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Lógica informal
Vivemos numa sociedade na qual a informação e a comunicação têm um
lugar central
O objetivo de muitos dos atos comunicativos é convencer e sermos
convencidos pelos outros acerca de determinadas ideias
Através da televisão, jornais, internet, etc. estamos sempre a ser solicitados
a comprar certos produtos e a aderir a certos pontos de vista.
Na vida diária é frequente argumentarmos e comunicarmos com os
nossos amigos, colegas de escola ou trabalho e, de um modo geral, com
todos os que estão envolvidos em atos comunicativos
Em muitas ocasiões do dia a dia deparamo-nos com
situações argumentativas
Lógica formal
Investiga as condições
de validade
Permite saber se devemos
aceitar (ou não) como válido
um argumento
Como argumentar para persuadir?
Como saber quando nos devemos convencer
quando nos tentam persuadir?
A argumentação (RETÓRICA) pode ajudar-nos
MAS esse não era o objetivo da LÓGICA FORMAL?
INSUFICIÊNCIA DA LÓGICA FORMAL
A lógica formal não esgota todo o campo da argumentação. Tem algumas limitações:
1ª limitação
(Não abrange todos os tipos de argumentos)
Só permite avaliar argumentos cuja validade dependa da sua
forma lógica (dependa exclusivamente do uso dos operadores
lógicos).
Ora a correção de muitos argumentos não pode ser captada
atendendo apenas à sua forma lógica.
É o caso dos argumentos não dedutivos que não podem ser
avaliados pela lógica formal.
Indutivos
De autoridade
Analógicos
Generalizações
Previsões
A lógica formal deixa de lado o seu conteúdo, a sua matéria, a
sua verdade material.
A verdade e a falsidade da matéria (ou conteúdo) das
proposições que fazem parte do raciocínio não podem ser
detetadas pelas regras formais
Mas mesmo no caso dos dedutivos, a forma lógica pode não ser
suficiente para captar a sua correção.
Quando a correção não depende da forma lógica do
argumento, mas, por exemplo, do significado dos conceitos
usados, as tabelas de verdade não servem o seu propósito, pois
tais argumentos escapam à lógica formal
Vejamos os 2 exemplos abaixo de argumentos dedutivos
Argumento 1: O Vítor é um homem casado, logo não é solteiro.
P: Vitor é um homem casado
Q: Vitor é um homem solteiro
Premissa Conclusão
P Q P
¬ Q
V V V F
V F V V
F V F F
F F F V
Argumento 2: se Abril precede Maio, então Maio segue-se a
Abril. Maio Segue-se a Abril. Logo Abril precede Maio
P: Abril precede Maio
Q: Maio segue-se a Abril
Premissa Premissa Conclusão
P Q P → Q
Q P
V V V V V
V F F F V
F V V V F
F F V F F
Estes dois argumentos avaliados pela tabela de verdade, têm
formas argumentativas inválidas dado que há uma circunstância
em que as premissas são verdadeiras e a conclusão é falsa.
Contudo são materialmente corretos, isto é, premissas e conclusão
são verdadeiras.
2ª limitação
(Só parte de premissas verdadeiras ou supostas como
verdadeiras)
A lógica formal, raciocina da seguinte forma:
Premissas verdadeiras conclusão verdadeira
Mas
Nem sempre as premissas são verdadeiras
ou
Nem sempre podemos ter a certeza da verdade das
premissas.
