imposto Único no sistema finaceiro nacional · atos de ordem burocrática que devem ser atendidos...

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1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” INSTITUTO A VEZ DO MESTRE IMPOSTO ÚNICO NO SISTEMA FINACEIRO NACIONAL Autor: Alexander Rodrigues Mendes Orientador: Professor Carlos Afonso Leite Leocadio Rio de Janeiro 2009

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

IMPOSTO ÚNICO NO SISTEMA FINACEIRO NACIONAL

Autor: Alexander Rodrigues Mendes

Orientador: Professor Carlos Afonso Leite Leocadio

Rio de Janeiro

2009

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

IMPOSTO ÚNICO NO SISTEMA FINACEIRO NACIONAL

Apresentação de monografia ao Instituto A Vez

do Mestre – Universidade Candido Mendes

como requisito parcial para obtenção do grau

de especialista em Administração Pública e

Tributária

Por: Alexander Rodrigues Mendes

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AGRADECIMENTOS

Agradeço em especial a Deus por mais uma

conquista e dizer que sou grato pela sua

bênção. Aos meus pais que me ensinaram a

viver com dignidade, iluminaram os meus

caminhos obscuros com afeto e dedicação, que

se doaram inteiros e renunciaram seus sonhos,

para que muitas vezes pudessem realizar os

meus.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a minha família, minha

namorada e aos professores desta respeitosa

instituição de ensino.

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RESUMO

O presente trabalho concentra-se na reflexão acerca da modificação do nosso

sistema tributário através da implantação do Imposto Único, analisando sua

viabilidade no sistema financeiro nacional. A proposta do Imposto Único sobre

todas as Transações Financeiras, de autoria do Professor Marcos Cintra, como

projeto de Lei na Câmara dos Deputados e pelo deputado Flávio Rocha,

sugeria a extinção de todos os tributos com características fiscais,

permanecendo apenas os considerados extras fiscais e os vinculados. O

Imposto Único compõe-se dos conceitos de unicidade tributária e de transação

monetária, esta como base ou fato gerador do tributo. Taxando-se a transação

monetária, seria possível maximizar a base tributária e minimizar as alíquotas

marginais, uma vez que todas as bases tributárias conhecidas atualmente são

apenas subconjuntos da base tributária “transação”. Sua implantação visa

garantir a autonomia financeira dos estados e dos municípios, implicando sua

independência financeira com créditos diários em suas respectivas contas, sem

nenhuma intermediação. Seus efeitos negativos só deverão ser fonte de

preocupação se este vier a ser adotado não como um substituto dos atuais

impostos arrecadatórios, mas sim como mais um a se somar a outros tantos

que hoje incidem sobre as atividades formais do sistema econômico brasileiro.

Trata-se, afinal, de uma opção em que a simplificação do sistema tributário

com a criação de um tributo hegemônico sobre movimentações financeiras

aliviará, por certo, os cidadãos em geral de qualquer preocupação com o fisco,

o qual poderá concentrar todos os esforços na fiscalização dos bancos,

exigindo um aparato fiscalizador mais leve, especializado e direcionado.

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METODOLOGIA

Os métodos utilizados para a busca das informações pertinentes ao

desenvolvimento do tema proposto foram algumas fontes, pesquisas

bibliográficas e leituras preliminares em sites especializados na matéria, para

ampliar o conhecimento inicial e formar uma opinião sólida sobre o assunto.

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SUMÁRIO

Introdução

Capítulo I – Histórico

Capítulo II – Considerações sobre o Sistema Tributário

Capítulo III - A Tributação sobre Transações Financeiras

Capítulo IV - Do Imposto Único Sobre Transações Financeiras

Conclusão

Bibliografia

Índice

Folha de Avaliação

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INTRODUÇÃO

Diante da necessidade de reforma em nosso sistema tributário, o

presente trabalho destina-se a analisar a viabilidade das propostas de reforma

tributária no Sistema Tributário Brasileiro, dentre as quais se destaca a do

Professor Marcos Cintra, apresentada como projeto de Lei pelo Deputado

Flávio Rocha no ano de 2001, na Câmara dos Deputados, intitulado “Imposto

Único sobre todas as Transações Financeiras”.

No sistema de tributação vigente em nosso país, as alíquotas são

aumentadas e os impostos proliferam com o intuito de elevar a arrecadação.

Por outro lado, a sonegação aumenta e reinicia-se um novo surto legiferante de

criação de novos impostos, de controle e de elevação de alíquotas.

Em contrapartida, a proposta do Imposto Único sugere a simplificação

do atual sistema de tributação nacional através da extinção de todos os tributos

com características fiscais, isto é, dos que são, primordialmente, instrumentos

arrecadatórios de recursos para o financiamento das atividades gerais do

Estado, permanecendo apenas os tributos considerados extra fiscais que

funcionam como instrumentos de regulação econômica, e tributos vinculados

diretamente à prestação de serviços.

O Imposto Único é uma turn-over tax, como existiu na Alemanha até

meados da década de 60. A essência do tributo é a mesma, mas a forma de

arrecadação lhe traz contemporaneidade, tributando-se as transações

econômicas através de seus correspondentes lançamentos bancários. A

técnica de cobrança garantiria automaticidade, superando os sistemas de

“lançamento” (como o IPTU ou o IPVA) e o de “autoapuração ou

autorrecolhimento com auditoria” (como o IR, ICMS, IPI e vários outros),

eliminando-se a burocracia e o papelório.

A criação de uma taxa sobre transações bancárias foi proposta nos

Estados Unidos da América em 1986 e definida no Congresso norte-americano

em 1991. Impostos sobre transações financeiras, em suas mais variadas

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9 formas, têm sido aplicados na Argentina, na Austrália, no Peru e no Brasil (o

IOF é um imposto sobre transações realizadas no mercado financeiro).

A conjugação da idéia da unicidade tributária com a transação bancária,

que surgiu no ano de 2001, a substituição da moeda manual pela escritural, a

evolução da informática e seu impacto no sistema bancário geraram a

possibilidade de um sistema tributário não-declaratório, ágil, barato, universal e

imune, no primeiro momento, à corrupção e à evasão. Esses são fatos de uma

gritante contemporaneidade e fazem do Imposto Único sobre Transações uma

idéia, mesmo que esquecida, merecedora de uma análise mais aprofundada.

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CAPÍTULO I

HISTÓRIA

A teoria do imposto único surgiu com os fisiocratas no século XVIII. A

escola econômica fisiocrata, que possuía pensamentos e literaturas francesas,

granjeou discípulos em outros países, como Austrália, Rússia e Suécia.

Os fisiocratas representaram uma reação contra o chamado imoralismo

mercantilista e professavam uma filantropia humanitária, entendendo que a

finalidade da vida social era a felicidade dos homens, e não o poder ou ganho

monetário. Louvavam a agricultura e a vida dos campos, e os seus ideais eram

descobrir a lei natural para respeitá-la e a ela se submeterem. Entendiam que o

industrialismo mercantilista havia causado o declínio da agricultura francesa,

preferindo a agricultura à indústria, baseados na “teoria do produto líquido”. Por

essa teoria, somente a agricultura seria produtiva, por ser a única que criava

riquezas sem consumi-las, uma vez que a indústria e o comércio não

produziam renda bruta que permitisse cobrir suas despesas. Assim, os

fisiocratas defendiam a tese de que deveria existir um imposto único, que

incidisse sobre o produto líquido da terra, como tal considerada a diferença

entre o resultado bruto da exploração agrícola e as despesas feitas com a

produção. Ademais, consideravam que um terço desse produto líquido bastaria

para atender as necessidades do Estado.

No século XIX, a teoria do imposto único foi revivida mas não frutificou,

principalmente em razão da divergência entre seus defensores sobre qual seria

este imposto exclusivo; uns preferiam o imposto sobre a renda, enquanto

outros entendiam que melhor seria o imposto sobre consumo.

Observa-se que, como poderia inicialmente pensar, não foi pacífica entre

os doutrinadores a adoção pelo Estado de uma pluralidade de tributos.

Segundo os defensores da teoria do imposto único, as vantagens

seriam: a sua simplicidade, beneficiando, de um lado, o contribuinte que o

entenderia melhor, e, de outro lado, o Estado que não ficaria sujeito a manter

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11 um aparelho complexo de serviços públicos para a imposição, cobrança e

fiscalização de tributos; a sua economia, que seria uma consequência da

mencionada simplicidade, tornando-o, portanto, mais lucrativo para o Estado; a

comodidade que traria para o contribuinte, que não se veria perdido no

emaranhado de formalidades e burocracias que caracterizam o sistema

tradicional com pluralidade de tributos e uma maior consciência fiscal do

contribuinte, que poderia saber exatamente o valor que estaria pagando,

inclusive podendo medir a justiça ou não da tributação em relação a sua

pessoa.

