história do paraná: pré- história, colônia e império
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História do Paraná: Pré-história, Colônia e Império
21HISTóRIA E CONHECIMENTO
Lúcio Tadeu Mota(Organizador)
978-85-7628-403-1Lú
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
História do Paraná: pré-história, colônia e império / Lúcio Tadeu Mota, organizador. -- Maringá: Eduem, 2011. 88p.: il., 21cm. (Coleção história e conhecimento, v. 21)
ISBN 978-85-7628-403-1
1. História do Paraná – Estudo e ensino. 2. História regional – Paraná. 3. Indígenas – Paraná – História.
CDD 21.ed. 981.62
H673
Copyright © 2011 para o autor
Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo
mecânico, eletrônico, reprográfico etc., sem a autorização, por escrito, do autor. Todos os direitos
reservados desta edição 2010 para Eduem.
Endereço para correspondência:
Eduem - Editora da Universidade Estadual de Maringá
Av. Colombo, 5790 - Bloco 40 - Campus Universitário
87020-900 - Maringá - Paraná
Fone: (0xx44) 3011-4103 / Fax: (0xx44) 3011-1392
http://www.eduem.uem.br / [email protected]
HISTÓRIA E CONHECIMENTO
Apoio técnico: Rosineide Ferreira
Copydesk: Rosane Gomes Carpanese
Normalização e catalogação: Ivani Baptista CRB - 9/331
Revisão Gramatical: Tania Braga Guimarães
Edição, Produção Editorial e Capa: Carlos Alexandre Venancio
Fernando Truculo Evangelista
Eliane Arruda
Lúcio Tadeu Mota
(Organizador)
História do Paraná: Pré-
história, Colônia e Império
HISTÓRIA
EAD
Conteúdo
APRESENTAÇÃO DA COLEÇÃO .............................. 3
SOBRE OS AUTORES ................................................ 6
APRESENTAÇÃO DO LIVRO ..................................... 8
CAPÍTULO I A OCUPAÇÃO HUMANA DOS TERRITÓRIOS ENTRE OS RIOS PARANAPANEMA E IGUAÇU ATÉ A CHEGADA DOS EUROPEUS, EM 1500 11
CAPITULO II O GUAIRÁ: A CONQUISTA E AS RELAÇÕES INTERCULTURAIS NOS TERRITÓRIOS INDÍGENAS NO PARANÁ, DE 1500 A 1630 .................... 44
CAPITULO III. A FORMAÇÃO DO PARANÁ: DO POVOAMENTO DO LITORAL À EMANCIPAÇÃO DA 5ª COMARCA ......................................................................... 80
CAPÍTULO IV. O PARANÁ PROVINCIAL: 1853 – 1889 .................................................................................. 101
APRESENTAÇÃO DA COLEÇÃO
A coleção História e Conhecimento é composta de
42 títulos, que serão utilizados como material didático pelos
alunos matriculados no Curso de Licenciatura em História,
Modalidade a Distância, da Universidade Estadual de
Maringá, no âmbito do sistema da Universidade Aberta do
Brasil (UAB), que está sob a responsabilidade da Diretoria
de Educação a Distância (DED) da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal do Ensino Superior (CAPES).
A utilização desta coleção pode se estender às
demais instituições de Ensino Superior que integram a
UAB, fato que tornará ainda mais relevante o seu papel na
formação de docentes e pesquisadores, não só em História
mas também em outras áreas na Educação a Distância, em
todo o território nacional. A produção dos 42 livros, a qual
ficou sob a responsabilidade da Universidade Estadual de
Maringá, teve 38 títulos a cargo do Departamento de
História (DHI); 2 do Departamento de Teoria e Prática da
Educação (DTP); 1 do Departamento de Fundamentos da
Educação (DFE); e 1 do Departamento de Letras (DLE).
O início do ano de 2009 marcou o começo do
processo de organização, produção e publicação desta
coleção, cuja conclusão está prevista para 2012, seguindo
o cronograma de recursos e os trâmites gerais do Fundo
Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). Num
primeiro momento, serão impressos 294 exemplares de
cada livro para atender à demanda de material didático dos
que ingressaram no Curso de Graduação em História a
Distância, da UEM, no âmbito da UAB.
O traço teórico geral que perpassa cada um dos
livros desta coleção é o compromisso com uma
reconstrução aberta, despreconceituosa e responsável do
passado. A diversidade e a riqueza dos acontecimentos da
História fazem com que essa reconstrução não seja capaz
de legar previsões e regras fixas e absolutas para o futuro.
No entanto, durante a recriação do passado, ao historiador
é dado muitas vezes descobrir avisos, intuições e
conselhos valorosos para que não se repitam os erros de
outrora.
No transcorrer da leitura desta coleção
percebemos que os livros refletem várias matrizes
interpretativas da História, oportunizando ao aluno o contato
com um inestimável universo teórico, extremamente valioso
para a formação da sua identidade intelectual. A qualidade
e a seriedade da construção do universo de conhecimento
desta coleção pode ser tributada ao empenho mais direto
por parte de cerca de 30 organizadores e autores, que se
dedicaram em pesquisas institucionais ou até mesmo em
dissertações de mestrado ou em teses de doutorado nas
áreas específicas dos livros que se propuseram a produzir.
Esta coleção traz um conhecimento que
certamente marcará positivamente a formação de novos
professores de História, historiadores e cientistas em geral,
por meio da Educação a Distância, o qual foi fruto do
empenho de pesquisadores que viveram circunstâncias,
recursos, oportunidades e concepções diferentes, temporal
e espacialmente.
Como corolário disso, seria justo iniciar os
agradecimentos citando todos aqueles que não poderiam
ser nominados nos limites de uma apresentação como esta.
Rogamos que se sintam agradecidos todos aqueles que
direta, indireta ou mesmo longinquamente, quiçá os mais
distantes ainda, contribuíram para a elaboração deste rico
rol de livros.
Além do agradecimento, registramos também o
reconhecimento pelo papel da Reitoria da UEM e de suas
Pró-Reitorias, que têm contribuído não apenas para o êxito
desta coleção mas também para o de toda a estrutura da
Educação a Distância da qual ela faz parte.
Agradecemos especialmente aos professores do
Departamento de História do Centro de Ciências Humanas
da UEM pelo zelo, pela presteza e pela atenção com que
têm se dedicado, inclusive modificando suas rotinas de
trabalho para tornar possível a maioria dos livros desta
coleção.
Agradecemos à Diretoria de Educação a Distância
(DED) da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do
Ensino Superior (CAPES), e ao Ministério da Educação
(MEC) como um todo, especialmente pela gestão dos
recursos e pelo empenho nas tramitações para a realização
deste trabalho.
Outrossim, agradecemos particularmente à
Equipe do NEAD-UEM: Pró-Reitoria de Ensino,
Coordenação Pedagógica e equipe técnica.
Despedimo-nos atenciosamente, desejando a
todos uma boa e prazerosa leitura.
Moacir José da Silva
Organizador da coleção
SOBRE OS AUTORES
• Dulce Elena Canieli
Possui mestrado em História pela
Universidade Estadual de Maringá (2001).
Atualmente é professora efetiva – Secretaria de
Estado de Educação do Paraná –, atuando
principalmente nos seguintes temas: Ensino,
Paraná Província e População Indígena.
• Lúcio Tadeu Mota
Possui graduação em Sociologia e Política
pela Fundação Escola de Sociologia e Política de
São Paulo (1980); mestrado em Ciências Sociais
pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
(1992); doutorado em História pela Universidade
Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1998); e
estágio de pós-doutorado em Antropologia Social
no Museu Nacional do Rio de Janeiro. Atualmente
é Professor Associado I da Universidade Estadual
de Maringá. Tem experiência na área de
Antropologia, com ênfase em Etno-história
Indígena, atuando principalmente nos seguintes
temas: Fronteiras e Populações, Etno-história
Indígena, Relações Interculturais, Índios Kaingang
e História da Bacia do Rio da Prata.
• Nádia Moreira Chagas
Possui graduação em História pela
Universidade Estadual de Maringá (1992), e pós-
graduação em Arqueologia, Etnologia e Etno-
História do Paraná, também pela Universidade
Estadual de Maringá. É pesquisadora no
Programa Interdisciplinar de Estudos de
Populações – Laboratório de Arqueologia,
Etnologia e Etno-história – UEM. Mestre em
História, na linha de pesquisa Fronteiras e
Populações, pela Universidade Estadual de
Maringá. Atualmente é professora do Centro
Estadual de Educação Básica Professor Manoel
Rodrigues da Silva e tutora no Ensino a Distância
– História, da UAB, na Universidade Estadual de
Maringá.
APRESENTAÇÃO DO LIVRO
A princípio tudo representava um panorama selvático. O seio da terra virginal, recoberto de florestas seculares, abrigava tesouros inestimáveis de fecundação e fertilidade, prontos para fornecerem colheitas dadivosas [...]. Havia, de primeiro, a terra protegida pela floresta imensa. E lentamente a floresta, a floresta tão exuberante e impenetrável cedia lugar àqueles homens intrépidos e valentes.
Frases como essas acima, de diferentes autores, são
comuns nos escritos sobre a História do Paraná. Construiu-
se a ideologia de que esses territórios estavam vazios,
desabitados e prontos a serem ocupados. Essa construção
ocorreu dentro dos marcos da expansão capitalista, que
incorporou, no século XX, imensas áreas do norte, oeste e
sudoeste do Estado ao seu sistema de produção.
Os agentes dessa construção são muitos: desde a
história oficial das companhias colonizadoras; os discursos
governamentais; os escritos que fazem a apologia da
colonização; a geografia que trata da ocupação nas
décadas de 30 a 50 do século XX; a historiografia
paranaense produzida nas universidades; e por fim os livros
didáticos, que, utilizando-se dessas fontes, repetem para
milhares de estudantes do Estado a ideia de que os vastos
territórios ocupados por sociedades indígenas do segundo
e do terceiro planaltos do Paraná constituíam um imenso
“vazio demográfico”, pronto a ser ocupado por migrantes
vindos de várias partes do Brasil e mesmo do exterior. Com
isso são eliminados propositadamente da história regional
as populações indígenas, caboclas e quilombolas que ali
viviam e resistiram à conquista de suas terras e à
destruição de seu modo de vida1.
Observando essas populações enquanto sujeitos ativos
da história percebemos que os territórios localizados entre
os rios Paranapanema, Paraná e Iguaçu foram ocupados
por populações caçadoras e coletoras desde há pelo menos
9 mil anos antes do presente, e que desde a chegada das
populações europeias no novo continente iniciou-se a
guerra de conquista contra elas.
Guerra é aqui entendida no sentido dado por Antônio
Carlos de Souza Lima: um processo que requer uma
organização militar conquistadora, que age em nome de um
Deus, um Rei, uma Nação ou um Império; um povo de onde
se origina o conquistador e que lhe dá uma identidade
social e uma direção comum; e o butim, composto pelo
povo conquistado com seus territórios e riquezas, que
passam a ser mercantilizadas. E conquista, quando parte
do povo conquistador se fixa nos territórios conquistados,
faz a exploração sistematizada do butim e passa a veicular
os elementos básicos da cultura invasora através de
instituições concebidas para tanto2.
A guerra de conquista iniciou-se nas primeiras décadas
do século XVI, com as expedições portuguesas e
espanholas que cruzaram o atual território do Paraná em
busca de metais, de escravos e de uma rota rumo ao
Império Inca no atual Peru. Acentuou-se nos anos
seiscentos com a implantação das reduções jesuíticas no
1. Para maiores detalhes sobre esse assunto ver MOTA, Lúcio Tadeu. As guerras dos Índios
Kaingang. Maringá: Eduem, 2009. 2. Cf. LIMA, Antônio C. de Souza. Um grande cerco de paz: poder tutelar e indianidade no
Brasil. Petrópolis: Vozes, 1995.
Guairá, e logo depois com as bandeiras paulistas, que
invadiram a região capturando índios, e com as atividades
mineradoras no litoral e no primeiro planalto. Prosseguiu no
século XVIII, com a instalação das fazendas de gado nos
Campos Gerais, com a descoberta de ouro e diamantes no
rio Tibagi e com as expedições militares, que construíram
fortificações e transitaram pelo território rumo ao Mato
Grosso. Recrudesceu, nos anos novecentos, com a
ocupação dos campos de Guarapuava, de Palmas e do
sudoeste da Província, e das terras da bacia norte do rio
Tibagi, pelos grandes fazendeiros dos Campos Gerais
paranaenses, na expansão de seus domínios. No século
XX a guerra de conquista continuou, sob o manto da
“colonização pacífica e harmoniosa”, levada adiante pelas
companhias de terras, que ocuparam, lotearam e venderam
os antigos territórios indígenas, com o aval institucional do
Estado do Paraná.
Dessa forma, a ocupação humana do Paraná apresenta,
numa primeira olhada, o aspecto da divisão em fronteiras.
Mas não no sentido de elas serem apenas uma divisa entre
os brancos e os indígenas, uma coluna móvel de
colonização em território novo não colonizado, ou como um
processo de conquista envolvendo a subjugação de não-
europeus por europeus. Mas sim, conforme os recentes
estudos de fronteiras têm apontado, os espaços fronteiriços
são como locais de encontro de populações diferenciadas,
e lócus privilegiado dos fluxos e das trocas culturais. A
fronteira é vista como local não do isolamento e da
separação de culturas (cultura x cultura), mas de
combinações inovadoras, de manejo e de somas culturais
(cultura + cultura), como bem aponta Ulf Hannerz.3.
3 Cf. HANNERZ, Ulf. Fronteras. Revista de Antropologia Experimental, [s.n.], n. 1,
p. 6, 2001. Para uma discussão mais completa sobre essa questão e outras
Assim, as numerosas “fronteiras” existentes no espaço
denominado Paraná não se ajustam ao ideal simplificador
de serem apenas divisores de culturas diferenciadas, entre
o “civilizado” e o “selvagem”, ou uma coluna móvel de
colonização em território novo não colonizado. Mesmo
porque, estudos recentes em Antropologia, História ou
Etno-história têm mostrado que as populações locais
ofereciam resistência, as doenças impediam a penetração
europeia, e a geografia limitava a intrusão estrangeira. Os
colonizadores europeus não impuseram simplesmente suas
culturas em todas as partes do planeta: inúmeros foram os
obstáculos, as derrotas, e inúmeros foram os processos de
negociação, alianças e acordos, que resultaram em fluxos
culturais, hibridismos e mestiçagens que compõem a
história de grande parte das populações do continente
americano e também do Paraná, estabelecendo aqui
processos de relações interculturais ricos e complexos4, o
que pretendemos apresentar na sequência deste livro.
CAPÍTULO I A OCUPAÇÃO HUMANA DOS
TERRITÓRIOS ENTRE OS RIOS PARANAPANEMA E
IGUAÇU ATÉ A CHEGADA DOS EUROPEUS, EM 1500
relativas a fronteiras e fluxos culturais, ver: Fluxos, fronteiras, híbridos: palavras
chaves da Antropologia Transnacional. Mana, Rio de Janeiro, v. 1, n. 3, p. 7-39, e
Conexiones Transnacionais – Cultura, Gente, Lugares. Ediciones Cátedra, 2001. 4 Sobre a mestiçagem na América ver BERNAND, Carmen; GRUZINSKI, Serge.
Historia del Nuevo Mundo II: los mestizajes. 1550 – 1640. México: Fondo de
Cultura Econômica, 1999.
O debate sobre as questões relativas à humanização
do continente americano tem sido intenso e rico. As
disciplinas que tratam dessa temática, como a Arqueologia,
a História e outras, apresentam pontos de concordância e
muitos outros de discordância.
Hoje é consenso aceitar a premissa de que o homem
não é autóctone em nosso continente. Isto é, o homo
sapiens-sapiens que ocupou as Américas teve suas origens
no continente africano, há mais ou menos 100 mil anos
antes do presente (AP), e em algum momento migrou para
o continente americano.
O segundo ponto, ou a segunda pergunta muito usual
nesse debate é: se o homem não surgiu na América, de
onde ele veio? Uma grande parte dos pesquisadores do
tema são unânimes em afirmar que a maioria das levas
humanas que aqui chegaram atravessaram o estreito de
Bering, no extremo norte do continente. Existem outros
pesquisadores que afirmam que o continente também foi
povoado por grupos humanos vindos das ilhas do Oceano
Pacifico, navegando do oeste para o leste e
desembarcando na costa oeste da América Central e do
Sul. E ainda existe quem afirme que também recebemos
migrações de grupos humanos pelo extremo sul do
continente, que chegaram à Terra do Fogo vindos da
Austrália e da Nova Zelândia.
Figura 1: Povoamento do Continente Americano
Fonte: A AURORA da humanidade (1993)
A terceira pergunta, talvez a mais polêmica, é a que
questiona qual foi a época da chegada dos primeiros
humanos no continente americano. Nesse ponto temos um
debate intenso, que está longe de terminar. Existem autores
que afirmam que os primeiros homens chegaram à America
há mais de 300 mil anos antes do presente (AP). Mas as
datações mais aceitas pela comunidade científica são
aquelas que giram em torno de 12 mil AP. A grande maioria
dos pesquisadores aceitam a presença do primeiro homem
americano em torno de 11 mil a 12 mil anos AP, porque são
desse período as datações dos esqueletos humanos mais
antigos encontrados no continente, como é o caso do crânio
de uma mulher, batizada de Luzia, encontrado em Minas
Gerais, datado de 11.500 AP.
As populações caçadoras coletoras pré-cerâmicas5
A bacia do Rio da Prata vem sendo continuamente
habitada por diferentes populações humanas6 há cerca de
pelo menos 11 mil anos AP. Para a região onde hoje é o
Paraná há datações que chegam a 9 mil anos AP.
Entretanto, se considerarmos a cronologia dos territórios
vizinhos que foram ocupados em épocas anteriores, é
provável que ainda possam ser obtidas datas que poderão
atestar a presença humana em períodos mais recuados.
Em 1958, um grupo de arqueólogos do Departamento
de Antropologia da Universidade Federal do Paraná foi
comunicado sobre achados arqueológicos nas margens do
rio Ivaí, no extremo oeste do Estado, na localidade de
Cidade Gaúcha7.
Escavações no sítio denominado José Vieira
demonstraram a existência de dois povoamentos no local.
O material lítico, colhido nos níveis mais profundos das
escavações e submetidos a datação, registrou uma idade
5 Uma primeira versão deste texto foi publicada em parceria com Francisco Silva Noelli, no
livro DIAS, Reginaldo Benedito; ROLLO, José Henrique (Org.). Maringá e Norte do
Paraná: estudos de História regional. Maringá: Eduem, 2000. 6 Consideramos, para fins didáticos, populações pré-históricas como as anteriores à
chegada dos europeus na região, isto é, em meados do século XVI; e populações
indígenas aquelas que entraram em contato com os europeus e vivem até o presente no
Paraná, isto é, os Jê do Sul – Kaingang e Xokleng, os Guarani e Xetá, falantes de línguas
do tronco linguístico Tupi. Evidentemente, como veremos adiante, em alguns casos houve
uma continuidade entre a Pré-história e a História. 7 Cf. LAMING, Anete; EMPERAIRE, José. A jazida José Vieira: um sítio Guarani e pré-
cerâmico no interior do Paraná. Arqueologia, Curitiba, v. 1, 1969. Nesse trabalho, os
autores também fazem observações em possíveis sítios arqueológicos na região de
Apucarana.
entre o oitavo e o nono milênio antes de nossa era. Isso
significa assentamentos humanos nas barrancas do rio Ivaí
há 8 mil anos. O material lítico coletado nas camadas
superiores da jazida datam de 2 a 3 mil anos (AP), o que
significa novos acampamentos em épocas posteriores à
primeira. Existem, portanto, em um mesmo local,
acampamentos em épocas distantes 4 a 5 milênios uma da
outra, que permitem a verificação de grandes
transformações no clima e na vegetação. Outras
escavações, realizadas nas margens do rio Paraná, foram
datadas em 8 mil anos, assim como as escavações
realizadas no centro-leste do Estado, na região de Vila
Velha, também com 8 mil anos.
A indústria lítica lascada do homem pré-histórico
presente no norte paranaense espalha-se ao longo do rio
Ivaí. A 350 km, subindo o rio no município de Manoel Ribas,
no centro do Estado, pesquisas arqueológicas feitas em
1960 revelaram a existência de material lítico que
corresponde ao do Sítio José Vieira, datado em torno de 7 a
8 mil anos. Foi encontrada também uma grande quantidade
de material cerâmico, datado em torno de 800 anos AP8.
Por todo o Paraná vamos encontrar vestígios desses
antigos assentamentos humanos. O mais antigo deles,
datado de 9.040 AP, foi encontrado pela Drª Cláudia
Parellada, arqueóloga do Museu Paranaense, no vale do rio
Iguaçu. Essas evidências, anteriores a 6 mil AP, também
8 Cf. ANDREATTA, Margarida Davina. Notas parciais sobre pesquisas realizadas no planalto
e litoral do Estado do Paraná. In: SIMPOSIO DE ARQUEOLOGIA DO PRATA, 2., 1968,
São Leopoldo. Anais... São Leopoldo: Instituto Anchietano de Pesquisa; FFCL, 1968. p.
65-76. De acordo com a autora, o material lítico lascado, tanto o encontrado na gruta de
Wobeto, em Manoel Ribas, como o do Sítio José Vieira fazem parte da indústria lítica
lascada, que se estende por toda a bacia do Rio da Prata.
podem ser encontradas em outras partes do território
paranaense, como podemos ver na tabela abaixo.
Sítios arqueológicos com mais de 6 mil anos (AP) no Paraná
PARELLADA, C. I. Revisão dos sítios arqueológicos com mais de seis mil anos BP no Paraná: discussões geoarqueológicas. Fumdhamentos, São Raimundo Nonato, n. 7, p. 118-135, 2008.
Assim, podemos afirmar que os territórios que hoje se
denominam Paraná vêm sendo continuamente habitados
por diferentes populações humanas há cerca de 9 mil anos
AP, de acordo com os vestígios materiais mais antigos
encontrados pelos arqueólogos. Entretanto, se
considerarmos a cronologia dos territórios vizinhos que
foram ocupados em épocas anteriores, é provável que
ainda possam ser obtidas datas que poderão atestar a
presença humana em períodos mais recuados, podendo
alcançar ate 11 mil ou 12 mil anos AP9.
9 Daqui em diante, optamos por incorporar parte de um texto feito em parceria com
Francisco Silva Noelli e publicado em outras obras, conjuntas ou separadas.
As populações que viveram no Paraná entre 9 mil a 3
mil anos AP são denominadas, pela Arqueologia, de
caçadores e coletores pré-cerâmicos. Elas foram
substituídas pelas populações indígenas agricultoras e
ceramistas – Kaingang, Xokleng, Guarani e Xetá – a partir
de sua chegada na região, por volta de 3 mil anos AP, e
continuam a viver aqui até hoje.
A Arqueologia classifica essas populações caçadoras
coletoras em três tradições, conforme a Figura 2.
As populações indígenas no Paraná
Caçadores coletores pré-cerâmicos12.000 a 3.000 anos AP
HumaitáVale dos grandes rios
UmbuTerras altas
SambaquiLitoral
Figura 2: Populações caçadoras coletoras pré-
cerâmicas no Paraná
Os arqueólogos reuniram uma série de informações
sobre essas populações. Aqui apontaremos sucintamente
os dados que consideramos mais importantes em cada uma
delas.