Às vezes as premissas são apenas prováveis, verosímeis ou
aceites pelos interlocutores
Aristóteles (Século V A.C.) já diferenciava o
silogismo (forma de argumento) em dois tipos
ANALÍTICO DIALÉTICO
Suas premissas e conclusão são
universais ou necessárias
Não é dialético, mas científico ou
demonstrativo (não admite
argumentação contrária)
Suas premissas e conclusão são opiniões
ou referem-se a coisas contingentes
Não é demonstrativo, é dialético
(discussão entre opiniões contrárias)
Exemplos
Premissa 1: os latinos são preguiçosos e enganadores
Premissa 2: os EUA não precisam de pessoas preguiçosas e enganadoras
Premissa 3: os mexicanos são latinos
Conclusão: os EUA não precisam de mexicanos
Premissa 1: se encontrarmos vida em Marte, os marcianos podem ser muito
agressivos e muito mais avançados que nós
Premissa 2: se forem agressivos e mais avançados que nós, podem
aniquilar-nos
__________________________________________________ Conclusão: eu penso que não devemos ir até Marte
A conclusão é provada (obtida por
dedução)
A conclusão é obtida pela força
persuasiva de um argumento/ opinião
sobre outros
Dois domínios da racionalidade filosófica
Lógica Formal Lógica informal
(argumentação- retórica)
Para conduzir alguém:
A uma conclusão necessária
verdadeira
Seguir as regras da lógica formal
Temos de o demonstrar
Para conduzir alguém:
A uma conclusão que é apenas
verosímil, plausível, preferível e
razoável
Seguir os critérios da retórica.
Temos de argumentar
Demonstração
ou
Prova
Fornecer provas lógicas irrecusáveis,
Encadeamento de
proposições de tal
modo que, a partir da
primeira, se é
racionalmente
obrigado a aceitar a
conclusão
Usa só o raciocínio
dedutivo.
Argumentação
ou
Razões a favor
Fornecer razões a
favor/contra uma
determinada
conclusão (obter
adesão das pessoas a
essa tese, pelo que é)
Necessário que ela lhes pareça razoável.
Combina raciocínio
dedutivo e não
dedutivo (analogia,
indução e abdução).
EXEMPLO DE DEMONSTRAÇÃO EM LÓGICA PROPOSICIONAL
Necessidade da Retórica segundo
Aristóteles
Alguns auditórios nem a ciência
mais exata consegue convencer
A verdade e a justiça não podem ser vencidas (quando alguém argumentar
contra os valores da justiça e da verdade
devemos ser capazes de os contrariar)
Devemos ser capazes der nos
defender pela palavra (forma de
defesa, preferível á violência física)
Retórica
A retórica é a “Arte da palavra” “Arte de persuadir
através do discurso”
Arte = conjunto de técnicas (que implicam
conhecimentos teóricos e práticos) para atingir um objetivo
(persuadir)
Persuadir só através do discurso = do uso da palavra.
A persuasão através da violência ou da sedução física
ou material, está fora do âmbito da arte da retórica
Branca = persuasão
Quando procuramos através dela
argumentar racionalmente a favor de
uma posição
Negra=manipulação
Quando as limitações da
racionalidade do auditório são vistas
como uma oportunidade a explorar.
É fazer alguém aceitar algo sem lhe
permitir avaliar cuidadosamente as
coisas por si mesmo
É uma persuasão irracional e
ilegítima, com um objetivo negativo e
perverso
Orador
Aquele que recorre ao discurso para persuadir um auditório
Auditório Conjunto de pessoas que o orador visa persuadir
Objetivo
do orador
Influenciar o auditório para obter a sua adesão, isto é, o orador
leva, pela palavra, o auditório a aceitar que uma
determinada tese é verdadeira, ou pelo menos plausível,
A Retórica é uma arte de persuadir e, para isso, dispõe de meios de persuasão
Meios de persuasão retórica
Não técnicos
Coisas que já existem e não dependem do orador
Testemunhos
Contratos escritos
Juramentos
Factos
Estatísticas
Conhecimentos científicos
Técnicos
ou artísticas
Coisas que o orador tem de criar através do discurso para influenciar a
audiência.
