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GUIA DE ESTUDOS
Fórum de Cooperação China África (2009)
A ordem política e econômica internacional e a exploração de uma
nova cooperação sino-africana
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SUMÁRIO
1 APRESENTAÇÃO DA EQUIPE ......................................................................................... 3
2. APRESENTAÇÃO DO TEMA............................................................................................ 4
Cooperação Internacional ............................................................................................... 7
3 APRESENTAÇÃO DO COMITÊ ......................................................................................... 8
3.1 Fórum de Cooperação China-África (FOCAC) ........................................................ 10
3.2 Quarta Conferência Ministerial do FOCAC, 2009 ................................................... 11
3.3 O Papel da União-africana em relação ao FOCAC ................................................. 15
4 POSIÇÃO DOS MEMBROS DO FÓRUM ......................................................................... 17
5 QUESTÕES RELEVANTES PARA CADA DELEGAÇÃO ............................................... 18
6 QUESTÕES RELEVANTES PARA O DEBATE ............................................................... 19
RERÊNCIAS ....................................................................................................................... 21
TABELA DE DEMANDA DAS REPRESENTAÇÕES .......................................................... 21
3
1 APRESENTAÇÃO DA EQUIPE
Diretor
Meu Nome é Paulo Henrique Ayusso e estou atualmente no 5º (quinto) períododo
curso de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC
Minas). Minha história no MINIONU iniciou-se no ano de 2010,durante a 11ª edição do
MINIONU, quando participei da simulação como Voluntário de Logística, contribuindo para o
bom andamento do evento. Minha segunda participação na 12ª edição de 2011 representou
um grande salto dentro da estrutura da simulação. Desempenhei o papel de Diretor
Assistente no Comitê FOCAC (Fórum de Cooperação China-África), o qual fora presidido
pela Diretora Daniele Cardoso. Nosso comitê simulou a 3ª Conferência Ministerial dos
membros do FOCAC no ano de 2006.
A ideia de simular novamente uma conferência do FOCAC, na 13ª edição do
MINIONU deu-se em virtude da alta preparação dos delegados em relação ao tema, bem
como à relevância e importância deste nas relações interestatais contemporâneas. Espero
sinceramente que os senhores tirem o maior proveito possível dessa oportunidade para se
tornar cidadãos mais conscientes em relação aos temas internacionais. Que vossa
participação na 13ª edição do MINIONU seja inesquecível!
Diretores Assistentes
Meu nome é Ana Flávia Araujo de Abreu. Sou graduanda do 3o período de Relações
Internacionais da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas. O 13o
MINIONU é meu segundo contato com o projeto. Em 2011 participei como voluntária do
Comitê FOCAC 2006 e com a experiência que tive me senti motivada a me candidatar como
Diretora Assistente para este ano. Estudar o encontro do Fórum de Cooperação entre China
e África (FOCAC) que aconteceu no ano de 2009 é especialmente interessante visto que
atualmente ambos – país e continente - estão em evidência nas discussões políticas e é
sempre relevante estudar o passado para compreender seus desdobramentos no presente.
Ana Flávia Araujo de Abreu
4
Chamo-me Felipe Atela de Almeida Barbosa. No momento estou cursando o 3º
período de relações internacionais na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais,
sendo que cursei o primeiro período na Uni-BH. Participei da 12ª edição do MINIONU como
voluntario de logística, na qual vivenciei a importância dessa área dentro do programa, tão
necessária para o funcionamento do evento. Agora em 2012 estarei presente no projeto
como diretor assistente de comitê, simulando o Fórum de Cooperação entre China e África
(FOCAC), que simulará a IV Conferência Ministerial realizada em 2009. Tenho certeza que
será um prazer participar do desenvolvimento desse comitê, tendo em vista seu tema que
retrata a oportunidade de crescimento dos países africanos mediante a cooperação com a
China.
Felipe Atela de Almeida Barbosa
Meu nome é Patrícia Amaral de Macedo, e atualmente curso o sexto período de
Relações Internacionais pela PUC Minas. Minha efetiva participação no evento se
concretizou apenas no 11º MINIONU, edição na qual fui voluntária do comitê Conselho de
Segurança Futurista – A Questão de Israel. Desde então, me apaixonei pelo modelo. No ano
passado, tive a oportunidade de ser diretora-assistente da Cúpula América do Sul - Países
Árabes no 12º MINIONU. Agora, enquanto diretora-assistente do Fórum de Cooperação
China – África (FOCAC)tenho a certeza de que juntos faremos um excelente trabalho. A
nossa equipe está bastante empenhada. Portanto, não hesitem em nos procurar quando
necessário.Sejam todos bem-vindos.
Patrícia Amaral de Macedo
2. APRESENTAÇÃO DO TEMA
A emergência das relações sino-africanas1se deu a partir da segunda metade do
século XX, no contexto da Guerra Fria, quando as pretensões chinesas no continente
africano eram exclusivamente políticas, isto é, restringiam-se basicamente a apoios a
movimentos de libertação nacional. Naquela época, os países capitalistas não alinhados2 –
1 O adjetivo “sino-africanas”, empregado ao longo do Guia de Estudos, refere-se aos diversos tipos de
relações entre a China e os países do continente Africano que fazem parte do FOCAC. 2 Esse grupo era composto por países afro-asiáticos e majoritariamente recém-independentes, quais
sejam: Afeganistão, Arábia Saudita, Birmânia, Camboja, Egito, Etiópia, Laos, Líbano, Ceilão, República Popular da China, Filipinas, Japão, Índia, Libéria, Líbia, Paquistão, Turquia, Síria, Israel, República democrática do Vietnam, Irã, Iraque, Vietnam do Sul, Nepal e Iêmen do Norte.
5
“países de terceiro mundo” – constituíam uma alternativa à divisão bipolar do planeta3,
baseada em zonas estratégicas norte-americanas e soviéticas (ESTEVES et al. 2011, p.3).
