lllllllll/1/1 lllll/11/ll 11111 llllllllllllllllllllllllllll · 1111111111111 lllllllll/1/1 11111...
TRANSCRIPT
. .,
MINISTÉRIO PÚBLICO ELEITORAL
EXCELENTÍSSfMO SENHOR MINISTRO PRESIDENTE DO SUPRE~10 TRIBUNAL FEDERAL.
Supremo Tribunal Federal ADI 0004899- 15/01/2013 17:19
9929898-88.2013. 1. 00 .0000
1111111111111 lllllllll/1/1 11111 lllll/11/ll 11111 llllllllllllllllllllllllllll
A PROCURADORA-GERAL DA REPÚBLICA em
excrcício 1, com fundamento nos artigos 102, I, "a" c "p" e 103, VI, ela
Co nstituição Federal, e nos dispositivos da Lei 9.868/99, vem aju izar AÇÃO
DIRETA DE I NCONSTJTUCIONALlDADE, com pedido ele MEDIDA
CAUTELAR, para que esse c. Supremo Tribunal Federal dê interpretação
confo rme a Constituiçáo Federal ao § 7° elo art. 11 ela Lei 9.504, ele 30 ele
se Lembro ele 1997, para que a ex pressão ''apresentação das contas ", que i nlegra o
co nceito ele quitação ele itoral, presente no referido dispositivo legal, seja
enlenelida em seu sentido subs tancial , em consonância com a ordem
consli luci ona l, e não apenas literal, devendo a certidão ele quitação eleitoral
abranger, a ap resentação regular das contas ele campanha.
I Nos lermos da Portaria PGR n" 430 ele 15 de agosto de 2011.
2
I. Do dispositivo legal a que se r·equer a interpr·etação conforme a
Constituição Feder·al-
J. O dispositivo a que se requer a interpretação conforme a Constituição
Federal foi incluído na Lei 9.504/97 pela Lei 12.034/09 e possui a seguinte
redação:
Art. li (. . .)
,.,~· 7º A certidüo de quitaçào eleitoral abrangerá exclusivamente a plenitude do gozo dos direitos políticos, o regular exercício do voto, o atendimento a convocaçàes do Justiça Eleitoral para auxiliar os trabalhos relativos ao pleito, a inexistência de multas aplicadas, em caráter definitivo, pela Justiça Eleitoral e não remitidas, e a apresen.taçào de contas de campanha eleitoral.
2. Tal dispositivo normativo estabelece o conteúdo ela certidão ele quitação
eleitora l, emitida pela Justiça Eleitoral, cuja apresentação é condição para o
registro ele candidaturas a cargos elet ivos, conforme prevê o art. :t 1, § 1°, VI, ela
Lei 9.504/97, em sua redação original, verbis:
Art. 11. Os partidos e coligaçtJes solicitarüo à Justiça Eleitoral o registro de seus candidatos até as dezenove horas do dia 5 dejulho do ano em que se realizarem as eleiçôes.
§ 1 o O pedido de registro deve ser instruído corn os seguintes documentos:
I- cópia da ata a que se refere o art. 8°;
I!- autorização do candidato, por escrito;
111- prova de.fi!iaçüo partidária;
IV- declaraçüo de bens, assinada pelo candidato:
V - cópia do título eleitoral ou certidào, fornecida pelo cartório eleitoral, de que o candidato é eleitor na circunscriçüo ou requereu sua inscriçüo ou transferência de domicílio no prazo previsto no art. 9";
VI- certidrlo de quitaçiio eleitoral; ~'""""~:~ :~: ::~"?
3
VIl - certidDes crmunais fornecidas pelos órgclos de
dislribuiçào da Justiça Eleitoral, Federal e Estadual;
VJJJ -fotografia do candidato, nas dimensões estabelecidas em inslruçào da Justiça Eleitoral, para efe ito do disposto no .)~· 1 o do art. 59.
( .. .)
