jÚlio cezar da cÂmara ribeiro viana
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JÚLIO CEZAR DA CÂMARA RIBEIRO VIANA
O PERFIL MOTIVACIONAL DO DOCENTE DA REDE ESTADUAL DE ENSINO FUNDAMENTAL NA PARAÍBA
Universidade Federal da Paraíba Centro de Ciências Sociais Aplicadas
Programa de Pós-Graduação em Administração Mestrado em Administração
JOÃO PESSOA – 2008
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JÚLIO CEZAR DA CÂMARA RIBEIRO VIANA
O PERFIL MOTIVACIONAL DO DOCENTE DA REDE ESTADUAL DE ENSINO FUNDAMENTAL NA PARAÍBA
Dissertação apresentada ao curso de mestrado em administração da Universidade Federal da Paraíba, na área de marketing, em cumprimento parcial das exigências para obtenção do título de mestre em administração.
Orientador: Walmir Rufino da Silva, Doutor
JOÃO PESSOA – 2008
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JÚLIO CEZAR DA CÂMARA RIBEIRO VIANA
O PERFIL MOTIVACIONAL DO DOCENTE DA REDE ESTADUAL DE ENSINO FUNDAMENTAL NA PARAÍBA
Dissertação aprovada em ____ / ____ / ____
_____________________________________
Walmir Rufino da Silva, Doutor Orientador – UFPB
_____________________________________
João Agnaldo, Doutor Examinador – UFPB
_____________________________________
Neroaldo Pontes de Azevedo, Doutor Examinador Externo – SEEC-PB
JOÃO PESSOA – 2008
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D436i
VIANA, Júlio Cezar da Câmara Ribeiro O perfil motivacional do DOCENTE da rede estadual de ensino fundamental na Paraíba _ João Pessoa: UFPB, 2008.
Orientador: Walmir Rufino, Doutor Dissertação (mestrado) – UFPB / CCSA / PPGA Contém anexos.
CDU: 658: 007 (047)
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DEDICATÓRIA A minha esposa, meu amor, Ana Karina, pelo incentivo, carinho, compreensão e pela confiança em meus propósitos.
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AGRADECIMENTOS
Muitas pessoas e instituições contribuíram apara a realização desse trabalho.
Portanto, não posso deixar de mencionar:
A todos os membros de minha família pelo apoio irrestrito em todas as horas.
O professor Walmir Rufino, com quem divido o mérito dessa conquista, pela
paciência, críticas e sugestões que procurei incorporar ao texto final ora apresentado.
Aos funcionários da Secretaria de Educação do Estado da Paraíba, em especial
Verônica Bezerra, pela essencial colaboração em todas as etapas da pesquisa.
Aos funcionários da PPGA/UFPB pelo espírito colaborativo.
Aos professores do Curso de Mestrado em Administração pelos ensinamentos
que me fizeram ver a realidade crítica das teorias em confronto com a realidade que
nos circunda.
Para não cometer injustiça, agradeço a todos aqueles cujo nome não citei, mas
que deixaram ,de alguma forma, a sua contribuição para a realização desse estudo.
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VIANA, J. C. C. R. O perfil motivacional do Docente da Estadual de Ensino Fundamental na Paraíba. 2008. 174 f. Dissertação (Mestrado em Administração) – Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2008.
Resumo Tendo por objetivo conhecer os fatores motivacionais presentes no comportamento dos professores, enquanto população alvo da pesquisa, especificamente na rede de ensino fundamental pública do Estado da Paraíba, esse estudo abrangeu uma população composta por 874 profissionais, sendo 350 do quadro de pessoal temporário e 524 do quadro efetivo. Na perspectiva desse estudo, essa população representa um universo complexo para tratar a temática motivação, haja vista a dimensão de variáveis intervenientes nesse processo as quais abrangem: desde as técnicas pedagógicas, passando pelas expectativas dos docentes em relação aos seus alunos, até a preocupação com os materiais didáticos, a capacitação docente, o aperfeiçoamento, as condições estruturais da escola e da sala de aula como um todo; além dos processos de: gestão institucional, liderança, relacionamento interpessoal, política educacional, disponibilidade de recursos, dentre outras questões de relevância para abordar com profundidade essa temática. As teorias de base que deram sustentação à análise proposta foram extraídas dos trabalhos de Herzberg (1972), Maslow (1971), McClelland (1971), McGregor (1973), Vroom (1964) e de outros que procuraram, em suas teorias, demonstrar que o próprio trabalho é um grande liberador de motivação, satisfazendo as necessidades superiores de crescimento do ser humano, foram discutidas nesse estudo, relacionando-as ao trabalho dos profissionais ligados ao magistério da Paraíba. Demonstrando que as necessidades mobilizam os recursos que cada pessoa possui, canalizando-os para o alcance de determinados objetivos ou metas. O argumento aqui apresentado serve para comprovar que a motivação engloba também a realização e a busca de crescimento que leva ao alcance da satisfação pessoal como parte da dinâmica do desempenho pessoal em relação ao trabalho. No caso especifico dos profissionais da área da educação, por exemplo, o binômio eficiência e qualidade é indissociável, e deve se fazer presente no trabalho que, cada profissional para que seus alunos possam vislumbrar a perspectiva de conquista da cidadania como indicativo de qualidade do trabalho desenvolvido em cada unidade de ensino desse pais. A conclusão a que se chegou com a análise dos dados é que: predomina no perfil motivacional dos profissionais investigados, a necessidade de auto-realização, da possibilidade de mostrar competência, de contribuir para formar pessoas capazes de realizar-se como ser humano e como cidadão.
Palavras-chave: Motivação; Profissionais; Magistério.
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VIANA, J. C. C. R. O perfil motivacional do Docente da Estadual de Ensino Fundamental na Paraíba. 2008. 174 f. Dissertação (Mestrado em Administração) – Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2008.
Abstract Willing to know the influence of motivating agents in the behavior of teachers, the target population of the research, specifically on the public elementary schools of the state of Paraíba, this study covered a population composed of 874 professionals, 350 of them being temporary staff and 524 regular personnel. In the prospect of this study this population represents a complex universe to treat the subject motivation, regarding the magnitude of intervenient variables involved in this process which goes all the way from the pedagogical techniques, through the expectations of teachers for their students, to the concern about educational materials, teacher training, improvement of the structural conditions of school and the classroom as a whole, and also the processes of: institutional management, leadership, interpersonal relationships, education policy, availability of resources, among other important issues to deal with in this thematic. The fundamental theories that gave support to the analysis were taken from reports of Herzberg (1972), Maslow (1971), McClelland (1971), McGregor (1973), Vroom (1964) and others who sought in their theories, to show that the actual Work is a great provider of motivation, satisfying the supreme need of growth of human beings; It all was discussed in this study, relating them to the work of professionals linked to the teaching of Paraiba. These authors also tried to demonstrate that the factors that cause satisfaction are determinants of positive human behavior, from answers given by the human intellect. In other words, the feeling of satisfaction is also a need, which serves as a centre of behaviour organization at any given time. In other words, the needs mobilize the resources that each person has, channeling them to reach certain goals or marks. The argument presented here serves to demonstrate that motivation also includes the achievement and the pursuit of growth that leads to the scope of personal satisfaction as part of the dynamics of personal performance in relation to work. This means understanding that the satisfaction with the work derives from the environmental conditions offered by the company and is caused by a motivational factor that result in a particular pattern of positive performance, or above the average performance. In the specific case of professionals in the area of education, for example, efficiency and quality are inseparable attributes and must be present in the effort of every professional, for their students to see the prospect of gaining citizenship as sign of the quality of work developed in each unit of education in this country. The conclusion to which it has been arrived with the analysis of the data is that: in the profile of professional motivational investigated prevails, the need for self-realization, as the wage policy in operation is not enough to supply their basic needs, it turns out that the recompense comes from work itself, the possibility of showing competence, to help educating people and making them able to take place as human beings and as citizens. Keywords: Motivation; Professionals; Teachings.
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LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Gráfico 1. Distribuição percentual decrescente dos atributos do trabalho ................. 105
Gráfico 2. Distribuição percentual decrescente dos atributos do diretor da
escola. ....................................................................................................................... 108
Gráfico 3. Distribuição percentual decrescente dos atributos do salário ................... 112
Gráfico 4. Distribuição percentual decrescente dos atributos dos colegas de
trabalho. .................................................................................................................... 117
Gráfico 5. Distribuição percentual decrescente dos atributos da promoção .............. 121
Gráfico 6. Relacionamento com os alunos ................................................................ 132
Figura 1 - Pirâmide de Maslow .................................................................................. 61
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LISTA DE TABELAS Tabela 1. Resultado do PISA – 2003 ........................................................................ 18
Tabela 2. Resultado SAEB – 2005 ............................................................................ 19
Tabela 3. Distribuição dos respondentes por região. ................................................ 86
Tabela 4. Distribuição das variáveis sócio-demográficas .......................................... 91
Tabela 5. Medidas descritivas da carga horária e quantidade de alunos dos professores .................................................................................................................................. 98
Tabela 6. Meu trabalho propriamente dito é... ........................................................... 103
Tabela 7. O Diretor da escola .................................................................................... 107
Tabela 8. Meu salário ................................................................................................ 111
Tabela 9. Os meus colegas de trabalho em geral aparecem .................................... 116
Tabela 10. As promoções.......................................................................................... 119
Tabela 11. Você pensa em mudar de emprego ........................................................ 123
Tabela 12. Situação da remuneração, carreira e cidadania ...................................... 126
Tabela 13. Avaliando a vida profissional e as relações no trabalho .......................... 129
Tabela 14. Expressão do sentimento como profissional atuante em outra rede de ensino ........................................................................................................... 133
Tabela 15. Em relação ao seu outro emprego .......................................................... 135
Tabela 16. Política educacional sob a ótica dos profissionais do magistério paraibano .................................................................................................................. 137
Tabela 17. Comparação da opinião dos professores Temporários e Efetivos através do teste de Fischer e da Razão de chances (Odds ratio) para o item trabalho ..................................................................................................................... 138
Tabela 18. Comparação da opinião dos professores Temporários e Efetivos através do teste de Fischer e da Razão de chances (Odds ratio) para o item diretor da escola. ....................................................................................................... 141
Tabela 19. Comparação da opinião dos professores Temporários e Efetivos através do teste de Fischer e da Razão de chances (Odds ratio) para o item salário ........................................................................................................................ 142
Tabela 20. Comparação da opinião dos professores Temporários e Efetivos através do teste de Fischer e da Razão de chances (Odds ratio) para o item colegas de trabalho. .................................................................................................. 144
Tabela 21. Comparação da opinião dos professores Temporários e Efetivos através do teste de Fischer e da Razão de chances (Odds ratio) para o item promoções................................................................................................................. 146 Quadro 1. Teoria X e Y ............................................................................................. 70
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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS APLP – Associação dos Professores de Licenciatura Plena do Estado da Paraíba CNE – Conselho Nacional de Educação CNTE – Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação CONSED – Conselho Nacional dos Secretários Estaduais de Educação ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente ENEM – Exame Nacional do Ensino Médio FUNDEB – Fundo Nacional de Desenvolvimento do Ensino Básico e Valorização do Magistério FUNDEF - Fundo Nacional de Desenvolvimento do Ensino Fundamental e Valorização do Magistério IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IDH – Índice de Desenvolvimento Humano INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira LDB – Lei de Diretrizes e Bases MEC – Ministério da Educação OCDE – Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico PCCR – Plano de Cargos, Carreira e Remuneração PDE – Plano de Desenvolvimento da Educação PIB – Produto Interno Bruto PISA - Programa Internacional de Avaliação de Alunos PNAD – Programa Nacional por Amostragem de Domicílios PNE – Plano Nacional de Educação SAEB - Sistema de Avaliação da Educação Básica. SEEC – Secretária de Estado da Educação e Cultura SINTEP - Sindicato dos Trabalhadores de Ensino Público do Estado da Paraíba. UNDIME – União Nacional de Dirigentes Municipais de Educação UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
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SUMÁRIO CAPÍTULO I - INTRODUÇÃO E CONTEXTUALIZAÇÃO DO ESTUDO .................. 12 1 IMPORTÂNCIA DO TEMA ..................................................................................... 12 2 QUALIDADE NO CONTEXTO DA EDUCAÇÃO ................................................... 14 3 A MOTIVAÇÃO COMO INDICADOR DE QUALIDADE NA EDUCAÇÃO............. 21 4. DEFINIÇÃO DOS OBJETIVOS ............................................................................ 28 4.1 OBJETIVO GERAL ............................................................................................. 29 4.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ............................................................................... 29 CAPÍTULO II - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ........................................................ 30 1 SOBRE A EDUCAÇÃO ......................................................................................... 30 1.1 PONTO DE PARTIDA ......................................................................................... 30 1.2 ANTECEDENTES HISTÓRICOS NO CONTEXTO DA PARAÍBA ...................... 39 1.3 VALORIZAÇÃO DO MAGISTÉRIO ..................................................................... 42 1.4 O MAGISTÉRIO NA PARAÍBA ............................................................................ 49 2 SOBRE A MOTIVAÇÃO ........................................................................................ 53 2.1 CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES ................................................................. 53 2.2 TEORIA DAS NECESSIDADES .......................................................................... 59 2.2.1 Hierarquia das Necessidades ........................................................................ 60 2.3 TEORIA DOS DOIS FATORES ........................................................................... 64 2.4 TEORIA DAS NECESSIDADES SOCIALMENTE ADQUIRIDAS ........................ 66 2.5 TEORIA “X” E “Y” ................................................................................................ 68 2.6 A TEORIA DA EXPECTÂNCIA ........................................................................... 73 2.7 TEORIA DA EQUIDADE ..................................................................................... 76 2.8 A REMUNERAÇÃO COMO FATOR MOTIVACIONAL ....................................... 78 CAPÍTULO III - METODOLOGIA .............................................................................. 81 1 CONCEPÇÃO DA PESQUISA .............................................................................. 81 1.1 DELIMITANDO O OBJETO E A PROBLEMÁTICA DE PESQUISA .................... 82 1.2 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA ................................................................. 82 2 INSTRUMENTOS E PROCEDIMENTOS ............................................................... 84 CAPÍTULO IV- APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS .................... 90 CAPÍTULO V- Á TÍTULO DE CONCLUSÃO ............................................................ 148 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 154 APÊNDICE ................................................................................................................ 159
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CAPÍTULO I
INTRODUÇÃO E CONTEXTUALIZAÇÃO DO ESTUDO
1 IMPORTÂNCIA DO TEMA
Presente na maioria das discussões travadas sobre cidadania e
desenvolvimento é praticamente consenso que a educação é um pré-requisito
fundamental ao alcance do bem estar social. Na vida cotidiana, percebem-se, também,
sentimentos compartilhados por grande parte da população, de que a educação é
essencial e que o Poder Público, em todas as esferas, não a prioriza como deveria,
sendo este um fator inibidor da sua potencialidade.
Nas últimas décadas, embora com muitos anos de atraso1 e ainda de
maneira insuficiente, o debate em torno da temática envolvendo a educação tem sido
ampliado, motivado por diversos fatores que vão: desde a pressão popular por uma
forma ou oportunidade de ascensão social, até a necessidade de preparação da força
de trabalho para a constante competição imposta pela dinâmica do mundo globalizado.
Esquecendo os debates passionais e o viés corporativo que, muitas vezes,
domina a questão, pode-se concordar que essa discussão é essencial, obrigatória e
que precisa ser mantida, pois, ainda não conseguiu sensibilizar a todos com a
intensidade necessária, e não gerou a mobilização suficiente ao esclarecimento e
1 Outros países conseguiram avanços nos sistemas educacionais há décadas ou séculos, podemos destacar a Argentina, que
passou por uma revolução no século XIX e a Alemanha, que nos séculos XVII e XVIII já tinha montado um sistema educacional
obrigatório, gratuito e laico.
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conseqüente priorização requerida pelo tema. Soares (2006) destaca, sucintamente, a
importância que é atribuída à educação na sociedade moderna.
[...] nas sociedades modernas os resultados educacionais estão intimamente ligados às oportunidades que os indivíduos terão, posteriormente, em termos de renda, status, poder e os outros indivíduos com quem irão socializar. Em outras palavras, nas sociedades modernas a educação formal é um determinante fundamental do status socioeconômico.
Nesse estudo, reforça-se essa discussão, destacando que, antes de tudo, a
educação é um direito fundamental, amparado por várias declarações2 e tratados,
dentre eles a Declaração Universal dos Direitos Humanos (), como também é um direito
constitucional. Fundamentando melhor essa concepção deve-se salientar que, de
acordo com a Constituição Federal (1988):
Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. (CF, 1998)
Assim, a educação é um direito3, e com base na argumentação desenvolvida
por teóricos de estirpe de Freire (1997), Veiga (1996), Saviani (1995) e Gadotti (1993)
dentre outros, pode-se acrescentar que esse direito uma vez exercido em sua
plenitude, permite conquista de muitos outros. O cidadão instruído, bem informado,
consciente de seu papel na sociedade, terá maiores chances de usufruir dos demais
2 “Uma das grandes características do século XX foi ser capaz de produzir legislação internacional que atuasse sobre os Estados
Soberanos e que servisse de modelo para leis internas dos Estados-nação.” (BEUST, 2000). Destacamos a Declaração de Direitos
do Homem (1848), Declaração Universal dos Direitos da Criança (1959), Convenção Internacional sobre direitos da Criança (1990),
Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA (Brasil - Lei nº 8.069, de 13/07/1990). 3 Para efetivação do direito à educação, é freqüente atuação do Ministério Público junto ao Poder Executivo, exigindo o
cumprimento da legislação.
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benefícios da cidadania, absorvendo uma função fiscalizadora, demandando ao poder
público a atuação necessária, que venha possibilitar uma vida digna à coletividade.
Seguindo essa linha de raciocínio Carvalho (1979), diz que “[...] a ausência
de uma população educada tem sido sempre um dos principais obstáculos à construção
da cidadania civil e política”. Complementando esse pensamento, é possível afirmar,
também, que o acesso à educação proporciona, diretamente, avanços nos serviços de
saúde, segurança e principalmente na capacidade de escolha dos representantes do
povo, que, se realizada com sucesso, garante uma realimentação do ciclo que
resultará, ainda, em mais educação, um bem essencial e não perecível.
2 QUALIDADE NO CONTEXTO DA EDUCAÇÃO
Esse estudo considera que a educação é um pilar básico para o
desenvolvimento, pois cada vez mais, a inserção no mercado de trabalho está
condicionada a uma boa formação, sendo um grande diferencial na evolução das
sociedades. Segundo Schultz (1973), na sua formulação da Teoria do Capital Humano,
os Recursos Humanos, juntamente com o Capital e o Trabalho, compõem os pilares
básicos de uma economia; sendo o processo educacional, o aspecto que diferencia e
amplia a qualidade do fator humano, a força impulsionadora capaz de definir o nível de
desempenho da força de trabalho, determinante do grau de competitividade.
Mas, para que cumpra seu verdadeiro e importante papel, a educação
precisa estar disponível a todos e, principalmente, ser de qualidade. Assim, a qualidade
da educação necessita ser não somente um item constitutivo das políticas públicas,
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mas realmente considerada como um motor estratégico, cujo funcionamento impactará
diretamente em todas as relações humanas e em todas as fases da cadeia produtiva.
Faz-se oportuno mencionar que a legislação vigente: normatiza e estabelece
metas, direciona aspectos, que estão no centro das discussões e que precisam ser
focados para mudança da situação atual. Dentre tais metas encontra-se como
referencial, o Plano Nacional de Educação – PNE4, cujos objetivos prioritários são:
• a elevação global do nível de escolaridade da população; • a melhoria da qualidade do ensino em todos os níveis5; • a redução das desigualdades sociais e regionais no tocante ao acesso e à permanência, com sucesso, na educação pública e
• democratização da gestão do ensino público, nos estabelecimentos oficiais, obedecendo aos princípios da participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola e a participação
Destaca-se como variável importante para os objetivos desse estudo, a
“melhoria da qualidade do ensino em todos os níveis”, pois infere-se que a qualidade,
ao ser citada nesse contexto de referência, pode ser traduzida e mensurada, nos
resultados obtidos pelos educandos, nas avaliações oficiais (SAEB6, PROVA BRASIL7,
ENEM8, PISA9).
4 Lei nº 10.172/2001
5 Grifo nosso para enfatizar, mais adiante essa variável “qualidade da educação” como um dos pontos dependentes da motivação
dos profissionais engajados em tal atividade.
6 O Sistema de Avaliação da Educação Básica – SAEB, foi criado pelo MEC/INEP com a finalidade de aferir a aprendizagem dos
alunos e o desempenho das escolas, além de prover informações para avaliação e revisão de planos e programas de melhoria da
qualidade da educação.
7 Avaliação realizada pelo MEC/INEP em 5.387 municípios de todas as unidades da Federação, avaliando 3.392.880 alunos de 4ª e
8ª séries do ensino fundamental, distribuídos em 125.852 turmas de 40.962 escolas públicas urbanas com mais de 30 alunos
matriculados na série avaliada
8 O Enem é um exame individual, de caráter voluntário, oferecido anualmente aos estudantes que estão concluindo ou que já
concluíram o ensino médio em anos anteriores. Seu objetivo principal é possibilitar uma referência para auto-avaliação, a partir das
competências e habilidades que estruturam o Exame.
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No caminho de sua execução, tais avaliações desempenham um papel
importante: preparam ações contribuintes para a busca de uma melhoria da qualidade,
o papel exercido, diariamente, pelo professor, cujas ações servem como ampla
referência para os educandos, é um grande diferencial, de elevada e fundamental
importância para o processo de ensino-aprendizagem.
No campo da gestão de recursos humanos, ou seja, na prática gerencial da
atividade, considerando a natureza do trabalho desenvolvido pelos profissionais da
educação, Freire (1997) diz que: “[...] mal se imagina o que pode passar a representar
na vida de um aluno um simples gesto do professor. O que pode um gesto
aparentemente insignificante valer como força formadora ou como contribuição à do
educando por si mesmo”.
Essas colocações reforçam a importância de a escola poder contar com
trabalhadores motivados, preocupados com a qualidade do ensino que ministram nas
suas atividades cotidianas, estando, portanto, coerentes com a proposta desse estudo.
No plano político, após uma série de debates, reivindicações, manifestações da
sociedade civil, sobre aspectos que mostravam a necessidade de mais atenção para o
assunto, o Poder Público colocou em pauta pontos que sinalizaram a tentativa de
modificação da situação ainda vigente.
O Sistema Educacional Nacional10, que por obrigação, deve garantir uma
educação de qualidade para todos os cidadãos, passou por diversas reformas na última
9 Programa Internacional de Avaliação de Alunos, é uma avaliação internacional padronizada, desenvolvida conjuntamente pelos
países participantes da OCDE, aplicada a alunos de 15 anos no ensino regular (7 a série em diante). Abrange os domínios de
Leitura, Matemática e Ciências, não somente quanto ao domínio curricular de cada escola, mas também quanto aos conhecimentos
relevantes e às habilidades necessárias à vida adulta.
10 Em todo o mundo, o Estado possui a responsabilidade de formar, regular e controlar o sistema educacional e suas instituições formais (MITTER, 2004). Responsabilidade determinante e fundamental, para Archer (apud MITTER, 2004), a educação tem as
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década, das quais podemos destacar a descentralização na gestão da política
educacional, a criação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino
Fundamental e de Valorização do Magistério (FUNDEF) através da Lei nº 2.494 de
24/12/96, a Lei de Diretrizes e Bases LDB (Lei nº 9.394 de 20/12/96), Exame Nacional
do Ensino Médio (ENEM), Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação Básica
(FUNDEB – MP nº 339 28/12/06), entre outros.
A análise da série histórica dos investimentos em educação no Brasil aponta
um aumento significativo. O percentual do Produto Interno Bruto (PIB) aplicado em
educação que cresceu 14,4%11 entre 1995 e 1999, variando de 3,8% a 4,3%,
representando um grande avanço, mas ainda insuficiente; se for considerada, para
efeito de comparação, a média de investimento entre os diversos membros da
Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico entre Países em
Desenvolvimento - OCDE12 que, no mesmo período, foi 5,2%. Segundo o censo do
INEP, a escolarização13 no ensino fundamental foi acentuadamente elevada, ficando
muito próxima da universalização, chegando a 97%14 em 1999 (em 1980 esse índice
era de 80%). Esses dados revelam um paradoxo: de um lado, é um avanço, mas, de
outro, o reconhecimento de que ainda existem muitas crianças fora da escola.
características que tem devido aos objetivos perseguidos por aqueles que a controlam, e as mudanças ocorrem porque novos
objetivos são perseguidos por aqueles que tem o poder de modificar a forma estrutural prévia da educação, a definição de instrução
e a sua relação com a sociedade.
11 Fonte: IPEA
12 Membros OCDE - Alemanha, Austrália, Áustria, Bélgica, Canadá, Coréia, Dinamarca, Eslováquia, Espanha, Estados Unidos,
Finlândia, França, Grécia, Holanda, Hungria, Irlanda, Islândia, Itália, Japão, Luxemburgo, México, Noruega, Nova Zelândia, Polônia,
Portugal, Reino Unido, República Tcheca, Suécia, Suíça, Turquia.
13 A taxa de escolarização (líquida) é o resultado da divisão do total de crianças na faixa etária de 7 a 14 anos no ensino
fundamental pela população total dessa mesma faixa de idade.
14 Fonte: MEC/INEP
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Em que pese a consistência dessa observação, considera-se que os
sistemas de ensino no Brasil, notadamente os vinculados à esfera pública, ainda não
estão preparados para tal expansão, de forma que a qualidade do ensino ofertada
ainda é sofrível; ou seja, os resultados obtidos estão muito aquém do ideal, como
comprovam os dados da última versão do Programa Internacional de Avaliação de
Alunos – PISA, apresentados na Tabela 1, conforme segue:
Tabela 1. Resultado do PISA – 2003
DISCIPLINA PONTUAÇÃO (0-800)
COLOCAÇÃO (1-41)
Leitura 396 37ª Matemática 334 36ª Ciências 375 40ª
Fonte: OCDE
A educação deve construir o alicerce da cidadania e, conforme Freire (1997),
no que é seguido por Veiga (1996), Saviani (1995) e Gadotti (1993), ela depende da
leitura de mundo que o aluno faz da sua realidade social. Portanto, a leitura precisaria
estar situada em uma posição melhor; haja vista que sem o domínio da leitura as outras
disciplinas ficam prejudicadas no seu desempenho.
Trazendo essa discussão para a realidade local, verifica-se que, no âmbito
dos estados, a situação da Paraíba, universo de estudo deste trabalho, também
demonstra a necessidade de avanços quantitativos nos sistemas educacionais,
conforme se depreende da leitura dos dados, do Sistema de Avaliação da Educação
Básica, apresentados na Tabela 2, a seguir.
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Tabela 2. Resultado SAEB – 2005
4ª Série Matemática
4ª Série Língua Portuguesa
8ª Série Matemática
8ª Série Língua Portuguesa
Paraíba 165,9 173 232,9 226 Nordeste 163 157,4 219,6 215,9 Brasil 181,8 156,7 218,1 216,9
Fonte: INEP
Percebe-se, com base nos dados acima que o desempenho da educação
básica na Paraíba, apresenta-se em patamar superior ao obtido na Região Nordeste e
até mesmo superior a média nacional. Assim, vislumbra-se a importância, o
reconhecimento de um direito, o início da discussão, a oportunidade de acesso, a má
qualidade, o baixo desempenho e a necessidade de melhoria da qualidade de ensino.
Essa discussão perpassa a compreensão de que, o crescimento quantitativo
não foi acompanhado pelo qualitativo e, nessa perspectiva, a qualidade da educação é
bastante estudada por diversos pesquisadores de várias instituições, pois de acordo
com Dourado (2007):
Estudos, avaliações e pesquisas mostram que a Qualidade da Educação é um fenômeno complexo, abrangente, e que envolve múltiplas dimensões, não podendo ser apreendido apenas por um reconhecimento da variedade e das quantidades mínimas de insumos considerados indispensáveis ao desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem [...].
Na visão da grande maioria dos estudos consultados por ocasião dessa
pesquisa, a atuação do magistério é considerada como ponto fundamental. Através
dessa literatura, foi possível aquilatar a existência de diversos trabalhos que tratam da
qualidade da educação, na perspectiva de fortalecimento da importância do papel do
professor, bem como da legislação nas esferas Federal, Estadual e Municipal
enfatizando (reconhecendo) a necessidade de valorização do magistério.
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Confirmando essa afirmação, destaca-se o Capítulo II da LDB, Princípios e
Fins da Educação Nacional e no PNE, onde a valorização do magistério é colocada
como norteadora da educação, conforme as transcrições que seguem:
Art. 3º O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:
VII - valorização do profissional da educação escolar; (LDB) Acrescente-se a isso, a seguinte observação que permite visualizar melhor
esse ponto de vista reflexivo:
A melhoria da qualidade do ensino, que é um dos objetivos centrais do Plano Nacional de Educação, somente poderá ser alcançada se for promovida, ao mesmo tempo, a valorização do magistério. Sem esta, ficam baldados quaisquer esforços para alcançar as metas estabelecidas em cada um dos níveis e modalidades do ensino. Essa valorização só pode ser obtida por meio de uma política global de magistério, a qual implica, simultaneamente, a formação profissional inicial; as condições de trabalho, salário e carreira; a formação continuada (PNE).
Entre as pesquisas que apontam essa perspectiva, destaca-se a opinião de
Xavier (1995), que reforça tal constatação, citando entre outros, a importância da
valorização do magistério para a qualidade de ensino, com base no seguinte
argumento:
Considerando a gestão dos sistemas educacionais, os fatores que têm sido apontados como essenciais para a qualidade do ensino são: o comprometimento político do dirigente; a busca por alianças e parcerias; a valorização dos profissionais da educação15; a gestão democrática; o fortalecimento e a modernização da gestão escolar; e a racionalização e a produtividade do sistema educacional. (XAVIER, 1996)
15 Grifo nosso, para indicar que a valorização dos profissionais da educação, conforme exposto em linhas atrás nesse estudo, é
questão fundamental para a motivação dessa categoria de trabalhadores, bem como para o alcance de melhores indicadores de
qualidade do ensino.
21
Nesse contexto, faz-se oportuno enfatizar que, embora seja aclamada pelas
pesquisas e mencionada na legislação como norteadora e basilar, ainda não é
perceptível uma concordância e reconhecimento, por parte dos professores e da
sociedade, de tal valorização. Então, diante dessa perspectiva cabe colocar os
seguintes questionamentos: como os professores estão engajados no processo de
melhoria da qualidade do ensino? Como eles se sentem em relação ao seu trabalho?
Tais questionamentos são essenciais para esse estudo, cujo propósito é de
buscar conhecer e discutir a força que impulsiona o professor, fator humano, alvo
potencial das políticas que pretendem melhorar a qualidade de ensino, a vislumbrar
estratégias para atender a essa finalidade, considerando, inclusive, as limitações de
recursos que é inerente a cada unidade educacional, principalmente naquelas do setor
público.
3. A MOTIVAÇÃO COMO INDICADOR DE QUALIDADE NA EDUCAÇÃO
Seguindo a linha de raciocínio que vem sendo exposta nesse estudo,
considera-se, de acordo com o pensamento desenvolvido por Lévy-Leboyer (1994), que
“o desempenho dos recursos humanos é derivado de dois fatores: aptidão e
motivação”. A motivação é parte integrante do comportamento humano, e corresponde
ao esforço e à tenacidade exercidos pela pessoa para fazer algo ou alcançar algo.
Na visão de Murillo (2005), motivação dos professores e qualidade da
educação são variáveis distintas, mas que na sua essência apresentam uma relação
22
bastante estreita, pois ambas, referem-se a resultados e que a educação não é algo
que acontece no vazio, haja vista que:
A preocupação com aumentar a qualidade do ensino e manter alta a motivação dos docentes ao longo de toda sua vida profissional fez com que, em todos os países da América Latina, se estabelecesse um sistema de promoções dentro da carreira docente ou no magistério. Dessa forma, na legislação da totalidade dos sistemas educacionais latino-americanos regula-se algum mecanismo para reconhecer de forma objetiva e pública o bom desempenho dos docentes, mediante a melhoria de sua situação econômica e profissional.
Tomando por base essa argumentação, procurou-se, através dessa
pesquisa, conhecer os fatores motivacionais presentes no comportamento dos
professores, enquanto população alvo da pesquisa, especificamente na rede de ensino
fundamental pública do Estado da Paraíba, sendo esta a definição do campo de
pesquisa do referido estudo.
Os objetivos específicos vislumbram a verificação do perfil sócio-econômico
da população estudada, bem como a sua relação e identificação com a natureza do
trabalho, além das perspectivas de crescimento na carreira, sua relação com seus
superiores e com os colegas de trabalho, a questão da remuneração, a percepção e
conhecimento da política de financiamento. Sugerindo, também, caminhos que
poderiam colaborar para a melhoria da qualidade de ensino na educação básica16, no
Estado da Paraíba.