Tradição Humaitá
As populações que os arqueólogos convencionaram
chamar de Tradição Humaitá não deixaram,
aparentemente, descendentes historicamente conhecidos.
Por enquanto, é sabido que ocuparam todos os estados do
sul brasileiro e as regiões vizinhas do Paraguai e da
Argentina, entre 8 mil e 2 mil anos atrás.
Os estudos de seus vestígios mostram que essas
populações possuíam características das culturas do tipo
bando, compostas de pequenos grupos (40-60 pessoas)
que viviam dentro de amplos territórios. Sua subsistência
era baseada em diversas fontes animais, obtidas por meio
da caça, da pesca e da coleta, bem como de fontes
vegetais. A exemplo de outros povos caçadores-coletores
sul-americanos, também deveriam ter uma série de
acampamentos sazonais espalhados dentro de um território
definido. Tais acampamentos estariam relacionados a uma
série de atividades de subsistência, obtenção e preparação
de matérias-primas, rituais e lazer. Suas habitações
poderiam ser desde uma simples meia-água até casas mais
elaboradas, de madeira, cobertas por palha ou folhas de
palmáceas. Eventualmente poderiam ocupar abrigos sob
rocha (reentrâncias em paredes rochosas).
Seus vestígios mais estudados até o presente
restringem-se aos instrumentos líticos feitos de pedra, pois
a maior parte de seus objetos eram provavelmente
confeccionados com materiais perecíveis, que se
destruíram ao longo da formação dos sítios arqueológicos.
Entre as ferramentas de pedra podemos mencionar os
grandes instrumentos lascados bifacialmente, lascas
usadas para raspar, rasgar, cortar, tornear, bem como
ferramentas para polir, furar, amolar, macerar, moer, pilar e
ralar.
Figura 3: Ferramenta lítica da Tradição Humaitá.
Acervo: Coleção Arqueológica do Museu Histórico de Santo
Inácio – PR. Foto de Edmar Alencar Jr / Josilene Aparecida
de Oliveira
Tradição Umbu
Também as populações que os arqueólogos chamam
de Tradição Umbu não deixaram descendentes
historicamente conhecidos. Os vestígios dessa tradição,
marcadamente as pontas de projéteis e resíduos de
lascamentos, são encontrados em toda a região sul do
Brasil, no Uruguai e em partes do Estado de São Paulo.
Esses vestígios foram datados entre 12 mil e 1 mil anos AP,
o que demonstra a longa persistência dessa Tradição nos
mais variados ambientes do Brasil Meridional.
Essas populações ocuparam preferencialmente as
regiões de maior altitude nos planaltos do Paraná,
principalmente os interflúvios dos principais rios, mas há
também a presença de artefatos dessa Tradição nas
margens dos principais rios do Paraná, como o Iguaçu, no
sítio Ouro Verde, datado de 9 mil anos AP, e em vários
locais ao longo do rio Ivaí. Nesses locais construíram suas
habitações, tanto a céu aberto quanto nos abrigos sob
rochas. Já no Rio Grande do Sul e no Uruguai, nas áreas
alagadiças, construíram os cerritos – aterros artificiais –,
onde fixaram suas habitações.
Figura 4: Ponta de flecha da Tradição Umbu. Acervo:
Laboratório de Arqueologia, Etnologia e Etno-história da
UEM. Foto: Lúcio Tadeu Mota
Tradição Sambaqui
Os pescadores/coletores do litoral sul do Brasil
ocuparam uma vasta faixa entre o mar e a Serra do Mar,
desde o Rio Grande do Sul até a Bahia, desde 6 mil anos
AP até mil anos depois de Cristo. Seus principais vestígios
são os inúmeros montes – conhecidos por sambaquis – que
construíram intencionalmente com restos alimentares,
adornos, conchas, ferramentas, armas, carvões de antigas
fogueiras, vestígios de sepultamentos humanos e de
antigas moradias.
Construídos tanto em planícies quanto em encostas,
diretamente na areia ou sobre o embasamento rochoso, os
Sambaquis têm ocorrências desde o Rio Grande do Sul até
a Bahia de Todos os Santos, basicamente no interior dos
ambientes lagunares que se apresentam em todo esse
trecho da faixa costeira. As baías, estuários e lagunas
dessa porção do litoral apresentam normalmente grandes
concentrações desses sítios arqueológicos.
A implantação dos Sambaquis nesses ambientes
estuarinos não foi fortuita: ela se deu devido à existência de
várias espécies de peixes, moluscos, crustáceos e outros
animais, componentes riquíssimos da dieta alimentar
desses grupos humanos.
Figura 5: Sambaquis do litoral sul do Brasil. Fonte Gaspar: (2000, p. 49-53).
As populações ceramistas
agricultoras - populações indígenas
históricas
Por volta de 2.500 anos antes do presente
(AP), agrupamentos maiores de populações
passaram a ocupar a região da bacia do rio
Paraná e de seus afluentes (Iguaçu, Piquiri, Ivaí,
Paranapanema Pirapó, Santo Inácio,
Bandeirantes, Tibagi, Itararé e outros menores).
Tratava-se de uma das frentes da ampla
expansão dos povos falantes da língua guarani,
os quais vinham ocupando sistematicamente o
território do atual Mato Grosso do Sul e as bacias
dos rios Paraguai e Paraná, e do Rio da Prata.
Podemos dizer que esses agrupamentos tinham
em comum a língua e a produção de artefatos
cerâmicos.
Os vestígios da cultura material dessas
populações agricultoras ceramistas são
denominados pela Arqueologia como Tradição
Tupi-guarani e Tradição Itararé/Taquara.
As mais antigas populações de ceramistas
começaram a chegar à bacia do rio Paraná em
torno de 2.500 anos AP, como podemos ver
numa série de sítios datados, na região, pelas
metodologias de C-14 (carbono 14) e
termoluminescência.
O rio Paranapanema, em sua junção com o
médio Paraná, é considerado, como já foi
sugerido por José P. Brochado e Francisco S.
Noelli (BROCHADO, 1984; NOELLI, 1998, 1999-
24
2000), para o caso dos falantes do guarani, como
a “porta de entrada” para o Paraná e o sul do
Brasil. O conjunto das pesquisas indica que essas
populações, em contínuo processo de
crescimento demográfico e de expansão
territorial, teriam sucessivamente ocupado a área
do atual Mato Grosso do Sul e, através da bacia
do Paraná, teriam ingressado no sul do Brasil
pelo noroeste paranaense.
No caso dos Jê do sul (Kaingang e Xokleng),
como aponta a Arqueologia com os indícios de
cerâmica da Tradição Itararé, a porta de entrada
dessas populações para o sul do Brasil teria sido
os campos e cerrados do interflúvio dos rios
Paranapanema/Itararé e Ribeira.
Trabalhando com a hipótese de que os grupos Jê, que se deslocaram do Brasil central para o sul, foram ocupando regiões semelhantes às que ocupavam em seus locais de origem, podemos afirmar que após ocuparem os planaltos de cerrados entre os rios Tietê e Paranapanema eles iniciaram a ocupação dos Campos Gerais no Paraná. Esses campos se estendem desde o sul de São Paulo – região de Itapetininga até Itararé, entre as cabeceiras dos rios Paranapanema e Itararé – até a margem direita do rio Iguaçu, no segundo planalto paranaense. No século XVII os padres jesuítas fundadores das reduções anotam a presença de grupos não Guarani na região, que eles denominaram de Cabeludos e Gualachos (MOTTA, 2000, p. 49).10
10 . Cf.MOTA, Lucio Tadeu. Os índios Kaingang e seus territórios nos campos
do Brasil meridional na metade do século passado. In: Uri Wãxi: estudos
interdisciplinares dos Kaingang. Londrina, Eduel, 2000.
25
Ancorados nas informações arqueológicas
podemos afirmar que a região da bacia do rio
Paraná e de seus afluentes da margem esquerda
onde é hoje o estado do Paraná foi densamente
povoada, até a chegada dos espanhóis e
portugueses, por populações caçadoras/coletoras
pré-ceramistas e pelos agricultores ceramistas,
principalmente os falantes do guarani.11
Tabela 3: Sítios arqueológicos com
datações de populações ceramistas
nas bacias do Paraná,
Paranapanema e Ivaí, da jusante
para montante
Rio Paraná
Da
ta A.P.
Síti
o
L
ab. nº
1.1.1.1.1
i
o
M
a
r
g
e
m
1.1.1.1.2
unicí
pio
Estad
o
1.1.1.1.3
o
nt
e
11 Existem ainda informações arqueológicas sobre a presença de vestígios
cerâmicos diferentes das tradições discutidas acima, e também existem
informações históricas sobre a presença de populações não-Guarani e
não-Kaingang principalmente na margem direita do médio Paranapanema.
São informações importantes para o entendimento da ocupação da região,
as quais discutiremos em outra oportunidade.
26
20
10 ± 75
PR/F
I/140
S
I 5028
Es
querda
Foz do
Iguaçu - Pr
Chmy
z 1983
16
25 ± 60
PR/F
I/118
S
I 5021
Es
querda
Foz do
Iguaçu - Pr
Chmy
z 1983
15
65 ± 70
PR/F
I/99
S
I 5019
Es
querda
Foz do
Iguaçu - Pr
Chmy
z 1983
13
95 ± 60
PR/F
I/142
S
I 5033
Es
querda
Foz do
Iguaçu - Pr
Chmy
z 1983
12
35 ± 60
PR/F
I/97
S
I 5016
Es
querda
Foz do
Iguaçu - Pr
Chmy
z 1983
74
5 ± 75
PR/F
I/140
S
I 5027
Es
querda
Foz do
Iguaçu - Pr
Chmy
z 1983
70
0 ± 55
PR/F
I/112
S
I 5036
Es
querda
Foz do
Iguaçu - Pr
Chmy
z 1983
62
5 ± 55
PR/F
I/100
S
I 5020
Es
querda
Foz do
Iguaçu - Pr
Chmy
z 1983
60
0 ± 60
PR/F
I/103
S
I 5029
Es
querda
Foz do
Iguaçu - Pr
Chmy
z 1983
59
0 ± 55
PR/F
I/127
S
I 5024
Es
querda
Foz do
Iguaçu - Pr
Chmy
z 1983
41
5 ± 75
PR/F
I/104
S
I 5032
Es
querda
Foz do
Iguaçu - Pr
Chmy
z 1983
39
5 ± 60
PR/F
I/142
S
I 5034
Es
querda
Foz do
Iguaçu - Pr
Chmy
z 1983
34
0 ± 60
PR/F
I/118
S
I 5023
Es
querda
Foz do
Iguaçu - Pr
Chmy
z 1983
25
5 ± 80
PR/F
I/97
S
I 5017
Es
querda
Foz do
Iguaçu - Pr
Chmy
z 1983
23
0 ± 80
PR/F
I/22
S
I 5015
Es
querda
Foz do
Iguaçu - Pr
Chmy
z 1983
20
5 ± 80
PR/F
I/118
S
I 5022
Es
querda
Foz do
Iguaçu - Pr
Chmy
z 1983
19
0 ± 75
PR/F
I/98
S
I 5018
Es
querda
Foz do
Iguaçu - Pr
Chmy
z 1983
? ±
195
PR/F
I/141
S
I 5031
Es
querda
Foz do
Iguaçu - Pr
Chmy
z 1983
49
0 ± 60
PR/F
O/3
S
I 5040
Es
querda
Guaíra -
Pr
Chmy
z 1983
76
0 ± 40
PR/F
O/4
S
I 5039
Es
querda
Guaíra -
Pr
Chmy
z 1983
47
5 ± 45
MT/
IV/1
S
I 1017
Dir
eita
Bataiporã
- MS
Chmy
z 1974
18 MT/ S Dir Bataiporã Chmy
27
0 ± 60 IV/1 I 1018 eita - MS z 1974
11
0 ± 60
MT/
IV/2
S
I 1019
Dir
eita
Bataiporã
- MS
Chmy
z 1974
26
0 ± 70
MT/
IV/1
S
I 1016
Dir
eita
Bataiporã
- MS
Chmy
z 1974
23
9 ± 10
MS/
PR/13
F
ATEC
Dir
eita
Anaurilând
ia - MS
Kashi
moto 1997
24
0 ± 30
MS/
PD/06
G
sy
Dir
eita
Anaurilând
ia - MS
Kashi
moto 1997
27
5 ± 20
MS/
PD/07
F
ATEC
Dir
eita
Anaurilând
ia - MS
Kashi
moto 1997
42
5 ± 25
MS/
IV/08
F
ATEC
Dir
eita
Anaurilând
ia - MS
Kashi
moto 1997
43
2 ± 32
MS/
PD/04
F
ATEC
Dir
eita
Anaurilând
ia - MS
Kashi
moto 1997
24
5 ± 15
MS/
PR/41
F
ATEC
Dir
eita
Bataguaçu
- MS
Kashi
moto 1997
28
0 ± 15
MS/
PR/46
F
ATEC
Dir
eita
Bataguaçu
- MS
Kashi
moto 1997
37
0 ± 20
MS/
PR/22
F
ATEC
Dir
eita
Bataguaçu
- MS
Kashi
moto 1997
48
0 ± 30
MS/
PR/26
F
ATEC
Dir
eita
Bataguaçu
- MS
Kashi
moto 1997
56
5 ± 32
MS/
PR/55
F
ATEC
Dir
eita
Bataguaçu
- MS
Kashi
moto 1997
58
0 ± 40
MS/
PR/39
F
ATEC
Dir
eita
Bataguaçu
- MS
Kashi
moto 1997
62
5 ± 40
MS/
PR/35
F
ATEC
Dir
eita
Bataguaçu
- MS
Kashi
moto 1997
14
93 ± 100
MS/
PR/85
F
ATEC
Dir
eita
Brasilândi
a - MS
Kashi
moto 1997
12
48 ± 100
MS/
PR/64
F
ATEC
Dir
eita
Brasilândi
a - MS
Kashi
moto 1997
10
15 ± 75
MS/
PR/64
G
sy
Dir
eita
Brasilândi
a - MS
Kashi
moto 1997
48
0 ± 30
MS/
PR/98
F
ATEC
Dir
eita
Três
Lagoas - MS
Kashi
moto 1997
90
9± 80
MS/
PR/90
F
ATEC
Dir
eita
Três
Lagoas - MS
Kashi
moto 1997
Rio Ivaí
Da Síti L 1.1.1.1.41.1.1.1.5 1.1.1.1.6
28
ta A.P. o ab. nº i
o
M
a
r
g
e
m
unicí
pio -
Pr
o
nt
e
13
80 ± 150
José
Vieira
G
sy 81
Esq
uerda
Cidade
Gaúcha
Empe
raire, 1968
54
0 ± 60
PR/
QN/2
S
I 697
Dir
eita
Mirador Broch
ado 1973
10
65 ± 95
PR/
ST/1
S
I 695
Esq
uerda
Indianópol
is
Broch
ado 1973
61
0 ± 120
PR/
ST/1
S
I 696
Esq
uerda
Indianópol
is
Broch
ado 1973
30
0 ± 115
PR/F
L/5
S
I 693
Dir
eita
Paraíso do
Norte
Broch
ado 1973
47
0 ± 100
PR/F
L/5
S
I 694
Dir
eita
Paraíso do
Norte
Broch
ado 1973
13
5 ± 120
PR/F
L/13
S
I 698
Dir
eita
Doutor
Camargo
Broch
ado 1973
14
90 ± 45
PR/F
L/21
S
I 1011
Dir
eita
Doutor
Camargo
Broch
ado 1973
56
0 ± 60
PR/F
L/23
S
I 700
Dir
eita
Doutor
Camargo
Broch
ado 1973
59
0 ± 70
PR/F
L/15
S
I 699
Dir
eita
Doutor
Camargo
Broch
ado 1973
Rio Paranapanema
Da
ta A.P.
Síti
o
L
ab. nº
1.1.1.1.7
i
o
M
1.1.1.1.8
unicí
pio/E
stad
o
1.1.1.1.9
o
nt
e
29
a
r
g
e
m
53
0 ± 55
PR/
NL/7
S
I 6400
Esq
uerda
Diamante
do Norte - Pr
Chmy
z 1986
±
930*
Alvi
m
Dir
eita
Pirapozinh
o - Sp
Kashi
moto 1997
±1
668*
Ragi
l
F
ATEC
Dir
eita
Iepê - Sp Facci
o 1998
11
30 ± 150
SP/
AS/14
S
I 422
Dir
eita
Iepê - Sp Chmy
z 1969
±
1093*
Ragi
l 2
F
ATEC
Dir
eita
Iepê - Sp Facci
o 1998
98
0 ± 100
SP/
AS/14
S
I 709
Dir
eita
Iepê - Sp Smith
sonian
±
755*
Nev
es
F
ATEC
Dir
eita
Iepê - Sp Facci
o 1998
* = datado por termoluminescência;
30
As populações indígenas no Paraná
Populações indígenas históricas3.000 a aos dias de hoje
KaingangTronco lingüístico
Macro-Jê
Tradições PréCerâmicas
incorporadas
GuaraniTronco lingüístico
Tupi
XoklengTronco lingüístico
Macro-Jê
XetáTronco lingüístico
Tupi
Figura 6: Populações indígenas agricultoras ceramistas no Paraná
-
- -
-
Figura 6: Populações indígenas agricultoras
ceramistas no Paraná
���� Os Guarani
Dentre os povos pré-históricos e indígenas
de que estamos tratando, os Guarani são os mais
conhecidos em termos arqueológicos, históricos,
antropológicos e linguísticos. A denominação
Guarani define, ao mesmo tempo, a população e
o nome da língua por ela falada.
Uma série de estudos comparados –
arqueológicos e linguísticos – realizados no leste
31
da América do Sul indica que os Guarani vieram
das bacias dos rios Madeira e Guaporé. A partir
daí, ocuparam continuamente diversos territórios
ao longo das bacias dos rios Paraguai e Paraná
até alcançar Buenos Aires, distante
aproximadamente 3 mil km do seu centro de
origem. Expandiram-se ainda para a margem
esquerda do Pantanal, nos atuais estados de São
Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do
Sul. Também ocuparam o Uruguai e o Paraguai.
Conforme as datações já obtidas, excetuando o
Uruguai, a foz do Rio da Prata e o litoral sul
brasileiro, as demais regiões citadas foram
ocupadas desde há pelo menos 2.500 anos AP.
Mantiveram esses territórios até a chegada dos
primeiros europeus, que, a partir de 1504,
registraram em centenas de documentos os
limites desse vasto domínio.
Os Guarani ocuparam os vales e as terras
adjacentes de quase todos os grande rios e de
seus afluentes. Raramente estabeleciam suas
aldeias e rocas em áreas campestres. A maioria
dos sítios arqueológicos da Tradição Tupi-guarani
estão inseridos em áreas cobertas por florestas,
seguindo o padrão de estabelecer as aldeias e as
plantações em clareiras dentro da mata.
Como se pode constatar na bibliografia
especializada sobre os Guarani, eles possuíam
um padrão para ocupar novas áreas, sem, no
entanto, abandonar as antigas. Os grupos locais
se dividiam, com o crescimento demográfico, ou
por divisões políticas, indo habitar áreas
próximas, previamente preparadas por meio de
manejo agroflorestal, isto é, abriam várias
32
clareiras para instalar a aldeia e as plantações,
inserindo seus objetos e plantas nos novos
territórios. Assim como trouxeram suas casas,
vasilhas cerâmicas e outros objetos, os Guarani
também trouxeram de seus locais de origem
diversas espécies de vegetais, úteis para vários
fins (alimentação, remédios, matérias-primas
etc.), contribuindo para o aumento da
biodiversidade florística do sul do Brasil.
Dessa maneira iam ocupando as várzeas
dos grandes rios, e com o passar do tempo, áreas
banhadas por rios cada vez menores. Por
exemplo, após dominar as terras próximas aos
rios Ivaí, Pirapó e Tibagi, ocuparam trechos ao
longo de alguns dos ribeirões que banham o
divisor de águas desses rios.
As aldeias tinham tamanhos variados,
podendo comportar mais de mil pessoas,
organizadas socialmente por meio de relações de
parentesco e de aliança política. Essas famílias
extensas viviam em casas longas, e cada aldeia
poderia ter até sete ou oito casas, construídas de
madeira e folhas de palmáceas, podendo abrigar
até 300 ou 400 pessoas, e alcançar cerca de 30
ou 40 metros de comprimento por até 7 ou 8
metros de altura. Algumas aldeias, dependendo
de sua localização, poderiam ser fortificadas,
cercadas por uma paliçada.
A cultura material era composta por centenas
– talvez milhares – de objetos, confeccionados
para servirem a diversos fins, sendo a maioria
feita com materiais perecíveis (ossos, madeiras,
penas, palhas, fibras vegetais, conchas etc.) e,
33
em minoria, de não-perecíveis (vasilhas
cerâmicas, ferramentas de pedra, corantes
minerais). Desse conjunto normalmente
sobrevivem apenas as vasilhas, as ferramentas
de pedra e, eventualmente, esqueletos humanos
e de animais diversos, conchas e ossos usados
como ferramentas ou enfeites. O reconhecimento
da existência desses objetos perecíveis, salvo
condições raras de conservação, só e possível
por meio de informações obtidas indiretamente
por pesquisas históricas, linguísticas e
antropológicas.
Figura 7: Fragmento cerâmico Guarani. Acervo:
Laboratório de Arqueologia, Etnologia e
Etno-história da UEM. Foto: Lúcio Tadeu
Mota
34
Figura 8: Fragmento cerâmico Guarani. Acervo:
Laboratório de Arqueologia, Etnologia e
Etno-história da UEM. Foto: Lúcio Tadeu
Mota
���� Os Xetá
O povo Xetá é conhecido e nominado, na
literatura, nos relatos de viajantes e em fontes
documentais, como: Botocudo, Héta, Chetá, Setá,
Ssetá, Aré e Yvaparé. Foi o último grupo indígena
contatado no Paraná, no final da década de 1940
e no início de 1950, quando a frente de ocupação
cafeeira chegou ao seu território tradicional, que
se estendia pelas margens do baixo rio Ivaí até a
sua foz, no rio Paraná.
A presença dos grupos Xetá no rio Ivaí e em
seus afluentes foi registrada por viajantes e
exploradores desses territórios desde a década
de 1840, quando Joaquim Francisco Lopes e
35
John H. Elliot – empregados do Barão de
Antonina – fizeram contato com alguns deles nas
imediações da foz do rio Corumbataí, no Ivaí.
Posteriormente, em 1872, o engenheiro inglês
Thomas Bigg-Whiter capturou um pequeno grupo
nas proximidades do Salto Ariranha, também no
rio Ivaí. No início do século XX, em 1910, Albert
V. Fric ouviu dos Kaingang a informação da
presença de pequenos grupos Xetá no interflúvio
dos rios Ivaí e Corumbataí, muito acima do local
onde os Xetá foram contatados nos anos de
1950. Junto ao grupo Kaingang do cacique
Paulino Arak-xó, que vivia no salto Ubá, Fric
encontrou cativos Xetá, com os quais efetuou um
primeiro registro de vocabulário.
