introdução à microbiologia
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Matria de
Microbiologia
Fotografias colorizadas de bactrias observadas ao microscpio eletrnico.Da esquerda para a direita: Bacillus anthracis, Escherichia coli, Neisseria gonorrhoeae
2008
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Introduo Microbiologia
Introduo
Microbiologia:Mikros(= pequeno) + Bio(= vida) + logos(= cincia)
A Microbiologia era definida, at recentemente, como a rea da cincia que
dedica-se ao estudo dos microrganismos, um vasto e diverso grupo de
organismos unicelulares de dimenses reduzidas, que podem ser
encontrados como clulas isoladas ou agrupados em diferentes arranjos
(cadeias ou massas), sendo que as clulas, mesmo estando associadas,
exibiriam um carter fisiolgico independente.
Assim, com base neste conceito, a microbiologia envolve o estudo de
organismos procariotos (bactrias, archaeas), eucariotos inferiores (algas,
protozorios, fungos) e tambm os vrus.
Bactrias Archaea Fungos
Vrus
Algas
Protozorios
Tipos de microrganismos
estudados pelos microbiologistas.
(Adaptado de Tortora et al., Microbiology, 8 ed)
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Esta rea do conhecimento teve seu incio com os relatos de Robert
Hooke e Antony van Leeuwenhoek, que desenvolveram microscpios que
possibilitaram as primeiras observaes de bactrias e outros
microrganismos, alm de diversos espcimes biolgicos. Embora van
Leeuwenhoek seja considerado o "pai" da microbiologia, os relatos deHooke, descrevendo a estrutura de um bolor, foram publicados
anteriormente aos de Leeuwenhoek. Assim, embora Leeuwnhoek tenha
fornecido importantes informaes sobre a morfologia bacteriana, estes dois
pesquisadores devem ser considerados como pioneiros nesta cincia.
Recentemente foi publicado um artigo discutindo a importncia de Robert
Hooke para o desenvolvimento da Microbiologia.
Esquema do microscpio construdo por Robert Hooke e um esquema de um fungo observado
por este pesquisador.
(Adaptado de Tortora et al., Microbiology - 8 ed)
Rplica do microscpio construdo porLeeuwenhoek e de suas ilustraes, descrevendo os
"animlculos" observados.
(Adaptado do livro Brock Biology of Microorganisms, 10 Ed., 2003)
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Classificao dos seres vivos
De acordo com a definio tradicional da microbiologia, esta uma
cincia que at recentemente, era responsvel pelo estudo de organismosclassificados em trs reinos distintos: Monera, Protista e Fungi. No entanto,
a partir dos estudos de Carl Woese, a microbiologia passou a estar
relacionada a trs domnios de seres vivos.
Sistemas de classificao dos seres vivos:
Linnaeus(sc. XVIII): reinos Animal e Vegetal
Haeckel(1866): introduo do reino Protista
Whittaker (1969): 5 reinos, dividos principalmente pelas
caractersticas morflogicas e fisiolgicas:
Monera: Procariotos
Protista: Eucariotos unicelulares - Protozorios (sem parede celular) e
Algas (com parede celular)
Fungi: Eucariotos aclorofilados
Plantae: Vegetais
Animalia: Animais
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Classificao dos seres vivos, de acordo com Whittaker (1969)
(Adaptado de Pommerville, J.C.(2004) Alcamo's Fundamentals of Microbiology)
No entanto, a partir dos estudos de C. Woese (1977), passamos a
dispor de um sistema de classificao baseado principalmente em aspectos
evolutivos (filogentica), a partir da comparao das sequncias de rRNA de
diferentes organismos. Com esta nova proposta de classificao, os
organismos so agora subdividos em 3 domnios (contendo os 5 reinos),
empregando-se dados associados ao carter evolutivo.
Archaea: Procariotos
Bacteria: Procariotos
Eukarya: Eucariotos
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Classificao dos seres vivos, de acordo com Woese (1977)
(Adaptado de Pommerville, J.C.(2004) Alcamo's Fundamentals of Microbiology)
A princpio, acredita-se que estes 3 domnios divergiram a partir de um
ancestral comum. Provavelmente os microrganismos eucariticos atuaram
como ancestrais dos organismos multicelulares, enquanto as bactrias e
archaeas correspondem a ramos que no evoluram alm do estgio
microbiano.
Archaea: so organismos procariotos que, freqentemente so
encontrados em ambientes cujas condies so bastante extremas
(semelhantes s condies ambientais primordiais na Terra), sendo por isso,
muitas vezes considerados como sendo ancestrais das bactrias. No
entanto, hoje em dia considera-se as archaeas como um grupo
intermedirio entre procariotos e eucariotos.
Muitos destes organismos so anaerbios, vivendo em locais"inabitveis" para os padres humanos - fontes termais (com temperaturas
acima de 100C), guas com elevadssimos teores de sal (at 5M de NaCl -
limite de dissoluo do NaCl), em solos e guas extremamente cidos ou
alcalinos (espcies que vivem em pH 0, outras em pH 10) e muitas so
metanognicas.
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Genericamente, podemos dizer que as Archaeas definem os limites da
tolerncia biolgica s condies ambientais.
Bacteria: Corresponde a um enorme grupo de procariotos,
anteriormente classificados como eubactrias, representadas pelos
organismos patognicos ao homem, e bactrias encontradas nas guas,
solos, ambientes em geral.
Dentre estas, temos as bactrias fotossintetizantes (cianobactrias) e outras
quimiossintetizantes (E. coli), enquanto outras utilizam apenas substratos
inorgnicos para seu desenvolvimento.
Eukarya:No mbito microbiolgico, compreende as algas, protozorios
e fungos (alm das plantas e animais).As algas caracterizam-se por apresentarem clorofila (alm de outros
pigmentos), sendo encontradas basicamente nos solos e guas.
Os protozorios correspondem a clulas eucariticas, apigmentados,
geralmente mveis e sem parede celular, nutrindo-se por ingesto e
podendo ser saprfitas ou parasitas.
Os fungos so tambm clulas sem clorofila, apresentando parede celular,
realizando metabolismo heterotrfico, nutrindo-se por absoro.
Como mencionado anteriormente, os vrus so tambm assunto
abordado em microbiologia, embora, formalmente, no exibam as
caractersticas celulares, no sentido de no apresentarem metabolismo
prprio, de conterem apenas um tipo de cido nuclico, etc.
A Microbiologia na atualidade
A definio clssica de "microbiologia" mostra-se bastante imprecisa, e
at mesmo inadequada, frente aos dados da literatura publicados nesta
ltima dcada. Como exemplo pode-se citar duas premissas que j no
podem mais ser consideradas como verdade absoluta na conceituao desta
rea de conhecimento: as dimenses dos microrganismos e a natureza
independente destes seres.
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Em 1985 foi descoberto um organismo, denominado Epulopiscium
fischelsonique, a partir de 1991, foi definido como sendo o maior procarioto
j descrito, exibindo cerca de 500 m de comprimento. Esta bactria foi
isolada do intestino de um peixe marinho (Surgeonfish, peixe barbeiro ou
cirurgio), encontrado nas guas da Austrlia e do Mar Vermelho. Alm deapresentar dimenses nunca vistas, tal bactria mostra-se totalmente
diferente das demais quanto ao processo de diviso celular, que ao invs de
ser por fisso binria, envolve um provvel tipo de reproduo vivparo,
levando formao de pequenos glbulos, que correspondem s clulas
filhas.
Comparao entre o tamanho de uma clula de Epulopiscium e 4 paramcios
(Adaptado do livro Brock Biology of Microorganisms, 10 Ed., 2003)
Mais recentemente, em 1999, outro relato descreve o isolamento de
uma bactria ainda maior, isolada na costa da Nambia. Esta, denominada
Thiomargarita namibiensis, pode ser visualizada a olho n, atingindo at
cerca de 0,8 mm de comprimento e 0,1 a 0,3 mm de largura.
Microscopia
de luz polarizada,
revelando os
grnulos de enxfre
no interior da
bactria
Thiomargarita
namibiensis.
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Comparao
entre a bactria
Thiomargarita
namibiensis e uma
Drosophila.
(Adaptado de
Schulz, H. N. et al.
(1999). Science,
284:493-495 -
Clique no autor,
caso deseje ler o
artigo original)
Como analisar a questo do tamanho dos
microrganismos?
Durante muito tempo se acreditava que o tamanho das bactrias era
imposto pelo seu prprio metabolismo, ou seja, se a bactria aumentasse
muito em tamanho, ela seria incapaz de se manter vivel e morreria. Tal
fato decorre da seguinte deduo: A rea superficial da membrana
citoplasmtica seria o fator limitante para a eficincia das trocas com o meio
externo.
Sabendo-se que a rea de uma esfera calculada pela frmula e
que o volume de uma esfera obtido pela frmula , a medida que a
rea aumenta, seu volume aumenta muito mais rapidamente. Assim, se uma
bactria comeasse a crescer, aumentando sua rea, a proporo
rea/volume diminuiria. Isto faria com que a clula passasse a apresentar
um volume muito grande, sendo que sua rea superficial seria insuficiente,
em termos de trocas atravs da membrana, para manter sua viabilidade.
A partir dos isolados de bactrias gigantes, o conceito da limitao
de tamanho bacteriano vem sendo abandonado, pois no h mais como
questionar a existncia e viabilidade destas bactrias e, possivelmente,
novos relatos sero incorporados, deixando de ser meras curiosidades.
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Uma das explicaes mais provveis para tal fato reside na existncia
de grandes mesossomos nestes tipos bacterianos, refutando assim a
hiptese de que tais estruturas seriam meros artefatos de microscopia.
Novos estudos vm sendo realizados, os quais esto trazendo informaes
sobre outras estratgias desenvolvidas pelos microrganismos para quesobrevivam, quando apresentam dimenses extremamente maiores que os
microrganismos "convencionais".
Microrganismos atuando como seres multicelulares
Outro aspecto que vem sendo demonstrado refere-se ao carter
multicelular das bactrias. Embora estas exibam a capacidade de
sobreviver como uma clula nica, realizando os processos metablicosnecessrios sua perpetuao, quando as bactrias encontram-se
associadas, formando colnias, ou biofilmes (estruturas rgidas, adesivas, de
natureza geralmente polissacardica, que encontram-se fortemente
ancoradas s superfcies, criando um ambiente protegido que possibilita o
crescimento microbiano), estas passam a se comportar de forma social,
exibindo diviso de tarefas e alterando seu perfil fisiolgico de forma a
apresentar uma cooperao que reflete-se em diferentes nveis metablicos.
