iluminar a terra pela inteligência trajetória do aprendizado agrícola de barbacena, mg (1910 ...
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Tese apresentada, como requisito parcial para obtenção do título de Doutor, ao Programa de Pós-Graduação em Educação, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.TRANSCRIPT
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Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Centro de Educao e Humanidades
Faculdade de Educao
Marli de Souza Saraiva Cimino
Iluminar a terra pela inteligncia: Trajetria do Aprendizado Agrcola de
Barbacena, MG (1910 - 1933)
Rio de Janeiro
2013
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Marli de Souza Saraiva Cimino
Iluminar a terra pela inteligncia: Trajetria do Aprendizado Agrcola de Barbacena,
MG (1910 - 1933)
Tese apresentada, como requisito parcial para
obteno do ttulo de Doutor, ao Programa de
Ps-Graduao em Educao, da Universidade do
Estado do Rio de Janeiro. rea de concentrao:
Educao.
Orientador: Prof. Dr. Jos Gonalves Gondra
Rio de Janeiro
2013
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CATALOGAO NA FONTE
UERJ / REDE SIRIUS / BIBLIOTECA CEH/A
Autorizo, apenas para fins acadmicos e cientficos, a reproduo total ou parcial desta
tese.
___________________________________ _______________
Assinatura Data
C573 Cimino, Marli de Souza Saraiva.
Iluminar a terra pela inteligncia: trajetria do aprendizado agrcola de
Barbacena, MG (1910 - 1933) / Marli de Souza Saraiva Cimino. 2013. 369 f.
Orientador: Jos Gonalves Gondra.
Tese (Doutorado) Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Faculdade de Educao.
1. Educao Barbacena, MG Teses. 2. Ensino Profissional Barbacena, MG Teses. 3. Agricultura Barbacena, MG Teses. I. Gondra, Jos Gonalves. II. Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Faculdade de
Educao. IV. Ttulo.
es CDU 373.6
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Marli de Souza Saraiva Cimino
Iluminar a terra pela inteligncia: Trajetria do Aprendizado Agrcola de Barbacena,
MG (1910 - 1933)
Tese apresentada, como requisito parcial para
obteno do ttulo de Doutor, ao Programa de
Ps-Graduao em Educao, da Universidade do
Estado do Rio de Janeiro. rea de concentrao:
Educao.
Aprovada em 21 de fevereiro de 2013.
Banca Examinadora:
_____________________________________________
Prof. Dr. Jos Gonalves Gondra (Orientador)
Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ
_____________________________________________
Prof. Dr. Irlen Antnio Gonalves
Centro Federal de Educao Tecnolgica - CEFET-MG
_____________________________________________
Prof. Dr. Gabriel de Arajo Santos
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - UFRRJ
_____________________________________________
Prof. Dr. Carlos Fernando da Cunha Junior
Universidade Federal de Juiz de Fora - UFJF
_____________________________________________
Profa. Dra. Lia Macedo de Ciomar Faria
Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ
_____________________________________________
Profa. Dra. Alessandra Frota Martinez de Schueler
Universidade Federal Fluminense - UFF
_____________________________________________
Profa. Dra. Snia de Oliveira Cmara Rangel
Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ
Rio de Janeiro
2013
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DEDICATRIA
Dedico
A meus pais, Aparecida e Carminho, pelo exemplo de vida e grandeza de sentimentos com
que iluminaram os caminhos da minha existncia.
Aos meus filhos, Wallace e William, pelo carinho, apoio e entenderem minhas ausncias.
Ao meu esposo, Cimino, pelo amor, incentivo e por doar-se para a concretizao desse ideal.
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AGRADECIMENTOS
Primeiramente, e acima de tudo, a Deus, por sempre se fazer presente ao meu lado,
dando-me luz e foras para superar as dificuldades.
A meus familiares, por compartilharmos juntos todos os momentos de nossas vidas.
De forma especial, a Jos Gonalves Gondra, meu incansvel orientador, por acreditar
em meus avanos, pela confiana em mim depositada ao dar-me autonomia para descobrir
meus prprios caminhos, pelas inteligentes e oportunas sugestes que me nortearam na
elaborao desta pesquisa. Outrossim, pela competncia, doao e comprometimento com que
conduz sua linha de trabalho, junto a seus alunos e orientandos, sem, contudo, prescindir da
condio de amigo.
Aos professores do Programa de Ps-Graduao em Educao, pela contribuio
intelectual.
A meus colegas do Ncleo de Estudos NEPHE, pelo companheirismo, solidariedade e
cumplicidade ao compartilhar saberes nessa difcil, mas gratificante jornada e, de forma
particular, a todos aqueles que contriburam diretamente com esta pesquisa, o que fao
representar pela colega do NEPHE e professora da UERJ, Maria de Lourdes Silva.
Aos Professores Doutores Irlen Antnio Gonalves, Gabriel de Arajo Santos, Carlos
Fernando da Cunha Jnior, Lia Macedo de Ciomar Faria, Alessandra Frota Martinez de
Schueler e Snia de Oliveira Cmara Rangel, pela gentileza em terem aceitado participar de
minha banca.
Ao Aprendizado Agrcola de Barbacena, hoje, Instituto Federal de Educao, Cincia
e Tecnologia Sudeste de Minas Gerais (IFET), Campus Barbacena, MG, pela sua histria e
tradio.
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, RJ, e a toda sua equipe da Faculdade de
Educao pela competncia, dedicao e seriedade com que conduzem o programa e ao
Programa de Ps-Graduao em Educao, meu reconhecimento, por proporcionar-me a
oportunidade de realizao do Estgio de Doutoramento na University of London, England,
United Kingdom. Outrossim, agradeo ao professor doutor Gary McCulloch por receber-me
como co-orientanda junto ao programa no Instituto de Educao da Universidade de Londres.
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Esta a histria.
Um jogo da vida e da morte
prossegue no calmo desdobramento de um relato,
ressurgncia e denegao da origem,
desvelamento de um passado morto
e resultado de uma prtica presente.
Certeau, 1982, p. 57
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RESUMO
CIMINO, Marli de Souza Saraiva. Iluminar a terra pela inteligncia: trajetria do
aprendizado agrcola de Barbacena, MG (1910-1933). 2013. 369 f. Tese (Doutorado em
Educao) Faculdade de Educao, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2013.
Esta tese objetiva percorrer a trajetria da criao, implantao e mudanas, ao longo
do processo histrico do Aprendizado Agrcola de Barbacena, desde seu incio, em 1910, at a
poca do presidente Getlio Vargas, 1933. Como preliminares e pano de fundo, as iniciativas
do Brasil, que, premido pela carncia de mo de obra qualificada para atender demanda das
fazendas, aps a abolio da escravatura, busca conhecimentos e experincias em outros
pases, na rea da educao agrcola. Com o advento da Repblica, verifica-se uma guinada
do Estado brasileiro no sentido de assumir o ensino elementar pblico, a fim de ir diminuindo
o percentual de analfabetos e de ensaiar a implantao do ensino agrcola, tendo em vista a
crise que surgira no setor agrcola. nesse cenrio que se criam os aprendizados agrcolas. O
Aprendizado Agrcola de Barbacena surge em 1910. Com foco nessa Instituio, abordam-se:
o papel de lideranas polticas mineiras para trazer para Barbacena o primeiro Aprendizado
Agrcola de Minas Gerais; as mudanas por que o Aprendizado passou, indo de seu incio at
a poca de Getlio, quando foi transformado em Escola Agrcola; o mtodo de ensino,
prevalentemente terico-prtico; a integrao do Aprendizado com seu meio; o sistema de
administrao que inclua participao dos alunos nos lucros; a estrutura didtico-pedaggica
e o regime de internato. O estudo destaca o trabalho do seu primeiro Diretor, Diaulas Abreu,
por 45 anos frente da Instituio. Como metodologia de pesquisa, analisam-se decretos
relativos criao do Aprendizado, regulamentos, relatrios, dados do arquivo da Instituio
e a troca de correspondncia entre a direo e rgos do governo. A pesquisa se encerra na era
do presidente Getlio Vargas, aps a Revoluo de 1930.
Palavras-chave: Histria da Educao. Ensino Profissional e Agrcola. Aprendizado Agrcola
de Barbacena, MG.
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ABSTRACT
CIMINO, Marli de Souza Saraiva. Light upon the earth by intelligence: trajectory of learning
agricultural of Barbacena, MG (1910 to 1933). 2013. 369f. Tese (Doutorado em Educao)
- Faculdade de Educao, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2013.
This thesis aims at following the course of the creation, implantation and changes,
throughout the historical process of the Agricultural Learning of Barbacena, since its
beginning, in 1910, until the era of President Getulio Vargas, 1933. As a preliminary and
background, initiatives of Brazil which, pressed by the lack of skilled labour to supply the
farms after the abolition of slavery, searches for knowledge and experience in other countries
in the area of agricultural education. With the advent of the Republic, noticed a kind of a
deflection on the part of the Brazilian State to take care of the public elementary schools in
order to decrease the percentage of the illiterate population and to introduce the agricultural
teaching, in view to the crisis that had arisen in the agricultural sector. It is in this context that
the Agricultural Learning appeared. The Agricultural Learning of Barbacena was created in
1910. With focus on that Institution, one must take into consideration: the role of politician
leaderships of Minas Gerais bringing to Barbacena the first Agricultural Learning of the State;
the changes processed by that School underwent from its beginning until Getulios era when it was transformed into Agricultural School; the method of teaching, mainly theoretical-
practical learning; the integration between the learning and its environment; the
administration system that included the participation of the students in the profits; the
didactic-pedagogical struture and the boarding school regime. This reaserch puts in relief the
work of its first Director, Diaulas Abreu, in charge for the Institution for 45 years. As research
methodological, the edicts related to the creation of the Learning are analysed as well as the
statutes, the reports, the data of the files of the Institution and the exchange of correspondence
between the board and the Government. The research concludes in President Getulio Vargas era, after the Revolution of 1930.
Keywords: History of Education. Professional and Agricultural Education. Agricultural
Learning of Barbacena, MG.