Esses locais de caça e coleta, os encontros
e confrontos com os exploradores do rio Ivaí, e os
conflitos com os Kaingang, que resultavam em
capturas e dispersão dos Xetá, fazem parte da
memória de sobreviventes Xetá mais velhos. Um
deles teve seu pai capturado no início do século
XX, porém conseguiu fugir e retornou para seu
grupo familiar na região da Serra dos Dourados
(SILVA, 1998, 2003).
Nessas primeiras décadas do século XX
muitos outros contatos foram noticiados, mas na
região conhecida como Serra dos Dourados,
onde hoje estão implantados os municípios de
Umuarama, Ivaté, Douradina, Icaraíma, Maria
Helena, Nova Olímpia, entre outros, é que se deu,
a partir de 1954, 1955 e mais principalmente em
fevereiro de 1956, o mais documentado encontro
com um grupo Xetá, que ocorreu entre
professores da UFPR e membros do Serviço de
36
Proteção ao Índio-SPI da 7ª Regional de Curitiba
e dois meninos12 Xetá, capturados em 1952 por
agentes das Companhias de Colonização.
Apesar dos esforços dos professores da
Universidade Federal do Paraná (UFPR), do
Conselho Nacional de Política Indigenista (CNPI)
e de funcionários do SPI, o Governo do Estado do
Paraná vendeu os territórios Xetá para as
Companhias de Colonização, que os lotearam
para revenda aos interessados no cultivo de café
na região.
Até a década de 1990 os Xetá eram tidos
pelo órgão indigenista brasileiro Fundação
Nacional do Índio – FUNAI – como grupo extinto
ou quase extinto, pois constam nos seus dados
populacionais apenas cinco pessoas. No entanto,
a pesquisa antropológica de Carmen Lúcia da
Silva apontou que, ao contrário do que se
afirmava nos levantamentos oficiais, os Xetá não
estavam extintos.
Em 1997, por solicitação dos Xetá, foi
realizado o primeiro encontro dos seus
sobreviventes em Curitiba, intitulado “Encontro
Xetá: Sobreviventes do Extermínio”, com o apoio
do Instituto Socioambiental (ISA) e do Museu de
Arqueologia e Etnologia da UFPR (MAE), do qual
participaram todos os sobreviventes do grupo,
crianças, jovens, mais velhos e cônjuges, além do
Prof. Dr. Aryon Dall’Igna Rodrigues, que efetuou
os primeiros estudos da língua Xetá junto a um
grupo familiar na década de 1960 (1960, 1961 e
posteriormente em 1967).
12 Um deles viveu até o ano de 2008 e foi um dos colaboradores ativos do
estudo de Silva (1998; 2003).
37
Como resultado desse encontro, os Xetá
solicitaram o seu reconhecimento enquanto
pertencentes à etnia Xetá e a retificação de seus
nomes nos registros civis, levando em conta os
registros que já vinham trabalhando na pesquisa
antropológica, os quais apresentavam como se
dava o sistema de nominação do grupo. Também
colocaram em pauta a indenização financeira de
suas perdas e a recuperação de seus territórios
tradicionais, na Serra dos Dourados, bem como
reivindicaram o retorno a seu território de origem,
nominando-o como Terra Indígena Herarekã
Xetá.
Atualmente os Xetá somam
aproximadamente 100 (cem) pessoas, em 25
(vinte e cinco) famílias. Estão em processo de
luta para que seu território tradicional seja
reconhecido junto à FUNAI, para que seus
direitos sejam reconhecidos e para se
reconstituírem enquanto povo e revitalizarem sua
cultura. Além da demanda para reaverem parte
de seus territórios, os Xetá solicitaram ao Estado
do Paraná um atendimento especifico e
diferenciado de: educação escolar indígena
bilíngue Português/Xetá; o ensino da sua história
na escola; produção de literatura e materiais
didáticos que retratem a realidade do povo,
trazendo inclusive a memória coletiva da antiga
sociedade narrada por seus pais, hoje
considerados “guardiões da memória Xetá”
(SILVA, 1998; 2003).
38
���� Os Kaingang
A denominação Kaingang define
genericamente, ao mesmo tempo, a população e
o nome da língua por ela falada.
Embora exista uma volumosa bibliografia e
inumeráveis conjuntos de documentos não
publicados sobre esses povos, ainda se conhece
pouco sobre seus ascendentes pré-históricos.
Os resultados de estudos comparados –
Arqueologia e Linguística – apontam o Brasil
central como a região de origem dos Kaingang,
que ocuparam imensas áreas dos estados da
região sul, parte meridional de São Paulo e leste
da província de Missiones, na Argentina. Embora
não existam ainda datas mais antigas do que as
dos Guarani, e provável que os Kaingang e os
Xokleng tenham chegado primeiro ao Paraná,
pois em quase todo o Estado os sítios dos
Guarani estão próximos ou sobre os sítios
arqueológicos dos Kaingang e Xokleng.
Com a chegada dos Guarani, à medida que
iam conquistando os vales dos rios os Kaingang
foram sendo empurrados para o centro-sul do
Estado e/ou foram sendo confinados nos
territórios interfluviais, enquanto os Xokleng foram
sendo impelidos para os contrafortes da Serra
Geral, próximo ao litoral. A partir do final do
século XVII, quando as populações Guarani
tiveram uma drástica redução, os Kaingang
voltaram a se expandir por todo o centro do
Paraná.
Em meados do século XVIII, com as
primeiras expedições coloniais nos territórios hoje
39
denominados Paraná, foi possível conhecer
parcialmente a toponímia empregada pelos
Kaingang para nominar seus territórios: Koran-
bang-rê (campos de Guarapuava); Kreie-bang-rê
(campos de Palmas); Kampo-rê (Campo Ere –
sudoeste); Payquerê (campos entre os rios Ivaí e
Piquiri, hoje nos município de Campo Mourão,
Mamborê, Ubiratã e outros, adjacentes);
Minkriniarê (campos de Chagu, oeste de
Guarapuava, no município de Laranjeiras do Sul);
campos do Inhoó (em São Jerônimo da Serra).
Os Kaingang: a produção da cerâmica
� Mulher Kaingang confeccionando cerâmica na T. I. Vanuire em SP em 1970. Fonte: Delvair M Melatti. Aspectos da organização social dos Kaingang Paulistas. FUNAI, 1976
� Vasilha reconstituída a partir de fragmentosencontrados em uma casa subterrânea no RS.Fonte: Pedro Ignácio Schmitz. CIÊNCIA HOJE •vol. 31 • nº 181
Figura 9
40
���� Os Xokleng
A denominação Xokleng define
genericamente, ao mesmo tempo, a população e
o nome da língua por ela falada. Na bibliografia
arqueológica esses povos são conhecidos como
Tradição Itararé. Apesar da volumosa bibliografia
e de inumeráveis conjuntos de documentos não
publicados a seu respeito, ainda se conhece
pouco sobre seus ascendentes pré-históricos Sua
chegada e sua presença no Paraná já foram
resumidas no item sobre os Kaingang,
necessitando ainda de mais pesquisas para se
corroborar ou desabonar as conclusões e
hipóteses vigentes. Suas aldeias eram
geralmente pequenas, no interior das florestas,
abrigando poucos habitantes. Também ocupavam
abrigos sob rocha e casas semissubterrâneas.
Fabricavam vasilhas cerâmicas semelhantes às
feitas pelos Kaingang, a tal ponto que, devido às
pesquisas pouco sistemáticas realizadas até o
presente, ainda é problemático definir claramente
as diferenças.
REFERÊNCIAS
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______. Sobreviventes do extermínio: uma etnografia das narrativas e lembranças da sociedade Xetá. 1998. Mestrado. (Antropologia Social)-Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 1998.
Atividades:
1. Você já viu alguma família indígena circulando por sua cidade? O que observou, a respeito?
2. Por ocasião da chegada dos europeus no Paraná, quais eram os povos indígenas que aqui se encontravam?
3. Recolha junto a sua comunidade (cidade, bairro ou vizinhos) o que eles sabem sobre os índios no Paraná.
44
CAPITULO II O GUAIRÁ: A CONQUISTA E
AS RELAÇÕES INTERCULTURAIS NOS
TERRITÓRIOS INDÍGENAS NO PARANÁ, DE
1500 A 1630
Nádia Moreira Chagas13
Lúcio Tadeu Mota14
Introdução
A História dos territórios entre os rios
Paranapanema ao norte e Iguaçu ao sul,
pertencentes hoje ao Estado do Paraná, está
inserida nos processos de ocupação da América
Meridional pelos europeus, no século XVI.
Denominados nos primeiros séculos da
colonização como Guairá, sua história é,
portanto, parte da História do Paraná Colonial,
13 Especialista pela UEM em Arqueologia, Etnologia e Etno-História do
Paraná, Mestre em História pela UEM, Profª. da Rede Estadual de Ensino, Núcleo de
Educação de Maringá, Pesquisadora no Programa Interdisciplinar de Estudos de
Populações – Laboratório de Arqueologia, Etnologia e Etno-História – UEM. E-mail:
[email protected] 14 Professor Associado no Departamento de História da Universidade
Estadual de Maringá, e pesquisador no Programa Interdisciplinar de Estudos de
Populações – Laboratório de Arqueologia, Etnologia e Etno-História - UEM. [email protected]
45
que inicia com a chegada dos europeus ao litoral
meridional da América do Sul.
Para conhecermos a história de períodos
mais remotos sobre a região temos que recorrer à
historiografia clássica da Bacia Platina, sobre a
história do Paraguai e da Argentina, e também a
estudos sobre os bandeirantes paulistas.
A relevância dessa historiografia está no
debate sobre a ocupação do atual Paraná e no
reconhecimento das populações que aqui viviam,
a fim de se desmistificarem algumas ideias, como
a de que a região era um deserto a ser
desbravado.
A ocupação dos territórios do atual Paraná e
as relações interculturais ocorridas entre o início
da colonização até o século XVII possibilitam
compreender os contatos que ocorreram antes e
depois da chegada dos europeus. Ou seja, é
possível reconstruir a história de povos que foram
considerados etnocentricamente como sem
história, por não dominarem a escrita
O importante nos estudos da ocupação
desses territórios é determinar o impacto da
conquista sobre as sociedades indígenas que
aqui viviam, procurando se entender como se
desenvolveram as estruturas sociais e
compreender que os europeus não foram os
únicos sujeitos que fizeram a história desta parte
do continente americano.
A história da conquista dos territórios entre
os rios Paranapanema e Iguaçu, os quais mais
tarde se tornariam o Estado do Paraná, está
presente em alguns autores clássicos da
historiografia paranaense, dentre os quais se
46
destacam: Silveira Neto, que escreveu no início
do século XX; David Carneiro, um dos que mais
escreveu sobre o Paraná; Romário Martins, autor
da ideia do paranismo; Faris A. S. Michaelle, que
aborda a presença indígena e as dificuldades que
tornavam seu estudo difícil; Altiva P. Balhana,
Brasil P. Machado e Cecília M. Westphalen, que
tratam da descoberta do ouro e da procura do
indígena para o trabalho no estabelecimento do
português; Ruy C. Wachowicz, com sua
publicação didática sobre a História do Paraná.
Na década de 1980, Cecília M. Westphalen e
Jaime A. Cardoso publicaram o Atlas Histórico do
Paraná. Existem ainda outras obras mais
recentes, na década de 1990, como a de Maria
A.M.S. Schmidt, que apresenta em publicação
paradidática uma História do Paraná, e ainda a de
Sérgio O. Nadalin, sobre a ocupação do território.
Pode-se dizer que algumas das obras mais
antigas seguem uma mesma linha de estudo:
indo da chegada dos europeus à formação de
vilas e povoações em regiões consideradas como
despovoadas, prontas para serem ocupadas, não
contando com a presença do indígena, o que
justificaria, assim, a prática da conquista dos
territórios empreendida pelos europeus. Havia, na
verdade, uma política de omissão com respeito
aos povos indígenas, segundo a qual os
europeus acreditavam que, se não podiam fazer
esses povos desaparecerem, eles seriam então
integrados.
47
Uma historiografia mais recente15 discute a
ocupação do Guairá como uma guerra de
conquista, ou seja, a exploração das populações
indígenas pelos conquistadores não foi sem
obstáculos como afirmam muitos autores, e a
conquista dos seus territórios também não
ocorreu de forma pacífica. Em todos os
momentos, e por várias etnias, a resistência foi
renhida e sangrenta. O território do Guairá, que
compreendia quase todo o Paraná, foi local de
trânsito de portugueses e espanhóis que iam e
vinham de Assunção em direção às vilas do litoral
brasileiro, palco de guerras variadas e
constantes. A conquista desses territórios foi feita
palmo a palmo, com o uso da espada, do
arcabuz, da besta, da cruz, de doenças e de
acordos. Alianças foram estabelecidas e
rompidas, e de ambas as partes fidelidades foram
sacramentadas e traições meticulosamente
planejadas.
2.1 O GUAIRÁ E SUA POPULAÇÃO,
ENTRE 1500 E 1632
• O território
Por ocasião da expansão marítima, havia
uma divergência entre Portugal e Espanha sobre
os limites das terras que conquistaram. Isso levou
à assinatura do Tratado de Tordesilhas (1494),
15 Conferir os trabalhos de Lúcio Tadeu Mota, Francisco Noelli e outros
pesquisadores sediados no Programa Interdisciplinar de Estudos de Populações –
Laboratório de Arqueologia, Etnologia e Etno-história da Universidade Estadual de Maringá.
48
segundo o qual o mundo ficaria dividido entre as
duas metrópoles coloniais, ou seja, as terras
descobertas e a descobrir seriam divididas entre
as duas nações. Pelas determinações desse
tratado, uma linha imaginária passaria a 360
léguas da Ilha de Cabo Verde, e todas as terras
que estivessem a leste pertenceriam a Portugal; e
a oeste, à Espanha.
O território do atual Paraná estava localizado
a ocidente dessa linha, mas não havia
concordância entre espanhóis e portugueses
quanto à divisão. Para
[...] cosmógrafos espanhóis caia no mar na altura de Iguape, embora para os portugueses terminasse na altura de laguna, e a expedição de (1532), ainda mais ao sul, procurasse estender o direito lusitano colocando marcos na foz do rio da Prata (MARTINS, 1995b, p. 59)16
A discussão sobre os limites territoriais
avançaram pelos séculos XVII e XVIII, quando se
estabeleceram as reais fronteiras nas nações. A
presença de portugueses avançando pelo sertão
após a linha de Tordesilhas foi intensa ao longo
dos séculos XVI e XVII, sentida, por exemplo,
pela atuação dos bandeirantes paulistas em
busca de metais preciosos e indígenas para o
trabalho escravo, o que determinou uma divisão
diferente da estabelecida.
O que se pode afirmar é que, pela divisão
imposta pelo Tratado de Tordesilhas de 1494,
ficava bastante evidente que a quase totalidade
do atual território do Paraná era domínio dos 16 Cf. MARTINS, 1995b, p. 59.
49
espanhóis, ficando para os portugueses uma
pequena faixa de terra do litoral.
Informações detalhadas sobre o Guairá são
encontradas nos escritos do historiador e
conquistador Ruy Diaz de Guzmán, sobrinho-neto
de Don Álvar Nuñes Cabeza de Vaca, o primeiro
espanhol que passou por essas terras e as
denominou de Província de Vera. Para o autor, o
território correspondia aos [...] campos que corren
y confinan com el Río de la Plata, que llaman de
Guayra.17
O delineamento do Guairá também é
encontrado nos escritos do Padre Nicolas del
Techo, segundo o qual
[...] El Guairá está situado en la parte del Paraguay que mira al Brasil y al Occidente del rio Paraná; por el Sur acaba en los campos que baña el Uruguay, y por Norte en selvas y lagunas no bien conocidas; su extensión es considerable […]18
17. Cf. GUZMÁN, Ruy Diaz de 1836, p. 32 e 67. Com respeito a essa
demarcação, na mesma obra, no Índice Geográfico e Histórico, p. 392, existe a explicação
de que o Guairá era um “[...] Vasto e inculto território entre las províncias meridionales del
Brasil y el Paraguay y tan poco conocido que no es posible demarcar sus limites [...]”, ou
seja, o autor erra quando diz que a região limitava-se com o Rio da Prata. 18 Cf. TECHO, Nicolas del. [1673], 2005, p. 196),
50
Figura 1. Mapa do Guairá
Fonte: Ramon Cardoso, 1918
• O encontro
Como vimos no capitulo anterior, o sul do
Brasil e mais especificamente o Paraná, quando
da chegada dos europeus, estava habitado pelas
populações falantes do tronco linguístico Tupi, no
caso os Guarani e Xetá, e os falantes das línguas
do tronco Macro-jê, os Kaingang e Xokleng.
Dessa forma, os marinheiros que desembarcaram
dos navios espanhóis e portugueses na costa sul
do Brasil fizeram contato primeiro com os Carijós,
como eram chamados os Guarani, e quando eles
começaram a percorrer o interior passaram a ter
contatos com populações de fala diferente dos
Carijós, os grupos falantes do tronco linguístico
Jê, hoje conhecidos como Kaingang e Xokleng.
51
Os primeiros contatos de europeus com as
populações indígenas no Guairá ocorreram a
partir do início do século XVI, quando os navios
portugueses e espanhóis começaram a aportar
no litoral sul. Esses navegantes procuravam, num
primeiro momento, uma passagem para as Índias,
até que em 1520 Fernão de Magalhães cruzou o
estreito que levaria seu nome, no extremo sul do
continente, e alcançou o objetivo de chegar às
Índias navegando para o ocidente. A partir da
descoberta de ouro e prata no Peru, o principal
objetivo desses europeus era chegar ao Império
Inca, e para isso a travessia do território do
Guairá era uma opção se não quisessem
contornar todo o sul até o Rio da Prata e subir o
rio Paraguai.
Dessa forma é que os navegadores
realizaram contato com os Guarani, e com eles
fizeram as primeiras trocas comerciais. Objetos
vindos da Europa, principalmente artefatos de
metais, foram trocados por comida, lenha, peles
de animais, pássaros e outras raridades de
interesse dos marujos. Também deixaram no
litoral os “desterrados”, ou “náufragos”. Nesse
momento pode-se constatar que relações entre
povos diferentes ocorreram em torno dessas
trocas, e o objetivo de descobrir se havia metais
preciosos na região aceleraram esses contatos.
Pelo lado dos portugueses e espanhóis, a busca
de metais, pedras preciosas e outras mercadorias
de valor a serem comercializadas na Europa; e
pelo lado dos indígenas, a possibilidade de
acessar ferramentas de metal e outros objetos
trazidos da Europa foram o motor dessas
52
relações interculturais, de populações
diferenciadas culturalmente, no Guiará.
Foram inúmeras as armadas e embarcações
vindas da Europa que passaram no litoral sul do
Brasil ou aí aportaram, nos primeiros 30 anos da
conquista.
Quadro 1: Embarcações vindas da Europa que
aportaram no sul do Brasil até 1535
D
ATA
VIAJA
NTE
A
RMAD
A
LOCAIS de
CHEGADA
DESEMBARQUE
DE TRIPULANTES
1
501/08/
17
Gonzal
o Coelho
Américo
Vespúcio
3
Caravel
as
Cananéia SP
Oceano
Atlântico 53º
Latitude. Sul altura
de Punta Arenas na
Patagônia
Em Cananéia
15/02/1502, G. Coelho
deixa um degredado
(Bacharel de Cananéia)
1
503/08/
10
Gonzal
o Coelho
Américo
Vespúcio,
João Lopes
de Carvalho e
João de
Lisboa –
Pilotos
6
Caravel
as
Bahia de
Todos os Santos
BA, até São
Vicente SP
Foram deixados 24
homens em uma fortaleza
em São Vicente, em São
Paulo, daí entraram 40
léguas terra adentro
1
504/01/
05
Binot
Paumier de
Gonneville
1
Navio
L’Espoi
r
Espera
nça
São
Francisco do Sul
SC,
Desembarcaram
nesse local onde
permaneceram seis meses:
de janeiro a julho de 1504,
vivendo com os Guarani do
cacique Arosca
1
514/07/
00
Estevã
o Frois e João
de Lisboa
2
Caravel
as
Cabo de
Santa Maria –Punta
del Leste Uruguai
Encontro com os
índios Charruas depois de
subirem 300 Km pelo Rio
da Prata
1
516/01/
00
Juan
Dias de Solis
2
Caravel
as
Cananeia,
Santa Catarina, Rio
da Prata
Solis e seus homens
foram mortos na
embocadura do rio Uruguai
no Rio da Prata, ficando
vivo Francisco Del Puerto,
um grumete de 14 anos
53
1
516/08/
00
Cristóv
ão Jaques
3
Naus
Cabo Frio,
Rio de Janeiro,
Santa Catarina
Jaques fora
nomeado guarda- costa do
Brasil, pelo Rei de Portugal.
Perseguiu os espanhóis e
franceses que aportaram
na costa brasileira
1
519/12/
13
Fernan
do de
Magalhães
4
Naus e
1
Caravel
a
Rio de
Janeiro, Rio da
Prata (1520/01/11)
Contornou o estreito
que levou seu nome na
Patagônia
1
521/00/
00
Cristóv
ão Jaques
2
Caravel
as
Santa
Catarina
Em SC recolheu
Melchior Ramires, um dos
náufragos da expedição de
Solis, e subiram 200 Km
acima no rio Prata, na Ilha
de São Gabriel, onde
encontrou Francisco Del
Puerto. Subiu o rio mais
140 Km, até onde hoje é a
cidade argentina de
Rosário
1
526/08/
00
Jofre
de Loyasa,
D.Rodrigo de
Acuña
Porto dos
Patos SC
Estavam
percorrendo a rota de
Magalhães, e por mau
tempo tiveram que voltar às
costas do Brasil
1
526/10/
31
Sebasti
ão Caboto
(Veneziano)
3
Naus
Santa
Catarina
Caboto encontrou
Henrique Montes, náufrago
de Solis, que lhe deu
noticias da expedição de
Aleixo Garcia ao Peru.
Caboto entrou no rio da
Prata, navegou os rios
Paraguai e o Paraná
1
528/05/
07
Diego
Garcia
1
Nau e 1
Galeão
São Vicente,
Cananéia(1528/01/
15),
Encontrou com
Caboto descendo o rio
Paraná. Seu destino era as
Ilhas Molucas na Ásia
1
531/01/
00
Martin
Afonso de
Souza
1
Galão,
2 Naus,
2
Caravel
as
Percorreu o
litoral sul do Brasil
até Punta Del
Leste, no Uruguai.
Pero Lopes subiu o
rio Paraná e na volta
estiveram na Baía de
Paranaguá
1 Pedro Percorreu o
54
535/00/
00
de Mendonça litoral sul do Brasil
e foi fundar a
cidade de Buenos
Aires
Quando os primeiros europeus começaram a
desembarcar no litoral sul do Brasil para
abastecer seus navios com água, lenha e
alimentos, ou foram deixados como desterrados
ou náufragos, eles tomaram conhecimento, por
meio dos Guarani, das enormes riquezas
existentes a oeste dos seus territórios. Em
conjunto com esses índios prepararam
expedições para irem até as terras onde existiam
ouro e prata em abundância. Começou então o
processo de desvendamento e conquista dos
territórios indígenas do interior do que seria mais
tarde o Estado do Paraná.
