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PRELO IMPRENSA NACIONAL-CASA DA MOEDA JANEIRO - ABRIL de 2008 7

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JANEIRO - ABRIL de 2008 7

PRELO7:Prelo7rosto 08/04/29 10:45 Page 1

Edição e propriedadeIMPRENSA NACIONAL-CASA DA MOEDA, S. A.AV. ANTÓNIO JOSÉ DE ALMEIDA1000-042 LISBOATEL. 21 781 07 00 · FAX 21 781 07 54

DirectorCARLOS LEONE

Concepção gráficaBRANCA VILALLONGARevisãoPAULA LOBO

Publicação quadrimestralE-mail: [email protected]ção: 1015425ISSN: 0871-0430Depósito legal: 242 853/06Tiragem: 800 exemplaresPreço: 6e

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5 Editorial

ENSAIO

8ALBERTO DE LACERDA: A MARAVILHA DA VIDAE O HORROR DA VIDAEugénio Lisboa

19D. JOÃO DA CÂMARA, VIVO, CEM ANOS APÓSA MORTELuiz Francisco Rebello

28GERARDO MELLO MOURÃO: UM BRASILEIROUNIVERSALJoão Bigotte Chorão

36 EDWARD W. SAID: O EXÍLIO CONTRA A DIFERENÇACarlos Vidal

79REESCRITAS DA HISTÓRIA, CARTOGRAFIASDA NAÇÃO EM A TORRE DA BARBELA, DE RUBEN A.Maria-Benedita Basto

97O MITO DOS JESUÍTASA PROPÓSITO DE UM NOVO LIVROAntónio Vasconcelos de Saldanha

POESIA

116 DOIS POEMASESQUECIMENTOS e CORREIO ESOTÉRICOAntónio Osório

111 UM POEMA DE ALEXANDRE VARGAS

55A EDIÇÃO RARA DOS PRELOS JESUÍTICOS DE GOA,DE 1624, […] (continuação da Prelo n.º 5)Manuel Cadafaz de Matos

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CRÍTICA

123 Hesíodo, TEOGONIA. TRABALHOS E DIASMaria Leonor Santa Bárbara

126 Menandro, OBRA COMPLETAMaria Leonor Santa Bárbara

131Sampaio Bruno, OS TRÊS FRADESE OUTROS TEXTOS DE FICÇÃOJoaquim Domingues

133Sottomayor Cardia, RACIONALISMO, CONSCIÊNCIAMETODOLÓGICACarlos Leone

136Sara Marques Pereira, O PENSAMENTOPEDAGÓGICO DE SAMPAIO BRUNO — A IDEIADE EDUCAÇÃO PARA A REPÚBLICAJoaquim Domingues

139Miguel Real, A MORTE DE PORTUGALSousa Dias, O QUE É POESIA?Carlos Leone

142 Zita Seabra, FOI ASSIMJoão Tiago Proença

145Hannah Arendt, RESPONSABILIDADE E JUÍZOHannah Arendt, A PROMESSA DA POLÍTICAJoão Tiago Proença

148Stefan Zweig, O MUNDO DE ONTEM — RECORDAÇÕESDE UM EUROPEUPedro Panarra

120AA. VV., A RAZÃO APAIXONADA. HOMENAGEMA FERNANDO GILRegina Queiroz

128Jerónimo Pizarro, FERNANDO PESSOA: ENTRE GÉNIOE LOUCURAPedro Panarra

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EDITORIAL

O sétimo número da Prelo, nesta sua terceira série, surge ao fimde meses de mais polémicas, infelizmente bem costumeiras, so-bre a crítica em Portugal. Um pouco à imagem do que ocorre nasmais diversas áreas da vida pública portuguesa desde há váriosanos, também o mundo da crítica, em particular a literária, temvindo a ser agitado por querelas, tantas vezes pessoais, que sesucedem com a previsibilidade própria da repetição. Ora os au-tores cujos trabalhos são criticados tomam para si dores que sóàs obras caberiam, ora os críticos se queixam de censura edito-rial, algo tanto mais frequente quanto o mercado português co-nhece actualmente tendência de concentração em grandes gru-pos dos principais títulos livreiros e jornalísticos. A agravar oespectáculo — e a realidade que o gera —, a exploração mediáticade nomes bem conhecidos do público, em especial por títulosque se dizem de referência, é um fenómeno hoje evidente e que,tudo o faz supor, não estará para desaparecer em breve. É, emgrande medida, contra tudo isso que a Prelo se faz.Este número assinala, muito oportunamente, o início da concre-tização de um dos projectos fundamentais desta terceira sérieda revista, a aposta na crítica literária distinta tanto temáticacomo qualitativamente do que se pratica na generalidade dostítulos portugueses. Empreendimento difícil, dada a exiguidadedo País e a escassez de colaboradores competentes e experi-mentados, necessária à manutenção de uma secção de críticaregular e original, ainda assim se revela possível levá-lo a bomtermo: capitalizando os esforços dos dois primeiros anos destasérie da Prelo, conseguimos agora reunir um corpo estável decolaboradores muito diversos e juntar-lhe contributos ocasionaisde igual valia, o que possibilita o aumento do número derecensões, da sua variedade temática e das perspectivas (mes-mo dos estilos) que presidem aos textos. Cremos não ser prema-turo afirmar que, a partir de agora, essa será — até cada vezmais — uma marca particular da Prelo no panorama culturalportuguês. E uma das mais necessárias e benéficas.