Por outro lado, os críticos da teoria apontavam as seguintes

desvantagens do Imposto Único: a sua excessiva onerosidade, porque todo

imposto único para ser produtivo e substituir o sistema de pluralidade de

tributos deveria conter uma alíquota bastante pesada, o que, sem dúvida

alguma, espantaria e afugentaria o contribuinte, levando-o a trilhar o caminho

da fraude, da evasão e da dissimulação; a tendência que o contribuinte teria de

transferir suas riquezas mobiliárias para o estrangeiro, em razão de

predominarem hoje nas sociedades modernas os elementos de riqueza

imobiliária; a dificuldade em obter-se um imposto que atingisse eficazmente

todos os contribuintes em sua imensa atividade profissional, sobrecarregando

uns em detrimento de outros.

Desta forma, segundo Luis Emygdio F. da Rosa Junior1, chegou-se à

conclusão de que melhor que um imposto único é existir um sistema tributário

constituído por uma multiplicidade de tributos, por melhor atender às

necessidades do Estado e à pessoa do contribuinte. Isso permite o

estabelecimento de alíquotas mais suaves para cada imposto, fazendo com

que o contribuinte ofereça menor resistência ao seu pagamento por estar

devidamente conscientizado e convencido da sua necessidade, não

precisando, assim, recorrer à fraude ou à sonegação.

Além do mais, a existência de uma pluralidade de tributos permite atingir

um maior número de contribuintes, fazendo com que a carga tributária possa

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12 entre elas se diluir, alcançando-se maior justiça na tributação e atendendo-se,

dessa forma, ao princípio da capacidade contributiva.

Por outro lado, a complexidade do aparelho estatal para a cobrança e

fiscalização de uma multiplicidade de tributos e o excesso de formalismo e de

atos de ordem burocrática que devem ser atendidos pelo contribuinte, não

resultam de defeito natural do sistema. Decorrem, na realidade da

incapacidade dos administradores, principalmente dos tecnocratas, para o

exercício da atividade que lhes é atribuída, pela tendência irresistível que têm

de tornar complicado o que é fácil. Alia-se a tudo isso o excesso de normas

fiscais e a redação confusa e pouco objetiva que têm as leis tributárias.

1.1 - Compreensão do Sistema Tributário

Federação vem do latim foedus – que quer dizer pacto, aliança – sendo,

por conseguinte o Estado Federal uma união de Estados.

O Estado Federal é um fenômeno da era moderna que só veio aparecer

no século XVIII, segundo Dalmo de Abreu Dalari2. Nasceu com a Constituição

dos Estados Unidos da América em 1787, após a proposição de conversão da

Confederação até então existente com a declaração de independência das 13

colônias, já que ficou evidenciado que esse sistema era frágil e a união era

pouco eficaz, havendo conflito de interesses que prejudicavam uma ação

conjunta.

Inspirado em Montesquieu, constituíram um sistema de freios e

contrapesos, institucionalizando a separação dos três poderes: Legislativo,

Executivo e Judiciário, independentes e harmônicos entre si.

Nesse momento, a soberania passa a ser qualidade específica do

Estado Federal, preservando aos Estados Membros autonomia política

limitada, sendo as atribuições tanto da União como dos demais membros

federados, delimitadas por Lei Maior, ou seja, pela Constituição.

_____________________________________________________________________________________________________________

1 Rosa Jr. Luis Emygdio F. da, Manual de Direito Financeiro e Tributário, Rio de Janeiro: Renovar, 2000.p.224,

2 Dallari, Dalmo de Abreu. Elementos da Teoria Geral do Estado, 23ª. ed., São Paulo, Saraiva, 2000.p.170

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No Estado Federal, há disposição constitucional expressa de cada

atribuição dos entes federados, não havendo hierarquia entre os mesmos, ou

seja, cada ente é autônomo, sendo bem definidas suas competências e

atribuições, bem como as rendas auferidas por cada um.

Com a nacionalização do poder, deu-se a formação da própria

Constituição, na qual há afirmação à supremacia do indivíduo, limitando-se o

poder dos governantes.

Segundo nos mostra Dalmo de Abreu Dallari3:

“Como efeito, surgindo num momento em que a

doutrina econômica predominante era o liberalismo,

incorporou-se o constitucionalismo ao acervo de idéias

que iriam configurar o liberalismo político. Este, por sua

vez, expandiu-se como ponto de convergência das lutas a

favor dos direitos e da liberdade do indivíduo”.

A burguesia, que dispunha do poder econômico, preconizava a

intervenção mínima do Estado na sociedade (Teoria do Estado Mínimo). Com a

Constituição, estariam estabelecidas todas as normas essenciais ao

desenvolvimento deste Estado.

Atualmente, o Estado assume papel importante no financiamento e

empenho em grandes e custosos empreendimentos, e o intervencionismo

amplamente contestado assume enfoque diverso daquele apontado nas

guerras. Ocorre que a definição desta possibilidade deve ser muito bem

expressa e delimitada nas constituições federais atuais, assumindo papel de

grande relevância no Brasil que utiliza o Poder Constituinte e Reformador.

A intenção é de alocar-se o Estado em setores bem determinados,

interferindo inclusive na esfera de iniciativa privada, em áreas pouco

exploradas ou deixadas de lado por desinteresse econômico, tendo como fim a

utilização de todos os meios idôneos para a conservação das necessidades

inerentes à Federação.

_____________________________________________________________________________________________________________3 Dallari, Dalmo de Abreu. Elementos da Teoria Geral do Estado, 23ª.ed., São Paulo, Saraiva, 2000.p.170

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Quer dizer, qualquer regra que venha ajudar a beneficiar a federação

como um todo, deve valer acima, até mesmo, de interesses locais.

O bem maior será aquele que engloba o maior número de cidadãos e

que dê ao ente federativo os melhores meios de fazê-lo valer da maneira mais

justa possível.

1.2 – Da Autonomia dos Estados

O instituto da autonomia tornou-se uma necessidade preeminente à

medida que foram criadas as Federações.

Celso Ribeiro Bastos4 define soberania da seguinte forma:

“Soberania vem a ser o atributo que se confere ao

poder do Estado em virtude de ser ele juridicamente

ilimitado. Um Estado não deve obediência jurídica a

nenhum outro Estado. Isto o coloca, pois, numa posição

de coordenação com os demais integrantes da cena

internacional e de superioridade dentro do seu próprio

território, daí ser possível dizer da soberania que se trata

de um poder que não encontra nenhum outro acima dele

na área internacional e nenhum outro que lhe esteja, nem

mesmo em igual nível, na ordem interna”.

Já autonomia, conforme afirma o autor Celso Ribeiro Bastos5:

“É a margem de descrição de que uma pessoa goza

para decidir sobre os seus negócios, sendo essa margem

sempre delimitada pelo próprio Direito. Daí porque se falar

que os Estados Membros, ou que os municípios são

autônomos; ambos atuam dentro de um quadro ou

moldura jurídica definida pela Constituição Federal.

Autonomia, pois, não é uma amplitude incondicionada ou

ilimitada de atuação na ordem jurídica, mas, tão-somente,

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a disponibilidade sobre certas matérias, respeitados,

sempre, os princípios fixados na constituição”.

Em relação aos entes internos, o professor Celso Ribeiro Bastos foi ao

cerne da questão (hipótese levantada por Montesquieu há séculos) quando

afirma que a autonomia aplicada aos organismos internos, estados e

municípios, deve sempre se sobrepujar a ordem constitucional reinante. Na

realidade, isto se verifica presente quando nos deparamos com o art. 157,

exemplificando o tema na CRFB/88, que trata de “Repartição das Receitas

Tributárias”.

Cabe à União o recolhimento de vários tributos e o automático repasse

aos Estados e Municípios, bem como aqueles a estes. Não se cogita a invasão

na autonomia tributária de cada ente interno, isto porque há previsão

constitucional assegurando a independência recíproca.

Certo é o que aponta Amilcar Falcão6, verbis:

“Essencialmente, portanto, coexistem na federação

competências partilhadas entre entidades locais e

entidade central, todas elas caracterizadas, em princípio,

pela incomunicabilidade das áreas respectivas”.