3. A tese sustentada na presente ação direta ele inconstitucionalidade é a ele
que a única exegese compatível com a Constituição Federal ela ex pressào
"aprescnlaçã.o el e contas", co nsta nte elo § 7° elo art. 11 el a Lei 9.504/97, é aquela
que a entende em seu sentido substancial, interpretando-a, portanto, como a
apresentação totalmente regular da prestação de contas de campanha (em tempo
oportuno e sem que sejam detectadas falhas que lhes comprometam a
regul aridade). Como será exposto, a interpretação literal da norma em questão,
atualmente refe rendada pelo Tribunal Superior Eleitoral em diversos precedentes,
importa em violação ao dever constitucional ele prestação ele contas (art. 17, 111 , e
70, parúgrafo único) , ao princípio ela moralidade para o exercício el o mandato e ao
dever el o Estado ele proteger a normalidade e a legitimidade das eleições contra o
abuso ele poder eco nômico (art. 14, § 9°).
II - Do Direito -
4. A ex igência da apresentação ela certidão de quitação eleitoral como
co ndição para o regis tro ele candidaturas foi positivada na Lei 9.504/97, em vista
do qu e cleterrn i na o seu art. ] 1, § 1 o, Vl, supra transcri lo.
5. Na ausê ncia ele previsão normativa específica sobre a abrangência do
conceito ele quitação eleitoral , o Tribunal Superior Eleitoral editou a Resolução
21.823/04, segundo a qu al, entre outras si tu ações, a ausência ele regular prestação
ele cont<~s de campanha constituiria obstáculo à obtenção ele certidão de quitação
eleitoral2•
-~:~.- --·
<:"'..::::<' ' ". ==--===-,;:::::.:.:::::
2 D.l - Di ;ír io de Just iça , Volume J , Data 05/07/2004, p. 03. R.ITSE - Rev ista de .Jurisprudência do TS E, Vol ume 15, Tomo 2, p. 4 1 J .
4
6. Tal orientação tem impor·tância central para a efetividade da
legislação clcitontl c do pn)pr·io pr·incípio r·ctmblicano, cstr·uturantc do
Estado 131-asilcir·o, pois a pr·cstação de contas de campanha é o único meio
colocado it disposição da Justiça Eleitoral para promover o controle da
ar-recadação c dos gastos de campanha eleitoral c, assim, gar·antir o r·cspcito
a divcr·sas nor·mas, cujo ob.ietivo é tor·nar· efetivos pr·cccitos constitucionais
como o cquilíbr·io na disputa eleitoral c a pr·oteção das eleições contra o
abuso de podu econômico. Entre tais normas, estão, por· exemplo: o respeito
aos limites de gastos, a proibição de recebimento de r·ecur·sos de fontes
vedadas c a obediência às nonnas que regem a movimentação tinanccir·a dos
r·ccursos de campanha'·
7. O entendimento acima exposto, acerca da abrangência do conceito de
quitação eleitoral, vigorou nas eleições de 2006 e, por consequência, naquelas
eleições, candidatos que não prestaram contas elos recursos utilizados em eleições
anteriores tiveram seus registros de candidatura indeferidos, por ausência ele
quitação eleitoral.
S. Na elaboração elas instruções relativas às eleiçôes de 2003, a
jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral avançou e a Resolução 22.715/08-
que regulamentou a arrecadação e aplicação dos recursos de campanha nas
eleições municipais - estabeleceu, em seu art. 41, § 3°, que "a decisc7o que
desaprovar as contas de candidato implicará o impedimento de obter a certidão
de quilaçào eleitoral durante o curso do mandato ao qual concorreu ".
9. Nesse contexto, considerava-se impedimento para obtençüo ela
certidão ele quitação eleitoral a hipótese de não apresentação das contas, de
apresentação extempor[mea ou, ainda, ele desaprovação, durante o período elo
mandato para o qual o candidato concorreu, até a efetiva apresentação.
3 As normas sobre arrecadação c aplicação de recursos nas campanhas eleitorais estão previstas nos artigos J7 a 27 da Lei 9.504/97.
5
10. Em 2009, sobreveio a Lei 12.034/2009, que incluiu, no art. 11 da Lei
9.504/97, dispositivo que define a abrangência da certidão ele quitação eleitoral. O
* 7'\ incluído no referido dispositivo legal, dispõe que:
''A certidão de quitaçào eleitoral abrangerá exclusivamente a plenitude do gozo dos direitos políticos, o regular exercício do voto, o atendimento a convocaçôes da Justiça Eleitoral para auxiliar os trabalhos relativos ao pleito, a inexistência de multas aplicadas, em caráter definitivo, pelo Justiça Eleitoral e ntio remitidas, e a apre!;elltaçfio de CO/lias de campanha eleitoral."- destaquei.
