necessidades de saÚde na perspectiva da ......de trabalho da enfermagem; é sobre as necessidades...
TRANSCRIPT
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
ESCOLA DE ENFERMAGEM DE RIBEIRÃO PRETO
DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM MATERNO-INFANTIL E SAÚDE
PÚBLICA
Disciplina: ERM0105 Integralidade do Cuidado em Saúde I
NECESSIDADES DE SAÚDE NA PERSPECTIVA DA
INTEGRALIDADE DA SAÚDE E O CUIDADO DE
ENFERMAGEM
Profa. Dra. Angelina Lettiere
Profa. Dra. Maria Eugenia Firmino Brunello
Ribeirão Preto
2017
Relembrando...
SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (1988)
Atenção Básica
(Unidades Básicas de Saúde ou Unidades Saúde da família)
Práticas individuais e coletivas
Promoção da saúde
Prevenção de doenças e agravos
Diagnóstico/Tratamento/Reabilitação
Trabalho com ênfase no território
População bem delimitada
Trabalho em equipe
Estratégia
Saúde da
Família
Adscrição da clientela
Territorialização
Diagnóstico situacional
Planejamento baseado na
realidade local
Relembrando...
Reorientação das práticas e do processo de
trabalho
Relembrando...
É importante saber que:
O modo de compreender o processo saúde-doença é o que vai determinar o
modo de planejar o cuidado e mesmo a organização de políticas, ações e
serviços de saúde, além das redes sociais de apoio.
Necessidades
em saúde
Geradas no contexto das relações que os seres humanos
estabelecem entre si para se reproduzirem como sujeitos e
como sociedade.
Originam-se nas relações de reprodução social em que os
sujeitos se desenvolvem como seres sociais.
Indivíduos ocupam diferentes posições nas relações de
reprodução social = desiguais acessos ao que satisfaz as
necessidades.
Identificadas: no conjunto da vida social desse indivíduo
(forma de trabalhar; modo de viver; relações do indivíduo
com a família, grupo social, instituições; características
do território onde vive) e nas consequências dessas
formas de trabalhar e de viver.
MENDES, R. B. G. Práticas de saúde: processos de trabalho e necessidades. Centro de Formação de Trabalhadores em Saúde da Secretaria Municipal da Saúde. Cadernos
CEFOR, São Paulo, 1992.. HELLER, A. Teoria de las necessidades em Marx. Barcelona: Peninsola, 1986.. CAMPOS, C. M. S. Reconhecimento das necessidades de saúde
dos adolescentes. In: BORGES, A. L. V.; FUJIMORI, E. Enfermagem e a saúde do adoslescente na atenção básica. Barueri: Manole, 2009. p.142-167.
Necessidades de reprodução social = grupos sociais que ocupam o território e
identifique as formas de inserção no trabalho e as características de viver.
Presença do Estado = no território e na vida do sujeitos = convocam a necessidade da
presença do Estado = garantia serviços de direitos universais.
Participação Social = identificação e descrição das atividades desenvolvidas por
associações, sindicatos, agremiações, partidos políticos, entre outras formas de
participação dos indivíduos, famílias e grupos sociais.
CAMPOS, C. M. S. Reconhecimento das necessidades de saúde dos adolescentes. In: BORGES, A. L. V.; FUJIMORI, E. Enfermagem e a saúde do adolescente na atenção
básica. Barueri: Manole, 2009. p.142-167. CAMPOS, C. M. S.; MISHIMA, S. Necessidades de saúde pela voz da sociedade civil e do Estado. Cadernos de Saúde Pública, v.
21, n. 4, p. 1260-1268,2005.
NECESSIDADES EM SAÚDE
Significa reconhecer em indivíduos, famílias e grupos/classes sociais
(CAMPOS, 2009)
NECESSIDADES DE SAÚDE(STOTZ, 1991)
Embora a Saúde seja um bem
coletivo, toda a sociedade, a doença
tem características individuais. A
dimensão social dos fenômenos da
saúde é a síntese das exigências, das
condições particulares da cada
homem ou mulher.
Necessidades de saúde são sempre
históricas, dinâmicas e cambiantes.