Ocorre que não há quebra do princípio da autonomia inerente ao próprio

Estado Federal, como bem demonstra ainda o próprio doutrinador, verbis:

“Ao governo central caberá toda matéria que diga

respeito ao interesse geral, ficando com os poderes locais

os assuntos restantes, todos eles reputados assim de

interesse local ou considerados passíveis de

determinação pelos particularismos regionais”.

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CAPÍTULO II

CONSIDERAÇÕES SOBRE SISTEMA TRIBUTÁRIO

Segundo Cláudio Martins7, sistema significa “ordenamento conveniente,

regime adequado, classificação, lógica, método, ou seja, conjunto coerente de

partes de um todo, disciplinado por normas ou regras apropriadas que visam à

obtenção de um resultado satisfatório”. Sistema jurídico, na lição de Paulo de

Barros Carvalho8, “é o conjunto de normas jurídicas que se relacionam entre si

de várias maneiras, segundo um princípio unificador”.

Ainda segundo Paulo de Barros Carvalho9, “sistema tributário nacional é

o conjunto de tributos e das regras jurídicas que os disciplinam, vigentes em

um país, em determinada época, sem distinguir entre os de competência

federal, estadual e municipal, ou seja, não se fazendo referência à competência

tributária, uma vez que se quer significa sistema tributário nacional, implicando,

ainda, certa coordenação dos diferentes tributos, entre si com o sistema

econômico dominante e com os fins fiscais e extra fiscais da tributação, bem

como os princípios constitucionais”. Para que possa existir um sistema de

tributos é mister que as normas que o integram sejam conexas e consequentes

ao regrar o poder impositivo do Estado. Assim, se não existir essa harmonia,

ou seja, se cada tributo não for parte de um todo e com uma finalidade

determinada, não se poderá falar em sistema tributário, porque esse não

resulta do simples fato de o Estado cobrar tributos. Esse desequilíbrio ocorre

no momento em que as normas tributárias são impostas sem ordem e sem

investigação das causas, visando apenas à obtenção de recursos pelo Estado.

_____________________________________________________________________________________________________________

4 Bastos, Celso Ribeiro. Comentários à Constituição do Brasil, 5ª. ed., São Paulo, Saraiva, 2004.p.219.

5 Bastos, Celso Ribeiro. Comentários à Constituição do Brasil. 5ª. ed., São Paulo, Saraiva, 2004.p.219.

6 Falcão, Amílcar. Temas de Direito Tributário e Financeiro, 3ª. ed., Rio de Janeiro Lúmen Júris, 1999.p.114

7 Martins, Claudio. Manual de Direito Financeiro e Tributário, 4ª. Ed., Rio de Janeiro: Renovar, 2000.p.224.

8 Carvalho, Paulo de Barros. Manual de Direito Financeiro e Tributário, Rio de Janeiro: Renovar, 2000.p.224.

9 Carvalho, Paulo de Barros. Manual de Direito Financeiro e Tributário, Rio de Janeiro: Renovar, 2000.p.225.

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17 Resulta do exposto que o estudo do sistema tributário deve ser feito em

relação a cada país, isoladamente, porque cada um tem sua característica

própria, embora possam existir vários sistemas tributários semelhantes. Desta

forma, o sistema tributário decorre das instituições jurídicas e políticas de um

país, de sua estrutura social, de seu sistema econômico e da forma da

distribuição da receita tributária. Além da limitação especial, é necessário que

se faça um estudo direcionado, uma vez que o sistema tributário de um país

não é estável, ou seja, está sempre variando para atender à sua evolução

política, social e econômica.

2.1 – O Sistema Tributário Brasileiro

No Brasil, o sistema tributário foi sistematizado de forma pormenorizada

na Lei Maior, a partir da Constituição democrática de 1946.

A Constituição do Império, de 25 de março de 1824, faz referência à

Fazenda Nacional encarregada a um Tribunal com o nome de “Tesouro

Nacional”, em que diversas Estações, devidamente estabelecidas por Lei,

regulava sua administração, arrecadação e contabilidade em recíproca

correspondência com as tesourarias e autoridades das províncias do Império. À

Assembléia-Geral era atribuída a competência para criar as contribuições, isto

é, tributos. As limitações ao poder de tributar não apareciam de forma

sistematizada, direta; eram extraídas dos princípios gerais sobre os direitos

civis e políticos dos cidadãos.

A primeira Constituição Republicana de 1981 também não disciplinou o

sistema tributário. Limitou-se, apenas, a estabelecer a competência legislativa

do Congresso Nacional para regular a arrecadação e a distribuição das rendas

federais.

Na Seção da Declaração dos Direitos, elegeu-se o princípio da

legalidade, determinando que nenhum imposto de qualquer natureza poderia

ser cobrado senão em virtude de uma lei que o autorizasse.

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18 A Constituição de 1934 também não disciplinou o sistema tributário.

Impôs, todavia, limitações proibitivas à criação de imposto sobre a profissão de

escritor, jornalista ou professor; instituiu a contribuição de melhoria, proveniente

da valorização do imóvel por motivo de obras públicas; criou um incentivo fiscal

sobre o imóvel rural, estabelecendo a redução de cinquenta por cento dos

impostos que recaiam sobre imóvel rural, de área não superior a cinquenta

hectares e de valor de dez contos de réis, instituído em bem de família.

A Constituição outorgada, de 1937, excluiu a competência para a

deliberação de projetos ou emendas que versassem sobre matéria tributária,

estabelecendo que todos os projetos de lei que interessassem à economia

nacional, em qualquer dos seus ramos, antes de sujeitos à deliberação do

Parlamento, seriam remetidos à consulta do Conselho da Economia Nacional.

Era, como se sabe, a Constituição autoritária da ditadura Vargas.

Com a redemocratização do Brasil, foi promulgada a Constituição de 18

de setembro de 1946, que, juntamente com a Constituição de 1998, foram as

mais democráticas de nossa História.

A Constituição de 1946 disciplinou o sistema tributário, estabelecendo a

esfera de competência dos tributos e impondo limitações ao poder de tributar,

em benefício da cidadania, tais como a obediência ao princípio da uniformidade

dos tributos; a imunidade recíproca, para o efeito da instituição do Imposto de

Renda, bens e serviços da União, dos Estados, Distrito Federal e Municípios; a

imunidade dos templos de qualquer culto, bens e serviços de partidos políticos,

instituições de educação e de assistência social e o papel destinado

exclusivamente à impressão de jornais, periódicos e livros.

Restituiu a contribuição de melhoria com previsão constitucional e as

taxas de competência concorrente entre União, Estados, Distrito Federal e

Municípios, além de quaisquer outras rendas que passassem do exercício de

suas atribuições e da utilização de seus bens e serviços.

Vedaram-se limitações ao tráfego de qualquer natureza por meio de

tributos, além de consagrar o princípio da legalidade e o princípio da

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19 anualidade, vedando a exigência ou o aumento de qualquer tributo sem que a

lei o tivesse estabelecido, bem como sua cobrança em cada exercício, sem

prévia autorização orçamentária, ressalvada, porém, a tarifa aduaneira e o

imposto lançado por motivo de guerra.

A Constituição conferiu competência à União para cobrar imposto sobre

importação e consumo de mercadorias, produção, comércio, distribuição e

consumo e, bem assim, importação e exportação de lubrificantes e de

combustíveis líquidos ou gasosos de qualquer origem ou natureza, minerais do

país e energia elétrica, imposto de renda, transferência de fundos para o

exterior e negócios de sua economia.

Aos estados foram atribuídas competências para decretar impostos

sobre a propriedade territorial, transmissão causa mortis e inter vivos e sua

incorporação ao capital das sociedades, além do imposto sobre vendas e

consignações, exportação de suas mercadorias, até o máximo de 5% ad

valorem, serviços da justiça e negócios de sua economia.

Segundo o Exmo. Sr. Juiz Federal Ricardo César Mandarino Barreto10, a

instituição do Imposto de Exportação aos Estados, hoje, seria danosa para a

economia nacional, pois tiraria da União parcela importante do seu poder de

estabelecer políticas extra fiscais. Além disso, contribuiria para aumentar a

distância entre os Estados produtores – mais ricos – e os Estados

consumidores – mais pobres.

Os municípios ficaram com as transferências previstas

constitucionalmente e com os impostos predial e territorial urbano, de licença

de indústrias e profissões, sobre diversões públicas, sobre atos de sua

economia ou de assuntos de sua competência.

