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UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS - UNISINOS UNIDADE ACADÊMICA DE GRADUAÇÃO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL – PUBLICIDADE E PROPAGANDA GLAUCO FERNANDO CAVALHEIRO LEGENDARY: A expressão do mito no seriado How I Met Your Mother SÃO LEOPOLDO 2015

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Monografia de conclusão de curso em Comunicação Social - Publicidade e Propaganda. Aborda de que forma a função mitológica está presente no seriado How I Met Your Mother e de que forma ele é apreendido através de uma abordagem semiótica.

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UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS - UNISINOS UNIDADE ACADÊMICA DE GRADUAÇÃO

CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL – PUBLICIDADE E PROPAGANDA

GLAUCO FERNANDO CAVALHEIRO

LEGENDARY: A expressão do mito no seriado How I Met Your Mother

SÃO LEOPOLDO

2015

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Glauco Fernando Cavalheiro

LEGENDARY: A expressão do mito no seriado How I Met Your Mother

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Publicidade e Propaganda, pelo Curso de Comunicação Social da Universidade do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS

.

Orientador(a): Prof(a). Dr(a) Ione Bentz

São Leopoldo

2015

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Aos meus pais que, mesmo diante da escassez de recursos, nunca mediram

esforços para mudar o curso de uma vida que iniciou desprovida de sorte.

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AGRADECIMENTOS

A minha gratidão a algumas pessoas que participaram do meu

desenvolvimento até aqui não cabe em palavras, mas não posso deixar de citá-

las neste momento.

Primeiramente, eu dedico este trabalho aos meus pais, pela imensurável

grandeza de espírito. Vocês me ensinaram que só o trabalho e a vontade são

necessários para mudar uma vida e alcançar objetivos que podem parecer

impossíveis. Meu amor, orgulho e admiração por vocês mal cabe em mim,

embora, muitas vezes, eu tenha dificuldade em expressar. A missão que se

iniciou há mais de vinte anos está cumprida e, a partir de agora, aproveitaremos

juntos os frutos dela.

Aos compatriotas da República do Chai: Lemos, William, Mateus, Fávero,

Jacometo e o agregado, Tiago. Vocês me ensinaram do que realmente é feita

uma amizade verdadeira e me mostraram o que é o amor de irmão. Dividir a

casa e a vida com vocês me dá força para os dias difíceis e é um catalisador da

alegria naqueles felizes. Que nossas chaleiras estejam sempre cheias desse

companheirismo e nunca falte amor em nossas canecas. Chai!

Aos grandes mentores intelectuais da minha vida, especialmente à minha

orientadora neste trabalho, professora Dra. Ione Bentz. A senhora me ensinou o

que realmente significa ser mestre. Me guiou magnificamente por um caminho

que eu desconhecia, me mostrando com honestidade e leveza toda a beleza e

as dificuldades da aventura na pesquisa. Obrigado por ter aceitado ser minha

guia nessa jornada e por ter conduzido nosso trabalho com doçura e firmeza na

medida certa.

Aos demais amigos que são muito numerosos para essas poucas

páginas. A sorte que eu tenho em tê-los na minha vida é surreal. Que o curso, às

vezes duro, da vida adulta não separe e nem mude que nasceu na leveza da

adolescência.

Finalmente, aos demais familiares que, de alguma forma estiveram

presente nesse caminho, com menção especial ao meu tio, Elizandro da Costa,

por ter sido a primeira pessoa a despertar em mim a curiosidade pelas coisas do

mundo e ter mostrado a possibilidade de descobri-las nos livros. O bem que tu

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me deste, tiozinho, não tem valor calculável nem jamais poderá ser retribuído a

altura.

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Haja ou não deuses,

deles somos servos.

(PESSOA, 1986)

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RESUMO

Em meio à escassez de subjetividade numa sociedade que se desenvolveu

no pensamento positivista, percebe-se a falta da função orientadora da narrativa

mitológica, presente nas sociedades primitivas. Considerando este fenômeno como

um fator intrínseco ao ser humano, buscamos sua atualização nas possibilidades

narrativas de nossos tempos. Encontramos no seriado de televisão How I Met Your

Mother um objeto de pesquisa passível de nos auxiliar a entender este tema.

Iniciamos, então, compreendendo como o mito nasce na psique humana e qual o

seu papel na sociedade. A seguir, olhamos as características da linguagem, a fim de

entender como a narrativa mitológica pode se estruturar como sistema de

comunicação. Em seguida, o autor realiza uma série de entrevistas em profundidade

e as analisa à luz da teoria levantada diante da experiência inicial do problema.

Desta análise resulta na identificação de duas categorias pertinentes para este

trabalho na narrativa do seriado e conclui que a série de TV How I Met Your Mother

pode configurar uma narrativa mitológica e tem resultado prático na vida dos

telespectadores no que diz respeito à reflexões e ações.

Palavras-chave: Mitologia. Seriado. How I Met Your Mother. Semiótica.

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Processo gerativo de significação ........................................................... 29  

Tabela 2 – Conceitos de operação empregados no presente trabalho ..................... 52  

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Estrutura da linguagem mitológica ........................................................... 26  

Figura 2 – Cena 1, sequência 1 – Marshall sofre após o término do relacionamento

................................................................................................................................... 36  

Figura 3 – Cena 1, sequência 2 – Barney dá sua sugestão sobre qual deve ser a

atitude de Ted nesse momento ................................................................................. 37  

Figura 4 – Cena 2, sequência 1 – Os amigos se surpreendem ao ver a mulher, de

quem Ted falava, na TV ............................................................................................ 38  

Figura 5 – Cena 2, sequência 2 – Ted resolve agir de uma forma diferente do seu

natural e quer começar naquele momento. ............................................................... 38  

Figura 6 – Cena 3, sequência 1 – Lilly discursa sobre os caminhos da vida com Ted,

que está em crise. ..................................................................................................... 39  

Figura 7 – Cena 3, sequência 2 – – Marshall interpreta de forma concreta a metáfora

proposta por Lilly. ...................................................................................................... 40  

Figura 8 – Cena 3, sequência 3 – Um a um, os amigos dão “o salto”. ..................... 41  

Figura 9 – Cena 3, sequência 3 – Ted faz uma recapitulação menta de seu ano

antes de “dar o salto” e explica por que aquele ano foi o melhor de sua vida. ......... 41  

Figura 10 – Estrutura barthesiana aplicada à construção de personagem no seriado

HIMYM. ...................................................................................................................... 51  

Figura 11 – Expressão e experiência do mito no seriado de televisão ..................... 66  

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LISTA DE SIGLAS

HIMYM How I Met Your Mother

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 11  2 FUNDAMENTAÇÃO .............................................................................................. 14  2.1 Os Caminhos do Mito e a Psique Humana ...................................................... 14  2.1 A Atualização Contemporânea do Mito ........................................................... 20  2.3 A Forma de Expressão do Mito ........................................................................ 23  2.4 As Curvas do Percurso Significação ............................................................... 27  2.5 A Materialização do Mito no Seriado ............................................................... 31  3 METODOLOGIA .................................................................................................... 33  3.1 Pesquisa Bibliográfica ...................................................................................... 33  3.2 Pesquisa Documental ....................................................................................... 34  3.2.1 Dados do seriado: coleta e recorte ................................................................... 34  3.3 Entrevista em Profundidade ............................................................................. 42  3.3.1 Seleção de Amostragem .................................................................................. 46  3.3.2 Coleta de Dados com os Entrevistados ........................................................... 47  4 ANÁLISE ................................................................................................................ 49  4.1 O Mito em HIMYM .............................................................................................. 50  4.2 A percepção do mito pelos telespectadores .................................................. 52  4.3 O Discurso de Superação no Seriado ............................................................. 54  4.3.1 Resiliência ........................................................................................................ 57  4.3.2 Coragem ........................................................................................................... 61  5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 65  REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 68  ANEXO A – TRANSCRIÇÃO DAS ENTREVISTAS ................................................. 69  ANEXO B – ROTEIRO DE ENTREVISTAS ............................................................ 112  

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1 INTRODUÇÃO

Histórias dão tempero à vida. Não é à toa que elas são elemento indissociável

da comunicação, dos folclores e das relações humanas. Elas vêm em incontáveis

formatos: contos, crônicas, músicas, propagandas, livros, e, desde o começo do

século XX, o audiovisual chegou para ser mais um meio de propagação narrativa.

Assistir um filme ou um seriado que, por algum motivo, converse com nosso estado

de espírito, pode mudar o nosso humor ou gerar uma profunda reflexão sobre a

vida. Neste século, o audiovisual se mistura às novas tecnologias e dinâmicas

comunicacionais, tornando o material audiovisual cada vez mais rico, fácil de

acessar, sendo ainda mais presente como ofertas de consumo. Aqui, trataremos

consumo do seriado de TV como uma apropriação complexa do conteúdo sensível

por parte do telespectador, um fenômeno de fruição do material apresentado na vida

de quem o assiste, proporcionado por um ato de leitura deste conteúdo através dos

códigos por ele usados.

As mudanças nas formas de narrativa que se atualizam desde tempos

remotos não foram capazes de mudar um aspecto que parece ser inerente à forma

de contar histórias: existem elementos e matrizes que as estruturam e que parecem

levar consigo um caráter universal: temas se repetem, se redesenham e se

atualizam das mais variadas formas, sem perder, aparentemente, sua essência.

Esses padrões motivaram e seguem motivando pesquisas, indagações e hipóteses

para entender como se relacionam com o ser humano e que efeitos a sua presença

tem em nossas vidas. Essa característica de narrativa é a essência do mito. Uma

estrutura aparentemente atemporal cuja matriz é constantemente atualizada e tem a

função, como falaremos à frente, de ser um guia de vida para o homem.

Tendo em mente estes fatores, fomos buscar, em nossa atual realidade, onde

essas histórias poderiam atualizar-se. Quais as narrativas da contemporaneidade

poderiam estar desempenhando esta função?

Em 2005 estreava, no canal americano CBS, o seriado How I Met Your

Mother (HIMYM). O seriado trata da história de Ted, um jovem adulto que, ao

completar 30 anos, entra em conflito com seu momento de vida e acredita que é

chegada a hora de conhecer a pessoa com que ficará junto para sempre. Assim,

começa a sua saga, narrada in media res, a partir do futuro, para os filhos do

personagem que, já adolescentes, escutam a história de como Ted conheceu a mãe

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deles. Este movimento de narrativa que dá o nome ao seriado: em tradução livre

“como conheci sua mãe”.

Encontramos na série de TV HIMYM nossa fonte de investigação para a

exploração da presença do mito no seriado de TV. Apesar de seu conteúdo cômico,

HIMYM apresenta um drama em seu arco narrativo principal. A luta de Ted para

encontrar a mulher de sua vida segue até a última temporada. Em todos os

momentos, a série apresenta ao telespectador os percalços da vida e nos

relacionamentos que o personagem deve passar até o encontro com sua amada,

onde ele passa por situações caricatas e de fácil acesso para qualquer pessoa que

entenda os modos de vida da cultura ocidental, principalmente das américas. Assim,

na iminência deste trabalho, acreditamos que, por ser uma série que atrai pelo seu

humor, mas que consegue incluir, em sua narrativa, dramas da vida identificáveis

por qualquer pessoa culturalmente letrada no contexto no qual se passa a história,

HIMYM se apresenta como o objeto de pesquisa para a realização desta pesquisa.

Iniciamos nossa abordagem com perguntas que expressam o problema de

pesquisa: É possível que o seriado HIMYM constitua uma narrativa que possa ser

chamada de mitológica? Se sim, esta narrativa poderia influenciar ações e decisões

na vida dos telespectadores por conta de sua forma e/ou conteúdo?

Com base nestes questionamentos, chegamos ao seguinte objetivo geral:

entender se a narrativa presente em HIMYM pode ser uma narrativa mitológica

contemporânea e de que forma se dá a experiência do telespectador. Para tanto,

definimos os seguintes objetivos específicos: estabelecer conexões conceituais

entre mitos e símbolos; definir os elementos constitutivos da narrativa mitológica e

suas formas de articulação; analisar a composição do seriado no que diz respeito à

forma e linguagem; e, por fim, identificar os modos de apropriação da narrativa

pelos expectadores. A partir da experiência com o material do seriado, buscamos o

apoio teórico para iniciar o processo de responder nossos questionamento.

Através de pesquisa qualitativa e exploratória, organizamos o processo para

buscar esse entendimento em duas etapas. Na primeira, realizamos pesquisa

bibliográfica buscando entender como a relação entre algumas teorias podem juntar-

se para ajudar-nos a entender o processo pelo qual passa a narrativa mitológica até

chegar como produto midiático e oferta de consumo. Partiremos da ideia do

inconsciente coletivo de Jung. Com Campbell, faremos uma revisão sobre a

experiência do mito pelo indivíduo. Complementamos o estudo sobre mitologias com

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o trabalho de Eliade e Cassirer, notáveis mitólogos. Também, buscaremos na

semiótica Barthes uma explicação sobre a estrutura narrativa do mito. Por fim,

utilizaremos a obra de Fontanille para entender como acontece a significação em

diferentes níveis de pertinência semiótica.

Finalizada a revisão teórica, retomamos o material do seriado. Através de

entrevistas em profundidade, analisamos o conteúdo da série sob a perspectiva dos

telespectadores. Tendo em mãos o resultado deste diálogo com pessoas que

acompanharam a série na sua completude, ele será analisado à luz das teorias

apresentadas, buscando a relação com a experiência da narrativa mitológica em

dois temas recorrentes no andamento do seriado e também no das questões

humanas: a resiliência e a coragem.

Acreditamos na relevância desse projeto porque as histórias, independente de

suas molduras e formatos, são as ferramentas de trabalho do profissional da

comunicação. Entender como elas agem naqueles que as consomem faz parte do

processo de enriquecer e aparelhar essa área com conhecimento que auxilie na

compreensão das diferentes formas de consumo do material midiático.

Este trabalho está organizado da seguinte maneira: no capítulo dois, faremos

a revisão teórica do tema proposto, dividido em cinco subcapítulos que explicam

cada um dos aspectos e questionamentos levantados à luz dos autores

selecionados. No capítulo três, faremos um apanhado das metodologias usadas no

desenvolvimento desta pesquisa, listando os métodos e técnicas para esclarecer

como se deu nosso procedimento. No quarto capítulo, desenvolveremos a análise,

buscando o tensionamento pela teoria daquilo que se enxergou na prática e que se

retomou com os dados coletados nas entrevistas. Por fim, no capítulo cinco, serão

apresentadas as conclusões deste trabalho.

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2 FUNDAMENTAÇÃO

A pesquisa se alimenta do passado para enxergar o presente e antecipar, na

medida do possível, o futuro. Olhando para trás, encontramos referências deixadas

por estudiosos que fizeram esforços para entender como o homem se relaciona com

o mundo em que vive. Assim sendo, juntamos, neste trabalho, as pesquisas de

alguns autores que se dedicaram à compreensão do papel das narrativas e da

mitologia, na existência humana. O objetivo desta parte é fundamentar teoricamente

aquilo que, incialmente, se observa na experiência do seriado. Aqui, encontramos

em Jung e Campbell os papeis social e psicológico do mito; de Barthes, vem a

proposta para organizar a estrutura narrativa que está por trás do mito e indicações

de quais são as características e elementos que produzem a sua significação. Por

fim, com Fontanille, entenderemos como os diferentes níveis do sensível emergem

no decorrer do processo gerativo de significação, a fim de descrever a totalidade dos

elementos presentes no ato de dar sentido ao conteúdo consumido. É preciso, primeiro, seguir os passos do mito na sociedade e, em seguida,

entender como ele se estrutura na mensagem, para, então, entender as maneiras

com as quais o contexto influencia na interpretação da narrativa mitológica, ou seja,

como se completa a cadeia da significação e da comunicação.

2.1 Os Caminhos do Mito e a Psique Humana

Em um primeiro olhar, pode parecer curiosa a tentativa de enxergar que, em

um seriado de televisão contemporâneo, exista uma relação com um aspecto da

cultura presente na humanidade desde tempos remotos. Fazer esta leitura não será

tarefa fácil, mas, fazendo dialogar os episódios e as temáticas teóricas, de modo a

ver como se dá a relação entre eles, abriremos um caminho que possibilite

identificar a existência ou ausência deste fenômeno. Veremos de que maneira a

mitologia se relaciona com o homem e como ela marca a sua presença em nossa

sociedade para identificar como se dá essa relação e, posteriormente, como ela se

expressa no seriado HIMYM.

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A mitologia e a narrativa mitológica talvez sejam as expressões mais antigas

da capacidade reflexiva do ser humano. O poder de compreender a natureza daquilo

que está dentro e do que esta fora de nós mesmos é uma das características que

nos diferenciam como espécie. No entanto, essa necessidade traz ao homem uma

angústia latente: estamos sempre à procura de respostas para aquilo que não

podemos explicar.

Desenvolvêmo-nos como sociedade através do conhecimento do meio:

domesticamos plantas e animais. Dominamos a matéria e aprendemos a transformá-

la para o nosso benefício. Carl Jung (2008) diz que “os sentidos do homem limitam a

percepção que este tem do mundo à sua volta. Utilizando instrumentos científicos,

ele pode compensar a deficiência dos sentidos” (p.21). Em uma época onde o

conhecimento sobre os fenômenos da natureza não nos eram disponíveis, era

através do mito que se resolviam as angustias internas e dava-se significação aos

acontecimentos em nossa volta. Era através do conto mitológico que os mais

diversos eventos da natureza eram explicados: desde o porquê da chuva, sol,

trovões e terremotos até as questões mais íntimas do homem, como o sentido da

vida e da morte. Mircea Eliade (2013), grande estudioso dos mitos, diz que o ato de

tomar conhecimento sobre a história mítica significa entender a origem das coisas.

Temos, assim, uma válvula de escape. Um intrincado mecanismo humano

para lidar com um problema que vem da natureza de sua existência. Vemos na obra

de Joseph Campbell (1997) que o mito tem como principal função, fazer o homem

“entrar em sintonia com o universo” (p.7). Pode parecer uma visão mística, mas o

autor esclarece dizendo que essa sintonização que, julga ele, ser a função do mito,

liga a pessoa com o ciclo de sua existência, seu ambiente e a sociedade. Assim

sendo, o mito funcionaria como um fator da cultura cuja função seria de orientação

do indivíduo em diversos planos de sua realidade, desde seus conflitos internos, sua

temporalidade e sua interação com o mundo externo, funcionando, assim, como

uma ferramenta psicológica.

Mas como toda essa estrutura é criada? De onde nasceria tal mecanismo?

Ora, se estamos falando sobre a origem de uma criação humana, é para a mente do

homem que devemos voltar nossa atenção.

Com o advento da psicologia, mais precisamente da psicanálise, começa-se a

ter indícios de como esses processos acontecem. A teoria psicanalítica postula que

não somos guiados somente por ações racionalizadas e intencionais em resposta a

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estímulos externos, mas que nossos medos, desejos e angústias são resultado de

processos que acontecem numa camada inacessível da mente: o inconsciente.

Dentre as várias fontes bibliográficas possíveis de serem utilizadas, optamos pela

abordagem de Carl G. Jung.

Jung preocupou-se em entender a relação da mente humana com os

símbolos criados pelo homem para dar sentido aos seus anseios. Por enquanto,

simplesmente diremos que um símbolo é uma imagem ou palavra usada para

significar outra coisa que não ela mesma. Para o autor (JUNG, 2008), os símbolos

“têm um aspecto inconsciente, que nunca é precisamente definido ou inteiramente

explicado” (p.19). Ele diz que não cabe à razão explorar o significado do símbolo, e

nem pode. Há um movimento quase que automático que conduz este símbolo a

ideias que estão fora do alcance da razão e chama a atenção daqueles que

pretendem enxergar as manifestações simbólicas através da luz da ciência

positivista: “Para o espírito científico, fenômenos como o simbolismo são um

verdadeiro aborrecimento por não poderem formular-se de maneira precisa para o

intelecto e para a lógica” (JUNG, 2000, P. 113).

Jung (2008) separa os símbolos inconscientes em dois grupos: os naturais e

os sociais. Este primeiro representa aqueles que são derivados da matéria

inconsciente da psique e tem sua origem nos períodos mais arcaicos. O segundo é

composto pelos símbolos que foram usados para representar as verdades eternas e

que se utiliza em muitas religiões. Talvez para uma mente moldada numa sociedade

onde a ciência experimental é a única produtora de verdade, a manifestação desses

símbolos pode parecer insensata, uma vez que, racionalmente, pareçam fruto da

fantasia de uma mente criativa. Porém, Jung (2008) lembra que desaparecer com

esses símbolos resulta numa grave perda para o inconsciente. O autor denuncia,

aqui, que a falta da manifestação desses símbolos é responsável por consequências

que percebemos hoje na sociedade e na vivência dos indivíduos. O fato de alguns

princípios que parecem saudáveis para a manutenção da mente humana terem se

tornado eventos abstratos apresenta uma dificuldade maior de dar sentido à vida,

deferente de como acontecia em um tempo onde os rituais materializavam esses

símbolos em práticas da rotina da comunidade e os fazia significar psiquicamente

para o homem (JUNG, 2008). O decantar do mito do imaginário à prática é ponto de

grande relevância em nosso estudo e fala diretamente com a questão do seriado

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apresentar-se como uma atualização da mitologia. Mais à frente, exploraremos a

falta de hábito da leitura simbólica, tratada por Campbell.

Para Jung (2008), “a maioria dos símbolos são criados nos sonhos” (p. 43).

Embora esta pesquisa não requeira tal aprofundamento, é importante saber que, do

estudo das imagens oníricas, nascem os primeiros entendimentos das relações do

mundo simbólico presente no nosso inconsciente com a vida cotidiana. No entanto,

a teoria junguiana postula que o aparecimento dos símbolos não está limitado às

imagens dos sonhos, mas está presente na fluidez da vida diária. Existem

pensamentos, sentimentos, situações e atos simbólicos (JUNG, 2008). Sobre a

importância de estudar-se mitos e símbolos, Jung (2008) diz que, em tempos

socialmente difíceis e de grandes mudanças, é importante entender sobre o ser

humano e suas capacidades, uma vez que a construção do nosso caminho conjunto

depende de suas qualidades mentais e morais.

Um dos pontos do estudo do mito que nos chama a atenção é o fator de

incidência dos temas mitológicos ao redor do mundo. Os temas da mitologia, mesmo

aqueles usados pelas tribos mais isoladas e primitivas, se repetem nos quatro

cantos. Com diferenças significativas entre distância geográfica e temporal, é

possível perceber um paralelismo entre simbologias, estruturas narrativas e suas

atribuições nas mais diversas expressões culturais da mitologia. Fisicamente, seria

impossível povos tão distantes terem contato entre si, mas a cadeia simbólica usada

por diversos deles isolados geograficamente, parece semelhante. Esses elementos

presentes na psique humana deviam pertencer a uma espécie de memória

compartilhada, uma capacidade inata do inconsciente humano que unia a todos com

uma propensão a gerar, em suas mitologias, símbolos análogos e estruturas

narrativa similares. Campbell traz uma explicação filosófica. Quando perguntado

sobre qual era a história única da espécie humana, ele responde que “nós

procedemos de um só fundamento de ser, como manifestações na esfera do tempo”

(CAMPBELL, 1990, P. 57).

A esse paralelismo dos motivos mitológicos, Jung denominou arquétipos. À

versão latina da palavra (archetypum) pode se dar o significado de primeiro modelo.

Para ele (JUNG, 2007), o arquétipo representa um conteúdo inconsciente, e, vale

ressaltar, o autor diz que esse conteúdo “se modifica através de sua conscientização

e percepção, assumindo matizes que variam de acordo com a consciência individual

na qual se manifesta” (p. 17). Nas palavras de Campbell (1990), “arquétipos são

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ideias de base” (p.54). Assim, podemos entender que o arquétipo, tal como

postulado pelo autor, é um material plástico, uma forma básica que pode assumir

diferentes roupagens através da análise consciente. Ele é uma tendência instintiva,

segundo o autor. Para Jung (2008) e sua manifestação acontece de tal forma, que o

arquétipo tende a formar a mesma representação do motivo com inúmeras variações

de detalhes, sem perder suas características originais. Para Campbell (1990, p. 53):

[...] a psique humana é essencialmente a mesma, em todo o mundo. A psique é a experiência interior do corpo humano, que é essencialmente o mesmo para todos os seres humanos, com os mesmos órgãos, os mesmos instintos, os mesmos impulsos, os mesmos conflitos, os mesmos medos.

Desta forma, o acreditamos que é possível fazer uma relação dos achados do

inconsciente do homem moderno e relacioná-los com as expressões da mente

primitiva, suas imagens coletivas e seus motivos mitológicos (JUNG, 2000). A esta

memória que, segundo Jung (2008), todos nós compartilhamos, foi dada o nome de

inconsciente coletivo. Assim, o autor nos traz uma teoria que relaciona as

manifestações dos símbolos em diferentes épocas da sociedade com a necessidade

inata do ser humano de vivê-los. Para ele, essa psique que é infinitamente antiga, é

a base da nossa mente (JUNG, 2007). Em seu livro Os Arquétipos e o Inconsciente

Coletivo (JUNG, 2008), o autor diz que estes primeiros são “tipos arcaicos”, imagens

que existem desde incontáveis tempos. Dessa forma, o autor nos mostra que essas

imagens primordiais estão presentes no inconsciente de cada ser humano, e, deste

inconsciente, emanam influências que vão determinar semelhanças aos indivíduos,

independente de suas crenças, culturas e experiências. Mas é este material

inconsciente que irá moldar suas experiências simbólicas (JUNG 2008).

É, pois, o conceito de inconsciente coletivo que norteará nosso estudo e será

uma de suas bases, auxiliando na compreensão sobre o papel da narrativa

mitológica na vida do homem e de que maneira ela se reinventa. Começamos, aqui,

a enxergar os primeiros traços de onde o mito pode se manifestar no seriado

HIMYM, mesmo que, nesta fase do trabalho, essa ideia possa parecer um pouco

nebulosa para o leitor.

Jung (2008) tende a relacionar as manifestações simbólicas ao que seria mais

primitivo na mente humana. Ele a compara com o “impulso das aves para fazer seu

ninho e o das formigas para se organizarem em colônia” (p.83). O autor também

trata de esclarecer a relação entre imagens simbólicas e instinto (JUNG, 2008, p.83).

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Chamamos de instinto os impulsos fisiológicos percebidos pelos sentidos. Mas, ao mesmo tempo, esses instintos podem também manifestar-se como fantasias e revelar, muitas vezes, a sua presença apenas por meio de imagens simbólicas.

Todos esses elementos são as formas que usamos para outorgar sentido às

coisas. O processo de dar sentido é central nesta reflexão. Aqui, podemos entender

por dar sentido, o processo pelo qual o indivíduo dá significado às suas experiências

(JUNG, 2008). Esse processo de significar as experiências diz respeito, em certo

ponto, a dar sentido à própria existência. Dessa forma, o mito está associado ao

inconsciente coletivo como um elemento que proporcionou o desenvolvimento

psicológico, e, consequentemente, emocional do homem ao longo de sua história.

Jung (2008) considera a possibilidade que a origem do poder de reflexão do homem

seja fruto de experiências dolorosas e choques emocionais violentos. Não se pode

afirmar que efetivamente esse foi o início da consciência, mas o autor não tem

dúvida que a violência emocional é um gatilho para o indivíduo dar-se conta das

coisas que faz. Para este autor (JUNG, 2008), o inconsciente parece provido da

mesma capacidade de análise do consciente, inclusive para antecipar fatos e

possíveis resultados.

