mapeando grupos de pesquisa

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TEOR IA SÓCIO-HIST ÓRICO-CULTURAL : MAPEANDO OS PRINCIPAIS GRUPOS DE PESQUISA NO BRASIL E SUAS RELA ÇÕES 1  Luciana Fetter Bertolucci ( PIBIC/CNPq -UEL), Rodrigo Prado Evangelista (IC/UEL), Luciano Carneiro, Marcelo Henrique Oliveira Henklain, Marilicia Witzler Antunes Ribeiro Palmieri, João Batista Martins (Orientador), e-mail:  [email protected] . Universidade Estadual de Londrina/Centro de Ciências Biológicas Palavras-chave: psicologia e educação; teoria sócio-histórico-cultural, grupos de pesquisa. Resumo: Considerando que a produção de conhecimento no país vem sendo fomentada a partir dos Grupos de Pesquisa/CNPq, objetivamos mapear os principais grupos de pesquisa no Brasil vinculados a teoria sócio-histórico- cultural e verificar como estes grupos se articulam. Levantamos 5 Grupos de Pesquisa a partir do levantamento dos autores mais citados numa amostra de 394 artigos publicados no período de 1990 a 2006 em periódicos qualificados pela CAPES. Analisando as suas referências bibliográficas identificamos 15 artigos mais citados e a partir de seus autores, levantamos os seus Grupos de Pesquisa. Os autores destes textos foram citados por outros autores que se vinculam a 21 Grupos de Pesquisa. Observamos que há uma tendência dos autores de citarem membros que participam de seu próprio grupo. Vislumbramos com esses resultados que organiza-se no Brasil uma rede de Grupos de Pesquisa que movimenta as discussões em torno da teoria sócio-histórica-cultural. Se por um lado há uma tendência dos autores vinculados a um grupo de pesquisa de citarem os membros do mesmo grupo – onde teríamos uma produção exógena com uma tendência a se cristalizar; por outro, o trânsito das interpretações da teoria sócio- histórico-cultural pelos grupos de pesquisa, demonstra a diversidade de interpretações da obra de Vigotski, ampliando-se os sentidos atribuídos a sua teoria, tanto no campo da Educação como no da Psicologia. Introdução Esta pesquisa se inscreve num projeto mais amplo 2  que tem como perspectiva analisar as formas pelas quais a obra de L. S. Vigotski (e a de seu grupo, ou a de seus colaboradores) vem sendo interpretada por autores brasileiros. Uma das dimensões desse trabalho tem como perspectiva circunscrever, no âmbito da psicologia e da educação, um campo de 1  Este trabalho recebeu financiamento do CNPq e da Fundação Araucária de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Paraná 2  Trata-se do projeto intitulado LEITURAS DE VYGOTSKY: MAPEANDO INTERPRETAÇÕES, coordenado pelo Prof. Dr. João Batista Martins e pela Profa. Dra. Marilícia Witzler Antunes Ribeiro Palmieri. Anais do XVIII EAIC – 30 de setembro a 2 de outubro de 2009

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TEORIA SÓCIO-HISTÓRICO-CULTURAL : MAPEANDO OS PRINCIPAISGRUPOS DE PESQUISA NO BRASIL E SUAS RELAÇÕES1 

Luciana Fetter Bertolucci (PIBIC/CNPq-UEL), Rodrigo Prado Evangelista(IC/UEL), Luciano Carneiro, Marcelo Henrique Oliveira Henklain, MariliciaWitzler Antunes Ribeiro Palmieri, João Batista Martins (Orientador), e-mail:

 [email protected] .

Universidade Estadual de Londrina/Centro de Ciências Biológicas

Palavras-chave: psicologia e educação; teoria sócio-histórico-cultural,grupos de pesquisa.