Desde então, as relações sino-africanas têm-se desenvolvido de tal modo que, em
1955 durante a Conferência de Bandung4, vários acordos comerciais foram firmados entre a
China e alguns países do norte da África. Cinco anos mais tarde, em 1960, houve uma
disputa entre China e União Soviética por influência no continente. Na década de 1980, em
contrapartida, a China, em virtude de problemas econômicos, teve de diminuir sua presença
no continente, o que se transformou, de maneira irrefutável, com o fim da Guerra Fria. Após
esse período, a natureza das relações sino-africanas se transformou fundamentalmente. Por
um lado, elas passaram a se basear mais em interesses econômicos do que em interesses
ideológicos. Por outro, a China passou a defender a não intervenção na política interna dos
países(diferentemente, por exemplo, do que ocorria com o FMI – Fundo Monetário
Internacional – já que ao realizar um empréstimo financeiro a um país, esse órgão exigia
que tal país devesse adotar algumaspolíticas econômicas) e a defesa da autonomia estatal,
baseada no princípio de autodeterminação5 (ESTEVES et al. 2011, p.3).
Entretanto, é evidente que as relações sino-africanas apresentam não somente
aspectos positivos, porém também negativos. Se, por um lado, tem-se que a China promove
o desenvolvimento dos países africanos por meio de empréstimos, doações e cooperação
técnica, além de empreender projetos de construção de estradas, escolas e hospitais, por
outro, as várias empresas chinesas que lá se instalam empregam majoritariamente mão-de-
obra chinesa, o que impede que o capital produzido por tais empresas circule dentro dos
países onde elas se situam, uma vez que os trabalhadores chineses enviam o dinheiro a
suas famílias na China. É importante considerar também o principal interesse chinês no
continente, a saber: fontes energéticas (principalmente o petróleo) e minerais, como o cobre
e o ferro (ESTEVES et al. 2011, p.5).
Nesse sentido, a África atende às necessidades energéticas da China, de modo que
esta possa dar continuidade aos seus altos padrões de produção, fortalecendo, assim, sua
política externafrente à reestruturação sistêmica mundial6.É importante ressaltar também
3
Época em que houve disputas estratégicas e conflitos indiretos (de ordem política, militar, tecnológica, econômica, social e ideológica) entre os Estados Unidos da América (EUA) e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) e suas zonas de influência. 4 Essa conferência, composta pelos países “não-alinhados” – ou países de “terceiro mundo” –
objetivava a promoção da cooperação cultural e econômica entre os países que não estavam contidos nas áreas de influência norte-americana ou soviética, de modo a contrapor suas atitudes colonizadoras ou neocolonizadoras. 5 Ou seja, cada Estado tem o direito de decidir, sem influências estrangeiras, sobre sua forma de
governo, seu sistema de governo e sobre seu desenvolvimento cultural, econômico e social. 6 O Sistema Internacional de Estados esteve recentemente estruturado de tal forma que os Estados
Unidos da América (EUA) tiveram uma preponderância econômica, militar e política em relação aos demais países do mundo. Tal fato, entretanto, tem mudado (e, consequentemente, o sistema internacional tem se alterado) no sentido de que países como a China estão crescendo –
6
que a institucionalização das relações sino-africanas, no âmbito do Fórum de Cooperação
China-África (FOCAC) desde o ano de 2000, isto é, o fato de que as relações comerciais,
políticas e econômicas entre a China e a África terem sido submetidas a um arranjo
institucional (Fórum),permitiu um aprofundamento das mesmas. Do lado africano, por sua
vez, a parceria chinesa não representaria uma forma de neocolonialismo, mas sim uma
oportunidade tanto de se reestruturar e se desenvolver, como de se inserir no sistema
internacional(PAUTASSO, 2009).
Além disso, é importante citar também a “Proposta dos Cinco Pontos”que norteiam
as relações sino-africanas. Essa proposta foi sugerida pelo presidente chinês Jiang Zemin
em maio de 1996, estabelecendo as novas diretrizes de relacionamento com a África, quais
sejam: ênfase numa amizade confiável, igualdade soberana, não intervenção,
desenvolvimento mutuamente benéfico e cooperação internacional (BERI, 2007). É a partir
desses pontos que se baseiam os objetivos das conferências ministeriais do FOCAC
realizadas alternadamente na China e na África.
Segundo Chatelard (2006), parte do problema na avaliação do papel da China neste
continente está relacionada a um equívoco comum de se confundir a ajuda chinesa com as
atividades econômicas e de cooperação patrocinadas pelo Estado chinês. De modo similar,
Brautigam (2009) afirma que a China está ligando “ajuda” e “negócios” de maneira
inovadora pela promoção de seus interesses nacionais, por meio de parcerias mutuamente
benéficas implementadas por um grande número de atores e instrumentos.
A confusão geral sobre a ajuda chinesa está, portanto, ligada à maneira
desconcertante com a qual ela estrutura seus instrumentos econômicos em formas de ajuda
aceitas e convencionais, ou excepcionais e inovadoras. É, pois, o crescente número de
ferramentas patrocinadas pelo Estado chinês nas relações econômicas externas que é
decisivo para a promoção dos interesses nacionais chineses “além-mar” (CHATELARD,
2010).
Outra questão relevante é que o papel da China como doadora na África cresceu a
partir de sua própria experiência interna com desenvolvimento nacional e ajuda
internacional. Após os anos caóticos do governo de Mao Tsé-tung7, a abertura chinesa a
ajudas internacionais, a empréstimos e a investimentos do ocidente e do Japão mostraram
principalmente no que diz respeito à economia – de tal forma que poderão, provavelmente, superar a preponderância norte-americana. Vale ressaltar que, quando nos referimos ao “sistema internacional”, referimo-nos ao conjunto de relações entre Estados e as diversas instituições internacionais, tais como a ONU (Organização das Nações Unidas), o FMI (Fundo Monetário Internacional) etc. 7 Mao Tsé-tung liderou a Revolução Chinesa e foi o fundador da República Popular da China,
governando o país de 1949 até sua morte em 1976. No poder, Mao promoveu a integração dos territórios fraturados da China, promulgou uma reforma agrária radical, além de ter fechado o país ao comércio de mercado ou livre-comércio. O Partido Comunista, anteriormente liderado por Mao, ainda domina na China continental, possuindo o controle dos meios de comunicação e de educação.