A defesa do inconsciente coletivo para prevenir os danos causados por esses

impactos emocionais se apresenta de forma diferente das defesas do inconsciente

individual. Este trata os males e ansiedades individuais através de compensações.

Da mesma forma, podemos enxergar as saídas do inconsciente coletivo – a

manifestação de mitologias, mitos e religiões – uma espécie de terapia mental

generalizada (JUNG, 2008). Para o autor, esses aspectos são responsáveis por

influenciar nações e épocas inteiras.

Ora, se essa relação do homem com a mitologia é tão enraizada na essência

do ser, como é possível que tenhamos tão poucas manifestações simbólicas como

os mitos do passado que representavam o sagrado e tinham um papel actancial

presente na sociedade? Com uma juventude que valoriza cada vez menos a religião

e não se importa com rituais, para onde se direciona o mito na vida do homem?

Isso significaria que a construção de uma mentalidade social voltada para o

empirismo, conforme avançamos com a ciência experimental e seus achados

revolucionários, irá levar o homem a uma ruina mental? Acreditamos que não. Neste

trabalho, levaremos em conta o princípio de que, sendo a manifestação arquetípica

um elemento da natureza da psique humana, ela deve estar presente nas

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manifestações que interessam ao indivíduo e que trazem, em algum ponto, uma

recapitulação de suas questões existenciais. Se, em nome de notáveis benefícios, o

avanço científico e as consequências socioculturais causadas pela forma de visão

do mundo em um período positivista e industrialista privou o homem da apropriação

desses símbolos na religião e na mitologia, em que esfera da vida se alojam essas

características nos dias de hoje? Entender como se transformam os mitos através

do tempo e da evolução humana é importante para identificar como ocorre a sua

apropriação.

2.1 A Atualização Contemporânea do Mito

Uma vez compreendida a forma como o mito se manifesta a partir da mente

humana e qual a possível fonte de sua existência, passaremos agora a olhar um

pouco mais atentamente sobre as manifestações míticas nos nossos dias.

Na antiguidade, inúmeras eram as formas do homem chegar ao mito. Na

verdade, a mitologia era fator tão enraizado na cultura que podemos considerar um

ponto indissociável da vida naquela época. A questão é que, antes, a mitologia

estava cercada e delimitada pela cultura à qual pertencia. Quando as sociedades se

fundem, acaba-se criando uma fusão entre as histórias e surge, assim, uma

mitologia mais complexa (CAMPBELL, 2009). Nossos antepassados conheciam

muito bem seus papeis na terra e a mitologia lhes dava o caminho para saber de

onde vinham e para onde iam. Eliade (2013) diz que “o homem dessas sociedades

encontra nos mitos os modelos exemplares dos seus atos. Os mitos lhe asseguram

que tudo que ele faz ou pretende fazer, já foi feito [...]” (p. 111). É dessa maneira que

o mito apazigua a angústia de viver. Sabendo o homem, através do mito, que existe

um caminho já pensado para suas ações e suas pretensões, isto “ajuda-o a eliminar

as dúvidas que poderia conceber quanto ao resultado de seu empreendimento”

(ELIADE, 2013, p. 125). Isso acontece de maneira muito natural em uma sociedade

primitiva. “O homem das sociedades nas quais o mito é uma coisa vivente, vive num

mundo ‘aberto’, embora ‘cifrado’ e misterioso” (ELIADE, 2013, p.125). Assim, uma

vez que o homem conheça os mitos, basta-lhe decifrar seus símbolos a fim de

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21

significar seus momentos de existência. Mas e quanto a nós? Como acontece a

manifestação mitológica em nossa cultura atual?

Por um conflito histórico, é comum atribuirmos à palavra “mito” o sentido de

mentira, inverdade ou fantasia. O caminho tomado pelas representações simbólicas

das religiões ocidentais mais populares foi de compreender de forma concreta as

narrativas de suas crenças. Para Joseph Campbell (1991), isso é fazer com que as,

por ele denominadas, metáforas de transcendência sejam conhecidas apenas nessa

forma de conotação e perdem, assim, a sua característica principal: a de apresentar

uma metáfora capaz de fazer o homem relacionar esta narrativa com aspectos

gerais da vida e de gerar, assim, uma epifania que vai além das palavras. Temos,

assim, a construção de uma cultura sem a capacidade de ler os mitos e apreender o

seu material sensível, como se fazia nos tempos mais antigos. Eliade (2013) denota

este processo chamando-o desmistificação. Para Campbell, a retirada das literaturas

míticas da educação, perdeu-se a tradição mitológica do Ocidente. Mesmo em

culturas arcaicas, “houve mitos que foram despojados de significação religiosa,

convertendo-se em lenda ou conto infantil” (ELIADE, 2013, p.100). Porém, o autor

hesita em afirmar que tenha sido abolido o pensamento mítico. Este sobrevive,

mesmo que tenha sido radicalmente modificado ou perfeitamente camuflado

(ELIADE, 2013). Mas de que forma é possível a sobrevivência do mito em uma

sociedade onde há tanto valor na realidade empírico-positiva das coisas?

O mito, quando presente na cultura primitiva, falava de aspectos relevantes

para a sociedade na qual atuava. Tendo a narrativa mitológica como vivência, torna-

se fácil fazer uma relação das histórias da mitologia com o que se está vivendo. Viva

na memória do indivíduo, a presença da história mitológica faz com que ele tenha

um melhor entendimento sobre os dilemas de sua vida no momento em que eles

acontecem. Isso aconteceria pelo fato de que essas informações, que vêm de

tempos antigos, falam sobre “os temas que sempre deram sustentação à vida

humana” (CAMPBELL, 1990, p.4), dando a ele um direcionamento, tirando o

acontecimento do plano da completa incerteza e dando uma perspectiva para o

indivíduo. Assim, as histórias mitológicas que tenham, em sua narrativa, a função de

ser um ponto de referência para as mazelas humanas, são capazes de capturar a

atenção do indivíduo. Campbell (1990) diz que não acredita na possibilidade de

alguém se interessar por um assunto simplesmente porque alguém lhe disse para

fazê-lo. Para ele, é necessário que haja uma introdução apropriada à leitura dos

Page 23: LEGENDARY: A expressão do mito no seriado How I Met Your Mother

22

mitos e critica o fato de que hoje não estamos mais familiarizados com o que o autor

chama de leitura do espírito. Ao distanciar-se do seu aspecto subjetivo, o homem

pode acabar perdendo o norte de seu interior, quando, no fluxo de sua vida, ele

encontra problemas que o conhecimento prático não dá conta de resolver

(CAMPBELL, 1990).

Aqui, novamente, faz-se a relação com o seriado de TV HIMYM. Através de

histórias que demonstram as questões do cotidiano nos dias atuais, torna-se

possível uma relação daqueles acontecimentos do telespectador com a sua vida. As

situações apresentadas no seriado e a forma como sua narrativa é construída

podem ter relação direta com o sucesso da série enquanto produto midiático, uma

vez que parecem apresentar temas pertinentes e do interesse do telespectador de

uma maneira que prende a sua atenção.

Campbell (1997) diz que, “estando viva a mitologia, sua explicação faz-se

desnecessária” (p. 23). As histórias tradicionais e as lendas mitológicas não vinham

com manual de instruções sobre seus significados. O que acontece, na visão do

autor, é que nos identificamos com os fragmentos dessa história. Para ele, essa

identificação os liga no fluxo temporal da narrativa e nos posiciona de forma que nos

encontramos na realidade da história. Todavia, o conteúdo dessa mensagem deve

estar ligado à conjuntura atual daquele que a lê. Para este autor, os mitos são

modelos de vida, mas esses modelos têm que ser atualizados ao tempo no qual se

está vivendo. Ele diz que “os motivos básicos dos mitos são e têm sido sempre os

mesmos” (CAMPBELL, 1990, p. 13).

A condensação de todo esse conteúdo mitológico acontece na linguagem. É

através dela que a mensagem se materializa e pode ser transmitida através de um

código compreensível para aqueles que o dominem. Campbell (1990) pontua o uso

da metáfora na linguagem mítica. Para ele, a linguagem metafórica amplia o

conceito para além de si mesmo e põe a linguagem mítica numa posição onde sua

mensagem deve ser entendida como conotação, e não denotação. Ainda sobre este

tema, o autor pontua que a metáfora apresenta um potencial de evento. Este evento

ganha uma roupagem fantástica que permite vivenciar o aspecto mitológico por trás

do evento como uma experiência legítima. Eliade diz que, “o mito, portanto, é um

ingrediente vital da civilização humana; longe de ser uma fabulação vã, ele é ao

contrário uma realidade viva” (MALINOWSKI em ELIADE, 2013, p. 23). O caminho

da cultura parece que tentou reduzir o mito a uma simples ficção cujo uso tem uma

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23

finalidade prática, “mas à qual não podemos aplicar a rigorosa medida da verdade,

se quisermos evitar que se dilua no nada.” (CASSIRER, 2009. p.21).

Temos assim, o entendimento de que, com o passar do tempo e o

desenvolvimento cultural do homem, a presença do mito, da forma que acontecia em

tempos primitivos, se esmaeceu. No entanto, percebemos que, sendo o mito um

fruto da natureza humana, sua presença pode se atualizar em nossos tempos,

embora nenhum autor apresente uma resposta concreta para esta questão.

Sabendo, então, que a mitologia carece de atualização para os modos de vida

contemporâneos, em que aspecto da cultura ela poderia se inserir? Pensamos que,

se a função mítica se apresentava, na antiguidade, no formato de histórias, é nelas

que vamos procurar sua atualização. Enxergamos, portanto, no seriado HIMYM, um

objeto passível de desempenhar essa função, uma vez que se trata de uma história

que remonta às questões cotidianas e apresenta resoluções das questões humanas

ao telespectador, mostrando-lhe um modelo de vida. Para Campbell (1990), mostrar

um modelo de vida é uma das funções do mito.

Aparentemente, esse mito precisa se atualizar e trazer sua função numa

linguagem que funcione na atualidade. Veremos, agora, como as questões até aqui

trabalhadas organizam-se em uma linguagem possível de recriar a função mítica.

Enfim, trata-se de perguntar: quais são os fatores relevantes para a produção de

significado da linguagem na narrativa mitológica e como ela se organiza como

sistema?

2.3 A Forma de Expressão do Mito

“Mitologia, no mais elevado sentido da palavra, significa o poder que a

linguagem exerce sobre o pensamento, e isto em todas as esferas possíveis da

atividade espiritual” (MÜLLER em CASSIRER, 2009, p. 19). Mas de que forma essa

linguagem precisa ser organizada para falar como um mito?

Em seu livro Mitologias, o autor Roland Barthes (2001) diz que “o mito é uma

fala” (p. 131). Esta fala à qual se refere, não é simplesmente uma fala comum, mas

uma fala que tem algumas condições para funcionar, “o que faz do mito um sistema

de comunicação” (p. 131). Essas histórias transcendem o plano da mensagem e

acabam ganhando um grau maior de significação. O conto mitológico das

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24

sociedades primitivas tinha diversas funções, como denotou Campbell. Mas, como já

vimos, se faz pertinente entender de que forma essas histórias, cujo significado é

metafórico e fala sobre aquilo que parece ser profundo na mente humana,

configuram-se de uma forma que seja possível a sua existência em nossa sociedade

civilizada que é orientada tão fortemente pelo pensamento concreto.

A metáfora facilita o processo de projeção daquilo que estamos vendo para as

questões de nossa vida. Portanto, é essencial entender o processo da linguagem na

materialização do mito e sua responsabilidade na completude desta experiência.

Cassirer (2009) diz que “apenas a expressão simbólica cria a possibilidade da visão

retrospectiva e prospectiva, pois determinadas distinções não só se realizam por seu

intermédio, mas ainda se fixam como tais dentro da consciência” (p. 57). A

linguagem metafórica, no caso do mito, materializa uma sabedoria milenar através

de uma história que caiba na realidade presente. Talvez um exemplo para esse

fenômeno de reinvenção do mito na atualidade numa estrutura que faça com que

sua significação aconteça, seja a maneira como a publicidade expõe seus

personagens ou produtos em um anúncio. Por exemplo: um jogador de futebol entra

em um campo lotado. Sua face demonstra confiança e compromisso. Um flashback

passa em sua cabeça reconstruindo a história de uma infância pobre e difícil, de

lugares precários, campinhos de futebol de chão batido. Também mostra a

insistência sustentada pelo talento, os pequenos passos de uma conquista difícil, a

presença de uma figura orientadora e o tortuoso trajeto que o guiou a este momento,

onde o gol simboliza o seu triunfo. Toda essa imagem é construída para ser

emprestada ao produto em questão, mas o que nos interessa aqui é este processo,

onde uma história de vida que é instigante e inspiradora, mas não incomum, se

transforma em um acontecimento transcendental, tem uma roupagem quase que

sagrada e tem o poder de nos tocar além do plano material.

Dessa forma, podemos ver que o conteúdo do mito não está no objeto em si,

mas, sim, no processo de construção dos sentidos de maneira metafóricos e/ou

alegórica com que os objetos são apresentados (BARTHES, 2001). O uso das

linguagens é responsável pelas representações que chegam aos leitores, e essa

linguagem mítica, por assim dizer, recupera as variáveis do uso social que dá vida

ao mundo que nos cerca.

Barthes (2001) acredita que a construção do mito está na roupagem que a

história ganha. Segundo o autor, não é possível a existência de mitos eternos, até

Page 26: LEGENDARY: A expressão do mito no seriado How I Met Your Mother

25

porque, a produção de sentidos ou os efeitos de sentido acontecem no cenário

sociocultural que é variável. O que se pode pretender é que eles tragam alguma

regularidade ou redundância que permite identificar nas variadas narrativas, alguns

elementos definidores de uma significação. O autor postula isso argumentando que

é a história que faz com que fatos e acontecimentos da nossa civilização se tornem

mitos e deem forma. Para ele, o mito é “uma fala escolhida pela história”

(BARTHES, 2001, p. 132).

A publicidade, o cinema, a fotografia, o esporte, os espetáculos, por exemplo,

constituem falas e podem servir de suporte à fala mítica. O autor (BARTHES, 2001)

deixa claro que, para ele, cada uma dessas diferentes formas de apresentação da

mensagem requer um tipo diferente de percepção. Por exemplo, em relação à

imagem, quando a vemos e interpretamos, podemos ter diversos modos de leitura.

Uma imagem de um esquema, por exemplo, terá uma significação muito diferente de

uma ilustração, sendo ambos classificados como imagem. O grau de consciência e

os mecanismos ativados para a compreensão desse objeto serão distintos. Isso tudo

vai depender de quão controlada será feita a significação deste objeto. Uma obra

pode ser totalmente abstrata e estará sujeita a interpretações infinitas, variando de

pessoa para pessoa. Porém, alguns outros objetos terão sua significação em um

nível mais direcionado. Se tratando de mitos, essa imagem precisa ser analisada em

função de determinada significação. O mito pressupõe uma matéria já trabalhada,

de alguma forma já conhecida pelo leitor (seja de um texto ou de uma imagem).

Dessa forma, o material mítico é interpretado independentemente de sua moldura.

Para Barthes (2001), a estrutura de construção de significado já conhecida

através da semiologia, ganha um adendo quando falamos da construção da

narrativa mítica. O sistema que pressupõe a construção de um signo a partir do

encontro entre significante e significado ganha mais uma camada igual, onde o signo

do primeiro sistema serve de significante para um próximo, no qual se cristaliza o

mito. Vemos a expressão desta teoria na seguinte imagem:

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26

Figura 1 – Estrutura da linguagem mitológica

Fonte: Barthes (2001, p. 137)

Observando este esquema, notamos que o significante do mito, que é o signo

do sistema primeiro, tem potencial de polissemia. Forma e sentido, neste esquema,

constituem um signo, mas também, um novo suporte de significação que está aberto

a receber um segundo significado, aqui chamado de conceito. Este outro significado

vem das histórias da humanidade, de conceitos já compreendidos pelo homem, ou

por uma determinada cultura. Eles dão um novo valor de significação ao signo

primeiro, criando um segundo signo no terceiro nível, que é o mito cristalizado. Ou

seja, um objeto que já carrega em si uma significação, é enformado em um outro

significado, resultando no produto que é o mito. É esse jogo de deslocamento entre

a forma e o sentido que define o mito. O jogador de futebol, que superou as

dificuldades impostas pela vida, empresta a sua história para um motivo maior que

ele mesmo: a glória da superação.

Entendendo a maneiro com que o mito se estrutura como linguagem, resta

saber como isso se manifesta e cria sentido para quem acompanha a narrativa

mitológica. Aqui, vale lembrar Cassirer (2009, p. 57)

“O pensamento não se coloca livremente diante do conteúdo da percepção a fim de relacioná-lo e compará-lo com outros, através da reflexão consciente, mas, colocado diretamente perante esse conteúdo, é por ele subjugado e aprisionado. Repousa sobre ele; só sente e conhece a sua

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27

imediata presença sensível, tão poderosa que, diante dela tudo o mais desaparece”

A construção da linguagem é um processo elaborado mas, vemos na fala do

autor que ela se expressa de uma forma simples. Quando se trata do mito que se

expressa pela linguagem, Campbell (1990) nos diz que “a metáfora é uma imagem

que sugere alguma outra coisa” (p.59) e que ela fala “aquilo que está além do

próprio conceito de realidade, que transcende todo pensamento. O mito coloca você

lá, o tempo todo, fornece um canal de pensamento com o mistério que você é”

(p.59). A metáfora, então, tem um papel fundamental na expressão do mito. Mas

como ela alcança o indivíduo? Quais os fatores pertinentes para a significação de

um material? Veremos, a seguir, que a interpretação de uma mensagem vai muito

além de uma simples leitura dos signos. Ela é, na verdade, um processo complexo e

com alguns pontos relevantes a serem observados para além da análise pontual da

estrutura da linguagem.

2.4 As Curvas do Percurso Significação

O consumo de um produto midiático pressupõe uma experiência. Um material

nos é apresentado e seu conteúdo deve falar conosco, de forma que sua

mensagem, em algum nível, faça sentido no âmbito de nossos desejos e aspirações.

Esse contexto criado pelo ambiente externo ou mesmo o nosso ambiente interno, no

que diz respeito ao nosso estado de espírito no momento da apreciação deste

material faz parte do conjunto de significados que vai formar este momento de

interação entre o nosso eu, o ambiente externo e o produto de comunicação. Essas

relações nos tocam no nível da sensação e da percepção, onde a identificação com

um contexto e situações que nos são familiares nos faz dar atenção, apreciar e dar

ouvidos à mensagem produzida por determinado produto da mídia. Nesse ponto, é

gerada uma situação de significação, onde as relações culturais que nos fazem

identificar com um produto, neste caso, um seriado de televisão, são geradas pelo

conjunto de elementos comuns ao nosso entendimento, que, através de uma ordem

de estruturação, utiliza-se da cultura e da recorrência de nossas vivências para

significar e dar fruição à essa relação do nosso eu com a experiência midiática.

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Para Eliade (2013), “o homem das sociedades nas quais o mito é uma coisa

vivente, vive num mundo ‘aberto’, embora ‘cifrado’ e misterioso” (p. 125). Nos

nossos tempos, compreender essa linguagem do mito requer uma adaptação no

processo de significação para que ela nos faça sentido. Para isso, buscamos na

semiótica de Jacques Fontanille uma resposta sobre como essas interações do

telespectador do seriado de TV com a linguagem mitológica acontecem. Para

Jacques Fontanille (2005), a significação de determinada mensagem acontece por

uma cadeia de níveis. O conteúdo expressa a sua mensagem através de uma rede

de significados que interagem com o sujeito em relação à sua posição perceptiva.

No seu entendimento, essa experiência se dá em níveis de pertinência que são

hierárquicos e interativos entre si. Estes são os níveis de pertinência semiótica. A

análise destes níveis em um material de comunicação ajuda a entender como se dá,

neste determinado material, aquilo que o autor chamou de experiência semiótica.

Assim, Fontanille propõe que seja analisado o que chamou de percurso de

integração dos níveis de pertinência. É este percurso que gera o plano da expressão

(FONTANILLE 2005). Elizabeth Duarte diz: “Fontanille propõe que a situação

semiótica seja compreendida como uma configuração heterogênea que comporta

todos os elementos necessários à produção e à interpretação da significação”

(DUARTE 2005, p.12). Fontanille propõe seis níveis no processo gerativo de

significação. Veremos agora quais são e o que sugere cada um deles.

No primeiro nível deste percurso, encontram-se as figuras. São as pequenas

unidades de significação. Elas têm a propriedade e o dever de captar o nosso fluxo

de atenção e, para tanto, precisam ter uma capacidade de significação rápida, quase

que icônica. Porém, sozinho este elemento é pouco. Ele é parte de um sistema e

seu significado isolado não é capaz de passar uma mensagem completa, levando

em conta que existe uma intensão de significar algo maior. A partir dele, se faz

necessário atribuir uma direção significante, afinal, neste nível, os objetos

apresentam apenas no nível da percepção.

No segundo plano, o dos textos-enunciados, é que os signos iniciais apontam

para uma intencionalidade de sua existência. Fontanille (2005) explica que o nível

textual funciona como um dispositivo de inscrição. Elementos mínimos se juntam

para falar de algo que não são eles mesmos, mas para representar, através de sua

forma e organização, um sistema maior. É aí que os signos se organizam e tomam

corpo e intenção. Para o autor, só se tornam pertinentes os elementos sensíveis e

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29

materiais da imagem, do ponto de vista semiótica, no momento de sua integração,

que acontece no texto-enunciado. Porém, todo conteúdo precisa de forma, e para

uma compreensão mais completa do sentido, Fontanille (2005) sugere um nível

seguinte, o do objeto.

O nível terceiro, do objeto-suporte, compreende a complexidade morfológica

do objeto de pesquisa. Os elementos de significação necessitam de um suporte para

se mostrarem. Algo que lhes dê forma e lhes disponibilize em algum lugar, seja ele

físico ou virtual. Além da disponibilidade, o objeto também organiza o conteúdo

numa prática que carrega em sua existência propriedades de solidez, como diz o

autor (FONTANILLE, 2005). Dessa forma, o objeto-suporte condensa o conteúdo e

restringe a sua significação nas paredes de sua própria prática.

O quarto nível é o das cenas predicativas. São elas que fazem o elo entre

aquilo que é material e o que está presente no entendimento e compreensão do

enunciatário. Aqui é o nível onde a mensagem, composta por todos os elementos

anteriores conversa com o espectador e cria significação, no momento em que

relaciona o acontecimento do material midiático com a experiência de vida de quem

assiste. O contexto cultural aqui fomenta a fruição entre o material midiático e a vida

do espectador/leitor.

Passamos, então, para o quinto nível, o das estratégias, que é onde o

material analisado interage no espectro temporal. Neste nível, Fontanille (2005) nos

lembra que a experiência subjacente já não é mais uma prática particular, mas sim

uma prática relacionada à conjuntura, onde “várias práticas interagem em diferentes

dinâmicas: sobreposição ou concorrência” (p. 26). É nesse nível que a conjuntura

valora o conteúdo e o faz pertinente nesse determinado espaço no tempo.

Lembrando que, se tratando de audiovisual, vivemos em um momento de mudança

das suas dinâmicas, quando a televisão se condensa no meio virtual os meios não

só convergem, mas se misturam em práticas envolvendo múltiplas telas, o que influi

no momento onde o telespectador estará disposto a apreciar determinado material.

Isso tem a ver com a relação do telespectador com o material midiático e o papel

que este tem na vida daquele que o assiste. O antigo ritual de sentar-se à frente da

televisão em um horário quase que pré-programado acompanhado da família não é

mais regra. O material midiático pode ser consumido, nos nossos tempos, em

diferentes momentos do dia, ficando mais próximo do espectador.

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Fontanille (2005) fala que as experiências subjacentes, a percepção de uma

regularidade e a percepção de uma identidade de comportamento leva a criação do

sexto e último nível, que ele chamou de forma de vida. É aqui que o conteúdo e os

diferentes níveis de pertinência se juntam em uma possibilidade de análise global,

sendo possível estabelecer uma relação com as práticas culturais.

Podemos ver a redução sistemática desta teoria na tabela abaixo. Nela estão

expressos os nomes de cada nível que são as instâncias formais. A tabela também

expressa o tipo de experiência que deve acontecer em determinado nível e a

constituição material de cada um.

Tabela 1 – Processo gerativo de significação

Tipo de experiência Instâncias formais Instâncias materiais

Figuratividade Signos Propriedades sensíveis e

materiais das figuras

Interpretação Textos enunciados Propriedades sensíveis e

materiais dos textos

Corporeidade Objetos Propriedades sensíveis e

materiais dos objetos

Prática Cenas predicativas Propriedades sensíveis e

materiais das práticas

Conjuntura Estratégia Propriedades sensíveis e

materiais das estratégias

Ethos e comportamento Forma de vida Propriedades sensíveis e

materiais das formas de vida Fonte: Fontanille (2005, p.36).

Assim, percebemos a importância de uma semiótica holística para a

compreensão do processo de significação da mitologia presente no seriado. Se é a

estrutura metafórica que permite a polissemia de uma mensagem, se faz necessário

uma ferramenta que possa mapear o caminho dessa mensagem à compreensão do

telespectador e encontramos em Fontanille uma instrumentação pertinente à

construção deste raciocínio no presente trabalho.

Page 32: LEGENDARY: A expressão do mito no seriado How I Met Your Mother

31

2.5 A Materialização do Mito no Seriado

Como se dá a materialização do mito no seriado, é um ponto de atenção. A

proposta de uma consciência compartilhada trazida por Jung no seu extenso

trabalho nos mostra que, para ele, o ser humano tem uma capacidade natural de

produzir símbolos para expressar e organizar seu mundo interno. Ele (JUNG, 2008)

diz que, “no mundo primitivo, as coisas não têm fronteiras tão rígidas como as

pessoas das nossas sociedades ‘racionais’” (p. 48) e que, “assim como uma planta

produz flores, a psique cria os seus símbolos” (p. 78). Assim, a simbologia surgiria

na mente humana como instinto, sem uma intencionalidade anterior. A partir disso,

surge a mitologia, cujo papel, se desenvolve no coletivo e tem uma função na vida

de cada indivíduo. Ela serve como um guia para os problemas padronizados e,

como vemos nos relatos dos autores, pode ser de grande utilidade nos momentos

difíceis da vida. Campbell (1990), “o momento crucial é aquele em que a verdadeira

mensagem de transformação está prestes a surgir. No momento mais sombrio surge

a luz (p. 40). Além desta função de remediação frente à uma situação problemática,

o mito ainda funciona como um instrumento de preparação para o que ainda está

por vir através destes mesmos temas-padrão das problemáticas que implicam em

estar vivo. “O mito garante ao homem que o que ele se prepara para fazer já foi

feito, e ajuda-o a eliminar as dúvidas que poderia conceber quanto ao resultado do

seu empreendimento” (ELIADE, 2013, p. 125). O momento em que ocorre o

reconhecimento do mito é descrito pelo mitólogo Cassirer (2009) como um “saltar de

faísca” (p. 53). Para o autor “a tensão diminui a partir do momento em que a

excitação subjetiva se objetiva” (p. 53), isto é, quando a dúvida frente a um problema

se torna palpável e, portanto, sua resolução, possível.