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Manchester Mechanics Institute, in 1825.................................... 37
Figura 2 Old photo of the Royal Cirencester, United Kingdom ............ 39
Figura 3 Royal Agriculture College Cirencester, United Kingdom........ 39
Figura 4 Escola Real de Ofcios, fundada por D. Joo VI, em 1816.......... 57
Figura 5 Chegada de D. Joo VI, 1808....................................................... 58
Figura 6 Antes da instalao da Escola Imperial........................................ 58
Figura 7 A Escola Imperial instalada.......................................................... 59
Figura 8 Infraestrutura prxima atual....................................................... 59
Figura 9 Colgio Ablio (1881-1889)......................................................... 101
Figura 10 Gymnasio Mineiro (1890-1912)................................................... 101
Figura 11 Ptio interno do Gymnasio Mineiro (1890-1912)........................ 101
Figura 12 EPCAR (1949 at os dias atuais).................................................. 101
Figura 13 Vista Area, onde funcionaram todos os estabelecimentos.......... 103
Figura 14 Escola de Aprendizes Artfices - Campos de Goytacazes, RJ...... 125
Figura 15 Oficina da Escola de Aprendizes Artfices - Belo Horizonte, MG.... 125
Figura 16
Rio das Mortes, Fazenda Borda do Campo, Caminho Novo -
Barbacena, 1822...........................................................................
131
Figura 17 Retrato de ndios Puris, 1822........................................................ 131
Figura 18 Fazenda da Borda do Campo........................................................ 132
Figura 19 Matriz Nossa Senhora da Piedade................................................ 132
Figura 20
Fazenda do Registro - propriedade do Inconfidente Padre
Manuel Rodrigues da Costa..........................................................
133
Figura 21 Casa onde morou o Padre, irmo de Tiradentes........................ 133
Figura 22 Fazenda da Caveira - propriedade de Joaquim Silvrio dos Reis 133
Figura 23
Construes ao redor da Igreja Matriz Nossa Senhora da
Piedade, ocasio da Revoluo Liberal, de 1842.........................
134
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Figura 24 Estao Frrea de Barbacena, 1880.............................................. 134
Figura 25 Ponte e Linha Central, 1881......................................................... 134
Figura 25 Ponte sobre rodovia de acesso ao centro, 1920............................ 135
Figura 27 Estao Ferroviria de Barbacena................................................ 135
Figura 28 Solar dos Andradas....................................................................... 138
Figura 29 Solar dos Bias Fortes.................................................................... 138
Figura 30 Estao Sericcola......................................................................... 139
Figura 31 Industrializao do fio da seda, na Colnia Rodrigo Silva, 1920 139
Figura 32
Localizao geogrfica da cidade de Barbacena, no Estado de
Minas Gerais ................................................................................
140
Figura 33 Distribuio dos CEFETs............................................................. 141
Figura 34 Distribuio dos Campus da ETs em Minas Gerais..................... 141
Figura 35
Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia Sudeste de
Minas Gerais, Campus Barbacena................................................
141
Figura 36 Aprendizado Agrcola de Barbacena............................................ 150
Figura 37
Setor de Produo Agrcola, vista dos vinhedos, no AA de
Barbacena, 1917...........................................................................
157
Figura 38 Alunos praticando enxertia, AA de Barbacena, 1917.................. 157
Figuras 39 e 40
Plantas dos edifcios-sede e Internato, a serem construdos para
o AA de So Simo (SP), AA de Guimares (MA) e AA de
Tubaro (SC)................................................................................
167
Figura 41
Vista da construo do prdio central do Imperial Instituto de
Agricultura da Bahia, onde funcionou o AA da Bahia (BA)...........
168
Figura 42 Edifcio do AA de So Luiz das Misses (RS)............................ 169
Figuras 43 e 44
Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ), Universidade de So Paulo (USP), Campos de Piracicaba (SP)..
175
Figura 45 Museu Imperial da Independncia, Ipiranga (SP)........................ 175
Figura 46 Parque do Ipiranga (SP)................................................................ 175
Figura 47
Vista parcial do Setor de Jardinagem, localizado em frente s
Oficinas de Manufatura, no AA de Barbacena.............................
177
Figura 48 e 49 Parque externo no entorno do AA de Barbacena......................... 178
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Figura 50 Estrada de Ferro Central do Brasil............................................... 179
Figura 51
Ptio da Instituio: entrada interna paras as Oficinas de
Manufaturas, Salas dos Laboratrios, Museu de Histria
Natural, Alojamento dos alunos do AA de Barbacena ................
185
Figura 52 Vista panormica do AA de Barbacena ....................................... 216
Figura 53 Rua XV de Novembro, em Barbacena, 1906............................... 219
Figura 54 Praa dos Andradas, em Barbacena,1928..................................... 219
Figura 55 Geada em frente Praa da Igreja do Rosrio, em Barbacena,1932 219
Figura 56 Caquizeiro, AA de Barbacena, 1912............................................ 222
Figura 57 Aplicao de Herbicidas, AA de Barbacena, 1913...................... 222
Figura 58 Vista do Estbulo do AA de Barbacena....................................... 232
Figura 59 Ncleo de Agricultura do AA de Barbacena, 1928...................... 235
Figura 60
Plantao de Pereiras - Ncleo de Fruticultura/Pomicultura do
AA de Barbacena..........................................................................
235
Figura 61
Fbrica de Conservas ou Ncleo de Processamento de Vegetais
do AA de Barbacena.....................................................................
241
Figura 62 Oficina de Manufaturas em Couro do AA de Barbacena............. 244
Figura 63 Setor de Horticultura - AA de Barbacena..................................... 248
Figura 64 Recolhimento do Feno - AA de Barbacena.................................. 250
Figura 65 Enfardamento do Feno - AA de Barbacena.................................. 250
Figura 66 Diaulas Abreu .............................................................................. 266
Figura 67 Requerimento do pai Processo Admissional ............................ 269
Figura 68 Via de acesso Instituio, 1915.................................................. 274
Figura 69 Via de acesso Instituio, 1907.................................................. 274
Figura 70 Via de acesso, com o AA de Barbacena no alto, 1930................. 275
Figura 71 Atestado Mdico Processo Admissional................................... 283
Figura 72 Dormitrio do Aprendizado Agrcola de Barbacena, 1938.......... 284
Figura 73 Alunos do AA de Barbacena com Uniforme de Servio.............. 286
Figura 74 Atestado de Bons Antecedentes - Processo Admissional ............ 288
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Figura 75
Alojamento, Salas de Aula e Oficinas em seu entorno - AA de
Barbacena.....................................................................................
294
Figura 76 Comemorao Cvica pelos alunos - AA de Barbacena............... 305
Figura 77
Setor de Floricultura em Estgio Avanado de Cultivo - AA de
Barbacena.....................................................................................
308
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LISTA DE GRFICOS
Grfico 1 Demanda para a Primeira Turma do AA de Barbacena, em 1913........... 225
Grfico 2 Demanda para os Cursos do AA de Barbacena, em 1923........................ 226
Grfico 3
Resultado da Comercializao dos Produtos Confeccionados no AA de
Barbacena, 1919.......................................................................................
245
Grfico 4
Resultado da Produo nas Oficinas de Manufaturas do AA de
Barbacena, em 1919.................................................................................
246
Grfico 5 Destino da Renda obtida com a Produo do AA de Barbacena............. 255
Grfico 6 Setores Beneficiados com a Renda da prpria Instituio, em 1929....... 256
Grfico 7 Resultado das 122 Matrculas Efetivadas em 1913.................................. 278
Grfico 8 Resultado das 150 Matrculas efetivas em 1931...................................... 292
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Sntese das iniciativas da educao agrcola no sculo XIX................. 76
Tabela 2 Aprendizados Agrcolas criados entre 1910 e 1930............................... 145
Tabela 3
Criao e Extino dos Primeiros Aprendizados Agrcolas no Brasil,
1910-1931..............................................................................................
166
Tabela 4 Setor de Fruticultura - Variedades de mudas de frutas.......................... 171
Tabela 5 Setor de Horticultura - Variedades de hortalias e leguminosas........... 172
Tabela 6 Setor de Floricultura - Variedades de plantas ornamentais................... 176
Tabela 7
Primeiro mobilirio que comps Diretoria, Secretaria, Salas de Aula e
Sala de aula de Desenho.........................................................................
182
Tabela 8
Mobilirios e utenslios adquiridos em Belo Horizonte e Rio de
Janeiro....................................................................................................
182
Tabela 9
Mobilirios que compuseram o Museu e os Laboratrios de Fsica,
Qumica e de Cincias Naturais.............................................................
185
Tabela 10 Equipamentos do Museu e Laboratrio de Histria Natural.................. 186
Tabela 11 Mobilirio que comps a Biblioteca...................................................... 187
Tabela 12 Obras que compuseram o acervo bibliogrfico da Biblioteca............... 188
Tabela 13 Valor Mdio das Obras Adquiridas para a Biblioteca Escolar.............. 189
Tabela 14 Equipamentos para as Oficinas de Mecnica, Carpintaria e Ferraria.... 191
Tabela 15
Instrumentos para os Setores de Horticultura, Jardinagem,
Fruticultura, Laticnio e Pecuria ..........................................................
192
Tabela 16
Equipamentos para as Indstrias de Processamento: Fruticultura,
Destilaria e Horticultura.........................................................................
193
Tabela 17
Relao de valores salariais dos primeiros servidores do AA de
Barbacena...............................................................................................
201
Tabela 18
Processos Admissionais - Primeiros Alunos do AA de Barbacena, em
1913........................................................................................................
