luciene pires teixeira

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LUCIENE PIRES TEIXEIRA A INDÚSTRIA DE CONSTRUÇÃO BRASILEIRA SOB A ÓTICA DA DEMANDA EFETIVA Tese apresentada à Universidade Federal de Viçosa, como parte das exigências do Programa de Pós-Graduação em Economia Aplicada, para obtenção do título de Doctor Scientiae. VIÇOSA MINAS GERAIS BRASIL 2009

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Artigo cientifico da importância da Mao de obra da construção civil para a economia nacional e local

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  • LUCIENE PIRES TEIXEIRA

    A INDSTRIA DE CONSTRUO BRASILEIRA SOB A TICA DA DEMANDA

    EFETIVA

    Tese apresentada Universidade Federal de

    Viosa, como parte das exigncias do Programa

    de Ps-Graduao em Economia Aplicada, para

    obteno do ttulo de Doctor Scientiae.

    VIOSA

    MINAS GERAIS BRASIL

    2009

  • LUCIENE PIRES TEIXEIRA

    A INDSTRIA DE CONSTRUO BRASILEIRA SOB A TICA DA DEMANDA EFETIVA

    Tese apresentada Universidade

    Federal de Viosa, como parte das exigncias do Programa de Ps-Graduao em Economia Aplicada, para obteno do ttulo de Doctor Scientiae.

    APROVADA: 23 de novembro de 2009.

    Prof. Jos Maria Alves da Silva (Coorientador)

    Prof. Antnio Braz de Oliveira e Silva

    Prof. Marlia Fernandes Maciel Gomes Prof. Luiz Antnio de Matos Macedo

    Prof. Ftima Marlia Andrade de Carvalho (Presidente da Banca)

  • ii

    Aos meus queridos pais,

    Jos Teixeira de Almeida (in memoriam)

    e Maria Jlia Pires de Almeida,

    Ao amado companheiro Jlio Csar,

    Amarante, grande amiga e conselheira,

    E a todos os trabalhadores annimos que ajudam a

    construir o Brasil.

  • iii

    Humanity, justice, generosity, and public spirit are

    the qualities most useful to others.

    (ADAM SMITH, 1723-1790)

  • iv

    AGRADECIMENTOS

    Sem Deus nada seria, e a Jesus Cristo agradeo as bnos infinitas e as lies

    amorosas e edificantes de conhecimento superior, sendo-me o modelo de perfeio e a meta

    de luz eterna a ser alcanada.

    Aos queridos pais, Jos Teixeira de Almeida e Maria Jlia Pires de Almeida, sou

    eternamente grata por terem me ensinado desde a infncia a importncia dos estudos,

    proporcionando-me a oportunidade de aprender sempre. Ao meu pai, que desejava que eu

    fosse doutora, dedico este ttulo. O seu amparo espiritual pea importante desta conquista.

    minha me, amiga de todas as horas, agradeo os profundos ensinamentos. O seu exemplo

    de vida a minha bssola e a luz que me guiar sempre.

    Ao companheiro Jlio Csar Leo Coelho, agradeo o amor, a pacincia e o carinho

    redobrados durante a execuo deste trabalho, alm do estmulo essencial nos momentos de

    desnimo.

    Professora Maria Amarante Pastor Baracho, amiga, confidente e conselheira, que foi

    a grande motivadora do meu retorno ao meio acadmico, sou grata pelo carinho e palavras

    reconfortantes quando me faltava alento e pelo exemplo de coragem e fora de vontade.

    Querida, sem voc este projeto profissional no existiria.

    Professora Ftima Marlia Andrade Carvalho, agradeo a orientao, amizade e

    dedicao carinhosa, valiosas sugestes e discusses esclarecedoras, alm do apoio

    incondicional e serenidade nos momentos difceis, ingredientes imprescindveis para a

    concluso desta pesquisa.

    Ao Professor Jos Maria Alves da Silva, sou agradecida pelos conselhos e profcuos

    ensinamentos durante o curso de doutorado, alm da ajuda na definio do referencial terico

    deste trabalho.

    Ao Professor Marcelo Jos Braga, agradeo a disponibilidade, colaborao e

    questionamentos fundamentais ao aprimoramento desta pesquisa. Sem as muitas horas de

    conversas, conselhos e orientao, impossvel seria a realizao deste trabalho.

    Prof. Marlia Fernandes Maciel Gomes, agradeo a aproximao amiga e carinhosa

    desde o primeiro contato e as muitas orientaes e conselhos imprescindveis para o propsito

    deste trabalho.

  • v

    Ao Professor e amigo Antonio Braz de Oliveira e Silva, agradeo os valiosos

    ensinamentos ao longo dos proveitosos anos de convivncia profissional.

    Ao Professor Luis Antnio de Matos Macedo, meu tributo de considerao e

    agradecimento pela generosidade em aceitar prontamente o convite para compor a banca de

    tese.

    Com a ajuda de Cora Coralina, agradeo a todos os meus professores de economia na

    Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e na New School-NY e tambm aos

    professores do Departamento de Economia Rural da Universidade Federal de Viosa (DER-

    UFV), feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina.

    Ao Departamento de Economia Rural da Universidade Federal de Viosa (DER-

    UFV), pela chance de realizar o curso, aprender mais sobre a cincia econmica e trocar

    experincias profissionais.

    A todos os funcionrios do DER-UFV, com especial ateno Carminha, Brilhante,

    Cida, Tedinha, Helena e Graa. Obrigada pela ajuda sempre carinhosa e boa vontade

    demonstradas todo tempo.

    Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior (Capes), pelo apoio

    financeiro durante parte deste projeto de pesquisa.

    Cmara Brasileira da Indstria da Construo (CBIC) e ao Sindicato da Indstria da

    Construo no Estado de Minas Gerais (Sinduscon-MG), tambm pelo apoio financeiro

    durante parte deste projeto e pelo incentivo inicial para sua realizao.

    A todo o setor da construo nacional, atravs de alguns de seus representantes:

    Ao Engenheiro Teodomiro Diniz Camargos, Ex-Presidente do Sinduscon-MG e da

    Comisso de Economia e Estatstica da CBIC, com quem tive o privilgio de trabalhar.

    Agradecimentos sinceros pelo exemplo de profissionalismo, pelo apoio incondicional nos

    momentos de alegria e, principalmente, nas fases profissionais e pessoais mais difceis.

    Ao Engenheiro Paulo Roberto Henrique, Ex-Presidente do Sinduscon-MG e da

    Comisso de Economia e Estatstica da CBIC, grande mentor que despertou em mim os

    primeiros interesses no estudo da construo brasileira.

    Ao Economista e Professor Daniel talo R. Furletti, carinhoso mestre e incentivador

    em primeira instncia deste projeto, cuja dedicao ao setor da construo sempre me serviu

    de guia e incentivo.

  • vi

    Aos amigos que fiz enquanto desempenhava as atividades profissionais relacionadas

    construo brasileira, cujo apoio moral me serviu de estmulo para chegar at o final deste

    projeto.

    Aos queridos irmos, Laene, Sonale e Jnior, s tias Didi e Tunita, aos cunhados,

    sobrinhos, enteados e familiares, que rezaram e torceram por mais uma realizao pessoal e

    profissional.

    Aos colegas do curso, pelo bom convvio desfrutado.

    s amigas Valria Fully Bressan e Mirelle Cristina de Abreu Quintela, pelo apoio

    profissional em diversos momentos da elaborao do estudo e pelo enorme privilgio de t-las

    conhecido. Obrigada pelos ensinamentos de vida, coragem e entusiasmo.

    Flaviane Peccin, pela ajuda na execuo dos resultados economtricos desta

    pesquisa no software R.

  • vii

    SUMRIO

    LISTA DE ILUSTRAES ................................................................................................. ix

    LISTA DE TABELAS ........................................................................................................... x

    LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS .......................................................................... xiii

    RESUMO ........................................................................................................................... xvi

    ABSTRACT ...................................................................................................................... xvii

    1 INTRODUO ............................................................................................................ 1

    1.1 O PROBLEMA E SUA IMPORTNCIA ..................................................................... 8

    1.2 OBJETIVOS ............................................................................................................... 14

    1.2.1 Objetivo Geral .......................................................................................................... 14

    1.2.2 Objetivos Especficos ............................................................................................... 14

    2 REFERENCIAL TERICO ........................................................................................ 16

    2.1 A TEORIA KEYNESIANA E A CONSTRUO ...................................................... 16

    2.2 O SISTEMA KEYNESIANO: NATUREZA, MTODO, SENTIDO DE CAUSAO

    E CONDICIONANTES ....................................................................................................... 20

    2.2.1 Antecedentes histricos e tericos ao paradigma keynesiano .................................... 23

    2.2.2 Tempo histrico, incerteza e expectativas. ................................................................ 28

    2.3 O PRINCPIO DA DEMANDA EFETIVA ................................................................. 30

    2.3.1 Decises de consumo e investimento e o efeito multiplicador da renda ..................... 34

    2.4 A TEORIA DE KEYNES SOBRE O CAPITAL E SEU RENDIMENTO ................... 36

    2.5 A TEORIA FUNDAMENTAL DO DINHEIRO, DA TAXA DE JUROS E DO

    CRDITO ............................................................................................................................ 40

    2.5.1 Contratos monetrios e fontes de financiamento do investimento.............................. 43

    2.6 FLUTUAES ECONMICAS ................................................................................ 44

    2.7 CONSEQUNCIAS TERICAS E PRTICAS DO SISTEMA KEYNESIANO ....... 45

    2.7.1 A importncia do Estado para a construo............................................................... 46

    2.7.2 Determinantes dos investimentos em produtos de construo ................................... 50

    2.8 ANLISE COMPLEMENTAR: A ABORDAGEM INSUMO-PRODUTO ................ 54

    2.8.1 Justificativa terica ................................................................................................... 54

    2.8.2 Vantagens e limitaes ............................................................................................. 56

    2.8.3 A teoria do insumo-produto ...................................................................................... 57

    2.8.4 Multiplicadores ........................................................................................................ 59