Além disso, importa-nos observar o confronto com situações inibidoras que
se apresentam na adoção de um tratamento padrão que não leva em consideração as
diferenças, a “concorrência” com o quadro provisório (professores contratados
16 A educação básica é dividida em ensino infantil (4 a 6 anos), ensino fundamental (7 a 14 anos) e ensino médio ( 15 a 17 anos).
O ensino fundamental está sendo ampliado para 9 anos, de forma que a série anteriormente denominada alfabetização passará a ser chamada de 1ª série, sendo assim incluída na faixa de financiamento do ensino fundamental.
23
temporariamente) e a insegurança e fragilidade do emprego, quanto às questões
externas ao desempenho da função. Acredita-se que o trabalho eficiente deve ser
intencional e, pela singularidade da prática educativa, um desafio que se renova, a cada
dia, um processo que se constrói e se reconstrói constantemente daí porque é
importante atermo-nos ao conceito de motivação dos professores.
Embora existam inúmeros estudos sobre motivação no trabalho, a grande
maioria é voltada para outros tipos de organizações, ou seja, são poucos os trabalhos
na área de educação; especificamente aqueles voltados ao estudo do comportamento
dos professores; e, ainda mais raros, se considerar-se como objeto de pesquisa a rede
pública de ensino, pois existiam em todo o país no ano 2006, 2.119.923 funções
docentes, na rede pública de ensino básico, sendo 51.289 apenas no estado da
Paraíba17.
Assim, pode-se justificar este trabalho, considerando a ausência de estudos
específicos referentes ao tema e, principalmente, as contribuições que um estudo desta
natureza pode trazer à sociedade, através da otimização dos sistemas educacionais, no
âmbito de se obter uma visão mais aprofundada sobre o comportamento dos docentes
no tocante à motivação para o trabalho.
Para atender aos objetivos propostos organizou-se o texto desse trabalho na
seguinte forma estrutural: No Capítulo I, apresenta-se, a título de introdução, uma
argumentação voltada para a contextualização do estudo, fazendo-se referência a
questões relativas à educação e também a motivação; buscando-se construir um
argumento em que ficasse demonstrada a relação de interdependência entre a
17 Censo Escolar 2006 – MEC/INEP
24
educação, a motivação e a qualidade do ensino, enfatizando ainda os objetivos
propostos no estudo ora apresentado.
No Capítulo II, apresenta-se os referenciais teóricos e as bases de
conhecimento que direcionaram a pesquisa. A apresentação desses referenciais foi
segmentada para possibilitar uma seqüência lógica de raciocínio e maior facilidade de
compreensão.
No Capítulo III, apresenta-se a metodologia utilizada na pesquisa,
destacando, além da caracterização do estudo, a construção do instrumento utilizado
na coleta de dados, detalhando todos os passos seguidos na investigação, englobando
a concepção, o desenvolvimento e finalização. Relatando vários aspectos como os
procedimentos de definição da amostra, de coleta e de tratamento dos dados.
No Capítulo IV, apresenta-se o resultado da pesquisa, consistindo na análise
dos dados obtidos, referenciando-os com as bases teóricas utilizadas na
fundamentação, apresentando-os sob a forma de tabelas, de modo a visualizar melhor
a síntese obtida e facilitar a sua compreensão globalizada, ou seja, a visão de conjunto
desses dados.
No Capítulo V, apresenta-se as considerações finais sobre os aspectos
abordados na pesquisa e deixamos o que pensamos ser a contribuição deste trabalho
para possibilitar o oferecimento de uma educação de qualidade.
A delimitação do objeto de pesquisa é de fundamental importância para
estabelecer a dimensão de análise envolvendo as categorias definidas e os aspectos
relacionais pertinentes. A definição do objeto de pesquisa deve guardar relação com o
esquema teórico empregado na fundamentação da análise e com a problemática (GIL,
2005).
25
A delimitação do objeto de pesquisa, no contexto das abordagens sobre a
temática enfocada, depende de como se estabelece o esquema conceitual adotado,
posto que isso depende da objetivação, isto é, conforme Gil (2005) depende de uma
delimitação, clara e objetiva, construída a partir de uma realidade fundamentada em um
esquema conceitual baseado nas diversas concepções definidas pelos autores
estudados, os quais serão confrontados com as respostas emitidas pelos sujeitos
investigados, sobre as questões de interesse do estudo.
O objeto de pesquisa desse estudo é a motivação, entendida como sendo
parte integrante do comportamento humano, correspondente ao esforço e à tenacidade
exercidos pela pessoa para fazer algo ou alcançar algo e é um dos inúmeros fatores
que contribuem para o bom desempenho no trabalho.
Explicando o processo motivacional, Silva (2007) esclarece que este
funciona de maneira cíclica e repetitiva. O chamado ciclo motivacional é composto de
fases que se alternam e se repetem, ou seja, ele não é um processo linear, depende de
várias circunstâncias, as quais são descritas nas teorias que enfatizam as
necessidades.
Seguindo essa perspectiva, aponta-se também, para a intervenção da
motivação no contexto do trabalho dos profissionais envolvidos com a educação. Trata-
se de um universo complexo para tratar a temática, haja vista à dimensão de variáveis
intervenientes nesse processo as quais abrangem: desde as técnicas pedagógicas,
passando pelas expectativas dos docentes em relação aos seus alunos, até a
preocupação com os materiais didáticos, a capacitação docente, o aperfeiçoamento, as
condições estruturais da escola e da sala de aula como um todo; além dos processos
de: gestão institucional, liderança, relacionamento interpessoal, política educacional,
26
disponibilidade de recursos, dentre outras questões de relevância para abordar com
profundidade essa temática.
Ao tratar do perfil motivacional de profissionais ligados à educação, está se
tratando de um aspecto relacionado ao microcosmo escolar, em que existem vários
atores envolvidos: o diretor, os funcionários, o professor, a Secretaria de Educação do
Estado18, todos podem ser considerados atores ou protagonistas que atuam no meio
educacional; de modo que tudo que diz respeito à motivação encontra-se ancorado
nesses elementos.
Adentrando nos detalhes da escolha do objeto dessa investigação, torna-se
necessário destacar a experiência do autor desse estudo junto à educação, cenário
onde foi conduzida essa pesquisa; o que lhe permitiu visualizar a possibilidade de
realizar esse estudo, a partir da sua percepção de que cada unidade de ensino possui
uma forma particular de existir, pois seus elementos constituintes são pessoas em
permanente interação.
Segundo Casassus (2002), nesse tipo de ambiente não há um fluxo genérico
de interações, e sim um fluxo particular, modelado por um conjunto de normas, cultura,
modelos e processos que dão coerência ao fluxo. Trata-se de uma interação
intersubjetiva que se dá entre sujeitos no marco de uma estrutura que regula esse fluxo,
ao mesmo tempo em que lhe confere uma identidade particular.
Essas interações fluem mediadas pela intenção de produzir aprendizagens,
emergindo, portanto, do modelo de interações humanas, prestando-se assim ao estudo
da motivação, pois é essa interação que vai orientar as ações que se desenvolvem
18 Trata-se de um ente que também interfere na motivação porque seus processos englobam a gestão política de fatores que interferem nas condições e na qualidade do trabalho que é realizado no contexto de cada estabelecimento da rede pública de ensino.
27
nesse microcosmo, a qual em última análise, é fator determinante para o resultado do
trabalho que ali se desenvolve.
Considerando essas questões, este estudo traz um aprofundamento teórico
sobre a motivação humana dando uma ênfase aos aspectos motivacionais dos
profissionais que atuam no magistério, visualizando a complexidade existente em torno
daqueles que labutam na área da educação, o que o torna um estudo diferenciado em
relação a outros estudos sobre motivação, por tratar de uma população pouco
pesquisada, espera-se que ele venha a representar uma valiosa fonte de consulta para
as pessoas que se interessarem por esse tema.
A natureza comportamental do tema fez com que, na argumentação
desenvolvida na sua base teórica, fossem enfatizadas a importância e necessidade de
se respeitar as diferenças sociais e culturais na contextualização dos aspectos teóricos,
em relação ao universo considerado, admitindo-se a singularidade e dificuldade de se
estudar motivação, para o trabalho, em um ambiente de poucos recursos19, de grande
desigualdade e dependência estatal20.
Para sanar essa dificuldade, optou-se por fazer uma descrição sobre a
evolução histórica da educação no Brasil e na Paraíba, enfatizando o funcionamento
dos sistemas federal e estadual de educação; além de uma revisão de literatura sobre a
função dos recursos humanos nas redes públicas de ensino; e principalmente, com
reforço das teorias que estudam a motivação humana e que fundamentaram esta
pesquisa. 19 O IDH da Paraíba em 2000 era 0,678 ocupando a 24ª posição entre os estados, no mesmo ano o Brasil ocupava a 73ª
colocação, com o índice 0,757.
20 A economia do Estado da Paraíba é amplamente dependente das entidades públicas, que também são as principais
empregadoras do Estado. Conforme dados do Ministério do Trabalho, 46% dos empregos formais são vinculados à administração
pública
28
Sustentando-se nestes parâmetros sobre as motivações definiu-se a
seguinte questão-problema de pesquisa: Que fatores têm se apresentado como
determinantes na delimitação do perfil motivacional do docente da rede estadual de
ensino fundamental na Paraíba?
Espera-se que, a partir da identificação dos fatores determinantes desse
perfil, a Secretaria de Educação e Cultura do Estado da Paraíba possa conhecer
melhor seu pessoal e, conseqüentemente, estabelecer linhas de ação política que,
possam contribuir para melhorar o ambiente interno, de cada uma de suas unidades de
ensino; de modo a facilitar o desempenho desses profissionais no seu ambiente de
trabalho, o que, provavelmente, implicaria na melhoria dos resultados organizacionais,
conseqüentemente, produzindo reflexos na qualidade do ensino e na aprendizagem dos
alunos, simultaneamente.
4. DEFINIÇÃO DOS OBJETIVOS
Conforme exposto anteriormente, esse estudo trata da motivação no
trabalho, um tema amplo, complexo, abrangente e, também, um componente
importante da gestão de pessoal. Os teóricos das organizações acreditam que as
necessidades humanas são ajustáveis a situações específicas.
Assim, segundo essa perspectiva teórica, conhecendo-se os fundamentos da
motivação, é possível organizar as tarefas, de cada setor dentro da organização, de
modo apropriado para obter uma estrutura de trabalho mais eficiente. Isso favorece a
criação de condições para que cada um que interage com a organização possa
desenvolver atitudes mais eficientes.
29
Admite-se, portanto, que a motivação é um conceito, capaz de eliminar
atitudes negativas e gerar atitudes favoráveis ao trabalho, as quais devem surgir
naturalmente; em decorrência da mola propulsora que faz com que cada um dirija seus
esforços para objetivos pré-determinados, que atendam as suas necessidades
relacionadas ao contexto em que o trabalho se desenvolve.
Considerando a amplitude do recorte teórico e das possibilidades de
exploração da temática motivação, bem como a inexistência de estudos sobre esse
assunto envolvendo o magistério paraibano, houve necessidade de delimitar,
objetivamente a trilha metodológica seguida nesse estudo, com base nos seguintes
aspectos:
4.1 OBJETIVO GERAL
Estudar o perfil motivacional do magistério da rede estadual do ensino
fundamental na Paraíba.
4.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
• Levantar o perfil motivacional dos profissionais que integram a rede pública
estadual do ensino fundamental na Paraíba;
• Averiguar que fatores têm sido determinantes na delimitação desse perfil;
• Verificar como está se apresentando a satisfação das pessoas vinculadas à
rede pública estadual de ensino fundamental da Paraíba com as condições
de trabalho na sua unidade educacional;
• Verificar as disparidades no perfil dos docentes temporários e efetivos
30
CAPÍTULO II
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
1. SOBRE A EDUCAÇÃO
1.1 PONTO DE PARTIDA
Em estudos que focalizam a temática educação, é vital a necessidade de
apontar a cronologia histórica da variável educação, em ambos os contextos utilizados
pra a realização desse estudo: a educação brasileira e a paraibana. Essa forma de
abordar o tema possibilita identificar a existência de alguns antecedentes que
impactam, hoje, o comportamento dos professores; tendo em vista que, na sociedade,
de diversas formas, os sistemas econômico, político e social influenciam fortemente o
sistema educativo.
A educação muda com as reformas educacionais, que são conseqüências de
aspirações da sociedade, tendo sempre, em cada período histórico, um objetivo e uma
importância peculiar. Durante o período colonial (1500-1808), o Brasil tinha como
função primordial servir a metrópole, através de um modelo agrário-exportador de
monocultura21. Não existindo na Colônia instituições autônomas, os mandatários eram
representantes legais de Portugal, em nome de quem deveriam povoar a nova terra e
fornecer-lhe produtos.
21 O modelo baseado na monocultura não necessitava de trabalhadores qualificados, o que colaboraria para a postura adotada
pela Coroa quanto à educação.
31
Com o objetivo de organizar o catolicismo no Brasil e, consequentemente,
ampliar a influência da metrópole22, a Companhia de Jesus, fundada em 1540, chegou
ao Brasil em 1549, passando logo a se dedicar à educação23, desviando-se de sua
orientação inicial. Os jesuítas24 entraram no interior do país, primeiramente educando
os filhos dos portugueses e catequizando os índios. Mas, para a conversão dos nativos,
seria preciso, antes de tudo, alfabetizá-los, sendo assim, os religiosos da companhia de
Jesus os primeiros educadores do povo brasileiro.
Os primeiros professores do Brasil exerciam suas atividades laborais,
motivados pela doutrina religiosa. A Igreja Católica, inserida no contexto da expansão
colonial, oferecia, entretanto, uma educação de qualidade, reconhecida até mesmo
pelos seus opositores. O sistema dos jesuítas era auto-sustentável, pois eles tinham
concessão da Coroa para explorar uma grande quantidade de terras, transformadas em
fazendas, e contavam com a mão-de-obra de escravos25 e índios catequizados.
Essa responsabilidade durou até 1759, quando os jesuítas foram expulsos
do Brasil pelo Marquês de Pombal. O modelo adotado pela Companhia de Jesus
garantia a afirmação do papel da igreja e colaborando para a manutenção de uma
sociedade escravocrata. A Coroa, no entanto, precisava, naquele momento, de uma
educação ainda mais voltada aos interesses do Estado, não sendo mais de interesse a
continuidade do trabalho monopolista dos jesuítas (SAVIANI, 2005).
22 Os jesuítas passaram a ser o principal canal de comunicação entre os índios e os colonizadores, como também facilitaram a
imposição do pensamento da Coroa.
23 Nesse momento, a população brasileira era formada basicamente por índios e com uma pequena participação de negros e
portugueses
24 Embora tenha sido amplamente predominante, a educação escolar no Brasil Colonial não foi exclusividade dos jesuítas. Os
Carmelitas, Beneditinos, Franciscanos e Capuchinhos também tinham escolas em seus conventos.
25 As mulheres, os escravos e seus filhos não tinham acesso à educação
32
Relatando essa perspectiva de como a educação se desenvolvia, nesse
período histórico, Saviani (2005), tece o seguinte comentário:
A partir de 1759 começam a ser implantadas as “reformas pombalinas da instrução pública” que se contrapõem ao predomínio das idéias religiosas e, com base nas idéias laicas inspiradas no Iluminismo, instituem o privilégio do Estado em matéria de instrução. Temos, então, a influência da pedagogia do humanismo racionalista, embora se deva reconhecer que o Estado português era, ainda, regido pelo estatuto do padroado, vinculando-se estreitamente à Igreja Católica. Nessas circunstâncias, a substituição da orientação jesuítica se deu não exatamente por idéias laicas formuladas por pensadores formados fora do clima religioso, mas mediante uma nova orientação, igualmente católica, formulada por padres de outras ordens religiosas [...].
Após a expulsão da Companhia de Jesus26, criou-se um vácuo na educação,
não houve continuidade nos serviços, muito pouco restou do trabalho realizado pelos
jesuítas, a Colônia não estava preparada, ou não tinha interesse como acreditam
muitos, em instruir a população27. Colabora com essa opinião, a proibição por parte de
Portugal de se fundar uma Universidade no Brasil, enquanto já existiam diversas
Universidades na América Espanhola.
Os professores, recém incumbidos da obrigação de dar continuidade ao
trabalho dos jesuítas, eram geralmente despreparados para a função, já que eram
improvisados e mal pagos. Eram nomeados por indicação ou sob concordância de
bispos e se tornavam vitalícios, e embora tivesse sido instituído um subsídio28 para
custear seu pagamento, a cobrança desse imposto era negligenciada, não havendo
nenhuma garantia ou periodicidade de pagamento. O professor passaria a ser um
26 As Reformas Pombalinas, entre outros aspectos, explicitaria que Portugal queria que a educação servisse ao interesse do
Estado e não da Religião
27 Muitos pesquisadores consideram que embora educar a Colônia não fosse prioridade, a maior parte dos problemas são
resultantes da própria incapacidade da metrópole, que não tinha um sistema educacional de qualidade. 28 O Subsídio Literário foi criado pelo Marquês de Pombal em 1772 para manutenção da educação, e ficou em vigor até 1816
(Almeida, 1989)
33
membro da sociedade preparado e “interessado”29 em exercer essa função, não mais
um jesuíta.
Para Monlevade (2000), isso representaria uma ruptura com o antigo
modelo, à medida que:
A expulsão dos jesuítas foi o choque necessário para se constituírem dois tipos de professores assalariados: o das Aulas Régias, pago por tributos públicos, chamados de “subsídio literário”, cobrado pelas Câmaras Municipais do abate de animais nos açougues, da produção de vinho e da destilação de cachaça; e o das escolas particulares que então proliferaram, pagos pela prodigalidade de fazendeiros ou comerciantes e pela novidade da época, a mensalidade dos alunos. Neste momento entra um elemento novo na discussão da educação: a valorização do professor medida não mais pelo seu saber, autoridade ou pertenência a uma Ordem Religiosa, mas pelo valor de seu salário, não por acaso denominado então de “honorário”.
Para a questão educacional a situação ficou cada vez pior, representando
um verdadeiro retrocesso, que começaria a ser atenuado com a chegada da Família
Real em 1808. Naquele momento, grande parte do mundo já tinha um olhar diferente
para a educação. Nessa fase, alguns sistemas públicos de educação básica estavam
sendo montados e já existiam muitas universidades nas Américas (Argentina, Equador,
Chile, México, Peru e Venezuela).
O Brasil, porém, continuava sem Universidades e ainda não tinha nenhuma
estrutura para o ensino básico e nenhuma demonstração de interesse em implantá-la,
as escolas existentes eram isoladas e sem nenhuma conexão, instaladas de acordo
com as especificidades de cada localidade.
O desembarque da Família Real, fugitiva das Guerras Napoleônicas, em uma
Colônia escravocrata e fornecedora de matérias-primas, provocou diversas alterações
econômicas, políticas, administrativas, jurídicas e culturais. A transferência da
29 Nesse “interesse” perpassa a noção de motivação para com o trabalho desenvolvido.
34
burocracia portuguesa demandou muitos serviços até então inexistentes. Foram
fundadas escolas de nível superior com perfil profissionalizante, para preparação de
pessoal para o atendimento dessa nova necessidade, até mesmo uma biblioteca foi
fundada, mas, quanto à educação básica e disponível à população, a situação de
inércia foi mantida.
Em 1824, com o Brasil independente foi promulgada a primeira constituição,
cujo texto continha a indicação de que: “a instrução primária é gratuita para todos os
cidadãos". Isso, de fato, representou, na época, um grande avanço, embora não se
fizesse nenhuma referência à forma de implantação e manutenção das escolas. Em
1827, um Decreto Imperial afirmou o dever de existir educação primária em cada cidade
ou vila com tal necessidade, mas sem nenhuma referência aos meios a serem
utilizados.
Ainda mais inibidora, era a falta de consciência e preparação da população
que poderia ser beneficiada pela educação, para reivindicá-la. Mas o grande marco
regulatório dessa época foi um Ato Adicional em 1834, que transferiu a
responsabilidade sobre a educação básica, da Administração Nacional30 para as
províncias, situação semelhante à vigente até hoje31.
Marcílio (2005) destaca, com propriedade, a relevância desse Ato e sua
relação com as questões educacionais, dizendo que:
As condições econômicas, sociais e culturais de então não permitiriam o estabelecimento e concretização de uma política nacional de educação. Esta ficaria fragmentária e sem uniformidade em cada província e ao sabor volitivo de cada presidente que se sucedia, a maioria dos quais se acreditava na
30 O Poder Central ficava responsável pelo Ensino Superior
31 Atualmente a responsabilidade da educação básica pública é dividida entre Estados e Municípios, com o Ensino Fundamental compartilhado entre as duas partes, a Educação Infantil sendo responsabilidade dos Municípios, e o Ensino Médio sendo
responsabilidade dos Estados.
35
obrigação de efetuar a sua reforma de ensino regional. Estabeleceu-se assim o caos nesse setor. Do Ato Adicional, até os anos de 1930, venceu a política da descentralização, ficando os governos regionais das províncias com as responsabilidades das questões educacionais, no tocante ao ensino primário e secundário.
A história revela que a educação no Brasil, durante a fase política do império,
foi amplamente voltada às elites, discriminatória, sem atenção às classes populares. O
Estado, clientelista, não adotou medidas que melhorassem a educação tanto de forma
quantitativa quanto qualitativa. A profissão professor não era bem remunerada e nem
bem avaliada pela população. A partir de 1842 os jesuítas voltaram a lecionar no Brasil,
oferecendo ensino privado em vários estados e os negros continuaram sem ter direito
de acesso às escolas. Poucos alunos chegavam ao secundário e à universidade, um
privilégio apenas para a elite. A educação privada cresceu ao ritmo da capacidade de
pagamento da sociedade.
O relato de Almeida (1989) reflete claramente a percepção das elites,
naquele período histórico, mediante a seguinte afirmação:
As crianças das classes razoavelmente abonadas não vão à escola pública porque seus pais têm, mais ou menos, o preconceito de cor ou porque temem, e com razão, pela moralidade de seus filhos, em contato com esta multidão de garotos, cujos pais os enviam à escola apenas para se verem longe deles algumas horas. Deste modo, estas crianças aprendem melhor e mais depressa do que aqueles que freqüentam a escola pública.
No final do Império, destaca-se a inexistência de um órgão central formulador
das políticas públicas de educação, que seria essencial considerando a organização
político-administrativa do país. Essa ausência contribuiu bastante para o fraco
desenvolvimento da educação popular, que teve uma expansão irregular e lenta, sujeita
aos menores distúrbios.
36
Seguindo essa perspectiva de análise, ressalta-se outro aspecto que, ainda
hoje, tem forte repercussão sobre o desenvolvimento da educação popular, dos países
cristãos do ocidente o Brasil teve a marca negativa de ser o último a abolir a
escravidão. Quando isso aconteceu, não foi dada aos libertos a oportunidade de acesso
à educação entre outros direitos.
Com a proclamação da República, em 1889, pouca coisa mudou, exceto pela
criação de um grande número de escolas para a formação de profissionais liberais, e
algumas regulamentações como o Decreto 510, de 1890, que diz em seu artigo 62, item
5o, que "o ensino será leigo e livre em todos os graus e gratuito no primário".
A partir de 1930, com o Governo de Getúlio Vargas, o país passou a ter
alguns avanços na área educacional. Foi criado, em ambiente de muita centralização
política, o Ministério da Educação e Saúde Pública, que, até então, era de
responsabilidade do Ministério da Justiça e Negócios Interiores32. Existia um clima
mundial propício à priorização da educação, com o aparecimento de diversos
pesquisadores sobre o assunto. Foi divulgado o Manifesto dos Pioneiros da Nova
Educação33, seria o primeiro momento na história do Brasil em que a educação foi
tratada com real importância.
No período citado, ocorreram grandes e diferentes reformas do ensino nos
estados, foram criadas as primeiras universidades brasileiras e realizadas várias 32 A responsabilidade pela educação no Poder Central passou por várias entidades. “A Secretaria de Estado dos Negócios da
Instrução Pública, criada em 1890, teve poucos meses de vida, sendo que o ensino público ficou por conta do Ministério da Justiça
e Negócios Interiores (MJNI), por toda a Primeira República, excetuando-se o ensino profissional, que, a partir de 1906, incorporou-
se ao Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio, criado naquele ano.” (BORGES, 1998). Posteriormente, a educação foi de
responsabilidade em outro momento do Ministério da Instrução Pública, Correios e Telégrafos
33 Publicado em 1932, foi o marco inaugural do projeto de renovação educacional do país, consolidava a visão de um segmento da
elite intelectual, explicitando os pontos centrais de uma ampla reforma da educação nacional e influiu poderosamente em toda a
orientação posterior Foi redigido por Fernando de Azevedo e assinado por 26 intelectuais (destacamos Anísio Teixeira, Afrânio
Peixoto, Lourenço Filho, Roquette Pinto, Delgado de Carvalho, Hermes Lima e Cecília Meireles).
37
alterações em todos os níveis de ensino. A Constituição de 1934 estabeleceu pela
primeira vez a educação como direito de todos, devendo ser ministrada pela família e
pelos Poderes Públicos. Para Schwartzman (2000), esse período também pode ser
descrito considerando o contexto sócio-político do Estado Novo, com base no seguinte
aspecto:
[...] para Vargas e seus Ministros, voltados todos para a preservação e fortalecimento do poder e da autoridade do governo central. Ao invés de um sistema educacional aberto, descentralizado e plural, evoluímos para um sistema cada vez mais uniforme, centralizado, rígido e pouco criativo. É certo que o governo federal nunca chegou a assumir a administração direta da educação básica, que ficou sempre nas mãos dos Estados. Mas o governo federal manteve sempre a pretensão de cuidar dos conteúdos do que era ensinado em todo o país, e os Estados, na mesma tradição centralista, criaram enormes burocracias públicas para administrar suas escolas, impedindo que os ideais de uma escola realmente comunitária, vinculada ao mundo da vida e do trabalho das crianças dos jovens, pudesse vicejar.
Após a Segunda Guerra Mundial34, surgiu, no mundo inteiro, uma reação
popular e principalmente, uma política de manutenção e expansão da ordem mundial
então vigente35, objetivando o fortalecimento da escola pública, de caráter universal e
gratuita, que em muito contribuiu para ampliação do debate na esfera governamental e
resultou na promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional em 1961.
A esse respeito Gadotti (1994) relatou o seguinte:
34 O problema da qualidade na educação é uma preocupação mundial que foi progressivamente se tornando central no debate
educacional a partir da década de 1940, quando tem início, inclusive no Brasil, um processo significativo de expansão das
oportunidades de escolarização da população (HOBSBAWN, 1995)
35 Do mesmo modo que o período imediato do pós-guerra havia sido marcado por preocupações de pacificação das relações
internacionais em democracias ocidentais traumatizadas e atentas em neutralizar os riscos dos nacionalismos, o fim dos anos de
1950 é marcado pelo crescimento de um interesse na assistência tecnológica e no investimento econômico em educação nos
países em desenvolvimento, principalmente sob a impulsão dos economistas. Essas perspectivas se beneficiaram do apoio aos
países em vias de desenvolvimento por infra-estruturas internacionais, como o Banco Mundial ou a UNESCO, e mais tarde a
OCDE, para os países europeus, que têm usado, desde os anos de 1960, pesquisas de campo quantitativas sistemáticas como
instrumentos de pilotagem das políticas e das reformas educativas. (Mallet, 2004)
38
Com o fim do "Estado Novo", ressurge a luta pelo ensino público e gratuito, uma luta que durou quinze anos e que acabou num acordo entre privatistas e defensores do ensino público. Esse acordo foi consagrado na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) de 1961. Mesmo assim, a LDB representou um avanço que a política educacional do regime militar (1964-1985) não permitiu que fosse muito longe. A ditadura consagrou a política de privatização do ensino, em particular do ensino superior. Em 1963, 20% apenas do ensino superior era pago. Nos últimos anos do regime militar (1980-1985), essa média ultrapassava os 80%.
Nesse período histórico, a educação básica pública ainda era exercida
basicamente pelos Estados; as escolas municipais ainda eram escassas, servindo
como uma forma de complementação. Nos anos 50, o crescimento vegetativo e a
migração para os grandes centros urbanos pressionaram os Governos Estaduais para
que disponibilizassem vagas no ensino público. Os municípios passaram a ofertar
educação infantil e continuaram suplementando o ensino fundamental.
Com o golpe militar e a ditadura em 1964, o debate popular perdeu a força,
mas algumas ações foram executadas36, com destaque à ampliação do sistema de
ensino, à criação de agência de fomento à pesquisa e à pós-graduação. O ensino
obrigatório passa de quatro para oito anos, conforme tendência mundial.
Em 1988, foi promulgada a nova Constituição Brasileira, após movimento de
redemocratização. A nova Carta Magna lança um novo horizonte, em que as
responsabilidades do Poder Público para com a educação são ampliadas, surgindo um
novo movimento transformador, ainda em andamento.
Em 1990, a Organização das Nações Unidas, por intermédio de seus
organismos37 e com a ajuda de diversos países e outras agências, organizou na cidade
36 Algumas leis fundamentais promulgadas, como a 5.540/68 e a 5.692/71, que introduzem mudanças importantes nos diferentes
níveis de ensino e que continuam em vigor até hoje.
37 Os organismos da ONU são: A Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), o Fundo das
Nações Unidas para a Infância (UNICEF), o Banco Mundial e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).
39
de Jomtien na Tailândia, a Conferência Mundial sobre Educação para Todos, onde
foram elaborados a Declaração Mundial sobre Educação para Todos: Satisfação das
Necessidades Básicas de Aprendizagem38 e o Plano de Ação para a Satisfação das
Necessidades Básicas de Aprendizagem, assumidos como compromissos39 e metas
pelos participantes e que serviram como referência para as políticas educacionais de
diversos países de todo o planeta, inclusive para as novas ações implantadas no
Brasil40.
1.2 ANTECEDENTES HISTÓRICOS NO CONTEXTO DA PARAÍBA
Na Paraíba, então denominada Parahyba do Norte, a situação da educação
na Colônia foi profundamente reproduzida, com o agravante de estar localizada distante
do centro de comando da Colônia, do Império e finalmente da República; e pela difícil
situação financeira que remonta desde aquele período. Os modelos eram seguidos,
salvo quando contrariavam interesses locais, prática corrente e explicada pela formação
da elite, existindo pouca agregação de valor pelos poderes locais, que praticamente
tinham um comportamento uniformizado.
38 Foram realizadas outras conferências sobre educação, de âmbito internacional na China (1993), Índia (1993), Jordânia (1996) e
Paquistão (1997) e Senegal (2000).
39 Principais compromissos: satisfazer as necessidades básicas de aprendizagem de cada pessoa - criança, jovem ou adulto,
enriquecendo os valores culturais morais comuns, universalizando o acesso à educação, promovendo a eqüidade, concentrando
atenção na aprendizagem, ampliando os meios e o raio de ação da educação básica, propiciando um ambiente adequado à
aprendizagem e fortalecendo alianças. (UNESCO, 1998) 40 No Brasil foi realizada uma conferência de âmbito nacional em 1994, com destaque aos compromissos firmados entre o MEC,
União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação - UNDIME, Conselho Nacional de Secretários de Educação – CONSED e
Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação - CNTE.
40
Cabe aqui situar uma outra questão importante a esse respeito: maior que a
necessidade que as escolas tinham de professores e funcionários, era a necessidade
de emprego requerida pela pobre população. A influência oligárquica e o coronelismo,
que compactuavam com a abertura e fechamento de escolas, contratação e demissão
de professores de acordo com a vontade própria, colaboravam para o atraso ou adoção
no Estado das políticas definidas pelo Poder Central. Essa herança, definida por Faoro
(2001), como aparelhamento político41, se enraizou na cultura do País42, prejudicando
não só a educação, mas todo o serviço público, sendo mais tarde, acrescida de um
novo e potencial componente, o corporativismo, que se configurou na busca da
melhoria da classe ao invés de avanços no processo.
Aprofundando essa argumentação Faoro (2001), faz a seguinte colocação:
Uma camada social, comunitária embora nem sempre articulada, amorfa muitas vezes – impera, rege e governa, em nome próprio, num círculo impermeável de comando. Esta camada muda e se renova, mas não representa a nação, senão que, forçada pela lei do tempo, substitui moços por velhos, aptos por inaptos, num processo que cunha e nobilita os recém-vindos, imprimindo-lhes os seus valores.
Faz-se oportuno enfatizar que, nessa fase histórica, a Paraíba tinha no setor
agropecuário sua base econômica e política. Além disso, cumpre observar que, a elite
hegemônica fomentava a educação conforme seus interesses, priorizando ações no
campo e poucos avanços que pudessem atender a demanda própria e os serviços mais
necessários.