Vimos, também, que o mito se manifesta na linguagem através de um

sistema. Barthes (2001) nos mostra que “o mito não se manifesta o mito tem limites

formais, mas não substanciais” (p. 131), ou seja, o que define o mito na estrutura de

linguagem é a forma pela qual ele se apresenta, e não o seu conteúdo. É o sistema

de construção de uma metáfora universal que dá à mensagem a condição de mito.

Para Cassirer (2009, p. 104):

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32

Seria inteiramente impossível apreender e reter o mundo exterior, conhecê-lo e entendê-lo e designá-lo, sem esta metáfora fundamental, sem esta mitologia universal, sem este ato de insuflar nosso próprio espírito no caos dos objetos e de refazê-los, voltar a cria-los, segundo nossa própria imagem.

Percebemos, assim, que esta mensagem percorre uma espécie de caminho

na produção do seu sentido, que contempla momentos de significação que são

hierarquizados, partindo desde a unidade mínima o signo, até as formas de vida que

influenciam no processo de geração de significados no plano da expressão. Como

nos diz o autor (FONTANILLE, 2005): “Pode-se, pois, considerar que esse percurso,

de níveis de pertinência, configurado progressivamente a partir de um horizonte

material e sensível, é um percurso gerativo de plano da expressão” (p.36). É a

semiótica de Fontanille que nos instrumentaliza para a próxima parte desta

pesquisa.

A significação e comunicação são processos que andam de mãos dadas e,

para tanto, é necessário que exista uma mediação entre a mensagem e o

telespectador. O seriado em questão só tem sua existência possível por conta do

meio da televisão, que produz o conteúdo. Em uma era de convergência, a moldura

selecionada já não é fator determinante para a produção de sentido, porém, a

linguagem oriunda deste canal se mantém perceptível e quase intocável. A

televisão, desde a sua origem, abriu caminho para uma nova possibilidade de unir

imagens em sequência ao áudio, criando uma forma de se comunicar com uma

riqueza de signos não vista antes. A televisão atrai, pois cerca a visão e audição e

faz com que seu conteúdo seja envolvente. Não é a toa que, com o seu

desenvolvimento, sua presença nas casas do mundo inteiro é quase que

mandatória. Ela passou a ser como um membro da família, tendo influência não só

no entretenimento, mas na organização de rotina de uma família.

A presença de um meio de comunicação tão próxima e pessoal nos traz a

necessidade de entender quanto a variedade de fatores influi no percurso de

geração de significado através do processo de comunicação.

As reflexões teóricas até aqui apresentadas respondem às provocações que

os episódios do seriado HIMYM trouxeram à tona. Esclarecido este ponto, voltamos

ao material à luz da teoria e confrontando-o com a percepção do telespectador.

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33

3 METODOLOGIA

A escolha de metodologia adequada é parte essencial de uma pesquisa que

tenha como intenção ser relevante para a sua área de conhecimento.

Frente ao objetivo deste trabalho, entender se narrativa de HIMYM ser uma

narrativa mitológica contemporânea e de que forma se dá a sua experiência pelo

telespectador. Optamos por utilizar o método qualitativo e exploratório. Ele nos

auxilia a montar o caminho através dos objetivos específicos que são: estabelecer

conexões conceituais entre mitos e símbolos. Também definir os elementos

constitutivos da narrativa mitológica e suas formas de articulação. Analisar a

composição do seriado no que diz respeito à forma e linguagem e, por fim, buscar

identificar os modos de apropriação da narrativa pelos expectadores.

Foram escolhidas três técnicas: a pesquisa bibliográfica, a pesquisa

documental e, por fim, a entrevista em profundidade. Gil (1987) afirma que o método

científico como “um caminho para se chegar a determinado fim” (p. 27). Ele forma,

assim, um conjunto de procedimentos que, aliados entre si e selecionados

cuidadosamente em relação ao problema, são a ferramenta para se desenvolver o

conhecimento em pesquisa social.

3.1 Pesquisa Bibliográfica

O tema desde trabalho busca sua construção na diversidade teórica que

tenha uma relação entre si, mesmo que não da forma mais óbvia. No objetivo de

encontrar essas relações e entender melhor o que a comunidade acadêmica já

descobriu acerca do presente problema, a pesquisa bibliográfica se mostra como a

única maneira de construir esse conhecimento inicial. Para Duarte (2012), a

pesquisa bibliográfica “é um conjunto de procedimentos para identificar, selecionar,

localizar e obter documentos de interesse para a realização de trabalhos

acadêmicos e de pesquisa (p. 218). Segundo Gil (1987), uma das vantagens da

pesquisa bibliográfica é permitir ao pesquisador a possibilidade de ter contato com

muito mais dados e informações do que as que ele conseguiria pesquisar

diretamente. Isso o situa-se nos diferentes âmbitos da sua pesquisa, tornando

Page 35: LEGENDARY: A expressão do mito no seriado How I Met Your Mother

34

possível que ele aborde diferentes pontos de vista e entre em contato com inúmeras

formas pelas quais suas ideias já foram desenvolvidas, afinal, a varredura

bibliográfica ainda é a maneira mais segura e completa de conhecer a fatos do

passado e entender melhor o que já foi trabalhado sobre o tema proposto.

3.2 Pesquisa Documental

Quando se trabalha um seriado de televisão, faz-se necessário separar este

material e juntar as peças que são importantes para o andamento da pesquisa. Por

este motivo, a técnica de pesquisa documental. Sua diferença da pesquisa

bibliográfica é pequena, porém, importante: as fontes. Na pesquisa bibliográfica

buscamos o conhecimento consagrado de autores que analisaram a realidade e a

traduziram em teoria, ensaios e experimentos. Já, a pesquisa documental é o

recolhimento de material cujo conteúdo ainda não passou por uma análise (GIL,

1987). Nesta parte do trabalho, buscamos acumular tudo que fosse possível de

material audiovisual correspondente ao seriado HIMYM.

3.2.1 Dados do seriado: coleta e recorte

O seriado HIMYM foi lançado em 19 de setembro de 2015 nos Estados

Unidos. A série é composta por cinco personagens centrais. Aqui, entendermos por

personagem todos os indivíduos que se relacionam no seriado, que foi ao ar través

de seu episódio piloto. Nele, Ted, o personagem principal, começa a contar para

seus dois filhos como foi que ele conheceu a mãe deles. Tudo começa quando seu

colega de quarto e melhor amigo, Marshall, comenta que vai pedir sua namorada em

noivado naquela noite. Ted responde: “cara, você vai ficar noivo esta noite” e é

acometido de uma reflexão: “o que eu vou fazer essa noite?”. Decidido de que já

está na hora de encontrar a pessoa certa para viver o resto de seus dias, Ted nos é

apresentado como um homem ansioso por esse momento, vivendo as frustrações

que uma vida cheia de expectativas irreais pode trazer. Porém, ele está sempre com

Page 36: LEGENDARY: A expressão do mito no seriado How I Met Your Mother

35

seu grupo de amigos, cada um com características marcantes e com um papel

representativo no universo do seriado e que, também, têm que lidar com as

questões da vida. Marshall é o melhor amigo de Ted e inicia o seriado dividindo

apartamento com ele. Ele nos é apresentado como um amigo generoso e sensível.

Sua noiva, Lilly, tem o perfil de conselheira. De personalidade determinada, mas,

muitas vezes, frágil, ela apoia e diverte os amigos. Robin, a outra mulher do grupo, é

uma imigrante do Canadá que está tentando a vida em Nova Iorque, cidade onde se

passa o seriado. Ela entra no seriado quando Ted a vê pela primeira vez e diz a

Barney que, uma dia, casaria com ela. A primeira tentativa é frustrada, mas ela se

junta ao grupo, que permanece unido até o fim do seriado. O último integrante é

Barney. Ele representa o homem seguro e confiante, que não se intimida de passar

a noite com uma mulher e ir embora no outro dia. Apesar de parecer um culto a essa

atitude de valores morais duvidosos, o seriado trata de mostrar a fragilidade por trás

desta casca.

Podemos considerar o seriado como uma grande narrativa composta de

muitas subdivisões. Aqui, para separar o material pertinente para estudo,

utilizaremos as cenas como menor unidade de significação. Isso acontece porque

acreditamos que ela possui o caráter de síntese suficiente para nossa pesquisa,

uma vez que leva em si uma pequena narrativa completa, que, mesmo fazendo

parte de um arco narrativo maior, pode ser compreendida sem a necessidade da

apreciação do todo. Durante a série HIMYM, foram exibidos 208 episódios ao longo de 9 anos em

9 temporadas. Selecionar o material para análise em uma fonte tão extensa requer

atenção e critério. Levamos em consideração, primeiramente, os papeis de cada

cena para dentro do seriado. Todas elas marcam etapas importantes na vida dos

personagens: a primeira, mostra o término do casal icônico do seriado e a

consequente luta do personagem Marshall para lidar com o fim de um

relacionamento de 6 anos, o que resulta e uma das frases motivacionais mais

famosas do seriado, proferida pelo personagem Barney. Na segunda cena, vemos o

primeiro encontro dos personagens Ted e Robin, que marca o início da busca de

Ted pela mãe, que dá nome ao seriado. Nesta cena, é evidenciada a tentativa do

personagem de mudar um aspecto de sua personalidade que o faz sofrer: a falta de

coragem. Por fim, vemos o momento em que Ted perde o emprego e, com ele, as

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36

esperanças na vida, cena que marca a virada de seu destino e o faz enxergar que a

vida não aceita planejamento.

Acreditamos que, dentre todos os momentos importantes do seriado, estes

têm potencial para mostrar lições de vida e exemplos de problemas globais do ser

humano. Sua escolha para a análise dá espaço para o entrevistado expressar o seu

entendimento deste caráter metafórico da mensagem e, através da entrevista em

profundidade, explorar quais são as suas percepções dele sobre este material.

As cenas foram mostradas ao entrevistado no momento da entrevista

compiladas em um único vídeo que continha uma pequena contextualização, para

que o entrevistado situasse em que momento no tempo da série a cena em questão

acontecia. Veremos, agora, o conteúdo detalhado de cada cena apresentada neste

trabalho.

As cenas possuirão um número para serem identificadas ao longo desta

pesquisa, dados de acordo com sua aparição nas páginas seguintes. Para cada

cena, mostraremos, em imagens, um número de sequências para ilustrar o seu

conteúdo em forma de imagens. Elas não estão organizadas pela ordem cronológica

de aparecimento no seriado, uma vez que sua compreensão, nesta análise,

depende apenas do conhecimento prévio da totalidade do produto midiático em

questão e de seu conteúdo, e não na ordem de aparição dentre os episódios.

Figura 2 – Cena 1, sequência 1 – Marshall sofre após o término do

relacionamento

Fonte: How I Met Your Mother EP01S02

O primeiro recorte, ao que daremos o nome de Cena 1, é um excerto do

episódio primeiro da segunda temporada. O personagem Marshall está sofrendo

pelo término de um relacionamento de nove anos com sua então noiva, Lilly. O casal

marca o seriado por viverem uma história de união e companheirismo. O término do

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37

relacionamento se apresenta como um grande para todos, mas os outros

personagens juntam-se para confortar Marshall, que é apresentado, neste momento,

em um processo de sofrimento profundo.

Em um determinado momento do episódio, os amigos discutem a miséria do

companheiro numa mesa de bar, ao que o personagem Barney, conhecido por suas

características aparentemente frias e objetivas no que diz respeito a

relacionamentos postula:

- Quando eu estou triste, eu paro de ficar triste e fico incrível em vez disso.

Pura verdade.

Esta frase torna-se icônica àqueles que apreciam a série. Sua força pode ser

percebida pelo grande número de material promocional gerado posteriormente.

Figura 3 – Cena 1, sequência 2 – Barney dá sua sugestão sobre qual deve

ser a atitude de Ted nesse momento

Fonte: How I Met Your Mother EP01S01

A cena seguinte, Cena 2, está presente no primeiro episódio da primeira

temporada. Neste que é o episódio piloto do seriado, começamos entendo o drama

de Ted, que dá nome à toda a trama. Ele se dá conta do momento em que se

encontra na vida e acredita firmemente que agora é a hora de encontrar o amor

verdadeiro, de encontrar aquela que será a mãe de seus filhos. Em um determinado

ponto do episódio, Ted vê, no outro lado do bar, uma mulher que lhe chama a

atenção. Após um inusitado desenrolar da situação e um encontro frustrado, ele

aparece no bar contado aos seus amigos sobre seu insucesso na noite anterior. Os

amigos comentam o fato dizendo que talvez ele não tenha sido corajoso o suficiente

e tenha perdido a oportunidade de criar um momento mais significativo, um beijo, na

ocasião do primeiro encontro. Eis que, durante a conversa e uma expressão de

arrependimento de Ted:

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38

- Eu devia tê-la beijado

Eis que a personagem em questão, Robin, aparece na TV.

Figura 4 – Cena 2, sequência 1 – Os amigos se surpreendem ao ver a

mulher, de quem Ted falava, na TV

Fonte: How I Met Your Mother EP01S01

Ela aparece num noticiário contando uma história: um potencial suicida

desiste de se jogar de uma ponte. Extasiado com essa aparição mágica, Ted

discursa sobre a forma como leva a sua vida, como isso o tem prejudicado e como

ele gostaria de, a partir daquele momento, passar a agir de uma forma diferente,

começando por ir beijá-la naquele exato momento:

- Eu nunca faço nada louco. Eu estou sempre esperando pelo momento,

planejando o momento. Ela está partindo amanhã, talvez essa seja a única chance

que eu vou ter. Eu tenho que fazer o que aquele cara não conseguiu. Eu tenho que

dar o salto.

Ao fim deste discurso, ele e os amigos saem juntos para esta empreitada de

coragem.

Figura 5 – Cena 2, sequência 2 – Ted resolve agir de uma forma diferente do

seu natural e quer começar naquele momento.

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Fonte: How I Met Your Mother EP01S01

Por fim, mostramos a cena final do último episódio da quarta temporada. A

Cena 3 de nosso trabalho. Mais uma vez, Ted se encontra em conflito. Dessa vez,

com sua profissão. Após uma série de fracassos como arquiteto, ele está relutante

em aceitar um emprego como professor, imaginando que esse seria a coroação da

sua derrota, uma vez que o seu plano sempre fora atuar como arquiteto, fora da vida

acadêmica. Os amigos intervêm e a personagem Lilly dá um discurso retomando

fatores para ele refletir. Ted diz:

- Isso é um desastre, como eu vou sair dessa?

Lilly responde:

- Ok, eu vou perguntar: você realmente quer sair dessa? A arquitetura está

matando você, Ted. E ver isso te matar, está nos matando. Você é como aquele

bode com o pano de chão: cada vez que o mundo lhe tenta tirá-lo, você continua

agarrado nele. Sabe, é só um pano de chão. Por que sequer você o quer?

Figura 6 – Cena 3, sequência 1 – Lilly discursa sobre os caminhos da vida

com Ted, que está em crise.

Fonte: How I Met Your Mother EP24S04

Ted contesta:

- Porque eu tenho que ser um arquiteto... esse era o plano!

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40

Lilly responde:

- Ah, dane-se o plano. Eu planejava ser uma atriz famosa, Marshall planejava

ser um advogado de meio ambiente, Robin planejava ser uma repórter de TV.

Após uma pequena intervenção (alívio cômico) de Robin e Barney, Lilly

continua:

- Olha, você não pode desenhar a sua vida como um prédio. Não funciona

dessa forma. Você tem que viver e, assim, ela vai se desenhando.

Ted responde um pouco incrédulo:

- Então, eu deveria não fazer nada?

Lilly responde:

- Não. Escute o que o mundo lhe diz para fazer e... dê o salto.

Quando Lilly termina sua fala, Marshall tem um insight e toma para si o

conselho de Lilly, imediatamente saindo para cumprir sua tarefa dizendo:

- Eu te amo, Lilly.

Durante todo o episódio, Marshall está obcecado por saltar do terraço de seu

prédio e chegar no terraço do vizinho, onde ele acredita ser um lugar muito

interessante para estar. Ao fim do discurso, ele toma como literal a linguagem

metafórica usada por Lilly e engaja na sua empreitada para saltar ao outro prédio.

Figura 7 – Cena 3, sequência 2 – – Marshall interpreta de forma concreta a

metáfora proposta por Lilly.

Fonte: How I Met Your Mother EP24S04

Lilly insiste que o salto era metafórico, mas não consegue impedir o ímpeto de

seu noivo. Ao fim, Marshall finalmente realiza seu sonho de tanto tempo e é seguido

pelo seus amigos, inspirados pela atmosfera criada. Ao fundo, a música diz: one ,by

one, by one, by one. Em tradução livre, significa “um após o outro e após o outro...”.

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41

Figura 8 – Cena 3, sequência 3 – Um a um, os amigos dão “o salto”.

Fonte: How I Met Your Mother EP24S04

Quando chega a vez de Ted, ele faz uma recapitulação do seu ano. Ele se

lembra de várias situações que causaram dor na sua vida: a perda do emprego, ter

sido deixado no altar, ter apanhado de um garçom e também de um bode... Mas ao

fim ele conclui pensando:

- Mas esse foi o melhor ano da minha vida! Porque, se não fosse por tudo

isso, eu não teria acabado no melhor emprego que eu já tive. E, mais importante, eu

não teria conhecido a mãe de vocês.

Figura 9 – Cena 3, sequência 3 – Ted faz uma recapitulação menta de seu

ano antes de “dar o salto” e explica por que aquele ano foi o melhor de sua vida.

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Fonte: How I Met Your Mother EP24S04

Estes são os trechos escolhidos de acordo com os critérios citados acima, de

que estes, dentre a numerosidade de material passível de ser estudado no seriado,

estes têm potencial para mostrar o aspecto ilustrativo e projetivo que o seriado pode

ter no contato com o telespectador, devido ao seu conteúdo que apresente lições de

vida e exemplos de problemas globais do ser humano.

Em um vídeo que reúne as três cenas com uma breve contextualização

textual, eles serão apresentados durante determinada parte da entrevista em

profundidade, após entendermos qual a relação do entrevistado com a série.

Acreditamos ser importante que ele discurse sobre o que a série representa em sua

vida antes de assistir às cenas para não ser influenciado pelo conteúdo específico

do material selecionado.

3.3 Entrevista em Profundidade

A entrevista em profundidade, ou entrevista aberta, propõe um diálogo entre

um pesquisador e seu entrevistado. Ela tem como principal característica o fato de

não ter um questionário fechado, mas sim um roteiro, que pode ser flexível de

acordo com o decorrer da conversa. É uma ferramenta bastante útil para resolver

problemas complexos, pois faz uso dos relatos e das interpretações das

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43

experiências (DUARTE E BARROS, 2012, p.63). Optamos por esta técnica

acreditando que era necessário um contato próximo e profundo com as percepções

do entrevistado, uma vez que a complexidade do tema mitológico mora em

encontrar as nuances de sua apropriação nas relações e interpretações por parte do

indivíduo.

As desvantagens da entrevista em profundidade devem ser atentamente

observadas para garantir o bom andamento da pesquisa. Gil (1987) aponta, dentre

outras, uma possível falta de motivação do entrevistado para responder, um uma

inadequada compreensão por parte do entrevistado sobre o entendimento das

perguntas. Também lembra o autor que pode haver uma influência exercida do

entrevistador sobre o entrevistado, tanto na formulação de suas perguntas quanto

em sua opinião (p. 114-115). No momento da realização desse estudo, buscamos

observar com cuidado cada um desses aspectos, tentando minimizar tanto quanto

fosse possível, a influência destas questões na obtenção dos resultados pertinentes

à pesquisa.

Por isso, o entrevistador deve lembrar-se que ele é um instrumento de coleta

de dados, no momento que ele não poderá dar conta de interpretar dados

qualitativos sem usar a sua experiência, imaginação e intelecto (McCRACKEN,

1988, p.18). McCracken pontua que dados qualitativos são, geralmente, confusos e

desorganizados, o que, segundo ele, exige do entrevistador profunda atenção para

encontrar perspectivas de padrões que se formam e precisam ser constantemente

tensionados em relação aos dados até o surgimento de ligações que façam sentido.

Duarte (2012) também orienta que as informações sejam cruzadas e que se

verifique a consistência da argumentação, buscando articulações entre relatos e

documentos no momento de redigir (p.74).

O tipo de entrevista escolhido no âmbito deste trabalho é a entrevista em

profundidade por pauta, ou, entrevista com questionário semi estruturado. Para Gil

(1987), nesse tipo de entrevista, as perguntas atuam mais numa forma de conduzir a

conversa. A ideia aqui é que o entrevistado discorra livremente a respeito das pautas

assinaladas e, quando este se afasta delas, “o entrevistador intervém de maneira

suficientemente sutil, para preservar a espontaneidade do processo” (p.117). Por

isso, lembramos que a intuição e sensibilidade do entrevistador devem sempre estar

aliadas à prática da entrevista em profundidade. Uma das vantagens apontadas

dessa técnica é que, receoso de que o entrevistado não tenha se expressado de

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44

forma clara ou elaborada o suficiente, o entrevistador tem a possibilidade de voltar à

questão desejada (DUARTE E BARROS, 2012, p. 74). Gil (1987) afirma que é

impossível determinar o comportamento correto no momento de conduzir uma

entrevista (p. 118), no entanto, alguns aspectos podem ser observados,

considerando que a condução da entrevista deverá levar em conta diversas

circunstâncias, como o objetivo, o ambiente, etc.

Dessa forma, podemos entender que no caso da entrevista, a relação entre

entrevistador e entrevistado é mais complexa do que numa pesquisa quantitativa,

por exemplo. É necessário algum grau de envolvimento para deixá-lo a vontade com

uma conversa inicial amistosa e pontuar claramente o fator confidencial da entrevista

são pontos a serem levados em conta (GIL, 2012, p. 119). A atmosfera de

cordialidade e simpatia deve ser mantida desde o início da conversa, deixando o

entrevistado a vontade, livre de qualquer pressão sobre o conteúdo de suas

respostas, estabelecendo, assim, o rapport (conexão, quebra de gelo) entre o

entrevistado e o entrevistador.

Numa técnica que precisa dispor de algum grau de informalidade, se mostra

necessário a aplicação de alguns conceitos para que se possa alcançar os

resultados esperados. Ter um roteiro que apresente ao entrevistador de forma clara

qual caminho a entrevista deve seguir é um ponto merecedor de atenção. Para Gil

(1987, p. 119): “Nas entrevistas estruturadas, a formulação das perguntas assume

um caráter metódico. Já nas entrevistas não estruturadas, o desenvolvimento das

perguntas depende do contexto da conversação”. McCracken (1988) lembra que

uma das importâncias do questionário padrão é permitir ao entrevistador que cubra o

mesmo campo de informações em todas as entrevistas, garantindo a padronização

dos dados obtidos (p. 24).

Em busca dessa padronização, importante para a análise futura, vale lembrar

outro aspecto levantado por Gil: o do estímulo a respostas completas. O autor nos

lembra que, frequentemente, o entrevistado nos surpreende com uma resposta

incompleta ou obscura (GIL, 1987, p. 120). Neste momento, o entrevistador deve

usar alguma técnica para estimular o entrevistado. No entanto, isso deve ser feito

sem que haja indução. Uma pergunta como “Você não acha que...”, segundo o

autor, poderia sugerir uma resposta. É preciso escolher uma forma de indagação

que leve o entrevistado a pensar, sem conduzi-lo diretamente ao raciocínio. Mais

uma vez, mostra-se necessário que haja um balanço na condução da técnica, já que

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45

uma entrevistada em profundidade costuma garantir dados abundantes e ser uma

potencial caixa de Pandora (McCRACKEN, 1988, p.22). Para isso, como já foi

mencionado, um roteiro elaborado de forma clara e organizada ajuda o entrevistador

a manter o entrevistado no foco das informações que precisa.

O roteiro da entrevista em profundidade tem como objetivo ser um guia para a

entrevista, que deve seguir um curso natural, onde o entrevistador aproveita os

ganchos de informações para desenhar, em cada entrevista, o curso mais natural

possível em direção às informações desejadas. McCracken (1988) lembra que o

roteiro tem, como um de seus objetivos, preservar o mesmo contexto de conversa

em todas as entrevistas, bem como direcionar o escopo das falas, amenizando a

característica da entrevista de gerar um número abundante de informações (p.24).

Essa padronização irá ajudar a encontrar as informações pares e as ligações de

ideias que darão corpo à análise. É importante lembrar, segue o autor, que a

natureza aberta da técnica deve ser mantida. A oportunidade de explorar cada

questão permanece. Nas palavras do autor (McCRACKEN 1988): “In sum, the

questionnaire that is used too order data and free the interviewer must not be

allowed to destroy the elements of freedom and variability within the interview” (p.

25). Também vale lembrar que Duarte (2012) também postula algo semelhante

quando diz que as perguntas devem ser feitas de forma flexível, uma vez que “cada

entrevistado é único e exige compreensão, paciência e flexibilidade”.

A partir desses princípios, foi elaborado um roteiro usado em todas as

entrevistas feitas para este trabalho. Sua primeira versão foi testada em uma

entrevista que não entrará no âmbito da análise e aprimorada para a versão final

(anexo B), que foi utilizada em todas entrevistas restantes. Neste questionário,

buscou-se um caminho de interrogação que permitisse ao entrevistado elaborar

sobre suas percepções, sentimentos e projeções a respeito do seriado. Também,

buscou-se analisar se e quanto a narrativa do seriado influenciava a sua vida

prática, para além do plano reflexivo.

As entrevistas foram realizadas em diferentes locais, sempre a critério do

entrevistado, visando sua comodidade, conforto e privacidade, para que fosse mais

fácil sua abertura para falar de suas impressões e sentimentos sobre o seriado.

Uma quantidade tão numerosa de dados, como é obtida pela entrevista em

profundidade, necessita de um registro apurado. Dessa forma, optou-se por registrar

todo o material em áudio, com o auxílio de um aparelho gravador. Gil (1987) defende

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46

o registro feito durante a entrevista, pois, segundo o autor, as anotações feitas após

o momento podem sofrer distorções da memória do entrevistador, distorcendo

importantes detalhes presentes na subjetividade da fala do entrevistado (p. 121). As

entrevistas foram gravadas através de um telefone celular com a permissão dos

entrevistados e catalogadas de acordo com as iniciais de cada entrevistado e seu

número na ordem cronológica das entrevistas.

Apesar da entrevista em profundidade ter a característica de ser uma

conversa informal, ela necessita de alguma organização para tornar possível a

análise. Assim, optamos por organizá-la da seguinte forma: em primeiro momento da

entrevista, buscamos entender um pouco sobre quem era o entrevistado, saber um

pouco sobre seus hobbies e sobre aquilo que fazia no tempo livre, a fim de entender

qual o papel do conteúdo televisivo em sua vida. Depois, passamos a falar sobre a

série, buscando entender um pouco sobre como ele se relaciona com os

personagens a nível de identificação. Apresentamos, então, as cenas 1, 2 e 3,

previamente selecionadas. A partir dos excertos assistidos, passamos a investigar

uma relação mais profunda do seriado em suas reflexões e ações, buscando

entender se o conteúdo do seriado tem alguma influência no telespectador para

além do momento do consumo da peça midiática.

3.3.1 Seleção de Amostragem

Levando em conta as necessidades da presente pesquisa foi escolhido

buscar uma amostragem por acessibilidade. Gil (1987) salienta que esse tipo de

amostragem é o que menos tem rigor estatístico (p. 97). No entanto, é o que se

acredita representar o determinado universo com certa qualidade. Iniciamos uma

busca por pessoas que tivessem uma ligação íntima com a série. Através da página

pessoal no Facebook do autor deste trabalho, foi feito um post informando que

estava sendo realizada uma pesquisa sobre o seriado How I Met Your Mother e

convidando fãs da série que tivessem acompanhado o programa até, ao menos, a

sexta temporada, que se manifestassem para uma possível entrevista. O resultado

foi positivo e uma amostragem qualificada em número mais que suficiente

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47

voluntariou-se para a pesquisa. Uma rápida conversa com cada um esclareceu seu

nível de familiaridade e ligação com a série.