11. Após a referida alteração legislativa, no julgamento do PA 594-
59/DF\ o e. Tribunal Superior Eleitoral decidiu que, mesmo após as alterações
trazidas pela Lei 12.034/2009, a satisfação elo requisito ela quitação eleitoral
exige, além ela apresentação elas contas, sua correspondente aprovação. Isso
porque, conforme clefencliclo na ocasião pela maioria elos ministros elo Tribunal
Superior Eleitoral , o termo "apresentação" deveria ser entendido em seu sentido
substancial e não meramente literal.
12. Também editada após a entrada em vigor ela Lei 12.034/2010, a
Resolução/TSE n° 23.217 (que dispõe sobre a arrecadação e os gastos de recursos
por partidos políticos, candidatos e comi.tês financeiros e, ainda, sobre a prestação
de contas nas eleições ele 2010), em seu artigo 41, inciso l, estabeleceu que:
"Art. 4 I. A decisclo que julgar as contas eleitorais como nclo prestadas acarretará:
I - ao candidato, o impedimento de obter a certidtío de quitaçtío eleitoral durante o curso do mandato ao qual concorreu, persistindo os eleitos da restriçclo até a eletiva apresentaçclo das contas;"
13. lnobstante, ao julgar processos referentes a registros de candidaturas
para as eleições de 2010, o Tribunal Superior Eleitoral deferiu registros com
fundamento na lese ele que, com a ecliçáo ela Lei n° 12.034/09, a mera
4 D.lc 23 .09.2010.
ó
apresentação ele contas ele campanha seria suficiente para a obtenção ela certidão
de quitação eleitoral, não havendo que se falar em sua aprovação"'.
14. No entanto, ao editar a Resolução 23.376/12 (que dispõe sobre a
arrecadação e os gastos de recursos por partidos políticos, candidatos e comitês
financeiros e, ainda, sobre a prestação ele contas nas eleições de 2012), o Tribunal
Superior Eleitoral seguiu a mesma linha anteriormente exposta, ao estabelecer, no
artigo 52, ~ 2°, ela citada Resolução, que a desaprovação das contas ele campanha
impediria a obtenção da certidão ele quitação eleitoral.
l5 . Posteriormente, em v irtucle ela modificação na composição elo
Tribunal Superior Eleitoral, em 28.06.2012, editou-se a instrução n° 1542-
64.20ll.6.00.00\ alterando a Resolução 23.376/12, para excluir do citado artigo
52 o seu ~ 2°. Novamente, foi promovida drástica guinada na jurisprudência, que
passou a orientar-se no sentido de que a simples apresentaçáo ele contas ele
campanha se ria suficiente ü obtenção da quitação eleitoral, fazendo tábula rasa
elas disposições em contrário contidas nas Resoluções n° 22.715 e 23.217.
16. Assim, apesar da relevftncia elos processos de prestação de contas,
segundo a atual interpretação do Tribunal Superior Eleitoral acerca elo art. 11, ~
7'\ da Lei n° 9.504/97, candidatos cujas prestações de conta foram desaprovadas
pela Justiça Eleitoral não mais estão impedidos de disputar novas eleições, já que
a desaprovação ele suas contas ele campanha não implica na impossibilidade de
obtenção da certidão ele quitação eleitoral. Com efeito, segundo entendimento
majoritário do Tribunal Superior Eleitoral, firmado nas Eleições de 2012: " a
rejeiçào das contas de candidato apresentadas em raztío de eleiçüo anterior nüo
irnpede a obtençào da quitaçüo eleitoral, a teor do disposto no art. 11, § 7': da
Lei no 9. 504197, com a redaçcl.o dada pela Lei n° f 2. 03412009. " 7
c:::._: ___ _____ c:. ____ ... -~
5 O acórdão que inaugurou tal posicionamento nas Elei.ções de 2010 foi proferido no Recurso Especi<il Eleiloralno 442.363/RS, rei. Ministro Arnaldo Yersiani, julgado em 28.09.2010.
ó Public:1da no D.JE 27.07.2012. 7 Agravo Regimental em Recurso Especial Eleitoral n° 12255 , Acórdilo ele 06/:12/2012, Relator
Min. Henrique Neves da Silva , Publicação:Publicado em Sessão, Data 06/12/2012.