Resumo:Considerando que a produção de conhecimento no país vem sendofomentada a partir dos Grupos de Pesquisa/CNPq, objetivamos mapear osprincipais grupos de pesquisa no Brasil vinculados a teoria sócio-histórico-cultural e verificar como estes grupos se articulam. Levantamos 5 Grupos dePesquisa a partir do levantamento dos autores mais citados numa amostrade 394 artigos publicados no período de 1990 a 2006 em periódicosqualificados pela CAPES. Analisando as suas referências bibliográficasidentificamos 15 artigos mais citados e a partir de seus autores, levantamosos seus Grupos de Pesquisa. Os autores destes textos foram citados por

outros autores que se vinculam a 21 Grupos de Pesquisa. Observamos quehá uma tendência dos autores de citarem membros que participam de seupróprio grupo. Vislumbramos com esses resultados que organiza-se noBrasil uma rede de Grupos de Pesquisa que movimenta as discussões emtorno da teoria sócio-histórica-cultural. Se por um lado há uma tendência dosautores vinculados a um grupo de pesquisa de citarem os membros domesmo grupo – onde teríamos uma produção exógena com uma tendência ase cristalizar; por outro, o trânsito das interpretações da teoria sócio-histórico-cultural pelos grupos de pesquisa, demonstra a diversidade deinterpretações da obra de Vigotski, ampliando-se os sentidos atribuídos asua teoria, tanto no campo da Educação como no da Psicologia.

Introdução Esta pesquisa se inscreve num projeto mais amplo2  que tem comoperspectiva analisar as formas pelas quais a obra de L. S. Vigotski (e a deseu grupo, ou a de seus colaboradores) vem sendo interpretada por autoresbrasileiros. Uma das dimensões desse trabalho tem como perspectivacircunscrever, no âmbito da psicologia e da educação, um campo de

1  Este trabalho recebeu financiamento do CNPq e da Fundação Araucária de Apoio ao

Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Paraná2  Trata-se do projeto intitulado LEITURAS DE VYGOTSKY: MAPEANDO INTERPRETAÇÕES,coordenado pelo Prof. Dr. João Batista Martins e pela Profa. Dra. Marilícia Witzler Antunes RibeiroPalmieri.

Anais do XVIII EAIC – 30 de setembro a 2 de outubro de 2009

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produção científica que se orienta a partir da obra desse autor, o queestabelece – através das publicações em artigos científicos – uma rede deinformações. Tal situação, em nosso entendimento, consolida a área de

estudos que se inspira na teoria criada por Vigotski e colaboradores – ateoria sócio-histórico-cultural.Um outro fator que deve ser considerado ao analisarmos os processos deapropriação da obra de Vigotski diz respeito aos grupos que se organizamem torno de sua obra. No Brasil, desde 1992, o CNPq vem fazendo umesforço para identificar e consolidar o Diretório de Grupos de Pesquisa noBrasil. Este é [...] um projeto desenvolvido no CNPq desde 1992. Constitui-se em bases de dados (censitárias e corrente) que contêm informaçõessobre os grupos de pesquisa em atividade no País. O Diretório realizou atéhoje seis censos (1993, 1995, 1997, 2000, 2002 e 2004), e os resultadosdesses inventários estão disponíveis [na Internet], onde também está

disponível a consulta sobre a base de dados corrente, que é atualizadacontinuamente. (BRASIL, 2008) As informações disponibilizadas3  pelo CNPq nos permitem identificar osrecursos humanos distribuídos em grupos, em linhas de pesquisa, àsespecialidades do conhecimento. Permitindo acompanhar a evolução dosgrupos no espaço e no tempo. De um modo geral, tais grupos estãolocalizados em espaços sociais destinados a pesquisa (universidades,instituições isoladas de ensino superior, institutos de pesquisa científica,etc.) que podem ser vinculados a uma instituição ou reunir investigadores dediversos centros de pesquisa. – ou seja, os grupos de pesquisa articulam aspessoas que tem um interesse comum.Tendo em vista as considerações anteriores objetivamos com este projeto:a) mapear, através da produção bibliográfica brasileira que tem comosuporte a teoria de Vigotski, os grupos de pesquisa que se filiam a correntesócio-histórico-cultural desenvolvida por este autor, b) verificar qual ainterlocução que se estabelece entre esses grupos de pesquisa.