7
aos chineses como conectar “ajuda” a outras formas de “engajamento econômico”. Por
conseguinte, o conteúdo da ajuda chinesa reflete o que eles acreditam que lhes ajudou a se
desenvolver. E mais importante ainda, os chineses aprenderam que ajuda externa é uma
parceria, e não uma ação caridosa unilateral e que a sustentabilidade e a viabilidade de
projetos estatais dependem largamente da participação de empresários locais
(CHATELARD, 2010).
Sob o ponto de vista chinês, sua liderança no continente africano é apontada como
um apoio sem constrangimentos, ou seja, o fato de o continente africano receber ajuda
chinesa não implica restrições políticas e/ou econômicas da China sobre a África. Como
reiterou o primeiro ministro chinês Wen Jiabao: “nós oferecemos nossa assistência com a
mais profunda sinceridade e sem nenhuma condição política”. Os africanos, por sua vez,
sentem que o interesse chinês no continente representa uma situação de ganho – apesar de
que as indústrias locais têm sofrido fortes impactos pela inundação de produtos baratos
importados da China, particularmente no setor têxtil. Essa perspectiva positiva também tem
a ver com as complementaridades em seus interesses: apelo ao modelo de
desenvolvimento chinês, visão da China como uma fonte alternativa de regime estável e
como um líder e apoiador do mundo em desenvolvimento (BERI, 2007).
Por conseguinte,as potências econômicas emergentes, principalmente a China, dão
aos países africanos a esperança de que é possível transformar a realidade de pobreza
abjeta em níveis de desenvolvimento mais altos. Suas experiências servem de modelo para
a África, uma vez que representam lições de como administrar transformações econômicas
e políticas graduais em países em desenvolvimento (BERI, 2007).
Cooperação Internacional
A cooperação internacional para o desenvolvimento entre países subdesenvolvidos
ou em vias de desenvolvimento, conhecida como cooperação Sul-Sul, não deve ser
considerada como substituta daquela que ocorre entre os países do norte e do sul8 ou como
alternativa à necessidade de reestruturação da ordem econômica vigente. Ao contrário, ela
deve ser compreendida como uma opção, à qual os países do sul recorrem, a fim de tentar
conter os problemas advindos de suas posições no contexto internacional, determinadas
pelo fracasso do sistema internacional na realização de seus interesses (SAKSENA, 1985).
Além disso, segundo Keohane (1989), a cooperação internacional deve ser
distinguida tanto da noção de harmonia, quanto da noção de discórdia, uma vez que quando
a primeira prevalece na relação entre dois ou mais atores (isto é, Estados), suas políticas
8 Relações Norte-Sul são aquelas que acontecem entre os países desenvolvidos, localizados em sua
maioria no hemisfério norte do planeta, com os países em desenvolvimento ou subdesenvolvidos.
8
promovem automaticamente os interesses e objetivos uns dos outros, ao passo que quando
a discórdia pauta suas relações, suas políticas impedem a realização de seus objetivos. A
cooperação, em contrapartida, requer que as ações dos Estados sejam harmonizadas por
meio de um processo de coordenação de suas políticas, acarretando ganhos para ambas as
partes.
No entanto, devemos ser céticos em relação aos benefícios provenientes de tal ação
conjunta. Pode haver certamente uma aliança entre Estados ricos para a exploração de
recursos de Estados mais pobres, de modo que suas ações acarretem ganhos para ambos,
porém trazem benefícios somente àqueles que estão explorando. É importante, pois,
ressaltar que cooperação não é sinônimo de altruísmo (KEOHANE, 1989).
Em suma, no caso específico das relações sino-africanas, o que faz com que os
países africanos façam parte de tais relações é não somente os ganhos que obtêm delas,
mas também a forma pela qual a China comprometeu-se a estruturá-las, a saber: com base
na “Proposta dos Cinco Pontos” (anteriormente citada) por meio da qual eles têm sido
tratados de maneira igualitária, apresentando ganhos proporcionais aos da China e sem a
interferência estrangeira em assuntos internos, para citar alguns.É de se esperar que tais
benefícios estimulem a continuidade e aprofundamento dessa parceria, haja vista a relação
desfavorável que o continente africano possuía com seus tradicionais parceiros.
3 APRESENTAÇÃO DO COMITÊ
Tendo em vista o fato de que simularemos a 4ª (quarta) conferência ministerial do
FOCAC realizada em Sharm El-Sheikh (Egito) no ano de 2009, o comitê será composto por
cinquenta Estados, quarenta e nove representando os países africanos e um representando
a República Popular da China, quais sejam: África do Sul, Argélia, Angola, Benin, Botsuana,
Burundi, Cabo Verde, Camarões, Chade, Comores, Congo, Costa do Marfim, Djibuti, Egito,
Eritreia, Etiópia, Gabão, Gana, Guiné, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Lesoto, Libéria,
Líbia, Madagascar, Malawi, Mali, Marrocos, Maurício, Mauritânia, Moçambique, Namíbia,
Níger, Nigéria, República Centro-Africana, República Democrática do Congo, Ruanda,
Quênia, Seychelles, Senegal, Serra Leoa, Somália, Sudão, Tanzânia, Togo, Tunísia,
Uganda, Zâmbia, Zimbábue e República Popular da China. O mapa abaixo ilustra a
disposição geográfica dos países pertencentes ao FOCAC.
9
Nesta conferência, como nas outras conferências realizadas desde a
institucionalização das relações sino-africanas no âmbito do FOCAC em 2000, as questões
econômicas e financeiras apresentam um papel de extrema importância, o que não quer
dizer que outras questões, tais como: Direitos Humanos, o papel desempenhado pela União
Africana9 (UA) no fórum e questões relativas às mudanças climáticas, por exemplo, não
sejam discutidas (TAYLOR, 2011).