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Como é já norma, publicam-se ensaios dedicados a áreas comoa exegese religiosa, a análise literária, os estudos culturais, àlusofonia. Também nesta secção temos obtido novas colabora-ções, pensadas a partir de pontos de vista contrastantes. Comose costuma observar, os pontos de vista expressos vinculam osautores, não a publicação; mas, como sempre, pretendemos queo conjunto seja sugestivo do que há de polífono e dinâmico navida cultural portuguesa.Nesse sentido, e como já é nossa prática habitual, efemérides eevocações têm destaque que, noutros locais, mais numerosamentefrequentados, lhes não é atribuído. E como uma cultura não éapenas uma tradição, mas igualmente uma invenção, é com par-ticular prazer que damos ao público dois poemas inéditos daque-le que é hoje, porventura, o mais distinto poeta moral da línguaportuguesa, António Osório. Pois não é apenas a crítica a libertar--nos da(s) peste(s).

Lisboa, Abril de 2008.

O DIRECTOR

ENSAIO

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ALBERTO DE LACERDA: A MARAVILHADA VIDA E O HORROR DA VIDA

EUGÉNIO LISBOA

Quando conheci Alberto de Lacerda, em Lourenço Mar-ques, em meados dos anos 40 (do século passado), havia, en-tre nós, um factor comum: gostávamos ambos de ler e líamostudo a que podíamos deitar mão. Mas havia também uma di-ferença: o Alberto lia sobretudo poesia e eu lia sobretudo fic-ção, teatro e História. Não que a poesia me não atraísse: o Sóde António Nobre chegara-me, com alarme, às mãos, bem comoo Fel, de José Duro (que me pus a imitar, naquela espécie deatracção-repulsão que a morte exerce sobre os adolescentes).Mas não tinha poesia facilmente à mão. Os Poemas de Deus edo Diabo, difíceis de encontrar no mercado local, ouvi-os, lidospor amigos que se deixavam facilmente fascinar pela eloquên-cia sulfúrica (e bela) do bardo de Portalegre. De Fernando Pes-soa, chegaram-me, também de ouvido, as heresias de Caeiro eos histerismos de Campos. E pouco mais. Com o Alberto, eradiferente: dois anos mais velho, dispondo de muito mais tempoporque o liceu lhe interessava pouco e era faltão, dotado deum apetite insaciável pela poesia (que desencantava, por com-pra, por empréstimo ou em casa do pai), pela arte e pela vida,ferido de ambição desmedida e daquele modicum de megalo-mania que aflige tanto adolescente e não é mal por aí além, oAlberto devorava poesia, escrevia poesia e falava — já então —admiravelmente de poesia. Era um conversador extraordiná-rio, cheio de caprichos, de paixões, de rejeições, de convicçõesem itálico bem acentuado, de ironias desmedidas, de achadosinesquecíveis… Como poucos, sabia ser afrontoso, com umtoque de maldade de uma elegância florentina. Mas não eranunca pedante e tinha um horror sagrado pelos valores «esta-belecidos» e pomposos, por títulos, por «importâncias». Lia o

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que lia e descobria o que descobria, pisando, por si próprio,terreno ainda novo e inexplorado.

Como todos os adolescentes, tinha conflitos interiores efamiliares, histórias que teria pudor de contar fosse a quemfosse (Régio, por essa altura, marcava-o, embora, depois pas-sasse a rejeitá-lo com alguma injustiça virulenta).

Intrigava-me algum tanto verificar que os grandes ficcio-nistas que, por essa altura, me iam apaixonando (Stendhal,Tolstoi, Dostoievski, Charlotte Brontë) eram postos à distânciapelo Alberto, que se «não atrevia» a mergulhar naquela massaromanesca de dimensões, para ele, aterradoras. Tratava-se,pareceu-me, de uma espécie de receio… de quase pânico! Maistarde, mudaria e viria a ler, com prazer e argúcia, numa apro-ximação sempre pessoal, grandes obras de ficção.