Sabe-se que muitos genes de virulncia so expressos somente
quando a densidade populacional atinge um determinado ponto. Da mesma
forma, a capacidade de captar DNA do meio externo, a bioluminescncia,
etc, envolvem a percepo da densidade populacional por parte das
bactrias.
Este tipo de mecanismo de comunicao denominado sensor de
quorum (quorum sensing) e vem sendo amplamente estudado nas mais
diferentes reas da Microbiologia, uma vez que foi descrito tanto para
bactrias como para fungos.
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Estudos com bactrias primitivas
Ainda em relao s novas pesquisas desenvolvidas na rea de
Microbiologia, temos o cultivo de bactrias pr-histricas, visando a busca
de compostos com atividade antimicrobiana ou de interesse comercial. Neste
sentido, empresas foram criadas (Ambergene), especializadas na
reativao de formas bacterianas latentes, isoladas de insetos preservados
em mbar. Os resultados obtidos revelam a reativao de mais de 1200
espcies bacterianas, apresentando de 2 a at 135 milhes de anos.
Em 2000, foi publicado um relato descrevendo o isolamento e cultivo de uma
espcie bacteriana a partir do lquido contido em um cristal de sal de 250
milhes de anos. Os estudos de seqenciamento do DNA que codifica o RNA
ribossomal 16S indicam que o organismo pertence ao gnero Bacillus, umabactria em forma de bastonete, Gram positiva, com a capacidade de formar
endsporos. At o momento, esta corresponde espcie bacteriana mais
antiga.
Inseto de onde foi
retirada a bactria
(provavelmente Bacillus), de 135
milhes de anos
Aspecto das colnias
crescidas em meio slido
(Adaptado de Cano et al., (1995)
Science, 268:1060-1064)
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A questo da vida em marte
Em 1997, foram publicados relatos de expedies da NASA a Marte,
sugerindo a presena de possveis microrganismos (nanobactrias) em
espcimes minerais, sendo que achados semelhantes foram tambm
detectados em partculas de meteoritos de Marte, que atingiram a Terra. A
favor desta hiptese h o achado de microrganismos que decompem
minerais, frequentemente isolados das profundezas marinhas (A cerca de
1,5 km abaixo do solo).
Os meteoritos apresentam carbono, fsforo, nitrognio, alm da
presena de gua. J em relao s condies ambientais de Marte (muitofrio), temos como contra-argumento o isolamento de Archaea a partir de
ambientes absolutamente inspitos, inicialmente comsiderados como
inadequados vida.
De acordo com alguns pesquisadores, no absurdo considerar que a
vida surgiu em Marte, pois estudos com o meteorito Nakhla, que caiu em
1911 no Egito, com aparentemente de 1,3 bilhes de anos, revelam a
presena de elementos cocides, potenciais fsseis bacterianos, variando de0,25 a 2,0 m de tamanho, o que seria correspondente ao tamanho mdio
atual das bactrias. Curiosamente, estas formas ovais apresentam um teor
maior de carbono no seu interior que nas reas ao seu redor. Alm disso,
exibem tambm um elevado teor de xido de ferro, um composto comum
em clulas fossilizadas.
Recentemente, a NASA enviou outra sonda para Marte e os dados
recebidos reforam cada vez mais a idia da existncia anterior de vida em
Marte, devido aos achados da possvel ocorrncia de gua naquele planeta.
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Comparao entre possveis "microrganismos" presentes em rochas de Marte e microrganismos
que compem a placa dental ho homem.
(Adaptado de An Electronic Companion to Beginning Microbiology)
Assim, com base nestes novos achados e principalmente com estudos
envolvendo as Archaea, a microbiologia vem levantando uma srie de
questes quanto fisiologia e o metabolismo celular, alm de questionar
permanentemente os limites das condies de vida.
Ubiqidade dos microrganismos
Os microrganismos so os menores seres vivos existentes,
encontrando-se em uma vasta diversidade de ambientes e desempenhandoimportantes papis na natureza. Este grupo caracteriza-se por ser
completamente heterogneo, tendo com nica caracterstica comum o
pequeno tamanho dos organismos.
Acredita-se que cerca de metade da biomassa do planeta seja
constituda pelos microrganismos, sendo os 50% restantes distribudos entre
plantas (35%) e animais (15%).
Em termos de habitat, os microrganismos so encontrados em quase
todos os ambientes, tanto na superfcie, como no mar e subsolo. Desta
forma, podemos isolar microrganismos de fontes termais, com temperaturas
atingindo at 130C (clique aqui para ler o relato do isolamento de um
procarioto cujo mximo de temperatura de crescimento foi definido como
130C); de regies polares, com temperaturas inferiores a -10C; de
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ambientes extremamente cidos (pH=1) ou bsicos (pH=13). Alguns
sobrevivem em ambientes extremamente pobres em nutrientes,
assemelhando-se gua destilada. H ainda aqueles encontrados no interior
de rochas na Antrtida.
Em termos metablicos, temos tambm os mais variados tipos, desde
aqueles com vias metablicas semelhantes a de eucariotos superiores, at
outros que so capazes de produzir cido sulfrico, ou aqueles capazes de
degradar compostos pouco usuais como cnfora, herbicidas, petrleo, etc.
Uma vez que os microrganismos precederam o homem em bilhes de
anos, pode-se dizer que ns evolumos em seu mundo e eles em nosso.
Desta forma, no de se estranhar que a associao homem-microrganismomostra-se com grande complexidade, com os microrganismos habitando
nosso organismo, em locais tais como a pele, intestinos, cavidade oral,
nariz, ouvidos e trato genitourinrio. Embora a grande maioria destes
microrganismos no causem qualquer dano, compondo a denominada
microbiota normal, algumas vezes estes podem originar uma srie de
doenas, com maior ou menor gravidade. Nesta classe de organismos esto
aqueles denominados patognicos e potencialmente patognicos.
Sabe-se que em cerca de 1013clulas de um ser humano podem ser
encontradas, em mdia, cerca de 1014clulas bacterianas. No homem, estas
se encontram em vrias superfcies, especialmente na cavidade oral e trato
intestinal.
Principais funes dos microrganismos na natureza
Alm de seu importante papel como componentes da microbiota
residente de animais e plantas, em nosso dia a dia convivemos com os mais
diversos produtos microbiolgicos naturais tais como: vinho, cerveja,
queijo, picles, vinagre, antibiticos, pes, etc. Paralelamente, no pode ser
deixada de lado a importncia dos processos biotecnolgicos, envolvendo
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engenharia gentica, que permitem a criao de novos microrganismos,
com as mais diversas capacidades metablicas.
Os microrganismos desempenham tambm um importante papel nos
processos geoqumicos, tais como o ciclo do carbono e do nitrognio, sendo
genericamente importantes nos processos de decomposio de substratos e
sua reciclagem. Dentre os compostos utilizados como substrato temos,
alguns de grande importncia atualmente: DDT, outros pesticidas, cnfora,
etc.
O carbono encontra-se na atmosfera primariamente como CO2, sendo
utilizado pelos organismos fotossintetizantes, para sua nutrio.
Virtualmente, a energia para o desenvolvimento da vida na Terra derivada,em ltima anlise, a partir da luz solar. Esta captada pelas plantas e
microrganismos fotossintetizantes (algas e bactrias), que convertem o CO2
em compostos orgnicos, atravs da reao:
CO2+ H2O => (CH2O)n + O2
Os herbvoros alimentam-se de plantas e os carnvoros alimentam-se
dos herbvoros.
O CO2atmosfrico torna-se disponvel para a utilizao na fotossntese
origina-se de duas fontes biolgicas principais: 1) 5 a 10% a partir de
processos de respirao e 2) 90 a 95% oriundos da degradao
(decomposio ou mineralizao) microbiana de compostos orgnicos.
Em termos de ciclo global, h um balano entre o consumo de CO 2na
fotossntese e sua produo atravs da mineralizao e respirao. Este
balano, no entanto, vem sendo fortemente alterado por atividades
humanas, tais como a queima de combustveis fsseis, promovendo um
aumento da qualntidade de CO2atmosfrico, resultando no conhecido efeito
estufa.
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A celulose existente nas plantas, embora seja um substrato
extremamente abundante na Terra, no utilizvel pela vasta maioria dos
animais. Por outro lado, vrios microrganismos, incluindo fungos, bactrias e
protozorios a utilizam, como fonte de carbono e energia. Destes
microrganismos, muitos encontram-se no trato intestinal de vriosherbvoros e nos cupins.
Muitos compostos txicos podem ser degradados por microrganismos,
dentre eles, policlorados, DDT, pesticidas.
Outra abordagem que tem se mostrado de grande valia para o homem
refere-se introduo de genes bacterianos em outros organismos (ditos
transgnicos), tais como plantas. Assim, est em franco desenvolvimento a
obteno de plantas transgnicas resistentes a pesticidas ou ao ataque deinsetos.
Microrganismos como agentes de doenas
Os microrganismos, eventualmente provocam doenas no homem, outros
animais e plantas. Apesar dos enormes avanos em relao ao tratamento
de doenas infecciosas, estas vm se tornando novamente um tema
preocupante, em virtude do crescente surgimento de linhagens bacterianas
cada vez mais resistentes s drogas. Atualmente, a Organizao Mundial daSade vem demonstrando crescente interesse nas doenas emergentes e re-
emergentes, de origem infecciosa.
Abaixo apresentamos um quadro cronolgico que deixa clara tais
preocupaes, em relao ao nmero de mortes provocadas por doenas
infecciosas.
(Adaptado do livro Brock Biology of Microorganisms, 10 Ed., 2003)
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Importncia da Microbiologia
uma rea da Biologia que tem grande importncia seja como cincia
bsica ou aplicada.
Bsica: estudos fisiolgicos, bioqumicos e moleculares (modelo comparativo
para seres superiores). => Microbiologia Molecular
Aplicada: processos industriais, controle de doenas, de pragas, produo de
alimentos, etc.
reas de estudo:
Odontologia: Estudo de microrganismos associados placa dental,
crie dental e doenas periodontais. Estudos com abordagem preventiva.
Medicina e Enfermagem: - Doenas infecciosas e infeces
hospitalares.
Nutrio: - Doenas transmitidas por alimentos, Controle de
qualidade de alimentos, Produo de alimentos (queijos, bebidas).
