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MÚLTIPLOS OLHARES ÀS NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS DO ALUNO CEGO
Autora: Solange Gagliotti Algarte1
Orientadora: Érika Aparecida Regiani2
RESUMO
Este artigo apresenta conhecimentos necessários à formação continuada de professores que trabalham com alunos com Necessidade Educacionais Especiais (NEE), (em questão, alunos cegos), na rede regular de ensino, tendo em vista as novas exigências impostas pela educação inclusiva. Os objetivos deste estudo consistiram em verificar o nível de conhecimento apresentado pelos professores do Colégio Souza Naves no município de Rolândia que atuam no Ensino Regular com alunos cegos; intervir junto a esses professores oferecendo-lhes teorias e práticas essenciais ao atendimento educacional de alunos cegos em contextos inclusivos. O trabalho foi desenvolvido por meio de um curso de formação continuada com carga horária de 4 horas semanais perfazendo um total de 32 horas. E foi realizado no Colégio Souza Naves junto aos professores do Ensino Regular que trabalham com alunos cegos e para o seu desenvolvimento, os conteúdos essenciais foram divididos em 5 categorias: Processo de Educação Inclusiva, Atividade de Vida Autônoma (AVA), Sistema da escrita Braille, Sorobã, e Orientação e Mobilidade para cegos (OM). Para a realização desta pesquisa científica, foi utilizado o método de pesquisa qualitativa, no qual foram realizados questionários e atividades antes e durante o curso. Os resultados deste procedimento evidenciaram que, antes do curso, esses professores sentiam-se despreparados e inseguros ao trabalharem com os alunos cegos e após participarem do curso, os professores demonstraram estar mais seguros e mais capazes para atender as necessidades educativas especiais desses alunos. Os resultados obtidos sugerem que o curso de formação continuada, gerou mudanças significativas no conhecimento em como atender as necessidades educativas especiais dos alunos cegos. Tais resultados apontam a importância da formação continuada para professores que trabalham com alunos com NEE para que estes possam ofertar a esses alunos, permanência e sucesso no processo ensino aprendizagem por meio de uma inclusão de qualidade.
Palavras-Chave: Educação Inclusiva; formação continuada; alunos cegos
1 Pós-Graduada em: Educação Especial Inclusiva e Deficiência Visual. Graduada em: Ciências/Biologia.
2 Mestre em Educação com ênfase em Formação de Professores para Educação Inclusiva, Especialista em Educação Especial e Gestão Escolar, Graduada em Pedagogia. Professora de graduação e especialização em Educação Especial.
1 INTRODUÇÃO
Os fundamentos teóricos metodológicos da inclusão escolar estão
centralizados numa concepção de educação de qualidade para todos, enfatizando o
respeito à diversidade dos educandos. Assim, cada vez mais tem sido realizados
debates sobre a importância da preparação de profissionais e educadores, em
especial do professor de classe comum, para o atendimento das necessidades
educacionais de todas as crianças, com ou sem deficiência.
Em nossa prática profissional, percebeu-se que os professores do Colégio
Estadual Souza Naves da cidade de Rolândia, PR, que trabalham com os alunos
cegos, em sala do ensino regular, se sentiam inseguros e despreparados para
proporcionar uma inclusão de qualidade. Eles relataram uma enorme dificuldade em
ofertar um atendimento individualizado devido ao número excessivo de alunos em
sala de aula. Sentiam também, dificuldade em flexibilizar o currículo, adaptar os
conteúdos e as avaliações. Relataram que não conseguiam auxiliar o aluno cego na
realização das tarefas pedagógicas, pois não tinham conhecimento de Braille nem
de sorobã, que são os métodos específicos e essenciais aos alunos cegos para o
pleno desenvolvimento de suas atividades pedagógicas.
Devido aos referidos problemas, a tendência da maioria desses professores,
era deixar que o aluno ficasse ocioso em sala de aula, transferindo a
responsabilidade de adaptar materiais e conteúdos, por conta dos especialistas que
trabalham com esses alunos em horário alternado nos Centros de Atendimento
Educacional aos Deficientes Visuais (CAE/DVs).
Da mesma forma, identifica-se que os alunos cegos também se sentiam
inseguros e desmotivados, pois percebiam a grande dificuldade do professor em
trabalhar atendendo as suas especificidades.
Portanto, foi de extrema necessidade propiciar aos professores que
trabalham com alunos com NEE, em questão alunos cegos, formação continuada
com o propósito de que esses professores pudessem adquirir conhecimentos sobre
a especificidade da deficiência visual, para dar-lhes condições de promoverem
adequadamente o processo de inclusão destes alunos, justificando assim, a
realização deste curso de formação continuada que foi desenvolvido sob enfoque
qualitativo, pois vem de encontro com os nossos estudos e as nossas necessidades.
Em face dessas considerações, o presente estudo enfatizou como
problematização, os procedimentos que o professor deve conhecer para atender às
Necessidades Educativas Especiais dos alunos cegos incluídos em classe comum
do ensino regular. Além disso, visou investigar como os professores do Ensino
Regular entendem a inclusão escolar, buscando também, conhecer as dificuldades
existentes e as suas necessidades de preparação para promover a inclusão de
alunos com deficiência.
Este artigo inicia-se, num primeiro momento, com a exposição do item
fundamentação teórica que nos remete a uma análise da formação continuada dos
professores do Ensino Regular que trabalham com alunos com Necessidades
Educativas Especiais, mais especificamente, com alunos cegos. Na sequência,
evidencia-se o método desenvolvido na pesquisa e apresentam-se os Resultados e
Discussões que foram organizados em cinco categorias.
2 INCLUSÃO DO ALUNO CEGO
O inciso III do artigo 208 da Constituição Brasileira, faz referência quanto ao
atendimento educacional especializado aos portadores de deficiências,
principalmente na rede regular de ensino e na Política Nacional de Educação
Especial (MEC/SEEP, 1994), o MEC estabelece como diretrizes da Educação
Especial; o apoio ao sistema regular de ensino para a inserção dos alunos com
necessidades educativas especiais e prioriza financiamento a projetos institucionais
que estão voltados às ações integradoras. Esta mesma definição foi posteriormente
reforçada na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9394/96), e
recentemente nas Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação
Básica (BRASIL, 2001).
Segundo Aranha (2001), a educação das pessoas cegas, ao longo da
história, passou por um processo idêntico ao das outras deficiências. De acordo com
o período, as crenças, as concepções que envolviam as deficiências, os conceitos
foram se modificando e também na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (BRASIL,
1996), no artigo 59, que preconiza que, os sistemas de ensino devem assegurar aos
alunos: currículos, métodos, recursos e organização específicos para atender às
suas necessidades e também assegura a terminalidade específica, àqueles que não
atingirem o nível exigido para a conclusão do ensino fundamental, em virtude de
suas deficiências. Por isso, ao se abordar a Educação Inclusiva, nada mais
relevante do que destacar a preocupação com a formação e qualificação de
profissionais no desempenho, com competência, de uma educação de qualidade.
Esta formação deve contemplar o contexto do professor, pois é justamente, em sala
de aula, que o saber da experiência se manifesta.
De acordo com as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na educação
básica, que salienta que, uma das principais atribuições do trabalho docente é atender
às especificidades de aprendizagem de cada criança, incentivando-a a aprender e
desenvolver seu potencial a partir de sua realidade pessoal. O professor deve ter como
compromisso a promoção da aprendizagem e do desenvolvimento de todos os alunos,
considerando e respeitando as diferenças decorrentes de questões sócio-culturais,
étnicas, lingüísticas e, também, de problemas de ordem física, sensorial ou intelectual.
Além disso, precisa buscar respostas educativas que favoreçam o sucesso escolar de
seus alunos (BRASIL, 2001).
É fundamental que sua ação pedagógica contemple os pilares propostos por
Delors (1999), aprender a aprender, aprender a fazer, aprender a viver junto e
aprender a ser. Precisa, então, criar e favorecer oportunidades educacionais que os
levem à apropriação do conhecimento de forma crítica e reflexiva, que possibilitem a
construção e desenvolvimento de competências necessárias para sua autonomia e
participação na sociedade, a partir do estímulo e valorização do trabalho em grupo.
Assim, nos ensina Carvalho, (2002, p.48), “esses pilares projetam a
aprendizagem para além das concepções tradicionais de educação, centradas no
conteudismo e no papel do professor como mero transmissor de informações”. Além
disso, sustentam a idéia de que uma educação de qualidade deve ter sua proposta
educacional centrada no aluno, ou seja, nos seus interesses, nas suas
possibilidades e necessidades básicas de aprendizagem e sobre tudo, na
construção de sua autonomia.
