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INDISCIPLINA – ALUNOS REPETENTES E SEUS PROFESSORES - Não há
mesmo o que fazer?
Autora: Elizabeth Steinwandt Lopes Orientadora: Cláudia M. Cunha.
RESUMO
A questão da indisciplina escolar vem sendo apontada pelos educadores como um dos problemas que interferem no trabalho pedagógico. Após sucessivas reuniões entre professores e equipe pedagógica foi delimitada a necessidade de uma intervenção com os alunos repetentes do período vespertino do sexto e sétimo ano. Para enfrentar esta situação a direção pede a colaboração do corpo docente desta escola onde os conflitos na relação professor x aluno têm ocupado um espaço cada vez maior. Para compreender o contexto que dá complexidade a este tema, parte-se de uma pesquisa que visa compreender o entendimento do aluno sobre a indisciplina e sobre os comportamentos que interagem no processo educativo.
A reflexão dos dados colhidos da pesquisa realizada com os alunos se deu após discussão e análise conceitual do tema com os professores envolvidos com os alunos repetentes. Tais ações foram etapas de uma estratégia de intervenção que visa alterar o quadro indisciplinar destas turmas. A análise dos dados e o estudo analítico do tema se constituem como tentativas de angariar novos recursos humanos para fazer efeito na revalidação de algumas práticas e costumes do ambiente escolar. O objetivo é promover um ambiente de respeito mútuo entre os envolvidos no processo ensino-aprendizagem que precisa avançar numa dimensão política e ética. Prioriza-se a qualidade de ensino e a formação do cidadão crítico, a educação de um humano proativo, com capacidade de transformar a sociedade em busca da justiça e a igualdade social. A ideia é criar no contexto escolar em questão, condições para tanto.
Palavras-chave: (In) disciplina; Comportamento; Repetência; Regras e Atitudes.
ABSTRACT
The question of the pertaining to school indiscipline comes being pointed for
the educators as one of the problems that intervene with the pedagogical work. After of the successive meetings between teachers and pedagogical team were delimited the necessity of an intervention with the repeating pupils of the period of the afternoon of the sixth and seventh year. To face this situation the direction asks for the contribution of the faculty of this school where the conflicts in the relation professor x pupil have busy a space each bigger time. To understand the context that of the complexity to this subject has been broken of a research that it aims at to understand the agreement of the pupil on the indiscipline and on the behaviors that interact in the educative process. The reflection of the harvested data of the research carry through with the pupils if after gave to quarrel and conceptual analysis of the subject with the involved professors with the repeating pupils. Such actions had been stages of an intervention strategy that it aims at to modify the picture to indiscipline of these groups. The analysis of the data and the analytical study of the subject if constitute as attempts to enlist new human resources to make effect in the revalidation of some practical and customs of the pertaining to school environment. The objective is to promote an environment of mutual respect enters involved in the process the teach-learning that it needs to advance in a dimension politics and ethics. Quality of education is prioritized it and the formation of the critical citizen, the education of an proactive human being, with capacity to transform the society into search of justice and the social equality. The idea is to create in the pertaining to school context in question, conditions for in such a way.
Keywords: (In) it disciplines; Behavior; Repentant; Rules and Attitudes.
INDISCIPLINA – ALUNOS REPETENTES E SEUS PROFESSORES - Não há
mesmo o que fazer?
Autora: Elizabeth Steinwandt Lopes1
Orientadora: Cláudia M. Cunha2
A questão da indisciplina escolar vem sendo apontada pelos educadores
como um dos problemas que interferem tanto no trabalho pedagógico como no
ambiente escolar. Ela compromete o aprendizado dos alunos a ponto de influenciar
nos resultados das avaliações externas.
Como professora a mais de quinze anos, sete deles dedicados a direção
escolar, do Colégio Estadual Deputado Olívio Belich, localizado na Vila Camargo,
Bairro Cajuru, muitos foram os desafios enfrentados ao longo deste percurso. O
mais complexo dentre estes tem sido a indisciplina em sala de aula.
Atualmente esta escola atende cerca de 1600 alunos com idade a partir dos
10 anos, possui 16 turmas espalhada entre os turnos da manhã, da tarde e da noite,
atendendo o Ensino Fundamental, Médio e EJA. É uma comunidade de periferia, em
geral, oriundos da classe trabalhadora de baixa renda. Muitos dos alunos moram em
regiões de risco e, dado o alto índice de violência do lugar, estão sempre vulneráveis
a situações perigosas.
Conforme foi delimitado nas sucessivas reuniões entre professores e equipe
pedagógica, o problema disciplinar dos alunos do período vespertino de 6º e 7º anos
está em ascensão. Estes alunos têm maior dificuldade de se adequar às regras
estabelecidas na organização do trabalho pedagógico. Muitos professores reclamam
que não há limites para este grupo de alunos que conversa demais, uns empurram
1 Graduada em Letras Anglo-Portuguesa pela FAFIJAN (Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Jandaia do
Sul), Pós-graduada em Metodologia de Ensino e trabalha atualmente como Diretora no Colégio Estadual Deputado Olívio Belich. 2 Licenciada em Filosofia pela UFPEL, mestre em Filosofia pela PUCRS, doutora em Educação pela UFRGS,
atualmente é professora adjunto da UFPR e atua na coordenação do PDE/UFPR.
os outros colegas, gritam, falam palavrões, não fazem as lições propostas pelos
professores. Alguns destes jovens tomam posse dos pertences alheios, ameaçam
usar de violência uns aos outros, dão chutes, desafiam professores e funcionários
quando são questionados a respeito destas atitudes, costumam alegar que estão
brincando ou não têm intenção em praticá-las.
O enfrentamento desta situação alvita a direção e pede uma colaboração do
corpo docente desta escola. A percepção geral do grupo de professores que atua
nesta escola é de que esse quadro se agrava a cada ano, pois as regras e contratos
pedagógicos muitas vezes não são respeitados. Os conflitos na relação professor-
aluno têm ocupado um espaço cada vez maior no cotidiano escolar, principalmente
com alunos repetentes. Não se pode deixar de tomar algumas atitudes para interferir
neste quadro e para tanto se necessita do engajamento de toda a comunidade
escolar, inclusive dos pais.