41 Para maior esclarecimento, ver “Os Donos do Poder: formação do patronato político”, onde Raymundo Faoro detalha
antecedentes importantes para o entendimento da política no Brasil. 42 O aparelhamento não seria uma particularidade brasileira, Max Weber em Economia e Sociedade, descreve que a oportunidade
de escolha dos ocupantes dos cargos públicos sempre foi um dos principais motivadores dos postulantes ao poder na sociedades
ocidentais.
41
A predominância agrária causava grandes problemas, principalmente, nos
períodos de estiagem, quando todos os esforços eram voltados ao combate à seca e
suas conseqüências, gerando um retardo, na, já lenta, expansão da educação. Embora,
mesmo reconhecendo toda a problemática do flagelo da seca, concorda-se com a
opinião de Pinheiro (2001) ao tecer o seguinte comentário: “no caso específico da
Paraíba, foram os condicionantes políticos, muito mais que os econômicos, que mais
influenciaram o processo de organização da instrução pública”.
Ainda referenciando a obra de Pinheiro (2001), a qual pode ser destacada
como uma profunda transcrição da história educacional paraibana, percebe-se a
constante presença de debates sobre os seguintes aspectos: a questão salarial, a
qualidade da educação, a ausência de critérios para definição da oferta de ensino.
Veja-se a transcrição de um pequeno trecho das ponderações sobre essas
questões feitas pelo autor supracitado, com a visão crítica que lhe é inerente
argumentar:
A identificação de algumas peculiaridades da problemática instrucional na Paraíba e a subseqüente visão de conjunto que dela passamos a ter nos revelaram sua falta de organicidade. Além da já mencionada oscilação da oferta de cadeiras isoladas mantidas pelo poder estatal, faziam parte da citada problemática: falta de uniformidade no ensino primário; impossibilidade de cumprimento dos “programas” de ensino, por parte dos professores, que só passaram a receber formação consoante às exigências instrucionais, sugeridas pelos dirigentes da instrução pública após 1887, ano da conclusão de curso da primeira turma da Escola Normal (PINHEIRO, 2001).
Poucas vezes, foram introduzidos diferenciais da política educacional da
Paraíba, que a destacassem dos outros Estados; ainda mais se a comparar-se com
Estados vizinhos do Nordeste, situação que seria ainda refletida com maior intensidade
no futuro, pois embora os Estados tivessem a incumbência da educação básica, na
42
visão do autor desse estudo, esse seria um erro crucial43, haja vista que, o controle dos
recursos era predominantemente do Governo Federal, situação que se repete até hoje.
1.3 VALORIZAÇÃO DO MAGISTÉRIO
Como já citado na introdução deste trabalho, analisando a bibliografia
consultada e a legislação pertinente, um tema sempre presente, quando está em
debate a qualidade de ensino, é o papel do magistério. Pode-se afirmar que tal
relevância é reforçada pelo reconhecimento da sua performance como ator do processo
da ação pedagógica e pelo elevado percentual, pelo menos 60%44, de participação nos
gastos efetuados com educação no ensino fundamental. Não sendo, assim,
compreensível que ocorra qualquer mudança significativa da educação sem a
realização de atividades focadas nos docentes, que são a ligação entre o cliente
principal dos sistemas educacionais, o aluno, e os próprios sistemas.
O magistério da rede pública estadual de ensino básico é remunerado pelo
Estado45 com base na arrecadação própria46; de maneira que as condições econômicas
de cada unidade da federação impactam diretamente na capacidade de pagamento do
salário dos professores. O Governo Federal, por seu turno, tenta diminuir ou equalizar
43 A descentralização da execução da educação básica para as províncias, que não tinham arrecadação suficiente e eram menos
receptivas às medidas que provocassem mudanças de status serviu para inibir a expansão educacional no século XIX, nos países
que tiveram grande evolução no mesmo período, o Governo Central conduzia o processo
44 O art. 7º da lei do FUNDEF determina que pelo menos 60% dos recursos sejam gastos com remuneração dos professores em
efetivo exercício de sua atividade.
45 Desde 1834....
46 Mesmo com o FUNDEF isso continua......
43
as distorções sócio-econômicas através da criação de Fundos Constitucionais47 para o
ensino. Embora tenha obtido algum sucesso, ainda prevalecem algumas disparidades,
principalmente nos estados menos desenvolvidos, com menor arrecadação, os recursos
ainda são insuficientes.
Tal situação se agrava em regiões onde existem muitos municípios que não
possuem arrecadação própria, onde a arrecadação estadual é compartilhada pelos
Fundos para custear a educação ofertada pelas redes municipais. No caso da Paraíba,
objeto de estudo desse trabalho, para o FUNDEF48, vigente até o ano de 2006, o
Governo do Estado contribuiu em 2006 com montante de R$ 414.578.712,1249, e
recebeu na distribuição por aluno no mesmo período a quantia de R$ 240.272.234,30,
tendo um déficit de R$ 174.306.477,82, que foi repassado para os municípios não
houve, no mesmo, nenhum aporte do Governo Federal50.
Embora exista a vinculação de receita para os gastos com a educação51, é
comum a utilização de artifícios para a utilização de tais recursos em outras atividades,
que não as referentes ao ensino. Pode-se especificar entre as atividades, o pagamento
47 Após a encerramento do prazo de vigência do FUNDEF, foi instituído em 20/06/2007 da Lei 11.494/2007 e previsto para ficar vigente até 2021, o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação – FUNDEB, tendo como principais diferenças a inclusão do ensino infantil, ensino médio e educação de jovens e adultos.
48 O FUNDEF era composto, na quase totalidade, por recursos dos próprios Estados, Distrito Federal e Municípios, sendo
constituído de 15% do: Fundo de Participação dos Estados – FPE; Fundo de Participação dos Municípios – FPM; Imposto sobre
Circulação de Mercadorias e Serviços – ICMS (incluindo os recursos relativos à desoneração de exportações, de que trata a Lei
Complementar nº 87/96); Imposto sobre Produtos Industrializados, proporcional às exportações – IPIexp. Além desses recursos,
entra na composição do FUNDEF, a título de complementação, uma parcela de recursos federais, com o objetivo de assegurar um
valor mínimo por aluno/ano aos Governos Estadual e Municipais no âmbito do Estado onde este valor per capita não for alcançado.
49 Fonte: Secretaria da Receita Estadual da Paraíba
50 O Governo Federal define o valor do custo-aluno que será utilizado na distribuição dos recursos do Fundo com base na
matrícula do censo escolar do ano anterior. A correção dos valores tem sido feito abaixo do que determina a Lei, fazendo com que o
aporte da UNIÃO seja mínimo e apenas para poucos estados.
51 No FUNDEF os recursos são para custear o Ensino Fundamental, com o FUNDEB, válido a partir de 2007, os valores servirão
para financiar o Ensino Infantil, a Educação Fundamental e o Ensino Médio
44
dos inativos da educação e outras medidas que colaboram para o aumento das
divergências nas discussões quanto à suficiência das fontes de financiamento para
cobertura dos salários dos professores.
A realidade atual, vivenciada pelo magistério, para ser compreendida,
demanda uma breve análise sobre aspectos demográficos no país. O crescimento
populacional no país foi bastante elevado a partir de 1950, com um fluxo migratório da
zona rural para as cidades e grandes centros. Esse fenômeno populacional provocou
uma busca desenfreada por escolas, o conseqüente crescimento desordenado e um
elevado déficit educacional.
Resultados de pesquisas apresentadas pelos órgãos de defesa dessa
categorial profissional mostram ainda, que os salários dos professores da rede pública
perderam valor, nesse período, em todo o país, atingindo com maior impacto os
professores do ensino médio, pois os de ensino fundamental sempre foram baixos. Na
zona rural, as conseqüências foram ainda piores, muitos professores não recebiam ao
menos, um salário mínimo.
Tal movimentação foi entendida, por muitos pesquisadores, como uma
desvalorização salarial que caminhava próxima à desvalorização profissional. Com
menores salários, os docentes passaram a ter uma jornada maior de trabalho para
terem uma melhor condição de vida, passando maior parte da atividade docente dentro
da sala de aula. Os resultados foram por parte dos professores, elencados da seguinte
maneira: uma situação de desgaste físico, falta de estudos, ausência de socialização e
perda de foco no ensino, que deveria ser sua obrigação principal.
Assim, a qualidade de ensino perdeu prioridade. O crescimento quantitativo
foi priorizado, a clientela da escola pública, a população de menor renda e menos
45
instruída, se contentava com a presença em sala de aula, e a quantidade de vagas que
surgiram para novos professores flexibilizava a forma de acesso, dispensava exigências
qualitativas dos candidatos, que nem sempre, podemos dizer na maioria dos casos, não
tinham formação.
Embora esse processo tenha levado um grande contingente à sala de aula,
ele também influenciou, decisivamente, para a má qualidade do ensino, na atualidade,
como verifica-se na argumentação desenvolvida por Oliveira e Araújo (2004), ao
enfatizarem que:
Com uma política pouco direcionada de expansão da escolarização mediante a construção de escolas, o Brasil, apesar do aumento expressivo do número de matrículas na etapa obrigatória de escolarização, chegou ao final da década de 1980 com uma taxa expressiva de repetência: de cada 100 crianças que ingressavam na 1a série, 48 eram reprovadas e duas evadiam (BRASIL, Ministério da Educação, 1998), o que evidenciava a baixa qualidade da educação oferecida à população brasileira.
Atualmente, a remuneração dos docentes ainda é considerada como sendo
baixa52, se comparada a outros ofícios com o mesmo nível de formação. A maior parte
dos professores da educação fundamental é graduada, e analisando os dados
divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE referentes à
52 Estudo realizado para o Banco Mundial, analisa os salários dos professores de 12 países latino-americanos com o objetivo de
esclarecer como são estes salários em relação aos de outras atividades do mercado de trabalho, e em que medida a estrutura
salarial docente diverge das que correspondem às demais atividades. Uma simples comparação entre os salários anuais dos
professores e os de outros setores de atividades com características similares (por exemplo, o tempo despendido em sua
graduação), indica que as rendas dos docentes são significativamente menores. As diferenças oscilam entre 5%, na Colômbia, e
37%, no Equador. Esta comparação revela, por si só, a comparação do nível de vida dos professores com o de outras profissões e
empregos. Apesar disto, quando o autor compara o valor da hora trabalhada sem levar em conta as férias, descobre que em dez
dos países considerados os professores ganham tanto quanto outros trabalhadores – e ganham mais em sete deles. Unicamente
no Brasil e no Equador o valor/hora se mantém abaixo do de outras atividades (MORDUCHOWICZ, 2003)
46
PNAD/2005, a renda mensal média dos docentes da educação básica está na faixa
entre R$ 1.050,00 e 1.450,00, inferior à média de outras categorias53.
As polêmicas em torno das questões salariais, interferem na satisfação ou
insatisfação dos docentes, pois o salário é um dos insumos que garante o atendimento
dos anseios pessoais naturais de qualidade e padrão de vida, e ainda mais, a atração e
retenção de “cérebros”, profissionais preparados para a docência.
A necessidade de valorização do magistério, é, portanto, exigência de um
período, marcado pela relevância que a sociedade, e, especificamente, a comunidade
especializada, discutem a valorização do magistério, embasados na legislação que
requer a existência de aferição de desempenho para melhoria da situação salarial do
professor54, que se configura numa nova percepção do papel exercido pelo docente,
tema abordado por especialistas no assunto e testemunhado por Campos (2007), com
a seguinte argumentação:
Neste novo contexto – no qual todos os países se empenham na universalização do acesso à educação básica, e a escola é chamada a cumprir papéis que antes eram desempenhados pela família e Igreja – aumentam as demandas da sociedade sobre os sistemas educacionais, os quais, por sua vez, as transferem para as escolas e para os docentes. As expectativas e cobranças em relação à competência profissional e ao desempenho dos docentes crescem na mesma proporção.
O salário, combustível da força de trabalho no capitalismo, não é um fator
motivador, como tratado detalhadamente mais adiante, mas, interfere diretamente na
satisfação ou insatisfação dos professores. A categoria cresceu em número em um
53 Analista de sistemas (R$ 3.700,00), engenheiros civis (R$ 4.037,00) e contadores (R$ 3.104,00) 54 Lei 9.394/96, artigo 67, inciso IV.
47
período de instabilidade econômica, que culminou com uma forte predominância da
cultura inflacionária.
A retração salarial não seria resposta, na forma esperada pelos professores
para a sua remuneração que deveria manter-se em um patamar capaz de conferir-lhe
condição de atender as suas necessidades básicas de trabalhador assalariado. O
magistério tem representações em todos os estados e negocia sua política salarial, de
forma diferente, em cada um deles.
Os diferenciais inerentes ao magistério são: a possibilidade de acúmulo de
cargo no setor público55, o tempo menor necessário à aposentadoria56 (cinco anos a
menos que as demais categorias), mas o pagamento de vantagens aos que estão em
sala de aula, faz com que muitos não se aposentem, quando têm possibilidade, para
não perderem renda.
O Plano de Desenvolvimento da Educação - PDE, lançado em 2007 pelo
Ministério da Educação, prevê, entre outras medidas57, a adoção de um piso nacional58
para a categoria; proposta ainda não implantada, mas que gerou discussões sobre 55 Constituição Federal, artigo 37, inciso XVI.
56 Constituição Federal, artigo 201
57 O PDE tem 39 medidas para melhoria até o ano de 2021 da qualidade de ensino, sendo o principal destaque, o estabelecimento
de metas por escolas e municípios, que serão aferidas anualmente pelo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica – IDEB,
elaborado pelo INEP,
58 Foi enviado ao Congresso, um Projeto de Lei, que regulamenta o art. 60, inciso III, alínea “e”, do Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias, para instituir o piso salarial profissional nacional para os profissionais do magistério público da
educação básica. O Projeto propõe o piso nacional, têm direito a salário mensal de R$ 850,00 os profissionais do magistério com
jornada de 40 horas semanais - o professor que está na sala de aula e aqueles que desempenham atividades de administração,
planejamento, inspeção, supervisão e orientação educacional – das redes públicas estaduais e municipais. O artigo 2º do projeto de
lei prevê que a União, estados, Distrito Federal e municípios implantem o piso nacional de forma progressiva até atingir o valor
integral em 2010. Em janeiro de 2008, as redes públicas devem acrescentar ao salário dos profissionais da educação um terço da
diferença entre o valor atual (salário de 2007) e o piso de R$ 850,00; e em 2009, dois terços da diferença entre o valor atual (de
2008) e o piso. Por exemplo, um professor que tem hoje salário mensal de R$ 400,00 receberá em janeiro de 2008, R$ 550,00; em
janeiro de 2009, R$ 700,00; e em janeiro de 2010, o piso nacional. A regra explícita no projeto de lei obedece à lógica da
progressão criada para o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb), em vigor desde março, que prevê o
aumento gradual da contribuição da União, Distrito Federal, estados e municípios entre 2007 e 2010. (MEC, 2007)
48
vários aspectos, desde o valor estabelecido, R$ 950,00 para uma jornada de 40
horas59, até o papel do Governo Federal em estabelecer pisos salariais para os estados
e municípios.
Segundo estudo do Conselho Nacional de Educação – CNE existe
atualmente no Brasil, a carência de 246.00060 de professores para o ensino básico; um
dos problemas relacionados a essa carência engloba a questão salarial, pois a
remuneração não é atrativa, em face das exigências inerentes ao exercício dessa
profissão.
A questão salarial é fundamental em todas as profissões, mas, uma visão
corporativa, tem tentado colocá-la acima do objetivo principal dos sistemas
educacionais, que é a oferta de uma educação de qualidade. Assim, recorreu-se ao
chavão, que, na opinião do autor desse estudo e de diversos outros pesquisadores,
erroneamente, tenta vincular a qualidade exclusivamente aos salários dos professores.
Isso implica em considerar outra perspectiva, qual seja:
A essência do ser bom professor, do ser professor valorizado, deixa de ser a tarefa específica de ensinar, que lhe deu origem. Se se quer revalorizar o professor no caos da desqualificação da educação pública, só se pode recomeçar pelo resultante políticopedagógico de seu trabalho, ou seja, pela aprendizagem significativa dos alunos (MONLEVADE, 2000)
Atente-se, ainda, para a seguinte observação: em 2007, de acordo com o
Conselho Nacional de Secretários da Educação – CONSED61, até o mês de agosto62,
59 Fonte: MEC Disponível em :
<www.mec.gov.br> acessado em 06 ago. 2007
60 Informação divulgada no relatório "Escassez de Professores no Ensino Médio: Soluções Estruturais e Emergenciais", 2007, que destaca a falta de professores das áreas de exata da 5ª a 8ª série do ensino fundamental e em todas as séries do ensino médio
61 Na elaboração desse trabalho, consultou-se a Confederação Nacional de Trabalhadores em Educação – CNTE, mas não obtive-se resposta. 62 Fonte: CONSED. Disponível em:<http://www.consed.org.br/> acessado em 07 ago. 2007
49
treze (13) estados63 da federação tinham enfrentado greves ou paralisações, existindo
referências às questões salariais, presentes em todos esses movimentos.
Isso implica em reconsiderar as questões envolvendo a variável valorização
do magistério, pois a valorização é uma variável-chave dentro da concepção de
motivação para o trabalho, haja vista que, ao sentir-se valorizado, o profissional passa a
envidar maior esforço na realização de suas atividades, aprimorando o seu fazer
cotidiano.
E, admite-se que, no campo das atividades educacionais, há carência de
profissionais motivados, empenhados a superar os desafios peculiares de sua atividade
laboral.
1.4 O MAGISTÉRIO NA PARAÍBA
A experiência do autor desse estudo na área da educação permite-lhe tecer
o seguinte comentário: historicamente, a Secretaria de Educação e Cultura do Estado
da Paraíba – SEEC/PB - enfrenta um problema bastante complexo, herança da
formação oligárquica e coronelista, o clientelismo em que se enreda: há um elevado
número de profissionais com contratos temporários e profissionais com desvio de
função, isto é, professores que não estão em sala de aula, mas que fazem parte da
estatística para o cômputo do total de trabalhadores na educação do Estado,
representando uma distorção importante a considerar para efeito de análise envolvendo
essa categoria profissional.
63 AC, AL, AP, BA, GO, MA, MG, PB, PE, RJ, RR,SP
50
Problema esse, agravado pela permissividade da legislação, que possibilita
vários caminhos para afastamento do docente do seu “habitat natural”, e que também,
permite a contratação de docentes de forma temporária ou emergencial, sem
necessidade da realização de concurso público, especificamente para essa finalidade,
gerando outra distorção importante, para efeito de análise da situação real do
magistério no estado da Paraíba.
A situação fica ainda mais difícil, com a utilização de um mecanismo,
também previsto em lei, que viabiliza o afastamento de servidores da sala de aula que é
a disponibilidade. Ser colocado em disponibilidade ou estar à disposição é uma forma
que permite ao professor, ou a qualquer outro profissional, prestar serviços em outro
órgão64.
Faz-se oportuno registrar que, o autor desse estudo pode testemunhar um
importante passo que foi efetuado, no âmbito das reivindicações dos trabalhadores da
educação no estado da Paraíba: a conquista de um plano de cargos e salários para a
categoria. O Magistério da rede pública estadual de ensino da Paraíba foi contemplado,
em 15 de outubro de 2003, com o Plano de Cargos, Carreira e Remuneração do
Magistério Público Estadual da Paraíba – PCCR, instituído pela Lei Estadual 7.419.
Com o desígnio de atingir o maior nível de satisfação de todos que compõem
a organização, o PCCR, conforme reza o artigo 4º da Lei aprovada para tal fim, teve por
finalidade: “I – Valorização dos profissionais da educação pública estadual; - II – a
melhoria do padrão de qualidade da educação pública estadual”.
64 O Governo do Estado publicou o Decreto Nº 27.968, em 04 de janeiro de 2007, regulamentando os critérios para à
disponibilidade de servidores para órgãos dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.
51
A valorização dos profissionais da educação pública ficou objetivada,
conforme art. 5º da lei citada, nos seguintes termos:
I - o ingresso na carreira pública ocorrerá exclusivamente por meio de concurso público de provas e títulos; II - aperfeiçoamento profissional continuado, inclusive com licenciamento periódico remunerado para esse fim; III - estimulo ao trabalho em sala de aula; IV – remuneração condigna dos profissionais em efetivo exercício na rede escolar estadual; V - progressão funcional baseada na titulação, na capacidade, no desempenho do trabalho docente e na aferição do conhecimento. VI - período reservado a estudos, planejamento e avaliação, incluído na jornada de trabalho; VII - condições adequadas de trabalho.
O artigo 6º, por sua vez, trata da importância da melhoria do ensino público,
estabelecendo que:
A melhoria do padrão de qualidade do ensino público estadual será buscada pela garantia dos insumos indispensáveis ao desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem, bem como pelo estabelecimento da relação adequada entre o número de alunos e o professor, a jornada de trabalho, os demais profissionais da educação e as condições materiais da unidade escolar, segundo parâmetros definidos pelo sistema estadual de ensino.
Com a implantação do PCCR, os profissionais que integram a área de
educação, aqueles que se encaixam no disposto no art. 2º da Lei supra mencionada,
passaram a ter seus cargos definidos, e conseqüentemente a remuneração inserida
numa faixa salarial de acordo com as atividades desempenhadas. A organização, por
sua vez, passou a ter uma estrutura de cargos e regras bem definidas, de modo que os
trabalhadores podem planejar sua carreira, com mais segurança.
Mesmo trazendo melhorias, a implantação do PCCR não teve, inicialmente,
uma boa receptividade por parte da categoria; embora o mesmo tenha contado
constantemente com a presença dos sindicatos em sua elaboração. Isso ocorreu
52
porque criou-se a expectativa de que o Plano proporcionasse, concretamente, aumento
salarial ao invés da regulamentação da carreira.
Outro ponto de desacordo foi a proximidade das faixas salariais, tendo sido
observado um pequeno aumento em valor absoluto, principalmente quando relacionada
à titulação. O Plano também causou divergências com parte da categoria, que
trabalhava em escolas denominadas Centro Paraibano de Ensino Solidário - CEPES65.
Tais professores tinham um diferencial salarial, percebido por muitos como excludente,
pois criava uma suposta “elite” dentro da categoria, sem que existisse nenhuma
comprovação de maior qualidade que justificasse a diferenciação. O PCCR diminuiu
essa disparidade, tornando-se alvo de protestos e não sendo aceito pela parcela
componente do Programa.
Não é exagero dizer que onde foi criado um PCCR para os servidores houve
um início de um novo olhar com relação a valores, a cultura e incentivo no
desenvolvimento do capital intelectual. Na Paraíba, na opinião do autor desse estudo, o
fato de existirem duas entidades sindicais66 representando os professores da rede
estadual, dificulta as negociações, visando melhorias na qualidade do ensino e do
trabalho dos profissionais da educação, ao mesmo tempo em que atrapalha a
representatividade da categoria.
65 O CEPES – Centros Paraibanos de Educação Solidária, foi criado pelo Decreto nº 18.181, em 26 de março de 1996, é uma ação
da SEEC-PB, caracterizada pela formação de conglomerados de unidades escolares solidárias, agrupadas por localização
geográfica, com o objetivo de promover o intercâmbio e a intercompletaridade de ações educativas, possuindo uma estrutura e
carga-horária diferenciadas. O corpo docente trabalha em turno extra, para acompanhamento e reforço da dos conteúdos
apresentados no horário regular, recebendo uma complementação salarial para a realização dessa atividade. Nenhum estudo comprova a melhoria da qualidade de ensino nas escolas onde o programa foi implementado.
66 Os professores da rede estadual são representados pela Associação dos Professores de Licenciatura Plena do Estado da
Paraíba– APLP e Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado da Paraíba – SINTEP/PB.
53
Ainda analisando a valorização do magistério na Paraíba, apesar de todas as
polêmicas, no último concurso público promovido pela SEEC-PB, realizado em 2005,
foram disponibilizadas 1.524 vagas em todo o Estado, a serem preenchidas; sendo que,
desse total, 371 (24,4%) não foram preenchidas, não existindo candidatos, em muitos
casos, principalmente, nas disciplinas de matemática, física e química.
Isso posto, considera-se importante para o atingimento dos objetivos desse
estudo, aprofundar a discussão sobre a motivação, no sentido de destacar os seus
pressupostos teóricos e de relacioná-la com a atuação dos profissionais da educação.
2 SOBRE A MOTIVAÇÃO
2.1 CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES
A motivação no trabalho tem sido objeto de diversos estudos e teorias
comportamentais que tiveram o intuito de explicar seu funcionamento e suas
conseqüências nas relações de trabalho. Entretanto, no âmbito do magistério, e
principalmente do magistério público, ainda são poucos os trabalhos que aprofundam
essa temática.
Sabe-se que o magistério, com sua dinâmica própria e específica, é,
continuamente, submetido a um elevado número de desafios e obstáculos enfrentados
diariamente, por cada profissional que labuta nessa área. Numa escola, que é
considerada como sendo, um ambiente de transformação; essa movimentação ainda é
54
mais acentuada, em decorrência das particularidades do ambiente e, principalmente,
devido à atuação de um ator fundamental: o professor, agente dessa transformação.
Nesse contexto de referência, faz-se oportuno enfatizar, que o professor, não
estando motivado, dificilmente conseguirá assumir essa atitude de mudança, conforme
opinião de Campos (2005) e muitos outros especialistas, que se posicionam a esse
respeito com base na seguinte argumentação:
Um educador motivado, mas pouco qualificado, não tem muito raio de ação. Assim como um docente qualificado, mas, desmotivado (sobrecarregado de atividades e sem criatividade em classe). Nenhum dos dois terá um papel de protagonista, salvo nas estatísticas oficiais de cobertura educacional.
Atualmente, discute-se a valorização das pessoas dentro de cada organização,
no caso específico desse estudo, essa valorização deve ocorrer dentro de cada escola,
envolvendo todos os profissionais engajados na educação. Admitindo, que o docente, é
um agente de várias dimensões e aberto à influência de inúmeras variáveis; de forma
que as diferenças individuais refletem características próprias em suas personalidades,
aspirações, atitudes e motivações.
O magistério público, para muitos é mais que uma profissão, é uma função
considerada como uma “opção de vida”, um sacerdócio, que, de acordo com essa
visão, pressupõe e requer o estabelecimento de uma relação afetiva, bem antes da
profissional, aspecto que dificulta a aplicação e contextualização das teorias
motivacionais.
O entendimento do conteúdo das teorias motivacionais permitirá uma melhor
compreensão da forma de agir dos professores e consequentemente, a facilitação do
processo de adoção de medidas que tenham o objetivo de criar um ambiente propício
55
que possa estimular a motivação. Seguindo essa linha de raciocínio, Reeve (2006),
ilustra bem esse pensamento, ao adotar o seguinte ponto de vista:
Para explicar por que as pessoas fazem o que fazem, necessitamos de uma teoria da motivação. O objetivo de uma teoria é explicar o que dá ao comportamento a sua energia e a sua direção [...] O estudo da motivação refere-se aos processos que fornecem ao comportamento sua energia e direção.
Embora não seja uma visão unânime67, a maioria dos referenciais teóricos
separa a motivação em dois níveis: intrínseca ou extrínseca. Sendo a intrínseca,
relacionada aos aspectos internos e auto-determinantes do indivíduo; e a extrínseca, a
que trata a relação da motivação relacionada a fatores externos, um sistema de
punições e recompensas, identificado por alguns autores como um fator condicionante
e não motivador.
Bergamini (1997), por exemplo, considera a motivação como um aspecto
intrínseco, isto é, interno de cada indivíduo, não sendo possível que uma influência
externa ou interpessoal venha a interferir na motivação. Assim, qualquer recompensa,
fator externo, será esquecida em pouco tempo, retornando o indivíduo ao estado inicial.
O detalhamento apresentado, na abordagem teórica desenvolvida por Reeve
(2006), colabora com o entendimento do que se denomina de motivação intrínseca e
extrínseca, e principalmente, a possibilidade de uma abordagem com orientação
intrínseca ou extrínseca para uma mesma atividade.
Esse detalhamento considera que:
A experiência ensina que existem duas maneiras de apreciar uma atividade: de maneira intrínseca ou de maneira extrínseca. Considere atividades como tocar
67 Alguns autores classificam a motivação como sendo apenas intrínseca e outros como apenas extrínseca.
56
piano, usar um computador ou ler um livro. Por um lado, o que levou a pessoa a iniciar o estudo de piano foi que isso representou pra ela uma oportunidade de envolver e satisfazer suas necessidades psicológicas, assim como a necessidade de competência. O músico toca piano para se divertir, para se exercitar e para desenvolver habilidades que ele preza, além de também se sentir livre e autodeterminado. Por outro lado, o mesmo comportamento de tocar piano pode ser apreciado porque é uma oportunidade de o pianista ganhar dinheiro, receber prêmios e troféus, impressionar outras pessoas e conseguir uma bolsa de estudos em uma universidade (REEVE, 2006).
Embora se saiba que, nenhuma teoria consegue abranger todos os aspectos
da motivação humana, apresenta-se, nesse Capítulo, as principais teorias
motivacionais, que fundamentaram diversos estudos em todo o planeta na segunda
parte do século XX. Entende-se que, nenhuma teoria é soberana ou anula os
fundamentos das outras, servindo sim, como complementares, respeitando as
disparidades entre a natureza de cada homem, segmento e ambiente.
Na perspectiva desse estudo, é de fundamental importância, o entendimento
dessas diferenças e a compreensão que a motivação não pode ser estudada de forma
isolada, mas sim, analisada juntamente com sua interatividade com o contexto social,
pois é nesse contexto que os profissionais da educação atuam.
Neste estudo, utilizou-se como referenciais teóricos, os trabalhos de Maslow,
Herzberg, McGregor, McClelland, Adams, Vroom, e ainda, uma abordagem sobre a
corrente que atribui à remuneração uma participação fundamental e essencial no
processo motivacional.
É comum visualizar-se a aplicação das diversas abordagens em várias
tentativas de se estabelecer uma relação direta e linear entre o comportamento humano
e a motivação. Mas, mesmo com o avanço das pesquisas e suas contextualizações
com as teorias administrativas, encontra-se, em larga escala, a abordagem no sentido
de instrumentalizar as teorias motivacionais, transformando-as numa ferramenta
57
gerencial utilizada para o alcance de objetivos organizacionais pré-determinados;
arriscando-se a adotar os conceitos numa perspectiva mais pontual e específica,
ignorando todo o ambiente sócio-cultural impactante no processo.
Analisa-se também, a motivação, como sendo relacionada intimamente com
os desejos e carências apresentadas, em determinada situação. Existindo para cada
necessidade pelo menos um único fator motivador. Considerando ainda, que antes da
análise de qualquer fator motivacional, é preciso estar claro, o determinante da busca
da função pelo indivíduo, cujo entendimento facilitará a análise do comportamento do
mesmo, tanto na forma individual quanto na coletiva.
Tais ponderações colaboram para identificar o grau de priorização e atenção
dispensada à tarefa. Compreendendo que a origem do “interesse” do professor pela
sua profissão influencia aspectos importantes do seu comportamento, de sua motivação
e assim, do o aprendizado de seus alunos. Conforme descrição de Esteve (2005) isso
ocorre porque “[...] também tem um papel a mentalidade do professor e sua motivação
para ensinar. Há professores que odeiam as crianças e trabalham no ensino porque
não foram capazes de encontrar nada melhor”.
Essa, entretanto, não deve ser a regra predominante, pois há outros
profissionais que realizam seu trabalho com boas expectativas, acreditando que
poderão ocorrer novas mudanças no quadro político e que a educação encontrará
canais mais adequados ao seu desenvolvimento.
Nesse caso, a referência aos profissionais com boas expectativas a cerca da
educação, engloba aqueles que acreditam que com o seu trabalho podem deixar uma
contribuição importante para melhorar a qualidade do ensino. Em outras palavras: são
58
profissionais que acreditam que o seu trabalho é capaz de fazer o diferencial qualitativo
na aprendizagem de seus alunos.
Sabe-se que a qualidade da educação e, portanto, da aprendizagem dos
alunos é em grande parte influenciada pela qualidade dos processos que ocorrem na
sala de aula. Grande parte dos processos que acontecem numa sala de aula depende
da motivação dos professores, do seu interesse em querer melhorar tais processos.
É importante, então, fazer uma apreciação sobre a remuneração como fator
motivacional, no sentido de mostrar os fundamentos das principais teorias
comportamentais que tratam dessa questão, e como isso pode ser relacionado com a
qualidade da educação.
2.2 TEORIA DAS NECESSIDADES
A teoria das necessidades enfatiza a idéia de existência de uma força
propulsora, partindo do princípio que a personalidade atua como um redutor de forças
básicas ou energia própria que orienta o comportamento para um ou outro caminho.
Essa teoria se configura como uma das explicações sobre o comportamento humano
que teve mais aceitação pelos psicólogos e dominou o plano da pesquisa durante
algum tempo.
Abraham Maslow (1954) foi primeiro teórico a relacionar as necessidades
humanas a uma perspectiva mais abrangente, estabelecendo uma hierarquia de
necessidades qualificando-as de primárias e secundárias, afirmando a busca de um
59
modo ou meio de satisfazer essas necessidades é que motiva o indivíduo a tomar uma
direção.