-_. 7
J 7. Ocorre que a restrição ü obtenção da quitação eleitoral, com
fundamento na rejeição das contas de campanha, objetiva resguardar os princípios
constitucionais da moralidade, da probidade e da transparência - sob pena de
esvaziar-se completamente o seu conteúdo, já que a prestação ele contas ele
campanha consistirá, apenas, em processo meramente formal, desprovido ele
qualquer consequência jurídica.
18. Os números disponibilizados pela própria .Justiça Eleitoral
evidenciam as consequências da falta de eficácia elas normas referentes ü
prestação de contas, cuja interpretação, até o momento, tem sido submetida a
constantes alterações jurisprudenciais: segundo levantamento da Corregedoria elo
e. Tribunal Superior Eleitoral, em março de 2012, 21.000 (vinte e um mil)
candidatos haviam tido suas contas desaprovadas pela .Justiça Eleitoral ::; , face ao
descumprimento das normas que regem a arrecadação e os gastos ele recursos para
custear campanhas eleitorais. Tal número certamente é resultado da ausência de
consequ ências jurídicas decorrentes da prática de irregularidades na
movimentação de recursos de campanha.
19. Assim , o posicionamento atual do Tribunal Superior Eleitoral, ao
esv<IZlar o conteúdo do dever dos candidatos prestarem contas, permitindo a
impunidade daqueles que praticam irregularidades graves na movimentação de
recursos nas campanhas eleitorais, contraria as diretrizes constitucionais, üs quais
eleve conformar-se todo o sistema jurídico eleitoral.
20. De início , a interpretação fixada pelo Tribunal Superior Eleitoral
destoa ela relevância dada pela Constituição ü prestação ele contas eleitorais.
Con[orme determina o art. 17, lU, ela Carta ela República, a criação, fusão,
incorporação e a ex li nção elos parti elos políticos deverá obedecer, entre oul ros
prece itos , a prestação ele contas à Justiça Eleitoral. A parti•· desse preceito, tem-
8 Informação cilada pela Exccknlíssima Senhora Ministra Nancy Anclrighi , Corregedora do Tribumd Superior EleitoraL Disponível em: hltp:Uwww.tsc.ju s. br/nolicia s-lsc/20 J 2/M a rco/ca nd i da los-nas-ci c i coes-20 .12-d cvct n-esta r -Cl 1m-cnntas-d c-ctmpa n h:t !!PrOv::tcl ::ts .
_ .• ...w-
~··./
8
se que o dever de prestar contas é inerente à vida política de par·tidos c
candidatos, sendo imper·ativo o r·cspeito a esse dever· como pressuposto da
par·ticipação política daqueles que pleiteiam cargos eletivos.
21. Mas há mais. Nos termos do art. 70, parágrafo único, da Constituição
Federal, "prestará contas qualquer pessoafísica ou jurídica, pública ou privada,
que utilize, arrecade, guarde, gerencie ou administre dinheiros, bens e valores
públicos ou pelos quais a Uniào responda, ou que, em nome desta, assuma
ob,.igoçtíes de natureza pecuniária."
22. Não pode ser olvidado que parte considerável elos gastos rea li zados
nas campanhas eleitorais envolve a movimentação ele recursos públicos, advindos
elo Fundo Partidário (arl. 44, lU, da Lei 9.096/95). Apenas a título de exemplo, c
para dcmonstn1r a gr·andc relevância dos rccm·sos públicos anualmente
destinados aos partidos políticos, em 2011, o Fundo Par·tid~írio distr-ibuiu o
valor total de R$ 307.317.749,00 (trezentos c sete milhões, trezentos c
dezessete mil , setecentos c quarenta c nove reais), entre os 29 partidos então
existentes no Brasil, conforme informações disponibilizadas pelo Tr·ibunal
S uper·ior Eleitoral em sua página na rede mundial de computador·cs~ .
23. E, segundo inform ações elo Jornal "O Estado ele São Paulo", obtidas
a partir ela análise de dados disponibili zados pela Justiça Eleitoral, os 29 Partidos
Políticos que di sputaram as eleições de 2012 utilizaram, nas campanhas para as
eleições municipais, R$ 180.000.000 (cento e oitenta milhões de reais)
provenie ntes elo Fundo Partid ário , em valores distribuídos a candidatos e
diretórios regi onai s ou municipais 10•
24. Em tal contexto, considerada a relevância constitucional elo dever ele
prestar contas, a interpretação que destitui ele qualquer consequência a
9 Lei 9.096/95- Art. 44. Os recursos oriundos elo Fundo Partid <'irio seri:io apli ca dos: ( .. . ) 111- no alislamcnlo c campanhas clcilorais.
