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- Relatório -
Nome da equipa: Cientistas em acção
“Lá vai Serpa Lá vai Moura
E as Pias Ficam no meio!”
Agrupamento Vertical de Pias - Escola Básica Integrada com Jardim de Infância de Pias
Ano Lectivo 2010/2011
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Índice
1. Enquadramento geográfico ................................................................................................................................. 3
2. Enquadramento geológico ................................................................................................................................... 3
3.Caracterização da amostra ................................................................................................................................... 5
3.1-Descrição e classificação da rocha ................................................................................................................. 5
4.Caracterização do meio envolvente ...................................................................................................................... 5
5.Valor patrimonial .................................................................................................................................................. 6
6. Interesse económico ............................................................................................................................................ 7
7. Relação com o quotidiano ................................................................................................................................... 8
8. Bibliografia ........................................................................................................................................................... 8
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1. Enquadramento geográfico
No Baixo Alentejo, na margem esquerda do Guadiana, entre Serpa e Moura, situa-se a vila
alentejana de Pias (coordenadas 38° 1′ 29″ N, 7° 28′ 47″ W). Pias é uma freguesia do concelho
de Serpa, com 163,68 km² de área.
2. Enquadramento geológico
A vila de Pias situa-se na região abrangida pela folha 8 da Carta Geológica de Portugal na escala
1/200 000.
Entre Marmelar e Pias ocorrem diversas manchas graníticas que constituem um único maciço
eruptivo. Das rochas magmáticas intrusivas que ocorrem na região, as que ocupam maior extensão,
incluindo as zonas de Pias e Vale de Vargo, constituem o maciço intrusivo de Pias, designado por
Granitos de Pias (Mendes, 1967-68; Pinto, 1985). O granito de Pias, faz parte do maciço eruptivo de
Pedrogão-Pias (Oliveira et al., 1992).
As formações eruptivas resultam de intrusões de rochas magmáticas geradas a grandes
profundidades a partir do arrefecimento lento do magma, há milhões de anos. No seu contacto
metamorfizaram as formações rochosas em seu redor, corneanas, mármores, entre outras rochas.
Esta intrusão magmática (o granito de Pias) trata-se de uma intrusão tardia pós tectónica. Foi
datada na zona de Pedrogão (datação absoluta) com 305 M.A (milhões de anos) (Mendes, 1967-68;
Pinto, 1985). Na notícia explicativa da folha 8 da Carta Geológica à escala 1/200 000, estes granitóides,
teriam origem infracrustal, estando relacionados com a subducção que teria ocorrido no bordo SW
(sudoeste) da ZOM (Zona da Ossa Morena), durante o Devónico-Carbónico, testemunhando o fecho do
Oceano Rheic.
Fig.1– Representação esquemática do bordo sul da
ZOM no Devónico, dominado por mecanismos de
obducção e de Subdução (adaptado de Araújo et al,
2005).
Fig. 2- Unidades estruturais do território Ibérico
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O maciço de Pias-Pedrogão, é incluído na parte da legenda do maciço de Beja, uma intrusão
granitóide (Granitos na legenda na figura 3.) que, segundo a notícia explicativa da folha 8, se
desenvolve, em grande parte, já fora dos limites do Maciço de Beja. (Costa, 2008).
Fig. 3- Mapa geológico da região (Costa, 2008).
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3.Caracterização da amostra
3.1-Descrição e classificação da rocha
O granito biotítico de Pias, é uma rocha magmática intrusiva, de textura granular, com minerais
bem visíveis à vista desarmada, de cor clara, constituída por minerais como o quartzo, a biotite e
feldspatos.