De acordo com Maslow (1954), todo comportamento é motivado, tendo as
pessoas razões para agir da maneira pelas quais o fazem, ou para se comportarem
deste ou daquele modo, objetivando certos propósitos. De forma que o comportamento
humano busca, em todo momento, a satisfações de suas necessidades.
Bergamini (1997) identifica uma sinonímia entre necessidade e motivação,
de forma que quanto maior a necessidade, maior será a motivação. Assim sendo, as
necessidades não podem ser tratadas isoladamente, uma vez que toda necessidade se
relaciona com o estado de satisfação ou insatisfação de outras necessidades.
Para Reeve (2006) as necessidades podem determinar nosso bem-estar,
haja vista a seguinte consideração:
Uma necessidade é uma condição qualquer que ocorre na pessoa e que é essencial ou necessária à sua vida, a seu crescimento e a seu bem-estar. Quando as necessidades são alimentadas e satisfeitas, nosso bem-estar é conservado e acentuado. Porém, se negligenciada ou frustrada, a necessidade não atendida irá produzir danos que desequilibram nosso bem-estar biológico ou psicológico. Portanto, os estados motivacionais fornecem o ímpeto para agirmos antes de ocorrerem danos ao nosso bem-estar psicológico e corporal.
Essas considerações mostram outra dimensão da motivação em relação à
remuneração dos profissionais da educação, ou seja, o impacto do salário depende da
forma como cada um avalia o pagamento por aquilo que fazem nas suas atividades
cotidianas, ou seja, tem a ver com o grau de satisfação de cada um, com o que faz,
com as condições existentes, com as relações interpessoais e não apenas com a
adequação ou não do recebem como remuneração.
60
2.2.1 Hierarquia das Necessidades
Conforme destacado anteriormente, entre os pesquisadores que estudaram
a motivação humana, o psicólogo americano Abraham Maslow, foi o primeiro a
relacionar as necessidades dos homens à motivação do trabalho e certamente o que
conseguiu maior projeção entre os pesquisadores desse assunto. Maslow (1954) em
seu trabalho, a Teoria da Hierarquia das Necessidades Humanas, classificou as
necessidades humanas em inferiores e superiores, estabelecendo uma gradação entre
elas e o surgimento de estímulos para satisfazê-las, se fundamentando na premissa de
que as pessoas, embora trabalhem a fim de atender suas necessidades, estas, depois
de satisfeitas, não mais provocam motivação para novos esforços.
Pode-se ainda, identificar como aspecto principal da teoria de Maslow, a
teorização que a presença de uma necessidade resulta numa inquietação, que de
acordo com a própria teoria, provocará um movimento para redução dessa carência e
conseqüente desaparecimento dessa inquietude. Essa teoria dá ênfase à natureza e
aos potenciais intrínsecos ao homem como determinantes de seu desenvolvimento
pessoal (MASLOW, 1969).
O principal pressuposto dessa teoria é o seguinte: todas as necessidades
estariam dispostas, de forma hierárquica integrada, apoiando-se umas nas outras numa
ordem de prioridade e força. Além do que todas são consideradas como passos no
sentido da auto-realização como se fosse o único valor básico para a vida, o objetivo
que todos almejam atingir.
Esse pressuposto pode ser também visualizado da seguinte maneira:
analogamente a uma escada com grandes degraus, que para atingir um nível acima, o
61
anterior precisa estar completamente resolvido. Assim, ele identificou as necessidades,
como a pirâmide que se apresenta a seguir:
Figura 1 - Pirâmide de Maslow Fonte: (MAXIMIANO, 2002)
As necessidades identificadas por Maslow (1954), agrupadas em forma
piramidal são discriminadas da seguinte forma:
Necessidades fisiológicas: localizadas na parte inferior da hierarquia, são as
mais intensas; enquanto não forem, de alguma forma, satisfeitas. São necessidades
humanas básicas para a própria subsistência (fome, ar, sede, sexo, sono, roupa e
moradia). Até que as necessidades sejam atendidas, a maioria das atividades de uma
pessoa provavelmente permanecerá nesse nível e as outras provavelmente oferecerão
pouca motivação. De acordo com a teoria, quando uma pessoa está com sede, nada
lhe interessa, exceto água.
Necessidades de segurança: essa necessidade se constitui, basicamente em
estar protegido contra privações e dos perigos físicos. A garantia de preservação e
62
manutenção do status quo. Admitindo que em uma situação de risco, não existirá outra
coisa mais necessária que a garantia da própria segurança. Necessidades de afeto:
uma vez satisfeitas as necessidades de segurança, surgem as necessidades de afeto,
que serão, as norteadoras do comportamento. Estando nesse nível, o indivíduo será
capaz de sentir falta de afeição e interação com o seu meio, a necessidade de ter uma
família, de participar de um grupo, no estabelecimento de relações.
Necessidades de estima: estabelecidas relações de afeição, uma vez
integrante de um grupo, o indivíduo procurará se sentir reconhecido e buscará
satisfazer sua necessidade de auto-estima. Os profissionais têm necessidade de serem
valorizados, sentindo-se assim úteis, confiantes, prestigiados e influentes.
Necessidades de auto-atualização: essa necessidade será predominante, após a
satisfação da necessidade de estima, quando o indivíduo precisa satisfazer seus
principais desejos, a vontade de conseguir um “algo mais”, atingindo o máximo, ou
superando suas potencialidades.
Na teoria de Maslow, a atuação das necessidades acontece em conjunto,
sendo determinante a necessidade mais elevada, considerando que as localizadas no
nível inferior já estejam satisfeitas. De forma que o comportamento seria um canal por
onde as necessidades fundamentais podem ser expressas ou satisfeitas, e qualquer
contrariedade se transforma em um obstáculo, produzindo reações no comportamento
humano.
Na opinião desse teórico, as necessidades fisiológicas, quando insatisfeitas,
não permitiriam qualquer manifestação de motivação por parte do ser humano. As
necessidades de segurança, resistência a situações que possam significar algum
perigo, segundo a teoria de Maslow, só serão disparadas após a satisfação das
63
necessidades fisiológicas. As necessidades sociais, relacionadas ao sentimento de
afeto, apenas serão desencadeadas após o completo atendimento das necessidades
fisiológicas e de segurança. As necessidades de auto-estima, após outras
necessidades de menor grau segundo a hierarquia estabelecida por Maslow, podem ser
descritas como os desejos, a necessidade de respeito. No topo da pirâmide,
encontram-se as necessidades de auto-realização, grupo que envolve processos
intrapessoais.
De acordo com os fundamentos dessa teoria, pode-se relacionar as
necessidades básicas com alguns tipos de benefícios sociais disponibilizados aos
trabalhadores e que visam suprir as necessidades fisiológicas e de segurança
essenciais à sobrevivência do indivíduo e as necessidades sociais e de estima
consideradas que podem ser relacionadas com a posição e o prestígio perante seu
meio social.
A hierarquia das necessidades é uma teoria que pode ser aplicada a análise
da motivação dos profissionais da educação, sobretudo, porque em muitas situações
esses profissionais encontram motivação para o seu trabalho nas necessidades sociais
e de estima, ou seja, é pressuposto de toda e qualquer relação educativa que o
educador está a serviço dos interesses do educando.
Assim, a perspectiva é de que os profissionais da educação passem a ser
estimados por aquilo que realizam em prol da educação, pois nenhuma prática
educativa pode se instaurar sem esse pressuposto. Faz-se oportuno destacar que a
especificidade do trabalho desses profissionais requer que se aprofunde o aporte
teórico sobre a motivação, motivo pelo qual destaca-se os fundamentos da teoria dos
dois fatores.
64
2.3 TEORIA DOS DOIS FATORES
Em 1959, Frederick Herzberg, psicólogo americano, desenvolveu um
trabalho sobre motivação que categorizava os fatores motivacionais em dois blocos, os
higiênicos ou inferiores e os motivadores ou superiores, que explicariam a satisfação
com o trabalho. Os fundamentos que alicerçam sua teoria podem ser descritos, nos
seguintes termos:
Os fatores envolvidos na produção da satisfação (e motivação) no trabalho são separados e distintos dos fatores que levam à insatisfação no trabalho. Já que é necessário considerar fatores separados, dependendo do fato de estarmos examinando a satisfação ou insatisfação no trabalho, segue-se que esses dois sentimentos não são antagônicos. O oposto de satisfação no trabalho não é insatisfação no trabalho, mas sim a ausência de satisfação; e, da mesma forma, o oposto de insatisfação no trabalho não é satisfação no trabalho, mas sim ausência de satisfação (HERZBERG, 1972).
Os fatores higiênicos são a parte extrínseca da motivação, estão
relacionados com o ambiente onde o trabalho é realizado, destacando o,
relacionamento com os superiores, segurança no emprego, benefícios sociais, salário,
supervisão, relações interpessoais no trabalho, política de organização, que são vistos
como fatores que podem gerar satisfação, mas prioritariamente servem para evitar
insatisfação. São necessários, mas sozinhos, não garantem a motivação nem aumento
de produtividade, possibilitam o bem estar, mas sua ausência causará um grande
desconforto e insatisfação.
Os fatores motivadores são os intrínsecos, relacionados ao próprio trabalho,
à busca de crescimento e satisfação dos anseios, destacando-se a realização, o
desempenho, o reconhecimento, as oportunidades, a responsabilidade, que alteram o
sentimento de não-satisfação para o de satisfação.
65
Para Herzberg (1972), a motivação é alcançada após melhoria dos fatores
superiores, propondo a valorização do trabalho como meio para a satisfação na função.
Entendendo que essa valorização pode ser configurada na diversificação das
atribuições como no aumento no grau de dificuldade das atividades desempenhadas.
Considerando que o efeito dos fatores motivacionais sobre o comportamento
humano tem um maior impacto, estabilidade e continuidade, Herzberg (1972) admite
que, através deles que a pessoa humana desenvolve sua criatividade, assume suas
responsabilidades, dado que, por esse caminho, o ser humano alcança a plenitude de
suas potencialidades.
As maiores contribuições da teoria dos dois fatores para a compreensão da
motivação para o trabalho foram: identificação da importância do crescimento
psicológico como condição necessária para a satisfação no trabalho e demonstrar que
este crescimento vem do próprio trabalho, a possibilidade de o funcionário ter maior
autonomia para realização e planejamento de seu trabalho, a valorização dos
processos de enriquecimento de cargos e uma abordagem diferenciada sobre papel da
remuneração sobre a motivação para trabalho. A remuneração seria um fator higiênico,
causando mais atitudes negativas que positivas em relação ao comportamento no
trabalho.
Em linhas gerais, verifica-se que essa teoria é favorável aos fatores
superiores, defendendo o poder limitado das punições e recompensas, que precisariam
ser focados até a sua neutralização, e a partir desse ponto, a essência da motivação
que seria o próprio trabalho, deveria ser enfatizada. Nessa perspectiva, a teoria de
Herzberg tem muitas semelhanças com a de Maslow, ou seja, os dois autores
66
afirmaram em seus trabalhos a predominância da auto-realização no processo
motivacional.
No caso dos trabalhadores em educação, por exemplo, a motivação,
segundo pode ser observado, a partir da vivência do autor desse estudo, advém muito
mais da autonomia no planejamento e realização do trabalho dos educadores que
atuam na escola pública, ou seja, as atitudes positivas, observadas em relação a esses
profissionais, decorrem da identificação desses com aquilo que fazem, isto é, existe
comprovação empírica de que a remuneração não é justa, porém a satisfação pelo
resultado do trabalho realizado é gratificante, embora financeiramente não seja tão
compensador como deveria ser.
Tal constatação, abre espaço para a indicação de que, existem
necessidades socialmente adquiridas, as quais também podem influenciar na
motivação e, portanto, no resultado do trabalho realizado também, ou seja, esse é um
dos requisitos de inflenciação no desempenho do trabalho que os profissionais da
educação desenvolvem, isto é, o resultado desse trabalho reforça os fundamentos das
necessidades de realização e de afiliação, as quais são comentadas nas páginas que
seguem.
2.4 TEORIA DAS NECESSIDADES SOCIALMENTE ADQUIRIDAS
Desenvolvida por David McClelland (1971), a teoria das necessidades
socialmente adquiridas, acrescentou aos estudos sobre motivação, a existência de três
necessidades básicas, denominadas de secundárias ou socialmente adquiridas: a
67
necessidade de poder, a necessidade de realização e a necessidade de afiliação ou
associação.
A necessidade de poder se configura no requisito de fazer os outros se
comportarem de uma maneira que não fariam naturalmente, da vontade de causar
impacto, mostrar força e capacidade de influenciar outras pessoas. Pessoas com
necessidade de poder, segundo os pressupostos dessa teoria, gostam de comandar, de
competição e status.
A necessidade de realização é um motivo distinto e que poderia
perfeitamente ser separado das outras necessidades. Representa um interesse em
fazer as coisas de uma forma melhor, ultrapassando os padrões de excelência.
Percebendo que algumas pessoas têm uma intensa necessidade de realizar algo,
enquanto outras, talvez a maior parte, não parecem preocupadas com realizações.
Na sua formulação teórica, McClelland (1971) considerou que, as pessoas
que tem a necessidade de realização como motivadora, focalizam inicialmente, o
desenvolvimento próprio e trabalho de qualidade. Necessitando logo após a realização
da tarefa, de um feedback, para mensuração imediata de sua performance.
A outra necessidade identificada por McClelland (1971), é a necessidade de
afiliação. Percebida na busca de se estabelecer bons relacionamentos e de ser
apreciado. Dando ênfase à promoção de contatos e conhecimento dos sentimentos dos
companheiros de trabalho.
Para McClelland (1971), as pessoas impelidas pelo motivo de realização
geralmente seguem um caminho médio em suas ações, preferindo um grau moderado
de risco, porque, julgam que seus esforços e capacidades provavelmente influirão no
68
resultado, estando mais preocupadas com a realização pessoal que com a recompensa
do sucesso.
A grande contribuição de McClelland (1971) foi à ênfase na relevância de
ajuste das pessoas ao trabalho. Assim, ao focar essa discussão no âmbito da
motivação dos trabalhadores em educação, compreende-se que há um reforço
importante na demonstração da capacidade desses profissionais em atuar, na
superação das carências e limitações de recursos que as escolas públicas enfrentam.
Isso, entretanto, não funciona como entrave para que o trabalho seja
realizado, mas ao contrário, serve como desafio a ser superado, como forma de
demonstração de que esse tipo de profissional se empenha no que faz, procurando
mostrar todo o seu potencial criativo, tendo em vista a realização profissional que se
materializa na melhoria da aprendizagem de seus alunos.
Na prática administrativa do processo de gestão de pessoas, não há como
dizer o que motiva mais uma pessoa do que outra, principalmente, em relação ao
campo do trabalho onde o conhecimento das necessidades humanas é fundamental
para evitar frustrações e conseguir obter soluções positivas para o alcance dos
objetivos individuais e organizacionais. Isso fica evidente quando se leva em
consideração os aspectos focados nos pressupostos da teoria “X” e teoria “Y”,
comentada mais adiante.
2.5 TEORIA “X” E “Y”
O psicólogo e professor Douglas McGregor divulgou em 1968, a Teoria “X” e
“Y”. Seu trabalho teve como enfoque principal a percepção dos gestores,
69
administradores, dirigentes em relação ao comportamento humano no ambiente de
trabalho. Ele comparou dois estilos opostos e antagônicos de administrar: de um lado,
um estilo autoritário, tradicional, mecanicista e pragmático, a teoria X, considerada
negativa.
E ainda, baseado em concepções mais modernas em relação ao
comportamento humano, a teoria Y, considerada positiva. No referido trabalho,
McGregor classifica os incentivos ou recompensas em extrínsecos, os que são ligados
ao ambiente e ao comportamento, e intrínsecos, os que são ligados à própria natureza
do trabalho, à realização pessoal e desempenho.
De acordo com McGregor, a Teoria X68 é a concepção tradicional da
administração, fundamentada em bases rígidas e inflexíveis sobre o comportamento
humano, que se propõe a fazer as pessoas trabalharem dentro de padrões previamente
definidos, visando exclusivamente à produtividade requerida pela organização, se
constituindo em simples recursos ou meios de produção, ou seja:
O ser humano em geral não gosta intrinsecamente de trabalhar, e trabalha o mínimo possível. Por essa razão a maior parte das pessoas precisa ser coagida, vigiada, orientada, ameaçada com castigos, a fim de fazer o devido esforço para alcançar os objetivos da organização. O ser humano médio prefere ser dirigido, desejando evitar responsabilidades; é pouco ambicioso, procurando segurança acima de tudo (McGREGOR, 1970).
De acordo com os fundamentos da teoria X, os funcionários não têm
responsabilidades, são sem iniciativa, fortemente resistentes às mudanças, e encaram
o trabalho como "um mal necessário", sendo preciso um sistema de controle e punição
para garantir o seu engajamento.
68 Representa o estilo definido pela Administração Científica de Taylor, pela Teoria Clássica de Fayol e pela Teoria da Burocracia de Weber
70
A Teoria Y69, por sua vez, constituiu-se numa grande evolução, uma mudança de
paradigma, que passa a considerar aspectos humanos na forma de gerenciar.
Segundo McGregor (1973), a perspectiva de autonomia, entre outros fatores, contribui
para o direcionamento e a intensidade dos esforços para os objetivos organizacionais.
Em linhas gerais, essa perspectiva engloba os seguintes elementos conceituais:
O esforço físico e mental no trabalho é tão natural como o lazer ou o descanso. Controle externo e ameaça de castigo não são os únicos meios de suscitar esforços no sentido dos objetivos organizacionais. Movido pela auto-orientação, e pelo autocontrole, o indivíduo se colocará a serviço dos objetivos que se empenhou a alcançar dentro da organização. O empenho em alcançar objetivos é função das recompensas atribuídas ao êxito da tarefa. Em condições apropriadas o ser humano, em média, aprende não só a aceitar, mas a procurar responsabilidades (McGREGOR, 1973).
Essa perspectiva se aplica entre os trabalhadores da educação, haja vista que,
os objetivos educacionais é a mola propulsora do trabalho que realizam, ou seja, para
esses profissionais, a meta sempre presente é de contribuir para elevar a aprendizagem
de seus alunos, sendo coerente com o seguinte postulado da teoria em foco:
A capacidade de exercitar, em grau relativamente elevado, a imaginação, o talento e o espírito criativo na solução de problemas organizacionais, está distribuída ampla, e não escassamente, entre as pessoas. Nas condições da vida industrial moderna, as potencialidades intelectuais do ser humano são, em média, utilizadas apenas parcialmente (McGREGOR, 1973).
A teoria Y tem uma orientação humanística e parte das premissas que o
ambiente de trabalho deve ser caracterizado pela confiança e autenticidade, que os
funcionários têm um grande potencial ocioso e uma elevada estima pelo trabalho. A
69 Influenciada pelo conceito de auto-realização de Maslow
71
base de sustentação dessa teoria é de que deve ser dada importância ao
comprometimento com os objetivos organizacionais para o exercício da gestão e
trabalho cooperativo.
Com a finalidade de esclarecer melhor essas colocações apresenta-se, no
quadro 1, uma síntese elucidativa sobre os principais fundamentos das teorias “X” e “Y”,
conforme segue:
Quadro 1. Teoria X e Y
TEORIA X TEORIA Y As pessoas são naturalmente preguiçosas; preferem não fazer nada.
As pessoas são naturalmente ativas; colocam os objetivos e gostam de se esforçar.
As pessoas trabalham principalmente por dinheiro e recompensa de status.
As pessoas buscam muitas satisfações no trabalho: orgulho pela realização; gosto pelo processo; sentimento de contribuição; prazer de associação; estimulação de novos desafios; etc.
A principal força para manter as pessoas produtivas em seu trabalho é o medo de serem rebaixadas ou despedidas.
A principal força para manter as pessoas produtivas em seu trabalho é o desejo de realizar seus objetivos pessoais e sociais.
As pessoas são apenas crianças crescidas; são naturalmente dependentes de seus líderes.
As pessoas normalmente amadurecem depois da infância; aspiram à independência, auto-realização e responsabilidade.
As pessoas esperam e dependem de diretrizes de cima; não querem pensar por si mesmas.
As pessoas próximas à situação vêem e sentem o que é necessário e são capazes de auto direção.
É preciso que se diga, mostre e treine as pessoas no s métodos adequados de trabalho.
As pessoas que compreendem e se preocupam com o que estão fazendo podem planejar e melhorar seus próprios métodos de fazer o trabalho.
As pessoas precisam de supervisores que as olhem suficientemente de perto para serem capazes de elogiar um bom trabalho e criticar erros.
As pessoas precisam sentir que são respeitadas como capazes de assumir responsabilidade e de autocorreção.
As pessoas se preocupam pouco com o que está além de seus interesses materiais, imediatos.
As pessoas buscam dar um sentido à sua vida através de identidades, igrejas, sindicatos, companhias, causas.
As pessoas precisam de instruções específicas sobre o que fazer e como fazê-lo; problemas mais amplos de política não são de sua conta.
Precisam de uma compreensão sempre maior; elas sempre precisam apreender o significado das atividades nas quais estão engajadas; elas têm uma fome cognitiva tão ampla quanto o universo.
As pessoas gostam de ser tratadas com cortesia.
As pessoas necessitam de um respeito genuíno vindo de seus companheiros.
As pessoas são naturalmente compartimentadas; as exigências do trabalho são inteiramente diferentes das do lazer.
As pessoas são naturalmente integradas; quando trabalho e jogo são muito nitidamente separados, ambos se deterioram; “A única razão que um homem sábio pode dar para preferir o lazer ao trabalho é a melhor qualidade do trabalho que ele
72
pode fazer durante o tempo de lazer As pessoas naturalmente resistem a mudanças; elas preferem permanecer nas velhas rotinas.
As pessoas naturalmente cansam-se das rotinas monótonas e gostam de novas experiências; em algum grau, todos são criativos.
O trabalho é o principal e deve ser feito; as pessoas são selecionadas treinadas e ajustadas a trabalhos predefinidos.
As pessoas são o principal e buscam auto-realização; os trabalhos devem ser planejados, modificados e ajustados às pessoas.
As pessoas são formadas pela hereditariedade, infância e juventude; como adultos elas permanecem estáticas; cachorro velho não aprende truques novos
As pessoas crescem continuamente; nunca é muito tarde para aprender; elas gostam de aprender e aumentar sua compreensão e habilidade.
As pessoas precisam ser “inspiradas” (com “papos” animadores), pressionadas ou dirigidas.
As pessoas precisam ser liberadas, encorajadas e assistidas.
Fonte: Kolb (apud SILVA, 2007)
Diante do exposto, pode-se afirmar que, a teoria de McGregor coloca em
discussão um aspecto bastante polêmico, no momento em que estabelece perfis de
comportamento humano, e esses perfis podem apresentar uma grande distorção
quando são analisados pelo próprio indivíduo ou por outrem.
Faz-se oportuno observar que, há necessidade de elevado nível de
autoconhecimento para aceitação do modelo, pois alguns aspectos do comportamento
não são de fácil percepção, e principalmente, algumas ações que possam evidenciar
dificuldades em relacionamento com os colegas de trabalho ou capacidade limitada
para desempenho das atividades são de difícil reconhecimento.
Tal afirmação encontra-se respaldada nos seguintes aspectos:
Argumenta-se frequentemente que em sua maioria as pessoas são por natureza dependentes – que preferem não aceitar responsabilidades, mas sim ser conduzidos. A generalização terá procedência, se observarmos sua incidência no emprego. No entanto, é surpreendente como muitas pessoas não só aceitam, mas procuram responsabilidades num sem-número de atividades exercidas fora do emprego (McGREGOR, 1973).
73
Tal constatação se aplica plenamente aos trabalhadores da educação, pois,
como se sabe, grande parte deles atua em diversos estabelecimentos e, muitas vezes,
exercendo atividades que não diz respeito ao magistério. A justificativa apontada para
isso é a necessidade de complementação da renda recebida na área da educação, que
não é considerada suficiente para atender as suas necessidades básicas, conforme foi
exposto, páginas atrás nesse estudo.
Outra formulação teórica importante relacionada às necessidades é a teoria
da contingência, cujos fundamentos acham-se descritos adiante com a intenção de
indicar em que consiste as idéias subjacentes a tal modelo pra verificar como este se
aplica no cotidiano das organizações, de um modo geral.
2.6 A TEORIA DA EXPECTÂNCIA
A teoria da expectância, também conhecida como teoria da expectância ou
da expectativa estabelece que variáveis situacionais e de personalidade produzam
satisfação. Victor H.Vroom, autor dessa teoria, definiu satisfação como reação
antecipada a um resultado ou expectativa que o empregado espera conseguir. Segundo
o embasamento dessa teoria, em termos práticos, no ambiente de trabalho, o
funcionário será motivado a se esforçar no exercício do seu trabalho quando ele
acreditar que seu esforço será recompensado e que estas recompensas satisfarão suas
metas pessoais.
Argumento nessa direção é apontado por Silva (2007), ao explicar que o
embasamento da teoria da expectativa teve a seguinte concepção:
74
Vroom (1964) desenvolveu uma teoria de motivação a qual nega conceitos preconcebidos e diz que a motivação individual para trabalhar em um momento dado, estaria em função do que ele chama “objetivos particulares” e também da percepção da utilidade relativa do desempenho, sendo este um meio de atingir aqueles objetivos.
Na verdade, esse modelo motivacional foi desenvolvido, a partir da
observação que o processo de motivação não depende apenas das metas individuais,
destacando a necessidade de analisar todo o contexto de trabalho. Silva (2007) mostra
ainda que, rejeitando noções preconcebidas e reconhecendo essas diferenças
individuais, restringindo-se exclusivamente à motivação no sentido de produtividade,
que para ser conseguida, segundo os fundamentos acima especificados, deveria levar
em consideração três forças:
a) Expectação – conjunto das expectativas de cada indivíduo (objetivos e
percepção própria e da capacidade de atingi-los). Determinantes da intensidade dos
esforços compreendidos para realização de suas tarefas. Se para se conseguir um
aumento salarial ou benefício, funcionário precisa passar numa avaliação interna, mas
julga-se incapaz de ser aprovado, consequentemente sua motivação para o trabalho
será fraca.
b) Instrumentalidade - conjunto das recompensas esperadas após seu
desempenho no trabalho. Fator subjetivo e variável, não é simplesmente o
estabelecimento de uma relação da natureza e intensidade do trabalho, salário e,
benefícios. Podendo significar autonomia, possibilidade de iniciativa e expansão da
criatividade.
75
c) Valência – valor percebido pelo funcionário à instrumentalidade, que
precisa satisfazer suas reais expectativas. Além de se sentir capaz de conseguí-las, o
servidor precisa dar importância às recompensas, que terão valor diferente para cada
funcionário, impactando na intensidade da motivação.
De acordo com Lévy-Leboyer (1994), teoricamente falando:
A expectância é aquilo que um indivíduo acredita ser capaz de fazer, após empreender um esforço. A instrumentalidade é se o trabalho executado representa claramente a possibilidade de se atingir um objetivo esperado e a valência representa a ligação entre objetivo a ser atingido e o valor que este objetivo tem para o indivíduo, ou seja, se ele é relevante, importante ou não.
Segundo Vroom, a ausência de apenas um dos elementos enfraquece a
motivação; ao passo que, com a presença de todos, a motivação tende a ser alta. A
principal inovação proposta por essa formulação teórica, foi à identificação de que o
indivíduo necessita se sentir capaz de cumprir sua meta para que se sinta motivado,
estabelecendo uma relação entre motivação e competência.
Em síntese, a teoria da contingência consiste na proposta de um modelo que
se baseia em objetivos intermediários e gradativos que conduzem a um objetivo final.
Operacionalmente, a referida teoria analisa, nesse caminho, as conseqüências de cada
comportamento, admitindo que cada êxito representa uma recompensa, ainda que isso
seja visto sob a ótica de cada um, ou seja, no plano da individualidade e não no
coletivo, como normalmente se trabalha na educação.
Trazendo essa discussão para o âmbito do ambiente de trabalho dos
profissionais da educação, pode-se afirmar o seguinte: segundo o embasamento dessa
teoria, em termos práticos, no ambiente de trabalho, o funcionário será motivado a se
76
esforçar no exercício do seu trabalho quando ele acreditar que seu esforço será
recompensado e que estas recompensas satisfarão suas metas pessoais.
Outro aspecto relevante, a ser tratado nessa fundamentação teórica refere-
se ao conceito de justiça na retribuição do resultado do trabalho; pois como se sabe, a
motivação para o trabalho também depende da equidade do sistema, tendo em vista
que, as recompensas recebidas não devem ser iguais para todos, mas individualizados,
correspondente ao esforço de cada pessoa que possui necessidades diferentes e isso
funciona como fonte de motivação para o alcance das metas e do desempenho. Nisso
consiste o fundamento da teoria da equidade, conforme exposto nas páginas seguintes
desse estudo.
2.7 TEORIA DA EQUIDADE
Surgida na década de 1960, a teoria da equidade, formulada por J. Stacy
Adams, por definição, enfatiza a visão que os funcionários têm em relação à justiça no
local de trabalho. Sendo percebida basicamente no momento que os funcionários
fazem uma comparação entre sua produtividade, seu desempenho, e o retorno
recebido por eles e por outros funcionários.
Para Bergamini (1997), a teoria da eqüidade é fortemente relacionada com o
reconhecimento, a remuneração e a distribuição de vantagens na organização, os quais
precisam ser bem dispostos, se não, deteriorarão o clima organizacional, imperando um
sentimento de injustiça e conseqüente falta de estímulos para a motivação para o
trabalho. A importância da teoria da equidade para os estudos das motivações,
77
concentra-se no fato de se explicar aspectos racionais do comportamento humano, não
o associando a alguma força motivadora ou hierarquia das necessidades.
Para Bergamini (1997), na teoria da eqüidade, cada pessoa tenderia a
comparar aquilo que lhe é oferecido como recompensa pelo seu desempenho com
aquilo que foi oferecido a pessoas semelhantes a ele. Nesta comparação, está implícita
a busca de um tratamento justo, ou, como colocam os teóricos, a busca da eqüidade.
De acordo com os pressupostos dessa teoria, os membros de uma
organização analisam seu próprio desempenho, esforço, experiência, responsabilidade,
condições de trabalho, conhecimentos e habilidades (entradas), relacionam com seu
salário, reconhecimento, tratamento de supervisão, benefícios, promoções e status
(saídas), e realizam comparações com seus semelhantes, podendo, após essa
comparação, perceber uma relação de justiça ou injustiça.
Bergamini (1997) diz que, existirá equidade quando as entradas e saídas
forem entendidas com iguais às dos outros funcionários, sendo o ponto problemático da
discussão, a percepção da inexistência da equidade. Isso fica claro, quando se coloca a
falta de equidade entre os profissionais da educação, pois nem todos podem contar
com um plano de cargos e salários como uma forma de remuneração mais ajustada;
bastando para isso, preencher os requisitos de enquadramento definidos nas regras da
própria instituição, ou seja, no caso enfocado, o Governo do Estado que é a fonte
pagadora da categoria profissional selecionada para compor a amostragem desse
estudo.
78
2.8 A REMUNERAÇÃO COMO FATOR MOTIVACIONAL
A literatura consultada para a realização desse estudo indica que, a
discussão sobre a utilização de um sistema de remuneração e recompensas é bem
anterior aos estudos sobre a motivação humana. Nos estudos da linha comportamental,
por exemplo, essa discussão remonta aos escritos de Maquiavel (1989), os quais
pregavam que, em um sistema de recompensas e punições, pela própria fragilidade
humana, o medo de uma punição seria mais eficiente do que a expectativa ou gratidão
por uma recompensa.
Para Maquiavel (1989), a linha de reflexão que demonstra o seu ponto de
vista encontra respaldo na seguinte argumentação:
[...] dos homens pode-se dizer, geralmente, que são ingratos, volúveis, simuladores, tementes do perigo, ambiciosos de ganho; e, enquanto lhes fizeres bem, são todos teus, oferecem-te o próprio sangue, os bens, a vida, os filhos, desde que, como se disse acima, a necessidade esteja longe de ti; quando esta se avizinha, porém, revoltam-se [...].
Continuando sua reflexão, o referido autor, revela o cerne de sua
preocupação, tecendo o seguinte comentário:
[...] as amizades que se adquirem por dinheiro, e não pela grandeza e nobreza de alma, são compradas, mas com elas não se pode contar e, no momento oportuno, não se torna possível utilizá-las. E os homens têm menos escrúpulo em ofender a alguém que se faça amar do que a quem se faça temer, posto que a amizade é mantida por um vínculo de obrigação que, por serem os homens maus, é quebrado em cada oportunidade que a eles convenha; mas o temor é mantido pelo receio de castigo que jamais se abandona (MAQUIAVEL, 1989).