Tecendo uma estratégia de enfrentamento da situação se selecionou, junto a
este grupo de professores, as seguintes características do problema indisciplinar dos
sextos e sétimos anos do colégio Estadual Deputado Olívio Belich: a defasagem da
idade, como consequência da repetição de ano, tem contribuído para o agravamento
da disciplina no cotidiano escolar nesta escola; as diferentes noções de disciplina, os
diferentes entendimentos dos alunos repetentes e dos professores sobre a função
da norma dificulta o processo educativo; as diversas formas de contribuição dos
professores e dos alunos envolvidos neste contexto indisciplinar pode vir a alterá-lo
positivamente; evidencia uma atribuição da indisciplina tanto a fatores externos à
escola como ao uso de outras práticas pedagógicas que se realizam no seu interior.
Listadas estas características mostrou-se necessário discutir a complexidade deste
problema na tentativa de contribuir na construção um ambiente de respeito.
Na perspectiva de enfrentar a questão da indisciplina especialmente nos
sextos e sétimos anos, foi importante buscar parcerias efetivas com toda
comunidade escolar. O objetivo é promover um ambiente de respeito mútuo entre os
envolvidos no processo ensino-aprendizagem que precisa avançar numa dimensão
política e ética. Prioriza-se a qualidade de ensino e a formação do cidadão crítico, a
educação de um humano proativo, com capacidade de transformar a sociedade em
busca da justiça e a igualdade social. Entretanto este ideal não condiz com o quadro
indisciplinário apresentado.
É nesse momento que começa o processo de intervenção pedagógica sobre
a temática que envolve os comportamentos dos alunos. Foram idealizados três
momentos ou encontros nos quais os professores envolvidos nesse processo
educativo, tinham que analisar os dados levantados de uma que se fez com os
alunos destes anos escolas e, sob as considerações teóricas extraídas de textos
previamente selecionados que fundamentam tal análise. Este confronto entre a
teoria e a prática tem por objetivo elencar ações para minimizar os ditos
comportamentos “indisciplinados”.
Dando subsídio à análise dos dados previamente pesquisados, que a seguir
serão comentados e expostos, fez-se a leitura e interpretação de três textos
selecionados junto aos professores das turmas em foco, para dar base conceitual ao
tema indisciplina. Foram escolhidos os seguintes textos: o primeiro, do Vasconcelos3
foi utilizado para uma reflexão das principais causas da indisciplina e da gestão em
sala de aula; o segundo apontou para a visão da Ratto4 sobre os livros de
ocorrências utilizados nas escolas com fonte disciplinadora; já o terceiro do Carvalho
5 foi proposto no sentido de analisar a questão da disciplina ou de sua ausência; isto
é, da indisciplina, sob uma perspectiva filosófica.
Listadas as características do problema disciplinar do Colégio Estadual
Deputado Olívio Belich através das reuniões sucessivas com os professores se
começou o enfrentamento deste problema por meio de uma pesquisa com os alunos
repetentes. Esta pesquisa foi aplicada tendo como instrumento um questionário que
recolheu dados junto aos alunos dos sextos e sétimos anos.
Com o intuito de compreender o contexto que dá complexidade a este
problema, foram feitas uma série de questões partindo do entendimento do aluno
sobre “o que é indisciplina”. Buscou-se extrair a visão dos mesmos, para
3 VASCONCELOS, C. dos S. Coordenação do Trabalho Pedagógico: do projeto ao cotidiano da sala de aula.
São Paulo: Libertad, 2002, p.169-173. 4 Ratto, Ana Lúcia Silva. Livros de Ocorrência, exame e alianças: eficiência e fragilidade.
5 CARVALHO, José Sérgio F. Os Sentidos da (in)disciplina: regras e métodos como práticas sociais.
posteriormente promover discussões com os professores na busca de alterar o
quadro indisciplinar das turmas selecionadas. Fez-se um processo que começa com
o relato dos alunos, para posterior transcrição dos dados, alternando o estado da
passagem para sistematização desta intervenção.
Os dados da pesquisa realizada com os alunos e a posterior discussão e
análise conceitual do tema com os professores envolvidos com os sextos e os
sétimos estes anos foram etapas de uma estratégia de intervenção que visa alterar o
quadro indisciplinar destas turmas. Optou-se por construir um questionário como
forma principal de levantamento de dados empíricos na direção de atingir um
número maior de alunos, misturando perguntas de caráter dissertativo e questões
objetivas a fim de dosar questões menos e mais diretivas6.
As respostas dadas pelos alunos tornaram-se dados fundamentais para as
discussões que se realizaram durante os três momentos ou encontros didático-
pedagógicos. Neles se pode trabalhar a compreensão e a possível ressignificação
dos dados colhidos para uma possível mudança de atitude destes professores que
interagem com o quadro de indisciplina citado. A análise dos dados e o estudo
analítico do tema se constituem como tentativas de angariar novos recursos
humanos para fazer efeito na revalidação de algumas práticas e costumes do
ambiente escolar.
Para construção de um conjunto de ações em torno do tema da indisciplina
se fez uma pesquisa com 112 alunos repetentes dos sextos e sétimos anos,
escolhidos após sucessivas reuniões entre professores e equipe pedagógica. Esse
grupo apresenta forte indício de voltar a reprovar, somando 25% da reprovação dos
alunos do ensino fundamental e aumentar os números da evasão escolar.
Os alunos do oitavos anos do período da tarde não foram selecionados para
a pesquisa, uma vez que os reprovados destes anos estudam no período da manhã
e no período da tarde são matriculados somente os alunos aprovados. Desta forma
6 A construção das questões se deu nos encontros de orientação e nas discussões entre orientador e orientando,
compartilhadas por outros dois colegas PDE turma 2010, com o mesmo tema. O tema em comum proporcionou
visitas às escolas de origem de cada um, como reforço a nossa análise empírica.