4.Caracterização do meio envolvente
A zona envolvente de Pias é caracterizada por uma paisagem geológica típica de zonas em que a
principal rocha existente é o Granito. A paisagem geológica característica da zona envolvente de Pias
denomina-se “Caos de Blocos”, pelo seu aspecto caótico de origem natural, resultante de processos que
resultam da meteorização provocada na rocha granítica pela acção dos seres vivos, da temperatura e da
água, originando blocos soltos ou penhas. Gentes de outrora chamaram-lhe à imponente formação que
se situa na estrada entre Pias e a Barragem do Enxoé (ao lado esquerdo no sentido para SE) “Os
Rochedos” (figura 5) e o então “Penedo do Abutre” (figura 6) que outrora se chamou “Penedo Abrupto”
ou “Penedo da Abruta” (do lado direito da estrada no sentido para SE), esta estrutura já foi reproduzida
por pintores como Cruz Louro e foi referenciada em algumas canções alentejanas.
Fig. 5 – “O Rochedo” – Caos de Blocos Fig. 6 – “Penedo do Abutre” – Penedos e Caos de Blocos
Fig. 4- Granito biotítico de Pias, em amostra de mão.
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Por entre o relevo de paisagem ondulante, interceptado por pequenos riachos, erguem-se as
pequenas casas da vila de Pias, caiadas de branco para refrescar as gentes nos dias mais solarengos de
verão, apenas interrompidas pela alta Torre do relógio.
5.Valor patrimonial
Pias, terra de grandes costumes e tradições, de poetas e cantores, de histórias e cultura.
Reza a história, segundo Borges, que a Igreja de Santa Luzia foi erguida em homenagem à
referida Santa pelo facto de por ali terem passado cavaleiros, que cansados da viagem com os olhos
queimados do sol e infectados pela poeira, fizeram uma paragem junto a uma nascente de água (daí o
poço que lá existe) e lavaram os olhos. As suas melhoras foram de tal forma rápidas que Nuno Alvares
Pereira (fundador e benfeitor da comunidade carmelita) mandou erguer a capela em louvor de Santa
Lúzia padroeira e santa milagrosa das doenças dos olhos.
O ex-líbris geológico da vila de Pias, são os Granitos e a sua maravilhosa paisagem geológica, os
“Caos de Blocos”. Com um relevo ondulante, de altos e baixos acentuados, Pias é uma vila alentejana
erguida em cima de granitos.
Segundo Mira, a origem do nome da vila de "PIAS" deve-se ao facto de antigamente ter havido
nesta zona a produção de manufacturas em Granito, que eram extraídas das saliências rochosas e que
eram utilizadas para dar de comer e beber aos animais.
Segundo Borges e Mira, também era atribuído o nome de "PIAS" aos buracos que ficavam nas
rochas após extraírem as mós (para os moinhos do Guadiana), as pias e as soleiras que no inverno se
enchiam de água, formando autênticos bebedouros para animais. É nesta dupla acepção – pias objecto e
pias cova que deve estar a origem de seu topónimo. O desenvolvimento desta indústria e a sua
diversificação levou a que muitos cabouqueiros se viessem a instalar nesta zona e em face da indústria
praticada, o nome do local se passasse a chamar de PIAS ou ASPIAS. Antigamente o aumento da
procura dos produtos extraídos das rochas graníticas locais levou os operários a fixarem-se no local do
trabalho e construírem aí as suas habitações.
Do granito eram extraídos, as mós, os pesos e moinhos para os lagares romanos, as pedras das
lareiras, soleiras para as portas das entradas de habitações, cilindros para compactar a brita das estradas
e cubos ou paralelepípedos para diversas calçadas do país. Com o tempo, outros produtos da
concorrência surgiram e a exploração de granito em Pias entrou em crise.
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Segundo mira, no “Mapa das províncias de Portugal” de João Silvério Carpinetti Lisbonense,
datado de 1762, Pias vem assinalada com localização sensivelmente certa à actual povoação embora
com o nome de Aspias.
Fig. 7- Poço de Pias com uma pia construída em Granito. Fig. 8 – Calçadas das ruas de Pias.
Fig. 9- Torre do relógio, ao lado: Fig. 10- Granito meteorizado, pela à acção física temperatura,
o que resultou da tentativa de dos seres vivos e da água.
construção de uma igreja.