    2.8.5 Ligaes intersetoriais e setores-chave...................................................................... 60

    3 REFERENCIAL ANALTICO .................................................................................... 64

    3.1 MODELO ECONOMTRICO .................................................................................... 65

    3.2 DEFINIO E OPERACIONALIZAO DAS VARIVEIS ................................... 65

    3.3 PROCEDIMENTO DE ANLISE .............................................................................. 67

    3.3.1 Regresso com dados em painel ............................................................................... 67

    3.4 FONTE DOS DADOS ................................................................................................ 73

    4 RESULTADOS E DISCUSSO ................................................................................. 74

    4.1 A INDSTRIA DE CONSTRUO NO BRASIL ..................................................... 74

  • viii

    4.1.1 Viso geral e distribuio espacial ............................................................................ 74

    4.1.2 Caracterizao setorial .............................................................................................. 77

    4.1.2.1 Concentrao de mercado na construo brasileira ................................................... 82

    4.1.2.2 Diferenciao de produtos e barreiras entrada de novos concorrentes ..................... 85

    4.1.2.3 Produtividade e desempenho econmico................................................................... 87

    4.1.3 Produo, emprego e investimentos .......................................................................... 90

    4.1.4 Posio estratgica para o desenvolvimento brasileiro .............................................. 93

    4.1.5 A construo brasileira no perodo 1990 a 2008 ...................................................... 101

    4.1.5.1 Desempenho macroeconmico brasileiro nas duas ltimas dcadas ........................ 101

    4.1.5.1.1 Perodo 1990 a 1999 ............................................................................................ 101

    4.1.5.1.2 Perodo 2000 a 2008 ............................................................................................ 107

    4.1.5.2 Reviso geral do perodo 1990 a 2008 .................................................................... 109

    4.1.5.3 Desempenho da construo brasileira no perodo 1990 a 2008 ................................ 111

    4.1.6 A crise global do incio do sculo XXI e o setor da construo brasileira ................ 117

    4.1.6.1 A grande crise financeira e econmica do sculo XXI ............................................ 117

    4.1.6.2 Efeitos da crise na economia brasileira ................................................................... 122

    4.1.6.3 A crise e a construo brasileira.............................................................................. 124

    4.1.7 Direcionamentos e oportunidades para a construo nacional ................................. 125

    4.1.7.1 Programa de Acelerao do Crescimento (PAC) ..................................................... 126

    4.1.7.2 Polticas de habitao e saneamento ....................................................................... 128

    4.1.7.3 Plano Nacional de Logstica e Transportes (PNLT) ................................................ 129

    4.1.7.4 Plano CNT de Logstica Brasil ............................................................................... 130

    4.1.7.5 Parcerias Pblico-Privadas (PPPs) .......................................................................... 132

    4.2 A INDSTRIA DE CONSTRUO NOS ESTADOS BRASILEIROS ................... 135

    4.2.1 A atividade de construo e o nvel de desenvolvimento local ................................ 136

    4.2.2 Distribuio regional, importncia para a formao de capital fixo em construo e

    gerao de emprego ........................................................................................................... 137

    4.2.3 Distribuio regional dos crditos para a construo ............................................... 143

    4.2.4 Carncias regionais de infraestrutura bsica ............................................................ 147

    4.3 DETERMINANTES DO PRODUTO DA CONSTRUO NAS ECONOMIAS

    ESTADUAIS ..................................................................................................................... 148

    4.3.1 Anlise dos dados em painel ................................................................................... 149

    4.3.1.1 Matrizes de correlao por ano ............................................................................... 153

    4.3.1.2 Ajuste dos modelos de dados em painel .................................................................. 155

    4.3.2 Resultados do modelo de regresso em dados de painel com efeitos fixos............... 161

    5. RESUMO E CONCLUSES .................................................................................... 165

    REFERNCIAS ................................................................................................................ 174

    ANEXO...................................................................................................................................180

  • ix

    LISTA DE ILUSTRAES

    FIGURA 2.1 - Esquema analtico keynesiano ..................................................................... 38

    FIGURA 4.1 - Distribuio espacial das empresas de construo, segundo as regies

    geogrficas do Brasil em 2007 ..................................................................... 93

    FIGURA 4.2 - Evoluo da srie encadeada do ndice trimestral (Base: mdia 1995 = 100)

    do valor adicionado a preos bsicos do total das atividades e da construo -

    1991a 2008 ................................................................................................. 108

    GRFICO 4.1 - Evoluo da taxa de crescimento real (em %) do valor adicionado da construo - 1970-2008 .............................................................................. 129

    GRFICO 4.2 - Evoluo da produo fsica industrial dos indicadores de atividades da

    construo pelo ndice mdio anual sem ajuste sazonal (Base fixa: mdia de 2002 =100) - Brasil - 1991 a 2008 ............................................................. 131

    GRFICO 4.3 - Aplicao da transformao logartmica na varivel PIBCC para o caso de

    Minas Gerais .............................................................................................. 168

    GRFICO 4.4 - Comportamento do PIBCC em funo das variveis regressoras para o ano 2000 ............................................................................................................ 169

    QUADRO 4.1 - Projetos de Parcerias Pblico-Privadas (PPPs) em andamento no Brasil,

    segundo as localidades ............................................................................... 151

  • x

    LISTA DE TABELAS

    TABELA 1.1 - Participao das unidades da federao no valor adicionado da construo,

    segundo as dez primeiras posies no ranking nacional - em % ................ 23

    TABELA 4.1 - Nmero de empresas de construo, por faixas de pessoal ocupado, salrios,

    retiradas e outras remuneraes, valor das obras e/ou servios da construo,

    segundo o Brasil e as grandes regies .......................................................... 94

    TABELA 4.2 - Emprego e salrio das empresas de construo, segundo pessoal ocupado, grupos e classes de atividades da construo para o Brasil em 2006 ........... 95

    TABELA 4.3 - Dados gerais das empresas de construo com cinco ou mais pessoas

    ocupadas, segundo grupos de atividades, para o Brasil - valores mdios de 2002 a 2007 .................................................................................................. 97

    TABELA 4.4 - Clculo da razo de concentrao para as 100 maiores empresas [CR(100)]

    pelo mtodo MA para a indstria de construo brasileira no perodo de 1996 a 2006 ......................................................................................................... 100

    TABELA 4.5 - Receita bruta total e despesas com propaganda das empresas de construo,

    segundo grupos e classes de atividades da construo brasileira - valores mdios no perodo de 2002 a 2006 ............................................................ 102

    TABELA 4.6 - Produto interno bruto, valor adicionado a preos bsicos do total das

    atividades e da construo, segundo o Brasil - valores em R$ milhes a preos correntes e a preos de 2006 ........................................................... 107

    TABELA 4.7 - Valor adicionado bruto a preos bsicos e pessoal ocupado, segundo as

    principais atividades econmicas para o Brasil em 2006 ........................... 109

    TABELA 4.8 - Produto interno bruto, formao bruta de capital fixo e taxa de investimento para o Brasil no perodo de 1990 a 2008 ................................................... 110

    TABELA 4.9 - Impactos da demanda final sobre os elementos do valor adicionado e pessoal

    ocupado em relao a R$1,00 de produo para a construo civil e seus

    grupos componentes - 2002 - Efeitos Diretos e Indiretos (Multiplicadores do

    Tipo I) ........................................................................................................ 112

    TABELA 4.10 - Impactos da demanda final sobre os elementos do valor adicionado e pessoal

    ocupado em relao a R$1,00 de produo para a construo civil e seus

    grupos componentes - 2002 - Efeitos Diretos e Indiretos - Multiplicadores do Tipo II ........................................................................................................ 113

    TABELA 4.11 - Impacto da demanda final das atividades econmicas sobre o valor

    adicionado bruto a preos bsicos, os salrios e o pessoal ocupado,

    considerando-se os efeitos diretos, os diretos + indiretos e os diretos +

    indiretos + induzidos - em % do total das .................................................. 114

  • xi

    TABELA 4.12 - Estrutura de participao dos tributos para cada R$ 1,0 de produo na

    *construo civil - Brasil 2002 .................................................................

    115

    TABELA 4.13 - ndices de ligao de Rasmussen-Hirschman por atividades para os anos de 1992, 1998 e 2002 Brasil ........................................................................ 116

    TABELA 4.14 - Principais indicadores macroeconmicos do Brasil no perodo 1990 a 2008

    ..................................................................................................................... 119

    TABELA 4.15 - Indicadores do setor externo brasileiro no perodo de 1990 a 2008 - Valores em US$ milhes ......................................................................................... 121

    TABELA 4.16 - Dvida lquida do setor pblico consolidado, considerando os saldos em

    dezembro de cada ano - Valores em US$ milhes ..................................... 123

    TABELA 4.17 - Comparao por dcadas das principais variveis econmicas para o Brasil - Valores mdios anuais no perodo (Em %) ................................................ 128

    TABELA 4.18 - Valor adicionado a preos bsicos, valor da produo, pessoal ocupado e

    produtividade mdia para o Brasil - (Valores a preos de 2006) ............... 130

    TABELA 4.19 - Produto interno bruto a preos de mercado, formao bruta de capital fixo e

    taxa de investimento para o Brasil - Valores em R$ milhes a preos de 2006

    ..................................................................................................................... 132

    TABELA 4.20 - Estoque lquido de capital fixo total e da construo (residencial e no

    residencial), segundo a participao do setor privado e do setor pblico para

    o Brasil - Valores em R$ bilhes de 2000 ................................................. 133

    TABELA 4.21 - Investimentos previstos em infraestrutura, segundo o Programa de

    Acelerao do Crescimento - PAC (2007-2010) - Valores correntes em R$

    bilhes ........................................................................................................ 144

    TABELA 4.22 - Recursos para financiamento do saneamento bsico e urbanizao de favelas,

    segundo o Programa de Acelerao do Crescimento - PAC (2007-2010) para

    o Brasil - Valores em R$ bilhes ............................................................... 145

    TABELA 4.23 - Estimativas das necessidades de investimentos, segundo o Plano Nacional de

    Logstica e Transportes (PNLT) do Ministrio dos Transportes e do

    Ministrio da Defesa para o Brasil - Valores em R$ bilhes ..................... 147

    TABELA 4.24 - Estimativa de investimento mnimo em infraestrutura, por eixos estruturantes

    e projetos especficos, segundo o Plano CNT de Logstica Brasil para o total

    do Brasil - Valores em R$ bilhes ............................................................. 148