De acordo com a Declaração de Salamanca (1994), a educação inclusiva
conduz à necessidade do professor saber respeitar e conviver com as diferenças,
buscando estratégias que viabilizem seu trabalho na e para a diversidade, estando
sempre preparado para adaptar-se às novas situações que poderão surgir no interior
da sala de aula.
Deve-se então, ter como fonte de preocupação nos cursos de formação de
professores a ênfase na aprendizagem de todo e qualquer aluno,
independentemente de suas diferenças, na indissociabilidade da teoria à prática,
contemplando compulsoriamente o “saber” e o “saber fazer”, ou seja, a articulação
entre a teoria e a prática. O professor precisa aprender que todos seus alunos
deverão participar coletivamente da construção de um saber, levando em conta as
suas necessidades, mas possibilitando-lhes oportunidades para transformarem-se
em sujeitos construtores de sua própria história.
Dessa forma, entende-se que, ao mesmo tempo em que os princípios
norteadores da educação inclusiva (o direito de todas as crianças à educação, o
respeito às necessidades, interesses e capacidades de aprendizagem de cada criança,
o acesso das pessoas com NEE às escolas comuns e a importância de uma pedagogia
centrada na criança, etc.), exigem dos professores do ensino regular conhecimentos
específicos sobre esses alunos, exigem também que, os professores especialistas em
diferentes áreas de atuação em Educação Especial tenham formação com ênfase não
no possível déficit do aluno, mas fundamentalmente, valorizando suas potencialidades e
possibilidades. (REGIANI, 2009; VITALIANO, 2010).
A portaria n° 2.678/02 do Ministério da Educação (MEC), que aprovou as
diretrizes e normas para o uso, o ensino, a produção e a difusão do sistema Braille
em todas as modalidades de ensino, compreendendo o projeto da grafia Braille para
a língua Portuguesa e a recomendação para o seu uso em todo o território nacional.
Para um bom trabalho com os alunos cegos em busca de respostas
educativas que realmente contemplem uma inclusão de qualidade, é imprescindível
que os professores conheçam esses alunos num contexto mais amplo,
compreendendo as especificidades que envolvem a deficiência visual.
3 MÉTODO
Considerando-se os objetivos da pesquisa e o percurso metodológico
desenvolvido, caracteriza-se a pesquisa sob o enfoque qualitativo, pois vem de
encontro com os nossos estudos e as nossas necessidades e também por ser a
pesquisa qualitativa segundo Calder (1977), um meio de desenvolvermos um
conhecimento mais aprofundado e subjetivo.
Segundo Chizzotti (2003), o termo qualitativo consiste em um profundo
envolvimento com as pessoas, fatos e locais que fazem parte do objeto de pesquisa
a fim de retirar desse convívio os reais significados que só podem ser percebidos
com bastante sensibilidade após essa interação, para tanto foi realizado um curso
de formação continuada com professores e atendentes de Creche, com o objetivo de
oportunizar conhecimentos e reflexões sobre as necessidades educativas especiais
do aluno Cego, no qual nossos estudos se baseiam:
Os professores do ensino regular que trabalham com alunos com necessidades educativas especiais (NEE) devem ser profissionais reflexivos com relação às suas práticas educativas, podendo tomar decisões a respeito delas, criando alternativas cotidianas que estejam fundamentadas em teorias e em recursos metodológicos, sendo que essas habilidades necessárias estão contempladas àquelas previstas na proposta de formação /atuação de um professor reflexivo. (VITALIANO, 2010, p.40)
O trabalho docente requer uma constante revisão das suas práticas e o
professor precisa ser o agente da construção dos seus conhecimentos e para isso
tem que estar preparado para refletir suas ações de maneira que possa atuar
adequadamente em busca de uma educação de qualidade, com esse propósito foi
realizado um curso de Formação Continuada.
Ao explanar o tema Formação continuada, Libânio e Pimenta (1999), afirmam
que as mudanças nas práticas docentes só podem acontecer, à medida que o
professor desenvolva uma consciência sobre a sua própria prática, da sala de aula e a
da escola como um todo, que envolvem conhecimentos teóricos e críticos da realidade.
Os autores ainda relatam que, os professores podem colaborar para a
criação, para o desenvolvimento e para a transformação nos currículos, na dinâmica
organizacional, nos processos de gestão, nos projetos educacionais e em outras
formas de trabalho pedagógico sendo para tanto, essencial que os professores
sejam parceiros/autores, em direção à qualidade social.
A técnica escolhida para o tratamento dos dados foi à análise de conteúdo,
que se caracteriza como:
Um conjunto de técnicas de exploração de documentos, que procura identificar os principais conceitos ou os principais temas abordados em um determinado texto. Ela começa geralmente, por uma leitura flutuante por meio da qual, o pesquisador, num trabalho gradual de apropriação do texto, estabelece várias idas e vindas entre o documento analisado e as suas próprias anotações, até que comecem a emergir os contornos de suas primeiras unidades de sentido. Estas unidades de sentido - palavras, conjunto de palavras formando uma locução ou temas são definidas passo a
passo e guiam o pesquisador na busca das informações contidas no texto. (OLIVEIRA, et al,1997, p. 5)
Segunda a autora, toda a análise de conteúdo tem por objetivo, demarcar e
qualificar exaustivamente e objetivamente o conteúdo fundamental existente no texto
tendo como objetivo final, oferecer indicadores úteis aos objetivos da pesquisa
auxiliando o pesquisador a interpretar os resultados alcançados, fazendo uma
ligação entre o contexto de produção do documento aos objetivos do sujeito ou
organização/instituição que o organizou.
3.1 Delimitação do Campo de pesquisa
Delimitou-se o campo da pesquisa o Colégio Estadual Souza Naves no
Município de Rolândia, pertencente ao Núcleo Regional de Educação da cidade de
Londrina.
De acordo com dados obtidos no Projeto Político Pedagógico (PPP) do
Colégio do ano 2010/2011, está localizado na área central da cidade, seu prédio em
alvenaria apresenta-se em bom estado. Possui três blocos de construção e um
pavimento superior no prédio central onde se encontram a secretaria, a sala da
Associação de Pais, Mestres e Funcionários (APMF) e a sala da Direção. Possuí 21
salas de aula regulares e mais duas salas adaptadas. A maioria das salas contém
uma TV pendrive e carteiras para os alunos. Uma sala de estudos com TV,
computadores e impressoras, uma sala para os professores com TV e vídeo
cassete, uma sala de vídeo para palestras contendo uma TV de 29 polegadas, um
aparelho de DVD, um piano e um data show.
O colégio também tem um laboratório de informática com 34 computadores
do Proem, Proinfo, e do Paraná Digital. A biblioteca possui uma TV com vídeo
cassete, um fotocopiadora. O refeitório dos alunos possui uma TV de 29 polegadas,
vídeo cassete, aparelho de DVD e aparelhagem de som. A secretaria da escola
conta com vários computadores interligados a SEED. Além disso, possui um
laboratório de física, biologia e química com equipamentos e materiais diversos,
necessários às aulas práticas; uma biblioteca com acervo bibliográfico contendo
uma biblioteca para o professor e milhares de outros títulos para a pesquisa dos
alunos, um televisor com vídeo cassete. Para prática desportiva, possui duas
quadras, sendo uma coberta. Possui também uma sala de fotocopias contendo um
computador, um fotocopiadora e uma impressora laser.
No ano de 2010, o Colégio Estadual Souza Naves contou com 67 turmas,
dividido entre ensino fundamental, médio, profissional e salas especiais.
De acordo com os dados contidos no Projeto Político Pedagógico (PPP) do
Colégio Estadual Souza Naves da cidade de Rolândia, o Centro de Atendimento
Especializado ao Deficiente Visual (CAE/DV) deste colégio, passou a funcionar a
partir do ano de 2009, de acordo com a resolução nº 469/09 tendo como objetivo
atender alunos cegos e com baixa visão (diagnosticados segundo laudo
oftalmológico) que freqüentam o ensino regular ou não, oportunizando ao aluno com
deficiência visual, o acesso, a permanência e o sucesso em sua vida escolar.
O funcionamento do CAEDV deste colégio dá-se nos períodos vespertino e
matutino, sendo 40 horas em cada período, contando com duas professoras do
QPM com especialização em deficiência Visual. São atendidos a cada vinte
horas/aula, 10 alunos que são agrupados de acordo com a faixa etária e/ou pelas
patologias diagnosticadas pelo laudo oftalmológico; quando se faz necessário,
também é realizado no CAE/DV, o atendimento individualizado.