Entretanto, o planode ação de três anos resultante dos três dias de conferências
ministeriais do FOCAC estará quase que inteiramente vinculado a questões econômicas. O
plano de ação de 200910 para os anos de 2010 a 2012 – que resultará da IV Conferência
Ministerial do FOCAC – por exemplo, será criado no sentido de “continuar a desenvolver os
laços econômicos entre a China e os países africanos individualmente e a cooperação
econômica da China e dos quarenta e nove países africanos presentes em Sharm El-Sheikh
durante a IV Conferência Ministerial do FOCAC.” (TAYLOR, 2011).
9 A União Africana (UA) é uma organização que ajuda na promoção do desenvolvimento econômico,
democracia e direitos humanos, tendo como objetivos a unidade e solidariedade africana. Ela conta com a presença de todos os países africanos, menos Marrocos (que decidiu não participar após o Saara Ocidental ter sido aceito), Guiné, Madagascar, Níger e Mali (suspensos depois de golpes de Estados que ocorreram em seus territórios em 2008, 2009, 2010 e 2012, respectivamente). 10
Mais informações sobre o Plano de Ação da IV Conferência Ministerial do FOCAC serão dadas no item “Quarta Conferência Ministerial do FOCAC, 2009”.
10
Desse modo, é de se esperar que haja discussões substanciais entre os interesses
chineses e africanos (cada país individualmente) acerca de questões relativas ao comércio,
à entrada dos produtos africanos no mercado chinês, ao capital produzido na África por
empresas chinesas que acaba retornando à China (em virtude do grande número de
trabalhadores chineses trabalhando em empresas chinesas na África), bem como
discussões acerca da representatividade dos interesses africanos como um todo pela União
Africana (UA).
Vale lembrar que esse Guia de Estudos foi elaborado pensando na capacitação, de
maneira satisfatória, dos delegados em relação às informações disponíveis a respeito da
parceria sino-africana. A posição de cada país será divulgada no blog oficial do nosso
comitê, sendo, pois, necessária a utilização dessa ferramenta para estudo. A utilização de
outras fontes de estudo é fortemente estimulada, porém gostaríamos de lembrar que nem
todas as fontes são confiáveis. É justamente por isso que pedimos que, em caso de dúvida
ou divergência em relação a informações, consultem o Diretor ou os Diretores Assistentes,
ou considerem como válida a informação contida no blog do FOCAC 2009. Desse modo,
aconselhamos a visita periódica ao Blog oficial desse
comitê:http://focac13minionu.wordpress.com/. Quaisquer dúvidas, não hesitem em nos
perguntar, por meio do e-mail: [email protected] ou do grupo no Facebook:
http://www.facebook.com/groups/110058449129064/. Finalmente, todos nós (diretor,
diretores assistentes e toda a equipe dessa edição) lhes desejamos uma ótima preparação e
bons estudos para o XIII MINIONU!
3.1 Fórum de Cooperação China-África (FOCAC)
A criação do Fórum de Cooperação China-África (FOCAC), por iniciativa chinesa, se
deu no ano de 2000, quando ocorreu a primeira conferência de grandes dimensões relativa
ao comércio sino-africano.Além da presença dos ministros das relações exteriores de mais
de quarenta países africanos e da China, inúmeras organizações regionais e internacionais,
organizações não governamentais e empresários participaram do encontro. O fórum,
portanto, foi criado com o intuito de promover o diálogo político entre os países africanos e a
China, a discussão sobre a cooperação Sul-Sul11, a cooperação econômica chinesa com os
Estados africanos, o diálogo norte-sul, o alívio da dívida africana, entre outros assuntos
(LOOY, 2006).
11
A Cooperação Sul-Sul designa as relações conjuntas para o desenvolvimento entre os “países do sul”. Estes, por sua vez, são aqueles considerados subdesenvolvidos ou em desenvolvimento, localizados, em sua maioria, no hemisfério sul do planeta Terra.
11
Desde sua criação, já ocorreram três conferências ministeriais: a primeira ocorreu na
cidade de Pequim (China) em 2000; a segunda aconteceu em Addis Abada (Etiópia) em
2003; a terceira, por sua vez, aconteceu também em Pequim em 2006. A próxima
conferência terá lugar em Sharm El-Sheikh (Egito) em 2009.
Logo, a cooperação sino-africana no âmbito do FOCAC é orientada principalmente
pelas trocas comerciais, projetos de infraestrutura, desenvolvimento econômico e social e
investimentos.
3.2 Quarta Conferência Ministerial do FOCAC, 2009
Após a Terceira Conferência Ministerial do FOCAC (FOCAC III), realizada em
Pequim em 2006,vários resultados concretos no que diz respeito ao aprofundamento e
evolução das relações sino-africanas foram alcançados. Como característica da política
externa chinesa frente à África, a continuidade e intensificaçãodos intercâmbios de alto
nível12 entre esses países representaram uma veemente tentativa de intensificação de suas
relações (TAYLOR, 2011).
Durante esse período (2006 a 2009), iniciou-se um mecanismo formal para o diálogo
político regular entre os ministros de relações exteriores dos países africanos e os ministros
chineses. No encontro onde tal mecanismo foi lançado, as áreas de agricultura, tecnologia,
educação, infraestrutura, turismo e saúde pública foram abordadas como áreas que
necessitavam maior ênfase, principalmente as áreas de infraestrutura e agricultura, a fim de
criar um ambiente propício aos investimentos público e privados chineses. Além disso, outro
mecanismo formal de diálogo estratégico entre China e a União Africana (UA) foi criado,
sendo que o primeiro encontro deu-se em Addis Ababa em novembro de 2008, em que
assuntos como o conflito em Darfur foram discutidos (TAYLOR, 2011).
Em relação aos investimentos chineses no continente, em junho de 2007 foi
oficialmente lançado o Fundo de Desenvolvimento entre a China e a África (CAD-Fund13),
estabelecido pelo Banco de Desenvolvimento da China (CDB14), sendo aquele o veículo
primordial de investimento chinês na África.No entanto, tal fundo encontrou dificuldades em
financiamentos de programas de infraestrutura em alguns países africanos, uma vez que
eles não possuíam nem mesmo instalações essenciais, como sistemas de
telecomunicações (TAYLOR, 2011).