271
Tabela 19 Matrculas Efetivadas entre 1913 e 1917............................................... 279
Tabela 20 Perfil do Aluno Interno.......................................................................... 281
Tabela 21 Vagas no Regime de Internato do AA de Barbacena entre 1916 e 1933... 281
Tabela 22 Total de Alunos Matriculados entre 1919 e 1933.................................. 290
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Tabela 23 Valor da Remunerao dos Alunos do Curso Profissional.................... 296
Tabela 24 Valor de Produtos Comercializados pela Instituio............................. 297
Tabela 25 Formandos do Curso Profissional de 1915 a 1920................................ 300
Tabela 26 Profisses Ocupadas pelos Egressos do AA de Barbacena em 1930 e 1931.. 301
Tabela 27 Horrio Escolar Integral......................................................................... 304
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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AA Aprendizado Agrcola
AAB Aprendizado Agrcola de Barbacena
CEFETs Centros Federais de Educao Tecnolgicas
CTUs Centros Tecnolgicos vinculados s Universidades
D.O.U. Dirio Oficial da Unio
EAA Escola de Aprendizado Agrcola
EAAs Escolas de Aprendizes Artfices
EAFs Escolas Agrotcnicas Federais
EITs Escolas Industriais e Tcnicas
EPCAR Escola Preparatria de Cadetes do Ar
ESALQ
ETFs
Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz
Escolas Tcnicas Federais
ETs Escolas Tcnicas
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica
IFETs Institutos Federais de Educao, Cincia e Tecnologia
MACOP Ministrio da Agricultura, Comrcio e Obras Pblicas
MEC Ministrio da Educao
NEPHE Ncleo de Ensino e Pesquisa em Histria da Educao
RMAIC Relatrio do Ministrio da Agricultura, Indstria e Comrcio
SNA Sociedade Nacional de Agricultura
SRE Secretaria de Registros Escolares
UEM Universidade Estadual de Maring
UERJ Universidade do Estado do Rio de Janeiro
UFF Universidade Federal Fluminense
UFOP Universidade Federal de Ouro Preto
UFRRJ Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
USP Universidade de So Paulo
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SUMRIO
INTRODUO.......................................................................................................... 19
1 HISTRIA DO ENSINO PROFISSIONAL E AGRCOLA................................ 32
1.1 Ensino profissional no exterior ................................................................................ 34
1.2 Ensino profissional no Brasil ................................................................................... 55
1.3 Ensino agrcola no Brasil .......................................................................................... 61
1.4 Ensino agrcola em Minas Gerais ............................................................................ 79
2 CRIAO DO APRENDIZADO AGRCOLA DE BARBACENA .................... 104
2.1 Surgimento do Aprendizado Agrcola de Barbacena............................................. 104
2.2 Aprendizes Artfices (1909) e Aprendizes Agrcolas (1910)................................... 123
2.3 A cidade de Barbacena, MG..................................................................................... 130
2.4 Aprendizados agrcolas da malha federal .............................................................. 142
2.5 Aprendizado Agrcola de Barbacena ...................................................................... 149
3 MEMRIA ARQUITETNICA DO AA DE BARBACENA, MG...................... 165
3.1 Aprendizado Agrcola de Barbacena no cenrio nacional .................................... 166
3.2 Razes do Aprendizado Agrcola de Barbacena...................................................... 170
3.3 Implantao do espao fsico do Aprendizado Agrcola de Barbacena, MG....... 179
3.3.1 Gabinete do diretor, secretaria escolar, salas de aula, sala de aula de desenho .......... 182
3.3.2 Museu de histria natural, laboratrio de cincias naturais, laboratrio de fsica e
Qumica .......................................................................................................................
185
3.3.3 Biblioteca .................................................................................................................... 187
3.3.4 Oficinas de manufaturas: carpintaria, ferraria, serralheria, marcenaria....................... 190
3.3.5 Galpes de mquinas, salas-ambiente, laticnio, indstrias rurais .............................. 192
3.4 Diretor e corpo de funcionrios................................................................................ 195
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4 APRENDENDO A FAZER, FAZENDO PARA APRENDER ............................ 206
4.1 Fundao e legitimao do Aprendizado Agrcola de Barbacena......................... 210
4.2 Um aprendizado integrado ....................................................................................... 219
4.3 Os cursos .................................................................................................................... 224
4.3.1 Curso preparatrio ou primrio ................................................................................... 224
4.3.1.1 Curso preparatrio para adultos .................................................................................. 229
4.3.2 Curso regular................................................................................................................ 230
4.3.3 Curso de adaptao ..................................................................................................... 233
4.3.4 Curso profissional ....................................................................................................... 236
4.4 Fazendo para aprender............................................................................................. 239
4.5 Estao meteorolgica .............................................................................................. 257
4.6 Certificao ................................................................................................................ 258
4.7 De Aprendizado a Escola Agrcola .......................................................................... 259
5
CONTROLAR A CONDUTA, MODELAR OS AFETOS E REGULAR AS
MANEIRAS................................................................................................................
263
5.1 Recrutamento do alunado ........................................................................................ 267
5.2 Regime de ensino ....................................................................................................... 273
5.2.1 Regime de semi-internato e externato.......................................................................... 273
5.2.2 Regime de internato .................................................................................................... 279
5.3 Remunerao dos alunos .......................................................................................... 394
5.4 Egressos ...................................................................................................................... 299
5.5 Participao da comunidade .................................................................................... 306
CONSIDERAES FINAIS ................................................................................... 310
REFERNCIAS ...................................................................................................... 314
ANEXO A - Decreto n 8.319, 1910 ......................................................................... 326
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ANEXO B- Decreto n 8.736, 1911........................................................................... 338
ANEXO C- Decreto n 22.934, 1933 ......................................................................... 356
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19
INTRODUO
A partir da abolio da escravatura, da queda do Imprio e posterior implantao da
Repblica, verifica-se uma guinada das autoridades governamentais para implementar uma
poltica educacional que respondesse s novas e graves necessidades da Nao. Era cada vez
mais premente que o poder pblico assumisse, de fato, sua responsabilidade sobre o processo
de educao da juventude brasileira. Os novos tempos exigiam um outro modelo de educao,
que no aquele do bacharelismo das elites que vinha desde o Imprio. O panorama de
esvaziamento de mo de obra das fazendas que entraram em grave crise forava o governo a
encontrar caminhos para preparar mo de obra para o meio rural e, mediante motivar os
jovens a nele permanecer, estancando o fenmeno do xodo rural. Nesse cenrio, pouco a
pouco, redimensionou-se a importncia da educao agrcola para o Brasil.
Tendo em vista o setor da educao agrcola e profissional, as autoridades brasileiras
procuraram conhecer experincias de outros pases. Nesse particular, foi muito importante a
presena do belga Armand Ledent1, pois algumas linhas gerais da poltica brasileira de
educao agrcola e profissional no incio do sculo XX, inspiraram-se em suas ideias, como
se ver.
O resultado de exaustiva pesquisa, vasculhando arquivos, documentos e bibliografia
aqui apresentado de modo sistemtico, destacando os recortes, embasamentos tericos e
documentos utilizados. Para delinear as questes que motivaram a escolha do tema da
presente tese, nestas pginas introdutrias apresentam-se aspectos da trajetria profissional e
acadmica da autora, que a levaram a explorar horizontes desta pesquisa, cujo percurso passa
a ser sucintamente delineado.
Os documentos a serem analisados, devem ser reportados ao contexto histrico em que
vieram a lume. Retroceder no tempo, para se entender um texto, atendo-se ao esprito
sociocultural do seu tempo, encerra alguma dificuldade, porque h a tendncia de l-los sob a
tica de uma cultura contempornea. Mas o esforo hermenutico, para que seja o mais fiel
possvel a determinada poca, fundamental.
1 Ledent foi engenheiro agrnomo, bacharel em Cincias Naturais e membro da Associao dos Engenheiros da Escola de
Minas, Artes e Manufaturas de Lige, na Blgica. A pedido do Ministro da Agricultura do Brasil, Ledent planejou e
organizou o projeto de criao da Escola Superior de Agricultura de Piracicaba, SP. Retornando Blgica e residindo em
Bruxelas, ocupou o cargo de Inspetor do Ministrio de Indstria e Trabalho do Reino da Blgica. Ao trmino de suas
viagens como pesquisador na rea do ensino agrcola, enviou relatrio, intitulado O ensino profissional e agrcola. Plano Geral de Organisao, ao Ministrio da Agricultura no Brasil, em 1910, apontando as experincias vivenciadas no exterior (LEDENT, 1910). De volta ao Brasil, ocupou o cargo de Diretor-Geral Interino da Agricultura, estando presente na
inaugurao do Aprendizado Agrcola de Barbacena, em 14-07-1913 (BRASIL. DOU, 1913).
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O foco da pesquisa o Aprendizado Agrcola de Barbacena (AAB), fruto de alguns
questionamentos realizados em um dos captulos da Dissertao de Mestrado, intitulada
Fatores Possibilitadores para a Autonomia no Exerccio da Profisso, defendida em 2006,
na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), sob a orientao da Professora
Doutora Akiko Santos. Naquele trabalho abordava a histria da Escola Agrotcnica Federal
de Barbacena (EAFB). Ainda que o Aprendizado Agrcola de Barbacena seja o principal
objeto deste estudo, questes conexas so abordadas, exatamente para que se tenha melhor
entendimento do fenmeno histrico. Nesse sentido, a comparao com aprendizados de
outras regies do pas fundamental para se compreender o porqu de o Aprendizado
Agrcola de Barbacena, em pouco tempo, ter-se tornado uma espcie de menina dos olhos
das autoridades.
A anlise de decretos e regulamentos, da prxis educativa, dos contedos das
disciplinas, das normas disciplinares, do mtodo de ensino, da nfase em se unir teoria
prtica, a fidelidade aos objetivos preconizados pelo governo, o pblico-alvo do Aprendizado
Agrcola de Barbacena, apontam que se obedeceu s normas contidas nos documentos
oficiais. Por outro lado, o aspecto importante que a tese assinala, o fato de o currculo da
instituio, ao longo do tempo, ter sido desenhado segundo as normas determinadas pelas
autoridades, o que identificava certa poltica educacional.
Ao mesmo tempo, analisando as fontes documentais, verificou-se que no havia no
interior da instituio, no museu ou em sua biblioteca, uma bibliografia e acervo de dados que
pudessem dar suficiente suporte pesquisa. O que se conseguiu inicialmente, foram retalhos
formados por fotografias, uma ou outra pgina de relatrios e/ou informaes obtidas pelo
senso comum e pela histria oral. As informaes obtidas possibilitaram a abertura de novas
perspectivas para a compreenso de sua histria.