    TABELA 4.25 - Aspectos da relao entre as atividades de construo e o desenvolvimento econmico dos estados brasileiros, 1990-2006 .......................................... 157

    TABELA 4.26- Oramento pblico de capital (despesas correntes de investimentos em % do

    Total do Brasil) - Dados em R$ milhes de 2006 deflacionados pelo IGP-DI ..................................................................................................................... 162

    TABELA 4.27 - Financiamentos imobilirios para aquisio de imveis residenciais e

    comerciais, construo, material de construo e reforma ou ampliao, por

    unidades da federao, grandes regies e Brasil - Recursos do Sistema

  • xii

    Brasileiro de Poupana e Emprstimo (SBPE)- Em R$ milhes de 2006, deflacionado pelo IGP-DI .......................................................................... 163

    TABELA 4.28 - Participao das regies geogrficas e unidades da federao no valor

    adicionado bruto a preos bsicos da construo do Brasil - 1990, 1998, 2006 e mdia 1990-2006 - Em % ........................................................................ 167

    TABELA 4.29 - Matriz de correlao entre os regressores para 1990, 1994, 1998, 2000 e

    2006 ............................................................................................................ 171

    TABELA 4.30 - Resultados da regresso equao (13): modelo de dados em painel estimado com efeito aleatrio (EA) ........................................................................... 173

    TABELA 4.31 - Resultados da regresso equao (13): modelo de dados em painel com efeito

    aleatrio estimado pela tcnica FGLS ....................................................... 174

    TABELA 4.32 - Resultados da regresso equao (14): modelo de dados em painel estimado com efeito fixo (EF) ................................................................................... 175

    TABELA 4.33 - Resultados da regresso da equao (14): modelo de dados em painel com

    efeitos fixos estimado por variveis dummies para os interceptos diferentes entre as unidades da federao ................................................................... 177

  • xiii

    LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    2SLS - Two Stages Least Squares

    BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e Social

    Capes - Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior

    CBIC - Cmara Brasileira da Indstria da Construo

    CEE - Comisso de Economia e Estatstica

    CEMPRE - Cadastro Central de Empresas

    Centram - Centro de Excelncia em Engenharia de Transporte

    CGP - Comit Gestor da Parceria Pblico-Privadas Federal

    CIMit - Consumo de cimento da economia i no perodo t

    CNAE - Classificao Nacional de Atividades Econmicas

    CNT - Confederao Nacional do Transporte

    CONFit - Estado de confiana dos empresrios da economia i no perodo t.

    CR - Razo de concentrao

    CREDit - Volume de crdito para financiamento imobilirio da economia i no perodo t

    DER-UFV - Departamento de Economia Rural da Universidade Federal de Viosa

    dw - Teste de Durbin-Watson

    EA - Efeitos aleatrios

    EF - efeitos fixos

    EKit - Formao de capital existente em construo da economia i no perodo t

    EMgC - Eficincia marginal do capital

    FAT - Fundo de Amparo ao Trabalhador

    FBCF - Formao Bruta de Capital Fixo

    FGLS - Feasible Generalized Least Squares

    FGV/IBRE - Fundao Getlio Vargas/Instituto Brasileiro de Economia

    FHC - Fernando Henrique Cardoso

    FJP - Fundao Joo Pinheiro

    Planhab - Plano Nacional de Habitao

    FSE - Fundo Social de Emergncia

    Funasa - Fundao Nacional de Sade

    GMM - Mtodo Generalizado de Momentos (Generalized Method of Moments)

    IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

    IDH - ndice de Desenvolvimento Humano

    IPCA - ndice de preos ao consumidor ampliado

  • xiv

    IPEA - Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada

    IPI - Imposto sobre produtos industrializados

    IR - Imposto de renda

    Lucroit - Margem de lucratividade das empresas de construo da economia i no perodo t

    MA - Mtodo McCloughan e Abounoori

    MC - Ministrio das Cidades

    MD - Ministrio da Defesa

    MDIC - Ministrio do Desenvolvimento, Indstria e Comrcio Externo

    MPC - Margem preo-custo

    MQGF - Mnimos Quadrados Generalizados Factveis

    MQO - Mnimos Quadrados Ordinrios

    MQVD - Mtodo de Mnimos Quadrados com Variveis Dummies

    MT - Ministrio dos Transportes

    OGU - Oramento Geral da Unio

    OPit - Oramento pblico de capital da economia i no perodo t

    PAC - Plano de Acelerao do Crescimento

    PBL - ndices puros relativos de ligao intersetorial para trs

    PBQP-H - Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade no Habit

    PEA - Populao economicamente ativa

    PFL - ndices puros relativos de ligao intersetorial para frente

    PIB - Produto Interno Bruto

    PIBCC - Produto Interno Bruto da Construo

    PIBCCit - Produto Interno Bruto da construo da economia i no perodo t;

    PIBit-1 - Renda agregada com defasagem temporal t-1 da economia i no perodo t;

    Planhab - Plano Nacional de Habitao

    PNLT - Plano Nacional de Logstica e Transportes

    POPit - Crescimento da populao da economia i no perodo t

    PPAs - Planos Plurianuais de Ao

    PPE - Polticas de Planejamento Econmico

    PPPs - Parcerias Pblico Privadas

    PTL - ndices puros relativos de ligao intersetorial total

    SBPE - Sistema Brasileiro de Poupana e Emprstimo

    SEBRAE - Servio Brasileiro de Apoio s Micro e Pequenas Empresas

    Sebrae-MG - Servio Brasileiro de Apoio s Micro e Pequenas Empresas de Minas Gerais

    SEBRAE-SP - Servio Brasileiro de Apoio s Micro e Pequenas Empresas de So Paulo

    SELIC - Sistema Especial de Liquidao e Custdia

  • xv

    SELICit - Taxa de juros bsicos da economia i no perodo t

    Seplag-PE - Secretaria Planejamento e Gesto

    SFH - Sistema Financeiro da Habitao

    SFI - Sistema de Financiamento Imobilirio

    Sinduscon-MG - Sindicato da Indstria da Construo no Estado de Minas Gerais

    SNH - Secretaria Nacional de Habitao

    SNIC - Sindicato Nacional da Indstria de Cimento

    STN - Secretaria do Tesouro Nacional

    TG - Teoria Geral

    TR - Taxa Referencial

    UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais

    URV - Unidade Real de Valor

    VA - Valor Adicionado Bruto

  • xvi

    RESUMO

    TEIXEIRA, Luciene Pires, D.Sc., Universidade Federal de Viosa, novembro de 2009. A

    indstria de construo brasileira sob a tica da demanda efetiva. Orientador:

    Marcelo Jos Braga. Coorientadores: Ftima Marlia Andrade de Carvalho e Jos Maria

    Alves da Silva.

    O escopo deste estudo analisar o setor da construo brasileira, identificando o

    impacto das variveis econmicas e estruturais consideradas sustentculos do produto setorial

    nas economias estaduais, no perodo 1990 a 2006. Busca-se caracterizar sua estrutura

    produtiva, analisar a trajetria do produto setorial no contexto da poltica macroeconmica do

    perodo e identificar a importncia dos gastos do Estado na estabilidade do produto setorial,

    avaliando os reflexos das polticas governamentais de incentivo ao setor no crescimento das

    economias estaduais. A indstria de construo um setor-chave na estrutura da economia

    brasileira, com fortes efeitos de encadeamento produtivo e importantes multiplicadores que

    so estabilizadores de renda e emprego. Tais encadeamentos intersetoriais indicam que a

    construo fornece significativo estmulo ao crescimento do produto nacional. Alm disto,

    seus produtos finais aumentam a infraestrutura econmica, promovendo benefcios

    permanentes sobre a produtividade sistmica e o padro de bem-estar social. Portanto, um

    setor que se qualifica como poderoso instrumento de polticas governamentais e que deveria

    ser considerado prioritariamente nas decises pblicas e nos programas de desenvolvimento

    sustentado e dinmico. O sistema terico proposto por Keynes capaz de explicar as

    flutuaes no produto da construo brasileira nas duas ltimas dcadas, apontando as

    polticas macroeconmicas neoliberias adotadas no Brasil como responsveis pelo baixo

    desempenho setorial. No caso das economias estaduais, as oscilaes no produto da

    construo refletem as estratgias fiscais restritivas e o volume e condies de crdito

    inadequados aos investimentos de longo prazo, resultantes do crescimento econmico instvel

    e da crise fiscal e financeira dos governos. O enfraquecimento do papel do Estado como

    promotor do desenvolvimento econmico ps em xeque o desempenho da construo

    nacional no perodo considerado.

  • xvii

    ABSTRACT

    TEIXEIRA, Luciene Pires, D.Sc., Federal University of Viosa, November, 2009. The

    Brazilian construction industry analysed by the effective demand perspective.

    Adviser: Marcelo Jos Braga. Co-Advisers: Ftima Marlia Andrade de Carvalho and

    Jos Maria Alves da Silva.

    The scope of this study is to analyze the Brazilian construction sector, identifying the

    impact of structural and economic variables which are considered basic to sustain the

    construction product in the State economies in the period 1990-2006. Its aim is to characterize

    its productive structure, review the sectorial product trajectory in the context of

    macroeconomic policy and identify the importance of State expenditures in sectorial product

    stability, evaluating the results of governmental policies in stimulating the growth of

    construction industry in the State economies. The construct industry is a key sector in the

    Brazilian economy with strong linkage effects in the productive system and important income

    and employment multipliers. Such inter-sectorial linkages indicate that construction industry

    is a major sector to induce Brazilian economic growth. Besides, its final products increase

    economic infrastructure that result in permanent benefits over the systemic economic

    productivity and the social well-being. Therefore, it is a sector that presents itself as a

    powerful instrument to public policies and should be taken in priority as regarding

    government decisions and programs for aching dynamic and sustainable development. The

    theoretical framework proposed by Keynes is capable of explaining fluctuations in the

    Brazilian construction product in the last two decades and could be used to point out that the

    neoliberal macroeconomic policies adopted in the country are responsible for the low

    performance of the construction gross domestic product. Considering the case of the state

    economies, the fluctuations in construction production reflect restrictive fiscal policy

    strategies and low and inadequate credit conditions for long term investments. That takes

    place because of instable economic growth and the financial and fiscal crises of public sector.

