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Manifestação do ICMBio em processo de Licenciamento Ambiental –
Usina Hidrelétrica de Pedra do Cavalo
Maragojipe / BAJunho / 2017
Breve histórico• 1985 – Conclusão das obras da barragem de Pedra do Cavalo• 2000 - Decreto Federal s/n cria a Reserva Extrativista Marinha (RESEX) da
Baía do Iguape;• 2002 - Decreto Estadual outorga à empresa Votorantim Cimentos Ltda.
concessão para exploração de potencial hidráulico. – Contrato de cessão ANEEL 19/2002. – Licença de Implantação ao empreendimento (Resolução CEPRAM Nº 3030/02)• 2003 – Inquérito Civil Público MPF nº 1.14.000.000128/2003-83. Apurar os
possíveis danos da operação da UHE PC sobre as comunidades extrativistas.
Breve histórico• 2008 – Recomendação Conjunta MPF/MPE, para a renovação da licença ambiental:
"I - Providenciar obtenção da regular autorização do INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE - ICMBIO, responsável pela administração da RESEX do Iguape, observando e fazendo valer todas as condicionantes impostas;
II - Formar Grupo de Trabalho, integrado por representantes do IMA, ICMBio, IBAMA, INGÁ e CERB, para emissão de Termo de Referência (TR), contendo cronograma específico, para elaboração de estudos do meio físico e biótico, visando aprimorar os condicionantes da licença atual, agregando a estes o conhecimento tradicional, para avaliação da renovação ou não da licença de operação da usina hidrelétrica de Pedra do Cavalo. Para a adequada elaboração deste Termo de Referência serão considerados estudos anteriores, inclusive aqueles já realizados pelo próprio empreendedor (Grupo Votorantin) e por outros entes públicos e/ou privados. O TR, após sua elaboração, deverá ser submetido à apreciação da comunidade local e do Conselho Deliberativo da RESEX, para complementações e aprimoramento dos seus termos.
III - Fornecer respostas e divulgar os dados alusivos às solicitações efetivadas pela comunidade, entidades civis, conselhos e por outros órgãos públicos."
Breve histórico• 2009 (fevereiro) – Expira a licença ambiental• 2009 – Auto de Infração 2009-030054/TEC/AIMU-0616. Pelo qual o IMA
multou a Votorantim em R$ 150.000,00 (cento e cinquenta mil reais) pela mesma estar operando a UHE Pedra do cavalo sem a devida Licença Ambiental
• 2009 (setembro) – O IMA solicita à empresa, para continuidade da análise do processo de licenciamento ambiental, a apresentação do novo Plano Operativo da Usina Hidrelétrica - UHE Pedra do Cavalo
• 2009 (outubro) – O empreendedor apresenta Plano Operativo sem maiores detalhamentos: vazão média diária de 60 m3/s;
• 2010 (janeiro) – Reunião no IMA: ICMBio manifesta insatisfação com Plano Operativo proposto (Parecer Técnico 01/10 RESEX Baía de Iguape)
• 2010 (janeiro) – IMA solicita à Votorantim a apresentação de ajustes e complementações do Plano Operativo entregue ao órgão
Breve histórico• 2011 (dezembro) – Interrupção do projeto de incubação da cooperativa
COOPEMABAI. ICMBio e Conselho da RESEX não foram informados• 2012 – INEMA contrata equipe da UFBA para realização do “Estudo do
regime de vazões ambientais à jusante da UHE de Pedra do Cavalo – Baia do Iguape”
• 2013 (agosto) – INEMA solicita ao ICMBio a “autorização para o licenciamento ambiental” do empreendimento. ICMBio informa sobre a falta de estudos ambientais
• 2014 – UFBA entrega ao ICMBio a versão final do “Estudo do regime de vazões ambientais à jusante da UHE de Pedra do Cavalo – Baia do Iguape”
• 2014 – ICMBio inicia processo participativo de discussão do Licenciamento de Pedra do Cavalo no Conselho Deliberativo da RESEX Marinha Baía do Iguape
Breve histórico• 2015 – Parecer Técnico ICMBio - Análise do ICMBio sobre os estudos da
UFBA é dificultada, pois uma vez que não foram elaborados especificamente para analisar os impactos do empreendimento, suscitam uma série de questões técnicas e jurídicas.
• 2015 e 2016 – ICMBio dialoga com MPF e MPE apresentando suas preocupações com o licenciamento do empreendimento.
• 2016 – ICMBio indefere o pedido de autorização para o licenciamento ambiental da UHE Pedra do Cavalo.
Impactos da UHE Pedra do Cavalo na RESEX Baía do Iguape• Segundo os extrativistas beneficiários da RESEX Baía do Iguape, quando a
UHE PC passa a operar, são causados impactos que não se haviam visto anteriormente, mesmo quando da época da construção da barragem.
• Este argumento é corroborado pela literatura científica: “Genz, 2006”. Deste estudo destacamos:
“A operação da barragem para geração de energia elétrica na UHE Pedra do Cavalo, iniciada em 2005, simulada para a descarga de uma turbina (78 m³/s) e duas turbinas (156 m³/s), indicou importantes alterações na distribuição e penetração do sal no baixo curso do rio e Baía de Iguape quando comparadas à situação de operação da EMBASA após o período de cheia fluvial.
• O próprio Relatório Consolidado dos Programas Ambientais da UHE Pedra do Cavalo constata tais impactos.
Impactos da UHE Pedra do Cavalo na RESEX Baía do Iguape
In: Genz, F. Avaliação dos Efeitos da Barragem Pedra do Cavalo Sobre a Circulação Estuarina do Rio Paraguaçu e Baía de Iguape. Tese - INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS (Doutorado em Geologia), Universidade Federal da Bahia, 2006.
Impactos da UHE Pedra do Cavalo na RESEX Baía do Iguape
• Tais impactos foram apontados pelas comunidades extrativistas de forma detalhada na Resolução nº 07 de 13 de novembro de 2014 do Conselho Deliberativo da RESEX Marinha Baía do Iguape:
• “Alteração da dinâmica natural da salinidade na Baía do Iguape, causando impactos diversos nos ecossistemas, na pesca, mariscagem e no uso doméstico da água doce pelas comunidades tradicionais extrativistas;
• Redução relevante da dinâmica da cota do Rio Paraguaçu na porção à jusante da barragem, gerando o desaparecimento de extensas faixas de manguezais não mais sujeitos aos regimes de maré;
Impactos da UHE Pedra do Cavalo na RESEX Baía do Iguape
• Redução na capacidade de carreamento e depuração de poluentes originários de efluentes urbanos, causando eutrofização do ambiente, odor desagradável nas águas, o aparecimento de micoses, coceiras e a proliferação de algas como o “coentro” e a “cansanção” d’água, atrapalhando atividades turísticas, a pesca e a mariscagem, gerando ainda danos aos petrechos de pesca, ao rendimento desta atividade e à saúde dos moradores locais;
• Assoreamento do rio dificultando a navegação e o acesso a importantes pesqueiros da região;
• A substituição do substrato de coroas e praias (substituição de areia por lama) antes utilizadas tradicionalmente na pesca ou em atividades religiosas e de lazer nas comunidades;
Impactos da UHE Pedra do Cavalo na RESEX Baía do Iguape
• Consequente redução das populações de espécies de peixes e mariscos da Baía de Iguape;
• Redução do tamanho dos espécimes de peixes e mariscos na Baía do Iguape;
• Extinções locais de espécies como camarão mouro, papa-terra, langudinha, serrinha, garapau, bagre, barriga-mole, tapa, navalha, mirim-da-lama, pititinga, ostra, carapeba, merim, dentre outras;
• Adoção compulsória, por parte das populações tradicionais da Baía de Iguape, de petrechos de pesca com malhas reduzidas para garantir de forma mínima a sobrevivência econômica das famílias de pescadores e marisqueiras;
Impactos da UHE Pedra do Cavalo na RESEX Baía do Iguape
• Agravamento da situação econômica de pescadores e marisqueiras da Baía do Iguape, gerando uma imagem depreciativa sobre a viabilidade dos modos de vida tradicionais extrativistas;
• Desinteresse por parte de jovens e crianças das comunidades locais a dar prosseguimento nos modos de vida tradicionais extrativistas relacionados à pesca e à mariscagem” (Anexo I da Resolução nº 07 de 13 de novembro de 2014 – Conselho Deliberativo da RESEX Marinha Baía do Iguape).
