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MAPA CONCEITUAL: UMA PROPOSTA PARA A INTEGRAÇÃO DAS
DISCIPLINAS E DO CONHECIMENTO
FORTE, Luiza Tatiana – FPP [email protected]
RAULI, Patricia Maria Forte - FPP/PUCPR
Área Temática: Comunicação e Tecnologia Agência Financiadora: Não contou com financiamento
Resumo
As transformações vividas pela sociedade contemporânea desafiam a educação a repensar seus pressupostos e práticas. A emergência de novos paradigmas científicos, que apontam para o caráter complexo dos fenômenos e da(s) realidade(s), exige a superação de práticas pedagógicas assentadas nas premissas lineares e reducionistas. Partindo destas premissas o presente estudo tem como objetivo apresentar os resultados de uma investigação, desenvolvida na modalidade de pesquisa-ação, que utiliza o conceito de aprendizagem significativa e a técnica de Mapa Conceitual como metodologia inovadora e integradora das disciplinas curriculares e do conhecimento. O trabalho foi desenvolvido no Núcleo de Pesquisa PsicoBioFar de uma instituição de médio porte, que tem como foco a formação superior na área da saúde. A metodologia utilizada é de caráter qualitativo, com abordagem crítico-reflexiva da realidade. Os sujeitos da pesquisa são discentes matriculados nas disciplinas de Filosofia e Momento Integrador do Curso de Graduação em Psicologia da referida instituição. O texto inicia apresentando as contribuições teóricas de diversos autores como Zabala (2002), Behrens (2006), Moreira (2000) que problematizam o processo de ensino-aprendizagem e a formação universitária na perspectiva de um novo paradigma. Em seguida apresenta uma proposta de integração disciplinar que tem por objetivo proporcionar a reelaboração dos conteúdos disciplinares. Para uma maior compreensão do processo são apresentados três mapas construídos pelos discentes. Como resultado observa-se que a transposição dos conteúdos disciplinares aos mapas conceituais permitiu a superação da compreensão linear, levando a uma organização mais elaborada dos mesmos. A possibilidade de estabelecer novas conexões, inter-relacionando as informações e conhecimentos prévios de maneira inovadora, buscando estabelecer semelhanças, diferenças e aproximações entre os conceitos, permitiu o avanço da compreensão do conteúdo, subsidiando o processo de aprendizagem significativa. Palavras-chave: Mapa Conceitual. Aprendizagem Significativa. Educação.
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Introdução
As inúmeras transformações vividas pela sociedade contemporânea desafiam a
educação a repensar seus pressupostos e práticas. A emergência de novos paradigmas
científicos, que apontam para o caráter complexo dos fenômenos e da(s) realidade(s), exige a
superação de práticas pedagógicas assentadas nas premissas lineares e reducionistas
sustentadas pela concepção cartesiana.
No centro desta verdadeira revolução epistemológica, a Universidade enfrenta o
desafio de incorporar uma nova concepção do conhecimento, capaz de religar as partes ao
todo. Reconhece, assim, a necessária união entre pensamento científico e pensamento
humanista, recuperando a dimensão ética, política e cidadã do ensino. Conforme Juliatto
(2009) é preciso que os educadores compreendam que a educação não é apenas uma tarefa,
mas o caminho privilegiado para a construção de um mundo melhor.
Na perspectiva globalizadora de Zabala (2002) a educação é definida como meio para
desenvolver as capacidades das pessoas de forma a capacitá-las a intervirem criticamente na
transformação e melhoria da sociedade.
O objetivo do ensino supera, assim, a apreensão de conteúdos disciplinares. As
disciplinas deixam de ser o objeto de estudo para se tornarem meios para obter o
conhecimento da realidade. Se por um lado os problemas profissionais e científicos da
atualidade exigem um conhecimento disciplinar, é preciso, por outro, buscar a restauração dos
significados humanos do conhecimento. Tal ação implica em “recobrar os contatos perdidos
entre as diferentes disciplinas como única via para restaurar a aliança entre a ciência e a
sabedoria” (ibidem, p. 26).