Com o golpe de 1964 veio a Constituição de 24 de janeiro de 1967,

promulgada por um Congresso absolutamente sem autonomia, eis que

legislava sob a mira do Ato Institucional n. 02, que permitia ao Presidente da

_____________________________________________________________________________________________________________

10 Barreto, Ricardo César Mandario. Trabalho intitulado Idéias sobre a Reforma Tributária apresentado no Centro de Estudos Judiciários, Brasília, 1998

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República cassar mandatos e suspender direitos políticos de quem bem

entendesse. Embora tal Constituição seja dita “promulgada”, foi, na verdade,

outorgada.

A Constituição de 1967 sistematizou de forma mais técnica a matéria

tributária, mas não impôs grandes alterações. As limitações ao poder de

tributar praticamente permaneceram as mesmas. Houve alterações apenas de

cunho político, para assegurar a continuidade do poder ao grupo que o havia

tomado em 1964. Diminuíram o número de impostos dos Estados, fortalecendo

os da Federação, bem como dos Municípios, compensando-os, em parte, com

transferências, de modo que Estados e Municípios se tornassem mais

dependentes do Poder Central, como já eram politicamente. Ficaram sujeitos,

posteriormente, os seus dirigentes a serem cassados por força do Ato

Institucional n. 05, de 13/12/68.

A Constituição de 17 de outubro de 1969 – que também se dizia

“promulgada”, mas era filha direta do Ato Institucional n.05, concebida para

viver em harmonia com este, não trouxe alterações ao sistema tributário que

mereçam análise aprofunda.

O Sistema Tributário da Constituição Federal de 1988 atribui à União,

Estados, Distrito Federal e Municípios a competência concorrente para a

instituição de três espécies tributárias: imposto, taxa e contribuição de

melhoria, estabelecendo, de logo, que os impostos teriam caráter pessoal e

observariam a capacidade contributiva.

Deixou o constituinte, aparentemente, de se preocupar com a cobertura

das despesas, de forma específica, em que pese haver aberto à União um

enorme leque para a criação de outros impostos, desde que não-cumulativos e

que não tivessem fato gerador ou base de cálculo próprios dos impostos

discriminados na própria Constituição. Vedou-se, assim o bis in idem

infraconstitucional. A taxa foi definida e não se permitiu sua criação com a

mesma base de cálculo própria de Impostos. Além da competência

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21 concorrente, o legislador constituinte atribuiu à União a competência para

instituir empréstimos compulsórios e contribuições sociais de intervenção no

domínio econômico e de interesse das categorias profissionais e econômicas.

Criou regras específicas de limitações ao poder de tributar, especialmente

aquelas que diziam respeito aos princípios da legalidade, da isonomia e da

anterioridade. Proibiu o confisco e criaram hipóteses de imunidade como as do

patrimônio, ou de serviços dos diversos entes federativos. Proibiu, ainda, a

incidência sobre os templos de qualquer culto – em homenagem à liberdade

religiosa – como direito fundamental, sobre o patrimônio e a renda dos partidos

políticos, das entidades sindicais dos trabalhadores, das instituições de

educação, sem fins lucrativos.

A imunidade sobre livros, jornais, periódicos e o papel destinado à sua

impressão foi mantida. Isso causou grande polêmica no meio jurídico, onde era

discutido se os insumos indispensáveis aos funcionamentos dos jornais

também gozavam de imunidade. O Prof. Hugo de Brito Machado11 entende que

sim, porque a interpretação da regra de imunidade não é literal, mas

sistemática, porquanto visa à liberdade de imprensa como bem maior.

O constituinte vedou, ainda, a instituição de tributo que não fosse

uniforme em todo território nacional, a tributação da renda das obrigações da

dívida pública como forma natural de não incentivar a inflação e conter o déficit

público, e a diferença tributária e serviços de qualquer natureza em razão de

sua procedência ou destino.

2.2 – A Unificação Tributária no Sistema Tributário Atual

Observa-se que todas essas vedações e limitações impostas ao poder

de tributar não impediram que, após a Constituição de 1988, a sociedade

deixasse de experimentar períodos de inflação altíssima, déficit público e

desrespeitos aos direitos de contribuintes com a criação e majoração de

tributos flagrantemente inconstitucionais.

_____________________________________________________________________________________________________________

11 Machado, H.B. Curso de Direito Tributário, 20ª. ed., São Paulo: Malheiros, 2001,p.248.

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22 Isso ocorre porque o nosso sistema tributário não é racional. Foi criada

uma infinidade de tributos sem a preocupação com a satisfação das despesas.

Tem-se a impressão que os impostos, taxas, contribuições etc., foram

colocados no Texto Constitucional aleatoriamente, sem qualquer preocupação

com o volume de arrecadação – daí porque se deixou a porta aberta para

apenas a União poder criar outros impostos.

Muitos tributos instituídos são artesanais, de difícil e clara fiscalização e

fácil sonegação. Hoje, a União tem, para si, a competência para instituir

imposto sobre importação de produtos estrangeiros, exportação, renda e

proventos, produtos industrializados, operações de crédito, câmbio e seguro,

ou relativos a título ou valores mobiliários, propriedade territorial e sobre

grandes fortunas – que até hoje não foi instituído.

Aos Estados, Distrito Federal e Municípios não é dada a chamada

competência residual, que consiste em instituir impostos não especificamente

previstos no texto Constitucional. Estabelece o legislador constituinte, para os

primeiros, a competência para instituir impostos sobre transmissão causa

mortis e doação de quaisquer bens ou direitos, operações relativas à circulação

de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual e

intermunicipal e de comunicação e propriedade de veículos automotores.

Aos Municípios foram destinados os impostos de transmissão inter vivos,

a qualquer título, por ato oneroso, serviços de qualquer natureza, que não se

incluam na hipótese dos impostos sobre operações relativas à circulação de

mercadorias e prestações de serviço (ICMS) e propriedade predial e territorial

urbana (IPTU).

O constituinte permitiu, ainda, a repartição de receitas tributárias: os

Estados e Distrito Federal participam de parte de arrecadação de alguns

impostos instituídos pela União e os Municípios de parte de alguns impostos

instituídos pela União e pelos Estados.

Desse modo, os Estados e Distrito Federal e suas autarquias e

fundações ficam com os produtos dos Impostos de Renda retidos na fonte

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23 sobre rendimentos por eles pagos e 20% sobre a arrecadação de impostos que

a União vier a instituir (não previsto, hoje, na Constituição).

Essa participação pode se transformar em um engodo ensejador de

batalhas judiciais porque a União pode, perfeitamente, instituir impostos com

denominações de outras espécies tributárias, afastando, assim, a participação

dos Estados e Distrito Federal.

O Município também tem direito ao imposto de renda, nas mesmas

condições dos Estados, além de 50% sobre o produto da arrecadação do

imposto da União sobre a propriedade territorial rural, em relação aos imóveis

neles situados, e tinha 25% sobre a arrecadação do ICMS.

Além desse tipo de participação direta, há, ainda, o Fundo de

Participação dos Estados, Distrito Federal e Municípios, pelo qual a União é

obrigada a entregar percentuais do Imposto de Renda (IR) e do Imposto sobre

Produtos Industrializados (IPI). Os Municípios têm direito à obtenção de

recursos tributários dos Estados em razão desse Fundo.

Esse tipo complicado de disciplina de participação dos Estados, Distrito

Federal e Municípios, em parcela da receita tributária da União e, com relação

aos Municípios, e parcela da receita tributária da União e dos Estados, geram

graves problemas de ofensa ao pacto federativo. Os governos valem-se,

muitas vezes, do expediente de reter os repasses, com forma de domínio

político sobre pessoas jurídicas de direito público interno.

Tudo isso revela que o nosso sistema tributário possui forma complicada

de arrecadação e de distribuição de receita, existindo quase que uma

unanimidade de opinião quanto à complexidade de suas regras e normas, o

que dificulta o cumprimento das obrigações com o fisco, por parte do

contribuinte, implicando muitas vezes aumento dos níveis de evasão fiscal da

sonegação, da corrupção e do crescimento da economia informal.

Segundo Maria H. Zoukun & Ricardo Letizia Garcia 12, o peso exagerado

dos tributos sobre os eventos da produção é também uma crítica presente,

quando se avalia a atual estrutura tributária. Esta carga excessiva tem

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24 estimulado empresas menores ou menos estruturadas a praticar a sonegação

dos tributos exigidos, permanecendo como contribuinte, via de rega, apenas os

setores mais organizados, de quem o fisco procura extrair o máximo de receita,

aumentando alíquotas, para compensar a parcela que não consegue extrair

dos demais. Constitui-se um círculo vicioso, pois à medida que as alíquotas se

elevam ocorre, quase que automaticamente, uma diminuição da base de

contribuição, tornando-se sem efeito esta medida e sem termos de receita

fiscal. O pior de tudo é que isto prejudica a capacidade de crescimento dos

setores mais dinâmicos da economia brasileira.

