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Elric: Stormbringer

© Copyright 2011 Michael Moorcock

Publicado originalmente em 1965

Versão para E-Book sem fins lucrativosCultura Digital / Sebo Digital

osebodigital.blogspot.com

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Michael Moorcock

ELRIC:

STORMBRINGER

Tradução de

Donaldson M. Garschagen

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Sumário

PRIMEIRA PARTEO Advento do Caos 7

SEGUNDA PARTEO Escudo do Gigante Triste 111

TERCEIRA PARTEA Agonia do Príncipe Condenado 135

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PRIMEIRA PARTE

O Advento do Caos

Durante dez mil anos floresceu o Império Bri-lhante de Melniboné. Dez mil anos antes de a História ser registrada ou dez mil anos depois que deixaram de ser compostas as crônicas, como se preferir. O Império de Melniboné governou o mundo por cem séculos, sem rival, e então, abalado por terríveis maldições, atacado por forças mais que funestas, também ele soçobrou.

E quando chegou essa época, turbou-se a face da Terra e agitaram-se os céus; a sorte dos Homens e dos Deuses foi talhada na forja do Destino; guerras mons-truosas tiveram lugar e se realizaram façanhas prodi-giosas. E quando chegou esse tempo, a chamada Era dos Jovens Reinos, muitos heróis surgiram. Entretanto, sobre todos eles sobressaiu-se Elric, o último soberano de Melniboné, aquele que brandia a Espada Negra de mágicos poderes.

Elric de Melniboné, altivo príncipe de ruínas, último monarca de uma raça moribunda! Feiticeiro e assassino de parentes, o destruidor de sua pátria, o al-bino de olhos escarlates que ignorava quão trágico era o destino que trazia dentro de si!

A Crônica da Espada Negra

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I

Sobre as colinas ondulantes, grandes nuvens fizeram desabar sua carga e raios fulgurantes trespassaram o negror da noite, fendendo árvores e calcinando telhados.

A massa sombria da floresta agitou-se com o choque e dela emer-giram seis figuras acorcundadas que fizeram uma pausa para contemplar, além dos outeiros, os contornos de uma cidade. Era uma cidade de muros robustos e agulhas esguias, de graciosas torres e cúpulas. E seu nome não era desconhecido daquele que conduzia as criaturas: era ela Karlaak do Deserto Plangente.

Não sendo natural, a borrasca prenunciava maus augúrios e gemia em torno da cidade de Karlaak enquanto as criaturas se esgueiravam pe-los portões abertos e caminhavam, entre sombras, em direção ao elegante palácio onde Elric dormia. O líder do grupo ergueu um machado de ferro na mão retorcida. Os seres se detiveram, fitando um palácio amplo sobre uma colina cercada de jardins dos quais se exalavam langorosos perfumes. A terra tremeu quando um raio se abateu sobre ela e o trovão roncou no céu turbulento.

— O Caos nos auxiliou nesta missão — sussurrou o líder. — Vejam, as sentinelas já caíram num torpor mágico e nossa entrada não será difícil. Os Senhores do Caos são bondosos com seus servos.

Dizia a verdade. Alguma força sobrenatural agira para que os guer-reiros que guardavam o palácio de Elric estivessem prostrados ao chão. Os servos do Caos passaram furtivamente pelas inertes sentinelas, penetraram no pátio principal e dali foram ter ao interior do palácio. Sem hesitações, subiram sinuosas escadarias, caminharam silenciosamente por escuros corredores e chegaram afinal ao aposento onde Elric e sua mulher dor-miam um sono intranquilo.

Ao tocar a porta do aposento, o líder do grupo ouviu uma voz for-te que bradava dentro do cômodo: “O que acontece? Que coisas infernais perturbam meu repouso? “

— Ele nos vê! — murmurou assustada uma das criaturas.— Não — retrucou o líder — ele dorme, mas um feiticeiro como

Elric não é levado ao torpor com tanta facilidade. Melhor será nos apres-sarmos e concluirmos logo a missão, pois se ele despertar mais difícil ela se tornará!

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Empurrou a porta, já com o machado erguido. Um relâmpago varou novamente a noite, revelando o rosto alvo do albino, entre pelicas e sedas, junto ao de sua esposa, formosa mulher de cabelos negros.

No momento em que as criaturas penetraram no aposento, ele se ergueu no leito e seus olhos escarlates se abriram, fitando-as como se não as vissem. Por um instante, os olhos se embaçaram, mas então o albino obrigou-se a despertar, bradando:

— Desaparecei, criaturas de meus sonhos!O chefe praguejou e deu um salto para a frente, mas fora instruído

para não matar aquele homem. Levantou o machado ameaçadoramente.— Silêncio! Teus guardas não podem ajudar-te!Elric saltou do leito e agarrou o pulso da criatura, aproximando o

rosto do focinho provido de presas. Devido ao seu albinismo, era fisica-mente débil e só a magia lhe emprestava forças. Entretanto, tão rápido fora seu gesto que conseguiu arrancar o machado da mão da criatura, vibrando um golpe com o cabo entre seus olhos. Rosnando, ela caiu de costas, mas seus companheiros a socorreram. Havia cinco deles, com músculos desco-munais retesados sob o couro de pêlos eriçados.

Elric abriu ao meio o crânio do primeiro, enquanto os outros se ati-ravam sobre ele. O sangue e os miolos esguicharam sobre seu corpo e ele arquejou, horrorizado com o fedor. Conseguiu livrar o braço e atirou o machado na clavícula de outra das criaturas. Sentiu porém as pernas serem agarradas e caiu, perplexo, mas prosseguindo o combate. Alguma coisa pe-sada se abateu então sobre sua cabeça e a dor o atordoou. Fez um esforço para se erguer, não conseguiu e desfaleceu.

Trovões e relâmpagos ainda agitavam a noite quando, com a cabeça latejando, ele voltou a si e se levantou lentamente, apoiando-se numa colu-na do leito. Olhou pasmado em torno.

Zarozínia desaparecera. A única outra figura no aposento era o ca-dáver rígido da criatura que ele matara. Sua esposa, a formosa princesa de cabelos negros, tinha sido sequestrada.

Tremendo, chegou até a porta e a escancarou, chamando os guardas, mas nenhum deles lhe respondeu.

Sua espada mágica, Stormbringer, encontrava-se no arsenal da cida-de, e demoraria a chegar às suas mãos. Com a garganta contraída de dor e cólera, percorreu os corredores e escadarias, entorpecido pela ansiedade, tentando apreender as implicações do desaparecimento de sua mulher.

Sobre o palácio ainda uivava a tempestade, sacudindo a noite. O pa-lácio parecia abandonado e Elric sentiu-se subitamente sozinho. Mas ao

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sair correndo para o pátio principal, viu os guardas imóveis e compreendeu incontinenti que seu sono não podia ser natural. Começava a entender o que se passara, enquanto disparava pelos jardins, transpunha os portões e corria para a cidade, sem vislumbrar sinal dos sequestradores de sua mu-lher.

Para onde teriam ido?Levantou os olhos para o céu tonitruante. O rosto branco e severo

estava contorcido numa máscara de fúria impotente. Aquilo não fazia sen-tido. Por que a haviam tirado do palácio? Elric tinha inimigos, bem o sabia, mas nenhum que fosse capaz de mobilizar tal auxílio sobrenatural. Quem, além dele próprio, controlava essa magia poderosa que fazia os próprios céus se sacudirem e uma cidade adormecer?

Elric precipitou-se em direção à casa do Senhor de Voashoon, Sena-dor Máximo de Karlaak, pai de Zarozínia, ofegando como um lobo. Bateu com os punhos na porta, gritando para os servos atoleimados.

— Abram! Sou eu, Elric. Depressa!As portas se abriram de par em par e ele as transpôs. O Senhor de

Voashoon desceu a escada do salão aos tropeções, com o rosto ainda pesa-do de sono.

— O que houve, Elric?— Chama teus guerreiros. Zarozínia foi sequestrada. Aqueles que a

levaram eram demônios e talvez já estejam longe daqui neste momento... mas temos de procurar, pois é possível que se tenham evadido por terra.

O rosto do Senhor de Voashoon transfigurou-se e num instante fi-cou alerta, gritando ordens para os servos ao mesmo tempo em que escu-tava o relato de Elric a respeito dos acontecimentos.

— E por isso tenho de penetrar na sala de armas — concluiu Elric. — Preciso de Stormbringer!

— Mas se foste tu mesmo que renunciaste à espada por temer o po-der maléfico que tinha sobre ti! — lembrou-lhe o Senhor de Voashoon se-renamente.

A resposta de Elric revelava impaciência.— Sim... mas renunciei à arma também por amor a Zarozínia. Para

trazê-la de volta, preciso de Stormbringer. É simples questão de lógica. Rá-pido, dá-me a chave.

Silenciosamente, o Senhor de Voashoon trouxe a chave e conduziu Elric ao arsenal onde se encontravam as armas e as couraças de seus ances-trais, sem uso havia séculos. Pelo aposento empoeirado, Elric caminhou até uma câmara sombria que parecia conter algo vivo.