12
Intercâmbios de alto nível referem-se ao intercâmbio de visitas e encontros entre os líderes da China e dos países africanos. Esse tipo de intercâmbio, além de enfatizar a relevância do que está sendo discutido, dá credibilidade ao que se decide em termos de relações bilaterais sino-africanas. 13
Sigla em inglês para “Fundo de Desenvolvimento entre a China e a África”. 14
Sigla em inglês para ”Banco de Desenvolvimento da China”.
12
Em contrapartida, nesse período (entre o FOCAC III e o FOCAC IV) muitos
progressos foram realizados, como previam os acordos anteriores entre a China e os países
africanos. Alguns exemplos foram: 168 dívidas que deveriam ter sido pagas por 33 países
africanos foram canceladas;Pequim aumentou o número de itens importados de 190 para
478 com zero por cento de taxação, provenientes de 31 países africanos menos
desenvolvidos; 16 hospitais já tinham sido construídos em países africanos dos 30
prometidos pelo governo chinês até o começo do FOCAC IV; e, finalmente, mais de 40
equipes médicas tinham sido enviados à África para fornecer serviços. De maneira geral, a
maioria dos objetivos pretendidos pelo FOCAC no que se refere à atuação chinesa foi
atingida antes do prazo previsto (TAYLOR, 2011).
O FOCAC IV, que será realizado em novembro de 2009 em Sharm El-Sheikh, Egito,
terá duas principais tarefas a cumprir: a primeira será revisar a implementação das ações de
acompanhamento do encontro ministerial de 2006, realizado em Pequim, e a segunda será
compor um novo plano de ação para a cooperação sino-africana a ser realizado nos três
anos seguintes (TAYLOR, 2011).
Apesar do entusiasmo chinês sempre presente, é de se esperar que a posição
chinesa no que se refereà questão de Darfur 15 , região localizada no Sudão, seja
questionada e criticada durante a quarta reunião ministerial do FOCAC, já que o governo
sudanês – diante da atitude chinesa de não impedir uma resolução do Conselho de
Segurança 16 em 2005 que remetia a situação da região de Darfur à Corte Penal
Internacional 17 –sentiu-se insultado, acusando Pequim de falhar na “proteção de seus
amigos”. Wen Jiabao, portanto, terá que justificar sua posição adotada frente aos impasses
15
O “conflito” ou “genocídio de Darfur” é um conflito armado, localizado na região oeste do Sudão, entre, principalmente, os janjawid – tribos nômades africanas de língua árabe e religião muçulmana – e os povos não-árabes da região. Ainda que negue publicamente o envolvimento no conflito, o governo sudanês apoia por meio do fornecimento de armas e assistência o grupo dos janjawid. As raízes desse conflito (iniciado oficialmente em 2003, com o ataque de grupos rebeldes do Darfur a postos do governo do Sudão na região) aludem às décadas de descaso e abandono do governo de Cartum (capital do Sudão) preponderantemente árabe, para com outros povos (não-árabes) que vivem nesse território. 16
O Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU) é um órgão cuja incumbência é a manutenção da paz e da segurança internacional. Esse órgão é o único do sistema internacional a ter a capacidade de tomar decisões obrigatórias para todos os membros da ONU, podendo, se necessário, aprovar intervenções militares para salvaguardar o cumprimento de suas resoluções. Esse conselho é composto por 15 membros, sendo 5 permanentes com poder de veto (Rússia, Estados Unidos, França, Reino Unido e República Popular da China) e 10 rotativos com mandatos de 2 anos, eleitos pela Assembleia Geral. No contexto supracitado, a China como membro permanente poderia ter vetado a resolução do CSNU em relação ao conflito de Darfur. No entanto, este país preferiu se abster na votação, o que acarretou descontentamento sudanês. 17
A Corte Penal Internacional (CPI), também conhecida como Tribunal Penal Internacional (TPI), é o primeiro tribunal penal internacional permanente, cujo objetivo é julgar indivíduos (e não Estados) que tenham cometido crimes graves, tais como: genocídios, crimes de guerra e crimes contra a humanidade.
13
envolvendo seu parceiro africano (o Sudão) e os demais membros do Conselho de
Segurança (TAYLOR, 2011).
Na abertura do FOCAC IV, Wen Jiabao anunciará, como de hábito, oito novas
medidasque deverão ser postas em prática entre os anos de 2009 e 2012, a fim de fomentar
a cooperação com a África.Todas as oito medidas anteriores haviam sido “basicamente
implementadas”, nas palavras do ministro do comércio chinês, Chen Deming. Na verdade,
as cifras relativas ao comércio bilateral sino-africanorevelaram um crescimento anual de 30
por cento nos três anos anterioresa atual conferência ministerial, além de ter havido um
recrudescimento no número de companhias chinesas com investimentos na África
(TAYLOR, 2011).
Portanto, é de se esperar que novas medidas sejam estabelecidas, tendo em vista a
continuação do sucesso na cooperação sino-africana, quais sejam (TAYLOR, 2011):
- o comprometimento chinês em relação ao desenvolvimento e uso de novas fontes
de energia, segundo o qual a China comprometer-se-á com projetos de energia limpa para a
África, incluindo energia solar, biogás e energia hidrelétrica.
- o aumento da cooperação nas áreas de ciência e tecnologia, em que a China
executará projetos de demonstração conjunta com a África nos campos de pesquisa
científica e tecnológica.
- a ajuda à capacidade de financiamento do continente, em que a China concederá
empréstimos concessionais aos países africanos e empréstimos especiais a empresas de
pequeno e médio porte.
- a abertura chinesa aos produtos africanos, por meio do tratamento de tarifa zero a
98 por cento de produtos provenientes dos Estados africanos menos desenvolvidos.
- o aumento da cooperação com a África no campo da agricultura, por meio do
aumento do número de centros de demonstração tecnológica de agricultura na África.
- o aprofundamento da cooperação na área da saúde e cooperação médica, através
da provisão de equipamentos médicos e materiais anti-malária aos 30 hospitais e 30 centros
de prevenção e tratamento contra a malária já construídos na África.