Esses problemas aliados a outros, como a complexidade das regras

tributária, demonstram a incapacidade do atual sistema tributário de resolver o

desequilíbrio financeiro estrutural apresentado pelo governo federal e pelos

governos estaduais ao longo dos últimos anos.

Em matéria intitulada “O FISCO TOMA TUDO, MAS DEIXA O RESTO”,

do Professor Marcos Cintra Albuquerque13, tem-se configurada a situação sui

generes do país, ou seja, verbis:

“Num dos romances que compõem a Comédia Humana, a

grandiosa catedral literária erguida por Honoré de Balzac,

um personagem descreve o que se passa num remoto

país oriental. Ah, os impostos. Lá eles tomam tudo, mas

deixam o resto”.

“Avance-se no calendário e mude-se a geografia. O Brasil

de 1991 é bem parecido, no capítulo dos impostos, com o

país descrito pela pena de Balzac na primeira metade do

século XX. Tomam-se tudo, mas – suprema generosidade

de um Estado extraordinariamente inventivo quando a

questão é criar taxas ou elevar a potência das que estão

já ai – deixa-se o resto”.

O grande problema enfrentado pelos estudiosos desta área tem sido

efetivamente a arrecadação dos tributos.

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25 Por certo, segundo Luis Alberto Mendonça Meato14, a melhor maneira

de se embasar a cobrança de qualquer tributo seria através da “TEORIA DO

CONTRATO SOCIAL”, ou seja, “as partes, o Estado e o contribuinte unidos

com o objetivo perviamente traçado, no qual o sujeito ativo (Estado) cobrando o

justo e o necessário à manutenção da máquina, e o sujeito passivo arcaria com

o pagamento daquilo que realmente o atenderia, observada sua capacidade

contributiva”.

Ainda de acordo com o mencionado autor, usufruindo-se desta teoria,

observando ainda o período de transição por que passa o país desde a

derrocada dos militares, sua abertura à globalização (a partir da era Collor),

deve ser repensada a problemática dos tributos no Brasil, e principalmente

como se portar o Estado como ente arrecadador diante da sociedade,

concluindo-se que qualquer tentativa de salto nesta área passaria,

necessariamente, pela observação de critério de automação dos sistemas,

dando-se enfoque à INTERNET e à própria moeda eletrônica, usualmente

utilizada por sua facilidade de transferência.

Assim, o país pode vir a copiar os modelos tributários já existentes, ou,

ao contrário, pode formar uma ordenação própria, realmente dentro de suas

características, utilizando-se para isso os ensinamentos de longo período de

inflação alta, e não menor índice de corrupção.

Roberto de Oliveira Campos15, em matéria intitulada “A Bagunça

Transcendente”, dá o enfoque exato do que, em nível de tributação, ocorre no

país, verbis:

“O sistema fiscal brasileiro virou uma bagunça

transcendente. Inclui 53 figuras tributárias em três níveis

de governo. São altos os custos de arrecadação para o

governo e o custo da obediência para as empresas, que

____________________________________________________________________________________________________________

12 Zockun,Maria H. e Garcia, Letizia Ricardo. Artigo elaborado com base na dissertação de mestrado “O Imposto único sobre Transações Financeiras e suas repercussões na Economia, defendida no Curso de Pós-Graduação de Economia da UFRGS, 1994.p.2.

13 Albuquerque, Marcos Cintra. Tributação no Brasil e o Imposto único, 1ª.ed., São Paulo: Makron Books, 1994.p.6

14 Meatos, Luis Alberto Mendonça. Temas de Direito Tributário e Financeiro. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 1999.p.119-120.

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enfrentam fiscais audazes, às vezes incapazes e sempre

vorazes”.

Seguindo-se o texto, aponta Roberto de Oliveira Campos, verbis:

“ Houve retrocesso. O Código Tributário, incorporado

à Constituição de 1967, foi modernizante para sua época.

Substituiu o imposto sobre venda pelo imposto sobre valor

adicionado, antes que vários países europeus o fizessem.

O Fundo de Participação de Estados e Municípios e os

fundos partilhados (imposto único sobre combustíveis,

minérios e eletricidades) representavam razoável

compromisso entre a conveniência de uma arrecadação

centralizada e a necessidade de redistribuir regionalmente

a renda”.

Houve depois desvios da concepção original, que

causaram impressão de exacerbado centralismo. O

imposto único sobre combustíveis foi deformado pela

criação do PIS-Pasep e do Finsocial, impostos

regressivos em cascata. O Imposto Territorial Rural, que a

União cobraria em benefício dos municípios, não foi

devidamente ativado nem como fonte de receita nem

defeitos se agravaram. Criou-se a contribuição sobre os

lucros e o faturamento das empresas, claros exemplos de

bitributação. Previu-se a implantação do imposto sobre

grandes fortunas, que mundialmente gera pouquíssima

receita e incentiva e fuga de capitais. Institui-se o imposto

sobre semimanufaturados, na imbecil ilusão de que se

consiga exportar impostos.Como se isso não bastasse, a

incorporação dos antigos impostos únicos ao ICMS dos

Estados deixou a União sem recursos para as rodovias-

tronco e as centrais elétricas”.

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Roberto de Oliveira Campos segue em seu texto alinhando algumas das

sugestões de reforma do aparato tributário, verbis:

“A primeira foi a do professor Paulo Rabello de

Castro, visando a uma drástica simplificação do Imposto

de renda: isenção para as classes de baixa renda e

alíquota única proporcional de 10% (o dízimo) para todos

os demais grupos, sem quaisquer deduções”.

A segunda proposta é a do professor Ives Gandra

Martins, que reduziria a cinco as grandes categorias

tributárias: o Imposto sobre Renda, o Imposto sobre a

Circulação de Bens e Serviços, o Imposto sobre a

Propriedade, o Imposto sobre o Comércio Exterior e a

Contribuição Social”.

Roberto de Oliveira Campos16, em matéria intitulada “O Bestiário

Fiscalista”, ilustra de forma concisa tal proposta, verbis:

“Uma terceira solução, proposta pelo professor Ives

Gandra Martis pode ser descrita como melhorativa.

Simplificaria o sistema, fundindo um imposto estadual

sobre o valor adicionado (IVA) aos atuais IPI, ICMS (não

mais utilizado) e ISS. O governo federal reteria

integralmente o Imposto de Renda, que absorveria o IOF,

e os municípios ficariam com os impostos sobre

patrimônio rural e urbano. A Previdência seria atendida

por uma “contribuição social”, segundo mecânica

semelhante a do imposto sobre transações. Como

instrumentos de política econômica ficaram os impostos

sobre comércio exterior”.

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Admite o deputado federal, contudo, que, diante do emaranhado criado

no sistema fiscal, “Não bastam reformas. É preciso uma revolução”.

É o que se firmou através da proposta do professor Marcos Cintra, que

foi apresentada como projeto de lei pelo deputado Flávio Rocha, na Câmara,

intitulado: “IMPOSTO ÚNICO SOBRE TODAS AS TRANSAÇÕES

FINANCEIRAS”.

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CAPÍTULO III

TRIBUTAÇÕES SOBRE TRANSAÇÕES FINANCEIRAS

Segundo Paulo Rangel17, “a tributação das movimentações financeiras é

ainda um tema infrequente na literatura especializada. Atualmente o Brasil é o

detentor da primazia na mais rica, ampla e bem sucedida experimentação no

campo dessa peculiar técnica tributária.”.

Tratando de proposta revolucionária necessária, faz-se relembrar

algumas figuras de Direito Financeiro e Tributário.

Na forma dos artigos 145 a 149 da CRFB/88, os tributos encontram-se

divididos em impostos, taxas, contribuições de melhoria, contribuições sociais e

empréstimos compulsórios (dois últimos de entendimento do STF).

O imposto, espécie tributária que nos interessa no momento, vem

definido no artigo 16 do Código Tributário Nacional – CTN, e segundo o

entendimento do professor Roque Antonio Garraza18 é “o tributo cuja obrigação

tem por fato gerador uma situação independente de qualquer atividade estatal

específica, relativa ao contribuinte”. Seu principal aspecto é a desnecessária

contraprestação imediata, ou seja, segundo Ricardo Lobo Torres19, segue-se

que o fato gerador dessa categoria tributária não se vincula a qualquer

prestação específica por parte do Estado, destinando-se a remunerar as

necessidades globais do serviço público indivisível.