Assim, para selecionar a amostragem foi levado em conta um contato de

longo prazo com o seriado HIMYM. Por se tratar de uma série com o arco mitológico

longo, é importante para nossa compreensão que a amostragem tenha uma

experiência prévia com o universo da série, a fim de que faça a leitura dos trechos

escolhidos também baseada na sua experiência prévia com o seriado e sua relação

afetiva com as características de cada personagem. Esse fator também se mostra

importante, pois, para Barthes (2001, p.136), o mito faz parte de um sistema

segundo, o qual necessita de um conceito já construído anteriormente, para que sua

fala possa cumprir a devida função.

O número de pessoas recrutadas para uma pesquisa qualitativa difere

muito do número para pesquisas quantitativas. Para McCracken (1988), o objetivo

da entrevista qualitativa é ter acesso aos conceitos e percepções de um

determinado grupo, o que seria muito mais sobre intensidade do que extensão em

números. Pré-agendamos o número de dez entrevistas, buscando sempre pelo

índice de saturação dos dados, que aconteceu na sétima entrevista, quando as

respostas começaram a se repetir de forma que nos fizesse crer que tínhamos

dados suficiente para uma análise de qualidade suficiente para este trabalho.

3.3.2 Coleta de Dados com os Entrevistados

Tendo em mãos todos os elementos necessários, o procedimento de

pesquisa acontece da seguinte forma: Uma vez selecionados os entrevistados e marcadas as entrevistas, damos

início a elas, uma a uma. Nesta ocasião, inicia-se o processo de entrevista em

profundidade, já descrito anteriormente cujo roteiro encontra-se no Anexo B deste

trabalho. Começamos com questões abertas sobre o perfil, os interesses e o

primeiro contato do telespectador do seriado e as primeiras relações de identificação

estabelecidas. Completada esta parte, passamos para a apresentação dos trechos

do seriado, quando convidamos o entrevistado a discorrer livremente a respeito do

que viu, com o intuito de compreender como a memória desses episódios o afeta e

como a mensagem passada o faz refletir. Esse trecho tem como objetivo salientar o

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48

que há de representativo na narrativa mitológica presente no seriado e sentir as

reações do espectador quanto à reflexão gerada, caso ela aconteça, e as possíveis

ações decorrentes.

Todo o conteúdo das entrevistas é gravado em arquivos de áudio por um

aparelho celular. De posse das gravações, inicia-se o trabalho de transcrição das

entrevistas. A transcrição é feita o quanto antes, como aconselha Duarte (2012), o

fato de o ambiente e as respostas estarem mais vivos na memória, facilita as

conexões, inferências e ideias tidas anteriormente.

Ao realizar a análise destas entrevistas, trazemos de volta o conhecimento

adquirido no início desse trabalho. Relembramos o leitor que, em Jung, temos a

identificação do surgimento do mito na sociedade e de que forma ele atua no

comportamento humano. Em Campbell atualizamos esta ideia onde o mito tem uma

função de direcionar e auxiliar o ser humano em seus momentos de dificuldade, que

fazem parte da experiência de se estar vivo. Ainda em Campbell e com o suporte de

Cassirer e Eliade, observamos a função mitológica e sua relação com a linguagem.

Com a semiótica de Barthes, fazemos uma análise mais estrutural de como se

organiza a narrativa e quais os aspectos morfológicos que possibilitam que uma

narrativa contemporânea possa ser considerada de mito. Aqui, é importante dizer

que trataremos a análise barthesiana considerando que o modo com que o conteúdo

se organiza é o responsável por atribuir à mensagem, a característica de mito.

Finalmente, com Fontanille buscaremos entender o percurso gerativo do significado

através dos vários níveis sensíveis que um material comunicacional pode ter.

Iniciaremos pela própria mensagem do seriado que compõe uma cena predicativa,

dando sentido a uma prática. Em seguida, passaremos para o nível da situação-

estratégia, que diz respeito à conjuntura, ou seja, a interação entre as diferentes

práticas relacionadas ao momento de consumo do seriado. Por fim, analisaremos o

nível dos modos de vida, que dizem respeito às estratégias adjacentes do

telespectador que compõe uma prática mais atemporal.

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49

4 ANÁLISE

O material coletado em nossa pesquisa trouxe-nos informação e

aprendizagem. Neste capítulo, buscaremos entrelaçar os conceitos já estudados

com a riqueza dos dados coletados. A partir da análise das cenas escolhidas

juntamente com os dados fornecidos pelos entrevistados, buscaremos desenhar a

teia de conexões que relacionam os assuntos e nos ajudam a dar um passo em

direção à compreensão, aqui proposta, de como os telespectadores se apropriam da

narrativa mitológica do seriado HIMYM. Buscaremos entender de que forma se estrutura a narrativa presente nas

cenas selecionadas e disseca-las à luz dos referenciados autores, buscando

entender mais sobre a natureza e o conteúdo de sua mensagem. Também, com

base na observação das informações coletadas, buscaremos definir categorias de

análise, que nos guiarão na busca de nosso objetivo auxiliando na organização da

vasta quantidade de dados e na complexidade narrativa do seriado. Juntamente a

isso, será analisada como a conjuntura presente nas práticas relacionadas ao

consumo do seriado é presente no seu processo de significação e comunicação.

Selecionamos duas categorias temáticas para orientar a análise deste

trabalho. Dentre as muitas questões acerca das relações humanas tratadas no

seriado, escolhemos duas que, durante as entrevistas, se mostraram mais evidentes

na percepção dos entrevistados. São elas resiliência e coragem. Na fala dos

entrevistados, elas se aparecem indiretamente sob a forma de exemplos e relações

das metáforas apresentadas no seriado com acontecimentos da sua vida. Estas

virtudes, segundo os dado coletados, nos pareceu de grande valor para os

entrevistados como ferramentas para superar dificuldades emocionais causadas por

questões-chave da vida. Através delas parece ser possível dar sentido a uma fase

difícil ou criar forças para enfrentar o medo, que aparece como um entrave ao

caminho da felicidade.

Convida-se o leitor para acompanhar-nos no caminho por nós traçado,

seguindo o rastro das investigações. Esta parte configura a resolução daquela que é

a razão de ser deste trabalho: fazer uma leitura da complexidade dos fatores

envolvidos neste processo de apropriação do seriado por parte do telespectador e

encontrar, em meio à numerosidade de informações disponíveis, pistas que nos

guiem em nosso objetivo.

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50

4.1 O Mito em HIMYM

Vimos, até agora, que o mito se expressa na linguagem sob a forma de

metáfora. Ele pressupõe um sistema onde um signo serve de significante para um

segundo processo de significação. Sendo assim, poderíamos dizer que a linguagem

mitológica se atualiza no seriado de televisão. A seguinte análise mostra que sim.

O grande arco narrativo de HIMYM mostra uma história cujas fundações se

encontram em temas universais: o amor, o ciúme, a expectativa de encontrar um

amor e assim por diante. Essas categorias temáticas se desenrolam pela ações e

decisões tomadas pelos personagens, apresentando uma solução possível e

identificável ao telespectador pelas características arquetípicas de cada

personagem. É esta construção da mitologia de cada personagem que entrega à

narrativa do seriado a característica de mito.

Através da constituição de comportamento dos personagens, é possível traçar

um histórico claro de suas atitudes e de seu papel naquele universo. Esta condição

quase que arquetípica de cada personagem constrói sobre ele um sistema de

significação primeiro, no qual a corporeidade do personagem serve como

significante e seu histórico de atitudes que é contado através de flashbacks ou da

experiência do telespectador ao longo do seriado: Se considerarmos o personagem

Ted como um significante, ele poderia ter como seus significados, esperança,

insistência, fragilidade e insegurança, por exemplo. Barney poderia carregar consigo

os significados de vigor, virilidade, coragem, impulsão, desrespeito, impetuosidade...

etc. Como vimos em Barthes (2001, P. 137), essa estrutura faz dos personagens

signos, a partir da totalidade que é o resultado da soma de sua imagem física e

daqueles significados a eles atribuídos. Isto se pode aplicar a todos os personagens

da série. Estes personagens, na qualidade de signos, passam a integrar o primeiro

nível de um novo processo de significação e de comunicação que inicia-se no

momento da atuação dentro do universo da série e das situações que ela apresenta.

Essa organização pode ser expressa no seguinte esquema:

Page 52: LEGENDARY: A expressão do mito no seriado How I Met Your Mother

51

Figura 10 – Estrutura barthesiana aplicada à construção de personagem no

seriado HIMYM.

Fonte: Elaborado pelo autor

Estes personagens que já são signo e têm, por si só, sua representatividade,

passam a ser suporte, significantes, de um outro sistema. Neste novo sistema, o

significado vem da situação apresentada através de um conflito dentro da história:

as dores da separação de Marshall trabalhada por Barney na primeira cena, a culpa

de Ted por não ter aproveitado o momento para beijar sua amada na segunda cena

e sua frustração por sua vida não seguir as metas de seu plano na última cena.

Tendo os personagens e sua representatividade anterior somados ao

significado da situação imposta, gera-se um novo signo, que representa aquilo que

significa a totalidade da cena analisada. Desta forma, analisando a estrutura de

significação do ponto de vista de Barthes, podemos entender que o seriado

analisado segue a estrutura sugerida pelo autor para os mitos contemporâneos e,

portanto, podemos entende-lo a partir de agora, como uma narrativa mitológica.

Page 53: LEGENDARY: A expressão do mito no seriado How I Met Your Mother

52

4.2 A percepção do mito pelos telespectadores

Esse seriado apresenta um discurso funcional, ficcional e, muitas vezes, sob

a forma de narrativa metafórica. Até aqui, através da observação do seriado e o

cruzamento com o ponto de vista barthesiano, conseguimos enxergar como,

estruturalmente o mito se manifesta no seriado. A partir de agora, olharemos para

esse fenômeno através do ponto de vista do telespectador.

Quando nos aproximamos da relação entre nosso objeto de estudo e os

indivíduos que são atraídos por esse material, nos deparamos com o momento em

que vem à tona os pontos da mitologia levantados por Campbell, Cassirer, Eliade e

Jung. É nesse momento, na interação do mito no cotidiano da vida, que os aspectos

práticos da relação mito-homem tornam-se observáveis. Se, como pregam estes

autores, o mito tem um papel no processo de significação das questões da vida,

servindo como um guia espiritual e aliviando as tensões do desconhecido, é na

exploração da fala dos entrevistados que a presença ou ausência desta

característica deve manifestar-se. O desencadeamento de ações e uma postura

reflexiva em relação à vida que pode acontecer por inspiração do material

apresentado pelo seriado HIMYM nos guiam nos últimos passos deste trabalho.

Também estaremos atentos à ausência desse aspecto relacional na interação dos

entrevistados com o seriado.

Para analisar estes aspectos no material coletado durante as entrevistas em

profundidade, é necessário um método que dê conta dos múltiplos aspectos

pertinentes à geração de significado do seriado. Para isso, nos sustentamos na

semiótica de Fontanille. Como colocado nos capítulos anteriores, ela nos apresenta

um caminho, o que o autor chamou de “percurso gerativo da significação”. Em seu

trabalho, Fontanille propõe um percurso pelo qual a informação percorre no seu

processo de compreensão.

O modelo proposto pelo autor (FONTANILLE, 2005) apresenta uma

possibilidade de entender a amplitude do processo gerativo de significação. Como já

foi mencionado, este modelo representa uma visão holística e nos dá um sistema

sob o qual apoiar-nos neste momento do trabalho. Todas as categorias

apresentadas pelo autor fazem sentido na natureza deste trabalho, no entanto,

apenas algumas servem prioritariamente ao nosso propósito. A seguir, organizamos

os conceitos de operação usados neste trabalho bem como as etapas do percurso

Page 54: LEGENDARY: A expressão do mito no seriado How I Met Your Mother

53

gerativo de significação que consideramos importante para o desenvolvimento desta

pesquisa. Eles são importantes na medida que condensam conceitos em palavras e

erradicam a ambiguidade da interpretação.

Tabela 2: Conceitos de operação empregados no presente trabalho.

Situação semiótica Configuração heterogênea que comporta todos os elementos necessários à produção e à interpretação da significação de uma interação comunicativa.

Percurso de integração O caminho percorrido pelos níveis de pertinência semiótica do qual resulta o encadeamento que gera sentido.

Categorias utilizadas do percurso gerativo de significação

Texto-enunciado A mensagem da enunciação. Um conjunto de informações organizadas de forma homogênea em um mesmo material.

Cenas Predicativas É a dimensão onde uma prática é convertida em situação semiótica.

Conjuntura/estratégia É a dimensão das experiências subjacentes às quais as cenas predicativas se ajustam.

Formas de vida Ethos, identidade de comportamento que se ajusta à estratégia e configura um dispositivo de expressão pertinente à analise.

Fonte: Elaborado pelo autor com base em Fontanille (2005)

Uma vez que este trabalho não se propõe a interpretar as minúcias do

material imagético do objeto de pesquisa, como a particularidade de cada signo

apresentado, deixaremos o primeiro plano de pertinência, do dos signos, de fora de

nossas categorias interpretativas. Também não pretendemos, aqui, trazer à luz da

análise as diferentes consequências causadas na interpretação do seriado por conta

das plataformas. Sabemos que, hoje, um produto como um seriado de TV não se

limita ao seu suporte tradicional, mas pode ser consumido, também, em

computadores, tablets ou qualquer outro equipamento que tenha a capacidade de

reproduzir vídeos. Entendemos que a moldura pela qual o seriado passa não

apresenta uma pertinência suficiente para este estudo e não será considerada em

nossa abordagem.

Agora, veremos como as categorias consideradas pertinentes para este

trabalho fazem a trama de relações com as categorias temáticas previamente

selecionadas: resiliência e coragem.

Page 55: LEGENDARY: A expressão do mito no seriado How I Met Your Mother

54

4.3 O Discurso de Superação no Seriado

A temática do seriado e os assuntos gerados durante seu andamento

percorrem variados temas da vida. Esta amplitude, podemos inferir, é um movimento

de roteiro que visa tornar projetivo o material sensível presente na série para quem

assiste. Episódio após episódio, durante os anos decorridos, Ted, Robin, Barney,

Lilly e Marshall viveram fases importantes de sua vida e vivenciaram de forma, às

vezes exageradamente dramática, as diferentes faces que compõem o prisma da

experiência de estar vivo.

Este trabalho não tem a ambição de ser um manual sobre a amplitude dos

temas tratados durante a série. Nosso esforço, aqui, será identificar, dentro deste

universo, aqueles temas que foram observados com mais frequência durante a

coleta de dados com os entrevistados, e a partir das cenas previamente

selecionadas. Como já dissemos, acreditamos que as três cenas selecionadas são

competentes em sintetizar a complexa trama de assuntos tratados nos anos que a

série seguiu. Analisando os trechos já apresentados em conjunto com a ampla

quantidade de dados obtidos na coleta de campo, podemos observar duas temáticas

centrais pelas quais se desenrolam diversos aspectos da vida humana e das quais

dependem a superação e significação de muitos percalços da vida. Acreditamos que

a presença dessas temáticas e o caminho gerativo de significação que elas fazem

até chegar na compreensão do telespectador entregam, da parte do seriado, uma

“experiência de vida” (CAMPBELL, 1990, P.6) que, para Campbell (1990) é quando

a vida se ocupa do sentido.

É interessante lembrar que o autor (CAMPBELL, 1990) critica, na sociedade

moderna, excesso de atenção nos assuntos práticos do cotidiano e pontua que nós

“não estamos familiarizados com a literatura do espírito” (p. 3). Para ele, esse fato

dificulta que os mitos apreendam os indivíduos e passem a fazer significado,

cumprindo sua função de guiar e orientar e podemos concordar que em nossa

realidade, o apego com a mitologia parece se exaurir.

No entanto, estamos, aqui, considerando que no seriado há uma narrativa

mítica. Mesmo que se apresente em moldes distintos daquilo que estamos

habituados a chamar de mitologia, esta narrativa configura-se mítica pela forma

como é apresentada. Isso é possível se levarmos em conta Barthes (2001), quando

afirma que “o mito é um sistema de comunicação, é uma mensagem” (p. 131). Se o

Page 56: LEGENDARY: A expressão do mito no seriado How I Met Your Mother

55

mito pode ser um sistema, então qualquer mensagem que seja montada nesse

sistema pode caracterizar-se como narrativa mitológica. Para o autor (BARTHES,

2001), “o mito não se define pelo objeto de sua mensagem, mas pela maneira como

a profere” (p. 131).

Feitas essas considerações, podemos observar um contraponto à crítica de

Campbell a partir da análise dos dados coletados. Nossa amostragem apontou

apenas um indivíduo que não encontrou, no seriado, um tema para a reflexão de sua

vida e suas ações. Todos os outros se mostraram muito interessados em falar sobre

os temas do seriado. A forma como os temas são abordados parece instigar e trazer

convidar o telespectador à reflexão, fazendo uma conexão das práticas de sua vida

com as do seriado:

[...] no meu relacionamento às vezes eu vejo coisas que acontecem na série eu vejo, assim, acontecendo comigo [...] É até engraçado isso, porque, como já é um campo conhecido, porque eu já vi no seriado como é que é eu fico: tá, e se tal coisa acontecesse, como seria pra mim, na minha vida, sabe? Meio… louco pensar isso, mas sabe, acaba acontecendo (Entrevistada 3).

Em tempo, entendemos aqui que, o conceito de ocupar-se de sentido, dito por

Campbell (1990), é o momento onde ocorre a relação, por parte do telespectador, do

material sensível apresentado na série com seu cotidiano, e é esta identificação que

estamos chamando de apropriação do conteúdo mitológico. Essa prática pode

resultar em uma reflexão ou insight e pode gerar, ou não, uma ação por parte deste

indivíduo. Podemos constatar este movimento ao analisar a seguinte de um

entrevistado:

Eu, pelo menos, sempre que eu vejo alguma coisa eu quero aprender, tirar uma lição daquilo ali. Então eu estou constantemente vendo o episódio e vendo: bah, isso daí não é legal, melhor eu não fazer isso um dia, sabe? (Entrevistada 3).

Em alguns momentos, alguns entrevistados ainda se mostraram propensos a

agir em função do material que apreenderam a partir do conteúdo do seriado.

[...] já terminei amizades depois de assistir um episódio meio... por ficar pensando demais naquilo e me dar conta de algumas coisas na vida que não estavam muito... (Entrevistada 2).

Page 57: LEGENDARY: A expressão do mito no seriado How I Met Your Mother

56

Uma entrevistada, ao ser questionada sobre a reflexão do seriado se

transformar em uma ação, respondeu:

Sim! Em atitudes ou sentimentos, sim... acho que resulta em como eu me vejo e aí eu acabo tomando uma atitude diferente (Entrevistada 1).

A mesma também constatou em relação ao que apreende do seriado:

Eu acho que eu acabo tomando atitudes... melhores (Entrevistada 1).

Desta maneira, podemos começar a enxergar o poder que este discurso pode

exercer sobre os telespectadores. Isso reforça nossa crença a respeito da

pertinência para a área das comunicações em abrir essa discussão.

Serão, então, as duas categorias de mensagem presentes no seriado a serem

analisadas no presente momento: a resiliência e a coragem. Estas categorias foram

identificadas no discurso presente nas cenas selecionadas e na fala dos

entrevistados, quando questionados sobre elas. A primeira categoria, a resiliência,

trata da capacidade uma humana de enfrentar uma dificuldade sem esmorecer-se. A

segunda, coragem, é a virtude que nos permite enfrenar o medo em nome de algum

objetivo. No caminho desta pesquisa, identificamos que estes temas são recorrentes

no seriado e podemos vê-los com clareza na análise que segue sobre as cenas

selecionados. Não obstante, também pudemos identificar na fala dos entrevistados o

uso da linguagem mitológica em seu dia a dia dentro dessas duas categorias

temáticas. Por fim, resiliência e coragem são virtudes que estão presentes na fruição

de nossos modos de vida e dos quais a mitologia se apropria no seu

desenvolvimento.

Assim, com estes temas buscamos abrir um assunto da narrativa mitológica

no seriado de TV, cuja amplitude pode ser vasta, mas que, no presente momento,

trabalharemos dentro das limitações apresentadas pelo contexto ao qual esta

pesquisa está submetida. Estas categorias vêm dos materiais e foram identificadas a

partir de sua apreciação. É a partir do desenvolvimento criativo do seriado, das

decisões tomadas por produtores e roteiristas que as relações complexas se

estabelecem entre telespectadores e material televisivo. É desta riqueza que nos

alimentamos, tentando remontar parte desse complexo esquema relacional, a fim de

desenvolver o nosso objetivo neste trabalho.

Page 58: LEGENDARY: A expressão do mito no seriado How I Met Your Mother

57

4.3.1 Resiliência

Iniciamos nossas investigações pela categoria da resiliência. Esta qualidade

humana representa a quanto somos capazes de superar uma dificuldade sem o

resquício de traumas. O termo, que vem emprestado da física, é tema recorrente em

pesquisas de psicologia, onde é posicionado em contraponto ao trauma. É

empregado pelo mundo empresarial como uma categoria definitiva para um

funcionário de qualidade, uma vez que é de grande valor no mercado de trabalho

alguém que pode lidar sob pressão sem desmontar sua estrutura psíquica.

Percebemos que na vida relacional não é diferente. A resiliência parece estar ligada

a capacidade de identificar as armadilhas do temperamento e saber manter a

constituição de personalidade equilibrada a fim de superar uma crise. Isso não

significa não sentir dor, mas, sim, reconhecer o papel dela no curso da vida e

significa-la dentro de uma situação dolorosa.

Esta virtude, por assim dizer, está circunscrita em todo o seriado e sua

presença é notada no material que recortamos. Na Cena 1, previamente

selecionada, o personagem Barney postula a frase que tornou o personagem

famoso e foi alvo de muitas reproduções na internet: “When I get sad, I stop being

sad and be awesome instead. True story”. A qualidade moral deste conselho pode

ser questionada por um indivíduo mais crítico, mas, aqui, mostra a intenção em

superar um momento difícil de forma leve, apresentando uma nova forma de agir

frente ao problema. Entendendo esta cena como uma situação semiótica

(FONTANILLE, 2005), poderíamos classificá-la como uma cena predicativa, isto é,

uma cena que preenche de sentido uma ação. Aqui, o personagem aponta uma

atitutde a ser tomada frente a um problema. Vendo o amigo acometido por uma

grande tristeza, ele dá um conselho quando se está triste, independente do motivo,

dada a universalidade e complexidade desse sentimento. Barney propõe uma saída

aparentemente simples, reforçando sua característica de homem confiante e seguro.

Sabemos que, de fato, por em prática o conselho proposto é tarefa dificílima. Porém,

o personagem, aqui na sua função mítica, extrapola o conceito de segurança e auto

confiança com o intuito de inspirar uma ação. No momento que este material

sensível é apreendido pelo telespectador, ele passa a fazer sentido para este que

assiste e dá significação àquele momento em que lhe foi apresentada uma solução

para o problema que todos os personagens estavam lidando. Vemos isso em

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Campbell (1990), quando ele postula que a mitologia ensina às pessoas “sobre sua

própria vida”.

A frase proferida por Barney não traz em seu conteúdo uma solução prática,

mas um diferente modus operandi em relação a uma questão-chave da vida: como

lidar com a tristeza decorrente de um rompimento. Para um de nossos entrevistados,

o entendimento foi o seguinte:

Ajuda a tomar muitas decisões que eu tomei, eu refleti: bah, eu acho que eu não devo ir pelo caminho de sempre. E a série mostra muitos outros caminhos (Entrevistado 6).

A relevância que tem a frase dita pelo personagem, no que diz respeito a sua

significação para os telespectadores, se deve ao que Barthes (2001) trata como a

cadeia semiológica que existe antes do mito. Ora, a esta altura do seriado (primeiro

episódio da segunda temporada), Barney já se configura com sua semântica

estruturada: ele tudo pode, e tudo faz. Suas ações e vontades são realizadas sem

muitos esforços e seu comportamento reflete esta certeza de quem sempre sabe o

que está fazendo. Uma mitologia antiga talvez o configurasse como um deus ou

heroi. Aqui, características de um homem acima da problemática da vida adjetivam

caricatamente o personagem tornando-o uma representação quase pura do mais

alto grau que a onipotência humana pode ter. Encarando o personagem como um

signo, nos conceitos de Barthes, temos em sua fala segundo sistema que vem

apoiado no primeiro. O efeito desta estrutura pode ser observado na fala do

entrevistado.

Ahn, a frase do Barney é muito Barney, e eu acho que um monte de gente meio que quer ser daquele jeito: tentar... não se deixar abalar por coisas assim e ser legal... ser awesome (Entrevistado 6).

Este raciocínio permite-nos acender uma luz sobre os dados colhidos em

nossos processos investigativos, no que diz respeito à resiliência.

Aquela cena foi bem legal, porque, como eu disse, eu estava solteiro, então eu tinha acabado um relacionamento e o Barney falando: 'ah, quando eu fico triste, eu paro de ficar triste...'. É uma coisa simples, mas que é verdadeira. Ele deu a real ali e é um daqueles tapas na cara que a série dá. É uma das coisas que eu me identifiquei e por isso a série é bem importante pra mim. (Entrevistado 6).

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59

Aqui podemos perceber que o momento de vida do entrevistado acabou por

ser mais uma prática, mais um elemento de significação presente na experiência de

assistir a cena. Isso tudo soma-se ao que já falamos sobre os outros elementos que

têm parte nesta prática, como o prévio conhecimento das características do

personagem e o discurso por ele pronunciado. Isso configura o que Fontanille

chama de ajustamento entre cenas predicativas práticas. Os diferentes elementos

de significação ajustam-se a fim de construir conjuntos significantes novos, ou seja,

através desta prática de organização, cria-se um novo significado que diz respeito

àquele que assiste, à relação que aquela mensagem tem com o seu contexto. Esta é

a situação-estratégia que, na semiótica de Fontanille, diz respeito ao papel da

conjuntura no processo de significação e comunicação. Ao ser perguntada sobre

sentir que, em alguns momentos, a série lhe tocava no plano dos sentimentos e

emoções, uma entrevistado respondeu:

Alguns, dependendo de como estava a minha vida, do que eu estava passando... alguns momentos do Ted acabando um relacionamento... A Robin com o pai dela. Algumas coisas assim (Entrevistada 2).

Assim, podemos enxergar a pertinência dos diferentes níveis de significação

presentes no processo de interpretação do material contido no seriado. Se há

intencionalidade da parte dos produtores do seriado sobre esse fenômeno, não

sabemos responder, mas é notado que, por parte dos entrevistados, é dessa forma

que se dá o processo gerativo de significação.