A busca por processos pedagógicos transformadores aponta para uma revisão do
ensino tradicional em direção a aprendizagens significativas em que a simples transmissão
seja substituída por processos de construção, interação e integração do conhecimento. “A
aprendizagem passa a ter foco na visão complexa do universo e na educação para vida”
(BEHRENS, 2006, p.14).
Neste contexto, o presente estudo tem como objetivo apresentar os resultados de uma
investigação, desenvolvida na modalidade de pesquisa-ação, que utiliza o conceito de
aprendizagem significativa e a técnica de Mapa Conceitual como metodologia inovadora e
integradora das disciplinas curriculares e do conhecimento.
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O trabalho foi desenvolvido no Núcleo de Pesquisa PsicoBioFar de uma instituição de
médio porte, que tem como foco a formação superior na área da saúde. A metodologia
utilizada é de caráter qualitativo, com abordagem crítico-reflexiva da realidade. Os sujeitos da
pesquisa são discentes matriculados nas disciplinas de Filosofia e Momento Integrador do
Curso de Graduação em Psicologia da referida instituição.
O texto inicia apresentando as contribuições teóricas de diversos autores como Zabala
(2002), Behrens (2006), Moreira (2000), entre outros, que problematizam o processo de
ensino-aprendizagem e a formação universitária na perspectiva de um novo paradigma, que
considera a complexidade dos fenômenos e da realidade. Em seguida apresenta uma proposta
de integração disciplinar que tem por objetivo proporcionar a reelaboração dos conteúdos das
Disciplinas de Filosofia e Momento Integrador, presentes na grade curricular do primeiro
período do curso.
Para uma maior compreensão do processo é apresentada uma pequena amostra dos
mapas conceituais construídos pelos discentes. Por fim analisam-se as contribuições do Mapa
Conceitual como metodologia integradora e transformadora do conhecimento.
Construção dos Mapas conceituais: uma trajetória em direção à aprendizagem
significativa, crítica e integradora
O Mapa Conceitual é considerado por diversos autores (OKADA, 2008; LIMA, 2004;
TAVARES, 2007) como uma técnica extremamente pertinente para o desenvolvimento de
uma aprendizagem que faça sentido, pois funciona como um quebra-cabeça para organizar,
estruturar, bem como transformar o conhecimento. Conforme referem Torres, Forte &
Bertolozzi (2009, p.9) o mapa conceitual "serve como instrumento ou recurso para facilitar o
aprendizado dos conteúdos e amplia a sua significação para a pessoa que o utiliza".
Essa técnica foi desenvolvida por Joseph D. Novak, ainda na década de 1960, na
Universidade de Cornell, tendo por objetivo estabelecer relações entre conceitos e
sistematizar conhecimento significativo. Este autor fundamentou seu trabalho a partir da
teoria de David Ausubel sobre a “aprendizagem significativa”.
Para Ausubel a aprendizagem significativa seria decorrente da assimilação de novos
conceitos e proposições através de estruturas cognitivas já existentes no aprendiz. Assim
sendo, o fator isolado mais importante da aprendizagem é aquilo que o aprendiz já sabe. A
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partir desta afirmação ele formula o conceito de “aprendizagem significativa”, que se constitui
no processo pelo qual uma nova informação se relaciona com um aspecto relevante da
estrutura de conhecimento do indivíduo. Neste processo a nova informação interage com uma
estrutura de conhecimentos específica, denominada de “conceitos subsunçores”, existentes na
estrutura cognitiva do indivíduo (MOREIRA e MAZINI, 1982).
A Teoria de David Ausubel sobre a Aprendizagem Significativa (1968, apud ROJAS e
ARCEO, 2006, p.35) estabelece que "a aprendizagem implica em uma reestruturação ativa das
percepções, idéias, conceitos e esquemas que o aprendiz possui em sua estrutura cognitiva", ou
seja, a cognição deve ser compreendida como a capacidade que uma pessoa tem de apreender e
aprender sobre um novo conhecimento, utilizando-se de conhecimentos anteriormente
aprendidos, interconectados e integrados com seus aspectos bio-psico-sócio-culturais e
experenciados anteriormente.