Seguindo-se a definição de impostos deste ilustre jurisconsulto, temos:

“É o dever fundamental consistente em prestação

pecuniária, que, limitado pelas liberdades fundamentais,

sob a diretiva do princípio constitucional da capacidade

_____________________________________________________________________________________________________________

15 Campos, Roberto Oliveira. A Bagunça Transcendente.

16 Campos, Roberto Oliveira. O Bestiário Fiscalista.

17 Rangel, Paulo. Estudo sobre o PEC n0. 474-A, de 2001. Consultoria Legislativa da Câmara dos Deputados, p.2.

18 Carrazza, Roque Antonio. Código Tributário Nacional 60. Ed. São Paulo, 2004.p.298.

19 Torres, Ricardo Lobo. Curso de Direito Financeiro e Tributário, 40. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1997.p.163.

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contributiva e com a finalidade principal ou acessória de

obtenção de receita para as necessidades públicas

gerais, é exigido de quem tenha realizado,

independentemente de qualquer atividade estatal em seu

benefício, o fato descrito em lei elaborada de acordo com

a competência especificamente outorgada pela

Constituição”.

A obtenção da receita pública, através de uma obrigação de pagar

determinado valor sem que o ente público correspondente ofereça imediata

contraprestação, vem a ser o principal item deste instituto.

Para Luis Alberto Mendonça Meato20, a mecânica da tributação e,

principalmente, da maneira na qual irá se posicionar deve levar em

consideração o princípio da capacidade contributiva, isto é, a capacidade que o

indivíduo tem de pagar determinado imposto. O imposto tem que ser pagável, e

não atestado, ou sustentado através de isenções, imunidades, e reiteradas

anistias concedidas a cada período pós-eleição. Se existem tais artifícios e se

são muito utilizados, é porque na realidade algo está errado.

Ainda, segundo Luis Alberto Mendonça Meato21, a arrecadação do

imposto não deve levar em consideração a pessoa do contribuinte como regra,

sob pena de serem criados privilégios dos mais variados possíveis. O Estado

deve se ater a arrecadar, levando-se em consideração o poder de contribuição

do indivíduo, não dando margem a quaisquer subterfúgios que diminuam o

poder de acúmulo do erário, ou seja, arrecadar mais, com preços acessíveis,

de um universo cada vez maior de pessoas adquirentes.

Desta forma, ter-se-ia um tributo com baixa alíquota que abrangesse o

maior número de contribuintes possíveis sem infringir a máxima da capacidade

contributiva de cada qual: o Imposto Único sobre Transações Financeiras.

Fazendo menção, novamente, à matéria de Roberto Oliveira Campos22,

“A Bagunça Transcendente” aponta-se:

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“Na fixação da alíquota levar-se-ia em conta a drástica

redução do custo de arrecadação e a eliminação do

desgaste inflacionário da receita, pois a arrecadação seria

simultânea ao fato gerador.

Desapareceria a fronteira entre a economia formal e a

informal, na medida em que ambas seriam tributadas toda

vez que fizessem transações financeiras na rede

bancária”.

Quando o Professor Marcos Cintra Cavalcanti de Albuquerque propôs a

idéia da criação do Imposto sobre Transação, em artigo publicado na Folha de

São Paulo, de 14/01/90, sob o título “Por uma Revolução Tributária”, em que

pretendia-se um imposto único com vistas à arrecadação, com a ressalva de

alguns impostos de finalidade extra fiscal, todos os aspectos críticos que lhe

foram dirigidos foram desmentidos pelos fatos históricos subsequentes.

Travou-se, no país, um enorme debate sobre o assunto. Infelizmente

não foi levado a sério por força de uma contradita emotiva, que, na maioria das

vezes, partia de pessoas despreparadas para o exame da matéria ou movidas

pelos interesses dos grupos econômicos que representavam, embora todos

ocupassem espaço na mídia.

Segundo Exmo. Sr. Juiz Federal Ricardo Cesar Mandarino Barreto23,

Sr. Mário Amato23, presidente da FIESP (Federação de Indústria do Estado de

São Paulo) - na época chegou afirmar que o imposto representaria uma “carga

pesada” sobre o trabalhador que recebia um salário mínimo, quando se sabe

ser impossível a alguém, com esse rendimento, possuir conta bancária e como

se não fosse possível estabelecer certas hipóteses de isenção.

Partia-se de pequenos pormenores, facilmente contornáveis pelo legislador,

para bombardear a mais brilhante idéia que surgiu em matéria tributária nos

tempos modernos na era do capitalismo financeiro, não pelo fato de ser único,

mas acima de tudo, pelas características do tributo praticamente infenso à

sonegação. É aí onde residia o temor à sua criação.

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32 Antes da criação desse tributo, pela Lei Complementar n. 77, de 13 de

julho de 1993, com nome de IPMF, muitos críticos previram que, com sua

instituição, a inflação explodiria (vivíamos, na época, altos índices de inflação).

O imposto foi instituído, cobrado e nenhum índice econômico revelou que a

inflação houvesse ascendido por conta de sua criação ou que houvesse

regredido quando a lei que o instituiu perdeu a vigência. O imposto foi

temporário e destinava-se a cobrir rombos nas contas públicas, e mesmo com

o seu desaparecimento, a inflação não declinou.

O mesmo ocorreu com a questionável cobrança da CPMF. Seus

opositores alardeavam que seria inflacionária. Foi instituída, começou a ser

cobrada sem que houvesse qualquer aumento dos índices de inflação e, assim,

acabou sendo prorrogada.

Outra crítica repetida é a de que o tributo só teria cabimento em situação

de inflação alta. Com inflação baixa, sua arrecadação seria irrisória.

Cabe ressaltar que a instituição da CPMF no período de inflação baixa

não acarretou qualquer acréscimo no custo da vida, o que era atribuído,

naturalmente, à sua baixa alíquota.

_____________________________________________________________________________________________________________

20 Meatos, Luis Alberto Mendonça. Temas de Direito Tributário e Financeiro. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 1999.p.123-125 e 127.

21 Meato, Luis Alberto Mendonça. Temas de Direito Tributário e Financeiro, Rio de Janeiro: Lumen Juris, 1999. p.127-128.

22 Campos, Roberto Oliveira. A Bagunça Transcendente.

23 Barreto, Ricardo Cesar Mandarino e Mario Amato. Trabalho intitulado Idéias sobre a Reforma Tributária apresentado no Centro de

Estudos Jurídicos, Brasília, 1998.

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CAPÍTULO IV

IMPOSTO ÚNICO SOBRE TRANSAÇÕES FINANCEIRAS

A equidade num tributo é um dos princípios básicos e orientadores de

uma boa estrutura tributária.

Buscar uma distribuição equitativa da carga tributária entre os

contribuintes deve ser um elemento sempre presente nas políticas do governo,

objetivando-se não apenas evitar uma maior concentração da riqueza, mas

também reduzi-la. Diante das questões cada vez mais graves e das

deficiências do atual sistema tributário, uma nova proposta foi adquirindo cada

vez mais espaço. Esta linha defende que uma reforma não impossibilitaria que

o governo aumentasse a sua arrecadação tributária racionalizando e

simplificando o atual sistema fiscal arrecadador.

Esse novo sistema fiscal sustentado basicamente por um único imposto

atenderia, segundo seus seguidores, os princípios da justiça tributária,

alcançando a progressividade desejada, ampliando o número de contribuintes

com a participação da economia informal no pagamento dos tributos e, por fim,

diminuindo os níveis de sonegação hoje existentes.

Segundo Marcos Cintra24, essa nova estrutura tributária consistiria

fundamentalmente na implantação de um Imposto Único, que utilizasse a

transação monetária como a base de tributação de forma a maximizar a base

tributária, minimizando as alíquotas marginais.

O Prof. Marcos Cintra24, demonstrou as vantagens do tributo como

imposto único. Vejamos o que afirma:

“Como estimado acima, a redução nos custos da

máquina arrecadadora do governo e do pessoal

administrativo do setor privado poderá chegar a 20% da

arrecadação fiscal bruta do país, de cerca de 22% - PIB.