é possível perceber que a indisciplina é mais evidente nas séries em que há mais
alunos reprovados. O contrário ocorre nas turmas onde existem menos alunos
reprovados.
Problema indisciplinar e enfrentamento
Como gestora do ambiente educacional onde realizo este trabalho, dirijo o
debate da indisciplina ao coletivo de professores, mesmo quando recorto dois anos
escolares para analisar o comportamento dos alunos repetentes destas turmas.
Refletindo o contexto escolar em questão, pode-se dizer que este tem obrigação de
criar condições para que os alunos possam aprender, compreender e aprimorar o
conhecimento repassado a eles.
Os conteúdos disciplinares previstos no currículo escolar são fundamentais
para a formação crítica do indivíduo no que diz respeito à realidade social, política e
cultural. Diante disso, é importante considerar que a escola e a comunidade na qual
ela se insere, devem investir e incentivar todo o debate que qualifique a construção
de conhecimentos como perspectiva consistente, que dá norte fundante ao uso das
normas e das regras e dos regulamentos. Estes são necessários para
funcionamento dos ambientes institucionais públicos e privados.
As regras e as normas que regulam a ação dos coletivos devem ser
entendidas como condição de vida e sobrevivência do grupo, logo é preciso
incentivar que todos os envolvidos no processo educacional busquem se adequar
aos acordos prévios que o regulam. Freire (2008, p.59) coloca: “O respeito à
autonomia e a dignidade de cada um é um imperativo ético e não um favor que
podemos ou não conceber uns aos outros”. O autor aponta que “é pensando
criticamente a prática de hoje ou de ontem que se pode melhorar a próxima prática”
(FREIRE, 2008 p.39).
Trabalhar a compreensão do professor sobre a questão indisciplinar o
subsidia para fazer o aluno compreender a necessidade do uso da norma. Ancora
este profissional para ele possa realizar mediações significativas em sua sala de
aula e em outros ambientes da escola, intervenções que promovam o debate crítico
e analítico refletindo nesse processo os interesses dos coletivos. Esse tipo de
discussão tende a favorecer a capacidade do estudante de assumir atitudes de
forma autônoma e responsável. Percebe-se que a disposição da arguição do
professor influencia o debate. Sua capacidade de expor conteúdos de forma
contundente tem como contrapartida a capacidade do aluno de se pressupor ativo,
participando de maneira intensiva e reflexiva das aulas (AQUINO, 2005). Entretanto,
o que se vê é um aumento dos conflitos da relação professor x aluno e isto têm
ocupado um espaço cada vez maior do cotidiano da escola, envolvendo nestes
atritos principalmente alunos repetentes.
É possível se reconhecer que o problema da indisciplina não é exclusivo da
escola problematizada neste artigo. A Revista Nova Escola e o Ibope em 2007
realizaram uma pesquisa sobre o tema com 500 professores de todo o país. Esta
revelou que 69% destes profissionais apontavam indisciplina e falta de atenção dos
alunos como os principais problemas da sala de aula (NOVA ESCOLA, 2007). Para
se compreender a indisciplina escolar pode ser útil retomar algumas definições.
Segundo Ratto (2007), o comportamento indisciplinado é apresentado como
aquele que, genericamente, desrespeita as normas e regras estabelecidas pela
escola. Diz à autora que esse tipo de entendimento por meio do qual se constitui a
disciplina está também presente em definições dadas por diversos autores.
Parafraseando Ratto (2007) e alguns autores que ela utiliza, pode se dizer que se
entende por indisciplina, comportamentos regidos por conjunto de normas, regras e
leis estabelecidas por uma comunidade que não as correspondem. Já a disciplina
como regime de ordem imposta e padronizada que regulamenta o funcionamento de
uma instituição.
A questão da indisciplina escolar é bastante abrangente, envolvendo o
contexto sócio-histórico-cultural em que a criança ou o adolescente, seus pais e
professores estão inseridos. Os modelos conceituais referentes a esta problemática
e as questões estruturais político-metodológico nas quais a escola tende a se
envolver, tem complexificado esta questão. Há desta forma, uma série de fatores
que determinantes na manifestação, compreensão e intervenção sobre os
comportamentos disciplinares.
Em outra reportagem a Revista Nova Escola (2009, p.83) se vê que a
indisciplina é a transgressão de regras morais e convencionais. As regras morais
são constituídas socialmente por princípios éticos que visam o bem comum; tendem
a serem convencionais definidas por objetivos específicos. Compreender, refletir e
debater a moral merece mais atenção. Nela e na discussão conceitual da moral,
habitam uma série de normas que se sobrepõem. Dela também se retiram os
preceitos inegociáveis, tais como: não mentir; não roubar, não agredir; e outros
negociáveis, os chamado preceitos convencionais. Estes estão ligados ao
andamento do processo educativo em determinado estabelecimento e tendo em
vista sua regularidade e sua função, pode-se dizer que o modo como são aplicados
como sanção aos preceitos não cumpridos, caracteriza o trabalho pedagógico.
Exemplo disso é: chegar atrasado, não realizar tarefas, conversar, etc.
Outros fatores que interferem na indisciplina são os considerados externos a
escola, como por exemplo: a violência social, as influências da mídia e o ambiente
familiar dos alunos. Para Aquino (2002), o cotidiano escolar é herdeiro direto do
entorno social e dos reveses da relação professor-aluno. Especialmente os
problemas de indisciplina seriam consequência, mais ou menos imediata, de
entraves estruturais de múltiplas ordens: cultural, econômica e política. Para este
autor é preciso romper com a ideia de que em uma classe bastante silenciosa a
aprendizagem se faz mais efetiva e nem sempre o silêncio qualifica o resultado dela.
Quando se realiza determinada pesquisa sobre o sucesso escolar de prática
em sala de aula Aquino (1999) ressalva que é importante à construção coletiva de
acordos de trabalho na busca constante da aprendizagem. Já no ambiente escolar a
compreensão dos professores sobre os significados de indisciplina acabam
adquirindo várias conotações.