Necessidades de saúde têm um
componente de natureza subjetiva e
individual
Necessidade de saúde não é um conceito suscetível de ser defendido nem
pelo indivíduo isolado “livre”, abstraído de suas relações sociais, concretas,
nem pela “estrutura” social colocada de uma forma genérica.
STOTZ, E. N. Necessidade de Saúde: mediações de um conceito. Tese de doutorado. Escola Nacional de Saúde Pública, 1991.
CECILIO, L. C. O.; MATSUMOTO, N. F. uma taxonomia operacional de necessidades de saúde. In: PINHEIRO, R.; FERLA, A. F.; MATTOS, R. A (orgs.). Gestão em
Redes: tecendo os fios da integralidade em saúde. Rio Grande do Sul: Rio de Janeiro: EdUCS/UFRS: IMS/UERJ: CEPESC, 2006. 112p.
NECESSIDADES EM SAÚDE(CECILIO; MATSUMOTO, 2006)
Taxonomia = conceito normativo
Ajuda trabalhadores/equipes/serviços/rede de serviços promover a escuta
Necessidades = centro de suas intervenções e práticas
Visa: atenção humanizada e qualificada
Necessidades de saúde são social e historicamente
determinadas/construídas = captadas e trabalhadas em sua dimensão
individual (STOTZ, 1991).
NECESSIDADES EM SAÚDE(CECILIO; MATSUMOTO, 2006)
CECILIO, L. C. O.; MATSUMOTO, N. F. uma taxonomia operacional de necessidades de saúde. In: PINHEIRO, R.; FERLA, A. F.; MATTOS, R. A (orgs.). Gestão em
Redes: tecendo os fios da integralidade em saúde. Rio Grande do Sul: Rio de Janeiro: EdUCS/UFRS: IMS/UERJ: CEPESC, 2006. 112p.
Necessidades de
saúde
Necessidade de boas condições de vida: (ambiente externo que
determinam o processo-saúde-doença, ou seja, diferentes lugares
ocupados no processo produtivo e acesso às condições de moradia
e hábitos pessoais, assim a maneira como se vive se “traduz” em
diferentes necessidades de saúde.
Necessidade de acesso a todas tecnologias de atenção à saúde
que melhorem e prolonguem a vida: capaz de melhorar e
prolongar a vida, ou seja, partindo de tecnologias leve, leve-duras
e duras, a partir da necessidades de cada pessoa, em cada singular
momento.
CECILIO, L. C. O.; MATSUMOTO, N. F. uma taxonomia operacional de necessidades de saúde. In: PINHEIRO, R.; FERLA, A. F.; MATTOS, R. A (orgs.). Gestão em
Redes: tecendo os fios da integralidade em saúde. Rio Grande do Sul: Rio de Janeiro: EdUCS/UFRS: IMS/UERJ: CEPESC, 2006. 112p.
Necessidades
de saúde
Necessidade de criação de vínculos (a)efetivos entre cada usuário e
uma equipe e/ou profissional (sujeito em relação): ou seja vínculo
enquanto referência e relação de confiança, reconhecer que o vínculo,
mais que a simples adscrição é uma relação contínua no tempo, pessoal
e intransferível, calorosa: encontro de subjetividades
Necessidade de cada pessoa ter graus crescentes de autonomia e
autocuidado na construção do “modo de andar a vida” (a
construção do sujeito): a informação e a educação em saúde são
apenas parte do processo de construção da autonomia de cada pessoa.
Autonomia = implica na possibilidade de reconstrução, pelos sujeitos,
dos sentidos de sua vida e esta ressignificação pode incluir a luta pela
satisfação de suas necessidades de forma mais ampla possível.
CECILIO, L. C. O.; MATSUMOTO, N. F. uma taxonomia operacional de necessidades de saúde. In: PINHEIRO, R.; FERLA, A. F.; MATTOS, R. A (orgs.). Gestão em
Redes: tecendo os fios da integralidade em saúde. Rio Grande do Sul: Rio de Janeiro: EdUCS/UFRS: IMS/UERJ: CEPESC, 2006. 112p.
NECESSIDADES EM SAÚDE
Necessidades
de saúde
Saber como vive, adoece e morre a população em determinados
lugares e situações.