Isso implica dizer que o impacto dessa proposta, em

termos de liberação de recursos reais, seria da ordem de

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4,4% do PIB. Esse montante equivale à totalidade das

remessas de recursos reais ao exterior – pagamento de

juros, de lucros e de dividendos – e significa uma vez e

meia o impacto de uma moratória da dívida externa

brasileira. São recursos que poderiam ser canalizados

para investimentos produtivos, capazes de alavancar o

crescimento econômico, em vez de serem absorvidos em

atividades consumo do governo e em custos

administrativos privados.

Essa proposta acarretaria a virtual eliminação da

sonegação, da corrupção fiscal e da economia informal,

sem custos administrativos ou de fiscalização. A

arrecadação tributária seria efetuada automaticamente a

cada lançamento de débito e de crédito no sistema

bancário. A cada transação, a conta credora e a conta

devedora seriam debitadas em um percentual fixo do

valor de transação. Assim, a cada transação efetuada

mediante cheques ou qualquer outro tipo de ordem de

pagamento, o sistema automaticamente transferiria o

produto da arrecadação à conta dos Tesouros federal,

estaduais e municipais, segundo critérios predefinidos.

Esse sistema torna impraticável qualquer tentativa de

sonegação, pois bastaria uma fiscalização nos sistemas

de compensação do setor bancário para que ela fosse

totalmente eliminada.

O mais significativo nessa proposta é que a alíquota

do imposto pode ser baixa. Para que o governo – em seus

três níveis – arrecade cerca de 25% do PIB, e,

considerando-se o volume de transações efetuadas na

economia, estima-se que a alíquota do imposto sobre

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transações não seja superior a 2% - 1% pago pela parte

credora e 1% pela parte devedora na transação.

Assim, considerando-se a baixa alíquota marginal, o

incentivo à sonegação virtualmente desapareceria.

Ademais, isso se tornaria impossível, a não ser que a

transação fosse efetuada em moeda, ou mediante

escambo. Evidentemente, nesses dois casos o custo da

sonegação seria maior do que seu benefício – apenas 1%

da transação – o que desincentivaria por completo

qualquer tentativa de burla tributária.

Cabe lembrar ainda que, para evitar que as

transações efetuadas em moeda fiquem isentas de

tributação, todo saque ou depósito de numerário (moeda

circulante) do sistema bancário poderia ser taxado de

acordo com uma alíquota que em média reproduzisse o

número de transações que se realiza com essa mesma

moeda até seu retorno ao sistema bancário”.

Na época, o Prof. Ives Granda da Silva Martins25, já demonstrava o que

denominou a “irracionalidade do nosso sistema tributário”. Citou como exemplo

a aquisição de um automóvel:

“O brasileiro, ao adquirir um automóvel, paga quatro

automóveis para ficar com um, pois três deles

correspondem ao preço dos impostos incidentes

diretamente (IPI, ICMS) e indiretamente (IR, IPTU, IOF,

ISS e demais espécies, posto que, para a empresa ter

lucro necessita repassar todos os tributos que paga, como

empresa, para o preço final.

O usuário, por outro lado, sobre ter de recolher o

IPVA, sempre que adquirir combustível pagará ICMS e

IVV, além do próprio pedágio, quando viajar, posto que

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tenha este mais característica de taxa que de preço

público.

O exemplo demonstra a irracionalidade do sistema.

Na Europa, há um único imposto sobre circulação (IVA).

No Brasil há o IPI, o ICMS, o IVV, o ISS sobre operações

mercantis e de prestação de serviços.

É que o Brasil é uma Federação deformada, com

cinco mil “países” independentes e soberanos (União,

Estados e Municípios), que se dizem apenas autônoma,

mas não abrem mão de seus direitos, prerrogativas, além

das estruturas políticas e burocráticas, que se alimentam,

a rigor, das complicações que criam, não apenas na área

tributária, mas em todas aquelas que dependem dos

“carimbos oficiais” para que os cidadãos continuem a

trabalhar com ônus maior do que fariam, sem tais avais.

Em outras palavras, o nosso sistema é irracional,

porque a nossa Federação é irracional e ela é irracional

porque serve muito aos políticos e burocratas – que dela

vivem – que à nacionalidade e à sociedade. Estados

existem sem densidade econômica, mas que duplicam ou

triplicam sua organização para sustentar a classe

dominante. Deveriam ter continuado como territórios, sem

Casas Legislativas, Judiciais e Executivas próprias, com o

que terminariam não empobrecendo a nação, pelos

recursos que dela tiram. O mesmo se diga dos

municípios.

O ilógico sistema tributário, portanto, é fruto de uma

ilógica Federação, visto que seus integrantes não

dispensam as receitas diretas que se outorgam como

direito – nenhuma Federação do mundo permite

competência impositiva em nível constitucional aos

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municípios – com o que a duplicação ou triplicação de

tributos sobre o mesmo fato gerador torna-se corolário

imposto ao provo brasileiro.

E é em face desse manicômio tributário, no dizer de

Alfredo Augusto Becker, que a proposta de Marcos Cintra

é original. Quebra, de uma vez, com um sistema que

constitui a suprema realização da burocracia e dos

políticos, sobre desmanchar a máquina estatal de forma

absoluta.

Na sua proposta, deveria haver ressalva para as

transferências de recursos das contas e para as contas

dos próprios titulares, de tal forma que apenas nas

operações, em que houvesse transferências de

titularidade do dinheiro, haveria a tributação.

Não tenho posição definitiva sobre a proposta,

apesar de reconhecer seu indiscutível mérito. Quero

sobre ela meditar e, principalmente, sobre os impactos

nas operações bancárias. O máximo que propus até hoje,

em livros e artigos, foi um sistema simples com um

imposto sobre a renda, um sobre o patrimônio, um sobre

transações e um sobre comércio exterior, com

participação da receita entre os entes federativos. No meu

sistema reduziria seu número de quinze impostos para

quatro. No de Marcos, ele reduziu de quinze para um. É,

pois, a dele muito mais ousada que a minha”.

O doutrinador não firmou nenhuma posição, seja de combate, seja de

defesa, à proposta do Prof. Marcos Cintra, assumindo uma postura de reflexão,

de amadurecimento de idéias sem preconceito em que pese, posteriormente,

quando da proposta de criação da CPMF haver publicado, na Folha de São

Paulo, de 12/07/96, artigo intitulado “Um Tributo Manifestamente Imbecil”, onde

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38 entre outras coisas, que “a CPMF está na categoria dos tributos notoriamente

burros, manifestamente imbecis, nitidamente estúpidos”.

Presenciou, desde a criação do IPMF até a CPMF, o exacerbo da

irracionalidade, de um lado, e o oportunismo político, de outro, como norma de

conduta nacional. No passado, quem defendesse a idéia do imposto estaria

sujeito a ser achincalhado em praça pública, ridicularizado pela arrogância

intelectual predominante da época.

Os comentaristas de TV costumavam denominar o imposto como

“famigerado”, procurando dar credibilidade à expressão por meio de gestos e

impostação de voz.

Esses fatos, entretanto, não impediram que o Governo o instituísse

provisoriamente. Inicialmente para tapar os rombos das contas públicas e para

cobrir os déficits na saúde. Prevalece, sempre, o imediatismo oportunista, mas

não havia um estudo sério que levasse à idéia de sua utilização, visando à

simplificação do sistema tributário e à diminuição da carga tributária e da

sonegação.

Houve denúncias dos desvios dos recursos da CPMF para outras áreas

e havia proposta do Senado, felizmente rejeitada, na reforma da Previdência,

de transformá-lo em fonte de arrecadação da própria Previdência.

Tratava-se de imposto recente, filho direto do capitalismo financeiro,

viabilizado por um dos mais modernos e sofisticados sistemas bancários do

mundo: o nosso. Por força dos altos índices inflacionários da época, ele foi

obrigado a informatizar-se para lidar com a correção monetária, afastando-a,

na sua contabilidade, daquilo que, de fato, constituía parcela de juros, em

operações muitas vezes complicadíssimas de matemática financeira.

_____________________________________________________________________________________________________________

24 Albuquerque, Marcos Cintra. O Imposto Único sobre Transações. Conjuntura Econômica, Rio de Janeiro: FGV, v.45 n0.9.p.35-

40,set.1991.

25 Martins, Ives Granda da Silva. A Revolução Tributária do Imposto Único. Folha de São Paulo, 21.01.1990.

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Na época, muitos críticos alegavam que, se o tributo fosse excelente, já

teria sido adotado em outros países e que a Argentina o adotou e não deu

certo. Isso não é verdade, pois a idéia do imposto era recentíssima, concebível

apenas em um sistema bancário altamente informatizado, daí porque talvez

outros países não tenham tido tempo de sequer pensá-lo.