Uma pesquisa sobre este tema, realizada por Oliveira (2002, p. 90), revelou
que a indisciplina dos alunos no ambiente escolar, engloba o não respeitar
professores e colegas, o não cumprir regras pré-estabelecidas, o ser mal
comportado, ser malcriado, o perturbar o trabalho dos colegas e professores.
Segundo este autor a indisciplina também inclui o incomodar, o fazer barulho, o não
permitir o bom funcionamento da aula, o falar o tempo todo, o provocar desordens, o
boicotarem as aulas, o faltar às aulas, a não pontualidade, o rebelar-se contra a
autoridade e o ofender colegas e professores.
A opção de trabalhar, nesta intervenção, com o problema dos alunos
repetentes foca a indisciplina nas ações de alunos que vão à escola, mas não às
aulas; ou seja, trata também do “aluno insistente”. Este termo destacado aqui é
utilizado Fukui (1992) para definir o comportamento de alunos que revelam uma
ausência presente. Este estudo constata que na convivência escolar existe aquele
aluno que sempre chega atrasado, vai embora antes do término das aulas, não fica
na sala. Pede para ir ao banheiro ou outro lugar e não retorna. Fica perambulando
pelo pátio, nas portas. Enfim, não se interessa pelas atividades discentes as que lhe
viabilizam o acesso ao saber elaborado e aos conhecimentos científicos.
Discutir este problema frequentemente constatado no cotidiano escolar
representa um desafio à escola e aos professores, uma vez que é um transtorno de
comportamento relacionado ao problema dos alunos repetentes, foco do trabalho.
Indo numa outra direção o estudo de Freitas (2009, p.28), aponta que o “insucesso”
escolar pode ser consequência problemas disciplinares. Nessa analise o fracasso
não se dá somente nas notas, mas também com relação a certos valores que o
aluno não vê refletidos nele mesmo.
Preocupado em pesquisar e refletir a indisciplina no coletivo da escola foi se
buscando fontes que sirvam de embasamento teórico e subsidiem a tomada de
decisões frente a determinados acontecimentos. Estas análises teóricas são
contribuições dos autores, levadas para reflexão com o grupo de professores, elas
tornam-se aqui ferramentas para possibilitar a abertura de novos olhares sobre o
problema da indisciplina. Ajudam a replanejar, a preparar e até mesmo a elaborar
ações dirigidas a amenizar a indisciplina e a consequente repetência de ano e
evasão escolar.
O aprofundamento teórico surtiu seu primeiro efeito quando este coletivo
passa a constatar que o regimento escolar não está dando conta de todos os
problemas que se apresentam no cotidiano da escola, colocando em conflito
professores, alunos, pais, equipe pedagógica e direção. Muitas vezes falta ao aluno
e algumas vezes até ao professor, clareza, reconhecimento da necessidade de
participação na construção e na aplicabilidade do regimento escolar.
Pode-se na sequência dos momentos pedagógicos onde se fez a discussões
dos teóricos, constatar que um dos fatores determinantes para buscar equilíbrio na
relação entre professor x aluno e demais membros da comunidade escolar é a
participação na construção das ações desenvolvidas pela escola. Buscar a tomada
de ações que envolvam o coletivo leva a todos a acreditar que é possível
transformar este quadro e reverter os problemas disciplinares. Embota claro se
reconheça que esta não é tarefa fácil. O envolvimento com esta temática implica
uma postura de abordagem fundamentalmente política, ética e pedagógica, para
pensar e promover estratégias de ações interventivas, unindo forças coletivas.
Concomitante com este estudo sobre a indisciplina realizado com o grupo de
professores que trabalha com os sextos e sétimos anos, se disponibilizou o tema
para discussão no GTR, Grupo de Trabalho em Rede7. O tema e problema expostos
tanto no Projeto de Intervenção Didático-pedagógico como no Caderno Temático,
material escrito por um grupo de três profissionais que enfrentam os mesmos
problemas na sua escola, disponíveis nesse ambiente virtual permitiram uma
interação com outros 15 (quinze) professores. Estes quinze professores se
inscreveram em quatro oficinas com o titulo: “Indisciplina”, e apenas um participante
não concluiu as atividades do deste Grupo de Trabalho em Rede, GTR, porém todos
os participantes contribuíram com suas opiniões na discussão desta temática.
Esse grupo de professores interagiu com o tema a trouxe suas
contribuições. Resgatam-se destes quatro encontros virtuais algumas sugestões,
para minimizar os problemas disciplinares nas Escolas da Rede Publica Estadual,
7Grupo de Trabalho em Rede se trata de formato de integração dos professores Paraná que estão participando
do PDE e os outros professores que permanecem nas escolas, através do seguinte ambiente virtual: http:
(www.diaadiaeducacao.pr.gov.br).
são elas: reuniões mais frequentes com os professores para discutir o processo
ensino-aprendizagem; mudanças metodológicas nesse processo; encontros com os
pais, principalmente os que apresentam notas abaixo da média, para conhecer e
discutir o Regimento Escolar; o cumprimento e fiscalização das regras pelos
envolvidos no processo pedagógico; trabalhar valores éticos e morais na discussão
com os professores. O resultado destas oficinas também foi discutido com os
professores da escola pesquisada, assim como se refletiu sobre a dimensão da
compreensão que estes profissionais da educação possuem sobre o tema e o modo
como esta problemática se desenvolve na escola.
Indisciplina na visão do aluno
Na tentativa de identificar a compreensão dos alunos sobre a indisciplina e
facilitar a possibilidade de uma intervenção efetiva que venha do grupo de
professores e se dirija a um trabalho junto aos alunos na escola analisada se fez em
primeiro lugar um questionário composto por 13 questões8 que foram aplicadas no
mês de maio de 2011, a um total de 116 dos 122 alunos; uma vez que, seis alunos
faltaram nos dias da aplicação.