A escolha por este campo de pesquisa deve-se ao fato da pesquisadora em
primeiro lugar, interessar-se em desenvolver este trabalho no Colégio em que atua
profissionalmente no CAE/DV, onde vivencia a realidade sobre as dificuldades
encontradas tanto pelos professores que trabalham com os alunos cegos, quanto às
dificuldades destes alunos ao estarem em sala regular com professores que se
sentem despreparados ao trabalhar com eles, pois muitos, não têm conhecimentos
teóricos e práticos de como atender as necessidades educativas especiais desses
alunos e, em segundo, por acreditar na importância de ampliar, neste espaço,
oportunidades de reflexões em relação às estratégias educacionais para aprimorar o
trabalho que é realizado junto aos alunos cegos em sala regular.
O espaço escolhido para a realização do curso de formação continuada aos
professores foi pelo fato do espaço ser amplo, arejado, contendo móveis como
mesas para realização das tarefas, por apresentar cadeiras confortáveis,
ventiladores de teto, bem iluminado, local adequado para exposição de data show e
próximo a áreas externas onde seriam realizadas atividades práticas e também pelo
fato de ser próximo à sala onde a pesquisadora trabalha, facilitando assim a
utilização de muitos materiais específicos desta sala que seriam utilizados no
decorrer do curso.
3.2 Participantes
Quanto ao critério estabelecido para a seleção dos participantes, a princípio
era ser professor regente dos alunos cegos deste colégio e ou fazer parte da equipe
pedagógica, que totalizavam 20 participantes, como não houve disponibilidade por
muitos destes e também por ser observado desinteresse por alguns, fez-se
modificação no critério para ingresso ao curso, e as vagas restantes foram ofertadas
aos professores regentes e também para os funcionários administrativos deste
colégio.
Algumas vagas foram solicitadas pela Secretaria Municipal de Educação,
Setor de Educação Especial e pela Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais
(APAE) deste Município para participação no curso, pois estes necessitavam de
conhecimentos específicos devido atenderem alunos cegos. Os professores dos
Colégios Estaduais: Presidente Kennedy, Pe. José Herions e Lauro Portugal Tavares
também requisitaram algumas vagas para no curso. Foi oferecido, quatro vagas à
APAE, quatro à Secretaria Municipal de Educação, uma vaga ao Colégio Estadual
Presidente Kennedy, uma vaga ao Colégio Estadual Lauro Portugal Tavares e duas
vagas ao Colégio Pe. José Herions. Outras entidades municipais também
demonstraram interesse requisitando algumas vagas, porém não foram concedidas
pelo motivo do curso estar numeroso em relação à quantidade de participantes.
O estudo se desenvolveu com a participação de 36 professores do Município
de Rolândia, onde quatro deles atuam na Rede Municipal: duas são professoras
regentes e duas atendentes de Creche; quatro são atuantes na APAE; uma atua no
Colégio Estadual Presidente Kennedy; duas no Colégio Estadual Pe. José Herions;
uma na Escola Estadual Lauro Portugal Tavares; três são pedagogas e dezenove
desses professores atuam no Colégio Estadual Souza Naves.
Como o foco principal desta pesquisa são os professores do ensino regular,
para análise dos dados, assim como também suas análises, nos centralizamos
somente neste perfil de professores que totalizam 24 participantes, sendo 20
professoras, 01 vice-diretora e 03 pedagogas.
Conforme estabelecido na assinatura de autorização, a identidade dos
participantes foi mantida em absoluto sigilo. Para isso identificam-se os participantes
pela letra “P” seguida de um número que serão demonstrados na próxima
subdivisão.
De acordo com os dados levantados nos itens de identificação dos
professores participantes do curso, seguem as características dos mesmos.
17%
29%33%
21%
Idade dos Participantes
25 a 34anos
35 a 44anos
Gráfico 1: Porcentagem dos professores participantes de acordo com suas idadesFonte: arquivo do autor
A idade dos professores participantes foi bastante variada, no entanto,
verifica-se no gráfico 1 que, a idade média do maior número de professores
participantes variou entre 35 e 54 anos de idade.
O gráfico abaixo demonstra a porcentagem de professores participantes de
acordo com o sexo:
21%
79%
0%0%
Sexo
Mascul…
Gráfico 2: Porcentagem da caracterização dos participantes por sexoFonte: arquivo do autor.
Como se pode observar no gráfico 2, a maioria dos professores participantes
são do sexo feminino perfazendo um percentual de 79% e a minoria são do sexo
masculino perfazendo um percentual de 21%.
A tabela 1, a seguir, demonstra os professores participantes de acordo com
suas respectivas graduações:
Participantes Graduação
P1 Geografia – Processamento de dadosP2 BiologiaP3 LetrasP4 LetrasP5 QuímicaP6 GeografiaP7 BiologiaP8 MatemáticaP9 História
P10 PedagogiaP11 Educação FísicaP12 Educação FísicaP13 HistóriaP14 Educação ArtísticaP15 CiênciasP16 Química- BiologiaP17 PedagogiaP18 MatemáticaP19 LetrasP20 PedagogiaP21 MatemáticaP22 Pedagogia- HistóriaP23 BiologiaP24 Ciências Sociais
Tabela 1: professores participantes e suas respectivas graduaçõesFonte: Arquivo da autora
Conforme se pode verificar na tabela 1, a formação da graduação dos
participantes da pesquisa é diversificada perfazendo um total de 12 cursos. O curso
de Biologia e Pedagogia foi concluído por 4 participantes cada um, logo após veio
Letras, Matemática e História com 3 depois Educação Física com 2 participantes
destacando-se a formação em nível de graduação em Processamentos de Dados de
P1 e o demais com 1 participante concluinte em todos os cursos de graduação
especificados na tabela observando que todos os cursos são da área de educação.
Há 3 participantes que concluíram dois cursos de graduação, P1
Processamento de Dados e Geografia, P16 Química e Biologia, P22 Pedagogia e
História.
Ano de conclusão da Graduação
35%
38%
15%
12%
1976 - 1986
1987-1996
1997-2006
2007-2011
Gráfico 3: Ano de conclusão da GraduaçãoFonte: Arquivo da autora
Como mostra o gráfico 3, o período de formação da maioria dos
participantes foi 1987-1996 com 40% que significa 10 participantes, em seguida o
período entre 1973- 1986 com 39% com 10 participantes, depois 1997- 2006 com
16% com participantes e por último 2007- 2011 com 5% com participantes
A seguir apresenta-se a tabela 2, que demonstra os participantes que
possuem especialização em Educação Especial.
Participantes Especialização em Educação Especial Ano
P3 Educação Especial Generalista 2012P4 Educação Especial 2011P11 Deficiência Mental 2009P11 Deficiência Visual 2011P19 Deficiência Mental 2009P19 Deficiência Visual 2011P20 Estudos Adicionais Área Mental 1988
Tabela 2: Descrição da formação dos professores em Educação EspecialFonte: arquivo da autora
Dos 24 participantes da pesquisa, 6 deles fizeram Especialização na Área
Especial, onde 3 participantes concluíram 2 cursos na Área Especial, P11 Área
Mental e Visual, P19 Área Mental e Visual, P20 Estudos Adicionais na área Mental e
Educação Generalista ainda em curso.
Com base no total de participantes, o gráfico 4 apresentará a porcentagem
dos participantes por tempo de magistério em sala comum:
26%
9%13%17%
13%
22%
Tempo de magistério em sala comum
1 a 5anos
6 a 10anos
Gráfico 4: Porcentagem de professores participantes por tempo de magistério em sala comum.Fonte: arquivo do autor.
O gráfico 4 demonstra que, a maioria dos professores 26% têm de 1 a 5
anos de tempo de magistério em sala comum e 22% têm de 26 a 30 anos e a
minoria 9% têm de 6 a 10 anos.
44%
37%
13% 6%
Série em que Atua
Série Finaisdo EnsinoFundamentalEnsinoMédio
Gráfico 5: Porcentagem dos professores participantes de acordo com as suas séries de atuação Fonte: arquivo do autor.
De acordo com o gráfico 5, percebeu-se que, a grande maioria (44%) dos
professores, atua nas séries finais do ensino Fundamental e a minoria (6%), atuam
nos Centros de Atendimento.
Para que tenhamos conhecimento das experiências dos professores em
relação aos alunos com deficiência, segue gráfico 6:
42%
25%4%
29%
Tempo de experiência com alunos com
deficiência
6 meses a2 anos
Gráfico 6: Porcentagem dos professores participantes de acordo com o tempo de experiência com alunos deficientes.Fonte: arquivo do autor.