Havia, já então, no Alberto, algo de saliente que nos im-pressionava sem que soubéssemos muito bem identificá-lo: ummanejo invulgar da língua, um enamoramento com a língua,que desferia com vigor e frescura, num descobrimento singu-lar de tesouros escondidos num glossário aparentemente gastomas que ele punha a vibrar com timbre escandalosamenterenovado.

Em Lourenço Marques, bonita cidade do Índico feita para,com gosto, se morar nela, habitava uma gente singular e cultaque nos ia enchendo a alma de um bom veneno propiciador: osibilino e britânico Rola Pereira, outrora amigo de Pessoa e deSá-Carneiro, que ensinava matemática sedutora a toda a gentemenos ao Alberto e que, nos interstícios dos números em pa-rada, ia mesmerizando os jovens ouvintes com a última pala-vra em poesia lusíada: Fernando Pessoa, Sá-Carneiro, Almada,António Botto, José Régio…; ou o imprevisível e cultíssimoDomingos Reis Costa, professor de Francês e Português e ve-lho amigo de Hernâni Cidade e Miguéis, que trazia, da suavastíssima (e lida!) biblioteca, livros que ia disseminando pelasmãos vorazes dos que para eles já iam preparados pelas pala-vras prefaciadoras, sugestivas e não raro embebidas em tónicoveneno, daquele exilado por razões que tinham a ver com amo-res de perdição (diziam, sussurrando, as más línguas). Naque-les subtrópicos, não se morria exactamente de pasmo — comoo poderiam ter dito tantos que por lá deixaram rasto, o Alberto,

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o João da Fonseca Amaral, o Rui Knopfli, o Vítor Matos e Sá,o Reinaldo Ferreira, o António Esquível, o Fernando Ferreira, oCardigos dos Reis, a Maria Luísa Soares, a Glória de Sant’Ana,o Tiago Oliveira, o Cordeiro de Brito, tantos outros.

Cheio de «razões de queixa», o Alberto não foi nunca, con-tudo, nem um amargo, nem um deprimido. Cantava, nos seustextos, «a maravilha da vida [e] o horror da vida», mas nem amaravilha lhe adocicava a descascada elegância do dizer, nemo horror lhe tirava o apetite de viver; cantava para ajudar «anão esquecer nunca a liberdade», mas nunca consentiu que oseu amor à liberdade lhe desviasse a pena até às fronteiras dademagogia. Quis que os seus versos «tivessem vida própria comoos gatos, os tigres, os homens belos com olhos de criança, oslemes e os quadros a óleo, que mudam com a temperatura domar, a luz do dia e o sol da noite.»

As suas paixões literárias nunca o cegavam e, no mo-mento próprio, era capaz de fazer as mais inesperadas e ousa-das reservas, mesmo às vacas sagradas da literatura, nas quaisninguém ousaria tocar nem com uma flor. Para dar só umexemplo, numa crónica enviada para o semanário A Voz deMoçambique e publicada no n.º 150 de 11 de Outubro de 1964,intitulada provocadoramente «Nota muito atrevida sobre Bau-delaire», começa num tom apologético: «Numa casa alheia, nummomento de tédio, tiro da estante Baudelaire, e cai-me comoum precipício este verso sublime: ‘Nous avons dit souventd’impérissables choses.’ O tom é quase o da linguagem falada.Mas não é prosa. É um verso espantoso; para além da magiasónica (que não chegaria) está concentrada uma experiênciaamorosa ao limite da ambiguidade e até quase da ironia: ne-nhumas coisas ditas são imperecíveis; no entanto, o amor e aarte exigem — na sua lucidez delirante — ou no seu delírio lú-cido — essa dimensão infinita.» Para, logo a seguir, abrir fogocom as suas bem municiadas baterias: «A minha querela comBaudelaire é que ele faz da poesia — com o seu culto do re-morso, a obsessão do pecado, a mise-en-scène macabra, as apa-rições múltiplas do Diabo, do Mal, do Inferno (com traços, mui-tas vezes, de gravura barata) — uma espécie de confessionáriocatólico.» Avesso a tudo quanto oprime — o conceito de peca-do, o Diabo dos que nele acreditam, o remorso, o Inferno anun-

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ciado —, o Alberto, no mesmo texto em que rejeita o Baudelairede tudo isto, exalta o outro Baudelaire, o do amor e da arteque «exigem — na sua lucidez delirante — ou no seu delíriolúcido — uma dimensão infinita.» É esta dimensão infinita, esteexcesso, este exagero de afirmação, que dão a quase toda asua poesia uma força única e um fulgor inigualado. Veja-se,por exemplo, o belo poema «A língua portuguesa»:

Esta língua que eu amoCom seu bárbaro lanhoSeu melSeu helénico salE azeitonaEsta limpidezQue se nimbaDe surdaQuanta vezEsta maravilhaAssassinadíssimaPor quase todos que a falamEste requebroEsta ânforaCantanteEsta máscula espadaGraciosíssimaCapaz de brandir os caminhos todosDe todos os aresDe todas as dançasEsta vozEsta línguaSoberbaCapaz de todas as coresTodos os riscosDe expressão(E ganha sempre a partida)Esta língua portuguesaCapaz de tudoComo uma mulher realmenteApaixonada

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Esta línguaÉ minha Índia constanteMinha núpcia ininterruptaMeu amor para sempreMinha libertinagemMinha eternaVirgindade

Note-se, neste poema, os característicos excessos de afirma-ção: «Esta maravilha / Assassinadíssima», «Esta máscula espada /Graciosíssima», «Esta língua / Soberba / Capaz de todas as cores»,etc. E note-se também como ele «isola» os superlativos absolutossimples, dando-lhes a categoria de constituírem cada um deles,só por si, um verso único («Assassinadíssima», «Graciosíssima»).

Uma das características mais atraentes da arte deste gran-de fabbro é a tensão que, nele, vai constantemente existindoentre este excesso «romântico» e o mais rigoroso governo dosconstrangimentos que a grande arte clássica recomenda: estatensão sublima-se, de modo grandioso, na sua colecção deSonetos, editada em Veneza, em 1991 — uma das mais belascolectâneas desta forma poética — o soneto — que entre nós sepublicaram: uma forma tão exigente, que Godeau, bispo deVence, insinuava não ser o soneto coisa deste mundo.

O meu convívio com Alberto de Lacerda viria a reatar-se,de modo algum tanto errático, em Lisboa, entre 1947, ano emque aqui cheguei, vindo de Moçambique, e 1951, ano em queele partiu para Londres, onde para sempre se fixaria. E reto-mou-se, em Londres, onde eu próprio vivi, entre 1978 e 1995.Foi aqui que mais e mais frutuosamente (para mim, e esperoque também alguma coisa para ele) convivemos.

Em Lisboa, lembra-me sobretudo o Alberto que nos apare-cia lá para os lados da Alameda Afonso Henriques e arredores,onde vivíamos eu, o Alberto Parente (que, por essa altura, aindapoetava) e o Nuno Ribeiro, ambos de Moçambique e ambos comapetências culturais muito vincadas. O Alberto vinha feitocaixeiro-viajante da Távola Redonda e dos livros da Sophia, quenos vendia, com grande empenho e um discurso «de apoio» sa-biamente persuasivo. Falava-nos de poesia portuguesa e france-sa, de música (eu acabara de descobri-la, com Mozart), de pin-

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tura e da vida cultural em Lisboa, sobre a qual exercitava o seuminucioso conhecimento e a sua ácida ironia. E fazia-o comsegurança, convicção e discriminação. Ao pé dele — submergidopelas Matemáticas Gerais, pela Química Geral e pela GeometriaDescritiva — sentia-me um bárbaro, apanhando migalhas desabedoria e de outras coisas sublimes que ele ia semeando comalguma displicência e um toque de ironia. Os seus textos deprosa na Távola, a sua poesia, também na Távola, mostravam--me requintes de leitura, sensibilidade e inteligência crítica queme deslumbravam e quase me ofuscavam. Eu lia outras coisas,fazia outras descobertas: Gide, Proust, Ibsen, Shaw, Bunine,Tchekov, Régio, Shakespeare, Baudelaire, Montaigne, Goethe…Mas invejava a agilidade, a fulgurância, a subtileza, a ironiaacerada do Alberto. Depois, um dia, desapareceu. Fora paraLondres. Viria a reencontrá-lo, em 1963, em Lourenço Marques,para onde eu regressara, em 1955. Fora ali, em revisita, umarevisita que nada queria ter de saudosista: «Não vim à procurade nada / Nem de saudades que não tenho / Nem da carga dotempo perdido / Nem de conflitos sobrenaturais / Do tempo edo espaço / […] / Vim para ver / Para ver de novo / Paracontemplar sem perguntas / Não vim à procura de nada / Umrio não se interroga / O vento não se arrepende.» Viajou porMoçambique inteiro, fez um extraordinário recital de poesia naCâmara Municipal de Lourenço Marques (lembro-me, com par-ticular emoção, das suas leituras de Camões, Herberto Helder eManuel da Fonseca) e demorou-se, com êxtase criativo, na suailha de Moçambique, onde nascera trinta e cinco anos antes:

Ó Oriente surgido do marÓ minha ilha de MoçambiquePerfume solto no oceanoComo se fosse em pleno ar

Ou ainda:

Ilha onde os cães não ladram e onde as criançasbrincamNo meio da rua como peregrinosDum mundo mais aberto e cristalino