Para viabilizar a aplicação, retiraram-se os alunos repetentes de suas salas,
formando grupos de aproximadamente 20 alunos. Durante o processo de aplicação,
foram esclarecidas cada questão, além de se registrar e anotar algumas atitudes e
falas de alunos. Voltando a realidade da escola em analise, deve destacar que num
total de 65% de meninos e 35% de meninas mais de 65% já repetiram a série mais
de uma vez. Nesse contexto, percebe-se que a reprovação por si só não garante
aprendizado e que as crianças que reprovam continuam sem aprender e talvez por
isso se tornem indisciplinadas ou inquietas.
Quando se fez uma reflexão sobre esses dados com os professores
observou-se que a maioria dos repentes é meninos e a maioria das vezes eles são
os mais agitados, são os que têm dificuldade de concentração.
8 Quem tiver interesse em acessar a totalidade do questionário, entrar em contato através do email:
A pesquisa com os alunos foi pensada como um modo de alterar a
compreensão sobre a questão disciplinar na sala de aula para ambos os professor e
aluno. Mas entendendo o professor como mediador de um processo que pode
influenciar no comportamento do aluno se deu destaque a sua analise dos
resultados colhidos pela pesquisa. Parece que são escassos os dados com os quais
o professor compreende o entendimento do aluno sobre as regras e os acordos
pedagógicos. Porém quando se questionou sobre a necessidade do uso das regras,
35% dos alunos disseram que acreditam que as regras devem ser construídas
coletivamente e 65% acham que devem ser obedecidas.
Esses dados posteriormente discutidos com os professores os levaram a
perceber que a maioria dos alunos não tem noção de construção coletiva de
combinados. Ainda há um dado que mostra que a maioria dos alunos respeita às
normas em sinal de obediência sem ter noção que elas podem ser construídas
coletivamente; porém cerca 35% acreditam que a participação dá mais legitimidade
e o respeito entre as partes.
Com ajuda de Aquino (1996, p.14) pode entender ainda mais as
possibilidades de saídas para este cotidiano. Ora diz este autor que “a autonomia
por ser conquistada quando a autoridade for instituída democraticamente” [....] ”mas
nem sempre a obediência provém de uma relação de autoridade”. Refletindo sobre a
questão da autonomia, posta por este autor, logo se aponto o professor como
motivador deste processo de mudança.
Afinal os dados extraídos de questões do tipo: Quais as três primeiras
palavras que lhe vem à cabeça quando se fala em “indisciplina” leva a se concluir
que a grande maioria sabe com clareza dimensionar suas atitudes. A maioria
associou a indisciplina ao “desrespeito”, “a bagunça” e “a falta de educação”, mas
também citaram que “não fazer a lição” e “responder os professores”, também são
atos que remetem a ela.
Outros termos dão sequência a este exercício. Termos, como: “vagabundo”,
“ladrão”, “barulho”, “castigo”, “reprovação”, “desobediência”, “faltas”, “cabeça
quente”, “mais educação”, “raiva”, “não estudar”, “xingar”, “tristeza”, “levantar da
carteira”, “conversar”, “bater”, “chatice”, “mal comportamento”, “brigar”, “notas
baixas”, “não aprender”, “professores não explicam”, “ninguém passa”, “sem
uniforme”, “baderna”, “chegar atrasado”, “angústia”, “gritar”, “inquieto”, “falta de
atenção”, “bolinha de papel”, “desorganizado”, “mal educado”, “bullying” se associam
a palavra indisciplina e reforçam o saber do aluno sobre a questão teórico-prática
que ela envolve .
Um segundo questionamento se fez com a palavra “disciplina”. Usando o
mesmo critério: Quais as três primeiras palavras que esse termo sugere. Algumas
das respostas que mais apareceram foram: “estudar”, “obedecer”, “ser comportado”,
“educado”, “fazer as lições”, “prestar atenção”, “não conversar”, “não bagunçar”,
“chegar no horário”, “não xingar”, “não brigar”, “não gritar”, “cumprir com as
obrigações”, “decente”, “bem sucedido”, “ser bem disciplinado”, “não faltar”, “nota
acima média”, “ajudar quem precisa”, “quando faz tudo na escola”, “não bater”, “não
responder os professores”, “ficar quieto”, “ajuda a ser alguém na vida”, “ter bom
estudo”, “ter notas boas”, “pessoa boa”, “aprender junto com os colegas”, “quando
professor passa matéria que você aprende”, “com uniforme”, “passar de ano”,
“aprender” e “estudioso”.
A partir destas respostas, constatou-se junto com os professores que alunos
conhecem os termos indisciplina e disciplina e sabem quais atitudes dão conotação
à palavra e aos significados. E percebe-se por parte dos professores que nem
sempre as atitudes dos alunos devem ser consideradas “disciplina ou indisciplina”,
muitas vezes se associam as ações como significadas dos termos acima. Interessa
observar junto a Carvalho (1996) que a disciplina e a indisciplina “assim como várias
outras expressões de uso corrente por parte dos agentes institucionais da educação,
têm profundas raízes históricas e múltiplos usos igualmente legítimos” (p.130).
O “bom professor” e o “bom aluno”
Quando em seguida, se elencou vinte alternativas para que os alunos
assinalassem, numa ordem do maior para o menor, se teve os resultados abaixo. As
dez alternativas mais assinaladas pelos alunos como características do “bom
professor” surpreenderam o grupo de professores. Os dados analisados e colhidos
dos 116 (cento e dezesseis) alunos pesquisados, se lista a seguir: 94%, afirmou que
o “bom professor” é aquele sabe explicar a matéria; outros 89%, assinalou que são
aqueles que professores que dão aulas de bom humor e se mostram pacientes e
calmos no trato com a turma; uns 75%, elegeu aquele professor que conversa e
reflete sobre as avaliações feitas pelos alunos; 69%, disse preferir os que escutam o
que o aluno tem a dizer; 67% escolheu o professor que coloca limites no aluno que
merece; 65% marcou como “bom professor” o que propõe trabalhos em grupo na
sala de aula; 63% deles, selecionou “bom professor” o que trabalha com projetos e
com a pesquisa; 60% optou por “bom professor” o que prepara bem as aulas; 61%,
elegeu “bom professor” o que leva os alunos a pensar sobre as relações entre a sua
matéria e a realidade; 59%, focou como “bom professor” o que é pontual no horário
de chegada à aula; 55% disse que “bom professor” é o que nunca falta as aulas;
para, 48%, “bom professor” é o que age com justiça e coerência com os alunos;
44%, apontou aquele que discute e combina com a turma as regras de
funcionamento da aula; outros 42% elegeu como “bom professor” o que tem
autoridade e liderança sobre a turma; 32% disse que “bom professor” é aquele
profissional que se veste adequadamente; 29%, nomeou de “bom professor” o que
trabalha somente com aulas expositivas; 28%, considerou “bom professor” o que
não deixa aluno falar durante à aula; 21%, acredita que “bom professor” pede para
copiar textos; 17% assinalou que é aquele que não deixa ninguém sair da carteira
durante as aulas; 14%, marcou “bom professor” é o que deixa o aluno fazer o que
quer; por fim, 8% pensa ser “bom professor” o que grita com frequência.
