matematica v2

206
MATEMÁTICA E EDUCAÇÃO INFANTIL Cadernos CECEMCA, v.8 Parte 2 2005

Upload: gerliene

Post on 18-Oct-2015

88 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 5/28/2018 MATEMATICA V2

    1/206

    MATEMTICA EEDUCAO INFANTIL

    Cadernos CECEMCA, v.8 Parte 2

    2005

  • 5/28/2018 MATEMATICA V2

    2/206

    Luiz Incio Lula da Silva

    Fernando Haddad

    Jairo Jorge

    Francisco das Chagas Fernandes

    Jeanete Beauchamp

    Lydia Bechara

    Geraldo Alckmin

    Joo Carlos de Souza Meirelles

    Professor Doutor Marcos Macari

    Professor Doutor Herman Jacobus Cornelis Voorwald

    Professor Doutor Jos Brs Barreto de Oliveira

    Professor Doutor Osmar Cavassan

    MEC - MINISTRIO DA EDUCAO

    Presidente da Repblica

    Ministro da Educao

    Secretrio Executivo

    Secretaria de Educao Bsica

    Diretora do Departamento de Polticas

    de Educao Infantil e

    Ensino Fundamental

    Coordenao Geral de

    Polticas de Formao

    GOVERNO DO ESTADO DE SO PAULO

    Governador

    Secretrio de Cincia, Tecnologia,

    Desenvolvimento Econmico e

    Turismo

    UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTAJLIO DE MESQUITA FILHO

    Reitor

    Vice-Reitor

    Faculdade de Cincias doCampus de Bauru

    Diretor

    Vice-Diretor

  • 5/28/2018 MATEMATICA V2

    3/206

    ORGANIZADORES

    MARA SUELI SIMO MORAESNELSON ANTONIO PIROLA

    MATEMTICA EEDUCAO INFANTIL

  • 5/28/2018 MATEMATICA V2

    4/206

    Professora Doutora Maria Amlia Mximo de Arajo

    Professor Doutor Joo Jos Caluzi

    Professora Doutora Maria Isabel Castreghini de Freitas

    Professor Doutor Eugnio Maria de Frana RamosMara Sueli Simo MoraesNelson Antonio Pirola

    Janeti Marmontel Mariani

    Adriana Josefa Ferreira Chaves, Ana Maria de Andrade Caldeira,Joo Jos Caluzi, Joo Pedro Albino, Jos Misael Ferreira doVale, Mara Sueli Simo Moraes, Nelson Antonio Pirola, RobertoNardi, Washington Luiz Pacheco de Carvalho

    Adriana Josefa Ferreira Chaves, Aparecida Valquria Pereira daSilva, Carmem Lcia B. Passos, Lair de Queiroz Costa,Rosimar Poker, Sonia Maria Martins de Melo, Vera MarizaRegino Casrio, Wilson Massashiro Yonezawa

    Amanda Diniz Sotero de Menezes, Amanda Tonetti Qualhareli,Ana Carolina Serrata Malfitano, Andr Luis Martins Lopes,

    Andr Luiz Ba, Andria Aparecida da Silva Brito, Caio deGodoy Camargo, Denysland Pinto Medeiros, Eduardo MoraisJunior, Fabiana Cezrio de Almeida, Germano de Jesus Tobias,Luiz Gustavo Rodrigues, Mabi Katien Batista de Paula, MarceloCarlos de Proena, Natlia Abrantes

    Carla Lisboa Porto, Christina de Almeida Peter

    Ana Carolina Galvo Marsiglia, Glria Georges Feres

    Daniela Violim da Silva, Joo Paulo Castilho Herrera, Mariangela Dias dos Santos, Raquel Ventura Cuesta, Solange daSilva Castro, Sonia Regina Begey Gonalves, TeIma AparecidaAprgio da Silva Carneiro, Valeria Alves da Silva, VanessaMossato G. da S. Arantes, Vnia Aparecida Silva de Paula, Vera

    CADERNOS CECEMCA

    Coordenao Geral UNESP

    Coordenao CECEMCA Ncleo Bauru

    Coordenao CECEMCA Ncleo Rio Claro

    Coordenao CECEMCA Ncleo EaDOrganizador do Caderno de Matemtica e

    Educao Infantil

    Colaboradora

    Comit Tcnico Cientfico

    Corpo de pareceristas

    Bolsistas

    Reviso

    Assessoria Tcnica

    Avaliao preliminar dos textos

    Matemtica e Educao infantil /organizado por Mara Sueli Simo Moraes e Nelson Antonio Pirola. --Bauru: FC/

    CECEMCA, 2005.

    195 pginas. 2 Parte (Cadernos Cecemca, v. 8).

    1. Matemtica na educao infantil. 2. Operaes aritmticas. 3. Histria da matemtica I. Srie.

    CDD - 370

    Dados para catologao

    ISBN 85-99703-08-02005 - UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA

    MEC - MINISTRIO DA EDUCAOwww.mec.gov.br

    CECEMCAwww.cecemca.unesp.br

  • 5/28/2018 MATEMATICA V2

    5/206

    APRESENTAO CECEMCA

    A partir da parceria do Ministrio da Educao com ins-

    tituies de ensino superior, ongs e empresas privadas, foramformados Centros de Educao Continuada para professores

    da educao infantil, do ensino fundamental e mdio. Estes

    Centros constituem uma rede nacional para atender as neces-

    sidades de professores que lecionam em escolas municipais

    e estaduais. Desde sua concepo, o objetivo aprimorar o

    trabalho articulado entre diferentes Centros de Educao Con-

    tinuada. Grupos e instituies no associadas de todo o pas

    tambm sero beneficiados.

    O Centro de Educao Continuada em Educao Mate-

    mtica, Cientfica e Ambiental (CECEMCA), responde por aes

    dirigidas formao continuada de professores e, tambm, pela

    produo de material didtico. Participam do CECEMCA profis-

    sionais da Universidade Estadual Paulista UNESP que atuam

    nas reas de Educao Matemtica, Cientfica e Ambiental.

    A coleo Cadernos CECEMCA composta de 23 cader-

    nos para a Educao Infantil e Ensino Fundamental de 1 a 4

    anos. Os contedos disciplinares dos cadernos oferecem aos

    professores condies de participarem crtica e efetivamente

    de questes pedaggicas e scio-ambientais, atualmente emdiscusso na sociedade brasileira.

  • 5/28/2018 MATEMATICA V2

    6/206

    Na formao continuada de professores o CECEMCA

    tambm oferece cursos de extenso e especializao sob

    demanda dos sistemas Municipal e Estadual de educao. Para

    mais informaes visite o site www.cecemca.unesp.br .

    A Coordenao CECEMCA

  • 5/28/2018 MATEMATICA V2

    7/206

    SUMRIO

    PARTE 1

    NTRODUO 10

    CAPTULO 1 A Educao Infantil e a Matemtica: uma anlise

    do Referencial Curricular Nacional

    Nelson Antonio Pirola

    Janeti Marmontel Mariani 17

    CAPTULO 2 A Histria da Matemtica numa abordagem

    histrico-social: contribuies para a Educao Infantil

    Jos Roberto Boettger Giardinetto

    Janeti Marmontel Mariani 41

    CAPTULO 3 Soluo de Problemas Matemticos e a Interven-

    o do Professor - Uma Parceria Necessria na Educao Infantil

    Fernanda de Oliveira Soares Taxa-Amaro 79

    CAPTULO 4 Jogos, Brinquedos e Brincadeiras: O Processo

    Ensino-Aprendizagem da Matemtica na Educao Infantil

    Jos Roberto Boettger Giardinetto

    Janeti Marmontel Mariani 115

    CAPTULO 5 Tratamento da Informao e o Ensino -

    Aprendizagem de Matemtica na Educao Infantil

    Mara Sueli Simo Moraes

    Elizabeth Mattiazzo-Cardia 163

  • 5/28/2018 MATEMATICA V2

    8/206

    PARTE 2

    CAPTULO 6 O Conceito de Nmero Desafios e Conquistas

    para Crianas e Professores da Educao Infantil

    Fernanda de Oliveira Soares Taxa-Amaro 231

    CAPTULO 7 Operaes Aritmticas na Educao Infantil

    Emlia de Mendona Rosa Marques 283

    CAPTULO 8 A Construo da Noo de Espao pela Criana

    Maria do Carmo Monteiro Kobayashi 311

    CAPTULO 9 Espao e Forma na Educao Infantil

    Nelson Antonio Pirola 335

    CAPTULO 10 Grandezas e Medidas:

    Mara Sueli Simo Moraes

    Clia Regina Pampani Borgo 385

  • 5/28/2018 MATEMATICA V2

    9/206

  • 5/28/2018 MATEMATICA V2

    10/206

    CAPTULO

    6

    FERNANDA DE O.S.TAXA-AMARO

    O CONCEITO DE NMERO DESAFIOS ECONQUISTAS PARA CRIANAS E PROFESSORES

    DA EDUCAO INFANTIL

  • 5/28/2018 MATEMATICA V2

    11/206

    231

    Captulo6

    Um dia...1

    Daniel: Um, dois, trs, sete, quatro, nove, dez. Ta certo, mame?

    Me: No. Um, dois, trs. Quatro, cinco, seis (impondo ritmo sobre a

    contagem).

    Daniel: Um, dois, trs. Quatro, cinco, seis (imitando o ritmo). Dez, l vou

    eu. assim?

    Me: Seis dez no.

    Daniel: Um, dois, trs, quatro, seis, nove, dez. assim? Um, dois, trs,

    sete, quatro, nove, dez, l vou eu. assim?

    Me: Um, dois, trs. Quatro, cinco, seis (impondo ritmo).

    Daniel: Um, dois, trs, cinco, seis (sem ritmo).

    Me: No, um...

    Daniel: Um, dois,trs. Quatro, cinco, seis (impondo ritmo). Dez l vou eu.

    Etc.

    As crianas desde pequenas podem contar muitas

    coisas. muito comum observarmos episdios com crianas

    da Educao Infantil que dizemos nomes dos nmeros em

    uma certa ordem ou ainda que apontam coisas, designando

    elementos de uma coleo.

    Muito embora seja inegvel a demonstrao de um certo

    conhecimento numrico em crianas pequenas, ao professor

    da Educao Infantil e para o desenvolvimento de sua prtica

    pedaggica neste sentido caberia a seguinte questo: Quando

    as crianas contam muitas coisas, quando vo dizendo em ordem os

    1 CARRAHER, T. N. O

    desenvolvimento mental e o

    sistema numrico decimal.

    In CARRAHER, T. N. (org.).

    Aprender Pensando - Con-

    tribuies da Psicologia

    Cognitiva para a Educao.

    Petrpolis, RJ: Editora Vo-

    zes, 2002, 16a ed.,p. 52-68.

  • 5/28/2018 MATEMATICA V2

    12/206

    232

    Captulo6nomes dos nmeros para poder contar corretamente uma coleo

    mais numerosa, quando elas escrevem vrios numerais, na ordem

    convencional correta, elas j estaro tendo a compreenso do

    nmero? E como elas os compreendem ? (MORO, 2004, p.29).

    A aprendizagem do nmero no tarefa fcil, pois requer

    a aquisio de um campo de conceitos, de representaes

    grficas e de organizao de sentidos que implica longo e ricocaminhar das crianas desde muito pequenas.

    A aquisio das dez palavras iniciais 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8,

    9, 10 envolvendo a sua real significao no faz parte, ainda,

    da compreenso das crianas da Educao Infantil a respeito

    do nmero. A conquista do universo numrico pelas crianas

    no algo to simples como pode parecer aos olhos dos

    adultos. Ao contrrio disto, o fato de ele ter diferentes funes

    leva-nos necessidade de compreend-lo com base em seus

    diversos significados.