- a cooperação em recursos humanos e educação, por meio da construção de
escolase treinamento de professores e diretores em diferentes países africanos.
- a expansão de intercâmbios culturais, coma proposta de lançamento do programa
de intercâmbio e pesquisa conjunto entre a China e a África, a fim de compartilhar
experiências de desenvolvimento e prover apoio intelectual para a formulação de políticas
de cooperação.
A quarta conferência ministerial do FOCAC será, então, concluída com a adoção da
declaração de Sharm El-Sheikh e do plano de ação de Sharm El-Sheikh, documentos que
14
serão lançados para estruturar as futuras relações de cooperação entre a China e a África
(TAYLOR, 2011).
A declaração de Sharm El-Sheikh será parecida com documentos anteriores
produzidos pelo FOCAC e começará por aclamar os objetivos que haviam sido
implementados em Pequim em 2006, após a III Conferência Ministerial (FOCAC III). É de se
esperar que um novo tipo de parceria sino-africana sejabaseada na igualdade política,
respeito mútuo, cooperação com ganhos econômicos para ambas as partes e intercâmbios
culturais, como estabelecido no encontro de cúpula em Pequim em 2006. Além disso, a
atenção para a nova situação pela qual passam as relações internacionais, segundo a qual
apresenta debates sobre mudanças climáticas, segurança alimentar, e a necessidade de
prevenção e controle de doenças mostrar-se-ão essenciais. Desse modo, os países
desenvolvidos deverão levar em consideração tais acontecimentos, uma vez queeles têm
impactos negativos para os países em desenvolvimento, principalmente, os africanos, sendo
da responsabilidade daqueles mitigar tais efeitos. Finalmente, a cooperação sino-africana no
que se refere à infraestrutura, agricultura e segurança alimentar será ressaltada e,
posteriormente, após a adoção da “Declaração Sharm El-Sheikh”, a conferência passará
para a formulação do plano de ação do FOCAC IV (TAYLOR, 2011).
Opotencial plano de ação Sharm El-Sheikh será apresentado para que tanto os laços
econômicos, bem como a parceria estratégica sino-africana sejam aprofundados sob a
estrutura do FOCAC. Ele será, posteriormente, assinado pelos 50 membros que o compõem
ao final da quarta conferência ministerial (FOCAC IV) (TAYLOR, 2011).
Assim, é de se esperar que talplano enfatize que, em virtude do aumento das visitas
de altonível entre a China e os países africanos, o recrudescimento da amizade, da
cooperação e da confiança entre os membros deverá ser fomentado. Além disso, a
cooperação – no que se refere ao tratamento de casos consulares – em termos de
prevenção, investigação e combate de crimes deverá ser conjuntamente melhorada.O plano
provavelmente também apoiará a demanda pelo aumento do número de países africanos
dentro do G20, além de fazer um apelo tanto pela maior representatividade dos países em
desenvolvimento (incluindo os africanos) no Conselho de Segurança das Nações Unidas
(CSNU), quanto pela necessidade de aumento da representação e “voz” desses grupos de
países no sistema financeiro internacional (TAYLOR, 2011).
Em virtude da questão da segurança alimentar como assunto de extrema importância
para o continente africano, é de se esperar queo plano de ação decida priorizar o
desenvolvimento da agricultura como solução para tal assunto na relação de cooperação
sino-africana. No que diz respeito à interação econômica, a China possivelmente
comprometer-se-á com a construção de projetos de desenvolvimento social e em
infraestruturana África, como meio de promover o desenvolvimento econômico no
15
continente.Já em relação à política de isenção de tarifas relativas aos produtos africanos, é
esperado que Pequim continue abrindo seu mercado aos produtos importados da África,
oferecendo tarifa zero ou redução tarifária às importações que provenham dos países
africanos menos desenvolvidos.As questões da assistência ao desenvolvimento e alívio da
dívida também serão mencionadas no plano de ação. Em relaçãoà primeira – a despeito do
impacto da crise financeira global na economia chinesa – o governo chinês comprometer-se-
á possivelmente a ampliar a assistência à África. Já em relação à segunda, pode-se esperar
que Pequim cancele até o final de 2009 as dívidas (relativas a empréstimos que não
representassem os interesses chineses) dos países pobres altamente endividados e dos
menos desenvolvidos na África (TAYLOR, 2011).
É de se esperar também que a educação, que está diretamente ligada à estabilidade
social e ao desenvolvimento econômico seja fortalecida.A saúde e a cultura também serão
questões contempladas no plano Sharm El-Sheikh, sendo que em relação à primeira,
Pequim comprometer-se-á provavelmente com o treinamento de médicos e enfermeiras,
além do aumento de intercâmbios focados na prevenção e tratamento de doenças, tais
como: a malária, a tuberculose, a AIDS etc. A cultura, por sua vez – abrangendo projetos e
intercâmbios culturais da China na África e vice-versa – será mantida e estimulada, além de
haver um aumento no número de centros de cultura chinesa na África. Tais objetivos
demarcados, o plano de ação da IV conferência ministerial do FOCAC concluir-se-á com o
anúncio do local onde será realizada a V conferência em 2012 (TAYLOR, 2011).
3.3 O Papel da União-africana em relação ao FOCAC
A emergência chinesa no cenário internacional como um ator de poder incontestável,
obrigou tanto países poderosos quanto países mais fracos política e economicamente a
reajustarem suas atitudes e condutas. Na África, a crescente influência chinesa tem
representado uma grande fonte de dúvida e ansiedade. Há esperança, na verdade, de que a
China possa oferecer à África um novo tipo de parceria capaz de atender a suas aspirações
desenvolvimentistas. Contudo, há preocupações quanto à possibilidade de a China acabar
conduzindo sua relação com a África da mesma maneira que o fizeram os tradicionais
parceiros do continente: preocupando-se mais com o seu próprio desenvolvimento em
detrimento do desenvolvimento africano (IKOME, 2008).