Observou-se que a grande maioria (42%) dos professores, tem pouco tempo
de experiência com alunos deficientes de 6 a 2 anos; a minoria dos professores (4%)
têm de 7 a 11 anos de experiência e uma quantidade considerável de professores
(29%), nunca tiveram experiência com alunos com deficiência.
3.4 Instrumentos de Pesquisa
Tendo em vista os objetivos da pesquisa, o instrumento considerado mais
adequado para se obter os dados de análise, foi à aplicação de questionários com
perguntas, com respostas abertas e fechadas.
Optou-se pela realização de questionários, pois de acordo com
Parasuraman (1991), em pesquisa científica, o questionário é um item
importantíssimo na coleta de dados, é um conjunto de questões elaboradas de tal
maneira que, venham garantir os objetivos do projeto. Para o autor, a construção de
questionários não é uma tarefa fácil, exige tempo e esforço para que esse
instrumento de coleta de dados tenha eficácia para a finalidade a que se destina.
Não havendo uma metodologia padrão para o projeto de questionários, porém
diversos autores sugerem algumas recomendações com relação a essa importante
tarefa no processo de pesquisa científica.
3.5 Procedimentos para a coleta de dados
Para realizar a coleta de dados, primeiramente fez-se o contato pessoal com
a direção deste colégio, solicitando a permissão para a realização do curso de
formação continuada aos professores e demais interessados explicando-lhe as
características e objetivos do curso e também esclarecendo que o mesmo faz parte
da implementação do Projeto de Desenvolvimento Educacional (PDE). Verificou-se
junto ao diretor o espaço apropriado para o desenvolvimento do curso e pediu-se a
autorização para a podermos utilizar alguns equipamentos necessários como: data
show, TV, som, etc.
Após a concessão do diretor, pediu-se sua permissão para que se pudesse
contatar o grupo de professores alvos da pesquisa deste colégio, durante o intervalo
de recreio e em hora atividade para esclarecimentos e orientações e neste
momento, coletou-se dados para a organização da ficha de freqüência com os
respectivos dados dos professores, contendo: nome, n° do RG, CPF, email, local de
trabalho, telefone para contato e local reservado para assinatura em cada encontro.
O curso foi desenvolvido em oito encontros num total de 32 horas, com
carga horária diária de 4 horas, tendo inicio às 18h30min e término às 22h30min.
No primeiro encontro, como forma de coleta de dados e ter um
conhecimento mais aprofundado dos participantes, solicitou-se um relato escrito
(sem identificação) de suas experiências com alunos com NEE e suas opiniões
sobre o processo inclusivo.
Nos encontros desenvolveram-se teorias e práticas, com momentos para
sanar dúvidas, dar sugestões, fazer questionamentos, expor insegurança, fazer
reflexões e interesses dos participantes.
O primeiro encontro foi realizado no dia 29/08/11, no qual foram trabalhados
os temas: Fundamentação e Políticas da Educação Inclusiva e Anatomia e Fisiologia
do Olho Humano, temas de suma importância ao professor, pois ele deve ter o
mínimo de conhecimento sobre como a educação Inclusiva está fundamentada e
também necessitam ter conhecimento das políticas que regem a Educação Inclusiva
a fim de compreenderem a sua historicidade e sua normatividade.
O segundo tema, a Anatomia e Fisiologia do Olho Humano, embasados em
Dome (1995).
O segundo encontro foi realizado em 05/09/11 com o tema: Atividade de
Vida Autônoma (AVA) que para Coín e Enriquez (2003), a sigla AVA significa
Atividade de Vida Autônoma, e o seu desenvolvimento junto ao aluno cego em
ambiente escolar, se torna essencial para que o aluno tenha independência.
O terceiro encontro foi realizado dia 12/09/11 no qual foi apresentado o
tema: Orientação e Mobilidade (O M).O conhecimento de orientação e mobilidade é
de suma importância aos professores, para que possam auxiliar seus alunos cegos
a orientar-se e movimentarem-se em ambiente escolar de maneira adequada,
evitando assim constrangimento quando entram em sala de aula que não são as
suas, erram o local do banheiro, não conseguem sair de sua carteira e chegar até a
porta sem fazer os devidos desvios de objetos (NOVI, 1996).
O quarto encontro foi realizado 19/09/11 com o desenvolvimento do tema
Sistema de escrita e leitura Braille. Este sistema de escrita encontra-se pautado na
portaria n° 2.678/02 do Ministério da Educação (MEC) que aprovou as diretrizes e
normas para o uso, o ensino, a produção e a difusão do sistema Braille em todas as
modalidades de ensino, compreendendo o projeto da grafia Braille para a língua
Portuguesa e a recomendação para o seu uso em todo o território nacional.
O quinto encontro foi realizado dia 26/09/11, seguindo o mesmo tema do
encontro anterior.
O sexto encontro ocorreu em 03/10/11 com o desenvolvimento do tema:
Sorobã. O Sorobã é um instrumento de calcular, ou seja, os deficientes visuais
utilizam o Sorobã na realização de operações matemáticas. Este instrumento de
cálculos, já era utilizado bem antes da era cristã. De acordo com (FERNANDES et
al, 2006), apesar de todo avanço tecnológico, o Sorobã continua sendo um
instrumento indispensável para o deficiente visual em seus estudos matemáticos, na
vida diária e no trabalho.
O sétimo encontro realizou-se no dia 10/10/11 dando continuidade ao tema:
sorobã. De inicio foi feita a explicação das operações de multiplicação, depois foi
realizado o treino de várias operações de multiplicação utilizando o sorobã, sendo
que quem tinha maior facilidade auxiliava os demais.
O oitavo encontro foi desenvolvido em 17/10/11 dando continuidade ao
treino do sorobã, no qual iniciamos a aula com a explicação das operações de
divisão, depois distribuímos os sorobãs nas equipes e os participantes realizaram o
treino de diversas operações de divisão uns ajudando o outro e para finalizar
tivemos um lanche especial e tiramos muitas fotos.
Durante o curso criou-se um endereço eletrônico, onde eram postados aos
participantes, tarefas com referências bibliográficas, análise e reflexões, opiniões
pessoais, relatos pessoais baseado em suas experiências como profissionais da
educação nos quais eram feito feedbacks pela pesquisadora que complementava os
argumentos e relatos com citação de autores que expunham a sua visão sobre
aquele assunto a fim de subsidiar os seus conhecimentos.
No início de cada novo encontro era feito uma realimentação dando espaço
para debater estas concepções trazidas pelo grupo via e-mail.
Os questionários foram aplicados durante os encontros, como parte da
avaliação dos participantes, que se deu de forma contínua ao longo processo.
3.5 Recursos materiais
Para a realização do curso, foram utilizados diversos materiais pedagógicos.
Para a apresentação dos filmes utilizou-se: data show, notebook, pendrive e internet;
para realização das atividades e armazenamento das mesmas foram utilizados:
canetas esferográficas azuis e vermelhas, folha sulfite A4, pasta com plástico e
pasta com elástico, quadro, giz, máquina Braille, sulfite para Braille, sorobã de
tamanho pequeno para uso dos participantes e um de tamanho maior para melhor
visualização à distância durante as explicações das diversas operações
matemáticas, calculadora sonora, regletes, atividades xerocadas, sites educacionais.
Para as atividades práticas de OM utilizou-se: vendas para os olhos com gases para
proteção e higiene ocular e bengalas.
3.6 Organização das informações em dados de análise
Para organizar os dados obtidos e transformá-los em dados de análise,
iniciou-se o trabalho com exaustivas leituras e profundas análises das respostas dos
questionários aplicados assim também como a análise criteriosa das atividades
realizadas pelos participantes. Por meio desses procedimentos, procedeu-se a
organização e a análise dos conteúdos, bem como os recortes das respostas
descritivas, os quais foram agrupados em categorias ou unidades de significação,
recortes considerados significativos pelo pesquisador.
Segundo Bardin (1977), a definição das categorias diz respeito a um
procedimento básico da análise de conteúdo, que o autor define como rubricas ou
classes que apresentam um título genérico derivando grupo de elementos que se
efetua em razão de caracteres comuns destes elementos. Partindo desse
pressuposto, foram definidas 5 (cinco) categorias de análise:
1. Fundamentação e Políticas da Educação Inclusiva;
2 Atividades de Vida Autônoma (AVA)
3. Sistema de escrita e leitura Braille
4. Sorobã
5. Orientação e Mobilidade (OM).
A seguir, apresentam-se os dados, as análises e a discussões de acordo com
cada uma das categorias apresentadas.