I O Partidos usam R$ 180 milhões do Fundo Partidário para campanhas clcilorais. Disponível em hU.JlJLwww. cst ad <lo.com. b r/ no Li c i as/ i mprcs~o. pa ri. i dos-u s~ m -r-1 RO-m i I hocs-do-l'u nclo -pari i da rio
J)< lra -Cé.llllp<lllh<IS-clc i lor;lis,968424,11.hl m. Acesso em 1] /01/2013 .
9
desa provação das contas ele candidatos e, portanto, esvaz ta o próprio conteúdo
desse dever, é claramente inconstitucional.
25. Afinal, se a própria existência de um partido político é condicionada
ao dever ele prestar el e contas, se ria ele todo incoerente supor a irre lcvft ncia, para
cl"citos eleitorai s, ela desaprovação das contas de campanha. Apenas a demonstrar
como se r i a desarrazoado interpretar-se li ter ai mente a expressão "apresentação ele
contas", eleve se r ressa ltado qu e situações menos ofensivas ao reg ime jurídico
e le ito ra l - como a daquele qu e não paga uma determinada multa eleitoral (por
exemplo, por ausência ele prestaçüo el e serviços ü Justiça Eleitoral) - são
s ufi c ie nt es para caracterizar a ausência de quitação e leitoral.
26. Nesse sentido, o pos icionamento externado pelo e. Ministro Ricardo
Lcwandowski, em voto proferido no Tribunal Superior E leitoral:
"(. . .) De foto , a exegese das norrnas do nosso sistema eleitoral deve ser
pautada pela normalidade e pela legitimidade do pleito, valores nos
quais se inclui o dever de prestar contas à Justiça Eleitoral (art. 14, §" 9",
e 17, 111, ambos da Constitu içc7o).
Nesse sentido, entendo que nc7o se pode considerar quite com a Justiça
Eleitoral o candidato que teve suas contas desaprovadas pelo órgclo
constitucionalmente competente. Na verdade, posicionamento em sentido
contrário esvaziaria por completo o processo de prestaçâo de contas,
fazendo desse importante instrumento de controle da normalidade e da
legitimidade do pleito uma mera formalidade, sem repercussâo direta na
e4era jurídica do candidato.
Ademais. nr.lo me parece adequada a interprelaçào no sentido de que,
seja qual .fár o resultado do julgamento da prestaçüo de contas
(aprovaçc7o, desaprovaçc7o, aprovação com ressalvas ou m1o
apresentaçclo, art. 30 da Lei 9.5041 1997) a consequência para a quitaçào
eleitoral seria rigorosarnente a mesma.
10
Tenho que tal conc!usào equipara situaçties dij"erentes, violando o
princípio da isonomia. É que, como bem assentou Celso Antônio
Bandeira de Mello , "nào se podem interpretar como desigualdades
legaltnente certas situações, quando a lei mio haja 'assumido' ofator tido
como desequiparador".
Com eleito, ao interpretar a nova redaçào do art. 11 , ,\r; r, da Lei das
EleiçtJes, entendo deva ser considerado o tratamento substancialmente
igualitário contemplado pelas Leis 9.09611995 e 9.5041199 7.
Penso que, ao rej"erir-se à "apresentaçào de contas de campanha" no art.
li , § 70, da Lei 9. 50419 7, a norma direcionou-se às hipóteses em que as
contas sejom apresentadas regularmente, não sendo suficiente, portanto,
a sua mera "apresenlaçào", ainda que eventualmente irregular. " 11
27. Válido também destacar, a esse respeito, o posicionamento do e.
Ministro Marco Aurélio, em voto igualmente proferido no Tribunal Superior
Eleitoral :
"Senhor Presidente, quando este Tribunal se pronunciou, no campo
administrativo, acerca da matéria, considerou-se a razào de ser do
que hâ na partefinal do ::,\' r do artigo 11 da Lei no 9.50411997.
Hâ rej"erência, não resta dúvida, à apresentaçào de contas de
campanha à Justiça Eleitoral, mio apenas para se atender a um
aspecto formal, mas para se perquirir sobre a harmonia ou nào
dessas contas com o vrdenamentojurídico.