    The loosen power of State as economic development promoter has put in check the Brazilian

    construction performance in the last two decades.

  • 1

    1 INTRODUO

    Na primeira dcada do sculo XXI, o pas vive ainda uma situao de baixo nvel de

    renda per capita, grandes desigualdades regionais, elevada concentrao de renda,

    significativas taxas de desemprego permeando todo o territrio nacional, alm de mltiplas

    carncias sociais, apesar de no faltarem na literatura brasileira diversas contribuies

    importantes para a teoria do desenvolvimento econmico, como as de Rangel (1953; 1954;

    1962), Bacha e Taylor (1980), Tavares (1983), Brum (1987), Furtado (1991), Magalhes

    (1996; 2009), dentre outras. A exposio de Brum (1987) sugere razes claras para o atraso

    econmico e social brasileiro, em virtude de um modelo de desenvolvimento capitalista

    perifrico, que privilegiou uma industrializao orientada para a dependncia externa de

    capital, tecnologia e mercados, com vis concentrador de renda e socialmente excludente.

    Neste sentido, Magalhes (2009) demonstra a necessidade de um aparelho analtico ajustado

    realidade das economias retardatrias, em que a sistemtica interveno do Estado de

    fundamental importncia para uma estratgia de desenvolvimento econmico. O

    reconhecimento da insuficincia dos mecanismos de mercado no que concerne ao timo bem-

    estar social e eliminao do atraso econmico induz justificao do papel do governo em

    polticas de desenvolvimento.

    A despeito da existncia de ampla anlise dos diferentes aspectos desse crescimento

    retardatrio e de propostas alternativas para polticas econmicas de desenvolvimento, o

    atraso econmico do Brasil evidente e se coloca como um problema fundamental a ser

    enfrentado.

    Contudo, h instrumentos pblicos capazes de reforar o nvel de crescimento

    econmico e priorizar os interesses de toda sociedade, a fim de elevar o padro de vida da

    populao brasileira. Um deles envolve a escolha de setores prioritrios e dinmicos,

    competentes em promover o crescimento da renda nacional, o fortalecimento do mercado

    interno e a gerao de empregos locais. Neste sentido, as decises cruciais nos planos de

    desenvolvimento econmico envolvem justamente as escolhas estratgicas por determinados

  • 2

    3setores de atividade, especialmente nos pases perifricos e menos dinmicos, como o Brasil,

    onde h abundncia de carncias e escassez de recursos ou meios de prov-las.

    A indstria de construo pode ser indicada como setor prioritrio na alocao de

    recursos escassos por seus efeitos econmicos e sociais positivos e seu papel fundamental na

    sustentao do desenvolvimento econmico e na gerao de empregos. No plano

    internacional, os estudos de Bon e Minami (1986), Ofori (1990), Finkel (1997), Hillebrandt

    (2000), Chiang, Tang e Leung (2001), Lean (2001), Myers (2004),dentre outros, apontam a

    construo como setor com forte vocao para polticas de desenvolvimento, ressaltando seu

    desempenho influente como vetor impulsionador do crescimento econmico.

    Uma razo para apontar a indstria de construo como setor importante e dinmico

    na estrutura de uma economia o tamanho do seu produto como proporo do valor

    adicionado total das atividades. Conforme destaca Finkel (1997, p. 5), uma das medidas

    chave do desempenho da indstria de construo a sua contribuio para o produto

    nacional. Segundo Myers (2004), a participao relativa do setor pode variar

    consideravelmente entre as vrias economias, dependendo do grau de desenvolvimento e da

    localizao geogrfica. Em pases mais desenvolvidos, o setor de construo tem peso maior

    no produto nacional, com participao mdia entre 5 e 8%, enquanto em economias menos

    dinmicas sua contribuio oscila entre 3 e 5%. Edmonds (1979) estabelece que uma

    participao mnima do setor de 5% no produto nacional pr-requisito para a sustentao do

    crescimento econmico em pases em fase de desenvolvimento, sendo corroborado por dados

    de estudo do World Bank (1984). De acordo com Hillebrandt (2000), a participao mdia da

    construo foi de 10% no produto mundial, considerando-se estatsticas para o ano de 1997.

    Nos EUA, o setor contribuiu com 9% para o Produto Interno Bruto (PIB), na Unio Europia

    (para a mdia dos 15 pases membros poca), este percentual foi de 10% do PIB e, na China,

    a parcela da construo chegou ao patamar de 20% do PIB naquele mesmo ano.

    A indstria de construo um vetor que move a demanda de muitos outros setores da

    economia e, s por isto, exerce um papel de grande relevncia na economia como um todo.

    Polenske e Sivitanides (1989) estudaram os encadeamentos da construo em vrios pases e

    argumentam que um motivo para considerar os investimentos no setor um importante

  • 3

    instrumento de poltica pblica a magnitude de sua contribuio para o crescimento

    econmico e a natureza de suas relaes intersetoriais. Bon e Minami (1986) demonstraram

    que a construo tem forte ligao com muitas atividades econmicas, de modo que o nvel de

    seu produto afeta direta e indiretamente muitas outras indstrias e, em ltima instncia, o

    produto nacional. Lean (2001), ao estudar a construo em Cingapura, mostrou que mudanas

    no produto da construo tm efeitos multiplicadores significativos - tanto diretos quanto

    indiretos - na economia, dado que muitos setores so receptores destes choques e propagam

    seus ajustes endgenos para todo o sistema produtivo. Estudo similar foi feito no Brasil por

    Teixeira e Carvalho (2006), que concluram que a construo um setor com fortes impactos

    diretos, indiretos e induzidos na economia nacional, indicando seu papel econmico e social

    como promotor do desenvolvimento. As autoras estimaram os ndices de ligao para trs e

    para frente da construo vis--vis outras atividades e estabeleceram que esta indstria um

    setor-chave na economia brasileira.

    Outra caracterstica marcante da indstria de construo, tanto em pases

    desenvolvidos quanto em desenvolvimento, o elevado efeito multiplicador do emprego, em

    funo das atividades intensivas em mo de obra. O uso intensivo de fora de trabalho

    humano nos locais das obras e instalaes uma marca registrada desta indstria. Como

    destaca Finkel (1997, p. 19), provavelmente a caracterstica do processo intensivo de

    trabalho mais do que qualquer outra caracterstica particular que realmente define a dinmica

    interna da indstria de construo. O local de trabalho da construo ainda permanece

    altamente intensivo em mo de obra.

    O argumento de que a indstria da construo deveria ser foco prioritrio das polticas

    governamentais tambm sustentado pela constatao de que ela complementa a base

    produtiva e cria externalidades positivas que aumentam a produtividade dos fatores de

    produo e incentivam as inverses privadas, sendo estratgica para o desenvolvimento

    socioeconmico de qualquer economia nacional ou local. Como afirmam Kennedy, He e Fung

    (2004, p. 15), a construo uma forma bem reconhecida de investimento. Um sistema com

    infraestrutura eficiente e bem mantida central para se ter vantagem competitiva regional.

  • 4

    Muitos estudos internacionais j investigaram o impacto da infraestrutura pblica no

    crescimento do produto, aumento da produtividade sistmica e desenvolvimento econmico-

    social. Aschauer (1989) encontrou uma relao direta entre a diminuio da produtividade

    norte-americana entre 1949-85 e a reduo da formao de capital pblico, dado o maior

    impacto deste ltimo comparativamente ao capital privado no produto do setor privado. Um

    grande nmero de estudos posteriores surgiram com o intuito de analisar a consistncia

    economtrica de tais resultados, a exemplo de Munnel (1992), Garcia-Mila e McGure (1992),

    Ramirez (1994), Erenburg (1993), Ghali (1997), entre outros. Alguns evidenciaram que os

    altos retornos proporcionados pelos investimentos pblicos em infraestrutura esto sujeitos a

    erros de estimao por simultaneidade e correlao espria, de modo que os resultados no se

    sustentam aps a aplicao de medidas economtricas ao modelo utilizado por Aschauer

    (1989). Em geral, contudo, as vrias anlises apontam que a relao entre infraestrutura

    pblica e crescimento econmico positiva, ainda que as estimativas das elasticidades-renda

    do produto sejam consideravelmente inferiores aos valores obtidos por Aschauer (1989).

    No plano nacional, diversos estudos confirmam a existncia de uma forte relao entre

    infraestrutura core (energia eltrica, telecomunicaes, rodovias, ferrovias, portos e

    aeroportos) e produto no longo prazo, mostrando claramente que os investimentos em

    infraestrutura causam (no sentido de Granger1) aumento no PIB brasileiro, embora tambm

    sejam influenciados pelo crescimento da economia. Garcia, Souza e Santana (2004)

    discutiram o papel da infraestrutura no crescimento econmico, identificando efeitos

    permanentes sobre o nvel de renda, padro de bem-estar e a produtividade da economia

    nacional. Rigolon (1996a, 1996b) tambm constatou o papel do investimento em

    infraestrutura como promotor do crescimento sustentado da economia brasileira. Ferreira e

    Malliagros (1998) confirmam para o Brasil a existncia de uma interdependncia entre

    infraestrutura e crescimento econmico, com a elasticidade-renda do produto oscilando entre

    0,55 e 0,61 no perodo 1950-95, sendo a energia eltrica, transportes e telecomunicaes os

    setores que influenciam mais intensa e positivamente o produto nacional.

    1 Teste de causalidade de Granger (1969). GRANGER, C. W. J. Investigating causal relations by econometric

    models and cross-spectral models, Econometrica, [s.l.], v. 34, p. 541-51, 1969.