A observação facilita a identificação de problemas e
necessidades a serem enfrentadas e revela potencialidades locais,
por meio da análise do que determina e condiciona cada
situação.
Todas as informações deverão auxiliar a equipe de saúde, os
gestores e a população a encontrar, juntos, soluções adequadas
que possam melhorar as condições de vida e saúde locais.
As informações darão suporte na formulação de um plano de
ação em vigilância em saúde.
INTEGRALIDADE
Um conceito que prevê que: de forma articulada, sejam ofertadas ações de promoção da
saúde, prevenção dos fatores de risco, assistência aos danos e reabilitação – segundo a
dinâmica do processo saúde-doença.
Integralidade focalizada: fruto do
esforço e confluência dos vários saberes
de uma equipe multiprofissional, no
espaço concerto e singular dos serviços de
saúde. Trabalhada em um espaço bem
delimitado (focalizado).
Integralidade Ampliada: fruto de uma
articulação de cada serviço de saúde a
uma rede muito mais complexa composta
por outros serviços de saúde e outras
instituições não necessariamente do “setor
saúde”.
CECILIO, L. C. O. As necessidades de saúde como conceito estruturante na luta pela integralidade e queidade na atenção em saúde. In: PINHEIRO, R.; MATTOS, R. A.
(orgs.). Os sentidos da integralidade na atenção e no cuidado à saúde. Rio de Janeiro: UERJ:, IMS: ABRASCO, 2006 . p. 115-128
INTEGRALIDADE
Encontro usuário/equipe = compromisso e preocupação de se fazer a melhor escuta
possível das necessidades de saúde trazidas por aquela pessoa. Quando um pessoa
procura o serviço de saúde traz consigo uma “cesta de necessidades”, que caberia a
equipe de saúde ter a sensibilidade e preparo para decodificar e saber atender da melhor
forma possível.
CECILIO, L. C. O. As necessidades de saúde como conceito estruturante na luta pela integralidade equidade na atenção em saúde. In: PINHEIRO, R.; MATTOS, R. A.
(orgs.). Os sentidos da integralidade na atenção e no cuidado à saúde. Rio de Janeiro: UERJ:, IMS: ABRASCO, 2006 . p. 115-128
Integralidade focalizada: confluência dos vários saberes de uma equipe multiprofissional,
no espaço concerto e singular dos serviços de saúde.
Demanda (consulta médica,
consumo de medicamentos,
realização de exames).
Necessidades (busca por resposta para as más
condições de vida que a pessoa vive ou está
vivendo (do desemprego à violência), a procura
de um vínculo efetivo com o profissional, a
necessidade de ter maior autonomia e ter acesso a
alguma tecnologia.
INTEGRALIDADE
Integralidade da atenção pensada em rede = Rede de múltiplas entradas e múltiplos
fluxos. Garantia desta integralidade do cuidado é uma responsabilidade do sistema e não
fruto da batalha individual.
CECILIO, L. C. O. As necessidades de saúde como conceito estruturante na luta pela integralidade equidade na atenção em saúde. In: PINHEIRO, R.; MATTOS, R. A.
(orgs.). Os sentidos da integralidade na atenção e no cuidado à saúde. Rio de Janeiro: UERJ:, IMS: ABRASCO, 2006 . p. 115-128
Integralidade Ampliada: fruto de uma articulação de cada serviço de saúde a uma rede
muito mais complexa composta por outros serviços de saúde e outras instituições não
necessariamente do “setor saúde”. .
Ex: violência e hipertensão
Radicalizar a ideia de que cada pessoa, com suas
múltiplas e singulares necessidades, seja,
sempre, o foco, o objeto, a razão de ser, de cada
serviço de saúde e do “sistema” de saúde
Enfermeiro?
Necessidades de saúde são o objeto do processo
de trabalho da enfermagem; é sobre as
necessidades de saúde que incidem os
instrumentos (as ações) do processo de trabalho
da enfermagem.
CAMPOS, C. M. S.; SOARES, C. B. Necessidade de saúde e o cuidado de enfermagem em saúde coletiva. In: SOARES, C. B.; CAMPOS, C. M. S. Fundamentos de saúde
coletiva e o cuidado de enfermagem. Barueri: Manole, 2013, p. 265-292.