Do litoral os conquistadores subiram a Serra
do Mar em direção ao poente, rumo às minas de
prata na Cordilheira dos Andes. As primeiras
expedições, como a de Aleixo Garcia em 1522,
tiveram o objetivo de fazer o reconhecimento e
descobrir a origem do ouro encontrado com os
Carijós na costa de Santa Catarina.
Acompanhados de cerca de 2 mil Guarani, a
viagem demorou três anos. Partiu do litoral de
Santa Catarina, passou pelo interior do Paraná,
pelo Paraguai e pela Bolívia, até chegar ao Peru,
nas periferias do Império Inca; na volta, em 1526,
Garcia foi morto pelos Guarani na região da Foz
do Iguaçu. A história dessa expedição foi contada
e recontada na tradição oral dos Guarani até que
55
chegou aos ouvidos dos primeiros cronistas
espanhóis em Assunção, no Paraguai.19
Interessado em buscar riquezas no sertão,
Martim Afonso de Souza enviou de Cananeia, a
Francisco de Chaves e Pero Lobo juntamente
com 80 homens, rumo ao interior do Paraná, por
terra. Esses homens foram mortos pelos Guarani
em algum lugar entre Sete Quedas e Foz do
Iguaçu, provavelmente em 1531. Podem ter
seguido os mesmos caminhos percorridos por
Aleixo Garcia.
Dez anos depois, quando já havia sido criada a
cidade de Nossa Senhora de Assunção, a capital
do Paraguai, Dom Alvar Nuñez Cabeza de Vaca,
após várias aventuras na América do Norte, veio
tomar posse e comandar a província do Paraguai,
em nome do Rei da Espanha. Desembarcou na
ilha de Santa Catarina, e no final de 1541,
partindo da foz do rio Itapucu, rumou para
Assunção no Paraguai, aonde chegou quatro
meses depois, acompanhado por 250
arcabuzeiros e balesteiros. Durante a expedição
foi acompanhado por centenas de índios Guarani.
A cada novo território que ingressava a expedição
dispensava os acompanhantes do território
anterior, e mediante pagamentos em espécie
(machados, contas, etc.) integrava novos guias
para o percurso seguinte. Subiram a Serra do
Mar, alcançaram o rio Negro (na altura de Rio
Negrinho - SC) e desceram até a sua
desembocadura, no rio Iguaçu. Para contornar o
19 Cf. GUZMÁN, Ruy Diaz de. La Argentina. Emece, Buenos Aires, [s.n.,
]1998, p. 50-59.
56
território dos Kaingang20 tiveram de atravessar o
rio Iguaçu e se dirigiram a noroeste em direção às
cabeceiras do rio Tibagi. Nas proximidades da foz
do rio Iapó no Tibagi, na atual cidade de Tibagi, a
expedição dirigiu-se para oeste até chegar ao rio
Ivaí. Dali Cabeza de Vaca rumou para o
sudoeste, atravessando o rio Piquiri até alcançar
o rio Iguaçu, a poucos quilômetros de sua foz, de
onde seguiram até Assunção.
O relato de Alvar Nunez Cabeza de Vaca é
importante na medida em que descreve, ao longo
de sua expedição, o contato e a entrada em
territórios pertencentes a diferentes grupos
Guarani, e desvia no seu trajeto dos territórios
Kaingang em Guarapuava e Palmas. Esse foi o
primeiro documento a informar que quase todo o
interior do Paraná estava habitado e, ao mesmo
tempo, a mostrar que havia uma divisão política
entre esses diversos grupos de mesma matriz
cultural, organizados politicamente em
cacicados.21 E ainda que indiretamente, devido à
imensa volta que a expedição fez não seguindo o
vale do rio Iguaçu, isso nos dá uma noção da
extensão do território dominado pelos Kaingang
nos Koran-bang-rê (Campos de Guarapuava).
20. O Barão de Capanema sustenta que Cabeça de Vaca deu uma volta de
mais de 80 léguas, evitando seguir diretamente pelas margens do rio Iguaçu ou pelos
campos de Guarapuava ao norte, e os campos de Palmas ao sul desse rio, porque esses
eram territórios ocupados por índios ferozes, mais valentes que os guaranis. Cf.
CAPANEMA. Questões a estudar em relação aos princípios da nossa história. RIHGB,
52(1):499-509. Cabeza de Vaca evitou transitar pelos territórios dos Kaingang, por isso
desviou-se dos Koran-bang-rê (campos de Guarapuava) e dos Kreie-bang-rê (campos de
Palmas) e seguiu o caminho indicado pelos Guarani ao norte. 21 Conjunto de aldeias sob a liderança de um prestigioso cacique, que
dominava certas porções de territórios bem definidos.
57
Rota aproximada da expedição de Dom Alvar Alvar Núñez Cabeza de Vaca - 1541
Laboratório de Arqueologia, Etnologia e Etno-HistóriaUniversidade Estadual de Maringá
Denominação: Data:
Fevereiro de 2011
Fontes:
Autores: Éder da Silva Novak; Everson Cézar; Juliano Martins da SilvaMarcelo Luiz Chicati; Marcos Rafael Nanni; Lúcio Tadeu Mota
Cartas Topográficas do Estado do Paraná
Programa Interdisciplinar de Estudos de Populações
Rio Paranapanema
Rio
Tibagi
IvaíRio
Piquiri
Iguaçu
Rio
Rio
Paraná
Rio
Rio Itapocú SC
P/ Assunção
Rios
Rota da Expedição deCabeza de Vaca
Rota da Expedição deCabeza de Vaca - 1541 Relatos do Cabeza
de Vaca
Figura 2: Rota aproximada da expedição de Dom Alvar Alvar Núñez Cabeza de Vaca - 1541
Os contatos entre europeus e indígenas no
litoral do Paraná também foram registrados por
Hans Staden. Viajando em direção ao Rio da
Prata na expedição do adelantado Diego de
Sanabria, sob o comando de Juan de Salazar, ele
naufragou em 1550 na baia de Paranaguá, no
porto de Superagui.
Staden foi um dos que primeiro escreveu
sobre o litoral do Paraná e sua população, como
podemos conferir em: Duas viagens ao Brasil.
Relata que ele e sua expedição, depois das
manobras e dos perigos que tiveram que
enfrentar numa noite de tempestade,
conseguiram aportar em algum lugar da Baía de
Paranaguá, onde encontraram degradados
portugueses vivendo com os índios Tupiniquins.
Vejamos:
58
[...] nos disseram que o porto onde estávamos era Supraway, que estávamos a 18 léguas de uma ilha chamada S. Vicente, [...] La moravam eles e aqueles outros que tínhamos visto no barco pequeno a fugirem por pensarem que eramos franceses. Perguntamos também a que distância ficava a ilha de Santa Catarina, para onde queríamos ir. Responderam que podia ser umas trinta milhas para o Sul e que lá havia uma tribo de selvagens chamados Carios e que tivéssemos cautela com eles. Os selvagens do porto onde estávamos chamavam-se Tuppin Ikins (STADEN, 2000, p. 38-39).22
Dessa forma, os dois portugueses que
viviam com os índios na Baia de Paranaguá
informaram que o lugar se chamava Supraway
(Superagui), e que os índios que ali viviam eram
os Tuppin Ikins (Tuniquim), que dominavam a
costa de Paranaguá até São Vicente e eram
aliados dos portugueses. Informaram também
que ao sul de Superagui encontravam-se os
Carios (Guarani), inimigos dos Tupiniquim.
22 Cf. STADEM, Hans. Duas viagens ao Brasil. São Paulo: Beca, 2000. p.
38-39
59
Figura 3: Superagui – Xilogravura de Hans Staden
Fonte: (STADEM, 2000, p 38).
Em 1544, Domingos Martínez de Irala, então
governador do Paraguai, saiu de Assunção e veio
ao Guairá apresar índios para as encomiendas.
Fundou a cidade de Ontiveros junto ao rio
Paraná, pouco acima da foz do Iguaçu. No início
da década seguinte, em 1551, Diego de Sanabria
viajou pelo mesmo itinerário de Cabeza de Vaca.
60
Ainda nesse ano, Cristoval de Saavedra
atravessou a região indo do Paraguai até o porto
de São Vicente, em São Paulo. No ano seguinte,
Hernando de Salaza também fez o mesmo
roteiro, de Assunção no Paraguai até o porto de
São Vicente, em São Paulo. Esse também foi o
roteiro percorrido por Ulrich Schmidl, no mesmo
ano. Ele partiu de Assunção em 1552,
acompanhado de 20 índios Guarani, com destino
ao porto de Santos, aonde chegou em 1553.
Ruy Dias Melgarejo, em 1553/1554, percorreu
duas vezes o interior do Paraná, desde Ontiveros
até São Vicente, e regressou em 1555, partindo
do litoral, em Santa Catarina, e seguindo o
mesmo roteiro de Cabeza de Vaca, pois ele havia
participado em 1541 da expedição de Don Alvar
Nunez. Melgarejo teve um destacado papel entre
os conquistadores espanhóis no interior do
Paraná, pois conduziu a fundação de Ciudad Real
del Guairá (foz do rio Piquiri, município de Terra
Roxa) e participou da segunda fundação de Villa
Rica del Spiritu Sancto, junto à foz do rio
Corumbataí, município de Fênix, hoje Parque
Estadual de Vila Rica do Espírito Santo23.
O ano de 1555 foi marcado por várias
ocorrências nesses territórios. Francisco de
Gambarrota veio do Paraguai até o porto de São
Vicente, em São Paulo. Nuflo Chaves saiu de
Assunção para combater e apresar índios no
Guairá, e Juan de Salazar e Cipriano de Góes
fizeram o caminho inverso, partindo de São
Vicente para o Paraguai.
23. FRANCO, Francisco de Assis Carvalho. Dicionário de bandeirantes e
sertanistas do Brasil. [S.l.: s.n.],, 1954. p. 241.
61
No ano de 1588 os padres Manuel Ortega e
Thomas Fields percorreram o Guairá fazendo
trabalho missionário. A expedição dos padres
coletou informações sobre a região, e os dados
foram passados ao governador de Assunção,
relatando sobre a existência de “milhares de
índios Guarani” vivendo ali (MOTA, 2005,p. 25).
Como se viu, todos os viajantes informaram
sobre a existência de numerosos índios no
território, inclusive de grupos distintos –
Kaingang, além dos Guarani, que predominavam
na região. Os contatos muitas vezes resultaram
em lutas e morte, tanto de portugueses quanto de
espanhóis, pelos índios, mas também em
conquista e desagregação dos indígenas, por
meio dos europeus. Praticamente nada ocorreu
de forma pacífica, havendo resistência por parte
dos indígenas.
Nesse contexto é que os espanhóis
procuraram dominar e estabelecer-se cada vez
mais para o ocidente do Paraná, para defender as
terras segundo o Tratado de Tordesilhas de 1494.
Nessa região eles fundaram Ontiveros, perto da
foz do Piquiri (1544); Ciudad Real del Guairá, na
confluência do Piquiri, no Paraná (1555), e Vila
Rica del Espiritu Santu, em 1576, que foi
transferida para perto da foz do rio Corumbataí,
hoje no município de Fênix (Parque Estadual de
Vila Rica do Espírito Santo)
As relações entre os espanhóis nas recém-
fundadas vilas e os Guarani, que eram
numerosos, não eram boas, pois os indígenas
foram obrigados ao trabalho nas encomiendas, o
que provocou diversas formas de resistências.
62
Essas resistências e a fuga para locais distantes
das vilas espanholas levou parte dos
conquistadores, no caso os religiosos, a traçarem
uma nova estratégia para a conquista das almas
dos indígenas. Essa nova estratégia foi a
organização das reduções jesuíticas como forma
de catequizá-los.
• Caminhos
Certamente pode-se ainda falar sobre as
relações ou os encontros de indígenas com os
europeus, na região do Guairá, no período que
vai até a destruição das reduções jesuíticas,
considerando-se que a comunicação dentro dos
territórios realizava-se por meio de diversos
caminhos, os quais foram percorridos pelos
viajantes, exploradores europeus, desde o início
do século XVI: ligavam o litoral ao planalto, mas
também havia rotas terrestres que se estendiam
do Rio Grande do Sul, por Santa Catarina, até os
territórios do Paraná e de São Paulo.
Assim como os espanhóis e os jesuítas, os
bandeirantes paulistas também transitaram
intensamente na região, e com toda a certeza
pelos caminhos e pelas trilhas construídos pelos
índios. As penetrações pelo território foram feitas
pelos vales dos grandes rios (Iguaçu, Tibagi, Ivaí,
etc.). As vias de comunicação, chamadas de
“caminhos históricos” eram de condições de difícil
trânsito, mas é por onde também passaram, num
período posterior, tropas de gado bovino e muar.
Esses caminhos tiveram muita importância na
ocupação dos territórios do atual Paraná. Alguns
63
deles ficaram conhecidos como Caminho do
Peabiru, de Cubatão, do Itupava e do Arraial, de
Sorocaba e Viamão. Este último teve grande
importância na formação de diversas cidades do
Paraná Velho, indo ele do Rio Grande do Sul até
Sorocaba, atravessando o Paraná.
Quadro 2. Viajantes e conquistadores que
cruzaram os territórios indígenas, hoje
denominados Paraná, no século XVI e
inicio do XVII
A
no de
entrada
Destino da
Entrada ou Bandeira
Chefe da
Bandeira
15
25 Viagem ao Peru Aleixo Garcia
15
26 Paraguai
Jose
Sedenho
15
28 Rio da Prata Diogo Garcia
15
31 Paraguai
Francisco de
Chaves e Pero
Lobo
15
34 Paraguai
Antonio
Lopes de Aguiar,
Martim de Orue
15
38 Rio da Prata
Gonçalo
Mendonça
15
41
Paraguai/Assumpç
ão
Alvaro Nunez
Cabeza de Vaca
15
44 Guairá
Domingos
Martinez de Irala
15
51
Paraguai/Assunçã
o
Diego de
Senabria
15
51
Paraguai para São
Vicente
Cristoval de
Saavedra
64
15
52 Assunção
Nuflo de
Chaves
15
52
Paraguai para São
Vicente
Hernando de
Salazar
15
52
Paraguai para São
Vicente
Ulrich
Schmidl
15
54
Ontiveros para
São Vicente
Ruy Dias
Melgarejo
15
55
Assunção para o
Guairá
Nuflo de
Chavez
15
55
Assunção para o
Guairá
Rodrigo de
Vergara
15
55 Paraguai
João de
Salazar e Espinosa
15
55
Paraguai para São
Vicente
Francisco de
Gambarota
15
55
São Francisco SC
para Assunção
Ruy Dias
Melgarejo
15
56
São Vicente para
o Paraguai
Juan de
Salazar e Cipriano
de Goes
15
57
Ciudad Real del
Guairá
Ruy Dias de
Melgarejo
15
76
Cidade Real do
Guairá para Vila Rica
do Espírito Santo
Ruy Dias
Melgarejo
15
81 Guairá
Jerônimo
Leitão
15
85
São Vicente para
Paranaguá
Jerônimo
Leitão
15
88 Guairá
Padres
jesuítas Ortega e
Fields
15
94
São Vicente
Paranaguá Jorge Correia
15
95 Paranaguá
Manoel
Soeiro
65
16
01 Guairá
Hernando
Arias de Savaedra
16
02
São Paulo para o
Guairá
Nicolau
Barreto
16
07
São Paulo para o
Guairá Manoel Preto
16
07
Paraguai via
Paraná
Pedro Franco
de Torres
16
11 Guairá
Pedro Vaz de
Barros
16
15 Santa Catarina
Lázaro da
Costa
16
16
São Paulo para o
Paraguai
Antonio
Fernandes
16
23
São Paulo para o
Guairá
Henrique da
Cunha Gago
16
23
São Paulo para o
Guairá
Manuel e
Sebastião Preto
16
28
São Paulo para o
Guairá
Antonio Luis
Grou
16
28
São Paulo para o
Guairá
Antonio
Raposo Tavares
16
28
São Paulo para o
Guairá
Nicolau
Barreto
16
31
São Paulo para o
Guairá
Antonio
Raposo Tavares
16
31
São Paulo para o
Guairá
Cristóvão
Diniz
16
48
São Paulo para o
Guairá
Antonio
Domingues
16
48
São Paulo para o
Guairá
Antonio
Raposo Tavares
Fonte: Adaptado de JACOMINI, 2003.
2.2 AS REDUÇÕES JEDUÍSTICAS NO
GUAIRÁ
66
A atuação dos jesuítas no Guairá iniciou bem
antes da fundação das reduções. Os documentos
da Coleção de Angelis, de jesuítas e bandeirantes
no Guairá, compõem-se de várias cartas,
informes e outros documentos que dão conta de
todo esse trabalho. Os documentos tratam da
doação de terras para a Companhia de Jesus na
região, feita pelo governo do Paraguai; sobre as
encomiendas de índios também dessa região aos
espanhóis conquistadores; e incluem toda
espécie de documentos relativos ao apoio que se
deveria dar aos padres para o início das
reduções.
Um desses documentos, por exemplo, diz
respeito a uma ordem do governador do Paraguai
e Rio da Prata, D. Antonio de Añasco, para que
em Ciudad Real se dessem apoio aos padres a
fim de que fundassem reduções no rio
Paranapanema e no Tibagi. É um documento da
referida Coleção em que é possível se entender
que os padres receberam apoio para tal
empreendimento, e também que era do interesse
dos espanhóis que os indígenas estivessem
reduzidos, evangelizados e civilizados. O
documento é do ano de 1609. As primeiras
reduções do Guairá foram organizadas em 1610,
como se lê:
[...] Por el presente mando al cap. Pero garçia y outra qualquer Justiçia de guayra, que en ninguna manera precisa asta que outra cosa se ordene y mande, no salgan ni embien a hacer malocas
67
Jornadas ni entrada ninguna a la Provª del yparanapane y Atibaxiva, ni outro ningun rio que cayga en el paranapane, porquanto de presente se pretende reduçir a los naturalles della por médio del Padre Joseph Cataldino y el P. Simon Maseta de la compañia del nombre de Jesus a quien les esta cometida la dha reduçion, antes para Ella les acudiran y haran acudir con todo el favor y ayuda que fuere neccessº [...] (CORTESÃO, 1951, p. 137.24
Assim, Nossa Senhora do Loreto e Santo
Inácio, nas margens do rio Paranapanema, foram
as primeiras reduções jesuíticas fundadas no
Guairá, e após elas mais 12 outras se
organizaram, nos vales dos rios Paraná, Iguaçu,
Piquiri, Ivaí, e Tibagi.
As reduções de São José, São Francisco
Xavier, Encarnación e São Miguel localizaram-se
no Vale do Rio Tibagi. Nas margens do Rio Ivaí
localizavam-se as reduções de Jesus Maria,
Santo Antônio e São Paulo. São Tomás e Sete
Arcanjos estavam nas terras do cacique Taioba
(Cortesão, 1951, p. 245). Nas cabeceiras do Rio
Piquiri, as de São Pedro e Concepção. E
finalmente, no médio Piquiri, a redução de Nossa
Senhora de Copacabana, totalizando as 14
reduções conhecidas, fundadas na região do
Guairá.
24 . CORTESÃO, Jaime. Jesuítas e bandeirantes no Guairá. Rio de
Janeiro: Biblioteca Nacional, 1951. p. 137.
68
Figur
a 12
: As
Redu
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Luiz
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ira
Figura 4: Mapa do Paraná com as reduções jesuíticas
Fonte: Adaptado de MOTA; NOVAK, 2008
O padre Antonio Ruiz de Montoya informa o
significado do termo redução:
Chamamos reduções aos povos de índios que vivendo à sua antiga usança nos montes, foram reduzidos pelas diligências dos padres a povoações grandes e à vida política e humana (MONTOYA, 1639, p. 6).
69
O ato de reduzir os indígenas em povoados
tinha o objetivo de ensinar a doutrina católica e
promover a civilização, como pretendia a
Companhia de Jesus.
Capdeville (1923, p. 19) diz:
Se entiende por Misiones Jesuiticas, los establecimientos fundados por los jesuítas em América para la civilización y la formación cristana de los índios [...]. Se las há llamado también Reducciones, porque mediante um sistema particular, trataron los Jesuitas de hacer pasar a los índios de la vida salvaje de los bosques a la vida Cristiana de la comunidad.
É preciso anotar, também, que os conceitos
de missões, reduções e doutrinas foram usados
para designar as povoações de indígenas sob o
governo teocrático dos jesuítas.
A organização das reduções não foi bem-
vista nem pelos fazendeiros espanhóis instalados
no Guairá nem pelos paulistas da recém- fundada
São Paulo de Piratininga. Estes últimos já faziam
incursões no Guairá para prear índios desde o
inicio do século XVII. No limiar dos anos
seiscentos os portugueses chegaram à região em
busca do seu butim: escravos indígenas para o
trabalho nas fazendas paulistas, metais preciosos
e outras riquezas25. Porém, desde a fundação de
São Vicente eles já preavam os Guarani do litoral
e da encosta das serras paranaenses.
25. Sobre a preação de índios na região para o trabalho escravo em São Paulo, ver o
livro de MONTEIRO, John M. Negros da terra. São Paulo: Cia das Letras, 1994.
70
Em 1602 Nicolau Barreto desceu o rio Paraná,
passando pelo Guairá rumo às minas de Potosi,
no Peru. Em 1607 foi a vez de Pedro Franco de
Torres atravessar a região rumo ao Paraguai para
fazer o roteiro já conhecido desde meados do
século XVI. Nesse mesmo ano Manuel Preto, um
dos maiores preadores de índios da época, dirigiu
uma bandeira para o aprisionamento dos índios
Guarani nas proximidades da cidade espanhola
de Vila Rica do Espírito Santo. Procurando
medidas estratégicas para conter as investidas
dos bandeirantes paulistas contra o “seu” butim, o
Rei da Espanha criou a Província del Guairá em
1608, que abarcava praticamente quase todo o
Paraná.
Ignorando as medidas protecionistas da coroa
espanhola, Manuel Preto, acompanhado pelo
temido Raposo Tavares, voltou ao Guairá em
busca de mais índios nos anos de 1611, 1618,
1623 e 1628. Seu fim foi a morte por ferimentos
de flechas em plena campanha de
aprisionamento de índios no sul do Brasil
(AZEVEDO, 1983).26.
As primeiras décadas do século XVII foram
marcadas por uma intensificação das ações dos
europeus no Guairá. De um lado houve os
choques entre os índios Guarani e os
encomendeiros espanhóis, que os exploravam no
trabalho semiescravo da coleta da erva-mate. Os
padres jesuítas, em sua pregação religiosa,
tentavam inculcar os valores da sociedade
invasora junto às populações indígenas
26 . Cf. AZEVEDO, Victor de. Manuel Preto “O herói de Guairá”. São Paulo:
Governo do Estado de São Paulo, 1983.
71
existentes na região. Contrariando os interesses
dos encomendeiros espanhóis e dos padres da
Companhia de Jesus vieram os paulistas, com a
intenção de buscar seu butim.