  • 5

    A necessidade de construes, sejam residenciais, edificaes comerciais ou

    industriais, melhorias de infraestrutura bsica, entre outros, comum a todos os mdios e

    grandes centros urbanos, em particular, no Brasil, onde h muito por se construir. Segundo

    dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE), IBGE (2009b), o Brasil

    posiciona-se na 5 colocao no ranking mundial de maior contingente populacional, com

    187,228 milhes de habitantes, dos quais 83% so residentes em reas urbanas. O dficit

    habitacional brasileiro foi estimado pela Fundao Joo Pinheiro (FJP) em 7,935 milhes de

    novas moradias para o ano de 2006, com incidncia notadamente urbana (FJP, 2008). As

    estatsticas podem ser, no entanto, ainda maiores com o dficit alcanando 11,247 milhes

    de moradias se considerado um conceito mais amplo de moradias inadequadas, ou seja,

    domiclios com alguma carncia de infraestrutura bsica. Conforme definido pela FJP (2008),

    constituem-se domiclios inadequados por carncia de infraestrutura bsica os que no tm

    atendimento adequado de um ou mais dos servios bsicos considerados - iluminao eltrica,

    rede geral de abastecimento de gua, rede geral de esgotamento sanitrio ou fossa sptica e

    coleta de lixo. Estas cifras, quando desagregadas por unidades da federao, mostram grandes

    disparidades regionais e estaduais. Afora as necessidades habitacionais, a economia brasileira

    carece de constante crescimento do seu parque industrial e da infraestrutura econmica para

    fazer frente s crescentes demandas interna e externa e avanar para o patamar das grandes

    economias desenvolvidas.

    Dados das Contas Nacionais do IBGE, IBGE (2009a), mostram o tamanho e impacto

    direto da construo na economia brasileira: na mdia do perodo 1990-2008, participou

    diretamente para a formao do produto nacional com 6,0%. Em 2008, o setor contribuiu com

    5,1% para o valor adicionado bruto total, o que o posiciona na 6 colocao relat ivamente s

    principais atividades produtivas, tendo adicionado um valor setorial de aproximadamente R$

    125 bilhes. A construo tambm uma atividade importante na estrutura produtiva de

    algumas economias estaduais. Segundo as Contas Regionais do IBGE, IBGE (2008a), entre

    1990 e 2006, o setor tem peso relevante no produto agregado de pelo menos 10 estados

    brasileiros. A concentrao espacial da indstria construtiva, contudo, prevalece nas regies

    Sudeste e Sul, dado que as unidades federais pertencentes a estas regies ocupam as primeiras

  • 6

    colocaes do ranking de participao no produto da construo nacional, conforme Tabela

    1.1.

    TABELA 1.1 - Participao das unidades da federao no valor adicionado da construo,

    segundo as dez primeiras posies no ranking nacional - em %

    Unidades Mdia do

    da perodo 1990-2006 Posio

    Federao em %

    So Paulo 28,02 1

    Minas Gerais 13,30 2

    Rio de Janeiro 10,98 3

    Paran 8,19 4

    Rio Grande do Sul 5,11 5

    Bahia 4,94 6

    Pernambuco 3,78 7

    Cear 3,75 8

    Santa Catarina 2,81 9

    Gois 2,53 10

    FONTE: IBGE (2008a) - Contas Regionais do Brasil - 2002-2006 - ano de referncia 2002.

    NOTA: 1 Contas Regionais do Brasil - 2002-2006, com reviso da srie 1995-2001 (retropolao) e Contas

    Regionais do Brasil - 1985-2004. 2 A metodologia e a base de dados das Contas Regionais esto integradas srie das Contas Nacionais,

    com resultados compatveis com a Classificao Nacional de Atividades Econmicas (CNAE 1.0).

    No Brasil, o setor facilmente relacionado com a criao de empregos na economia.

    Conforme dados do IBGE (2009b), em 2006, o pessoal ocupado diretamente nas atividades de

    construo somou 5,933 milhes de trabalhadores, contingente que equivale a cerca de 6,4%

    do total das ocupaes em toda a economia brasileira e qualifica a construo como o 6 setor

    no ranking da gerao de empregos diretos. Destaca-se tambm o forte efeito empregador

    setorial nas unidades estaduais, onde h carncia de desenvolvimento econmico e elevados

    ndices de desemprego. Neste contexto, vale destacar a afirmao de Finkel (1997, p. 160):

    uma indstria que emprega mais de 5 milhes de pessoas necessariamente tem um papel

    crtico no bem-estar econmico da nao.

    Alm do valor estratgico da indstria da construo, na descrio de Carneiro e

    Vapassos (2003, p. 14) como uma ponta importante de um dos circuitos mais enraizados em

  • 7

    todos os ramos de uma economia moderna (comumente chamado de construbusiness2), esta

    indstria tem uma funo social relevante, de gerar emprego para uma massa de trabalhadores

    pouco qualificados e aumentar a qualidade de vida e o bem-estar da sociedade.

    No que tange ao mercado externo, pode-se dizer que no h dependncia da indstria

    de construo nacional de insumos importados. Uma caracterstica importante do setor seu

    reduzido coeficiente de importao. De acordo com dados da matriz do macrossetor da

    construo (FGV, 2005), os requerimentos de importao da indstria de construo brasileira

    alcanam 3,25% do valor de sua produo total e 4,67% do total das importaes nacionais. A

    pequena importao de materiais cumpre um papel importante de estabilizar os preos

    internos e aumentar o poder de barganha das empresas construtoras junto ao mercado

    fornecedor, nos segmentos onde h tendncia cartelizao e oligopolizao. Por outro lado,

    o Brasil ainda no se posiciona como um pas exportador na atividade de construo, embora

    as empresas nacionais apresentem significativo potencial quanto s exportaes de servios de

    engenharia, especialmente no segmento de obras de infraestrutura para engenharia eltrica e

    de telecomunicaes, na medida em que dispem de alto grau de competitividade em nvel

    internacional, conforme destaca Scherer (2007).

    Outra especificidade da construo a disperso geogrfica, em funo da prpria

    natureza de suas atividades, que exigem produo local de insumos pelas deseconomias de

    escala que os altos custos de transporte poderiam acarretar caso a produo fosse

    espacialmente concentrada. No Brasil, a construo conta com a presena de empresas de

    diferentes portes e especializao em todo territrio nacional, apesar de a maior convergncia

    das empresas ocorrer nas regies Sudeste e Sul, que somaram 72% do total dos empresas

    existentes em 2007. Esta peculiaridade contribui para propagar seus efeitos socioeconmicos

    a todas as unidades estaduais, ajudando a mitigar as desigualdades regionais (TEIXEIRA;

    BRAGA, 2009).

    Do exposto, depreende-se que a construo um vetor importante do desenvolvimento

    socioeconmico brasileiro e deveria ser considerada prioritariamente nas decises de polticas

    pblicas, dada sua relevncia tanto para os programas de desenvolvimento, quanto para a

    2 Definido como o macrocomplexo da construo brasileira, que compreende a construo propriamente dita, os

    materiais, mquinas e equipamentos e os servios associados ao setor de construo.

  • 8

    estabilizao da renda e gerao de emprego, alm de no impactar negativamente o balano

    de pagamentos pelo baixo coeficiente de importaes e uso de recursos genuinamente

    internos. O apoio ao setor tem relao direta com o crescimento econmico e

    desenvolvimento social de uma determinada regio, com incluso social e maior qualidade de

    vida.

    1.1 O PROBLEMA E SUA IMPORTNCIA

    Se o crescimento da construo tem efeitos econmicos e sociais significativos sobre a

    economia e pea fundamental para a sustentao do desenvolvimento, acompanhar seu

    desempenho e entender sua dinmica produtiva tarefa importante, na medida em que sua

    performance pode se refletir direta e indiretamente sobre muitos outros setores e influenciar

    variveis macroeconmicas relevantes, a exemplo do nvel de emprego e grau de

    competitividade do sistema produtivo.

    A despeito de seu papel reconhecidamente estratgico para o desenvolvimento

    econmico, a construo brasileira no tem sido analisada num contexto macroeconmico em

    que variveis como expectativas, estado de confiana na economia, disponibilidade de

    crdito, taxa de juros, dentre outros, contam como fatores fundamentais na determinao dos

    seus nveis de produto e emprego. Com isto, h uma lacuna a ser preenchida no que tange

    verdadeira apreenso da dinmica da construo e suas conexes com o crescimento

    econmico. A razo que ainda so escassas as anlises sobre a indstria construtiva numa

    perspectiva terica keynesiana, na qual os determinantes e o papel crucial dos investimentos

    em construo so enfocados pelo lado da demanda agregada.

    Um argumento legtimo desta pesquisa que o sistema terico elaborado por Keynes

    (1964) possui um nexo interno coerente, consistente, completo e capaz de explicar as

    flutuaes econmicas no produto da construo brasileira. Tais fundamentos tericos

    raramente tm sido usados para estudar a evoluo do setor, que, hegemonicamente, vem

    sendo apreciado pelo lado da oferta agregada, atravs de diferentes modelos de cunho

  • 9

    neoclssico para determinao da funo de produo agregada setorial e seus impactos na

    produtividade do sistema econmico.

    Analisar a dinmica da construo pelo prisma da demanda efetiva importante para

    entender as peculiaridades da indstria de construo e explicar os fatores determinantes de

    suas flutuaes cclicas.

    Uma caracterstica especial da construo a produo de bens de capital. Segundo a

    Metodologia das Contas Nacionais do IBGE, IBGE (1989), a Formao Bruta de Capital Fixo

    (FBCF) inclui os bens de capital novos e usados - quando utilizados pela primeira vez no pas,

    classificados em construes (residenciais, no residenciais e outras construes), mquinas e

    equipamentos e outros componentes (novas culturas permanentes, matas plantadas e animais

    reprodutores) (IBGE, 1989). O valor da produo da atividade de construo e o valor das

    construes como componente da FBCF so bem prximos, diferindo apenas pelo valor das

    obras e servios em reforma e manuteno que no deve ser includo no investimento, desde

    que no estenda a vida til do imvel. Assim, o produto da construo constitui-se, em sua

    grande maioria, de bens de capital, tais como construo industrial, edificaes comerciais e

    residenciais, vias frreas, estradas, pontes e viadutos, portos, aeroportos, obras de drenagem e

    saneamento, dentre outros.