No que diz respeito à resiliência, também podemos observar Cena 3

apresentada aos entrevistados. Nela, o personagem Ted desabafa com os amigos

sobre sua situação profissional. Frustrado, ele reclama que seu plano de ser um

arquiteto não deu certo, mas Lilly o encoraja dizendo que a vida não é como um

prédio que é projetada com antecedência, mas que vamos vivendo e ela vai se

projetando e se desenhando durante seu curso. Ora, se estamos dizendo que

resiliência é a capacidade humana de lidar com as adversidades sem que ocorra

uma perda de equilíbrio psíquico, podemos ver nesse discurso uma intencionalidade

de sugerir um caminho, uma maneira de pensar sobre o tema. Sobre esta mesma

cena, uma entrevistada comenta a sua experiência, dizendo que ela faz muito

sentido, pois aconteceu come ela de ser demitida no dia do aniversário, um dia

onde, para ela, coisas boas acontecem. Mesmo argumentando que o conteúdo da

Page 61: LEGENDARY: A expressão do mito no seriado How I Met Your Mother

60

cena é, em suas palavras, meio raso, quando perguntamos sobre existir uma flexão

a respeito da cena, ela afirma:

Não sei, eu acho engraçado, então... Talvez eu consiga rir um pouco de mim mesma nessas situações que, tipo, parecem ser terríveis, como ser demitida no dia do meu aniversário (Entrevistada 1).

Uma outra entrevistada comenta, sobre a mesma cena:

Não são histórias tão absurdas, apesar de ter umas partes engraçadas, tipo, a da cabra, tem muito sentimento que é exatamente o que eu vejo nos meus amigos sentindo. Eu tenho um amigo que é muito parecido com o Ted porque ele é muito assim, apegado, sensível às pessoas e faz tempo que ele procura uma guria que ele possa confiar. Ah, e acontece cada coisa com ele, e ele meio que desiste da vida, mas depois ele vai lá e tenta de novo. Acho que é uma coisa super válida que a gente vê eles passando. Super… humano, é bem cotidiano (Entrevistada 3).

No que diz respeito à mensagem de resiliência nesta cena, outra entrevistada

diz:

Eu acho que foi a análise racional dela (Lilly). Ela falou que: qual é o problema em não seguir o plano' Que isso é uma coisa que eu também faço. Eu planejo um negócio e eu tenho que fazer. Eu até tenho uma mania péssima de planejar as coisas com muita antecedência e quando elas não se realizam, isso frustra. E, no caso desse texto, qual é o problema de frustrar? Planejou um negócio e não deu certo. Qual o problema de planejar outro negócio em seguida? E isso é a vida, né (Entrevistada 7).

Podemos ver aí que os fatores exteriores ao seriado, como um problema

pessoal a ser superado e o convívio com o padrão de comportamento de um amigo,

contribuem para a geração de significado da cena e a apreensão do conteúdo

mitológico presente. Assim tomar corta a situação-estratégia do conteúdo analisado,

onde a o telespectador liga o conteúdo do seriado à sua experiência de vida e essa

experiência ajusta o material do seriado ao entorno de quem assiste, tornando,

assim, a apreensão do conteúdo mitológico, uma experiência fluída.

Finalmente, sobre a resiliência, perguntamos a alguns entrevistados qual

seria a mensagem final, definitiva, do seriado. De uma das entrevistadas, obtemos a

seguinte resposta:

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Eu acho que seria algo como: ‘não deixar situações adversas mexer muito contigo [...] (Entrevistada 2).

Após observarmos as interações causadas pela experiência da narrativa

mítica no que diz respeito ao tema da resiliência, analisaremos, agora, a segunda

categoria identificada em nossa analise: a coragem.

4.3.2 Coragem

A coragem é virtude humana que consiste na superação do medo. Ela é tema

mitológico inesgotável e sua presença é reincidente nas narrativas míticas de todo o

mundo. É através da coragem que damos meio às nossas conquistas,

transformando em ação e resultado, aquilo que acreditamos e pelo que lutamos.

Apesar de ser tema recorrente de histórias claramente épicas, a coragem é uma

virtude constantemente revisitada em nosso cotidiano. A realização de um sonho, ou

um desejo muito forte muitas vezes tem que ver com a coragem de abandonar a

segurança e se aventurar na estrada desconhecida que leva aos nossos objetivos

mais enformados pela sensibilidade que configura um sonho. Na vida, exaltamos

aqueles que têm coragem para fazer o que querem e contamos as suas histórias,

dando, assim, continuidade à característica humana de mitificar acontecimentos que

tenham em seu conteúdo, material que exalte as virtudes humanas.

Na série HIMYM podemos encontrar a coragem em discursos que falam de

buscar um sonho, de tornar a vida espetacular e de fazer de cada dia um evento

memorável e digno de recapitulação. É na mesa do bar que o grupo de personagens

conta histórias e conjectura sobre a vida. A Cena 2, que selecionamos, se passa no

primeiro episódio da série. Nela, o personagem Ted comenta com os amigos que

está arrependido por não ter beijado a personagem Robin em seu primeiro encontro.

Os amigos concordam que ele devia tê-la beijado na primeira chance e que, uma

segunda, talvez não aconteça. Dessa forma, o seriado expressa um conceito

recorrente na vida humana de que, nem sempre na vida, temos duas chances de

realizar nossos desejos e objetivos. No decorrer da cena, o grupo vê a personagem

Robin na TV, onde trabalha como repórter. Ela está dando a notícia de que um

potencial suicida abandonou sua tentativa e não pulou de uma ponte. Neste

momento, Ted, envolto em um sentimento de coragem e inspirado pela metáfora da

segunda chance evocada pela história do potencial suicida, levanta-se e postula que

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62

irá beijá-la. Os amigos tentam alertar que talvez isso seja loucura, mas ele rebate

dizendo que nunca faz nenhuma loucura, que está sempre esperando pelo momento

certo e se mostra cansado de espera. No final da cena, os amigos apoiam a decisão

e o acompanham neste empreitada.

Aqui, mais uma vez vemos a característica que denotada por Barthes sobre o

mito fazer parte de um sistema terceiro. Ao queixar-se de seu comportamento

comedido e cauteloso, Ted apresenta sua forma de conduta perante aos problemas

e, mas importante, sua frustração com ela. Ao dar esse insight, o personagem

constrói sua personalidade perante o telespectador e é a partir dela que a

informação seguinte, o rompante de coragem para enfrentar sua frustração, entra

com a função de significante diante do sistema no qual Ted já faz parte.

Na Cena 3, Ted, mais uma vez frustrado com os percalços da vida, mostra-se

inconformado por ter sido demitido e estar numa situação de ter que aceitar um

emprego como professor de arquitetura. Ele justifica dizendo que esse não era o

plano e que seu plano era ser um arquiteto. Aqui, mais uma vez vemos o reforço

desta característica do personagem que já comentamos. Dentro do seriado, Ted se

mostra, frequentemente, frustrado com suas expectativas e com a característica não

linear da vida que faz com que seus planos nem sempre saiam como o esperado.

Neste momento, a história abre espaço para a intervenção de Lilly que, aqui, faz o

papel do sábio e dá uma nova perspectiva para Ted. Ela diz que ele deve esquecer

o plano e dar o salto, expressão que podemos entender, quer dizer que ele deve

enfrentar o medo de cair no desconhecido, tomar coragem e agir de acordo com o

que a vida apresenta. Vemos esta interpretação na fala de um entrevistado:

Então, aquilo ali também foi importante, foi mais um momento que eu me identifiquei: ah, não vou ficar esperando acontecer, vou fazer acontecer (Entrevistado 6).

A continuação desta cena se passa com o personagem Marshall ouvindo o

discurso de Lilly sobre a forma de lidar com a vida. Quando Lilly aconselha Ted a

ouvir o que a vida tem a dizer e “dar o salto”, Marshall toma o conselho pra si, e,

ignorando o caráter metafórico da frase, decide pular do terraço de seu prédio para o

terraço do prédio ao lado, coisa que durante toda a temporada ele havia planejado

fazer, mas lhe faltara coragem. Esta parte da corpo ao discurso de Lilly e torna

concreto o conselho que esta passa. Sobre esta parte, uma entrevistada comentou:

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63

Quando eles falam a respeito de, tipo assim, pro Marshall ali de pular. Aí tu pensas: o que que eu deveria pular, porque tudo tem seus próprios problemas, aí eu penso a respeito deles a partir do que os personagens estão fazendo, sabe? (Entrevistada 4).

Podemos perceber como a linguagem metafórica, pela sua característica

polissêmica, permite uma fácil conexão do conteúdo do seriado com a vida da

pessoa que o assiste. E, a partir do material recolhido, constatamos que esta

característica pode, também, estar presente na totalidade do seriado, como

podemos ver na fala desta entrevistado que, ao ser perguntada sobre qual seria a

mensagem definitiva do seriado, respondeu:

Eu acho que o seriado tem muito a ver com: as coisas vão dar errado, mas vale a pena tentar. Não desistir. Pra mim é a mensagem que fica, porque, quantas vezes deu errado e só deu errado, nem consertou depois, mas pelo menos tu tentou, tu te esforçou (JR. ANEXOS, P. XX).

A mesma entrevistada justifica sua constatação com base na totalidade da

história de HIMYM:

Se o Ted não achasse a mãe, pelo menos ele saberia que ele tentou, foi atrás. Porque, todos os momentos da série que eles não ficaram tentando, desistiram da vida e resolveram ficar no sofá vendo TV e largaram de sair, sabe, pra vida, nada aconteceu. Então, se tu tenta, tem mais chance do que ficar sem tentar. Então, seria tipo isso. Às vezes tu sabe que não vai dar certo, mas o importante é tentar e se esforçar. Dar uma chance (Entrevistada 3).

E isso também está presente na totalidade do seriado, como podemos ver na

fala desta entrevistado que, ao ser perguntada sobre qual seria a mensagem

definitiva do seriado, respondeu:

Principalmente naqueles momentos que tu fica com medo de fazer alguma coisa e aí tu pensa: ah, não adianta ficar com medo, porque é como dizem no HIMYM, porque isso, isso e isso… eu acho que tem sim isso. Tu te motiva pelo que tu vê que dá certo só que, também, por outro lado é muito mais fácil dar certo numa série que é planejada para dar certo, mas acho que tem um pouco, assim, de um incentivo função do que eles fazem (Entrevistada 3).

Dessa forma, conseguimos enxergar de que maneira se organiza a situação

semiótica em função da geração de significado dentro do seriado HIMYM. Através

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64

das unidades de cena (aqui, analisamos três) que carregam uma mensagem, o

telespectador faz o ajustamento dessa mensagem a partir do reconhecimento de

uma prática que lhe é comum, dando sentido àquela experiência visual. Este é o

nível da cena predicativa, que leva este nome porque ela confere sentido à prática a

partir da leitura do texto enunciado, que neste caso é o seriado. Ao conjunto dessas

práticas, dá-se o nome de situação-estratégia, que é o nível no qual elas se

relacionam e ganham significação, por meio de relações de “superposição,

sucessão, acavalamento ou concorrência” . É esta a experiência de conjuntura

(FONTANILLE, 2005, pp. 26 e 27).

A totalidade desses ajustamentos, em todos os níveis pertinentes ao processo

gerativo de significação, constitui uma regularidade que herda as práticas antes

comentadas. Isso quer dizer que os modos através dos quais o telespectador

interpreta e apropria-se do conteúdo mitológico presente na série acabam por

integrar uma prática global, que reúne todos os níveis anteriores, constituindo,

assim, o que Fontanille chamou de forma de vida. No caso de nossa análise,

percebemos esta padronização na repetição das interpretações apresentadas por

nossos entrevistados.

Page 66: LEGENDARY: A expressão do mito no seriado How I Met Your Mother

65

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Essa pesquisa não se encerra neste trabalho, que é apenas a primeira etapa

de um trabalho maior sobre a expressão do mito no seriado de TV e as experiências

decorrentes deste fenômeno. Por hora, apresentamos aqui as conclusões tiradas até

o presente momento.

Identificamos que o seriado HIMYM tem plenas condições de constituir uma

narrativa mitológica pelos termos de Barthes. A estrutura de sistema duplo

apresentado pelo autor pode ser identificada na forma de construção dos

personagens e de todas suas histórias, bem como as características a eles

atribuídas.

Uma vez integrados a essas características e ao tema da história, os

telespectadores criam uma relação de conexão com o conteúdo ali apresentado. O

conteúdo que é transmitido pelo seriado é apropriado pelo telespectador através de

um complexo processo gerativo de significação, antes descrito. As etapas deste

processo tornam possível que o material sensível presente em HIMYM seja

apropriado pelo telespectador baseado nas relações feitas entre o conteúdo das

cenas e os ajustamentos com a sua conjuntura. Isso resulta na formação do que

Fontanille chamou de formas de vida, que nada mais é do que o resultado da

totalidade do processo gerativo de significação que se encerra em uma prática que

compreende em si uma maneira de lidar com a totalidade dessa significação.

Essas práticas se desdobram em duas possibilidades: reflexão e ação. Na

primeira acontece uma avaliação de uma situação da vida que diga respeito ao que

foi visto no seriado. O tema do seriado desencadeia no telespectador um processo

de análise dos rumos da vida, fazendo uma relação de pareamento com o que o

material do seriado, na intenção de encontrar relações de igualdade ou diferença, a

fim de validar as ações futuras com mais assertividade. Esta reflexão pode terminar

em si mesma ou partir para uma segunda etapa. Nela, o telespectador, numa quase

que, mimetização, encontra no seriado justificativa e exemplos para conduzir ações

na sua vida, em situações análogas àquilo que ele interpretou.

O seriado, então, apresenta ao telespectador um modelo de interpretação de

determinados problemas do cotidiano apresentando uma proposição de solução a

esses problemas através de exemplos passíveis de gerar identificação com a

experiência de vida do telespectador que, por sua vez, usa estas meas experiências

Page 67: LEGENDARY: A expressão do mito no seriado How I Met Your Mother

66

e sua conjuntura como subsidio para a interpretação do conteúdo do seriado. Desta

dinâmica de comunicação e significação surge como resultado a reflexão e/ou a

ação. O seguinte esquema expressa graficamente este raciocínio.

Figura 11 – Expressão e experiência do mito no seriado de televisão

Fonte: Elaborado pelo autor

Neste ponto, percebemos que as características atribuídas à função

mitológica apresentadas ao início deste trabalho se fazem presentes no seriado How

I Met Your Mother. As significações míticas construídas através de uma estrutura

metafórica permitem ao seriado atuar na função de mito. Ele pode se apresentar

como um momento de experiência de vida em que o telespectador aprende sobre os

seus caminhos para enfrentar problemas aos quais todo o ser humano está exposto.

Através da experiência do seriado, conseguimos enxergar neste material midiático

uma atualização para a expressão do mito no cotidiano da sociedade, mostrando,

assim, que a narrativa mitológica não precisa enformar a realidade em uma história

fantástica que só é possível e pertinente a uma sociedade primitiva. A expressão do

mito pode e está presente em materiais midiáticos do nosso cotidiano, prendendo a

atenção do telespectador por conta da pertinência do seu conteúdo que é enformado

Page 68: LEGENDARY: A expressão do mito no seriado How I Met Your Mother

67

em uma estrutura que o caracteriza como narrativa mitológica. É o que faz com que

esta expressão cumpra a sua função milenar em pleno século XXI através da TV e

da convergência deste meio: ser uma bússola para o homem que não encontra seu

caminho frente às mazelas da vida, em uma sociedade onde a lição ensinada pela

narrativa mitológica ancestral está, aparentemente, adormecida.

Page 69: LEGENDARY: A expressão do mito no seriado How I Met Your Mother

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REFERÊNCIAS

BARTHES, Roland. Mitologias. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil. 11ª ed. 2001

CAMPBELL, Joseph J. As transformações do Mito Através do Tempo. São Paulo: Cultrix, 1997.

______. O Poder do Mito. São Paulo: Palas Athena, 1990.

______. A Extensão Interior do Espaço Exterior. São Paul: Campus, 1991.

CASSIRER, Ernst. Linguagem e Mito. São Paulo: Perspectiva, 2009.

DUARTE, Jorge; BARROS, Antonio (org.). Métodos e técnicas de pesquisa em Comunicação. São Paulo: Atlas, 2005.

DUARTE, Elizabeth. PERSPECTIVAS PROCESSUAIS NO ESTUDO DA IMAGEM: o ponto de vista do texto e o ponto de vista do discurso. Caderno de semiótica aplicada, volume 7, número 1, Julho. 2009. <http://seer.fclar.unesp.br/casa/article/viewFile/1774/1437>. Data de acesso: 05/03/2015.

ELIADE, Mircea. Mito e Realidade. São Paulo: Perspectiva. 6ª ed. 2013.

FONTANILLE, Significação e Visualidade. Exercícios Práticos. Porto Alegre: Sulina, 2005.

GIL, Antonio C. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. São Paulo: Atlas, 1987.

JUNG, Carl G. O Homem e seus Símbolos. Rio de janeiro: Nova Fronteira, 2008.

______. Os arquétipos e o inconsciente coletivo. Petrópolis: Vozes, 2007.

PESSOA, Fernando. Livro do Desassossego. Vol.II. Lisboa: Presença, 1990

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ANEXO A – TRANSCRIÇÃO DAS ENTREVISTAS

1. Entrevistada L. Arquivo de áudio: 1_LT – Entrevista.amr

Qual teu ideal de ócio? 02:55 Ideal de ócio “Ai...dormir.”

Em que momentos assiste seriado?

03:53 “Ai, em casa, antes de dormir em dia de semana”.

04:40 Último seriado “Orange is the new black”.

Quando eu falo do seriado, qual a primeira coisa que vem na tua cabeça?:

04:45 “Eu acho tão bonitinho. Eu acho que vem o Ted e como ele é fofo”. “E

daí eu penso também, não é o Barney, o outro. O Marshall, é um querido, dá

vontade de abraçar. Acho as pessoas queridas, aí eu fico ‘aaah’”.

05:35 “Eu acho que eu me identifico muito com o Ted... e acho que é isso,

porque a gente tem a vida parecida, uma pessoa solteira que divide apartamento

com amigos. Que sai com várias pessoas e nunca consegue um relacionamento.

Mas eu não ‘tou buscando como ele(!), sabe?”.

O que te prendeu a assistir o seriado?

06:56 “Não sei, é porque é engraçado. Aquela coisa, tipo, antes de dormir, eu

vejo um negócio que eu dou risada e daí eu fico feliz...”.

FORAM MOSTRADOS OS TRECHOS SELECIONADOS.

Comente um pouco sobre isso (os trechos): 16:45 “Tá. A última me lembra muito uma coisa que aconteceu na minha vida.

Eu tava num emprego de merda, que pagava pouco e daí eu fui demitida no dia do

meu aniversário então, eu... ah, é o único dia que coisas boas acontecem (!!) Ai, eu

sou muito Ted, agora eu tou percebendo, tipo (rindo)...muito aquilo, sabe? Foi a

melhor coisa que me aconteceu porque, tipo, eu morava com meus pais ainda e em

um mês eu tava num emprego que pagava, tipo, bem mais, aí eu consegui com

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70

minhas amigas sair da casa dos meus pais[...] E foi muito rápido, então, aquela

coisa... muito aquilo ali, sabe? Tipo, ai, tu acha que é uma merda ser demitido e tal,

e daí, na real foi uma coisa boa... ai(!) (sorrindo), a minha vida é um seriado

americano besta (risos)”.

E tu acha que o conteúdo do seriado faz a gente pensar?

17:49 “Faz! Ai (!) é que é meio raso, sabe?(!) Essa última cena foi brega,

assim, sabe? Ai, mas faz pensar sim! Mas, só que... tá. É meio raso, meio bobo...

mas faz”.

Já aconteceu outras vezes de tu te enxergar no episódio?

18:17 “’Siiim’, quase todos os episódios, eu acho”.

Por que tu acha que isso acontece?

18:20 “Porque eu sou muito parecida com o Ted”.

E o que isso desperta em ti além da reflexão?

18:32 “Não sei, eu acho engraçado, então... Talvez eu consiga rir um pouco

de mim mesma nessas situações que, tipo, parecem ser terríveis, como ser demitida

no dia do meu aniversário”.

18:52 “Porra, foi muito foda porque tava chovendo, eu lembro assim, tipo, foi

uma coisa, assim, cena de filme, daí, pelo menos te dá uma aliviada assim, tipo.. foi

engraçado, sabe, olhando agora...”.

Olhando agora...?

19:12 “Sim, pra essa situação, e... sei lá, ver essas coisas na série, assim,

sabe... mas foi engraçado, porque eu faço a associação com a série e acho

engraçado então eu não consigo achar tão trágico e ruim essas coisas que

acontecem comigo porque eu meio que faço essa relação e, sei lá. Acabo achando

engraçado”.

Que mais? Tu achas que isso faz alguma diferença pra ti? Já tinhas identificado isso em algum momento, antes da gente conversa?

19:54 “Sim, várias coisas no Ted, assim, quando eu via a série eu ficava, tipo:

‘hmmm, eu faço igual essa merda... é, era meio que uma (auto) análise assim, eu

Page 72: LEGENDARY: A expressão do mito no seriado How I Met Your Mother

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acho, tipo... eu meio que prestava atenção em algumas coisas que eu não tinha

parado pra pensar que eu faço e daí ver que ele faz, e daí ver que tá errado... ou,

tipo, sabe?”.

E o que tu acha que isso gera, no que tu acha que isso resulta? Essa reflexão... resulta em alguma ação ou atitude, ou algum sentimento?

20:28 “Sim! Em atitudes ou sentimentos, sim... acho que resulta em como eu

me vejo e aí eu acabo tomando uma atitude diferente.”

Em relação a sentimentos, como isso mexe contigo? 20:51 “Ah... (suspiro). Eu sou uma pessoa muito sentimental... sensível.

(baixou o tom de voz, falou mais pausadamente) Eu acho que, nossa, o tempo

inteiro. Tudo me afeta. O que as pessoas dizem ou tudo que acontece. Então, sei lá,

as vezes a série, assim, é pra eu sentar, dar risada e ficar mais feliz, muda meu

humor. Mas, tipo, ai, sei lá, ficar refletindo sobre... é legal, essa série, porque não é

só dar risada a toa, né. Eu acabo refletindo sobre a minha vida... e tudo.”

E qual o resultado dessa reflexão?

21:36 “Eu acho que eu acabo tomando atitudes... melhores”.

Então, no geral, o que a série deixa? Qual é a mensagem da série, se ela pudesse se resumir em um “epitáfio”?

22:23 “Pra mim... é que não tem o certo e o errado, sabe? Mais pelo final da

série [...] O final eu achei legal que não foi um final óbvio tipo, conto de fadas, foi...

ai, não foi vida real porque é tudo muito idealizado o que acontece na série, mas

tipo, a mulher morreu e é isso que acontece na vida[...] Que não existe certo errado,

que não existe a coisa perfeita”.

E pra ti, um resumo final, o que a série representou, eu ainda representa pra ti? O que o ato frequente de assistir a série significava ou significa pra ti?

23:16 “Ah, era o momento de ver uma coisa querida e engraçada. Ai, ver

assim chega a dar uma saudadezinha, tipo, é uma coisa querida e agora não tem

mais”.

Page 73: LEGENDARY: A expressão do mito no seriado How I Met Your Mother

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2. Entrevistada G. Arquivo de áudio: 2_GA – Entrevista.amr

O que tu gostas de fazer no teu tempo livre? 00:51 “Ler. Ler bastante...”

O que é ideal de ócio pra ti?

02:12 “Ãh... haha. Dormir... Ããh... assistir qualquer merda... sei lá, entra no

Netflix e bota o pior filme do mundo... haha”

E como é que tu chegou em HIMYM?

04:03 “Por um ex. Ele me apresentou e depois a gente terminou e eu

continuei assisindo.”

Tu assistiu toda ela?

04:16 “Sim. Toda.”

Quando eu falo HIMYM, qual a primeira coisa que te vem à cabeça?

04:16 “Robin.”

Por quê?

04:33 “Eu gosto dela. É a minha personagem preferida. Ahn... Canadá.. .vem

muito à cabeça . E eu gosto da personalidade dela.”

Em que sentido?

04:49 “Sarcasmo... Ela ser meio tomboy . Eu consigo me identificar muito, que

eu sempre fui ‘guri’. O jeito que ela se relacionava com o Barney antes de eles terem

um relacionamento amoroso, de wingman ... É muito ‘afuder’”...

A guria que tá com o cara e dá uma mão...

05:20 “Aham. É, eu consigo me ver muito nela. ”

Se tu pudesses resumir o seriado em poucas palavras, frases...

Page 74: LEGENDARY: A expressão do mito no seriado How I Met Your Mother

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05:37 “Ah... um... cara. Procurando meio desesperadamente uma pessoa...

para amar, para casar, mas que acaba não sendo o principal personagem. Com

amigos que são mais interessantes que ele muitas vezes no seriado. ”

FORAM MOSTRADOS OS TRECHOS SELECIONADOS Arquivo de áudio: 2-2_GA – Entrevista.amr

Comenta um pouco, e pode, já, pensar um pouco, sobre esses três discursos. (recapitulando as cenas assistidas).

01:05 “Eu acho que algumas várias vezes a série tentou ser meio Friends , e,

tipo, aquele discurso da Lilly é uma coisa que eu consigo ver em Friends. De ser,

meio, lição de moral, esse tipo de coisa. Ahn, a frase do Barney é muito Barney, e

eu acho que um monte de gente meio que quer ser daquele jeito: tentar... não se

deixar abalar por coisas assim e ser legal... ser awesome. E eu gosto de quando o

Ted vai atrás da Robin e a comparação dele de dar o pulo é bem How I Met Your

Mother... o tipo de piada. Eu acho que fica legal pra série. E é legal de assistir

momentos assim às vezes. Uma piadinha, assim, mas que tem um fundo de ‘vou

fazer alguma coisa’. Eu curto”.

Tu disseste que tu já viste isso em Friends. Qual tu achas que é o motivo dessas lições de moral estarem...

03:18 “Eu acho que é o que as pessoas querem escutar. As pessoas querem

se identificar com o que elas estão vendo e muita gente assiste pra fugir um pouco

do dia a dia e é bom ouvir esse tipo de coisa de uma pessoa que não esteja na tua

vida.. sei lá. Dá um certo ânimo.”

Por que tu achas?

04:00 “Porque... tá meio foda viver (risos). Tá meio foda viver...(ainda rindo

bastante, faz pausas). E... nesse escape, achar um ponto de, não é de confiança,

de... apoio, sabe de... é bom. Não sei me explicar muito bem, mas...”

Tu sentias isso quando tu olhavas? Tu percebias momentos e discursos que mexiam contigo de certa forma?

Page 75: LEGENDARY: A expressão do mito no seriado How I Met Your Mother

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04:45 “Alguns, dependendo de como estava a minha vida, do que eu estava

passando... alguns momentos do Ted acabando um relacionamento... A Robin com

o pai dela. Algumas coisas assim.”

Quando que o seriado mexia contigo? O que precisava, o que desencadeava isso?

05:35 “Ahn... momentos mais de ‘amigo’. Porque... eu não tenho muitos

amigos e sempre foi meio.. ahn, as pessoas não me entendem muito bem, assim.

E... é muito raro eu conseguir ser muito amiga de uma pessoa e eu já quebrei muito

a cara com amigos. E eu acho que ver uma relação de amizade que nem a deles,

por exemplo é meio ‘assim’ pra mim.”

Assim como?

6:25 “Mexe um pouco porque... eu não tenho muito disso na minha vida.”

Tu achas que isso desencadeia alguma atitude tua? Tu achas que isso que tu pensas, sentes, ou refletes quando tu assistes o seriado sai do seriado e vai pra tua vida de alguma forma?

07:00 “Em alguns momentos sim. Quando eu estou mais vulnerável. Ahn.. já

terminei amizades depois de assistir um episódio meio... por ficar pensando demais

naquilo e me dar conta de algumas coisas na vida que não estavam muito...”