Pathos (centrado
no auditório)
-Apelo à emoção
-Apelo à simpatia
da audiência
-Sentir o que o
orador sente
-Apelo à
imaginação da
audiência (sofrer:
sofrer a dor
imaginariamente)
-Linguagem vívida e
descritiva
-Muitos detalhes
sensoriais
-Usada na ficção
O próprio discurso suscita no
auditório emoções (ira,
compaixão, medo) que o tornam
recetivo ao que está a ser dito
..\Retórica\Pathos\Pathos -Apelo à emoção.mp4
Ethos (centrado
no orador)
-Apelo à
credibilidade
-Apelo ético
-Convencer pelo
caráter do orador
-Digno de respeito
-Citação de fontes
credíveis
-Agradabilidade
o próprio discurso (e não a
notoriedade ou a aparência física)
causam no auditório a impressão
de que o orador é alguém de bom
senso e digno de confiança
..\Retórica\[DownSub.com] We are Better than
That!!!!!.mp4
..\Retórica\Ethos e Pathos 2.mp4
Logos (centrado
no discurso)
-Apelo à lógica,
razão
-Apelo ao
argumento
-Análise
-Uso de
argumentos
dedutivos
-Uso de
argumentos
indutivos
-Uso de exemplos
-Entinemas
-Uso de factos e
estatísticas
-Uso de parábolas e
fábulas
Obtém-se a persuasão por meio
de argumentos verdadeiros ou
prováveis que levam o auditório a
acreditar que a perspetiva do
orador é correta. Uma estratégia
centrada no logos (os argumentos
e a sua apresentação) é dirigida à
racionalidade do auditório.
https://www.youtube.com/watch?v=tKQNXyofAF8&feature=youtube_gdata
..\Retórica\Logos\Apelo ao Logos.mp4
Pathos Logos
Ethos
Dispositivo retórico
Falácias
PATHOS
Apelo à piedade
(Explora sentimentos de piedade e compreensão da audiência de modo a que, só por isso, a conclusão defendida seja aceite como verdadeira) Vá lá senhor polícia. Não me multe. Sou mãe solteira e tenho 3 filhinhos para cuidar. Preciso de todos os tostões
Apelo à popularidade
(Explora sentimentos da audiência para adotar como verdadeiro o ponto de vista de quem fala)
ETHOS
Apelo à autoridade não qualificada
(Argumenta-se a favor da verdade de um ponto de vista apenas com base na credibilidade deriva do estatuto socioprofissional) Ronaldo Acredita em Deus ___________________ Logo, Deus existe
Ad Hominem (Pretende-se mostrar que uma tese é falsa atacando-se a pessoa, o seu caráter, condição social, etc. e não a tese que ela defende)
“O testemunho do João não vale nada. Ele é um bêbado inveterado”
2- Argumentos não dedutivos
Há pois, toda uma área da argumentação onde a dedução não é possível, e
na qual a validade não tem nada que ver com uma forma lógica abstrata.
Vejamos o argumento abaixo.
Este argumento não dedutivo parece ser válido, mas a verdade da
conclusão, ao contrário dos dedutivos, é apenas provável, não é
impossível que as premissas sejam verdadeiras e a conclusão falsa.
Contudo as premissas dão um apoio forte à conclusão
Assim Validade não dedutiva é equivalente a força argumentativa (apoio
maior ou menor que as premissas dão à conclusão)
Objetivos da lógica informal
Obter argumentos fortes ou corretos materialmente (verdade da
conclusão é altamente provável, dada a verdade das premissas)
A Joana defende que o melhor para combater a a pneumonia é o medicamento “X”
A Joana é uma reconhecida investigadora na área da pneumologia
A Joana já ganhou alguns prémios a nível nacional e internacional pelas suas descobertas
______________________________________________________________________ O medicamento “X” é (deve ser) o melhor para combater a a pneumonia
Evitar falácias
Principais argumentos informais
Indutivos De autoridade Analógicos
Generalizações
Previsões
INDUÇÃO POR GENERALIZAÇÃO
Argumento em que as premissas se referem a casos passados e a conclusão se refere a todos os casos
EXEMPLO
Cada um dos corvos que observei até hoje era negro. ______________________________________________ Logo todos os corvos são negros
Regras para uma boa indução por generalização
(indução por enumeração)
1ª regra: a amostra deve ser ampla (quanto maior o número de casos analisados, mais força terá o argumento) 2ª regra: a amostra deve ser representativa (contemplar suficientemente todas as subclasses dessa categoria) 3ª regra: não se deve omitir informação relevante:
Não deve haver contraexemplos
Não deve de ir contra conhecimentos já bem estabelecidos e comprovados
Contudo o peso de cada uma das regras depende do conteúdo do
argumento.