Materiais e Resultados

Este projeto teve como objeto de análise 394 artigos de autores brasileirosque se utilizaram da obra de Vigotski como referência bibliográfica,vinculados as áreas da psicologia e da educação, textos estes publicados

em periódicos qualificados pela CAPES, disponíveis nos bancos de dadosdo Scielo e no Google Acadêmico.

Dentre estes textos, dentificamos 74 que foram citados, destes trabalhamoscom os mais citados, numa relação maior/igual a três vezes. Assimchegamos aos seguintes textos (Quadro 1).

Referência dos autores dos textos mais citados Freq.

GÓES, Maria Cecilia. A natureza social do desenvolvimento psicologico. Caderno Cedes.Campinas, n. 24, p. 17-24, mar./1991.

5

PINO, Angel. O conceito de mediação semiotica em Vygotsky e seu papel na explicação do 11

3 Trabalhamos neste trabalho com informações relativas ao censo de 2000, 2002, 2004, 2006, queestão disponibilidadas no site do CNPq

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psiquismo humano. Caderno Cedes. Campinas, n. 24, p. 32-43, mar.//1991.

PINO, Angel. As categorias de público e privado na análise do processo de internalização.Educação & Sociedade. Campinas, v.13, n.42, p.315-327, ago./1992.

4

GÓES, Maria Cecília R.. Os modos de participação do outro nos processos de significação do

sujeito. Temas em Psicologia. Ribeirão Preto. v.1, n.1, p.1-5, 1993.

3

PINO, Angel. Processos de significação e constituição do sujeito.Temas em Psicologia.RibeirãoPreto, v.1, n.1, p.17-24, 1993.

3

PINO, Angel. Semiótica e cognição na perspectiva histórico-cultural. Temas em Psicologia. SãoPaulo, n. 2, p.31-40, 1995.

5

ROSSETTI-FERREIRA, Maria Clotilde; AMORIM, Katia; VITÓRIO, Telma. Emergência de novossignificados durante o processo de adaptação de bebês à creche. Coletâneas da ANPEPP 4 -Investigação da criança em interação social. Recife, v.1, n.4, p.110-43, 1996.

3

TUNES, Elizabeth; SIMÃO, Lívia Mathias. Sobre análise do relato verbal. Psicologia USP. SãoPaulo, v.9; n.1, p.303-324, 1998.

4

SANTA MARIA, Margaret Rose; LINHARES, Maria Beatriz Martins. Avaliação cognitiva assistida decrianças com indicações de dificuldades de aprendizagem escolar e deficiência mental leve.Psicologia: Reflexão e Crítica, Porto Alegre, v. 12, n. 2, 1999.

4

AMORIM, Katia de Souza; VITORIA, Telma; ROSSETTI-FERREIRA, Maria Clotilde. Rede designificações: perspectiva para análise da inserção de bebês na creche. Cadernos de Pesquisa.

São Paulo, n. 109, p.115-44, mar./2000.

3

DUARTE, Newton. A anatomia do homem é a chave da anatomia do macaco: A dialética emVigotski e em Marx e a questão do saber objetivo na educação escolar. Educação & Sociedade.Campinas, Ano XXI, n.71, p.79-115, jul./2000.

3

GÓES, Maria Cecília Rafael. A abordagem microgenética na matriz histórico-cultural: Umaperspectiva para o estudo da constituição da subjetividade. Caderno CEDES. Campinas, Ano XX,n.50, p.9-25, abr./2000.

7

ROSSETTI-FERREIRA, Maria Clotilde; AMORIM, Katia S.; SILVA, Ana Paula S. Uma perspectivateórico-metodológica para análise do desenvolvimento humano e do processo de investigação.Psicologia: Reflexão e Crítica. Porto Alegre, v. 13, n. 2, p. 281-93, 2000.

4

SMOLKA, Ana Luiza Bustamante. O (im)próprio e o (im)pertinente na apropriação das práticassociais. Caderno Cedes. Campinas, Ano XX, n. 50, p. 26-40, abr./2000.

3

SMOLKA, Ana Luiza Bustamante. A memória em questão: uma perspectiva histórico-cultural.Educação & Sociedade. Campinas, Ano XXI, n. 71, p. 166-93, jul./2000.