De uma perspectiva oposta, os índios faziam
uma leitura própria da conjuntura, resultando
eventualmente em alianças, acordos e guerras, o
que torna complexo o entendimento sobre os
fatos ocorridos nas relações deles com os
invasores de seus territórios. Disso resulta que a
análise histórica da ocupação da região não pode
ser dicotômica: índios contra brancos ou vice-
versa. Devem-se considerar os grupos
conquistadores europeus e seus interesses
localizados, bem como os Guarani e os Kaingang,
que eram inimigos mas que, estrategicamente,
estabeleceram alianças entre si. Alianças
explícitas ou não, o fato de que em determinados
momentos um grupo indígena podia procurar as
reduções, mesmo sendo refratário à pregação
missionária, pode significar apenas uma tática
política momentânea para se livrar dos invasores
paulistas ou do trabalho escravo nas
encomiendas espanholas.
Destruídas as reduções jesuíticas, as
populações indígenas se dispersaram: parte foi
para o sul junto com os padres fundar os sete
povos das missões no Rio Grande do Sul, e outra
parte voltou a ocupar seus antigos territórios. Mas
a região não deixou de ser um atrativo para os
paulistas tentarem aumentar seu butim. A partir
de 1651, Fernão Dias Paes Leme ficou por três
anos na região da Serra da Apucarana e
submeteu os caciques da nação Guaianá,
72
ancestrais dos Kaingang, levando-os prisioneiros
para São Paulo, com todo o seu povo. Pedro
Taques, na Nobiliarquia Paulistana, relata essa
expedição:
Penetrou Fernão Dias Paes o sertão do sul até o centro da serra de Apucarana, no reino dos índios da nação Guyanãa, pelos annos de 1651; nelle existiu alguns annos, tendo estabelecido arraial com o troço das suas armas, para vencer a reducção daquelle reino, que se dividia em três differentes reis. [...] Poz-se em marcha o grande corpo daquelles reinos e todos seguiam gostosos esta transmigração debaixo do commando inteiramente do seu conquistador e amigo Fernão Dias (TAUNAY, 1955, p. 167).27
Esse fato ainda requer estudos mais
aprofundados, pois certamente os índios não
“seguiram gostosos” o “amigo” Fernão Dias. O
paulista invasor teve de permanecer vários anos
na região, estabelecendo um arraial,
provavelmente um local fortificado, nos moldes do
construído em 1628 por Raposo Tavares para
conter o ataque dos índios. Taques fala em cerco
imposto por Fernão Dias às plantações desses
índios. Também fala de três caciques, Tombu,
Sondá e Gravitay. Este ultimo morreu antes da
partida para São Paulo; Sondá morreu na marcha
(podemos sugerir a hipótese de que teria havido
uma resistência desses caciques em seguir o
27. Cf. TAUNAY, Affonso de E. A grande vida de Fernão Dias Pais. São Paulo: [J.
Olympio], 1955. p. 167.
73
bandeirante). Apenas o primeiro, Tombu, chegou
a Santana do Paraíba, em São Paulo, onde
morreu alguns anos depois.
2.3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os territórios do Guairá, atual Paraná,
estiveram, desde pelo menos 7 a 8 mil anos
atrás, ocupados por diversos grupos indígenas.
No início do século XVI os europeus, ao
aportarem na região, iniciaram contatos com os
indígenas, na maior parte das vezes, com o
objetivo de subjugá-los. Por isso, para estudar a
ocupação territorial paranaense é necessário
buscar elementos etno-históricos que permitam
entender essas populações como vivendo de
forma dinâmica, produzindo cultura, as quais não
podem ser tratadas como integrantes da história
da região apenas após a chegada dos europeus.
O que se pode confirmar é que relatos dos
próprios viajantes, exploradores, missionários e
outros que por ali passaram comprovam que o
território era densamente habitado por milhares
de indígenas, perfeitamente organizados cultural
e politicamente, que mantiveram contatos com os
europeus desde o início do século XVI.
Os registros mostram que, após diversas
tentativas de manter sua liberdade e seu modo de
vida, os indígenas procuraram fazer alianças com
os europeus ou fugiram, por exemplo, do domínio
espanhol, que os obrigavam às encomiendas.
Outras vezes empreenderam sangrentas guerras,
74
e embora fossem quase sempre em maior
número acabaram sendo subjugados,
escravizados, mortos ou segregados. Por seu
lado, os europeus também tiveram sua parcela de
dificuldades. As entradas para o interior dos
territórios exigiram deles grandes esforços para
chegar ao seu objetivo, que foi, sempre, alcançar
as riquezas que sabiam ou imaginavam que
houvesse no interior da América. Nesse caso, o
Paraná atual foi território que os europeus
atravessaram, partilharam e exploraram para
conseguir seus objetivos As fontes revelam que
os europeus penetraram no território e que as
perdas foram enormes, principalmente para as
populações primitivas.
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ATIVIDADES
1) A discussão em relação à ocupação e à exploração das novas terras destaca como fator importante a ideia de que a terra era despovoada. Tais questões são confrontadas pela historiografia recente. Discuta esse posicionamento conforme aponta o texto. Para isso, utilize também fontes indicadas na bibliografia.
2) Elabore um texto-comentário sobre as primeiras expedições que passaram pelo sul do Brasil, utilizando os dados descritos no quadro 1, p. 5 e 6.
3) Utilizando a leitura do texto aponte, de forma sintética, os interesses dos bandeirantes paulistas, dos padres jesuítas e dos índios em relação à expansão colonial pelo sul do Brasil.
4) Aponte, com base no texto, quais foram as cidades espanholas fundadas no Guairá, a região em que se localizaram seus fundadores, o período em que foram fundadas, e sua importância para os espanhóis.
5) Destaque a importância da fundação das cidades espanholas no Guairá para a expansão e a colonização espanhola na região. Aponte os interesses em relação ao
80
território, às populações indígenas e aos portugueses.
CAPITULO III. A FORMAÇÃO DO
PARANÁ: DO POVOAMENTO DO LITORAL À
EMANCIPAÇÃO DA 5ª COMARCA
Lúcio Tadeu Mota
3.1 O POVOAMENTO DO LITORAL E AS
ORIGENS DE CURITIBA
Desde os primeiros anos de 1500 os
europeus aportaram na região, e nessa época a
baía de Paranaguá já era conhecida dos
navegantes. Ocupada primeiramente pelas
populações construtoras dos sambaquis, em
1500 ela era habitat dos Tupiniquins, que
disputavam esses territórios com os Guarani,
então chamados de Carijós. O grande estuário foi
denominado de Paranaguá, que em Tupi, Paraná-
guá, significa algo como “seio do mar”, ou “grande
mar redondo”.
81
Uma das primeiras informações que temos da
região é o mapa feito por Hans Staden, quando
ele aqui esteve junto com Martim Afonso de
Sousa e seu irmão Pero Lopes de Souza, em
1534, por ocasião da posse de suas capitanias
hereditárias no sul do Brasil. Pelas informações
de Hans Staden ali já viviam, em meio aos
Tupiniquins, dois portugueses.
Eram mais ou menos duas horas da
tarde, quando deitamos âncora. De
tarde, veio uma grande embarcação
com selvagens, que queriam falar
conosco. Nenhum de nós, porém,
entendia a língua deles. Demos-lhes
algumas facas e anzóis, com que
voltaram. Na mesma noite, veio uma
embarcação cheia, na qual estavam
dois portugueses (STADEM, 2000, p.
38).28
Podemos inferir a presença de europeus na
região da baía de Paranaguá desde os primeiros
momentos de sua chegada no continente. Mas a
região passou a ser frequentada com mais
assiduidade por faiscadores de ouro e preadores
de índios vindos de São Vicente, no litoral
paulista, desde 1554. Foram várias as bandeiras
que percorreram o litoral do Paraná com esses
objetivos. Em 1585 Jerônimo Leitão, em 1594
Jorge Coréia, em 1595 Manoel Soeiro, e em 1617
foi a vez da bandeira de Antonio Pedroso, até que
foi descoberto ouro nos ribeirões da região. Teve
28 Cf. STADEM, Hans. Duas viagens ao Brasil. São Paulo: Beca, 2000. p.
38.
82
inicio então o povoamento definitivo, com a
fundação das primeiras vilas do litoral.
83
Figura 1: Extrato do Mapa. Demonstração do
Pernagua e Cananeia. Livro de toda a costa da
província de Santa Cruz feito por João Teixeira
Albbernaz, Anno D. 1666.
Fonte: Mapoteca do Ministério das
Relações Exteriores (654).
� Paranaguá
A primeira sesmaria, requerida por Diego de
Unhate em 1614, abrangia vastos territórios no rio
Superagui. Anos mais tarde Gabriel de Lara
fundou uma povoação na ilha da Cotinga, depois
transferida para o continente. Em seis de janeiro
de 1646 foi levantado o Pelourinho, e em junho
de 1648 ocorreu a primeira eleição para a
Câmara Municipal de Paranaguá. As
possibilidades de gerar riquezas, com o garimpo
de ouro nos riachos da serra e do planalto,
aumentaram a importância da região diante da
coroa. Tanto que em 1660 Gabriel de Lara foi
nomeado capitão-mor da Capitania de Nossa
Senhora do Rosário de Paranaguá. Ela existiu até
1709, mas a partir de 1711, com a diminuição das
atividades do faiscamento do ouro, perdeu o
status de capitania e foi integrada à Capitania de
São Paulo, como a Quinta Comarca de
Paranaguá e Curitiba (WACHOWICZ, 1988, p.
39-51).29
� Antonina
29 Para maiores detalhes sobre o assunto ver: WACHOWICZ, Ruy. História do
Paraná., Curitiba: G. Vicentina, 1988. p. 39-51. Cap. 3.
84
Como as outras vilas do litoral, Antonina
também surgiu em decorrência da presença de
faiscadores de ouro na região. No entanto, a
fundação da povoação só ocorreu no século
XVIII, em 1714, com a construção da capela de
Nossa Senhora do Pilar da Graciosa. Somente
muito mais tarde, em 1797, é que ela foi elevada
a vila, com a denominação de Antonina, em
homenagem ao Príncipe D. Antonio, primeiro filho
do Rei Dom João VI e de Dona Carlota Joaquina.
� Morretes
Situada às margens do rio Nhundiaquara, local
de passagem dos faiscadores de ouro que
subiam a serra, Morretes foi fundada por
determinação do ouvidor Rafael Pires Pardinho,
em 1721. Anos depois, em 1769, a população
teve permissão para erguer a capela de Nossa
Senhora do Porto e Menino Deus dos três
Morretes, e somente no século seguinte, em
1841, Morretes foi desmembrado de Antonina e
elevado a município.
� Guaratuba
Os historiadores dão como data provável da
fundação da povoação de Guaratuba, por Gabriel
de Lara, o ano de 1656. Um século depois ela foi
inserida na política de defesa do litoral sul do
Brasil pelo então governador da Capitania de São
Paulo, D. Luiz A. de Souza, o Morgado de
Mateus. Este enviou para a região o tenente-
coronel Afonso Botelho com a missão de
incrementar a ocupação de região e construir
fortes para defesa do litoral.
85
� Curitiba
Na primeira metade do século XVII os
faiscadores de ouro já tinham chegado ao
primeiro planalto paranaense e exploravam seus
riachos e ribeirões em busca do metal precioso. O
local era habitado pelos índios Guarani, que
exploravam os imensos pinheirais da região, e
com certeza mantinham relações sociais e
comerciais com os habitantes não-índios do litoral
e com os mineradores de ouro já algum tempo
antes da elevação do Pelourinho, em 1668, por
Gabriel de Lara. Com o crescimento da
povoação, no final de século XVII foram eleitas as
autoridades locais com a constituição da Câmara
Municipal em 1693, data da fundação da cidade.
3.2 A OCUPAÇÃO DOS CAMPOS
GERAIS: AS FAZENDAS DE CRIAR E O
CAMINHO DO VIAMÃO
Os campos Gerais, situados no segundo
planalto paranaense, começaram a ser povoados
por fazendeiros de São Paulo, Santos, Paranaguá
e pelos estabelecidos nos campos de Curitiba, no
início do século XVIII, quando foi descoberto ouro
em Minas Gerais e se criou uma forte demanda
por animais cavalares e muares, criados em
abundância nos campos do sul do Brasil e no
Uruguai. Essa demanda e essa possibilidade de
negócios fizeram com que as famílias abastadas
de São Paulo requeressem enormes sesmarias
na região e para ali enviassem parentes ou
86
capatazes para estabelecerem fazendas de criar
gado. Com o inicio das atividades do tropeirismo,
que consistia em comprar animais nos campos de
Vacaria, no Rio Grande do Sul, e vendê-los em
Sorocaba, em São Paulo, começaram a surgir as
povoações ao longo dessa rota.
Essas povoações, que no inicio eram locais de
pouso e descanso dos tropeiros, passaram a
aglutinar pequenos artesãos e pequenos
comerciantes, e logo se transformaram em vilas e
cidades, como Ponta Grossa, Castro, Lapa e
muitas outras. Assim é que ocorreu a ocupação
dos vastos campos naturais do segundo planalto
do Paraná: enormes sesmarias em torno da rota
Sorocaba – Vacaria.
A sociedade estabelecida nos Campos Gerais
se caracterizou por ser uma sociedade
constituída de famílias patriarcais, que iam além
da família nuclear. Abrigavam em seu seio
agregados e homens pobres livres, protegidos
dos grandes proprietários por ser uma sociedade
sustentada no trabalho escravo, com a
característica de que esse trabalho típico de
escravos – a lida com o gado em campos abertos
– requeresse que andassem armados para
protegerem, a si e ao gado do seu senhor, dos
índios e dos animais predadores. Tratava-se de
uma sociedade assentada na grande
propriedade, ou seja, nas grandes sesmarias de
criação de gado bovino, muar e cavalar.
87
3.3 A DESCOBERTA DE OURO E
DIAMANTES, AS EXPEDIÇÕES MILITARES E A
IMPLANTAÇÃOA DAS FAZENDAS NO VALE DO
RIO TIBAGI,NOS SÉCULOS XVIII E XIX
A serra de Apucarana e o vale do Tibagi
continuaram sendo atrativos para os aventureiros
e uma esperança de riquezas. Esses aventureiros
deram continuidade aos bandeirantes do século
XVII. Em meados do século XVIII, Francisco Tosi
Colombina apresentou aos governantes um plano
de ocupação dos territórios do rio Tibagi, que no
seu entendimento eram ricos em ouro e
diamantes. E qual era o seu plano?
E para senhorearse com facilidade dessas terras do Tabagy que agora estão ocupadas do numeroso Gentio Guayanã, [...] um dos melhores meyos hé transportar huns Casaes dos indios mansos, que se achaão nas aldeas de São Paulo, e lá Aldealos (COLOMBINA, 1974, p. 33).30.
O plano de Colombina não foi levado adiante,
mas foram descobertos ouro e diamantes em
Pedras Brancas, a sudoeste da atual cidade de
Tibagi, por Ângelo Pedroso e Frei Bento de Santo
Ângelo31. Essas descobertas causaram a disputa
das terras das minas do Tibagi por poderosos
donos de lavras de Minas Gerais e autoridades
de Paranaguá. Em 1757 o Ouvidor de Paranaguá
30. Cf. COLOMBINA, Francisco Tosi. Descobrimento das terras do Tibagi. Maringá:
UEM,, 1974. p. 33. [1753]. 31. Cf. MERCER, Edmundo; MERCER, Luiz L. História do Tibagi. Curitiba: Prefeitura
Municipal de Tibagi, 1977. p. 23.
88
enviou uma bandeira de 200 soldados para
Pedras Brancas com a finalidade de submeter os
posseiros. Enviada pela Câmara de Curitiba para
vigiar os garimpos de Pedras Brancas, essa
guarda ficou acantonada, no registro de Nossa
Senhora do Carmo, na foz do rio Capivari, junto
ao rio Tibagi, até 1765. Nessa área foi instalado o
forte militar de Nossa Senhora do Carmo.
Ainda no século XVIII os vales do Tibagi e do
Ivaí foram marcados pela passagem das
expedições militares de Morgado de Mateus,
governador de São Paulo, com destino ao Forte
Militar de Iguatemi, no Mato Grosso. Entre os
anos de 1769 e 1774, várias expedições partiram
do Porto de São Bento, no Tibagi, com destino ao
rio Ivaí, e daí para o Mato Grosso32. Conforme
Edmundo Mercer, o Porto de São Bento foi uma
antiga fazenda situada à margem esquerda do
Tibagi, 4 léguas acima da cidade do mesmo
nome. Esse porto foi estratégico para as
expedições que iam para o forte de Iguatemi, no
Mato Grosso
Em março de 1771 a terceira expedição da
campanha de Afonso Botelho, comandada pelo
capitão Francisco Lopes da Silva, desceu o rio
Ivaí até as ruínas de Vila Rica do Espírito Santo,
abandonada pelos espanhóis devido aos ataques
bandeirantes em 1632: alí mandou o capitão
botar roças e principiou o seu estabelecimento
32 . Para maiores detalhes sobre a campanha do Morgado de Mateus no Paraná e
Mato Grosso ver: BOTELHO, Afonso. Noticia da conquista e descobrimento
dos sertões do Tibagi; BELLOTTO, Heloísa L. Autoridade e conflito no Brasil
Colonial: o governo de Morgado de Mateus em São Paulo; Davi CARNEIRO.
Afonso Botelho de São Payo e Souza.
89
dando-lhe o nome de Vila Real do Rio Mourão33.
Essa tentativa de estabelecer um posto de
suprimentos para as expedições que desciam o
rio Ivaí em direção ao Mato Grosso, desde a
barra do rio Corumbataí com o Ivaí, não
prosperou, e em pouco tempo a localidade foi
novamente abandonada, e a floresta voltou a
cobrir os vestígios da ocupação humana no local.
No século XIX também foi iniciada a ocupação
da bacia ocidental do Tibagi e dos campos ao seu
norte pelos grandes fazendeiros dos Campos
Gerais paranaenses, que procuravam expandir
seus domínios. Em 1794, Antonio Machado
Ribeiro – capitão de mato do sargento-mor José
Felix da Silva – atravessou o rio Tibagi, acima do
rio Iapó, e ocupou o lugar onde seria a cidade de
Tibagi, no coração dos territórios kaingang. Em
1812, o próprio José Felix da Silva comandou
uma expedição militar ao Tibagi. Por esse feito
lhe foi dada a patente de tenente-coronel de
milícias, para que ele comandasse, às próprias
custas, uma expedição para descobrir o que
houvesse no Tibagi. Entrou ele com uma
companhia de aventureiros pelo Tibagi e
descobriu diamantes na região. Essas
descobertas explicam o rápido enriquecimento de
José Felix da Silva, dono da Fazenda Fortaleza e
de muitas outras na região de Castro e Tibagi34.
33. Cf. BOTELHO, Afonso. Noticia da conquista e descobrimento dos sertões do
Tibagi. Anais da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, v. 76, p. 10, 1956. 34. Cf. CHICHORRO, Manuel da Cunha Azeredo Coutinho. Memória em que se
mostra o estado econômico, militar e político da Capitânia de São Paulo, quando
seu governo tomou posse, em 8/12/1814. RIHGB, Rio de Janeiro, v. 36,p. 219,
1873.
90
Em 1820, Auguste de Saint-Hilaire excursionou
pelos territórios do Paraná, vindo de Sorocaba -
SP, pelo caminho dos tropeiros, até Curitiba. Aí
presenciou a partida de expedições militares
organizadas pelos fazendeiros da região contra
os Kaingang, a oeste das grandes fazendas de
criação. Dessa forma é que foram sendo
implantadas fazendas de criar gado nas terras
conquistadas dos Kaingang.
A conquista desses territórios prosseguiu para
o norte, no curso do rio Tibagi. Em 1838 iniciou-
se a ocupação dos Campos do Inhoó, por Manoel
Inácio do Canto e Silva. John Elliot informou que
oito anos antes de sua entrada nesses campos,
em 21/10/1846, o neto de José Felix da Silva,
coronel Manoel Inácio, tinha mandado abrir uma
picada de cargueiros até esses campos, e para
poder tomar posse mandou queimá-los.
A partir da década de 1840 as iniciativas de
ocupação das terras da bacia do Tibagi foram
levadas adiante pelo Barão de Antonina (João da
Silva Machado), o qual encarregou Joaquim
Francisco Lopes e John Henrique Elliot de
realizarem várias expedições de reconhecimento
na região. Conforme Elliot, a 2ª expedição
enviada pelo Barão foi comandada por Joaquim
Francisco Lopes e ele, como piloto mapista, num
total de nove pessoas. Saíram da fazenda Monte
Alegre, pertencente a Manoel Inácio do Canto e
Silva, atravessaram o Tibagi e seguiram rumo
norte-noroeste em direção à Serra da Apucarana.
No dia 15/9/1846 chegaram ao rio Apucarana,
nas fraldas da serra. Subiram essa serra, e por
vários dias esperaram até que as condições
91
atmosféricas lhes permitissem vislumbrar toda a
região. Elliot afirmou que desse local avistou os
campos do Inhoó, distantes de 8 a 9 léguas a
nordeste da margem ocidental do Tibagi, bem
como as grandes áreas de florestas que se
estendiam em direção aos rios Ivaí e
Paranapanema. Por causa da visão que tiveram a
partir desse mirante, concluíram que o Tibagi
deveria ser navegável logo abaixo desses
campos, e que seria necessário explorá-los para
ver se comportariam a instalação de um depósito
de gado, bem como para verificar as condições
para o fornecimento de pastagens para as tropas
que seguissem com mercadorias para embarcar
no Tibagi, rumo ao Mato Grosso. Após estudar os
relatos, o Barão determinou que eles deveriam
prosseguir as explorações para abrir um caminho
de Curitiba até o Mato Grosso.
Uma semana após terem chegado da Serra da
Apucarana, Lopes e Elliot, mais o genro do Barão
de Antonina, partiram para os campos do Inhoó.
Era uma expedição de 30 pessoas com dois
índios como guias. Iniciaram a picada em
21/10/1846, e em 20/11/1846 chegaram a esses
campos. Lá queimaram-nos, e os índios
responderam com fogos em três lugares
diferentes; a norte, distante 6 a 8 léguas, e mais
um a nordeste, a 4 léguas. Demoraram na
exploração dessas campinas durante 10 dias,
pois eram várias campinas entremeadas de
matos. No dia 4/12/1846 eles se encontravam nos
campos de Inhoó, que denominaram de São
Jerônimo. Concluíram que eles, os componentes
da expedição, constituíam número suficiente para
92
a instalação de um depósito, isto é, um
entreposto entre o futuro porto do Jataí e Castro.
Em 16/12/1846, Lopes e Elliot e mais 12
pessoas, por determinação do Barão, rumaram
dos Campos do Inhoó rumo ao norte por 1 ou 2
léguas, acompanhando o Tibagi. Seguiram para
o ribeirão Santa Bárbara, depois acompanharam
o rio Congonhas. Tudo indica que o itinerário
seguido tenha sido o divisor de águas entre o rio
Congonhas e o rio Tibagi. Em 13/1/1847 estavam
de volta aos campos do Inhoó, depois de 25 dias.
Em 15/3/1847, a 5ª entrada de Lopes e Elliot,
também por determinação do Barão de Antonina,
partiu dos Campos do Inhoó em direção aos
fogos dos índios que eles tinham visto na
exploração de novembro de 1846. Após
atravessarem o rio Congonhas35, a 6 léguas dos
campos de Inhoó, chegaram às terras queimadas.