Conclusões• O Processo desde sua origem foge do trâmite convencional, apresentando
uma série de vícios. Por mais que se desconsiderassem inconsistências processuais resultantes de diferenças de procedimentos entre os órgãos ambientais, vimos que os problemas abaixo apresentados impedem uma análise adequada dos impactos ambientais do empreendimento sobre a unidade de conservação gerida pelo ICMBio, ferindo o princípio da precaução que rege a normatização do licenciamento ambiental.
Conclusões• 9.1 – Fracionamento do licenciamento. Deve-se entender a represa de Pedra do Cavalo como um complexo
multifuncional, que tem seus diversos usos intimamente relacionados e interdependentes.
“Ocorre que a operação da Usina de Pedra do Cavalo está intimamente atrelada à operação do sistema de abastecimento de água para a cidade de Salvador e região fumageira, o que configura um grave complicador, já que o complexo de Pedra do Cavalo é tratado de forma fracionada no Licenciamento Ambiental. Desta forma, a EMBASA – que opera o abastecimento de água, e a VOTORANTIN – que opera a geração de energia pela UHE, figuram como responsáveis por distintos processos de licenciamento ambiental, dificultando com que os órgãos ambientais sugiram medidas integradas a ambos os empreendimentos.” (Parecer Técnico nº 01/2015 ICMBio/RESEX Baía do Iguape, grifo nosso)
Conclusões• Ou seja, mesmo que a Votorantim apresentasse um Plano Operativo
apenas para a UHE PC, este seria inócuo, uma vez que sofreria restrições e/ou intervenções impostas pelos órgãos responsáveis pelo abastecimento de água (EMBASA) e produção de energia (ANEEL), além da segurança da barragem (CERB).
• “Se o fracionamento da licença impossibilita ou mesmo dificulta prever os impactos decorrentes do empreendimento, como afirmado, ele deve ser questionado, condicionando, inclusive, a autorização a ser dada para o licenciamento.” (Parecer Jurídico nº 22/PGF/PFE/ICMBio/2016/PGDO)
• Seria necessário um licenciamento conjunto do complexo de Pedra do Cavalo, que permita avaliar os impactos cumulativos da barragem, captação de água e produção de energia, de forma que se permita obter um Plano Operativo Integrado relativo aos diversos usos do equipamento público.
Conclusões• 9.2 – Falta de classificação do empreendimento quanto à tipologia, porte
e potencial poluidor, contrariando a normatização estadual (ver Nota Técnica nº 02/2016/CR7/ICMBio, fls. 143-145 do Processo ICMBio nº 02125.000032/2012-76).
De acordo com a referida Nota Técnica, pelas normas estaduais, mesmo analisando o empreendimento de forma fragmentada, o mesmo seria passível de Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental - EIA/RIMA, mesmo quando se tratando de Licença de Regularização, o que não foi feito.
Conclusões• 9.3 – Falta de caracterização técnica do empreendimento.Não foram apresentadas as características mínimas do empreendimento que
permitissem compreender suas características operacionais, como por exemplo: as limitações de vazão mínima e máxima para turbinamento; altura de turbinamento e vertimento; cotas mínima e máxima para abastecimento humano e segurança da barragem, respectivamente.
Desta forma não são apresentados os impactos associados a tais características técnicas, ou a viabilidade de possíveis alternativas aos equipamentos e engenharia ora utilizados, como forma de redução dos impactos ambientais.
Conclusões• 9.4 – Falta de estudos ambientais específicos que analisem os impactos
ambientais do empreendimento sobre a RESEX Baía do Iguape, incluindo a comunidade beneficiária.
Não houve participação do ICMBio na elaboração do Termo de Referência para a contratação dos estudos da UFBA.
Não são apresentados dados sobre a qualidade de água do lago de Pedra do Cavalo, em especial sobre a qualidade nas cotas de vertimento e turbinagem da água.
Conclusões• 9.5 – Falta de proposta de monitoramento ambiental.Fundamental para analisar os impactos provocados pelo empreendimento ao
longo do tempo.Este deveria tomar como base monitoramentos ambientais pretéritos, como
o “Programa de manejo de ecossistemas aquáticos e de monitoramento limnológico e da qualidade da água e ictiofauna – UHE Pedra do Cavalo”, ou aos relatórios deste programa: 1) Relatório Consolidado – Maio/2006; 2) Relatório de Andamento – Campanha de Julho/2006; 3) Relatório Consolidado – Janeiro/2008.
Desta forma manteríamos uma série histórica de dados que possibilitariam uma melhor análise dos impactos ao longo do tempo.
Conclusões• 9.6 – Plano Operativo inconsistente.Os estudos apresentados limitam-se a fazer uma proposição de vazão
ambiental “ideal” (de acordo com a metodologia proposta), e não de operação do equipamento. É fundamental ressaltar que apenas um valor de vazão média diária não é suficiente para se determinar os impactos causados pela operação da UHE PC. Por exemplo, com a motorização atual da UHE PC, uma vazão média diária de 20 m3/s pode ser obtida utilizando apenas uma turbina (40 m3/s de vazão mínima) por 12 horas, ou, utilizando duas turbinas em potência máxima (80 m3/s de vazão máxima cada) por apenas 3 horas. Estas duas situações provocam impactos totalmente diferenciados para o meio ambiente.
Ainda, não se leva em consideração os demais usos (abastecimento de água) do complexo de Pedra do Cavalo (fracionamento da licença).
AUDIÊNCIA PÚBLICA AUDIÊNCIA PÚBLICA
USINA HIDRELÉTRICA DE PEDRA DO CAVALOUSINA HIDRELÉTRICA DE PEDRA DO CAVALO
Instituto Chico Mendes de Conservação da BiodiversidadeReserva Extrativista Marinha Baía do Iguape
Junho/2017
RESEX MARINHA BAÍA DO RESEX MARINHA BAÍA DO IGUAPEIGUAPE
Breve história das comunidades tradicionais da Baía do Iguape:
◦ Tupinambás como povos originários;◦ Início dos conflitos: escravização indígena;◦ Genocídio/migração dos Tupinambá;◦ Chegada de escravizados de África;◦ Troca de saberes entre africanos e seus descendentes
com os Tupinambá, principalmente sobre uso de recursos pesqueiros (canoas, petrechos, peixes, mariscos etc.).
RESEX MARINHA BAÍA DO RESEX MARINHA BAÍA DO IGUAPEIGUAPE
• Contexto de precarização dos povos tradicionais desde o Brasil Colônia, passando pela Constituição do Império em 1824, passando pela Proclamação da República em 1889 até os tempos atuais.
• Ausência crônica de garantia de direitos como direitos fundiários e trabalhistas;
• Falta de infraestrutura básica (saúde, saneamento, transporte, educação etc.).