O crescimento da economia chinesa tem acelerado de maneira rápida e constante a
sua necessidade por fontes de energia, principalmente o petróleo, o que contribuiu
fortemente para o aumento de seu interesse na África, acarretando preocupações por parte
de alguns países em relação a uma possível nova forma de imperialismo. O que se teme é
16
que o continente não lide adequadamente com seus diversos parceiros, incluindo a China, e
acabe novamente sendo um perdedor na relação (IKOME, 2008).
No que concerne à parceria sino-africana, há um consenso implícito entre
profissionais e acadêmicos de que os países africanos não deveriam engajar-se
individualmente com a China. Ao contrário, eles deveriam engajar-se de forma única e
harmônica para obter as melhores vantagens de tal relação. Nesse contexto a União
Africana (UA) se faz presente. Acredita-se intensamente que esta organização juntamente
de seu programa econômico – NEPAD – (Nova Parceria para o Desenvolvimento Africano)
deveriam atuar coordenando e guiando as comunidades econômicas regionais da África e
os países membros em seus empreendimentos com a China. No entanto, muito poucos
Estados africanos têm desejado atribuir a esta organização tal papel. Além disso, a China
tampouco se mostrou interessada em estimular sua relação com os países africanos de
maneira multilateral, isto é, por meio da União Africana (IKOME, 2008).
A União Africana (UA) preza pela necessidade de os países africanos agirem como
se fossem um único país, de modo que tal atitude lhes permitisse se livrar das assimetrias
que outrora caracterizavam as relações africanas com seus tradicionais parceiros
comerciais. Desse modo, segundo a organização, a parceria sino-africana contribuiria para
efetivar as perspectivas de desenvolvimento dos países (IKOME, 2008).
A organização apregoa que as relações sino-africanas devem ser pautadas pelas
seguintes características: uma parceria igualitária, baseada em benefícios mútuos, ao invés
de uma parceria entre doador e destinatário; uma relação para com a China e os outros
países do mundo sob a forma de um continente único; a priorização do desenvolvimento, da
aceleração da industrialização, da aquisição de tecnologia e conhecimento, além do
desenvolvimento de infraestrutura e capital humano (IKOME, 2008).
Obviamente, a UA considera que a parceria sino-africana possua não somente
desafios, mas também oportunidades e o resultado dependerá de como os países africanos
administrarão tais possibilidades. Em relação aos primeiros, a organização ressalta que a
parceria entre China e África: seja capaz de produzir resultados concretos, aprimorar a
forma pela qual se têm estruturado as relações comerciais entre os dois grupos, garantindo
que a África exporte produtos processados, ao invés de somente matérias-primas; além de
atribuir um papel de liderança à UA quando dos encontros do FOCAC (IKOME, 2008).
Já em relação aos segundos, a UA nota na cooperação sino-africana: a possibilidade
de expansão da amizade já existente entre China e África; a vantagem de um tipo de
relação em que não haja interferência da parte chinesa no plano doméstico dos países
parceiros; a possibilidade de crescimento dos países africanos por meio da exportação de
seus recursos, notoriamente o petróleo; o apoio dado pela China aos seus parceiros
17
africanos em questões geopolíticas; e, finalmente, a promoção do turismo como forma de se
obter vantagem da parceria com a China (IKOME, 2008).
Apesar da questão da representação do continente africano como uma unidade em
matéria de relações exteriores apregoada pela UA, a realidade indica que os Estados
africanos preferem manter relações com a China de maneira bilateral, isto é, os países
africanos membros do FOCAC se relacionam com a China individualmente e não enquanto
grupo. Tal situação é de fácil compreensão se considerarmos que o continente africano é
composto por 53 países independentes que possuem necessidades distintas uns dos
outros. Em virtude disso, é mais desejável que as relações com a China se deem de
maneira bilateral, já vez que, assim, cada país poderá atingir mais especificamente sua
necessidade e seu interesse individual (IKOME, 2008).
A China, por sua vez, embora reconheça o papel de relevância da UA no continente,
não parece disposta a conceder à organização um papel de destaque nas negociações
concebidas dentro do FOCAC. Ela possui veementemente um poder em relação às
negociações bilaterais com os países africanos que não existiria caso as relações se
dessem diretamente com a UA, em nome do continente inteiro (IKOME, 2008).
Em suma, há países que defendem o respaldo da UA no âmbito das relações entre
China e África, em virtude da relevância se ter certo grau de harmonia no que concerne
suas ações, para que resultados indesejáveis de tal relação não possam afetá-los
profundamente. Há outros, no entanto, que preferem que a interação com a China se dê de
maneira individual, visando atingir seus interesses peculiares. A China, por sua vez,
concorda com os últimos, já que seu poder de negociação em relações bilaterais é muito
maior quando comparado ao que teria caso tivesse que negociar diretamente com a UA em
nome de todos os outros países.
4 POSIÇÃO DOS MEMBROS DO FÓRUM
Apesar de serem tradicionalmente divididas em duas partes, uma chinesa e outra
africana (representando os interesses dos Estados africanos como um todo), as
negociações são feitas de maneira bilateral, entre a China e um dos países africanos em
questão. Por um lado,tal argumento é veementemente utilizado pela China, que reitera a
importância de negociações bilaterais no contexto do continente africano, já que este
apresenta grande heterogeneidade de preferências, ouseja, o fato de os países pertencerem
a um mesmo continente não exclui o fato de que cada um tem necessidades específicas.
Por outro, as demandas africanas teriam maior poder no que se refere à barganha
18
política18caso fossem vinculadas umas às outras(TAYLOR, 2011). Desse modo, é difícil
estabelecer quais seriam os principais atores envolvidos nas declarações e planos de ação
resultantes das Conferências Ministeriais do FOCAC, apesar da maior importância de
alguns em matéria de recursos naturais exportados para a China.
Contudo, levando em consideração tais dados, as questões que possuirão maior
ênfase na discussão das relações sino-africanas devem envolver as áreas de comércio,
investimentos,infraestrutura, agricultura, educação, cooperação técnica, tecnologia de
informação, saúde pública e turismo. Além disso, há que se examinar também o progresso
atingido com o plano de ação da III Conferência Ministerial de 2006 em Pequim, para que
um novo plano de ação seja feito e implementadonos anos subsequentes ao encontro de
2009.