Os resultados desta análise levou o grupo de discussão a concluir que os
alunos definem “bom professor”, como aquele profissional responsável, dinâmico,
organizado, assíduo, coerente, comprometido com a educação; esperam que ele
seja alguém capaz de lidar com as relações pessoais para conseguir resolver
conflitos. Observa-se que alguns alunos consideram que o “bom professor” deve ser
autoritário, mas estes são uma minoria. Para a minoria dos alunos o “bom professor”
é aquele que deixa fazer o que quer não pondo limite aos comportamentos
inadequados.
Diante dessa análise, para os professores, a indisciplina está associada à
falta de motivação dos alunos em relação às características do professor e a
qualidade das aulas; ou seja, a métodos utilizados para aprendizagem dos
conteúdos disciplinares na sala de aula. Mas será que é mesmo só no papel do
professor que se centra a possibilidade de minimizar este problema?
Percebe-se na fala de alguns professores, que existe uma crise de autoridade
correlata a sociedade moderna. Tal crise interfere na atividade e na postura docente,
faz este profissional confundir no processo educativo, os direitos que oferece ao
aluno com excesso liberdade sem dever, sua pretensão é ser flexível, mas acaba
muitas vezes por ultrapassar os limites do respeito e da ética na tendência de se
fazer contemporâneo.
Os dados pesquisados levam a se constatar que a escola de hoje vem
enfrentando um problema de identidade, sem entender o que é certo ou errado,
padecendo da ineficácia de valores que se perderam durante o período transitório da
escola tradicional para fase da modernização.
Nesse sentido, pode-se observar com Arendt (1992) que essa crise:
“da autoridade na educação guarda a mais estreita conexão com a crise da tradição, ou seja, com a crise de nossa atitude perante o âmbito do passado. É sobremodo difícil para o educador marcar com esse aspecto da crise moderna, pois é de seu ofício servir como mediador entre o velho e o novo, de tal modo que sua própria profissão lhe exige um respeito extraordinário pelo passado”. (Arendt, 1992, p. 243-244)
Mostra à autora um conflito de interesses entre gerações, e por isso, é
preciso propiciar espaços que privilegiem as discussões e o diálogo como formas
mediadoras de resolução de conflitos, constituindo estratégias de enfrentamento a
essa crise que assola a educação brasileira de maneira geral.
Outro dado que chamou a atenção dos professores foram as repostas que
os alunos apresentaram quando questionados o que é ser um “bom aluno” na visão
deles mesmos. Na compreensão dos professores, esses dados tendem a
demonstrar que nem sempre os resultados são favoráveis a uma conduta real dos
comportamentos representados em sala de aula. A seguir listam-se as dez
características listadas como alternativas mais assinaladas que especificam o “bom
aluno” pelo olhar do mesmo: 93% marcou a alternativa onde se lia que o “bom
aluno” é o que quer aprender; 80%, respondeu “bom aluno” é o que sabe se
controlar em sala de aula; 79% optou que o “bom aluno” faz o que quer em sala de
aula; 73% atestou que o “bom aluno” é o que estuda em casa; 63%, o “bom aluno”
participa em sala de aula, presta atenção, reflete e pergunta; 56%, indicou como
“bom aluno” o que participa dos processos que definem as regras do funcionamento
da escola; 51%, “bom aluno” o que é bem humorado, paciente e calmo com o
professor e com a turma; 48% “bom aluno” o que usa o uniforme diariamente; 45%,
o que respeita e procura ajudar os colegas; 43% o que “ás vezes” discorda
amigavelmente do professor; 35% definiu “bom aluno” o que concorda sempre com
o professor; outros 32% assinalou o que cumpre as regras sem questionar; 31%,
“bom aluno” o aluno que quer ser escutado; 27% o que chega para a aula no
horário estabelecido; por fim, 22%, marcou como “bom aluno” os que são quietos o
tempo todo em sala de aula.
Diante das respostas dadas pode-se perceber que o aluno no quesito
comportamento sabe separar o joio do trigo. Eles idealizam uma postura mas não
agem de modo coerente para alcançá-la. Sabem que é preciso obedecer às regras,
estudar, participar, questionar, escutar, chegar no horário, usar uniforme, ajudar uns
aos outros e respeitar. Todavia, uma das respostas que mais chamou a atenção dos
professores foi quando 92 (noventa e dois) alunos disseram que o “bom aluno” é
aquele faz o que quer em sala de aula. Isto quer dizer que: ao mesmo tempo em que
eles sabem da necessidade de que existam regras e de algum modo desejam
desafiar tais regras e limites. Na visão dos professores o diálogo e os contratos
pedagógicos serve apoio para minimizar a indisciplina em sala de aula. Mas não
adianta fazer acordos e contratos com os alunos, se não houver firmeza na
cobrança dos combinados.