Reivindicação de territórios
tradicionais
- Maus tratos (conflitos fundiários, violência no campo etc.)
- Péssimas condições de vida e trabalho (falta de saneamento, energia, saúde etc.)
- Autoafirmação enquanto comunidades tradicionais;- Reivindicação de territórios tradicionais (Quilombos e Reserva Extrativista)
1970 – 2017...
EscravidãoTrabalho Livre
alugado/empregado
- Migrações forçadas;
- Maus tratos;
- Péssimas condições de vida e
trabalho;
- Indivíduos como propriedade;
- Exclusão do direito a terras.
- Maus tratos;
- Péssimas condições de vida e trabalho;
- Indivíduos empregados com mesmo ex-senhor
(pouca mudança nas condições de trabalho);
- Exclusão do acesso e direito a terras por
concentração fundiária e precarização econômica.
Sec. XVI/XVII - 1888 1888 – 1970
RESEX MARINHA BAÍA DO RESEX MARINHA BAÍA DO IGUAPEIGUAPE
Neste contexto, é criada em 2000 a Resex Marinha Baía do Iguape, com o objetivo de “conservar o meio ambiente e promover o desenvolvimento sustentável das comunidades extrativistas, aliando o desenvolvimento socioeconômico à valorização da cultura e das tradições populares”.
Neste período (de 2000 até então) são publicados também os RTIDs dos quilombos da Salamina-Putumuju, São Francisco do Paraguaçu, Kaonge e Tabatinga, Jirau Grande, Guaruçu, Guerém, Baixão do Guaí e Porto da Pedra.
RESEX MARINHA BAÍA DO RESEX MARINHA BAÍA DO IGUAPEIGUAPE
Art. 18 da Lei Federal 9.985/00 que institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC) reza que as Reservas Extrativistas:
(...) tem como objetivos básicos proteger os meios de vida e a cultura dessas populações, e assegurar o uso sustentável dos recursos naturais da unidade.
Reivindicação de territórios
tradicionais
1970 – 2017...
EscravizaçãoTrabalho Livre
alugado/empregado
Sec. XVI/XVII - 1888 1888 – 1970
Garantia da reprodução física, social e cultural
das comunidades tradicionais no decorrer da
história centrada nos recursos e saberes
relacionados à pesca e mariscagem.
Família Beneficiária da Resex
“Família marisqueira, pescadora, artesã, saveirista, agricultora ou extrativista
vegetal que usa os recursos da RESEX de forma artesanal e familiar e que mora a pelo menos um ano e tem ancestralidade nas comunidades do entorno da RESEX, nos municípios de Maragogipe, Cachoeira
e São Félix”.
Quase totalidade da Resex é
composta por água do estuário e
manguezais.
Garantia da reprodução física, social e cultural das comunidades
tradicionais no decorrer da história depende da saúde ambiental
do Rio Paraguaçu e vice-versa.
SOBREVIVÊNCIA DAS COMUNIDADES
TRADICIONAIS E DE SEUS MODOS DE VIDA
SAÚDE AMBIENTAL DO RIO PARAGUAÇU
Defesa e conservação do
território
Garantia de recursos materiais e imateriais
Métodos mais sustentáveis de uso
dos recursos
Petrechos não predatórios
Cultura de relações horizontais e mais
comunais (foco no bem estar e não no lucro)
Luta contra agentes externos degradadores
PeixesMariscos
Artesanatos LazerReligião
“Bem viver”
Garantia da reprodução física, social e cultural das comunidades
tradicionais no decorrer da história depende da saúde ambiental
do Rio Paraguaçu e vice-versa.
SOBREVIVÊNCIA DAS COMUNIDADES
TRADICIONAIS E DE SEUS MODOS DE VIDA
SAÚDE AMBIENTAL DO RIO PARAGUAÇU
(BARRAGEM – USINA)
Defesa e conservação do
território
Garantia de recursos materiais e imateriais
Métodos mais sustentáveis de uso
dos recursos
Petrechos não predatórios
Cultura de relações horizontais e mais
comunais (foco no bem estar e não no lucro)
Luta contra agentes externos degradadores
PeixesMariscos
Artesanatos LazerReligião
“Bem viver”
• Resolução CEPRAM nº 145 de 12 de dezembro de 1988 autorizava operação da barragem que poderia promover as seguintes atividades:
- Controle de cheias- Abastecimento de água- Irrigação agrícola- Pesca e piscicultura- Navegação- Recreação e lazer- Geração de energia elétrica- Preservação dos recursos naturais
Histórico do Complexo Pedra do Cavalo
• Em 19 de novembro de 2001, VOTORANTIN CIMENTOS LTDA. adquiriu em leilão o direito de uso do bem público para aproveitamento hidrelétrico da barragem.
• Licença ambiental de operação da usina sai em 07 de janeiro de 2005 (Portaria CRA nº 5068).
• Em 2009, vence a licença ambiental e no novo pedido é solicitado ao ICMBio a autorização para o licenciamento, devido ao fato de a usina gerar impactos diretos à Resex.
• O ICMBio indefere a autorização e o MPF recomenda a interdição do empreendimento.
Breve histórico do licenciamento do Complexo Pedra do Cavalo
Da barragem à usina• Capacidade de vazão mínima de cada turbina alta (40 m³/s), gerando pulsos de vazão constante liberados por uma turbina durante poucas horas do dia para se chegar à vazão média diária de 10/6/3 m³/s, adotada como vazão sanitária para a jusante do Paraguaçu;
• No restante do dia, as turbinas permanecem sem funcionamento gerando longos períodos de vazão nula (de 21 a 22 horas), mais tempo do que ocorria no período de operação da vazão através das comportas (cerca de 19 horas).
Da barragem à usina
• O projeto original da UHE relata que a operação do empreendimento resolveria os longos períodos de vazão nula gerados pela barragem de Pedra do Cavalo;
“Com o funcionamento da usina, esta situação [longos períodos de vazão nula ] será eliminada com a regularização das vazões devido à geração de energia”.
Estudos de Impacto Ambiental - Votorantim. 2004. p. 5/13
Da barragem à usina• A Votorantim alega que está subordinada às determinações de vazão estabelecidas pelo governo do Estado (CERB e EMBASA), que prioriza o abastecimento de água para Salvador, Feira de Santana e Região Fumageira;
• O ICMBio considera que houve fracionamento do licenciamento ambiental, visto que o Complexo de Pedra do Cavalo (barragem + usina) funciona de forma integrada e o licenciamento ambiental é separado para cada um dos empreendimentos.
• Captação de água para abastecimento humano está limitada a uma cota alta do reservatório limitando a margem operacional do Complexo.
“Infelizmente, o estudo realizado com vista à motorização da barragem (Coelba/Odebrecht, 2001) também não levou em conta as características naturais do regime hidrológico do Rio Paraguaçu, muito menos a existência de um estuário a jusante”.
“Contemplaram, a jusante, somente as restrições de enchente às cidades de Cachoeira e São Félix (1.500 m³/s) e a vazão mínima de 10 m³/s, considerada como vazão sanitária, já adotada anteriormente pela EMBASA a partir de 1997”. (GENZ, 2006).
Da barragem à usina
Estuário à jusante = A Resex e toda a biota aquática e vegetações marginais, principalmente os manguezais, bem como toda a história, os modos de vida, a saúde e o bem estar das populações tradicionais extrativistas (5 mil famílias) beneficiárias da Resex.
Da barragem à usina
• Alterações da hidrodinâmica do Paraguaçu:
o Velocidadeo Profundidade e largura do leitoo Pulsos de inundaçãoo Tempo dos pulsos de inundação e secao Morte de manguezaiso etc.