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
De acordo com os objetivos da pesquisa e a sequência da coleta de dados,
apresentam-se e discutem-se os resultados que foram organizados em cinco
categorias de acordo com o quadro 3 acima, descrevem-se também, os relatos e
resultados descritivos obtidos por meio de questionário e de atividades que foram
analisados profundamente com embasamento em literaturas específicas às
categorias desenvolvidas. Em seguida apresentam-se as categorias e suas
respectivas análises conforme encontrado nos dados levantados.
4.1 Fundamentação e Políticas da Educação Inclusiva
Com relação a essa categoria, ao serem questionados sobre o processo de
inclusão dos Alunos com Necessidades Educativas Especiais no Sistema Regular
de Ensino, todos os professores disseram concordar com o processo, mas com
algumas ressalvas. O participante P9 faz a ressalva com relação à deficiência
intelectual severa, quando diz: “Não tenho treinamento para lidar com essa
deficiência, além disso, o número de alunos em sala, não permite um atendimento
individualizado que esse tipo de deficiência exige”.
Este aspecto é realmente preocupante, pois muitas escolas não conseguem
realizar o que a deliberação nº 02/03 aprovada em 02/06/03 – Comissão temporária
de Educação Especial - Nº 730/03 SEED seção I Art. 11 - IV que diz: redução de
número de alunos por turma, com critérios definidos pela mantenedora, quando
estiverem nela incluídos alunos com necessidades educacionais especiais
significativos os quais necessitam de apoios e serviços intensos e contínuos. Este
problema ocorre, segundo a Secretaria do colégio em questão, devido à grande
demanda de alunos (PARANÁ, 2003).
De acordo com Tessaro (2005), acredita-se que as limitações maiores na
deficiência mental não estão relacionadas com a deficiência em si, mas com a
credibilidade e as oportunidades que são oferecidas às pessoas com deficiência
mental. Para a autora, a vida de uma pessoa deficiente passa a girar em torno de
sua limitação ou incapacidade, quando as suas potencialidades e aptidões não são
levadas em conta.
Corrobora-se com a autora, quando esta evidencia o fato de serem as
maiores limitações na deficiência mental, a credibilidade e oportunidade e não a
deficiência em si e ao analisar-se o relato de P9, percebe-se que sua grande
preocupação é a sua falta de conhecimento, o que lhe causa insegurança em
relação em como deve ser o trabalho com um tipo de deficiência que considera
severa e também a preocupação com a necessidade do atendimento individualizado
para com esse aluno, o que é compreensível em se tratando de salas numerosas,
pois sabemos que esse tipo de deficiência exige muita atenção do professor e só o
fato de P9 refletir sobre a necessidade de um atendimento individualizado, que o
aluno necessitará para dar conta do que lhe é proposto, nos leva a crer que
realmente esta professora acredita que esse aluno tem algum tipo de potencial,
mesmo que precise de auxílio para demonstrar esse potencial.
O participante P8 acredita que, o sucesso do processo da inclusão, só
acontecerá com o apoio das especialistas e da rede de apoio, como podemos
constatar:
Acredito que a inclusão de alunos com necessidades especiais no sistema regular de Ensino só terá resultados positivos, se todos os professores forem treinados para essa tarefa e tenham assistência permanente da equipe pedagógica e de pessoas especializadas para essa função. (P8)
P9 considera essencial a presença de um profissional especializado em sala
de aula para auxiliar o trabalho. Também P13 expõe sua preocupação com relação
à probabilidade de deixarem de receber auxílio das professoras especialistas aos
professores do ensino regular, como podemos verificar:
[...] Quanto às outras necessidades especiais, se houver mais um professor na sala para auxiliar quando o aluno apresenta uma deficiência visual ou auditiva (por exemplo, uma pessoa com treinamento em libras), não vejo porque a inclusão não possa acontecer. (P9) [...] se a escola ficar sem apoio de pessoas especializadas será muito difícil, pois uma sala de aula com quarenta alunos já não é fácil e incluindo alunos com deficiência, será muito mais complicado. (P13)
Os relatos evidenciam que os participantes P8, P9 e P13 acreditam no
processo de inclusão, mas fica claro, que para P8 este é um trabalho em conjunto,
no qual há a necessidade do apoio da equipe pedagógica e das professoras
especialistas junto às professoras do regular para que o trabalho com alunos com
NEE possa ter sucesso.
P9 ressalta a necessidade do apoio de outro professor que possa auxiliá-
los. Observa-se com essa fala que, o participante P9 preocupa-se com a inclusão e
acredita “não dar conta” sozinha de todos os alunos e sente-se preocupada com
esse fato. Também no relato de P13, constata-se que, esta valoriza o trabalho das
especialistas quando relata que sem estas, será muito difícil o trabalho com os
alunos com NEE, devido o elevado número de alunos em sala de aula.
De acordo com a Lei nº 9.394/96 “[...] haverá quando necessário, serviços
de apoio especializado na escola regular para atender às peculiaridades da clientela
de educação especial” (BRASIL, 1996).
P2 e P9 atribuem ao do governo, o fato de encontrarem dificuldades ao se
trabalhar com alunos com Necessidades Educativas Especiais (NEE), quando este
não investe adequadamente na acessibilidade e na aquisição de materiais
essenciais aos alunos com NEE. P2 evidencia-se este fato quando diz: [...] “Muito
pouco se tem feito para a Inclusão dessas pessoas nas escolas, como por exemplo:
materiais e acessibilidade”. Também em P9 que afirma que, [...] “O governo implanta
o processo e não oferece nenhum subsídio, auxílio ou material especial necessário
para a aprendizagem”. (P9)
Considera-se pertinente o relato de P2, quando diz que pouco tem se feito
para assegurar essa direito aos deficientes, incluindo o preparo de profissionais, de
espaço físico e de materiais para atender os alunos com NEE. Cada vez mais tem
sido reiterada a importância da preparação de profissionais e educadores, em
especial do professor de classe comum, para o atendimento das necessidades
educacionais de alunos, com ou sem deficiência.
Ambos participantes P3, e P11 consideram que faltam acessibilidade e
materiais específicos para se promover a inclusão dos alunos com NEE como se
pode observar pela explanação de P3: [...] “O caminho é esse, mesmo com as
dificuldades de acesso, falta de materiais e o processo de inclusão ser novo, não
devemos deixar de trabalhar com seriedade e também P11 quando diz:
Sou totalmente a favor, mas ainda acho que, a maioria das escolas não tem condições adequadas atendê-los, falta desde acesso adequado ao estabelecimento até materiais específicos ou adaptados para eles. (P11)
Já P9 foi mais categórico, ressaltando as responsabilidades do Governo
quanto a subsidiar as escolas para que possam promover a aprendizagem dos
alunos com NEE.
Ambos participantes P3, e P11 são bem claros ao darem ênfase no aspecto
de falta de materiais específicos aos alunos com NEE, isto pôde ser constatado
quando ao visitar as escolas de nossa cidade Rolândia, PR, pois se verificou que,
poucas estão sendo adaptadas a esses alunos, algumas com escadarias sem
corrimão e nenhuma rampa de acesso.
Quanto aos materiais adaptados, ainda de acordo com informações do
CAE/DV deste colégio, muitos deles estão chegando às escolas tais como:
notebooks, lupas eletrônicas e recentemente alguns dos livros didáticos que vêm na
versão em Mac Deise (livros falados), já os livros didáticos em Braille para alunos
cegos, demoram muito para chegar até as mãos dos alunos. Isto comprova que os
professores, estão corretos ao preocuparem-se, destacando esse aspecto da
inclusão, considerando-o como um dos pontos que podem prejudicar o processo da
Inclusão.
Os participantes P1, P18 e P23, julgam ser essencial a Formação
Continuada para os professores, para que estejam preparados para trabalharem
com alunos com NEE. Percebe-se isto quando relatam: P1: [...] “É necessário um
trabalho de Formação Continuada do professor, com o intuito de trabalhar com
esses alunos adequadamente, (P18): “Acho que nós, professores deveríamos ser
melhores preparados para trabalhar com esses alunos especiais e também só os
casos mais leves”. Também P23: [...] “Eu concordo, mas o governo tinha que investir
mais na capacitação dos professores para receberem esses alunos com mais
qualidade”.