A aprendizagem não é uma simples assimilação passiva da informação literal, o sujeito a transforma e estrutura (construtivismo). Os materiais de estudo e a informação exterior se inter-relacionam e interatuam com os esquemas de conhecimento prévio e as características pessoais do aprendiz (DÍAZ BARRIGA, 1989, apud ROJAS e ARCEO, 2006, p.35).
Ausubel, a todo o momento, lembra que, qualquer processo de mediação pedagógica
da aprendizagem, deve partir do princípio da focalização no aprendiz; é dele e com ele, com
suas experiências de aprendizagens retidas na estrutura cognitiva e disponíveis, que será
possível realizar a difícil tarefa de ensinar.
Moreira (2000, p.5) faz referência ao conceito de aprendizagem significativa
ressaltando a necessidade de promover a aprendizagem como uma atividade crítica: "a
aprendizagem significativa crítica: é aquela perspectiva que permite ao sujeito fazer parte da
sua cultura e, ao mesmo tempo, estar fora dela".Esta definição traz a perspectiva
antropológica em relação ao grupo de pertença do sujeito, onde suas origens, ritos e mitos,
valores e ideologias não subjugam o sujeito; é poder pertencer e poder ao mesmo tempo se
afastar para desenvolver outro olhar; é soltar as amarras que, muitas vezes, tolhem o pensar, o
sentir e o agir. “É através desta aprendizagem que ele poderá lidar construtivamente com a
mudança sem deixar-se dominar por ela (...)” (ibidem, p.6).
O conceito de Aprendizagem Significativa Crítica, reforça a possibilidade de trabalho
a partir de perguntas, definições e da representação de mundo, através da percepção mediada
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pela linguagem, que poderá fornecer subsídios mais próximos da realidade dos diferentes
significados percebidos pelos sujeitos construtores dos mapas conceituais.
Metodologia e Resultados
A pesquisa-ação ora apresentada foi realizada no âmbito de um curso de graduação em
Psicologia, de uma instituição de ensino superior de médio porte, localizada na cidade de
Curitiba-Paraná. A amostra foi composta por 33 discentes e dois docentes das disciplinas de
Filosofia e Momento Integrador I.
Na disciplina de Filosofia a abordagem iniciou com a apresentação oral-expositiva dos
conteúdos, seguida pela exposição do filme O Nome da Rosa. Paralelamente, na disciplina
Momento Integrador I, os discentes foram apresentados ao conceito de aprendizagem
significativa e à técnica de mapeamento conceitual, utilizando-se para tanto da ferramenta
Cmap Tools, versão 5.03 Lite.
Considerando os objetivos propostos nas ementas das disciplinas em questão, a
proposição da pesquisa foi analisar as características da aprendizagem discente, resultante das
estratégias utilizadas. Apresentam-se, a seguir, três mapas (figuras 1, 2 e 3) construídos pelos
discentes ao longo de quatro meses da disciplina.
Figura 1: Mapa Conceitual do Filme
Fonte: Aula graduação Psicologia discente A.M.F.
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Figura 2: Mapa Conceitual do Filme
Fonte: Aula graduação Psicologia discente C.H.
A experiência da construção dos mapas pelos discentes permitiu observar diferentes
formas de organização dos conteúdos apresentados, bem como as diferenças e especificidades
de suas elaborações cognitivas. Cada aluno, a sua maneira de compreender e sentir, foi
organizando o pensamento e articulando questões de maior ou menor relevância, de acordo
com os conhecimentos prévios ancorados em sua estrutura cognitiva.
Na figura 1 as frases de ligação são curtas, o que indica maior facilidade de conectar
os conceitos. Já na figura 2 percebe-se as frases mais longas dando suporte para as
proposições. As proposições foram elaboradas adequadamente, assim como o enlace entre
diversos conceitos em diferentes posições dos mapas, o que demonstra que a aprendizagem
significativa foi alcançada.
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A figura 3 evidencia como o discente utiliza as imagens associadas a palavras curtas
compondo os conceitos, apoiando-se na percepção visual como organizadora da estrutura
cognitiva. Sua projeção do pensamento é diversa das demais, em formato de estrela. Percebe-
se que o mesmo consegue fazer conexões entre todos os conceitos e proposições.