A precariedade e escassez de informaes sobre a histria da instituio constituiu
considervel dificuldade para se aprofundar a investigao sobre as prticas da instituio. A
conscincia de tal dificuldade se avulta, quando se considera ser necessrio conhecer o seu
passado para se entender melhor o seu presente. De pronto, percebe-se que garimpar
documentos, buscar pistas, selecionar arquivos e cruzar fontes, um trabalho que no se faz
de afogadilho, mas devagar e a longo prazo. Diante dessas dificuldades foi necessrio buscar
testemunhos e depoimentos de servidores, que tivessem sido agentes participantes da
caminhada histrica da Escola. Atravs de meios disponveis e, por intermdio de tais
testemunhos, foi possvel interrogar a realidade prxima ou longnqua, e com ela dialogar
com o objetivo de refletir sobre os diversos elementos que animaram sua prxis educativa. Na
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complexa tarefa de identificar as caractersticas da experincia educacional prprias de
determinado tempo, que os desafios se evidenciaram.
Um dos pontos de relevante interesse foi o de procurar compreender os motivos que
nortearam a criao de um instituto agrcola federal em uma cidade da regio sudeste, situada
no interior de Minas Gerais, de modo a poder narrar sua histria, nas primeiras dcadas de
funcionamento. Um aspecto particular de imediato desperta a ateno: Barbacena e seu
entorno no regio de latifndios, mas de pequenas propriedades que se dedica desde muito
agricultura de hortalias e frutas e pecuria. Ao longo da pesquisa, percebeu-se que um
dos fatores do xito do Aprendizado Agrcola de Barbacena se constitui no fato de este ter
sido criado para atender educao agrcola de pequenos produtores rurais. A pesquisa
tambm revelou que, a par das condies favorveis de localizao, de clima, de altitude, de
facilidade de meios de transporte pela presena de ferrovias foi decisiva a atuao
competente do seu primeiro Diretor, Diaulas Abreu. A tese destaca sua atuao e de toda a
equipe de professores e funcionrios.
Os temas de fundo da tese abordam as memrias do Aprendizado Agrcola de
Barbacena, sua arquitetura, seu paisagismo, suas instalaes para aulas tericas e prticas; o
equilbrio entre teoria e prtica ao ministrar os contedos de formao tcnica; o internato
com suas normas disciplinares e as polticas dos governos, para tornar pensvel a educao
agrcola e a sintonia do currculo e do mtodo, dee acordo com as normas oficiais.
A maior dificuldade para se desenvolver os temas apontados foi a carncia inicial de
informaes. Anteriormente no havia uma cultura de se documentar a vida e a rotina das
instituies. O que h so dados dispersos, tornando difcil a juno, organizao, tratamento
e a anlise do material. O museu da Escola e sua biblioteca contm alguns documentos, mas
at o presente, no h um estudo exaustivo de sua histria que explique os motivos de sua
criao, o impacto na regio e o desenvolvimento inicial do projeto de formao profissional,
desenvolvido pelo Aprendizado Agrcola de Barbacena.
O trabalho de que se ocupa a tese abrange pocas diversas, as quais apresentam
significados plurais, refletindo a cultura e a filosofia poltica subjacente administrao
pblica, alimentando-a e orientando-a desde seu interior. O propsito que se teve, tambm,
foi o de investigar os sentidos diversos e contrapostos, bem como questionar os discursos
polticos de figuras de destaque do pensamento social brasileiro, que participaram do teatro
dos acontecimentos associado s questes em pauta.
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Por outro lado, apoiando-se em fontes documentais, leis, decretos e regulamentos, ao
longo dos governos, procurou-se analisar os passos da prxis educativa, que ora avanam, ora
retroagem, entendendo o Ensino Agrcola em sua dimenso histrica.
Estudos historiogrficos oportunizam deparar-se com considervel multiplicidade de
fontes, abrindo um leque de informaes, possibilitando problematizar determinados objetos
no mbito da historiografia. No entanto, no se tem dado o devido valor s tradies
historiogrficas e arquivistas. Embora se saiba o quanto certas operaes historiogrficas ou
modos de conceber a escrita da histria sejam questionados, mister que se observem as
fissuras ou fendas internas existentes, tentando entend-las e ver sua inter-relao interna com
o conjunto, para que seu vigor enquanto instrumento de explicao dos aspectos sociais e
culturais no se perca. Da, a possibilidade do surgimento de novas interrogaes. Diante de
tais fissuras, necessrio optar pelo caminho da renovao, seja mudando o instrumental
conceitual, seja recortando novos objetos e incorporando novos materiais de pesquisa.
Desse modo, o objeto da presente tese contribui para a reflexo terica, atravs do
entrelaamento de estudos sobre a Histria da Educao Brasileira e Histria da Educao
Profissional Agrcola. Entretanto, nesse entrelaamento, as linhas de procura confluem para o
Aprendizado Agrcola de Barbacena, hoje, Instituto Federal de Educao, Cincia e
Tecnologia Sudeste de Minas Gerais, Campus Barbacena, MG (IFET - Barbacena, MG). Ao
longo do estudo foi aprofundado o cruzamento das mais diversificadas fontes, proporcionando
um dilogo fecundo sobre as prticas das histrias educacional, cultural, social, poltica,
ambiental e econmica, durante a existncia da escola estudada. Assim, identificou-se um dos
aspectos fortes da Escola, sua insero no contexto da comunidade e da regio do seu entorno,
aspecto da mais alta relevncia, considerando-se que o xito do processo educativo est
vinculado vida concreta dos alunos, com as demandas e projetos sociais que foram
implementados no perodo inicial da instituio.
Em 100 anos de sua histria, o Aprendizado Agrcola de Barbacena (BRASIL, 1910),
recebeu vrias denominaes. De Aprendizado passou a Escola Agrcola de Barbacena
(BRASIL, 1933), depois para Escola Agrotcnica de Barbacena (BRASIL, 1947), em seguida
Escola Agrotcnica Diaulas Abreu (BRASIL, 1955) e Colgio Agrcola Diaulas Abreu
(BRASIL, 1961), as duas ltimas em homenagem a seu primeiro Diretor. A denominao
Escola Agrotcnia Federal de Barbacena (BRASIL, 1979) antecedeu seu ltimo nome, hoje,
Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia da Regio Sudeste de Minas Gerais,
Campus Barbacena (BRASIL, 2008). No incio, era subordinada ao Ministrio da
Agricultura, Indstria e Comrcio, depois passando ao Ministrio da Educao (BRASIL,
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1967). Hoje, est subordinada Secretaria Nacional de Educao Tecnolgica, do Ministrio
da Educao e Cultura (MEC) (BRASIL, 1967), tendo adquirido o status de autarquia.
O dilogo com a histria e literatura/materiais/fotografias e sujeitos, com base nas
leituras cruzadas, revelou at que ponto as prticas pedaggicas assumiram nuanas
diferentes, conforme as condies. Uma vez que eram patentes as mudanas na prxis
educativa que ocorriam em funo de se atender a normas do governo.
Em relao metodologia da pesquisa, cada documento foi objeto de anlise,
procurando possveis relaes de modo a se identificar caractersticas adequadas e coerentes.
Nesse sentido, pretendeu-se questionar cada aspecto do objeto pesquisado e as abordagens
feitas anteriores a ele. Atravs do cruzamento de informaes, foram analisadas as polticas
pblicas do campo educacional com referncia ao seu tempo, s suas circunstncias, bem
como s possibilidades de observar permanncias na transio de um perodo de tempo para
outro. Por outro lado, foi possvel identificar rupturas com determinado status quo e
novidades porventura introduzidas. Passaram-se, tambm, em anlise, os contedos, as
metodologias utilizadas, o contexto da vida urbana e rural do alunado e as vinculaes
existentes entre educao e trabalho nas prticas educativas.
Ao mesmo tempo, para o desenvolvimento da investigao utilizou-se de algumas
escalas de observao, possveis de serem percebidas no processo de constituio do ncleo
documental do estudo:
Fonte Documental: com o objetivo de analisar a historiografia da educao
profissional agrcola do Aprendizado Agrcola de Barbacena, tomou-se, como ponto de
partida, o incio do sculo XX. Entre as fontes a que foi possvel ter acesso, esto documentos
como: decretos, legislaes e portarias; dados obtidos nos arquivos da Biblioteca Nacional;
acesso s correspondncias trocadas entre os presidentes provinciais e os ministros da pasta e
os relatrios da Provncia de Minas Gerais ligados educao. Paralelamente, foi possvel
acesso a alguns jornais, tais como, o Jornal Cidade de Barbacena (1898-1997). Embora seja
um patrimnio tombado o manuseio de suas pginas muito restrito, por estar h muitas
geraes em poder da famlia que o criou e o mantm sob sua guarda; o Jornal do Commercio
de 1897, 1898, o de 1901 e o Jornal Correio de Minas de 1906 e de 1907, ambos de circulao
em Juiz de Fora. Decretos tambm foram acessados, tais como o Decreto de Criao do
Ensino Agronmico pela Unio, em 1910; o Decreto de Criao do Aprendizado Agrcola de
Barbacena, em 1910, assim como o Decreto que o regulamenta em 1911. Igualmente
importante o acesso ao Dirio Official, Estados Unidos do Brazil, da Repblica Federal,
Ordem e Progresso da Capital Federal, referente a todo o ms de julho de 1913 e Imprensa
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Official do Estado de Minas Gerais, Bello Horizonte, Vida Escolar no Estado de Minas Gerais
(1917-1921) e o Relatrio do Congresso Agrcola Comercial e Industrial em Minas Gerais,
em 1903.
Dessa forma, a pesquisa procurou aprofundar as buscas atravs de outros jornais
regionais, estaduais e federais, da poca; relatrios, artigos de revistas, documentos
administrativos, livro de atas e regimentos internos. Logo, para se fazer uma anlise do ensino
agrcola no Brasil no basta apenas recorrer aos livros j editados sobre o tema, pois o simples
exame de bibliografia oficial pode no refletir a complexidade da experincia de um momento
histrico. Torna-se importante levantar e sistematizar fontes diversificadas para potencializar
a pesquisa, analisando os acervos com cuidados especiais para comparar as informaes
encontradas.