Um único participante afirmou que compete ao professor, ser dedicado para
que ocorra uma inclusão de qualidade:
Temos que nos dedicar cada dia mais para que esse processo evolua mais e mais, sendo assim quando nos depararmos com alguma situação de Inclusão, estejamos preparados para atender essa criança da melhor maneira possível. (P12)
De acordo com a Declaração de Salamanca (1994), a educação inclusiva
conduz à necessidade do professor saber respeitar e conviver com as diferenças,
buscando estratégias que viabilizem seu trabalho na e para a diversidade, estando
sempre preparado para adaptar-se às novas situações que poderão surgir no interior
da sala de aula. Compreende-se por meio da exposição de P12 que para ele, o
compromisso do professor com os alunos com NEE é muito grande e que este
percebe a responsabilidade que recai sobre os professores e que realmente, cada
vez mais, há a necessidade de aprimorar-se para que possam sentir-se preparados
podendo ofertar um atendimento de qualidade aos alunos com NEE.
Na medida em que a orientação inclusiva implica um ensino adaptado às
diferenças e às necessidades individuais, os educadores precisam estar habilitados
para atuar de forma competente junto aos alunos inseridos, nos vários níveis de
ensino. A implantação da educação inclusiva tem encontrado limites e dificuldades,
em virtude da falta de formação dos professores das classes regulares para atender
às necessidades educacionais especiais, além da precariedade da infra-estrutura e
de condições materiais para o trabalho pedagógico junto a crianças com deficiência.
O que se tem colocado em discussão, principalmente, é a ausência de formação dos
educadores para trabalhar com essa clientela, e isso certamente se constitui em um
sério problema na implantação de políticas desse tipo.
A própria LDB reconhece a importância deste aspecto como pré-requisito
para a inclusão, ao estabelecer, em seu artigo 59, que: Os sistemas de ensino
assegurarão aos educandos com necessidades especiais: [...] – professores com
especialização adequada em nível médio ou superior, para atendimento
especializado, bem como professores do ensino regular capacitados para a
integração desses educandos nas classes comuns (BRASIL, 1996).
Diante desse quadro, torna-se importante que os professores sejam
instrumentalizados a fim de atender às peculiaridades apresentadas pelos alunos.
Aqui, tendo-se em vista a capacitação docente, a participação das universidades e
dos centros formadores parece ser relevante.
4.2 Atividades de Vida Autônoma (AVA)
A Categoria 2 faz referência à importância de Atividade de Vida Autônoma
(AVA) para os cegos. Ao serem questionados sobre esse aspecto, todos os
participantes consideraram que esse trabalho é importantíssimo para que estes
consigam sua autonomia, como exemplo, temos P13 quando diz: “É de inteira
importância AVA para a vida do aluno cego, pois é por meio desta que o aluno irá
interagir com o mundo no seu cotidiano, adquirindo assim sua independência” e
também:
AVA envolve o desenvolvimento de atividades rotineiras que ofereçam ao deficiente visual certo grau de independência para a realização das tarefas básicas referentes à alimentação, a higiene pessoal, o uso de aparelhos de comunicação, abrir e fechas portas e embalagens, vestir-se sozinho e outras coisas que promovem a in dependência e incluam o deficiente visual na convivência com as demais pessoas e no mundo que nos cerca. (P14)
Os participantes P4 e P20 acreditam que o trabalho com Ava desenvolve
habilidades psicológicas superiores quando dizem: “As atividades de vida autônoma
(AVA) envolvem o desenvolvimento de habilidades físicas, mentais e sociais que
proporcionam o máximo de independência e auto suficiência frente às necessidades
da vida cotidiana e também P20 relata que:
É fundamental o trabalho de treinamento de Ava com as pessoas cegas, pois isso vai proporcionar independência e auto-suficiência, já que o treinamento desenvolve habilidades físicas, mentais e sociais desenvolvendo as funções psicológicas superiores, que só existem quando o indivíduo passa a interagir com o que existe à sua volta, vivenciando situações novas, que vão melhorar a sua auto estima, aprimorar as suas habilidades e prepará-lo para uma vida independente, para que ele possa assegurar o seu papel e exercer a sua cidadania na sociedade.(P20)
O treinamento de AVA envolve o desenvolvimento de habilidades físicas,
mentais e sociais, que proporcionam o máximo de independência e autosuficiência
frente às necessidades da vida cotidiana: alimentação, higiene pessoal e ao
vestuário, aparência pessoal, higiene e arrumação da casa, administração do lar,
comunicação pelo telefone, verificação de horas, enfermagem caseira e boas
maneiras. O não treinamento de AVA compromete o desenvolvimento das funções
psicológicas superiores, Barroco (2007, p.247) esclarece:
Por funções psicológicas superiores, entendem-se aquelas de origem social, que só passam a existir no indivíduo ante a relação mediada com o mundo externo, (com pessoas e com aquilo que eles criam: objetos, ferramentas, processo de criação e execução, etc.
Também expõe a participante P23: “Quando não acontece o treinamento de
AVA, as funções psicológicas superiores podem ser prejudicadas”. [...]
Segundo Barroco (2007), o treinamento de AVA envolve o desenvolvimento
de habilidades físicas, mentais e sociais, que proporcionam o máximo de
independência e autosuficiência frente às necessidades da vida cotidiana:
alimentação, higiene pessoal e ao vestuário, aparência pessoal, higiene e
arrumação da casa, administração do lar, comunicação pelo telefone, verificação de
horas, enfermagem caseira e boas maneiras. De acordo com o autor, o não
treinamento de AVA compromete o desenvolvimento das funções psicológicas
superiores.
Por funções psicológicas superiores, entendem-se aquelas de origem social, que só passam a existir no indivíduo ante a relação mediada com o mundo externo, (com pessoas e com aquilo que eles criam: objetos, ferramentas, processo de criação e execução etc). (BARROCO,2007, p.247)
Vygotsk e Luria (1996) citam como exemplo de funções psicológicas: pode-
ser destacado a fala, o pensamento abstrato, a atenção voluntária, a memorização
ativa, o planejamento, etc. Trata-se de funções que, permitem uma conduta
geneticamente mais complexa e superior a dos animais, posto que, planeja
consciente e intencional. Tudo isso implica em um reequipamento cultural para se
destacar no mundo.
P8 em seu comentário ressalta a ideia de autonomia que o trabalho com AVA
pode proporcionar aos cegos, levando-os à liberdade: “O primeiro e principal objetivo
da Educação é desenvolver a autonomia de uma pessoa, que é a capacidade de
governar-se. É por meio da autonomia que adquirimos a liberdade e a
independência”.
Outro participante considera que, oportunizar o trabalho com AVA às
pessoas cegas, é acreditar em sua capacidade:
A tendência tanto da família como de escola e dos educadores é tratar a pessoa com deficiência, que no caso a falta de visão, como uma criança que jamais vai crescer e que necessitará sempre de alguém para fazer ou facilitar as coisas as coisas mais comuns da vida. A pessoa deficiente visual é perfeitamente capaz de atender e suprir [...]. Deixemos de paternalismo, o cego não é incapaz nem física, nem mentalmente. (P9)
Já o participante P3, acredita que com o trabalho com AVA, pode tornar as
pessoas cegas mais competentes e isto é perceptível quando este ressalta:
A importância está no fato da pessoa tornar-se independente, capaz de executar tarefas dentro de suas limitações, mas, de forma autônoma, sem se privar dos detalhes da vida por causa de sua deficiência. Vale ressaltar que muitos cegos comprovaram que isso é possível [...]. Acredito que àqueles que passaram por “atividades de vida autônoma”, adquire competência para isso. (P3)
Para P18, o desenvolvimento de AVA representa uma evolução na vida de
uma pessoa cega, que consequentemente refletirá tanto na aprendizagem, quanto
em diversos aspectos da vida destes cidadãos como podemos analisar:
P20 faz a correspondência entre independência e cidadania quando este
ressalta:
[...] As funções psicológicas superiores, só existem quando o indivíduo passa a interagir com o que existe em sua volta, vivenciando situações novas que vão melhorar a sua auto estima, aprimorar as suas habilidades e prepará-lo para uma vida independente para que ele possa assegurar o seu papel e exercer a sua cidadania na sociedade.(P20)
Para Coín e Enriquez (2003), a sigla AVA significa Atividade de Vida
Autônoma, e o seu desenvolvimento junto ao aluno cego em ambiente escolar, se
torna essencial para que o aluno tenha independência.
4.3 Sistema de escrita e leitura Braille
A categoria 3 refere-se ao Sistema de escrita Braille, o qual realizou-se uma
tarefa pedindo aos participantes que transcrevessem um texto digitado em Braille.
Muitos participantes consideraram esse Sistema de escrita muito difícil e no
momento, acreditaram que para os deficientes visuais, o aprendizado desse Sistema
é extremamente difícil, principalmente a leitura.