    A aprendizagem do contar coisas ocorre quando asolicitao do meio se faz significativamente presente na vida

    das crianas, sobretudo quando a famlia e a escola oportuni-

    zam situaes para o contar e auxiliam na organizao desta

    atividade.

    A este respeito lembra-nos Moro (2004) que

    Esse aprendizado se faz deixando-se a prpria criana fazer

    a contagem conforme suas formas de contar, mesmo que

    estas formas sejas incompletas, incorretas, limitadas a cer-

    tas quantidades. Mas, tambm, muito importante que o

    adulto faa a contagem das coisas de forma correta para acriana poder observar do que se trata. Fazer a criana con-

  • 5/28/2018 MATEMATICA V2

    13/206

    233

    Captulo6tar e deix-la contar conforme sua capacidade do momento

    algo indispensvel para que ela tenha progressos com

    os nmeros. Somente assim ela estar construindo suas

    primeiras idias quantitativas: de que o mundo real pode

    quantificado, pode ser medido, avaliado por meio dos nme-

    ros, o que muitos estudiosos chamam de a aritmtica natural

    das crianas(MORO,2004, p.29-30).

    O ensino da Matemtica nas dcadas de 60 e meados

    de 70 valorizavam a aprendizagem do nmero destacando a

    repetio exaustiva dos algarismos, utilizando folhas avulsas

    mimeografadas ou as folhas de caderno dos alunos a serem

    preenchidas com os algarismos que formam a seqncia

    numrica: 1, 2, 3, 4, 5... . A seqncia numrica verbal tam-

    bm era um outro tipo de exerccio valorizado no trabalho do

    professor, acreditando este que a repetio exaustiva reverteria

    na aprendizagem da contagem.

    Nogueira e Montoya (2004) ressaltam tambm que os

    nmeros eram comumente dados pelos professores de 1 a 5,

    depois de 5 a 10, depois de 10 a 20; e assim sucessivamente.

    Os autores fazem um apanhado das prticas mais usuais dos

    professores a respeito dos nmeros e destacam que em

    seguida da seqncia numrica era solicitada e formao e a

    decomposio dos nmeros em unidades (dezenas e centenas),

    a escrita do nome do numeral e a do prprio numeral. Em geral,

    na pr-escola trabalhava-se com nmeros at 10, depois na 1

    srie (Ensino Fundamental) eram trabalhados os nmeros de 1

    a 100, as dezenas e a dzia, e a contagem de 2 em 2, de 5 em

    5 e de 10 em 10.

  • 5/28/2018 MATEMATICA V2

    14/206

    234

    Moro (2004) tambm destaca que, ainda, nas escolas,

    de Educao Infantil e de Ensino Fundamental, as crianas

    tm que fazer lies em que escrevem, copiando e copiando,

    a seqncia dos algarismos para aprender seus traados

    corretos; e, tambm, aprendem a ler estes algarismos, dizer

    seus nomes corretamente, na ordem (MORO, 2004, p.30).

    Neste sentido, a tnica do ensino sobre nmeroestava relacionada com sua apresentao como objetos

    pr-existentes, cuja atividade mental dos alunos seria a de

    conhecer e memorizar. A aprendizagem estaria solidificada

    quando o aluno fosse capaz de reconhecer o nmero em seus

    diferentes aspectos: seu nome, seu algarismo, seu antecessor

    e seu sucessor.

    importante que desde cedo as crianas sejam solici-

    tadas a identificar que os nmeros no so usados somente

    nos livros de exerccios ou, principalmente, levadas a pensar

    que os nmeros so apenas utilizados em situaes de clculoou de registros numricos que no transcendem as folhas dos

    cadernos nas aulas de Matemtica.

    DESENVOLVENDO O SENTIDO DONMERO DESDE CRIANA

    Para a Localizao

    Captulo6

  • 5/28/2018 MATEMATICA V2

    15/206

    235

    Uma das funes do nmero refere-se compreenso

    de que seu uso auxilia-nos na localizao de lugares e objetos.

    Propor que as crianas identifiquem e analisem, por exemplo

    que o nmero 325 de uma sala em um prdio indica, em si

    mesmo, o andar e o nmero da sala a ser encontrada naquele

    andar. Fazer que as crianas estabeleam relaes de proximi-

    dade entre os nmeros: 425 (sala que est acima do 325) e o225 (sala que est abaixo da 325). possvel, ainda questionar

    quanto posio ocupada pelas salas no corredor (pares e

    mpares). Ou ainda, no caso de localizaremse nas ruas de

    seus bairros, question-los quanto ao fato de que Se Zeca

    mora no nmero 12 da Rua das Flores, qual seria o nmero

    da casa vizinha? Poderia ser o nmero 13? Por que?

    Outras atividades que revelam o sentido do nmero com

    relao localizao se referem identificao das poltronas

    de teatros ou cinemas, provocando discusses acerca do cri-

    trio utilizado por estes estabelecimentos quanto marcaodos lugares.

    Para a Ordenao

    Captulo6

  • 5/28/2018 MATEMATICA V2

    16/206

    236

    Outra funo dos nmeros refere-se ao estabelecimento

    de uma determinada ordem, ou seja, podemos ter uma fila

    com 15 crianas alinhadas por ordem de alturas, estabelecendo

    quem ser o primeiro, o segundo, o terceiro integrante da fila e

    assim sucessivamente. De outra forma, poder-se-ia ordenar a

    fila destas mesmas 15 crianas em razo da ordem alfabtica,

    da idade, entre outros critrios que impliquem ordenao.A ordem numrica deve ser objeto de anlise entre pro-

    fessores e alunos da Educao Infantil buscando, por exemplo,

    a identificao de seu sentido no entorno da vida cotidiana das

    pessoas, como a mquina de senhas instaladas geralmente

    em padarias ou farmcias. A discusso a este respeito, tal como

    nos lembra Turkel e Newman (1988), implica compreenso da

    necessidade de um sistema de ordenao justa para os clien-

    tes. Ao mesmo tempo, enfatizam as referidas autoras que seria

    apropriado adotar o mesmo sistema na ala da emergncia de

    um hospital ? Tal ordenao poderia ser imposta para qualquersituao? Situaes como esta remete todo o grupo-classe

    (professor e crianas) identificao e discusso do sentido da

    ordenao do nmero em um outro contexto.

    Para a identificao

    Captulo6

  • 5/28/2018 MATEMATICA V2

    17/206

    237

    Podemos dizer que um outro sentido para os nmeros

    refere-se ao fato de que estes funcionam como meios de

    identificao. A casa da criana e os objetos que ali existem

    so bons exemplos para o aluno comear a compreenso de

    que aquele local possui muitos nmeros de identificao.

    O aparelho de televiso, a geladeira e os brinquedos

    possuem nmeros de modelos que os identificam, ou mesmo,no supermercado, os produtos venda possuem os cdigos de

    barras para identificao dos valores a pagar.

    Inmeras outras situaes podem favorecer o desen-

    volvimento pelas crianas quanto ao sentido de identificao

    dos nmeros, como por exemplo, o nmero de telefone, das

    placas dos automveis, do registro geral de um cidado (RG),

    da carteira de trabalho, o da matrcula escolar, entre tantos

    outros.

    Turkel e Newman (1988) sugerem uma atividade bastan-

    te interessante para ser realizada com crianas pequenas e quepode ser intitulada de Nmeros importantes para mim.

    Trata-se de um livro que a prpria criana ir confeccionar

    registrando todos os nmeros de identificao que consigam

    encontrar na sua casa ou outros lugares significativos. Os

    nmeros a serem registrados podem ser em razo do carro

    ou nibus que leva a criana para a escola, o nmero de seu

    calado, da sua roupa, data de nascimento, nmero de

    pessoas da sua famlia, o nmero preferido, a hora que acorda

    e a que vai dormir, entre outros sentidos dos nmeros que

    sejam suscitados pelo grupo-classe (TURKEL E NEWMAN,1988, 27).

    Captulo6

  • 5/28/2018 MATEMATICA V2

    18/206

    238

    Para Medir

    Vrias situaes ligadas vida da criana denotam o

    sentido dos nmeros com relao medio. Por exemplo, os

    nmeros expressam o peso, a altura de uma pessoa. Servem

    ainda para indicar, em caso de uma gripe, a temperatura docorpo. As medidas de tempo, comprimento e de distncias

    tambm so formas importantes de serem analisadas entre

    professores e alunos no processo de desenvolvimento dos

    sentidos dos nmeros.

    Para a Estimativa

    importante oportunizar situaes de anlise dos

    nmeros que remetam as crianas desde a Educao Infantil

    idia de que uma boa resposta matemtica pode estarinserida em um contexto que no seja necessariamente ao

    Captulo6

  • 5/28/2018 MATEMATICA V2

    19/206

    239

    de uma resposta exata. As crianas podem ser incentivadas a

    elaborarem e a ficarem satisfeitas com respostas que implicam

    apenas aproximao do clculo numrico exato. Perguntas que

    podem contemplar a rotina diria do professor e que refletem

    a estimativa de clculo podem ser aquelas que solicitam dos

    alunos idias como: 1) Uma criana aqui da pr-escola pode

    ter dois metros de altura?, 2) por volta de quantas crianasesto aqui na nossa sala de aula no dia de hoje?, 3) Podemos

    comprar um carro de brinquedo por R$ 50,00? E um automvel

    de verdade? Os R$ 50,00 seriam suficientes? (TURKEL e

    NEWMAN, 1988, p. 28).

    A caracterstica que envolve os diferentes sentidos do

    nmero tambm destacada por Carraher (2002) lembrando

    da existncia da ambigidade dos nmeros, sendo que uma

    mesma expresso com nmeros poder indicar diferentes

    operaes a realizar. A referida autora exemplifica a seguinte

    situao:

    Captulo6

    (CARRAHER, 2002, p, 53)

  • 5/28/2018 MATEMATICA V2

    20/206

    240

    Em sua explicao, a autora completa que

    A mesma expresso 12 por 30 ora significa 12 dividido

    por 30, ora implica em dividir 30 por 12 e ora exige que mul-

    tipliquemos 12 por 30! Os nmeros so usados e situaes

    diversas com funes diferentes e, do mesmo modo, as

    expresses com nmeros so usadas em situaes diversas

    para representar operaes numricas diferentes(CARRAHER, 2002, p, 53-54).

    O desenvolvimento do sentido dos nmeros passa pela

    explorao do professor a seus alunos tanto em aspectos

    referentes a questes de dentro como as de fora da sala de

    aula. Estes aspectos, porm no se solidificam rapidamente,

    ao contrrio, necessitam de um grande perodo de tempo que

    deve ser iniciado com as crianas desde a Educao Infantil.

    FUNDAMENTOS ACERCA DA AQUISIO DO CON-CEITO DE NMERO: O CONHECIMENTO FSICO E O

    CONHECIMENTO LGICO-MATEMTICO

    Muitos professores acreditam que os conceitos

    numricos devam ser ensinados por meio da transmisso

    social (verbalizao e demonstrao do adulto-professor),

    mas no fazem uma distino fundamental entre a natureza do

    conhecimento social e a do conhecimento lgico-matemtico.

    O nmero, em termos de anlise no campo dos

    processos mentais traz a idia subjacente ao conhecimento denatureza lgico-matemtica.

    Captulo6

  • 5/28/2018 MATEMATICA V2

    21/206

    241

    Conforme destaca Kamii (1992) crianas de dois anospodem ver a diferena entre uma pilha de trs pratos e uma

    de dez, o que no implica que o nmero esteja l fora, no

    mundo fsico, para ser aprendido por abstrao emprica2

    (KAMII, 1992, p.25).

    As pesquisas piagetianas mostram o desenvolvimento da

    inteligncia como um processo construtivo de um sujeito ativoem suas interaes com o meio-ambiente. A inteligncia no

    algo dado ao nascermos, mas desenvolve-se gradualmente

    como resultado da interao de fatores internos e externos ao

    indivduo.

    O ser humano continuamente desafiado pelo meio-

    ambiente, procurando compreender, explicar e organizar os

    dados de realidade, segundo o leque de suas experincias e

    possibilidades cognitivas em jogo.

    Para a teoria do desenvolvimento de Piaget, a ao

    matria-prima para a aquisio do conhecimento: na

    interao com os objetos, o sujeito se transforma e constri

    conhecimentos. Resultados de pesquisas, na perspectiva da

    psicologia gentica de Piaget, enfocam e esclarecem a natu-

    reza do conhecimento lgico-matemtico, distinguindo-o

    do conhecimento fsico e do conhecimento social. Piaget

    faz uma distino quanto aos tipos de experincias do sujeito,

    como a experincia fsica e a lgico-matemtica.

    Com isso, a experincia cumpre estes dois papis distin-

    tos e complementares: agir sobre um objeto, distinguindo suas

    propriedades, o que denominamos de experincia fsica.

    Rangel (1992) analisou a importncia da experincia fsica

    na construo do nmero pela criana e destacou que

    Captulo6

    2 Uma forma elemen-

    tar de abstrair os dados de

    uma determinada realidade

    ou objeto d-se por meio

    da abstrao emprica; e

    consiste em o sujeito reti-

    rar informaes dos objetos

    segundo suas propriedades

    ou seus caracteres mate-

    riais. A abstrao emprica

    apia-se nos objetos fsicos

    ou nos aspectos materiais

    da prpria ao e, ainda sob

    suas formas mais elemen-

    tares, ela no consiste em

    leituras diretas da reali-

    dade. Ao abstrairmos algo

    de um dado objeto, como o

    seu peso, a sua cor, preci-so que o sujeito valha-se de

    instrumentos de assimilao

    e esteja baseado nos es-

    quemas sensrio-motores

    ou conceituais. Estes esque-

    mas no so fornecidos a

    priori pelo objeto, mas, sim,

    construdos dialeticamente

    no plano da ao material e

    mental pelo prprio sujeito

    (TAXA, 2001, p.27).

  • 5/28/2018 MATEMATICA V2

    22/206

    242

    Por exemplo, ao entregarmos um giz3 a uma criana que

    nunca o observou e o manipulou, ela ir agir sobre ele e des-

    cobrir que ele suja suas mos, que possvel riscar com ele,

    que apertando-o ele amassa e vira p e o seu p macio e

    leve e voa quando se assopra, etc. A experincia fsica per-

    mite, ento, criana, descobrir as propriedades do objeto,

    ou seja, conceber o que giz pela abstrao das aes exer-cidas sobre ele. Assim, agindo diretamente sobre o giz, a

    criana o transforma na busca do seu entendimento e, pela

    resposta que este objeto d sua ao, a criana descobre

    suas propriedades fsicas. Observa-se, no entanto, que sem

    uma organizao estruturada no nvel da inteligncia, no seja

    possvel o entendimento de tais propriedades, isto , precisa

    ocorrer a assimilao deste objeto s estruturas da inte-

    ligncia at ento construdas pelas crianas. a que se

    evidencia a inter-relao entre experincia fsica e experin-

    cia lgico-matemtica(RANGEL, 1992, p.22-23)

    Distinguir as propriedades dos objetos, no entanto,

    no corresponde a uma atividade da mesma natureza do

    descobrimento de propriedades em razo da ao do sujeito no

    Captulo6

    3 Grifos nossos

  • 5/28/2018 MATEMATICA V2

    23/206

    243

    decorrer de sua interao com o objeto. A experincia denomi-

    nada lgico-matemtica caracteriza-se pelas coordenaes

    das aes do sujeito, e abstrao de conhecimentos a partir

    delas. O conhecimento nesse ltimo caso abstrado da ao

    do sujeito sobre os objetos e no diretamente dos objetos.

    A cena acima apresentada, inspirada a partir do texto de

    Rangel (1992) mostra-nos a abstrao das aes das crianasexercitadas sobre a quantidade (idntica) de brinquedos de

    cada uma e das coordenaes (mentais) que ligam estas

    aes (no acrescentaram i-is algum para nenhuma criana,

    apenas arrumaram os brinquedos de forma diferente).

    Rangel (1992) analisando a interface entre conhecimento

    fsico e lgico-matemtico na situao da manipulao do giz

    destaca que

    [...] poderia a criana estabelecer relaes entre o giz e

    outros objetos que pesquisou e, ao coordenar mentalmente

    essas relaes, classificar,por exemplo, os objetos que ris-cam a calada e os que no riscam. Entre os que riscam,

    Captulo6

  • 5/28/2018 MATEMATICA V2

    24/206

    244

    poderia orden-los indo daquele que risca mais forte ao que

    risca mais fraco; comparando essa relao com a consis-

    tncia dos objetos,descobriria que os objetos mais duros

    fazem o traado mais fraco e os mais macios, traados mais

    fortes. Poderia, ainda, enumerar quantos objetos seleciona-

    dos riscam o cho, quantificando-os, e dar-se conta de que

    selecionou mais objetos que riscam do que objetos que noriscam o cho. (RANGEL, 1992, p.2).

    As crianas da Educao Infantil conseguem apenas

    contar colees pequenas, de 5 ou 6 elementos; e conseguem

    prontamente, nos dizer que esto vendo, ...uma bolinha...,

    ... duas bolinhas..., ... trs bolinhas..., sem precisar mesmo

    apontar cada uma dessas coisas. J a contagem de colees

    cada vez mais numerosas, at dominarem a seqncia at 13

    ou 15 elementos ocorre somente mais tarde na vida destas

    crianas; at seguirem adiante para chegar a outras dezenas.Ao analisar o conhecimento fsico e o lgico-matemtico

    como fontes bsicas na construo da natureza do nmero

    nas crianas, Kamii (1992) lembra ainda da importncia de

    o professor distinguir estes tipos de conhecimento e em se

    compreender tambm a diferena entre nmeros e nmeros

    elementares ou perceptuais. A autora explica que

    Piaget faz uma diferena entre nmeros perceptuais e nme-

    ros. Os nmeros perceptuais so nmeros pequenos, at

    quatro ou cinco, que podem ser distinguidos atravs da per-

    cepo, sem requerer uma estruturao lgico-matemtica.At alguns pssaros podem ser treinados para distinguir entre

    Captulo6

  • 5/28/2018 MATEMATICA V2

    25/206

    245

    00 e 000. Contudo, impossvel distinguir 0000000

    de 00000000 apenas pela percepo. Os nmeros peque-

    nos que so maiores que quatro ou cinco so chamados de

    nmeros elementares(KAMII, 1992, p.15).

    Observa-se, no entanto, que, ao falarmos de ao

    sobre o nmero na escola, o conceito de atividade na

    teoria piagetiana tem sido interpretado, muitas vezes, de forma

    equivocada, o que tem constitudo um aspecto dificultador na

    interpretao da teoria para a prtica educativa.

    Conforme lembrado por Gallagher (1978), o fato defazer as crianas agirem sobre os objetos apenas por meio de

    material de manipulao (neste caso para estabelecer a relao

    numeral-quantidade) uma maneira indevida de aproximar a

    teoria s aprendizagens escolares, assim como indevida a

    forma de propaganda do marco terico piagetiano.

    A denominao de termos como ao, atividade ou

    mesmo agir sobre freqente nos trabalhos de Piaget e a

    idia subjacente a este respeito seria a de que para conhecer, o

    sujeito tem que agir sobre os objetos, para, ento, transform-

    los. preciso que, ao agir sobre os objetos, o sujeito valha-sede aes ou atividades de deslocamento, conexo, combina-

    Captulo6

  • 5/28/2018 MATEMATICA V2

    26/206

    246

    o, montagem, desmanche, entre outras para retirar as

    propriedades a serem abstradas.

    Piaget apresenta um quadro terico de aquisio do

    conhecimento enfatizando a construo do sujeito e no a

    apropriao do conhecimento como cpia dos objetos da

    realidade que o rodeia.

    No se trata, ento, de discutir a importncia demateriais de manipulao na sala de aula para o favorecimento

    de aprendizagem de contedos matemticos, mas, sim, de

    discutir o quadro explicativo dos mecanismos de aprendizagem

    relacionados ao significado da atividade (manipulativa ou no)

    do sujeito.

    A descoberta da criana sobre as relaes do universo

    quantitativo que a rodeia deriva da ao do sujeito. A experincia

    fsica, porm, no a nica fonte do conhecimento, tampouco

    toda e qualquer ao nos conduz ao conhecimento. Ela , pois,

    condio necessria, mas no suficiente do conhecimento.Assim, nas aes e operaes do sujeito em interao com o

    mundo est implcito diretamente o processo ou mecanismo

    funcional da abstrao reflexiva4.

    Podemos dizer que o processo de abstrao est

    ligado a um deslocamento realizado pelo sujeito, a fim de que,

    por meio da abstrao, ele seja capaz de isolar e generalizar

    certos aspectos de uma dada realidade.

    O sujeito conhece na medida em que pode extrair

    conhecimento dos observveis e no-observveis. Entende-

    se por observveis os objetos ou aes do sujeito em suascaractersticas materiais, ao passo que os no-observveis

    Captulo6

    4 A abstrao reflexi-va um mecanismo fun-

    cional relacionado com a

    conceitualizao e toma-

    da de conscincia em face

    da construo de conhe-cimentos que se constitui

    pelo sujeito. A soma um

    bom exemplo do proces-

    so de abstrao reflexiva

    diretamente relacionada

    com o pensamento ma-

    temtico. Desde cedo, as

    crianas mais novas sa-

    bem reunir objetos, e, no

    plano da ao, executar a

    soma destes objetos. So-

    mente, porm, no nvelda conceitualizao so

    elas capazes de abstrair

    a construo de colees

    distinguindo as totalida-

    des como tais dos seus

    elementos. Mais adiante

    so capazes de reunir co-

    lees com distino da

    totalidade de conjunto e

    as subcolees. No ca-

    so do exemplo da soma,

  • 5/28/2018 MATEMATICA V2

    27/206

    247

    referem-se s coordenaes das aes. Podem-se observar

    algumas aes realizadas pelas crianas ao se depararem

    com uma situao ou mesmo ao tentarem fazer a leitura

    de um objeto. Mas no se pode ver a coordenao realizada

    mentalmente que a criana fez ao apropriar-se do objeto ou

    ao generalizar uma situao para uma semelhante quela em

    destaque.

    Tomemos a noo talher, conforme exemplificado

    por Kesselring (1990). A caracterstica a ele atribuda no

    uma qualidade que os objetos (colher de plstico, garfo de

    prata, faca com cabo de madeira) possuem como tais, mas sim

    imposta aos prprios objetos por meio da ao humana.Tomemos ainda, como o faz o referido autor, o exemplo

    da laranja: podemos toc-la, olh-la, cheir-la. Podemos ainda

    perceb-la como um objeto que tem certa forma, tamanho,

    peso, cheiro e cor, tal como denominamos: cor-de-laranja.

    Dessa forma, descola-se, por abstrao, a forma, a cor e

    demais atributos deste objeto. Sabemos, no entanto, que a

    cor-de-laranja encontrada em muitos outros objetos.

    Captulo6

    a progresso de cada uma

    destas condutas abstra-

    da das aes precedentes e

    no dos objetos como tais,

    manipulados pelas aes.

    Num plano superior, o su-jeito capaz de realizar

    abstraes reflexivas, em

    que estas aes so reor-

    ganizadas e coordenadas,

    numa tarefa de reflexo da

    criana que a leva toma-

    da de conscincia daquelas

    aes. Em nvel de abstra-

    o reflexiva, a reflexo

    passa a ser obra do pensa-

    mento do sujeito, sob a for-

    ma de construo retroativatornando-se uma reflexo

    sobre a reflexo (TAXA,

    2001).

  • 5/28/2018 MATEMATICA V2

    28/206

    248

    Kesselring (1990) conclui que, ao deslocarmos ou abs-

    trairmos a cor de uma laranja, detemo-nos no carter individual,

    como o caso da cor apenas da laranja em questo. Mas

    vamos, alm disso, pois possvel reconhecer esta mesma

    cor em outros objetos; e isto se d graas ao fato de podermos

    generalizar a cor individual da laranja. Conquistamos, assim, por

    abstrao, propriedades dos objetos, como a forma, a cor, opeso entre outras.

    Como destacado por Moreno (1988), quando diferencia-

    mos a cor de um objeto, estamos separando esta qualidade

    das demais. Assim, ao abstrair a cor implica, simultaneamente,

    individualizar as qualidades que foram deixadas de lado, ou

    seja, aquelas que deixamos para reter a propriedade: cor. na

    contraposio de uma propriedade a outras que nos possibilita

    abstrair uma propriedade como tal e de forma que caracterizeo objeto analisado.

    Desde muito cedo as crianas so capazes de realizarestas contraposies no sentido de separar uma propriedade

    de um nico objeto, mas quando se trata de fazer o mesmo

    para um conjunto de objetos, observamos que o processo se

    complica consideravelmente.

    A ESTRUTURA NUMRICA E AS ESTRUTURASDE CLASSIFICAO E DE SERIAO

    Captulo6

  • 5/28/2018 MATEMATICA V2

    29/206

    249

    A construo do nmero se d, segundo Piaget e

    Szeminska (1975) como sntese de relaes de ordem e de

    classe e suas inter-relaes. O nmero seria ento a sntese

    das relaes simtricas e assimtricas.

    Por relaes simtricasentende-se quelas que esto

    relacionadas formao da estrutura lgica declassificao.

    No caso das relaes assimtricas, estas se referem

    formao da estrutura lgica de seriao.

    As relaes simtricas so aquelas que estabelecemos

    nos objetos em funo de suas semelhanas, ou seja, ao

    mesmo tempo (motivo) que aproximo um elemento a de

    outro elemento b, passo ento a aproximar o elemento bde a.

    Um exemplo pode ser o seguinte: se a tem amesma cor que

    b, logo btem a mesma cor que a.

    Assim, classificarse refere ao agrupamento de obje-

    tos de um dado universo, reunindo todos os que se parecem

    num determinado valor de um atributo, separando-os dos que

    deles se distinguem neste mesmo atributo. Quando a criana

    consegue coordenar duas caractersticas:

    a) compreenso aspecto qualitativo da classe por

    exemplo, no caso das frutas: ser ou no ser laranja, ser ou no

    ser fruta);

    Captulo6

  • 5/28/2018 MATEMATICA V2

    30/206

    250

    b) extenso aspecto quantitativo da classe por

    exemplo, quando se aplica os quantificadores todos e alguns

    (RANGEL, 1992, p.103).

    A figura a seguir, adaptada da anlise apresentada

    por Rangel (1992) refora a explicao dada acima sobre as

    relaes de simetria aplicadas aos objetos.

    As crianas pequenas (4 a 6 aproximadamente) tendem

    agrupar os objetos alternando critrios em detrimento das

    caractersticas de compreenso e extenso de uma dada

    classe. Isto porque, muitas vezes elas se centram na cor do

    objeto; ou ainda, na forma ou mesmo no tamanho.

    Muitas vezes podemos observar que as crianas peque-

    nas aproximam os objetos por convenincia, constituindo

    uma espcie de figura (coleo figural) de um objeto ou deuma cena.

    Captulo6

  • 5/28/2018 MATEMATICA V2

    31/206

    251

    de fundamental importncia que o professor da

    Educao Infantil consiga diferenciar quando as crianas

    estejam elaborando colees mais em nvel figural ou quando

    j fazem de forma intermediria para a conquista da estrutura

    de classificao (relaes simtricas) dos objetos. Sobretudo,

    importante que o professor organize situaes diferenciadas

    que provoquem a mobilizao das crianas na construo da

    classificao em nvel operatrio.

    As relaes assimtricas so aquelas que estabe-lecemos ao seriar objetos, tanto na sua forma ascendente

    como tambm descendente. Tais relaes esto presentes

    na constituio das sries de assimetria, porque nos levam

    aproximao de um objeto b de um outro a colocado em

    relao. Um exemplo pode ser o seguinte: uma srie que vai

    do menor para o maior, sendo que b maior do que ae este

    por sua vez no possui o mesmo motivo para que possamos

    aproxim-lo de b(RANGEL, 1992, p.110).

    Podemos empregar atributos variados ao seriar os

    objetos, como: pelo tamanho, pela espessura, pelo peso, palavelocidade, pelo volume, pela idade, entre outros.

    Captulo6

    Figura adaptada da obra de RANGEL (1992, p.105)

  • 5/28/2018 MATEMATICA V2

    32/206

    252

    A criana da Educao Infantil pode apresentar uma

    srie intuitiva, valendo-se de tateamentos; e mesmo assim

    no conseguir

    [...] relacionar o prximo basto a ser colocado como, ao

    mesmo tempo, sendo maior do que os j presentes na srie e

    tambm sendo o menor do que todos os que restam. Assim,

    ela aproxima ao ltimo basto um qualquer que seja, garan-tido pelo dado perceptivo, suficientemente maior do que este

    ltimo e no necessariamente o menor dos que restavam

    (RANGEL, 1992, p.112).

    Analisando situaes que envolvem a natureza do

    nmero, Piaget (1993) explica

    Um nmero inteiro uma coleo de unidades iguais entre

    si, ou seja, uma classe cujas subclasses se tornam equivalen-

    tes pela supresso das qualidades. Mas ao mesmo tempo,

    uma srie ordenada, ou melhor, uma seriao de relaes deordem. A dupla natureza de ordinal e cardinal resulta de uma

    fuso dos sistemas de encaixamento e de seriaes lgicas

    (...) Agora pode-se compreender porque as correspondn-

    cias termo a termo permanecem intuitivas durante a primeira

    infncia...(PIAGET, 1993,p.55).

    Piaget e Inhelder (1993) completam:

    O nmero resulta, em primeiro lugar, de uma abstrao das

    qualidades diferenciais, que tem como resultado tornar cada

    elemento individual equivalente a cada um dos outros: 1 = 1 =

    1 etc. Estabelecido isto, esses elementos se tornam classific-

    Captulo6

  • 5/28/2018 MATEMATICA V2

    33/206

    253

    veis segundo as incluses (

  • 5/28/2018 MATEMATICA V2

    34/206

    254

    pacotes de balas, depois de fazer a contagem destas balas,

    uma por uma, diz que ... ali tem oito balas, aqui tem dez,...

    aqui tem mais, ... quero este porque tem mais..., no outro tem

    menos. (MORO, 2004, p.30).

    Procuraremos abordar a seguir, os estudos que tm

    apresentado um quadro explicativo luz dos processos

    cognitivos sobre o desenvolvimento do conceito de nmero

    das crianas da Educao Infantil, procurando identificar alguns

    dos fundamentos que nos ajudam entender como as crianas

    vo compreendendo o que realmente o nmero.

    A ao do sujeito em situao e a organizao de seu

    comportamento devem ser consideradas quando se pre-

    tende compreender o sentido das situaes e dos smbolos,

    por exemplo. Por isso, atribudo ao conceito de esquema5a

    importncia de no prescindi-lo da anlise, uma vez que este

    organiza o comportamento do sujeito, abrangendo regras de

    ao e antecipaes.

    Vergnaud (1985), particularmente, aponta para o fato

    de que o conceito de esquema tem papel fundamental no

    Captulo6

    5 O termo esquema usado para fazer refe-

    rncia aos pedaos bem

    integrados de conheci-

    mento acerca do mundo,de eventos, de pessoas e

    de aes; tratando-se de

    um saber fazer, de um

    plano organizado do su-

    jeito (EYSENCK e KEANE,

    1994; Taxa, 2001).

  • 5/28/2018 MATEMATICA V2

    35/206

    255

    processo de construo numrica e representao das

    operaes mentais realizadas pela criana. Os esquemas so

    aliados imprescindveis para a estrutura cognitiva do sujeito e

    servem para organizar ao plano do significado, a articulao

    necessria entre as situaes de referncias e os significantes

    simblicos.

    O processo de construo do conhecimento pelo sujeitoapia-se fundamentalmente nos esquemas que ele possui.

    Os esquemas constituem os elementos bsicos por meio dos

    quais o sujeito poder atuar sobre a realidade e servem para

    organizar as condutas do sujeito, com base em um recorte dos

    objetos, propriedades e relaes de diferentes nveis.

    Partindo-se da concepo piagetiana de que o conhe-

    cimento construdo com base na interao sujeito-objeto,

    a assimilao de novos objetos ou situaes depende das

    estruturas do sujeito. A interao do sujeito com o objeto

    depende das possibilidades desse sujeito em relao ao objeto,e, conseqentemente, depende dos esquemas que possui.

    O conhecimento prtico dos alunos, como as aes que

    exercem, no caso das crianas mais novas, quanto ao fato de

    juntar, compor e quantificar objetos constitui a matria-prima

    para a construo do conhecimento.

    Assim, o conhecimento matemtico est sustentado

    por esquemas organizadores do comportamento, como, por

    exemplo, o esquema de enumerao. As crianas mais novas

    ao contar pequenas colees (contar balas ou peas de brin-

    quedos) no deixam de abranger uma organizao invariante,necessria para a manuteno do esquema.

    Captulo6

  • 5/28/2018 MATEMATICA V2

    36/206

    256

    O esquema de enumerao abarca tipos de elementos

    organizadores. Abarca um objetivo (associao de uma coleo

    a um nmero que ser sua medida); regras (uma nica conta-

    gem para cada objeto e contar todos os objetos); constantes

    operatrias (conceitos em ato -de carter biunvoco, cardinal,

    sucessor) e teoremas em ato (no sentido de que o cardinal

    independente da ordem em que se contam os objetos).Quando uma criana conta objetos desde pequena (4-5

    anos), observam-se evolues e estabilizao. Tal esquema

    consiste num conjunto organizado de gestos, percepes e

    emisses vocais.

    A estabilidade diz respeito a dois princpios matemticos:

    a) bijeco; b) cardinalidade. Estes dois princpios matemticos

    so, no caso da enumerao, indispensveis ao funcionamento

    do esquema. Os erros das crianas nos mostram, por exemplo,

    que muitas crianas fracassam ao cardinalizar, ou seja, fazer

    a identificao do ltimo nmero-palavra pronunciado comoaquele que representa a medida de todo o conjunto.

    A bijeco e a cardinalidade esto ligadas aos invariantes

    operatrios (conceitos em ato e teoremas em ato) que

    permitem ao sujeito selecionar as informaes pertinentes e

    dar tratamento a elas

    O princpio de bijeco refere-se aos gestos da criana,

    organizados de maneira sincronizada, pois implica que os

    objetos sejam contados na sua totalidade (no sentido de sua

    exaustividade) e uma nica vez (no sentido de sua exclusivi-

    dade). Dessa forma, os gestos das mos e olhos no devemesquecer nenhum dos objetos, no deixando de controlar, por

    Captulo6

  • 5/28/2018 MATEMATICA V2

    37/206

    257

    exemplo, a contagem repetida ou a falta da contagem de um

    dos objetos.

    O princpio da cardinalidade refere-se srie de palavras

    pronunciadas. Por exemplo, a palavra cinco pronunciada duas

    vezes: um, dois, trs, quatro, cinco... cinco. A palavra cinco

    primeiramente remete ao quinto e ltimo elemento da coleo

    e, em seguida, remete coleo completa, designando ocardinal da coleo.

    O tom empregado pela criana para pronunciar as duas

    palavras diferente. Como o lxico no marca esta diferena,

    o tom o faz. Algumas crianas voltam a contar a coleo toda

    para responder quantos objetos e no compreendem que

    responder cinco seria o suficiente.

    A CORRESPONDNCIA TERMO A TERMO E ACONSTRUO DO NMERO

    As pesquisas piagetianas mostraram que no processo da

    construo do nmero a criana deve compreender o princpio

    de correspondncia um a um, contando cada objeto de um

    conjunto uma vez e apenas uma vez. Tambm devem dar-se

    conta de que apesar de alteraes na aparncia, permanecem

    idnticas seja qual for a disposio espacial.

    Captulo6

  • 5/28/2018 MATEMATICA V2

    38/206

    258

    Piaget e Szeminska (1975) lembram, no entanto, que

    quando a correspondncia termo a termo surge no decorrer

    da evoluo da estrutura numrica, e, embora necessria,

    no suficiente para a consolidao da mesma. Esto em

    jogo os aspectos cardinais e ordinais do nmero citados

    anteriormente.

    Moro(2004) explica que bom lembrar que a correspondncia termo a termoou

    biunvoca consiste na relao seguinte: para cada elemento

    de uma coleo h um elemento de outra. Ela traz criana

    as primeiras noes de igualdade ou de equivalncia num-

    rica, quando lhe permite compreender que h o mesmo

    tanto igual de fichas, aqui e l porque cada uma tem o seu

    par...(MORO, 2004, p. 31).

    Piaget (1993) assinala que pequenos nmeros so aces-

    sveis s crianas mais novas em razo de serem nmerosintuitivos correspondentes a figuras perceptivas. Quando

    solicitamos que crianas de 4-5 anos aproximadamente,

    construam uma fileira de fichas brancas com base em uma

    fileira j construda de, por exemplo, 8 fichas verdes, comum

    que estas crianas construam uma fileira de fichas brancas

    de mesmo tamanho que as das verdes. Estas crianas no

    demonstram preocupao com o nmero de elementos,

    tampouco com a correspondncia termo a termo de cada ficha

    branca com cada ficha verde.

    Captulo6

  • 5/28/2018 MATEMATICA V2

    39/206

    259

    Os estudos de Piaget neste tipo de tarefa evidenciaram

    uma forma primitiva de intuio, na qual a criana avalia a quan-

    tidade somente pelo espao ocupado, ou seja, pelos aspectos

    perceptuais das colees e no pela anlise das relaes.

    A partir de 5 anos, aproximadamente, as crianas ten-

    dem a equiparar, por exemplo, uma ficha vermelha em frente a

    cada ficha amarela e concluem, com base na correspondncia

    termo a termo, a igualdade das colees.

    Ao serem alternadas, porm, as disposies das

    fichas, estas crianas passam a avaliar quantidades desiguais

    entre as colees. As crianas mantm a equivalncia na

    medida em que exista a correspondncia visual, no resultando

    no argumento de conservao por correspondncia lgica.

    Os referidos autores verificaram a relao entre o esque-

    ma de correspondncia e a conservao do nmero analisando

    a transio entre a correspondncia espacial, entendida como

    Captulo6

  • 5/28/2018 MATEMATICA V2

    40/206

    260

    um tipo de correspondncia perceptualmente constatvel e a

    correspondncia temporal, na qual a criana no tem acesso

    visual dos elementos a serem correspondidos.

    A correspondncia visual ou espacial evidencia apenas

    esquemas de ao ligados percepo e no a esquemas

    interiorizados como representao. Igualar quantidades de

    uma coleo outra por correspondncia termo a termo nosignifica que as crianas estejam considerando aspectos cardi-

    nais e ordinais do nmero. Tais aspectos podem se manifestar

    de maneira indiferenciada nas aes das crianas, conforme

    exposto na seqncia, a respeito dos tipos de correspondn-

    cias empregadas pelas crianas.

    A correspondncia denominada temporal insere-se no

    quadro da inferncia quantitativa e est diretamente ligada

    construo necessria da conservao da igualdade numrica.

    Piaget e Szeminska (1975), a respeito da construo do

    nmero destacam tipos de correspondncias diferenciadascomo esquemas quantitativos em situaes nas quais as crian-

    as so levadas a utilizar a correspondncia termo a termo.

    A primeira delas, correspondncia esttica com obje-

    tos hetereogneos indica que a natureza do material que

    provoca o estabelecimento da correspondncia. Exemplifica

    que, em uma coleo de pires e xcaras, as crianas faro a

    correspondncia conforme o carter ou significado utilitrio do

    material, e, baseando-se nesse critrio, constituem colees

    equivalentes. Neste primeiro tipo de correspondncia, os

    dados so fornecidos ao sujeito por meio da percepo, oumelhor, prevalecendo os dados perceptuais.

    Captulo6

  • 5/28/2018 MATEMATICA V2

    41/206

    261

    A correspondncia esttica com objetos homog-

    neos ocorre, ou, ainda, estabelecida no mais com base

    no que o material pode provocar. Estabelece-se uma corres-

    pondncia (por exemplo, entre fichas de cor azul e vermelha)

    apenas quando o sujeito sente internamente a necessidade

    de coordenar relaes percebidas no espao ocupado pelos

    objetos dados.Por fim, a correspondncia dinmica refere-se troca

    de um contra um realizada pela criana. Um exemplo comum

    a troca de uma mercadoria por uma moeda que equivale ao

    seu pagamento.

    Ao relacionarmos estes tipos de correspondncia com

    a aprendizagem da contagem, observa-se que mesmo que

    a criana j tenha aprendido a contar, neste nvel, ela no

    conseguir empregar esta aprendizagem como instrumento

    confivel para solucionar o problema proposto, como o de

    igualar as fichas das duas colees. Somente quando acorrespondncia termo a termo, que, no incio, era qualitativa,

    torna-se, ento, numrica, a numerao falada atinge o seu real

    significado e passa a ser utilizada como instrumento lgico. Ao

    acrescentar um novo elemento srie que est quantificando,

    a criana preocupa-se apenas com a relao criada em sua

    mente de colocar mais um.

    As crianas conseguem resolver muito dos problemas

    sobre contagem pela correspondncia termo a termo. Um bom

    exemplo disto se refere a propor situaes-problema (De Miguel

    Vallejo e Taxa, 1998) que solicitem delas uma soluo queimplique calcular o a mais que, a menos que ou igual a.

    Captulo6

  • 5/28/2018 MATEMATICA V2

    42/206

    262

    Pensemos em uma aula da Educao Infantil em que

    o professor proporia o seguinte problema de matemtica

    Zeca trouxe hoje no seu estojo 9 lpis para colorir suas

    atividades e Chica que vai trabalhar com ele na sala trouxe

    4 lpis a mais que ele. Quantos lpis a Chica trouxe?.

    Uma das exploraes possveis pelo professor depois da

    leitura coletiva do problema seria a dramatizao da situaofeita pelas prprias crianas e, em seguida, a anlise passo a

    passo da atividade de dramatizar pela professora, buscando

    elucidar com elas a quantidade de cada um dos sujeitos do pro-

    blema e de estabelecer ento uma relao de correspondncia

    (termo a termo) entre as quantidades e discutir posteriormente:

    O que ou quantos eles tm (em termos de quantidade de

    lpis) igual ?, Depois que vemos a quantidade de lpis igual

    entre os dois (Zeca e Chica) o que podemos observar?, O

    que so estes lpis aqui ? (apontar para os que esto a mais).

    Captulo6

  • 5/28/2018 MATEMATICA V2

    43/206

    263

    Vimos como o esquema de correspondncia termo

    a termo desempenha papel fundamental para a construo

    do nmero, mas a consolidao de tal construo implica,

    sobretudo, sntese recproca das duas estruturas lgicas: a da

    classificao e a da seriao.

    Considera-se importante que o prprio professor da

    Educao Infantil investigue na sala de aula o processo deconstruo do conceito de nmero com base nas tarefas que

    prope a seus alunos. Aspectos como o desenvolvimento

    dos sentidos dos nmeros para as crianas, a classificao,

    a seriao, a contagem e a correspondncia termo a termo

    so eixos fundamentais do ponto de vista conceitual para a

    aquisio do conceito de nmero e devem ser transformados

    pelo professor sob forma de atividades rotineiras que envolvam

    o trabalho com a Matemtica na Educao Infantil.

    Na perspectiva piagetiana, a prtica docente dos

    professores deve estar comprometida primeiramente com umestudo aprofundado de como o sujeito constri conhecimento;

    considerando o funcionamento cognitivo, a trajetria de cons-

    truo das estruturas numricas e o saber inicial da criana

    em relao a contedos voltados compreenso do nmero

    organizados na Educao Infantil.

    Captulo6

  • 5/28/2018 MATEMATICA V2

    44/206

    264

    REFERNCIAS

    CARRAHER, T.N. O desenvolvimento mental e o sistema

    numrico decimal. In CARRAHER, T.N. (org.). Aprender

    pensando. Petrpolis: RJ, 16 ed, 2002, p.51-68.

    DE MIGUEL VALLEJO; TAXA, F. de O.S. Interveno psico-

    pedaggica em resoluo de problemas aritmticos: uma

    experincia na perspectiva de temas transversais em educa-

    o. In Anais do XV Encontro Nacional de Professores do

    PROEPRE. guas de Lindia:S.P, Setembro, 1998, p.242-

    243.

    EYSENCK, M. W.; KEANE, M. T. Psicologia Cognitiva um

    manual introdutrio. Trad. Wagner Gesser e Maria HelenaF.

    Gesser. Porto Alegre: Artes Mdicas, 1994.

    GALLAGHER, J. M. Reflexive Abstraction and Education

    The meaning of activity in Piagets Theory. In J.M. Gallagher;

    J.A. Easley (Eds). Knowledge and development, v. Piaget

    and education. New York: Plenum, 1978.

    KAMII, C. A Criana e o Nmero- Implicaes educacio-

    nais da teoria de Piaget para a atuao junto a esco-

    lares de 4 a 6 anos. Trad. Regina A.de Assis. 16ed. Campi-

    nas-SP: Papirus, 1992.

    Captulo6

  • 5/28/2018 MATEMATICA V2

    45/206

    265

    KESSELRING, T. Os quatro nveis de conhecimento em Jean

    Piaget. In Educao e Realidade. Porto Alegre, 15 (1): 3

    22, jan/jun, 1990,p. 3-21.

    MORENO, M.M; SASTRE, G. et al. Enciclopedia Practica de

    Pedagoga - El nio en las etapas de la enseanza. Editorial

    Planeta, Barcelona, Espanha, 1988.

    MORO, M.L.F. Contar, emparelhar colees. Colocar e reti-

    rar elementos das colees... O longo e rico caminho das

    crianas para compreender os nmeros. In PIROLA, N.A.,

    TAXA-AMARO. F.de O.S. Cadernos de Formao

    Educao Matemtica Universidade Estadual Paulista/

    UNESP -Publicao da Pr-reitoria de Graduao, 2004,

    p.29-42.

    NOGUEIRA, C.M.I., MONTOYA, A.O.D. O desenvolvimen-

    to das noes matemticas na criana e seu uso no contex-to escolar: um estudo psicogentico. In MONTOYA, A.O.D.

    (org.). Cadernos de Formao Psicologia da Educao

    Universidade Estadual Paulista/UNESP -Publicao da Pr-

    reitoria de Graduao, 2004, p.119-136.

    PIAGET, J.; SZEMINSKA. A. A gnese do nmero na

    criana. Trad. Christiano M.Oiticica. Rio de Janeiro: Zahar,

    1975.

    PIAGET, J.; INHELDER, B. A psicologia da criana. Tr.

    de Octvio M.Cajado. 12edio. Rio de Janeiro: EditoraBertrand Brasil, 1993.

    Captulo6

  • 5/28/2018 MATEMATICA V2

    46/206

    266

    PIAGET, J. Seis Estudos de Psicologia. Tr. de Maria Alice

    M.DAmorim, Paulo S.L.Silva. 19edio. Rio de Janeiro:

    Forense Universitria, 1993.

    RANGEL, A.C.S. Educao Matemtica e a Construo

    do nmero pela criana- uma experincia em diferentes

    contextos scio-econmicos. Porto Alegre: Artes Mdicas,

    1992.

    TAXA, F. de O.S. Problemas multiplicativos e processo

    de abstrao em crianas na 3 srie do ensino funda-

    mental. Campinas: Faculdade de Educao da Unicamp.

    Tese (doutorado) na rea de Psicologia Educacional, 2001.

    TURKEL, S.; NEWMAN, C.M. Qual o teu nmero? Desen-

    volvendo o sentido do nmero. In INSTITUTO POLITECNI-

    CO DE LISBOA- ESCOLA SUPERIOR DE EDUCAO - O

    NMERO- Textos de apoio. Lisboa, 1988, 25-31.

    VERGNAUD, G. Concepts et schmes dans une thorie

    opratoire de la representation. Psychologie Franaise, n

    30-3/4, nov, 1985, p.245-252.

    Captulo6

  • 5/28/2018 MATEMATICA V2

    47/206

    267

    TRABALHANDO COM A COMPREENSODA CONSTRUO DO CONCEITO DENMERO DAS CRIANAS DA EDUCAOINFANTIL

    ATIVIDADES PARA OS PROFESSORES E PARA AS

    PROFESSORAS

    ATIVIDADE 1

    O texto inicialmente abordou a importncia do desenvolvi-

    mento dos sentidos dos nmeros nas crianas. Discutam cada

    um dos 5 tpicos expostos no texto e em seguida preencham

    o quadro abaixo selecionando tambm as atividades que cada

    um dos itens sugeriu ao professor. Em seguida, elaborem

    conjuntamente outras possibilidades de trabalho do professor

    segundo o contexto da sua sala de aula.

    Captulo6

    Sentidos dos Nmeros Sugestes dadas notexto

    Sugestes elaboradas apartir da discusso em

    grupo

    Localizao

    Ordenao

    Identificao

    Medir

    Estimar

  • 5/28/2018 MATEMATICA V2

    48/206

    268

    ATIVIDADE 2

    Faam uma coleta de dados dos livros didticos (clssi-

    cos e os recentes) que propem atividades sobre o nmero.

    Analisem e discutam aqueles que tendem a um ensino que

    valoriza atuaes mais tradicionais como enfocado pelo texto.

    Registrem coletivamente as atividades que lhes parecem estar

    mais aproximada da crtica apontada pelo texto terico.

    Em seguida, discutam sobre as atividades coletadas que

    tendem explorao, por exemplo, da correspondncia termo

    a termo ou da contagem para favorecer a aquisio do conceito

    de nmero. Selecionem at duas atividades e conjuntamente

    criem, a partir da atividade original, uma adaptao possvel de

    ser executada com seus alunos e alunas.

    Registro da discusso coletiva entre os professores

    Captulo6

  • 5/28/2018 MATEMATICA V2

    49/206

    269

    TRABALHANDO PARA A CONSTRUODO CONCEITO DE NMERO DAS CRIAN-AS DA EDUCAO INFANTIL

    ATIVIDADES PARA OS ALUNOS E AS ALUNAS

    ORIENTAES GERAIS

    Objetivo

    Proporcionar situaes diferenciadas que impliquem con-

    tagem (um a um, dois em dois, trs em trs, etc...), utilizao

    do esquema de correspondncia termo a termo, manipulaode objetos pertinentes situao, necessidade de representa-

    Atividades selecionadas Adaptao da atividade para a realidadedo professor

    Captulo6

  • 5/28/2018 MATEMATICA V2

    50/206

    270

    o grfica (desenho dos objetos, de bolinhas ou traados

    que representem os objetos contados e de numerais), bem

    como promover discusses individuais e coletivas entre o

    professor e as crianas como forma de organizar idias prvias

    e estratgias de soluo.

    ATIVIDADE 1

    1) Solicitar que as crianas utilizando palitos6(sor

    vete ou de dentes) elaborem uma cena a partir

    deste material. O professor poder, no entanto,

    estipular a quantidade de palitos ou de tampinhas: com 5

    palitos, com 9 palitos e assim sucessivamente.

    2) Permitir que as crianas discutam coletivamente

    sobre os cenrios possveis de se elaborar a partir da quan-

    tidade dada, favorecendo a troca de idias.Aps a realizao

    da tarefa, o professor dever dar um determinado tempo para

    que as crianas possam observar o que cada um dos colegas

    realizou.

    3) Em seguida, o professor propor a seguinte questo:

    Como mostrar que usamos ______ palitos para fazer

    o cenrio?. Nesta etapa da atividade, o professor dever

    incentivar as crianas a registrarem no papel o que fizeram, de

    forma que registrem tanto as representaes pictricas quanto

    o registro do total geral de palitos usados, com notao dos

    Captulo6

    6 O professor tambmpoder variar a atividade

    dando aos alunos tampi-

    nhas de garrafas ao invs

    de palitos.

  • 5/28/2018 MATEMATICA V2

    51/206

    271

    numerais pertinentes. No final do registro, o professor dever

    novamente expor todos os trabalhos e discutir as diferentes

    formas de mostrar a quantidade de palitos utilizados.

    ATIVIDADE 2

    1) Solicitar que as crianas reflitam sobre as diferentespossibilidades de as pessoas fazerem colees de objetos,

    como: selos, figurinhas, entre outros. Depois de exposta a idia

    das crianas, o professor poder pedir que as crianas escolham

    um tipo de objeto e a quantidade que querem registrar para a

    coleo escolhida.

    2) Deixar que as crianas desenhem em uma folha de

    papel a coleo que escolheram e a respectiva quantidade.

    1 2 3 4 5 6 7 8 9

    Captulo6

  • 5/28/2018 MATEMATICA V2

    52/206

    272

    3) Em seguida, o professor poder fazer uma outra folha

    de registro, buscando elaborar um quadro comparativo entre as

    vrias quantidades e registros elaborados por cada criana.

    ATIVIDADE 3

    1) Selecionar 7 palitos e 7 tampinhas e pedir que as

    crianas elaborem um cenrio com este material. Tal como

    indicado na primeira atividade, o professor dever explorar os

    cenrios. Depois, propor que as crianas elaborem as vriaspossibilidades de fazer a correspondncia entre cada palito e

    tampinha.

    Algumas possibilidades seriam7:

    Zequinha Chiquinha Kiko Aninha Teodoro

    NICOLAU(2000, p.202)

    Captulo6

    7 NICOLAU, M.L.M. Su-

    gestes de atividades de

    Matemtica. In NICOLAU,

    M.L.M. A educao pr-

    escolar -fundamentos e

    didtica. So Paulo: Edi-tora tica, 10 ed., 2000,

    p.198-211.

  • 5/28/2018 MATEMATICA V2

    53/206

    273

    2) O professor dever escolher um tipo de correspon-

    dncia elaborado pelas crianas e propor uma situao-pro-

    blema: Agora quero que vocs pensem em uma situao

    para aumentar a quantidade de palitos sem mexer nas

    de tampinhas. Quero que tenham 2 palitos a mais que as

    tampinhas.

    A partir deste questionamento, o professor poder soli-citar de uma quantidade inicial (6 palitos e 6 tampinhas) com

    tampinhas a menos que ou a mais que as de palitos. A

    variao das quantidades ficar a critrio do professor conforme

    o grupo-classe corresponda aos questionamentos.

    TRABALHANDO BASES NUMRICAS NAEDUCAO INFANTIL

    ATIVIDADE 4

    Objetivo

    Identificar que existem vrias maneiras de agrupamentos

    das quantidades, reconhecendo e registrando agrupamentos

    nas bases 2 e 3.

    Desenvolvimento da atividade- A Caixa de brinquedos

    Agrupando de dois em dois8

    Material: Papel sulfite, giz de cera ou lpis de cor (para

    registro), brinquedos e caixas.

    Captulo6

    8 Ao se trabalhar com

    a base 2, o professor no

    dever ultrapassar a quan-

    tidade de 3 elementos a

    serem dados para as crian-as procederem ao agrupa-

    mento, pois caso contrrio

    estaria possibilitando o re-

    agrupamento, aspecto este

    que dever ser trabalhado

    com crianas maiores das

    sries iniciais do ensino

    fundamental.

  • 5/28/2018 MATEMATICA V2

    54/206

    274

    Descrio da atividade: O professor deve entregar para

    cada criana uma caixa. Explicar, inicialmente, que devem guar-

    dar (agrupar), exatamente, dois brinquedos dentro da caixa. Em

    seguida deve distribuir trs brinquedos para cada aluno e pedir

    para que agrupem conforme explicado. Aps isso question-

    los de como ficou a distribuio com trs brinquedos e em

    seguida fazer o mesmo para dois e um brinquedos.

    Algumas questes podem ser:

    Temos uma caixa com 2 brinquedosCom 3 brinquedos deu para montar uma caixa e sobrou

    1 brinquedo, ele ficou para fora...

    Essas respostas devem ser discutidas, e cada professor

    adequaria a forma de perguntar.

    A ltima etapa da atividade ser o registro dos alunos.

    O professor dever entregar uma ficha na qual os alunos

    representaro as situaes trabalhadas.

    Ao lado, apresentamos uma ficha para o professor

    ter um parmetro da possibilidade de registro. No entanto,

    o professor no precisa necessariamente apresentar oquadro abaixo pronto e sim, elabor-lo passo a passo com as

    Captulo6

  • 5/28/2018 MATEMATICA V2

    55/206

    275

    prprias crianas. Uma das discusses fundamentais sobre a

    atividade de agrupamentos se refere compreenso da criana

    na diferenciao da quantidade inicial que pode ser agrupada

    de 2 em 2 ou 3 em 3, etc, bem como a forma de registro pode

    variar entre cada um dos tipos de agrupamentos que se faz.

    MODELO DE FICHA PARA O PROFESSOR

    NMERO DE OBJETOS OBJETOS AGRUPADOS

    DOIS A DOIS

    SOBRA

    1 0 1

    2 1 0

    3 1 1

    Captulo6

  • 5/28/2018 MATEMATICA V2

    56/206

    276

    Para o preenchimento deste quadro, as crianas da

    Educao Infantil tendero a fazer o desenho pictrico, ou seja,desenhar a caixa com 2 ursinhos dentro e um ursinho fora

    da caixa. Desta forma,a representao do numeral acompanha

    a do desenho, no valorizando uma em detrimento da outra,

    como por exemplo, fazer somente o registro numrico da

    situao.

    Ateno ! Professor: importante destacar cada quan-

    tidade inicial trabalhada, pois quando no houver brinquedos

    suficientes para colocar na caixa (situao da primeira linha), o

    registro apresenta-se de uma forma; e quando houver 1 ou 3brinquedos, provocar sobras (situao das linhas 1 e 3). Esta

    MODELO DE FICHA PARA ALUNOS

    NMERO DE OBJETOS OBJETOS AGRUPADOSDOIS A DOIS

    SOBRA

    1

    2

    3

    Captulo6

  • 5/28/2018 MATEMATICA V2

    57/206

    277

    atividade pode ser realizada com outros objetos como: fichas,

    feijes, palitos, entre outros objetos disponveis e do entorno

    da criana.

    Todos os agrupamentos devem ser registrados de

    alguma forma: ora somente pelo desenho, ora pelo desenho e

    utilizao de traados ou bolinhas para representar os objetos,

    roa pelo desenho, e numerais.O trabalho com os agrupamentos no dever ser

    dado em um mesmo momento. importante que o professor

    trabalhe constantemente e pouco a pouco tais atividades.

    Agrupando9balas 3 a 3

    Material: papel crepom, papel dobradura de diversas

    cores, sacos plsticos (embalagens), papel sulfite.

    Descrio da atividade

    No primeiro momento, o professor dever elaborar,juntamente com os alunos, a montagem das balas. Para isso,

    entregar papel crepom e solicitar que os alunos faam boli-

    nhas e embrulhem com papis coloridos (papel dobradura,

    por exemplo), formando assim as balas. Feito isso, o professor

    colocar todas as balas em uma caixa, onde cada aluno dever

    pegar uma quantidade de no mximo oito balas, j que est

    sendo trabalhada a base 3.

    Em seguida, explicar que as balas sero agrupadas 3 a

    3, formando um pacote. Pedir que faam os pacotes com as 8

    balas que possuem. O professor dever em seguida, construiruma tabela na lousa como um exemplo, juntamente com os

    Captulo6

    9 Ao se trabalhar com

    a base 3, o professor no

    dever ultrapassar a quan-

    tidade de 8 elementos a

    serem dados para as crian-

    as procederem ao agrupa-

    mento, pois caso contrrioestaria possibilitando o re-

    agrupamento, aspecto este

    que dever ser trabalhado

    com crianas maiores das

    sries iniciais do ensino

    fundamental.

  • 5/28/2018 MATEMATICA V2

    58/206

    278

    alunos, para melhor compreenso. No processo de agrupa-

    mento das balas, fazer em seguida o preenchimento da tabela.

    O professor dever questionar os alunos quanto aos possveis

    resultados, como por exemplo:quantos pacotes podemos

    formar com 4 balas?, quantas balas iro sobrar?, qual

    o nmero mximo de balas que poder sobrar?.

    Depois da discusso coletiva, entregar uma tabela deregistros (figura 1), para cada aluno, deix-los preencher em

    grupos de duas a trs crianas e retomar novamente a discus-

    so coletiva contemplando os registros feitos.

    O professor poder variar com a quantidade inicial para

    agrupamentos na base 3 (desde que no ultrapasse 8 balas

    iniciais para no dar reagrupamento) e fazer a anlise conjunta

    com as crianas de que podemos ter formas diferentes com

    quantidades diferentes de empacotar as balas.

    Captulo6

    Figura 1

  • 5/28/2018 MATEMATICA V2

    59/206

    279

    Orientao para o professor: O professor poder uti-

    lizar este material na elaborao de atividades ldicas, como

    por exemplo, uma fbrica de balas, onde cada grupo de

    crianas teria um estabelecimento, que receberia pedidos de

    clientes encomendando quantidades diversas de bala (pacote

    ou unidade). importante ressaltar, que atravs da anotao

    desses pedidos, os alunos estariam realizando, intuitivamente,operaes de soma, subtrao, multiplicao e diviso.Segue

    abaixo um exemplo da tabela de registros preenchida:

    FIGURA 91

    Captulo6

  • 5/28/2018 MATEMATICA V2

    60/206

    280

    Captulo6ANOTAES

  • 5/28/2018 MATEMATICA V2

    61/206

    281

    Captulo6ANOTAES

  • 5/28/2018 MATEMATICA V2

    62/206

    CAPTULO

    7

    EMLIA DE MENDONA ROSA MARQUES

    OPERAES ARITMTICAS

  • 5/28/2018 MATEMATICA V2

    63/206

    283

    Neste captulo abordaremos as Operaes Aritmticas,

    dividindo o tema em Um pouco de Histria, Conceituao,

    Estratgias para o ensino, Avaliao e Propostas de Atividades

    para o Ensino da Aritmtica para alunos da Educao Infantil.Ao final sugerimos uma Bibliografia que consideramos interes-

    sante para os educadores de crianas de 0 a 6 anos.

    1. UM POUCO DE HISTRIA

    A matemtica tem seu incio marcado pela inveno

    dos nmeros para contar, o que tambm marca o incio da

    aritmtica, que a arte de comparar e calcular grandezas. Esta

    inveno est essencialmente vinculada a problemas prticos e

    necessidades comerciais, tais como: contar rebanhos, repartirbens ou reas de terras, construir casas, registrar intervalos

    de tempo e prever pocas de chuvas ou de seca. Os grandes

    imprios da Antigidade, os persas, os hindus, os chineses,

    os egpcios, os babilnicos e, mais tarde, os maias, os astecas

    e os incas, na Amrica desenvolveram algum tipo de sistema

    numrico, de aritmtica e de geometria.

    A noo de quantidade, ou de nmero, e a capacidade

    de quantificar so inerentes inteligncia humana e se desen-

    volvem com o tempo. Atualmente, pesquisas comprovam que

    alguns animais possuem habilidade numrica, isto , noode quantidade, porm no possuem capacidade para desenvol-

    Captulo7

  • 5/28/2018 MATEMATICA V2

    64/206

    284

    ver o conceito de nmero, como os humanos. Na medida em

    que as sociedades crescem e se tornam mais diversificadas,

    os sistemas numricos ficam mais complexos. Na pr-histria

    e em algumas tribos indgenas contemporneas, a numerao

    no vai alm do dois ou do trs. A civilizao egpcia, no entan-

    to, realizava clculos complexos e trabalhava com nmeros

    superiores a 1 milho no sculo XXX a.C.Em um sistema numrico, os nmeros so representa-

    dos por smbolos. A quantidade de smbolos de um sistema

    numrico, e sua organizao variam de acordo com a base de

    contagem utilizada. O sistema decimal, por exemplo, cuja base

    de contagem 10, chamado de Sistema de Base 10, pois

    utiliza apenas dez smbolos diferentes para representar todos

    os nmeros. Os smbolos atuais so: 0, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8,

    9. O sistema numrico decimal organizado em unidades,

    dezenas (dez unidades), centenas (dez dezenas), milhares (dez

    centenas), etc. Ele tambm um sistema posicional, o quesignifica que a posio do smbolo no nmero indica o seu

    valor. No nmero 2.314, por exemplo, o 2 indica a quantidade

    de milhares, o 3 indica a quantidade de centenas, o 1 indica as

    dezenas, e o 4 indica as unidades.

    Existem outros sistemas numricos, por exemplo, o

    sistema adotado na Mesopotmia Antiga, o sistema de base

    60, no qual existiam smbolos especficos para representar as

    unidades de 1 a 59. H relatos de que o sistema numrico de

    base 60 foi utilizado no sculo XVII a.C., tanto na aritmtica ele-

    mentar como para efetuar complicados clculos astronmicos.Sabe-se tambm, que o sistema no apresenta um smbolo

    Captulo7

  • 5/28/2018 MATEMATICA V2

    65/206

    285

    para o zero, deixando-se um espao em branco na escrita

    dos nmeros para indicar sua posio quando da realizao

    de clculos. A medida usada para ngulos e para a contagem

    das horas uma herana desse sistema numrico. Tal sistema

    foi considerado muito prtico, visto que podem ser realizadas

    vrias divises exatas por 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 12, evitando, assim,

    a ocorrncia de fraes. Seus mltiplos tambm permitemexpressar com facilidade alguns fenmenos fsicos. Os

    babilnios, por exemplo, optaram por dividir o crculo em 360

    (que 60 x 6), devido a uma analogia feita entre o crculo e o

    movimento do Sol, ao longo do ano. Assim, o Sol desloca-se

    cerca de um grau por dia neste crculo aparente que executa

    em torno da Terra. Nesse sistema a equivalncia dada da

    seguinte forma: um grau equivale a 60 minutos e um minuto

    equivale a 60 segundos.

    Os historiadores no possuem consenso a respeito da

    inveno do zero. Alguns a atribuem aos povos da MesopotmiaAntiga, outros aos rabes, ou at mesmo a hindus e chineses.

    Entretanto sabe-se que essa inveno aumentou a preciso de

    todos os clculos e trouxe um grande desenvolvimento para a

    aritmtica e a astronomia.

    Os smbolos numricos 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, chamados

    de algarismos arbicos, foram inventados pelos hindus, por

    volta do sculo V d.C., para um sistema de numerao de

    base 10, com notao posicional. O uso do zero pelos hindus

    registrado no sculo VII, na obra Brahmasphutasidanta

    (A abertura do universo), do matemtico Brahmagupta. Osistema numrico dos hindus divulgado pelo livro Sobre a

    Captulo7

  • 5/28/2018 MATEMATICA V2

    66/206

    286

    arte indiana de calcular,escrito em 825 d.C. pelo matemtico

    e astrnomo persa al-Kwarizmi, origem das palavras algarismo

    e algoritmo. A obra de al-Kwarizmi chega Espanha islamizada

    no sculo X. Os smbolos numricos hindus so adotados

    pelos comerciantes italianos e propagam-se por toda a Europa.

    Os algarismos foram ento chamados de Algarismos Arbicos

    em contraposio ao Sistema Numrico Romano1

    , aindautilizado na poca.

    Para a realizao de clculos aritmticos os dedos e

    alguns materiais como pedras e ossosforam utilizados durante

    muito tempo, atendendo plenamente as necessidades da

    vida que se levava. Entretanto, com o avano da astronomia,

    as quantidades ficaram muito grandes e esses recursos no

    atendiam mais as novas necessidades. Assim para resolver

    essa questo inicia-se uma busca constante por melhores

    instrumentos de clculos. A melhoria dos registros das quan-

    tidades, e das operaes realizadas (mtodos operacionais)passam a ter papel fundamental nesse processo. Os sistemas

    de representao numrica surgem e se consolidam conforme

    a necessidade e cultura dos povos.

    Os chineses, por exemplo, usavam palitos para fazer

    as operaes aritmticas. No incio, os palitos eram grandes,

    depois foram diminuindo, e eram usados tambm como

    smbolos para representar os nmeros de 1 a 9. Cada nmero

    tinha um valor dependendo da sua posio no conjunto de

    palitos. Para fazer as operaes eles utilizavam um tabuleiro

    parecido com aquele do jogo de damas (ou xadrez). Os gruposde palitos eram colocados em casas que representavam

    Captulo7

    1 Esse sistema num-rico no posicional e uti-

    liza os seguintes smbolos:

    I (um), V (cinco), X (dez),

    L (cinqenta), C (cem),

    D (quinhentos) e M (mil).

    Para fazer os milhes co-

    loca-se um trao sobre os

    smbolos.

  • 5/28/2018 MATEMATICA V2

    67/206

    287

    unidades, dezenas, centenas, etc. Como no existia nenhum

    smbolo para o zero, os chineses simplesmente deixavam o

    espao em branco na escrita e quadrados vazios no tabuleiro,

    conforme relatado por historiadores.

    Outro instrumento de clculo da antiguidade o

    baco (Figura 1), chamado carinhosamente de calculadora de

    bolinhas, que surgiu por volta de 2500 anos a.C. Os bacos

    horizontais, ainda hoje facilmente encontrados no comrcio,

    consistem numa moldura de madeira onde so fixados alguns

    fios de arame, com dez bolinhas em cada fio. As bolinhas

    do primeiro fio representam as unidades, as do segundo asdezenas, as do terceiro, as centenas e assim por diante (Figura

    Captulo7

    Figura 1 (b)

    Figura 1 (a)

  • 5/28/2018 MATEMATICA V2

    68/206

    288

    1 (b)). Para a realizao de clculos com eles, deve-se consi-

    derar que cada bolinha de um certo fio vale 10 bolinhas do fio

    imediatamente superior a ele. Mantendo-se todas as bolinhas

    direita do baco, os nmeros so digitados empurrando-

    as para o lado esquerdo. Para representar o zero, basta no

    mexer nas bolinhas, deixando-as direita do baco. Na figura

    1(a) temos digitados os nmeros 30.406 e 6.060.503. Obaco foi usado em quase todas as partes do mundo.

    Com o avano das tecnologias surgiram as calculadoras

    eletrnicas e os computadores, ferramentas to poderosas

    que ultrapassaram as necessidades da Aritmtica e hoje so

    utilizadas at mesmo para o ensino da Matemtica.

    Hoje, a aritmtica faz parte do contedo proposto para

    o Ensino Infantil em nosso pas, tendo em vista que fazemos

    comparaes e medimos grandezas a todo o momento em

    nossas vidas. Deste modo importantssimo que os nossos

    pequenos alunos possam percorrer o caminho do aprendizadoda aritmtica de forma natural e agradvel, percebendo que

    a aritmtica no um amontoado de regras e sinais, sem

    significado e nem utilidade.

    Do mesmo modo que na histria da humanidade, as

    crianas, seus pais e professores, devem perceber a utilidade

    da aritmtica e da resoluo de problemas em situaes do

    cotidiano como compras em cantinas, lojas e supermercados;

    pontuao e classificao de times de futebol nos campeona-

    tos; literatura infantil, jogos e brincadeiras, dentre outras.

    Captulo7

  • 5/28/2018 MATEMATICA V2

    69/206

    289

    2. CONCEITUAO

    As operaes aritmticas so relaes entre nmeros

    tais que, a cada dois nmeros associa-se um terceiro. Esse

    conceito bastante explorado quando utilizamos jogos com

    dois dados, por exemplo, nas trilhas, pois a cada jogada os

    valores obtidos so associados ao nmero de casas a serempercorridas.

    A operao de Adio est associada idia de juntar, de

    reunir e de acrescentar. Estas idias intuitivas, que adquirimos

    na vida e levamos para a escola, constituem o ponto de partida

    para o aprendizado da Adio que est presente na prpria

    noo de nmero e na construo do sistema de numerao

    decimal. Por outro lado, a operao de Subtrao est asso-

    ciada idia de retirar (como o inverso de adicionar), o que a

    torna uma operao no to natural como a Adio. Visando

    melhor compreenso dessa operao devemos destacar suaassociao s idias de comparar e de completar, que so mais

    naturais. Lembremos ainda que a idia de retirar quantidades

    que faz sentido para crianas do Ensino Infantil a retirada

    de quantidades menores daquelas maiores existentes nas

    questes e problemas.

    A operao de Multiplicao aparece comumente

    associada soma de parcelas iguais, entretanto tambm pode

    ser relacionada com a organizao de rea e com o raciocnio

    combinatrio. Por exemplo: a rea de uma certa sala, cujo cho

    recoberto por ladrilhos quadrados enfileirados, pode ser dadaa partir da quantidade total de ladrilhos que recobrem a sala.

    Captulo7

  • 5/28/2018 MATEMATICA V2

    70/206

    290

    Para que no precisemos contar um por um, os ladrilhos do

    solo, podemos contar os ladrilhos de uma fileira e multiplicar

    pelo nmero de fileiras existentes. O raciocnio combinatrio

    tambm deve ser explorado nesse momento, utilizando por

    exemplo a formao de grupos de trabalho: Quantos grupos

    de 3 alunos poderamos formar na nossa turma?. Naturalmen-

    te que nessa idade no se pode simplesmente fazer a perguntae aguardar as respostas, deve-se construir grupos diferentes,

    para diferentes atividades e cont-los, somente depois de reali-

    zar essa atividade muitas vezes, deve-se utilizar a multiplicao

    relacionada a esse tipo de raciocnio.

    A idia associada operao de Diviso, nesse incio

    envolve apenas os atos de distribuir, repartir ou mesmo dividir

    quantidades, e deve ter seu ponto de partida em experincias

    com situaes em que ela, espontaneamente, reparte, divide,

    distribui. Como tem sido destacado por diversos pesquisadores

    da rea da Educao Matemtica, precisamos nos preocuparcom as divises que as crianas realizam nas atividades, jogos

    e brincadeiras, ou na hora de repartir o material de classe, ou

    at mesmo o lanche e sempre que oportuno, discutir com

    elas o critrio que usaram para dividir. No momento de propor

    uma atividade de diviso deve-se tomar o cuidado de propor

    divises exatas, ou no caso de no ser exata, ressaltar o fato de

    que sobrou ou faltou uma certa quantidade.

    Nesse sentido, o professor da Educao Infantil precisa

    compreender como se processam as operaes aritmticas e

    no apenas saber resolver as operaes que se apresentam.Ressaltamos tambm, que as operaes apresentadas se

    Captulo7

  • 5/28/2018 MATEMATICA V2

    71/206

    291

    completam e devem ser trabalhadas de forma simultnea, o

    que significa a construo dos conceitos das vrias operaes

    aritmticas de forma conjugada, no sendo aconselhvel

    esperar que as crianas estejam dominando o conceito da

    operao de Adio para ento introduzir as idias da operao

    de Subtrao.

    Problemas com mais de uma operao devem sertrabalhados no decorrer das atividades. Desta forma a criana

    precisar desenvolver o raciocnio lgico e a elaborao do

    pensamento, e tambm identificar, em cada momento, qual

    a operao que est sendo requisitada para a soluo do

    problema, jogo ou atividade, propostos.

    As crianas da Educao Infantil esto pensando e

    resolvendo problemas o tempo todo, pois este o caminho

    para o aprendizado do mundo que as cerca, bem como de seu

    funcionamento. Elas aprendem rapidamente que se obtiverem

    solues adequadas para seus problemas so recompensadascom situaes de conforto, segurana, carinho e at mesmo

    a satisfao biolgica das necessidades bsicas. O beb, por

    exemplo, que joga o objeto no cho para que o adulto o pegue,

    e o faz muitas vezes, est tentando aprender sobre a gravidade,

    mesmo que ele no saiba disso ainda. Se, porm, o educador

    sabe disso, no vai incomodar-se em pegar o objeto por vrias

    vezes e o devolver criana.

    Fazendo uma analogia ao exemplo dado, o educador

    ter mais pacincia com as crianas em suas vrias fases de

    pensamento lgico, tornando o caminhar delas mais tranqilo,saudvel e agradvel, sempre que compreender tais fases.

    Captulo7

  • 5/28/2018 MATEMATICA V2

    72/206

    292

    Lembramos que a ansiedade do educador pelo registro das

    operaes geralmente prejudica as crianas, fazendo com que

    elas pensem menos e imitem mais. Imitar tem o seu papel

    no ensino e aprendizagem da aritmtica, porm no podemos

    exagerar, ultrapassando os limites dos pequenos alunos.

    O registro das operaes aritmticas envolve linguagem

    simblica, a qual pode apresentar-se em vrios nveis, taiscomo: icnico (desenho do objeto), simblico (desenho de

    smbolos, ex: palitinhos ou bolinhas) e numrico (desenho do

    nmero).

    Os primeiros registros (com crianas de 3 anos) devem

    ser feitos na lousa, pelo educador atravs de vrias formas,

    usando desenhos, smbolos e numerais. Quando as crianas

    comearem a fazer os seus prprios registros, o educador

    poder observar o nvel de representao em que cada uma se

    apresenta, bem como seu desenvolvimento nessa rea.

    A linguagem numrica um facilitador da comunicaomatemtica. As crianas, mesmo sem total conscincia desse

    fato, so naturalmente estimuladas e avanam nos nveis de

    representao, pois isso facilita a comunicao interpessoal

    delas. Quando o educador percebe dificuldade ou lentido

    no processo de desenvolvimento, deve intervir atravs de

    estmulos, respeitando sempre a trajetria da criana. Traduzir

    o pensamento realizado, por exemplo, na resoluo de um

    problema, um ato difcil e desafiador para as crianas.

    Os pequenos alunos da Educao Infantil esto iniciando

    na arte de pensar, atividade mental na qual reside a sublimi-dade da raa humana. Devemos ajud-los nesse caminho,

    Captulo7

  • 5/28/2018 MATEMATICA V2

    73/206

    293

    intervindo sempre que o aprendizado esteja estabilizado, isto

    , sempre que o desafio tenha sido atingido e, por si mesmo,

    o aluno no tenha descoberto um novo desafio.

    Lembre-se que a sentena matemtica importante,

    porm o desenvolvimento do pensamento utilizado pelo

    pequeno aluno na resoluo do problema que resulta naquela

    sentena matemtica o que deve ocupar a preocupao doeducador nessa faixa etria.

    PENSAR MAIS IMPORTANTE QUE IMITAR

    A imitao pode ser utilizada em muitos momentos como

    recurso didtico, porm no pode ser a finalidade das aes e

    atividades propostas na Educao Infantil. As aes e tarefas

    propostas a uma turma se tornam atividades adequadas a ela

    se, considerando a idade dos alunos, resultarem em aprendiza-

    do para eles, ou seja, se propiciarem que os objetivos daquela

    aula sejam alcanados. O desafio est sempre presente em

    uma aula de matemtica, sendo importante a dosagem do

    mesmo pelo educador da turma para que no se torne em

    um obstculo to grande que desanime, nem to fcil que

    provoque o desinteresse. Qualquer das situaes descritas

    produz sentimentos negativos quanto ao contedo proposto,

    resultando em traumas e fazendo com que essas crianas no

    gostem de matemtica no futuro.

    Captulo7

  • 5/28/2018 MATEMATICA V2

    74/206

    294

    3. ESTRATGIAS PARA O ENSINO DAARITMTICA

    Existem muitas estratgias interessantes para o ensino

    das operaes aritmticas, e dentre elas escolhemos: resolu-

    o de problemas, jogos e brincadeiras.

    Lembramos que as operaes aritmticas devem ser

    trabalhadas simultaneamente, visto que elas se complemen-

    tam. A partir de um mesmo enunciado, podem-se apresentar

    questes variadas, cada uma envolvendo uma operao dife-

    rente. A resoluo dos mesmos deve ser registrada, porm

    o registro no precisa ser sistematizado. O importante

    descrever o raciocnio realizado, isto , o caminho trilhado para

    a obteno da soluo.

    O educador deve prestar ateno s solues, devendo

    incentivar a criana que no resolveu corretamente, a que refa-

    a seu raciocnio, ou mesmo seu registro.