Impactos socioambientais da UHE
• Geomorfologia
o Sedimentaçãoo Modificação de canais e margens (assoreamento)o Modificação de bancos de areiao Diminuição da disponibilidade de habitatso etc.
Impactos socioambientais da Impactos socioambientais da UHEUHE
• Qualidade da água e dos sedimentos
oComprometimento da depuração e carreamento de
efluenteso Salinização do estuárioo Eutrofização e proliferação de algas e esponjaso Proliferação de coral-solo Dermatites de contatooVertimento de águas não superficiaisoetc.
Impactos socioambientais da Impactos socioambientais da UHEUHE
• Pesca e mariscagem
oMortandade de peixes, caranguejos e mariscosoDiminuição do tamanho dos espécimesoExtinções locais (camarão mouro, papa-terra,
langudinha, serrinha, garapau, bagre, barriga-mole, tapa,
navalha, mirim-da-lama, pititinga, ostra, carapeba, merim
etc.)oRedução na rentabilidade da pesca
Impactos socioambientais da Impactos socioambientais da UHEUHE
• Pesca e mariscagem
oDesvalorização da atividade tradicional da pesca.oRedução compulsória das malhas de redes e gaiolasoUtilização compulsória de areia da Baía do Iguape
para comercialização (ex. Pilar)oEvasão de crianças e jovens das comunidades na
atividade de pesca artesanal e mariscagem.oPrecarização de grupos sociais vulneráveis (mulheres,
jovens e negros).
Impactos socioambientais da Impactos socioambientais da UHEUHE
• A ATUAL PLANTA DE OPERAÇÃO DA USINA
HIDRELÉTRICA É INVIÁVEL PARA GARANTIR A
CONSERVAÇÃO DOS RECURSOS DA RESEX,
INCLUSOS OS MODOS DE VIDA DE SUAS
POPULAÇÔES TRADICIONAIS...
Motivações principais constante Motivações principais constante em Parecer Técnico 01/2005 da em Parecer Técnico 01/2005 da Resex Resex
Parecer construído após diversas reuniões do Conselho Deliberativo da Reserva Extrativista.
... a menos que haja a alteração da planta/motorização da UHE para solucionar problema de períodos com vazão nula e garantir saúde ambiental do estuário;
o Trocar as duas turbinas por turbinas menores ou
o Criar sub-barragem à jusante da principal para regular vazões ou
o Elaborar qualquer outra proposta de viabilidade técnica que garanta os objetivos supracitados.
o Garantir captação de água de zona mais fótica;
Motivações principais constante Motivações principais constante em Parecer Técnico 01/2005 da em Parecer Técnico 01/2005 da Resex Resex
• Estudos de impactos ambientais realizados para a renovação da licença foram incipientes e inviabilizaram análise assertiva por parte dos técnicos do ICMBio (com base no Parecer Técnico da Resex).
o Execução do Building Block Methodology – BBM incompleto (principalmente nas análises de geomorfologia, ainda que apontada nas entrevistas);
o Não foi específico para analisar os impactos à Resex, não contemplando pontos de amostragens na região que, segundo GENZ (2006), é a mais impactada pela hidrelétrica (a própria Baía do Iguape).
o Prescrições de vazões ambientais foram baseadas em premissas/processos que nem sempre encontravam respaldo nos dados levantados ou em análises preditivas (simulações).
Argumentação adicional da Argumentação adicional da Procuradoria do ICMBioProcuradoria do ICMBio
ConclusãoConclusão• A hidrelétrica configura-se atualmente como o
empreendimento de mais relevante impacto
socioambiental na Resex, desestabilizando o equilíbrio
ecológico do estuário;
• A hidrelétrica de Pedra do Cavalo contribui para a
desestruturação dos modos de vida tradicionais de
pescadores e marisqueiras, beneficiando a Votorantim
com os lucros gerados pela produção energética e
deixando os prejuízos para as comunidades locais;
ConclusãoConclusão
• A atual planta e motorização da hidrelétrica inviabilizam
o estabelecimento de um hidrograma com vazões
adequadas (sem períodos nulos) para a conservação da
Resex e de suas populações tradicionais.
• Os estudos de impacto ambiental foram insuficientes
para embasar análises sobre todos os potenciais impactos
na Resex.
ConclusãoConclusão
• Consideramos que houve o fracionamento do
licenciamento ambiental da barragem/reservatório e da
usina.
• É inviável para a conservação da Reserva Extrativista
Marinha Baía do Iguape a operação da Usina Hidrelétrica
de Pedra do Cavalo da forma como está atualmente
estruturada/motorizada.
OPERAÇÃO DE PEDRA DO CAVALO
A Barragem de Pedra do Cavalo
• Localizada no Estado da Bahia, entre os
Municípios de Governador Mangabeira, Cachoeira e São Félix.
• Construção concluída em 1985.
• Idealizada com o objetivo de regularização de
vazão do Rio Paraguaçu, abastecimento
humano, irrigação e geração de energia.
• Responsável pelo abastecimento de água para
a população de Salvador, Feira de Santana e região fumageira, Muritiba e São Félix.
A UHE Pedra do Cavalo
• A Votorantim foi vencedora do Leilão realizado em 2001 pela ANEEL, recebendo a concessão de
uso de bem público para motorização da barragem Pedra do Cavalo (Contrato de Concessão nº
19, de abril/2002).
• A concessão previu a implantação de 2 turbinas com capacidade total de 160MW, conforme
estudos de viabilidade técnica disponibilizados à Votorantim. Esta capacidade equivale ao
abastecimento de até 690 mil habitantes com a energia entregue na região pelo Sistema
Interligado Nacional (sem restrições de nível de reservatório).
• Todas as características técnicas e restrições de operação foram estabelecidas pelo Poder
Concedente no Edital de Leilão e no Contrato de Concessão.
• O nível máximo operativo de montante é de 114,50m foi estabelecido em razão da necessidade
de controle de cheias para as cidades históricas de jusante (Cachoeira e São Félix) e considera o
vertimento limitado a 1500 m3/s de forma a evitar danos ao patrimônio histórico.
O papel da Votorantim
1. Controle do reservatório através da operação conjunta do vertedouro e das unidades
geradoras segundo regras de operação para amortecimento de cheias, abastecimento
humano, irrigação e atendimento a rede nacional de energia.
2. Manutenção das estruturas civis e eletromecânicas da barragem, incluindo aspectos
relacionados à Segurança da Barragem.
3. Previsão de vazões para controle de cheias (implantado e custeado pela Votorantim, de
acordo com o Termo de Ajuste para Licitação).
