interpretaÇÃo do espaÇo - fundamentos da...

18
INTERPRETAÇÃO DO ESPAÇO Antonio Castelnou

Upload: dinhnhu

Post on 11-Nov-2018

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

INTERPRETAÇÃO DO ESPAÇO

Antonio Castelnou

Introdução

No decorrer da história, nem todos os espaços arquitetônicos mereceram a atenção dos

estudiosos, mas apenas aqueles que possuíam algum valor artístico e foram reconhecidos

como patrimônio histórico e cultural.

Uma edificação, seja qual for, somente é considerada uma obra de arte quando

sobrevive graças às suas qualidades estético-formais, independente da sua função, da técnica construtiva ou mesmo da sua importância social.

É justamente a intenção plástica que diferencia a arquitetura da mera construção (GRAEFF, 1986).

O principal problema da arquitetura está na

conciliação entre as questões práticas, tais como a funcionalidade,

a economia e a viabilidade legal e técnica (valores

quantitativos), com as questões estéticas

(valores qualitativos).

Vitra International Design Museum (1987/9, Weil-am-Rhein Alemanha)

Frank Gehry (1929-)

Ruínas da Igreja de São Miguel (Séc. XVII, Sete Povos das Missões

Santo Ângelo RS)

Um dos objetivos da TEORIA DA ARQUITETURA consiste em interpretar o

espaço arquitetônico, procurando analisar suas características e seu valor

como obra de arte.

Interpretar o espaço significa incluir todas as

realidades de um edifício, estudando suas

dimensões, luz, cor, usos, formas, intenções de

projeto e inclusive expectativas do usuário. Sydney Opera House

(1956/73, Sydney Austrália) JØrn Ützon (1918-2008)

Catedral de Chartres (1194/1220, França)

Portanto, é preciso se desenvolver uma

metodologia de análise da arquitetura, ou seja, uma disciplina ou modo

de “vê-la” que não desconsidere nenhuma

das dimensões que compõem o espaço arquitetônico e que

inclua todo seu conteúdo social.

MASP (1959/69, São Paulo SP)

Lina Bo Bardi (1914-98)

Bauhaus (1925/6, Dessau Alem.)

Walter Gropius (1883-1969)

Conforme ZEVI (2000), há 04(quatro) formas de interpretação da arquitetura, embora nenhuma ocorra isoladamente:

Interpretações conteudistas

Interpretações fisiopsicológicas

Interpretações formalistas

Interpretações espaciais

Templo do Parthenon (447/38 aC, Atenas Grécia)

Taj Mahal (1630/53, Agra Índia)

Interpretações conteudistas

São aquelas que buscam explicar o espaço arquitetônico a partir de seu CONTEÚDO, ou

seja, das razões de sua existência, sejam elas políticas, econômicas, sociais, científico-

tecnológicas ou filosófico-religiosas.

A maioria delas são de fundamentação positivista (relação causa-e-efeito), isto é, buscam encontrar um determinismo entre a

forma arquitetônica e causas materialistas, tais como condições geográficas, elementos

naturais ou até mesmo características étnicas.

a) Interpretação política:

Estabelece uma estreita dependência da arquitetura

com os eventos políticos das diferentes épocas,

colocando as relações de poder como causas das

correntes estilísticas.

Absolutismo Arq. Barroca (Sécs. XVII-XVIII)

Le Galerie des Glaces (1665/85, Palais de Versailles,)

J. Hardoin Mansart, L. C. Le Brun & L. Le Vau

Nazismo Arq. da Celebração (1933-1945)

Albert Speer (1905-81)

b) Interpretação econômico-social:

Afirma a derivação das formas arquitetônicas dos fenômenos econômicos, considerando a arquitetura como autobiografia do sistema econômico e das estruturas sociais.

Feudalismo Arq. Medieval (Sécs. VI-XII)

Monastério de Sta. Catarina ( 525/65, Monte Sinai, Egito)

Monastério de Yuso (1053, S. Millán de la Cogolla,

Espanha)

Liberalismo Arq. Eclética (Séc. XIX)

Antigo Paço Municipal

(1910/6, Curitiba PR)

Ópera de Paris (1861/74, Paris França)

Charles Garnier

c) Interpretação filosófico-religiosa:

Coloca a arquitetura como expressão da

direção filosófica ou do pensamento religioso,

investigando a contemporaneidade das concepções de transcendência, do

Homem e do espaço.

Humanismo Arq. Renascentista (Sécs. XIV-XV)

Santa Maria dei Fiori (1420/36, Firenze Itália)

Filippo Brunelleschi

Iluminismo Arq. Neoclássica (Séc. XVIII)

Capitólio (1820, Washington EUA)

Benjamin Latrobe

Arc de Triomphe

(1806/36, Paris)

Jean François Chalgrin

Place de l’ Étoile

(1806/36, Paris)

d) Interpretação científica:

Inter-relaciona a arquitetura e o desenvolvimento científico, insistindo na simultaneidade das descobertas matemático-geométricas e da

concepção arquitetônica (a aplicação da geometria euclidiana; o desenvolvimento das regras da

perspectiva; a descoberta da quarta dimensão, etc.).

Pavilhão Alemão (1928/29, Barcelona Esp.)

Mies van der Rohe (1886-1969)

e) Interpretação técnica:

Associa a história da arquitetura à da construção, preocupando-se com a técnica executiva e a questão utilitária da obra, analisando a utilização de materiais naturais (madeira, pedra e barro) ou artificiais (concreto, aço e vidro), nas mais variadas épocas e situações.

Chateau de Chambord (1519/47, Vale do Loire, França)

National Assembly Building (1965, Dacca Bangladesh)

Louis Kahn (1901-74)

f) Interpretações materialistas:

Esforçam-se em encontrar um determinismo entre a

forma arquitetônica e condições materiais, que

ligam, p. ex.: a arquitetura a condições geográficas

(Interpretação Geográfica); a características étnicas e

sociológicas (Interpretação Racial) ou a

elementos naturais (Interpretação Mimética).

Arquitetura Art Nouveau (1895/1914, Paris)

Características físicas e geográficas Arquitetura

Casa Bandeirista de Sto. Antonio (Séc. XVII, São Roque SP)

Arquitetura cicládica (Astypalaia, Kastro Gr.)

Iglus

(Pólo Norte)

Arquitetura

vernácula

Características raciais e sociais Arquitetura

Marquise de Pompadour (1759)

Arquitetura mulçumana

Mesquita de Mihrimah (1578, Istambul)

Jardim do Topkapi (1620, Istambul Turquia)

Arq. Barroca