DIMENSÕES DO CUIDAR EM SAÚDE
CECÍLIO, L. C. O. Apontamentos teórico-conceituais sobre processos avaliativos considerando as múltiplas dimensões da gestão do cuidado em saúde. Interface, v.15, n.37,
p.589-99, abr./jun. 2011.
Gestão do cuidado em saúde
como o provimento ou a
disponibilização das tecnologias
de saúde, de acordo com as
necessidades singulares de cada
pessoa, em diferentes momentos
de sua vida, visando seu bem-
estar, segurança e autonomia para
seguir com uma vida produtiva e
feliz.
Dimensão
individual da
gestão do cuidado
em saúde
O “cuidar de si”, no sentido de que cada um de
nós pode ou tem a potência de produzir um
modo singular de “andar a vida”, fazendo
escolhas, “fazendo da vida uma obra de arte”.
Dimensão familiar
da gestão do
cuidado em saúde
Família, amigos, vizinhos;
Conflitos;
Indivíduo interage e estabelece relações;
Núcleo importante: política de
desospitalização, assistência domiciliária;
Visita domiciliar: identificação de problemas
e proposta de soluções.
CECÍLIO, L. C. O. Apontamentos teórico-conceituais sobre processos avaliativos considerando as múltiplas dimensões da gestão do cuidado em saúde. Interface, v.15, n.37,
p.589-99, abr./jun. 2011.
Dimensão
profissional da
gestão do
cuidado em
saúde
A competência técnica do profissional específico =
capacidade por sua experiência e formação, de dar respostas
para o(s) problema(s) vivido(s) pelo usuário;
A postura ética do profissional = o modo com que se dispõe
a mobilizar tudo o que sabe e tudo o que pode fazer para
atender, da melhor forma possível, tais necessidades;
A capacidade de construir vínculo com quem precisa de
seus cuidados.
Dimensão
organizacional
da gestão do
cuidado em
saúde
CECÍLIO, L. C. O. Apontamentos teórico-conceituais sobre processos avaliativos considerando as múltiplas dimensões da gestão do cuidado em saúde. Interface, v.15, n.37,
p.589-99, abr./jun. 2011.
Divisão técnica e social do trabalho: Trabalho em equipe,
atividades de coordenação e comunicação (gerencial).
Definição de fluxos e regras de atendimento e a adoção de
dispositivos compartilhados por todos os profissionais, tais
como: as agendas, protocolos únicos, reuniões de equipe,
planejamento, avaliação etc.
Depende da ação cooperativa de vários atores.
Dimensão
sistêmica da gestão
do cuidado em
saúde
Trata de construir conexões formais, regulares
e regulamentadas entre os serviços de saúde,
compondo “redes” ou “linhas” de cuidado, na
perspectiva da construção da integralidade do
cuidado.
referências/contra-referência;
fluxo nos diferentes pontos da atenção.
Dimensão
societária da
gestão do cuidado
em saúde
Como cada sociedade produz cidadania, direito
à vida e acesso a toda forma de consumo que
contribua para uma vida melhor. É a dimensão
do encontro da sociedade civil, em sua
heterogeneidade, com o estado, e a disputa de
diferentes projetos societários que resultarão
em melhores ou piores condições de vida para
amplos extratos da população.
CECÍLIO, L. C. O. Apontamentos teórico-conceituais sobre processos avaliativos considerando as múltiplas dimensões da gestão do cuidado em saúde. Interface, v.15, n.37,
p.589-99, abr./jun. 2011.
CECÍLIO, L. C. O. Apontamentos teórico-conceituais sobre processos avaliativos considerando as múltiplas dimensões da gestão do cuidado em saúde. Interface, v.15, n.37,
p.589-99, abr./jun. 2011.
DIMENSÕES DO CUIDAR EM SAÚDE
ENFERMAGEM
ASSISTÊNCIA
Diagnóstico/Planejamento
Execução/Avaliação da
assistência
GERÊNCIA
Delegação de atividades
Supervisão
Orientação da equipeVinculados
“Administrar é cuidar e quando planejam, organizam, avaliam e coordenam,
os enfermeiros também estão cuidando”.