Tu te deste conta disso a partir de um momento do seriado. A partir de alguma coisa que tu viste no seriado, certo? Que tu achas que tinha no seriado, que tu achas que foi tão certo, assim, no que tu estavas passando, sentindo, na tua situação. O que tu achas que o seriado tem que te fez refletir sobre a tua situação?

07:58 “Ahn... diálogos bons a ponto de me fazer pensar, mas, ahn... ai...

(longa pausa, pensando). Acho que... a parte da amizade entre homem e mulher,

que eu sempre tive muito mais amigos do que amigas e o jeito com que eles se

tratam.”

Tu falaste sobre diálogos bons. Tem como tu definir um pouquinho o que é um diálogo bom nessa situação?

Page 76: LEGENDARY: A expressão do mito no seriado How I Met Your Mother

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09:23 “Pra mim é um diálogo que tenha um ritmo bom de se acompanhar.

Ahm, que... ai, fugiu a palavra. Que... faça pensar um pouco em vez de só estar

olhando para passar o tempo e entreter, obviamente. Não tem como assistir cinco

minutos de diálogo e dormir no meio”.

E o que tu achas que está nesses diálogos que faz pensar? É o que eles falam, é o jeito de falar, é a maneira de escolher as palavras para pontuar um assunto...?

10:25 “Tem muito da maneira de falar e da escolha de palavras para a

ocasião, para o que está acontecendo, assim... meu deus (risos). Tipo... a cena que

o Marshall pula. A Lilly estava falando com o Ted e o Marshall ‘levou’ pra ele, assim”.

E tu achas que antes deste discurso que mexeu contigo acontecer, tudo que aconteceu na serie, o andamento, o ambiente que a série cria te dá mais suporte para dar ouvidos para o que está sendo falado ou tu achas que se tu ligasse a televisão naquele momento tu ia ter te identificado e prestado atenção da mesma forma?

11:38 “Eu acho que talvez, poderia, se eu ligasse a TV naquela hora e visse,

sim. Mas eu acho que a construção do relacionamento dos personagens me ajudou

bastante sim. Conhecer eles, saber o que estava acontecendo. Mas, eu poderia ter

me relacionado com aquilo mesmo tendo assistido só aquela parte;”.

E aí, por que tu achas que isso aconteceria?

12:22 “Bom, naquele... ahm, era em relação à Robin com o pai dela. E... eu

acho que, para mim, funcionaria em ambos os jeitos porque era uma coisa que já

tinha acontecido comigo.”

Como tu acha que essas situações da vida chegam no seriado?

13:21 “Olha. Eu acho que um bom roteirista tem que escrever coisas que as

pessoas consigam se identificar. Coisas que ele conheça, também. Pode ser que ele

tenha pego muitas situações que eles viveram, ou de outras pessoas que eles

conheceram viveram. E eu acho que é mais relacionável com a vida cotidiana, com

a vida real, do que um sci-fi (risos).”

Page 77: LEGENDARY: A expressão do mito no seriado How I Met Your Mother

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Para finalizar, se a série fosse resumida em uma frase, como se fosse um epitáfio. O que seria?

15:09 “Eu acho que seria algo como: ‘não deixar situações adversas mexer

muito contigo e parar de procurar um pouco’.”

Tu achas que isso é ensinado ao longo da série e é aprendido, no teu caso, pelo menos?

15:31 “Eu acho! Toda vez que o Ted tentava com muito afinco, sempre dava

merda. Quando ele meio que parou, quando ele estava desistindo, ele encontrou a

mulher [...] pra mim sempre foi verdade isso , na real. Eu sempre consegui coisas

quando eu não estava tentando muito..”

3. Entrevistada J. Arquivo de áudio: 3_JR - Entrevista.m4a

O que tu gostas de fazer no tempo livre? 01:19 "É… basicamente o que eu faço quando eu estou com tempo livre é

comer, dormir e ver série. Mas às vezes eu saio bastante também, com meu

namorado. Mas em casa é só isso que eu faço, até sinto falta de fazer isso. Então,

quando eu tenho um tempo livre, assim, às vezes meu tempo livre é só na hora do

almoço, então eu sento, como e vejo série. Então, dá pra misturar tudo ao mesmo

tempo".

Como seria um dia ideal pra ti? 01:44"Acho que eu ia acordar a hora que eu acordasse, não ia ter que

levantar porque tem que levantar e aí ia ter um almoço da minha mãe, pronto… e

depois, de tarde, ia sair com meu namorado pra fazer alguma coisa que a gente

gosta, pode ser só ir na casa dele. Ficar com ele já é legal. E aí, de noite, chegar e

ficar no computador conversando com o pessoal no Face. Acho que seria isso. Faz

tempo que eu não tenho isso".

Tu costumas ir no cinema, olhar TV, ou olhar programas de TV mesmo em outro lugar?

Page 78: LEGENDARY: A expressão do mito no seriado How I Met Your Mother

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02:23: "Hmmm… no cinema eu vou bastante. Ver programa de TV…

basicamente eu vejo sempre os mesmos canais… tipo, eu não vejo muito TV aberta.

Eu vejo mais Warner, Sony… que tem bastante série..

E tu olha bastante série na televisão? 02:40: "Mais na TV que no computador".

Se tu pudesse definir o papel da TV ou dos produtos de TV na tua vida? 03:20: "[...] ai, TV é tão prático. Às vezes eu tou fazendo um desenho, deixo a

TV ligada porque mesmo que eu não esteja super prestando atenção naquilo ali já

dá um conforto, tem mais uma voz em casa… é, uma espécie de companhia. E é

uma diversão tão simples, que não precisa fazer esforço nenhum. É só tu ligar a TV

e tá ali".

E falando em seriado, assim. Qual o primeiro seriado que te vem na cabeça? 04:31: "Friends… Friends, que sempre, desde pequena eu odiava quando

minha mãe e minha irmã assistam, porque eu não entendia, era muito de adulto. Ou

de adolescente, eu era criança. Depois que eu comecei a dar uma chance, Friends

foi, tipo, a melhor série. Eu sei todos os episódeos de cor e depois de Friends eu dei

uma enjoada [...] e eu fui descobrir HIMYM e agora, também, sou muito fã".

Em que momentos tu costuma assistir seriado?? 05:10: "Quando eu estou almoçando ou jantando. E… quandoe eu estou com

a minha mãe, às vezes. É uma coisa que eu faço junto com ela, assistir. Ou, quando

eu já não tenho mais nada pra fazer, ou até tenho, mas eu não estou a fim, no final

de semana, assim".

E quando eu falo HIMYM, qual a primeira coisa que te vem na cabeça? 06:20: "Barney, hahaha".

Por quê? 06:27: "Ah eu não sei. Eu acho que ele não é o principal, mas, pra mim, se ele

não estivesse na série, talvez eu nem fosse ver, porque eu acho ele muito divertido.

Bah, eu acho ele sensacional, hahaha. Acho ele 'awesome', hahaha".

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O que mais da série vem na tua cabeça quando tu pensa em HIMYM, fora os personagens… ou outro personagem que… é o segundo...?

06:45: "Eu acho que tem uma coisa, não é bem uma palavra, no HIMYM que

eu acho legal que é a parte romântica dele, porque, querendo ou não, é uma série

baseada numa coisa extremamente romântica, né, que é a luta de uma pessoa para

conhecer alguém. Que ela, às vezes, desiste e as vezes pensa 'vou continuar'. Acho

que HIMYM passa essa boa sensação de que, no final, vale a pena tu ficar

esperando por alguém, que vai ter esse alguém".

Quando tu começou a assistir HIMYM, o que te prendeu? O que te levou a assistir o primeiro (episódio) e o que te fez continuar assistindo?

07:27: "É engraçado, porque eu comecei assistindo porque eu vi muita gente

falando bem, e isso já faz alguns anos. E aí eu estava com Netflix na época e só

tinha as duas primeiras temporadas. Daí eu só vi as duas primeira [...] numa

sentada, eu vi tudo com a minha mãe, acho que porque a série é fácil de assistir,

não é pesada, é divertida. Termina o episódio tu: 'ai, que legal, quer ver mais um'".

E se tu pensa nos personagens, tem algum com o qual tu te identificas mais? 08:39: "Hm… algumas situações eu me identifico com a Robin, porque ela

tem um pouco de… ela não gosta de mostrar vulnerabilidade, que eu tenho um

pouco disso, mas ao mesmo tempo eu sou muito sensível, então isso já não

combina muito com ela. Mas isso de, quando ela tenta fugir isso e tenta não se abrir

muito, eu entendo um pouco ela. Mas, também, com a Lilly, porque, principalmente,

a Lilly namora a muito tempo com o mesmo cara e eu namorei muito tempo a

mesma pessoa, e, quando eu comecei a assistir, eu ainda estava com essa pessoa,

agora não estou mais. E aí eu pensava: poxa, é possível uma pessoa namorar

desde nova, ser o primeiro namorado e passar tanto tempo. Então, eu me

identificava muito com ela. Mas agora que eu terminei com essa pessoa, que não

deu muito certo, talvez eu nem me identifique tanto, então, fica mais a Robin".

FORAM MOSTRADOS OS TRECHOS SELECIONADOS Arquivo de áudio: 3.2_JR - Entrevista.m4a

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Comenta um pouquinho sobre o que te passa pela cabeça vendo esses trechos.

00:06: "Acho que eu lembro do momento que eu vi pela primeira vez, a

sensação que eu tive. Vai lembrando, assim. E… sei lá, quando mostra, por

exemplo, o Ted na fossa, achando que a vida dele tá horrível, eu lembro que eu

pensava: ah, ele tá achando isso, mas eu sei que ele vai encontrar a mother, que

tudo vai ficar bem. Então dá um conforto que ele não tem e eu tenho, porque eu fico

triste junto com ele. Que nem o Marshall, quando a Lilly (o) deixou. Eu fico triste

junto com ele, mas eu sei que no final vai dar tudo certo. Aí eu vou lembrando da

sensação que dá de ver eles meio mal, mas que no final, tudo vai funcionar'".

E essa sensação que tu tens, olhando pros personagens, olhando para o seriado. Tu achas que é possível transferir isso pro cotidiano, para a vida vivida?

01:08: "Acho que sim, porque tem muita história parecida por aí que… é a

mesma coisa. Não são histórias tão absurdas, apesar de ter umas partes

engraçadas, tipo, a da cabra, tem muito sentimento que é exatamente o que eu vejo

nos meus amigos sentindo. Eu tenho um amigo que é muito parecido com o Ted

porque ele é muito assim, apegado, sensível às pessoas e faz tempo que ele

procura uma guria que ele possa confiar. Ah, e acontece cada coisa com ele, e ele

meio que desiste da vida, mas depois ele vai lá e tenta de novo. Acho que é uma

coisa super válida que a gente vê eles passando. Super… humano, é bem cotidiano.

Eu sinto. Várias vezes eu torcia muito para o Barney ficar com a Robin porque eu

me acho muito parecida com… a história deles é muito parecida com a minha

história com o meu namorado e quando eu vi que eles não iam ficar juntos, me deu

assim um… bah, será que vai ser o mesmo futuro pra eu e pra ele, né? Porque são

coisas parecidas, aconteceu com eles e terminou de uma maneira super real, não de

uma maneira 'contosde de fadas', então, a gente fica se comparando. Ah, se

aconteceu isso com ele, será que vai acontecer isso comigo? Porque tudo são

coisas bem possíveis".

Tu achas que isso acontece bastante no seriado, essa comparação, fazer essa projeção...?

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02:20: "Sim… sim! Bah, direto. Quando eu vejo gente parecida com eles eu

sempre penso: bah, será que essas pessoas que eu conheço vão ter o mesmo fim

que eles? Hahaha.".

E tu achas que quando tu pensas nisso e essa reflexão que o seriado gera… ela resulta em alguma ação prática na tua vida?

02:39: "Eu não vou mentir que alguma vez eu já não vi que alguma coisa

conteceu no HIMYM e eu quis viver isso na vida real. Tipo: eles terem o lugar em

que eles se reúnem, o lugar deles… já tentei criar esse lugar pra mim também, com

meus amigos, porque, tu vê eles terem aquilo ali e tu pensa: ah, que legal eles terem

um lugar para se encontrarem, eles não têm nada pra fazer, eles se encontram lá,

que nem no Friends, também tem isso. Aí tem coisas que eu tento trazer para a

minha vida, ver se acontece do mesmo jeito, viver aquilo que eles vivem que eu sei

que eles gostam. Ou coisas que eles não gostam, tentar repetir na minha vida,

também acontece...".

E por que tu achas que isso acontece? 03:21: "A gente vai se identificando com o personagem, vai se apegando e vai

vendo… na verdade, o roteirista tá lá escrevendo da maneira que ele quer que as

coisas aconteçam, mas ele se baseia no que humanos de verdade fariam, na

maioria das vezes. Então é como se tivesse assistindo exemplos de pessoas… tu tá

assistindo vias de pessoas, pode ser pessoas da rua, que seja. Naquele caso são de

pessoas inventadas, mas tu tá vendo exemplos deles e tu pensa se aquilo ali não é

real também, se aquilo ali não vai acontecer um dia contigo também, com alguém, e

tu tenta… eu, pelo menos, sempre que eu vejo alguma coisa eu quero aprender, tirar

uma lição daquilo ali. Então eu estou constantemente vendo o episódio e vendo:

bah, isso daí não é legal, melhor eu não fazer isso um dia, sabe? Trair meu amigo

ficando com a ex-namorada dele, bah, isso não dá certo, é melhor eu nunca fazer

isso também. Aquelas coisas que a gente vai pegando pra nós porque eles são

pessoas e a gente é pessoas, e a gente vive coisas parecidas e daí já mistura tudo e

já começa a achar que aquilo ali é muito real. Mesmo às vezes que tem umas coisas

forçadas, as vezes a gente ficava tomando como realidade".

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81

E por que tu achas que tem esses pontos-chave no seriado que tu te identificas com a tua vida, que tu identificas com o teu momento. De onde tu achas que vem isso?

04:32: "Hmm… como eles são, talvez, mais velhos que eu… é que nem

quando eu era criança e via história de princesa, por exemplo. E achava que aquilo

ali era o normal de acontecer. De conhecer alguém, se apaixonar e aí, depois, da

tudo certo, ter um filho, ficar junto… e aí tu pensa: tá, quando eu crescer vai ser

assim né. Só que, daí, tu vai crescendo, tu vai vendo que as coisas não são assim e

tu começa a procurar novas referências. E eu acho que o seriado que são com

pessoas um pouco mais velhas, ou, talvez, com pessoas na mesma faixa etária são

a nova referência. Porque são jovens da época atual, não são mais da idade média

e eles passam por problemas e te mostrar: tá, as vezes tu vai conhecer a guria e vai

casar com ela, tu vai ter filho com ela e ainda asism, às vezes não vai dar certo.

Então, que tu vai fazer quando tu chegar nessa hora? Os contos de fada, quando eu

era pequena, não me ensinavam isso. Aí agora eu olho e penso, tá, aqui, com eles,

eu posso aprender, quando situações surgirem, o que é bom de fazer ou não".

Eles vivem numa realidade meio diferente da nossa… como tu acha que isso te influencia quando tu tá assistindo? Não que isso te influencie a pensar de um jeito ou de outro, mas quais são as relações que tu fazes com eles estarem numa realidade diferente? Tu falaste que o fator temporal aproxima eles de ti.

06:10: "Tem algumas coisas que são parecidas, mas tem umas coisas que

não têm nada a ver, né, com o que eles vivem, com o que eu vivo e, sei lá, no meu

país se passa. Eles vivem numa realidade diferente, eles têm empregos diferentes,

eles têm costumes diferentes, mas… acaba tendo uma influência que, como eu

falei, esse negócio de eu querer ter um lugar para me encontrar com meus amigos…

essas partes diferentes que são boas a gente acaba querendo trazer pra cá, ou

querendo ir pra lá. Depois de ver Friends e HIMYM que se passam em Nova Iorque

eu tenho a sensação de que, se um dia eu for para Nova Iorque eu vou viver aquilo

que eles vivem. É uma besteira, porque, óbvio que não. Eu vou estar na cidade, mas

todo o resto não vai estar lá ainda. Mas eu acabo querendo trazer para cá ou, sei lá,

incorporar em mim, ou ir para lá viver algumas coisa assim. Ou conhecer gente

parecida com eles. Me aproximar de alguma maneira da realidade deles. Porque é

Page 83: LEGENDARY: A expressão do mito no seriado How I Met Your Mother

82

tão legal aquilo ali. Por mais que eles sofram, eu sei que vai acabar bem e eu acabo

querendo ter aquilo ali também.".

E, tu disseste que várias vezes tu vê momentos que passam contigo ou que possam passar contigo[...] tu achas que em algum momento que tu não estás olhando o seriado, mas que tu estás vivendo, tu lembras disso? Tipo, eu já vi isso acontecendo.

07:36: "Sim, é. Ahm… acho que principalmente no meu relacionamento, como

o seriado trata muito de relacionamento, no meu relacionamento às vezes eu vejo

coisas que acontecem na série eu vejo, assim, acontecendo comigo, e ás vezes até

como meu namorado também assiste, eu até comento: ah, isso tá parecendo aquela

cena, que aconteceu. E, às vezes, eu até acabo forçando para a quela coisa

acontecer. É até engraçado isso, porque, como já é um campo conhecido, porque eu

já vi no seriado como é que é, eu fico: tá, e se tal coisa acontecesse, como seria pra

mim, na minha vida, sabe? Meio… louco pensar isso, mas sabe, acaba

acontecendo. Por exemplo, o Barney ser meio mentiroso, e tal, com a Robin. E isso

irrita ela. E meu namorado é muito… ele não é mentiroso comigo, né. Eu espero,

mas eu sei que ele é uma pessoa que mente para a mãe dele. Mente quando for

conveniente, né, e tal. E aí eu fico às vezes querendo saber como seria se fosse

comigo tal situação. Se, exatamente aquela cena do HIMYM acontecesse comigo,

se ele iria reagir de uma maneira que eu gostaria ou não ou se ele, sei lá. Faria

alguam coisa como o Barney fez com a Robin e ela não gostou. E aí, se tem a

oportunidade daquilo ali acontecer, eu identifico, baseado na série e tento criar

aquela situação para ver se ele vai reagir da mesma maneira ou não. Isso acontece,

sabe?".

Tu crias a situação para...? 09:08: "É, eu sou capaz de criar a situação só para ver se a minha vida tem

alguma relação com HIMYM".

E tu esperas que ela tenha? 09:15: "Quando é uma coisa boa, muito. Eu espero muito. Agora, quando é

uma coisa ruim, até não é tão ruim se tiver uma coisa a ver com HIMYM porque, se

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aconteceu com eles e foi uma coisa ruim e eles contornaram… então, sei lá. Dá uma

esperança que eu também vou conseguir contornar isso".

E tu saberias pensar o que te faz levar em consideração a possibilidade da tua vida ser parecida com o seriado?

09:45: "Ahm… eu acho engraçado porque, se eles fossem pessoas reais,

talvez eles nem imaginassem que a vida deles seria interessante o suficiente para

ser um seriado, né. Mas, ao mesmo tempo, a gente que tá assistindo, a gente acha

aquela vida deles muito legal, eles ter aquela amizade, aquele mundo todo, viver

naquela cidade legal, e todas aquelas aventuras, todas as histórias que elas já

tiveram. Queria que minha vida fosse legal como se fosse um seriado, sabe? Se

alguém um dia sentasse para assistir a minha vida num reality show, eu teria história

para contar, teria coisas divertidas acontecendo. Não seria só minha vida: sentar,

fazer meus desenhos, assistir TV e voltar pra dormir, sabe? Acho que eu queria ter

uma vida que seria tão legal de assistir quanto é a deles".

E se tivesse uma mensagem final do seriado. Se ele moresse e tivesse alguma coisa escrito na lápide. O que tu achas que seria?

10:47: "Eu acho que o seriado tem muito a ver com: as coisas vão dar errado,

mas vale a pena tentar. Não desistir. Pra mim é a mensagem que fica, porque,

quantas vezes deu errado e só deu errado, nem consertou depois, mas pelo menos

tu tentou, tu te esforçou. Tá, o Barney e a Robin não terminaram juntos, mas pelo

menos ele sabe que ele tentou ficar com alguém que ele gostava. Não deu certo,

paciência. Agora toca a vida de outro jeito, pelo menos ele sabe que ele tentou. Se

o Ted não achasse a mãe, pelo menos ele saberia que ele tentou, foi atrás. Porque,

todos os momentos da série que eles não ficaram tentando, desistiram da vida e

resolveram ficar no sofá vendo TV e largaram de sair, sabe, pra vida, nada

aconteceu. Então, se tu tenta, tem mais chance do que ficar sem tentar. Então, seria

tipo isso. Às vezes tu sabe que não vai dar certo, mas o importante é tentar e se

esforçar. Dar uma chance".

4. Entrevistada A. Arquivo de áudio: 4_APR - Entrevista.m4a

Page 85: LEGENDARY: A expressão do mito no seriado How I Met Your Mother

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O que tu gostas de fazer no tempo livre? 00:27 "Eu gosto muito de ver HIMYM, mas também eu gosto muito de ficar

ouvindo música, procurar músicas novas, assim".

Qual é o teu ideal de ócio? 01:46 "Acho que é ficar deitada no sofá, mexendo no Facebook e vendo TV".

Onde tu costumas assistir seriado? 02:22 "Normalmente eu vejo na TV e quando eu gosto muito de uma série,

que é o caso de HIMYM, eu assisto online mesmo, eu costumo baixar".

Qual a primeira coisa que te vem na cabeça quando eu te falo em televisão? 02:53 "Ah… não sei bem. Eu penso, assim, em ter tempo livre. Se a pessoa

pára para ver TV é porque ela não tem nada para fazer mesmo, sabe?".

Então onde está a TV no teu dia-a-dia? 03:12 "Tá naquele momento que eu tenho alguma coisa para fazer mas eu

estou protelando, tá ali a TV".

E o que tu mais costuma assistir além de seriado? 03:19 "O que eu mais assisto são os seriados mesmo, normalmente seriados

de comédias, mais tranquilinhos. Eu não costumo parar para assistir coisa muito

séria, embora eu goste também de ver filmes. Mas normalmente, quando eu paro

para assistir TV são esses seriados assim, esse estilo''.

E por que tu prefere esses seriados a outros mais pesados? 03:40 "Ah, não sei. É porque eu acho que esse é um momento de descontrair,

sabe. Ver uma coisa, assim, que te deixe tranquila, mais alegrinha e não tão num

estado mais concentrado, que é assim que tu tá quando tem as outras coisas para

fazer''.

E que tipos de seriado tu costumas assistir? 03:59 "Normalmente os de comédia, mesmo.''.

Page 86: LEGENDARY: A expressão do mito no seriado How I Met Your Mother

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Se eu falo em seriado, qual o primeiro que vem na tua cabeça? 04:06 "Ahn, HIMYM. E The Big Bang Theory, também''.

Tu lembra qual foi o primeiro seriado que te fez começar a gostar de seriado? 04:22 "Eu não sei. Eu acho que… é que eu via TV desde pequeninha, então

eu não sei se conta, os Bob Esponja da vida... ''.

E, pra ti, qual o seriado mais legal que tu já viu? 04:41 "É difícil. É porque eu gosto muito de HIMYM mesmo. Então eu diria

que é esse. No momento, assim. Eu gosto porque ele não é só engraçado, mas

também ele tem toda um história bonitinha por trás. Tu te conecta com os

personagens, coisas assim ''.

Então, falando isso: quando a gente começa falar de HIMYM, qual a primeira coisa que te vem na cabeça?

05:10 "Ah, o Ted. Porque ele é a alma da série, né. É por isso, eu acho que

todo mundo tem um ladinho Ted, assim''.

Tipo, como? 05:22 "Ele é uma pessoa muito positiva, assim. Ele tem um sonho. No caso, o

sonho dele é encontrar a mother, mas isso pode ser pensado de outras formas

também, né. Daí que a pessoa não desiste e acredita que vai conseguir mesmo,

assim, mesmo sem ter certeza nenhuma a respeito disso. E isso não vale só pro

relacionamento, mas a respeito de outras coisas assim, de carreira, ou de lazer… Eu

tenho muita vontade de conseguir aprender a tocar tal música, sabe? Esse tipo de

coisa''.

E tu te identificas com essa característica...? 06:00 "Do Ted? Ah, acho que sim, eu acho que eu tenho um pouco de Ted,

sim. Mas o que é legal é que, tipo, todos os personagens ali tu pode te identificar em

algum momento com eles, sabe? Com alguma característica de um ou de outro, tu

acaba te identificando sempre. Acho que isso que é o legal da série''.

Page 87: LEGENDARY: A expressão do mito no seriado How I Met Your Mother

86

Tu disseste que tu te identificas com a característica de cada um. Tem algum em especial?

06:45 "Eu gosto bastante da Lilly. Mas eu não sei explicar muito bem, porque

eu não gostava muito dela no começo da série. Eu acho que é um personagem que

evoluiu. Por exemplo, no nosso grupo, a gente brinca que cada um corresponderia a

um, e dizem que eu seria a Lilly do grupo. Não sei, acho que é porque combina.

Principalmente tem a ver, no nosso caso é que tem um Ted e a Lilly é sempre

aquela que tá ajudando, sabe? Aí seria por isso''.

SÃO MOSTRADOS OS TRECHOS. Arquivo de áudio: 4.2_APR - Entrevista.m4a

Comenta um pouquinho sobre esses trechos. 00:03 "Esse tipo de cena são aquelas que conquistam as pessoas, sabe?

Porque não são cenas só de piadas. São cenas de crescimento do personagem,

esse tipo de coisa. Que mostrar realmente qual é o sentido da série. São legais de

assistir são aquelas que tu realmente te conecta com a história. Eu gosto dessas

cenas''.

Por que tu acha que elas fazem tu te conectar com a história? 00:28 "Ah, por que todo mundo consegue, acho que ver alguma coisa da sua

vida nos dramas dos personagens, assim, sabe? Uma coisa meio catarse. É legal

isso''.

O conteúdo da série te faz pensar nas coisas que são ditas e são mostradas? Em quê?

00:52 "Ah, é a aquela coisa, né. Quando eles falam a respeito de, tipo assim,

pro Marshall ali de pular. Aí tu pensas: o que que eu deveria pular, porque tudo tem

seus próprios problemas, aí eu penso a respeito deles a partir do que os

personagens estão fazendo, sabe? Mesmo que seja uma coisa bem rapidinha. Eu

pensei ali quando vi a cena e depois não pensei a respeito, mas ela passa assim''.

E tu enxergas coisas da tua vida no seriado? Tu já te pegaste pensando enquanto olhava o seriado: ah, isso já aconteceu comigo ou com alguém?

Page 88: LEGENDARY: A expressão do mito no seriado How I Met Your Mother

87

01:28 "Ah, acho que sim. Acho que acontece, não consigo lembrar nenhum

exemplo para te dar agora, mas acontece quando eu estou assistindo''.

E o contrário? Num momento da vida tu lembrares de alguma coisa que tu viste no seriado?

01:42 "Ah, isso sim. Sempre, hahah''.

E tu consegues pensar se ver essas coisas já motivou alguma atitude tua? Tu te lembrars de ter uma mudança de pensamento em relação a alguma coisa?