Fonte Material e Imagtica: Ao longo da tese, foram feitas descrio e anlise dos
materiais que se encontram no museu da Escola, bem como das fotografias. Assim, foram
feitas interpretaes, procurando ver que relao tm com o conjunto documental. A
fotografia , sem dvida, uma fala muda que perpetua o tempo em que foi feita, sendo
significativo suporte de pesquisa.
Fonte Bibliogrfica: Tendo em vista a peculiaridade do objeto estudado, autores cujas
ideias foram determinantes para o processo da educao agrcola no Brasil foram objeto de
particular ateno, como por exemplo, o belga Armand Ledent. Autores que se dedicaram
causa da Histria da Educao Brasileira estudando o Imprio, a Repblica e aqueles que
tratam da contemporaneidade do ensino profissional foram objeto de leitura e reflexo.
Igualmente, deu-se a devida ateno s fontes literrias que tratam do Ensino Agrcola no
Exterior, tendo em vista que o Brasil importou conhecimentos e experincias de outros pases.
A referncia ao ensino agrcola, alm de nossas fronteiras, pareceu ter sido importante, porque
serviu de inspirao para o que se veio a fazer em nosso territrio. Ao mesmo tempo,
procurou-se traar um perfil das caractersticas de cada poca, bem como dos elementos que
nortearam a implantao, organizaes curriculares e metodologias de ensino. Paralelamente
bibliografia, lanou-se mo das demais fontes e recursos disponveis, analisando e fazendo
um cotejo dentro de cada poca, estabelecendo uma interlocuo com outros pensadores que,
embora se tenham debruado sobre os mesmos temas, fizeram-no em outras pocas. Por fim,
fez-se uma anlise da prtica e da influncia da poltica na criao e no desenvolvimento do
Aprendizado Agrcola de Barbacena.
A partir desses levantamentos e do dilogo com os estudiosos do tema que
antecederam este estudo, foi possvel traar o perfil da Histria da Educao articulada com a
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Histria do Ensino Tcnico Profissional Agrcola Brasileiro, tendo, como foco, o
Aprendizado Agrcola de Barbacena, MG.
A tese encontra-se estruturada em V captulos. No Captulo I, abordado a Histria
do Ensino Profissional e Agrcola, identificando suas caractersticas e finalidades e traando
seu percurso histrico. Desse modo, assinala-se o ensino profissional em outros pases,
sobretudo na Inglaterra, na Frana, na Alemanha, na Blgica, pases que inicialmente
avanaram na Revoluo Industrial. De passagem, aborda-se a questo na Itlia e na Sua. Os
Estados Unidos tambm so objeto de consideraes, pelo relevante papel no cenrio
mundial, assim como a Argentina durante o Congresso Mineiro de Agricultura.
Atravs da anlise do ensino profissional e agrcola no cenrio internacional
empreenderam-se algumas iniciativas que ajudaram a compreender o Aprendizado Agrcola
de Barbacena, tanto em sua implantao, quanto em suas organizaes curriculares e nas
metodologias por ele aplicadas. Como base, foram consideradas instituies internacionais e
as do cenrio nacional que antecederam sua criao. H de se perceber, a partir da, quais as
iniciativas que foram anlogas s realizadas pelo Aprendizado Agrcola de Barbacena, nas
quais a Unio se inspirou para sua criao. Bem como foram identificadas iniciativas pelas
quais o Brasil emergiu, despontando como precursor de algumas empreitadas no ensino
profissional e sendo percebido no Brasil Imprio.
Num segundo passo, destacou-se a iniciativa de Dom Joo VI2 que em 1816 criou a
Escola Real de Cincias, Artes e Ofcios. A seguir, fez-se referncia Escola Imperial Quinta
da Boa Vista, ambas so instituies embrionrias do ensino profissional e inauguraram um
modelo de ensino que procurava associar a teoria com a prtica.
Ao se identificar o que houve entre o ensino agrcola de outros pases e o que se
processou no Brasil, observaram-se pontos em comum das experincias dos Estados Unidos e
de outros pases com algumas particularidades, de acordo com a realidade brasileira. No
confronto dessas prticas, socorreu-se principalmente das experincias vividas pelo Sr. Dr.
Armand Ledent, de suas observaes e estudos.
No Captulo II, sob o ttulo Criao do Aprendizado Agrcola de Barbacena,
apresenta-se o Aprendizado Agrcola de Barbacena como uma instituio federal, fundada
2 Joo Maria Jos Francisco Xavier de Paula Lus Antnio Domingos Rafael de Bragana, filho de D. Maria Izabel e Dom
Pedro III. Nasceu em 13-05-1767, em Lisboa e faleceu em 10-03-1826. Expulso de Portugal, aportou no Brasil em 1808,
porm assumiu o trono em 20-03-1816, com o falecimento de D. Maria sua me. Casou-se em 1785 com Carlota Joaquina
de Bourbon aos 10 anos, s consumando o matrimnio em 1790, 05 anos aps. Dentre seus filhos, teve Dom Pedro I, a
quem atribuiu a regncia do Brasil, em 1821. Fonte: www.monarquia.org.br. Acesso: fevereiro, 2012.
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pelo Decreto n 8.358, de 09 de novembro de 1910, pelo presidente Nilo Procpio Peanha3.
Tal instituio, subordinada ao Ministrio da Agricultura, Indstria e Comrcio, foi criada
com o objetivo de instruir filhos de agricultores da regio, ensinando-lhes determinado ofcio,
em regime de internato, semi-internato e externato. Neste captulo, fez-se uma incurso por
um conjunto documental especfico que permitiu compreender o processo de sua criao.
Foram analisadas, tambm, as iniciativas do governo estadual que, a princpio,
implantou o ensino agrcola no Estado de Minas, bem como em quais instncias e
circunstncias, delineando como eram as instituies por ele financiadas. Investigou-se, ainda,
a Lei de criao do Ensino Technico Pratico e Profissional de 1896, aprovada em 1898 e
modificada em 1906, e sua influncia na malha estadual do Estado de Minas Gerais. A partir
dessa legislao, seguiu-se a trilha dos dispositivos que se referem s instrues agrcolas nas
escolas primrias e fazendas-modelo, e como se processava o mecanismo da aprendizagem
nesses segmentos.
Foi feito, tambm, um levantamento de quais foram as primeiras cidades a receberem
subveno para o ensino agrcola do governo de Minas e como eram feitas as distribuies
das verbas, suas finalidades e o prazo de investimento. Paralelamente, analisou-se quais
cultivos eram escolhidos, o porqu da escolha, assim como se o objetivo era: a subsistncia da
prpria instituio, o lucro para o governo, o atendimento das demandas regionais e a questo
do aprendizado. Acredita-se terem sido importantes esses levantamentos, por terem
contribudo para se entender o que se processou dentro do Estado. Assim, a partir de 1910,
iniciou-se a diviso de responsabilidades no que se refere ao ensino agrcola. Alguns
dispositivos estatuaram o que cabia ao governo do Estado de Minas Gerais e o que seria de
competncia da Unio, conforme pode ser observado nos Relatrios do Presidente da
Provncia. Neste recorte, foram analisadas as aproximaes e os distanciamentos entre as
primeiras instituies profissionais da malha federal, os Aprendizes Artfices e os Aprendizes
Agrcolas, apontando suas trajetrias e desenhando suas posies e localizaes dentro do
Estado de Minas Gerais.
Dessa forma, selecionando trilhas, fazendo os balanos das possibilidades,
interpretando legislaes e cruzando fontes, foi possvel avaliar as foras que possibilitaram a
3 Nilo Procpio Peanha nasceu em Campos de Goytacazes, em 02-10-1867 e faleceu no Rio de Janeiro, em 31-03-1924. Seu
pai foi pedreiro e sua me de famlia poltica influente norte-fluminense. Formou-se em Direito pela Faculdade de Direito
da Bahia, em 1887. Foi Presidente do Estado do Rio de Janeiro, Senador e Vice-Presidente da Repblica (1909-1910).
Impulsionou o ensino tcnico-profissional. Foi Vice-Presidente da Repblica na gesto de Afonso Pena em 1906 e, com o
falecimento de Afonso Pena, assumiu a Presidncia do Brasil em 1909. Fonte: www.historiabrasileira.com/biografias.
Acesso: maro, 2012.
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criao do Aprendizado Agrcola de Barbacena e quais as perspectivas que o futuro lhe
reservaria.
Com relao ao Captulo III, foi traado um panorama sobre a Memria
Arquitetnica do Aprendizado Agrcola de Barbacena, bem como sua estrutura fsica. Neste
captulo, foram postas em destaque, as iniciativas do governo federal de criar os aprendizados
agrcolas em vrios estados, tendo como principal objetivo preparar jovens, em sua maioria,
filhos de agricultores da regio, para resgatar o aprendizado agrcola e as atividades na zona
rural, mediante adequada educao. As prementes necessidades do pas sobretudo no que se
refere agricultura, levaram os governantes do incio do sculo XX, a criarem os
aprendizados agrcolas, entre os quais o de Barbacena, em 1910, por Nilo Peanha. O
referido aprendizado contou, desde sua fundao e antes mesmo do incio de suas atividades,
com um Diretor de viso prtica e educacional, que foi o bacharel em Cincias Jurdicas
Diaulas Abreu, bem como com a colaborao do engenheiro-arquiteto e paisagista belga,
Arsne Puttemans, que tambm participou dos projetos da edificao da Escola Superior de
Agricultura, em Piracicaba, alm do projeto paisagstico do Parque do Museu da
Independncia do Ipiranga, em So Paulo, em 1908.