Biologia: - Aspectos bsicos e biotecnolgicos. Produo deantibiticos, hormnios (insulina, GH), enzimas (lipases, celulases), insumos
(cidos, lcool), Despoluio (Herbicidas - Pseudomonas, Petrleo), Bio-filme
(Acinetobacter), etc.
BIOTECNOLOGIA - Uso de microrganismos com finalidades
industriais, como agentes de biodegradao, de limpeza ambiental, etc.
Um breve histrico da importncia da microbiologia
Efeitos das doenas nas civilizaes
Talvez um dos aspectos mais negligenciados quando se estuda a
microbiologia refere-se s profundas mudanas que ocorreram no curso das
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civilizaes, decorrentes das doenas infecciosas.
De forma geral, as doenas provocavam um abatimento fsico e moral da
populao e das tropas, muitas vezes influenciando no desenrolar e no
resultado de um conflito.
A prpria mobilizao de tropas, resultando em uma aglomerao,
muitas vezes longa, de soldados, em ambientes onde as condies de
higiene e de alimentao eram geralmente inadequadas, tambm colaborava
na disseminao de doenas infecciosas, para as quais nnao exisitam
recursos teraputicos.
Paralelamente, em reas urbanas em franca expanso, os problemas
mencionados acima eram tambm de grande importncia, pois rapidamenteas cidades cresciam, sendo que as instalaes sanitrias geralmente eram
completamente precrias.
Com a prtica do comrcio entre as diferentes naes emergentes,
passou a haver a disseminao dos organismos para outras populaes,
muitas vezes susceptveis a aqueles agentes infecciosos.
Abaixo listaremos, brevemente, um pequeno histrico com alguns exemplos
dos efeitos das doenas microbianas no desenvolvimento de diferentescivilizaes.
O declnio do Imprio Romano, com Justiniano (565 AC), foi acelerado
por epidemias de peste bubnica e varola. Muitos habitantes de Roma foram
mortos, deixando a cidade com menos poder para suportar os ataques dos
brbaros, que terminaram por destruir o Imprio.
Durante a Idade Mdia varias novas epidemias se sucederam, sendo
algumas amplamente disseminadas pelos diferentes continentes e outrasmais localizadas. Dentre as principais molstias pode-se citar: Tifo, varola,
sfilis, clera e peste.
Em 1346, a populao da Europa, Norte da frica e Oriente Mdio era
de cerca de 100 milhes de habitantes. Nesta poca houve uma grande
epidemia da peste, que disseminou-se atravs da rota da seda (a principal
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rota mercante para a China), provocando um grande nmero de mortes na
sia e posteriormente espalhando-se pela Europa, onde resultou em um
total de cerca de 25 milhes de pessoas, em poucos anos.
Novas epidemias da peste ocorreram nos sculos XVI e XVII, sendo que no
sculo XVIII (entre 1720 e 1722), uma ltima grande epidemia ocorreu naFrana, matando cerca de 60% da populao de Marselha, de Toulon,. 44%
em Arles, 30% em Aix e Avignon.
A epidemia mais recente de peste originou-se na China, em 1892,
disseminando-se pela ndia, atingindo Bombaim em 1896, sendo
responsvel pela morte de cerca de 6 milhes de indivduos, somente na
ndia.
Antes da II Guerra Mundial, o resultado das guerras era definido pelasarmas, estratgias e pestilncia, sendo esta ltima decisiva. Em 1566,
Maximiliano II da Alemanha reuniu um exrcito de 80.000 homens para
enfrentar o Sulto Soliman da Hungria. Devido a uma epidemia de tifo, o
exrcito alemo foi profundamente dizimado, sendo necessria a disperso
dos sobrevivente, impedindo assim a expulso das hordes de tribos orientais
da Europa nesta poca.
Na guerra dos 30 anos (1618-1648), onde protestantes se revoltaram
contra a opresso dos catlicos, alm do desgaste decorrente da longa
durao do confronto, as doenas foram determinantes no resultado final.
Na poca de Napoleo, em 1812, seu exrcito foi quase que completamente
dizimado por tifo, disenteria e pneumonia, durante campanha de retirada de
Moscou. No ano seguinte, Napoleo havia recrutado um exrcito de 500.000
jovens soldados, que foram reduzidos a 170.000, sendo cerca de 105.000
mortes decorrentes das batalhas e 220.000 decorrentes de doenasinfecciosas.
Em 1892, outra epidemia de peste bubnica, na China e ndia, foi
responsvel pela morte de 6 milhes de pessoas.
At a dcada de 30, este era quadro, quando Alexander Fleming,
incidentalmente, descobriu um composto produzido por um fungo do gnero
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Penicillium, que eliminava bactrias do gnero Staphylococcus, um
organismo que pode produzir uma vasta gama de doenas no homem. este
composto - denominado penicilina - teve um papel fundamental na desfecho
da II Guerra Mundial, uma vez que passou a ser administrado s tropas
aliadas, enquanto o exrcito alemo continuava a sofrer pesadas baixas nocampo de batalha.
Alm destas epidemias, vale ressaltar a importncia das diferentes
epidemias de gripe que assolaram o mundo e que continuam a manifestar-
se de forma bastante intensa at hoje. Temos ainda o problema mundial
envolvendo a AIDS, o retorno da tuberculose (17 milhes de casos no Brasil)
e do aumento progressivo dos nveis de resistncia aos agentes
antimicrobianos que vrios grupos de bactrias vm apresentandoatualmente.
Morfologia e ultraestrutura bacterianas(Parte 1)
Morfologia: Tamanho, forma e arranjos bacterianos
As bactrias so extremamente variveis quanto ao tamanho e formas queapresentam. At recentemente acreditava-se que as menores bactrias
apresentavam cerca de 0,3 m (ex: Mycoplasma), entretanto, j existem
relatos de clulas menores, denominadas nanobactrias ou
ultramicrobactrias, com tamanhos variando de 0,2 a 0,05 m de dimetro,
sendo algumas inclusive j cultivadas em laboratrio. H ainda controvrsias
quanto a este grupo, pois vrios autores acreditam ser meros artefatos.
Muitas bactrias medem de 2 a 6 m de comprimento, por 1 a 2 m delargura, mas certamente estes valores no podem ser definidos como
absolutos, pois eventualmente encontramos bactrias de at 500 ou 800
m, como no caso de Epulopiscium ou Thiomargarita.
Em relao s formas, a maioria das bactrias estudadas seguem um padro
menos varivel, embora existam vrios tipos morfolgicos distintos. De
maneira geral, as bactrias podem ser agrupadas em trs tipos morfolgicos
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gerais: cocos, bacilos e espiralados.
Os cocoscorrespondem a clulas arredondadas, podem se dividir sem um
plano de orientao definido, o que leva a um grande nmero de arranjos
diferentes. Assim temos os cocos isolados, diplococos (Neisseria,pneumococos), tetracocos, sarcinas (cubos contendo 8 clulas),
estreptococos (cocos em cadeia) e estafilococos (cocos formando massas
irregulares).
Microscopia ptica, corada
pelo mtodo de Gram, de cocos
formando cadeias, um arranjo
denominado estreptococos.
Microscopia eletrnica de
varredura das clulas
apresentadas acima.
Microscopia ptica, corada
pelo mtodo de Gram, de cocos
em um arranjo denominado
estafilococos.
Microscopia eletrnica de
varredura das clulas
apresentadas acima.
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Os bacilos tm forma de bastonetes, podendo apresentar
extremidades retas (Bacillus anthracis), arredondadas (Salmonella, E. coli),
ou ainda afiladas (Fusobacterium). Como seu plano de diviso fixo,
ocorrendo sempre no menor eixo, os bacilos exibem uma menor variedade
de arranjos, sendo via de regra encontrados isolados, como diplobacilos ouainda como estreptobacilos. H ainda um arranjo, denominado em
paliada, tambm denominado letras chinesas, que tpico do gnero
Corynebacterium. Tal tipo de arranjo ocorre porque a parede celular desses
organismos dupla e no momento da diviso celular ocorre a ruptura de
apenas uma das camadas, deixando as clulas unidas pela camada de
parede que no se rompeu. Os bacilos podem ainda apresentar-se como
pequenas vrgulas (Vibrio cholerae) ou em forma de meia lua
(Selenomonas).
Microscopia ptica, corada
pelo mtodo de Gram, de bacilos
arranjados dois a dois (diplobacilos).
Microscopia eletrnica de
transmisso, de um bacilo em
processo de diviso celular.
Espiralados: Sua nomenclatura bastante controvertida ainda. Um tipo de
classificao divide os espiralados em dois grupos, osespiroquetas, que
apresentam uma forma de espiral flexvel, possuindo flagelos
periplasmticos. O outro grupo so os espirilos, que exibem geralmente
morfologia de espiral incompleta e rgidos.
Geralmente os espiralados so microrganismos bastante afilados, de difcil
observao por microscopia de campo claro, sendo muitas vezes analisados
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por meio da microscopia de campo escuro, ou de tcnicas de colorao
empregando a impregnao por sais de prata.
Microscopia ptica de
fluorescncia, de um organismo
espiralado.
Microscopia ptica,
utilizando um procedimento de
impregano com sais de prata,
revelando a bactria causadora
da sfilis, Treponemapallidum
(observe os grandes neutrfilosprximos s bactrias)
Micrografias eletrnicas colorizadas de diferentes bactrias. No sentido horrio: Enterococcus(cocos
ovalados), Francisella(bacilos pequenos, com a regio central abaulada), Fusobacterium(longos
bacilos, geralmente com extremidades mais afiladas) e Neisseriagonorrhoeae(diplococos em forma de
rins).
(Fotos obtidas de sites da internet)
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H ainda formas intermedirias como os cocobacilos; formas
pleomrficas (quando o microrganismo no tem uma morfologia padro), tal
como Mycoplasma; ou ainda formas de involuo, originadas quando o meio
encontra-se desfavorvel ao desenvolvimento. Nesses casos, como o
organismo deixa de realizar os processos metablicos (nutrio e divisocelular) adequadamente, este sofre alteraes morfolgicas.
H tambm bactrias apresentando apndices, tais como extenses
celulares na forma de longos tubos ou hastes (prostecas) (Rhodomicrobium
vannielii). Alm destas bactrias, estudos vm revelando a ocorrncia de
bactrias com formas bastante peculiares, tais como clulas estreladas ou
retangulares.
bactria com morfologia
retangular
bactria com morfologiasemelhante a uma estrela
(Adaptado de Tortora et al., Microbiologia, 1998)
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Bactria pedunculada
(Adaptado de Madigan et al., Brock Biology of Microorganisms, 2003)
Ultraestrutra Bacteriana
A ultraestrutura bacteriana comeou a ser estudada em maiores
detalhes nas dcadas de 50 e 60, a partir do melhoramento das tcnicas de
microscopia eletrnica. Os procedimentos adotados incluam a lise celular,
seguida de centrifugao para promover a separao dos vrios
componentes subcelulares, que podiam agora ser purificados e analisados
bioquimicamente.