Por exemplo para saber se o esparguete que pusemos a cozinhar está
cozido, não precisamos de o comer quase todo, basta provar alguns.
FALÁCIA DA GENERALIZAÇÃO PRECIPITADA
Os homens têm tendência a trair as mulheres, pois meu marido traiu-me.
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INDUÇÃO POR PREVISÃO (indução para o caso seguinte)
Argumento em que as premissas se referem a casos passados e a
conclusão se refere a um caso particular ainda não observado
EXEMPLO
Cada um dos cães que observei até hoje ladrava. _______________________________________ Logo, o próximo cão que vir ladra
ARGUMENTO DE AUTORIDADE
Argumento em que as premissas invocam uma pessoa, organismo tido
por autoridade que declara como verdade uma ideia, e a conclusão declara essa ideia como verdadeira
EXEMPLO
Todos os livros de história dizem que Abraham Lincoln foi assassinado em 1865. _________________________________________________________________ Logo. 1965 foi a data do assassinato de Abraham Lincoln
Regras para um bom argumento de autoridade:
1ª A autoridade invocada deve ser conhecida 2ª A autoridade invocada deve ter reconhecida competência na área/questão em causa 3ª A autoridade em causa não pode discordar significativamente de outra na área em causa
FALÁCIA DA AUTORIDADE NÃO QUALIFICADA
Achas-te mais inteligente que Einstein? Einstein acreditava em Deus. Logo Deus não existe.
ARGUMENTO POR ANALOGIA
Argumento que se baseia em comparações. Tira uma conclusão acerca de uma coisa comparando-a com outra. A forma do argumento é esta: A tem as características x,y,z B é semelhante a A (porque tem as características x e y) _______________________________________________ B tem a característica z
EXEMPLO 1ª Premissa os homens têm direito de voto 2ª Premissa: as mulheres são como os homens ______________________________________ Logo as mulheres também têm o direito de votar Quando se diz que “As mulheres são como os homens” abrevia-se um conjunto de semelhanças. As mulheres são como os homens porque:
a) Homens e mulheres são agentes morais autónomos b) Homens e mulheres querem ter autodeterminação política c) Homens e mulheres querem intervir politicamente d) Homens e mulheres têm as mesmas capacidades cognitivas
Regras para um bom argumento analógico:
1ª A amostra deve ser suficiente (entre mais que dois casos) 2ª O número de semelhanças verificadas deve de ser suficiente 3ª As semelhanças verificadas devem de ser relevantes e não deve de haver diferenças relevantes
FALÁCIA
As empresas são geridas por empresários ou gestores O Estado é como uma empresa (faz negócios, tem um orçamento, tem um corpo dirigente,
tem vários departamentos, exerce influências, etc.)
___________________________________________________________
O Estado deve ser gerido por empresários ou gestores Aqui há diferenças importantes que tornam as semelhanças irrelevantes
1. Uma empresa é apenas uma entidade económica e o estado é muito mais que isso
2. Uma empresa não cobra impostos
3. Uma empresa não exerce funções de soberania (Defesa, segurança interna, poder legislativo e judicial)
Uma boa parte do trabalho da lógica informal é a procura de critérios de
validade que evite a falaciosidade de argumentos informais