    A demanda por essa categoria de produtos especficos (bens de capital) afetada direta

    e indiretamente pelas flutuaes econmicas, ao mesmo tempo em que propaga o prprio

    crescimento econmico. Esta viso confirmada por Tse e Raftery (2001), que argumentam

    que o setor de construo um dos componentes da demanda agregada mais susceptveis s

    flutuaes cclicas. Akintoye e Skitmore (1995) tambm ratificam que os investimentos em

    construo so dependentes do comportamento da demanda agregada, conforme citado por

    Tse e Ganesan (1997). Existe uma interao entre a instabilidade macroeconmica e as

    decises de investimento, devido ao carter pr-cclico das principais fontes de recursos

    destinados s inverses (privadas e pblicas).

    Na verdade, a volatilidade das atividades de construo no curto prazo derivada de

    vrios fatores. Para Finkel (1997), a instabilidade inerente economia de mercado, mudanas

    nas expectativas dos agentes econmicos, os dramticos movimentos cclicos nos nveis de

  • 10

    produto e emprego, a trajetria incerta dos investimentos e a prpria natureza da indstria de

    construo esto na base da instabilidade setorial. Segundo Hillebrandt (2000), as oscilaes

    no produto agregado da construo so endmicas, causadas em parte pelas flutuaes da

    economia como um todo e tambm pela prpria natureza dos seus produtos finais.

    Dentre as muitas especificidades da indstria de construo, destacam-se a localizao

    geogrfica; a heterogeneidade dos seus processos produtivos e produtos finais; a produo de

    bens de raiz e de bens pblicos; a diviso geral dos projetos de construo em vrios

    componentes e nveis de operao; a utilizao intensiva de mo de obra com contratos

    salariais protegidos por sindicatos com grande representatividade em suas bases de atuao

    territoriais; e contratos de execuo de obras customizadas (com caractersticas voltadas para

    atendimento da demanda do consumidor final), rigidamente estabelecidos a priori. Deste

    modo, cada investimento adicional em construo representa a elaborao de um novo projeto

    (ou planta), que ocorre em diferentes etapas e exige a contratao de diferentes classes de

    profissionais, podendo demandar um tempo de maturao mais duradouro relativamente a

    outros investimentos em capital fixo, que podem ocorrer por meio de uma simples ampliao

    da capacidade instalada via compra de mquinas e equipamentos. Estas podem ser algumas

    das razes para a maior instabilidade da demanda de investimento na construo, proveniente

    de suas prprias caractersticas de produo.

    Portanto, se a indstria de construo apresenta peculiaridades, ela produz bens de

    investimentos por excelncia, determina o nvel da demanda agregada ao mesmo tempo em

    que afetada por ela, possui caractersticas estruturais especficas, sendo preciso estud-la

    num contexto macroeconmico e pelo prisma de um sistema terico que privilegie o lado da

    demanda. Nos modelos neoclssicos, a construo tem sido apreendida pelo lado da oferta

    (dependente exclusivamente da disponibilidade de mo de obra, capital e tecnologia), que

    desconsidera variveis chave como o mercado, expectativas, volume de crdito, juros, dentre

    outras.

    Alm disso, poucas anlises so focadas na performance setorial e nas complexas

    questes que a envolvem, com a preocupao de medir empiricamente as relaes que

    determinam os investimentos na construo. Esta questo de grande importncia na

  • 11

    atualidade, dadas as evidentes preocupaes com a desconcentrao do desenvolvimento

    regional e a crescente necessidade de gerao de emprego e renda. Como atestam Pinheiro,

    Sobreira e Rapini (2008, p 27), embora haja um relativo consenso sobre sua importncia [da

    construo], so raros os estudos, notadamente os de natureza setorial e regional, que

    procuram mensurar tal capacidade de alavancagem do desenvolvimento do estado.

    Na verdade, h poucos trabalhos econmicos que tm como foco destacar os aspectos

    estruturais e a importncia da construo brasileira a partir dos anos de 1990. Estudo realizado

    pela Fundao Joo Pinheiro (FJP), FJP (1984), apresentou diagnstico detalhado das

    caractersticas fundamentais da construo brasileira, embora limitado dcada de 70. A

    anlise de Chaves (1985) sobre o processo de desenvolvimento, a dinmica e a estrutura do

    setor de construo no Brasil restrita, da mesma forma, dcada de 70 e incio dos anos 80.

    Teixeira e Carvalho (2006), usando dados da matriz insumo-produto do macrossetor da

    construo elaborada pela FGV (2005), estudaram a construo brasileira, destacando suas

    interligaes com outras atividades econmicas e seus efeitos de transbordamento sobre a

    produo, renda, emprego e os tributos nacionais. Teixeira e Braga (2009) apresentaram um

    panorama geral da construo brasileira, com nfase na organizao industrial e estimativas

    para a concentrao neste mercado entre 1996-2004, traando inferncias sobre o desempenho

    econmico desta indstria luz do modelo Estrutura-Conduta-Desempenho.

    Pesquisa do Servio Brasileiro de Apoio s Micro e Pequenas Empresas de So Paulo

    (SEBRAE-SP), Sebrae- SP (2000), tambm apresentou um quadro geral do macros- setor da

    construo brasileira, segmentando-o em seis cadeias de produo e detalhando

    especificamente as micro e pequenas empresas no setor de construo paulista.

    Cardoso et. al. (2002) usaram dados do construbusiness, estimados pela Fiesp/Ciesp

    em 2001, para medir as mudanas tcnicas da cadeia produtiva da construo habitacional no

    Brasil, cujo estudo, realizado na Escola Politcnica da Universidade de So Paulo e inserido

    no Programa Brasileiro de Desenvolvimento Tecnolgico Industrial do Ministrio do

    Desenvolvimento, Indstria e Comrcio Externo (MDIC), visa a apontar um cenrio de

    desenvolvimento tecnolgico desejvel para este segmento no perodo 2003-2013.

  • 12

    Silva (2007) analisou o cluster da construo em Minas Gerais com a preocupao

    central de identificar as caractersticas de toda a cadeia produtiva, os atributos e a forma de

    organizao de suas empresas, com nfase na anlise das prticas de gesto do conhecimento

    e no nvel de desenvolvimento das redes de informaes e inovaes. Concluiu-se que as

    empresas de construo tm caractersticas intrnsecas, pela especificao nica de cada novo

    projeto de construo, pelo carter nmade da produo e sua realizao somente por

    encomenda, o que as tornam diferentes das demais atividades e dificultam o desenvolvimento

    das redes de informaes e inovao. No entanto, a interdependncia das atividades ao longo

    da cadeia produtiva e das prprias empresas de construo, em termos de fluxos de compra e

    venda de bens e servios, permite estabelecer canais importantes para a disseminao do

    conhecimento e a introduo de inovaes no setor. Pinheiro, Sobreira e Rapini (2008)

    investigaram as aglomeraes produtivas no setor de construo do estado do Par, utilizando

    o mtodo de componentes principais e as tcnicas da matriz insumo-produto para mensurar os

    efeitos de interligao setorial, e concluram que h aglomeraes em determinadas

    localidades do estado, mas que a construo apresenta baixo potencial para gerar impactos

    sobre a economia paraense.

    A despeito de todos esses estudos, no existem anlises focadas nos determinantes do

    produto da construo e suas relaes dinmicas com o crescimento econmico regional, a

    partir de 1990. Nesse contexto, insere-se a proposta de avanar os estudos sobre o setor da

    construo brasileira, numa perspectiva terica keynesiana, a partir da identificao dos

    fatores condicionantes dos investimentos setoriais, que possam contribuir para o entendimento

    da variao em seus nveis de produto e emprego. O maior conhecimento a respeito do setor e

    da dinmica de seus investimentos pode criar oportunidades para a atuao dos governos

    nacional e locais, seja atravs da alocao de recursos oramentrios, incentivos fiscais ou

    configuraes de parcerias pblico-privadas, possibilitando um maior nvel de

    desenvolvimento nacional e/ou regional. Como destacou Lean (2001), determinar as

    associaes entre o produto da construo e o crescimento da economia fornece subsdios aos

    formuladores de polticas pblicas, que usualmente aplicam medidas regulatrias sobre as

    atividades construtivas ou tomam decises de investimentos que influenciam o setor. Como

  • 13

    essas decises envolvem a alocao de recursos provenientes da sociedade, importante

    analisar o setor de construo e suas influncias no sistema econmico. Apontar os

    determinantes do nvel de produto e o posicionamento estratgico desta indstria nas

    economias regionais tem relevncia tambm nos objetivos maiores das polticas estaduais de

    desenvolvimento, face s peculiaridades desta indstria e da prpria economia.

    A urgncia da questo habitacional e de saneamento bsico no pas, em particular nos

    grandes centros urbanos, sem desconsiderar as precrias condies de infraestrutura core que

    ampliam cada vez mais o chamado custo Brasil, evidencia a necessidade de considerar

    prioritariamente o setor de construo nas propostas das polticas governamentais, tanto no

    plano nacional quanto estadual, tendo em vista seus efeitos socioeconmicos e polticos. Um

    amplo programa direcionado construo poderia impulsionar o crescimento da economia,

    com efeitos diretos na soluo de problemas sociais graves, via gerao de emprego em

    grande escala, aumento da renda dos trabalhadores de menor qualificao, melhoria das

    condies de bem-estar social pela diminuio dos dficits de habitao e saneamento bsico.

    O Plano de Acelerao do Crescimento (PAC) (2007-2010), que faz parte da agenda do atual

    governo federal, caminha nesta direo, haja vista a participao do setor de construo na

    dotao oramentria do referido programa, atravs de projetos de investimento em

    infraestrutura econmica com recursos pblicos e privados. Como destacam Silveira e

    Rathmann (2007), desde 1985, as Polticas de Planejamento Econmico (PPE) foram

    praticamente abandonadas pelo poder central, apesar de algumas tentativas de reedit-las,

    como nos Planos Plurianuais de Ao (PPAs) do governo Fernando Henrique Cardoso (FHC)

    e, mais recentemente, no lanamento do PAC do presidente Lula. O PAC, que prev

    investimentos em setores de base da economia brasileira, tendo como prioridade a aplicao

    de recursos em infraestrutura, sinaliza uma preocupao maior com o setor e sua importncia

    estratgica para a economia brasileira. O Plano dever resultar em um investimento total de

    R$ 503,9 bilhes at 2010. Sero destinados R$ 58,3 bilhes para a construo/manuteno

    de estradas, portos e aeroportos; R$278,4 bilhes para a ampliao e desenvolvimento de

    fontes de energia; e R$ 170,8 bilhes para o saneamento bsico e a habitao. Do montante

    orado inicialmente, R$ 67,8 bilhes provm de recursos oramentrios do governo central,

  • 14

    enquanto R$ 436,1 bilhes sero rateados entre empresas estatais, setor privado e estados da

    federao no caso destes ltimos, atravs de renncia fiscal nas suas respectivas fatias do

    Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e do Imposto de Renda (IR). Neste contexto, o

    PAC um exemplo de interveno governamental na economia, dados seus desdobramentos

    em termos de manipulao ativa da demanda agregada com fins de acelerao do crescimento

    econmico e gerao de emprego, fazendo escolhas estratgicas por determinados setores

    produtivos.

