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Meritocracia e Ética no Serviço Público João Bilhim A justiça e a liberdade são as questões centrais da ética e do mérito. 2, dezembro, 2015, 10h00-10h20. II Simpósio Internacional sobre Gestão Pública 2-3 de Dezembro. Auditório do CDT - L3 Norte, Campus Darci Ribeiro, Brasília - DF, 70904-970

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Meritocracia e Ética no Serviço Público

João Bilhim

A justiça e a liberdade são as questões centrais da ética e do mérito.

2, dezembro, 2015, 10h00-10h20.

II Simpósio Internacional sobre Gestão Pública 2-3 de Dezembro. Auditório do CDT - L3 Norte, Campus Darci Ribeiro, Brasília - DF, 70904-970

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As Raízes Teóricas da Meritocracia A história da introdução e difusão do principio do mérito mos EUA está normalmente associado ao Pendleton Civil Service Act, (16 de janeiro de 1883). Esta lei fundadora do sistema americano de mérito inspirou-se no sistema britânico: que é um sistema de gestão e organização de los recursos humanos da Administração Pública basado (i) num “exame competitivo” na hierarquização dos candidatos (ii) na segurança relativa de emprego (iii) na neutralidade política. Nos EUA, o sistema de gestão de recursos humanos baseado no mérito no sector público apenas se generalizou nos anos 40 do século passado(Ruhil; Camões, 2003). Wilson inspirou-se no Pendleton Act mas igualmente no organicismo alemão (Rosser, 2010).

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1. Para o Organicismo alemão o mérito era importante na Administração Pública.

2. Salienta-se que o organicismo alemão influencia os pais fundadores americanos que apenas americanizaram os princípios aprendidos dos alemãs.

3. Para STEIN o direito administrativo devia substituído por outras disciplinas - tais como a das finanças, a do exército e a da administração propriamente dita. A ideia da administração é dada pela ideia de estado operante.

4. Aliás Weber vai beber na sua própria tradição os princípios da burocracia onde está contemplado o mérito.

5. Onde se deixa de falar em mérito é na perspetiva jurídica de Bonnin. Para Bonnin o direito administrativo bastava por si para dar conhecimento de todas as matérias da administração pública.

6. Por isso, se o mérito é estranho para o sul da Europa, influenciado pelo pensamento Napoleónico de Bonnin, não o é para o organicismo alemão.

O Mérito na Tradição Alemão e Francesa no Século XIX

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A Nova Gestão Pública e a Promoção do Mérito A influência do modelo gestionário na reforma administrativa em Portugal e, em particular, no que toca à introdução de maior racionalidade técnica nos processos de gestão pública é amplamente reconhecida. Todavia, a literatura sobre a reforma administrativa apresenta bastante evidência da resiliência das burocracias institucionais à mudança. Esta apresentação quer contribuir para este debate. Para tal, examina a influência da meritocracia, como ideia do NPM, nos processos de reforma e modernização administrativa.

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A Meritocracia e o Recrutamento por Mérito: É hoje valorizada e aceite como sinal de modernidade, garantia ética, baluarte contra a corrupção, e garantia de imparcialidade na gestão das pessoas no sector público. Todavia, nem sempre foi assim. Na origem, o termo “meritocracia” era pejorativo. Quando o vocábulo “meritocracia” foi inventado (meritus + cracia), isto é, vocábulo composto de uma palavra latina e, outra grega significando poder/domínio do mérito, por Michael Young, em 1958, na obra “Rise of the Meritocracy”, o seu autor quis dar-lhe um sentido oposto ao atual.

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A Meritocracia em Weber No conceito de organização burocrática/racional, Weber inclui o mérito. Organização burocrática é pois um entidade: • ligada por normas; • baseada numa sistemática divisão do trabalho; • cujos cargos são estabelecidos segundo o princípio hierárquico; • com normas e regras técnicas fixadas para o desempenho de cada função; • onde a seleção dos funcionários se faz com base no mérito; • baseada na separação entre proprietários e gestores; • que requer recursos livres de qualquer controlo externo; • que se caracteriza pela profissionalização dos seus funcionários.

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O Enfrentamento de Paradigmas RECHTSSSTAAT

Europeu Continental : primado da lei;

individualismo; Estado-nação

INTERESSE PÚBLICO

Anglo-saxónico: primado da solução do problema; coletivismo, sociedade

industrial

O QUE É

O Estado é a força central integradora de toda a sociedade. A Administração Pública reflete e é instrumento da ação do Estado

O Estado possui um papel menos dominante com menor perímetro ou dimensão. Usa-se menos o termo “state” e mais “government”. O seu poder é necessariamente mau por isso tem de ser usado apenas no estritamente necessário, sujeito a constante escrutínio . O Estado reflete a Administração.

FOCO

Preparação, promulgação e aplicação da lei

A lei é um elemento importante do “governo” mas os seus procedimentos e perspetivas são menos dominantes do que no Europeu. Para o cidadão alei não está à frente no frontoffice mas antes no backoffice. É um meio não um fim. Os funcionários são cidadãos não representam o Estado nem constituem mandarinatos ou castas.

VALORES TIPICOS

Hierarquia, obediência, respeito pelas leis como força socialmente necessária e integradora, equidade, no limite igualdade perante a lei.

Ao “governo” compete obter o consenso ou a aceitação geral das medidas destinadas a serviço o interesse público ou geral, nacional. O governo perante a diferenças de interesses serve de árbitro, quem joga sãos os cidadãos e os grupos de interesse. A justiça, o pragmatismo e a flexibilidade são os valores cruciais, acima da capacidade técnica ou legal.

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Dois Paradigmas Administrativos Distintos

Os países da Europa Continental e os países da common law possuem administrações públicas diferentes em aspetos que não são apenas secundários. As suas diferenças são tão substanciais que podem caracterizar o que se entende por paradigmas científicos diferentes, em termos de ciência da administração pública. Um paradigma científico, para THOMAS KUHN (1970), corresponde a um quadro que inclui todos os pontos de vista comumente aceites sobre um assunto, uma estrutura de pesquisa que impõe a direção a tomar e o caminho a seguir. É mais do que uma forma de pensar – é uma visão geral, uma crença ampla e profunda sobre que tipo de problemas vale a pena resolver ou que ainda são impossíveis de resolver. É um critério para selecionar problemas que podem ser assumidos como tendo solução num determinado quadro de pesquisa.

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A Presença de Dois Paradigmas

É a existência de uma diferença profunda cujas raízes remontam ao momento da sua criação – o estado nação e a sociedade industrial – que está na base da existência destes dois paradigmas: o Europeu Continental e o Anglo-saxónico. Para compreender a administração pública Espanhola ou Portuguesa é indispensável enquadrá-la historicamente entre dois paradigmas distintos . O Europeu Continental acentuou-lhe a dimensão de instrumento de ação do Estado, e nessa medida a Administração Pública reflete o próprio Estado, enquanto o Anglo-saxónico salienta-lhe a dimensão gestionário, organizacional e de gestão de pessoas e meios para otimizar resultados destinados a satisfazer o interesse público. Acresce que os problemas da implantação da meritocracia nos países integrados em cada um destes paradigmas são muito diferentes. São diferentes porque possuem raízes culturais diferentes, expressas a través de normas, valores e crenças, muito específicos. Daí uma boa prática da Administração Pública de um país do paradigma Anglo-saxónico dificilmente pode ser utlizada na Europa Continental de forma acrítica.

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INTERESSE PÚBLICO:O Pardigma da Common law ou anglo-saxónico

No último quartel do Sec. XIX, os pais fundadores da administração pública americana conheciam, mas não quiseram imitar os modelos alemãs e franceses, expoentes do pensamento Europeu Continental do tempo. Desconfiavam do seu organicismo, do seu darwinismo social, do absolutismo régio, da centralidade do Estado, do seu coletivismo que militava abertamente contra o seu individualismo. Reconheciam as duas diferentes tradições intelectuais – individualismo americano e o organicismo europeu continental. Os americanos encaram a liberdade individual como a razão principal da organização política. A Ideia que trespassa as páginas dos principais autores norte-americanos é que os EUA, em matéria de ciência política, são mais fazedores que teorizadores do Estado. Exceção seja feita a DWIGHT WALDO. “The Administrative State”. (1948). O Estado norte-americano é um Estado Administrativo, ou seja, construído a partir da Administração Pública.

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RECHTSSSTAAT: O Paradigma Europeu Continental

Neste paradigma da Europa Continental, ao contrário do anterior, o conceito de Estado é crítico para entender a administração pública. Ela está dependente deste. Na Europa usa-se mais a expressão “administrative science” e nos EUA “Public Administration”. O Estado é tido como estando acima e sendo exterior ao cidadão, identificando-se com o governo que, por seu turno, seria a emanação do príncipe, que governa por direito divino. O Estado era visto como uma grande família proprietária de enorme quinta, cuja unidade estava simbolizada no príncipe. Havia uma espécie de unidade mística entre o príncipe o povo, podendo legitimamente colocar-se a questão de saber se era o Estado função dos cidadãos ou antes estes a função daquele. Quanto aos estudos europeus sobre a Administração Pública verifica-se que andam associados à criação e ao desenvolvimento do Estado-Nação, saído do tratado de Vestefália – todo o Estado possui um território e nenhum pode interferir nos assuntos internos do outro – são os seus princípios basilares.

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O Novo Estado Weberiano (NEW)

O que surpreende é a forma como os países da Europa Continental resistiram ao movimento da Nova Gestão Pública (NGP), mantendo os pressupostos da existência de um Estado positivo, um distintivo serviço público e o direito administrativo. Na Europa Continental, não parece que se tenha adotado a cartilha ou receita anglo-saxónicas da reforma. Concordo com Pollit e Bouckaert quando afirma: “The Continental European states is a distinctive reform model” (Pollit e Bouckaert, 2004: 99) Novo Estado Weberiano (NEW). Variantes do (NEW): • Ao norte da Europa o (NEW) apresenta uma dimensão mais participativa, algo a

aproximar-se de um democracia direta; • Ao centro uma variante mais gestionária; • A sul uma mistura de ambas a que se junta o ingrediente da inconsistência,

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Resiliência do Paradigma Europeu Continental Nas três variantes há uma comum resiliência do paradigma Europeu Continental ao assalto da NGP. A modernização na Europa Continental não rejeitou abertamente a tradição weberiana, absorvendo acriticamente os princípios da NGP que proclamava a introdução de mecanismos de mercado na administração pública, a redução do peso do Estado e uma certa empresarialização da sociedade. À pressão da Nova Gestão Pública (NGP), os países da Europa Continental reagiram com um processo de adição bem adaptado à sua tradição, embora com certas diferenças entre o norte o centro e o sul. Mas não abdicaram do seu paradigma perante o assalto anglo-saxónico. O Norte defendendo um “Estado cidadão” com vasta participação popular. O Centro defendendo um “Estado profissional”– moderno, eficiente, flexível, identificado exclusivamente com os mais elevados propósitos de interesse geral. O sul parece refletir estas duas variantes, mas com uma nova característica mais inconstante.

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Reafirmação do papel do Estado como o grande facilitador das soluções para a globalização, mudança tecnológica, ameaças ambientais. Reafirmação do papel da democracia representativa ao nível, central, regional e local como elementos de legitimação do aparelho do Estado. Reafirmação do direito administrativo devidamente modernizado para asseguração a relação justa entre o Estado e os cidadãos e o escrutínio das ações do Estado e dos seus agentes pela sociedade. Manutenção do serviço público com um estatuto especial, termos, condições e cultura diferentes.

Elementos Weberianos

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1. Mudança da orientação interna focada no cumprimento da lei para uma orientação externa focada no cidadão. Isto não é atingido pela utilização de mecanismo de tipo “mercado” como impunha a cartilha da NGP, mas através da criação de uma cultura profissional e de qualidade de serviço.

2. Reforço (não substituição) do papel da democracia representativa por um conjunto novo de instrumentos de consulta e audição dos cidadãos.

3. Alteração legislativa destinada a encorajar a orientação da gestão para os resultados mas do que para o correta aplicação dos procedimentos, nomeadamente pela mudança de controlo a priori para verificação a posteriori.

4. Profissionalização destinada a transformar o funcionário burocrata, perito na interpretação e aplicação da lei e procedimentos, num gestor profissional , orientado para a satisfação das necessidades dos cidadãos.

Elementos “Neo” Weberiano

Pollit y Bouckaert, 2004

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Apesar de toda a retórica e das narrativas de modernização e reforma, a cultura administrativa da Europa Continental é resiliente. Isto mesmo foi verificado em estudo recente, aceite para publicação na Revista de Sociologia da Universidade do Porto, é verificado por Bilhim e Correia no artigo Diferenças nas perceções dos valores organizacionais dos candidatos a cargos de direção superior na Administração Central do Estado. Neste trabalho, verifica-se com forte robustez estatística, que os candidatos a cargos de direção superior com origem interna na Administração valorizam mais os valores típicos da tradição administrativa, nomeadamente a lei, a equidade a transparência, a justiça social, a prestação de contas, enquanto os candidatos externos percecionam mais positivamente os resultados, a eficiência, sustentabilidade e o mérito.

A Resiliência Portuguesa

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Mérito e ética?

• Os novos processos e reforma e modernização administrativa atribuem aos gestores públicos maiores graus de liberdade de decisão que podem colocar a sua integridade à prova.

• A Nova Gestão Pública apresenta-se com um programa de:

• Cortes orçamentais; privatizações; rutura entre o financiamento e aprestação; contratualização; vouchers ou cheques diretos aos cidadãos; foco no cliente e não no utente; fomento da concorrência entre prestadores (privado/ público e público/público); gestão flexível; uma reedição da dicotomia de Wilson quanto à relação entre políticos e burocratas; descentralização e desconcentração de serviços; agenciamento; fomento das TIC’s; maior regulação e menor prestação pelo Estado; avaliação do desempenho; recrutamento por mérito.

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Reformas e Risco Ético

1. O novo paradigma de reforma exige liberdade de decisão dos gestores.

2. A liberdade de decisão acarreta risco ético.

3. O novo paradigma acarreta risco ético.

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“Há que regular a máquina do Estado com tal precisão, que os ministros estejam impossibilitados, pela própria natureza das leis, de fazer favores aos seus conhecidos e amigos”. Salazar, em 1932, em entrevista, ao jornalista António Ferro .

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Boa Governança

Monteiro, Pinto. (2015). Estudo sobre Boa Governança. Lisboa: Ministério da Saúde.

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Os Portugueses são tolerantes com a Corrupção?

• Cerca de 63% dos portugueses toleram a corrupção desde que produza efeitos benéficos para a população

• 84% considera ineficaz o combate à corrupção.

• A corrupção do tipo “Ze do Telhado” (que favorece os mais fracos) anda tem grande aceitação em Portugal.

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Transparency International: IPC 2014

Brasil 4,3 Abaixo da média de países

Portugal 6,3 Acima da média de países

Dinamarca 9,2 País menos corrupto

Somália 0,8 País mais corrupto

http://www.transparency.org/cpi2014/results#myAnchor1

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Terapêutica para a Corrupção

• Definição de um estratégia nacional contra a corrupção;

• A corrupção combate-se pela prevenção para reduzir a desconfiança e a suspeição e a complacência a começar na pequena dimensão;

• A transparência, a colegialidade, a responsabilidade; a revelação de interesses e a celeridade da justiça.

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Prestação de contas /accountabillity; códigos de conduta; mecanismos de monitorização, como questionários internos e externos; estruturas de apoio ao desenvolvimento, implementação e auditoria; mecanismos de acompanhamento e socialização profissional; introdução de um mais forte apelo à participação ativa dos cidadãos nas denúncias de más práticas.

Como poderá a Ética ser Incentivada? 1/2

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O papel dos líderes /administradores, chefias de todos os níveis, através da sua conduta e posição privilegiada, reveste-se de particular importância e criticidade, e por isso deverá estar sujeito a uma atenta e incisiva avaliação por parte dos órgãos governamentais (representantes dos eleitores).

Como poderá a Ética ser Incentivada? 2/2

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Em Portugal: Conselho de Prevenção da Corrupção

• O Conselho de Prevenção da Corrupção é uma entidade administrativa independente que funciona junto do Tribunal de Contas e tem como fim desenvolver, nos termos da lei, uma actividade de âmbito nacional no domínio da prevenção da corrupção e infracções conexas.

(artigo 1º da Lei nº 54/2008).

• http://www.cpc.tcontas.pt

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CReSAP: Competências

Artigo 11.º dos Estatutos da CReSAP: • f) Promover as boas práticas de gestão e ética para titulares de

cargos de direção superior na Administração Pública; • g) Promover a aprovação e adoção de princípios orientadores para

códigos de conduta destinados a titulares de cargos de direção superior na Administração Pública;

• h) Cooperar com organizações de âmbito internacional, comunitário e demais órgãos congéneres estrangeiros em matérias de recrutamento e seleção na Administração Pública e de boas práticas e códigos de conduta dos cargos de direção superior;

• i) Cooperar com entidades públicas e privadas de níveis nacional, regional e local em matérias de recrutamento e seleção na Administração Pública e de boas práticas e códigos de conduta dos cargos de direção superior.

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Corrupção

• Desvio de poder;

• Criar dificuldades para vender facilidades.

• Apropriação para fins particulares de poderes públicos:

• Comportamento desviante relativamente a standards legais ou sociais.

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Ética e Decisão

• A ética passou a ser um ponto importante no processo de tomada de decisão. Há três maneira de tomar decisões num quadro ético:

1. Utilitarista: As decisões são tomadas apenas tendo em conta as suas consequências. O objectivo é atingir o máximo bem para o máximo de pessoas;

2. Focalizado no Direito: A CRP, Direitos, liberdades e Garantias;

3. Focalizado na Justiça: a universalidade, salário igual. • Cada um apresenta vantagens e desvantagens. A primeira a eficiência,

eficácia, economia, mas é inconsistente com a protecção de certos direitos das minorias. A segunda assegura os direitos individuais e é consistente com a liberdade e a privacidade, mas pode prejudicar a eficiência pela rigidez normativa. A terceira protege os interesses dos mais fracos, mas promove a burocracia e a falta de estimulo de quem trabalha mesmo.

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Há Ações Intrinsecamente Erradas?

• Se ao torturar alguém estivéssemos a salvar uma vida ou cem, a tortura seria admissível ou mesmo imperativa?

• Se com apenas de mortes estivéssemos a salvar

muitas outras vidas, seria esta admissível?

• Para testar as nossas intuições éticas acerca dos valores universais recorre-se a um conjunto de dilemas o mais conhecido será o do “trólei” e o da “ponte”.

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O Dilema do Trólei

Phillipa Foot, que ensinou filosofia em Oxford foi a mãe do dilema do trólei.

Você esta junto ao interruptor de linha de um comboio. Numa linha há cinco pessoas atadas à mesma na outra apenas uma pessoa atada. O comboio perdeu os travões e vai no sentido de ceifar a vidas das cinco pessoas. Todavia, se você acionar o interruptor o comboio muda de linha e matará penas uma.

• O que deve fazer?

Um transeunte não pode empurrar alguém para a morte, mas pode, legitimamente, procurar minimizar os efeitos de uma ameaça que já existe.

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O Dilema da Ponte

Este dilema foi construído por Judith Tarvis Thomson filósofa do MIT.

Você encontra-se numa ponte pedonal a olhar a linha de comboio ao lado de uma pessoa muito obesa. Verifica que o comboio que se aproxima perdeu os travões e irá matar as cinco pessoas que se encontram atadas à via férrea por não ter possibilidade de travar. Todavia poderia atirar à linha a pessoa obesa que se encontra a seu lado e o seu volumoso corpo travaria o comboio e impediria este de matar as cinco vítimas, embora este fosse morrer.

Deverá empurrá-lo?

A sua autora quis chamar a atenção para os direitos das pessoas. Para ela o homem gordo tem o direito a não ser empurrado e morto, mas o mesmo não é verdade para o infeliz que está atado ao carril no problema do trólei.

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A Intuição das pessoas em geral 1/2

• No problema do trólei, a intuição das pessoas em geral é que se deveria acionar o interruptor, matando um para evitar matar cinco.

• Já no caso da ponte, não se deveria empurrar o obeso.

• A questão é: o que diferencia estes dois casos, ou seja, quais os limites da ética utilitarista?

• Responder a estes dilemas é encontrar caminho para uma série de questões que se colocam na vida real tais como a tortura, a pena de morte, conflitos armados; o uso legítimo da força/coerção, das nossas obrigações para com estranhos, no que respeita a temas da saúde e da segurança onde e como devemos situar a análise custo-benefício.

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A Intuição das pessoas em geral 2/2

• As ciências sociais levantam problemas sérios sobre o pensamento intuitivo.

• As nossa intuições são altamente vulneráveis à “moldura”. Se for dito às pessoas que 90% daqueles que são submetidos a um cirurgia estarão vivos ao fim de cinco anos, a tendência será pensar que a intervenção é uma boa ideia. Pelo contrário, se lhes for dito que 10% morrem ao fim de cinco anos, então tenderão a pensar que é uma má ideia.

• Acresce que o cenário também conta. Quando as pessoas estão de bom humor – por causa do bom tempo, ou por estarem a ler histórias felizes etc. – as sua intuições podem ser diferentes do que quando estão zangadas ou tristes. Acresce ainda o efeito dos enquadramentos e contextos. Após assistirmos a uma comédia mais facilmente aceitaremos empurrar o obeso e se tiver nome de palhaço.

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A Ética Utilitarista

• De acordo com os princípios do utilitarismo, tanto o problema do trólei, quanto o da ponte se assemelham e de fácil resolução. Devemos puxar o interruptor e devemos atirar o obeso porque é melhor salvar cinco pessoas que uma só.

• John Stuart Mill salienta que, do ponto de vista utilitarista, pode ser melhor a adoção de medidas muito claras que sustentem e até valorizem a noção de “utilidade” em geral, no sentido do bem-estar e todos e até na do Estado social, mesmo que isso possa levar a minorar a noção de utilidade em alguns casos individuais.

• O utilitarismo estaria disposto a condenar um inocente se a consequência beneficiasse o bem-estar de todos. Há que a isto contrapor que se o sistema legal descurar a questão da inocência e da culpa pode vir a colapsar.

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David Edmonds

• Para Edmonds, os utilitaristas deveriam estar preparados para aceitar e ser obrigatório empurrar obeso apenas sob determinadas condições – por exemplo, se se desse o caso de não pôr a coesão social em risco, ou de nunca ninguém vir a saber o que se passou.

• O autor reforça o seu argumento com o dilema de Williams: Jim, na América do Sul, onde um bando vai fuzilar 20 pessoas, é desafiado pelo líder do bando - se fores tu a matar um, eu poupo os restantes 19. Deverá Jim disparar?

• Para os utilitarista a resolução era simples deve disparar para poupar 19. Nessa perspetiva nada interessa a integridade da pessoa, ou seja, o que interessa é “aquilo” que é capaz de produzir o melhor resultado, e não quem produz esse resultado ou como lá se chegou.

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• A justiça e a liberdade são as grandes tensões da modernidade. O liberalismo arvora a liberdade como prioritária; o socialismo reclama a prioridade para a justiça.

• Valores como a tolerância, a coragem ou ideais como a democracia, o progresso, a educação universal são corolários desta tensão.

• Os valores são o ângulo pelo qual olhamos a realidade como algo bom ou mau, belo ou feio, diferente do ângulo como vemos a verdade ou o erro.

• Os valores fazem parte do universo não racional, diferente de irracional.

O que são os valores?

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• A ética tem mais a ver com aspirações do que com constatações. As constatações pertencem ao domínio do sociológico e do histórico. Aqui usamos o verbo no indicativo. Nas aspirações o modo do verbo é o imperativo.

• Na ética, usamos a linguagem do dever ser e não do ser. Ora, esta linguagem do dever ser pertence ao domínio dos ideais e aspirações.

• Aqui colocam-se dois níveis distintos: o do dever que cobre os mínimos que se pode exigir a outrem; e o da virtude que não pode ser legislado, nem imposto a ninguém, mas que apreciamos, aspiramos, recomendamos e admiramos quando o vemos posto em prática por alguém. É por isso que dizemos: “quem cumpre o seu dever a mais não é obrigado”, mas também não merece prémio.

O que é a Ética?

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• Uma coisa é a ética que eu posso impor aos outros, e outra a que eu pratico. A que eu aplico a mim é muito mais exigente do que a que eu exijo dos outros. Aqui entra Aristóteles com a sua ética de virtudes.

• O mínimo exigido aos outros tem de ser justificado racionalmente. Tudo o que se destina a ser imposto aos outros exige fundamentação racional, isto é, explicado com argumentos, negociado em diálogo; tudo quanto tem a ver connosco próprios, desde que os mínimos estejam cumpridos, pertence a nós e à consciência ou a imagem que eu aceitarei que os outros façam de mim.

A ética para os outros e para mim

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• Identifica-se a virtude com as qualidades das pessoas: boas e más nas suas ações?

• Aristóteles considerava que era através do cultivo da vida virtuosa que as mesmas se adquiriam e desenvolviam, num eterno processo de aprendizagem. Assim, as virtudes eram uma espécie de meio termo entre dois excessos, como por exemplo a coragem, que se situava entre a cobardia e a temeridade. Ambos os extremos eram vícios a evitar, e a pessoa virtuosa era aquela que conseguia alcançar uma condição harmoniosa entre as várias virtudes.

• A ética aristotélica assume particular relevo porque admite que é através de um processo de aprendizagem e de esforço que se aperfeiçoam as virtudes, mas por outro lado, para além da dificuldade da escolha das virtudes, não esclarece até que ponto se podem resolver situações em que várias virtudes confluam e se contrariem mutuamente.

Ética e virtude

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• Etimologicamente têm o mesmo significado. • Contudo, alguns autores preferem fazer ligar a ética a

uma condição mais teórica e reflexiva sobre as ações e conduta humana, e a moral, ao conjunto dos princípios, práticas e sistemas convencionados.

• A moral representará a ação humana; a ética a reflexão crítica sobre essa mesma ação.

• Consideramos que esta distinção não é de grande utilidade, dada a complexidade e interligação dos aspetos, que não são estanques, e que dizem respeito a toda esta temática.

Moral e ética confundem-se?

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• Tem-se assistido a um forte crescimento do interesse pela ética na administração pública, a tal ponto que autores e até organizações como a ASPA – American Society for Public Administration defendem a sua autonomização como campo de estudo.

• Por outro lado, a OCDE - Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico, vem dar ênfase à premência, importância e atualidade desta temática, nomeadamente através da produção de numerosos estudos e trabalhos, consubstanciando-se as suas preocupações e interesse por este assunto na criação de uma área de intervenção específica - Ethics and Corruption. Neste sentido, é preconizado pela OCDE, que aos tradicionais 3E – economia, eficácia e eficiência, se acrescente um outro: o E de Ética.

• A própria ONU, através da UNPAN - United Nations Online Network in Public Administration and Finance, tem uma diretoria específica que aprofunda e estuda esta problemática.

A Ética na Administração Pública

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• Qual o papel dos dirigentes superiores no combate à corrupção?

• Boas leis e boas instituições reduzem a oportunidade à corrupção?

• Há ações intrinsecamente erradas ou será que são erradas apenas por causa das sua consequências?

• Os valores da ética são susceptíveis de serem administrados?

• Controlo da corrupção ou elisão da corrupção?

Questões para reflexão

Page 44: Meritocracia e Ética no Serviço Público · Meritocracia e Ética no Serviço Público João Bilhim A justiça e a liberdade são as questões centrais da ética e do mérito. 2,

• BILHIM, J. (2012). A afirmação do mérito nos processos de seleção para a alta direção da administração pública portuguesa. XVII Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Cartagena, Colombia, 30 oct. - 2 nov. 2012 .http://www.dgsc.go.cr/dgsc/documentos/cladxvii/bilhimjo.pdf

• BILHIM, J. (2014) . As Práticas dos Gestores Públicos em Portugal e os Códigos de Ética. Revista Seqüência, (Doi: http://dx.doi.org/10.5007/2177-7055.2014v35n69p61)

• EDMONDS, David – Would you kill the Fat Man? The Trolley Problem and What Your Answer Tells Us about Right and Wrong. Princeton University Press, ISBN: 9780691154022

• OCDE – Principles for managing ethics in the public service. OCDE, 1998 (PUMA policy brief n.º 4)

• RAWLS, John – Uma Teoria da Justiça. Lisboa: Presença, 1993.

• RICŒUR, P. - Parcours de la Reconnaissance: Trois études. Paris: Stock, 2004.

• RICŒUR, P. - Le Juste 2. Paris: Esprit, 2001.

• Transparency International. (2014 ). 175 SCORES: HOW DOES YOUR COUNTRY MEASURE UP?

Bibliografia

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João Bilhim

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