Contrapõe-se à apresentaçc7o a nc7o apresentaçào. Cabe indagar se,
apresentadas as contas, vindo à bolha a glosa desta Jus/ iça
Especializada, nc7o ocorrendo a ultrapassagem das eleições
subsequenles, esse candidato, pelo simples aspecto formal de havê
las apresentado, está quite com a Justiça Eleitoral. Nào lerá
falhado , na tentativa de lograr um cargo público? Nâo lerá
, . ·----.:.:. --=--:::~
LI Voto proferido no Processo Administrativo n" 59459, Acórdão ck<D~í.ósãcrllí~R;~J:a.J.:ê.P-Min :· ... Arnaldo Versiani , Relator designado Min. Ricardo Lewandows ki . Publicação: D.JE- Diário da
.Justiça Elclrônico, Data 23/9/2010, p. 21.
11
claudicado quanto à lisura das contas di.sponibilizadas para exame
por setores técnicos da Justiça Eleitoral? li possível ((firmar,
polencializando-se apenas o aspectoformaf em detrimento dofúndo,
ser suficiente dirigir-se ao protocolo da .Justiça Eleitoral e
apresentar contas, pouco importando a boa ou a mâ procedência
delas? A própria ordem natural das coisas contraria a limitaçâo que
se pretende dar à parte .final do .)\ r do artigo 11 da Lei n°
9. 50411997. Nesse caso, haveria situaçtío jurídica apenas de
fachada, de vitrina, quanto ao alo positivo da apresentaçào das
contas.
Jl finalidade da norma mio é essa, a menos que também se assente
que, apresentadas as contas, haja o exaurimento do dever do
candidato, sem a necessidade sequer do pronunciamento da Justiça
Eleitoral sobre a regularidade. Ao interpretar-se que está quite com
a Justiça Eleitoral quem apresentou contas em campanha e o fez de
.fórma irregular, será necessário concluir - para haver coerência -
que basta essa apresentaçào, nclo devendo proceder-se a qualquer
ancíl i se.
Senhor Presidente, nâo consigo emprestar ao § r do artigo J I da
Lei 11 ° 9.50411997 sentido limitativo quanto aos elementos
conducentes a obter-se a certidào de quitaçclo eleitoral. A rejeição
das contas está compreendida no preceito como fator determirwnle
para nclo se alcançar a certidc7o de quitaçclo. A referência a esta,
contida no início do preceito, norteia o alcance da parte final, da
expressclo 'apresentaçc7o de contas' " 12•
28. Por fim, a interpretação literal elo § 7° elo art. 11 da Lei 9.504/97
afronta, ainda, os requisitos constitucionais estabelecidos para o exercício elo
direito político de ser votado, pois, conforme bem anota Roclrigo López Zílio, a
Emenda Constitucional ele Revisão n° 04/94 "inseriu novos elementos no texto
lego/ previsto no § 9" do art. 14 da Const ituiçüo Federal, (..) e (..) por força de
12 Voto proferido nn jlllgamcnlo elo HESPE N°: 153163 (REspc) - MT, AC. DE 22/03/201 1, Rei.: Min. Marco Aurélio, Rei. designado: Min. Dias Tolloli.
____ __ ________ <;"~;:.:--:>
12
moni/estaçüo do poder constituinte derivado, acolheu-se, de modo explicito, em
rnatério eleitoral, a probidade administrativa e a moralidade para o exercício do
rnondato como diretrizes balizadoras dos limites da inelegibilidade "13.
29. Vale dizer, a Constituição ela República impõe, explicitamente, em
matéria eleitoral, a observfmcia aos princípios ela moralidade e da probidade -
razão suficiente para que a desaprovação de contas de campanha obste a obtenção
ela quitação ele i tora!, e, portanto, elo registro ele cancliclatu r a.
30. Em verdade, a literal interpretação elo artigo 11, § 7°, ela Lei n°
9.504/97 representa verdadeiro estímulo ao abuso de poder econômico nas
eleições, em violação não apenas aos princípios ela moralidade e da probidade,
mas, principalmente, à própria democracia, ao criar situação de grave impunidade
para aquele que dificultar ou mesmo impedir o controle ele gastos eleitorais
realizados pela Justiça Eleitoral, bem como por comprometer a lisura e o
equilíbrio da disputa elo pleito eleitoral.