6. Interesse económico
Neste momento o interesse económico é baixo, outrora já foi elevado e bastante importante para esta
povoação. Nas décadas de 40 e 50 do século passado, Pias não só tinha vários «canteiros» a trabalhar o
Granito oriundos na maioria dos casos das Beiras como havia duas famílias que se dedicavam ao
comércio das areias ricas em quartzo, de grande qualidade provenientes da meteorização deste
Granito que as enviavam via Caminho de Ferro para a zona do Barreiro.
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7. Relação com o quotidiano
O quotidiano é feito de marcas do passado, construções efectuadas por cima de granitos,
arruamentos antigos, vestígios da exploração e ornamentação em granito.
Fig. 14 e 15 – Casas construídas por cima de rocha granítica. À esquerda uma das casas mais antigas da vila de Pias.
Porém no que se refere ao património geológico o povo de Pias não conhece a sua origem, então
é isso que pretendemos com este projecto, mostrar aos Pienses o valor do património geológico que
possuem na sua zona envolvente, nesta perspectiva “os cientistas em acção” continuarão este projecto
com o desenvolvimento de actividades junto da comunidade escolar e população de Pias, de modo a
sensibilizar miúdos e graúdos não só para a preservação geológica da paisagem, mas para conhecimento
geral da história das suas gentes que outrora ali viveram entre caos de blocos e paisagens verdejantes de
primavera e amarelecidas de Verão.
8. Bibliografia
- Araújo, A., Fonseca, P. Munhá, J., Moita, P., Pedro, J., Ribeiro, A., 2005. The Moura Phyllonitic
Complex: An Accretionary Complex related with obduction in the Southern Iberia Variscan Suture.
Geodinamica Acta 18/5, 375-388.
Fig. 11, 12 e 13- Vestígios da exploração do Granito.
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- Borges, L., 1985. Monografia de Pias.
- Costa, A., 2008. “Modelação Matemática dos Recursos Hídricos Subterrâneos da Região de Moura".
Dissertação de mestrado. Instituto superior técnico, Lisboa.
- Dias, R., Araújo, A., Terrinha, P. e Kullberg (Editores) (2006): Geologia de Portugal no contexto da
Ibéria. Univ. Évora, Évora, 418 p.
- Dias, R., Coke, C. e Ribeiro, A., (2006): Da deformação na Serra do Marão ao zonamento do
autóctone da zona Centro-Ibérica. Em: Geologia de Portugal no contexto da Ibéria (Dias, R., Araújo, A.,
Terrinha, P. e Kullberg, J. Editores). Univ. Évora, Évora, 35-61.
- Mendes, F. (1967/68). Contribution à l’étude géochronologique par le méthode de strontium des
formations cristalines du Portugal. Bol. Mus. Lab. Min. Geol. Fac. Ciên. Univ. Lisboa, II, pp. 3-157.
- Mira, F., 1990. Falar de Pias. Editorial Pendor, Évora.
- Oliveira, J. T. (Coord.), Andrade, A. S., Antunes, M. T., Araújo, A., Castro, P., Carvalho, D.,
Carvalhosa, A., Dias, R., Feio, m:, Fonseca, O., Martins, L.T.,
- Manuppella, G., Marques, B., Munhá, J., Oliveira, V., Pais, J., Piçarra, J. M., Ramalho, M., Rocha, R.,
Santos, J. F., Silva, J. B., Brum da Silveira, A., Zbyszewski, G. (1992). Carta Geológica de Portugal,
escala 1:200.000, Folha 8, Serv. Geol. Port.,
Lisboa., 91 p.
- Pinto, M. S., 1985. Escala geocronológica e granittóides portugueses antecenozóicos: uma proposta.
Mem. Not. Publ. Mus. Lab. Min. Geol. Univ. Coimbra, 99, pp. 157-166.
- Schumann, W., 1992. Guia dos Minerais. 1.ª Edição. Editorial Presença, Lisboa.