No contexto das teorias comportamentais, destacam-se as teorias das
relações humanas e a teoria clássica, através da qual enfatiza-se que, a teoria da
79
administração científica, estabelece a remuneração como um fator motivacional, o
principal deles. A mola propulsora do indivíduo para execução de sua tarefa. Essa
abordagem tinha a visão simplificada, que a motivação dos servidores seria adquirida
apenas com um sistema de punição e recompensa.
Conforme proposição de Bergamini (1997), a motivação, segundo os
pressupostos dessa teoria a motivação estava condicionada à remuneração, ou seja:
[...] os partidários da administração científica esboçada por Taylor, por volta de 1911, defendiam o uso de formas de controle sobre os subalternos para que se conseguisse fazê-los atingir níveis predeterminados de produtividade. As operações de trabalho foram tornando-se cada vez mais simples e rotinizadas, começando, em especial, pelo fracionamento dos cargos nas linhas de montagem. Em lugar da punição, adotou-se a crença de que o dinheiro seria a principal fonte de incentivo à motivação. Acreditou-se que a maioria dos trabalhadores escolheria os seus empregos não tanto pelo tipo de trabalho ou pelo conteúdo dos cargos, mas principalmente o faria tomando por base as perspectivas de remuneração.
Essa teoria foi logo contestada pela obra de Mayo, que compreendia o
salário como exercendo um papel secundário, que o papel principal no processo
motivacional era exercido pelo conhecimento das necessidades psicológicas,
identificando e satisfazendo as necessidades.
A priorização da remuneração como fator motivacional, embora bastante
contestada, pode ser entendida em situações de limitação econômica, onde pequena
variação no nível salarial pode provocar uma situação de carência material que
prejudique a própria subsistência, McGregor (1973) enfatiza esse aspecto.
Para o referido autor, a condição social a qual foi submetido o indivíduo
influenciará fortemente o impacto dos fatores motivacionais.
80
[...] uma severa privação das necessidades inferiores muito cedo na vida poderá deter o ajustamento do indivíduo de várias maneiras e acentuar nele permanentemente a importância daquelas necessidades (exceto se a psicoterapia mais tarde modificar seu caso). Assim encontramos trabalhadores com “fixações” por dinheiro, ou proteção, ou poder (McGREGOR, 1973).
Isto permite deslocar o eixo das discussões para a direção da teoria das
necessidades, pois a perspectiva visualizada na motivação dos profissionais da
educação, não pode ser tratada sob o aspecto, meramente quantitativo, já que isto
resultaria em admitir a desvalorização dessa categoria profissional, ou seja: a decisão
de ser professor é como uma segunda opção, pois a remuneração desses profissionais
compromete a sua capacidade aquisitiva, ou seja, o trabalho não é remunerado
adequadamente e, portanto, não atende as necessidades básicas desses profissionais.
81
CAPÍTULO III
METODOLOGIA
1 CONCEPÇÃO DA PESQUISA
A concepção que serviu de base para a delimitação da trilha metodológica
desse estudo é baseada nas abordagens quantitativa e qualitativa envolvendo estudos
empíricos sobre a motivação do trabalhador engajado nas atividades do magistério no
estado da Paraíba. O pressuposto essencial em que se fundamenta a respectiva
abordagem é o que considera a complexidade existente em torno do sistema
motivacional humano.
O grau de complexidade desse sistema fez com que a abordagem teórica
fosse direcionada para as teorias comportamentais, pois nesse apanhado teórico, a
motivação humana pode ser concebida como sendo representada por um conjunto de
condições, responsáveis pela variação na intensidade, qualidade e direção do
comportamento.
Essas condições são intrínsecas e extrínsecas ao indivíduo. As primeiras
condições estão representadas por aquilo que leva o indivíduo à ação, aquilo que
poderá trazer alívio de tensão, ou seja, a ênfase nas condições intrínsecas diz respeito
ao conteúdo da motivação, isto é, aos tipos motivos que determinam o comportamento.
As segundas condições dependem das percepções de cada um sobre seus
objetivos e seu desempenho. Essas percepções sofrem influências de certos fatores,
tais como: auto-estima do indivíduo, suas experiências anteriores em situações
82
semelhantes, comunicações com outras pessoas, atração de resultados e
conhecimento de quem controle esses resultados, entre outros.
O foco de análise nesse estudo é, portanto, o trabalho motivador, definido
como sendo aquele que apresenta as seguintes características: primeiramente,
reconhece as diferenças individuais, pois as pessoas diferem em necessidades,
atitudes, personalidade e outras importantes variáveis individuais, conforme prescrevem
as diversas teorias que focalizam a motivação no trabalho.
Em seguida, procura combinar as pessoas com os postos de trabalho;
considerando a condição de autonomia, responsabilidade, necessidade de crescimento
e metas desafiadoras, como alguns pontos a observar para verificar se determinado
profissional preenche os requisitos para exercer determinada função ou realizar
determinado tipo de trabalho.
Para tornar o trabalho motivador é preciso ainda: definir metas, pois tem-se
como certo que, o trabalhador motivado procura assegurar que as metas sejam
cumpridas ou mesmo superadas, apresentando sempre um bom desempenho em
relação à qualidade e à produtividade do trabalho em si.
Assim, ante ao exposto, o objeto desse estudo dessa pesquisa consistiu na
delimitação do perfil motivacional do magistério da rede estadual de ensino fundamental
da Paraíba, cujo escopo gira em torno das atitudes e opiniões desses profissionais
sobre variáveis relacionadas com a questão do trabalho motivador, considerando as
atuais condições existentes no seu ambiente de trabalho.
83
1.1 DELIMITANDO O OBJETO E A PROBLEMÁTICA DE PESQUISA
1.2 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA
Na definição da trilha metodológica de um trabalho de pesquisa científica,
torna-se indispensável apresentar a sua caracterização, a qual define todos os meios
empregados na sua execução. Para classificar esta pesquisa utilizou-se a taxionomia
apresentada por Vergara (2005), que caracteriza as pesquisas em relação a dois
aspectos: quanto aos fins e quanto aos meios.
Tendo por base os aspectos enunciados anteriormente, esta pesquisa
quanto aos fins foi caracterizada como exploratória e descritiva. Gil (2005) explica que a
pesquisa exploratória é realizada quando o tema abordado é pouco explorado, e assim
se torna difícil formular hipóteses precisas e operacionalizáveis. Desta forma, entende-
se que o tema perfil motivacional do magistério da rede estadual de ensino fundamental
na Paraíba, ainda não foi delimitado, sendo, portanto, um tema pouco explorado, que
se enquadra nessa categoria de pesquisa.
Já as pesquisas descritivas têm como principal objetivo a descrição das
características de determinado fenômeno ou população ou o estabelecimento de
relações entre variáveis. Dentre as pesquisas descritivas destacam-se as que têm por
objetivo estudar as características de um grupo (GIL, 2005). Sendo assim, esta
pesquisa também pode ser considerada como descritiva, por ter como um dos seus
objetivos, o de delinear o perfil de uma categoria de profissionais específica: aqueles
vinculados ao magistério da rede estadual de ensino fundamental da Paraíba.
84
Quanto aos meios, entende-se que esta pesquisa é, simultaneamente,
enquadrada como bibliográfica e um estudo de caso. Conforme GIL (2005), a pesquisa
bibliográfica é desenvolvida com base em documentos já elaborados, como por
exemplo: livros, revistas, jornais, redes eletrônicas, dicionários, enciclopédias, etc.
Portanto, esta pesquisa se classifica como bibliográfica porque, a sua base teórica foi
desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros
científicos sobre a motivação humana no trabalho, dos quais se extraiu os fundamentos
das principais teorias que versam sobre essa temática.
É também estudo de caso, porque traz em profundidade e em riquezas de
detalhes o tema abordado em apenas uma realidade, a da rede estadual de ensino
fundamental do estado da Paraíba. Estudo de caso, segundo Gil (2005), é o tipo de
pesquisa caracterizado por ser um estudo intensivo e por levar em consideração,
principalmente a compreensão, como um todo do assunto investigado, abordando a
temática no contexto de uma realidade localizada.
2 INSTRUMENTOS E PROCEDIMENTOS
A parte operacional da coleta de dados exigiu o emprego dos seguintes
instrumentos: observação sistemática do cotidiano de algumas unidades de ensino da
rede estadual de ensino fundamental do Estado da Paraíba, no que concerne aos
aspectos evidenciados nos objetivos da pesquisa, para captar aspectos relativos a
fatores que motivam os profissionais em interação em cada um desses ambientes.
85
Essa aproximação entre o pesquisador e os protagonistas da pesquisa é de
fundamental importância para apoiar as fases de coleta e análise dos dados, pois,
conforme Gil (2005), sem o conhecimento da realidade investigada não se faz um
estudo de caso; haja vista que, esse procedimento metodológico, confere ao
pesquisador, um status, que inspira confiança, favorecendo a análise do objeto de
estudo; tanto, por parte dos sujeitos investigados, que fornecem as informações;
quanto, por parte do pesquisador, que as interpreta e as analisa, à luz dos fundamentos
que delimitou como recorte teórico do estudo.
Trata-se, portanto, de um procedimento adequado para ser aplicado ao perfil
motivacional, tomado como objeto de estudo nesse trabalho. Assim, tomando-se por
referência o problema e os objetivos anteriormente delimitados, elaborou-se um
questionário, usado como segundo instrumento de pesquisa, permitindo assim uma
melhor sistematização da coleta de dados.
Optou-se pelo uso do questionário, observando-se as vantagens desse
instrumento de pesquisa enunciadas por Gil (2005), ao apresentá-lo como uma técnica
investigativa que compreende um número mais ou menos elevado de questões,
apresentadas por escrito às pessoas; enfatizando que, o questionário constitui o meio
mais rápido e barato para a obtenção de informações, além de não exigir treinamento
de pessoal e garantir o anonimato das fontes de investigação.
Os questionários, baseados na obra do Prof. francês Jean-Luc MOGENET e
traduzidos para o português pelo Prof. Walmir Rufino da Silva, foram compostos por
questões mistas - fechadas e abertas - divididas em quatro blocos distintos: o primeiro,
constituído por questões fechadas, estruturadas com o objetivo de caracterizar a
população e delimitar o perfil da amostragem, englobou as seguintes variáveis: tempo
86
de atuação no magistério, sexo, faixa etária, estado civil, número de filhos que possui,
nível de escolaridade, faixa salarial, vínculo empregatício, carga horária e quantidade
de alunos.
O segundo, contendo questões abertas e fechadas abrangeu questões
relativas à motivação no ambiente de trabalho, englobou as seguintes variáveis:
relacionamento com a direção da escola, satisfação com o salário, relação com os
colegas, satisfação com o sistema de promoções e perspectiva de mudança de
emprego.
O terceiro, também, contendo questões abertas e fechadas abrange
questões sobre a relação entre a remuneração recebida pelo trabalho realizado e o
atendimento das necessidades do funcionário, englobou as seguintes variáveis:
perspectiva de progressão funcional, satisfação com o trabalho e sobrecarga de
trabalho pra complementar a renda, acumulando atividades em mais de um lugar.
O quarto, contendo questões abertas e fechadas abrangeu aspectos
relativos à política educacional, englobando as seguintes variáveis: recursos destinados
à educação, agente financiador das atividades relacionadas á educação e qualidade do
ensino.
Faz-se oportuno esclarecer que, conforme Gil (2005), questões fechadas são
aquelas em que apresenta-se aos respondentes alternativas de resposta para que seja
escolhida a que representa melhor sua situação ou ponto de vista. Já as questões
abertas são aquelas que abrem espaços para que o respondente construa suas
respostas com maior possibilidade de expressão.
O universo da pesquisa esteve constituído por todos os profissionais que
integram o magistério da rede estadual de ensino fundamental na Paraíba. Segundo a
87
perspectiva apontada por Vergara (2005), o universo abrange toda a população a ser
investigada. Entretanto, como não houve possibilidade de atingir todo o universo, optou-
se por trabalhar com uma amostragem.
A amostragem contemplada por esse estudo, segundo a definição apontada
por Gil (2005), assume a característica de amostra típica, pois todos os seus
componentes são profissionais ligados à rede estadual de ensino fundamental na
Paraíba, onde desenvolvem atividade laboral relacionada ao exercício do magistério.
Trata-se, portanto de uma amostra típica, dado que todos os seus
componentes apresentam as mesmas características, conforme exposto linhas atrás. O
critério norteador da escolha da amostragem foi a acessibilidade, pela facilidade em
agilizar a coleta das informações que definiram a análise dos dados do estudo em
pauta. Na visão de Gil (2005), esse critério é adequado quando se trata de uma
amostra típica, como é o caso das características dos sujeitos investigados nessa
pesquisa.
Os questionários foram aplicados a 874 sujeitos, distribuídos por 12 regiões
do Estado da Paraíba. O plano amostral foi aleatório estratificado que atingiu uma
fração amostral de 12,06% da população de 7.247 professores, dos quais 2.078 são
temporários e 5.119 efetivos. Essa distribuição encontra-se sistematizada nos dados
que constam na tabela 3, conforme segue:
Tabela 3. Distribuição dos respondentes por região. Região N %
1 (João Pessoa) 249 28,5 2 (Guarabira) 35 4,0 3 (Campina Grande) 240 27,5 4 (Cuité) 13 1,5 5 (Monteiro) 36 4,1 6 (Patos) 48 5,5
88
7 (Itaporanga) 72 8,2 8 (Catolé do Rocha) 28 3,2 9 (Cajazeiras) 38 4,3 10 (Sousa) 40 4,6 11 (Princesa Isabel) 28 3,2 12 (Itabaiana) 47 5,4 Total 874 100,0
Fonte: Pesquisa própria, 2007 Justifica-se a diferença de magnitude dos dados que constam na tabela 3,
contendo a distribuição da amostragem englobando as 12 regiões escolares, em que
está dividida a rede pública de ensino do Estado da Paraíba, esclarecendo-se que, nos
municípios com maior número de alunos, tomou-se uma amostra maior, para dar maior
consistência ao processo de análise.
Foi elaborado um arquivo eletrônico para a coleta das informações contidas
nos questionários no pacote estatístico SPSS (Statistical package for the Social
Sciences), empregado para calcular as freqüências e percentuais das variáveis de
pesquisa. As informações obtidas estão tabuladas e apresentadas a seguir na ordem
das variáveis do questionário (vide ANEXO A).
A validação interna da pesquisa foi realizada com a medida de fidedignidade
Alpha de Crombach cujo valor é excelente: 0,9781 e, que, para cada item deletado, os
valores mínimo e máximo, foram, respectivamente, 0,9774 e 0,9784; mostrando que
todos os 79 itens do questionário (exceto os quatro itens de carga horária e número de
alunos devido ao seu elevado coeficiente de variação) são componentes importantes
para a construção do perfil do professor da escola pública no Estado da Paraíba.
O procedimento de tratamento e análise dos dados levou em consideração a
natureza humanista das teorias sobre a motivação, isto é, a relação entre eficiência,
produtividade, realização individual, expressa em termos de realização pessoal e geral,
Isso implica em considerar os interesses e necessidades individuais, expressos através
89
de aspectos como: realização pessoal, possibilidade de desenvolvimento, participação,
aceitação, bem-estar pessoal, como indicação de motivação.
Os estudos empíricos envolvendo as teorias motivacionais partem do
pressuposto de que, o sujeito investigado é produtor de suas motivações, pois é ele
quem dá significado à sua experiência social a qual é demonstrada através do discurso.
Assim sendo, os projetos envolvendo trabalhos motivadores, devem partir do
pressuposto de que as tarefas são realizadas por pessoas, que possuem habilidades,
necessidades e motivações distintas.
Nesse estudo, admite-se que a motivação é resultante da forma como cada
sujeito investigado interage com a situação. Isso implica em considerar que a motivação
varia de situação para situação e de indivíduo pra indivíduo. Na área onde a pesquisa
foi realizada, ou seja, entre os trabalhadores do magistério, a motivação pode ser
encontrada no esforço que cada profissional desenvolve para que a organização,
representada por cada unidade de ensino do estado da Paraíba, possa atingir seus
objetivos organizacionais.
Assim, o aspecto qualitativo do estudo ora apresentado, aparece expresso
através do esforço, que cada profissional questionado desenvolve em prol dos
resultados globais da organização com a qual ele interage. Isso deve ser visto como
satisfação de uma necessidade que bem pode ser a necessidade de realização com o
trabalho realizado, pois isso vai representar um esforço, cada vez mais elevado, na
direção do alcance dos objetivos organizacionais. No caso do esforço desenvolvido
pelos profissionais do magistério, por exemplo, isso se traduz na melhoria da qualidade
do ensino e, portanto, da aprendizagem de seus alunos.
90
CAPÍTULO IV
APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS
O propósito desse capítulo é de fornecer dados, acompanhados das
respectivas análises, das relações que se estabelecem entre as variáveis anteriormente
citadas nesse estudo, no que concerne ao levantamento do perfil motivacional do
magistério da rede estadual do ensino fundamental na Paraíba.
Trata-se, portanto, da apresentação de um esboço do quadro geral do
esforço que esses profissionais desenvolvem no seu cotidiano de trabalho em cada
unidade educacional do Estado, onde estes desenvolvem as suas atividades voltadas
para o exercício do magistério. Faz-se oportuno enfatizar que o magistério é uma
atividade que requer planejamento, organização, direção e controle, a exemplo do que
ocorre em qualquer outra atividade envolvendo o trabalho com pessoas em constante
interação.
O espaço onde tais interações se tornam o ápice do trabalho dos
profissionais do magistério é a sala de aula, local onde materializa-se o produto do
trabalho desses profissionais, um lócus de situações complexas que servem de
orientação para que o processo ensino-aprendizagem possa se desenvolver, da melhor
maneira possível, considerando as peculiaridades, dificuldades e potencialidades de
cada unidade de ensino investigada.
Da qualidade dessas interações, depende o resultado alcançado em cada
sala de aula. É nesse contexto que se reafirma, a importância de que, cada unidade de
ensino da rede pública estadual do ensino fundamental possa contar em seus quadros
91
com profissionais motivados, empenhados em encontrar meios de superar os
obstáculos inerentes à carência de recursos que contribuem para dificultar o alcance
dos objetivos traçados no planejamento de sua disciplina.
Tais reflexões permitem observar, de início que, os dados mostram que o
quadro geral é positivo, pois os dados empíricos extraídos do bloco I compilados do
instrumento de pesquisa, do qual obteve-se as variáveis sócio-demográficas
apresentadas na tabela 4 contendo 9 variáveis, as quais servem para descrever as
características dos sujeitos que compuseram a amostragem, revelam que os sujeitos
questionados exercem suas atividades há bastante tempo no magistério.
Tabela 4. Distribuição das variáveis sócio demográficas Variável N %
1.Tempo de trabalho (anos) Até 2 46 5,3 2 a 5 83 9,5 5 a 10 137 15,7 11 a 15 134 15,3 16 a 20 152 17,4 21 a 25 206 23,5 26 a 30 82 9,4 Mais de 30 25 2,9 Não informou 9 1,0 Total 874 100,0 2. Sexo Feminino 588 67,3 Masculino 237 27,1 Não informou 49 5,6 Total 874 100,0 3. Faixa etária (anos) Menor que 25 57 6,5 25 a 30 98 11,2 Maior que 30 e menor que 35 89 10,2 35 a 40 129 14,8 Maior que 40 e menor que 45 167 19,1 De 45 a 50 211 24,1 Maior que 50 e menor que 55 66 7,6 De 55 a 60 39 4,5 Maior que 60 13 1,5 Não informou 5 0,5 Total 874 100,0 4. Estado civil Solteiro (a) 260 29,7 Vive em união estável 50 5,7
92
Casado (a) 471 54,0 Separado (a) 27 3,1 Divorciado (a) 45 5,1 Viúvo (a) 16 1,8 Não informou 5 0,6 Total 874 100,0
Variável N % 5. Número de filhos Nenhum 277 31,8 Um 168 19,2 Dois 232 26,6 Três 141 16,1 Quatro 37 4,2 Cinco 10 1,1 Seis 2 0,2 Mais de 6 2 0,2 Não informou 5 0,6 Total 874 100,0 6. Nível de escolaridade Ensino fundamental 23 2,6 Ensino Médio 81 9,3 Superior 476 54,5 Pós-graduação 285 32,6 Não informou 9 1,0 Total 874 100,0 7. Faixa salarial (sal. Mínimo) Até um 162 18,5 De um a dois 314 35,9 De dois a três 229 26,2 De três a quatro 106 12,1 De quatro a cinco 25 2,9 Mais de cinco 13 1,5 Não informou 25 2,9 Total 874 100,0 8. Vínculo funcional com a SEEC-PB Temporário 350 40,0 Efetivo 518 59,3 Não informou 6 0,7 Total 874 100,0
Fonte: Pesquisa própria, 2007
O que se destaca em relação à variável tempo de trabalho no magistério é
que 56,2% dos elementos da amostra exercem tal atividade por um período que varia
entre 11 a 25 anos, ou seja, 15,3% declarou exercer essa atividade entre 11 a 16 anos;
17,4% entre 16 a 20 anos; e, 23,5% entre 21 a 25 anos.
Em estudos motivacionais, a variável tempo em que exerce a mesma
atividade pode ser considerada como um indicador de que o profissional envolvido com
a atividade gosta daquilo que faz. Tal afirmação é ancorada nas colocações feitas por
93
Reeve (2006), ao argumentar sobre a necessidade de auto-realização, escalonada no
topo da pirâmide de Maslow, a qual é fruto das interações sociais em que cada um
procura, ao trabalhar em equipe, contribuir com o seu esforço para que isso seja
ressaltado pelos que avaliam os resultados obtidos.
Continuando a observar esse conjunto de dados, verifica-se que, na
distribuição da amostragem por sexo, predomina com 67,3% do total, o sexo feminino.
Não há, em princípio, correlação entre as teorias estudas de que as mulheres sejam
mais motivadas do que os homens para realizar determinadas atividades.
Entretanto, o que se observa é que, na atividade do magistério, a presença
feminina é um fato histórico, haja vista que, conforme relata Faoro (2001), o magistério,
sempre foi visto como atividade ocupacional mais adequada à mão-de-obra feminina,
justificando que o número de profissionais do sexo feminino nessa atividade supere os
do sexo oposto.
Na visão de Casassus (2002) esse quadro é típico da educação da América
Latina indicando que o corpo docente se feminizou. Isso implica em considerar
evidências de que a escola passou a ser vista como um segundo lar das crianças que a
freqüentam, ou seja, é como se a professora substituísse a mãe e escola fosse
responsável, não apenas, por transmitir conhecimentos, mas a educação doméstica
como um todo.
No que respeita à distribuição por faixa etária, predomina a idade variável
entre os 35-50 anos, representando um total de 58% da amostragem, sendo que a
maior parcela desse total coube ao estrato mais elevado, ou seja, 24,1% da
amostragem encontrava-se situada entre a faixa dos 45-50 anos; ao passo que 19,1%
na faixa dos 40 e menos de 45 anos; e 14,8% entre os 35 a 40 anos.
94
A variável faixa etária é um indicador importante para estudos sobre
motivação porque, segundo se depreende da visão desenvolvida por autores como
Bergamini (1997), Morduchowicz (2003), Esteve (2005) e Campos (2007), a idade
representa maturidade, indica acúmulo de experiência e sabedoria para realizar
escolhas mais eficientes, considerando as vivências anteriores.
Se, por um lado, a idade é muitas vezes situada como sinônimo de
experiência e de resultados positivos, ela também pode ser considerada como um
elemento dificultador no alcance dos resultados a atingir, haja vista que, se a idade dos
funcionários é muito avançada e estes já estão em vias de aposentar-se, eles
provavelmente, não se sentirão estimulados a participar de programas de reciclagem,
de treinamentos, também não devem sentir-se motivados a modificar a sua maneira de
fazer as suas atividades, posicionando-se contrário às mudanças e inovações
tecnológicas que são essenciais, nas organizações dos dias atuais.
Por outro lado, a maturidade na educação é um aspecto que, na visão de
Gadotti (1994), Saviani (1995), Veiga (1996) e Freire (1997) contribui positivamente
para a qualidade do ensino, desde que as pessoas envolvidas estejam motivadas para
tal objetivo, pois conforme as teorias da motivação que englobam nos seus
pressupostos as necessidades, a busca de auto realização, parece ser o que mais se
enquadra nessa justificativa.
Segundo se percebe, da análise do indicador estado civil, a maioria dos
componentes da amostragem possuem o status casado (a), representando mais da
metade do total de sujeitos investigados, ou seja, abrangeu 54% da amostragem. A
introdução dessa variável em estudos motivacionais, não é citada como relevante pelos
autores consultados para realizar esse estudo.
95
Entretanto, a leitura de autores como Lévy-Leboyer (1994), Monlevade
(2000) e Campos (2007) possibilita inferir-se que, as motivações, nesse contexto, não
são produzidas no âmbito da escola ou da sala de aula, mas afeta o resultado das
interações que ocorrem nesse espaço, pois a motivação é algo intrínseco a cada
profissional e, conforme visto anteriormente nesse estudo, cada um possui expectativas
e perspectivas distintas, gerando resultados que podem expressar ou não indicadores
de melhoria na qualidade do ensino.
Um aspecto importante a considerar em relação a esse indicador é que,
muitas pessoas casadas possuem filhos estudando nas escolas em que ensinam e isso
pode representar um diferencial importante em relação à motivação dos profissionais do
magistério, pois acredita-se que esses profissionais procurarão dar o melhor de si para
que seus alunos possam ganhar em qualidade da aprendizagem.
Analisando-se o comportamento da variável nível de escolaridade, constata-
se que o indicador formação superior completa abrangeu mais da metade da
amostragem, ou seja, 54,5%; ao passo que a variável pós-graduação atingiu o patamar
de cobertura de 32,6% da amostragem.
Esse resultado é um indicador importante quando se vislumbra a perspectiva
da qualidade do ensino, pois a formação do professor é um referencial que indica essa
possibilidade de ocorrência. Da leitura de autores como Oliveira e Araújo (2004),
Soares (2006) e Campos (2007), pode-se deduzir que quanto mais elevado o nível de
escolaridade de determinada categoria profissional, maior será a possibilidade de se
obter um resultado indicando qualidade superior.
Faz-se aqui uma observação importante extraída de Casassus (2002), a
realidade da educação na América Latina mostra que, hoje seu corpo docente se
96
formou para realizar seu trabalho e se interessa por sua formação continuada. Isso
segundo o referido autor representa uma mudança radical no quadro da educação, pois
antes era predominante a presença de profissionais leigos e com poucas perspectivas
de qualificação.
Assim sendo, a variável nível educacional apresenta-se como um dado
importante nesse contexto de referência, pois é política do Governo Federal continuar
investindo fortemente na formação continuada do magistério, inclusive para operar
novas tecnologias na sala de aula (MEC, 2007).
Quanto à variável faixa salarial, constatou-se que, cerca de 62,1% recebem
entre um e três salários mínimo. A distribuição amostral obtida para essa variável foi a
seguinte: 35,9% recebem entre um a dois salários mínimos; e 26,2% entre dois a três
salários mínimo.
Como se sabe o salário mínimo deveria ser suficiente para atender as
necessidades básicas do trabalhador. Entretanto, essa não é uma realidade presente
entre os trabalhadores do magistério paraibano, haja vista que, seguindo a linha política
do governo, no contexto global da educação, segundo adverte Casassus (2002), o
salário dos docentes diminuiu em termos absolutos, em relação a outras profissões e à
sua capacidade aquisitiva.
Na prática, conforme exposto páginas atrás, isso originou uma situação de
desvalorização da profissão e os ingressos na carreira do magistério passaram a ser
vistos como uma segunda opção. Faz-se oportuno reprisar que a remuneração não é
tida segundo as teorias das relações humanas que estudam a motivação, fonte de
motivação.
97
Entretanto, essas teorias consideram a remuneração como fonte de
satisfação no trabalho. Daí porque considera-se ser importante admitir que a
remuneração é uma variável que estimula o profissional a se qualificar melhor, desde
que haja perspectiva de ganhos com a progressão funcional, a exemplo do que está
ocorrendo com o magistério da Paraíba a partir da implantação do PCCR,
anteriormente comentado nesse estudo.
Na análise da variável vínculo funcional com a Secretaria de Educação do
Estado da Paraíba, constatou-se que 59,3% da amostragem foi composta por
profissionais que integram o quadro efetivo; ao passo que 40% foi representada por
profissionais contratados em regime de trabalho temporário, para suprir necessidade
emergencial de determinada localidade.
O fato de pertencer ao quadro efetivo não quer dizer que a motivação dos
profissionais que se encontram nessa condição é maior do que a dos profissionais que
estão temporariamente exercendo tal atividade em determinada escola. A interpretação
dessa situação requer que seja feita referência à teoria da expectância desenvolvida
por Vroom, a qual, segundo comenta Silva (2007), visualiza o estudo da motivação, de
forma individualizada, pois a mesma depende ou é condicionada pela busca de
objetivos particulares, das metas individuais e das chances que o local de trabalho
oferece.
Segundo os pressupostos dessa teoria, a expectação, depende dos objetivos
que cada profissional traça para si, ou seja, se o trabalhador temporário, por exemplo,
julgar que essa experiência enriquecerá o seu currículo e que isso o ajudará a
vislumbrar outras perspectivas, então, a sua motivação tenderá a ser considerada forte.
98
Segundo comentário feito por Lévy-Leboyer (1994), os determinantes dessa
teoria mostram que as recompensas impactam, de forma distinta, a motivação de cada
profissional investigado.
Tal afirmação leva em conta que, conforme se depreende dos fundamentos
da teoria da expectação, tanto o trabalhador do quadro efetivo, quanto os do quadro
temporário, possuem objetivos intermediários; que vão conduzi-los, gradativamente a
um objetivo final, o qual resultará no reconhecimento de seu desempenho, visto como
um diferencial importante na sua qualificação para a função que exerce ou para o cargo
que ocupa.
Complementando essa primeira parte da análise, mostra-se na tabela 5, a
síntese dos dados referentes à carga horária e quantidade de alunos.
Tabela 5. Medidas descritivas da carga horária e
quantidade de alunos dos professores Medidas descritivas
Carga horária Quantidade de alunos
Média 30,6 219,9 Mediana 25,0 200,0 Desvio padrão 21,6 177,9 Coeficiente de variação (%) 70,6 80,9 Percentil 25 a Percentil 75 20 a 40 116 a 290 IC com 95% de confiança 28,9 a 32,2 208,2 a 233,6 Respostas válidas 252 252
Fonte: Pesquisa própria, 2007
Na definição dos dados apresentados na tabela 5, utilizou-se a mediana e
não a média porque o coeficiente de variação (CV) da carga horária e do número de
alunos é muito elevado. A título de esclarecimento, deve ser dito que, estatisticamente
falando, o CV é uma medida de dispersão e sendo seu valor muito alto, tira a
representatividade da média como medida de posição.
99
Conforme se verifica, na análise desses dados, a carga horária dos
componentes da amostragem, apresentou-se inferior ao limite máximo de 40 horas
semanais, girando em torno de 25 horas mediana. Esse dado revela que a carga de
trabalho não supera a média das horas da carga horária máxima admitida em cada
estabelecimento educacional que é de 40 horas semanal.
A jornada de trabalho não deve sobrecarregar o trabalhador, pois conforme
esclarecem Coda (1996) e Bergamini (1997), cabe-nos apreciar, nessas circunstâncias,
a perspectiva de que isso gera fadiga no trabalhador, sem que isso represente, de fato,
uma compensação salarial. Atente-se para a pertinência da seguinte observação: os
profissionais ligados ao magistério, em geral, possuem uma jornada de trabalho
extensa porque os seus ganhos, não são considerados suficientes, para atender as
suas necessidades básicas.
Casassus (2002) mostra que, quando os profissionais ligados ao magistério
se vêem na necessidade de ter outro trabalho para aumentar a sua renda, isso
representa um impacto importante sobre a qualidade da educação, dada a sua relação
com o grau de satisfação com a atividade, pois isso é visto como desvalorização do
trabalho.
No campo das teorias motivacionais, conforme demonstra Maslow (1971),
isso representa um ponto de tensão entre o indivíduo e a organização, com tendência
ao agravamento, na medida em que o trabalhador passa a sentir-se desvalorizado;
sentimento esse que passa a ser um referencial que atinge a qualidade de seu trabalho,
bem como interfere nos resultados que poderiam ser melhorados, caso as condições
fossem diferentes.
100
Essa observação é particularmente importante quando o profissional começa
a deixar de cumprir os padrões de atuação que lhes são exigidos pela organização,
queixando-se de ser escravo do trabalho, demonstrando claramente a sua insatisfação
com o sistema, com a prática gerencial que se vê nessas instituições.
Por outro lado, Herzberg (1972), ao situar sua análise na tarefa realizada,
cria um espaço importante para enfatizar-se que, com a sobrecarga de trabalho, as
tarefas inerentes ao profissional do magistério deixam de ser vistas como prazerosas e
passam a ser consideradas como enfadonhas, com conseqüências importantes sobre a
aprendizagem dos alunos.
