas

    prticas operacionais no canteiro atravs de gesto de processos mais eficientes,

    controle e fiscalizao da obra, reciclagem dentro da prpria obra, preveno de

    perdas de material, melhoria nas condies de estoque, transporte e a utilizao de

    ferramentas adequadas a atividades a serem executadas; planejamento da obra

    com nfase aperfeioamento dos projetos, busca de materiais adequados,

    treinamento de recursos humanos, uma melhor programao das etapas da obra,

    paginao dos revestimentos, pisos e modulao dos produtos.

    8 O termo RCC significa Resduos de Construo Civil, outra denominao de RCD, Resduos de Construo e Demolio,

  • 50

    Numa segunda fase se almejaria a maximizao do resduo que chega a disposio

    final atravs da triagem e segregao em classes estabelecidas pela resoluo 307

    de 2002 do CONAMA, para uma coleta e tratamento diferenciados; o

    reaproveitamento dos RCD por meio da reciclagem, fazendo-os voltar ao ciclo

    produtivo com um Projeto de Gesto Diferenciada do RCD; disposio dos resduos

    inertes restantes no aterro, mas para uma posterior utilizao desse material que

    aguarda ou por tcnicas que venham a reinser-lo no ciclo produtivo ou por uma

    demanda que compense sua reutilizao.

  • 51

    7. CONSIDERAES FINAIS

    A Gesto dos Resduos de Construo e Demolio na Cidade de Joo

    Pessoa precisa avanar bastante. H sinais de avanos, tais como pesquisas

    regionais na rea RCD como as de LIMA (2005), POLARI FILHO (2005) entre

    outras; a compra da Usina de Reciclagem de Resduos da Construo pela

    prefeitura Municipal de Joo Pessoa. Mas ainda h pontos a serem melhorados tais

    como:

    A Cidade de Joo Pessoa no possui um Plano Integrado de

    Gerenciamento de Resduos da Construo Civil que deve

    incorporar Programa Municipal de Gerenciamento de Resduos da

    Construo Civil e os Projetos de Gerenciamento de Resduos da

    Construo Civil, como determina a resoluo 307 de 2002 do

    CONAMA;

    Os RCD so destinados ao aterro sanitrio onde no h local

    especfico para eles, consequentemente no h triagem nem

    perspectivas de reciclagem ou reutilizao e so utilizados como

    pavimentao para os trfego de caminhes at as clulas de

    compostagem;

    No h um plano de Gesto Diferenciada dos Resduos de

    Construo e Demolio;

    Inexiste qualquer incentivo fiscal por parte da gesto pblica no

    sentido de promover junto aos geradores de resduos a diminuio

    da produo desses;

    No existem dados definitivos e confiveis sobre a composio dos

    Resduos de Construo e Demolio na cidade de Joo Pessoa,

    pois o trabalho de LIMA (2005) aferiu dados fornecidos pelas

    prprias empresas coletoras;

  • 52

    H uma fiscalizao deficitria quanto ao destino dado pelas

    empresas coletoras por parte dos rgos responsveis, a exemplo

    SUDEMA e EMLUR, seja por falta de pessoal ou qualquer outro

    motivo;

    A distncia considervel do Aterro Sanitrio (25 km) ao centro de

    Joo Pessoa, faz com que se torne invivel a destinao dos

    resduos de construo e demolio de outra forma que no seja

    atravs de empresas coletoras privadas, e onde mesmo essas tm

    a destinao adequada questionada;

    No h uma preocupao maior quanto a reciclagem dos RCD para

    uso como componente dos concretos na construo civil,

    mostrando um distanciamento e falta de comunicao entre as

    Entidades de Ensino e Pesquisa que possuem conhecimento do

    assunto e a Administrao Municipal;

    No h uma aplicabilidade real da resoluo 307 de 2002 do

    CONAMA que entrou em vigor desde janeiro de 2003, pois todos os

    seus itens no so, ainda, efetivamente cumpridos. Para que no

    se diga que no provocou reao alguma, a resoluo 307

    conseguiu que fosse criado o Aterro Sanitrio, pois o Governo

    Federal poca pressionou a Prefeitura Municipal, na gesto do

    ento Prefeito Ccero Lucena, com a possibilidade de no repassar

    verbas caso no se buscasse a criao do mesmo, ou seja criou-se

    o aterro, mas no o local para os RCD;

    A preocupao da Administrao Municipal com o meio ambiente

    ainda puramente antropocntrica considerando os problemas

    gerados pela urbanizao como decorrncias naturais e muitas

    vezes sem preveno, apenas remediao;

    No h, a nvel regional nem nacional, uma preocupao com a

    engenharia reversa ou logstica reversa que torne a empresa

    produtora co-responsvel, juntamente com o comprador, da

    destinao final dos produtos manufaturados, o qu ocasionaria

    uma reestruturao dessa empresas bem como um pensamento

    produtivo bem mais ecolgico;

  • 53

    No h regulamentao alguma sobre como devem ser as

    empresas coletoras, e de como deve ser feito seu controle.

    Por outro lado h pontos que devem ser propagados a exemplo:

    H uma cartilha de recomendaes criada pelo Ministrio das Cidades

    intitulada Recomendaes para o Licenciamento reas de Manejo de

    Resduos da Construo Civil e Resduos Volumosos Decorrentes da

    Implementao da Resoluo CONAMA 307/2002. uma publicao para

    a implementao da rea de receptao do Aterro Sanitrio, bem como de

    quaisquer outras que por ventura venham a ser receptoras de RCD;

    H uma vasta gama de trabalhos que pleiteiam a reciclagem dos

    Resduos de Construo e Demolio bem como do aproveitamento de

    resduos industriais e sua insero nos produtos e componentes da

    Construo Civil, trazendo uma diminuio dos custos da obra, diminuio

    do gasto energtico na obteno e transporte da matria prima e sua

    conseqente diminuio de demanda. Podemos citar os trabalhos de

    PAIVA & RIBEIRO (2005), A reciclagem na construo civil: como

    economia de custos; FORMOSO et al. (1996), As perdas na constuo

    civil: conceitos, classificaes e seu papel na melhoria do setor; PALIARI

    (1999), Metodologia para a Coleta e Anlise de Informaes sobre

    Consumos e Perdas de Materiais e Componentes nos Canteiros de Obras

    de Edifcios; JOHN & AGOPYAN (2000), Reciclagem de resduos da

    construo; NGULO et al. (2001), Desenvolvimento de novos mercados

    para a reciclagem massiva de RCD; BUEREN & BOONSTRA (2001),

    Sustainable Design in the Netherlands; PINTO (1999), Metodologia para

    a gesto diferenciada de resduos slidos da construo urbana; entre

    outros. Diante de tantas alternativas fica o questionamento do porqu da

    sua inaplicabilidade;

    A busca por uma melhoria nos processos tecnolgicos que envolvem a

    prtica da atividade construtiva, seja na gesto mais eficiente da obra,

    seja numa melhor formao e qualificao dos profissionais diretamente

    envolvidos na construo civil, uso de aparelhagem especfica para cada

    necessidade, evitando os improvisos e consequentemente as perdas;