Relacionamento e hierarquia operacional
DEFINIÇÕES OPERATIVAS DEFINIÇÕES OPERATIVAS ENERGIA A SER GERADA ENERGIA A SER GERADA REGRAS DE OPERAÇÃO
DO RESERVATÓRIO
REGRAS DE OPERAÇÃO
DO RESERVATÓRIO
RESPONSÁVEIS RESPONSÁVEIS ONS/ANEEL ONS/ANEEL ÓRGÃO AMBIENTAL ÓRGÃO AMBIENTAL
EXECUTOR EXECUTOR VOTORANTIM VOTORANTIM
RESTRIÇÕES RESTRIÇÕES
LIMITES OPERACIONAIS
DO RESERVATÓRIO E DA
USINA, BEM COMO
CONDIÇÕES DO SISTEMA
ELÉTRICO NACIONAL
LIMITES OPERACIONAIS
DO RESERVATÓRIO E DA
USINA, BEM COMO
CONDIÇÕES DO SISTEMA
ELÉTRICO NACIONAL
SEGURANÇA DA
BARRAGEM, DAS
CIDADES E USOS
MÚLTIPLOS DO
RESERVATÓRIO
SEGURANÇA DA
BARRAGEM, DAS
CIDADES E USOS
MÚLTIPLOS DO
RESERVATÓRIO
Funcionamento de uma usina
Instalações de Pedra do Cavalo
2. Tomada d’água 2. Tomada d’água
1. Reservatório 1. Reservatório
4. Barragem 4. Barragem
6. Casa de
Força
6. Casa de
Força
5. Condutos
Forçados
5. Condutos
Forçados
3. Vertedouro 3. Vertedouro
7. Subestação 7. Subestação
Principais características técnicas
Gerador/Turbina
Queda Nominal 105 m
Vazão Nominal 85,2 m3/s
Potência Nominal 80MW
Vazão mínima 40 m3/s
Decisão do Operador Nacional do Sistema e responsáveis pelo
abastecimento público
RISCO PARA POPULAÇÃO ! RISCO PARA POPULAÇÃO ! RISCO PARA POPULAÇÃO !
Vazões médias anuais
Até 2004 operação da EMBASA. 2005 em diante operação da Votorantim
30,9
67,6
104,8
39,0
131,8
39,0
120,0
94,5
71,3
45,0
54,9
44,6 48,8
17,9
50,1
60,6 57,8
82,3
16,9
46,4
87,1
21,8
86,6
26,6
94,2
67,2 70,6
63,6
26,4
40,5
28,8 30,3
7,7 5,7
33,8 33,7
59,7
0,0
20,0
40,0
60,0
80,0
100,0
120,0
140,0
1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014 2016
Va
zão
[m
³/s]
Médias Anuais
VAZÕES MÉDIAS ANUAIS - PERÍODO DE TRANSIÇÃO
Afluência
Defluência
Nível x diferenças de vazões
Até 2004 operação da EMBASA. 2005 em diante operação da Votorantim
105,00
106,00
107,00
108,00
109,00
110,00
111,00
112,00
113,00
114,00
115,00
116,00
117,00
118,00
-20
-10
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
110
120
130
140
150
160
170
180
190
200
1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014 2016
Va
zão
[m
³/s]
Médias Anuais
VAZÕES MÉDIAS ANUAIS - PERÍODO DE TRANSIÇÃO
Nível
Diferença
Níveis para controle de cheias
Regra definida pelo estudo Intertechne (2001) e adotada pela SRH/BA
Turbinas replicando a mesma operação das comportas
Vazão de 66,1m³/s por 4 horas
Média do dia: 11 m³/s
0
10
20
30
40
50
60
70
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23
Va
zão
[m
³/s]
Horários (01/06/2004)
VAZÃO LIBERADA PELA COMPORTA - EMBASA
Vazão de 44,5m³/s por 6 horas
Média do dia: 11m³/s
0
10
20
30
40
50
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24
Va
zão
[m
³/s]
Horários (09/10/2007)
VAZÃO LIBERADA PELA TURBINA - VOTORANTIM
Conclusões
A UHE Pedra do Cavalo opera de acordo com limites e restrições impostos
pelos órgãos reguladores e ambientais.
A capacidade de turbinamento mínima da UHE é idêntica à capacidade
de vertimento mínima do vertedouro.
No período de operação da usina (2005-2016) verifica-se que o perfil de
vazão a montante é similar à vazão de jusante.
A operação do reservatório, em todos os períodos, manteve uma relação
adequada entre as vazões afluentes e defluentes.
Conclusões
A UHE tem a possibilidade de atender o regime de
vazões determinado pelos órgãos reguladores e
ambientais desde que respeitadas as
limitações técnicas.
Investimento Social
Atuação social em Pedra do Cavalo
CARACTERIZAÇÃO – AGENDA SOCIAL
Temas relevantes:
Educação
Geração de trabalho e renda
Governança comunitária
Histórico do investimento social 2005 - 2016
4 CULTURA (incentivo)
4 EDUCAÇÃO
9 PREVENÇÃO DE VIOLAÇÃO DE DIREITOS DAS
CRIANÇAS E DOS ADOLESCENTES
4 FOMENTO A CADEIAS PRODUTIVAS COM GERAÇÃO
DE RENDA
1 ESPORTE
1 TURISMO
Histórico do investimento social 2005 - 2016
APROXIMADAMENTE 10.000 BENEFICIÁRIOS
PROJETOS DE CURTO, MÉDIO E LONGO PRAZO
12 MUNICÍPIOS ABRANGIDOS (Antônio Cardoso, Cabaceiras do
Paraguaçu, Cachoeira, Conceição da Feira, Feira de Santana,
Governador Mangabeira, Maragojipe, Muritiba, Rafael Jambeiro,
Santo Estevão, São Félix e São Gonçalo dos Campos).
Investimento social 2017
4 EDUCAÇÃO (PVE em Maragojipe,
São Félix, Cachoeira e Governador
Mangabeira)
1 PREVENÇÃO À VIOLAÇÃO DE
DIREITOS DE CRIANÇAS E
ADOLESCENTES (Fortalecimento da
rede de proteção de Maragojipe)
Dúvidas
OBRIGADO
PROF. MOACYR SERAFIM JUIOR
CONCEITOS CLÁSSICOS EM LIMNOLOGIA
• O CONCEITO DO RIO CONTÍNUO PROPOSTO POR VANNOTE ET AL. (1980) PREVÊ QUE A MATÉRIA QUE ENTRA NO SISTEMA NOS TRECHOS DE CABECEIRA QUE NÃO É PROCESSADA NO LOCAL DEVE SER CARREGADA RIO ABAIXO E TOTALMENTE UTILIZADA PELAS COMUNIDADES AO LONGO DO RIO, DE FORMA QUE A DINÂMICA DO SISTEMA COMO UM TODO PERMANEÇA EM EQUILÍBRIO
• RESERVATÓRIOS EM ECOSSISTEMAS LÓTICOS ATUAM COMO AGENTES EFETIVOS DE DISTÚRBIOS, ALTERANDO, DESSA FORMA, OS CRITÉRIOS BÁSICOS DO CONCEITO DE RIO CONTINUO
CONCEITOS CLÁSSICOS EM LIMNOLOGIA
• O CONCEITO DE “SÉRIE DESCONTÍNUA” EM RIOS, ONDE A VAZÃO É REGULADA POR BARRAGENS. ESSE CONCEITO PREDIZ QUE O MATERIAL ORGÂNICO E PARTICULADO E OS NUTRIENTES NESSES RIOS RESPONDEM AO CONTROLE DE VAZÃO DA BARRAGEM, RESTABELECENDO-SE À MEDIDA QUE SE DISTANCIAM DO EIXO DA MESMA (WARD & STANFORD, 1983; STANFORD & WARD, 2001)
• A PRESENÇA DE RESERVATÓRIOS NO CONTÍNUO ORIGINAL DO RIO, PROVOCAM ALTERAÇÕES SOBRE A HETEROGENEIDADE TÉRMICA, CONECTIVIDADE, MATÉRIA ORGÂNICA PARTICULADA, ENTRE OUTRAS CARACTERÍSTICAS, AFETANDO A BIODIVERSIDADE LOCAL (BARBOSA, 1999)
Relação entre o tamanho e as alterações progressivas na estrutura e funcionamento dos rios. Legenda: MOPG = matéria orgânica particulada grossa; MOD = matéria orgânica dissolvida; MOPF = matéria orgânica particulada fina; P = produção; R = respiração. Fonte: modificado de Vannote et al. (1980).