O que foi dito permite enfatizar que, esse resultado, na verdade, compromete
o alcance das metas organizacionais, pois o trabalho do profissional ligado ao
magistério deixa de ser visto como fonte de realização das potencialidades desses
trabalhadores; e, passa a ser executado com o fim de cumprir atividades e horários,
sem que haja, nesses requisitos, qualquer indício de prazer, de satisfação ou de paixão,
capaz de demonstrar que cada um faz o que gosta de fazer.
Gostar do que faz, conforme se depreende das colocações feitas por Silva
(2007) envolvendo a hierarquia das necessidades desenvolvida por Maslow; as
necessidades adquiridas desenvolvida por McClland; e a teoria dos dois fatores
desenvolvida por Herzberg; haja vista que ambas são teorias de conteúdo, as quais se
baseiam na concepção de um ambiente de trabalho que atenda satisfatoriamente as
necessidades dos trabalhadores nele engajados, é de fundamental importância quando
se analisa a variável tarefa dos profissionais ligados ao magistério.
Esse ponto é fundamental para a análise dos resultados, tendo em vista que
a educação é, por excelência, um tipo de trabalho que requer dedicação, empenho,
101
carisma. Ingredientes sem os quais, a qualidade do ensino não será considerada boa,
pois é preciso gostar do que se faz e ter um bom relacionamento com colegas, chefes e
com os alunos, além de sua família e da comunidade, pois a Escola integra-se com
todos eles na realização de suas atividades, conforme é demonstrado por Freire (1997).
Para Andrew (2003), o trabalho é considerado como sendo um fator
motivacional desde que o funcionário sinta que pode crescer junto com a empresa,
compatibilizando seus interesses pessoais com os objetivos organizacionais. Isso
apresenta reflexo nos relacionamentos, na satisfação e na valorização do trabalho.
Esse ponto de vista é também fundamental para compreender-se que, o número de
alunos com os quais o profissional do magistério interage em sala de aula também é
fator que interfere na qualidade do ensino.
Quanto ao número de alunos, por turma obteve-se a mediana de número
200. O fato desse número não ser considerado elevado, não causa pressão, por parte
dos gestores da instituição para que os profissionais do magistério dêem atenção
integral a seus alunos. Isso também não deve ser considerado como fonte de angústia
para aqueles que não conseguem melhorar o rendimento de seus alunos.
Segundo Casassus (2002), o número ideal de alunos, para se ter um ensino
de qualidade é de vinte e cinco (25) alunos por professor. No caso do magistério
paraibano, é comum um professor dar aulas para mais de uma turma, o que não implica
em considerar que nem sempre, a redução de alunos por professor se traduz em
rendimentos crescentes na aprendizagem.
Pondera-se, portanto, que o desgaste que o excesso de alunos por
professor, possa causar entre os profissionais do magistério, é superado quando esses
profissionais identificam-se e gostam daquilo que fazem cotidianamente no seu
102
trabalho. Gostar do que faz na teoria hierarquia das necessidades de Maslow é,
segundo Silva (2007) um ponto central que serve de reforço na intensidade com que o
funcionário se doa para que a instituição possa atingir sua metas de desempenho.
Esse bom resultado é decorrente da necessidade de auto-realização que
depende do reforço que a organização pode proporcionar ao permitir que o funcionário
possa ter autonomia para fazer as coisas do “seu jeito”, já que isso normalmente implica
em resultado satisfatório tanto para a instituição quanto para o funcionário.
Em um ambiente de trabalho voltado para a educação, os profissionais que
ali desenvolvem seu trabalho dentro e fora da sala de aula, motivam-se para o trabalho
buscando fatores motivadores, tais como: realização profissional, reconhecimento pelo
trabalho e mobilidade de função, dentre outras. A motivação apresenta-se como um
conceito indicativo de que o homem dirige o seu comportamento para a busca de
satisfação no trabalho, realizando-se com aquilo que faz no seu dia-a-dia, procurando
tornar-se cada vez mais eficiente.
É oportuno acrescentar que, os profissionais da educação devem
compreender a importância do seu trabalho, como fator de mobilização das
capacidades humanas, pois, como se sabe, através do trabalho, o indivíduo pode
modificar o seu meio e, modificar a si mesmo, sobretudo na área da educação.
Essas considerações são de fundamental importância na análise das
respostas das questões do bloco II, as quais versam sobre os fatores indicativos de
motivação no trabalho, propriamente dito. Nessa avaliação foram consideradas
variáveis de natureza diversas, a exemplo do trabalho em si, para a qual foram
considerados os atributos que constam na tabela 6 e no gráfico 1, os quais foram
transformados em indicadores capazes de demonstrar motivação dos trabalhadores e
103
qualidade da educação são categorias que apresentam uma relação bastante estreita,
tendo em vista que ambas referem-se a resultados e que a educação não é algo que
acontece no vazio social abstrato.
Pelo contrário, existe uma série de variáveis intervenientes que afetam a
qualidade do ensino e da aprendizagem dos alunos, dentre as quais merece ser
destacada a motivação. Isso se torna melhor compreendido atentando-se para os
dados que são apresentados nas páginas que seguem.
Tabela 6. Meu trabalho propriamente dito é... Atributo
Sim
Não
Sem resposta
n % n % n % I Interessante 650 94,5 38 5,5 186 21,3 II Variável 539 92,0 47 8,0 288 33,0 III Fácil 255 42,8 341 57,2 278 31,8 IV Não é perigoso 444 73,6 159 26,4 271 31,0 V Útil 649 98,6 9 1,4 216 24,7 VI Me permite tomar iniciativa 567 90,0 63 10,0 244 27,9 VII Me deixa tempo para descansar 358 59,9 240 40,1 276 31,6 VIII Permite usar meus conhecimentos 660 97,6 16 2,4 198 22,7 IX Dá consciência de responsabilidade 652 98,8 8 1,2 214 24,5 X Me permite ter contato freq. com outras pessoas 636 97,1 19 2,9 219 25,1 XI Me dá satisfação pessoal 609 93,0 46 7,0 219 25,1 XII Uma expressão de minhas hab. dominantes 583 95,7 26 4,3 265 30,3 XIII Uma representação do que gosto de fazer 634 94,8 35 5,2 205 23,5 Fonte: Pesquisa própria, 2007
Ao definir os atributos de um trabalho, seja ele qual for, os diretores das
instituições ligadas ao magistério, devem ter clareza de que o grupo de pessoas que
dirigem não é homogêneo, ou seja ao formar a sua equipe de trabalho, a variável
comportamento deve ter um peso significativo, haja vista que, em geral as pessoas
dentro da organização, nas suas interações de trabalho, buscam coerência em suas
atitudes e comportamentos.
104
Os atributos do trabalho, segundo destaca Herzberg (1972), devem ser
fatores intrínsecos, capazes de demonstrar que cada indivíduo desenvolve uma relação
básica com o seu trabalho e que a sua atitude para com este pode determinar o seu
sucesso ou o seu fracasso.
Tratando dos atributos do trabalho McClelland (1971), situa a necessidade
de realização pessoal como um forte impulso para que o profissional passe a fazer o
seu trabalho de modo melhor ou mais eficiente do que vinha fazendo anteriormente, ou
seja, a realização pessoal é mais importante, segundo os pressupostos desse teórico
do que a recompensa financeira.
Faz-se oportuno ressaltar que a educação não deve ser um trabalho seco,
frio e sem tempero emocional. Deve-se considerar também que os profissionais da
educação são os profissionais mais importantes da sociedade, em face da sua missão
de formar pessoas para conduzir a sua própria vida com competência e
responsabilidade pelos seus atos.
Acrescente-se a isso a pertinente observação de que profissionais motivados
assumem a educação como um processo de ensino-aprendizagem, inserida no mundo
da vida, de formação de convicções, de afetos, de motivações, de significações, de
valores e de desejos, conforme destaca Freire (1997). Portanto, a síntese dos dados da
tabela 6, condensados no gráfico 1, são bastante elucidativos a esse respeito pelo forte
conteúdo expressando realização pessoal.
105
Gráfico 1. Distribuição percentual decrescente dos atributos do trabalho 98,8 98,6 97,6 97,1 95,7 94,8 94,5 93,0 92,0 90,0
73,6
59,9
42,8
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
IX V VIII X XII XIII I XI II VI IV VII III
Atributos do trabalho
%
Fonte: Pesquisa própria, 2007
Pelos dados do gráfico 1, chega-se às seguintes conclusões: entre os
atributos percebidos pelos professores, verifica-se que o item VII, estabelecendo que o
trabalho deixa tempo para descansar, que surge como o primeiro indicador menos
aceito pelos professores (40,1%). No item VII, aproximadamente 4 em cada grupo de
10 profissionais questionados informam que seu trabalho não lhes deixa tempo para
descansar.
Verificando-se as implicações desse resultado sobre a motivação dos
trabalhadores, constata-se que isso não apresenta relação com a sobrecarga de
trabalho, ou seja, no magistério, os profissionais podem organizar seu horário de
trabalho, ajustando-o de acordo com a sua necessidade de tempo pra realizar outras
atividades, inclusive aquelas que dizem respeito ao descanso e ao lazer.
Por outro lado, os que afirmaram que o trabalho lhes deixa tempo para
descansar, conforme indicado em 59,9% das respostas, levam a crer que a
organização de suas atividades, estão bem posicionadas em relação ao tempo e o
106
desempenho de outras atividades não relacionadas ao magistério, incluindo a
disponibilidade de tempo para capacitação e formação continuada como forma de
motivação para melhoria na qualidade do trabalho que realizam.
O item III é o segundo indicador de menor percentual (57,2%) Isto significa
que, entre os atributos percebidos pelo seu trabalho, o item III indicando que o trabalho
é considerado fácil é discordante pela maioria dos professores, ou seja:
aproximadamente 6 em cada 10 professores entendem que seu trabalho não é fácil.
Contrapondo-se a esse resultado, encontra-se a indicação dada por 42,8%
dos profissionais questionados afirmando que o seu trabalho é fácil. Isso, na prática,
significa que, provavelmente o grau de motivação desses profissionais é mais elevado
do que o do grupo discordante.
Em seguida, deslocando o campo de análise para os indicadores melhor
posicionados, verifica-se o seguinte resultado: o item IX, ressaltando que o trabalho
realizado dá consciência da responsabilidade, obteve o maior índice de respostas.
Nesse item, praticamente todos os profissionais investigados (98,8%) indicaram ser
verdadeira essa afirmação.
O segundo maior índice de resposta coube ao indicador V, destacando que o
trabalho dos profissionais do magistério é útil, ou seja, mais de nove em cada grupo de
dez professores (98,6%) indicaram sim para essa opção de resposta. Esse dado é
relevante, pela importância social atribuída a educação, de modo que o senso de
responsabilidade citado na questão anterior pode ser justificada pelo segundo
indicador, na medida em que o trabalho dos profissionais do magistério, como
assinalado por autores como Saviani (1995), Veiga (1996) e Freire (1997, é um trabalho
que contribui para a construção da cidadania.
107
No cômputo geral, esses resultados indicam que os principais fatores de
motivação dos profissionais do magistério da Paraíba decorrem de fatores intrínsecos
ao trabalho, os quais vão refletir na realização pessoal, com a indicação de que
trabalham na atividade que gostam, identificando-se com o conteúdo do cargo que
exercem.
Outra variável importante relacionada à motivação no trabalho, em si engloba
a questão referente ao relacionamento com o diretor da escola. Na análise dessa
variável considerou-se que, o diretor e o estilo de sua gestão é um dos aspectos
enfatizados na dimensão da motivação no trabalho dos profissionais do magistério
paraibano, mostrados na tabela 7 e no gráfico 2, os quais servem para demonstrar que
a escola é um espaço de interações e que os teóricos das organizações acreditam que
as necessidades humanas são ajustáveis a situações específicas.
Tabela 7. O Diretor da escola Atributo
Sim
Não
Sem resposta
N % n % n % I Pede minha opinião sobre o trabalho a ser feito 582 86,2 93 13,8 199 22,8 II Me deixa tomar iniciativa 592 88,9 74 11,1 208 23,8 III Toma decisões conscientes 560 84,8 100 15,2 214 24,5 IV Controla o trabalho a ser feito 454 72,4 173 27,6 247 28,3 V Está sempre presente 642 90,9 64 9,1 168 19,2 VI Sabe usar sua autoridade 621 93,0 47 7,0 208 23,8 VII Usa sua autoridade com calma e benevolência 512 81,7 115 18,3 247 28,3 VIII Demonstra que gosta do trabalho bem feito 576 89,0 71 11,0 227 26,0 IX Assume suas respon. diante de dificuldades 573 90,2 62 9,8 239 27,3 X Incentiva/oportuniza meu crescimento pessoal 481 80,4 117 19,6 276 31,6 XI Reconhece e elogia meu trabalho 472 77,9 134 22,1 268 30,7 Fonte: Pesquisa própria, 2007
Pelos atributos elencados na tabela 6, verifica-se que o diretor da escola
desempenha um papel importante no contexto dos atributos de um ambiente de
trabalho que favorece á motivação dos funcionários. Assim sendo, conforme a teoria de
108
Herzberg (1972) é parte de suas atribuições: eliminar fatores que criam a insatisfação
no trabalho.
Isso implica em considerar que é possível organizar as tarefas para obter
uma estrutura de trabalho mais eficiente, contribuindo para que as atitudes favoráveis
ao trabalho surjam naturalmente em decorrência da motivação do funcionário, a partir
de suas interações no ambiente de trabalho.
O diretor das escolas investigadas, na condição de chefe de tais instituições,
precisa ser capaz de fazer com que os funcionários sintam-se motivados por
necessidade de estima e que é sempre bom tecer elogios pelos resultados alcançados.
Isso, segundo Silva (2007) reforça o valor que o funcionário tem para a organização, ou
seja, isso mostra que o funcionário está tendo por parte do chefe um reconhecimento
pelo seu trabalho individualmente.
Para Guimarães (2003), a teoria das necessidades adquiridas desenvolvida
por McClelland sustenta que a necessidade de auto-realização decorre das
possibilidades de interação do indivíduo com o seu ambiente de trabalho, pelas
oportunidades que lhe são oferecidas de demonstrar o seu potencial de trabalho.
Nas escolas investigadas, pelas próprias características do trabalho realizado
há um ambiente propício para isso, ou seja, para que os funcionários possam opinar,
mostra o seu potencial criativo e a sua capacidade de trabalho, conforme se depreende
da análise dos dados apresentados no gráfico 2.
109
Gráfico 2. Distribuição percentual decrescente dos atributos do diretor da escola.
93,0 90,9 90,2 89,0 88,9 86,2 84,881,7 80,4 77,9
72,4
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
VI V IX VIII II I III VII X XI IV
Atributos do diretor da escola
%
Fonte: Pesquisa própria, 2007
Conforme exposto no gráfico 2, sobre o relacionamento dos profissionais
questionados com o Diretor da escola, os itens IV, XI e X são os que apresentaram
menor percentual de respostas afirmativas (sim). É fato que, na percepção dos
professores, há interferência do diretor da escola no trabalho a ser feito (item IV),
conforme a opinião de 72,4% dos entrevistados. Em seguida 77,9% afirmam que o
diretor reconhece e elogia o trabalho dos professores. Outros 80,4% indicaram que o
diretor fornece incentivo ao mesmo tempo em que cria oportunidade de crescimento
para o profissional na instituição.
Saliente-se a pertinência da seguinte afirmação: entre os itens mais
afirmativos, estes 3 itens acima especificados, são os de menor percentual. É provável
que nestes três itens resida uma maior insatisfação por parte dos professores,
exatamente porque nem todos visualizam as perspectivas descritas anteriormente.
Deslocando a análise para os indicadores de maior percentual de respostas
positivas, verifica-se o seguinte resultado: o indicador VI (sabe usar sua autoridade)
110
obteve 93% das respostas; o indicador V (está sempre presente) ficou com 90,9% do
total de afirmações; e o indicador IX (assume sua responsabilidade diante das
dificuldades) se fez presente em 90,2% das respostas válidas.
Trazendo essas colocações para o âmbito das teorias motivacionais,
percebe-se que estas apresentam relação estreita com a teoria das necessidades
socialmente adquiridas, formulada por McClelland (1971), cujos pressupostos mostram
que aqueles que assumem cargo de chefia, a exemplo dos diretores de escolas, devem
gostar de comandar, bem como de competição e de status, pois sabem usar sua
autoridade.
Além disso, o fato de estar sempre presente é uma indicação de que, os
diretores estão em busca de um feedback para o seu desempenho; o qual, segundo os
fundamentos da teoria assinalada, é um indicador de controle de qualidade do trabalho
institucional, ou seja, a escola se destaca porque a sua direção, está sempre atenta
para corrigir desvios e evitar dificuldades.
Visto por outro ângulo, o fato de o diretor assumir a responsabilidade pela
dificuldade enfrentada no desempenho de suas atividades em sala de aula, encontra
ressonância na constatação de que, a responsabilidade, segundo os fundamentos da
teoria de McClelland (1971) é um fator de motivação intrínseco ao trabalho em si.
No tocante à variável salário, é considerado um ponto crítico em estudos
motivacionais, pois segundo os pressupostos da teoria dos dois fatores desenvolvida
por Herzberg (1972), na condição de fator higiênico, o salário aparece relacionado á
parte extrínseca do trabalho, e, portanto, serve para evitar insatisfação, mas não é
considerado como fonte de motivação; dado que esta é decorrente de fatores
extrínsecos ao trabalho, conforme discutido linhas atrás.
111
A percepção dos profissionais questionados sobre a variável salário, acha-se
exposta nos dados da tabela 8 e do gráfico 3, mediante os quais infere-se que, ao
contrário dos fundamentos da teoria dos dois fatores, entre esses profissionais, a
variável salário é fonte de insatisfação.
Tabela 8. Meu salário Atributo
Sim
Não
Sem resposta
N % n % n % I Me permite fazer algumas despesas extras 91 13,5 581 86,5 202 23,1 II É correto pelo trabalho que faço 55 8,0 636 92,0 183 20,9 III Considera meu trabalho na organização 113 20,6 436 79,4 325 37,2 IV É normal em relação aos sál. Das organizações 102 16,0 534 84,0 238 27,2 V Me satisfaz em relação aos sal. das organizações 130 23,7 419 76,3 325 37,2 VI Entre o meu sal. e os prêmios ... no fim do mês 32 5,2 582 94,8 260 29,7 VII Os aumentos de sal. acompanham a inflação 55 8,9 566 91,1 253 28,9 VIII Existe uma relação entre ... informação 103 16,8 509 83,2 262 30,0 Fonte: Pesquisa própria, 2007
Os atributos que constam na tabela 8 foram construídos segundo a
perspectiva de que é comum ouvir dos funcionários das escolas públicas, algumas
queixas sobre a falta de valorização profissional, geralmente associada aos baixos
salários que recebem como funcionário do setor público.
Conforme se depreende das colocações feitas por Herzberg (1972), o
dinheiro pode motivar algumas pessoas sob determinadas condições, mas não é o
suficiente para manter essa motivação por um longo tempo.
Essa afirmação encontra-se respaldada nas colocações feitas por Silva
(2007, p. 23-24) indicando que “[...] a motivação é uma força que se encontra no interior
de cada pessoa estando geralmente ligada a um desejo. Dessa forma, suas fontes de
energia estão dentro de cada ser humano”.
112
Assim sendo, o salário não pode ser visto como fonte de motivação, haja
vista que, a motivação pode se diferenciar de indivíduo para indivíduo já que a força
motivadora encontra-se dentro de cada ser humano. Dela partem os fatores que
provocam, direcionam e sustentam o comportamento do indivíduo em busca de seus
objetivos.
Das colocações feitas por Silva (2007), compreende-se que a motivação
deve ser entendida como: vontade, inerente a cada indivíduo, de empregar altos níveis
de esforço em direção a metas organizacionais, condicionada pela capacidade do
esforço de satisfazer alguma necessidade do indivíduo.
Seguindo essa perspectiva, os dados apresentados no gráfico 3, indicam que
o salário, na percepção dos profissionais investigados não é suficiente para suprira as
suas necessidades; daí porque alguns profissionais exercem outras atividades para
complementar a remuneração que recebem no magistério.
Vale salientar que aqueles que permanecem no magistério, normalmente
trabalham em mais de uma escola para atender a essa finalidade de complementação
salarial.
Gráfico 3. Distribuição percentual decrescente dos atributos do salário
113
23,720,6
16,8 16,0 13,58,9 8,0 5,2
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
V III VIII IV I VII II VI
Sobre o meu salário
%
Fonte: Pesquisa própria, 2007
Conforme se depreende da análise dos dados que constam no gráfico 3, é
inegável a insatisfação dos professores com os seus salários, pois dentre as dimensões
estudadas nesta pesquisa, chama-se atenção no aspecto atinente aos itens
relacionados com essa variável, dado que, o menor percentual registrado foi de 5,2%,
corresponde ao item VI. Isso indica que não há agregação de outros valores a título de
prêmios por um resultado alcançado, ou seja, independente de qualquer esforço extra,
o salário é fixo.
Segundo Herzberg (1972), o salário não é fonte de motivação e sim de
satisfação. Assim sendo, o salário, a premiação, as vantagens que possam ser
acrescidas ao salário fixo, diante de qualquer esforço adicional e que podem servir
como fonte de recompensa por qualquer realização bem-sucedida não ocorre entre as
organizações do setor público.
Ante o exposto, deve-se considerar uma falha importante na estratégia de
motivação, um fator de preservação da motivação, para que os professores se
114
esforcem mais sabendo que além da realização pessoal, poderão receber um incentivo
pecuniário por ultrapassar as metas estabelecidas pela Secretaria de Educação do
Estado, cujo resultado, em cada unidade de ensino, depende do empenho de cada um.
O segundo item de menor percentual revela um nível de insatisfação
relacionada à falta de incentivo financeiro para aqueles que buscam aperfeiçoamento
contínuo, pois segundo indicaram 8% dos sujeitos investigados, não há relação entre
salário, nível de estudo e de informação.
Isso serve de reforço para as colocações feitas anteriormente indicando de
que a principal fonte de motivação dos sujeitos investigados decorre da sua realização
pessoal e não da recompensa financeira que recebem pelo trabalho que executam
cotidianamente.
Por outro lado, os indicadores de maior percentual foram os seguintes:
23,7% indicando que o salário satisfaz em relação ao que é pago em outras
organizações similares; e, 20,5% afirmando que o salário considera o tempo em que o
profissional está vinculado à organização.
Segundo os fundamentos da teoria de Herzberg (1972), o salário não deve
vir sozinho, ele deve ser acrescido de recompensas, ou seja, a organização precisa
estimular, de alguma forma, seus funcionários a atuar na busca do melhor resultado
possível.
Nesse ponto, há concordância com a teoria de Herzberg (1972), pois isso
reflete, de certa forma um reconhecimento, um estímulo para que haja cooperação
entre as pessoas; sobretudo, diante do adicional que se paga por tempo de serviço,
notadamente, sob a forma de qüinqüênios, comumente paga pelo sistema de
115
remuneração adotado pelo Governo do Estado da Paraíba, aos seus funcionários em
geral, e, não apenas àqueles vinculados ao magistério.
É importante ressaltar que não pode haver discrepância no valor do salário
base que é pago às categorias que formam o magistério, pois pela legislação vigente,
há um piso estabelecido de acordo com as condições de cada trabalhador, conforme
comentado anteriormente no item que trata do plano de cargos, carreira e remuneração
do magistério paraibano.
Passando o foco de análise para a variável: relacionamento com colegas de
trabalho, conforme mostrado na tabela 8 e no gráfico 4, admite-se que a interação com
os colegas de trabalho, principalmente na ocasião do planejamento de atividades, é um
indicador que reforça a qualidade do ensino.
Trata-se, portanto, de uma categoria de necessidade que, segundo a
perspectiva da teoria da hierarquia das necessidades de Maslow (1971) revela
crescimento pessoal, pois a relação com os colegas é uma necessidade que só se
torna visível no plano externo quando há cooperação enquanto estímulo que produz um
comportamento na direção da realização de um objetivo específico.
Essa constatação parte da pressuposição de que, nesse espaço de trabalho
ocorre um intercâmbio de experiência que; segundo Freire (1997), lhes permite articular
a experiência pedagógica com a prática social de que participam, implicando em
ganhos de qualidade, nos processos que se desenvolvem em sala de aula.
116
Tabela 9. Os meus colegas de trabalho em geral aparecem Atributo
Sim
Não
Sem resposta
n % n % N % I Simpáticos 613 92,0 53 8,0 208 23,8 II Competentes 648 93,5 45 6,5 181 20,7 III Trabalhadores 615 94,8 34 5,2 225 25,7 IV Conscientes de suas responsabilidades 635 91,5 59 8,5 180 20,6 V Discretos 577 92,9 44 7,1 253 28,9 VI Abertos ao diálogo 547 88,2 73 11,
8 254 29,1
VII Calmos 479 80,4 117 19,6
278 31,8
VIII Desejosos de progredir 475 78,4 131 21,6
268 30,7
No trabalho as relações com meus colegas são IX Agradáveis 700 97,0 22 3,0 152 17,4 X Confiáveis 533 88,8 67 11,
2 274 31,4
XI Existe uma real solidariedade entre nós 531 80,9 125 19,1
218 24,9
Fora do trabalho XII Temos prazer em nos encontrar 499 69,0 224 31,
0 151 17,3
Fonte: Pesquisa própria, 2007
Para análise da variável relacionamento com os colegas foram consideradas
três categorias de atributos distintos: aqueles relacionados com as características
individuais, relações dentro e fora do trabalho. Optou-se por tratar dessas questões em
separado por compreender-se que cada pessoa possui um comportamento, desenvolve
atitudes e percepções de forma diferenciada, os quais são fundamentais para se
entender o comportamento organizacional.
O comportamento individual, na visão de Drucker (1981), é um aspecto
oculto, quando se procura explicar e prever, o comportamento da organização. Faz-se
oportuno esclarecer o seguinte: o comportamento, refere-se às ações das pessoas; ao
117
passo que o comportamento organizacional refere-se às ações das pessoas no
trabalho.
O entendimento das características de cada indivíduo permite explicar o
resultado indicando se há ou não motivação e satisfação no trabalho, já que, segundo
descreve Andrew (2003), a importância de se reconhecer as necessidades decorre da
compreensão de que: as atitudes para com o trabalho tanto podem ser favoráveis
quanto desfavoráveis, revelando envolvimento, comprometimento, desempenho e
produtividade como resultados daí decorrentes.
As relações no trabalho são de fundamental importância quando se
considera a qualidade dos processos inerentes à educação, pois, conforme descreve
Gadotti (1996), a educação é um processo que envolve vários atores; cada um com um
papel específico a desempenhar, tendo em vista que esse trabalho conjunto é que
revela o resultado da avaliação institucional.
Gráfico 4. Distribuição percentual decrescente dos atributos dos colegas de trabalho.
97,0 94,8 93,5 92,9 92,0 91,5 88,8 88,2
80,9 80,4 78,4
69,0
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
IX III II V I IV X VI XI VII VIII XII
Os colegas de trabalho em geral aparecem
%
118
Fonte: Pesquisa própria, 2007
De acordo com o gráfico 4, pode-se perceber que o item XII, indicando o
atributo “temos prazer em nos encontrar”, com 69% de indicação, apresenta o menor
percentual de respostas afirmativas. Trata-se de um atributo que engloba o
relacionamento fora do trabalho, sendo também um ponto importante a considerar,
sobretudo quando se trata de relações interpessoais conflituosas, em que as pessoas
apresentam divergências na forma de conduzir o trabalho ou de entrosamento no
grupo.
O encontro fora do trabalho mostra que os profissionais ligados ao magistério
da Paraíba, reconhecem as necessidades sociais descritas por Maslow (1971) que
engloba o circulo de amizade, pois o trabalho é uma extensão da vida pessoal. Assim, o
prazer de encontrarem-se fora do trabalho, decorre de razões pessoais, ligadas ao
sentimento de afeição que os une.
Em seguida, o menor percentual de respostas afirmativas coube a um
atributo pessoal, representado pelo item VIII, com 78,4% das respostas indicando
“desejosos de progredir”. Esse desejo, segundo se depreende das lições extraídas da
teoria da hierarquia das necessidades de Maslow (1971) faz com que os profissionais
pesquisados coloquem seus talentos na direção do alcance do melhor resultado no
trabalho que realizam.
Por outro lado, o maior índice de respostas dadas a um atributo pessoal
representou 94,8% das respostas, para o item III indicando que os colegas são
“trabalhadores”. Essa resposta pode ser entendida, a partir da hierarquia das
necessidades de Maslow (1971) como necessidade de realização, mostrando
119
competência para o exercício da função, sem considerar a motivação por meio de
algum incentivo financeiro, por exemplo.
Vale salientar que, o maior percentual de resposta coube ao indicador que
trata das relações no trabalho, com 97% das indicações para o item IX, relatando que
essas relações são “agradáveis”. Ainda com base na teoria de Maslow (1971), pode-se
considerar que essas relações denotam confiança, simpatia, satisfação.
Assim sendo, deduz-se que esses atributos, de fato, contribuem para que os
funcionários das escolas investigadas realizem as suas necessidades de auto-estima e
de auto-realização pessoal e profissional, com reflexos imediatos em seu nível de
satisfação e motivação.
No tocante à variável promoções, cujos resultados são apresentados na
tabela 10 e gráfico 5; verifica-se, com base na teoria de Herzberg (1972), que a
motivação não está sofrendo reforço por meio de incentivos, os quais são considerados
fatores de preservação, cuja ausência elimina a satisfação dos profissionais para com a
política da instituição à qual, acham-se vinculados.
Tabela 10. As promoções Atributo
Sim
Não
Sem resposta
N % n % n % I Temos promoções regulares 76 12,7 522 87,3 276 31,6 II As promoções dependem somente da competência 150 27,0 406 73,0 318 36,4 III As regras de promoções são claras e conh. por todos 151 25,7 436 74,3 287 32,8 IV Fazemos muitos cursos, o que nos permite ser promov. 95 16,8 471 83,2 305 34,9 V A analise de desempenho tem papel imp.. nas promoções
144 27,3 384 72,7 346 39,6
VI A maneira como as promoções são feitas me satisfaz 89 17,5 420 82,5 365 41,8 VII Já fui promovido uma ou mais vezes 147 26,0 419 74,0 308 35,2 VIII Considero que o cargo que ocupo ...promovido 138 25,7 399 74,3 337 38,6 Fonte: Pesquisa própria, 2007
120
Conforme exposto na tabela 10, as promoções configuram-se como sendo o
modo mais significativo de reconhecer o bom desempenho de um profissional, uma
recompensa pelo seu esforço. Trata-se, de aspecto da área da administração de
recursos humanos, relacionado com a avaliação de desempenho.
As promoções devem ocorrer do modo mais justo possível, ou seja, devem
ser baseadas no mérito e sem qualquer indício de favorecimento, para evitar
ressentimentos e outros tipos de problemas que contribuirão para afetar a produtividade
do trabalhador.
Promoção deve ser vista como premiação para aqueles que demonstram
maior competência nas atividades que desenvolvem. Isso, segundo a teoria da
expectativa desenvolvida por Vroom (1964), ocorre porque os indivíduos esperam
certas conseqüências de seu comportamento. Essas expectativas afetam seu
comportamento e a valência relacionada à motivação.
Valência é entendida como o poder motivador decorrente do resultado de um
comportamento que apresenta variação de indivíduo para indivíduo, dado que a
promoção é uma recompensa extrínseca associada a um resultado de desempenho. No
caso da educação, por exemplo, a qualidade do trabalho realizado poderia ser
recompensada com uma promoção.
121
Gráfico 5. Distribuição percentual decrescente dos atributos da promoção
27,3 27,0 26,0 25,7 25,7
17,5 16,812,7
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
V II VII III VIII VI IV I
Atributos da promoção
%
Fonte: Pesquisa própria, 2007
As promoções deixam muito a desejar na opinião dos professores, pois
tomando por base os dados do gráfico 5, observa-se a presença de baixos percentuais
em relação a outras dimensões anteriormente analisadas, sendo apenas um pouco
inferior às opiniões em percentuais manifestadas com os salários.
Do total de respostas afirmativas, as de maior percentual foram as seguintes:
27% indicando que as promoções dependem exclusivamente da competência,
representada no item II; e 27,3% revelando que estas dependem unicamente da análise
de desempenho, conforme indicado no item V.
Sendo coerente com a visão teórica de Vroom (1964), é possível afirmar que,
a promoção é uma forma de recompensa individual, isto é, ela não atinge a todos
indistintamente, mas apenas aqueles que atingiram determinado patamar de
desempenho definido pela organização.
Ainda com base na teoria de Vroom (1964), a premiação com uma
promoção, de fato, dependem da competência, que por sua vez reflete no desempenho,
122
na expectativa dos resultados, pela aplicação do esforço, pela demonstração de talento,
sendo vista fonte de incentivo para aumentar a valência.