01:58 "Ah, acho que já aconteceu sim. Principalmente naqueles momentos

que tu fica com medo de fazer alguma coisa e aí tu pensa: ah, não adianta ficar com

medo, porque é como dizem no HIMYM, porque isso, isso e isso… eu acho que tem

sim isso. Tu te motiva pelo que tu vê que dá certo só que, também, por outro lado é

muito mais fácil dar certo numa série que é planejada para dar certo, mas acho que

tem um pouco, assim, de um incentivo função do que eles fazem.".

Relacionando a série com a vida real, assim. Como tu acha que as coisas se cruzam, que a história planejada se cruza com as histórias de verdade?

02:47 "Ah, porque mesmo sendo uma história planejada, ela tem muito de um

fundo de verdade, são situações que poderiam acontecer, então eu acho que é por

isso que ela… eu não sei se o que tu quis dizer, assim...''.

Onde que os acontecimentos da história do seriado se encontraram com a vida? Como tu consegues relacionar uma coisa coma outra? É possível relacionar uma coisa com a outra?

03:17 "Acho que sim, porque, como eu disse, se a gente consegue se

identificar com os personagens e com o que eles estão fazendo é porque a gente

consegue relacionar com algo que aconteceu com a gente. Se a gente entende

porque ele tá se sentindo de determinada forma é porque a gente ja sentiu isso. Ou

imagina como seja. Então tem coisas que tenham a ver com a vida real, sim. É um

seriado com fundo de verdade''.

Page 89: LEGENDARY: A expressão do mito no seriado How I Met Your Mother

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[...]tu achas que o que tu assiste o seriado pode te ajudar a superar alguma coisa ou repensar alguma coisa?

03:59 "Ah, eu acho que pode mas eu não diria, assim, que isso seria o

principal, sabe? De repente, alguma cosia suave, pode ajudar. Acho que a gente

lembra, mas é a aquela história: ah, mas é um seriado. Eu não posso me basear

nisso. Mas, ajuda um pouquinho assim, mas é uma coisa suave. Não chega a ser:

ah, não, vai dar certo, porque, olha só, o Ted superou então eu também vou. Sabe?

Não é tanto assim''.

E se tivesse uma mensagem final do seriado. Se ele moresse e tivesse alguma coisa escrito na lápide. O que tu achas que seria?

04:45 "Acho que seria isso de… de tu não desistir, sabe? As coisas vão

acontecer da forma que são para acontecer e que a gente tem que aproveitar o

caminho. Acho que isso é o do HIMYM, né''.

E tu achas que a gente só tá lembrando disso proque nós estamos conversando sobre isso ou é uma coisa que tu lembrarias em algum outro momento da tua vida onde o assunto do seriado não fosse trazido?

05:10 "Eu acho que dava pra lembrar disso. Até porque desde o final da

temporada, da série, eu pensei muito a respeito de todas as coisas que eles

quiseram dizer, qual a moral. Eu ja tinha pensado um pouco a respeito também. Não

foi só por causa da conversa. Talvez essa parte de associação com a vida não teria

pensado tanto. Mas, assim, pensando na moral da série, acho que eu teria pensado

mesmo sem estar conversando aqui''.

5. Entrevistada I. Arquivo de áudio: 5_IH - Entrevista.m4a

O que tu gostas de fazer no tempo livre? 00:50 "Eu gosto de ler, bastante. Eu vejo filme pra caramba, também. Séries

de TV, minissérie. Sair com os amigos, ir pra um bar".

Page 90: LEGENDARY: A expressão do mito no seriado How I Met Your Mother

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Como seria um dia ideal pra ti? 02:05 "Não sei. Acho que num dia ideal eu não acordaria cedo. Eu me

acordaria sozinha, faria uma comida em casa, acho que, não sei, veria alguma coisa

de tarde com meu namorado e depois sairia com meus amigos. Não sei, não teria

um dia ideal, tem dias bons, eles acontecem, sabe? Então não tem aquele dia

perfeito que eu queria que fosse assim".

E qual teu ideal de ócio? 02:35 "Ah, cara eu tive um ideal de ócio na semana passada que, tipo assim,

eu fiquei no sofá, pedi comida. Fiquei no sofá o dia inteiro e vi todos os episódios de

Master Chef Brasil, um atrás do outro".

E, falando em Televisão, o que tu costumas assistir na TV? 03:04 "É, eu não tenho televisão. Eu não tenho por um problema lá em casa,

a antena não pega. Tipo assim, os meus canais abertos são de uma qualidade

péssima [...] o que eu vejo mais é Youtube, Netflix, Popcorn Time. Ou, então eu

baixo alguma coisa, mas eu não tenho TV aberta".

E qual o papel, não da TV, mas dos produtos da televisão na tua vida? 04:13 "[...] Não tem programas na TV aberta que eu assista, eu não sou

impactada pela TV aberta. Nada dela chega em mim [...]".

E fora programas de TV aberta, falando do geral de conteúdo de TV, aberta, a cabo, Netflix… Onde isso tudo tá presente na tua vida?

04:58 "Ah, cara. Eu não sei. Eu acho que tá sempre presente na minha vida.

Tipo, hoje eu estava a fim de falar como Maurício (namorado) pra gente voltar a ver

House of Cards. Então, eu não parei a minha vida pra fazer isso. Já tá al, sabe? Já

tá entranhado em mim e eu acho interessante porque em possibilita papo com

outras pessoas que eu conheço a pouco tempo, porque, sei lá. Quase todo mundo

do meu círculo social vê game of Thrones, então vai ser um papo com alguém que

eu acabei de conhecer. Então eu acho que dá uma facilitada pra você conhecer

pessoas, ter assunto pra falar, as pessoas te acham mais interessantes quando

você vê série, quando você vê filmes. Então eu acho que é isso. Aproximação, né?".

Page 91: LEGENDARY: A expressão do mito no seriado How I Met Your Mother

90

O que tu costuma assistir de programas? 05:50 "Tá. Minisséries, séries, filmes, documentários, tipo, eu vejo House of

Cards, agora estou vendo Good Wife. Vi Breaking Bad tudo, já vi Lost… Sim,

bastante seriado. Vi Felicity, e sei lá, Casa das 7 mulheres. Então, eu vejo e estou

vendo bastante coisa".

E quando eu te falo "seriado", qual a primeira coisa que te vem na cabeça?

06:19 "Ah, droga. Eu não consigo. Eu sou péssima nesse lance de primeira

coisa que vem na cabeça. Eu acho que é, sei lá, download: baixar os seriados".

E que tipo de seriado tu curte mais assistir? 06:34 "Cara, antigamente, antes de eu conhecer Netflix, eu curtia seriados

mais leves, mas acho que é porque eu era novinha. Eu curtia The Big Bang Theory,

curtia HIMYM, e, sei lá, curtia One Tree Hill, só que, quando eu fui ficando mais

velha e tive acessoa à Netflix, eu acabei curtindo séries um pouco mais densas, tipo

House of Cards, sabe? Até Breaking Bad, que é um pouco mais pesado. Então, sei

lá, depende. Acho que quando eu fiquei mais velha eu peguei séries, sei lá, mais

velhas".

E em que ambientes tu assiste? Sozinha, com teu namorado, na sala, no quarto...?

07:59 "É, o nosso Netflix é mais confortável na sala, na televisão, no

Playstation. Então, Netflix a gente assiste lá. É difícil, tipo assim, eu estar deitada e:

'ah, eu vou ver Netflix'… até porque, quando eu vou pegar o Netflix é uma coisa mais

longa. É um filme, uma série mais longa... House of Cards acho que tem uma hora e

pouca, então fica desconfortável na cama. Então, geralmente, a gente vai pro sofá

[...] A gente só vai assistir na cama, acho que, domingo de noite, antes de dormir

[...]".

Qual o último seriado que tu assististe? 08:36 "Hm… Good Wife. Eu não terminei ainda, mas foi o último episódio de

seriaod que eu assisti. Foi ontem, na hora do almoço".

E, na tua opinião, qual o seriado mais 'afuder' que tu já viste?

Page 92: LEGENDARY: A expressão do mito no seriado How I Met Your Mother

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08:47 "Hmm… eu acho que, tipo, pelo conjunto da obra, foi Breaking Bad.

Tipo, eu achei o roteiro muito bom, os cenários eram muito bons, e quando terminou

eu vi como eles conseguiram fechar tudo direitinho. Como cada personagem tinha

uma arco bacana. Então, pelo conjunto da obra, Breaking Bad".

E em que época tu olhou HIMYM? 09:13 "Pois é. HIMYM foi um negócio que eu comecei assistir e parei e depois

voltei a assistir. Como tinha muitas temporadas e HIMYM é… começou bem…

começou a enrolar, eu parei um tempo de assistir… tipo, parei um ano e meio de

assistir, aí depois eu voltei e assisti numa sentada também. Então eu comecei a

assistir quando eu tinha 16... 17 [...] eu comecei a assistir quando a primeira

temporada tava terminando, me falaram bem".

E quando eu falo HIMYM, quais são as primeiras coisas que te vem na cabeça? 10:01 "Ah… aquela corneta que parecia um pênis de Smurf. Ahm… deixa eu

ver… quando o Ted falava 'crianças', ele conversava com os filhos dele. As

bofetadas… acho que… e o Barney, que acho que era o melhor personagem, pelo

menos pra mim".

Tu falou que teve amigos que indicaram a série para ti. O que te fez continuar a assistir?

10:35 "Porque era uma série leve, era muito engraçada, cara. Tipo assim, eu

não lembro de nenhuma série na época que tinha um humor assim. A única que se

aproximava era Modern Family, e não… tipo assim, era a mais engraçada da época.

Era o humor mais fácil de ser entendido e eu acho que foi isso que me fez continuar,

porque era um negócio que, sei lá, eu conseguia ver e não me deixava mal depois,

eu ficava alegrinha e tal".

E por que tu acha que isso acontecia? 11:05 "Cara, porque a vida deles é perfeita, Ele moram em cima de um bar.

Eles não têm problemas no trabalho. Tipo assim, se você for ver, eles estão num

mundo muito pequeno, sem atritos. Os únicos atritos que eles têm são entre eles,

eles não têm dor de cabeça tipo: 'ai, vou pagar o meu aluguel', 'ah, fulano está

conspirando contra mim'. Tipo, House of Cards é uma tensão só. São só tensões,

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não tem momento de felicidade. E HIMYM não. Eu acho que é pra você ver pra

desestressar mesmo, pra se preparar para ver uma série um pouco mais densa. Não

dá pra você ver só série densa, senão você vai ficar meio deprimido. Mas acho que

é isso: vida perfeita, em cima de um bar, não pagam contas, têm um apartamento

enorme, mas o dinheiro vem da onde? Quando é que eles trabalham?".

E tu te identifica com algum personagem? 11:55 "Ai, eu não sei… acho que eu me identifico com a Lilly, assim, pelo

relacionamento que ela tinha com o marido dela que eu esqueci o nome agora...".

Marshall. 12:07 "Isso aí, como Marshall. Porque, sei lá. Meu relacionamento com o

Maurício é legal e ela é bacana também. Ela é feminina, mas ela não é mulherzinha,

sabe? E ela é engraçada e e inteligente, pelo que eu vejo na série. E, sei lá, é a que

eu mais me identifico".

FORAM MOSTRADOS OS TRECHOS SELECIONADOS Arquivo de áudio: 5.2_IH - Entrevista.m4a

Comenta um pouquinho sobre esses trechos. 00:18 "Ah, e como eu falei, a vida deles era numa boa. Era bar, eles estavam

sempre juntos e tal. Sei lá, os problemas deles não pareciam, assim, tão grandes,

sabe? Sempre tinha alguma coisa que deixava o problema meio ridículo. Por

exemplo: esse lance, ele perdeu o emprego e tinha um bode. Tipo, isso não

acontece, sabe?! Você perde o emprego você chora, você fica chateado. Isso daí é

o natural, sabe? Você não tem uma briga com um bode e vira uma metáfora sobre

uma toalha, sabe? Então, acaba que você… aconteceu uma merda e você fica

numa boa, você assistindo: 'Aha, que engraçado. Ele perdeu o emprego e brigou

com um bode'. Sendo que, sei lá, em outra série acho que você ficaria um pouco

mais tenso. Ahm… os episódios são legais e tal. Isso aí é legal, mas eu fiquei com

muita raiva porque deixou uma expectativa muito grande do lance da mãe e tal, aí

eu acho que eles pecaram muito por isso, de ficar botando essa expectativa e tirava

e botava. Até que chegou uma hora que, ah, foda-se. Foda-se a mãe''.

Page 94: LEGENDARY: A expressão do mito no seriado How I Met Your Mother

93

E por que tu acha que tu ficaria mais deprimida vendo alguém perder o emprego em outro seriado e não neste? O que tu acha que esse seriado tem no conteúdo dele que faz isso acontecer?

01:31 "Tipo assim. Esse lance que eu te falei: sempre botam outras coisas do

lado de coisas do lado de outras… e os personagens, dá pra ver que eles não estão

sofrendo, sabe? A cara do Ted era sempre assim…(entrevistada faz uma cara sem

expressão) 'perdi meu emprego'. Cara, ele tá ali com os amigos dele de anos, sabe?

Se alguma coisa dessas acontecesse comigo perto da minha melhor amiga eu ia

chorar, eu ia 'meu deus, como eu sou fracassada, o que eu vou fazer da minha vida'

e tal. Aí eu não ia brigar com o bode depois, não sei. Tipo assim, pode ser também a

atuação dos personagens que pra mim não me passa que eles tão sofrendo tanto.

Em outro seriado seria tipo: a mina perde o emprego e a filha dela é cega, e ela não

consegue levar a filha dela para o colégio, aí depois o governo tira a filha dela…

entendeu? Tem mais coisas acontecendo. Ali ele só perdeu o emprego, era o

emprego que ele odiava, era o emprego que, a firma dele, o chefe dele era um

idiota… e… sei lá, cara. Eu não consigo levar a sério''.

Tu não consegue aplicar isso ao cotidiano? 02:54 "Não! Tem um bode! Tem um bode com uma toalha, sabe? Tem uma

jacuzi que eles querem pular, sabe? Não tem coisas palpáveis que eu consiga

absorver: 'Pô, já passei por isso' e tal. Até quando ele, tipo assim, ele termina com

as namoradas dele, eu não consigo conectar isso com algum término de namoro

meu, sabe?''.

E tu acha que isso te desperta alguma coisa, olhar o seriado? Esses discursos, esses momentos, esses acontecimentos te despertam algum sentimento, alguma reflexão?

03:22 "Ah, eu acho que sim. Tipo, sei lá, vendo House of Cards eu fico

pensando que, tipo, pô, aquele cara tá ali para mostrar o quanto os governos são

maliciosos e quanto eles sõa sedentos por poder. Você pega uma coisa que tá no

seriado e você faz, sei lá, faz crescer. Tem no Breaking Bad os relacionamentos

entre as pessoas. Não que, sei lá, um professor de química vai virar um traficante.

Mas, tipo assim, você como as pessoas podem mudar quando elas querem dinheiro,

sabe? Você como, tipo assim, qualquer pessoa tem um preço… pode ser uma nóia,

Page 95: LEGENDARY: A expressão do mito no seriado How I Met Your Mother

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mas, tipo assim, você sai daquele micro, vai para um macro. Agora, em HIMYM fica

naquele universinho perfeito e colorido deles''.

Em HIMYM alguma vez tu conseguiu enxergar momentos que aconteceram na tua vida? Exemplos de coisas da tua vida?

04:24 "Hmm… Cara, eu acho que mais esse lance de estar no bar com os

amigos. Não necessariamente esse lance de eles irem a qualquer hora pro bar, mas

você estar ali com pessoas que você gosta e você conversar com elas sobre

besteira e depois conversar alguma outra coisa mais do seu dia… e tal. Tipo assim,

o momento de você estar junto com os amigos. Essa reunião, sabe? E você ter

pessoas que você pode conversar sobre qualquer coisa. Eu acho que é isso".

Os sentimentos deles conversam contigo de algum jeito? 04:56 "Eu acho que não tanto. Tipo assim, esse lance da Lilly e do

relacionamento dela com o Marshall eu acho bacana, sabe? Eu acho que é um

relacionamento legal. Tudo bem que força a barra, até quando ela dá em cima da

Robin e tal. Dá uma forçada de barra, mas esse lance de eles estarem juntos a tanto

tempo. De eles se gostarem e se confiarem, eu acho que conversa. Eu penso assim:

se você tirar a forçassão de barra inteira, tirar toda a forçassão de barra. Toda essa

atuação deles que pode ser um pouco artificial. A base fica de coisas que você pode

aproveitar na sua vida, tipo, o momento com os amigos, alguém perdeu o emprego.

Ponto. Porque várias pessoas perderam o emprego. Relacionamento bacana com o

noivo/namorado/marido. Eu acho que sim, mas, quando você começa a dicionar

esses elementos, tipo, que são muito nada a ver. A série quando começou ela não

era tão loucona assim, sabe? Ela era engraçada, mas ela não tinha tanta coisa

louca, fora do comum, sabe? Aí, depois que eles foram botando, foram saindo mais

da casinha, acho que aí é que deu uma degringolada''.

O que são essas forçassões de barra, essas coisas…? 06:04 "Tipo esses lance aí do boda, aí tem, tipo… ai, eu não consigo me

lembrar agora, mas tem viagens que eles fazem do nada. Eles estão num lugar, ou

então, tipo assim, ah, a Lilly combina com o barman pro barman dar uma bebida pra

ela e ele sempre aparece do nada e dá uma bebida pra ela e some, sabe? Tipo

assim, é coisas que não acontecem, na real. Ela poderia muito bem ficar puta, ir

Page 96: LEGENDARY: A expressão do mito no seriado How I Met Your Mother

95

para um bar sentar e pedir uma bebida. Sabe? Não o cara aparecer do nada e dar

uma bebida. Ou então eles vão para o hotel e o hotel é mau assombrado e tem

aquele O Capitão, sabe? Que o Capitão também é locão. Tipo, não era assim no

começo! O começo era sobre o Ted explicando pros filhos como ele conheceu a

esposa. Era uma história legal, sabe? Aí, sei lá. Eles forçaram muito a barra. Foi até

a época que eu parei de ver''.

E por que tu acha que, por ter forçado a barra, parou de conversar contigo ou de te pilhar de assistir?

07:09 "EU acho assim, eles tinham um objetivo. Quando eu comecei eles

firmaram um contrato comigo, que era 'vamos explicar como esse cara conheceu a

esposa dele'. E eles, tipo assim, davam um detalhe no início da temporada e ficavam

toda a temporada sem falar sobre e depois davam no final. Sabe? Eles começaram

a série falando que aquilo era um detalhe muito importante, que ia mostrar como

esse personagem cresceu e tal, como pessoa e depois que ele conheceu a esposa,

e parece que ficou esquecido para virar uma série cômica para competir com outras,

tipo The BIg Bang Theory e Modern Family. Porque Modern Family é tipo assim, é

só engraçada. Eles não firmaram nenhum contrato com ninguém, eles só falaram

que ia ser aquela família se relacionando e era isso''.

Algum outro seriado, dos que tu tem assistido, mexe contigo? 08:04 "Ahm, Breaking Bad mexeu bastante comigo. House of Cards mexe

comigo, por isso eu parei de ver um pouco até. Porque tava sendo muito pesado

para mim. Good Wife eu estou gostando. Agora, mais do que isso, por enquanto

não''.

Nestes dois que tu citou, tu enxerga aspectos da vida vivida, da vida cotidiana?

08:34 "Cara, em Good Wife, sim. House of Cards eu acho que sim. Eu não

estou perto de um político para ver, mas eu imagino que acontecem aquelas coisas,

sabe? De vir dinheiro, pessoas querendo muito poder e pisando nas outras, e tal. É

uma coisa que, tipo assim, não acontece na sua vida, mas ela te mostra tanta gente

suja que você fica pensando: isso pode acontecer, mas você não está nesse

universo. Então tem muita coisa acontecendo e você nem sabe, eles te botam essa

Page 97: LEGENDARY: A expressão do mito no seriado How I Met Your Mother

96

dúvida. Good Wife, sim, porque… primeiro porque Good Wife eu comecei a assistir

por uma recomendação que eu vi num podcast, porque tem uma mulher e essa

mulher é muito forte, daí não é uma coisa comum e eu comecei a assistir por causa

disso. E eu acho que sim, porque, tipo, ela é uma mulher que ela foi traída pelo

marido dela e o marido dela foi preso. Aí ela teve que começar a criar os filhos dela

sozinha, e tudo bem que pode tirar a parte do cara ter sido magnata, de ele ter sido

pego com uma prostituta, mas isso acontece com muitas mulheres, sabe. De elas se

separarem e terem que cuidar sozinhas da família''.

E algum deles fala contigo, no sentido da tua vida. Dos teus sentimentos? Tu te enxerga refletida, a tua personalidade, teus sentimentos, as coisas que te machucaram ou te fizeram feliz?

09:54 "Hmm… deixa eu ver… eu acho que quando eu era mais novinha, sim.

Porque a minha vida era mais simples, então, se eu via uma série de mulherzinha,

sei lá, One Tree Hill, eu me identificava, porque assim: ah, tem o menino popular do

colégio que a menina gosta dele e ela fica tentando ficar com ele e tal. Daí eu me

identificava, mas acho que depois a minha vida foi começando a ganhar mais forma,

sabe? Eu fui começando a crescer que é difícil ter um espelho meu ali. Só se eles

pegassem, tipo assim, sei lá… uma mina que mudou de estado por causa do

namorado. Isso daí eu não vi em nenhum seriado parecido com isso. Você falando

agora, eu acho que o único que eu vi um pouco parecido foi Felicity, que é muito

antigo. Que a mina ela ia pra uma faculdade, aí ela conheceu um cara e ela resolveu

mudar de faculade pra seguir ele. Acho que, tipo assim, não é. Não é o espelho,

mas, sei lá. Tem informações ali que se batem''.

E se a gente for fechar com HIMYM, pensando numa frase que seria a frase final do seriado. Se o seriado morresse e deixasse uma frase final nuam lápide, qual tu acha que seria?

11:11 "Ahm… eu acho que seria: 'ah, crianças. Eu volto para essa história

depois'. Porque eles fizeram bastante isso. Pra mim, parece que essa história não

terminou. Foi tipo assim: 'vamos terminar por aqui, porque a gente precisa terminar.

O dinheiro tá acabando, acabou, acabou acabou...' e, pra mim, não terminou. Não foi

o final que eu gostaria. Pra mim é isso''.

Page 98: LEGENDARY: A expressão do mito no seriado How I Met Your Mother

97

6. Entrevistado F. Arquivo de áudio: 6_FC- Entrevista.m4a

Qual é o teu ideal de ócio? 01:09 "Ah, ficar em casa assistindo série. E jogando vídeo game".

Que tipos de mídia tu consome? 01:22 "Eu consumia bastante revista, mas agora eu consumo bastante

internet. Não sou muito de ver TV. Eu tenho TV no quarto, mas, basicamente, fico na

internet".

Onde tu assiste seriado? 01:36 "No computador".

Tu baixa, tu usa Netflix…? 01:43 "Eu baixava há um tempo atrás, mas daí eu comecei a assistir online".

Tu costuma ir ao cinema? 01:55 "Pelo menos uma vez por semana eu vou no cinema. É uma das coisas

que eu gosto. Daí, quando eu vou no cinema, eu já vou na livraria, compro um

livro… Uma das coisas que eu mais gosto de fazer é ir no cinema".

Quando eu falo em televisão, e não necessariamente em TV, mas os produtos da televisão. Qual a primeira coisa que te vem na cabeça?

02:18 "Primeira coisa que vem na cabeça de televisão é novela e jornal".

A televisão ou os produtos de TV têm algum papel na tua vida? 02:29 "Geralmente tem. Geralmente a gente acaba influenciado com alguma

outra coisa, alguma tendência que, indiretamente… às vezes eu posso não assistir

Page 99: LEGENDARY: A expressão do mito no seriado How I Met Your Mother

98

tv, mas sei que eu sou influenciado por alguma tendência que tem na televisão

através das pessoas".

Tu disse que tu gosta bastante de seriado. Quando a gente fala em seriado, qual a primeira coisa que te vem à cabeça?

03:01 "HIMY, haha. É o meu favorito".

O que mais tu assiste de seriado? 03:12 "Eu gosto bastante de drama, tipo Breaking Bad, Dexter… coisas que

envolvem suspense, ação. Supernatural, eu gosto bastante. Comédia eu gosto, mas

eu fiquei mais focado em HIMYM. Eu estou procurando substitutos, mas ainda não

encontrei".

Tu assistia alguma outra comédia antes de HIMYM? 03:37 "Assisti muito pouco Friends, mas mais pra ver por que todo mundo

falava. Mas nunca fui muito… nunca gostei… nunca ri, assim, muito".

Tu lembra qual foi o primeiro seriado que tu assistiu? 03:53 "Ah, o Um Maluco no Pedaço. Antes de passar no SBT eu assistia na

Warner, daí… é, foi o primeiro seriado que eu tive contato, assim. Claro, tirando

Chaves e tal que eu não sei se poder ser considerado um seriado, mas seriado

americano foi… Não era Um Maluco no Pedaço, era Fresh Prince of Bel-Air".

E em que momentos tu assiste seriado? Que espaço na tua rotina ele ocupa? 04:18 "Quando eu estudava eu assistia no final de semana, ou, se eu era

muito viciado em um seriado, quando eu chegava da aula. Agora, por incrível que

pareça, eu tenho mais tempo, mas eu assisto menos do que eu assistia antes.

Então, eu assisto, geralmente, quando eu chego em casa, mas, geralmente no final

de semana".

Então, agora, falando um pouco sobre HIMYM. Quando a gente fala do seriado, quais as primeiras coisas que te vêm à cabeça?

04:52 "É um seriado que, apesar de ele ser de humor, é bem realista, assim,

com algumas situações. Ele trata muito de situações cotidianas da vida. Então eu

Page 100: LEGENDARY: A expressão do mito no seriado How I Met Your Mother

99

acho que o que me chamou a atenção no seriado é isso, é a identidade que ele cria

com as pessoas, ah, todo mundo já viveu alguma situação que o seriado trabalha,

de relacionamentos, principalmente".

De onde tu acha que vem isso. Por que tu acha que tem essa semelhança com… essa identificação?

05:19 "Eu acho que é um seriado que não fantasia muito, apesar de ter uns

momentos românticos e tal, toda hora ele dá um tapa na cara da pessoa, assim. Não

tem aquela felicidade extrema e não tem aquela… é um balanço bem bom, assim,

entre felicidade e tristeza".

Quando tu começou a olhar, tu lembra o que te prendeu, o que te fez que tu curtisse o seriado?

05:46 "Eu tinha ficado solteiro na época, aí uma amiga falou: 'ah, tu vai gostar

muito do...' Eu acho que eu me identifiquei bastante com o Ted, com a busca dele

pela mãe".

E esse é o personagem com o qual tu te identifica no seriado? 06:08 "É que… isso eu acho o interessante na série, porque ela trabalha bem

o que as pessoas querem ser e o que as pessoas são. Aí tem três personalidades

completamente diferentes. Tem um cara que tem uma namorada desde adolescente

e só vê ela. Tem o Ted que, apesar de, ah, ter o discurso de que quer encontrar a

mulher, mas, se a gente perceber, ele é bem seletivo, bem chato, inclusive. Na real,

ele tá certo, porque ele não fica com qualquer pessoa ali. Tem o Barney que é, tipo,

o que todo o cara, em algum momento da vida, almeja ser, que é o pegador, o…

então, ele trabalha bem com esses três objetivos masculinos de vida: ter alguém

para compartilhar a vida, ser um cara mais repsonsáve e ser um cara irresponsável".