Figura 3: Mapa Conceitual do Filme
Fonte: Aula graduação Psicologia aluno F.W.
Em todos os mapas (figuras 1,2 e 3) foi possível observar a utilização de cores, o que
indica outra forma de enlaçar as proposições. Observa-se que as diferentes proposições se
conectam e estimulam o desenvolvimento de novas relações conceituais.
Nos mapas apresentados o objetivo de reconhecer nos protagonistas do filme o
pensamento dos filósofos (Platão, Sócrates, Aristóteles) e articular com o método científico e
com os conceitos como razão, verdade, dogma e fé, objetivos da disciplina de Filosofia, foram
atingidos.
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Considerações Finais
A análise do processo de ensino-aprendizagem a partir dos mapas conceituais permite
apreender que a reunião das duas disciplinas propiciou a reorganização do conhecimento, bem
como a ampliação da estrutura cognitiva dos discentes.
A transposição dos conteúdos disciplinares aos mapas conceituais permitiu a
superação da compreensão linear, levando a uma organização mais elaborada dos mesmos. A
possibilidade de estabelecer novas conexões, inter-relacionando as informações e
conhecimentos prévios de maneiras inovadoras, buscando compreender semelhanças,
diferenças, aproximações entre os conceitos, permitiu o avanço da compreensão do conteúdo,
subsidiando o processo de aprendizagem significativa.
A experiência de mapear possibilitou aos discentes desconstruir, ressignificar,
reconectar e construir conhecimentos. Vislumbra-se, assim, a possibilidade de implementação
de uma metodologia inovadora- ativa e criativa- por meio da qual discentes e docentes se
tornam protagonistas de uma educação transformadora.
REFERÊNCIAS
BEHRENS, Marilda Aparecida. Paradigma da complexidade: metodologia de projetos, contratos didáticos e portfólios. Petrópolis, RJ: Vozes, 2006. JULIATTO, Clemente Ivo. O horizonte da educação: sabedoria, espiritualidade e sentido da vida. Curitiba, PR: Champagnat, 2009. LIMA, Gercina Ângela Borém. Mapa conceitual como ferramenta para organização de conhecimento em sistema hipertextos e seus aspectos cognitivos. Perspectivas em ciência da informação. Belo Horizonte, v.9, n.2, 2004. p.134-145. MOREIRA, Marco Antonio. Aprendizagem significativa crítica. Versão revisada e estendida de conferência proferida no III Encontro Internacional sobre Aprendizagem Significativa, Lisboa (Peniche), 11 a 15 de setembro de 2000. Publicada nas Atas desse Encontro, p.33-45, com o título original de Aprendizagem significativa subversiva. Disponivel em: <http://www.if.ufrgs.br/~moreira/apsigcritport.pdf>. Acesso em: 23 jun. 2008. ROJAS, Gerardo Hernández; ARCEO, Frida Díaz Barriga. Strategias docentes para um aprendizaje significativo: uma interpretación constructivista. México, McGraw-Hill, 2006. 465p. OKADA, Alexandra. O que é cartografia cognitiva e por que mapear redes de conhecimento. In: OKADA, Alexandra (Org.). Cartografia cognitiva: mapas do
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conhecimento para pesquisa, aprendizagem e formação docente. Cuiabá: KCM, 2008. Cap. 1, p. 37-64. TAVARES, Romero. Construindo mapas conceituais. Ciências e Cognição. v. 12. p. 72-85, 2007. Disponível em < http://www.cienciasecognicao.org>. Acesso em 11 ago. 2009. TORRES, Patrícia Lupion; FORTE, Luiza Tatiana; BORTOLOZZI, Josiane Maria. Research on collaborative learning using concept maps: concept maps and meaningful learning. IGI Global, 2009. TORRES, Patrícia Lupion; FORTE, Luiza Tatiana; BORTOLOZZI, Josiane Maria. Research on collaborative learning using concept maps: concept maps and meaningful learning. IGI Global, 2009. ZABALA, Antoni. Enfoque globalizador e pensamento complexo: uma proposta para o currículo escolar. Porto Alegre: ARTMED, 2002.