ESTUÁRIOS• ESTUÁRIOS POR ESTAREM INTIMAMENTE
RELACIONADOS COM OS MANGUEZAIS E MARISMAS TÊM UM IMPORTANTE PAPEL ECOLÓGICO, COMO ABRIGO E CRESCIMENTO DE JUVENIS DE ESPÉCIES DE DIVERSOS AMBIENTES; E COMERCIAL COMO FONTE DE MARISCOS E PEIXES PARA ALIMENTAÇÃO HUMANA.
ESTUÁRIOSDENTRE OS PRINCIPAIS IMPACTOS E SUAS CONSEQUÊNCIAS QUE O HOMEM CAUSA NESSE AMBIENTE DESTACAM-SE:
•DESCARGAS DE EFLUENTES DOMÉSTICOS À EUTROFIZAÇÃO;
•DESPEJOS INDUSTRIAIS À CONTAMINAÇÃO POR METAIS;
•PESTICIDAS À CONTAMINAÇÃO POR SUBSTANCIAS TÓXICAS;
•CONSTRUÇÕES DE BARRAGENS À DIMINUIÇÃO DO APORTE FLUVIAL, AUMENTO DA SALINIDADE, CONCENTRAÇÃO DE POLUENTES NO ESTUÁRIO, PERDA DE HABITATS;
•DESMATAMENTO À ASSOREAMENTO DE CANAIS E PERDA DE HABITATS;
•EFLUENTES TÉRMICOS À PERDA DA DIVERSIDADE;
•URBANIZAÇÃO À PERDA DE HABITATS.
PRINCIPAIS IMPACTOS POSITIVOS
• PRODUÇÃO DE ENERGIA - HIDROELETRICIDADE
• RETENÇÃO DE ÁGUA LOCAL
• FONTE DE ÁGUA POTÁVEL E PARA SISTEMAS DE ABASTECIMENTO
• PROSPERIDADE PARA DIFERENTES SETORES DAS POPULAÇÕES LOCAIS
• CRIAÇÃO DE OPORTUNIDADES DE RECREAÇÃO E TURISMO
• PROTEÇÃO CONTRA CHEIAS DAS ÁREAS A JUSANTE
• ARMAZENAMENTO DE ÁGUA PARA PERÍODOS DE SECA
• NAVEGAÇÃO
• AUMENTO DO POTENCIAL PARA IRRIGAÇÃO
• PROMOÇÃO DE NOVAS ALTERNATIVAS ECONÔMICAS REGIONAIS
• AUMENTO DA PRODUÇÃO DE PEIXES POR AQUICULTURA
PRINCIPAIS IMPACTOS NEGATIVOS
• DETERIORAÇÃO DAS CONDIÇÕES DA POPULAÇÃO ORIGINAL
• PROBLEMAS DE SAÚDE PELA PROPAGAÇÃO DE DOENÇAS HIDRICAMENTE TRANSMISSÍVEIS;
• PERDA DE ESPÉCIES NATIVAS DE PEIXES DE RIOS;
• PERDA DE ÁREAS ALAGADAS E ALTERAÇÕES EM HÁBITATS DE ANIMAIS;
• PERDA DE BIODIVERSIDADE (ESPÉCIES ÚNICAS);
• PERDA DE TERRAS AGRÍCOLAS CULTIVADAS;
• POSSÍVEL DEGRADAÇÃO DA QUALIDADE HÍDRICA LOCAL, EM DECORRÊNCIA DE EUTROFIZAÇÃO;
• PERDA DE VALIOSOS RECURSOS HÍDRICOS E CULTURAIS;
• BARREIRA À MIGRAÇÃO DE PEIXES;
• PERDA DA BIODIVERSIDADE TERRESTRE
• INTRODUÇÃO DE ESPÉCIES EXÓTICAS NOS ECOSSISTEMAS AQUÁTICOS. IMPACTOS SOBRE A BIODIVERSIDADE AQUÁTICA. RETIRADAS EXCESSIVAS DE ÁGUA.
• ALGUNS RESULTADOS DO IET DA ÁGUA NO RESERVATÓRIO DA UHE PEDRA DO CAVALO, DEMONSTRAM QUE O RESERVATÓRIO ENCONTRA-SE EM NUM ESTADO EUTRÓFICO, JUNTAMENTE COM UM IMPORTANTE TRIBUTÁRIO O RIO DO FATO QUE TEVE A CLASSIFICAÇÃO NO ESTADO HIPEREUTRÓFICO, ESTA APRESENTAÇÃO PRELIMINAR INDICA A NECESSIDADE DE DIRECIONAMENTO DA DISCUSSÃO PARA A QUALIDADE DA ÁGUA QUE CHEGA À BAÍA DE IGUAPE E NÃO SÓ A DISCUSSÃO DA SALINIDADE COMO GRANDE ORIENTADOR DOS IMPACTOS DA BIOTA LOCAL.
COMO PODEMOS OBSERVAR NA FIGURA 49, A REGIÃO DO FUNDO DA BAÍA SEMPRE RETÉM MAIORES CONCENTRAÇÕES SAIS, EXCETO QUANDO HÁ UM FORTE VERTIMENTO COMO O OBSERVADO EM MARÇO DE 2007, E NÃO REPETIDO ATÉ O MOMENTO, COMO PUDEMOS OBSERVAR NO ESTUDO COMPLETO DE VAZÕES DO RESERVATÓRIO DE PEDRA DO CAVALO.
A SALINIDADE É DIRETAMENTE AFETADA PELA VAZÃO EFLUENTE DO RESERVATÓRIO DE PEDRA DO CAVALO, CONSIDERANDO ESTE PARÂMETRO COMO IMPORTANTE REGULADOR DA BIOTA LOCAL, DEVE TER RESPEITADOS OS LIMITES AMBIENTALMENTE SEGUROS PARA VARIAÇÃO DA SUA CONCENTRAÇÃO, DENTRO DO ACORDO OPERATIVO DO COMPLEXO PEDRA DO CAVALO, SENDO ESTE UM IMPORTANTE COMPONENTE DE IMPACTO NO MEIO BIÓTICO DA BAÍA DE IGUAPE.
MANGUE DA LINHA
MANGUE DE ZEQUINHA
MANGUE DO MEIO
MANGUE DO PORTO
MANGUE SOLTEIRO
MANGUE DA HORTA
BANCADAS DE CULTIVO
MANGUE DA ILHA
MANGUE PORTO DO MEL
MANGUE GRANDE
COROA DO SAVEIRO
MANGUE DO ZÉ HENRIQUE
MATA FOME
MANGUE MALHADA
MANGUE DA MIUDA
No período monitorado, foi coletado um total de 576 indivíduos de P. pectinatus cobrindo uma área de 60 m2 nos manguezais de Baixão do Guaí.
Histograma: Comprimento (mm) Normal Esperado
10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60
X <= Limites de Classes
0
20
40
60
80
100
120
No.
de
obs.
O valor médio obtido para peso total (concha + carne) na área amostrada foi de 11,87 g (EP±0,35).
Biomassa das LambretasBaixão do Guaí
Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev
Mês
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
50
Pes
o T
otal
(g)
Mean ±SE Min-Max
ASPECTOS LEGAIS• DESDE 1981, DE ACORDO COM A LEI FEDERAL 6.938/81, O
LICENCIAMENTO AMBIENTAL TORNOU-SE OBRIGATÓRIO EM TODO O TERRITÓRIO NACIONAL E AS ATIVIDADES EFETIVA OU POTENCIALMENTE POLUIDORAS NÃO PODEM FUNCIONAR SEM O DEVIDO LICENCIAMENTO.
• EMPRESAS QUE FUNCIONAM SEM A LICENÇA AMBIENTAL ESTÃO SUJEITAS ÀS SANÇÕES PREVISTAS EM LEI, INCLUINDO AS PUNIÇÕES RELACIONADAS NA LEI DE CRIMES AMBIENTAIS, INSTITUÍDA EM 1998:
• ADVERTÊNCIAS, MULTAS, EMBARGOS, PARALISAÇÃO TEMPORÁRIA OU DEFINITIVA DAS ATIVIDADES.
AUDIÊNCIA PÚBLICA:IMPACTOS AMBIENTAIS DA HIDRELÉTRICA
PEDRA DO CAVALO SOBRE A RESEX MARINHA BAÍA DE IGUAPE
Francisco José Bezerra Souto
Laboratório de Etnobiologia e Etnoecologia
Universidade Estadual de Feira de Santana
No rio e no mar: pescador na luta!!!No açude e na barragem: pescando a liberdade!!!
Hidronegócio: Resistir!!!Cerca nas águas: Derrubar!!!
Movimento dos Pescadores e Pescadoras Artesanais
CONFLITOS SOCIOAMBIENTAIS
Conflitos em torno do controle sobre os recursos naturais (Paul Little, 2001)
HIDRELÉTRICA PEDRA DO CAVALO
ÁGUA
AbastecimentoEMBASA
Pescadores e pescadoras da
RESEX
Geração de Energia
Votorantin
QUESTÃO SOCIAL QUESTÃO ECONÔMICA
QUESTÃO SOCIOAMBIENTAL
SOCIEDADEESTADO EMPRESA
ESTADO EMPRESASOCIEDADE
LEIS
Legislação trabalhista
Legislação penal
Legislação educacional
Legislação do trânsito
Legislação Ambiental
Legislação Ambiental
Decreto 99.274De Junho de 1990
Regulamenta a lei 6.938 que dispõe sobre A Política Nacional do Meio Ambiente
Capítulo IVDo Licenciamento das Atividades de recursos ambientaisArtigo 17. “A construção, instalação, ampliação e funcionamento
de estabelecimento de atividades utilizadoras de recursos ambientais... Bem assim os empreendimentos capazes sob
qualquer forma, de causar degradação ambiental, dependerão de prévio licenciamento do órgão estadual competente integrante
do SISNAMA, sem prejuízo de outras licenças legalmente exigíveis”
!?
!?
Será que Barragem + Hidrelétrica Pedra do
Cavalo geram Impactos ambientais?
As alterações das vazões ou da sazonalidade com que estas
chegam aos estuários podem gerar profundas modificações na
circulação e condições físico-químicas, como relacionado a seguir: a)Redução das vazões
De maneira geral, a redução das vazões pode resultar:
1)em maior extensão da intrusão salina e maior salinidade ao longo do
gradiente estuarino;
2) no aumento da altura da maré no estuário;
3)na formação de uma zona de turbidez máxima;
4)no aumento do tempo de residência no estuário, e consequente potencial de
degradação da qualidade das águas;
5) na redução do aporte de sedimentos, que pode implicar na alteração
de profundidades e da configuração da desembocadura, na perda de deltas
de maré, comunidades bentônicas e ambientes intermareais;
6) no aumento da concentração de poluentes e elementos patogênicos,
colocando em risco de contaminação a biota e os seres humanos;
7) na redução do aporte de material dissolvido e em
suspensão (nutrientes, matéria orgânica), que por sua vez influenciam na
quantidade de luz que penetra no ambiente e por isso afetam a produção de
fitoplâncton;
8) no aumento de macrófitas aquáticas, podendo mudar a cadeia trófica,
de pelágica para bentônica, bem como o balanço entre herbívoros e
detritívoros (Alber, 2002; Reddering, 1988; Sklar e Browder, 1998).
As modificações biológicas em estuários associadas à existência de barragens à montante foram:
1)o declínio dos manguezais (corte e a redução da dispersão das sementes) devido a redução das enchentes (Rubin et al., 1998);
2)a interrupção do movimento da biota aquática
3)a alteração na qualidade da água;
4)as flutuações no nível e vazão;
5)os efeitos adversos diretamente sobre a população de peixes (Patty et al., 1999);
6)o decréscimo na abundância de peixes (Plumstead, 1990);
7)redução/aumento na pesca de camarão (Alber, 2002; Sklar e Browder, 1998);
8) a redução da vegetação intermareal e emergente (Sklar e Browder, 1998).
CONCLUSÕESNo que se refere à água doce afluente ao estuário do Rio Paraguaçu, a
implantação e operação da Barragem Pedra do Cavalo resultou na redução das
vazões de praticamente todas as faixas da curva de permanência, com destaque
para o grande número de vazões nulas e a redução das vazões médias mensais
após o período de cheia.
Verificou-se que o momento de operação das turbinas tem diferente efeito
sobre a penetração do sal se ocorre durante a maré enchente ou vazante.
Destaca-se que existem imprecisões na posição exata da isohalina simulada
pelo modelo, sendo que em comparação aos dados medidos foi verificado uma
subestimação média de 1 km na penetração do sal.
RECOMENDAÇÕES
Dadas as características materializadas pelas turbinas
implantadas na Barragem Pedra do Cavalo, propõe-se que:
1) As duas turbinas (156 m³/s) sejam limitadas à utilização para a geração
de energia no período das cheias, tendo prioridade de abertura sobre as
comportas, e permaneçam em funcionamento enquanto a barragem estiver em
operação de controle de cheia;
2) Uma turbina (78 m³/s) seja utilizada de forma plena após o período de
cheia enquanto as vazões afluentes a barragem superem o valor de 78 m³/s.
3) Estágios parciais de geração de energia com uma turbina podem ser
utilizados, adotando o valor de vazão liberada na UHE igual ou menor que a
vazão afluente a barragem.
As recomendações para os estudos futuros são:
1)investigar em detalhe a influência da desigualdade diária da maré sobre a
vazão e transporte residual;
2) investigar a penetração do sal em relação a coincidência de maré enchente ou
vazante (sizígia e quadratura) com as horas de geração da UHE para formação da
vazão sanitária;
3) intensificar o monitoramento nos setores da Baía de Iguape para caracterizar
variadas situações de maré e vazão fluvial;
4) estabelecer as vazões mínimas ao estuário do Rio Paraguaçu com base na
relação entre a penetração do sal e a vazão, associada com estudos ecológicos
baseados na variação da salinidade;
5)implantar um modelo hidrodinâmico que simule a inundação e secagem de
células;
6) implantar uma grade de simulação que se estenda para a BTS e oceano.
Sugere-se ainda desenvolver metodologia para incluir a variabilidade
climática no estabelecimento das vazões mínimas e investigar as bases
físicas da relação entre a variação da TSM no Oceano Atlântico e as vazões
no Rio Paraguaçu e outros rios da Bahia, de forma a permitir a previsão do
regime hidrológico com antecedência e uma melhor gestão dos recursos
hídricos.
OUTRAS QUESTÕES IMPORTANTES!
* Alteração significativa no regime hidrodinâmico
Rio? Lago?
OUTRAS QUESTÕES IMPORTANTES!
* Que qualidade de água da barragem está alimentando o rio?
OUTRAS QUESTÕES IMPORTANTES!
* Tão importante como os cálculos de vazão mínima é a intermitência no volume liberado!
Rio? Lago?
BASES CONFLITIVAS
Impactos percebidos pelos pescadores e pescadoras
1) A não liberação de água doce pela hidrelétrica, ou pelo menos
a falta de intermitência desta liberação, tem influenciado no gradiente
de salinidade, na profundidade do rio, no fornecimento de nutrientes e
na produção de pescados. A entrada de água doce é amplamente
reconhecida como um fator essencial aos estuários. Entre os efeitos
positivos na afluência de água doce estão a geração dos padrões de
circulação estuarina, a formação dos gradientes de salinidade, ao
transporte de sedimentos, ao fornecimento de nutrientes e à produção
de pescados,
“Depois da hidrelétrica e da barragem também. Depois da
barragem a pescaria começou só a diminuir. Aí construiu essa
hidrelétrica aí, acabou. Agora acabou com tudo. Ela prende a
água, não solta água doce pra poder botar o salgado pra baixo
porque aí os mariscos do doce vem pra gente também.”
“Siri mesmo ficou fraco. Depois ainda da barragem que não solta
água. O rio só vive salgado. A pescaria tá ruim. Quando a água
tava doce era bom pra gente. Porque dava todo tipo.”
“Quando o salgado se enche demais não presta, não presta
para as criação do marisco. Quando mais o salgado e o doce,
mais melhora a pescaria. A hidrelétrica não tá soltando nada
de água. Só tá soltando água por baixo que não dá muito. O
marisco daqui não é totalmente salgado, não é 100% sal e
também não é 100% doce, é meio controlado. De água
salobra, dava marisco bastante.”
“Aí esse negócio da fraqueza do siri começou desde a da
barragem Pedra do Cavalo. Porque aqui o rio é baixo, só dá
pescaria quando a água tá meia misturada doce e salgada.
Mas depois dessa barragem aí, a água é só salgada! O
marisco aqui não produz muito no salgado, produz mais na
água misturada doce e salgada.”
2) Outro problema apontado pelos pescadores em
consequência da alteração do regime de vazão do reservatório
operado como hidrelétrica é a diminuição da profundidade do leito
do rio. A diminuição da vazão do rio Paraguaçu em decorrência
da hidrelétrica, faz com que os sedimentos que antes eram
exportados para a foz e para as regiões de praia adjacentes
fiquem armazenados dentro do próprio estuário causando um
processo acelerado de assoreamento.
“Também a questão da hidrelétrica, que não teve mais aquele
período de água doce para lavar o rio, pra limpar. Então a
coroa fica maior. Parte da coroa é suja com limo, então com
limo não tem. Os canais ficam rasos porque a água doce
lavava. Antigamente a gente chamava aqui em média de 5, 6
braças em torno de quase 10m de profundidade, estando
falando de maré alta. Hoje dá três braça, media de 4,5m,
então lavava. Então o rio ficou parado, embaixo mesmo dava
de maré baixa dava três braça, no caso uma maré grande
uma pessoa de 1,70m passa andando!”
3) As alterações na descarga de água doce influenciam também na
limpeza do rio e no aporte de nutrientes para o estuário. De acordo com
os pescadores, o rio agora está sempre sujo e isso prejudica a pescaria
do siri. Outro fator é os nutrientes que não descem mais para estuário
com a água doce, os quais são fonte de alimentação para o siri, o que
influencia na dinâmica de sobrevivência e reprodução deste crustáceo
(CASTRO e HUBER, 2012).
“Depois dessa barragem que fizeram em cachoeira, acabaram com a
gente. Aqui você tá acostumado com o salgado e com o doce, aí a
pescaria era outra! Melhor mesmo! Agora ficou ruim. A água tá tudo
presa. O mar, a coroa limpava tudo, tirava todas as porqueiras. Tem
coroa que agora é só lama. Lama pura. É tudo essa lama. Só tem
salgado. Nós estamos panhando siri agora lá de baixo.”
4) Na relação entre o pescador da RESEX Marinha Baía do
Iguape e a pesca do siri, as modificações têm afetado diretamente
a vida dos pescadores, com a redução da atividade da pesca do
siri em algumas comunidades, e até à quase extinção total da
mesma em outras comunidades, como, por exemplo, a
comunidade de Coqueiros.
“Tá tendo muita diferença [na pesca]. A diferença pra gente
aqui foi a usina, né!? A usina acabou com tudo aqui porque
trancou a água. Agora não tá tendo mais água doce aí pra
limpar o rio. Porque antigamente a gente tinha água doce.
Mês de dezembro mesmo, tinha uma força de água aqui
danada, então limpava o rio. O siri, peixe, tudo dava com
fartura e agora não tá dando mais.”
“Umas folhinhas verde parece um coentro mesmo. Inclusive
quando eu suspendo o jereré eu tiro, vem enrolado. Vem e não
é pouco. No jereré ele enrolou ali o siri não encosta. O siri se
assusta. Enquanto o jereré tá lá embaixo, que ele enrola, o siri
tá ali comendo. Mas no que a gente vai pegar o jereré,
suspender pra tirar o siri, o siri não fica. Se a água tiver clara,
pronto, o siri sai todo. Sempre teve. Agora aumentou”.
5) Com o aumento da salinidade do estuário, uma espécie de
macroalga (Caulerpa sp.?), típicas de faixas litorâneas em praias
abertas, se multiplica fartamente, a ponto de prejudicar certas
modalidades de pesca.
“O coentro do mar salgado atrapalha muita pescaria, até para o
camarão atrapalha, mas não sei. É ruim pro camarão, já cansei
de botar redinha lá e a gnt pisava e parecia um tapete, quando
puxava redinha, a gente naõ botava na canoa de peso e tinha
um pouquinho de camarão.”
“Um ano para cá apareceu uma planta que ela proliferou.
Parece que não é nosso, o pessoal adotou como coentro e
outros capim. Eu peguei no meu calão. Tapa a rede é uma alga
bem molezinha que tapa a rede. Eu deixei minha canoa,
quando foi no outro dia... Rapaz, minha canoa tinha um monte
de semente escurinha!”
ESTADO EMPRESASOCIEDADE
LEIS
Legislação Ambiental
ESTADO/EMPRESA
SOCIEDADE
LEIS
Legislação Ambiental
Conveniência e lucro
Sobrevivência
“A vida de pescador é tudo. Pra mim é tudo. Eu tenho tudo. Quero ter meus filhos amanhã, depois, que nem vocês aí, fazendo pesquisa, alguma coisa da vida. Mas eu não, pretendo ficar aqui nessa vida de pescador. Queria tanto poder ter um trabalho bom, se eu soubesse muito ler... mas meu estudo é pouco, e eu também já tô ultrapassado pra isso. Até eu chegar a me formar, tá longe. A vida de pescador pra mim é muito importante. Pra mim pescar é minha vida, é meu tudo. Pescar pra mim é meus braços, minha perna, é o ar que eu respiro, o sol que me esquenta, a cama que eu me deito... é tudo pra mim. Eu amo ser pescador! Amo também sentir o suspiro da maré. A maré também suspira. O cheiro do mar. Muitas pessoas pensam que ela tá alvoraçada (a maré). Alvoraçada é quando começa o vento, aí ela se alvoraça. Mas de manhã cedo, perto de umas 5 horas, você vai sentir ela respirando. Aí você pára assim... Você entra na mata, levo mais de dez minutos só olhando o verde. Não tem coisa melhor do que você sentir o verde dentro de uma mata. Eu me sinto índio, ao mesmo tempo eu sinto que gosto do mar. Sou uma descendência de quilombo, uma mistura de índio. Então eu me sinto livre. Por isso que a pesca pra mim é tudo..”
Rabicó, pescador/quilombola RESEX Marinha Baía de Iguape