Parede Celular -Estrutura presente na maioria das bactrias conhecidas,
exceto em micoplasmas e algumas Archaea, que no a possuem.
Corresponde a uma das estruturas mais importantes nas clulas bacterianas,
estando localizada na poro mais externa, acima da membrana
citoplasmtica. Devido sua grande rigidez, a parede celular responsvel
pela manuteno da forma do microrganismo. Como o ambiente intracelular bastante concentrado em relao ao meio externo, (variando de 2 a at 10
atm), a parede atua como uma barreira fsica rgida, que mantm a forma
celular, impedindo que a clula estoure em decorrncia do grande turgor.
Alm disso, a parede celular atua como uma barreira de proteo contra
determinados agentes fsicos e qumicos externos, tais como o choque
osmtico. A parede pode ainda desempenhar importante papel em
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microrganismos patognicos, em decorrncia de presena de componentes
que favorecem sua patogenicidade, tais como antgenos ou molculas
envolvidas no reconhecimento celular.
Em 1884, Christian Gram desenvolveu um mtodo de colorao de
bactrias que permitia sua separao em dois grupos distintos, as Gram
positivas (que coravam-se em roxo) e as Gram negativas (que coravam-se
em vermelho). A partir do advento da microscopia eletrnica e do
aperfeioamento das tcnicas de anlise bioqumica dos diferentes
componentes celulares, foi verificado que esta diferena entre as bactrias
Gram positivas e Gram negativas era, provavelmente, devida s diferenas
de composio e estrutura das paredes celulares.
Assim, quando observadas sob microscopia eletrnica de transmisso, asbactrias Gram positivas apresentam uma parede celular espessa (de 20 a
80 nm), de aspecto homogneo, enquanto as clulas Gram negativas
exibem uma parede mais delgada (de 9 a 20 nm) e de aspecto bastante
complexo, aparentemente apresentando mais de uma camada. A
microscopia eletrnica de varredura revelou outras diferenas entre estes
dois grupos de organismos. As Gram positivas exibiam a superfcie mais lisa
e homognea, enquanto as Gram negativas apresentavam-se com maior
complexidade superficial.
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Aspecto das paredes celulares de organismos Gram positivos e negativos
(Adaptado de Madigan et al., Brock Biology of Microorganisms, 2003)
Composio da parede celular
Peptideoglicano (murena ou mucopeptdeo): Composto
exclusivamente encontrado no domnio Bacteria, sendo o responsvel pela
rigidez da parede celular. O peptideoglicano corresponde a um enorme
polmero complexo que, em bactrias Gram positivas pode formar at 20
camadas, enquanto em clulas Gram negativas est presente, formando
apenas uma ou duas camadas.
O peptideoglicano corresponde a um esqueleto, formado por dois
derivados de acares, a N-acetilglicosamina (NAG) e o cido N-
acetilmurmico (NAM), unidos alternadamente, atravs de ligaes do tipo
-1,4. O grupo carboxil de cada molcula de NAM liga-se a um
tetrapeptdeo, composto por aminocidos que alternam-se nas configuraes
L e D. Destes aminocidos, o D-glutamato, D-alanina e o cido meso-
diaminopimlico no so encontrados em qualquer outra protena conhecida.
Acredita-se que sua presena confira maior resistncia da parede contra a
maioria das peptidases.
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Assim, em cada resduo de NAM h um tetrapeptdeo associado. A enorme
rigidez da da parede celular resultante das ligaes entre os tetrapeptdeos
de cadeias adjacentes. Neste aspecto, h uma grande diferena entre as
bactrias Gram positivas e negativas. Nas bactrias Gram negativas (Ala-
Glu-DAP-Ala), a ligao entre os tetrapepdeos direta, ocorrendo entre ogrupamento amino do DAP subterminal (posio 3) e o grupamento carboxi
da D-Ala terminal (posio 4). J nas Gram positivas (Ala-Glu-Lys-Ala), a
ligao indireta, sendo mediada por uma ponte interpeptdica de natureza
varivel (cinco glicinas em S. aureus). A anlise das figuras abaixo deixa
clara a grande estruturao do peptdeoglicano, em virtude das inmeras
ligaes cruzadas existentes ao longo da molcula. Assim, devido a esta
complexa estruturao fsica, o peptideoglicano confere rigidez parede,
embora exiba certo grau de elasticidade e tambm porosidade.
peptideoglicano de clulas Gram
positivas
peptideoglicano de clulas Gram
negativas
Nas bactrias Gram positivas, cerca de 90% da parede celular
composta pelo peptdeoglicano, que geralmente forma cerca de 20 camadas.
O restante da parede composto essencialmente por cido teicico. Nas
bactrias Gram negativas, apenas cerca de 10% da parede corresponde ao
peptideoglicano, existindo geralmente como uma camada nica ou dupla. Os
demais componentes da parede celular de bactrias Gram negativas sero
analisados posteriormente.
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Esquema ilustrando o espesso peptideoglicano de bactrias Gram positivas
(Adaptado de Madigan et al., Brock Biology of Microorganisms, 2003)
cidos Teicicos: Juntamente com peptideoglicano, os cidos teicicos
compem a parede celular das bactrias Gram positivas. Estes compostos,
presentes em grandes quantidades, correspondem a polmeros de glicerol ou
ribitol ligados a acares ou aminocidos e conectados entre si por meio de
grupamentos fosfato.
Os cidos teicicos associam-se ao peptideoglicano pela ligao do
grupamento 6 hidroxil do cido N-acetilmurmico, podendo alternativamente
associar-se aos lipdeos da membrana citoplasmtica, quando passam a ser
denominados de cidos lipoteicicos. Devido sua carga negativa, os cidos
teicicos contribuem com o carter negativo da superfcie celular de Gram
positivas. Seu papel fisiolgico ainda desconhecido, mas especula-se que
estes possam participar nos processos de passagem de ons pela parede, ou
ligar-se a prtons, mantendo um pH celular relativamente baixo.
Em casos de escassez de fosfato, os cidos teicicos podem ser substitudos
por cidos teicurnicos, deixando assim os fosfatos livres para comporemATP ou DNA, por exemplo.
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Frmula de um cido teicico, contendo ribitol
(Adaptado de Madigan et al., Brock Biology of Microorganisms, 2003)
O componente adicional da Parede Celular de Gram
negativos
Membrana Externa:Esta, embora denominada "membrana"externa um
componente da parede celular, presente apenas nas bactrias Gram
negativas. A membrana externa corresponde a uma segunda bicamada
lipdica (semelhante membrana plasmtica), localizada acima do
peptideoglicano, contendo fosfolipdeos, lipoprotenas, protenas e tambm
lipopolissacardeos. Quando comparada membrana citoplasmtica, a
membrana externa exibe maior permeabilidade a pequenas molculas, tais
como glicose ou outros monossacardeos.
Sua face interna geralmente rica em pequenas lipoprotenas (7,2 kDa),denominadas lipoprotenas de Braun, que ligam-se covalentemente ao
peptideoglicano, ancorando firmemente a membrana externa camada de
peptideoglicano.
Estudos indicam que a membrana externa e a membrana citoplasmtica
mantm contato em algumas discretas regies celulares, denominadas stios
de adeso. Acredita-se que estas regies de juno podem conferir maior
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rigidez parede celular das bactria Gram negativas, alm de fixar melhor a
membrana externa, no deixando-a frouxa, associada somente ao
peptideoglicano. Os stio de adeso foram tambm denominados junes de
Bayer e acredita-se que possam ser importantes locais de passagem de
compostos citoplasmticos, seja componentes envolvidos na sntese damembrana externa ou diferentes nutrientes.
Esquema da parede celular de organismos Gram negativos
(Adaptado de Madigan et al., Brock Biology of Microorganisms, 2003)
A face externa da membrana externa rica em lipopolissacardeos
(LPS), inexistentes na membrana citoplasmtica. Estes componentes so
tambm denominados de endotoxina, uma vez que provocam febre, choque
e eventualmente morte, quando injetados em animais. O LPS uma
molcula complexa, composta por 3 regies distintas: lipdeo A,
polissacardeo central e cadeia polissacardica lateral O, ou Antgeno O.
Esquema do lipopolissacardeo, encontrado na face externa da membrana
externa
(Adaptado de Madigan et al., Brock Biology of Microorganisms, 2003)
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O lipdeo A corresponde poro mais interna da molcula, ancorando o LPS
poro hidrofbica da membrana externa. Este componente corresponde
poro txica do LPS e geralmente composto por cido esterico,
palmtico, mirstico, lurico ou caprico. Estes cidos graxos esto ligados aum dissacardeo de NAcGlicosamina-P. A poro polissacardica localiza-se
acima do lipdeo A, em direo ao exterior, sendo composta por duas
regies, o polissacardeo central e polissacardeo O, que mais externo, de
natureza repetitiva. Em Salmonella, o cerne composto por 10 acares
pouco usuais. Conectado ao cerne, h o Ag O, que geralmente composto
por 3 a 5 acares bastante peculiares e variveis. A natureza destes
acares pode ser modificada pelos microrganismos, resultando em um
mecanismo de evaso do sistema imune. O LPS tambm confere carga
nagativa superfcie celular.
O LPS se associa a protenas, formando a face externa da unidade de
membrana.
A membrana externa apresenta um grupo especializado de protenas,
denominadas genericamente de porinas, que atuam como canais para a
passagem de pequenas molculas hidroflicas, participando assim do
processo de nutrio. As porinas podem ser especficas, contendo stios deligao para 1 ou mais substratos, ou inespecficas, compondo canais
aquosos.
A maioria das porinas correspondem a protenas transmembrnicas, com 3
subunidades idnticas, que formam orifcios de cerca de 1 nm, sendo que,
aparentemente, possuem mecanismos para a abertura e fechamento. Para
algumas substncias, a membrana externa mais restritiva.
Compostos que afetam a Integridade da Parede Celular
Ao da Lisozima na PC:Esta enzima, sintetizada por alguns organismos e
por glndulas endcrinas do homem, age clivando as ligaes do tipo -1,4,
presentes no peptideoglicano. Nas clulas Gram positivas, o tratamento com
lisozima origina protoplastos (clulas sem parede celular), enquanto nas
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Gram negativas, a lisozima origina esferoplastos(clulas com resqucios de
parede celular).
Ao da penicilina na PC: Este antibitico impede a ligao dos
tetrapeptdeos. A droga se liga irreversivelmente s PBPs, que so protenasenvolvidas no processo de biossntese do peptideoglicano. Paralelamente, as
autolisinas, que atuam em conjunto com a maquinaria de biossntese,
passam a degradar pores do peptideoglicano. Como a sntese est
bloqueada, o resultado lquido a formao de uma parede defeituosa.
A Camada S
Algumas bactrias e vrias Archaea apresentam uma camada de natureza
protica ou glicoprotica estruturada (como um piso de tacos), denominada
camada S. Esta camada, as bactrias, encontra-se acima da parede celular e
at o momento, suas funes no se encontram totalmente esclarecidas.
Acredita-se que esta camada proteja a clula contra flutuaes osmticas,
de pH e ons, alm de auxiliar na manuteno da rigidez da parede. Alguns
autores especulam que a camada S pode mediar a ligao dos orgnaismos a
superfcies.
Microscopia eletrnica de uma clula contendo a camada S.
(Adaptado de Prescott et al., 2002)
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Morfologia e ultraestrutura bacterianas(Parte 2)
Cpsula, Glicoclix e camada limosa - A cpsula pode ser
definida como uma camada externa parede celular, geralmente
apresentando-se como um material viscoso, fortemente associado
superfcie celular, geralmente de natureza polissacardica e raramente
protica. Por outro lado, o termo camada limosa algumas vezes definido
como uma uma zona difusa, contendo material pouco organizado, sendo
facilmente removida.A presena da cpsula normalmente confere vantagens s bactrias, pois
suas principais funes incluem: ligao s clulas do hospedeiro, fator de
virulncia por dificultar a fagocitose e tambm a proteo, seja aumentando
a resistncia ao dessecamento, uma vez que armazena grandes quantidades
de gua, fonte de nutrientes e proteo contra a infeco por bacterifagos,
ou interao com anticorpos.
Em odontologia, a presena da cpsula pode ser considerada como um
importante fator de virulncia para o principal agente cariognico - S.
mutans, que sintetiza um cpsula composta por um homopolissacardeo
denominado glucano (produto da degradao da sacarose em glicose e
frutose). Tal polmero adere-se firmemente parede celular do
microrganismo e permite sua aderncia ao esmalte, favorecendo sua
colonizao.
Outros microrganismos apresentam cpsula de natureza heteropolimrica -
S. pneumoniae. Eventualmente, a cpsula pode ser de naturezapolipeptdica, como em B. anthracis(cido glutmico, na forma D).
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Micrografia ptica, empregando a
tcnica de colorao negativa,
revelando clulas capsuladas.
(Adaptado de Tortora et al., Microbiologia, 1998)
Micrografia eletrnica de
transmisso, revelando a delgada
cpsula circudando a clula
(Adaptado de "An eletctronic companion to microbiology")
Fmbrias e Pili - Muitas bactrias Gram negativas apresentam
apndices finos (3 a 10 nm), retos e curtos, denominados fmbrias.
Geralmente estas so bastante numerosas, podendo atingir nmeros de
1000 ou mais por clula. Como so muito pequenas e delgadas, somente
podem ser visualizadas pela microscopia eletrnica. As fmbrias s o de
natureza protica, compostas por subunidades repetitivas de uma protena
denominada genericamente de pilina. As fmbrias possuem, geralmente em
sua extremidade, e algumas vezes ao longo da estrutura, protenas
distintas, denominadas adesinas, as quais mediam a adeso especfica da
clula bacteriana a diferentes substratos.
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Micrografia eletrnica de
varredura de bacilos apresentando
fmbrias
Esquema ilustrando a organizao
estrutural de uma fmbria, assinalando a
presena de molculas do tipo adesina,
situadas na extremidade da estrutura
(Adaptado de An Electronic Companion to Microbiology)
Muitas bactrias podem ainda apresentar outro tipo de apndice,
denominado pilus F ou fmbria sexual, o qual exibe semlhanas estruturais
com as fmbrias. No entanto, este tipo de fmbra normalmente encontrado
em um menor nmero nas clulas, variando de 1 a 10. O pilus F
corresponde a uma estrutura bastante longa e menos rgida que as fmbrias
convencionais, estando envolvido no reconhecimento de outras bactrias,
em um processo de transferncia de genes denominado conjugao.
Micrografia eletrnica colorizada, revelando a longa fmbria sexual (pilus F).
Observar tambm a presena de fmbrias.
Atualmente, diferentes tipos diferentes de fmbrias vm sendo
descritos, sendo vrios destes associados adeso, ou virulncia.
Bactrias Gram positivas podem, muitas vezes, apresentar estruturas
fibrilares (diferentes de fmbrias) em sua superfcie, provavelmente tambm
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envolvidas nos processos de adeso a substratos.
Flagelos - Estruturas longas, delgadas e relativamente rgidas,
apresentando cerca de 20 nm de espessura e 15 a 20 m de comprimento,
responsveis pela locomoo das bactrias. Devido sua pequena
espessura, os flagelos somente podem ser visualizados por meio de
coloraes especficas, microscopia de campo escuro, ou por icroscopia
eletrnica.
De acordo com o nmero e distribuio dos flagelos, as bactrias podem ser
classificadas como: atrquias (sem flagelos), monotrquias (um nico
flagelo), anfitrquias (um flagelo em cada extremidade) , lofotrquias (um
tufo de flagelos em uma, ou ambas as extremidades) e peritrquias(apresentando flagelos ao longo de todo o corpo bacteriano).
Bactria monotrquia
(Adaptado de Atlas, 1997 - Principles of
Microbiology)
Bactria anfitrquia
(Adaptado de Tortora et al., 1998 - Microbiology)
Bactria lofotrquia(Adaptado de Tortora et al., 1998 -
Microbiology)
Bactria lofotrquia
(Adaptado de Atlas, 1997 - Principles of
Microbiology)
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Bactria peritrquia
(Adaptado de Tortora et al., 1998 -
Microbiology)
Bactria peritrquia
(Adaptado de Tortora et al., 1998 - Microbiology)
Estrutura - Estruturalmente, o flagelo pode ser subdivido em 3 regies:
filamento, corpo basal e gancho, sendo estas duas ltimas importantes para
a insero e movimento do filamento. O filamento dos flagelos apresenta
estrutura helicoidal, com comprimento de onda constante para cada espcie.
Este corresponde a um cilindro longo e oco, composto por unidades
repetitivas de uma protena denominada genericamente de flagelina, que
pode variar de 30 a 60 kDa, dependendo do microrganismo. Sua
extremidade distal revestida por uma protena seladora. Algumas bactrias
apresentam bainhas de diferentes naturezas revestindo o filamento, tal
como em Vibrio cholerae, ou Bdellovibrio. O gancho apresenta maior
espessura que o filamento, sendo composto por diferentes subunidadesproticas. O corpo basal corresponde poro mais complexa do flagelo,
apresentando 4 anis ligados a um basto central em bactrias Gram
negativas, enquanto em Gram positivas so observados apenas 2 anis. Os
anis externos L e P associam-se ao LPS e peptidioglicano, respectivamente,
enquanto os anis S e M esto associados membrana citoplasmtica.
Esquema da estrutura dos flagelos bacterianos, em clulas
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Gram negativas ( esquerda) e Gram positivas ( direita)
(Adaptado de Prescott et al., Microbiology, 2000)
Detalhe ampliado da estrutura de um flagelo de clulas Gram negativas
(Adaptado de Madigan et al., Brock Biology of Microorganisms, 2003)
Sntese flagelar -Muitos genes esto envolvidos na sntese do flagelo e na
mobilidade celular. Em E. coli e Salmonella foram identificados mais de 40
genes (fla), que codificam protenas estruturais, de exportao de
componentes para o exterior e de regulao de muitos eventos bioqumicos
envolvidos na sntese de novos flagelos. A sntese de flagelos fortemente
regulada, tanto por fatores metablicos como por sinais emitidos durante adiviso celular. Acredita-se que as subunidades de flagelina sejam
transportadas ao longo do filamento e se autoarranjam espontaneamente,
quando atingem a ponta.
Movimentao - A movimentao dos flagelos ocorre atravs de um
mecanismo de rotao do filamento, em velocidades que podem atingir at
270 ou 1100 rps, o que permite uma locomoo de at 100 m/segundo,
correspondendo a 100 vezes o seu comprimento/minuto. Os flagelosatuariam de maneira anloga a propulsores de um barco, sendo o sentido da
rotao importante para o tipo de movimentao resultante. Em muitas
clulas monotrquias, a rotao no sentido anti-horrio promove a
movimentao para frente, enquanto a rotao no sentido horrio faz com
que a clula se locomova no sentido oposto.
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Em outras monotrquias, quando o flagelo gira no sentido horrio promove a
locomoo.
Tipos de movimentao de clulas monotrquias
(Adaptado de Madigan et al., Brock Biology of Microorganisms, 2003)
No caso de bactrias peritrquias, quando os flagelos giram no sentido anti-
horrio as clulas se movem para frente. Estes dobram seus ganchos e seus
filamentos se agrupam, formando um feixe, que gira e propele a clula.
Quando a rotao ocorre no sentido horrio, os flagelos se separam e a
bactria passa a vibrar somente, at que os flagelos voltem a girar no
sentido anti-horrio, impulsionando novamente a clula para frente.
Para que haja a movimentao, o basto localizado entre o gancho e o anel
M tem a capacidade de rodar livremente na membrana citoplasmtica.
Acredita-se que o anel S esteja fixo na parede celular, sem a possibilidade
de rodar. Os anis P e L sustentariam o basto. H evidncias que o corpo
basal atuaria como uma estrutura passiva que giraria no interior de um
complexo proteco inserido na membrana, semelhante a um rotor de um
motor eltrico, que gira no centro de um anel de eletromagnetos (estator). A
energia necessria para a rotao provida pela fora prton motiva. Adissipao do gradiente de prtons cria uma fora que gira o flagelo no
sentido anti-horrio, impelindo o microrganismo. O rotor seria composto
pelo basto central, pelo anel M e por um anel C, ligado ao M atravs da
membrana citoplasmtica. Estes anis so formados por vrias protenas,
sendo a FliG bastante importante. No estator, temos as protenas MotA e
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MotB, que formam um canal de prtons, sendo que MotB tambm ancora o
complexo ao peptideoglicano.
Esquema ilustrando a movimentao de bactrias peritrquias
(Adaptado de Tortora et al., 1998 - Microbiology)
Flagelos periplasmticos - Estes flagelos so encontrados apenas nos
espiroquetas (sendo muitas vezes denominados de filamentos axiais). Como
o prrpio nome indica, estes flagelos situam-se no periplasma, localizando-
se abaixo da membrana externa destas bactrias. Os flagelosperiplasmticos originam-se a partir dos polos celulares, voltando-se em
direo ao centro da clula, envolvendo a membrana citoplasmtica do
corpo bacteriano.
Micrografia
eletrnica colorizada, revelando os
flagelos periplasmticos (amarelo)
(Adaptado de Tortora et al., 1998 -
Microbiology)
Micrografia eletrnica revelando o flagelo
periplasmtico, situado abaixo da membrana
externa
(Adaptado de An Electronic Companion to
Microbiology)
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Movimentao por meio de deslizamento
Muitos procariotos so mveis, apesar de no possurem flagelos. Estas
bactrias so capazes de se movimentar sobre superfcies slidas, por um
processo denominado deslizamento. A motilidade por deslizamento
apresentada por vrios membros de Bacteria, sendo, no entanto, estudada
somente em alguns poucos grupos. O movimento deslizante
consideravelmente mais lento 10 m/seg para algumas bactrias, quando
comparado s velocidades atingidas pelo movimento flagelar mas, da
mesma forma, permite a locomoo das bactrias em seus habitats.
Mecanismos da Motilidade Por Deslizamento
Embora at o momento nenhum mecanismo de deslizamento tenha sido
comprovado, existem alguns modelos definindo o processo, alm de
evidncias sugerindo a existncia de mais de um tipo de mecanismo. Em
cianobactrias, medida que as clulas deslizam, secretam um
polissacardeo limoso em sua superfcie externa. Aparentemente, este
polissacardeo estabelece o contato entre a superfcie celular e a superfcie
slida, contra a qual a clula desliza. medida que o polissacardeo limoso
excretado se adere superfcie, a clula gradativamente puxada. Esta
hiptese sustentada pela observao de poros excretores de compostos
limosos na superfcie de vrias cianobactrias filamentosas.
Em Flavobacterium johnsoniae, provavelmente o mecanismo de
deslizamento envolve a movimentao de protenas na superfcie celular. De
acordo com este modelo, protenas especficas de motilidade, ancoradas nas
membranas citoplasmtica e externa, parecem propelir a clula para frente
por um mecanismo de cremalheira contnua. Ao que parece, o movimento
das protenas da membrana citoplasmtica promovido pela liberao de
energia oriunda da fora prton motiva que, de alguma maneira, transmite
esta energia s protenas da membrana externa, localizadas ao longo de
uma pista de corrida na superfcie celular. Acredita-se que o movimento
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das protenas da pista de corrida contra uma superfcie slida, literalmente
empurre a clula para frente.
Assim como as outras formas de motilidade, o deslizamento apresenta
grande relevncia ecolgica. Este movimento permite que a clula explore
novos recursos, ou interaja com outras clulas, de maneira benfica.
Esquema proposto para a movimentao deslizante de Flavobacterium(Adaptado de Madigan et al., Brock Biology of Microorganisms, 2003)
Morfologia e ultraestrutura bacterianas(Parte 3)
Periplasma (gel periplasmtico) - Corresponde a um espao situado entre a
membrana externa e membrana citoplasmtica, encontrado em clulas Gram negativas.
Embora questionveis, relatos espordicos descrevem a existncia de um espao observado
entre o peptideoglicano e a membrana citoplasmtica de organismos Gram positivos. O
periplasma apresenta consistncia de gel, provavelmente devido ao grande nmero de
protenas presentes nesta regio. Em virtude disto, este "espao" passou a ser denominado gel
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periplasmtico. O periplasma pode atingir de 1 a cerca de 70 nm de espessura,
correspondendo a at 40% do volume total da clula.
Em Gram negativas, tem grande importncia, pois vrias enzimas e outras protenas
esto localizadas, incluindo hidrolases, protenas de ligao envolvidas no transporte e
quimiorreceptores. Bactrias quimiolitotrficas e denitrifcantes apresentam muitas vezesprotenas transportadoras de eltrons no periplasma, outras apresentam enzimas envolvidas na
sntese de peptideoglicano. A presena do periplasma bactrias Gram positivas ainda motivo
de controvrsias, devido ao enorme potencial secretor que este grupo apresenta.
Membrana Citoplasmtica -Estrutura delgada, com cerca de 8 nm, composta por uma
bicamada fosfolipdica (podendo apresentar 7 tipos de fosfolipdeos diferentes), entremeada de
protenas (cerca de 200 tipos distintos), atuando como importante barreira osmtica, altamente
seletiva. Normalmente, as membranas de organismos procariotos apresentam maiores
concentraes de protenas que as membranas eucariticas, tendo em vista a ausncia deorganelas citoplasmticas nas bactrias.
A bicamada fosfolipdica composta por glicerol ligado a duas cadeias de cidos
graxos, atravs de ligaes do tipo ster, com protenas entremeadas. Tanto as protenas
como os fosfolipdeos podem mover-se lateralmente ao longo da membrana. Esta
estabilizada principalmente por interaes hidrofbicas e por pontes de H.
Paralelamente, os ons Ca+2e Mg+2tambm participam, interagindo ionicamente com as
cargas negativas dos fosfolipdeos.Via de regra, os fosfolipdeos bacterianos contm cidos graxos com cadeias no ramificadas
de 16 a 18 tomos de carbono. Esta composio pode ser varivel, de acordo com as
condies ambientais. Assim, quando cultivadas em temperaturas baixas, h um aumento da
proporo de cidos graxos insaturados, aumentando consequentemente a fluidez da
membrana. Por outro lado, aumetando o grau de saturao, as cadeias tornam-se mais rgidas,
pois as molculas tm maior capacidade de associao.
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Esquema da membrana citoplasmtica bacteriana
(Adaptado de Madigan et al., Brock Biology of Microorganisms, 2003)
Via de regra, exceto no caso dos micoplasma (bactrias desprovidas de parede celular),
micoplasmas, as membranas procariticas no apresentam esteris, como observado em
eucariotos. Entretanto, muitas bactrias apresentam molculas pentacclicas, semelhantes a
esteris, denominadas hopanides, talvez conferindo maior rigidez membrana. A presena deesteris na membrana citplasmtica de micoplasmas pode ser justificada pela ausncia da
parece celular, neste grupo de organismos.
Similaridade estrutural entre os esteris (a), colesterol (b) e hopanides (c)
(Adaptado de Madigan et al., Brock Biology of Microorganisms, 2003)
Mesossomos - correpondem a extensas invaginaes da membrana citoplasmtica,
em forma de vesculas, lamelas ou tbulos. Geralmente so encontrados com maior
abundncia em Gram positivos, mas tambm presentes em Gram negativos. At hoje, sua
existncia e funes so ainda debatidas pelos pesquisadores. Diversas funes tm sido
atribudas aos mesossomos, tais como a participao na segregao dos cromossomos
durante a diviso, papel respiratrio, papel na esporulao, ou at mesmo como sendo um
mero artefato decorrente dos procedimentos utilizados para a preparao microscpica dos
espcimes. A partir do acahado de extensos mesossomos em bactrias de grandes
dimenses, acredita-se que sua principal funo seja de aumentar a superfcie da membrana,
aumentando assim o contedo enzimtico das clulas.
Matriz Citoplasmtica - composta por cerca de 70% de gua, alm dos demais
compostos celulares, tais como o DNA, incluses e plasmdeos. Caracteristicamente, o
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citoplasma celular apresenta um grande concentrao de ribossomos e protenas, tais como
protenas atuando como um sistema de citoesqueleto.
Nucleide e plasmdeos- Os procariotos so organismoshaplides, geralmente
apresentando apenas 1 nico cromossomo no envolto por carioteca. Eventualmente, algumas
bactrias podem apresentar 2 ou 3 cromossomos. O cromossomo bacteriano normalmentecirucular e encontra-se bastante enovelado, em uma regio celular denominada nucleide. Em
bactrias, o cromossomo no apresenta-se associado a histonas, sendo estabilizado por outras
protenas de natureza bsica. Geralmente o DNA cromossomal corresponde a uma molcula
bastante grande, podendo ser 1000 vezes maior que a prpria clula. Em E. coli, o DNA possui
cerca de 4,7 Mb, exibindo aproximadamente 1 mm de comprimento, quando linearizado.
(Adaptado de An Electronic Companion to
Microbiology)
Vrias bactrias apresentam tambm molculas de DNA extracromossomal,
denominadas plasmdeos, as quais so geralmente circulares, contendo muitas vezes genes
que conferem caractersticas adaptativas vantajosas ao microrganismo. Seu nmero e
dimenses so bastante variveis.
Corpsculos de incluso -So grnulos de armazenagem, de diferentes naturezas,
sendo geralmente utilizados como fonte de material de reserva ou energia, muitas vezesinsolveis. Estes podem apresentar-se sem qualquer envoltrio ou envoltos por uma nica
camada lipdica delgada (diferente de uma membrana), ou por protenas.
Dentre os compostos orgnicos armazenados temos o glicognio, o amido e
poliidroxibutirato. J dentre os inorgnicos temos polifosfatos (volutina ou metacromticos) e
enxofre.
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Grnulos de poliidroxibutirato
(Adaptado de Madigan et al., Brock Biology of Microorganisms, 2003)
Os magnetossomos so partculas intracelulares de magnetita (Fe3O4), que originam um
dipolo magntico na clula, que pode responder aos campos geomagnticos. Estes foram
descritos em algumas bactrias aquticas e algas. Outras bactrias aquticas apresentam
vesculas de gs, que conferem mobilidade nas diferentes camadas de gua. So estruturas
em forma de fuso, ocas, compostas por protenas, tendo tamanhos variveis (30 - 300 nm de
dimetro e at 1000 nm de comprimento). Consistem de um orifcio oco envolto por uma
membrana (armao) protica extremamente delgada (2 nm). Nesta membrana encontram-se
por 2 tipos de protenas que originam uma estrutura rgida, impermevel agua e permevel a
gases. A protena predominante tem cerca de 7.5 kDa, contendo 50% de resduos de
aminocidos hidrofbicos (Ala, Val, Leu, Ile), provavelmente voltados para o interior dapartcula, evitando a entrada de gua.
Clulas apresentandomagnetossomos em seu interior(corpsculos negros enfileirados)
(Adaptado de Prescott et al., Microbiology, 2000)
Preparao de magnetossomos(Adaptado de Prescott et al., Microbiology,
2000)
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Bactrias se movendo em direo aum campo magntico
(Adaptado de Prescott et al., Microbiology, 2000)
Esquema de uma vescula de ar,indicando como as protenas que a
formam se associam(Adaptado de Madigan et al., Brock Biology of
Microorganisms, 2003)
Domnio Archaea
Consideraes Gerais
Por volta da dcada de 70, vrios organismos procariticos foram isolados a partir de
uma srie de ambientes considerados extremamente inspitos, quase que incompatveis com a
presena de seres vivos. Estes ambientes naturais caracterizavam-se por apresentar
temperaturas bastante elevadas (prximas a 100C), extrema acidez (pH prximo a 2), altas
salinidades (cerca de 10 a 15%) e, muitas vezes, ausncia completa de oxignio. Como vrias
destas caractersticas correspondiam s possveis condies encontradas na Terra primitiva,
os pesquisadores acreditavam que os organismos procariticos presentes nestes ambientes
deveriam corresponder a clulas primitivas, talvez "fsseis vivos", representando as formas de
vida ancestrais das bactrias modernas. Por esta razo, estes organismos foram denominados
"arqueobactrias".
No entanto, a partir dos trabalhos de Carl Woese e colaboradores (h cerca de 25
anos), realizando estudos comparativos de sequncias de DNA que codificavam rRNA (16S e
23S) de diferentes organismos, foram definidos 3 grandes domnios compreendendo todos os
seres vivos. Assim, de acordo com a proposta de Woese, os seres vivos poderiam ser
agrupados em trs grandes domnios: Bacteria (anteriormente denominadas eubactrias),
Archaea(as "arqueobactrias") e Eucarya (Eucariotos). Estes trs domnios teriam derivado de
um hipottico ancestral comum de todas as clulas.
A anlise da rvore filogentica apresentada abaixo, revela como a denominao
"arqueobactrias" inadequada e quo obsoleta a idia de que as "arqueobactrias" seriam
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os ancestrais das bactrias atuais, pois estes organismos no correspondem aos ancestrais da
bactrias atualmente conhecidas.
rvore filogentica universal, apresentando os trs domnios da vida
(Adaptado de Madigan et al., 2003 - Brock Biology of Microorganisms)
Esta rvore revela claramente que as "arqueobactrias" no correspondem aos
ancestrais das bactrias atuais, visto que sua possvel origem ocorre quase que
concomitantemente origem das bactrias mais primitivas.
Outro aspecto que a rvore permite deduzir o fato das "arqueobactrias" ocuparem
uma posio intermediria entre os domnios Bacteria e Eucarya, sugerindo que estas
correspondem a um grupo de organismos diferentes de bactrias e de clulas eucariticas. De
fato, estudos genticos e fisiolgicos posteriormente revelaram que tais organismos
apresentam caractersticas de bactrias, de eucariotos, alm de caractersticas exclusivas, no
encontradas em qualquer outro domnio. Por esta razo, deixaram de ser denominadas
"arqueobactrias", recebendo a denominao archaea.
Uma questo ainda no elucidada refere-se ao porqu de encontrar-se um grande
variedade de archaeaextremfilas, habitanto ambientes de altas temperaturas, salinidade, ou
extremos de pH. Por outro lado, o acmulo de conhecimentos sobre este grupo vem mostrando
que as archaea podem ser encontradas nos mais diversos ecossistemas, desde ambientes
aquticos frios, sistema digestrio do homem e outros animais, em tecidos vegetais.
Certamente no absurdo cogitar que no futuro sejam descobertas archaeapatognicas ao
homem ou outros seres vivos.
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As caractersticas apresentadas por alguns dos membros deste domnio parecem refletir
as condies primitivas da Terra, quando tal domnio comeou a evoluir como um ramo
filogenticio distinto. Ao que parece, vrias archaeaconservaram mais do que as eubactrias
estas caractersticas fisiolgicas primitivas, o que seria responsvel pela distribuio atual no
planeta.
Assim, as archaeacompreendem um grupo heterogneo de microrganismos que podem
ser caracterizados, em sua maioria, como habitantes de ambientes inspitos, geralmente
crescendo em condies consideradas at ento como extremas e limtrofes para a vida.
Classificao das Archaea
Atualmente, considera-se que este domnio apresente trs filos: Crenarchaeota,
Euryarchaeota eKorarchaeota.
rvore filogentica do domnioArchaea
(Adaptado de Madigan et al., 2003 - Brock Biology of Microorganisms)
O filo Crenarchaeota, separa-se muito prximo da raiz da rvore universal, sendo
composto por organismos hipertermfilos (Thermoproteus, Pyrolobus e Pyrodictium),
compreendendo os organismos capazes de crescer nas maiores temperaturas conhecidas.
Estes hipertermfilos so, em sua maioria, quimiolitotrficos autotrficos, sendo entoclassificados como produtores primrios. Neste grupo h tambm organismos isolados (mas
ainda no cultivados em laboratrio) de ambientes frios, tais como guas ocenicas.
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Lagoa quente, rica em
enxofre, que convertido a cido
sulfrico, por espcies de archaea.
Sulfolobus, exemplo de uma archaea
do filo Crenarchaeota, habitante da lagoa
ilustrada acima.
(Adaptado de Madigan et al., 2003 - Brock Biology of Microorganisms)
O filo Euryarchaeota um grupo fisiologicamente diverso, sendo composto por dois grupos: 1)
as archaea metanognicas, que so anaerbias, (Methanococcus, Methanobacterium e
Methanosarcina), encontradas em ambientes de condies extremas, e 2) as haloflicas
extremas, que so aerbias (Halobacterium, Halococcus). As metanognicas compreendem os
organismos mais anaerbios conhecidos, ou seja, o oxignio mesmo em concentraes
baixssimas, exerce um efeito extremamente letal sobre estes organismos. Neste filo h ainda o
gnero Thermoplasma, composto por bactrias acidfilas, termoflicas, que no apresentam
parede celular. As haloflicas geralmente coram-se como Gram negativas, no apresentam
esporos e, em sua maioria, so imveis, geralmente apresentando grandes plasmdeos,
contendo cerca de 25 a 30% do DNA da clula. Dentre as metanognicas, encontra-se o
gnero Methanopyrus, que cresce em temperaturas de at 110C.
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Lago hipersalino no Egito,
rico em carbonato de sdio. O pH
destas guas encontra-se na faixa de
10, sendo habitado por archaea
halfilas extremas, tais como
Halobacterium salinarum. A colorao
vermelha decorrente da presena
de pigmentos carotenides, presentes
nestes organismos.
Thermoplasma, uma archaeadesprovida de parede celular.
Pilha de refugo da minerao de
carvo, que muitas vezes sofre auto-
combusto. Hbitat da archaea
Thermoplasma.
(Adaptado de Madigan et al., 2003 - Brock Biology of Microorganisms)
O filo Korarchaeota composto quase que somente por isolados identificados apenas a
partir do sequenciamento de 16S rRNA, sendo considerado um grupo de hipertermfilos. At o
momento, poucos espcimes de Korarchaeotaforam cultivados em laboratrio.
Pesquisas realizadas em uma fenda termal localizada no fundo do mar da Islndia, em
2002, levaram identificao de uma nova espcie de archaeaapresentando caractersticas
bastante distintas, quando comparada aos demais membros desse domnio. A espcie
Nanoarchaeum equitans diferencia-se das demais archaea por ser aparentemente muito
primitiva (ou modificada), sendo encontrada em associao com outra archaea (Igniococcus
sp.). Este organismo de morfologia arredondada bastante diminuto, apresentando cerca de
400 nm de dimetro e um pequeno genoma, de 0,5 Megabases. De acordo com seus
descobridores, as grandes diferenas apresentadas por Nanorachaeum em relao
seqncia de RNA ribossomal, sugerem que tal organismo seja classificado em um novo filo,
proposto como Nanoarchaeota.
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Micrografia de fluorescncia,
empregando um corante especfico
para DNA, revelando as clulas de
Igniococcus (maiores) e de
Nanoarchaeum equitans (menores).
No quadro direita, micrografia
eletrnica evidenciando a estreita
associao das duas archaea.
Boucher & Doolittle (2002) Nature, 417:27-28
(clique no autor, caso deseje ver o artigo original)
Micrografia de fluorescncia
empregando corantes especficos para os rRNAs
de Igniococcus (verde) e Nanoarchaeum
(vermelho)
Huber et al. (2002) Nature, 417:63-67.
(clique no autor, caso deseje ver o artigo original)
Estrutura celular das Archaea
Quanto morfologia, podem ser esfricas, bacilares, espiraladas, achatadas, quadradas,
discides e muitas vezes de morfologia irregular ou pleomrficas. Suas dimenses so
extremamente variveis, de 0,1 a 15 m, com alguns filamentosos atingindo 200 m.
As archaea apresentam vrias caractersticas especiais, que permitem seu
desenvolvimento em uma vasta gama de ambientes. Estas incluem alteraes de composio
de membrana, composio variada de paredes celulares, presena de protenas tipo histonas,
ntrons, mecanismos de splicing, entre outros.
Parede celular: Apresenta composio e estruturao extremamente variveis neste
grupo de microrganismos. Esta variabilidade sugere que o ancestral comum seria desprovido
de parede, sendo as diversas paredes resultantes de evoluo independente, de acordo com
os diferentes ambientes e grupos de archaea.
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Diferentes composies de parede celular presentes em archaea.
(Adaptado de Atlas, R.M. (1997) - Principles of microbiology)
Quando coradas pelo mtodo de Gram, algumas archaea comportam-se como Gram
positivas e outras como Gram negativas, embora suas paredes sejam completamente distintas
daquelas de eubactrias. Como observado na figura acima, suas paredes celulares
apresentam uma grande diversidade quanto composio qumica e, diferentemente das
eubactrias, no apresentam peptideoglicano. Alm disso, existem tambm outras archaeaque
no exibem parede celular (Thermoplasma).
O gnero Thermoplasma cresce bem em temperaturas de 55C e pH 2, em meios
complexos. Estes organismos apresentam a membrana citoplasmtica bastante diferente,
contendo compostos semelhantes a lipopolissacardeos, contendo ligaes tetrater. Um outro
gnero, filogeneticamente relacionado a Thermoplasma, Picrophilus, que cresce em pHs de
0,06 a 0,7.
Vrias archaeaexibem uma parede espessa, rgida, semelhante parede Gram positiva
(Methanobacterium, Methanopyrus, Halococcus), entretanto, os polmeros que compem a
estrutura podem ser: pseudopeptideoglicano ou metanocondroitina.
O pseudopeptideoglicano diferencia-se do peptideoglicano pela ocorrncia de cido
talosaminurnico em substituio ao murmico, pela ligao do tipo b-1,3 ao invs de b-1,4
entre os acares e pela ausncia de D-aminocidos nas pores peptdicas da molcula.
Nestas bactrias, a lisozima no exibe qualquer atividade de degradao da parede, uma vez
que seu stio de ao so as ligaes b-1,4. Da mesma forma, a penicilina ineficaz contra
estes organismos porque o mecanismo de sntese de parede distinto nas archaea.
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A metanocondroitina um polmero de 4 acares (galactosamina, cido glucornico,
N-acetil-galactosamina e glicose), muito semelhante ao tecido conectivo animal, composto por
sulfato de condroitina.
Aquelas archaea que coram-se como Gram negativas podem ter paredes compostas
por protenas, polissacardeos ou glicoprotenas. As paredes proticas podem variar entre si,podendo ser do tipo monocamada de natureza cristalina, ou policamadas, de protenas
tubulares. As glicoprotenas so tambm comuns, muitas vezes contendo grandes quantidades
de aminocidos carregados negativamente. As halobactrias so um exemplo do modelo
descrito acima, onde as cargas negativas da parede interagem com os ons Na +do ambiente,
estabilizando a parede.
O gnero Halococcus apresenta a parede celular composta por um
heteropolissacardeo altamente sulfatado, nunca observado em qualquer outro ser vivo.
Eventualmente, algumas archaeaexibem uma camada protica adicional ao redor da
parede celular, ou compondo a prpria parede, denominada camada S, em um estado
cristalizado.
Membrana Citoplasmtica: corresponde a uma estrutura nica, apresentando
composio qumica e arranjo totalmente diferentes das membranas citoplasmticas de quase
todas as bactrias e de todos eucariotos.
Membrana Bacteria Archaea Eucarya
Contedo protico alto alto baixo
Composio lipdica fosfolipdeos
Sulfolipdeos,
glicolipdeos,
hidrocarbonetos
ramificados, isoprenoides,
fosfolipdeos
Fosfolipdeos
Estrutura dos
lipdeoscadeia linear cadeia ramificada cadeia linear
Ligao dos lipdeosster ter (di e tetraeter) ster
As membranas de archaeageralmente apresentam um alto contedo protico e vrios lipdeos:
glicolipdeos, sulfolipdeos, fosfolipdeos (raros) e lipdeos apolares do tipo isopreno. A
presena de hidrocarbonetos ramificados aumenta a fluidez da membrana, uma vez que
dificultam a formao de estruturas cristalinas. Dentre os principais lipdeos esto aqueles do
tipo glicerol-ter-isopreno (hidrocarbonetos de 20, 25 ou 40 Carbonos).
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Uma caracterstica da poro lipdica da membrana o fato desta no ser composta por cidos
graxos convencionais. Em seu lugar encontram-se longas cadeias de hidrocarboneto
ramificadas. Os hidrocarbonetos ligam-se ao glicerol por ligaes do tipo ter (ao invs de
ster) e podem apresentar-se como bicamadas (como em todas as membranas) ou como
monocamadas. Quando formam bicamadas, denominam-se glicerol diter e quando originam
monocamadas, diglicerol tetrater.Quando h a monocamada, esta modula sua fluidez atravs da ciclizao de alguns elementos
da cadeia de hidrocarboneto, formando anis pentacclicos.
As protenas de membrana podem ser tambm bastante diferentes daquelas observadas em
outros tipos celulares.
Estrutura e composio da membrana presente em vrias archaea.
(Adaptado de Madigan et al., 2003 - Brock Biology of Microorganisms)
Cromossomo: bastante semelhante ao cromossomo das eubactrias, uma vez que
nico e, na maioria dos casos, circular. Por outro lado, sua organizao semelhante aos
eucariotos, uma vez que observam-se protenas (do tipo histona) associando-se ao DNA,
atuando na manuteno da estrutura do DNA, afetando tambm a expresso gnica. Foi
observado que em muitos hipertermfilos a associao das protenas ao DNA promove um
enovelamente do tipo positivo no DNA, enquanto em eucariotos, este negativo.
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Foi tambm relatada a presena de introns no cromossomo de Archaea, em genes de
RNA de hipertermfilos e halfilos, sendo processado atravs de endonucleases.
Transcrio: Em relao aos promotores, aparentemente sua estrutura tem maior
semelhana com promotores de eucariotos que de procariotos. A RNA polimerase mais
complexa que a de bactrias, podendo ser composta por 8 polipeptdeos em metanognicas ehaloflicas (enquanto em Bacteriaso 4). Nas hipertermfilas, podem existir 10 polipeptdeos
distintos (assemelhando-se RNA polimerase de eucariotos).
Ribossomos: So do tipo 70S, semelhantes aos de bactrias, entretanto, sua
composio protica bastante distinta, tornando-os resistentes aos antibiticos que afetam a
sntese protica bacteriana. A traduo tambm diferentes das Bacteria, assemelhando-se
mais aos Eucarya, sem a participao da formil-metionina no incio do processo. A toxina
diftrica, que inibe a traduo de clulas eucariticas tambm inibe o processo emArchaea.
Flagelos: Muitas archaea, inclusive aquelas sem parede celular, podem apresentar
flagelos. Estes diferem totalmente dos flagelos bacterianos, uma vez que no apresentam a
estruturao em corpo basal, gancho e filamento. Nas Archaea, o flagelo no apresenta os
anis observados nas bactrias e, geralmente, composto por vrios tipos de flagelina, que
exibe composio similar a vrias fmbrias. Ao que parece, o flagelo composto por flagelina,
que se organiza a partir da membrana citoplasmtica, projetando-se para o exterior da clula.
Metabolismo
As archaea apresentam uma enorme diversidade metablica. Muitas so
quimiorganotrficas, com metabolismo semelhante s demais clulas, outras so
quimiolitotrficas, utilizando o H2como doador de eltrons nas reaes de oxi-reduo.
Vrias archaeaso anaerbias e geralmente termfilas e suas vias para obteno de
energia geralmente envolvem
1) Reduo do CO2a metano ou converso do acetato a CO2e ento metano; sendo
incorporado pela via do Acetil-Coa
CO2+ 4H2k CH4+ 2H2O nas metanognicas
2) Reduo de SO4 a H2S;
SO42-+ H++ 4H2 k HS-+ 4H2O
3) Reduo de Enxfre elementar a H2S.
S + H2k HS-+ H+
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Assim, pode-se notar que muitas archaeaexibem metabolismo quimioautotrfico.
Ecologia de archaea
Embora inicialmente fossem consideradas organismos restritos a ambientes extremos,
muitas archaea vm sendo isoladas de ambientes favorveis aos demais organismos
procariticos e eucariticos. No entanto, dentre as vrias archaeadescritas at o momento, a
maioria encontrada em poucos ambientes especializados terrestres e aquticos, tais como
lagos extremamente salinos, ambientes estritamente anaerbios e/ou ambientes extremamente
quentes. At pouco tempo, a menor temperatura onde foi possvel se fazer o cultivo in vitro de
archaeaera de 30C.
Dados recentes indicam, por outro lado, que este grupo de microrganismos pode
tambm ser isolado de ambientes frios. Atualmente sabemos que estes organismos so
importantes membros da microbiota aqutica de regies frias do planeta. Ao que parece, asarchaea podem corresponder a at 34% da biomassa procaritica das guas costeiras
superficiais da Antrtida.
De maneira geral, e pelo fato da maioria das archaea conhecidas serem isoladas de
ambientes quentes, salinos e/ou anaerbios, este domnio didaticamente dividido em trs
grandes grupos: termoflicos, halfilose metanognicos.
No entanto, vale ressaltar mais uma vez que dados mais recentes comprvam a ampla
distribuio geogrfica e ecolgica desse grupo de organismos.
Termofilia: Sabe-se que vrias archaea tm temperatura tima superior a 80C e
temperatura mxima de crescimento acima de 100C (Pyrodictium brockiitem timo de 105C
e Pyrolobus fumariide 106C, embora cresa em at 113C). Ainda no se sabe at onde pode
ir esta faixa de temperatura.
Pyrolobus fumariifoi isolado de uma fenda no Oceano Atlntico, a uma profundidade de
3.650 metros, crescendo em uma faixa de temperatura de 90 a 113C, pH de 4 a 6.5 e
concentraes de NaCl variando de 1 a 4%. Experimentos realizados em laboratrio mostram
que culturas na fase exponencial de crescimento sobrevivem ao tratamento em autoclave
(121C) por 1 hora.
A termofilia requer adaptaes fisiolgicas especializadas, pois as protenas e cidos
nuclicos no podem ser desnaturados e a membrana deve manter-se funcional nestas
temperaturas.
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Curiosamente, a estrutura primria (seqncia de aminocidos) de vrias protenas de
Archaea no exibem diferenas significativas quando comparada a outros organismos.
Provavelmente, o principal fator para esta caracterstica seja o dobramento destas protenas.
Uma caracterstica das protenas de termoflicos refere-se substituio de aminocidos mais
flexveis por aqueles que conferem maior rigidez molcula. Alm disso, foi sugerido que as
protenas poderiam ser estabilizadas pela presena de altos teores de aminocidoshidrofbicos. As archaea termfilas tambm exibem um enorme nmero de chaperonas, que
garantem o dobramento correto das protenas nas temperaturas mais elevadas.
Em termos de genoma, observa-se muitas vezes valores maiores de G+C nas
hipertermfilas, estabilizando assim os cidos nuclicos. Entretanto, tal caracterstica no pode
ser considerada como regra. Muitas termoflicas apresentam altas concentrao de 2,3-
difosfoglicerato cclico, um composto que protege contra a depurinizao. Vrias outras
produzem uma DNA girase reversa, que enovela o DNA no sentido positivo, que mais estvel
que o negativo, o qual encontrado na maioria das outras clulas. Alm disso, muitas vezes
so encontradas protenas do tipo histona ou outras, que se