Assim, os pontos mais relevantes dentro das questões supracitadas são os
seguintes: as mudanças climáticas e projetos que envolvam a produção de energia limpa,
biogás e usinas hidrelétricas; o aumento da cooperação na área de ciência e tecnologia; a
maior abertura do mercado chinês à entrada de produtos africanos; a questão da agricultura
e o aumento do número de centros de demonstração de tecnologia agrícola na África; o
aprofundamento da cooperação nas questões de cuidados médicos e saúde pública,
relativas ao fornecimento de equipamentos a hospitais construídos pela China na África; a
questão do desenvolvimento de recursos humanos e educação, no que se refere ao
fornecimento pelo governo chinês de bolsas de estudos a estudantes africanos; e,
finalmente, o aumento das trocas culturais, por meio da promoção do intercâmbio e
pesquisa(TAYLOR, 2011).
É de extrema importância relembrar que o perfil de cada país participante da IV
Conferência Ministerial do FOCAC será disponibilizado na plataforma virtual do nosso
comitê 19 , contendo as informações específicas necessárias de cada país e um breve
histórico de suas relações com a China. Portanto, não deixem de acompanhar as
publicações que serão realizadas semanalmente e, em caso de dúvida, não hesitem em nos
contatar.
5 QUESTÕES RELEVANTES PARA CADA DELEGAÇÃO
18
Poder de barganha política, nesse contexto, refere-se ao poder dos Estados africanos em conjunto frente à China, isto é, caso os países africanos se unissem – em termos de negociação com a China – eles teriam mais força do que em negociações bilaterais (a China e um país africano individualmente), já que a China teria que ser mais flexível às suas propostas, pois se entrassem em algum dissenso, a China “perderia” a negociação com todos os países, e não somente com um país (no caso de uma relação bilateral). 19
http://focac13minionu.wordpress.com/
19
Essas questões lhes servirão como guia para a melhor compreensão do papel
desempenhado por seus países dentro do comitê. Os senhores não precisam saber
respondê-las todas. Esperamos, no entanto, que elas sirvam como diretrizes para a atuação
de cada delegação no comitê.
Quais são os principais fatores (bens, produtos etc.) que promovem a interação entre
seu país e a China? Caso esteja representando a China, por qual motivo suas
relações (comerciais, sociais, políticas etc.) com determinado país africano é
fundamental?
Quais são os pontos que deveriam ser melhorados para reduzir as possíveis
assimetrias na relação sino-africana?
Qual é seu posicionamento do seu país em relação à representação dos países
africanos por meio da União Africana?
As questões que fogem aos assuntos comerciais, tais como: direitos humanos e
meio-ambiente, por exemplo, deveriam ser mais discutidas dentro do FOCAC?
A China deveria ser considerada responsável pelos desdobramentos domésticos
resultantes do tipo de cooperação que emprega no âmbito interno dos países
africanos?
Quais motivos tonam a relação sino-africana vantajosa?
O seu país leva em consideração a opinião de outros países com os quais mantém
relações, no que diz respeito à sua relação com a China?
A abertura econômica chinesa é suficiente para a manutenção de um equilíbrio
mínimo entre suas importações e exportações?
6 QUESTÕES RELEVANTES PARA O DEBATE
As questões relevantes para o debate têm a ver com os objetivos da reunião. Essas
questões lhes ajudarão durante o debate, na medida em que os objetivos da reunião e a
resolução final deverão comtemplar alguns dos pontos abaixo propostos.
Deveria existir algum tipo de lei que obrigasse o comprometimento da China em
relação à criação de fontes de energia limpa (solar, eólica, biogás, por exemplo) no
continente africano? De que forma tal mudança afetaria nas relações comerciais
baseadas na exportação de petróleo dos países africanos para a China?
As empresas chinesas em solo africano deveriam pagar mais impostos ao governo
local do que as empresas africanas?
20
Os Estados africanos menos desenvolvidos recebem isenção tarifária (seus produtos
não são taxados ao entrar na China, havendo uma maior concorrência com os
produtos chineses) da China?
A construção de hospitais e treinamento de pessoal médico na África melhora, de
fato, as condições relativas à saúde no continente? Há incentivos chineses para a
formação de mais profissionais dessa área nos países africanos?
O treinamento de professores, bem como a construção de escolas na África contribui
para uma melhor perspectiva de vida para a população beneficiada? Seria
necessária a criação de outros mecanismos de incentivo à educação?
Em que medida as diferenças culturais entre chineses e africanos impedem que haja
melhoria nas relações entre eles?
21
RERÊNCIAS
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http://wenku.baidu.com/view/0b0ae8573c1ec5da50e27007.html?from=related Acesso em:
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TAYLOR, Ian. China’s New Role in Africa. LynneRienner, 2009.
TABELA DE DEMANDA DAS REPRESENTAÇÕES
22
Na tabela a seguir cada representação do comitê é classificada quanto ao nível de demanda que será exigido do delegado, numa escala de 1 a 3. Notem que não se trata de uma classificação de importância ou nível de dificuldade, mas do quanto cada representação será demandada a participar dos debates neste comitê. Esperamos que essa relação sirva para auxiliar as delegações na alocação de seus membros, priorizando a participação de delegados mais experientes nos comitês em que a representação do colégio for mais demandada.
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Legenda
Representações frequentemente demandadas a tomar parte nas discussões
Representações medianamente demandadas a
tomar parte nas discussões
Representações pontualmente demandadas a
tomar parte nas discussões
REPRESENTAÇÃO DEMANDA
África do Sul
Angola
Argélia
Benin
Botsuana
Burundi
Cabo Verde
Camarões
Chade
China
Comores
Congo
Costa do Marfim
24
REPRESENTAÇÃO DEMANDA
Djibuti
Egito
Eritréia
Etiópia
Gabão
Gana
Guiné
Guiné-Bissau
Guiné-Equatorial
Lesoto
Libéria
Líbia
Madagascar
Malawi
Mali
Marrocos
Maurícia
Mauritânia
Moçambique