O Brasil encontra-se em estágio avançado de informatização bancária e

de desmonetização, à frente de alguns países. O Imposto Único exige que

esses dois pré-requisitos sejam atendidos, o que o torna viável, hoje, em

poucas economias do mundo.

Quanto à Argentina, o imposto não foi concebido como o nosso IPMF ou

como a própria CPMF, porque naquele país, os impostos incidiam sobre os

cheques. Como a economia não era indexada como a nossa, no período de

alta inflação, tornou-se dolarizada o que, na prática, era uma indexação

inoficiosa. Daí o seu insucesso.

O Prof. José Volney de Brito26 lembra que o imposto argentino incidia

apenas sobre os cheques e não sobre todas as transações bancárias, além de

não haver sido tomado nenhum cuidado com a arrecadação. Os cheques

circulavam ao portador e eram endossados infinitamente. Bastava uma simples

limitação legal de endosso e o problema estaria resolvido, porque nenhum

cheque circularia infinitamente, em face da falta de segurança que inspiraria ao

recebedor cada vez mais distante do emitente.

Ressalta-se, ainda, como o fez o Prof. Marcos Cintra, que sua

incompatibilidade se deu com o modelo tributário ortodoxo, mas com uma

alíquota de 1,2% que chegou a arrecadar mais que todos os impostos

cobrados naquele país.

Naquele momento, a instituição do IPMF e da CPMF, mostrou a

viabilidade prática do tributo dessa natureza, confirmando a sua validade como

fonte de arrecadação.

A instituição do IPMF, em período de inflação alta, e da CPMF, em

período de estabilidade econômica, valeu como experiência histórica, mesmo

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40 sem intenção. Em ambas as hipóteses, o volume de arrecadação superou as

expectativas. Isso demonstrou que imposto era necessário tanto para época de

inflação alta como para período de baixa de preços.

O imposto único é composto de dois importantes conceitos: a “unicidade

tributária” e a transação monetária como base ou fato gerador do tributo.

Assim, a utilização da transação monetária como base de tributação do

imposto único permite a unicidade tributária com baixas alíquotas.

Observa-se que as bases tributárias conhecidas atualmente são apenas

subconjuntos da base tributária transação. A renda, a circulação, o comércio, a

compra e a venda, os serviços e a operação financeira são elementos do

conjunto das transações; logo, taxando-se a transação monetária, maximiza-se

a base tributária e minimizam-se as alíquotas marginais.

Deve-se esclarecer que imposto único não significa exação única; de

sorte que o tributo proposto pretende ser o imposto arrecadatório

predominante, responsável pela parte mais substancial das receitas do Estado,

sem deixar de conviver com as taxas, as contribuições de melhoria, as

contribuições especiais (sociais, corporativas e interventivas), os empréstimos

compulsórios e os impostos financeiramente pouco significativos, dotados de

função regulatória (impostos sobre o comércio exterior).

_____________________________________________________________________________________________________________

26 Brito, José Volney de. Imposto Único sobre Transações. Folha de São Paulo, 02.07.1990 e 03.07.1990.

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CONCLUSÃO

Por todo o exposto no presente trabalho, avalia-se a simplicidade e o

custo como requisitos de um bom imposto, observando-se a facilidade de sua

aplicação e o custo de arrecadação, não somente os incidentes sobre o setor

público, mas, principalmente, os encargos administrativo-tributário do setor

privado. Sobre esse prisma, o Imposto Único, por ser automaticamente

arrecadado a cada operação bancária, torna-se simples, reduzindo custos

sociais e privados, minimizando as despesas de fiscalização e restringindo-se

aos controles de sistemas e de programação dos computadores bancários,

eliminando a necessidade de coletorias e de controles de arrecadação e de

partilha de tributos. Minimizam-se, assim, os gastos do setor público, inclusive

os judiciais e de processamento de dados.

Ressalta-se, ainda, que a simplicidade e o baixo custo, requisitos do

imposto único, são atingidos através da efetivação de sua cobrança realizada

nos CPDs dos bancos e da fiscalização com baixo custo, podendo reduzir-se a

periódicas verificações dos programas dos computadores bancários que

administram os lançamentos nas contas correntes dos clientes, não havendo

necessidade de identificar operações individuais (o que violaria o sigilo

bancário), pois seria apenas necessário verificar se a totalização das

transações monetárias gerou a arrecadação esperada.

Assim, como todas as atividades econômicas de mercado geram

transações monetárias e como elas se concentram nos nódulos bancários, não

haveria evasão, minimizando-se a sonegação e a economia informal. Em

realidade, estar-se-ia, também, abrangendo aquela parte da economia formal

que não escritura suas atividades, não registra funcionários e/ou subfatura.

A proposta do Imposto Único visa garantir a autonomia financeira de

estados e municípios, implicando sua independência financeira, uma vez que,

diariamente, os bancos de todo o país creditariam nas contas correntes de

todos os estados e de todos os municípios a sua parte na arrecadação daquele

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42 dia, sem nenhuma intermediação, exigência ou pré-condição, sendo

necessária, apenas, uma lei especial para regulamentar a partilha tributária

entre os vários governos.

Claro fica, por todas essas razões, que os efeitos negativos do Imposto

Único só deverão ser fonte de preocupação se este imposto vier a ser adotado,

não como imposto arrecadatório predominante, quantitativamente hegemônico,

mas sim como mais um imposto a se somar a outros tantos que hoje incidem

sobre atividades formais do sistema econômico brasileiro, como foi a

experiência com o IPMF.

A idéia do Imposto Único, tendo como fato gerador a movimentação

financeira, parece satisfazer o desafio de edificar fórmulas indiretas e

automáticas de tributar proporcionalmente a todos, sem exceção e sem apelo a

valores e à consciência ética.

A idéia de um imposto responsável para parte mais substancial das

receitas do Estado, sem deixar de conviver com outros impostos regulatórios,

não significando, desta forma, uma exação única, acena como uma promessa

de alívio substancial do desconforto causado pelo sentimento de impotência do

indivíduo face ao poder coercitivo do Estado, à medida que as obrigações

fiscais se pulverizam e os regimes fiscais se diversificam, ensejando uma

competição crescente, entre os agentes econômicos, por situações mais

vantajosas, sob o ponto de vista fiscal. Assim, a simplicidade e a transparência

de um imposto universal caracterizam-se como armas da cidadania contra

agentes antissociais que, sempre à caça de privilégios fiscais, parasitam e

saqueiam a comunidade em proveito próprio.

Desta forma, a proposta da incidência sobre movimentações financeiras

não significa um acréscimo aos encargos em vigor, mas sim, outra coisa

inteiramente diversa, um tributo sobre movimentações financeiras no lugar de

quase todos os demais impostos de caráter arrecadatório em vigor, uma

substituição benéfica de encargos com perfil distributivo, pretendidamente mais

disseminado; portanto, presumivelmente mais equilibrado e mais suave, que

visa a uma reestruturação da atual carga tributária.

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43 Trata-se, afinal, de uma opção em que a simplificação do sistema

tributário com a criação de um tributo hegemônico sobre movimentações

financeiras, aliviaria, por certo, os cidadãos em geral de qualquer preocupação

com o fisco, o qual poderia concentrar todos os seus esforços na fiscalização

dos bancos, exigindo um aparato fiscalizador mais leve, especializado e

direcionado.

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ÍNDICE FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTOS 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPITULO I 9

HISTÓRICO 9

Compreensão do Sistema Tributário 13

Da Autonomia dos Estados 15

CAPÍTULO II 16

CONSIDERAÇÕES SOBRE O SISTEMA TRIBUTÁRIO 16

O Sistema Tributário Brasileiro 18

A Unificação Tributária no Sistema Tributário Atual 23

CAPÍTULO III 27

A TRIBUTAÇÃO SOBRE TRANSAÇÕES FINANCEIRAS 27

CAPÍTULO IV 31

DO IMPOSTO ÚNICO SOBRE TRANSAÇÕES FINANCEIRAS 31

CONCLUSÃO 42

BIBLIOGRAFIA 45

ÍNDICE 46

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FOLHA DE AVALIAÇÃO Nome da Instituição: Universidade Cândido Mendes

Título da Monografia: O Imposto Único no Sistema Financeiro Nacional

Autor: Alexander Rodrigues Mendes

Data da entrega: ....../........./.............

Avaliado por: Conceito: