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FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA – FESP
DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO, PESQUISA E EXTENSÃO
ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO PENAL, PROCESSUAL PENAL E
SEGURANÇA PÚBLICA.
JAMESON SANTOS AMARAL
DA AUTORIDADE POLICIAL E A NECESSIDADE DA
APROVAÇÃO DO PL 07/2016 PARA CONCESSÃO DE
OFÍCIO DAS MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA
CABEDELO
2017
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JAMESON SANTOS AMARAL
DA AUTORIDADE POLICIAL E A NECESSIDADE DA
APROVAÇÃO DO PL 07/2016 PARA CONCESSÃO DE
OFÍCIO DAS MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA
Monografia apresentada ao Departamento de
Pós-graduação, Pesquisa e Extensão, como
parte dos requisitos exigidos para a obtenção do
título de Especialista em Direito Penal,
Processual Penal e Segurança Pública.
Orientador: Prof. Markus Samuel Leite Norat.
Área: Direito Penal, Processual Penal e
Segurança Pública.
CABEDELO
2017
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JAMESON SANTOS AMARAL
DA AUTORIDADE POLICIAL E A NECESSIDADE DA
APROVAÇÃO DO PL 07/2016 PARA CONCESSÃO DE
OFÍCIO DAS MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA
BANCA EXAMINADORA
________________________________________
Professor Dr. Markus Samuel Leite Norat
Orientador
________________________________________
Membro da Banca Examinadora
________________________________________
Membro da Banca Examinadora
Atribuição de nota: ______________________
Cabedelo, _____ / _______________ / ______
CABEDELO/PB
2017
6
Dedico este trabalho aos meus
pais, Erasto Amaral e Maria Santos, por
toda compreensão, amor, incentivo e,
principalmente, por acreditarem na
minha capacidade de crescimento.
À minha irmã e família, pelo
incentivo e carinho.
Aos meus amigos que sempre me
motivaram.
7
RESUMO
Este trabalho monográfico tem por objetivo o estudo da importância do Delegado de
Polícia para a persecução penal e, também, para a eficácia da Lei 11.340/06, que visa coibir a
violência doméstica e familiar contra as mulheres. O interesse de analisar o assunto surgiu
após a apresentação do PL 07/2016, no qual objetiva-se alterar a Lei 11.340/06,
acrescentando-se os artigos 10-A, 12-A e 12-B, com o intuito de conceder as vítimas de
violência doméstica e familiar um atendimento policial especializado e ininterrupto,
inclusive, tornando o Delegado de Polícia apto a conceder algumas medidas protetivas de
urgência prevista na lei. Através de uma pesquisa primordialmente bibliográfica, constatou-se
que as Autoridades Policiais exercem um cargo de altíssima capacidade jurídica, essenciais e
exclusivas de Estado, inclusive com atribuições tão relevantes, que podem até mesmo chegar
ao cerceamento da liberdade de seus investigados. É primordial coibir os atos de violência
doméstica e familiar contra a mulher desde o seu nascedouro, evitando que estas vítimas
sofram com o temor de conviver com os agressores mesmo após a apresentação do fato
delituoso as autoridades competentes, bem como, é necessário buscar restituir sua integridade
e direitos o mais rápido possível, evitando-se, assim, a demora na concessão das medidas
protetivas de urgência. Por isso, observa-se a importância da aprovação do PL 07/2016 e a
ampliação das autoridades para concessão das medidas protetivas de urgência, previstas na
Lei 11.340/06. Sendo assim, haja vista o Delegado de Polícia ser considerado o primeiro
garantidor dos direitos dos cidadãos, este trabalho objetiva demonstrar as suas principais
atribuições, bem como aborda a importância da Lei 11.340/06 e a sua evolução, em seus
primeiros dez anos. Por fim, este trabalho apresenta uma análise do PL 07/2016 e da
importância de sua aprovação.
Palavras-chaves: Delegado de Polícia. Autoridade Policial. Persecução Penal. Processo
Penal. Polícia Judiciária. Violência doméstica. Lei Maria da Penha. Violência contra Mulher.
Medidas protetivas de urgência. Decisões dos Tribunais. Projeto de lei.
8
SUMÁRIO
CAPÍTULO I PERSECUÇÃO PENAL ............................................................................... 10
1.1 Introdução ..................................................................................................................... 10
1.2- O Inquérito Policial .................................................................................................... 11
1.1.1 – Características do Inquérito Policial ..................................................................... 12
1.1.2 – Encerramento do Inquérito Policial ...................................................................... 17
1.3 – Fase Processual (Ação Penal) ................................................................................... 19
CAPÍTULO II POLÍCIA JUDICIÁRIA E A AUTORIDADE POLICIAL..................... 25
2.1 – Polícia Federal ........................................................................................................... 26
2.2 – Polícia Civil ................................................................................................................ 28
2.3 – Lei 12.830/13 e a investigação criminal conduzida pelo Delegado de Polícia ...... 30
CAPÍTULO III PRINCIPAIS PROCEDIMENTOS E ATRIBUIÇÕES DA
AUTORIDADE POLICIAL ................................................................................................. 36
3.1 – Inquérito Policial ....................................................................................................... 36
3.2 – Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO) ...................................................... 37
3.3 – Indiciamento .............................................................................................................. 38
3.4 – Auto de prisão em flagrante delito .......................................................................... 40
3.5 – Concessão da Fiança ................................................................................................. 43
3.6 – Nota de Culpa ............................................................................................................ 44
3.7 – Ordem e mandado de prisão .................................................................................... 45
CAPÍTULO IV LEI 11.340/06 – MARIA DA PENHA ...................................................... 48
4.1 – Breves considerações sobre a Lei Maria da Penha ................................................ 48
4.2 – Das medidas protetivas de urgência ........................................................................ 55
4.3 – O PL 07/16 e a importância da autoridade policial na concessão das medidas
protetivas de urgência ........................................................................................................ 59
4.4 – Da concessão das medidas protetivas de urgência pela Autoridade Policial ....... 63
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................ 67
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 69
9
INTRODUÇÃO
A presente obra tem como objeto o estudo do Delegado de Polícia, que após a lei
12.830/13 passou a ser tratada como Autoridade de Polícia Judiciária, bem como, dos estudos
das medidas protetivas de urgência previstas na Lei 11.340/06 e do PL 07/2016.
A escolha do tema se deu em virtude da grande importância que tem o
Delegado de Polícia para assegurar os primeiros direitos do cidadão, assim como, a
importância em que a Lei Maria da Penha trouxe para a sociedade brasileira, criando novos
mecanismos processuais em busca da proteção a mulher vítima de violência doméstica e
familiar.
O presente trabalho está dividido em quatro capítulos, os quais tiveram
abordagem nas principais doutrinas, jurisprudências brasileiras e no PL 07/2016, no qual o
objetivo principal não foi o de esgotar o tema, mas sim de balizar os principais pontos que
demonstrem a importância da Autoridade Policial e da necessidade de esta conceder as
medidas protetivas de urgências previstas na Lei 11.340/06.
Inicia-se, no Capítulo 1, abordando a persecução penal e destrinchando os
principais atos praticados pelo Delegado de Polícia desde o primeiro conhecimento da notitia
criminis, até a prolação da sentença, em que se autoriza a execução da pena.
No Capítulo 2, apresenta-se uma abordagem da Polícia Judiciária e da
Autoridade Policial, demonstrando suas principais características, bem como, as alterações
trazidas pela Lei 12.830/13 que trouxe a redação sobre a investigação criminal conduzida
pelo Delegado de Polícia.
Segue-se no Capítulo 3, trazendo referências sobre os principais
procedimentos e atribuições do Delegado de Polícia, em especial dos atos que são privativos
destas autoridades.
Por fim, o Capítulo 4, aborda-se um breve histórico sobre a Lei 11.340/06,
trazendo à tona as principais medidas protetivas de urgências e, em seguida, a abordagem do
PL 07/2016, demonstrando a necessidade da concessão das medidas protetivas de urgência
pela Autoridade Policial.
10
CAPÍTULO I
PERSECUÇÃO PENAL
1.1 Introdução
A persecução criminal nada mais é do que o direito que o Estado possui para poder
investigar e punir o infrator da norma. Esta possui dois momentos distintos, quais sejam: o
Inquérito Policial e a Ação Penal. O primeiro, de titularidade exclusiva do Delegado de
Polícia, é realizado de forma inquisitiva e sempre objetivando acarrear elementos suficientes
ao oferecimento e início da ação penal. O segundo, é a Ação Penal propriamente dita, na qual
adentra a fase judicial e sempre respeitando o contraditório e à ampla defesa.
É nestes termos que bem explica Frederico Marques:
―A persecutio criminis apresenta dois momentos distintos: o da investigação e o da
ação penal. Esta consiste no pedido de julgamento da pretensão punitiva, enquanto a
primeira é atividade preparatória da ação penal, de caráter preliminar e informativo:
inquisitivo nibil est quam informatio delicti.1
Entretanto, há doutrinadores que afirmem termos um terceiro momento na
persecução penal. Este seria a fase de execução penal. Momento este que ocorreria após a
sentença imposta pelo juiz, desde que obedecido todo o contraditório e ampla defesa, na fase
judicial. Nesta hipótese, caberia ao Estado dá uma resposta à sociedade e ao acusado através
da efetividade da sentença criminal. É como bem entende Edilson Mougenout Bonfim:
É o caminho percorrido pelo Estado Administração para que seja aplicada uma pena
ou medida de segurança àquele que cometeu uma infração penal, consubstanciando-
se em três fases: investigação preliminar, ação penal e execução penal.2
Apesar das divergências que dizem respeito a quantas etapas possui a
persecução penal, percebe-se que a mesma possui como objetivo maior a apuração do fato
delituoso, buscando sempre a prova da materialidade e os indícios de autoria. Após a colheita
de tais elementos, cabe então ao Estado buscar a aplicação da lei ao transgressor, respeitando
todos os direitos constitucionais e processuais.
1 apud Nestor Távora e Rosmar Rodrigues, Curso de Direito Processual Penal - 9ª ed. - 2014, p. 107.
2 BONFIM, Edilson Mougenot. Curso de Processo Penal — 7. ed. — São Paulo: Saraiva, 2012. p. 132.
11
Assim, percebe-se que a persecução criminal, quase que na totalidade dos
casos, tem início com a própria polícia judiciária, através do Delegado de Polícia, e vai além,
caminhando junto ao processo, onde o Ministério Público passa a atuar diretamente e
praticando atos para elucidação do fato criminoso.
1.2 - O Inquérito Policial
O Inquérito Policial, via de regra, é o primeiro procedimento da persecução
criminal, de momento pré-processual, cujo objetivo primordial é a realização de diligências
para apuração da prova da materialidade e dos indícios de autoria, objetivando subsidiar o
início da ação penal, de fase judicial.
Assim, podemos conceituar o inquérito policial como ―Procedimento
administrativo presidido pela autoridade de polícia judiciária, de caráter inquisitivo e
informativo que tem por finalidade colher elementos de informação a respeito da existência
do crime e indícios suficientes de autoria, buscando viabilizar o exercício da ação penal‖.
É neste raciocínio que bem explica o ilustre Renato Brasileiro:
Procedimento administrativo inquisitório e preparatório, presidido pela autoridade
policial, o inquérito policial consiste em um conjunto de diligências realizadas pela
polícia investigativa objetivando a identificação das fontes de prova e a colheita de
elementos de informação quanto à autoria e materialidade da infração penal, a fim
de possibilitar que o titular da ação penal possa ingressar em juízo.3
Da mesma forma é o entendimento de Nucci:
Trata-se de um procedimento preparatório da ação penal, de caráter administrativo,
conduzido pela polícia judiciária e voltado à colheita preliminar de provas para
apurar a prática de uma infração penal e sua autoria.4
Perceba, portanto, que se trata de um procedimento preparatório para a ação
penal, pois ainda não temos o início desta por parte do Estado. De tal forma, apesar de ser um
procedimento pré-processual, o inquérito policial é de natureza jurídica essencial e exclusiva
do Estado, pois sempre será presidido por uma Autoridade Policial, e possui, também,
3 LIMA, Renato Brasileiro. Manual de Processo Penal, Vol. Único. 4. ed. rev., ampl. e atual. – Salvador: Ed.
JusPodivm, 2016. Pág.166. 4 NUCCI, Guilherme de Souza. Código de Processo Penal Comentado, 13. ed. rev. e ampl. – Rio de Janeiro:
Forense, 2014. Pág.52.
12
natureza jurídica de procedimento administrativo, de caráter informativo, justamente com a
finalidade de buscar a justa causa para o processo (fumus comissi delicti).
Possui o caráter informativo, haja vista que que sempre está a buscar a colheita
de elementos de informação e não a colheita de provas, uma vez que esta é só aquilo que for
produzido na fase judicial, respeitado o contraditório. Enquanto que os elementos
informativos são produzidos na fase de investigação, assim, de tal forma que qualquer vício
nele constante não terá o condão de contaminar o processo penal a que der origem.
De tal maneira é o que prevê o nosso Código de Processo Penal, em seu Artigo 155:
Art. 155: O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em
contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos
elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares,
não repetíveis e antecipadas.5
Também é como compreende Renato Brasileiro:
Havendo, assim, eventual irregularidade em ato praticado no curso do inquérito,
mostra-se inviável a anulação do processo penal subsequente. Afinal, as nulidades
processuais concernem, tão somente, aos defeitos de ordem jurídica que afetam os
atos praticados ao longo da ação penal condenatória.6
1.2.1 – Características do Inquérito Policial
Devido à grande importância que a Autoridade Policial possui na deflagração
da persecução penal, haja vista exercer o principal papel na fase pré-processual, em busca do
fumus comissi delicti, é salutar demonstrar as principais características do inquérito policial,
já que o mesmo se apresenta como uma das principais ferramentas para a proteção de direitos
fundamentais, possuindo características próprias que o diferencia do processo penal. São elas:
a) Inquisitoriedade
O Inquérito é um procedimento inquisitivo, pois possui natureza meramente
administrativa, com a finalidade de obtenção de elementos de informação e que não obedece
ao princípio do contraditório e ampla defesa. Justamente por tais motivos deve-se afirmar que
5 BRASIL. Código de Processo Penal. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-
lei/Del3689.htm>. 6 LIMA, Renato Brasileiro. Manual de Processo Penal, Vol. Único. 4. ed. rev., ampl. e atual. – Salvador: Ed.
JusPodivm, 2016.. Pág.167.
13
nesta fase temos um mero suspeito ou investigado, mas nunca dizer que há um acusado, pois,
esta expressão só deve ocorrer após o trânsito em julgado da sentença condenatória.
Inclusive, é um dos direitos assegurados na nossa Carta Magna de 1988:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes:
LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença
penal condenatória;7
As atividades do inquérito, por serem inquisitivas, ficam concentradas nas mãos de
uma única autoridade, que segundo a recente Lei n. 12.830/13, ficam a cargo do Delegado de
Polícia. Vejamos:
Art. 2o As funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais exercidas
pelo delegado de polícia são de natureza jurídica, essenciais e exclusivas de Estado.
§ 1o Ao delegado de polícia, na qualidade de autoridade policial, cabe a condução
da investigação criminal por meio de inquérito policial ou outro procedimento
previsto em lei, que tem como objetivo a apuração das circunstâncias, da
materialidade e da autoria das infrações penais.8
Esta importância de ficar concentradas nas mãos do Delegado de Polícia é
justamente pela busca de maior celeridade à Persecução Penal, bem como na sua maior
eficácia, com o objetivo de obter todos os elementos necessários para subsidiar o Estado a
condenar ou absolver o investigado bem como, também, no de oferecer uma resposta
imediata a sociedade.
b) Escrito
Conforme o art. 9º, do CPP, o inquérito deverá ser escrito e o Delegado de Polícia
deve rubricar todas as suas folhas.
Art. 9º Todas as peças do inquérito policial serão, num só processado, reduzidas a
escrito ou datilografadas e, neste caso, rubricadas pela autoridade.9
7 BRASIL. Constituição Federal de 1988. Disponível em
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituição.htm>. 8 BRASIL, Lei 12.830/13, art. 5º, §1º. Disponível em <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-
2014/2013/lei/l12830.htm>. 9 BRASIL. Código de Processo Penal. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-
lei/Del3689.htm>.
14
Apesar da imposição pelo CPP da necessidade do inquérito ser
necessariamente escrito, é necessário atentar-se que nada obsta a possibilidade da Autoridade
Policial de adotar meios tecnológicos (ex: gravações audiovisual), no próprio inquérito ou nas
investigações, a fim de torna-lo mais fidedignos.
Porém, atente-se que nunca será permitido a existência de Inquérito Policial
oral por falta de previsão legal e contrariar o próprio artigo 9º, do CPP.
c) Sigiloso
Diante desta característica, percebe-se um dos principais motivos pelo qual o
inquérito é considerado um procedimento administrativo. É justamente no sigilo, que se
busca a eficácia das investigações e da elucidação do crime, pois se o inquérito fosse público,
estaria dando margem para qualquer pessoa realizar atos a fim de obstar o prosseguimento
das investigações. Assim é o que determina o artigo 20, do CPP:
Art. 20 A autoridade assegurará no inquérito o sigilo necessário à elucidação do fato
ou exigido pelo interesse da sociedade.10
Porém, deve-se atentar que este sigilo não é compreendido de forma absoluta.
Por razões lógicas, este sigilo não deve ser estendido ao Ministério Público e ao Juiz.
Já no que concerne o sigilo em relação ao advogado do investigado, deve-se tomar
um certo cuidado, pois o mesmo possui direito assegurado de acesso amplo aos elementos de
prova já documentados em procedimento investigatório, salvo as medidas cautelares em
curso que estiverem apensadas ao inquérito policial. Vejamos:
Súmula Vinculante 14 – STF: É direito do defensor, no interesse do representado,
ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em procedimento
investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam
respeito ao exercício do direito de defesa.11
10
BRASIL. Código de Processo Penal. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-
lei/Del3689.htm>. 11
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Súmula Vinculante nº 14. Disponível em:
<http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/menuSumario.asp?sumula=1230>.
15
d) Discricionário
No inquérito policial, ao contrário da fase judicial, não se tem a descrição de atos
pré-ordenados para serem seguidos pelo Delegado de Polícia, tratando-se, assim, o inquérito,
não de um processo, mas sim de um procedimento administrativo discricionário.
O inquérito não é compreendido como um procedimento formal, ou seja, não possui
um rito específico a ser respeitado pela Autoridade Policial. Entretanto, a falta deste rito
específico não sinal a se compreender que a Autoridade Policial tem livre e ampla liberdade
de agir como bem entender.
Pelo contrário, os artigos 6º e 7º do CPP prevê um rol exemplificativo de diligências
que podem ser determinadas pela Autoridade Policial, logo que tiver conhecimento da prática
da infração penal, e são exatamente estes artigos que permitem que esta autoridade conduza
as investigações da forma que melhor lhe prouver.
Então, percebe-se que a discricionariedade implica uma liberdade de atuação adstrita
aos limites traçados na lei. A não observância destes limites traçados nos artigos 6º e 7º e na
legislação infraconstitucional tornará a medida adotada arbitrária e, consequentemente,
poderá ensejar punição nos termos da Lei 8.429/92, que trata da Improbidade Administrativa,
e 4.898/65, que versa sobre o Abuso de Autoridade.
Apesar do exposto que permite a discricionariedade da autoridade policial em seus
atos, é importante destacar que o investigado e a vítima não ficarão de mãos atadas esperando
o transcorrer das investigações.
Segundo explana o art. 14, do CPP estes sujeitos poderão requerer diligências à
própria Autoridade Policial, que decide se atenderá ou não. Mas essa discricionariedade
também não deve ser compreendida como absoluta, pois há previsões legais em que obriga a
atuação da autoridade policial quando houver requerimento do ofendido ou vítima.
Nos termos do artigo 184, do CPP, não será possível negar a realização do exame de
corpo de delito quando a infração penal deixar vestígios. Vejamos:
Art. 184. Salvo o caso de exame de corpo de delito, o juiz ou a autoridade policial
negará a perícia requerida pelas partes, quando não for necessária ao esclarecimento
da verdade.12
12
BRASIL. Código de Processo Penal. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-
lei/Del3689.htm>.
16
e) Dispensabilidade e Indisponibilidade
Não se deve confundir ambos os institutos. A indisponibilidade diz respeito a
possibilidade do arquivamento do inquérito, uma vez que o art. 17, do CPP, prevê que uma
iniciado o inquérito policial, este terá que ir até o fim, não podendo o Delegado de Polícia
dele dispor.
Porém, esta indisponibilidade não deve ser estendida ao Ministério Público. Pois,
segundo o exposto no Art. 39, §5º, do CPP o inquérito policial é dispensável ao MP, visto
que este pode requerer o seu arquivamento ou, ainda, oferecer a denúncia com base em outras
peças de informação, desta forma dispensando-o. Vejamos:
Art. 39. O direito de representação poderá ser exercido, pessoalmente ou por
procurador com poderes especiais, mediante declaração, escrita ou oral, feita ao
juiz, ao órgão do Ministério Público, ou à autoridade policial.
§ 5o O órgão do Ministério Público dispensará o inquérito, se com a representação
forem oferecidos elementos que o habilitem a promover a ação penal, e, neste caso,
oferecerá a denúncia no prazo de quinze dias.13
Diante o elencado, conclui-se que o Inquérito será indisponível ao Delegado de
Polícia, porém dispensável ao Ministério Público.
Contudo, deve-se atentar que a dispensabilidade não é entendida de forma absoluta,
pois quando inquérito policial servir como base para a propositura da ação penal, este
inquérito será obrigatoriamente acompanhado da inicial acusatória apresentada (art. 12, CPP).
Art. 12. O inquérito policial acompanhará a denúncia ou queixa, sempre que servir
de base a uma ou outra.14
f) Oficialidade e Oficiosidade
A oficialidade diz que o inquérito sempre estará na presidência de uma Autoridade
Policial, ou seja, fica a cargo de órgão oficial do Estado, nos termos do art. 144, §1º,I c/c art.
144, §4º, da CF.
13
BRASIL. Código de Processo Penal. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-
lei/Del3689.htm>. 14
BRASIL. Código de Processo Penal. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-
lei/Del3689.htm>.
17
No que trata da oficiosidade, é a possibilidade da própria Autoridade Policial agir de
ofício, apurando os fatos e instaurando o próprio inquérito, quando tomar conhecimento de
notitia criminis de ação penal pública incondicionada.
1.1.2 – Encerramento do Inquérito Policial
A conclusão do inquérito policial se dá com a elaboração do relatório pela
Autoridade Policial. Este relatório é uma simples peça, de caráter descritivo, que aponta as
principais diligências realizadas ao longo de todo o inquérito, sem a realização de qualquer
juízo de valor por parte do Delegado de Polícia.
Entretanto, excepcionalmente, a Lei de Drogas, lei 11.343/06, prevê em seu
art. 52, I, que a Autoridade Policial possa emitir seu juízo de valor sobre o fato que está a ser
investigado, relatando-o sumariamente. Vejamos
Art. 52. Findos os prazos a que se refere o art. 51 desta Lei, a autoridade de polícia
judiciária, remetendo os autos do inquérito ao juízo:
I - relatará sumariamente as circunstâncias do fato, justificando as razões que a
levaram à classificação do delito, indicando a quantidade e natureza da substância
ou do produto apreendido, o local e as condições em que se desenvolveu a ação
criminosa, as circunstâncias da prisão, a conduta, a qualificação e os antecedentes
do agente;15
Ademais, perceba-se que o relatório, assim como o inquérito, é uma peça
dispensável para a propositura da ação penal. Embora não possa o juiz e o Ministério Público
exigir do Delegado a realização do relatório, a sua falta irá acarretar mera irregularidade
administrativa, podendo tais autoridades comunicar a omissão à Corregedoria-Geral da
Polícia para que a mesma tome as medidas disciplinares e administrativas cabíveis.
Uma vez elaborado o relatório, segundo o artigo 10, §1º, do CPP, o inquérito
deverá ser remetido ao Poder Judiciário, para tão somente depois a autoridade judiciária
possa abrir vistas ao Parquet. Vejamos:
Art. 10. O inquérito deverá terminar no prazo de 10 dias, se o indiciado tiver sido
preso em flagrante, ou estiver preso preventivamente, contado o prazo, nesta
hipótese, a partir do dia em que se executar a ordem de prisão, ou no prazo de 30
dias, quando estiver solto, mediante fiança ou sem ela.
15
BRASIL. Lei 11.343/06, art. 52, I. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-
2006/2006/lei/l11343.htm>.
18
§ 1o A autoridade fará minucioso relatório do que tiver sido apurado e enviará autos
ao juiz competente.16
Então, é a partir deste momento, em que o Juiz recebe os autos do inquérito,
que se dá fim à fase pré-judicial, da persecução criminal. Momento este em que a Autoridade
Policial, em regra, irá realizar seu último ato para colheita do fumus commissi delicti e, em
seguida, remete os autos do inquérito para a Autoridade Judiciária, que irá presidir esta nova
fase da persecução criminal, dando vistas ao Ministério Público para que este tome a decisão
que achar melhor.
Com os autos em mãos, o Ministério público estará adstrito a tomada de
decisão de três medidas. A primeira delas é o oferecimento da denúncia, medida está que dá
fim à fase pré-processual e os autos segue seu rito natural, adentrando na fase judicial até a
sentença condenatória ou absolutória.
A segunda das medidas é a possibilidade de requisição pelo arquivamento dos autos
do inquérito policial que, em regra, fará apenas coisa julgada formal.
Assim, uma vez arquivado o inquérito policial, se no futuro surgirem novas provas,
será possível desarquivar os autos e oferecer a denúncia. É o que prevê a Súmula 524, do
STF. Vejamos:
Súmula 524, STF – Arquivado o inquérito policial, por despacho do juiz, a
requerimento do promotor de justiça, não pode a ação penal ser iniciada sem novas
provas.17
Havendo dúvidas sobre o oferecimento ou não da denúncia, decorrente de
excludente de ilicitude, deve prevalecer o in dubio pro societate, e, assim, a denúncia será
oferecida.
Porém, é imperioso destacar que, excepcionalmente, o arquivamento do inquérito
poderá torna-lo coisa julgada material. É nas hipóteses de atipicidade da conduta, da extinção
da punibilidade ou na atipicidade do fato. Nestas três hipóteses a coisa julgada será material e
deverá prevalecer mesmo que a decisão tenha sido proferida por um juiz absolutamente
incompetente.
Por fim, a terceira e última medida que é permitida ao Ministério Público, segundo o
art. 16, do CPP, é a possibilidade da requisição de novas diligências à autoridade policial.
16
BRASIL. Código de Processo Penal. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-
lei/Del3689.htm>. 17
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Súmula nº 524. Disponível em:
<http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/menuSumarioSumulas.asp?sumula=2731>.
19
Nesta atribuição, deve-se atentar que já está na fase judicial, já se tem o início da ação penal,
e os autos do processo retornam à autoridade policial apenas para que esta possa realizar
diligências imprescindíveis ao complemento do oferecimento da ação penal por parte do
Parquet.
É o que relata o Ilustríssimo Nucci:
Se o promotor ainda não formou a sua opinio delicti, porque entende faltar alguma
diligência considerada fundamental, pode requerer o retorno para continuidade das
investigações.18
Esta requisição realizada pelo Ministério Público, tal como a realizada pelo
Magistrado, não deve ser entendida como uma ordem destas autoridades para com o
Delegado de Polícia, pois não deve ser ministrado o entendimento de que há hierarquia entre
estas funções, pois, é bem verdade, todas são independentes e com funções essenciais e
exclusiva de justiça.
A Autoridade Policial atende as requisições realizadas pelo Ministério Público e
pelo Magistrado em virtude da do princípio da obrigatoriedade da ação penal, uma vez que
busca trazer elementos mínimos para o oferecimento da ação penal e, consequentemente,
atender aos interesses do Estado.
Entretanto, havendo manifesta irregularidade ou arbitrariedade na requisição, será
permitido à Autoridade Policial, de forma fundamentada, recusá-la, uma vez que o mesmo
dispõe do poder de autotutela e está compromissado ao princípio constitucional da legalidade.
Compreende-se melhor nos dizeres de Renato Brasileiro:
Na verdade, o Delegado de Polícia determina o cumprimento da exigência
ministerial não para atender à vontade particular do Promotor de Justiça, mas sim
em fiel observância ao princípio da obrigatoriedade, que impõe às autoridades
estatais, inclusive Delegados de Polícia, um dever de agir de ofício diante da notícia
de infração penal.19
1.3 – Fase Processual (Ação Penal)
18
NUCCI, Guilherme de Souza. Código de Processo Penal Comentado, 13. ed. rev. e ampl. – Rio de Janeiro:
Forense, 2014. Pág. 99. 19
LIMA, Renato Brasileiro. Manual de Processo Penal, Vol. Único. 4. ed. rev., ampl. e atual. – Salvador: Ed.
JusPodivm, 2016. Pág. 299.
20
Visto que a ação penal, propriamente dita, tem início com o recebimento dos
autos do inquérito policial pelo Juiz, este deverá, tratando-se de ação penal pública, abrir
vistas ao Ministério Público, que adotará a diligência que melhor achar cabível ou, então,
tratando-se de ação penal privada, deixará os autos em cartório, aguardando a iniciativa por
parte da vítima.
O direito de ação é o direito de se pedir ao Estado para que se resolva um
conflito. Este direito está previsto no art. 5º, XXXV, da CF e não se confunde com a ação
propriamente dita, haja vista que esta é considerada como um ato jurídico necessário para se
veja prevalecer o direito da prestação da tutela jurisdicional por parte do Estado.
Então, é justamente a partir da ação penal que será impulsionado a atividade
jurisdicional. Veja:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes:
XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a
direito;20
Nos dizeres do Nestor Távora e Rosmar Rodrigues, a ação penal é conceituada
da seguinte maneira:
É o direito público subjetivo de pedir ao Estado-Juiz a aplicação do direito penal
objetivo ao caso concreto.21
Compreende-se como um direito público porque a atividade jurisdicional é de
natureza pública. Quanto ao direito subjetivo, se refere ao titular do direito da ação penal e
este titular deve vir especificado na legislação, onde, via de regra, temos o Ministério Público
como o principal titular do direito de ação.
Devemos compreender, também, o direito de ação como autônomo e
instrumental, na medida em que este direito autônomo não deve ser confundido com o direito
material, possuindo codificações diversas, e instrumental na medida em que visa, justamente,
da efetividade ao direito material.
20
BRASIL. Constituição Federal de 1988. Disponível em
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituição.htm>. 21
TÁVORA; ALENCAR, Curso de Direito Processual Penal – 9ª ed. –, 2014, p. 193.
21
Por fim, o direito de ação é compreendido como abstrato, pois independe do
resultado do processo, ou seja, independe da procedência ou improcedência da pretensão
acusatória.
Sendo assim, ao dar início a ação penal, o juiz deve prosseguir o processo
pautando-se na Constituição Federal e garantindo todos os direitos e garantias as partes para
que se evite arbitrariedades por parte do Estado. Para que isto ocorra, deve-se seguir todos
princípios processuais, nos quais é possível especificar alguns previstos na própria
Constituição Federal.
Dentre eles, é imperioso destacar os princípios do devido processo legal, do
contraditório, da ampla defesa e da presunção de inocência.
O primeiro está consagrado no art. 5º, LIV, da CF. Vejamos:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes:
LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo
legal;22
Este princípio do devido processo legal traduz um sinônimo de garantia e tem
uma certa relação com o princípio da legalidade, uma vez que diz respeito a necessidade do
processo seguir todos os seus atos sequenciados e previsto em lei, sem nenhuma supressão
e/ou desvirtuamento.
No que diz respeito ao princípio do contraditório, previsto no art. 5, LV, da
CF, é compreendido como o direito assegurado às partes de serem cientificadas de todos os
atos e fatos havidos no curso do processo, podendo manifestar-se a respeito e produzir as
provas necessárias antes de ser proferida a decisão judicial.
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes:
LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral
são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela
inerentes;23
22
BRASIL. Constituição Federal de 1988. Disponível em
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituição.htm>. 23
BRASIL. Constituição Federal de 1988. Disponível em
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituição.htm>.
22
Perceba que este princípio tem como destinatário ambas as partes do processo,
qual seja, a acusação e o réu, permitindo que estes possam influenciar no conteúdo da decisão
judicial.
Já o princípio da ampla defesa, também previsto no art. 5, LV, da CF, tem
como destinatário certo tão somente o acusado e permite amplos e extensos métodos para que
este possa se defender à imputação feita pela acusação.
Ainda no que concerne ao princípio da ampla defesa, o STF editou a súmula
523 tornando a prestação da defesa técnica sempre obrigatória e que a sua falta constituirá
nulidade absoluta do processo. Vejamos:
Súmula 523, STF - No processo penal, a falta da defesa constitui nulidade absoluta,
mas a sua deficiência só o anulará se houver prova de prejuízo para o réu.24
Porém, é imperioso atentar-se que obrigatoriedade da defesa técnica não se confunde
com a deficiência de defesa. Enquanto aquela, segundo a súmula 523, do STF, acarreta a
nulidade absoluta do processo, esta somente acarretará a nulidade do processo caso ocorra
prova veemente de prejuízo ao réu.
Por fim, destaque-se o princípio da presunção de inocência. Este princípio está
previsto no art. 5º, LVII da CF, e garante que todos serão presumidamente inocentes até que a
sentença condenatória transite em julgado, ou seja, não se deve estabelecer a culpa de
alguém, antes do devido trânsito em julgado da sentença.
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes:
LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença
penal condenatória;25
Recentemente o STF se posicionou nos institutos correlacionados a este
princípio e ao da execução da pena. A Suprema Corte entendeu ser cabível a execução da
pena condenatória logo após a prolação do acórdão condenatório em 2º grau (tribunal) e que
tal medida não ofenderia o princípio constitucional da presunção de inocência.
O Min. Teori Zavascki tomou o entendimento de que logo após a sentença de
2º grau, exaure-se o princípio da não culpabilidade, uma vez que os recursos remetidos ao
24
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Súmula nº 523. Disponível em:
<http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/menuSumarioSumulas.asp?sumula=2729>. 25
BRASIL. Constituição Federal de 1988. Disponível em
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituição.htm>.
23
STJ ou STF não se prestam mais a discutir fatos e provas, mas, tão somente, matéria de
direito. Veja, na íntegra, sua decisão:
"A execução da pena na pendência de recursos de natureza extraordinária não
compromete o núcleo essencial do pressuposto da não culpabilidade, na medida em
que o acusado foi tratado como inocente no curso de todo o processo ordinário
criminal, observados os direitos e as garantias a ele inerentes, bem como respeitadas
as regras probatórias e o modelo acusatório atual. Não é incompatível com a
garantia constitucional autorizar, a partir daí, ainda que cabíveis ou pendentes de
julgamento de recursos extraordinários, a produção dos efeitos próprios da
responsabilização criminal reconhecida pelas instâncias ordinárias".26
Diante a importância que traz os princípios para o regular trâmite da relação jurídica
e prosseguimento da persecução criminal, é necessário atentar-se que também há regras a
serem respeitadas. Estas regras, contudo, variam de sistema para sistema.
É possível elencar três espécies de sistemas processuais, sendo eles: o inquisitivo; o
acusatório; e o misto.
O primeiro, o inquisitivo, é um sistema autoritário, marcado pela inexistência do
contraditório e ampla defesa, bem como pela concentração das funções de acusar, defender e
julgar em uma figura única. Segundo doutrina majoritária é considerado inconstitucional por
não seguir o que determina o modelo de processo da Constituição Federal. Entretanto,
percebe-se que é este o sistema utilizado na fase pré-processual, pelo Delegado de Polícia, no
qual busca maior celeridade na colheita dos elementos de informação e autoria.
No que diz respeito ao Sistema Acusatório, sistema este adotado pela nossa Carta
Magna de 1988, este possui como características primordiais a separação entre as funções de
acusar, defender e julgar, conferida a personagens distintos; os princípios da publicidade, do
contraditório e da ampla defesa que rege todo o processo; a imparcialidade que deve ser
dotada o julgador; e o sistema de apreciação das provas que é o do livre convencimento
motivado.
Este sistema, tem como principal finalidade a de tornar eficaz todos os direitos e
garantias processuais previsto na Constituição Federal, vigorando o princípio da inércia de
jurisdição, no qual diz respeito que o juiz só deve agir de forma excepcional, ou seja, quando
for estritamente necessário e se a lei assim o permitir.
26
BRASIL, Supremo Tribunal Federal, ARE 964.246/SP, Relator (a): Min. TEORI ZAVASCKI, julgado em
10/11/2016, publicado em PROCESSO ELETRÔNICO DJe-251 PUBLICADO 25/11/2016. Disponível em:
<http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=12095503>.
24
Assim, o que realmente diferencia ambos os sistemas é justamente a posição em que
se encontram os sujeitos processuais e a maneira como estes irão gerir as provas, não sendo
mais o juiz, por excelência, o seu gestor.
Por fim, apenas a título de conhecimento, o Sistema Misto é compreendido como
uma junção de ambos os sistemas supracitados. Em um primeiro momento prevalece a fase
inquisitória, em que o juiz é o gestor das provas e posteriormente a acusatória, na qual existe
as figuras do acusador e julgador em pessoas distintas.
Ao estudar a fase judicial da persecução penal, percebe-se o quão importante é a
função exercida pelo Delegado de Polícia, na fase pré-processual. É através do trabalho desta
autoridade, na colheita dos elementos de informações necessários, que se busca subsidiar o
mínimo probatório para o oferecimento da ação penal e, consequentemente, para que tenha
seu curso natural.
Assim, a Autoridade Policial deve, sempre, ter um grande comprometimento e
cautela na apuração de cada notitia criminis. Pois, caso esta apuração seja realizada de forma
displicente, poderá trazer relevantes prejuízos para o Estado e, até mesmo, para o réu,
ocasionando o arquivamento do inquérito policial ou até mesmo no não oferecimento da ação
penal, corroborando para a falta de sanção penal ao investigado e, também, para o aumento
da sensação de injustiça que paira em nossa sociedade.
25
CAPÍTULO II
POLÍCIA JUDICIÁRIA E A AUTORIDADE POLICIAL
O processo de segurança pública é iniciado pela prevenção e findo na reparação do
dano, no tratamento das causas e na reinclusão, na sociedade, do autor do ilícito.
Assim, deve-se observar a segurança pública não apenas como medida de vigilância
e repressão, mas também como uma medida que vista integrar e otimizar os instrumentos da
prevenção, coação, justiça e defesa dos direitos.
A segurança pública não deve ser compreendida como uma contraposição à
liberdade, mas sim como uma condição necessária para o exercício pleno da liberdade.
Nossa Constituição possui um título próprio sobre a Segurança Pública. Em seu art.
144, CF prevê que é dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, e que deve ser
exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio.
Apesar do disposto na Carta Magna, a atividade policial é dividida em duas áreas de
atuação: a administrativa e a judiciária. A primeira atua de forma preventiva e ostensivo,
evitando que o crime aconteça. Já a segunda atua de forma repressiva, depois de ocorrido o
ilícito penal, visando a colheita dos elementos de informação quanto a autoria e materialidade
delitiva, com o objetivo de auxiliar o Poder Judiciário.
Há doutrinadores que fazem a diferença entre polícia judiciária e polícia
investigativa. Para estes, a polícia judiciária atua no auxílio ao Poder Judiciário, no
cumprimento de suas ordens. Enquanto que a polícia investigativa seria a polícia atuante na
apuração de infrações penais e de sua autoria.
Entretanto, esta distinção não prevalece no âmbito doutrinário e deve-se tomar o
entendimento como polícia judiciária, sem qualquer distinção, de forma que a esta polícia
cabe tanto o papel de apurar a infração penal, quanto o de auxiliar o Poder Judiciário.
26
2.1 – Polícia Federal
É o órgão que compõe a polícia no âmbito federal, instituída por lei e
estruturada em carreira.
Em regra, como estatuído no Art. 144, §1º, I, da CF, é de competência da
polícia federal exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União. Assim,
cabe a polícia federal apurar e investigar todos aqueles crimes previstos no Art. 109, da CF,
que forem da competência de os Juízes Federais processar e julgar. São eles:
Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:
I - as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem
interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de
falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do
Trabalho;
II - as causas entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e Município ou
pessoa domiciliada ou residente no País;
III - as causas fundadas em tratado ou contrato da União com Estado estrangeiro ou
organismo internacional;
IV - os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens,
serviços ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas
públicas, excluídas as contravenções e ressalvada a competência da Justiça Militar e
da Justiça Eleitoral;
V - os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a
execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou
reciprocamente;
V-A - as causas relativas a direitos humanos a que se refere o § 5º deste artigo;
VI - os crimes contra a organização do trabalho e, nos casos determinados por lei,
contra o sistema financeiro e a ordem econômico-financeira;
VII - os habeas corpus, em matéria criminal de sua competência ou quando o
constrangimento provier de autoridade cujos atos não estejam diretamente sujeitos a
outra jurisdição;
VIII - os mandados de segurança e os habeas data contra ato de autoridade federal,
excetuados os casos de competência dos tribunais federais;
IX - os crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a
competência da Justiça Militar;
X - os crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro, a execução de
carta rogatória, após o exequatur, e de sentença estrangeira, após a homologação, as
causas referentes à nacionalidade, inclusive a respectiva opção, e à naturalização;
XI - a disputa sobre direitos indígenas.27
Apesar da nossa Carta Magna trazer a competência para o exercício da
atividade da Polícia Federal e, também, apesar do que muitos acreditam, a sua atuação não se
restringe apenas aos crimes de âmbito federal.
27
BRASIL. Constituição Federal de 1988. Disponível em
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituição.htm>.
27
Segundo a redação prevista no Art. 144, §1º, I, da CF, que trata dos órgãos da
Segurança Pública, percebe-se que sua atuação vai além do âmbito federal. O referido inciso I
traz uma ampliação da sua competência e atribui a Polícia Federal o dever de apurar,
também, as infrações que tiverem repercussão interestadual e que seja necessária repressão
uniforme. Vejamos.
§ 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, organizado e
mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se a:
I - apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de
bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas
públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual
ou internacional e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei;
II - prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o
contrabando e o descaminho, sem prejuízo da ação fazendária e de outros órgãos
públicos nas respectivas áreas de competência;
III - exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras;
IV - exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União.28
Assim, analisando o inciso I, percebe-se que trata de uma norma de eficácia
limitada e para surtir efeito é necessário a elaboração de uma lei regulamentando o que seria
repercussão interestadual ou internacional.
É justamente através da Lei 10.446/02, que recentemente foi alterada pela Lei
nº 12.894/13, que se traz a regulamentação do §1º, I, do art. 144, da CF e, consequentemente,
atribui, de forma exemplificativa, o rol dos crimes passiveis de investigação pela Polícia
Federal, sem prejuízo da responsabilidade das Polícias Civis e Militares dos Estados.
Vejamos:
Art. 1o Na forma do inciso I do § 1
o do art. 144 da Constituição, quando houver
repercussão interestadual ou internacional que exija repressão uniforme, poderá o
Departamento de Polícia Federal do Ministério da Justiça, sem prejuízo da
responsabilidade dos órgãos de segurança pública arrolados no art. 144 da
Constituição Federal, em especial das Polícias Militares e Civis dos Estados,
proceder à investigação, dentre outras, das seguintes infrações penais:
I – seqüestro, cárcere privado e extorsão mediante seqüestro (arts. 148 e 159 do
Código Penal), se o agente foi impelido por motivação política ou quando praticado
em razão da função pública exercida pela vítima; II – formação de cartel (incisos I, a, II, III e VII do art. 4º da Lei nº 8.137, de 27 de
dezembro de 1990); e III – relativas à violação a direitos humanos, que a República Federativa do Brasil
se comprometeu a reprimir em decorrência de tratados internacionais de que seja
parte; e IV – furto, roubo ou receptação de cargas, inclusive bens e valores, transportadas
em operação interestadual ou internacional, quando houver indícios da atuação de
quadrilha ou bando em mais de um Estado da Federação.
28
BRASIL. Constituição Federal de 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituição.htm>.
28
V - falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins
terapêuticos ou medicinais e venda, inclusive pela internet, depósito ou distribuição
do produto falsificado, corrompido, adulterado ou alterado (art. 273 do Decreto-Lei
nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal).
VI - furto, roubo ou dano contra instituições financeiras, incluindo agências
bancárias ou caixas eletrônicos, quando houver indícios da atuação de associação
criminosa em mais de um Estado da Federação.29
Assim, percebe-se que tais crimes continuam sendo, em regra, de competência
da Justiça Estadual. Entretanto, nada obsta que a Polícia Federal possa investigar, passando a
sua apuração ser de competência concorrente das polícias estaduais e federal.
Apesar do artigo 1º, da Lei 10.446/02 trazer um rol dos crimes que cabe a
Polícia Federal proceder as investigações, percebe-se que este rol é exemplificativo e
conforme o estatuído no § único, do referido artigo, poderá o Departamento de Polícia
Federal proceder à apuração de outros casos, desde que tal providência seja autorizada ou
determinada pelo Ministro da Justiça. Vejamos:
Parágrafo único. Atendidos os pressupostos do caput, o Departamento de Polícia
Federal procederá à apuração de outros casos, desde que tal providência seja
autorizada ou determinada pelo Ministro de Estado da Justiça.30
Recentemente tivemos mais uma alteração legislativa que ocasionou alterações
ao cargo de Delegado da Polícia Federal. No final de 2014, a Lei 13.034, atribuiu a função de
natureza jurídica ao Delegado da Polícia Federal.
Agora, em virtude da atribuição de natureza jurídica que é desempenhada pela
função, para o ingresso na carreira de Delegado de Polícia Federal, além da aprovação em
concurso público, privativo em bacharel em direito, de provas e títulos, é exigido, também,
no mínimo, 3 anos de atividade jurídica ou policial, comprovados no ato da posse.
Devido esta recente atualização pela Lei 13.034, os requisitos para ingresso na
carreira de delegado de polícia federal passaram a ser equiparados aos de Juiz de direito e
membros do Ministério Público.
2.2 – Polícia Civil
29
BRASIL. Lei 10.446/02, art. 1º, I a VI. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10446.htm>. 30
BRASIL. Lei 10.446/02, art. 1º, § único. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10446.htm>.
29
A Polícia Civil é uma das responsáveis pela segurança pública a nível estadual.
Esta é dirigida por delegados de carreira e exercem o papel de polícia judiciária, investigando
e apurando infrações penais, com exceção das militares.
No que diz respeito a competência da Polícia Civil, esta será exercida de
maneira residual. Tudo aquilo que não estiver previsto constitucionalmente como de
competência da Polícia Federal, será da Polícia Civil.
No entanto, é imperioso destacar a respeitável polêmica sobre a função
exercida pelo Chefe de Polícia, em que as Constituições Estaduais exigiam que fossem
preenchidas por Delegados da classe mais elevada.
O STF, em um primeiro momento, passou a tratar a polêmica que tal exigência
contrariava o art. 144, §4º, da CF, no qual prever apenas que seja dirigido por delegados de
carreira.
Entretanto, tal entendimento pairou e, posteriormente, foi pacificado, na
suprema corte, de que os Estados, ao disciplinar o assunto, tem competência legislativa ampla
para estabelecerem um novo requisito a mais, em respeito à sua autonomia político-
institucional da federação.
Assim, além do requisito constitucional previsto no art. 144, §4º, da CF, é
totalmente permitido a exigência do preenchimento, para o cargo em comissão, que seja
delegado da carreira da classe mais elevada, a ser escolhido pelo Governador do Estado.
Segue a ementa a respeito da decisão proferida no Informativo 599, do STF:
Escolha de Diretor-Geral da Polícia Civil e Autonomia Estadual - 2
No mérito, considerou-se que o dispositivo questionado prestigiaria a autonomia
político-institucional da federação. Asseverou-se que a regra impugnada se
mostraria fiel ao que instituído pela Constituição, nos seus aspectos gerais,
possuindo racionalidade. Enfatizou-se que o preceito não violaria a Carta Magna,
haja vista que o modelo federal apenas exigiria que o cargo em comento não fosse
provido por pessoa estranha à carreira. Assim, reputou-se admissível que o Estado-
membro, ao organizar a aludida carreira, se valha do que a Constituição prescreve
— ―dirigidas por delegados de polícia de carreira‖ (CF, art. 144, § 4º) — para
concluir que o Chefe do Poder Executivo poderia optar dentre aqueles de uma
determinada classe, a homenagear o patamar mais alto da carreira. Mencionou-se
que a Constituição não poderia deixar de pressupor que a carreira significaria
experiência e profissionalização do serviço público. Aduziu-se que o STF vem
possibilitando uma verdadeira reconstrução jurisdicional da própria teoria do
federalismo, afastando aquela anterior subordinação dos Estados-membros e dos
Municípios ao denominado ―standard federal‖ tão excessivamente centralizador da
CF/69, na qual estabelecida uma concentração espacial do poder político na esfera
da União. Tendo isso em conta, ressaltou-se que a federação brasileira fora uma
construção artificial e que caberia a esta Corte auxiliar na arquitetura dessa
autonomia estadual. Vencido o Min. Dias Toffoli que, por reputar que a norma
restringiria a possibilidade de escolha do Governador, julgava procedente, em parte,
o pleito para declarar a inconstitucionalidade da expressão ―da classe mais elevada‖,
30
constante da alínea a do parágrafo único do art. 6º da lei impugnada.31
2.3 – Lei 12.830/13 e a investigação criminal conduzida pelo Delegado de Polícia
A referida lei surgiu em meio a várias disputas institucionais e corporativas
entre a Polícia e o Ministério Público. De um lado havia o Ministério Público extrapolando
suas funções e adentrando na obrigação da Polícia Judiciária. Por outro, a Polícia Judiciária
na luta da busca de maiores reconhecimentos perante o Poder Judiciário.
O grande debate, entre as instituições, que corria no Congresso Nacional,
girava em torno da PEC 37, que pretendia acrescentar o §10 ao art. 144 da Constituição
Federal, prevendo conferir exclusividade às Polícias Federal e Civil para a investigação
criminal.
No entanto, tal proposta de Emenda Constitucional foi rejeitada, pelo Congresso
Nacional. E, ainda, em meio as discussões, foi aprovada a Lei nº 12.830/2013, que trata da
investigação criminal conduzida pelo Delegado de Polícia, na qual objetivou de uma vez por
todas firmar a tese de que a decisão final das diligências a serem realizadas no inquérito
policial é do Delegado de Polícia.
Com isso, a referida lei nada mais fez do que ratificar o entendimento que a
Constituição Federal já elencava: que as funções de Polícia Judiciária exercidas pelo
Delegado de Polícia são de natureza jurídica, essenciais e exclusivas do Estado.
Assim, pode-se afirmar plenamente que, hoje, a carreira do Delegado de Polícia é
jurídica e, portanto, a classe passa a ser equiparada, para todos os efeitos, com as demais
carreiras de Estado (Magistratura, Ministério Público, Defensoria Pública, etc).
Diante os debates, o art. 2º, da referida lei, buscou consolidar e garantir, de uma vez
por todas, tais qualidades as funções do Delegado de Polícia. Perceba:
Art. 2o As funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais exercidas
pelo delegado de polícia são de natureza jurídica, essenciais e exclusivas de
Estado.32
31
BRASIL, Superior Tribunal Federal, ADI 3062/GO, rel. Min. GILMAR MENDES, 9.9.2010. (ADI-3062).
Disponível em: <http://www.stf.jus.br/arquivo/informativo/documento/informativo599.htm>. 32
BRASIL. Lei 12.830/13, art. 2º. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-
2014/2013/lei/l12830.htm>.
31
Além de trazer qualidades as funções exercidas pelo Delegado de Polícia, a lei
12.830/13, em seu art. 2º, §1º, trouxe, também, os meios e os objetivos pelos quais a referida
autoridade deve exercer ao conduzir uma investigação criminal.
Pela literalidade do parágrafo, buscou-se apenas trazer um reforço do que já era
previsto no art. 4º, do CPP e que o inquérito policial é um procedimento administrativo
inquisitório, objetivando a apuração dos indícios de autoria e prova da materialidade. Veja:
§ 1o Ao delegado de polícia, na qualidade de autoridade policial, cabe a condução
da investigação criminal por meio de inquérito policial ou outro procedimento
previsto em lei, que tem como objetivo a apuração das circunstâncias, da
materialidade e da autoria das infrações penais.33
Apesar do referido parágrafo garantir ao Delegado de Polícia a plena
discricionariedade na condução da investigação criminal, é de ressaltar o recente
entendimento do STF ao reconhecer a legitimidade ao Ministério Público para exercer, por
autoridade própria, investigações de natureza penal, desde que tais investigações respeitem os
direitos e garantias que assistem qualquer indiciado ou a qualquer pessoa sob investigação do
Estado. Vejamos:
―O Ministério Público dispõe de competência para promover, por autoridade
própria, e por prazo razoável, investigações de natureza penal, desde que
respeitados os direitos e garantias que assistem a qualquer indiciado ou a qualquer
pessoa sob investigação do Estado, observadas, sempre, por seus agentes, as
hipóteses de reserva constitucional de jurisdição e, também, as prerrogativas
profissionais de que se acham investidos, em nosso País, os Advogados (Lei
8.906/94, artigo 7º, notadamente os incisos I, II, III, XI, XIII, XIV e XIX), sem
prejuízo da possibilidade – sempre presente no Estado democrático de Direito – do
permanente controle jurisdicional dos atos, necessariamente documentados (Súmula
Vinculante 14), praticados pelos membros dessa instituição‖.34
A referida decisão ainda é motivo para bastante discussão sobre a
possibilidade ou não do Ministério Público realizar as referidas investigações. Entretanto, por
ora, o referido órgão está permitido a investigar, mas é de se questionar a sua
inconstitucionalidade, uma vez que se percebe ampla afronta ao Sistema Acusatório, como,
também, aos princípios do contraditório e da ampla defesa, uma vez que o Ministério Público
será, posteriormente, parte ativa no processo.
33
BRASIL. Código de Processo Penal. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-
lei/Del3689.htm>. 34
BRASIL. Superior Tribunal Federal. RE 593727, Relator(a): Min. CEZAR PELUSO, Relator(a) p/
Acórdão: Min. GILMAR MENDES, Tribunal Pleno, julgado em 14/05/2015, ACÓRDÃO ELETRÔNICO
REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-175 DIVULG 04-09-2015 PUBLIC 08-09-2015. Disponível em:
<http://stf.jus.br/portal/jurisprudencia/visualizarEmenta.asp?s1=000283774&base=baseAcordaos>.
32
Além do exposto, também é imperioso destacar a falta de previsão legal quanto à
investigação direta por parte do Ministério Público tanto no art. 144, quanto no art. 129,
ambos da Constituição Federal. Inclusive, é de ressaltar, que o próprio art. 144, prevê
exclusividade à Polícia Judiciária.
Apesar dos debates e polêmicas, continua permitido que o Ministério Público possa
investigar e, até mesmo, requisitar outras diligências. Entretanto, por força do §1º, do art. 2º,
da Lei 12.830/13, o Parquet nunca poderá presidir um inquérito policial, pois este é de
atribuição exclusiva da Autoridade Policial.
Sobre o tema, é de grande relevância constatar a decisão proferida pelo STF:
A outorga constitucional de funções de polícia judiciária à instituição policial não
impede nem exclui a possibilidade de o Ministério Público, que é o "dominus litis",
determinar a abertura de inquéritos policiais, requisitar esclarecimentos e
diligências investigatórias, estar presente e acompanhar, junto a órgãos e agentes
policiais, quaisquer atos de investigação penal, mesmo aqueles sob regime de sigilo,
sem prejuízo de outras medidas que lhe pareçam indispensáveis à formação da sua
"opinio delicti", sendo-lhe vedado, no entanto, assumir a presidência do inquérito
policial, que traduz atribuição privativa da autoridade policial. Precedentes.35
Ponto importante diz respeito a possibilidade da investigação criminal defensiva.
Apesar de ainda não haver previsão legal, tal medida é amplamente aceita pela doutrina e,
também, está prevista no projeto do Novo Código de Processo Penal brasileiro.
A investigação defensiva é uma medida investigatória desenvolvida pelo particular
ou pelo seu defensor, em qualquer fase da persecução penal, cujo objetivo maior é colher
elementos de informações necessários para tentar provar que não houve o crime ou de que
não foi ele o seu autor.
Assim, após a colheita destes materiais, o acusado irá, na fase judicial, tentar
contrariar as provas produzidas pela Autoridade Policial ou pelo Ministério Público.
Entretanto, é de ressaltar, que este poder de investigação defensiva autorizada ao
particular, não deve ser confundido com o poder de investigação atribuído a Autoridade
Policial, pois apesar do particular ter que respeitar todos os direitos constitucionais e
infraconstitucionais, o mesmo não é dotado de poderes coercitivos e, nem tampouco lhe é
permitido violar os direitos e garantias fundamentais.
35
BRASIL. Superior Tribunal Federal. HC 94173, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Segunda Turma,
julgado em 27/10/2009, DJe-223 DIVULG 26-11-2009 PUBLIC 27-11-2009 EMENT VOL-02384-02 PP-
00336. Disponível em:
<http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/visualizarEmenta.asp?s1=000163761&base=baseAcordaos>.
33
Tentando abranger um pouco mais esta investigação defensiva, recentemente foi
aprovada a Lei 13.432/17 em que dispõe sobre as atribuições da profissão de detetive
particular.
O detetive particular é aquela pessoa contratada pelo particular em que irá coletar e
planejar dados de natureza não criminal, visando ao esclarecimento de assuntos de interesse
privado do contratante.
É de ressaltar que a coleta de tais dados é de natureza não criminal e que a função
exercida pelo detetive particular não se confunde com as atribuições autorizadas aos órgãos
de segurança pública, assim, não podem violar os direitos e garantias fundamentais.
Entretanto, a referida Lei 13.432/17 trouxe um dispositivo que pode interferir
diretamente na condução investigativa conduzida pelo Delegado de Polícia.
Em seu Art. 5º, a lei prevê a possibilidade do detetive particular colaborar
formalmente com a investigação conduzida pelo Delegado de Polícia, entretanto, tal
colaboração não será feita de forma ampla e muito menos quando bem quiser o detetive
particular. Segundo prevê o seu § único, a participação do detetive particular só será
permitida quando a Autoridade Policial expressamente concordar, assim, mostrando, mais
uma vez, o quanto esta autoridade tem totais poderes e discricionariedade na condução do
inquérito policial. Vejamos:
Art. 5º O detetive particular pode colaborar com investigação policial em curso,
desde que expressamente autorizado pelo contratante.
Parágrafo único. O aceite da colaboração ficará a critério do delegado de polícia,
que poderá admiti-la ou rejeitá-la a qualquer tempo.36
Retornando a análise da Lei 12.830/13, é imperioso destacar a previsão que permite
a ampla atuação discricionária por parte do Delegado de Polícia durante a condução do
inquérito policial. Veja:
§ 2o Durante a investigação criminal, cabe ao delegado de polícia a requisição de
perícia, informações, documentos e dados que interessem à apuração dos fatos.37
Assim, a Autoridade Policial determinará as diligências que melhor achar adequadas
para o momento e desandar do inquérito policial. Esta liberdade discricionária não deve ser
compreendida de forma absoluta, a permitir todo tipo de atuação, mas sim uma liberdade com
36
BRASIL. Lei 13.432/17, art. 5º, §único. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
2018/2017/lei/L13432.htm>. 37
BRASIL. Lei 12.830/13, art. 2º, §2º. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-
2014/2013/lei/l12830.htm>.
34
atuação adstrita aos limites traçados na Lei e Constituição Federal, até por ser uma atividade
administrativa, deve-se observar o Princípio da Legalidade.
Por isso, é de se destacar as diligências previstas, de forma exemplificativas, nos art.
6º e 7º, do CPP, que permitem ao Delegado de Polícia adotar qualquer um destes atos do
processo, no melhor momento que achar permitido, sem que haja necessidade de seguir a sua
sequência, uma vez lhe é atribuído a atuação discricionária e que o inquérito policial não é
entendido como um procedimento formal.
Art. 6o Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a autoridade
policial deverá:
I - dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o estado e
conservação das coisas, até a chegada dos peritos criminais;
II - apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após liberados pelos
peritos criminais;
III - colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e suas
circunstâncias;
IV - ouvir o ofendido;
V - ouvir o indiciado, com observância, no que for aplicável, do disposto
no Capítulo III do Título Vll, deste Livro, devendo o respectivo termo ser assinado
por duas testemunhas que Ihe tenham ouvido a leitura;
VI - proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e a acareações;
VII - determinar, se for caso, que se proceda a exame de corpo de delito e a
quaisquer outras perícias;
VIII - ordenar a identificação do indiciado pelo processo datiloscópico, se possível,
e fazer juntar aos autos sua folha de antecedentes;
IX - averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto de vista individual,
familiar e social, sua condição econômica, sua atitude e estado de ânimo antes e
depois do crime e durante ele, e quaisquer outros elementos que contribuírem para a
apreciação do seu temperamento e caráter.
X - colher informações sobre a existência de filhos, respectivas idades e se possuem
alguma deficiência e o nome e o contato de eventual responsável pelos cuidados dos
filhos, indicado pela pessoa presa.
Art. 7o Para verificar a possibilidade de haver a infração sido praticada de
determinado modo, a autoridade policial poderá proceder à reprodução simulada
dos fatos, desde que esta não contrarie a moralidade ou a ordem pública.38
O §4º, do art. 2º, da lei 12.803/13, trata da possibilidade de avocação e
redistribuição dos inquéritos policiais. Segundo prevê a literalidade do parágrafo, ambas as
medidas só poderão ser realizadas pelo superior hierárquico e desde que mediante despacho
fundamentado, com base no interesse público ou em virtude da inobservância dos
procedimentos previstos em regulamentos da corporação que prejudique a eficácia das
investigações. Veja:
§ 4o O inquérito policial ou outro procedimento previsto em lei em curso somente
poderá ser avocado ou redistribuído por superior hierárquico, mediante despacho
38
BRASIL. Código de Processo Penal. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-
lei/Del3689.htm>.
35
fundamentado, por motivo de interesse público ou nas hipóteses de inobservância
dos procedimentos previstos em regulamento da corporação que prejudique a
eficácia da investigação.39
Enquanto que o parágrafo quarto exige fundamentação para a avocação e
redistribuição dos inquéritos policiais. O §5 exige a fundamentação, de maneira concreta,
para os casos de remoção do próprio Delegado de Polícia, vetando-se a fundamentação
abstrata de que ―se trata de interesse da Administração Pública‖.
Em sequência, é possível perceber um dos pontos mais importante da Lei 12.830/13.
Trata-se, especificamente, do indiciamento como ato privativo do Delegado de Polícia.
§ 6o O indiciamento, privativo do delegado de polícia, dar-se-á por ato
fundamentado, mediante análise técnico-jurídica do fato, que deverá indicar a
autoria, materialidade e suas circunstâncias.40
Tal parágrafo é mais uma demonstração do quanto a atividade realizada pelo
Delegado de Polícia é de natureza jurídica e essencial do Estado. Pois apenas a esta
autoridade é permitido realizar o indiciamento, não podendo qualquer outra pessoa e, muito
menos, o Juiz ou o Promotor interferir em sua decisão.
Por fim, a lei trouxe a exigência que o Delegado de Polícia deve receber o mesmo
tratamento protocolar dispensado aos Magistrados, membros do Ministério Público,
defensorias e os Advogados. Assim, as Autoridades Policiais devem ser tratadas como
―Vossa Excelência‖.
Art. 3o O cargo de delegado de polícia é privativo de bacharel em Direito, devendo-
lhe ser dispensado o mesmo tratamento protocolar que recebem os magistrados, os
membros da Defensoria Pública e do Ministério Público e os advogados.41
39
BRASIL. Lei 12.830/13, art. 2º, §4º. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-
2014/2013/lei/l12830.htm>. 40
BRASIL. Lei 12.830/13, art. 2º, §6º. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-
2014/2013/lei/l12830.htm>. 41
BRASIL. Lei 12.830/13, art. 3º. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-
2014/2013/lei/l12830.htm>.
36
CAPÍTULO III
PRINCIPAIS PROCEDIMENTOS E ATRIBUIÇÕES DA
AUTORIDADE POLICIAL
3.1 – Inquérito Policial
Como visto anteriormente, o inquérito policial é um procedimento
administrativo, inquisitorial, de atribuição privativa do Delegado de Polícia, realizado na fase
pré-processual, com o objetivo de coletar elementos de informação necessários a subsidiar o
oferecimento da ação penal.
Pode ser considerado a principal ferramenta da Autoridade Policial, pois é a
partir dele que o Delegado irá começar a formalizar as diligências e investigações em curso.
A atribuição do Delegado para dá início as investigações devem obedecer a
certos critérios. Segundo o art. 4º, do CPP, deve-se obedecer ao critério territorial, em que a
Autoridade competente para a instauração do inquérito policial é aquela que exerce suas
funções na circunscrição em que se consumou a infração penal.
Art. 4º A polícia judiciária será exercida pelas autoridades policiais no território de
suas respectivas circunscrições e terá por fim a apuração das infrações penais e da
sua autoria.42
Porém, também é possível elencar as hipóteses dos critérios materiais ou em
razão da pessoa. O primeiro diz respeito à atribuição das delegacias especializadas para
apuração dos delitos. Em cidades grandes, em que as demandas policiais são enormes,
existem delegacias com atribuições para investigar infrações penais específicas. Nestas
hipóteses, dizemos que as delegacias especializadas estão revestidas do critério material.
42
BRASIL. Código de Processo Penal. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-
lei/Del3689.htm>.
37
Já a segunda hipótese diz respeito a vítima. Em alguns crimes a
vulnerabilidade da vítima é um fator em que se exige uma maior atenção e prestação por
parte do Estado. É justamente nesta hipótese em que se encaixam as delegacias especializadas
da mulher, onde é necessário um imediato e integral atendimento especializado por parte do
Estado.
3.2 – Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO)
O Termo Circunstanciado de Ocorrência é o documento que visa substituir o
inquérito policial nas hipóteses de infrações de menor potencial ofensivo.
Assim como as atribuições do inquérito policial, o TCO deve ser, também,
entendido como de atribuição exclusiva da autoridade policial, haja vista ser substitutivo do
inquérito policial.
No TCO não há nada de extraordinário. É um simples documento, aplicável
aos crimes de menor potencial ofensivo e que deve conter as informações básicas acerca do
delito, da vítima, do suposto infrator e a narrativa do fato.
Recebida a notitia criminis e tratando-se de delito de menor potencial
ofensivo, deverá o Delegado de Polícia lavrar o TCO e, poderá adotar uma das seguintes
medidas:
1) Encaminhar imediatamente os envolvidos, juntamente com o TCO lavrado,
para o Juizado Especial Criminal;
2) Não sendo possível encaminhar imediatamente, deverá ser feita a colheita da
assinatura do suposto autor se comprometendo a comparecer no Jecrim;
Em regra, em ambas hipóteses, não será admitida a prisão em flagrante e nem
mesmo o arbitramento da fiança.
Contudo, excepcionalmente, será permitido ao Delegado de Polícia lavrar o Auto de
Prisão em Flagrante, na hipótese em que o autor se recuse a assinar o TCO, momento pelo
qual a autoridade irá descartar o trâmite da Lei 9.099/95 e instaurará o Inquérito Policial,
adotando os regramentos previstos no CPP, inclusive, sendo o caso, será permitido a
concessão da fiança e a representação por medidas cautelares ou prisão.
É importante atentar-se para uma excepcional hipótese prevista no art. 28, da lei
11.343/06, em que não será permito a prisão em flagrante e muito menos a decretação da
pena privativa de liberdade, nos casos em que envolverem o porte de drogas para consumo
pessoal, pois este art. 28, da lei 11.343/06 não trouxe de forma expressa a cominação de
qualquer pena.
38
Apesar da ausência de previsão da pena, a nossa Suprema Corte já se posicionou
pelo sentido de que o referido é considerado crime e, consequentemente, deve o Delegado de
Polícia lavrar o TCO, mas, em razão do princípio da proporcionalidade, não será autorizado a
prisão do preso na hipótese de recusa da assinatura do termo de comparecimento ao Jecrim.
Art. 28 da Lei 11.343/2006 e Despenalização
A Turma, resolvendo questão de ordem no sentido de que o art. 28 da Lei
11.343/2006 (Nova Lei de Tóxicos) não implicou abolitio criminis do delito de
posse de drogas para consumo pessoal, então previsto no art. 16 da Lei 6.368/76,
julgou prejudicado recurso extraordinário em que o Ministério Público do Estado do
Rio de Janeiro alegava a incompetência dos juizados especiais para processar e
julgar conduta capitulada no art. 16 da Lei 6.368/76. Considerou-se que a conduta
antes descrita neste artigo continua sendo crime sob a égide da lei nova, tendo
ocorrido, isto sim, uma despenalização, cuja característica marcante seria a exclusão
de penas privativas de liberdade como sanção principal ou substitutiva da infração
penal. Afastou-se, também, o entendimento de parte da doutrina de que o fato,
agora, constituir-se-ia infração penal sui generis, pois esta posição acarretaria sérias
conseqüências, tais como a impossibilidade de a conduta ser enquadrada como ato
infracional, já que não seria crime nem contravenção penal, e a dificuldade na
definição de seu regime jurídico. Ademais, rejeitou-se o argumento de que o art. 1º
do DL 3.914/41 (Lei de Introdução ao Código Penal e à Lei de Contravenções
Penais) seria óbice a que a novel lei criasse crime sem a imposição de pena de
reclusão ou de detenção, uma vez que esse dispositivo apenas estabelece critério
para a distinção entre crime e contravenção, o que não impediria que lei ordinária
superveniente adotasse outros requisitos gerais de diferenciação ou escolhesse para
determinado delito pena diversa da privação ou restrição da liberdade. Aduziu-se,
ainda, que, embora os termos da Nova Lei de Tóxicos não sejam inequívocos, não
se poderia partir da premissa de mero equívoco na colocação das infrações relativas
ao usuário em capítulo chamado "Dos Crimes e das Penas". Por outro lado,
salientou-se a previsão, como regra geral, do rito processual estabelecido pela Lei
9.099/95. Por fim, tendo em conta que o art. 30 da Lei 11.343/2006 fixou em 2 anos
o prazo de prescrição da pretensão punitiva e que já transcorrera tempo superior a
esse período, sem qualquer causa interruptiva da prescrição, reconheceu-se a
extinção da punibilidade do fato e, em conseqüência, concluiu-se pela perda de
objeto do recurso extraordinário.43
3.3 – Indiciamento
Como abordado, também, anteriormente, o indiciamento é o ato privativo da
autoridade policial, através do qual irá apontar alguém como provável autor do delito,
indicando os indícios de autoria e a prova da materialidade.
Este indiciamento não serve como delimitação para os termos da acusação, de
forma pela qual o indiciamento não vincula a atuação do Ministério Público no oferecimento
43
BRASIL. Supremo Tribunal Federa. RE 430105 QO/RJ, rel. Min. Sepúlveda Pertence, 13.2.2007. (RE-
430105). Disponível em: <http://www.stf.jus.br/arquivo/informativo/documento/informativo456.htm>.
39
da denúncia, uma vez que o Parquet tem a discricionariedade de poder ou não usar o
indiciamento como subsídio para o oferecimento da ação penal.
O indiciamento, por ser ato privativo do Delegado de Polícia, pode-se então
afirmar que é ato próprio da fase investigatória e que não é permitido a sua aplicação após o
recebimento da ação penal pelo Juiz.
Apesar de ser ato exclusivo da fase pré-processual, a Autoridade Policial tem
total discricionariedade do momento mais adequado para realizar o indiciamento, podendo
este ser já na própria instauração do inquérito policial ou, até mesmo, ao final, em seu
relatório.
Assim, caso seja hipótese de prisão em flagrante, como já se sabe quem é o
autor da infração penal, deve-se realizar o indiciamento concomitantemente à instauração do
inquérito policial.
Em regra, qualquer pessoa poderá ser indiciada. Entretanto, excepcionalmente,
nas hipóteses das pessoas que figurem com foro por prerrogativa de função, o Delegado de
Polícia deverá representar pela autorização do indiciamento destes.
Com isso, tratando-se de foro por prerrogativa de função, em que teve o início
do seu inquérito policial autorizado pelo Ministro ou Desembargador Relator, chegando a
Autoridade Policial a conclusão que o investigado apresenta indícios razoáveis de autoria na
pratica da infração penal, deverá representar pela autorização do seu indiciamento ao
Ministro ou Desembargador Relator. Este é o entendimento do STF:
Detentor de Foro por Prerrogativa de Função e Indiciamento
O Tribunal, por maioria, resolveu questão de ordem suscitada em inquérito
originário promovido pelo Ministério Público Federal, no qual se apura o
envolvimento de Senador quanto à ocorrência das supostas práticas delituosas sob
investigação na denominada "Operação Sanguessuga", no sentido de anular o ato
formal de indiciamento do parlamentar realizado por autoridade policial.
Ressaltando que a prerrogativa de foro tem por escopo garantir o livre exercício da
função do agente político, e fazendo distinção entre os inquéritos originários, a
cargo e competência do STF, e os de natureza tipicamente policial, que se regulam
inteiramente pela legislação processual penal brasileira, entendeu-se que, no
exercício da competência penal originária do STF (art. 102, I, b, da CF c/c o art. 2º
da Lei 8.038/90), a atividade de supervisão judicial deve ser constitucionalmente
desempenhada durante toda a tramitação das investigações, ou seja, desde a
abertura dos procedimentos investigatórios até o eventual oferecimento, ou não, de
denúncia pelo Ministério Público, sob pena de esvaziamento da própria idéia dessa
prerrogativa. Em razão disso, concluiu-se que a autoridade policial não poderia ter
indiciado o parlamentar sem autorização prévia do Ministro-relator do inquérito.
Ademais, em manifestação obiter dictum, asseverou-se que a autoridade policial
também dependeria dessa autorização para a abertura de inquérito em que
envolvido titular de prerrogativa de foro perante esta Corte. Vencidos os Ministros
Joaquim Barbosa, Carlos Britto, Marco Aurélio e Celso de Mello, que não
anulavam o indiciamento, por considerar que o membro do Congresso Nacional
40
poderia ser submetido à investigação penal, mediante instauração de inquérito
policial, e conseqüente indiciamento - ato de natureza legal, vinculada -, por
iniciativa da própria autoridade policial, independente de autorização prévia do
STF. Precedentes citados: Pet 2805/DF (DJU de 27.2.2004); Inq 2285/DF (DJU de
13.3.2006); Inq 149/DF (DJU de 27.10.83); Inq 1793 AgR/DF (DJU de 14.6.2002);
Pet 1954/DF (DJU de 1º.8.2003); Pet 2805/DF (DJU de 27.2.2004); Pet 1104/DF
(DJU de 23.5.2003); Pet 3248/DF (DJU de 23.11.2004); Pet 2998/MG (DJU de
6.11.2006); Rcl 2138/DF (acórdão pendente de publicação); Rcl 2349/TO (DJU de
5.8.2005).
Inq 2411 QO/MT, rel. Min. Gilmar Mendes, 10.10.2007. (Inq-2411)44
Segundo a doutrina, a regra é que o indiciamento seja realizado de forma
direta, ou seja, na presença do investigado. Entretanto, haverá casos em que também poderá
ocorrer de forma indireta, quando o indiciado estiver ausente.
Por expressa previsão legal de que o indiciamento é ato privativo do Delegado
de Polícia, de igual forma, deve ser adotado o entendimento de que o desindiciamento, que é
o ato de retirar de alguém a qualidade de indiciado é, também, de atribuição exclusiva do
Delegado de Polícia.
Por fim, destaque-se a impossibilidade de realizar o indiciamento nos crimes
de menor potencial ofensivo, que seguem o procedimento dos Juizados Especiais Criminais,
em que o Delegado de Polícia utiliza o TCO.
Se para esses delitos não podem ser decretadas a prisão em flagrante e, muito
menos, o arbitramento da fiança, não seria compatível realizar um indiciamento para os
delitos que seguem o rito sumaríssimo, uma vez que iria de afronta aos seus princípios.
3.4 – Auto de prisão em flagrante delito
Segundo conceitua Renato Brasileiro, ―Cuida-se, o auto de prisão em flagrante
delito, de instrumento em que estão documentados os fatos que revelam a legalidade e a
regularidade da restrição excepcional do direito de liberdade, funcionando, ademais, como
uma das modalidades de notitia criminis (de cognição coercitiva), e, portanto, como peça
inicial do inquérito policial‖.45
44
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Inq 2411 QO, Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Tribunal Pleno,
julgado em 10/10/2007, DJe-074 DIVULG 24-04-2008 PUBLIC 25-04-2008 EMENT VOL-02316-01 PP-
00103 RTJ VOL-00204-02 PP-00632. Disponível em:
<http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/visualizarEmenta.asp?s1=000088090&base=baseAcordaos>. 45
LIMA, Renato Brasileiro. Manual de Processo Penal, Vol. Único. 4. ed. rev., ampl. e atual. – Salvador: Ed.
JusPodivm, 2016. Pág. 1238.
41
Segundo expõe o art. 302, do CPP, é considerado em flagrante delito quem está
cometendo a infração penal; acaba de cometê-la; é perseguido, logo após, pela autoridade,
pelo ofendido ou por qualquer pessoa, em situação que faça presumir ser autor da infração;
ou é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, objetos ou papéis que façam
presumir ser ele autor da infração.
Art. 302. Considera-se em flagrante delito quem:
I - está cometendo a infração penal;
II - acaba de cometê-la;
III - é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou por qualquer pessoa,
em situação que faça presumir ser autor da infração;
IV - é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, objetos ou papéis que
façam presumir ser ele autor da infração.
Art. 303. Nas infrações permanentes, entende-se o agente em flagrante delito
enquanto não cessar a permanência.46
Assim, vislumbrando um fato típico, qualquer pessoa do povo poderá e as
autoridades policiais e seus agentes deverão prender quem quer que seja encontrado em
flagrante delito.
Após realizada a prisão, deve-se conduzir o preso à Autoridade Policial da
circunscrição onde foi efetuada a prisão para que esta autoridade possa lavrar o respectivo
auto de prisão em flagrante.
Porém, atente-se que ao contrário do indiciamento, o Delegado de Polícia não é a
única autoridade que pode lavrar o auto de prisão em flagrante delito.
Segundo interpretação da súmula 397, do STF, a Câmara dos Deputados e do
Senado Federal, na atribuição do seu poder de polícia, poderão prender em flagrante delito e,
consequentemente, realizar a lavratura do auto de prisão em flagrante e do inquérito policial,
desde que os crimes tenham ocorrido em suas dependências.
Súmula 397, STF - O poder de polícia da Câmara dos Deputados e do Senado
Federal, em caso de crime cometido nas suas dependências, compreende, consoante
o regimento, a prisão em flagrante do acusado e a realização do inquérito.47
Também será permitido a lavratura do auto de prisão pelo Juiz. Segundo o
exposto no art. 307, do CPP, estará o Magistrado autorizado a lavrar o auto de prisão em
46
BRASIL. Código de Processo Penal. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-
lei/Del3689.htm>. 47
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Súmula nº 397. Disponível em:
<http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/menuSumarioSumulas.asp?sumula=4070>.
42
flagrante quando o fato for praticado em sua presença ou contra sua autoridade, no exercício
de sua função.
Entretanto, é importante atentar-se que o STJ e STF adotaram posicionamento
no sentido de que não é possível a prisão em flagrante da pessoa que se apresenta
espontaneamente à Autoridade Policial, pois nesta hipótese, a apresentação espontânea não
está elencada no rol taxativo do art. 302, do CPP, em que prevê todas as possibilidades de
realização da prisão em flagrante.
De tal forma, também, nem sempre será permitido o recolhimento da pessoa à
prisão após a lavratura do autor de prisão em flagrante, pois, nos termos do art. 322, do CPP,
quando a infração tiver pena privativa de liberdade não superior a 4 anos, será permitido que
a Autoridade Policial conceda a fiança.
Art. 322. A autoridade policial somente poderá conceder fiança nos casos de
infração cuja pena privativa de liberdade máxima não seja superior a 4 (quatro)
anos. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011). Parágrafo único. Nos demais casos, a fiança será requerida ao juiz, que decidirá em
48 (quarenta e oito) horas.48
Por fim, é imperioso atentar-se para a recente alteração legislativa imposta pela
Lei 13.257/16, do dia 09 de março, que trata do estatuto da primeira infância, em que passou
a tornar como atribuição do Delegado de Polícia, no momento da lavratura do autor de prisão
em flagrante, que realize perguntas e conste informações sobre os filhos e respectivas
características pessoais destes, incluindo o contato do respectivo ou eventual responsável por
seus cuidados.
Art. 304. Apresentado o preso à autoridade competente, ouvirá esta o condutor e
colherá, desde logo, sua assinatura, entregando a este cópia do termo e recibo de
entrega do preso. Em seguida, procederá à oitiva das testemunhas que o
acompanharem e ao interrogatório do acusado sobre a imputação que lhe é feita,
colhendo, após cada oitiva suas respectivas assinaturas, lavrando, a autoridade,
afinal, o auto. (Redação dada pela Lei nº 11.113, de 2005)
§ 4o Da lavratura do auto de prisão em flagrante deverá constar a informação sobre
a existência de filhos, respectivas idades e se possuem alguma deficiência e o nome
e o contato de eventual responsável pelos cuidados dos filhos, indicado pela pessoa
presa.49
48
BRASIL. Código de Processo Penal. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-
lei/Del3689.htm>. 49
BRASIL. Código de Processo Penal. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-
lei/Del3689.htm>.
43
3.5 – Concessão da Fiança
Recentemente, a concessão da fiança passou por uma grande reforma através
da Lei 12.403/2011. Antes desta reforma, a fiança só podia ser concedida se houvesse o
preenchimento dos requisitos cumulativos de que a pessoa fosse presa em flagrante delito,
não estivesse previsto os requisitos da prisão preventiva e de que o preso se comprometesse a
comparecer a todos os atos da persecução penal.
Entretanto, após o advento da referida lei, a concessão da fiança passou a
abranger uma gama maior de hipóteses, permitindo a sua aplicação, em regra, para todos os
crimes, com exceção daqueles em que houverem expressa vedação legal.
A fiança deve ser compreendida como uma contracautela destinada ao
combate de algumas prisões processuais, cuja caução, prestação em valor, tem a finalidade de
garantir a presença do acusado a todos os atos processuais e, posteriormente, a execução da
pena.
Segundo o exposto no art. 334, do CPP, a fiança poderá ser concedida durante
o inquérito policial ou, então, no curso do processo criminal, desde que não haja o trânsito em
julgado da sentença penal condenatória.
Se no âmbito do inquérito policial, a fiança for concedida pelo Delegado de
Polícia, esta deverá ocorrer em até 24 horas após a prisão em flagrante, sem necessidade de
prévia oitiva do Ministério Público, e só será permitida sua concessão para os crimes cuja
pena máxima prevista seja de até 4 anos, pouco importando se é apenado com detenção ou
reclusão.
Insta destacar, que para a concessão da fiança, a Autoridade Policial para
calcular a pena máxima de 4 anos, deverá atentar-se para a existência de concurso de crimes,
causas de aumento e de diminuição da pena.
Por outro lado, se o crime tiver pena superior a 4 anos, a fiança só poderá ser
concedida pela Autoridade Judiciária e, em regra, em de 48 horas, caso trate de prisão em
flagrante. Entretanto, não sendo decorrente da prisão em flagrante, o Juiz poderá conceder a
qualquer momento.
Quanto ao valor da fiança, sua fixação ficará a ofício da autoridade competente
para sua concessão, de acordo com os limites estipulados no art. 325, I e II, do CPP, e deverá
ser concedido conforme o salário mínimo nacional.
Prevê o inciso I, que para as hipóteses em que a infração penal possuir penal
máxima de até 4 anos, poderá o Delegado de Polícia conceder a fiança de 1 a 100 salários
44
mínimos. Já a previsão do inciso II, é de que para as infrações penais em que a pena máxima
for superior a 4 anos, a Autoridade Judiciária deverá conceder a fiança nos limites de 10 a
200 salários mínimos.
Em ambas as hipóteses, dependendo da situação econômica do preso, tanto o
Delegado de Polícia quanto a Juiz poderão reduzir em até 2/3 o valor da fiança ou aumenta-la
em até mil vezes.
Entretanto, destaque-se que o Delegado de Polícia nunca poderá dispensar a
fiança, pois esta atribuição é de competência exclusiva da Autoridade Judiciária e caso o
acusado preencha os requisitos dos artigos 350 c/c 32, do CPP, deverá ser compreendida
como direito subjetivo do beneficiário, não podendo negar-lhe aplicação.
Imperioso atentar-se que para a fixação do valor, tanto o Magistrado quanto a
Autoridade Policial deverão levar em conta alguns critérios. Dentre eles deverá ser observado
a natureza da infração, incluindo as qualificadoras, causas de aumento e diminuição da pena;
as condições econômicas do indiciado; a sua vida pregressa; as circunstâncias indicativas de
sua periculosidade; e o valor provável das custas do processo, até o final do julgamento.
Assim, nos termos do 327, do CPP, a fiança que for tomada por termo irá
obrigar o afiançado a comparecer perante a autoridade, todas as vezes que for intimado para
atos do inquérito policial, da instrução criminal e para o julgamento. Assim, caso o réu não
compareça, a fiança será considerada como quebrada.
3.6 – Nota de Culpa
A nota de culpa é um direito previsto no art. 5º, inciso LXIV, da CF,
assegurada a toda pessoa presa e que possibilita a identificação dos responsáveis por sua
prisão ou pelo seu interrogatório policial.
LXIV - o preso tem direito à identificação dos responsáveis por sua prisão ou por
seu interrogatório policial;50
Sua concessão, também é prevista como uma obrigação da Autoridade
Policial, para que a prisão seja compreendida como válida, sob pena de caracterizar sua
ilegalidade e, consequentemente, seu relaxamento.
50
BRASIL. Constituição Federal de 1988. Disponível em
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituição.htm>.
45
Nos termos do art. 306, §2º, do CPP, em 24h deverá o Delegado de Polícia
entregar ao preso, mediante recibo, a nota de culpa, assinada por esta autoridade, com o
motivo da prisão, o nome do condutor e o das testemunhas.
Caso haja recusa do preso em assinar a nota de culpa, o entendimento
doutrinário é pela adoção à analogia do §3º, do art. 304, do CPP, devendo, assim, a nota de
culpa ser assinada por duas testemunhas, que tenham ouvido sua leitura na presença deste.
§ 3o Quando o acusado se recusar a assinar, não souber ou não puder fazê-lo, o auto
de prisão em flagrante será assinado por duas testemunhas, que tenham ouvido sua
leitura na presença deste.51
3.7 – Ordem e mandado de prisão
A prisão, em nosso ordenamento jurídico, é tida como uma exceção. Segundo
o inciso LXI, do art. 5º, da CF, só será permitido o cerceamento da liberdade de alguém caso
ocorra em estado de flagrante delito ou mediante ordem escrita e fundamentada de autoridade
judiciária competente.
LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e
fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão
militar ou crime propriamente militar, definidos em lei;52
Assim, a autoridade judiciária ao determinar a prisão de alguém, deverá,
também, concomitantemente, determinar a expedição do mandado, título este que irá
autorizar a execução da prisão.
Após a expedição do mandado, o Juiz remeterá este ao Delegado de Polícia,
que nos termos do art. 13, III, do CPP, será a autoridade competente a cumprir sua execução.
Art. 13. Incumbirá ainda à autoridade policial:
III - cumprir os mandados de prisão expedidos pelas autoridades judiciárias;53
51
BRASIL. Código de Processo Penal. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-
lei/Del3689.htm>. 52
BRASIL. Constituição Federal de 1988. Disponível em
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituição.htm>. 53
BRASIL. Código de Processo Penal. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-
lei/Del3689.htm>.
46
Ao realizar o cumprimento da ordem de prisão, o Delegado de Polícia deverá
ter mãos duas vias do mandado. Ambas as ordens deverão ser lidas na presença do acusado,
informando dia, hora e local da diligência e, em seguida, solicitando que o acusando assine
ambas. Posteriormente, uma via ficará com o próprio acusado, em que já servirá como nota
de culpa, enquanto que a outra via ficará com a Autoridade Policial.
É importante destacar que quando o Delegado de Polícia realizar grandes
operações em que for expedido, pela autoridade judiciária, vários mandados de prisões, será
autorizado que a Autoridade Policia tire quantas xerox for preciso dos mandados para
execução de seus cumprimentos, desde que respeito o conteúdo do mandado original.
Porém, atente-se, que excepcionalmente teremos duas hipóteses em que será
permitido o cumprimento da prisão sem que haja apresentação do mandado de prisão. A
primeira trata-se da hipótese de crime inafiançável, em que será permitido ao Delegado de
Polícia o cumprimento da prisão, desde que apresente imediatamente o preso à autoridade
judiciária que tenha expedido a ordem.
A segunda hipótese diz respeito as hipóteses previstas nos §§1º e 2º do art.
289-A, do CPP, em que qualquer policial está autorizado a efetuar a prisão de quem haja
mandado de prisão em aberto e registrado no Conselho Nacional de Justiça, hipótese em que
os policiais após tomar estas precauções, deverão realizar a prisão e comunicar
imediatamente ao juiz que a decretou.
Art. 289-A. O juiz competente providenciará o imediato registro do mandado de
prisão em banco de dados mantido pelo Conselho Nacional de Justiça para essa
finalidade. (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011). § 1
o Qualquer agente policial poderá efetuar a prisão determinada no mandado de
prisão registrado no Conselho Nacional de Justiça, ainda que fora da competência
territorial do juiz que o expediu. (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).
§ 2o Qualquer agente policial poderá efetuar a prisão decretada, ainda que sem
registro no Conselho Nacional de Justiça, adotando as precauções necessárias para
averiguar a autenticidade do mandado e comunicando ao juiz que a decretou,
devendo este providenciar, em seguida, o registro do mandado na forma
do caput deste artigo.54
Ponto importante é o que diz respeito ao momento exato para a execução do
mandado. Em regra, o mandado poderá ser cumprido durante o dia ou noite, desde que
respeitado a regra constitucional da inviolabilidade do domicílio (Art. 5º, XI, da CF/88).
54
BRASIL. Código de Processo Penal. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-
lei/Del3689.htm>.
47
XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem
consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para
prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial;55
Perceba que, a contrario sensu, durante a noite, o morador tem total liberdade
para consentir quem deve adentrar em sua residência, salvo nas hipóteses de flagrante delito,
desastres ou prestação de socorro. E caso este recuse, durante a noite, a entrada de qualquer
autoridade, não estará caracterizado infração penal, salvo esteja ocorrendo uma das exceções
autorizativas constitucionalmente.
Segundo o disposto no Código Penal, em seu artigo 150, §4º, a expressão
―casa‖ deve ser compreendida como:
§ 4º - A expressão "casa" compreende:
I - qualquer compartimento habitado;
II - aposento ocupado de habitação coletiva;
III - compartimento não aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou
atividade.56
Não devendo ser compreendido como a expressão ―casa‖:
§ 5º - Não se compreendem na expressão "casa":
I - hospedaria, estalagem ou qualquer outra habitação coletiva, enquanto aberta,
salvo a restrição do n.º II do parágrafo anterior;
II - taverna, casa de jogo e outras do mesmo gênero.57
Por fim, por mais que se pareça simples, a Autoridade Policial deverá
obedecer a várias regras para que o cumprimento do mandado de prisão tenha seu êxito e
corra dentro da legalidade. Entretanto, não sendo observado os cuidados necessários e legais,
caso o executor incorra em dolo, este deverá incorrer no crime de abuso de autoridade,
previsto no art. 4º, a, da Lei 4.898/65.
Art. 4º Constitui também abuso de autoridade:
a) ordenar ou executar medida privativa da liberdade individual, sem as
formalidades legais ou com abuso de poder;58
55
BRASIL. Constituição Federal de 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituição.htm>. 56
BRASIL. Código Penal. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-
lei/Del2848compilado.htm>. 57
BRASIL. Código Penal. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-
lei/Del2848compilado.htm>. 58
BRASIL. Lei 4.898/65, art. 4º, ―a‖. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L4898.htm>.
48
CAPÍTULO IV
LEI 11.340/06 – MARIA DA PENHA
4.1 – Breves considerações sobre a Lei Maria da Penha
A lei 11.340/06, que tem como objetivo primordial o de proteger a mulher
vítima da violência doméstica ou familiar, não teve como norte principal o de criar novos
crimes e penas, mas sim o de manifestar novos mecanismos processuais que busquem
conferir maior eficiência na proteção destas pessoas do gênero feminino.
Apesar da lei exteriorizar apenas mecanismos que viabilizem a sua aplicação
processual, deve-se entender, entretanto, que tais mecanismos não são aplicados a toda e
qualquer relação processual, de forma generalizada.
Assim, antes de adentrar na análise da referida lei, se faz primordial entender
quem são as pessoas beneficiarias por tais mecanismos de defesa.
Segundo dispõe a lei 11.340/06, deve-se aplicar a referida a todas aquelas
pessoas do sexo feminino. Mas, não é suficiente apenas que preencha a condição de ser
mulher. Assim, outro requisito necessário, é que a violência perpetrada contra a mulher tenha
como finalidade o seu gênero, a sua condição de vulnerabilidade, ou seja, que o infrator, ao
vislumbrar a vulnerabilidade da mulher, exerça o seu ato de violência. Vejamos:
49
Art. 5o Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a
mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão,
sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial:
I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio
permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente
agregadas;
II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por
indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por
afinidade ou por vontade expressa;
III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha
convivido com a ofendida, independentemente de coabitação.
Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de
orientação sexual.59
Contudo, é necessário observar, também, que os incisos do art. 5º exige que a
violência doméstica e familiar contra a mulher tenha sido praticada entre pessoas unidas por
um mesmo vinculo jurídico, seja este vinculo de natureza familiar ou por vontade expressa.
Ou seja, requer que os polos da relação processual possuam, ou tenham, no mínimo, possuído
uma relação íntima de afeto.
Assim, não se deve partir da ideia de que este vinculo jurídico é apenas o das
pessoas casadas ou que moram em uma mesma residência. Mas sim, entender que abrange
qualquer relação afetiva, independentemente de serem casados ou coabitarem, desde que a
violência tenha sido perpetrada contra a mulher em relação da sua vulnerabilidade.
Inclusive, este é o entendimento da jurisprudência majoritária:
CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. LEI MARIA DA PENHA.
RELAÇÃO DE NAMORO. DECISÃO DA 3ª SEÇÃO DO STJ. AFETO E
CONVIVÊNCIA INDEPENDENTE DE COABITAÇÃO. CARACTERIZAÇÃO
DE ÂMBITO DOMÉSTICO E FAMILIAR. LEI Nº 11.340/2006. APLICAÇÃO.
COMPETÊNCIA DO JUÍZO DE DIREITO DA 1ª VARA CRIMINAL.
1. Caracteriza violência doméstica, para os efeitos da Lei 11.340/2006, quaisquer
agressões físicas, sexuais ou psicológicas causadas por homem em uma mulher
com quem tenha convivido em qualquer relação íntima de afeto, independente de
coabitação. 2. O namoro é uma relação íntima de afeto que independe de
coabitação; portanto, a agressão do namorado contra a namorada, ainda que tenha
cessado o relacionamento, mas que ocorra em decorrência dele, caracteriza
violência doméstica. 3. A Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça, ao
decidir os conflitos nºs. 91980 e 94447, não se posicionou no sentido de que o
namoro não foi alcançado pela Lei Maria da Penha, ela decidiu, por maioria, que
naqueles casos concretos, a agressão não decorria do namoro. 4. A Lei Maria da
Penha é um exemplo de implementação para a tutela do gênero feminino, devendo
ser aplicada aos casos em que se encontram as mulheres vítimas da violência
doméstica e familiar. 5. Conflito conhecido para declarar a competência do Juízo
de Direito da 1ª Vara Criminal de Conselheiro Lafaiete -MG60
59
BRASIL. Lei 11.340/06, art.5º. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-
2006/2006/lei/l11340.htm>. 60
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. STJ - CC: 96532 MG 2008/0127004-8, Relator: Ministra JANE
SILVA (DESEMBARGADORA CONVOCADA DO TJ/MG), Data de Julgamento: 05/12/2008, S3 -
TERCEIRA SEÇÃO, Data de Publicação: --> DJe 19/12/2008. Disponível em:
<https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/2442849/conflito-de-competencia-cc-96532-mg-2008-0127004-8>.
50
HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. ART. 129, § 9.º, DO CÓDIGO
PENAL.CRIME PRATICADO CONTRA CUNHADA DO RÉU. INCIDÊNCIA
DA LEI MARIA DAPENHA. ART. 5.º, INCISO II, DA LEI N.º 11.340/06.
ORDEM DENEGADA.
1. A Lei n.º 11.340/2006, denominada Lei Maria da Penha, tem o intuito de proteger
a mulher da violência doméstica e familiar que lhe cause morte, lesão, sofrimento
físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial, sendo que o crime deve
ser cometido no âmbito da unidade doméstica, da família ou em qualquer relação
íntima de afeto. 2. Na espécie, apurou-se que a Vítima, irmã da companheira do
Acusado, vivendo há mais de um ano com o casal sob o mesmo teto, foi agredida
por ele. 3. Nesse contexto, inarredável concluir pela incidência da Lei n.º 11.343/06,
tendo em vista a ocorrência de ação baseada no gênero causadora de sofrimento
físico no âmbito da família, nos termos expressos do art. 5.º, inciso II, da
mencionada legislação. 4. "Para a configuração de violência doméstica, basta que
estejam presentes as hipóteses previstas no artigo 5º da Lei 11.343/2006 (Lei Maria
da Penha) [...]" (HC 115.857/MG, 6.ª Turma, Rel. Min. JANE SILVA
(Desembargadora Convocada do TJ/MG), DJe de 02/02/2009). 5. Ordem
denegada.61
Então, como observado, e bem elencado na lei, só será beneficiária dos
mecanismos processuais a mulher vítima da violência doméstica e familiar. Em nenhum
momento a referida lei dispõe sobre a possibilidade de seu benefício as pessoas do sexo
masculino. Assim, entende-se que para estes casos do sexo masculino, deve ser aplicado o
Código Penal e seguir o rito disposto para os dispositivos penais aplicados. É assim, também,
o posicionamento do STJ:
CONFLITO DE COMPETÊNCIA. PENAL. JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL E
JUIZ DE DIREITO. CRIME COM VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR
CONTRA MULHER. AGRESSÕES MÚTUAS ENTRE NAMORADOS SEM
CARACTERIZAÇÃO DE SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE DA MULHER.
INAPLICABILIDADE DA LEI Nº 11.340/06. COMPETÊNCIA DO JUIZADO
ESPECIAL CRIMINAL.
1. Delito de lesões corporais envolvendo agressões mútuas entre namorados não
configura hipótese de incidência da Lei nº 11.340/06, que tem como objeto a mulher
numa perspectiva de gênero e em condições de hipossuficiência ou vulnerabilidade.
2. Sujeito passivo da violência doméstica objeto da referida lei é a mulher. Sujeito
ativo pode ser tanto o homem quanto a mulher, desde que fique caracterizado o
vínculo de relação doméstica, familiar ou de afetividade, além da convivência, com
ou sem coabitação. 2. No caso, não fica evidenciado que as agressões sofridas
tenham como motivação a opressão à mulher, que é o fundamento de aplicação
da Lei Maria da Penha. Sendo o motivo que deu origem às agressões mútuas o
ciúmes da namorada, não há qualquer motivação de gênero ou situação de
vulnerabilidade que caracterize hipótese de incidência da Lei nº 11.340/06. 3.
Conflito conhecido para declarar competente o Juízo de Direito do Juizado Especial
Criminal de Conselheiro Lafaiete/MG. (grifo nosso)62
61
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. STJ - HC: 172634 DF 2010/0087535-0, Relator: MIN. LAURITA
VAZ, Data de Julgamento: 06/03/2012, T5 - QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJe 19/03/2012.
Disponível em: <https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/21458845/habeas-corpus-hc-172634-df-2010-
0087535-0-stj>. 62
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. STJ - CC: 96533 MG 2008/0127028-7, Relator: Ministro OG
FERNANDES, Data de Julgamento: 05/12/2008, S3 - TERCEIRA SEÇÃO, Data de Publicação: --> DJe
51
RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. LESÃO CORPORAL
PRATICADA NO ÂMBITO DOMÉSTICO. VÍTIMA DO SEXO MASCULINO.
ALTERAÇÃO DO PRECEITO SECUNDÁRIO PELA LEI N. 11.340/06.
APLICABILIDADE. DESCLASSIFICAÇÃO PARA O DELITO DESCRITO NO
ARTIGO 129, CAPUT, C/C ART. 61, INCISO II, ALÍNEA "E", DO CÓDIGO
PENAL. NORMA DE APLICAÇÃO SUBSIDIÁRIA. CONSTRANGIMENTO
ILEGAL NÃO EVIDENCIADO. RECURSO IMPROVIDO.
1. Não obstante a Lei n. 11.340/06 tenha sido editada com o escopo de tutelar com
mais rigor a violência perpetrada contra a mulher no âmbito doméstico, não se
verifica qualquer vício no acréscimo de pena operado pelo referido diploma legal no
preceito secundário do § 9º do artigo 129 do Código Penal, mormente porque não é
a única em situação de vulnerabilidade em tais relações, a exemplo dos portadores
de deficiência. 2. Embora as suas disposições específicas sejam voltadas à proteção
da mulher, não é correto afirmar que o apenamento mais gravoso dado ao delito
previsto no § 9º do artigo 129 do Código Penal seja aplicado apenas para vítimas de
tal gênero pelo simples fato desta alteração ter se dado pela Lei Maria da Penha,
mormente porque observada a pertinência temática e a adequação da espécie
normativa modificadora. 3. Se a circunstância da conduta ser praticada contra
ascendente qualifica o delito de lesões corporais, fica excluída a incidência da
norma contida no artigo 61, inciso II, alínea "e", do Código Penal, dotada de caráter
subsidiário. 4. Recurso improvido.
Já no que se refere ao polo ativo, não há qualquer requisito especial previsto
em lei, e, por isso, entende-se que a violência contra mulher pode ser praticada por qualquer
pessoa, até mesmo por outra mulher, desde que esta realize sua conduta em razão da
vulnerabilidade da vítima e prevalecendo de qualquer relação íntima de afeto.
HABEAS CORPUS IMPETRADO EM SUBSTITUIÇÃO AO RECURSO
PREVISTO NO ORDENAMENTO JURÍDICO. 1. NÃO CABIMENTO.
MODIFICAÇÃO DE ENTENDIMENTO JURISPRUDENCIAL. RESTRIÇÃO DO
REMÉDIO CONSTITUCIONAL. EXAME EXCEPCIONAL QUE VISA
PRIVILEGIAR A AMPLA DEFESA E O DEVIDO PROCESSO LEGAL. 2.
AMEAÇA. SOGRA E NORA. 3. COMPETÊNCIA. INAPLICABILIDADE. LEI
MARIA DA PENHA. ABRANGÊNCIA DO CONCEITO DE VIOLÊNCIA
DOMÉSTICA E FAMILIAR. DIVERGÊNCIA DOUTRINÁRIA.
INTERPRETAÇÃO RESTRITIVA. VIOLÊNCIA DE GÊNERO. RELAÇÃO DE
INTIMIDADE AFETIVA. 4. COMPETÊNCIA DO JUIZADO ESPECIAL
CRIMINAL 5. ORDEM NÃO CONHECIDA. HABEAS CORPUS CONCEDIDO
DE OFÍCIO.
1. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, buscando a racionalidade do
ordenamento jurídico e a funcionalidade do sistema recursal, vinha se firmando,
mais recentemente, no sentido de ser imperiosa a restrição do cabimento do remédio
constitucional às hipóteses previstas na Constituição Federal e no Código de
Processo Penal. Nessa linha de evolução hermenêutica, o Supremo Tribunal Federal
passou a não mais admitir habeas corpus que tenha por objetivo substituir o recurso
ordinariamente cabível para a espécie. Precedentes. Contudo, devem ser analisadas
as questões suscitadas na inicial no intuito de verificar a existência de
constrangimento ilegal evidente a ser sanado mediante a concessão de habeas
corpus de ofício, evitando-se prejuízos à ampla defesa e ao devido processo legal. 2.
A incidência da Lei n.º 11.340/2006 reclama situação de violência praticada
contra a mulher, em contexto caracterizado por relação de poder e submissão,
05/02/2009. Disponível em: <https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/2495910/conflito-de-competencia-cc-
96533-mg-2008-0127028-7>.
52
praticada por homem ou mulher sobre mulher em situação de vulnerabilidade.
Precedentes. 3. No caso não se revela a presença dos requisitos cumulativos para a
incidência da Lei n.º 11.340/06, a relação íntima de afeto, a motivação de gênero e a
situação de vulnerabilidade. Concessão da ordem. 4. Ordem não conhecida. Habeas
corpus concedido de oficio, para declarar competente para processar e julgar o feito
o Juizado Especial Criminal da Comarca de Santa Maria/RS. (Grifo nosso)63
Apesar da Lei 11.340/06 possuir seus requisitos para preenchimento bem
específicos, além das vastas jurisprudências previstas por nossos Tribunais sobre sua
aplicação, ainda é imperioso destacar os grandes questionamentos acerca da possibilidade de
aplicação da referida lei aos homens e aos transexuais.
Quando se refere a vítima homem, já foi elencado que o entendimento
jurisprudencial é o de que em nenhuma hipótese será permitido a aplicação da referida lei,
haja vista que não há previsão legal para tal aplicação e que, também, não se admite a
analogia in malam partem por parte do nosso Direito Penal.
Já quanto a possibilidade de aplicação aos transexuais, o tema é abordado com
bastante cautela e divergência por nossos Tribunais e doutrinadores. Parte destes entendem
que as medidas de proteção, previstas na Lei 11.340/06, podem ser aplicadas aos transexuais,
desde que o mesmo atenda aos seguintes requisitos: realizem a cirurgia de mudança de sexo e
a alteração do sexo no registro civil.
Assim, caso os transexuais preencham todos os requisitos, serão considerados
mulher para todos os efeitos legais e, consequentemente, estarão protegidos pela Lei
11.340/06, haja vista que nosso ordenamento jurídico só trata quem é mulher aquelas que
possui em seu registro civil a identidade do gênero feminino.
A violência doméstica e familiar contra a mulher, segundo o artigo 7º, é
caracterizada pela ação ou omissão que ocasione morte, lesão, sofrimentos físicos, sexual ou
psicológico, além dos danos morais ou patrimonial, ocorridos em espaço de convívio
permanente ou esporádico de pessoas, com ou sem vínculo familiar. Vejamos:
Art. 7o São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras:
I - a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade
ou saúde corporal; II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano
emocional e diminuição da auto-estima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno
desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos,
crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação,
isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem,
63
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. STJ - HC: 175816 RS 2010/0105875-8, Relator: Ministro MARCO
AURÉLIO BELLIZZE, Data de Julgamento: 20/06/2013, T5 - QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJe
28/06/2013. Disponível em: <https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/23553475/habeas-corpus-hc-175816-rs-
2010-0105875-8-stj>.
53
ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio
que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação; III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a
presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante
intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a
utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer
método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à
prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite
ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos; IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure
retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de
trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos,
incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades; V - a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia,
difamação ou injúria.64
Para o julgamento de tais casos que tratam de violência doméstica e familiar
contra a mulher, o STF decidiu, por meio da Ação Direita de Constitucionalidade 19, que
deve ser criado um Juizado Especializado, com competência cível e criminal.
Desde a criação da referida lei até a presente data, o número de Juizados
Especializados em que julgam os casos de violência doméstica e familiar contra a mulher
tiveram um grande crescimento, no qual é possível observar que, na pratica, vem trazendo
grandes benefícios a mulher e a sociedade.
Entretanto, ainda possuímos várias comarcas que não possuem tal Juizado
Especializado. Assim, nestes casos, os processos deverão ser encaminhados para as Varas
Criminais na qual irão julgar a prática da violência doméstica e familiar contra a mulher,
seguindo todo o trâmite da Lei 11.340/06.
Ponto importante é no que diz respeito ao artigo 41, da referida lei, em que
trata da impossibilidade do Juiz que receber os casos em que envolvam violência doméstica e
familiar contra a mulher, de aplicarem as medidas despenalizadoras previstas na Lei.
9.099/90.
O referido artigo foi motivo de verdadeiros debates sobre a sua
constitucionalidade, até que chegou ao STF. A Suprema Corte, no julgado do HC 106212,
pacificou qualquer controvérsia a respeito e o declarou totalmente constitucional, passando a
pacificar o entendimento de que não é possível aplicar qualquer instituto despenalizador
previsto na Lei 9.099/90. Segue a ementa da decisão:
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA – ARTIGO 41 DA LEI Nº 11.340/06 – ALCANCE.
O preceito do artigo 41 da Lei nº 11.340/06 alcança toda e qualquer prática
64
BRASIL. Lei 11.340/06, art. 7º. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-
2006/2006/lei/l11340.htm>.
54
delituosa contra a mulher, até mesmo quando consubstancia contravenção
penal, como é a relativa a vias de fato. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA – ARTIGO
41 DA LEI Nº 11.340/06 – AFASTAMENTO DA LEI Nº 9.099/95 –
CONSTITUCIONALIDADE. Ante a opção político-normativa prevista no artigo
98, inciso I, e a proteção versada no artigo 226, § 8º, ambos da Constituição
Federal, surge harmônico com esta última o afastamento peremptório da Lei nº
9.099/95 – mediante o artigo 41 da Lei nº 11.340/06 – no processo-crime a revelar
violência contra a mulher. (grifo nosso)65
Sendo assim, se não está permitido a aplicação de qualquer medida
despenalizadora da Lei 9.099/90, também estará impedido, a Autoridade Policial, de
aplicação da lavratura da infração através dos TCO’s, devendo, obrigatoriamente, realizar o
registro através dos Boletins de Ocorrência e, posteriormente, a instauração do Inquérito
Policial.
Por fim, é imperioso destacar que a Lei 11.340/06, em seu artigo 17, também
vedou a possibilidade de aplicação de qualquer pena estritamente pecuniárias, tais como
presta de cestas básicas, pagamento de multas e substituição da pena.
Art. 17. É vedada a aplicação, nos casos de violência doméstica e familiar contra a
mulher, de penas de cesta básica ou outras de prestação pecuniária, bem como a
substituição de pena que implique o pagamento isolado de multa.66
Segundo o Ministro Teori Zavascki, do STF, no julgamento do Habeas Corpus
(HC 129446), afirmou que a impossibilidade da substituição da pena privativa de liberdade
por qualquer pena pecuniárias se daria pelo fato que a pena para estes delitos é de três anos, o
que acabaria fugindo da definição de crime de menor potencial ofensivo. Como, também,
pelo fato da Lei Maria da Penha possuir vedação expressa em seu artigo 41.
Segue a integra parte da decisão do saudoso Ministro Teori Zavascki:
2. Todavia, essa linha argumentativa não tem espaço em relação ao crime de lesão
corporal praticado em ambiente familiar. Primeiro, porque a pena máxima prevista
para esse delito é de três anos, o que impede a transação penal (delito que não se
encaixa na definição de menor potencial ofensivo, art. 61, Lei 9.099/1995).
Segundo, e principalmente, por força do comando proibitivo previsto no art. 41 da
Lei Maria da Penha: ―Art. 41. Aos crimes praticados com violência doméstica e
familiar contra a mulher, independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei nº
9.099, de 26 de setembro de 1995‖.
É dizer, o principal fundamento – aplicação da Lei 9.099/95 – daqueles que militam
pelo abrandamento do art. 44 do Código Penal deixa de existir quando o cenário é
de crime de lesão corporal no seio familiar. Registre-se, a propósito, que o Supremo
Tribunal Federal, no julgamento conjunto da ADC 19 e da ADI 4.424, decidiu que
65
BRASIL. Supremo Tribunal Federa. STF - HC: 106212 MS, Relator: Min. MARCO AURÉLIO, Data de
Julgamento: 24/03/2011, Tribunal Pleno, Data de Publicação: DJe-112 DIVULG 10-06-2011 PUBLIC 13-06-
2011. Disponível em: <https://stf.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/19734220/habeas-corpus-hc-106212-ms>. 66
BRASIL. Lei 11.340/06, art. 17. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-
2006/2006/lei/l11340.htm>.
55
o art. 41 da Lei 11.340/2006 não contraria, sob nenhum aspecto, a Constituição da
República.
Nesse contexto, perde sustento a alegação de que o art. 17 da Lei 11.340/06
autorizaria a substituição da pena corporal por sanções restritivas de direitos quando
o crime é cometido com violência. Ora, não parece crível imaginar que a Lei Maria
da Penha, que veio justamente tutelar com maior rigor a integridade física das
mulheres, teria autorizado a substituição da pena corporal, mitigando a regra geral
do art. 44, I, do Código Penal, que a proíbe.67
4.2 – Das medidas protetivas de urgência
As medidas protetivas de urgência são medidas cautelares, decretadas pelo
juiz, e concedidas à vítima da violência doméstica e familiar, cujo objetivo maior é assegurar
a sua integridade física e psicológica, além de assegurar a efetividade e instrumentalidade da
futura ação penal.
Tais medidas são decretadas quando presentes dois requisitos essenciais, quais
sejam, o fumus boni iuris e o periculum in mora.
Na lei 11.340/06, as referidas medidas protetivas estão expostas no rol dos artigos
22, 23 e 24, por meio da qual buscam proteger a mulher em estado de vulnerabilidade, vítima
da violência física ou psicológica, assegurando-lhes os direitos constitucionais.
Inicialmente, apesar da Lei Maria da Penha tratar de mecanismos processuais
que protejam a mulher vítima da violência doméstica ou familiar, é necessário atentar-se para
o fato de que as medidas protetivas de urgência previstas no artigo 22, não possuem estas
vítimas como destinatário, mas sim o agressor, sujeito ativo da violência.
O artigo 22 elenca as seguintes medidas protetivas:
Art. 22. Constatada a prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, nos
termos desta Lei, o juiz poderá aplicar, de imediato, ao agressor, em conjunto ou
separadamente, as seguintes medidas protetivas de urgência, entre outras:
I - suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com comunicação ao órgão
competente, nos termos da Lei no 10.826, de 22 de dezembro de 2003;
II - afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida;
III - proibição de determinadas condutas, entre as quais:
a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das testemunhas, fixando o limite
mínimo de distância entre estes e o agressor;
b) contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por qualquer meio de
comunicação;
c) freqüentação de determinados lugares a fim de preservar a integridade física e
psicológica da ofendida;
67
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. HC 129446, Relator(a): Min. TEORI ZAVASCKI, Segunda Turma,
julgado em 20/10/2015, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-221 DIVULG 05-11-2015 PUBLIC 06-11-2015.
Disponível em: <http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=9718736>.
56
IV - restrição ou suspensão de visitas aos dependentes menores, ouvida a equipe de
atendimento multidisciplinar ou serviço similar;
V - prestação de alimentos provisionais ou provisórios.
§ 1o As medidas referidas neste artigo não impedem a aplicação de outras previstas
na legislação em vigor, sempre que a segurança da ofendida ou as circunstâncias o
exigirem, devendo a providência ser comunicada ao Ministério Público.
§ 2o Na hipótese de aplicação do inciso I, encontrando-se o agressor nas condições
mencionadas no caput e incisos do art. 6o da Lei n
o 10.826, de 22 de dezembro de
2003, o juiz comunicará ao respectivo órgão, corporação ou instituição as medidas
protetivas de urgência concedidas e determinará a restrição do porte de armas,
ficando o superior imediato do agressor responsável pelo cumprimento da
determinação judicial, sob pena de incorrer nos crimes de prevaricação ou de
desobediência, conforme o caso.
§ 3o Para garantir a efetividade das medidas protetivas de urgência, poderá o juiz
requisitar, a qualquer momento, auxílio da força policial.
§ 4o Aplica-se às hipóteses previstas neste artigo, no que couber, o disposto no
caput e nos §§ 5o e 6º do art. 461 da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 (Código
de Processo Civil).68
Frise-se que tais medidas, do artigo 22, estão elencadas em um rol
exemplificativo, de maneira que nada obsta que o Juiz, analisando o caso concreto, possa
aplicar outras medidas que entendam ser necessárias.
Apesar da do art. 22 trazer as medidas destinadas ao agressor, a Lei 11.340/06,
prevê através dos artigos 23 e 24, a possibilidade de concessão das medidas protetivas de
urgência como destinatário as mulheres vítimas da violência doméstica ou familiar.
Insta destacar que tais hipóteses elencadas nos artigos 23 e 24 se encontram
em rol exemplificativo e, vislumbrando que seja necessário, nada obsta que o Juiz aplique
outras medidas que entendam ser necessário. Vejamos:
Art. 23. Poderá o juiz, quando necessário, sem prejuízo de outras medidas: I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou comunitário de
proteção ou de atendimento; II - determinar a recondução da ofendida e a de seus dependentes ao respectivo
domicílio, após afastamento do agressor; III - determinar o afastamento da ofendida do lar, sem prejuízo dos direitos relativos
a bens, guarda dos filhos e alimentos; IV - determinar a separação de corpos. Art. 24. Para a proteção patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou daqueles de
propriedade particular da mulher, o juiz poderá determinar, liminarmente, as
seguintes medidas, entre outras: I - restituição de bens indevidamente subtraídos pelo agressor à ofendida; II - proibição temporária para a celebração de atos e contratos de compra, venda e
locação de propriedade em comum, salvo expressa autorização judicial; III - suspensão das procurações conferidas pela ofendida ao agressor; IV - prestação de caução provisória, mediante depósito judicial, por perdas e danos
materiais decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a ofendida. Parágrafo único. Deverá o juiz oficiar ao cartório competente para os fins previstos
nos incisos II e III deste artigo.69
68
BRASIL. Lei 11.340/06, art. 22. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-
2006/2006/lei/l11340.htm>.
57
É imperioso destacar que tais medidas poderão ser concedidas tanto na fase policial,
quanto na judicial, tanto a requerimento do Ministério Público ou da própria ofendida.
Assim, devido a urgência e necessidade que muitos desses casos apresentam, a Lei
11.340/06, em seu §1º, do artigo 19, elencou a possibilidade do Juiz, de ofício e no prazo de
48h, conceder as medidas protetivas de urgências quando forem requeridas pela vítima
diretamente a este, independentemente de prévia oitiva do Ministério Público.
Art. 19. As medidas protetivas de urgência poderão ser concedidas pelo juiz, a
requerimento do Ministério Público ou a pedido da ofendida. § 1
o As medidas protetivas de urgência poderão ser concedidas de imediato,
independentemente de audiência das partes e de manifestação do Ministério
Público, devendo este ser prontamente comunicado.70
Após a concessão de tais medidas pelo Juiz, entendendo a ofendida que necessita de
maior proteção, caso esta oferte por um novo pedido para a concessão de novas medidas ou,
até mesmo, para que o Juiz revise as já aplicadas, será imprescindível a prévia oitiva do
Ministério Público.
§ 3o Poderá o juiz, a requerimento do Ministério Público ou a pedido da ofendida,
conceder novas medidas protetivas de urgência ou rever aquelas já concedidas, se
entender necessário à proteção da ofendida, de seus familiares e de seu patrimônio,
ouvido o Ministério Público.71
Assim, atente-se que através do §3º, para que haja uma nova concessão das
medidas protetivas de urgência não será permitido o seu requerimento pelo Magistrado e,
muito menos, pela Autoridade Policial, mas tão somente pela ofendida ou pelo Ministério
Público.
Como, também, é imperioso atentar-se para o fato que as medidas previstas
nos artigos 22 a 24, da lei 11.340/06, estão elencadas em rol exemplificativo e, sendo
decretadas, caso o agressor venha a descumprir qualquer das medidas restritivas impostas,
estará autorizado a substituição pela prisão preventiva, com fundamento no § único, do
Artigo 312, do CPP.
69
BRASIL. Lei 11.340/06, art. 23 e 24. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-
2006/2006/lei/l11340.htm>. 70
BRASIL. Lei 11.340/06, art. 19, §1º. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-
2006/2006/lei/l11340.htm>. 71
BRASIL. Lei 11.340/06, art. 19, §3º. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-
2006/2006/lei/l11340.htm>.
58
Parágrafo único. A prisão preventiva também poderá ser decretada em caso de
descumprimento de qualquer das obrigações impostas por força de outras medidas
cautelares (art. 282, § 4o).
72
Todas estas medidas possuem natureza de cautelar cível satisfativa, pois não
buscam atingir processos, mas sim pessoas. Em razão disto, não é necessário a
instrumentalidade de outro processo cível ou criminal, haja vista que tais medidas buscam,
tão somente, proteger direitos fundamentais, evitando a continuidade da violência e das
situações que a favorecem.
Não obstante haver grandes debates sobre a natureza jurídica das medidas
protetivas de urgência, a nossa jurisprudência possui o entendimento de que estas medidas
são de natureza jurídica cível.
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA - AMEAÇA - INDEFERIMENTO DE MEDIDAS
PROTETIVAS - NATUREZA CÍVEL - INCOMPETÊNCIA DA TURMA
CRIMINAL. I. As cautelas relacionadas no art. 22, incisos II e III, alíneas "a" e
"b" da Lei 11.340/06 possuem natureza cível. O recurso interposto pelo
indeferimento das medidas refoge à competência da Turma Criminal. II. Recurso
não conhecido. Determinada a remessa a uma das Turmas Cíveis.
(20090210046414APR, Relator SANDRA DE SANTIS, 1ª Turma Criminal,
julgado em 05/07/2010, DJ 29/07/2010 p. 265). (grifo nosso)73
Bem como é o entendimento do nosso Superior Tribunal de Justiça:
DIREITO PROCESSUAL CIVIL. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A
MULHER. MEDIDAS PROTETIVAS DA LEI N. 11.340/2006 (LEI MARIA DA
PENHA). INCIDÊNCIA NO ÂMBITO CÍVEL. NATUREZA JURÍDICA.
DESNECESSIDADE DE INQUÉRITO POLICIAL, PROCESSO PENAL OU
CIVIL EM CURSO. 1. As medidas protetivas previstas na Lei n. 11.340/2006,
observados os requisitos específicos para a concessão de cada uma, podem ser
pleiteadas de forma autônoma para fins de cessação ou de acautelamento de
violência doméstica contra a mulher, independentemente da existência, presente ou
potencial, de processo-crime ou ação principal contra o suposto agressor. 2. Nessa
hipótese, as medidas de urgência pleiteadas terão natureza de cautelar cível
satisfativa, não se exigindo instrumentalidade a outro processo cível ou criminal,
haja vista que não se busca necessariamente garantir a eficácia prática da tutela
principal. "O fim das medidas protetivas é proteger direitos fundamentais, evitando
a continuidade da violência e das situações que a favorecem. Não são,
necessariamente, preparatórias de qualquer ação judicial. Não visam processos, mas
72
BRASIL. Código de Processo Penal, art. 312, §único. Disponível em
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689.htm> 73
BECHARA, Juliana Maria Seixas. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E NATUREZA JURÍDICA DAS
MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA. Jus.com.br, 2010.
59
pessoas" (DIAS. Maria Berenice. A Lei Maria da Penha na justiça. 3 ed. São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 2012). 3. Recurso especial não provido.74
De tal maneira, pode-se verificar que nada obsta a possibilidade do Juiz aplicar,
concomitantemente, as medidas cautelares previstas no art. 319, do CPP com as medidas
previstas na Lei Maria da Penha, haja visto que aquelas são medidas que buscam acautelar o
processo, enquanto que estas visam tutelar a vítima da agressão.
Por fim, destaque-se a possibilidade de retratação, prevista no artigo 16, pela
vítima da violência. Entendimento pacificado pelos doutrinadores é pela total possibilidade
da aplicação deste instituto da retratação, desde que a referida medida seja realizada até o
recebimento da denúncia, em audiência específica para isso, perante o Juiz e ouvido o
Ministério Público. Vejamos:
Art. 16. Nas ações penais públicas condicionadas à representação da ofendida de
que trata esta Lei, só será admitida a renúncia à representação perante o juiz, em
audiência especialmente designada com tal finalidade, antes do recebimento da
denúncia e ouvido o Ministério Público.75
4.3 – O PL 07/16 e a importância da autoridade policial na concessão das medidas
protetivas de urgência
No dia 31 de março de 2016, foi apresentado o Projeto de Lei de nº 07/2016,
de autoria do Exmo. Sr. Deputado Federal Sergio Vidigal, do PDT-ES, no qual visa
acrescentar dispositivos na Lei 11.340/06, para dispor e ampliar sobre os direitos da vítima de
violência doméstica e familiar.76
No referido projeto de lei, é imperioso destacar que o objetivo primordial
trazido em seu texto foi o de assegurar a possibilidade que a mulher, vítima de violência
doméstica e familiar, possa ter um atendimento policial e pericial especializado, ininterrupto
e prestado, preferencialmente, por outras mulheres.
74
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. STJ - REsp: 1419421 GO 2013/0355585-8, Relator: Ministro LUIS
FELIPE SALOMÃO, Data de Julgamento: 11/02/2014, T4 - QUARTA TURMA, Data de Publicação: DJe
07/04/2014. 75
BRASIL. Lei 11.340/06, art. 19, §3º. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-
2006/2006/lei/l11340.htm>. 76
BRASIL. SENADO FEDERAL, Projeto de Lei nº 07/16. Disponível em:
<https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/125364>.
60
Art. 1º Esta Lei dispõe sobre o direito da vítima de violência doméstica de ter
atendimento policial e pericial especializado, ininterrupto e prestado,
preferencialmente, por mulheres.77
A priori, destaque-se que o atendimento policial especializado, apesar de ainda
ser deficitário, já vem sendo adotado em todo o Brasil através das Delegacias Especializadas
da Mulher.
Segundo dados publicados no site da UOL, em junho de 2016, foi destacado que até
o presente mês o Brasil possuía uma proporção de apenas uma delegacia com atendimento
especializado à mulher a cada 12 municípios, o que totalizava 499 distritos policiais
especializados distribuídos por 447 cidades pelo país.78
Como já explanado, se levarmos em conta que a Lei 11.340/06 é uma ―lei nova‖,
pode-se considerar que até então tivemos uma expressiva crescente de delegacias voltada ao
atendimento da mulher. No entanto, não se deve concluir que o Brasil está perto do número
ideal de atendimento e, muito menos, que temos todos os meios eficazes a proteção da
mulher, até porque as queixas envolvendo mulheres vítimas de violência doméstica e
familiar, só faz aumentar a cada ano.
Justamente com o intuito de tentar ampliar este número de atendimentos e de
Delegacias Especializadas, o PL 07/2016 prevê a inclusão do Art. 12-A, à Lei Maria da
Penha, no qual visa justamente estabelecer uma obrigação para que os Estados e o Distrito
Federal passem a adotar, em suas políticas e planos, meios prioritários para a investigação e
atendimento voltados à mulher vítima de violência doméstica.
Art. 12-A. Os Estados e o Distrito Federal, na formulação de suas políticas e planos
de atendimento à mulher vítima de violência doméstica, darão prioridade, no âmbito
da Polícia Civil, à criação de Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher -
DEAMs, de Núcleos Investigativos de Feminicídio e de equipes especializadas para
o atendimento e investigação das violências graves contra a mulher.79
Apesar do referido Projeto de lei tentar trazer meios para tornar eficaz os
atendimentos e investigações, é importante atentar-se para o fato que também tramita na
Câmara dos Deputados, o PL Nº 5475/16, da Deputada Gorete Pereira (PR/CE), no qual
77
BRASIL. SENADO FEDERAL. Projeto de Lei nº 07/16. Disponível em: <https://legis.senado.leg.br/sdleg-
getter/documento?dm=2914769&disposition=inline>. 78
ANDRADE, Hanrriskon de. BRASIL TEM UMA DELEGACIA COM ATENDIMENTO À MULHER A
CADA 12 MUNICÍPIOS. UOL Notícias, Rio de Janeiro, 2016. Disponível em:
<https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2016/06/05/brasil-tem-uma-delegacia-com-atendimento-
a-mulher-a-cada-12-municipios.htm>. 79
BRASIL. SENADO FEDERAL. Projeto de Lei nº 07/16. Disponível em: <https://legis.senado.leg.br/sdleg-
getter/documento?dm=2914769&disposition=inline>.
61
vista, também, a imposição aos Estados para criarem Delegacias Especializadas nos seus
Municípios em que houverem mais de 60 mil habitantes.
Tal PL Nº 5475/16, que ainda se encontra sujeito à apreciação conclusiva pelas
comissões, estipula um prazo de até 5 anos, após a publicação da lei, para que os Estados
criem as Delegacias Especializadas em seus Municípios com mais de 60 mil habitantes, sob
pena de não terem mais acesso aos recursos a eles destinados através do Fundo Nacional de
Segurança Pública – FNSP.80
Retornando a análise do Artigo 1º, no que se refere ao atendimento ininterrupto, é
onde deve-se destacar a grande importância do papel da Autoridade Policial para ampliar a
eficácia e proteção à mulher vítima de violência.
Assim, podemos destacar que o Delegado de Polícia, com a atribuição essencial de
justiça que lhe é outorgado, além do grande conhecimento jurídico que lhe é exigido, deve ser
tratado como uma autoridade pública primordial para poder aplicar as medidas protetivas de
urgência quando estiver diante de casos em que a existência de risco atual ou iminente à vida
ou integridade física e psicológica da mulher ou de seus dependentes estiverem em risco.
Não é preciso lembrar que vivemos em um País onde a sensação de medo,
impotência e impunidade impera em nossa sociedade, fazendo com que os meios formais de
segurança pública e justiça cheguem ao ponto de serem tratados, por boa parte da população,
como de baixa credibilidade ou confiança.
Também não é necessário lembrar que as Polícias e suas Delegacias, são um dos
principais órgãos públicos em que mais faz a pessoa do Estado ficar em contato direito e
diário com a população, sendo, muitas das vezes, o primeiro órgão formal a assegurar os
direitos dos cidadãos, além de, também, ser o maior demandado para as soluções de conflitos.
Sendo assim, não se deve pensar que é diferente quando se trata dos casos em que
envolvem as vítimas de violência doméstica e familiar contra a mulher. Muito pelo contrário,
apesar de ainda possuírem um número reduzido, os estudos técnicos mostram que são através
das Delegacias Especializadas que as vítimas de violência doméstica e familiar buscam,
imediatamente, ajuda e proteção pelos danos sofridos.
Segundo dados publicados em 07/03/2017, no blog ―Na base dos Dados‖, do site O
Globo, as denúncias recebidas pelas Delegacias de Polícia que se tratavam de violência
doméstica e familiar contra a mulher cresceram cerca de 133%, nos primeiros 10 anos após a
criação da lei 11.340/06. Assim explica o site:
80
BRASIL. CÂMARA DOS DEPUTADOS, Projeto de Lei nº 5475/2016. Disponível em:
<http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2086838>.
62
― O balanço do primeiro semestre de 2016, no comparativo com o mesmo período
de 2015, mostra um crescimento de 133% no volume de relatos de violência
doméstica e familiar, conforme a definição prevista na Lei Maria da
Penha (qualquer ação ou omissão baseada no gênero que cause morte, lesão,
sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial). Esses casos
chegaram a aproximadamente 58 mil registros no primeiro semestre de 2016.‖81
Das denúncias apresentadas no primeiro semestre de 2016, o blog elenco as
violências que mais são relatadas pelas vítimas de violência doméstica. Em primeiro lugar,
com um percentual de 51%, aparece os casos envolvendo violência física. Em segundo lugar,
com 31,1%, aparece a violência psicológica e, logo em seguida, com 6,51%, a violência
moral.
A violência sexual apresentou-se em 5º lugar, com 4,3% dos casos relatados. Veja o
gráfico disponibilizado:
Fonte: VASCONCELLOS, Fábio. O Globo.
Apesar de apresentarem em números altos, tais dados são importantes para
demonstrar o quanto ainda precisamos evoluir em relação a lei. Isto porque a mesma foi
criada com o objetivo de coibir a violência contra a mulher, mas ainda demonstra não ser
suficiente para cumprir com o seu objetivo principal, que é prevenir a incidência destes
delitos.
Assim sendo, é imperioso tratar e estudar os grandes impactos que o PL 07/2006
acarretará tanto para as mulheres que forem vítimas de violência doméstica, como para a
81
VASCONCELLOS, Fábio. DENÚNCIAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A
MULHER CRESCEM 133%. O Globo, 2017. Disponível em: <http://blogs.oglobo.globo.com/na-base-dos-
dados/post/denuncias-de-violencia-domestica-e-familiar-contra-mulher-crescem-133.html?loginPiano=true>.
63
Autoridade Policial que será o primeiro agente oficial autorizado a buscar imediatamente
restaurar os danos sofridos pela vítima, tal como conceder as medidas que achar suficientes
para sua proteção.
Por fim, deve-se relembrar a leitura do artigo 1º, do PL 07/2016, que requer um
atendimento ininterrupto e especializado pelos órgãos policiais, que deverá ser adotado desde
o conhecimento da notícia do fato e, preferencialmente, por mulheres, reforço ainda mais a
ideia do quanto é necessário o atendimento inicial realizado pelo Delegado de Polícia.
4.4 – Da concessão das medidas protetivas de urgência pela Autoridade Policial
Como já abordado, as medidas protetivas de urgência podem ser tratadas como
decisões judiciais cautelares que visam proteger as pessoas que tiveram sua integridade física
ou moral violada.
Entretanto, é necessário recapitular que na atual lei 11.340/06 estas medidas só
podem ser concedidas pelo Juiz, no prazo de 48 horas, desde que tenham sido requeridas pela
Autoridade Policial ou pelo Ministério Público.
Objetivando alterar um pouco o atual cenário e, também, tentando trazer mais
proteção a mulher, o PL 07/2016, em seu Artigo 12-B, busca permitir que a Autoridade
Policial, preferencialmente da Delegacia Especializada contra Mulher, possa aplicar de
imediato algumas das medidas protetivas de urgência previstas na Lei 11.340/06, quando
estiverem diante de casos em que apresentem risco atual ou iminente à vida ou a integridade
física ou psicológica da vítima e de seus dependentes.
Apesar de tais prerrogativas, não se deve partir da ideia de que ficará a amplo poder
da Autoridade Policial conceder todas as medidas protetivas prevista na Lei Maria da Penha,
como, também, não ficará a seu amplo arbítrio a concessão pelo prazo que achar cabível.
O Artigo 12-B, em seu caput, prevê que estas medidas protetivas de urgência devem
ser aplicadas de forma provisórias, de tal maneira que o Delegado de Polícia ao vislumbrar o
estado de fragilidade ou risco que a mulher se encontra, possa aplicar de imediato estas
medidas protetivas de urgência, com o objetivo de cessar imediatamente a violação de seus
direitos.
64
Sendo assim, após a concessão do Delegado de Polícia, os autos serão remetidos à
Autoridade Judiciária, na qual esta autoridade irá deliberar sobre a possibilidade de manter as
medidas concedidas pela autoridade policial ou, até mesmo, reforça-las.
―Art. 12-B. Verificada a existência de risco atual ou iminente à vida ou integridade
física e psicológica da vítima ou de seus dependentes, a autoridade policial,
preferencialmente da delegacia de proteção à mulher, poderá aplicar
provisoriamente, até deliberação judicial, as medidas protetivas de urgência
previstas no inciso III do art. 22 e nos incisos I e II do art. 23 desta Lei, intimando
desde logo o ofensor.82
Assim, não ficará a cargo do Delegado de Polícia conceder qualquer que seja a
medida protetiva, mas sim apenas aquelas autorizadas pelo PL 07/2016.
De tal forma, traz o caput do Art. 12-B um rol taxativo das medidas protetivas em
que o Delegado de Polícia estará adstrito a aplicar. São justamente as medidas previstas no
inciso III, do art. 22 e, também, dos incisos I e II, do art. 23, da Lei 11.340/06. Veja:
Art. 22. Constatada a prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, nos
termos desta Lei, o juiz poderá aplicar, de imediato, ao agressor, em conjunto ou
separadamente, as seguintes medidas protetivas de urgência, entre outras:
III - proibição de determinadas condutas, entre as quais: a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das testemunhas, fixando o limite
mínimo de distância entre estes e o agressor; b) contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por qualquer meio de
comunicação; c) freqüentação de determinados lugares a fim de preservar a integridade física e
psicológica da ofendida;83
Art. 23. Poderá o juiz, quando necessário, sem prejuízo de outras medidas:
I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou comunitário de
proteção ou de atendimento; II - determinar a recondução da ofendida e a de seus dependentes ao respectivo
domicílio, após afastamento do agressor;84
Percebe-se, assim, que a Autoridade Policial estará adstrita a aplicar apenas duas
modalidades de medidas protetivas, uma delas voltada ao agressor e outra voltada a vítima.
Na primeira modalidade, em seu art. 22, inciso III, as medidas protetivas que
possuem como destinatários o agressor, possibilitará que o Delegado de Polícia possa aplicar,
de imediato, as medidas que busquem afastar o ofensor da vítima, evitando-se qualquer tipo
de contato entre esta e aquela.
82
BRASIL. SENADO FEDERAL. Projeto de Lei nº 07/16. Disponível em: <https://legis.senado.leg.br/sdleg-
getter/documento?dm=2914769&disposition=inline>. 83
BRASIL. Lei 11.340/06, art. 22, III, ―a‖, ―b‖ e ―c‖. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm>. 84
BRASIL. Lei 11.340/06, art. 23, I e II. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-
2006/2006/lei/l11340.htm>.
65
Já na segunda modalidade, dos incisos I e II, do art. 23, são as medidas
protetivas que possuem como destinatárias a vítima e seus dependentes, no qual permite ao
Delegado de Polícia que busque deixar a vítima ou seus dependentes em locais seguros, sem
a presença do ofensor, seja em seu próprio domicílio ou em algum programa oficial ou
comunitário.
Diante as possibilidades elencadas, não se pode alegar qualquer violação ao
princípio da reserva legal de jurisdição, que atualmente é exigido em toda a Lei 11.340/06,
uma vez que o elencado no PL 07/2016 objetiva tão somente autorizar que o Delegado de
Polícia possa afastar o agressor da vítima ou, então, colocar esta vítima em um local seguro,
até que a Autoridade Judicial decida sobre estas aplicações.
Assim, as medidas tomadas pela Autoridade Policial serão apenas para tentar
não agravar aqueles direitos fundamentais violados e sofridos pela vítima.
Sendo assim, a Autoridade Policial não estará usurpando uma função jurisdicional e,
se quer, estará violando a reserva legal de jurisdição, pois apesar desta autoridade conceder as
medidas protetivas, o próprio caput do Artigo 12-B prevê que a própria Autoridade Judiciária
irá deliberar sobre as medidas concedidas.
Observa-se então o quão importante é a inserção de tal artigo à Lei Maria da Penha,
uma vez que estará ampliando os direitos à mulher vítima de violência doméstica e familiar,
haja vista que no primeiro contato com uma autoridade oficial, que é o Delegado de Polícia,
ela já poderá ter seus direitos preservados, sem que espere o prazo, em média, de 48 horas,
para obter uma autorização judicial.
Não obstante o Artigo 12-B, em seu caput, prever que a Autoridade Judiciaria irá
deliberar sobre as medidas concedidas pelo Delegado de Polícia, o seu §1º traz em sua
redação que esta autoridade deverá comunicar, no prazo de 24 horas, aquela autoridade sobre
as medidas concedidas.
Assim, o Juiz ao receber os autos, em 24h, poderá deliberar se mantém ou não as
medidas concedidas pela Autoridade Policial, devendo, em todos os casos ouvir o Ministério
Público no mesmo prazo.
§ 1º O juiz deverá ser comunicado no prazo de vinte e quatro horas e poderá manter
ou rever as medidas protetivas aplicadas, ouvido o Ministério Público no mesmo
prazo.85
85
BRASIL. SENADO FEDERAL. Projeto de Lei nº 07/16. Disponível em: <https://legis.senado.leg.br/sdleg-
getter/documento?dm=2914769&disposition=inline>.
66
Caso o ofensor seja preso em flagrante e Autoridade Policial, por bem, ainda
entenda que seja necessário adotar alguma das medidas, entende-se que este prazo de 24
horas, para rever tais medidas, não será realizado pelo Juiz da vara de violência doméstica e
familiar contra a mulher, mais sim pelo Juiz da Audiência de Custódia, já que o ofensor preso
deverá ser remetido, no mesmo prazo de 24h, para que o Juiz da custódia decida sobre a
manutenção da prisão, devendo, da mesma forma, ouvir previamente o Ministério Público.
Entendendo o Juiz, em ambos os casos, que as medidas são suficientes para a
proteção da mulher, o mesmo irá manter as protetivas e dará sequência ao andamento do
processo. Entretanto, caso entenda não ser suficientes ou adequadas, o Magistrado poderá
reforça-las para que assegure a integridade física e psicológica da mulher.
Apesar do PL 07/2016 permitir a Autoridade Policial de poder conceder, de ofício,
as medidas do inciso III, do art. 22 e, também dos incisos I e II, do art. 23, nada obsta que
esta Autoridade, caso entenda que tais medidas não sejam suficientes, possa representar a
Autoridade Judicial por outras medidas protetivas ou, até mesmo, pela decretação da prisão
do autor.
Assim, percebe-se que estas outras medidas, que não estão previstas no rol
taxativo do Art. 12-B, deverão obedecer a reserva legal de jurisdição e, como tal, só poderão
ser concedidas pelo juiz, caso seja representada pela autoridade policial ou requerida pelo
Ministério Público.
É de tal forma que prevê o §2º, do Artigo 12-B, do PL 07/2016:
§ 2º Não sendo suficientes ou adequadas as medidas protetivas previstas no caput, a
autoridade policial representará ao juiz pela aplicação de outras medidas protetivas
ou pela decretação da prisão do autor.86
Por fim, é de se destacar mais uma nova inovação prevista no PL 07/2016, no qual
permite, em seu §3º, do Art. 12-B, que a Autoridade Policial possa requisitar os serviços
públicos necessários à defesa da vítima e de seus dependentes.
Estes serviços públicos necessários são todos aqueles, formais ou não, que visam
proteger e acolher a mulher vítima de violência doméstica ou familiar. Tais serviços podem
ser um meio formal, como a Defensoria Pública, caso a vítima não tenha condições de
contratar um advogado ou, até mesmo um Centro de Referência de Atendimento à Mulher
(CRAMs), que são espaços que acolhem e acompanham psicológica e socialmente as
86
BRASIL. SENADO FEDERAL. Projeto de Lei nº 07/16. Disponível em: <https://legis.senado.leg.br/sdleg-
getter/documento?dm=2914769&disposition=inline>.
67
mulheres em situações de violência, fornecendo assistências jurídicas e, até mesmo,
acompanhamento para serviços médicos ou casas de abrigo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Sendo assim, observa-se o quanto é importante a atividade exercida pelo
Delegado de Polícia. É exatamente este que, na maioria das vezes, terá o primeiro contato
com o fato delituoso, exercendo seu conhecimento jurídico de tomar as primeiras medidas
cabíveis para a garantia e defesa dos direitos violados pelas vítimas.
Para isso, o nosso vasto ordenamento jurídico prevê uma série de atribuições
concedidas as Autoridades de Polícia Judiciária para que estes realizem suas funções com
maior eficácia e agilidade. Dentre elas, deve-se destacar a Lei 12.830/13 que além de trazer
independências as funções do Delegado de Polícia, esta lei reconheceu suas funções como de
natureza jurídica, essenciais e exclusivas de Estado.
Portanto, o Delegado de Polícia não exerce apenas uma função administrativa,
como se fosse apenas um mero servidor público. Mas, sim, uma função que visa colaborar
com a eficiência do judiciário brasileiro, exercendo uma função essencial para a colheita dos
elementos de informações necessários cujo objetivo é o início da ação penal e todo o seu
trâmite.
É como bem corroborou o Exmo. Sr. Ministro Celso de Melo, no HC
84548/SP, ao afirmar que o Delegado de Polícia ―é o primeiro garantidor da legalidade e da
68
justiça‖87
. Sendo assim, sua função vai muito além de apenas prender indivíduos. Pois, é
justamente a Autoridade Policial o primeiro profissional a realizar a análise jurídica dos fatos.
Portanto, é neste diapasão em que devemos nos assegurar quando nos
referimos a possibilidade da aplicação das medidas protetivas de urgências, previstas na Lei
11.340/06, aos Delegados de Polícia.
São estas Autoridades o primeiro garantidor dos direitos, o primeiro
profissional a realizar a análise jurídica dos fatos, além de exercerem funções de natureza
jurídica, essenciais e exclusivas de Estados, então deve-se vislumbrar que tais autoridades são
amplamente competentes para tratarem do assunto e exercerem tais atribuições, haja vista que
hoje só quem pode aplicar tais medidas são os juízes e, que, são dotados das mesmas
atribuições citadas aos Delegados de Polícia.
Assim, devido à grande quantidade de denúncias oferecidas por mulheres
vítimas de violência doméstica e familiar, além do deficitário número de delegacias
especializadas nestes crimes, faz-se necessário, urgentemente, atribuir aos Delegados de
Polícias a possibilidade de aplicarem tais medidas protetivas de urgência às vítimas de
violência doméstica e familiar da Lei 11.340/06.
Não se deve esquecer que, muitas das vezes, estas vítimas possuem o medo de
buscarem proteção, pois acreditam que caso isso ocorra, mais a frente, os agressores poderão
voltar a praticar atos muito mais violentos. Por isso, dificilmente a Polícia chega a tomar
conhecimento de tais ameaças e violações a direitos, haja vista que as vítimas acabam, a cada
ato de violência, se retraindo e amedrontando-se cada vez mais.
Quando tais vítimas tomam a coragem de procurarem proteção, acabam por
não receberem o atendimento e proteção necessários, uma vez que acabam esperando a
deliberação do Magistrado a respeito da concessão ou não das medidas protetivas de
urgências. Apesar do ato heroico de procurar proteção, por vezes, acabam que esta demora na
concessão acarreta em maiores violências.
Por isso, faz-se necessário, urgentemente, a aprovação do PL 07/16, de criação
do Exmo. Sr. Deputado Federal Sergio Vidigal, do PDT-ES, no qual visa dispor e ampliar
sobre os direitos da vítima de violência doméstica e familiar, permitindo que o Delegado de
Polícia possa aplicar algumas medidas protetivas de urgências, previstas na Lei 11.340/06, a
essas vítimas.
87
QUEIROZ, David. DELEGADO DE POLÍCIA, O PRIMEIRO GARANTIDOR DOS DIREITOS
FUNDAMENTAIS! MAS QUEM GARANTE OS DIREITOS DO GARANTIDOR?. Empório do Direito,
2015. Disponível em: <http://emporiododireito.com.br/delegado-de-policia-o-primeiro-garantidor-de-direitos-
fundamentais-mas-quem-garante-os-direitos-do-garantidor-por-david-queiroz/>
69
Tal discussão sobre o PL 07/16, que corre no Senado Federal, é apresentada
em momento oportuno, haja vista a precária e fragilidade em que se encontram as estruturas e
eficácia do nosso Sistema Judiciário e de Segurança Pública. Além de notar-se que a atual Lei
11.340/06 já exerceu seu papel primordial que é o de levar seu conhecimento a população e
aplicar os novos mecanismos processuais.
Assim, faz-se necessário agora buscar maior eficácia e proteção a mulher. E
nada mais justo do que ampliar seus direitos, permitindo que o Delegado de Polícia, desde a
notitia criminis, possa realizar a proteção integral destas vítimas, até que seja levado o caso
ao conhecimento do Juiz.
REFERÊNCIAS
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À MULHER A CADA 12 MUNICÍPIOS. UOL Notícias, Rio de Janeiro, 2016. Disponível
em: <https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2016/06/05/brasil-tem-uma-
delegacia-com-atendimento-a-mulher-a-cada-12-municipios.htm>.
BECHARA, Juliana Maria Seixas. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E NATUREZA
JURÍDICA DAS MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA. Jus.com.br, 2010.
BONFIM, Edilson Mougenot. Curso de Processo Penal — 7. ed. — São Paulo: Saraiva,
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_______. Constituição Federal de 1988. Disponível em
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituição.htm>.
70
_______. Lei 4.898/65, art. 4º, ―a‖. Disponível em:
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_______. Lei 10.446/02. Disponível em:
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_______. Lei 11.340/06, art.5º. Disponível em:
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_______. Lei 11.343/06. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-
2006/2006/lei/l11343.htm>.
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Ministra JANE SILVA (DESEMBARGADORA CONVOCADA DO TJ/MG), Data de
Julgamento: 05/12/2008, S3 - TERCEIRA SEÇÃO, Data de Publicação: --> DJe
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Ministro OG FERNANDES, Data de Julgamento: 05/12/2008, S3 - TERCEIRA SEÇÃO,
Data de Publicação: --> DJe 05/02/2009. Disponível em:
<https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/2495910/conflito-de-competencia-cc-96533-mg-
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MIN. LAURITA VAZ, Data de Julgamento: 06/03/2012, T5 - QUINTA TURMA, Data de
Publicação: DJe 19/03/2012. Disponível em:
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Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, Data de Julgamento: 20/06/2013, T5 - QUINTA
TURMA, Data de Publicação: DJe 28/06/2013. Disponível em:
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71
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Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, Data de Julgamento: 11/02/2014, T4 - QUARTA
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_______. Superior Tribunal Federal. HC 94173, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO,
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72
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QUEIROZ, David. DELEGADO DE POLÍCIA, O PRIMEIRO GARANTIDOR DOS
DIREITOS FUNDAMENTAIS! MAS QUEM GARANTE OS DIREITOS DO
GARANTIDOR?. Empório do Direito, 2015. Disponível em:
<http://emporiododireito.com.br/delegado-de-policia-o-primeiro-garantidor-de-direitos-
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TÁVORA; ALENCAR, Curso de Direito Processual Penal – 9ª ed. –, 2014.
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