Durante a execução da tarefa de transcrição de texto em Braille, P2, P5 e
P7 demonstraram dificuldades em decodificar as letras q, s, t, j, u, y e z, mesmo com
pesquisa em material em Braille.
A dificuldade apresentada pelos participantes em decodificar algumas letras,
principalmente as letras q, s, t, j, u, y, e z, é compreensível, pois na escrita dessas
letras há a utilização de vários pontos que podem ser confundidos, uma letra fica
parecida com a outra quando é utilizada a visão, pois para os profissionais ou outras
pessoas que enxergam, não é necessário que usem o tato para que façam a leitura
em Braille. Somente a faz pelo tato, quem quer ter as mesmas percepções que o
cego tem ao ler em Braille observando o quanto há dificuldades na percepção de
determinadas letras, como é o caso das especialistas que trabalham nos CAE/DVs
que querem detectar o porquê da dificuldade na leitura de determinadas palavras,
mas essa percepção tátil feita pelo especialista ou qualquer pessoa que queira ter as
mesmas percepções, é momentânea, muitas vezes a diferença entre as letras é
apenas um ponto ou o que diferencia uma de outra é a posição dos pontos das
mesmas.
Os participantes P5, P3 e P9, declararam achar o Sistema Braille muito
complicado e na transcrição do texto, fizeram algumas trocas de letras, tais como: i-
e, f-d, m-n, mesmo pesquisando no material em Braille que foi oferecido para ser
pesquisado, caso tivessem muita dificuldade.
Esse tipo de dificuldade em letras que são parecidas visualmente, é comum,
quando se está no início do processo de aprendizagem do Sistema Braille, pois a
diferença entre uma letra e outra é apenas a posição das mesmas como pode ser
observemos na tabela do alfabeto Braille logo abaixo e assim, poder fazer as
devidas comparações entre as letras citadas acima, as quais os participantes
relataram ter apresentado dificuldades. Façamos atentamente a análise das
diferentes posições em que ocupam essas letras na cela Braille.
Poucos participantes expressaram facilidade ao realizar a atividade proposta
em Braille. Alguns deles recorreram à tabela Braille poucas vezes. Este fato pôde
ser constatado pela pesquisadora ao observar a execução da tarefa proposta.
Acredita-se que, esta facilidade na resolução da tarefa demonstrada por esses
participantes, deve-se ao fato de terem boa memória visual e boa percepção de
detalhes.
Os participantes P19 e P20, também demonstraram grande facilidade na
realização dessa tarefa, não sendo necessário pesquisar nenhuma vez na tabela
Braille.
Constatou-se que a grande facilidade que P19 e P20 demonstraram ao
realizar a tarefa proposta, foi que ambos tiveram experiência com esse Sistema de
escrita em seu local de trabalho, pois as mesmas, trabalharam no ano de 2010 no
colégio em questão: Colégio Souza Naves, no CAE/DV, no qual atendiam alunos
cegos utilizando esse sistema de escrita e com isso puderam adquirir prática.
De acordo com Piñero (2003), a integração e permanência dos alunos cegos
na rede regular de ensino e seu desenvolvimento no processo ensino aprendizagem,
é essencial alguns recursos específicos, como por exemplo, o sistema de escrita e
leitura para as pessoas cegas, o Braille. Desse modo, temos a portaria n° 2.678/02
do Ministério da Educação (MEC), que aprovou diretriz e normas para o uso, o
ensino, a produção e a difusão do sistema Braille em todas as modalidades de
ensino, compreendendo o projeto da grafia Braille para a língua Portuguesa e a
recomendação para o seu uso em todo o território nacional (BRASIL, 2002).
4.4 Sorobã
A categoria 4 trata da Noção do Sistema de cálculo matemático, (Sorobã) que
é um instrumento para que os cegos possam realizar seus cálculos matemáticos.
Este instrumento é muito usado em sala regular durante as aulas de química, física
e matemática e também em seu dia a dia em situações que exigem determinados
cálculos matemáticos, quando não conseguem fazê-lo mentalmente.
Contatou-se que, os participantes P5, P7, P8, P16, P18, P19 e P21 que
atuam nas disciplinas de matemática, química e física, tiveram maior facilidade ao
trabalharem com o sorobã que os demais participantes que atuam em outras áreas.
Essa questão pôde ser constatada durante a realização das atividades com o uso do
sorobã, que envolviam operações de: adição, subtração, multiplicação e divisão e as
resolveram com muita facilidade e também pela participação destes durante o
desenvolvimento do curso, os quais colaboraram auxiliando os demais participantes.
Acredita-se que o fato da facilidade demonstrada pelos participantes das
áreas citadas acima ao utilizar o sorobã para resolver as operações, possa ser
devido ao maior desenvolvimento da área responsável pela lógica matemática
localizado no hemisfério esquerdo do cérebro.
O participante P9 e P17 demonstraram muita dificuldade ao realizar as
operações de subtração e divisão utilizando o sorobã e necessitaram de auxílio
individual. Este fato pôde ser constatado durante a realização das atividades
propostas e também pelos comentários orais: “Esse “tal” de sorobã é muito
complicado, coitado dos alunos que têm que usá-lo”. (P9) e, “Meu Deus”! “Como é
difícil fazer contas no sorobã, como os cegos conseguem fazer contas neste
material?”
P15 demonstrou muita dificuldade nas atividades no sorobã e achou uma
forma muito complexa de calcular e comentou: “Talvez eu tenha achado o calculo no
sorobã muito complexo, pelo pouco tempo destinado a esse tema, deveríamos ter
um curso somente de sorobã onde pudéssemos treinar várias vezes os quatro tipos
de operações matemáticas”.
P3 comentou que há a necessidade de muita concentração para resolver as
operações no sorobã percebe-se isso quando relata: “minha maior dificuldade foi o
sorobã, principalmente a divisão. Se não ficar atento aos detalhes, você não
consegue chegar aos resultados corretos”.
P11 sentiu dificuldades em multiplicação e divisão e para ela o raciocínio é
fundamental na realização das operações no sorobã, pôde se perceber isso em seu
relato: “Sinto mais dificuldade em multiplicação e divisão no sorobã, pois nós
videntes, temos preguiça de raciocinar e principalmente esses dois tipos de
operações exigem muito raciocínio nas trocas e devoluções das “bolinhas” em cada
eixo”.
Por meio da prática do Sorobã, os alunos conseguem: colocar em
funcionamento o cérebro aguçando sua inteligência; resolver problemas de
matemática com rapidez e perfeição; desenvolver habilidades motoras, como:
movimentos de pulso, mãos e dedos; desenvolver a memória e a autoconfiança;
tornar-se pessoas mais preparadas, do ponto de vista mental, da perseverança e da
paciência (PEIXOTO; SANTANA; CAZORLA, 2006).
Apesar de todo avanço tecnológico o Sorobã continua sendo um instrumento
indispensável para o deficiente visual em seus estudos matemáticos, na vida diária e
no trabalho. Para que a pessoa realize corretamente os cálculos no Sorobã é
necessário que tenha um domínio do processo de realização da operação. O Sorobã
não executa a operação, é apenas o meio, não se assemelhando, portanto, a um
equipamento automatizado como a calculadora. (FERNANDES et al, 2006).
4.5 Orientação e Mobilidade (OM)
A Categoria 5, diz respeito à Importância de Orientação e Mobilidade (OM)
em ambiente escolar e ao serem questionados sobre o que sentiram ao caminhar
com os olhos vendados, a resposta foi unânime quanto às sensações de medo,
insegurança, perda de equilíbrio e perda da noção de espaço como podemos
observar: P2: “Senti medo de trombar em outras pessoas, de bater a cabeça na
parede” e P14: “Ao realizar a tarefa, senti muita insegurança, falta de equilíbrio,
lentidão ao me locomover”, também P20 quando diz: “Quando usei vendas nos
olhos, a primeira impressão é a de medo, pois se perde as referências, o equilíbrio
fica comprometido e parece que se vai cair a qualquer momento”.
Outro participante descreve que, ao caminhar de olhos vendados por certo
tempo, sua percepção de detalhes no espaço em que estava caminhando melhorou:
Após caminhar algum tempo com a venda, comecei a perceber alguns detalhes que antes não percebia, como por exemplo: local do corredor que tinha cobertura, por causa do eco das vozes, e também conseguia perceber locais que eram abertos e fechados por causa do vento. (P23)
Os participantes P13, P14, e P20 em seus relatos, descrevem que seus
sentidos ficaram mais aguçados quando já estavam caminhando com a venda nos
olhos por determinado tempo, isto é percebido quando relatam:
[...] mas no decorrer da experiência, o que eu percebi é que os outros sentidos passaram a ser mais explorados, como a audição e o tato. As necessidades de apalpar tudo foram impressionantes e a audição fica mais aguçada pelo fato de se exigir mais dela. (P13)
P14 percebeu que sua audição e o tato, foram os sentidos que mais
necessitou e utilizou em sua orientação e mobilidade: [...] “Percebi também que
acabei forçando mais a audição e o tato”.