Posto que o Aprendizado Agrcola de Barbacena foi um dentre outros espalhados por
vrios Estados So Paulo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Par, Alagoas, Maranho e
Bahia julgou-se oportuno e pertinente trazer baila, tambm, esses outros. Ainda que de
modo geral, e sem tecer detalhes sobre cada um, pde-se avaliar o de Barbacena, em relao
aos seus coirmos e identificar o porqu de sua sobrevida em relao a outros. No que se
refere ao objeto proposto foram identificados os dados histricos que explicam e justificam
sua origem e todos os procedimentos realizados pelas autoridades, para aquisio do terreno
que viria a ser a sede do futuro Aprendizado Agrcola. Torna-se interessante sinalizar que a
aquisio da primeira chcara foi feita antes mesmo da sua criao oficial, ou seja, em 1909,
estrategicamente localizada a cerca de 250 metros da estao da Estrada de Ferro Central do
Brasil, o que pareceu ter demonstrado a inteno do governo em cri-lo. A aquisio em
tempo hbil do terreno atesta o esprito prtico dos governantes de ento, para que a nova
instituio j nascesse consolidada.
A edificao do prdio-sede como tambm das demais instalaes que se estendem em
uma rea de 435.357 metros quadrados (BRASIL, 1911), no centro da cidade, foi feita em
local de destaque, em imponente estilo normando. Paralelamente construo, cuidava-se do
paisagismo e se criava toda uma infraestrutura de produo de frutas, hortalias e flores, de
modo que, quando o Aprendizado iniciou suas atividades em 1913, j contava com razovel
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estrutura produtiva, sintonizada com a vocao agrcola da regio, que no de latifndios,
mas de pequenos e mdios produtores.
A partir de 1910, pouco a pouco se foram adquirindo os implementos agrcolas,
mobilirio para salas, laboratrios de cincias naturais, fsica, qumica, biblioteca, livros, itens
e mveis para o museu. O museu de histria natural era um dos pontos mais importantes da
estrutura didtico-pedaggica do Aprendizado, tendo em vista seus objetivos. Como parte
dessa estrutura, as oficinas de manufaturas, ferramentas e acessrios para as diversas
instalaes.
O Aprendizado Agrcola de Barbacena teve, desde o incio, inusitado impulso de seu
primeiro Diretor e respectivo corpo de funcionrios. O governo da poca teve o cuidado de
colocar no Aprendizado Agrcola de Barbacena uma equipe dotada de conhecimento na rea
agrcola dentro dos padres da poca e, de senso prtico. O prdio-sede do Aprendizado
Agrcola de Barbacena Patrimnio Histrico-Cultural Tombado, por seu valor Histrico e
Arquitetnico, de acordo com Decreto n 6.047, da Prefeitura Municipal de Barbacena, em
1991 e, novamente, em 2007.
Em se tratando do Captulo IV, apropriando-se do lema aplicado estrutura de ensino
na escola-fazenda, Aprendendo a Fazer, Fazendo para Aprender, apoiou-se nas iniciativas
das autoridades governamentais do incio do sculo XX, ao se depararem diante do problema
do mtodo a ser adotado nos aprendizados. De acordo com o lema, percebe-se ser uma
metodologia de ensino e educao que une a teoria prtica e os aprendizados agrcolas
teriam que ser dotados de infraestrutura que permitisse seus funcionamentos sobre essas
bases. Assim, os objetivos que fossem incubadores de novas tcnicas, mediante divulgao,
alavancariam o desenvolvimento agrcola da regio em que estavam inseridos.
As ideias de Ledent foram muito importantes para a definio da linha metodolgica
que deveria nortear o processo ensino aprendizagem dos aprendizados agrcolas. Esse lema,
que passou a nortear a prxis educativa de tais instituies resume toda uma filosofia
pedaggica. O governo de ento foi pragmtico e buscou experincias em outros pases,
destacando-se a participao do belga Ledent.
O governo republicano frente s novas condies sociais que foram emergindo, pouco
a pouco, foi-se libertando da ideia de que a educao agrcola deveria apenas suprir a extinta
mo de obra escrava. Alm da agricultura, tambm, a indstria nascente demandava mo de
obra. Por outro lado, o prprio desenvolvimento agrcola apresentava necessidade de outras
qualificaes, como a relativa ao controle de produo, de custos e administrao. No cenrio
de ento, o agrnomo passou a ser um profissional de grande importncia.
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Dessa forma, para traar as linhas que desenhavam o projeto pedaggico do
Aprendizado Agrcola de Barbacena, foi necessrio que a legislao que o regia se tornasse
objeto de reflexo. Assim, foi pesquisado o Decreto n 8.736, de 25 de maio de 1911,
primeiro regimento interno que cria e define seus objetivos, estabelecendo suas atividades,
sua finalidade de criao, sua organizao pedaggica, as dependncias e instalaes, o
pessoal de ensino e administrativo, a admisso de alunos, os exames e as certificaes. Desde
o incio, a Instituio foi sendo dotada de adequada infraestrutura que possibilitava unir teoria
com a prtica, voltada para a produo de frutas, hortalias, flores, criaram-se oficinas e
pequenas indstrias rurais, utilizando os produtos da prpria fazenda da instituio como
matrias-primas.
Alm do governo definir os cursos com as respectivas disciplinas, cargas horrias e
certificados, havia dentre as atividades escolares, a particular importncia educao fsica. O
escotismo foi muito difundido em Minas Gerais e foi adotado no Aprendizado Agrcola de
Barbacena, em sintonia com a poltica do Estado. Outro aspecto importante a ser posto em
relevo foi a integrao do Estabelecimento com a comunidade, desde seu incio. Graas a essa
integrao, pde ele superar as dificuldades que surgiram no perodo da I Guerra Mundial.
Atravs desse regimento, foi analisada a organizao pedaggica que deu incio s
atividades do Aprendizado Agrcola, para se entender seus efeitos junto economia agrcola
da poca. Por outro lado, analisou-se se tais contedos foram escolhidos tendo em vista as
condies climticas da cidade e regio, por se tratar de local com uma temperatura mdia
anual de 17 centgrados, ou se to-somente se levaram em conta as atividades relativas ao
aprendizado no setor da agricultura e pecuria. O universo do aluno foi devidamente
explorado desde a idade para o ingresso na Escola, at as suas condies socioeconmicas e
nvel de escolaridade exigida.
Observou-se, outrossim, se o ensino na rea de agricultura e pecuria tinha como
objetivo o aprendizado pela prxis-pedaggica ou apenas a subsistncia do alunado. Em
outras palavras: qual era o objetivo dos alunos trabalharem a terra e qual era o destino dos
produtos decorrentes de suas atividades no campo? Ou, ainda, se a escola atendia proposta a
que Fernando de Azevedo (1937) se refere, a saber, uma educao rural voltada para uma
educao humanista, igualitria e social, que possibilitaria ao aluno meios para mudana e
transformao.
As leis internas que regulamentavam o Aprendizado Agrcola de Barbacena se
mantiveram por esse regimento de 1911 at o ano de 1933. Com o advento da era de Getlio
Vargas, o Aprendizado Agrcola de Barbacena foi transformado em Escola Agrcola de
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Barbacena em 1933, com outros objetivos, outro currculo, outro regulamento, de acordo com
a filosofia educacional do novo governo. Dessa forma, o segundo regimento foi aprovado pelo
Decreto, n 22.934, em 13 de julho de 1933, modificando toda a estrutura interna dos
aprendizados agrcolas.
Desse modo, pensando nas vrias mudanas estruturais, pedaggicas, polticas e
administrativas que descaracterizaram, em parte, os objetivos de criao dos aprendizados
agrcolas, objeto desta pesquisa, que se pensou na data de 1933, como marco deste estudo.
A legislao, contida no Decreto de 1933, regeu a Instituio at 1949. Com o advento da Lei
Orgnica do Ensino Agrcola, foi aprovado o Regimento do Ensino Agrcola sob o Decreto-
Lei n 9.613, em 20 de agosto de 1946, que vigorou por trs dcadas, at o ano de 1977.
Ainda que vrias modificaes foram acontecendo ao longo dos anos, vale ressaltar que a
metodologia do aprender a fazer e fazer para aprender tenha sempre estado em voga no
sistema pedadgico dessas instituies.
Para se aprofundar na investigao do Captulo V, em Controlar a Conduta, Modelar
os Afetos e Regular as Maneiras foi analisada a cosmoviso da sociedade escravagista, cuja
elite supervalorizava a formao acadmica para seus filhos e menosprezava o trabalho
braal, considerado como de escravos, situao essa que gerou um modelo de sociedade, em
que se distinguiam dois segmentos nitidamente opostos. De um lado, os senhores
proprietrios de grandes fazendas e a elite cultural do pas; de outro, a parcela maior da
populao, cujos filhos no tinham condies de freqentar escolas com alto nvel de
formao propedutica, que os possibilitassem entrar numa universidade. O horizonte
sociocultural do Brasil ps-escravatura, era definido por essa radical diviso social. Na
conscincia coletiva, era evidente a distino entre trabalho manual e trabalho intelectual.
Aquele, para a periferia social; este, para a elite. Mas, os governantes da recm-proclamada
repblica, tinham que encontrar soluo para o grave problema, que era a juventude menos
favorecida, de um lado, e, de outro, a imperiosa necessidade de suprir a mo de obra, pelo
menos com conhecimento e tcnica, das propriedades agrcolas que no mais contavam com o
trabalho escravo. Desse modo, a prpria necessidade histrica levou os governantes a
implementarem iniciativas com vistas a criar no Brasil um modelo de educao agrcola,
adaptado s suas condies socioeconmicas.
O que se observa que criados os aprendizados agrcolas, problemas consequentes
vieram tona, a saber, o recrutamento da clientela, o processo de admisso de alunos, as
condies para se admitir e matricular um aluno, o disciplinar da conduta dos jovens, o
despertar do interesse pelas atividades agrcolas, a legalidade em participao nos lucros da
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produo como motivao, etc. Nesse processo, foram exaustivas as procuras de dados e
subsdios que dessem suporte aos indcios para a localizao de informaes a fim de
identificar quem eram aqueles que fizeram parte do corpo discente, quando de sua criao.