Quanto às afirmativas de menor percentual referentes à variável promoção,
verifica-se que as mesmas estão representadas nos itens I, citado por 12,7% relatando
que estas ocorrem com regularidade; e IV, citados por 18,8%, demonstrando que as
promoções acham-se vinculadas à qualificação, mediante a realização de cursos.
Esses indicadores servem de complemento para a análise anterior, pois a
promoção quando associada à motivação, conforme indica Herzberg (1972) decorre do
trabalho desafiador, do reconhecimento e da realização. Esses fatores servem de
incentivos que proporcionam satisfação no trabalho, ao mesmo tempo em que reforçam
a motivação, essencialmente em termos de auto-estima e de valorização.
A qualificação profissional, o aperfeiçoamento contínuo, embora citado por
uma minoria, é uma forma de incentivo necessária para aprimorar a qualidade do
ensino. Isso segundo Veiga (1996), deve fazer parte das condições de trabalho,
inerentes à política de gestão de recursos humanos das instituições educacionais,
gerando expectativas positivas no desempenho dos docentes.
Ao satisfazer a expectativa de promoção, a instituição proporciona uma
recompensa capaz de reforçar o desejo daquele profissional em repetir mo
desempenho que lhe rendeu os resultados esperados e valorizados. Isso, inclusive
serve de estímulo para evitar transferências e desligamentos, bem como mudança de
emprego para atuar em outro local realizando a mesma ou outra atividade.
Na tabela 10 trata-se da perspectiva de mudança de emprego, associada à
questão da motivação no trabalho. Trata-se de uma variável cuja análise pode indicar
falta de motivação para com o trabalho e as tarefas a ele associadas, pois conforme
123
indica Maslow (1971) se o trabalhador deseja mudar de emprego é porque as suas
necessidades sociais não estão sendo atendidas.
Pode-se considerar, também, a perspectiva da teoria de McClelland (1971)
sobre a necessidade de realização, ou seja, se o funcionário já não se dedica tanto no
desempenho de suas atividades rotineiras, e se está desejoso de mudar de emprego,
provavelmente, é porque já não se sente realizado, talvez por achar que poderia fazer
mais e não está tendo oportunidade de mostrar o seu talento, o seu potencial.
Tabela 11. Você pensa em mudar de emprego Pensa em mudar N % Sim 384 43,9 Não 456 52,2 Não respondeu 34 3,9 TOTAL 874 100,0
Fonte: Pesquisa própria, 2007
Observa-se, através dos dados da tabela 11, que mais de 40% dos
professores questionados manifestaram o desejo de mudar de emprego. Analisando
esse resultado, pode-se perceber uma forte insatisfação com a situação atual em
relação aos benefícios do emprego, o que pode colocar em risco a estabilidade do
quadro profissional qualificado, caso esses profissionais insatisfeitos migrem para outro
emprego.
Com base nos fundamentos da teoria da expectativa de Vroom (1964), é
possível afirmar que, se houvesse novas oportunidades neste mercado de trabalho,
provavelmente, haveria uma grande evasão dos professores mais qualificados com
grande perda de profissionais competentes criando um grande retrocesso no quadro de
qualificação no ensino médio público da Paraíba.
124
É interessante ressaltar que existe carência de pessoal qualificado na rede
de ensino público estadual na Paraíba. Saliente-se a pertinência da seguinte
observação: um sistema educacional é considerado eficiente quando otimiza o uso de
recursos escassos, o que equivale a dizer que maximiza os seus benefícios em relação
aos seus custos.
Os benefícios sociais decorrem da qualificação da força de trabalho
engajada na atividade do magistério. Sabe-se que, entre as deficiências do sistema
educacional brasileiros, são apontadas, dentre outras, a questão da desqualificação da
escola tanto pela ausência ou precariedade das instalações e equipamentos, quanto
pela ausência de material escolar e livros didáticos, como também pela escassez de
professores qualificados.
O quadro esboçado acima certamente contribui para desmotivar o
profissional do magistério paraibano que pensa em mudar de emprego, perpassando a
idéia de que esses profissionais sentem-se desvalorizados, sentindo-se angustiados
com as condições existentes nos seus locais de trabalho.
Com poucas exceções, os profissionais do magistério paraibano são
pessoas obstinadas que acreditam no trabalho que realizam; preocupadas em vencer o
desafio de educar adequadamente, ultrapassando os horizontes de dificuldade
existente em cada espaço das escolas investigadas, cultivando o ambiente do aprender
a aprender, fugindo do ensinar a copiar.
Registre-se, entretanto, que, para atingir essa nova perspectiva, é preciso
estar dotado de extrema competência e imbuído de motivação para desempenhar
adequadamente o seu papel, sabendo que educação não é sacerdócio, mas uma
125
atividade produtiva, uma profissão estratégica cujo trabalho reside em ampliar e
potencializar as oportunidades de vida para todos os seus alunos.
Assim visto, não há como dissociar a motivação da qualidade da atividade
que está sendo desenvolvida. Essa linha de raciocínio se faz presente na
argumentação desenvolvida por Saviani (1995), Veiga (1996), Freire (1997) e Casassus
(2002), os quais encontram-se dentre os autores citados nesse estudo, e que tratam da
competência dos profissionais ligados ao magistério, fazendo uma crítica importante
sobre a prática docente, o domínio dos conteúdos, as questões de natureza
metodológica e a superação das dificuldades inerentes ao próprio processo ensino
aprendizagem, considerando a limitação de recursos existente em cada unidade
educacional que investigamos.
Essas digressões são importantes para abrir espaço à análise das questões
do bloco III, as quais enfatizam aspectos relativos ao trabalho em si. Reiterando a
argumentação anterior, pode-se dizer que o professor do ensino público da Paraíba
vivencia uma situação de precariedade em sua carreira profissional, no sentido de
remuneração, carreira e cidadania, conforme se depreende da análise dos dados da
tabela 12 enfatizando esses aspectos.
126
Tabela 12. Situação da remuneração, carreira e cidadania Fonte:
Pesquisa própria, 2007
O conjunto de variáveis expostos na tabela 12 permite deslocar o eixo de
análise para três vertentes fundamentais no estudo da motivação dentro da realidade
do mundo do trabalho contemporâneo: a remuneração, a carreira e a cidadania.
A remuneração, como se sabe é condicionada pela política salarial do
governo estadual, estando defasada pela política de arrocho que leva os profissionais
da educação a uma jornada de trabalho mais extensiva para complementação de sua
renda e, por conseguinte, de seu orçamento doméstico.
No caso dos profissionais questionados, sobressaem duas questões
interessantes: 64,4% declararam que a sua renda é a parte principal do seu orçamento
doméstico; e que para 76,2% o salário como professor é insuficiente para atender as
suas necessidades.
Atributo N % 1. Sua renda no orçamento doméstico é considerada A. Principal 563 64,4 B. Complementar 290 33,2 Não respondeu 21 2,4 2. Como considera seu salário como professor? A. Insuficiente 666 76,2 B. Complementar 162 18,5 C. Supervalorizado 22 2,5 Não respondeu 24 2,7 3. tem havido possibilidade de progresso profissional Sim 264 30,2 Não 453 51,8 Não respondeu 157 18,0 4. O que determinou a sua escolha profissional A. Desejo anterior 576 65,9 B. Sobrevivência 223 25,5 C. Status 16 1,8 Não respondeu 59 6,8 5. Pensa em mudar de profissão? Sim 318 36,5 Não 509 58,2 Não respondeu 47 5,3
127
Conforme a teoria da Hierarquia das necessidades de Maslow (1971), o não
atendimento das necessidades do trabalhador, implica na geração de um estado de
tensão que compromete a produtividade e a qualidade do seu trabalho. Uma conclusão
óbvia que se depreende da referida teoria é que os profissionais do magistério
paraibano, a exemplo de qualquer outra categoria profissional, necessitam de um
salário suficiente para alimentar, abrigar e proteger a si mesmos e às suas famílias, de
modo satisfatório.
Esse raciocínio é compartilhado por Saviani (95), Veiga (1996) e Casassus
(2002) ao admitirem que, existe relação entre qualidade do ensino e segurança
material: ter o suficiente para viver e ter garantia de renda. A literatura citada comenta
que existe relação positiva entre desempenho dos alunos e satisfação do docente e,
inversamente, entre o estado de insatisfação do docente e o mau desempenho dos
alunos.
Trata-se, portanto de uma referência importante para ser trabalhada dentro
das estratégias de motivação, atendendo as necessidades internas do indivíduo que
geram motivação, fazendo com que este direcione suas ações e seu comportamento
para que a instituição educacional investigada possa atingir seus objetivos e suas
metas.
Quanto à carreira, dentro da teoria de Maslow (1971), pode ser situada no
plano das necessidades de segurança e estabilidade, ou seja, essa necessidade inclui
além da estabilidade no emprego, a inexistência de coação e de tratamento arbitrário e
a existência de regulamentos claramente definidos.
Segundo revelam os dados analisados, 51,8% dos profissionais
questionados afirmaram que não tem havido possibilidade de progresso funcional.
128
Trata-se de um dado relevante, pois, expressa a avaliação da maioria dos sujeitos
sobre essa questão que, conforme exposto anteriormente, interfere diretamente na
motivação e na qualidade do trabalho docente.
No tocante às variáveis que expressam questão de cidadania, as quais
acham-se representadas, pelo livre arbítrio que todos os profissionais devem ter ao
fazerem suas escolhas profissionais, enfatizou-se a escolha profissional e a
possibilidade de mudança de profissão.
No primeiro caso, verificou-se que, mais de 6 em cada dez profissionais
questionados, ou seja, 65,9% do total indicaram que, escolheram atuar como
profissional do magistério atendendo a um desejo pessoal, anterior ao exercício da
profissão, como forma de realização pessoal, por assim dizer.
No segundo caso, observou-se que 36,5% dos professores manifestaram o
desejo de mudar de profissão. Ou seja: aproximadamente, 4 a cada 10 professores
admitem a possibilidade de mudar de profissão. Isso revela, sob o prisma de análise da
teoria da hierarquia das necessidades de Maslow (1971), há uma indicação de
frustração na realização de seu desejo de reconhecimento pela sua competência, ou
seja, esses profissionais procuram dar o melhor de si para o alcance dos objetivos e
metas organizacionais, mas, também, desejam ter o reconhecimento pelo trabalho que
realizam.
Esses dados indicativos de cidadania revelam a face de uma realidade cruel
para esta profissão no ensino médio, exatamente por mostrar grande insatisfação que
tem sua origem e seus maiores motivos nos salários e na engessada estrutura de um
plano de carreira decente que promova uma premiação mais adequada para as
promoções com base na competência e no bom desempenho.
129
Tabela 13. Avaliando a vida profissional e as relações no trabalho Atributo
Não Muito fraco
Moderado Muito forte Não resp.
6. Sinto-me frustrado com meu trabalho
461 52,7 56 6,4 242 27,7 78 8,9 37 4,2
7. O trabalho direto com os alunos causa muito stress
313 35,8 86 9,8 313 35,8 104 11,9 58 6,6
8. Relaciono-me facilmente. com problemas. dos meus alunos
202 23,3 64 7,3 376 43,0 134 15,3 97 11,1
9 Sinto que influencio pos. os alunos através do meu trabalho
193 22,1 63 7,2 323 37,0 202 23,1 93 10,6
10. Sinto-me feliz após realizar um trabalho bem próximo ao aluno
189 21,6 53 6,1 216 24,7 313 35,8 103 11,8
11. Sinto que no meu trabalho tenho realizado coisas que valem a pena
198 22,7 59 6,8 266 30,4 253 28,9 98 11,2
12. No meu trabalho, relaciono-me muito calmamente com os problemas emocionais que aparecem.
209 23,9 62 7,1 387 44,1 124 14,2 92 10,5
Fonte: Pesquisa própria, 2007
Conforme destacam Lapo e Bueno (2008), a vida profissional é a expressão
máxima dos vínculos que são estabelecidos entre a pessoa e o trabalho. O trabalho
deve ser dotado de conteúdo significativo para expressar interesse, sonho, realização,
esperança e ambição, estabelecendo relações que implicam em verdadeiras
aprendizagens de vida.
No trabalho, cada profissional, motivado e satisfeito com as tarefas,
atribuições e resultados de suas realizações, encontra um sentido autêntico para a sua
vida, ao gostar daquilo que faz cotidianamente: ou seja, o trabalho é o espaço em que
cada profissional demonstra a sua potencialidade de fazer as coisas e de sentir-se
realizado com aquilo que faz.
Saliente-se a pertinência da seguinte observação: o profissional tem a
necessidade de liberdade para fazer suas escolhas que dêem sentido ao seu agir.
130
Liberdade aqui é entendida como possibilidade que cada um vislumbra de eleger suas
escolhas, de acordo com seus desejos e ambições, consciente do valor que isso
representa no seu universo de motivação e de realização profissional.
As considerações feitas anteriormente são de extrema relevância quando se
considera que a educação é uma atividade específica, um trabalho que desempenha
um papel de determinante na vida das pessoas: constitui-se no alicerce de sua vida
profissional e formação para o exercício da cidadania.
Tomando por base essas reflexões chega-se á análise dos dados
apresentados na tabela 12, destacando-se as seguintes categorias de respostas:
poucos são os profissionais que se sentem frustrados com o seu trabalho, apenas 6,2%
do total assinalaram essa resposta; há também um contingente expressivo de
profissionais indicando que: não se sentem felizes após realizar um trabalho bem
próximo ao aluno (35,8%) e que não sentem que realizam coisas que valem à pena no
seu trabalho (28,9%).
Trata-se de dados que merecem uma avaliação cuidadosa por parte dos
formuladores de estratégias de motivação, haja vista que a educação, conforme
destaca Casassus (2002), é um tipo de atividade de valioso conteúdo emocional, ou
seja: a satisfação e a realização desses profissionais, apresentam um peso muito maior
do que a compensação financeira, conforme exposto anteriormente nesse estudo.
Na perspectiva de análise da teoria da hierarquia das necessidades de
Maslow (1971), essa situação indica que a necessidade de estima não está sendo
realizada, isto é, esses profissionais não estão satisfeitos com o resultado de seu
trabalho, corroborando as indicações feitas por Lapo e Bueno (2008) de que a
insatisfação pode gerar abandono do emprego por parte dessa categoria profissional.
131
Ainda com base nos dados da tabela 12, verifica-se que, 43% dos
profissionais questionados revelaram que apresentam dificuldade de relacionamento
com os problemas de seus alunos; e que 44,1% indicaram não se relacionar muito
calmamente com os problemas emocionais que aparecem.
Retomando as colocações anteriormente feitas a partir das colocações de
Saviani (1995), Gadotti (1993) e Freire (1997), reafirma-se a constatação de que o
conteúdo da motivação decorre da forma como as pessoas se relacionam com o seu
trabalho. No caso da educação, por exemplo, parafraseando os autores citados,
considera-se se tratar de atividade em que se percebe claramente a predominância de:
“muito amor, muita doação e pouco salário”.
Assim sendo, resulta preocupante o quadro esboçado na tabela 12, sobre a
forma como os profissionais do magistério paraibano se vêem diante do exercício de
sua atividade profissional. Essa afirmação leva em conta que esses profissionais estão
empenhados em formar cidadãos e, portanto, não deveriam encontrar tanta dificuldade
em articular a sua prática, bem como seus conhecimentos teóricos, para tratar de
questões emocionais decorrentes do seu relacionamento com os alunos.
Trazendo essas questões de conteúdo emocional para o âmbito da sala de
aula, enquanto espaço privilegiado de interações onde ocorre o processo ensino-
aprendizagem, pode-se afirmar que dessa interação depende a qualidade do ensino,
depende da forma como esses profissionais cumprem a sua função social de formar
outros profissionais, qualificando-os para o trabalho e para o exercício da cidadania.
A relação com os alunos é, portanto, uma variável que merece ser
aprofundada, pois como se sabe, a educação é uma atividade de grande conteúdo
132
afetivo, requerendo forte empatia e, por isso, seus resultados dependem da habilidade
de cada profissional em manter um bom relacionamento com seus alunos.
Esse aspecto é tratado no gráfico 6 contendo os atributos da relação com
alunos, que constituem a matéria prima a ser trabalhada pelos profissionais do
magistério, tendo como insumo básico o domínio do conteúdo teórico de suas
disciplinas.
Além desse conhecimento teórico que se reflete no domínio de conteúdo, há
de se considerar o forte conteúdo emocional presente nas relações que se desenvolve
m cada sala de aula de cada uma das instituições abrangidas por essa pesquisa.
Gráfico 6. Relacionamento com os alunos
47,3
64,2
76,7 77,9 78,4 77,3 76,1
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
6. Frustrado 7. Stress 8. Relaciona. 9. Influência 10. Sente-sefeliz
11.Realização 12. Mantem acalma
Atributos na relação com o aluno
%
Fonte: Pesquisa própria, 2007
Conforme se verifica, mediante os dados apresentados no gráfico 6, no que
tange ao relacionamento com o aluno, existem dificuldades. Note-se que, 47,3%
133
informam se sentir frustrado; e, em relação ao stress com alunos, 64,2% mostraram
resposta afirmativa. Os demais percentuais não atingem 80% nos itens de 8 a 12.
Tanto a frustração quanto o stress contribuem, de forma negativa, para a
motivação dos profissionais engajados na educação, haja vista que, conforme se
depreende das colocações feitas por Bergamini (1997), Andrew (2003) e Esteve (2005),
a frustração não é de todo ruim; entretanto, ela precisa ser trabalhada para que ocorra
uma reversão do quadro, transformando-se em uma nova força impulsionadora, capaz
de fazer com que esses profissionais vislumbrem outras possibilidades para o seu
trabalho.
Alguns dos aspectos a serem destacados, em relação a essa perspectiva
são os seguintes: perspectiva de crescimento, mediante possibilidade de avanço, de
expansão de novos horizontes através do trabalho, de adotar uma nova visão de ver o
trabalho como um desafio, procurando melhorar sua qualificação, seus conhecimentos
e capacidades para lidar, de modo satisfatório, com as situações que geram stress, e
que comumente ocorrem em qualquer ambiente de trabalho. Esses desdobramentos
assumem peculiar importância diante das reflexões em torno dos dados que constam
na tabela 14, os quais tratam da atuação desses profissionais em outra rede de ensino.
Tabela 14. Expressão do sentimento como profissional atuante em outra rede de ensino
Fonte: Pesquisa própria, 2007
Atributo N
% 13. Você trabalho como professor em outra rede ...?
Não trabalha 559 64,0 Trabalha em rede Privada 106 12,1 Trabalha em rede Federal 4 0,5 Trabalha em rede Municipal 163 18,6 Não respondeu 42 4,8
TOTAL 874 100,0
134
Uma revelação importante é apresentada na tabela 14, onde se verifica que
mais de 60% dos professores questionados, não trabalham em outra rede de ensino.
Entre os que trabalham em outra rede de ensino 12,1% exercem suas atividades
laborais na rede particular; embora a maioria trabalhe com outra atividade de ensino na
rede municipal.
O fato de, a maioria dos profissionais vinculados às escolas investigadas,
atuarem em regime de dedicação exclusiva revela um aspecto importante: mesmo
insatisfeitos com a remuneração que foi considerada insuficiente para atender as suas
necessidades, ainda assim eles dedicam o seu tempo de trabalho em instituições da
rede pública, talvez pela estabilidade do emprego. Na visão de Campos (2005), essa
dedicação exclusiva a um único tipo de organização, pode ser considerada como
demonstração de dedicação e de lealdade; aspectos esses essenciais para a gestão da
qualidade, por ser capaz de demonstrar que esses profissionais sentem realização
naquilo que produzem.
Isso segundo a teoria de McGregor (1973), pode ser explicado pelos
componentes da teoria “Y” indicando que as pessoas sentem prazer em trabalhar
nessas escolas, mesmo sob condições adversas, assumindo a responsabilidade de
desenvolver um trabalho de qualidade, colocando todo seu conhecimento e
competência a serviço do alcance de resultados que possam ser considerados
satisfatórios para ambas as partes envolvidas.
Segundo os pressupostos dessa teoria, o salário passa a ser uma
importância secundária, ou seja, o trabalho em si é fonte de motivação. Isso implica em
considerar o pleno aproveitamento do potencial e da capacidade de cada um desses
135
profissionais, bastando, muitas vezes, apenas um elogio para mantê-los motivados,
para satisfazer o seu ego.
Na tabela 15 são apontadas algumas medidas descritivas, de natureza
estatística, para indicar a relação desses profissionais para com o seu outro emprego,
notadamente em relação a dois aspectos: a carga horária e a quantidade de alunos.
Tabela 15. Em relação ao seu outro emprego
Medidas descritivas Carga horária Quantidade de
alunos Média 22,75 175,4 Mediana 20,00 143,5
Desvio padrão 13,9 169,5 Coeficiente de variação 61,1 96,7 Percentil 25 a Percentil 75 20,00 a 25,00 51,0 a 220 IC com 95% de confiança 21,02 a 24,47 154,3 a 196,4 Respostas válidas 252 252
Fonte: Pesquisa própria, 2007
Através do conjunto de dados apresentados acima, observa-se que a carga
horária mediana em outro emprego é de 20 horas, com quantidade mediana de alunos
igual a 143 alunos, fato este citado por 252 professores (28,8%), percentual este um
pouco abaixo dos que afirmam ter outro emprego (100% - 64% = 36% na tabela
anterior).
Pela teoria de McGregor (1973), esse conjunto de dados serve de
demonstração para reafirmar a colocação feita anteriormente indicando que, as
pessoas são inerentemente motivadas a trabalhar e a realizar um bom serviço,
independente da recompensa financeira que, nesse caso específico passa a ter
importância menor do que o trabalho em si visto como fonte de motivação no trabalho.
Na tabela 16, correspondente às questões do bloco IV, estão expostos dados
relativos à consideração em torno da política educacional, sob a ótica dos profissionais
136
do magistério paraibano. Saliente-se a pertinência da observação de que a política
educacional é uma das prioridades na agenda social do governo.
A educação de qualidade como princípio pedagógico, é uma variável que
dever ser vista como uma estratégia de Estado para obtenção do desenvolvimento em
bases sustentáveis, sobretudo em conseqüência do desenvolvimento tecnológico
atualmente em curso, cujo avanço determina mudança no perfil da educação para
atender a essa nova demanda da sociedade brasileira.Em educação, o princípio da
qualidade demanda, como pré-requisito, a igualdade de oportunidades de acesso e
garantia de permanência na escola. Esse resultado, entretanto, embora de natureza
intangível, apresenta reflexos na motivação dos profissionais a ela vinculados, ou seja,
é através do seu empenho e da sua dedicação.
Esse resultado depende também da forma como os profissionais da
educação entendem as linhas de ação política direcionada para o desenvolvimento
desse setor, de modo que os professores tenham condição de desempenhar suas
atividades satisfatoriamente, a ponto de colocar seus alunos em condição de concorrer
com aqueles que estudam na rede particular.
137
Tabela 16. Política educacional sob a ótica dos profissionais do magistério paraibano
Fonte: Pesquisa própria, 2007
Há consenso entre os profissionais da educação de que os recursos
aplicados pelo governo nessa atividade são insuficientes para se ter um ensino de
qualidade e transformar a escola e a sala de aula em espaço de trabalho considerado
motivadores pelos profissionais que desenvolvem suas atividades laborais nesses
locais. Isso fica claro quando se observa que, segundo os dados da tabela 15, a maioria
dos professores afirma que os recursos destinados à educação não são suficientes
(70,9%) e que o principal financiador da educação é o governo federal (66,5%). A
maioria não percebe que o FUNDEB proporciona vantagem imediata ao professor
(27,5%). Apenas 19,9% possuem filhos que estudam na escola em que trabalha e que
sempre sonhou ser professor (52,1%).
Atributo n % 1. Em sua opinião, os recursos destinados à Educação são suficientes?
A. Sim 218 24,9 B. Não 620 70,9 Não respondeu 36 4,1 2. Em sua opinião, quem é o principal financiador da Educação? A. Governo Federal 581 66,5 B. Governo Estadual 164 18,8 C. Governo Municipal 9 1,0 D. Não sei 82 9,4 Não respondeu 38 4,3 3. Em sua opinião, a nova Lei que regulamenta o financiamento da educação (FUNDEB) proporcionará vantagem imediata ao professor?
A. Sim 240 27,5 B. Não 571 65,3 Não respondeu 63 7,2 4. Seus filhos estudam na escola que você trabalha? A. Sim 174 19,9 B. Não 464 53,1 Não respondeu 236 27,0 6. Em que momento você decidiu ser professor? A. Sempre sonhei ser professor 455 52,1 B. Nunca tinha pensado até começar a trabalhar 263 30,1 C. Um ano antes de começar a trabalhar 87 10,0 D. Ainda não decidi 15 1,7 Não respondeu 54 6,2
138
Surge aqui um aspecto curioso que emerge dos dados em comento: mesmo
considerando a dificuldade de recursos, a maioria dos professores sempre sonhou ser
professor. Esse dado é indicativo de que o trabalho para esses profissionais é fonte de
motivação, mesmo que o seu trabalho não esteja ocorrendo dentro das condições
ideais, para se definir um trabalho de qualidade.
Assim sendo, conclui-se que, os dados apresentados na tabela 15,
reafirmam a colocação feita anteriormente indicando de que a teoria da motivação de
McGregor (1973), notadamente os pressupostos da teoria “Y”, explicam porque o
trabalho é fonte de motivação para esses profissionais: ou seja, há uma disposição
inata desses profissionais para o desempenho dessa função, considerada como tarefa
nobre, envolvendo a organização de atividades que resultem na transmissão do saber,
de modo a garantir que ele seja efetivamente apropriado pelo aluno.
Gostar do que faz, ter predisposição para enfrentar o desafio de educar e
superar as limitações de recursos das escolas públicas da esfera estadual, são alguns
dos aspectos que se fazem presentes na motivação dos profissionais ligados ao
magistério paraibano.
Resta agora apresentar a validação dos resultados, mediante comparação
das respostas dadas pelos dois grupos investigados. Essa análise foi feita com a
aplicação do teste de Fischer e da Odds Ratio, os quais são medidas de confiança e
servem para garantir rigor nos resultados, ou seja, se há convergência ou divergência
de opinião entre as categorias de sujeitos investigados.
Tabela 17. Comparação da opinião dos professores Temporários e Efetivos através do teste de Fischer e da Razão de chances (Odds ratio) para o item trabalho.
Meu trabalho é
Temporário Efetivo Teste Fisher Odds-Ratio IC 95% e n % n % Valor-p
I. Interessante 267 96,7 378 92,9 2,28
139
Pouco interessante 9 3,3 29 7,1 0,040* 1,06 a 4,89 TOTAL 276 100,0 407 100,0
II. Variável 205 94,0 331 90,7 0,161
1,62
0,83 a 3,14 Monótono 13 6,0 34 9,3
TOTAL 218 100,0 365 100,0 III. Fácil 97 42,0 157 43,3
0,799 0,94
0,68 a 1,32 Difícil 134 58,0 205 56,5
TOTAL 231 10,0 362 100,0 IV. Não é perigoso 172 74,1 271 73,8
0,999
1,02
0,70 a 1,48 É perigoso 60 25,9 96 26,2
TOTAL 232 100,0 367 100,0 V. Útil 241 97,6 403 99,3
0,089 0,30
0,07 a 1,21 Inútil 6 2,4 3 0,7
TOTAL 247 100,0 406 100,0 VI. Permite tomar in. 218 90,5 346 89,9
0,891 1,07
0,62 a 1,84 Não permite ... 23 9,5 39 10,1
TOTAL 241 100,0 385 100,0 VII. Deixa tempo... 122 53,3 235 64,4
0,008* 0,63
0,45 a 0,88 Não deixa tem. 107 46,7 130 35,6
TOTAL 229 100,0 365 100,0 VIII. Permite usar conh. 256 98,1 399 97,3
0,611 1,41
0,48 a 4,11 Não tem rel. com ... 5 1,9 11 2,7
TOTAL 261 100,0 410 100,0 IX. Dá cons. de respons. 245 99,2 402 98,5
0,717 1,83
0,37 a 9,13 Não tem muita resp. 2 0,8 6 1,5
TOTAL 247 100,0 408 100,0 X. Permite contato freq. ... 247 97,2 384 97,0
1,000 1,10
0,43 a 2,84 Não me oferece... 7 2,8 12 3,0
TOTAL 254 100,0 396 100,0 XI. Me dá satisfação pés. 220 94,4 348 92,3
0,411 1,41
0,72 a 2,77 Não me dá sat. pessoal 13 5,6 29 7,7
TOTAL 233 100,0 377 100,0 XII. Uma expressão ... 217 96,4 355 95,2
0,539 1,38
0,59 a 3,22 Não expressa minhas... 8 3,6 18 4,8
TOTAL 225 100,0 373 100,0 XIII. Uma rep. do que ... 225 95,7 362 94,3
0,272 1,37
0,64 a 2,94 Não rep. o que ... 10 4,3 22 5,7
TOTAL 235 100,0 384 100,0 *significativo a 5% Fonte: Elaboração própria, 2008
Conforme exposto na tabela 17, a primeira variável selecionada para esta
finalidade foi a que diz respeito ao item trabalho. Os resultados demonstram que: as
diferenças sobre a percepção do trabalho entre efetivos e temporários segundo o teste
de Fisher reside nos itens I e VII.
Em I, há evidência estatística de diferença entre os profissionais
categorizados como efetivo e temporário (denotado com um * sempre que o Valor-p
ficar menor que 0,05). A razão de chances (Odds ratio) informa que há
140
aproximadamente duas vezes mais chances de que o temporário ache o trabalho mais
interessante.
Justifica-se essa tendência com base nas considerações da busca de
experiência dos profissionais temporários, que desejam enriquecer seu currículo com a
realização de trabalhos para os quais possuem pouca experiência. Saliente-se a
pertinência das considerações feitas por Lapo e Bueno (2008), indicando que o trabalho
docente refere-se a um conjunto de ações que extrapolam o espaço sala de aula, pois
as atividades extraclasse, enriquecem a aprendizagem dos alunos, ao mesmo tempo
em torna o trabalho dos docentes mais motivador.
Para os profissionais efetivos, entretanto, isso não é novidade porque a fuga
da rotina, nessa ocasião, é algo a que estes estão acostumados. Assim sendo, essa
diferença de percepção e de sentimento em relação ao trabalho, ocorre também porque
cada um possui uma maneira diferente de analisar uma mesma realidade.
Vale salientar, com base na teoria das necessidades adquiridas, que os
profissionais efetivos têm mais autonomia para realizar um trabalho que o realize e que
seja considerado de melhor qualidade porque ele tem segurança do emprego, o que
não acontece com os profissionais do quadro temporário, cujo contrato possui prazo
limitado de vigência.
No item VII, os temporários se queixam mais de que o trabalho não permite
descanso (segundo a razão de chances, há aproximadamente 1,6 vezes mais chances
que o professor temporário possua esta opinião diferenciada da opinião do professor
efetivo).
Exatamente pelo fato de o professor do quadro efetivo já ter sua carreira
estabilizada no magistério, e de já estar acostumado a uma rotina de trabalho que
141
envolve muito mais horas fora da escola preparando aula, planejando atividades,
corrigindo provas e trabalhos, estudando para garantir uma boa performance no seu
trabalho, é que essa diferença de opinião encontra sua justificativa.
Na tabela 18, acham-se descritos a perspectiva de avaliação das opiniões
dos professores investigados, separados por categoria de vínculo institucional, com
relação a variável diretor da escola.
Tabela 18. Comparação da opinião dos professores Temporários e Efetivos através do teste de Fischer e da Razão de chances (Odds ratio) para o item diretor da escola.