Outro participante também faz referência sentidos: “A audição fica mais
sensível, pois o barulho incomoda ficando difícil usar a bengala de forma adequada
(cruzada). Precisei parar mais de uma vez para e coordenar os movimentos”. (P20)
P18 também se refere à audição, como um dos sentidos que auxiliam na
locomoção do deficiente visual: “Pude perceber que, a audição transforma-se em
uma ferramenta importante para se locomover: o barulho das pessoas que se
aproximam, de objetos que caem, etc”.
Alguns dos participantes P3, P4, e P20, ao perceberem o grau de dificuldade
que os deficientes visuais passam em seu dia a dia, devido à dificuldade no espaço
em que necessitam locomover-se, tais como: calçadas quebradas, buracos, objetos
jogados pelas ruas e calçadas, obstáculos no caminho onde alunos cegos precisam
percorrer em ambiente escolar, passaram a valorizá-los ainda mais os deficientes
que já conseguiram sua liberdade de ir e vir, utilizando técnicas adequadas de
locomoção por meio de treinamento de OM. Este fato foi constatado por meio de
comentários orais, durante o curso e também por relatos escritos como em:
Minha admiração pelos deficientes visuais que conseguem morar sozinho, que caminham pelas ruas com o auxílio de bengala, os que viajam , estudam, que “curtem a vida”, tornou-se ainda maior, pois só passando pela experiência de não enxergar, mesmo por alguns minutos, é que nos faz valorizar o empenho e desempenho dessas pessoas para serem felizes e aceitos na sociedade. (P3)Admiro os deficientes visuais, não só o fato de serem especiais, mas sim o fato deles enfrentarem todas as dificuldades de forma práticas e queixando sim de algumas coisas, mas persistindo e aceitando sua condição e limitação, ou seja, algo que os “ditos normais” também devem aceitar. (P4)Cada vez mais eu admiro as pessoas cegas que fazem o uso de bengala, porque eles se superam a cada dia, e pude perceber a importância e a responsabilidade na hora que se está auxiliando como guia, uma pessoa cega. (P20)
P15 percebeu ao realizar a prática de OM, a importante de sabermos
orientar e ou conduzir uma pessoa cega para que ela possa sentir-se mais segura e
caminhar com tranquilidade, isso foi constatado em seu relato: “Somente com a
visão bloqueada pude perceber a importância de ter alguém para orientar-me, pois
só me senti mais protegida e confiante quando um companheiro me guiava dando as
coordenadas do caminho”.
Corrobora-se com Novi (1996), quando ressalta que um dos aspectos
importantíssimo para o desenvolvimento da autonomia, segurança, estimulação do
indivíduo cego, é a Orientação e Mobilidade (OM), isto é: atividade motora e pode
ser definida como um processo amplo e flexível, composto por um conjunto de
capacidades motoras, cognitivas, afetivas e sociais e por um elenco de técnicas
apropriadas e específicas, que permitem ao seu usuário conhecer, relacionar-se e
deslocar-se de forma (in) dependente e natural nas mais diversas estruturas,
espaços e situações do ambiente.
Ainda de acordo com autora (1996, p.12), “o objetivo da Orientação e
Mobilidade é facilitar indivíduo a caminhar por ambientes familiares ou não, de
maneira segura, eficiente e independente”.
Segundo Hoffmann (1999, p.16), “é comum o processo de Orientação e
Mobilidade ser confundido com a aprendizagem apenas do uso da bengala, quando
tal processo envolve tantas outras estratégias e recursos”.
O movimento representa uma importante ação interventiva para a
concretização de suas potencialidades e torna-se um elo significativo entre a
organização, conhecimento e valorização da pessoa com deficiência visual e das
demais pessoas que com ele convive. Este processo, se adequadamente conduzido
e entendido, irá provavelmente ocorrer de forma recíproca porque a pessoa em
movimento age e interage com seu ambiente, explora e descobre o mundo,
estabelece comunicações e intercâmbios, elabora conceitos e atitudes e constrói o
conhecimento.
Com relação ao desenvolvimento do Grupo de Trabalho em Rede (GTR), no
qual apresentou discussões sobre teorias e práticas essenciais ao professor do
ensino Regular no trabalho com os alunos cegos em ambiente escolar, pôde-se
constatar por meio das discussões e dos resultados das atividades propostas, que o
tema desenvolvido no GTR, veio de encontro com as necessidades do professor e
contribuiu enormemente na aquisição e enriquecimento de novos conhecimentos
que são essenciais a esse trabalho.
Neste panorama, pôde-se refletir sobre a importância da formação
continuada de professores de alunos com necessidades educativas especiais para
que possam ser profissionais capazes de repensarem suas ações, podendo criar
alternativas procedimentais, fundamentadas nos conhecimentos teóricos e práticos
promovendo uma inclusão de qualidade.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao término deste trabalho, cujo interesse principal foi o de preparar os
professores do Ensino Regular que trabalham com alunos com NEE, alunos cegos,
para que pudessem atender as especificidades desses alunos de modo a garantir-
lhes uma inclusão de qualidade, pôde-se considerar que a realização da pesquisa foi
essencial para que os professores tivessem esse momento de reflexão e
preparação, pois esses professores demonstraram mudanças de atitudes com
relação ao trabalho com esses alunos, isto pode ser percebido no relato dos próprios
alunos cegos e também quando os professores começaram a procurar as
especialistas do Centro de Atendimento especializado em deficiência Visual
(CAE/DV), para pedir auxílio em como trabalhar e avaliar certos tipos de conteúdos,
de maneira que estivessem garantindo a esses alunos uma compreensão mais
concreta e também ao enviarem com antecedência os materiais ao CAE/DV para
pudessem ser adaptados adequadamente para uma boa compreensão.
A metodologia utilizada nessa pesquisa foi fundamental para que pudessem
ser concretizados os objetivos propostos para o desenvolvimento deste trabalho,
principalmente porque, após a coleta dos dados, por meio dos questionários teve-se
maior clareza acerca da complexidade que envolve a relação professor/
aluno/aprendizagem em uma sala de aula. Por meio desses procedimentos,
colheram-se os dados necessários para análise pretendida.
No transcorrer de nossa pesquisa, antes e durante a realização do curso,
conseguiu-se instituir junto aos participantes uma relação harmoniosa e de muito
companheirismo, com isso sentiram-se seguros para relatar, espontaneamente,
sobre cada assunto proposto no questionário.
As análises das cinco categorias de nossa pesquisa, que abordaram as
percepções e práticas em relação às Necessidades Educativas Especiais do aluno
cego, no processo de inclusão em classe comum do ensino regular, indicaram que,
os participantes compreenderam como favorecer o processo de inclusão e que a sua
prática pedagógica é o ponto essencial para que ocorra uma inclusão de qualidade.
Tendo em vista os resultados da avaliação do curso de formação
continuada, avalia-se que, este trabalho pode contribuir para o planejamento de
novos cursos de formação continuada de professores que trabalham com alunos
com NEE, para que proporcionem uma inclusão adequada desses alunos no ensino
regular.
De acordo com os resultados dessa pesquisa, pôde-se concluir que o curso
de formação continuada foi realmente um norteador a esses professores e que lhes
permitiu adquirir saberes significativos à tomada de novas posturas com relação aos
alunos com NEE, os quais passaram a percebê-los como pessoas capazes, desde
que respeitadas quanto as suas especificidades, permitindo-lhes desta maneira,
sucesso no processo ensino Aprendizagem, para que possam ser cidadãos críticos
e participativos na sociedade.
Ressalta-se também a necessidade da continuidade de estudos, debates e
pesquisas sobre a inclusão e as maneiras de como se trabalhar com alunos com
NEE, para que os professores do ensino regular enriqueçam de maneira mais
aprofundada, os conhecimentos essenciais e específicos no trabalho com alunos
que apresentam determinada deficiência.
O professor do Ensino Regular tem o direito e o dever de adquirir os
conhecimentos, tanto sobre a deficiência, quanto a maneira adequada de valorizar e
aumentar a potencialidade de seus alunos com NEE, pois a inclusão só terá sucesso
quando todos: professores, pais, governo e sociedade unirem suas forças para
alcançar esse propósito.
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