3

Total 65Quadro 1 – Relação de textos mais citados,com as respectivas frequências

Na Quadro 2, temos a identificação dos Grupos de Pesquisa aos quais osautores dos artigos se vinculam

Grupo nº Grupo de Pesquisa Freq.

G. 1 Grupo de Pesquisa Pensamento e Linguagem - GPPL 37

G. 2 Centro Brasileiro de Investigação Sobre Desenvolvimento e Educação Infantil 10

G. 3 Educação Especial Brasileira: Política, Gestão e Ação Educacional 7

G. 4 Ensino de Química 4

G. 5 Aprendizagem, Desenvolvimento e Saúde Mental do Escolar 4N G. Autor não estava inscrito em nenhum grupo cadastrado no CNPq 3

Total 65

Quadro 2 – Relação dos grupos de pesquisa

No Quadro 3, identificamos a frequência com que os textos foramreferenciados, tendo com parâmetro citações feitas por autores do própriogrupo, autores de outros grupos, e autores que não estavam inscritos emgrupo algum, quando publicaram seu artigo:

Autores mais citados Freq. Citações -

próprio grupo

Citações -

outro grupo

Sem

grupo

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GÓES, Maria Cecilia R. - 1991. – G.1 5 - 4 1

PINO, Angel - 1991. – G.1 11 6 2 3

PINO, Angel - 1992. – G.1 4 1 3

GÓES, Maria Cecília R. - 1993. – G.1 3 1 2

PINO, Angel - 1993. – G.1 3 1 2

PINO, Angel - 1995. – G.1 5 - 5

ROSSETTI-FERREIRA, Maria Clotilde; AMORIM,Katia; VITÓRIO, Telma - 1996. – G.2

3 3

TUNES, Elizabeth; SIMÃO, Lívia Mathias - 1998. –G.4

4 - 2 2

SANTA MARIA, Margaret Rose; LINHARES, MariaBeatriz Martins - 1999. – G.5

4 1 3

AMORIM, Katia de Souza; VITORIA, Telma;ROSSETTI-FERREIRA, Maria Clotilde - 2000. – G.2

3 1 2

DUARTE, Newton - 2000. – N G 3 1 2

GÓES, Maria Cecília R. - 2000. – G.3 7 2 4 1

ROSSETTI-FERREIRA, Maria Clotilde; AMORIM,Katia S.; SILVA, Ana Paula S. - 2000. – G.2

4 4

SMOLKA, Ana Luiza Bustamante - 2000. – G.1 3 1 2

SMOLKA, Ana Luiza Bustamante - 2000. – G.1 3 2 1

Totais 65 24 34 7

Quadro 3 – Frequência com que os textos foram citados vinculados a grupos de pesquisa 

Cabe registrar que os autores que citaram os textos refereridos no Quadro 1,se organizam em torno de 21 Grupos de Pequisa cadastrados no CNPq.

Considerações finaisVislumbramos com esses resultados que – a partir dos textos publicados noperíodo de 1990 a 2006 – organiza-se no Brasil uma rede de Grupos dePesquisa que movimenta as discussões em torno da teoria sócio-histórica-cultural.Pelos Quadros apresentados, identificamos que os autores dos textos maiscitados (dentre os 394 artigos elencados) vinculam-se ao Grupo de PesquisaPensamento e Linguagem – GPPL, com 37 citações. Ao verificarmos o teordos textos citados, observamos que eles trazem uma discussão teórica, oque nos revela a importância deste grupo para a consolidação de um modo

de compreensão da teoria de Vigotski – a perspectiva semiótica.Podemos observar ainda pelo Quadro 3 que há uma frequência significativade citações dos textos realizadas por membros do mesmo grupo depesquisa do autor. Tal perspectiva nos aponta para duas direções. Aprimeira para a consolidação de um sistema interpretativo acerca da obra deVigotski. Entretanto, numa segunda direção, tal sistema interpretativo corre orisco de cristalizar-se, uma vez que é um conhecimento exógeno.

ReferênciasBRASIL. Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.Diretório dos Grupos de Pesquisa.  Disponível em

http://lattes.cnpq.br/grupos/grup_apresent.htm  Visitado em 15.05.2008