O diretor da escola
Temporário Efetivo Teste Fisher Odds-Ratio e IC 95% N % n % Valor-p
I. Pede minha opinião... 197 84,9 311 86,1 0,719
0,90
0,57 a 1,44 Só me dá ordens 35 15,1 50 13,9
TOTAL 232 100,0 361 100,0 II. Me deixa tomar iniciativ. 199 86,9 335 89,6
0,357 0,77
0,46 a 1,28 Não permite tomar inic. 30 13,1 39 10,4
TOTAL 229 100,0 374 100,0 III. Toma decisões cons. 198 86,8 301 82,5
0,167 1,40
0,88 a 2,24 É muito impulsivo... 30 13,2 64 17,5
TOTAL 228 100,0 365 100,0 IV. Controle o trabalho... 169 74,1 244 69,5
1,44 1,25
0,86 a 1,82 Não me controla ... 59 25,9 107 30,5
TOTAL 228 100,0 351 100,0 V. Está sempre presente 222 93,7 336 89,1
0,062 1,81
0,98 a 3,34 Raramente está presente 15 6,3 41 10,9
TOTAL 237 100,0 377 100,0 VI. Sabe usar a sua autorid. 222 94,9 332 91,7
0,189 1,67
0,84 a 3,34 Não tem autoridade 12 5,1 30 8,3
TOTAL 234 100,0 352 100,0 VII. Usa sua aut. com cal... 195 84,1 293 80,5
0,326 1,28
0,82 a 1,98 Se irrita facilmente 37 15,9 71 19,5
TOTAL 232 100,0 364 100,0 VIII. Demonstra que .... 217 92,3 328 88,2
0,130 1,62
0,91 a 2,87 Raramente demonst... 18 7,7 44 11,8
TOTAL 235 100,0 372 100,0 IX. Assume suas responsab. 214 91,5 329 89,6
0,483 1,24
0,70 a 2,18 Em caso de dificul.... 20 8,5 38 10,4
TOTAL 234 100,0 367 100,0 X. Incentiva/Oportuniza... 185 83,0 277 79,4
0,328 1,26
0,82 a 1,96 Não demonstra int.... 38 17,0 72 20,6
TOTAL 223 100,0 349 100,0 XI. Reconhece e elogia ... 180 82,2 274 77,2
0,170 1,36
0,89 a 2,09 Não demonstra rec.... 39 17,8 81 22,8
219 100,0 355 100,0 Fonte: Elaboração própria, 2008
Com relação à opinião sobre o diretor da escola, conforme mostrado na
tabela 18, não há diferença estatística, segundo o teste exato de Fisher entre as
142
opiniões dos professores temporários e efetivos. Justifica-se esse resultado pelo papel
que esse profissional desempenha na condução de todo o trabalho que se desenvolve
na escola, na liderança de todo o grupo que ali labuta.
Pela teoria dos dois fatores de Herzberg (1972), a ausência de uma direção
ou de uma supervisão técnica e pessoal eficiente é um agente de descontentamento.
Portanto, a direção é um aspecto essencial na motivação, um elemento essencial para
a realização de um trabalho motivador, cabendo-lhe a missão de viabilizar as condições
necessárias para que isso aconteça.
Na tabela 19, acham-se expostos os dados referentes ao salário, uma
variável importante haja vista que dele depende a realização de seus compromissos e
também o atendimento de suas necessidades.
Tabela 19. Comparação da opinião dos professores Temporários e Efetivos através do teste de Fischer e da Razão de chances (Odds ratio) para o item salário.
Meu salário
Temporário Efetivo Teste Fisher Odds-Ratio e IC 95% n % n % Valor-p
I. Me permite fazer ... 24 10,7 58 15,5 0,111
0,65
0,39 a 1,08 Cobre apenas despesas... 201 89,3 317 84,5
TOTAL 225 100,0 375 100,0 II. É coreto pelo trabalho 20 8,5 28 7,6
0,758 1,13
0,62 a 2,06 É pouco em relação ... 214 91,5 339 92,4
TOTAL 234 100,0 367 100,0 III. Considera o meu tempo 44 21,9 66 20,4
0,741 1,10
0,71 a 1,68 Meu tempo de serviço... 157 78,1 258 79,6
TOTAL 201 100,0 324 100,0 IV. É normal em relação ... 34 15,3 51 13,9
0,631 1,12
0,70 a 1,79 Comparando ao sal... 188 84,7 316 86,1
TOTAL 222 100,0 367 100,0 V. Me satisfaz em rel. ... 55 28,4 65 19,7
0,024* 1,61
1,07 a 2,44 Poderia encontrar ... 139 71,6 265 80,3
TOTAL 194 100,0 330 100,0 VI. Entre os meus salários... 16 7,1 16 4,4
0,189 1,68
0,82 a 3,44 O total mensal ... 208 92,9 350 95,6
TOTAL 224 100,0 366 100,0 VII. Os meus aumentos ... 28 12,8 25 6,8
0,017* 2,01
1,14 a 3,55 Os meus aum. não ... 191 87,2 343 93,2
TOTAL 219 100,0 368 100,0 VIII. Os meus aum. acom... 39 17,9 59 16,4
0,649 1,11
0,71 a 1,73 Não existe uma rel... 179 82,1 301 83,6
TOTAL 218 100,0 360 100,0
143
Fonte: Elaboração própria, 2008
As diferenças entre professores temporários e efetivos, segundo o teste de
Fisher residem nos itens V e VII. No item V, os temporários estão mais satisfeitos que
os efetivos. Essa expressão de satisfação com a remuneração por parte dos
temporários, pode ser explicada pela constatação de que, conforme se depreende da
teoria de Maslow (1971), a remuneração está dentro de suas expectativas porque o seu
trabalho é temporário.
Entretanto, para os funcionários do quadro efetivo, o salário, defasado em
razão da política econômica do governo que reduziu o seu poder de compra, bem como
a falta de incentivo financeiro para melhorar a qualidade da sua formação, por exemplo,
ou como compensação por um serviço extra, não tem a mesma expressão que possui
para os funcionários do quadro temporário.
Em face das especificidades do contrato de trabalho ser temporário, algumas
vantagens que o profissional do quadro efetivo possui não são extensivas ao pessoal
do quadro temporário. Isso repercute sobre a motivação de forma distinta: enquanto os
primeiros sentem-se satisfeitos por terem uma fonte de renda, ainda que em caráter
provisório; os segundos, querem melhoria nos seus salários, ou pelo menos a correção
para manter o seu patamar de consumo.
No item VII os temporários estão com duas vezes mais chances na crença
de que os aumentos de salários acompanham a inflação. Isso ocorre porque eles não
vivenciaram a defasagem salarial imposta pela conjuntura econômica, ou seja, eles
acreditam que haverá compensação que satisfaçam as suas necessidades ou suas
metas individuais.
144
Segundo a perspectiva analítica da teoria da hierarquia das necessidades de
Maslow (1971), o salário, ao contrário do que se pensa satisfaz ou insatisfaz, mas não é
fonte de motivação. Tal observação parte do pressuposto de que a motivação induzida
pelo aspecto monetário como recompensa pelo trabalho realizado, deixa de existir
depois de a pessoa ter recebido o aumento.
Entretanto, segundo se depreende dos pressupostos dessa teoria, a
correção monetária é fundamental para reduzir a dificuldade em torno do trabalhador
em satisfazer as suas necessidades, unicamente com a principal fonte de rendimento
de seu trabalho, conforme foi visto anteriormente.
Na tabela 20, a variável em análise corresponde ao item colegas de trabalho.
Trata-se de uma variável importante situada no plano das relações interpessoais, capaz
de expressar valores como cooperação, solidariedade, senso de equipe e outros
aspectos fundamentais para se obter uma educação de qualidade.
Tabela 20.Comparação da opinião dos professores Temporários e Efetivos através do teste de Fischer e da Razão de chances (Odds ratio) para o item colegas de trabalho.
Os meus colegas de trabalho ... aparecem
Temporário Efetivo Teste Fisher Odds-Ratio e IC 95% n % n % Valor-p
I. Simpáticos 230 90,6 378 92,6 0,462
0,79
0,45 a 1,40 Indiferentes e antipáticos 23 9,1 30 7,4
TOTAL 253 100,0 408 100,0 II. Competentes 254 95,8 388 91,9
0,044* 2,02
1,01 a 4,07 Pouco competentes 11 4,2 34 8,1
TOTAL 265 100,0 422 100,0 III. Trabalhadores 235 96,3 376 93,8
0,204 1,74
0,80 a 3,78
Bastante preguiçosos 9 3,7 25 6,2 TOTAL 244 100,0 401 100,0
IV. Conscientes de resp. 245 93,9 386 90,0 0,092
1,71
0,94 a 3,09 Não levam a sério resp. 16 6,1 43 10,0
TOTAL 261 100,0 429 100,0 V. Discretos 203 89,0 370 95,1
0,006* 0,42
0,22 a 0,78 Intrometidos 25 11,0 19 4,9
TOTAL 228 100,0 389 100,0 VI. Abertos ao diálogo 214 89,5 328 87,2
0,444 1,25
0,75 a 2,09 Fechados 25 10,5 48 12,8
TOTAL 239 100,0 376 100,0 VII. Calmos 178 80,5 298 80,3 1,01
145
Nervosos 43 19,5 73 19,7 1,000 0,67 a 1,54 TOTAL 221 100,0 371 100,0
VIII. Desejosos de progred. 179 78,9 292 77,9 0,839
1,06
0,71 a 1,58 Pouco ambiciosos 48 21,1 83 22,1
TOTAL 227 100,0 375 100,0 IX. Agradáveis 267 96,0 427 97,5
0,277 0,62
0,27 a 1,46 Desagradáveis 11 4,0 11 2,5
TOTAL 278 100,0 438 100,0 X. Confiáveis 185 86,0 344 90,3
0,137 0,66
0,40 a 1,11 Não há confiança 30 14,0 37 9,7
TOTAL 215 100,0 381 100,0 XI. Existe uma real solid. 196 78,4 330 82,3
0,22 0,78
0,53 a 1,16 É cada um por si 54 21,6 71 17,7
TOTAL 250 100,0 401 100,0 XII. Temos prazer em enc. 183 65,6 312 71,1
0,136 0,77
0,56 a 1,07 Não existe rel. fora ... 96 34,4 127 28,9
TOTAL 279 100,0 439 100,0 * significativo a 5% Fonte: Elaboração própria, 2008
Pelos dados acima expostos, verifica-se que, as diferenças estatísticas de
opinião entre professores temporários e efetivos, no aspecto atinente a variável colegas
de trabalho, ocorreram nos itens II e V. Trata-se de aspectos atinentes as
características pessoais de cada profissional, o que, de certa forma, justifica essa
divergência de opinião.
A competência, por exemplo, depende da percepção de cada um, pois em
educação esse aspecto é considerado imprescindível para realizar um trabalho de
qualidade, independente do regime de trabalho a que acham-se submetidos os
trabalhadores.
Algumas vezes, a intromissão em vez da discrição, contribui para sanar uma
dificuldade, funcionando como estímulo a auto-realização. Isso, segundo a teoria de
Maslow (1971), deve ocorrer quando essa intromissão funcionar como estímulo positivo
na direção do reconhecimento de melhoria na qualidade do trabalho realizado.
146
Na tabela 21, aborda-se comparação de opiniões para o item promoções, um
ponto nevrálgico dentro do contexto de análise da motivação entre o grupo de
profissionais investigados.
Tabela 21. Comparação da opinião dos professores Temporários e Efetivos através do teste de Fischer e da Razão de chances (Odds ratio) para o item promoções.
As promoções
Temporário Efetivo Teste Fisher Odds-Ratio e IC 95% n % n % Valor-p
I. Temos promoções reg. ... 31 14,0 45 12,1 0,528
1,18
0,72 a 1,92 As promoções são raras ... 191 86,0 326 87,9
TOTAL 222 100,0 371 100,0 II. Somente dependem da 64 30,8 84 24,4
0,113 1,38
0,94 a 20,2 As promoções depen. ... 144 69,2 260 75,6
TOTAL 208 100,0 344 100,0 III. As regras de prom.... 60 27,3 90 24,9
0,558 1,13
0,78 a 1,66
Não se conhece regras... 160 72,7 272 75,1 TOTAL 220 100,0 362 100,0
IV. Fazemos muitos ... 45 21,4 52 14,7 0,049*
1,58
1,02 a 2,46 A formação ajuda .... 165 78,6 302 85,3
TOTAL 210 100,0 354 100,0 V. A análise de desemp.... 68 35,1 75 22,7
0,003* 1,83
1,24 a 2,71 A anal. de desemp. é ... 126 64,9 255 77,3
TOTAL 194 100,0 330 100,0 VI. A maneira como as ... 38 20,5 51 15,9
0,225 1,36
0,86 a 2,17 As promoções são ... 147 79,5 269 84,1
TOTAL 185 100,0 320 100,0 VII. Já fui promovido ... 37 16,6 107 31,7
0,000* 0,43
0,28 a 0,65 Nunca fui promovido 186 83,4 231 61,3
TOTAL 223 100,0 338 100,0 VIII. Consider. o cargo... 52 24,9 86 26,5
0,687 0,92
0,62 a 1,37 Minhas chances ... 157 75,1 238 73,5
TOTAL 209 100,0 324 100,0 * significativo a 5% Fonte: Elaboração própria, 2008
Pelas informações que constam na tabela 20, verifica-se que, as diferenças
estatísticas de opinião entre professores temporários e efetivos, no aspecto
concernente a variável promoções, ocorreram nos itens IV, V e VII.
A primeira divergência refere-se às regras de promoção que devem ser
claras e definidas. Entretanto, tais regras só são aplicáveis aos profissionais do quadro
147
efetivo, os quais, inclusive são abrangidos pelo plano de cargos, carreira e salários,
sendo, portanto uma fonte importante de motivação.
A segunda categoria de opiniões diferentes engloba a questão referente ao
desempenho, outro aspecto que envolve avaliação de cada funcionário para verificar se
este preenche os requisitos necessários para obter a promoção pretendida, sendo
também um aspecto contemplado no plano de cargos, carreira e salários.
A terceira categoria que ensejou diferentes opiniões entre os sujeitos
investigados foi o ato de promoção em si. Aqui mais uma vez reforça-se a afirmação de
que isso só atinge o funcionário do quadro efetivo, que são o alvo dessa praxe contida
no plano de cargos, carreira e salários da categoria de profissionais investigados nesse
estudo.
Vê-se, portanto, que a variável promoções, segundo os dados dessa
pesquisa é visto como mecanismo de ascensão profissional, na medida em que para ter
esse beneficio que funciona como fonte de motivação, o profissional, deve preencher
certos requisitos definidos no mecanismo de avaliação do plano de cargos, carreira e
salários do Governo do Estado que é a sua fonte empregadora.
Entretanto, deve ser dito que essa afirmação é válida apenas para os
profissionais do quadro efetivo, embora seja uma variável que revela expectativa
quanto à progressão funcional, envolvendo, inclusive remuneração diferenciada entre
os diferentes níveis.
148
CAPÍTULO V
Á TÍTULO DE CONCLUSÃO
Uma leitura atenta das teorias de conteúdo motivacional permite verificar
que, no trato com os profissionais ligados ao magistério, é de fundamental importância
reconhecer as necessidades humanas, vistas como fonte de motivação, ou seja, para
serem satisfeitas, as necessidades dependem de trabalho e estes, por sua vez
dependem de fatores impulsionadores.
Essa compreensão foi fundamental no estudo do perfil motivacional desses
profissionais que desempenham um papel fundamental no contexto das políticas
sociais: exercem a nobre missão de formar pessoas, de qualificá-las para o trabalho e
de prepará-las para exercer plenamente a sua cidadania.
O trabalho de Maslow (1971), McGregor (1973), Herzberg (1972), McClelland
(1971) e de outros que procuraram, em suas teorias, demonstrar que o próprio trabalho
é um grande liberador de motivação, satisfazendo as necessidades superiores de
crescimento do ser humano, foram discutidas nesse estudo, relacionando-as ao
trabalho dos profissionais ligados ao magistério da Paraíba.
Estes autores também procuraram demonstrar que, os fatores que causam
satisfação são determinantes de comportamento humano positivo, a partir de respostas
dado pelo intelecto humano. Ou seja: o sentido de satisfação é também uma
necessidade, a qual serve como centro de organização do comportamento em
determinado momento.
Em outras palavras, as necessidades mobilizam os recursos que cada
pessoa possui, canalizando-os para o alcance de determinados objetivos ou metas. O
149
argumento aqui apresentado serve para demonstrar que a motivação engloba também
a realização e a busca de crescimento que leva ao alcance da satisfação pessoal como
parte da dinâmica do desempenho pessoal em relação ao trabalho.
Isso significa compreender que a satisfação com o trabalho decorre das
condições ambientais oferecidas pela empresa e é provocada por um fator motivacional
que resulta num determinado padrão de desempenho positivo, ou acima da média. No
caso especifico dos profissionais da área da educação, por exemplo, o binômio
eficiência e qualidade é indissociável, e deve se fazer presente no trabalho que, cada
profissional para que seus alunos possam vislumbrar a perspectiva de conquista da
cidadania como indicativo de qualidade do trabalho desenvolvido em cada unidade de
ensino desse pais.
Assim sendo, considera-se que, a satisfação funciona, como um reforço
positivo para um bom desempenho, ao contrário da insatisfação ou frustração que
funcionam como um reforço negativo. A teoria de Herzberg (1972) é pródiga nessa
demonstração por separar os agentes de motivação dos fatores motivacionais e,
conforme visto nesse estudo, como fonte de motivação decorrente dos pressupostos
dessa teoria, entre os profissionais ligados ao magistério prevaleceu à realização
pessoal decorrente do conteúdo intrínseco ao próprio trabalho.
A necessidade de realização pessoal é adequada para explicar o
comportamento dos profissionais do magistério paraibano na direção de suas
conquistas, por corresponder ao impulso de buscar a excelência, de realizar coisas com
relação a um conjunto de padrões, de empenhar-se em lutar para ter sucesso. A
satisfação dessa necessidade, também presente na teoria de McClelland (1971),
depende do potencial de cada pessoa e do seu comprometimento em fazer as coisas
150
bem feitas, de investir no seu potencial e de torna-se bem-sucedida nas atividades que
realiza.
Dito de outra forma: a necessidade de realização é fruto das expectativas de
cada pessoa em realizar suas aspirações, em ter oportunidade de poder qualificar-se e
crescer dentro da empresa, por exemplo. Trata-se de um atributo pode ser intrínseco, o
que faz com que as pessoas sintam entusiasmo pelo trabalho em si e pela cultura e
vida da organização. Isso é exatamente o que acontece com os profissionais do
magistério paraibano que, sentem-se valorizados não pela remuneração que recebem,
mas, pelo reconhecimento da sociedade da função social do trabalho que realizam.
É fato que a necessidade de realização implica em responsabilidade
individual ampliada. O que facilita a motivação decorrente da necessidade de realização
é a construção de um bom ambiente de trabalho, no qual todos se sintam úteis
respeitados, seguros e com liberdade de expressão, de sentimentos e de sua
criatividade. Aliás, onde existe motivação, a criatividade aflora, e a organização, via de
regra, consegue atingir ótimos resultados.
Na prática administrativa envolvendo o processo de gestão de pessoas, não
há como dizer o que motiva mais uma pessoa do que outra, principalmente, em relação
ao campo do trabalho dos profissionais ligados ao magistério. Nesse campo de
atuação, o conhecimento das necessidades humanas é, na visão dos autores
consultados para a elaboração desse trabalho, de fundamental importância para evitar
frustrações, e, simultaneamente, conseguir obter soluções positivas para o alcance dos
objetivos individuais e organizacionais.
Segundo se depreende da teoria da expectativa, por exemplo, a partir das
colocações feitas por Vroom (1964), os fatores indicativos de motivação no trabalho,
151
dependem da valência com que estes são avaliados. Entende-se por valência o poder
do elemento motivador que, no caso dos profissionais investigados, é conseqüência da
alta força do seu poder de realização individual.
No estudo do perfil motivacional dos profissionais investigados, essa
realização individual se faz presentes em variáveis como: relacionamento com o diretor
da escola, salário, relacionamento com colegas, promoções e perspectiva de mudança
de emprego. Esses aspectos também se fazem presentes na argumentação
desenvolvida por McGregor (1973) em torno da teoria “Y”, haja vista que esses
profissionais ligados ao magistério paraibano trabalham ser ter expectativa de qualquer
recompensa financeira adicional mas trabalham pelo prazer der trabalhar, de sentir-se
útil e de realizar-se como profissional e como ser humano.
Independente de ser enquadrado na categoria de profissional ligado ao
quadro efetivo ou ao quadro permanente, ou seja, independente do vinculo mantido
com a sua instituição empregadora, os profissionais do magistério paraibano entendem
que a política educacional em nosso país ainda deixa muito a desejar, seja na
quantidade de recursos destinados a essa atividade, seja na definição de suas fontes
de financiamento, ou mesmo na adoção de medidas que visem a melhoria da qualidade
de ensino.
Faz-se oportuno destacar que, enquanto elemento situado na base do
sistema educacional, o professor responde às expectativas de vários atores envolvidos,
direta ou indiretamente, com as suas atividades cotidianas: o coordenador, o
supervisor, o diretor, os alunos, os pais e a sociedade como um todo. No estudo do
perfil motivacional do magistério paraibano, abrangendo a rede estadual de ensino,
verificou-se que, essas expectativas são plenamente atendidas.
152
Tal afirmação encontra-se respaldada na verificação que, formou-se entre
esses atores, uma consciência de que o grupo de trabalho, envolvendo todos os
elementos que interagem com essas escolas, exercendo influência no alcance dos
resultados da qualidade do ensino. Isso implica em relacionamentos, em amizades no
ambiente de trabalho, interfere no lado social que, por sua vez, influencia na satisfação
e motivação para o trabalho, devendo assumir a forma de colocação para que os
objetivos da qualidade sejam alcançados.
Não é de se estranhar, portanto, que os profissionais em regime de trabalho
temporário vejam nessas escolas uma grande oportunidade para aprender e
desenvolver sua capacidade de ministrar seus conhecimentos. Isso representa uma
forma de investimento pessoal na capacitação e a geração de oportunidade para o uso
do potencial de aplicado a uma realidade prática. Essa estratégia, de fato, contribui
para torná-los mais competentes e, portanto, preparados para enfrentar o desafio de
implementar as melhorias contínuas tendo em vista a obtenção de melhor qualidade do
processo ensino aprendizagem.
Sabe-se que não é usual nas escolas públicas da Paraíba, dentro do seu
modelo de gestão de recursos humanos, a adoção da estratégia de recompensar e de
reconhecer o mérito do trabalho de seus profissionais, premiando-os pelo resultado
acima da média, por exemplo. Entretanto isso não funciona como empecilho para que
essas pessoas possam desempenhar um trabalho de qualidade. Filosofia essa que
coloca as pessoas em primeiro lugar; é uma empresa onde o desempenho é premiado
de forma visível e é um pré-requisito para promoções.
As promoções, entretanto, não fazem parte do perfil motivacional da
população investigada, em face das peculiaridades existentes na política de
153
remuneração que é definida pelo Governo do Estado. O mesmo ocorre com as
premiações; embora, isso não seja usado como desculpa para aqueles que exercem a
profissão como forma de realização de um sonho acalentado de longa data, para deixar
de mostrar o seu empenho e sua capacidade de trabalho.
Ao contrário, o que se vê nesse perfil motivacional, é o empenho, a boa
vontade, a dedicação, apenas pelo reconhecimento de ter feito e de ainda continuar
fazendo um trabalho de qualidade; pois, se isso não ocorrer, ou seja, se a mobilização
desse esforço pessoal não for considerada compensadora, mesmo no plano da
realização pessoal, a tendência é de que esses profissionais passem a vislumbrar o
abandono da profissão.
154
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159
APÊNDICE
UFPB – Universidade Federal da Paraíba PPGA – Programa de Pós-graduação em Administração Mestrado em Administração QUESTIONÁRIO
Prezado (a) Docente, O instrumento abaixo integra uma pesquisa em andamento neste estado, com o objetivo de analisar um
aspecto importante no processo de ensino-aprendizagem. Considerando que, na maioria das ocasiões,
os professores relatam que pouco são ouvidos no momento da implantação de reformas e adoção de
novas práticas, acreditamos que este questionário proporcionará um visão real e concreta dos aspectos
consultados.
Respondendo este material, você terá oportunidade de se pronunciar, de forma totalmente anônima, não
havendo qualquer identificação, permitindo que seus posicionamentos sejam francos, mesmo que
considere o tema delicado ou difícil de ser abordado.
Contamos com sua contribuição, para conclusão deste trabalho que, temos certeza, proporcionará
resultados significativos e indicará caminhos para uma educação de qualidade.
Agradecemos sua colaboração, Júlio Cezar da C R Viana
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QUESTIONÁRIO
BLOCO I (Favor marcar apenas uma opção em cada questão) 1. Há quanto tempo você trabalha no magistério? A. até 2 anos E. de 16 a 20 anos B. de 2 a 5 anos F. de 21 a 25 anos C. de 5 a 10 anos G. de 26 a 30 anos
D. de 11 a 15 anos H. mais de 30 anos 2. Você é do sexo:
A. FEMININO B. MASCULINO 3. Qual é a sua faixa etária? A. menor que 25 anos F. de 45 a 50 anos B. de 25 a 30 anos G. maior que 50 e menor que 55 anos C. maior que 30 e menor que 35 anos H. de 55 a60 anos
D. de 35 a 40 anos I. maior que 60 anos E. maior que 40 e menor que 45 anos 4. Estado civil: A. solteiro(a) D. separado(a) B. vive em união estável E. divorciado(a) C. casado(a) F. viúvo(a)
5. Quantos filhos você tem? A. nenhum E. quatro B. um F. cinco C. dois G. seis D. três H. mais de 6 6. Qual é o seu nível de escolaridade? A. Ensino Fundamental C. Superior B. Ensino Médio D. Pós-graduação 7. Faixa salarial na qual você se encaixa: A. até um SM D. de três a quatro B. de um a dois SM E. de quatro a cinco SM C. de dois a três SM F. mais de cinco SM
SM – salário mínimo 8. Seu vínculo funcional com a Secretaria de Educação é: A. temporário B. efetivo 9. Em relação ao seu emprego, qual é a sua: Carga horária? __________________ Qtd. de alunos?_______________
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BLOCO II (Favor marcar apenas uma opção em cada questão) A seqüência do questionário é simples de preencher: Existem duas frases que são mais ou menos contraditórias. Você deve colocar um (X) no parêntese que melhor represente seu desejo em relação aos fatores que melhor caracterizam a sua motivação no trabalho. 1. O meu trabalho propriamente dito é: I A. interessante B. pouco interessante
II A. variável B. monótono
III A. fácil B.difícil
IV A. não é perigoso B. perigoso
V A. útil B. inútil
VI A. me permite tomar a iniciativa B. rotineiro
VII A. me deixa tempo para descansar B. não permite descanso
VIII A. permite usar meus conhecimentos B. não tem relação com meus
conhecimentos
IX A. da consciência de responsabilidade B. não tem muita responsabilidade
X A. me permite ter contato freqüente com
outras pessoas B. não me oferece oportunidade de
contato com outras pessoas
XI A. me dá satisfação pessoal B. não me dá satisfação pessoal
XII A. uma expressão de minhas habilidades
dominantes B. não expressa minhas habilidades
XIII A. uma representação do que gosto de
fazer B. não representa o que gosto de
fazer
2. O Diretor da escola: I A. pede minha opinião sobre o trabalho a
ser feito B. só me dá ordens
II A. me deixa tomar iniciativas B. não me permite tomar iniciativas
III A. toma decisões conscientes B. é muito impulsivo em suas
decisões
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IV A. controla o trabalho a ser feito B. não me controla muito
V A. está sempre presente B. raramente está presente quando
precisamos dele
VI A. sabe usar sua autoridade B. não tem autoridade
VII A. usa sua autoridade com calma e
benevolência B. se irrita facilmente
VIII A. demonstra que gosta de trabalho bem
feito B. raramente demonstra sua
satisfação
IX A. assume suas responsabilidades diante
de dificuldades B. em caso de dificuldades deixa a
responsabilidade para o subordinado
X A. incentiva/oportuniza meu crescimento
pessoal B. não demonstra interesse pelo meu
desenvolvimento pessoal
XI A. reconhece e elogia meu trabalho B. não demonstra reconhecimento
pelo meu trabalho
3. Meu salário I A. me permite fazer algumas despesas
extras B. cobre apenas despesas normais
II A. é correto pelo trabalho que faço B. é pouco em relação ao que faço
III A. considera o meu tempo na organização B. meu tempo de serviço conta pouco
em relação ao que ganho
IV A. é normal em relação aos salários pagos
pelas organizações de pessoas do mesmo tipo
B. comparando ao salário de outras categorias de pessoal é insuficiente
V A. me satisfaz em relação aos salários
pagos pelas organizações do mesmo tipo B. poderia encontrar um melhor em
outras empresas
VI A. entre o meu salário e os prêmios que
espero ganhar conto sempre com uma quantia a mais no fim do mês
B. o total mensal que ganho é sempre o mesmo no fim do mês
VII A. os meus aumentos de salário
acompanham a inflação B. os meus aumentos não acompanham a
inflação
VIII A. existe uma relação entre o meu salário e
meu nível de estudo e de informação B. não existe uma relação entre meu
salário e meu nível de estudo e informação
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4. Os meus colegas de trabalho em geral aparecem: I A. simpáticos B. indiferentes e antipáticos
II A. competentes B. pouco competentes
III A. trabalhadores B. bastante preguiçosos
IV A. conscientes de suas responsabilidades B. não levam a sério responsabilidades
V A. discretos B. intrometidos
VI A. abertos ao diálogo B. fechados
VII A. calmos B. nervosos
VIII A. desejosos de progredir B. pouco ambiciosos No trabalho as relações com os meus colegas são: IX A. agradáveis B. desagradáveis
X A. confiáveis B. não há confiança
XI A. existe uma real solidariedade entre nós B. é cada um por si Fora do trabalho: XII A. temos prazer em nos encontrar B. não existe relações fora do trabalho 5. As promoções Na minha Organização: I A. temos promoções regulares B. as promoções são raras e
irregulares
II A. as promoções dependem somente da
competência B. as promoções dependem somente
dos superiores
III A. as regras de promoções são claras e
conhecidas por todos B. não se conhece regras de
promoções
IV A. fazemos muitos cursos, o que nos
permite ser promovidos B. a formação ajuda pouco na promoção
V A. a análise de desempenho tem um papel
importante nas promoções B. análise de desempenho é uma
formalidade, não conta nas promoções
VI A. a maneira como as promoções são
feitas me satisfaz
B. as promoções são feitas de maneira injusta
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VII A. já fui promovido (a) uma ou mais vezes B. nunca fui promovido (a)
VIII A. considerando o cargo que ocupo tenho boas chances de ser promovido (a)
B. minhas chances de promoção são poucas
6. Você pensa em mudar de emprego? I A. sim B. não Se sim, o que você procura nesse novo trabalho? ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ 7. Você pensa que será fácil encontrar este novo trabalho? Por quê? ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________
BLOCO III (Favor marcar apenas uma opção em cada questão)
1. A sua renda, como professor (a), no orçamento doméstico é considerada como: A. principal B. complementar
2. Como considera o seu salário como professor (a)? A. insuficiente B. complementar C. supervalorizado
3. Tem havido possibilidades de progresso profissional na sua carreira? ( ) Sim. De que tipo? _______________________________________________________ ( ) Não. Por quê? __________________________________________________________
4. O que determinou a sua escolha profissional como professor (a)? A. desejo anterior B. sobrevivência C. status
5. Pensa em mudar de profissão? A. sim B. não
6. Sinto-me frustrado (a) com meu trabalho? ( ) Não ( ) Sim Intensidade: ( ) Muito fraco ( ) Moderado ( ) Muito Forte
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7. O trabalho direto com os alunos causa-me muito stress? ( ) Não
( ) Sim Intensidade: ( ) Muito fraco ( ) Moderado ( ) Muito Forte
8. Relaciono-me com facilidade com os problemas de meus alunos? ( ) Não
( ) Sim Intensidade: ( ) Muito fraco ( ) Moderado ( ) Muito Forte
9. Sinto que influencio positivamente os alunos através do meu trabalho?
( ) Não ( ) Sim Intensidade: ( ) Muito fraco ( ) Moderado ( ) Muito Forte
10. Sinto-me muito feliz após realizar um trabalho bem próximo ao aluno? ( ) Não
( ) Sim Intensidade: ( ) Muito fraco ( ) Moderado ( ) Muito Forte
11. Sinto que no meu trabalho tenho realizado coisas que valem a pena?
( ) Não
( ) Sim Intensidade: ( ) Muito fraco ( ) Moderado ( ) Muito Forte
12. No meu trabalho, relaciono-me muito calmamente com os problemas emocionais que aparecem?
( ) Não ( ) Sim Intensidade: ( ) Muito fraco ( ) Moderado ( ) Muito Forte
13. Você trabalha como professor(a) em outra rede de ensino? ( ) Não Se sim: ( ) Sim ( ) Privada ( ) Federal ( ) Municipal
14. Em relação ao seu outro emprego, qual é a sua: Carga horária? __________________ Qtd. de alunos?_______________
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BLOCO IV (Favor marcar apenas uma opção em cada questão)
1. Em sua opinião, os recursos destinados à Educação são suficientes? I A. sim B. não
2. Em sua opinião, quem é o principal financiador da Educação? I A. Governo Federal C. Governo Municipal B. Governo Estadual D. Não sei
3. Em sua opinião, a nova Lei que regulamenta o financiamento da Educação (FUNDEB) proporcionará vantagens imediatas ao professor? I A. sim B. não
Se sim, cite a que considera mais importante:
4. Seu/sua(s) filho/a(s) estuda(m) na escola em que você trabalha? I A. sim B. não
Por quê?
5. Em sua opinião, o que melhoraria a qualidade de ensino (cite apenas uma ação)? __________________________________________________________________________
6. Em que momento você decidiu ser Professor? A. sempre sonhei ser professor C. um ano antes de começar a trabalhar B. nunca tinha pensado até começar a trabalhar D. ainda não decidi
Agradecemos mais uma vez por sua colaboração.
Muito obrigado!