    Assim, os aspectos centrais que esto na base deste trabalho so investigar os fatores

    determinantes do produto da construo e analisar a sua trajetria nas economias nacional e

    estaduais no perodo 1990-2006. Partiu-se da constatao de que os investimentos na indstria

    da construo produzem significativos benefcios para a economia como um todo, pelos seus

    efeitos positivos sobre o crescimento do produto agregado e, como consequncia, sobre a

    gerao de emprego.

    1.2 OBJETIVOS

    1.2.1 Objetivo Geral

    Analisar o setor da construo, identificando o impacto das variveis econmicas e

    estruturais na formao do produto setorial nas economias estaduais, no perodo 1990 a 2006.

    1.2.2 Objetivos Especficos

    Caracterizar a estrutura produtiva da construo brasileira, avaliando as

    especificidades tcnicas e econmicas de suas atividades;

  • 15

    Analisar a trajetria do produto setorial no contexto da poltica macroeconmica do

    perodo;

    Identificar a importncia dos gastos do Estado na estabilidade do produto da

    construo e os reflexos das polticas governamentais de incentivo ao setor no

    crescimento das economias estaduais, entre 1990 e 2006; e

    Verificar comparativamente o desempenho e importncia das atividades de construo

    no desenvolvimento das economias estaduais , entre 1990 e 2006.

  • 16

    2 REFERENCIAL TERICO

    2.1 A TEORIA KEYNESIANA E A CONSTRUO

    A abordagem terica de Keynes (1964) uma dentre uma diversidade de orientaes

    plausveis no campo da cincia econmica, que, sendo a priori uma cincia social e moral,

    permite um processo de apropriao terica seletiva por parte do pesquisador no intuito de

    demonstrar sua proposio central. Heilbroner (1984, p. 2) pondera que economistas

    discordam porque so animais polticos e porque a prtica da economia, como qualquer outra

    anlise social, realizada por meio de suposies e preposies polticas de seus

    protagonistas. Para analisar os determinantes dos investimentos na construo e seu papel

    como motor do crescimento econmico nacional e regional, toma-se como base a teoria

    keynesiana da demanda efetiva. Na viso de Finkel (1997), a estrutura terica proposta por

    Keynes (1964) serve como um guia para entender a dinmica da indstria de construo.

    Conforme esclarece o autor: a doutrina econmica keynesiana teve um efeito claro e

    profundo na indstria de construo e oferece uma terceira viso [somando-se s abordagens

    tericas de Smith e de Marx] da economia do setor. (FINKEL, 1997, p. 28).

    A opo pela abordagem keynesiana justifica-se por vrios motivos. Esta estrutura

    terica mais ampla fornece subsdios adequados apreenso da dinmica do setor da

    construo e de suas conexes com o crescimento econmico. Compartilhando a viso de

    Scherer (2007), a construo encerra processos produtivos complexos e multidimensionais,

    com distintas etapas e elementos, constituindo um intrincado leque de variveis a serem

    consideradas, especialmente se o espao de atuao envolver diferentes pases e regies. A

    indstria da construo, por suas especificidades, deve ser estudada num contexto

    macroeconmico, em que variveis como expectativas empresariais, perspectivas de

    crescimento estvel, taxa de juros, sistema financeiro com polticas de crdito adequadas,

    gastos autnomos de consumo e do setor pblico, sistema tributrio eficiente, dentre outras,

    exercem papel fundamental na determinao dos seus nveis de investimento, produto e

  • 17

    emprego. Conforme esclarece Davidson (1988), todas as discusses dos problemas

    macroeconmicos que envolvem investimentos, crescimento econmico, emprego, produo,

    acumulao de capital e moeda devem abarcar uma anlise de tomadas de deciso sob

    condies de incertezas e expectativas para que sejam relevantes para polticas sociais.

    O sistema keynesiano, como unidade de anlise, est baseado em fundamentos e

    premissas substancialmente distintos da atual ortodoxia (seja no campo da micro ou da

    macroeconomia), no sendo possvel compatibiliz-los sem correr o risco de uma leitura

    empobrecida dos ensinamentos originais de Keynes. Uma manifestao clara de tal

    incompatibilidade a sua distinta teoria do capital, do dinheiro e da taxa de juros, reas em

    que o marginalismo ainda no resolveu um manifesto conjunto de problemas conceituais.

    Da perspectiva terica keynesiana, a indstria da construo pode ser analisada pelo

    lado da demanda agregada e no da oferta agregada. Admitida a grande diversidade dos

    produtos finais da construo (essencialmente bens de capital), difcil justificar o uso de

    uma nica funo de produo agregada para explicar uniformemente bens, por definio, no

    homogneos. Ainda, como explica Finkel (1997), em muitas etapas de sua produo no h

    como substituir o fator trabalho pelo capital. Apesar de avanos considerveis em

    mecanizao e do uso de equipamentos na construo, a substituio dos fatores produtivos

    est restrita a algumas etapas das obras e a alguns segmentos especficos (notadamente a

    construo pesada), permanecendo os canteiros de obra, processos de instalao,

    planejamento e design, dentre outras etapas, claramente dependentes do trabalho humano.

    Outro ponto a ser destacado a estrutura econmica dual da construo, na qual

    coexistem e competem grandes e mdias unidades produtivas (com elevada relao

    capital/produto e alto grau de tecnologia incorporada) com uma maioria absoluta de micro e

    pequenas empresas (essencialmente intensivas em mo de obra). H, portanto, uma enorme

    diversidade na organizao industrial do setor, e representar todas as diferentes unidades de

    capital por uma funo de produo agregada seria incompatvel com a estrutura deste

    mercado. Alm da diversidade, os bens de capital tm outras importantes caractersticas, que

    so sua durabilidade e no-maleabilidade de uso, de modo que para uma anlise consistente

  • 18

    de sua dinmica necessrio considerar a viso histrica do tempo e introduzir a dimenso da

    incerteza e das expectativas s decises econmicas empresariais.

    Nesse contexto, a proposta terica adotada neste trabalho afasta-se das novas teorias

    de crescimento econmico, subjacentes aos estudos que estimam a importncia da

    infraestrutura core na economia. Como destaca Arajo (1998), os novos modelos de

    crescimento3 da chamada New Growth Theory surgiram a partir de meados dos anos 80,

    incorporando abordagem tradicional neoclssica temas como retornos constantes e

    crescentes de escala, concorrncia monopolstica, mudana tecnolgica endgena e

    externalidades positivas geradas pela acumulao de fatores de produo reproduzveis.

    Contudo, seus elementos constitutivos permanecem em conformidade com a estrutura lgico-

    terica neoclssica, cabendo destacar: i) fundamentos microeconmicos, como funo de

    utilidade, substitutibilidade entre fatores produtivos e funo de produo; ii) problemas de

    otimizao intertemporal; iii) propriedades de esttica comparativa; iv) tratamento prioritrio

    ao lado da oferta; v) soluo de equilbrio para a taxa de crescimento do produto natural; vi)

    pressupostos como certeza e racionalidade dos agentes econmicos; vii) homogeneidade na

    produo dos bens; e viii) viso no cronolgica do tempo. Uma caracterstica definidora

    destes modelos que o progresso tecnolgico (endgeno) a varivel-chave para entender o

    crescimento econmico sustentado, ignorando aspectos essenciais da demanda agregada.

    Alm disto, tais modelos so dirigidos pela poupana (saving driven), ou seja, sustentam que

    a funo investimento dependente da propenso a poupar da sociedade. Deste modo,

    contrastam com a abordagem de Keynes que prioriza o lado da demanda agregada, enfocando

    as decises privadas de investimento (influenciadas pelo estado de confiana da economia)

    como varivel-chave para entender a dinmica do crescimento econmico, combinadas com o

    paradoxo da parcimnia. Este ltimo estabelece que, quando se deseja promover o

    crescimento econmico, preciso fomentar a propenso a investir, dada a subordinao da

    poupana ao investimento na esfera macroeconmica.

    Outrossim, a indstria da construo no apresenta restries na oferta de seus

    insumos bsicos materiais de construo, bens e servios utilizados, mquinas e

    3 A exemplo do modelo linear de crescimento endgeno proposto por Rebelo (1991) e Barro e Sala-i-Martins

    (1995).

  • 19

    equipamentos, bem como mo de obra pouca qualificada e mesmo a mais especializada,

    amplamente produzidos e disponveis no Brasil. O setor sempre trabalhou abaixo de sua

    capacidade de utilizao e nunca apresentou gargalos de produo. Esta situao

    proveniente da prpria peculiaridade da indstria um setor com baixo coeficiente de

    importao - e tambm da ampla disponibilidade interna das matrias-primas e insumos

    usados pela indstria. Mesmo no cenrio predominante a partir dos anos 90, de abertura

    econmica e incremento das importaes, a indstria da construo nacional permaneceu com

    um pequeno impacto sobre a balana comercial. Segundo dados da matriz do macrossetor da

    construo (FGV, 2005), um aumento nas atividades de construo pressiona pouco as

    importaes brasileiras: apenas 4,67% do total dos insumos importados destinam-se ao setor.

    Assim, justificvel trabalhar com a suposio de uma curva de oferta agregada da indstria

    da construo com elevada elasticidade-preo, tendendo a uma trajetria horizontal no plano

    preo-produto, de modo que a determinao do nvel de produto agregado do setor

    plenamente ajustada via demanda agregada, que tem comportamento elstico em relao ao

    preo.