Ainda em 1847, o Barão de Antonina ordenou
a José Francisco Lopes e João H. Elliot que
partissem para descobrir o caminho para o Mato
Grosso. Em 14/6/1847, Elliot, Lopes e 3
camaradas embarcam no Tibagi, uma légua
abaixo dos Campos do Inhoó. No dia 20/9
iniciaram a viagem de retorno de Albuquerque, no
Mato Grosso, para Perituva, em São Paulo, onde
chegaram a 27/12, com 6 meses e 13 dias de
viagem.
A partir dessa data os territórios do cacique
Inhoó nos planaltos a leste do rio Tibagi seriam
transformados em entreposto comercial, caminho
para o Mato Grosso, e fazenda de criação do
35. John Elliot disse que puseram esse nome nesse rio por causa da abundância de
erva- mate que havia no local.
93
Barão de Antonina. O comerciante Antonio
Prestes, em viagem para o Mato Grosso, em
1851, passou por São Jerônimo e lá encontrou
José Raymundo Curim como administrador da
fazenda do Barão de Antonina36. Podemos
constatar que após seis anos da chegada de
Lopes e Elliot aos campos do Inhoó, o Barão de
Antonina já havia consolidado uma fazenda no
território Kaingang, que após alguns anos seria
repassada ao Império para a criação do
aldeamento indígena de São Jerônimo.
Mas a ocupação branca avançou para o norte
e ultrapassou o rio Tibagi para as terras de suas
margens ocidentais. Na década de 1850 foi
instalada a Colônia Militar do Jataí, hoje cidade
de Jataizinho, e em frente, na outra margem do
rio, foi instalado o aldeamento indígena de São
Pedro de Alcântara, com a finalidade de aldear os
índios Guarani-Kaiová, que viviam no Mato
Grosso às margens do rio Paraná, e os Kaingang,
que viviam nas terras ao sul do aldeamento.
A partir desse momento, tanto o aldeamento
indígena quanto a colônia militar tornaram-se
entreposto para os viajantes que seguiam para o
Mato Grosso.
3.4 A OCUPAÇÃO DOS CAMPOS DE
GUARAPUAVA E PALMAS
36. Cf. PRESTES, Antonio Dias Baptista. Viagem do Capitão D. Prestes e seu irmão
Manoel D. B. Prestes desta província de São Paulo a Cuiyabá em 21/04/1851.
RIHGSP, São Paulo, n. 28, p. 775, 1851.
94
No século XVIII, a corte reagia indignada ao
desassossego que imperava nos territórios do sul
do Brasil, que no dizer das autoridades estavam
infestados de selvagens. A Carta Régia de
novembro de 1808 relata ataques generalizados
por todo o sul do Império, principalmente nos
Campos Gerais de Curitiba, de Guarapuava e nos
campos das cabeceiras do rio Uruguai. O
Príncipe Regente propunha então guerra contra
os índios, que matavam cruelmente todos os
fazendeiros e proprietários estabelecidos nesses
campos. Indignava-se ele com o abandono dos
Campos Gerais de Curitiba e os de Guarapuava,
assim como das terras com as vertentes voltadas
para o rio Paraná.
Tentativas de conquista e de ocupação
efetivamente tinham sido feitas, como as das
expedições de Afonso Botelho, nos anos de 1769
a 1774, as quais foram rechaçadas pelos índios
Kaingang, então senhores desses territórios.
Passados 40 anos, os campos Gerais, os de
Guarapuava e Palmas continuaram
[...] infestados pelos índios denominados Bugres que matão cruelmente todos os fazendeiros e proprietários que nos mesmos Paizes tem procurado tomar sesmarias e cultivalas, em beneficio dos Estado. [...] a maior parte das Fazendas que estão na dita Estrada (São Paulo - Rio Grande do Sul) serão despovoadas humas por terem os índios Bugres morto os seus moradores e outras com o temor que sejão igualmente victimas (MARTINS, 1915, v. 2, p. 86).37
37 Cf. Carta Régia de novembro de 1808. In: MARTINS, Romário. Documentos
Comprobatórios, vol. II, p. 86. Em a Política Indigenista Brasileira no Século
95
Desde a expulsão de Afonso Botelho e suas
tropas dos Koran-bang-rê, (Campos de
Guarapuava), em 1772, os Kaingang,
encorajados, faziam incursões cada vez mais ao
ocidente. No início do século XIX, eram senhores
dos territórios a oeste da estrada do Viamão, e
atacavam constantemente fazendas, vilas e
viajantes nas suas imediações.
Com a chegada de Dom João VI ao Brasil, o
Império tomou uma resolução: os índios deveriam
ser combatidos, catequizados, "civilizados", e
seus territórios deveriam ceder lugar a prósperas
fazendas de gado. O governador da província de
São Paulo convocou o experiente militar Diogo
Pinto de Azevedo para organizar a ocupação dos
territórios dos Kaingang e mantê-los afastados
das fazendas de gado. Diogo Pinto era um militar
disciplinado, duro, experiente e conhecedor dos
campos de Guarapuava, pois ali estivera com o
capitão Paulo Chaves em 1774. Era o perfil ideal
para realizar o empreendimento, e em 1809 já se
encontrava nos Campos Gerais, refazendo o
antigo caminho das expedições de Afonso
Botelho.
Dessa forma, o ano de 1810 foi marcado pela
chegada aos campos de Guarapuava de uma
enorme expedição, com mais de 300 pessoas,
das quais cerca de 200 eram soldados. O objetivo
da expedição era ocupar esses campos, abrindo
XIX, Carlos Araujo MOREIRA NETO afirma que a política indigenista brasileira
durante o Império foi formulada em torno de critérios "estritos de dominação e
subordinação", e tinha como objetivo a implementação e a consolidação do
domínio da sociedade nacional sobre os grupos tribais.
96
espaço para as fazendas de criação. No dia dois
de julho, acampam no lugar denominado Atalaia,
último ponto alcançado pelo capitão Paulo
Chaves em 1774. No dia 29 de agosto, os
Kaingang fizeram um ataque em massa ao
acampamento. Diogo Pinto e o padre Francisco
das Chagas Lima atestaram a firme defesa do
tenente Antonio da Rocha Loures.
Sustentou corajosamente a defeza deste Aquartelamento da Atalaia por espaço de seis horas no primeiro e profiado combate que atentarão os índios deste continente quando virão nossa gente abarracado nos seus campos (FRANCO, 1943, p. 95).(38
38 . Cf. Atestado do comandante Diogo Pinto de Azevedo Portugal e do padre
Francisco das Chagas Lima, elogiando a ação do tenente Rocha Loures na defesa
do quartel de Atalaia, atacado pelos índios em 29 de agosto de 1810. In:
FRANCO, Arthur Martins. Diogo Pinto e a conquista de Guarapuava. Curitiba:
Museu Paranaense, 1943. p. 95.
97
Figura 2: Fortaleza de Atalaia, primeiro local de fundação
da vila de Guarapuava Fonte: Kruger (1999)
Na batalha foram mortos e feridos muitos
índios, ocorrendo na força militar de Rocha
Loures apenas ferimentos leves. Os Kaingang
sofreram uma forte derrota e dispersaram-se
pelos campos ao sul e a oeste da fortificação de
Atalaia. Mas continuaram a atacar as forças de
Diogo Pinto. Foram três meses de guerra contra
uma tropa de mais de 200 soldados armados,
inclusive com peças de artilharia, e acantonados
na fortaleza de Atalaia, o primeiro nome da futura
vila de Nossa Senhora do Belém de Guarapuava.
Os Kaingang foram derrotados em 1810,
porém sua resistência continuou. Passados cinco
anos da ocupação dos campos guarapuavanos
entre os rios Coutinho e Jordão, os brancos
começaram a se movimentar em direção aos
98
campos de Palmas, ao sul de Guarapuava, onde
chegaram 20 anos depois. Em 1839 os
fazendeiros de Guarapuava tinham conquistados
os Krei-bang-rê (Campos de Palmas). Ali tinham
instalado 37 fazendas, com mais de 30 mil
cabeças de gado, e fundaram a vila de Palmas.
REFERÊNCIAS
BELLOTO, Heloísa Liberalli. Autoridade e conflito no Brasil colonial: o governo de Morgado de Mateus em São Paulo. São Paulo: Secretaria de Estado da Cultura, 1979.
BOTELHO, Afonso. Notícia da conquista e descobrimento dos sertões do Tibagi. Anais da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, v. 76, p. 10, 1956
CHICHORRO, Manuel da Cunha A. C. Memória em que se mostra o estado econômico, militar e político da Capitania de São Paulo quando do seu governo tomou posse a 8/12/1814. Revista do Instituto Histórico Geográfico Brasileiro, Rio de Janeiro, v. 36, p. 219, 1873.
COLOMBINA, Francisco Tose. Descobrimento das terras do Tibagi. Maringá: Universidade Estadual de Maringá, 1974.
FRANCO, Arthur Martins. Diogo Pinto e a conquista de Guarapuava. Curitiba: Museu Paranaense, 1943.
KRUGER, Nivaldo. Guarapuava. Guarapuava, Fundação Santos Lima, 1999.
MARTINS, Romário. Documentos comprobatórios dos direitos do Paraná na questão de limites com Santa Catharina. Rio de Janeiro: Jornal do Comércio, 1915.
99
MERCER, Edmundo; MERCER, Luiz Leopoldo. História do Tibagi. Tibagi: Prefeitura Municipal de Tibagi, 1977.
MOREIRA NETO, Carlos Araújo. Política indigenista brasileira no século XIX. 1971. Tese (Doutorado em História)-FFCH, Rio Claro, 1971.
MOTA, Lúcio Tadeu . As guerras dos índios Kaingang: a história épica dos índios Kaingang no Paraná (1769-1924). 2. ed. Maringá: Eduem, 2009. v. 500. 301 p.
MOTA, Lúcio Tadeu; NOVAK, Eder da Silva. Os Kaingang do vale do rio Ivaí Pr: História e relações interculturais. 1. ed. Maringá: EDUEM, 2008. v. 500. 190 p.
NOELLI, Francisco Silva; SILVA, F. A.; VEIGA, J.; TOMMASINO, Kimiye; MOTA, Lúcio Tadeu; D'ANGELIS, W. R. (Org.). Bibliografia Kaingang: referências sobre um povo Jê do Sul do Brasil. 1. ed. Londrina, Pr: EDUEL, 1998. v. 1000. 250 p.
PRESTES, Antônio Dias Baptista. Viagem do capitão D. Prestes e seu irmão Manoel D. B. Prestes desta província de São Paulo a Cuiyabá em 21/04/1851. Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, São Paulo, n. 28, p. 777, 1851.
STADEM, Hans. Duas viagens ao Brasil. São Paulo: Beca Produções Culturais, 2000.
TOMMASINO, Kimiye; MOTA, Lúcio Tadeu; NOELLI, Francisco Silva (Org.). Novas contribuições aos estudos interdisciplinares dos Kaingang. 1. ed. Londrina: Eduel, 2004. v. 500. 430 p.
100
WACHOWICZ, Ruy. História do Paraná. Curitiba: G. Vicentina, 1988.
Atividades:
1. Conforme o texto estudado neste capitulo, O povoamento do litoral e as origens de Curitiba, aponte as cidades surgidas no litoral, naquela época.
2. O oeste e o noroeste do Paraná foram ocupados pelos europeus antes da fundação das cidades do litoral. Aponte quais foram as principais atividades desenvolvidas pelos espanhóis, pelos jesuítas e pelos bandeirantes na região, nos séculos XVI e XVII.
3. Qual foi a atividade econômica responsável pela ocupação e pelo surgimento das fazendas e cidades nos Campos Gerais, no século XVIII?
101
CAPÍTULO IV. O PARANÁ PROVINCIAL:
1853 – 1889
Dulce Elena Canieli39
Lúcio Tadeu Mota40
4.1 A LUTA PELA EMANCIPAÇÃO DA
PROVÍNCIA DO PARANÁ
Entre 1660 a 1770, a região onde hoje é o
Estado do Paraná e parte de Santa Catarina,
entre os rios Paranapanema ao norte e Uruguai
ao sul, foi elevada ao status de capitania,
39 Mestre em História pela UEM, professora da Rede Estadual de Educação do
Paraná – NRE/Maringá e pesquisadora no Programa Interdisciplinar de Estudos de
Populações - Laboratório de Arqueologia, Etnologia e Etno-História - UEM. E-mail:
[email protected] 40 Professor Associado no Departamento de História da Universidade Estadual de
Maringá, e pesquisador no Programa Interdisciplinar de Estudos de Populações –
Laboratório de Arqueologia, Etnologia e Etno-História - UEM. [email protected]
102
denominada Capitania de Paranaguá. Em 1770,
com a restauração da Capitania de São Paulo,
ela foi extinta e incorporada por esta como
comarca. Em 1812 a sede da comarca, que era
em Paranaguá, foi transferida para Curitiba, e
passou a se chamar Quinta Comarca de
Paranaguá e Curitiba.
A luta pela emancipação política do Paraná
teve seus antecedentes em 1811, quando Pedro
Joaquim Correia de Sá, com pretensões de ser
capitão-mor, tentou, junto à corte no Rio de
Janeiro, a emancipação da comarca, mas
fracassou.
A segunda tentativa ocorreu em 1821, quando
os defensores da emancipação retomaram o
movimento, organizando a denominada "Conjura
Separatista". Essa tentativa também fracassou,
pois o Juiz de Fora Antonio Azevedo Melo e
Carvalho – que visitava o Paraná – não atendeu
ao apelo de Bento Viana – capitão da Guarda de
Regimento de Milícia de Paranaguá – para que
nomeasse um governo provisório independente
de São Paulo.
Mesmo com um desfecho desfavorável, o
desejo de autonomia permanecia.
Frequentemente, as câmaras de vereadores de
Paranaguá, Morretes, Antonina, Lapa, Curitiba e
Castro solicitavam autonomia ao Governo
Imperial Brasileiro.
Mas em 1835 ocorreu um fator favorável e
decisivo para a autonomia do Paraná. Os liberais
do Rio Grande do Sul entraram em luta contra o
Império, organizados na "Revolução Farroupilha",
e os liberais do Rio de Janeiro, São Paulo e
103
Minas Gerais, revoltados com a política
"conservadora" do governo central, uniram-se
com os farrapos e organizaram uma única frente
revolucionária. Os liberais da Quinta Comarca em
Curitiba, cooptados pelo Barão de Antonina, não
aderiram, no entanto, ao movimento. O Governo
Imperial negociou com os liberais curitibanos, por
intermédio de João da Silva Machado e do chefe
das forças legalistas, Duque de Caxias, a
emancipação da comarca. O governo do império
conseguiu, assim, o apoio dos liberais da Quinta
Comarca para vencer os revolucionários.
Dessa forma retomou-se, em 1843, o projeto
de emancipação da Quinta Comarca na
Assembleia Geral Legislativa no Rio de Janeiro.
Entre idas e vindas foi conseguida a aprovação,
em 2 de agosto de 1853, elevando-se a Quinta
Comarca de São Paulo à categoria de Província
do Paraná. A instalação oficial foi realizada em 19
de dezembro de 1853, quando tomou posse o
primeiro presidente, Zacarias de Góes e
Vasconcelos, tendo Curitiba como Capital.
Lei nº 704 de 29 de agosto de 1853
Eleva a Comarca de Curitiba, na Província de São Paulo, à categoria de Província, com a denominação de Província do Paraná.
Dom Pedro Segundo, por graça de Deus, e unânime aclamação dos povos, Imperador Constitucional e Defensor Perpétuo do Brasil: Fazemos saber a todos nossos súditos que a Assembléia Geral Legislativa decretou e nós queremos a Lei seguinte:
Art. 1º - A comarca de Curitiba, na Província de São Paulo, fica elevada à categoria
104
de Província, com a denominação de Província do Paraná. A sua extensão e limites serão os mesmos da referida Comarca.
Art. 2º - A nova Província terá por Capital a cidade de Curitiba, enquanto a Assembléia respectiva não decretar o contrário.
Art.3º - A Província do Paraná dará um Senador, e um Deputado à Assembléia Geral; sua Assembléia Provincial constará de 20 membros.
Art.4º - O Governo fica autorizado para criar, na mesma Província, as estações fiscais indispensáveis para arrecadação e administração das rendas gerais, submetendo depois o que houver determinado ao conhecimento da Assembléia Geral para definitiva aprovação.
Art.5º - Ficam revogadas as disposições em contrário.
Mando, portanto, a todas as autoridades, a quem o conhecimento desta lei pertencer, que a cumpram, e a façam cumprir e guardar tão inteiramente quanto nela se contém.
O Secretário de Estado dos Negócios do Império
A faça imprimir, publicar e correr. Dado no Palácio do Rio de Janeiro, aos 29
de agosto de 1853, trigésimo segundo da Independência e do Império.
Assinam : Imperador Pedro II E Francisco Gonçalves Martins
Fonte: Coleção de Leis do Império do Brasil - 1853 , Página 50 Vol. 1 pt I (Publicação Original)
4.2 A VIDA POLÍTICA DA PROVÍNCIA
PARANAENSE, DE 1853 A 1889
105
A Província do Paraná teve, ao longo do
período de 1853 a 1889, 53 períodos de
governos; 27 presidências; 41 presidentes em
exercício e 26 períodos de vice-presidência e
retorno presidencial.
Os presidentes eram escolhidos entre aqueles
que pertenciam ao partido político dominante, e
nomeados diretamente pelo Imperador D. Pedro
II. De 1853 a 1870 os governantes vieram de
outras províncias. No período subsequente (1870
a 1889), o Imperador fez algumas nomeações de
pessoas procedentes da própria província para
ocupar o cargo de presidente e vice-presidente.
As justificativas para a nomeação dos
presidentes e dos vice-presidentes oriundos de
outras províncias era de que o Paraná tinha uma
pequena projeção política e econômica no
império. E não possuiria elementos com "boa
formação político-administrativa" para o cargo
majoritário na província. No entanto, sabemos
que a nomeação para a presidência das
províncias no Brasil era utilizada pelo Imperador
Pedro II41 para acomodar as forças políticas que
o apoiavam.
41 A Carta outorgada em 1824 por D. Pedro I e elaborada pelo Conselho de
Estado atribuiu ao Imperador o poder de nomear os presidentes de
província. O capítulo VII, que trata da Administração e Economia das
Províncias diz, no primeiro artigo: “Haverá em cada Província um
presidente, nomeado pelo Imperador, que poderá remover, quando
entender que assim convém ao bom serviço do Estado”. Essa era a
Constituição em vigor no Brasil em 1853, quando da criação da Província
do Paraná
(http://www.alep.pr.gov.br/assembleia.php?pag_int=assembleia_historico.p
hp. Acesso em: 11 mar. 2008).
106
O Imperador geralmente escolhia governantes
que eram fiéis e aliados ao governo imperial. A
intenção era criar e estabelecer governos
provinciais comprometidos com os interesses do
governo central, além de promover alianças com
as elites dominantes locais. Eram dois os partidos
políticos dos quais esses representantes faziam
parte: o Conservador e o Liberal. Os partidos na
província eram dominados pelas oligarquias
locais, que escolhiam seus representantes aos
cargos políticos42. A disputa entre os
conservadores e liberais não representava um
empecilho à nomeação dos cargos; na realidade,
seus programas políticos não diferiam um do
outro e não havia uma oposição efetiva entre
eles. No Paraná, os principais líderes liberais
foram: Jesuíno Marcondes de Oliveira e Manuel
Alves de Araújo, que formavam as famílias dos
Barões do Tibagi e dos Campos Gerais. Os
líderes conservadores foram: Manuel Antonio
Guimarães (Visconde de Nácar) e Manoel
Francisco Correia, que formavam as famílias do
litoral, controladoras do comércio importador e
exportador da erva-mate.
Quando foi instalada oficialmente, o cargo
majoritário da província paranaense foi ocupado
pela primeira vez em 19 de dezembro de 1853,
sendo seu primeiro presidente o baiano Zacarias
de Góes e Vasconcellos.
42 Esses representantes aos cargos políticos geralmente eram eleitos pelo
“voto de cabresto”, ou seja, por meio da troca de “favores” os coronéis
(elites dominantes locais) exigiam que as pessoas votassem nos
candidatos indicados por eles. Aquele que se negasse a votar podia sofrer
violência dos capangas ou jagunços que trabalhavam para os coronéis.
107
Quadro I - Galeria de presidentes e vice-presidentes da província do Paraná (1853-1889)
º
PRESIDENTES E VICE-
PRESIDENTES
NOMEAÇÃ
O
PERÍODO DE GOVERN
O
OBSERVAÇÃO
Zacarias de Goes e Vasconcelos (Pres.)
17.09.1853
19.12.1853 a
03.05.1855
1º Presidente e Instalador da Província. Origem: Bahia. Era do partido Conservador, e em 1862 passou a ser Liberal
Theófilo Ribeiro de Rezende (Vice)
17.09.1853
03.05.1855 a
27.07.1855
Nomeação para 2º vice-presidente. Origem: São Paulo. Era do Partido Conservador
Henrique de Beaurepaire Rohan (Vice) – Liberal
-27.07.18
55
27.07.1855 a
01.03.1856
Origem: Rio de Janeiro
Padre Vicente Pires da Mota (Pres.)
15.09.1855
01.03.1856 a
26.09.1856
Origem: São Paulo. Era do Partido Conservador
José Antônio Vaz de Carvalhaes (Vice)
06.09.1856
26.09.1856 a
11.11.1857
2º vice-presidente. Origem: São Paulo.
Era do Partido Conservador
Francisco Liberato de Matos (Pres.)
18.08.1857
11.11.1857 a
26.02.1859
Origem: Bahia - Partido Liberal
Luis Francisco
Câmara Leal (Vice)
24.
03.1857
26.0
2.1859 a
02.05.185
9
3º vice-presidente e passou a 1º vice no início de 1859. Origem: Rio de Janeiro. Era do Partido Conservador
José Francisco Cardoso (Pres.)
28.02.1859
02.05.1859 a
16.03.1861
Deposto pelas “Cardosadas”. Origem: Rio de Janeiro - Partido Liberal
Antônio Barbosa Gomes Nogueira (Pres.)
31.01.1861
16.03.1861 a
31.03.1863
Origem: Minas Gerais. Era do Partido Conservador
0
Manoel Antônio Ferreira (Vice)
26.11.1862
31.03.1863 a
05.06.1863
1º paranaense a compor o governo Provincial - 2º vice-presidente. Origem: Paraná.
Era do Partido Conservador
1
Sebastião Gonçalves da Silva (Vice)
26.11.1862
05.06.1863 a
07.03.1864
1º vice-presidente. Origem: Pernambuco.
Sem menção de Partido
2
José Joaquim do Carmo (Pres.)
23.01.1864
07.03.1864 a
18.06.186
Origem: Rio de Janeiro - Partido Liberal
108
4
3
André de Pádua Fleury (Pres.)
s/d 18.06.1864 a
19.08.1864
Origem: Paraná - Partido Liberal
4
Agostinho Ermelino de Leão (Vice)
s/d 19.08.1864 a
18.11.1864
1º período de governo. Origem: Paraná –
s/menção de partido
5
André de Pádua Fleury (Pres.)