Aham. Tu consegue identificar o que te fez curtir tanto a série e te manter tanto tempo interessado?

07:19 "Além desse realismo aí que eu falei, eu gostava muito do roteiro. Da

criatividade do roteiro de não ter uma coisa muito linear, de… sempre ter uma

surpresa em algum momento, então acho que o roteiro me prendeu bastante e a

forma como os episódios eram escritos".

Page 101: LEGENDARY: A expressão do mito no seriado How I Met Your Mother

100

FORAM MOSTRADOS OS TRECHOS SELECIONADOS. Arquivo de áudio: 6.2_FC - Entrevista.m4a

Comenta um pouquinho sobre esses trechos, o que vem na tua cabeça... 00:08 "O que vem na minha cabeça… a primeira cena era sobre o fim do

namoro do Marshall, né? Aquela cena foi bem legal, porque, como eu disse, eu

estava solteiro, então eu tinha acabado um relacionamento e o Barney falando: 'ah,

quando eu fico triste, eu paro de ficar triste...'. É uma coisa simples, mas que é

verdadeira. Ele deu a real ali e é um daqueles tapas na cara que a série dá. É uma

das coisas que eu me idenfiquei e por isso a série é bem importante pra mim. A

outra cena era do… ah, do primeiro episódio quando ele fica indeciso sobre o beijo,

daí ele decide. Também é uma coisa que caracteriza muito o Ted, aquela evolução

que ele tá tendo de cara acostumado com uma vida onde as coisas acontecem, aí

ele dá uma mudada pra fazer as coisas acontecerem. Então, aquilo ali também foi

importante, foi mais um momento que eu me identifiquei: ah, não vou ficar

esperando acontecer, vou fazer acontecer. E o último momento eu acho que é o

desfecho de todo esse papo inicial. É a continuidade e aquele momento da metáfora

do salto ali é muito importante porque são três momentos que falam sobre a mesma

coisa com atitudes diferentes. Um ele tá dando um conselho, outro ele tá iniciando

uma atitude e no outro eles tomam uma atitude. Então eu acho que eles se

completam bem ".

Por que tu acha que essas cenas falam contigo dessa forma? 01:46 "Porque provavelmente todo mundo tem uma insegurança, todo mundo

tem um momento de dúvida e a série trabalha bastante esses momentos de

dúvida… e ela não deixa de ser um pouco de autoajuda, mas uma autoajuda muito

mais realista… muito mais assim, tipo, ela não tenta enfeitar as coisas. Ela pega e

diz a real. Então essa é a coisa mais legal que eu aprendi na série. Tem um

momento muito legal, que é quando o Ted vai xingar a Stella, quando descobre que

ela está com o ex-marido. Aquele momento é um momento muito simbólico pra mim

na série, porque todo mundo vai com ele lá xingar ela por ela ter abandonado ele no

altar e naquele momento ele toma uma decisão muito corajosa que é não fazer

nada. O que parecia ser fácil, porque seria justificável ele xingar ela, ele

Page 102: LEGENDARY: A expressão do mito no seriado How I Met Your Mother

101

simplesmente vê ela feliz e fala: 'ah… tipo, não era o momento, eu acho que eu devo

seguir a minha vida'. Então, a série surpreende muito com essas atitudes, assim,

inesperadas. Ela não joga no clichê. Então, acho que, ao mesmo tempo que ela

pega nossos clichês, a resposta que ela tem é diferente do clichê".

Aham. Tu acha que ela tem representatividade na vida vivida? 03:07 "Claro, com certeza. Com certeza. Ajuda a tomar muitas decisões que

eu tomei, eu refleti: 'bah, eu acho que eu não devo ir pelo caminho de sempre', e a

série mostra muitos outros caminhos. Por exemplo, o Ted namorou a Robin, depois

ela namorou o Barney e numa situação da vida real, isso é meio complicado, uma

ex-namorada estar com um amigo e tal. É uma situação que a gente não está

acostumado, mas é uma situação que foi bem trabalhada ali".

Tu acha que se tu olhasse as cenas soltas da série, não conhecesse o todo, teria o mesmo impacto pra ti?

03:51 "Eu acho que teria. Porque eu já convenci umas vinte pessoas a assistir

e sempre com cenas soltas assim. Sempre cenas que, apesar das pessoas não

saberem quem são os personagens, as coisas que as cenas falam dizem muito ali.

As pessoas acabam criando uma identidade pelo momento, pela situação".

Por que tu acha que essas cenas soltas e pequenas têm credibilidade pra quem não conhece o todo?

04:19 "Porque rola aquela identidade. Por exemplo, se eu botasse aquela

cena do salto, ali, para alguém, a pessoa ia falar: 'bah, eu já tive momentos, assim,

que eu planejei uma coisa e não deu certo e, em vez de tentar seguir em frente, eu

tentei ficar naquele mesmo lugar que eu estava. Qualquer uma dessas três cenas

que foram colocadas, as pessoas… o Barney falando que, quando ele fica triste ele

deixa de ficar triste, qualquer um ia se identificar ali. Todo mundo já teve um: 'ah,

será que era pra eu ter beijado, será que era pra não ter beijado, então, por essas

situações cotidianas estarem presente, com certeza as pessoas iam se identificar. E

eu também".

Page 103: LEGENDARY: A expressão do mito no seriado How I Met Your Mother

102

Se tu fosse pensar que o seriado morreu e ele tem uma lápide. Qual seria a frase que estaria lá?

05:12 "Eu nunca tentei agradar ninguém. Eu acho que HIMYM tem a

característica de nunca tentar agradar o público. Tanto é que eles tentam inventar

várias coisas. A última temporada foi bem arriscada, o cara fazer uma temporada

inteira voltada num final de semana, foi uma coisa que muita gente não gostou mas

ele não estavam nem aí. Claro, toda série ligada à televisão tenta jogar com a

audiência. Eu via muita ousadia nessa parte. Muita coisa que podia dar errada e deu

certo".

7. Entrevistada R. Arquivo de áudio: 7_RS - Entrevista.m4a

O que tu gosta de fazer no teu tempo livre? 00:40 "Principalmente, assistir seriado. Ainda mais agora, com Netflix

facilitando tudo. Também gosto de ler mangá e quadrinhos e, por consequencia,

também gosto de ilustrar personagens de mangá e quadrinhos, que eu curto.

Basicamente isso".

Qual o teu ideal de ócio? 01:24 "Eu acho que são os hobbies que eu acabei de falar. Tem dias, depois

de muito tempo de trabalho, uma semana inteira com trabalho pra fazer, daí um final

de semana engata, aí na próxima semana, quando eu consigo um dia inteiro livre,

eu fique simplesmente, só olhando série, lendo, jogando um pouquinho. Gosto de

não pensar em nada. Só viver uma série, alguma coisa".

Tu costuma ir no cinema ou olhar TV? 01:55 "TV não e cinema não muito. É mais o seriado que eu assisto, que eu

baixo".

Tu baixa ou olha no Netflix? 02:05 "Mas mais fazer download. Tem mais opções, a gente consegue ter

mais coisas assim, pra assistir.".

Page 104: LEGENDARY: A expressão do mito no seriado How I Met Your Mother

103

Tu consome esses produtos de TV em alguma outra plataforma, além do computador?

02:25 "Sim, eu tenho canal do Universal, que vem com a internet, junto com a

TV. Aí , quando não tem nada em especifico que eu queira assistir ou que eu queira

fazer, aí eu só ligo a TV nesse canal, ou até num SBT da vida e assisto o que tiver

passando, só pra passar tempo".

Quando a gente fala em seriado, qual a primeira coisa que te vem na cabeça? 02:53 "Primeiro seriado que eu assisti foi (Dr.) House, que até então… não sei

tu, mas eu tinha bastante costume de ver bastante TV, só que eu não era

aficcionada em acompanha um seriado. Eu olhava desenho animado, eu olhava

algum filme que passava na TV e tal. Mas eu comecei a olhar seriado de fato

quando eu comecei a assistir House. Então isso vai direto. E por consequencia

depois Dexter e… sei lá. Friends eu acabei vendo muito tempo depois, não na época

em que tava sendo lançado, ou termiar de ser lançado. Mas é principalmente isso,

principalmente esses".

Em que momentos da tua vida tu assiste seriado? Qual o espaço que tu dedica pra isso?

03:32 "Até uns anos atrás, eu assistia assim, coisa de fim de semana.

Durante a semana saiu um episódio novo de uma série que eu acompanhava, então

eu assistia numa sexta-feira, num sábado, assim. Mas agora é uma coisa bem mais

comum. Então, quando eu vou almoçar, eu gosto de assistir uma coisa quando eu

estou comendo. Então eu vou ali e vejo um Family Guy, algum seriado, assim, mais

curtinho. De meia hora, vinte minutos e tal. Mas é uma coisa que eu consumo

diariamente. Eu acho que eu não passo um dia sem ver um episódio de algum

seriado, porque eu acompanho vários".

Que tipo de seriado tu costuma assistir? 05:20 "Principalmente, se for analisar, acho que são os catalogados como

drama. Tipo, Dexter, House, Breaking Bad, Vikings, ahm… agora lançaram, agora

não, já tem um tempo: Arrow, Flash e Gotham, que são história de quadrinhos,

super herois, também, acho que classificados em drama. Pouca coisa de comédia,

Page 105: LEGENDARY: A expressão do mito no seriado How I Met Your Mother

104

porque comédia tem aquelas risadinhas de fundo que eu não gosto. Mas acaba

sendo principalmente drama, por causa do roteiro, da histórias que tem por trás.".

Por quê? O que tem por trás dessas histórias em comum?

06:03 "Porque, acho que são histórias um pouco mais pesadas. No House

tinha aquela história dos narcóticos e de um médico que não seguia bem as éticas

médicas, né, que a gente tá acostumado. Dexter é sobre um psicopata. Ah, sim.

Também assisti Hannibal, um seriado muito, muito bom. Assisti com a minha irmã,

que também é uma coisa mais pesadinha: um psicopata que mata pessoas e tal.

Breaking bad é o cara que faz drogas. Vikings é histórico, né. Fala dos vikings, então

tem por trás toda uma função de liderança, de chegar em outro país e dominar. Eu

acho que eu gosto dessas histórias porque elas são completamente fora do

cotidiano. É uma coisa que eu não conseguiria, talvez, conviver ou realizar. Aí é

interessante lidar com esse tipo de fantasia ou de universo.

E quando a gente fala, então, de HIMYM, o que te vem na cabeça? 06:58 "Os cara num bar falando, sei lá, coisas do dia a dia como se fosse algo

muito grande. Agora, parando para pensar na pergunta que tu fez antes, o que eu

gostava de HIMYM é que é uma coisa que poderia acontecer comigo… claro, eles

têm uma idade um pouquinho acima da minha na série… mas eles transformam

uma saída de noite, uma festa, numa história épica e isso era muito genial. Eram

sempre épicos os episódios, por mais simples que fossem".

E o que tu acha que te chamou a atenção quando tu começou a assistir HIMYM. O que te fez continuar e te prendeu no seriado?

07:34 "Ah, boa pergunta. Boa pergunta porque tu pensa: 'ah, ele tá contando

a história de como ele conheceu a mãe, mas se acabar a história, acabou a série,

né. Que que me prendeu…? Não sei explicar direito, acho que é bem isso que eu

falei, tipo, os acontecimentos que eles tinham… primeiro que era um grupo legal de

amigos e isso era uma coisa que eu não via desde Friends. Só que Friends tinha um

ar, assim, muito bonzinho demais. HIMYM tinha umas tiradas que eu achava muito

engraçado. O Barney era uma presença essencial na série. Se fosse manter só com

o Ted, o Marshall e a Lilly talvez ficasse Friends demais, então o Barney tava ali

para forçar um pouquinho do que não fazer às vezes. E eu gostava também que

Page 106: LEGENDARY: A expressão do mito no seriado How I Met Your Mother

105

tinha desde o começo aquele casal que tava junto para sempre, tava junto desde

sempre e eles eram foda juntos. Porque tem a ideia de que num relacionamento tu

fica chato e fica uma coisa repetitiva e eles tinham um relacionamento legal,

conseguiam continuar com os amigos. Mas em resumo é isso: o dia a dia normal se

transformar numa coisa que pudesse ser contada pros filhos como se fosse grande".

E o que isso representava pra ti, no teu cotidiano? 08:48 "Bom, quando eu comecei a ver eu ainda estava namorando e… eu

tinha poucos amigos junto com o namorado, então eu achava interessante ver que

dava para ter um grupo de amigos namorando e fazer aquelas coisas divertidas que

eles fazem e tal. Mas eu gostava de ver que, tipo… eu comecei a ver, acho que eu

devia ter uns vinte e um, vinte e dois anos, por aí. Não tinha sido muito depois da

série lançar. E a série era sobre pessoas que estavam lá nos trinta. Então, assim, tu

começa a chegar nos vinte e um, vinte e dois, tu vai pensando: Bah, minha vida tá

acabando, minha juventude tá acabando, não vai ter… e aí, na série, mostrava

gente que era mais velha que tu, que já tava numa etapa de casamento, de fazer a

vida e que saiam para fazer as mesmas merdas que tu faria numa sexta feira e num

sábado de noite. Então eu acho que foi isso".

Tu era uma pessoa preocupada em não ter amigos junto com o relacionamento?

09:47 "Sim. isso preocupava bastante, porque parecia que, não sei se era

uma ideia que eu tinha colocado na minha cabeça ou que foi vindo ao longo do

tempo, de que no momento que tu entra num relacionamento, tu perde contato com

as outras pessoas, e é o que acaba acontecendo, então, ver aquilo no seriado dá

um pouquinho de esperança, assim, pra gente. Tipo, não tem problema. Tu pode

continuar vivendo a tua vida normal e ter um relacionamento. por isso que eu me

identifiquei muito com a Lilly e com o Marshall. E também com o Ted, com aquela

história de ele querer encontrar o amor e viver. O Barney é o que cagava tudo e

foda-se".

E, dos personagens, tinha algum com o qual tu te identificava? 10:28 "É, eu comentei agora que com a Lilly eu me identificava um pouco por

conta do relacionamento dela forte com o Marshall, eu achava isso muito bonito. A

Page 107: LEGENDARY: A expressão do mito no seriado How I Met Your Mother

106

Robin, pra mim, é o marco do que eu queria ser. É a guria que… ela faz o que ela

bem entende. Ela toma uísque, ela fuma charuto e ela conversa o que ela bem quer.

E ela não se importa muito com os rótulos. Claro, depois de um tempo na série a

gente vê que ela tem aquelas preocupações com o pai e aquelas coisas todas lá.

Mas isso era completamente relevante, assim. Dava pra tu deixar de lado. Eu acho

que a Robin era a que eu mais me identificava e a que eu mais eu queria ser. Ela

era independente, ela era forte, ela estava fazendo a vida dela em Nova Iorque. Isso

era bem legal".

Tinha mais alguma coisa na personalidade dela que te chamava a atenção, que te fazia identificar…?

11:23 "Ah, eu gostava que ela, quando ela tinha uma opinião sobre alguma

coisa. Alguma coisa que os amigos faziam ou alguma coisa no trabalho dela, tipo a

Patrice, a colega dela que ela vivia xingando: 'cala a boca!'. Eu não tenho muita

coragem de chegar nas pessoas e falar exatamente o que eu penso. Eu me

preocupo muito com o impacto das coisas que eu vou dizer. Então eu não

conseguiria chegar para uma colega de trabalho e dizer: 'cala a boca, Patrice!'. Isso

é uma coisa que eu gostava nela. Não que eu quisesse ser assim, mas que eu

respeitava e admirava. Bah, essa é uma personagem que fala o que quer e que ela

tem capacidade de lidar com o que vem de retorno a isso. Ataca e contra ataca, né".

Em algum momento, ver o comportamento da Robin na série te inspirou ou te fez pensar nisso enquanto tu estava agindo?

13:12 "Sim, tanto que, eu comentei que eu estava namorando na época que

eu comecei a ver o seriado, eu assistia com meu namorado, mas pouco tempo

depois, uns seis meses depois a gente terminou e eu acabei me tornando um pouco

a Robin, porque agora eu já não era mais a ideia da Lilly, eu já não era mais aquela

pessoa que estava num relacionamento e poderia construir um grupo de amizades

ali. Agora eu era a solteira que estava num grupo de amizades completamente

diferente. Então, durante um bom tempo, eu fui a Robin, eu agia da maneira que eu

queria e eu até entrei em alguns confrontos com o grupo novo de pessoal que eu

conheci na faculdade. Felizmente não deu nenhuma merda nisso daí, mas abriu

espaço pra ter dado coisas meio errado. A parte boa é que, agindo como a Robin eu

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107

fiz amigos diferentes e eu me tornei um pouco diferente. Claro, isso a gente falando

de HIMYM, mas tem outras influências que podem ter instigado isso".

Tu costuma ir no cinema ou olhar TV? 01:55 "TV não e cinema não muito. É mais o seriado que eu assisto, que eu

baixo".

FORAM MOSTRADOS OS TRECHOS SELECIONADOS. Arquivo de áudio: 7.2_RS - Entrevista.m4a

Tu falou que isso era uma coisa que tu tinha esquecido de HIMYM, o que era? 00:04 "Tipo… tem a parte das cenas engraçadas, do dia a dia que se torna

épico e é bem esse um bom exemplo do que se torna épico. O máximo que eles

fizeram foi ter uma conversa um pouco mais profunda sobre o futuro, sobre planos,

sobre a vida deles, e eles deram um salto, nesse caso foi real, só pularam de um

prédio pro outro e aquilo foi um momento que mostrou que eles poderiam, ainda,

crescer. E, de novo, a questão da idade, que é uma coisa que pesa bastante pra

mim. Eles já estava, o quê? Nos trina anos deles, talvez um pouquinho antes, né? E

o cara passou por uma no de merda, o cara foi demitido, o cara não sabia mais o

que fazer, ele tava completamente perdido. Então, eu esqueci que tinha momentos

na série que mostravam que é só tu dar um passo a diante que tu consegue

continuar. Eu acho que até dá pra colocar isso depois. Esse é um dos motivos pelos

quais eu tinha curtido bastante de acompanhar a série. Tinha momentos que eram

engraçados, talvez até ridículos. Mas tinham momentos bons, que tu tinha um

pouquinho mais de esperança e força de vontade. É legal quando uma série te

passa isso".

O que tu acha que faz esses momentos serem épicos? 01:18 "A edição de vídeo, haha. Não, mas, eu acho que eles conseguiram,

falando mais tecnicamente sobre a série, mesmo. Eles botaram um texto bom,

falando um coisa que fazia sentido, mostrando a expressão de cada um deles, o

salto que cada um deu, só de um telhado para o outro… é bem de edição de vídeo.

Page 109: LEGENDARY: A expressão do mito no seriado How I Met Your Mother

108

A maneira com que tu mostra as coisas que se torna épico. Então, basta tu ver

aquilo como sendo épico que se transforma, de certa forma''.

Sim. E o que que tem nesse texto de bom. O que que faz esse texto ser bom? 01:52"Eu acho que foi a análise racional dela (Lilly). Ela falou que: 'qual é o

problema em não seguir o plano?' Que isso é uma coisa que eu também faço. Eu

planejo um negócio e eu tenho que fazer. Eu até tenho uma mania péssima de

planejar as coisas com muita antecedência e quando elas não se realizam, isso

frustra. E, no caso desse texto, qual é o problema de frustrar? Planejou um negócio

e não deu certo. Qual o problema de planejar outro negócio em seguida? E isso é a

vida, né. Nem tudo vai seguir no caminho direitinho que tu planejou desde o começo.

'Ah, eu vou ser um arquiteto e eu vou ser famoso'. Alguma coisa no caminho pode

não dar bem certo".

O fato de isso estar presente no seriado, tu acha que conversa contigo, tu sente que conversa contigo?

02:40 "Sim. Eu acho que conversa com qualquer pessoa que tenha um dia na

vida parado pra pensar: 'o que que eu vou fazer?'. Tipo, o seriado é uma comédia,

né. Ele não é entra nesses pontos, assim, com muita pressão. Ele não te força a

pensar nisso o tempo todo. Mas, agora na cena que tu mostrou ele me fez lembrar

que: 'ah, verdade, isso também existe'. E não foi uma coisa ruim. No final ele

mostrou que as quedas ao longo do ano passado proporcionaram um grau a mais

no ano seguinte, de ele se tornar professor. Então, nem tudo que a gente faz tem

que estar planejado e tem que estar certo. As coisas podem vir''.

E tu ja tinha pensado nisso antes, olhando o seriado? 03:26 "Já, já… não sei se foi exatamente nesse episódio, mas eu sei que teve

vários episódios que o Ted, ele tem aquela função de querer se apaixonar e querer

fazer… ah, até falando desse negócio do beijo, de: 'ah, eu deveria ter beijado ela,

por que eu não beijei ela'. Eu também faço isso. Tipo, eu tou numa situação em que

eu queria muito fazer uma coisa, mas eu me seguro porque: 'ai, não é uma boa. Ai,

não sei o que que vai acontecer'. Aí depois eu vou lá e me arrependo. Foram poucas

as vezes na vida que eu fiz uma coisa que realmente me deu vontade de fazer na

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hora e eu realizei na hora. E, nas poucas vezes, na maioria delas, eu meio que me

arrependi depois.''.

E o seriado já motivou alguma atitude tua? 04:46 "Não… não que eu consiga lembrar''. Não consigo lembrar agora,

porque deu muita coincidência de eu estar assistindo a série na época que eu me

mudei, que eu vim para Porto Alegre, comecei uma faculdade nova. Então tudo era

muita novidade. Tinha muita coisa acontecendo. Não sei uma que seja específica

que poderia estar linkada"

E tem alguma cena que foi marcante pra ti? 05:19 "Ah, teve aquela época que o Ted construiu um prédio, não foi, do

GN...B. Que ele passou por um processo de ter uma boa ideia, de ela ser recusada

e depois ele fazer o prédio de uma maneira que não era bem o que ele queria e tal.

Mas no final foi um grande sucesso pra ele, ele conseguiu mudar a landscape de

Nova Iorque, que era isso que ele mais queria. E eu nunca cheguei nesse ponto de

fazer algo que fizesse uma mudança absurda, mas em pequenas coisas que eu

fazia, que eu passasse por esse processo de: 'é assim que eu quero, mas assim não

pode, então tem que ser assim', é uma coisa que diariamente a gente vê isso na

parte da criação, do design… então essa é uma cena que eu me lembrei muito,

porque ele fica frustrado, mas depois ele fica feliz. E é bem assim que acontece. A

gente fica frustrado na hora que a nossa ideia não é a melhor, mas depois a gente

fica feliz porque ela funciona. E isso acontecia seguidamente. Ah, e tinha outra cena

também. A do Barney e do irmão dele. Daquele episódio lá que ele pensa que o pai

dele é um apresentador de TV. Eu não fui criada pelo meu pai, eu sei quem meu pai

é, e tudo mais. Mas tinha situações que parecia que eu não sabia de onde eu tinha

vindo. Então, aquele episódio foi cômico! Ao último extremo, porque o Barney eu

acho que é o personagem mais cômico que tem ali, né? Mas tem um fundinho de

verdade. Tem uma coisinha que te finca ali. E eu achei aquilo interessante, mas, foi

só. Não consigo lembrar de mais um específico. Faz tempo que eu não vejo a

série.''.

E por que tu acha que o seriado tem relações com a tua vida em esferas tão diferentes?

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07:05 "Pois é, né? Tipo eu acho que parece que ele foi criado para abranger

um público grande. Ainda mais que cada personagem ali dentro tem uma

personalidade. É bem o que eu falei, a Lilly é a aquela pessoa que abraça, que quer

consertar, que quer ajudar as pessoas. O Ted tá vivendo a vida dele muito

alucinado, então ele tá sempre tropeçando. O Marshall tá indo atrás da função de

ser advogado, ele mesmo estava terminando a faculdade quando a gente via a

série, né? A Robin veio de outro lugar, tá vivendo uma outra vida, tá vivendo amigos

novos e o Barney ele é o cômico… ele tem um emprego que ninguém sabe o que

que é, então ele já é bem sucedido, ele já faz as coisas da maneira dele, ele já tem

um ponto de vista bem formado. Parece que tu pega um pouquinho de cada dentro

de ti. Tu tem uma Robin que veio de outra cidade, tu tem um Ted que tá perdido na

vida. Tu tem momentos de Lilly que tu vai lá e ajuda teus amigos, tem momentos de

Marshall que tu tá terminando a tua faculdade, fazendo as coisas. E tu tem

momentos de Barney, que tu simplesmente vai lá e faz uma coisa que é legendary

pra ti, mas pros outros não é. Eu acho que é pelos personagens. Por eles serem \

E, pra finalizar: se o seriado fosse uma pessoa que morreu e aí tivesse alguma coisa escrita na lápide dela? Pode pensar. O que tu acha que seria a mensagem final do seriado?

09:10 "Como é aquela frase que eles falam? 'Nada de bom acontece depois

das 2h da manhã'… (pausa longa). Eu acho que essa frase tá errada. Eu acho que

isso poderia ter na lápide. Não sei como, eu sou ruim com palavras. Mas eu acho

que essa frase tá errada. Porque, tá, um exemplo bem meu: das poucas vezes que

eu ia em festa, eu ficava cansada depois da 1h da manhã. Depois da 1h30 da

manhã eu tava querendo ir pra casa. Só que, nas festas que eu ficava até umas 3h

ou 4h da manhã, ou 5h da manhã, eram as melhores! Tipo, as coisas começavam a

acontecer depois das 2h da manhã. Um exemplo bem besta, assim, mas eu acho

que a gente não precisa limitar as coisas pelo horário. Minha mãe já me falava

desde sempre: 'ligação depois da meia noite é notícia ruim'. Não necessariamente.

Ai, agora uma frase para a lápide da série… ''.

Pensa se o seriado chegasse agora e te desse uma morta da vida e fosse embora. Se te desse uma dica...?

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10:58 "Não recuse o convite de amigos. Eu acho que esse é uma boa ideia,

assim. Que é uma coisa que acontecia muito. Boa parte das coisas que parecia que

estava sendo feita na hora. Eles pensavam numa ideia na hora e coisas aconteciam.

Se eles tivessem dito: 'Não, tenho que ficar em casa. Não, tenho que fazer tal coisa',

as coisas não aconteceriam, então, não recuse convite de amigos. Acho que é uma

boa.

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ANEXO B – ROTEIRO DE ENTREVISTAS

Qual teu ideal de ócio?

Tu costumas ir no cinema, olhar TV, ou olhar programas de TV mesmo em

outro lugar?

Em que momentos assiste seriado?

Quando eu falo do seriado, qual a primeira coisa que vem na tua cabeça?:

E quando eu falo HIMYM, qual a primeira coisa que te vem na cabeça?

O que te prendeu a assistir o seriado?

E se tu pensa nos personagens, tem algum com o qual tu te identificas mais?

MOSTRAR AS CENAS 1, 2 E 3, PREVIAMENTE SELECIONADAS.

Comente um pouco sobre os trechos (Buscar relações sobre sentimentos,

identificações, relações entre o seriado e a vida do entrevistado):

E tu acha que o conteúdo do seriado faz a gente pensar?

Tu te enxerga nos personagens?

Que sentimentos essas cenas despertam em ti?

O que desperta em ti assistir a estas cenas? (reflexão, ações)

O que a série representou para ti? O que ainda representa?

Se a série fosse resumida em uma frase, como se fosse um epitáfio, qual

seria?