Indisciplina no contexto do gestor: ações ora muito ora pouco graves
Depois de trabalhar o perfil do aluno e do professor a pesquisa passou a
colher dados sobre os comportamentos dos jovens repetentes. A ideia que se repete
é trabalhar com os professores estes dados, incentivando-os a mediar à relação
disciplinar dos alunos na sala de aula e na escola analisada. Implica também
conscientizar sobre os deveres e os direitos que às crianças e aos adolescentes
possuem garantidos pela Lei 8.069/90 do Estatuto da Criança e do Adolescente
(ECA).
Este estatuto se constitui em uma ótima fonte para os professores
trabalharem com a questão ética em sala de aula. Nele se fala em direitos que são
também deveres, que não sendo cumpridos devem ser cobrados. Afinal deve-se
levar o aluno a compreensão de que violar direitos interfere em deveres e vice-
versa; uma vez que ambos, direitos e deveres são essenciais, ativá-los é garantir um
tratamento humano e sem violência para todos.
Desta maneira, não se deve confundir ou culpar o Estatuto e deixar as
crianças façam o que bem entendem porque a Lei de certa forma o favorece. É
necessário sim, impor limites. E a respeito de regras, Paulo Freire faz a seguinte
colocação: “A mim me dá pena e preocupação quando convivo com famílias que
experimentam a “tirania da liberdade” em que crianças podem tudo: gritam, riscam
as paredes, ameaçam as visitas em face da autoridade complacente dos pais que se
pensam ainda campeões da liberdade” (FREIRE, 1996, p. 29).
Conforme se observa, toda educação envolve a imposição de limites e o
limite não serve apenas para restringir ele também serve para proteger a todos. As
crianças percebem a própria fragilidade perante situações sociais que clamam
limites. Em alguns casos a falta autoridade dos pais e até mesmo dos educadores
em relação ao comportamento das crianças e dos jovens se dá por falsas
interpretações com respeito da ECA. Logo, é necessário discuti-lo e aplicá-lo na
escola, de nada adiante estabelecer que a responsabilidade da indisciplina venha,
exclusivamente, do modo como criança e adolescente interpreta os fatos. É
necessário conhecer melhor a Lei e cobrar dos envolvidos no processo educativo o
cumprimento dos acordos no ambiente da escola, fazendo com que neste seja
estabelecido o respeito que garante a credibilidade desta instituição na sociedade.
Dando sequência a analise dos dados da pesquisa se alertou para o grau de
gravidade de situações corriqueiras ou esporádicas no interior da escola ou sala de
aula em relação ao comportamento dos alunos. Expôs-se para que os alunos
pudessem eleger uma lista de situações que envolvem uma sanção de maior ou
menos rigor de acordo com a intensidade da falta da ação. Uma falta maior pede
uma sanção mais incisiva, já uma falta menor implica em sanção menos rigorosa. As
alterativas listadas como “Nada Grave” foram: usar boné em sal de aula, manter o
celular ligado, arrastar carteiras, foi o item mais marcado como incomodo muito
pouco grave. As alterativas listadas como “Pouco Grave” foram: não usar uniforme e
chegar no horário, este item teve anotação acima de 40% de votação. As alterativas
listadas como “Grave”: responder aos professores e não fazer as atividades
propostas atingiu a notação média 45% das respostas. As alterativas listadas como:
“Muito Grave”: trazer objetos perigosos tais como: faca, canivete, arma de fogo, etc.
e agredir professores verbalmente chegou a mais de 80% das respostas
assinaladas.
Para se analisar estes dados com os professores se pesquisou a opinião
deles sobre os mesmos dados. Nesta análise disseram que o uso de boné e de
celulares são entendidos como parte dos acessórios dos alunos, não como uma
ação “Nada grave”. Quanto ao uso do uniforme e chegar atrasado, estes
profissionais consideram “Pouco grave”, porque não existem sanções legais que os
façam cumpri-las. Já responder professores e não fazer atividades é “Grave” na
concepção deles, uma vez que esse tipo de atitude resulta nos registros escritos nas
fichas individuais dos alunos pelas pedagogas.
Considerou-se, na analise em conjunto dos dados, que os resultados
colhidos na pesquisa tende a mostrar que atitudes corriqueiras dos alunos, tais
como: trocar bilhetes entre colegas, gritar em sala, falar palavrões e pegar o material
dos colegas, entre outras ações são vistas com coisas banais. Intriga ainda o que
uma minoria expôs que trazer uma arma de fogo e destruir a escola não é grave. Os
conflitos entre estas ideias são preocupantes sob o ponto de vista da formação do
indivíduo que também é papel da escola.
Sobre essa perspectiva se conclui sobre a necessidade de se trabalhar a
parcela de responsabilidade da escola por essas atitudes. É preciso uma de atitude
mudança deste coletivo para buscar soluções que resgatem os valores desses
jovens em fase de formação. Revertendo a costumeira expressão deles “não dá
nada”. O caminho é o diálogo e a compreensão de princípios básicos para se viver
em uma sociedade igualitária, sem discriminação e sem preconceito.
Quando questionados a respeito do comportamento dos professores, mais
de 40% dos alunos citaram algumas atitudes que comprometem o trabalho
pedagógico, ações que tendem a gerar indisciplina. São elas: “não preparar as
atividades com antecedência”, “falar palavrões”, “arremessar objetos para chamar
atenção”, “não saber explicar a matéria”, “usar a avaliação como punição”. Após
essas colocações, propôs-se como princípio básico que esse tipo de atitudes não
deviam se repetir em ambiente que se denomina “educativo”.
Quando questionados sobre o porquê da reprovação, os alunos
responderam que os motivos eram: “Não entendia o que professor explicava”
corresponde a 54% das respostas; “bagunça” com 38%; “não fazia as atividades
propostas” com 33%; “preguiça” com 28%; “não gostam da escola” 22%; “não
gostam de estudar” 17%; “conversam muito” 7% e “faltam às aulas” 5%.