12.10.1864
18.11.1864 a
04.06.1865
2º período de governo. Origem: Paraná - Partido
Liberal
6
Manoel Alves de Araújo (Vice)
10.12.1864
05.06.1865 a
18.08.1865
1º vice-presidente. Origem: Paraná - Partido
Liberal
7
André de Pádua Fleury (Pres.)
s/d 18.08.1865 a
23.03.1866
3º período de governo. Origem: Paraná - Partido
Liberal
8
Agostinho Ermelino de Leão (Vice)
31.01.1866
23.03.1866 a
15.11.1866
2º vice-presidente - 2º período de governo.
Origem: Paraná – s/menção de partido
9
Polidoro César Burlamaque (Pres.)
06.09.2866
15.09.1866 a
11 /17.08.186
7
Abandona o governo em 17.08.1867
Origem: Piauí – s/menção de partido
0
Carlos Augusto
Ferraz de Abreu
(Vice)
23.
03.1867
16.0
8.1867 a
23/31.10.1
867
1º vice-presidente. Origem: Rio de Janeiro. Era do Partido Conservador
1
José Feliciano Horta de Araújo (Pres.)
29.09.1867
31.10.1867 a
05.05.1868
Origem: Minas Gerais - Partido Liberal
2
Carlos Augusto Ferraz de Abreu (Vice)
s/d 05/29.05.1868
a 14.09.186
8
2º período de governo. Origem: Rio de Janeiro. Era do Partido Conservador
3
Antônio Augusto da Fonseca (Pres.)
22.07.1868
14.09.1868 a
01.09.1869
Pediu demissão em 27.03.1869
Origem: São Paulo – Partido Conservador
4
Agostinho Ermelino de Leão (Vice)
s/d 28.08.1869 a
26.09.1869
3º período de governo. Origem: Paraná –
s/menção de partido
5
Antônio Luís Afonso de Carvalho (Pres.)
20.10.1869
27.11.1869 a
28.08.1870
Origem: Bahia - s/menção de partido
6
Agostinho Ermelino de Leão (Vice)
s/d 20.04/05.1870
a
4º período de governo. Origem: Paraná -
s/menção de partido
109
24.12.1870
7
Venâncio José de Oliveira Lisboa (Pres.)
s/d 24.12.1870 a
15.01.1873
Origem: Rio de Janeiro – Partido Conservador
8
Manoel Antônio Guimarães (Vice)
03.01.1873
15.01.1873 a
13.06.1873
3º vice-presidente – Visconde de Nácar - Origem: Paraná – Partido Conservador
9
Frederico José de Araújo Abranches (Pres.)
29.03.1873
13.06.1873 a
02.05.1875
Origem: São Paulo – Partido Conservador
Agostinho Ermelino de Leão (Vice)
s/d 02.05.1875 a
08.05.1875
5º e último período de governo.
Origem: Paraná - s/menção de partido
0
Adolfo Lamenha Lins (Pres.)
10.04.1875
03.05.1875 a
16.07.1877
Origem: Pernambuco - Partido Liberal
1
Manoel Antônio Guimarães (Vice)
s/d 16.07.1877 a
17.08.1877
2º período de governo. Origem: Paraná – Partido
Conservador
2
Joaquim Bento de Oliveira Junior (Pres.)
04.07.1877
17.08.1877 a
07.02.1878
Origem: Minas Gerais – Partido Conservador
3
Jesuíno Marcondes de Oliveira e Sá (Vice)
01.02.1878
07.02.1878 a
23.03.1878
1º período de governo – 1º vice-presidente.
Origem: Paraná - Partido Liberal
4
Rodrigo Otávio de Oliveira Menezes (Pres.)
30.01.1878
23.03.1878 a
31.03.1879
Origem: Bahia - Partido Liberal
5
Jesuíno Marcondes de oliveira e Sá (Vice)
s/d 31.03.1879 a
23.04.1879
2º período de governo. Origem: Paraná - Partido
Liberal
6
Manoel Pinto de Souza Dantas Filho (Pres.)
15.03.1879
23.04.1879 a
04.08.1880
Origem: Bahia - Partido Liberal
7
João José Pedrosa (Pres.)
25.07.1880
04.08.1880 a
03.05.1881
1º paranaense nomeado pelo Imperador - Origem: Paraná - Partido Liberal
8
Sancho de Barros Pimentel (Pres.)
24.03.1881
03.05.1881 a
26.01.1882
Origem: São Paulo - Partido Liberal
9
Jesuíno Marcondes de Oliveira e Sá (Vice)
s/d s/d 3º período de governo. Origem: Paraná - Partido
Liberal
Carlos Augusto de Carvalho (Pres.)
01.02.1882
06.03.1882 a
Origem: Rio de Janeiro - Partido Liberal
110
0 26.05.1883
1
Antônio Alves de Araújo (Vice)
14.05.1883
26.05.1883 a
03.09.1883
1º vice-presidente – 1º período de governo.
Origem: Paraná - Partido Liberal
2
Luís Alves Leite de Oliveira Belo (Pres.)
30.06.1883
03.09.1883 a
05.06.1884
Origem: Rio de Janeiro - Partido Liberal
3
Brasílio Machado de Oliveira (Pres.)
29.07.1884
05.06.1884 a
21.08.1885
Origem: São Paulo - Partido Liberal
4
Antônio Alves de Araújo (Vice)-
s/d 24/26.08.1885
a 18.09.188
5
2º período de governo. Origem: Paraná - Partido
Liberal
5
Joaquim de Almeida Faria Sobrinho (Vice)
30.08.1885
20.09.1885 a
29.09.1885
1º vice-presidente – 1º período de governo.
Origem: Paraná – Partido Conservador
6
Alfredo D’Escragnolle Taunay (Pres.)
30.08.1885
29.09.1885 a
03.05.1886
Origem: Rio de Janeiro - Partido Liberal
7
Joaquim de Almeida Faria Sobrinho (Pres.)
18.10.1886
03.05.1886 a
26.12.1887
2º paranaense p/ nomeação direta do Imperador. 3º período
Origem: Paraná – Partido Conservador
8
Antônio Ricardo dos Santos (Vice)
15.12.1887
29.12.1887 a
09.12.1888
2º vice-presidente em 03.12.1887 e 1º em 15.12.1887
Origem: Paraná – Partido Conservador
9
José Cesário de Miranda Ribeiro (Pres.)
23.12.1887
09.02.1888 a
30.06.1888
Origem: Minas Gerais – Partido Conservador
0
Ildefonso Pereira Correia (Vice)
26.11.1887
30.06.1888 a
04.07.1888
Barão de Serro Azul Origem: Paraná –
s/menção do partido
1
Balbino Candido da Cunha (Pres.)
15.06.1887
04.07.1888 a
29.05.1889
Origem: Minas Gerais – Partido Conservador
2
Jesuíno Marcondes de Oliveira e Sá (Pres.)
15.06.1889
16.06.1889 a
23.08.1889
3º e último paranaense presidente – 4º p. de governo. Origem: Paraná - Partido Liberal
3
Joaquim José Alves (Vice)
15.06.1889
03.09.1889 a
11.09.1889
1º vice-presidente. Origem: Paraná - Partido
Liberal
Jesuíno Marcondes de Oliveira e Sá (Pres.)
s/d 12.09.1889 a
16.11.1889
5º e último período de governo provincial
Origem: Paraná - Partido Liberal
111
Fonte: CARNEIRO, D. História do período provincial
do Paraná: galeria de presidentes 1853-1889. Curitiba:
Tipografia Max Roesner, 1960.
4.3 AS PRINCIPAIS POLÍTICAS DE
GOVERNO NO PERÍODO PROVINCIAL
A preocupação dos presidentes e vice-
presidentes, de forma geral, foi a de construir e
melhorar estradas, instalar colônias de imigrantes
europeus para aumentar a população,
implementar a segurança pública para promover
a defesa dela, organizar a instrução pública e as
finanças da província, implantar a catequese e a
civilização dos índios, e desenvolver e organizar a
cidade de Curitiba como sua capital.
Essas ações políticas foram frequentemente
tratadas nos relatórios dos presidentes e vice-
presidentes. Esses documentos, apesar do
caráter descritivo, tratam dos principais
acontecimentos ocorridos durante cada período
de governo na província. A periodicidade usual
dos relatórios era anual, mas a cada mudança
de presidente ou a cada abertura da
Assembleia Legislativa da província era
elaborado um relatório e apresentado ao seu
sucessor ou aos representantes do legislativo
provincial. Foram 76 relatórios, alguns dos
quais vinham em forma de ofício,
principalmente quando o período de ocupação
da administração do governo era breve.
Nesses casos, não apresentavam a estrutura
usual de relatórios. A estrutura desses
112
documentos possui mais semelhanças que
diferenças. Neles, podemos destacar alguns
pontos que abordam as principais ações dos
governantes provinciais.
• Política de segurança pública
Durante o período provincial, desde o
primeiro presidente, Zacarias de Góes e
Vasconcellos, a política de segurança pública
foi uma preocupação de todos os governantes.
Frequentemente, nos relatórios e nos ofícios é
destacada a importância da força pública,
composta pela Guarda Nacional, pela força
policial e pela companhia de marinheiros, que
eram responsáveis pela proteção e guarda do
território paranaense. As reclamações pela falta
de recursos para investir na segurança foram
constantes:
[...] pode-se affirmar que he superior ao que permittem os escassos recursos, que na actualidade estão à disposição da polícia, e com que, provalvemente, por algum tempo ainda se há de contar na província (VASCONCELLOS, 1854, p. 3).43.
Para os governos, era importante obter
mais verbas que se destinassem à manutenção
da ordem social, numa província onde ocorriam
inúmeros conflitos, como os decorrentes de
43 VASCONCELLOS, Zacarias Góes e. Relatório... 15 de julho de
1854. p. 3.
113
desavenças pessoais, de furto de animais, do
confronto entre os fazendeiros e indígenas, da
posse da terra etc. O conflito pela demarcação
da propriedade da terra foi muito comum nesse
período, pois a província estava aplicando a Lei
de Terras de 1850.
[...] Agitão-se frequentes questões de posses e limites, que em geral procedem do estado confuso e desordenado da propriedade territorial, as quaes, no futuro he provavel se reduzirão à pouco ou nada, com a observancia da lei das terras e respectivos regulamentos, que procuranmdo definir e fazer conhecida a porção de terra, de que cada um he proprietario, tendem a assegurar á todos o gozo de seus direitos sem o temor de força do vizinho, nem da conta do escrivão e do advogado [...] (VASCONCELLOS, 1854, p. 5).44.
Isso provocava discordâncias e discussões
frequentes em relação à posse e aos limites.
Outra questão mencionada pelos governantes
se refere ao costume que os habitantes tinham
de usar armas, o que contribuía para a
“desordem” na província:
[...] O uso de armas de defezas era, por assim dizer, hum direito consuetudinário neste paiz.
O vasto poncho, serve-se a maioria dos habitantes, e as largas e estrepitosas chilenas, não erão artigos mais essenciaes ao trajar de hum homem do povo, do que a inseparavel cartucheira, a faca, e as
44 VASCONCELLOS, Zacarias Góes e. Relatório...15 de julho de 1854. p. 5.
114
pistolas, já não digo em viagem, nas estradas, ou em seus trabalhos do campo, mas em passeio à cidade, e (parece incrível) até nos templos do Senhor!(VASCONCELLOS, 1854, p. 6).45.
A atitude tomada pelo presidente foi a
proibição do uso de armas de defesa, com o
intuito de diminuir a violência. Essa medida teve
um resultado eficaz nas cidades, onde a ação
da polícia pôde ser mais efetiva, mas em
localidades distantes dos centros urbanos,
longe das autoridades, o uso das armas foi
mais difícil controlar:
[...] nas estradas e lugares remotos, longe das autoridades, que tem alguma força, ainda voga o uso criminoso, mas essa fonte de crimes irá diminuindo por toda a parte com a progressiva actividade e desenvolvimento da policia (VASCONCELLOS, 1854, p. 6).
Essas ações desenvolvidas para a
manutenção da segurança pública sofreram
alterações à medida que a população46
paranaense crescia, e em decorrência de outra
45 VASCONCELLOS, Zacarias Góes e. Relatório...15 de julho de 1854.. p.
6. 46 A população que constituía o período provincial paranaense em 1854
contava com 60.625 habitantes, dos quais quase 16% eram escravos, em
torno de 10 mil. Mas com a entrada de migrantes, a partir da década de
1860 e com a saída de escravos para a lavoura paulista ocorreram
mudanças no quadro demográfico da província. A população, com o censo
de 1872, totalizava 126.722 habitantes, incluindo 10.560 escravos (8,3%)
(Dicionário histórico-biográfico do Paraná, 1991, p.383).
115
política desenvolvida pelos governantes, a de
implantação de colônias de migrantes europeus,
principalmente ao redor de centros urbanos. As
tensões e os conflitos provocados pela
aglomeração de populações mobilizaram as
autoridades policiais da província, que
demonstravam preocupação em manter a
“tradição” provincial de tranquilidade pública,
combatendo a criminalidade, principalmente no
período de 1860 a 1880, quando foram fundados
28 núcleos coloniais, com a entrada de 19.215
migrantes.
• Política de Educação
A “Instrução Pública” foi uma das
preocupações constante dos governantes e das
elites locais. Desde a primeira gestão
governamental esse era um desafio a ser
enfrentado, pois o desenvolvimento da
Educação influenciaria a prosperidade da
província.
[...] Todas as corporações e funcionários, á quem ouvi acerca do estado da instrucção na província, derão-me as mais desfavoráveis informações desse ramo do serviço publico, e assim parece ser, á vista de documentos que tive presentes. Seja, pois, este hum dos assumptos que mais mereção vossa solicitude e attenção, pois que, por certo, he de maior alcance e influencia para a prosperidade [...]. Consideremos o ensino publico tanto primário como secundário, á ver o que mais importa
116
na actualidade (VASCONCELLOS, 1854, p. 12).47
[...] É a instrucção o primeiro elemento da educação, a primeira necessidade da humanidade o primeiro dever de todas as nações.
Nas nações que se dizem livres, isto é, em que as classes que se presume illustradas e capazes, são chamadas a tomar na direcção dos negócios públicos a parte proporcionada á sua capacidade, e em que o dever de gerir os interesses collectivos exige de cada um maior somma de sacrifício e abnegação, a necessidade da instrucção sobreleva a todas as outras.
A constituição chamando a maior parte da nação ao exercício dos pesados deveres da soberania, garantia com razão a instrucção primaria gratuita a todos (PARANÁ, 1869, p. 9).( 48.
Com a instrução pública seria possível não
apenas a formação de mão de obra, mas a
conquista de visibilidade dos governantes em
relação aos governados. Também, no Paraná o
ensino primário vinha a atender à questão do
“abrasileiramento” dos migrantes estrangeiros
que se estabeleciam na província, com sua
língua, seus hábitos, costumes e valores. Os
governantes e as elites dominantes sempre
47 VASCONCELLOS, Zacarias Góes e. Relatório...15 de julho de 1854. p..12.
48 PARANÁ. Governador (1868-1869: Augusto da Fonseca). Relatório... 6 de abril de 1869. p. 9.
117
viam isso como uma ameaça à sua hegemonia
(MAGALHÃES, 2001).49
Nos relatórios vimos que é constantemente
mencionada a importância do desenvolvimento
da Educação formal para a província, e como
era a organização do ensino para meninos e
meninas.
O ensino era dividido em: instrução
primária, secundária e escola normal,
considerada necessária para suprir a falta de
professores da época.
As escolas públicas eram frequentadas
pelas crianças das camadas pobres, e as
escolas particulares eram em geral
frequentadas pelos filhos das famílias mais
providas economicamente, as quais se
estabeleceram nos centros urbanos mais
populosos, onde havia uma clientela com vida
econômica, social e cultural mais elevada50.
Os estudos superiores eram cursados em
São Paulo, Recife, Rio de Janeiro ou em
faculdades europeias, e somente pelos jovens
da elite dominante, que tinham recursos
financeiros para cursar esse nível.
49 MAGALHÃES, Marion Brepohl. Paraná: Política e Governo. Curitiba:
SEED, 2001. (Coleção História do Paraná – textos introdutórios). 50 Para maiores detalhes sobre essa questão da Educação, ver: OLIVIEIRA,
1986; TRINDADE; ANDREAZZA, 2001; GUARNIERI, 2006.
118
O ensino era baseado no princípio da
moralidade e dos costumes da época, com a
preocupação de manter o ordenamento social,
que visava à obediência à autoridade, cujo
centro era a Corte, devendo a periferia ser
moldada segundo seus interesses.
[...] Nos paizes, que presão a civilização do povo, e vêem nas escolas a origem della, aprender as matérias do ensino primário he mais que hum direito, he huma rigorosa obrigação, imposta á todos, sob certas penas. Assim o deveis considerar e dispor na legislação da nova província.
Obriga-se o povo á vaccina, e elle obedece ou deve obedecer sem reparo, porque he hum meio de preservar-se de hum flagello fatal.
Ora a instrucção primaria he, por assim dizer, huma vaccina moral, que preserva o povo do peior de todos os flagellos conhecidos e por conhecer – a ignorância – das nações elementares, que nivela o homem ao bruto, e o torna matéria apta e azado instrumento para o roubo, para o assassinato, para a revolução, para todo mal, enfim (VASCONCELLOS, 1854, p. 12).51.
As instituições escolares, principalmente
as públicas, mantinham um maior número de
unidades direcionadas aos alunos do sexo
masculino em relação às destinadas ao sexo
feminino, isso pelo fato de terem sido criadas
escolas primeiro para os meninos, e depois, se
houvesse necessidade, para as meninas. Para
se ter uma ideia, em 1854 eram 22 escolas
51 VASCONCELLOS, Zacarias Góes e. Relatório...15 de julho de 1854. p. 16.
119
masculinas para 08 femininas, e em 1889 eram
61 masculinas para 24 femininas (OLIVEIRA,
1986, p. 201).52.
As escolas mistas ou promíscuas sugiram
pela falta de professores. Com isso os
governantes tiveram que criar escolas que
comportassem meninos e meninas. A aceitação
pela comunidade paranaense a esse tipo de
escola ocorreu aos poucos, e de 1886 a 1889 o
número delas chegou a 114.
O ensino primário e secundário esbarrou em
diversos problemas, como: falta de prédios
públicos, de verbas, de professores, de estradas
em condições adequadas para o deslocamento
dos estudantes das comunidades distantes para
as cidades e vilas onde existiam as escolas etc.,
o que dificultava o seu desenvolvimento na
província, ou seja, isso inviabilizou o que se
pretendia em face do que se podia fazer, diante
da realidade social e econômica paranaense da
época.
Mas as diversas ações tomadas para a
regulamentação e organização do ensino
primário e secundário na província, apesar dos
problemas enfrentados pelas autoridades,
fomentaram um crescimento significativo em
52 Para obter os índices de todos os anos do período provincial, conferir
tabela em: OLIVEIRA, Maria Cecília Marins. O ensino primário na
província do Paraná 1853-1889. Curitiba/PR: Biblioteca Pública do
Paraná, 1986, p. 201.
120
comparação ao atendimento precário herdado
do período anterior à emancipação. Em 1853, o
Paraná tinha um número limitado de escolas:
eram 28 estabelecimentos públicos de ensino,
distribuídos entre 18 localidades, e 3 escolas de
ensino particular. Ao final do período provincial,
devido à política de investimento na Educação
Pública, o resultando foi de 199 escolas de
ensino primário e secundário, distribuídas por
130 localidades, sendo 180 escolas da rede
pública e 19 da rede particular53.
Quadro 2: Resumo do desenvolvimento do ensino primário e secundário na província do Paraná, de 1854 a 1889
PERÍODO AÇÕES
1854 a
1857
• Regulamentação da instrução pública na província.
• Estabelecimento de orçamento para a Instrução Pública.
• Estabelecimento e planejamento de divisão do ensino nas escolas primárias.
• Regulamento de ordem para as escolas da Instrução Primária.
• Preparação e organização do professorado.
• Instituição de normas para o ensino particular, primário e secundário.
1858 a
1869
• Regulamentação e estabelecimento de orçamento para a Instrução Pública.
• Estabelecimento e organização dos conteúdos de ensino para as escolas secundárias.
• Encaminhamentos com relação ao
53 OLIVEIRA, Maria Cecília Marins. O ensino primário na província do Paraná
1853-1889. Curitiba/PR: Biblioteca Pública do Paraná, 1986.
121
valor despendido à Instrução Pública.
1870 a
1880
• Desenvolvimento do ensino secundário, principalmente na iniciativa privada (1870).
• Obrigatoriedade do ensino primário para os meninos de 7 a 12 anos e meninas de 7 a 10 anos (1874).
• Normatização da fiscalização das escolas primárias (1874).
• Criação da Escola Normal, em Curitiba, para formação de professores para a Instrução Pública (1876).
1881 a
1889
• Criação de escola noturna, na capital, para adultos (1882), e também em outros municípios.
• Vinculação de 20% do imposto predial para a Instrução Pública.
• Incentivo à criação de escolas através de estipulação de subvenções do governo.
• Câmaras municipais responsáveis em instituir, em suas sedes, casas escolares.
• Criação de alguns colégios particulares, fundados por ordens religiosas ou civis.
Fonte: OLIVEIRA, Maria Cecília Marins. O ensino primário na província do Paraná 1853-1889. Curitiba, PR: Biblioteca Pública do Paraná, 1986.
• Política de construção e manutenção de
estradas
A questão das estradas obteve grande
atenção dos governantes, pois delas dependia
todo o transporte de produtos e mercadorias
produzidos e consumidos na província, como
também a comunicação do interior com as
principais cidades, vilas e povoados. As
estradas existentes eram precárias, o que para
122
as autoridades impedia o “progresso da
província”.
A primeira necessidade desta província he, decididamente, o melhoramento de suas vias de communicação.
A lavoura, tão atrazada, [...], não póde alar, o commercio não póde desenvolver-se, em quanto as estradas se conservarem como estão, e o anhelo de attrahir, aos excellentes terrenos da província, colonos europêos em certa escala, encontra forte resistência no estado deplorável das vias actuaes de communicação, onde não póde rodar hum carro, e tudo se transporta, mal e mui dispendiosamente em costas de animaes (VASCONCELLOS, 1854, p. 86).54.
Assim que o Paraná se emancipou, desde
o seu primeiro governante, Zacarias de Góes e
Vasconcellos, iniciou-se o projeto da Estrada da
Graciosa, que ligava Curitiba ao litoral, e
também o de uma estrada planejada para
estabelecer a ligação entre o Paraná e o Mato
Grosso. Vários foram os engenheiros que
trabalharam na construção e em melhorias de
estradas nesse período: Francisco Antonio
Monteiro Tourinho (1835-1883), Henrique
Beaurepaire Rohan (1812-1894), Antonio
Rebouças (1839-1874), Willian Loyd e os
Irmãos Keller, entre outros.
54 VASCONCELLOS, Zacarias Góes e. Relatório...15 de julho de 1854. p.
86.
123
As estradas eram vias de comunicação
fundamentais para a província do Paraná, como
ainda é hoje, pois isso representava o
desenvolvimento econômico e social, segundo
Wilson Martins (1989, p. 12).55:
[...] a sua falta (estradas) foi talvez o principal entrave ao progresso do Paraná em geral e ao sucesso integral da colonização (migrantes estrangeiros) em particular. [...] a súplica pelas estradas é uma espécie de lugar-comum na história administrativa do Paraná e o clamor ininterrupto que se ouve, em todas as línguas, desde os primeiros dias de sua história provincial.