3]. A interpretação que o Tribunal Superior Eleitoral vem dando ú
expressão "apresentação elas contas", constante do§ 7° elo art. 1:1 ela Lei 9.504/97,
viola, ele forma clara, o princípio da proporcionalidade em sua vertente da
proibição da proteção deficiente, pois fragiliza ele forma desproporcional os
preceitos constitucionais que consagram o dever ele prestar contas, a proteção elas
eleições contra o abuso ele poder econômico, bem como os princípios ela
moraliclacle e ela probidade.
32. Tal interpretação há ele ser considerada .inconstitucional por esse e.
Supremo Tribunal Federal, que eleve fixar a interpretação conforme a
Constituição ao dispositivo legal em comento, a qual, como já exposto, deve
considerar, ü luz ela unidade ela Constituição Federal ele 1988, que a quitação
eleitoral não pode ser obtida pela mera apresentação ela prestação de contas ele
campanha, mas sim, apenas por sua apresentação regular. Vale dizer: a quitação
J3 ZÍLIO, Rodrigo Lópcz. Direito Eleitoral. 2" cd. Curitiba: Verbo .Jurídico, 2010, pág. 164.
13
clcitontl, para fins de r·cgistn> de candidatura, dcvcni ser· dada apenas ao
candidato que tiver apr·cscntado r·cgularmcntc c, ainda, que não tiver· contas
r·cfcr·cntcs a campanhas clcitor·ais antcr·ior·cs desaprovadas pela .Justiça
l!:lcitoral.
33. A interpretação proposta é a única coerente com os princípios
constitucionais que informam o sistema eleitoral e, por isso, eleve prevalecer.
Afinal, conforme explica Canotilho 14, "nas relaçties entre o sistema eleitoral e os
elementos constitutivos do principio democrático - designadarnente o principio
da igualdade - se estabeleceu uma prevalência e uma reserva de constituiçào" e,
dessa forma, os princípios constitucionais ligados ao sistema eleitoral possuem
"um caráter constitutivo para a definição e conformaçào de todo o sistema
eleitoral."
UI -Do pedido cautelar·-
34. Estão presentes todos os requisitos autorizadores para a concessão ele
medida cautelar.
35. Os argumentos expostos demonstram a plausibiliclacle do direito
invocado, bem como a necessidade de que esse e. Supremo Tribunal Federal dê
interpretação conforme a Constituição Federal ao* r elo art. 1:1 ela Lei 9.504/97,
na forma supra proposta.
36. Por sua vez, o periculum in mora decorre da urgência em definir o
conteúdo do conceito ele quitação eleitoral, no que se refere~~ prestação de contas
de campanha, definição essa fundamental para o processo eleitoral. Ademais,
deve ser ressallado que a Justiça Eleitoral, no momento, analisa as prestações de
contas dos candidatos que concorreram nas Eleições de 2012, sendo de todo
recomendável que tal análise ocorra já a partir elas balizas ele interpretação fixadas
14 CANOTILHO, J . .J. Gomes. Dire ito Constitucional. 6" cd. Coimbra: Almcclina, 1993, p. 419.
. -- - -~ C-=--------
14
por esse c. Supremo Tribunal Fcelcral, quanto üs implicações elas decisões que
eventualmente desaprovem as contas ele campanha.
37. Assim , requer-se o deferimento de medida liminar, para que se dê
interpretação conforme a Constituição Federal ao§ 7°, elo art. 11 ela Lei 9.504/97,
de forma a afastar a exegese que considera suficiente para obtenção da certidão ele
quitação eleitoral a mera apresentação elas contas de campanha.
lV -Do pedido-
38. Por fim, requer ctue, colhidas as informações ncccssúrias e ouvido o
Aclvogaclo-Geral ela União, conforme previsto no§ 3° do art. 103 da Constituição
ela República, seja determinada vista dos autos ü Procuradoria Geral ela
República, para manifestação e, ao final, seja julgado procedente o pedido, para o
fim ele se dar interpretação conforme a Constituição Federal ao § 7° do art. 11 ela
Lei 9.504/97, ele forma que a expressão "apresentação de contas", constante elo
referido dispositivo legal, seja compreendida em consonância com os preceitos
constitucionais, para o fim de impedir que aqueles que tenham suas contas
desaprovadas pela Justiça Eleitoral obtenham certidão ele quitação eleitoral.
Br·asília, 10 de janeiro de 2013.
<:..: ........ . ........ .
Procuradora-Geral da República em exercício