Nesse contexto, percebe-se que a indisciplina muitas vezes pode estar
relacionada às dificuldades de aprendizagem. Pensando nesta hipótese, verifica-se
a ligação de reprovação com indisciplina. Observa-se que alguns desses alunos
apresentam laudos médicos de problemas como dislexia, transtorno bipolar, déficit
de atenção e outros já diagnosticados, porém sem acompanhamento pedagógico e
clínico. Assim se torna difícil o aprendizado desses jovens, que precisam frequentar
sala de recursos, mas no estabelecimento em questão, não há esse tipo de
atendimento. Portanto, precisam frequentar sala de recursos em outro
estabelecimento distante de suas residências, e pelas dificuldades, muitos desses
alunos desistem dessa assistência.
Ao fazer tal observação se mostrou, na concepção dos professores, que a
falta de apoio e recursos didáticos para desenvolvimento do trabalho pedagógico
com alunos com características de “inclusão” dificulta o processo de ensino-
aprendizagem e aumenta a indisciplina na escola. Analisando essa perspectiva,
Vasconcelos (2002, p. 169-173) afirma que é preciso adequar as condições de
trabalho na escola, definir com clareza os papéis de cada segmento para poder
fortalecer o professor no apoio da direção e da equipe pedagógica. Diminuindo
assim um dos fatores da indisciplina e consequentemente a reprovação na Escola
Básica.
Outro ponto marcou a analise dos dados da pesquisa e impactou os
professores, foi o fato de os alunos repetentes mostrarem que se sentem excluídos
e alegarem serem “burros”. Ficou evidente que estes tendem a apresentar uma
autoimagem negativa. Eles dizem se autoavaliando que deveriam ter estudado mais
para não reprovar. Esta consciência mostra uma disponibilidade em revisar seu
esforço, em mudar suas atitudes para alcançar melhor desempenho na escola. O
tratamento especial que em geral todos precisam é atenção. Motivação para fazer
as tarefas, sem preguiça e sem bagunça, e desta forma poder conseguir avançar.
Como disse Paulo Freire (2005) “a escola é matriz do conhecimento e fora
da escola não há saber” (p.69). E para superar as dificuldades e a autoestima os
alunos precisam saber. “Ninguém sabe tudo. Todos nós sabemos alguma coisa.
Todos nós ignoramos alguma coisa. Por isso aprendemos sempre” (p.69).
A citação acima serva para dar uma introdução ao último item da pesquisa.
Este faz referência a “Escola ideal” denominada neste exercício como “a dos
sonhos”. Sobre essa questão, os alunos responderam que seria “aquela onde não
pronunciasse apelidos”, “nem palavrões”, “nem alunos não educados”, “um espaço
com piscina”, “sem reprovação”, “sem normas disciplinares”, “nem tarefas”, “sem
usar uniforme”, “sem lição de casa”, “que pudesse sair da sala quando quisesse”,
“sem professor” e que “as lições fossem propostas usando recursos tecnológicos
com celulares e computadores”. Além disso, os alunos relatam que em geral os
professores apresentam-se “mal humorados”, fato que desmotiva e interfere no
processo de ensino aprendizagem e na relação aluno x professor.
Reflexão e propostas de ação
Com o objetivo de compreender a indisciplina escolar, a partir de pesquisa
junto aos alunos repetentes e seus professores e de contribuir para a melhoria dos
problemas disciplinares no ambiente escolar se montou a seguinte estratégia: em
primeiro lugar, se diagnosticar as causas e os problemas disciplinares vivenciados
no estabelecimento de ensino e de trabalho; em segundo, trabalhar junto aos
professores para através do confronto entre a reflexão teórica e os dados colhidos
na pesquisa realizada com os alunos, identificar que tipo de compreensão os jovens
repetentes possuem em relação ao funcionamento escolar; por fim, se quis ainda
pela pesquisa identificar como ambos os grupos de professores e de alunos operam
junto às regras, os regulamentos, os ideais e as metas dos gestores da escola
citada.
Em num terceiro momento, depois de ter o problema da indisciplina
analisado pelas teorias, debatidos pela prática e através dos dados da pesquisa,
foram se encaminhando algumas ações para desenvolver práticas pedagógicas que
possam resgatar valores positivos de convivência no ambiente escolar. Que possam
facilitar um trabalho de respeito mútuo entre professor-aluno x aluno-professor e
demais membros da comunidade escolar.
Definiu-se como estratégia as seguintes ações: palestra com temas do
cotidiano escolar que venha auxiliar nas soluções positivas no enfrentamento da
indisciplina envolvendo professores, funcionários, equipe pedagógica e até mesmo
os responsáveis pelos alunos; aprofundar a parceria com o centro de capacitação do
Projeto Não Violência, ONG que trabalha comportamentos dos indivíduos e orienta a
comunidade escolar no desenvolvimento disciplina. Estes podem ser aliados na
organização do trabalho pedagógico para ajudar a construir normas eficazes que
valorem o coletivo, capazes de serem respeitadas por todos os envolvidos no
processo.
Também se solicitou a mantenedora, a viabilização de uma sala de recurso
para escola para que nela se atenda melhor os alunos com dificuldades especiais e
da aprendizagem. Por fim se idealizou um processo de reclassificação dos alunos
repetentes, oportunizando o avanço de série e adequando-os a mesma faixa etária.
Das ações acima, algumas já foram realizadas e outras estão sendo
implementadas. A primeira delas se deu com processo de reclassificação dos alunos
fora da idade série. A segunda trata-se da parceria com a ONG, Projeto Não
Violência, que veio até a escola trazendo palestras mensais para os professores,
funcionários e pais, com temas específicos do trato com violência. Temas que
muitas vezes remetem ao ato indisciplinar. Tais ações já demonstram algum impacto
positivo tanto no aspecto disciplinar como no processo de ensino aprendizagem.
De acordo com a realidade apresentada pela escola e a emblemática
situação de conflitos dentro e fora da sala de aula, é importante sempre promover
espaço de discussões sobre a construção coletiva das regras para organização do
trabalho pedagógico, tendo em vista o comprometimento no cumprimento das
normas. É que preciso fazer da escola um espaço de integração e interação com a
comunidade que ela agrega, no objetivo de promover um ambiente agradável dando
a todos condições de na aprendizagem exercitar a cidadania.
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