No Paraná havia quatro estradas
principais: a da Graciosa, Ytupava, Arraial e a
Estrada Geral. Esta última servia de passagem
para o gado e os muares que vinham de
Viamão/RS para Sorocaba/SP. Além dessas,
outras estradas também necessitavam de
investimentos, pela utilidade que tinham:
[...] as estradas de serra-ácima, particularmente daquellas por onde se faz todo ou grande parte do commercio entre as provincias do Sul e as de S. Paulo, Minas-Geraes, e Rio de Janeiro (VASCONCELLOS, 1854, p. 93).56.
As estradas que ligavam uma localidade a
outra dentro da província paranaense, como a
de Guarapuava a Ponta Grossa, estavam na
55 MARTINS, Wilson. Um Brasil diferente: ensaio sobre o fenômeno de
aculturação no Paraná. 2. ed. São Paulo: T. A. Queiroz, 1989. p.12. 56 VASCONCELLOS, Zacarias Góes e. Relatório...15 de julho de 1854. p. 93.
124
pauta de governo, conforme informa o
presidente Zacarias de Góes e Vasconcellos
(1854, p. 93) nesse mesmo Relatório.
[...] São por certo, dignas de attenção as ramificações, que de Ponta Grossa e de Guarapuava se dirigem á colonia Thereza; [...].
[...] De Castro [...] há huma estrada que vem directamente encontrar-se com a Graciosa; sua importância he immensa, e o direito que tem á attenção desta assembléia incontestável. Da mesma Villa segue hum ramal do porto de Jatahy, de summa utilidade, como parte da via de communicação com Mato-Grosso. Dirige-se huma estrada desta cidade á de S. Francisco na província de Santa Catharina, que muito convem melhorar para manter entre as duas cidades e províncias huma communicação regular.
Essa questão foi muito clamada quando do
estabelecimento de colônias de migrantes
estrangeiros, a partir da década de 1860. Eram
constantes as reclamações dos colonos à
administração pública sobre as péssimas
condições das estradas. Os presidentes da
província constantemente abordavam a
importância da melhoria e da construção de
estradas que permitissem a comunicação das
colônias com a capital e com os centros
maiores, principalmente para a comercialização
e para o consumo de produtos. Esse era um
grande problema, pois, segundo as autoridades
da província, as colônias não estavam
prosperando em virtude da falta de estradas.
125
[...] Esta colônia é assentada em fértil terreno, próprio para vários gêneros de cultura. Não tem prosperado, tanto quanto se esperava, por diversas causas, nascidas já da grande distancia e da falta de vias de communicação, que liguem-a a cidade de Castro, em cujas visinhanças se acha e com quem entre em relações commerciaes, posto que em pequena escala, e já de se não ter applicado a necessária attenção ao seu desenvolvimento57.
A administração pública, durante o período
provincial, apesar das dificuldades encontradas
pela falta de recursos técnicos e financeiros,
sempre tomou providências em relação à
construção e conservação de estradas, mesmo
não conseguindo avançar com algumas obras
importantes, como a conservação da Estrada
da Graciosa.
A navegação despertou grande interesse
das autoridades desde os primeiros anos de
província. O “empreendimento” de tornar os rios
navegáveis, naquele momento, vinha ao
encontro do fato de que os rios poderiam servir
para determinar os limites geográficos da
província, como também servir de referência
para o estabelecimento de novas localidades
(colônias de povoamento). Essa questão é
constantemente mencionada nos relatórios dos
presidentes e vice-presidentes, principalmente
no período de 1850 a 1870, pois os rios
representavam a possibilidade de um
desenvolvimento econômico para o Paraná.
57 Carvalho, 15 de fevereiro de 1870, p. 39.
126
Para explorar e mapear os rios foram
contratados engenheiros como os irmãos
Keller58. Vários rios foram estudados, como:
Iguaçu, Tibagi, Ivaí, Piquiri, Paraná,
Paranapanema etc. Além de os rios servirem
como referenciais geográficos, poderiam ser
transformados em vias de comunicação,
considerados como estradas para o transporte
de mercadorias. Isso traria um beneficio muito
grande à província, pela diminuição dos gastos
em relação ao transporte realizado
normalmente por via terrestre.
1º o rio Tibagy que se lança no Paranapanema, assim como este no Paraná, offerece com o Yvinheima e Brilhante de Mato-Grosso huma via fluvial, que, á partir do porto do Jatahy nesta, vae ter ao interior daquella província, ocassionando despezas incomparavelmente menores do que as que se fazem pela actual via de communicação, avista da distancia que encurta-se e do tempo que se poupa. A não ser pelos rios da Prata, Paraná, e Paraguay, parece averiguado não haver mais prompto nem mais fácil meio de communicação para o Mato-Grosso do que a indicada via fluvial, o que pode deixar de produzir assignalados benefícios a esta província por motivos que estão ao alcance de todos (VASCONCELLOS, 1854, p. 76-77).59.
58 Nos anexos dos relatórios estão os relatórios dos engenheiros informando
sobre o desenvolvimento do seu trabalho com os rios na província. 59 VASCONCELLOS, Zacarias Góes e. Relatório...15 de julho de 1854. p.,
p. 76-77.
127
Diversos outros fatores são abordados
pelos governantes a respeito dos rios, como a
possibilidade de exploração por meio da
cobrança de “pedágios” na utilização de balsa
para a travessia de um lado para outro, e
também o fornecimento de peixes, o que
poderia beneficiar as localidades às suas
margens.
As inúmeras dificuldades que ocorreram
sobre essa questão são informadas nos
relatórios, como por exemplo em relação ao rio
Tibagi, onde a navegação poderia ser realizada
apenas em algumas partes, pois em outras
havia obstáculos.
[...] não he, porem, o Tibagy rio tal, que consinta navegação não interrompida e sem perigo, porque sabe-se que tem muitas cachoeiras e baixos que com dificuldade se transpõe, e não he possível navegal-o com vantagem senão em certas monções (VASCONCELLOS, 1855, p. 770.60.
A mesma questão é referida quanto ao rio
Iguaçu.
[...] Yguassú – Este rio, que tem sua origem proxima a Serra do Mar, nos municipios de Curytiba e S. José dos Pinhaes, não é navegável em todo seu curso, por causa das rochas que obstruem, e muito mais pelo
60 VASCONCELLOS, Zacarias Góes e. Relatório...8 de fevereiro de 1855, p.
77.
128
magnifico salto que apresenta [...] ROHAN, 1856, p. 168).61.
Mesmo assim, com todas as dificuldades
apresentadas com relação à navegação dos rios,
os presidentes acreditavam nesse
empreendimento. [...] E todavia bastantemente
vantajosa seria aos interesses da provincia
huma tal navegação, e capaz de compensar
qualquer sacrifício que com ella se houvesse de
fazer, defendia o presidente Zacarias em 1855.
Mas esse interesse veio a desaparecer quando
surgiu a possibilidade de construção das
ferrovias na província, por volta da década de
1880.
Essa questão não se esgota aqui, e nem é
o que pretendemos. Apenas procuramos
apontar as perspectivas dos governantes
provinciais em relação à pretendida navegação
dos rios, principalmente quanto à utilização
deles como estradas. Sem dúvida, é um
assunto que posteriormente deve ser mais
pesquisado.
• Política de povoamento
As colônias de povoamento com migrantes
europeus eram citadas seguidamente pelos
governantes nos relatórios, demonstrando a
61 ROHAN, Henrique Pedro Carlos de Beaurepaire. Relatório... 1 de março
de 1856, p.168.
129
preocupação em dinamizar a instalação de
colônias produtoras de gêneros agrícolas para
suprir o mercado local e a comercialização do
excedente, como também a criação de mão de
obra assalariada.
A migração estrangeira para povoar o
Paraná teve início em 1828, quando chegaram os
primeiros alemães na região de Rio Negro, e
continuou com a posse do primeiro presidente da
província, Zacarias de Góes e Vasconcelos. Ele
via o imigrante como o individuo “trabalhador”,
que traria técnicas e desenvolveria a agricultura,
de que a província necessitava.
A Lei nº 29 de 21 de março de 1855, em seu artigo 1º autoriza o governante a promover a imigração de estrangeiro para a província e empregar os meios necessários para atrair os estrangeiros que estiverem em qualquer outra província do Brasil (PARANÁ, 1912, p. 16-17).62.
Essa lei inaugurou oficialmente o processo
de povoamento com migrantes europeus, no
Paraná. Todos os governantes da província
mencionaram as dificuldades e os obstáculos
enfrentados para o desenvolvimento da política
de migração, como a falta de recursos
financeiros, a falta de planejamento, os atritos
culturais entre os estrangeiros e a populações do
local, o que dificultava a relação entre eles. Mas
acreditava-se nesse empreendimento, pois,
62 Fonte: PARANÁ. Leis, Decretos, Regulamentos e Deliberações.
Governo da Província do Paraná. 1855 –1857. Curitiba: Typographia Penitenciária. 1912, p.16-17. t. 2.
130
apesar dos problemas, os migrantes europeus
eram um bom investimento.
E meu sentimento, senhores, que a província do Paraná, nos seus ensaios de colonisação [...] crêe um estabelecimento agrícola, onde se admittão os estrangeiros e nacionaes, [...]. Estou plenamente convencido que, dirigida a empreza por pessoa intelligente, a província tiraria vantagens, que largamente a compensarião das despezas adiantadas.63
O grande impulso da política de
povoamento ocorreu entre as décadas de 1860 e
1880, quando se instalaram, por todo o território,
mais de 60 núcleos coloniais, oficiais e
particulares.
Quadro 3: Colônias de migrantes europeus na província do Paraná
ANO
LOCALIDADE
COLÔNIA ETNIA64
1829
Rio Negro
Colônia do Rio Negro
Alemães
1847
Ivaí Colônia Tereza (hoje município de Reserva)
Franceses
1852
Guaraqueçaba
Colônia do Superagui
Suíços, alemães, franceses e outros.
1860
Serro Azul
Colônia do Assungui
Ingleses, franceses, italianos, alemães e outros.
1868
Curitiba, Colônia Argelina Franceses da Argélia, alemães,
63 RELATÓRIO. Rohan, 01 de março de 1856, p.39.
64 Fonte: PARANÁ. Dicionário histórico-biográfico do Paraná. Curitiba:
Chain, 1991. p. 90-91.
131
suíços, ingleses e italianos.
1870
Curitiba Colônia do Pilarzinho
Poloneses, alemães e italianos
1871
Curitiba Colônia São Venâncio
Alemães, poloneses e suecos.
1871
Paranaguá
Colônia Alexandra
Italianos
1873
Curitiba Colônia Abranches
Alemães e poloneses.
1875
Curitiba Colônia Santa Cândida
Poloneses, suíços e franceses
1875
Curitiba Colônia Orleans Poloneses, italianos, franceses e outros
1875
Paranaguá
Colônia Eufrasina e Pereira
Italianos e espanhóis
1876
Curitiba Colônia Bento Inácio
Poloneses, siberianos e galicianos
1876
Curitiba Colônia Lamenha
Poloneses, silesianos e alemães
1876
Curitiba Colônia Dom Augusto
Poloneses
1876
Curitiba Colônia Dom Pedro
Poloneses, galicianos e silesianos
1876
Araucária
Colônia Tomaz Coelho
Poloneses, galicianos e silesianos.
1877
Curitiba Colônia Riviére Franceses, poloneses e alemães
1877
Antonina e Morretes
Colônia Nova Itália
Italianos
1878
Curitiba Colônia Dantas Italianos
1878
Curitiba Colônia Alfredo Chaves (hoje Colombo)
Italianos
1878
São José dos Pinhais
Colônia Santa Maria do Novo Tirol
Italianos
1878
São José dos Pinhais
Colônia Zacarias Poloneses e silesianos
1878
São José dos Pinhais
Colônia Inspetor Carvalho
Poloneses e italianos
1 São José Colônia Muricy Poloneses e
132
878 dos Pinhais italianos
1878
Campo Largo
Colônia Antonio Rebouças
Poloneses e italianos
1878
Ponta Grossa
Colônia Otávio Alemães do Volga
1878
Palmeira Colônia Sinimbu Alemães do Volga
1878
Lapa Colônia Wirmond
Alemães do Volga.
1879
Paranaguá
Colônia Maria Luiza
Italianos, alemães e espanhóis
1883
Campo Largo
Colônia Mendes Sá
Italianos e poloneses
1886
Campo Largo
Colônia Alice Poloneses
1886
Araucária
Colônia Barão de Taunay
Poloneses
1886
Curitiba Colônia Santa Gabriela
Poloneses e Italianos
1886
Curitiba Colônia Antonio Prado
Poloneses e Italianos
1886
Curitiba Colônia Pres. Faria
Poloneses e italianos
1887
Curitiba Colônia Maria José
Italianos
1887
Rio Negro
Colônia João Alfredo
Alemães e poloneses
1887
Rio negro
Colônia São Lourenço
Alemães
1888
Curitiba Colônia Santa Felicidade
Italianos
1888
Paranaguá
Colônia Visconde de Nacár
Italianos
1888
Paranaguá
Colônia de Santa Cruz
Italianos
1888
Paranaguá
Colônia Santa Rita
Italianos
1889
Campo Largo
Colônia Balbino Cunha
Italianos
1889
Campo Largo
Colônia Dona Mariana
Italianos
Fonte: MARTINS, Wilson. Um Brasil Diferente:ensaio sobre o fenômeno de aculturação no Paraná. 2. ed. São Paulo: T. A. Queiroz, 1989. p. 66-67.
133
A entrada de migrantes europeus durante o
tempo da província foi de 19.215 indivíduos. Esse
fato alterou a constituição da população, que em
1854 contava com 60.625 habitantes, e passou a
126.722 habitantes em 187265.
Quase a totalidade dos presidentes do
período provincial, com exceção de um e outro,
investiram nessa política de povoamento, o que
marcou o Paraná e selou um rumo que não seria
abandonado, fato que promoveu a diversidade
étnica presente no Estado hoje. Tal questão leva
a muitas pesquisas sobre o que é ser
paranaense. Dentre os estudos apresentados, o
sociólogo Wilson Martins aponta como sendo
essa política de migração a responsável por dar
uma constituição populacional diferenciada do
restante do Brasil66.
O resultado dessa política, prosseguida sistematicamente há um século, deu ao Paraná a sua fisionomia humana particular e típica, definidora e essencial, [...]. Assim, ainda no domínio etnológico, o
65 Cf. MARTINS, 1989, p. 69. Não se pode esquecer de que nessa cifra
numérica existia a população negra. A composição da população do
Paraná segundo a cor, no século XIX, variou de 58,6% de brancos e
41,4% de negros, pardos e mulatos em 1800, passando a 55,1% de
brancos e 44,9% de negros, pardos e mulatos, em 1822; 57,2% de
brancos, sem população da Lapa, e 42,9% de negros, pardos e mulatos
em 1854; e 55% de brancos e 45% de negros, pardos e mulatos, em 1872
(Dicionário histórico-biográfico do Paraná, 1991, p.383). 66 Para se ter uma visão critica sobre essa forma de ver a constituição da
sociedade paranaense: MOTA, Lúcio Tadeu. As guerras dos Índios
Kaingang: a história épica dos índios Kaingang no Paraná (1769-1924). Maringá-
PR: EDUEM, 2009. p. 19-71.
134
Paraná repete o exemplo de equilíbrio [...] como a sua característica fundamental. Em certas regiões brasileiras o esquema da população pode ser um “triângulo retângulo” [...] o elemento português, o índio [...] o africano – aqui a figura geométrica seria, na mais simplificadora das hipóteses, um polígono irregular de sete lados, cujas faces, em extensão decrescente e tamanho variável, representariam os elementos polonês, ucraniano, alemão, italiano, [...] o índio e o negro (MARTINS,1989, p. 108).67
Assim, segundo essa explicação, a
representação da formação do povo brasileiro e
do povo paranaense ocorreria conforme os
esquemas a seguir 68, na Figura 1.
O Paraná, visto dessa forma por Martins,
dilui todas as etnias no povo paranaense, na
sociedade paranaense, que, na sua visão
sociológica, é uma sociedade “diferente” da do
resto do Brasil.
67 MARTINS, Wilson. Um Brasil diferente: ensaio sobre o fenômeno de aculturação
no Paraná. 2. ed. São Paulo: T. A. Queiroz, 1989. p. 108. 68 O desenho dos esquemas foi retirado de: MOTA, Lúcio Tadeu. História do
Paraná: ocupação humana e relações interculturais. Maringá-PR: EDUEM, 2005.
p. 53-54. (Formação de professores EAD, n. 28).
135
POVOBRASILEIRO
PORTUGUESES
NEGROS
ÍND
IOS
POVOPARANAENSE
NE
GR
O
ÍND
IO
PORTUGUÊS
ALEMÃO
UCRANIANO
PEQUENOS GRUP OS
ITALI
ANOPOLONES
^
Figura 1. Esquema geral de explicação da formação do povo brasileiro e do povo paranaense
Também verificamos, nas informações dos
presidentes da província, preocupação com as
populações indígenas e ações direcionadas a
elas, como a implantação de colônias militares,
também mencionadas nos relatórios. Além de
serem priorizadas como pontos estratégicos na
defesa das áreas limítrofes da província, essas
colônias eram consideradas como uma política
mais ampla para ocupação dos territórios, no
sentido de promover o povoamento.
Tanto a implantação das colônias militares
quanto a dos indígenas constituíram ações
desenvolvidas em conjunto pelo governo
imperial e o provincial. Assim, foram
136
implantadas tais colônias em vários pontos da
Província.
As colônias militares foram as seguintes:
Colônia Militar de Jataí, criada em 21 de janeiro
de 1855 pelo decreto Imperial nº 751, localizada
às margens do rio Tibagi, hoje cidade de
Jataizinho; Colônia Militar do Chopim, criada em
16 de novembro de 1859 pelo decreto Imperial
nº. 2.502, instalada em 27 de dezembro de
1882, localizada onde hoje é a cidade de
Chopinzinho; Colônia Militar do Chapecó, pelo
decreto nº 2502 de 16 de novembro de 1859,
instalada em 14 de março de 1882, e que hoje
integra o território do Estado de Santa Catarina;
Colônia Militar de Foz do Iguaçu, fundada em
23 de novembro de 1889, onde hoje é a cidade
de Foz do Iguaçu.
As colônias indígenas foram: Colônia de
Nossa Senhora do Loreto do Pirapó, criada em
1855, localizada na foz do rio Pirapó, no
Paranapanema, hoje cidade de Itaguagé;
Colônia de Santo Inácio do Paranapanema,
criada em 1862 na embocadura do rio Santo
Inácio do Paranapanema, atualmente município
de Santo Inácio; Colônia de São Pedro
Alcântara, criada em 1855 às margens do rio
Tibagi, em frente à cidade de Jataizinho, que foi
a que teve maior duração, sendo extinta apenas
em 1895; Colônia de São Jerônimo, em 1859,
hoje cidade de São Jerônimo da Serra; Colônia
do Xongu (Chagu) instalada em 1859, nos
campos do Chagu, a oeste de Guarapuava,
onde atualmente se localiza a Terra Indígena de
137
Rio das Cobras, no município de Laranjeiras do
Sul; Colônia de Catanduvas, implantada em
1891, localizada entre a colônia militar de Foz
do Iguaçu e Guarapuava; Colônia de São
Tomás de Papanduva, instalada em 1875 na
região do Rio Negro.
• Considerações finais
Ao abordarmos as principais políticas
públicas dos presidentes e vice-presidentes do
Paraná provincial constatamos como eles
buscaram promover o desenvolvimento político,
social, cultural e econômico da província para
consolidar a sua autonomia por meio de ações
políticas, como: organizar e garantir a segurança
pública, que, apoiada na ordem dominante, agiu
em defesa dos interesses de uma determinada
classe social – a elite; o desenvolvimento de
práticas educacionais, para criar uma sociedade
com uma cultura pautada na moralidade e nos
costumes da época; a busca por ocupar, unificar
e garantir o domínio do território, ligando uma
região a outra pela política de estradas,
investindo na sua construção e em suas
melhorias, e no projeto de navegação dos rios,
visando impulsionar a economia e a comunicação
do interior com o centro dominante do poder;
como também povoar com gente “civilizada,
morigerada e laboriosa” as terras paranaenses,
constituindo uma sociedade pautada na ideologia
do progresso e da civilização.
Esperamos que, a partir do que foi abordado
neste capítulo, seja possível se conhecer um
138
pouco sobre esse período da história paranaense
que não costuma ser abordado nas escolas, e
praticamente não é estudado pelos alunos.
Apesar de a história paranaense ser objeto de
estudos desde meados do século XIX até os dias
de hoje, de forma geral muito pouco contato os
educadores e estudantes têm com esses estudos.
REFERÊNCIAS
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139
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140
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141
Documentos On line
PARANÁ. Relatórios dos Presidentes e Vice-presidentes da Província do Paraná. Curitiba, 1854-1889. Disponível em: <http://www.pr.gov.br/arquivopublico/>. Acesso em: 14 mar. 2008.
PARANÁ. Governador (1854-1856: Góes e Vasconcellos) Relatório do Presidente da Província do Paraná Zacarias de Góes e Vasconcellos na Abertura da Assembléia Legislativa Provincial, em 15 de julho de 1854. Disponível em: <http://www.pr.gov.br/arquivopublico/>. Acesso em: 15 mar. 2008.
PARANÁ. Governador (1854-1856: Góes e Vasconcellos) Relatório do Presidente da Província do Paraná o Conselheiro Zacarias de Góes e Vasconcellos na Abertura da Assembléia Legislativa Provincial, em 8 de fevereiro de 1855. Disponível em: <http://www.pr.gov.br/arquivopublico/>. Acesso em: 15 mar. 2008.
PARANÁ. Governador (1854-1856: Góes e Vasconcellos) Relatório do Vice-Presidente da Província Henrique de Beaurepaire Rohan à Assembléia Legislativa, em primeiro de março de 1856. Disponível em: <http://www.pr.gov.br/arquivopublico/>. Acesso em: 17 mar. 2008.
PARANÁ. Governador (1868-1869: Augusto da Fonseca) Relatório do Presidente da Província Antonio Augusto da Fonseca à Assembléia Legislativa em 6 de Abril de 1869. Disponível em: <http://www.pr.gov.br/arquivopublico/>. Acesso em 17 mar. 2008.
PARANÁ. Governador (1869 - 1870: Affonso de Carvalho) Relatório do Presidente da Província do Paraná Dr. Antonio Luiz Affonso de
142
Carvalho apresentado à Assembléia Legislativa, na abertura da 1ª sessão da 9ª legislatura, em 15 de fevereiro de 1870. Disponível em: <http://www.pr.gov.br/arquivopublico/>. Acesso em: 17 mar. 2008.
ATIVIDADES
Observando o quadro I da galeria de
presidentes verificamos grande número de
governantes no período provincial paranaense.
Estabelecendo um paralelo com dados
recentes, responda às seguintes questões:
1- Você sabe quantos governantes o Paraná
teve nas últimas duas décadas?
2- Quais as prioridades de cada governante?
3- De que regiões eram oriundos?
4- Quais partidos políticos representavam?
5- Pesquise e elabore um quadro semelhante
ao “quadro I”, com informações sobre os
governantes das últimas duas décadas
(nomes, partidos, região de origem,
principais políticas de governo etc.).
143