Para se identificar qual o tipo de segmento da sociedade fez parte de seu grupo de alunado,
assim como, analisar a situao socioeconmica de seus pais. Torna-se importante assinalar
que o mtodo concebido para alcanar os objetivos previstos abrangeu todo o ciclo de
produo, desde a teoria, passando pelo plantio, colheita, comercializao, participao nos
lucros e acompanhamento de egressos. Esse acompanhamento foi de suma importncia,
porque possibilitou avaliar se o processo usado no Aprendizado Agrcola, de fato alcanou o
seu principal objetivo, que foi o de preparar o jovem para as atividades agrcolas e pecurias.
Ainda neste captulo, destacou-se o fato de ter tido por quatro dcadas e meia, (1910-
1955), um mesmo diretor, Diaulas Abreu. Que explicaes poderiam ser dadas para essa
longa permanncia em um quadro de transformaes da sociedade brasileira e mineira? Em
busca de reposta, pesquisou-se qual era a mentalidade da poca, que relaes polticas a
instituio tinha com o governo federal e que objetivos polticos a esfera governamental tinha
em relao Escola em pauta. Diaulas Abreu nasceu em 1885, no Rio de Janeiro, filho de
coronel e fazendeiro mineiro e de me carioca. O diretor bacharelou-se em Direito com
especialidade em Cincias Jurdicas e Sociais. A seguir, foi nomeado por Portaria, datada de
14-11-1910, para o cargo de Diretor-Geral da instituio federal de ensino Aprendizado
Agrcola de Barbacena, MG, cargo que ocupou por 45 anos. Oportunamente, seu perfil e
desempenho como Diretor sero analisados no corpo do presente trabalho.
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1 HISTRIA DO ENSINO PROFISSIONAL E AGRCOLA
O Brazil abunda em riquezas naturaes cuja extraco e utilisao racional bastam para dar o
bem estar aos habitantes e assegurar a sua prosperidade. Porem, a sua fonte mais certa de
riqueza reside na explorao agricola do solo e na transformao industrial dos productos que
delle se pode retirar pelo trabalho. O que importa, pois, antes de tudo, fornecer aos
habitantes os meios de adquirir os conhecimentos geraes e as aptides profissionaes que ho
de tornal-os capazes de retirar o maximo proveito do patrimonio que a natureza lhes doou.
Antes de tudo, convem tratar, sem tardar, de formar homens instruidos theorica e
praticamente, habilitados para as carreiras agricolas, emancipados dos costumes rotineiros e
primitivos que prevaleceram at hoje, a par dos processos methodicos modernos, capazes,
emfim, de dedicar-se com proveito aos trabalhos da agricultura e das industrias que utilisam
seus productos. O momento chegou de instituir no Brazil o ensino profissional agricola,
adequado s condies do paiz.
Ledent, 1910
No longnquo 1910, com o Brasil ainda novio na arte da vivncia republicana e h
poucos anos de se ter livrado do regime escravocrata, Ledent identificava a vocao agrcola
do Brasil, preconizando a necessidade de formao de mo de obra para a adequada
explorao da terra e transformao industrial dos produtos decorrentes desse investimento.
Por sua vez, a historiografia aponta que no incio do sculo XX se intensificou o debate acerca
da necessidade de se implantar em nossa terra um sistema de educao profissional e agrcola
voltado para as demandas emergentes. O cenrio ps-escravatura com as fazendas carentes de
mo de obra qualificada para um uso mais produtivo da terra assinalava um horizonte sombrio
de subexplorao das possibilidades das riquezas naturais em eventual carncia de alimentos,
despertando nos polticos o interesse pela formao profissional na rea agrcola. Nas fbricas
de um Brasil que ensaiava os primeiros passos na indstria, tambm havia carncia de mo de
obra tecnicamente qualificada. Tratava-se, portanto, de um diagnstico que revelava uma
necessidade de reformar o ensino para a terra e para a indstria.
J no havia mais espao apenas para o trabalho braal dos jovens, mas o mercado
exigia profissionais instrudos e preparados, cultural e intelectualmente, que participassem e
contribussem ativamente para o crescimento do setor em que estivessem inseridos. Para tal,
era necessrio um comprometimento e maior investimento dos rgos pblicos nas
instituies de aprendizado profissional e agrcola, tornando-as cada vez mais afinadas com as
novas tecnologias de acordo com as demandas econmicas e sociais do pas, sintonizadas com
as mudanas que se pretendiam por em curso.
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Accia Kuenzer se refere s mudanas que a cada poca apontam direes e
necessidades diferentes:
Os novos projetos pedaggicos no nascem das idias dos intelectuais; ao contrrio, eles so
determinados pelas mudanas ocorridas no mundo do trabalho, que apresentam diferentes
demandas a cada etapa de desenvolvimento das foras produtivas, em funo das
caractersticas que assume a diviso social e tcnica do trabalho. (KUENZER, 1999, p. 1).
Para a pesquisadora, no so os intelectuais, gestores ou governantes que ditam as
normas para se atender a esse ou aquele aspecto do ensino, mas as mudanas vm da prpria
dinmica social de determinado momento histrico, ditadas pelas foras produtivas do
trabalho.
Embora pontuadas pelas demandas e exigncias do mercado de trabalho que, de tempo
em tempo, condicionam os perfis de formao desse contingente de alunado, as instituies de
ensino profissional e agrcola possuem caractersticas que as distinguem entre si, sugerindo a
existncia de outras mediaes frente s demandas sociais constitudas. Como se pode
observar, as formas de ensino profissional e agrcola se processam dentro de suas
singularidades. Dessa forma, so escolhidas cidades que se localizam nos grandes centros ou
em cidades de porte mdio para oferecerem os cursos de ensino profissional. As escolas
podem ser construdas prximas ou, at mesmo, dentro das fbricas e indstrias, podendo ser
patrocinadas por grandes empresrios, bem como, pblicas ou privadas, com o objetivo de
preparar seus alunos para as profisses dos setores industriais e fabris.
As escolas agrcolas, por sua vez, tendem a serem construdas prximas a reas rurais
ou em cidades de pequeno porte, podendo ser pblicas, privadas ou possuindo parte de seus
recursos subvencionados pelos rgos pblicos, objetivando preparar seus alunos para o setor
da agricultura e/ou pecuria. Como ponto comum, ambas foram criadas com o objetivo de
instruir jovens que no tinham recursos financeiros e/ou instruo bsica adequada,
destinados ao mundo do trabalho por intermdio de uma qualificao especfica que pemitisse
atender aos anseios dos diferentes setores da produo.
O estudo observa aspectos da trajetria do ensino profissional atravs dos
acontecimentos histricos que denotam necessidades emergentes de qualificao de mo de
obra industrial e fabril, considerando que este fenmeno se processa em escala transacional.
Na Europa, onde se iniciou a Revoluo Industrial a partir do fim do sculo XVIII,
alguns pases principalmente Inglaterra, Frana, Blgica e Alemanha se anteciparam aos
demais, como precursores nessa empreitada. O Brasil, por sua vez, com suas peculiaridades,
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tambm teve seus interesses despertados para incorporao e institucionalizao tanto do
ensino profissional no setor industrial quanto no setor agrcola.
Tal realidade enseja acompanhar um conjunto de acontecimentos que marcaram o
desenvolvimento do setor industrial. Enquanto em 17914 o governo francs ensaiava um
ensino especial para as classes operrias, no Brasil a preocupao com a instruo por um
ofcio como base da economia brasileira teve seu incio em 1812, com D. Joo VI. Assim,
iniciaram-se os estudos investigando os acontecimentos marcantes no setor da indstria no
ocidente e, em seguida, em nosso pas.
1.1 Ensino profissional no exterior
Nesta seo, buscou-se o cruzamento de informaes em alguns autores brasileiros,
bem como nas fontes documentais a que se teve acesso para respaldar as afirmaes sobre a
trajetria do ensino profissional para alm das fronteiras do Brasil.
Pires de Almeida5 (1886) afirma que lderes governantes na Revoluo Francesa, em
1795, decretaram a criao de Escolas Centrais6, em todas as grandes cidades da Frana.
Neste mesmo ano foi instituda uma Escola Politcnica destinada ao curso de Engenharia
Civil e Militar. Quanto ao ensino industrial, em 1817, o governo francs introduziu o estudo
do desenho no programa das escolas primrias e secundrias, porm com mais nfase no
ensino terico que no prtico, uma vez que pouco ou nada havia de ensino de desenho nas
escolas pblicas. Em 1830, inspirado na instruo popular, o governo resolveu investir nas
Escolas Pblicas Intermedirias, criando, em cidades com mais de 6.000 habitantes, uma
escola, cujo programa fosse conforme com as exigncias industriais, comerciais ou agrcolas
de sua respectiva zona.
4 Em setembro de 1791, foi promulgada a primeira Constituio da Frana que resumia as realizaes da Revoluo
Francesa, dentre elas o estabelecimento de linhas gerais para o surgimento de uma sociedade burguesa e capitalista em
lugar da sociedade anterior, que era feudal e aristocrtica.
5 Jos Ricardo Pires de Almeida nasceu em 1843, no Rio de Janeiro e faleceu em 1913. Estudou Direito e formou-se mdico.
Foi arquivista da Cmara Municipal do Rio de Janeiro, razo pela qual suas obras so amplamente citadas nessa pesquisa.
6 Pires de Almeida (1886) explica que as Escolas Centrais eram instituies que ofereciam contedos diversificados em seus
programas de ensino, que compreendiam desde matrias do ncleo comum, como, fsica e qumica experimental, gramtica
e literatura, lnguas antigas e modernas, lgica e metafsica dos povos, at contedos especficos, como, desenho,
agricultura e comrcio, artes e ofcios. Segundo o autor, cada escola possua uma biblioteca, um horto botnico, gabinete de
histria natural, de fsica experimental e de mquinas industriais.
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A partir de 1830 e em funo da disseminao dessas escolas, os melhoramentos da
indstria francesa tornaram-se notabilssimos, pois conquistava dia-a-dia mais vasto mercado,
sendo seus produtos mais bem acabados. Para Pires de Almeida (1886), tal fato foi fruto da
proveitosa sementeira, pois os antigos alunos das Escolas de Artes e Ofcios, convertidos em
hbeis mestres, impulsionaram brilhantemente as fbricas e as oficinas da Frana, dando sua
produo um cunho de superioridade. Desse modo, o ensino profissional passa a ocupar um
dos primeiros lugares no vasto programa da instruo pblica. Criam-se, ento, novas escolas,
difundindo-se largamente e principalmente, dentre os muitos contedos, o ensino do desenho,
procurando inspirar o gosto dos operrios para os estudos das artes e manufaturas.
Com relao Inglaterra, estudos apontam que sua instruo primria era to slida
que despertava, nos alunos, as mais nobres aspiraes e, com isso, um senso prtico
caracterstico do povo ingls7. A esse sistema, deve a Inglaterra o avultado nmero de homens
teis, que tanto concorreram para o progresso da nao. Na realidade, pela prtica, tanto na
lavoura quanto na indstria, que se adquirem os verdadeiros conhecimentos com os quais se
manejam os negcios em qualquer esfera social.
Como se observa no Jornal do Commercio8 cujo redator o Dr. Luiz Pereira Barreto
9
a mola mestra de todo o sucesso britnico na Revoluo Inglesa se deu graas valorizao
da agricultura nacional inglesa. Para o redator:
Foi unicamente pela agricultura que a Inglaterra se elevou. Foi cultivando forragens que pde
ter gado; foi tendo gado, que pde ter leite e carne e mais o esterco, que faz o trigo que d o
po. Foi com po, com leite e com carne que conseguiu fazer crescer a sua populao e obter
esses abundantes braos valentes que impulsionam a sua industria e pem em movimento os
seus innumeros navios de commercio e de guerra. (JORNAL DO COMMERCIO, 23-08-
1901, n 1.540).
O texto acima sinaliza que na retaguarda da indstria, est a agricultura. Assim, houve
uma grande e crescente demanda pela produo de l na Inglaterra, valorizando o
desenvolvimento das manufaturas de tecidos. Em consequncia aumentou a necessidade e a
7 Pires de Almeida um dos autores que refora essa percepo em sua obra Officina da Escola (1886).
8 O Jornal do Commercio foi fundado em 20 de dezembro de 1896, em Juiz de Fora, MG, por V. Leon Anbal, tendo como
redator-chefe Heitor Guimares e como auxiliar Olegrio Pinto. Em 1897, foi adquirido por Antnio Carlos Ribeiro de
Andrada, sendo este seu redator at 1902, transferindo-o ao Dr. Joo Penido Filho. Posteriormente outros nomes figuraram
a sua frente, conforme kappel apresenta em sua Dissertao de Mestrado O pensamento educacional de Estevam de
Oliveira expresso atravs do Jornal Correio de Minas (1897-1908), Universidade Federal de So Joo Del Rei (UFSF),
2010.
9 Luiz Pereira Barreto nasceu em Resende, RJ, em 1840 e faleceu em SP, em 1923. Doutorou-se em Cincias Naturais e
Medicina na Blgica, em 1864. Aps formado, em seu retorno ao Brasil, dedicou-se filosofia, educao, imprensa,
cafeicultura, pecuria, sociologia, viticultura, poltica, geologia e vida cientfica ligada, principalmente, s experincias
do caf, guaran, cerveja e vinho. Publicou vrios artigos sobre a produo cafeeira no jornal A Provncia de S. Paulo, nos dias 2, 3, 5, 6, 7, 8 e 10 de dezembro de 1876. Fonte: www.genealogiafreire.com.br. Acesso: maio, 2011.
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valorizao da criao de ovelhas. Nesse cenrio, ocorreu uma grande apropriao de terras
para que se tornassem adequadas para pastagens de ovelhas e, com os lucros obtidos com a
produo da l houve crescimento do poderio econmico e o prestgio da nobreza rural. Alm
de exaltar o sucesso britnico na poca da revoluo, Pereira Barreto tece uma sutil crtica ao
governo brasileiro. Conforme matria do Jornal do Commercio:
A suprema efficacia de qualquer frma governamental est no gro de intelligencia com que
cada povo pe em jogo as foras productoras da terra, de que dispe. Parallelamente, um povo
pobre e sem instruco agrcola, condenado a sofrer o peso das fatalidades naturaes sem poder
dominal-as, em vo procurar imitar as superiores construces polticas, que um outro povo
mais instruido e maduro architectou para si. (JORNAL DO COMMERCIO, de 23-08-1901, n
1.540).
Naquele contexto, s da terra illuminada pela intelligencia que sae a grande
politica, a grande fora das naes.10
Outros feitos marcaram a valorizao da mo de obra na Gr-Bretanha, concorrendo
para o desenvolvimento da instruo popular de manufaturas a Society of Arts fundou em
1754, algumas escolas para as classes operrias, com o fim de divulgar o progresso das
cincias em relao ao comrcio, artes e indstrias. Tal associao mantinha uma academia
com o objetivo de se ministrarem palestras e conferncias sobre os assuntos cientficos que
dizem respeito s indstrias.
A partir de 1799, foram abertos vrios caminhos que possibilitaram novos rumos da
indstria no pas, como forma de habilitar os artfices ingleses. Assim, em 1824, a Inglaterra
funda nas cidades mais industrializadas cursos e instituies idnticas, denominadas
Mechanics Institute11
. Esses Institutos dos Mecnicos despertaram a ateno pblica sobre as
vantagens de se ministrar s classes operrias uma instruo cientfica, de acordo com as
necessidades industriais. Por outro lado, os empresrios viam nesses Institutos espaos em
que se formariam trabalhadores hbeis e habituados disciplina fabril de que tanto
necessitavam em seus estabelecimentos. Portanto, os empresrios investiam financeiramente12
nos Institutos a fim de proporcionar meios para a qualificao da mo de obra para suas
indstrias, desde que fossem ministrados um ensino puramente tcnico. Da mesma forma que
10 Fonte: Jornal do Commercio, 23-08-1901, n 1.540.
11 O perodo de estgio de doutoramento realizado pela pesquisadora no Instituto de Educao do Departamento de
Humanidades e Cincias Sociais, da Universidade de Londres, Inglaterra, sob a co-orientao do Professor Doutor Gary
McCulloch, permitiu um maior investimento nos estudos elementares, anteriormente iniciados no Brasil, acerca da
abordagem sobre o Mechanics Institute. O Instituto dos Mecnicos despertou interesse por apresentar certa semelhana
com os atuais Centros Federais de Educao Tecnolgica (CEFETs) exitentes no Brasil, objeto deste estudo.
12 Os empresrios, alm de serem os patronos dos Institutos, fornecendo doaes para a instalao e manuteno de suas
sedes, investiam, tambm, nas demais dependncias, como, auditrios, bibliotecas e laboratrios (Pires de Almeida, 1886).
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a classe burguesa de empresrios alavancou os Institutos dos Mecnicos, foram eles, tambm,
os responsveis por suas falncias, uma vez que queriam transformar esses institutos em
agncias para domesticar a classe operria. Dos Institutos dos Mecnicos surgiu o Instituto de
Londres, mais tarde University of Manchester Institute of Science and Technology.
Figura 1 - Manchester Mechanics' Institute, in 1825. Cooper Street, Manchester, UK.
Tomando como exemplo o Mechanics Institute in Manchester, criado em 1824,
durante a Revoluo Industrial, um grupo de empresrios e industriais da cidade de
Manchester encontrou uma casa pblica, onde artesos poderiam aprender cincia bsica,
particularmente mecnica e qumica (KARGON, 1977), sobrevivendo como uma instituio
independente, atendendo aos originais objetivos educativos ao longo do sculo 20
(WRIGLEY, 1982).
Em reunio, convocada por George William Wood em 07 de Abril de 1824
(KARGON; WRINGLEY e UMIST, 2012), assistida por membros proeminentes da
comunidade cientfica e de engenharia, o Sir Benjamin Heywood, banqueiro prspero, foi
eleito primeiro Presidente do Mechanics Institute in Manchester para o perodo 1824-1841.
O Mechanics Institute se manteve nesse mesmo sistema de ensino at 1882. De 1883 a 1917
passou a ser denominado Manchester Municipal School of Technology, tendo sido pioneiro na
tecnologia de Engenharia Qumica na Gr-Bretanha. Em 1918, transformado em universidade,
a instituio mudou novamente para Manchester Municipal College of Technology. Em 1955
passou a Manchester College of Science and Technology e em 1966 a University of
Manchester Institute of Science and Technology (UMIST), conhecida como University of
Manchester.
Embora o governo no tenha criado escolas por conta prpria, ele fez o repasse de
generosas subvenes aplicadas nas escolas de ensino profissional e exercia papel na
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fiscalizao, aprovando os regulamentos e redigindo os programas que deveriam ser postos
em prtica nesses estabelecimentos.
J naquela poca, havia a preocupao do governo britnico, quanto ao trabalho
infantil. Para isso, apoiado pelos trabalhadores rurais, em 1833, ele promulgou a constituio
denominada Factory Act, a Lei das Fbricas, proibindo a utilizao da mo de obra de
crianas menores de nove anos no interior das fbricas.
Quanto ao ensino agrcola na Inglaterra, em 1842 (Barnard; Brownell, 1871) um grupo
de agricultores da cidade de Cirencester, no Reino Unido, preocupados com o lento processo
educacional fornecido pelo governo, reuniu-se com o objetivo de se discutir sobre as
vantagens de se criar um sistema educacional especfico agricultura (The History...). Desta
feita, atravs de um comit de fazendeiros, fez-se circular entre eles um prospecto de ensino,
tendo sido eleito Earl Bathurst para presidir essa instituio. Sem suporte do governo, esse
grupo de fazendeiros conseguiu fundos atravs de subscries pblicas e puderam erguer uma
construo de arquitetura e estilo vitoriano, tendo sido inaugurada em setembro de 1845,
como a primeira Faculdade de Agricultura do mundo Ingls, com a admisso dos primeiros
25 alunos. No mesmo ano a rainha Vitria, sentindo-se agradecida, assumiu a Instituio
tornando-a pblica, sob a responsabilidade do Governo Britnico (ROYAL, 2012). A Royal
Agricultural College, in Cirencester, United Kingdom13
, sobreviveu a to