    Ao pressuposto ortodoxo-liberal de que os problemas socioeconmicos do Brasil esto

    atrelados falta de poupana prvia, carncia de capital e de outros recursos, ou mesmo a

    deficincias estruturais de oferta agregada, pretende-se contrapor o argumento de que o pas

    tem plena capacidade para a formao de capital e para sustentar um novo ciclo de

    crescimento econmico, desde que o motor da demanda efetiva seja acionado, impedindo que

    a renda agregada e o emprego permaneam muito abaixo de seus nveis potenciais. Faz-se

    necessrio, em princpio, contar com a participao ativa do sistema bancrio na composio

    do volume adequado de financiamento para que os investimentos se materializem. A partir

    disto e de um ambiente econmico-institucional favorvel, uma poltica macroeconmica

    ativa de manipulao da demanda agregada pode resultar na ampliao dos investimentos e do

    emprego no curto prazo. Os investimentos em construo, por exemplo, podem ser o piv

    para estimular um novo movimento de crescimento duradouro, por representar um aumento

    da demanda total via inverses privadas ou pblicas em infraestrutura econmica.

  • 20

    2.2 O SISTEMA KEYNESIANO: NATUREZA, MTODO, SENTIDO DE CAUSAO E CONDICIONANTES

    O mtodo de anlise keynesiano adota um sistema de equaes do tipo causal ou

    tipo decomponvel, em oposio teoria econmica marginalista que utiliza um sistema de

    equaes interdependentes e simultneas, no qual tudo depende de tudo mais,

    simultaneamente. Segundo Pasinetti (1974), a adoo do sistema de equaes do tipo

    causal uma virtude analtica da abordagem keynesiana, que o uso exaustivo do esquema

    marginalista de equilbrio geral fez quase desaparecer das anlises econmicas, diluindo

    muitas das inovaes apresentadas por ele.

    Keynes (1964) rechaa o mtodo de exposio simultneo e puramente matemtico

    como restritivo e incapaz de retratar adequadamente as relaes funcionais entre as variveis,

    ou seja, de refletir explicitamente a vinculao causal, sequencial e hierrquica entre as

    variveis e os fenmenos econmicos, tal como ocorrem no mundo real. Num sistema de

    equaes matemticas simultneas, todos os fatores aparecem mutuamente conectados, sem

    distino dos fatos determinantes (causas) e determinados (efeitos) e, portanto, sem explicitar

    a sequncia causal principal. Em oposio, Keynes (1964) prope um novo mtodo de

    investigao, uma forma alternativa de expor o funcionamento dos processos econmicos

    concretos, em que as variveis so ordenadas e vinculadas numa cadeia causal lgica, com

    relaes de determinao hierarquicamente pr-definidas e que prescindem de modelos

    matemticos sofisticados (AMADEO, 1989).

    A principal incgnita do sistema a ser determinada o volume de produo e, por

    consequncia, do emprego. E para explicar esta varivel-chave preciso identificar as peas

    intermedirias do mecanismo de determinao, ou seja, distinguir os fatores dependentes que

    esto entre os elementos independentes e a principal incgnita, a saber: o nvel de consumo e

    investimento agregados, a taxa de juros, o nvel geral de preos e o salrio real.

  • 21

    * Sistema tributrio;

    * Distribuio da renda;

    * Expectativas dos agentes econmicos;

    * Fatores psicossociais. * Nvel de produto

    e emprego (Ye N)

    * Preferncia pela liquidez (Md); * Salrio real (W/P)

    * Oferta monetria (Ms).

    * Custo de reposio dos

    bens de capital (Pk)

    * Expectativas de longo prazo.

    * Tecnologia;

    * Produtividade; * Nvel Geral de Preos (P)

    * Estoque de capital;

    * Taxa de salrios nominais. * Custo de Vida

    causalidade terica

    Taxa de juros

    Propenso a

    consumir

    Eficincia Marginal

    do

    Capital (EMgK)

    Propenso

    a

    investir

    OFERTA

    AGREGADA

    DEMANDA

    EFETIVA

    (consumo e

    investimento

    agregados)

    FIGURA 2.1 - Esquema analtico keynesiano

    FONTE: Adaptado de Silva (2006).

    Pode-se apresentar uma representao esquemtica de tal cadeia de causao, sem ter a

    pretenso de esgotar todo raciocnio keynesiano, mas que pode ser til para esclarecer a

    escolha das variveis (e o sentido de sua causao) adotadas no modelo analtico proposto

    neste trabalho. A Figura 2.1 mostra a lgica central do argumento, deixando claro que na

    viso keynesiana a taxa de juros de natureza monetria e tem condio secundria na

    determinao da propenso a investir. As expectativas empresariais que esto no centro da

    cadeia de causao, dado que interferem nos principais condicionantes da demanda efetiva - a

    propenso a consumir, a propenso a investir e a preferncia pela liquidez. E so os

    condicionantes da demanda efetiva (diferentes dos condicionantes da oferta agregada)

    exclusivamente os elementos que tm papel de destaque na determinao das variveis

    macroeconmicas relevantes - os nveis de produto, emprego e salrios reais (CHICK, 1993).

    Um sistema econmico uma rede de relaes causais ordenadas e sequenciais entre

    distintas variveis, que expressam categorias, conceitos e modo de determinao definidos no

    corpo terico que o sustenta. Assim, o conhecimento da sequncia causal ordenada entre as

    variveis econmicas cria bases cientficas para o uso de instrumentos de poltica econmica e

    aponta exatamente sobre quais fatores o Estado pode e deve intervir com maior eficincia e

    rapidez.

    Em resumo, podem-se sintetizar as principais contribuies tericas do sistema

    keynesiano: a quantidade de moeda da economia uma varivel independente determinada

    pelas autoridades monetrias; a taxa de juros um fenmeno puramente monetrio; o

  • 22

    investimento depende fundamentalmente das expectativas empresariais e subsidiariamente da

    renda e da taxa de juros; a taxa de salrios nominais no uma varivel flexvel no sistema

    econmico, determinados por contratos e estabelecidos atravs de negociaes sindicais; e os

    nveis de produo e emprego so variveis que dependem, em ltima instncia, dos

    determinantes da demanda efetiva. As condies da oferta agregada (na medida em que

    dependem da formao de capital e de fatores tecnolgicos) afetam, indiretamente, a

    eficincia marginal do capital (EMgC), pelos seus efeitos sobre as expectativas de longo

    prazo. O nvel geral de preos e o custo de vida - outras macrovariveis de grande interesse

    em anlises econmicas - dependem mais de fatores do lado da oferta, que tambm determina

    a produtividade do trabalho e outros componentes dos custos de produo.

    Todas essas proposies esto em desalinho com as premissas ortodoxas. A prpria

    seleo das novas variveis independentes e dependentes no sistema keynesiano implica uma

    contraposio ao sistema clssico. Mas, se o ponto de partida de Keynes (1964) foi uma

    crtica economia convencional, a culminncia foi um sistema terico alternativo com

    unidade interna, em que todos os conceitos e variveis apresentados esto coerentemente

    articulados num esquema geral que descreve as ligaes causais em sequncias ordenadas e

    hierarquizadas entre os fatores determinantes e determinados. H uma unidade nos diversos

    elementos fundamentais da Teoria Geral4 que, a despeito de proporcionar um sistema coeso

    de anlise, no permite sua absoro parcial sem prejuzo de uma interpretao viesada do

    pensamento original de Keynes. Conforme sustenta Kicillof (2008, p. 27):

    A Teoria Geral no contm s um modelo para estabelecer o nvel de emprego,

    dado que em suas pginas se desenvolvem tambm os fundamentos do

    marginalismo e se expe outros fundamentos diferentes. Nenhuma pea pode

    simplesmente se separar do resto e ser descartada. Ou a estrutura completa se sustenta ou cai por terra toda junta, como uma pea s.

    O sistema terico de Keynes (1964), alm de questionar e colocar em xeque os

    fundamentos da economia clssico-ortodoxa, oferece um novo corpo conceitual para entender

    e explicar os mesmos fenmenos econmicos que careciam (e ainda carecem) de explicaes

    compatveis com o mundo real, apresentando um sistema de relaes causais coeso e coerente

    4 The General Theory of Employment, Interest and Money denominada ao longo do texto apenas como General

    Theory ou Teoria Geral (KEYNES, 1964).

  • 23

    que conecta as variveis econmicas relevantes, justificando-as luz das determinaes

    histricas. Ou seja, apresenta os fatores, em sua ordem causal, que influenciam na

    determinao da taxa de juros, salrio real, consumo, investimento, volume de renda e

    ocupao. E a partir da abre espao para a interveno governamental na determinao das

    macrovariveis relevantes (AMADEO; DUTT, 1987).

    2.2.1 Antecedentes histricos e tericos ao paradigma keynesiano

    Devido importncia do tempo histrico na concepo do pensamento de Keynes,

    faz-se mister retratar brevemente as alteraes profundas no sistema capitalista do final do

    sculo XIX e incio do sculo XX, pois delas derivam algumas das mais importantes

    inconsistncias tericas da escola econmica hegemnica poca apontadas nos fundamentos

    da Teoria Geral. E foi justamente sobre a crtica ortodoxia clssica que Keynes construiu o

    seu revolucionrio corpo doutrinrio, que abriga conceitos, argumentao e fundamentao

    lgica indissoluvelmente conectados entre si e diametralmente opostos ao estado de arte da

    teoria econmica do seu tempo. Este sistema terico, quando entendido como um todo e no

    apreciado como um mero modelo de determinao da renda e do emprego, totalmente

    incompatvel com as pressuposies da escola clssica (ainda hoje respaldadas pelos

    argumentos do mainstream).

    Kicillof (2008) alerta que Keynes chamou particular ateno para pelo menos trs

    aspectos principais que provocaram modificaes substanciais nos mecanismos econmicos

    vigentes a partir do incio do sculo XX: as alteraes na estrutura da classe capitalista, no

    mbito da classe trabalhadora e no sistema monetrio.

    O desenvolvimento acelerado da economia no sculo XIX resultou na conformao de

    grandes empresas, em tamanho, escala de produo e domnio de mercado. O avano da

    concentrao de capital e o aumento no tamanho das empresas desencadearam consequncias

    para a maneira como se decide o v