GRECO, R. M. Ensinando a Administração em Enfermagem através da Educação em Saúde. Brasília (DF). Revista Brasileira de Enfermagem.V. 57, n.4, p.504-507, 2004.
VAGHETTI, H. et al. Percepções dos enfermeiros acerca das ações administrativas em seu processo de trabalho. Brasília (DF). Revista Brasileira de Enfermagem.V. 57, n.3,
p.316-320, 2004.
Referências :
SOARES, C. B. Juventude e saúde: concepções e políticas públicas. In: DAYRELL, J.; MOREIRA, M. I. C.;
STENGEL,M. Juventudes contemporâneas: um mosaico de possibilidades.. Belo Horizonte: Ed. PUC Minas, 2011. p.
361-378.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas.
Orientações básicas de atenção integral à saúde de adolescentes nas escolas e unidades básicas de saúde. Brasília :
Editora do Ministério da Saúde, 2013. 48 p. : il.
https://agencia.fiocruz.br/brasil-deve-aprender-com-epidemia-de-dengue-no-rio.
SANTOS, J. L. G.; et al. Práticas de enfermeiros na gerência do cuidado em enfermagem e saúde: revisão integrativa.
Revista Brasileira de Enfermagem, Brasília, v. 66, n. 2, p. 257-263, mar./abr. 2013.
CIAMPONE, M. H. T.; KURCGANT, P. O Ensino de Administração em Enfermagem no Brasil: o processo de
construção de competências gerenciais. Brasília (DF). Revista Brasileira de Enfermagem., Brasília, v. 57, n.4, p.401-
407, 2004.
ALVES, M.; PENNA, C. M. M.; BRITO, M. J. M. Perfil dos Gerentes de Unidades Básicas de Saúde. Brasília (DF)..
Revista Brasileira de Enfermagem, Brasília, v. 57, n. 4, p. 441-446, 2004.
GAIDZINSKI, R. R.; PERES, H. H. C.; FERNANDES, M .F. P. Liderança: aprendizado contínuo no gerenciamento
em Enfermagem. Brasília (DF). Revista Brasileira de Enfermagem. Brasília, v. 57, n.4, p.464-466, 2004.
GUIMARÂES, R. M.; MUZI, C. D.; MAURO, M. Y. Tendências Modernas da Gerência do Trabalho da
Enfermagem: o caso das cooperativas. Brasília (DF). Revista Brasileira de Enfermagem. Brasília, v. 57, n.4, p.472-
474, 2004.
MAGALHÃES, A. M. M.; DUARTE, E. R. M. Tendências Gerenciais que podem levar a Enfermagem a percorrer
novos caminhos. Brasília (DF). Revista Brasileira de Enfermagem. Brasília, v. 57, n.4, p.408-411, 2004.
VALE, E. G.; GUEDES, M. V. C. Competências e habilidades no ensino de administração em enfermagem à luz das
diretrizes curriculares nacionais. Brasília (DF). Revista Brasileira de Enfermagem. Brasília, v. 57, n.4, p.475-478,
2004.
REFERÊNCIAS
ATIVIDADE
- Leitura, dramatização e relato do texto de Julia Rocha (médica de USF em MG) –
impressos
- Relacionar o texto com as necessidades de saúde que conseguir identificar
EU VOU PROCESSAR TODOS VOCÊS!!!
"Eu vim trocar minha receita. Se eles não me derem meus remédios eu
vou na delegacia. É meu direito. Meu médico do convênio já falou que é
meu direito. Eu gravei no meu celular a moça falando que tem o remédio
aqui, sim, Mas eles não querem me dar. Estão guardando só para as
grávidas. Quer dizer que não pode nascer um bebezinho cego ou
retardado mas eu posso ficar com problema sério no coração? Eu não
quero nem saber. Não saio daqui hoje sem tomar essa injeção."
"Fabiana, eu tô no meio de uma consulta. Eu vou terminar com este
paciente e em seguida eu te chamo e a gente conversa, tudo bem?"
Ela fecha a porta sem responder.
"Fabiana, pode entrar."
Ela entra, se senta, tira diversos papéis da bolsa e começa a
falar.
"Eu não te conheço. Você não me conhece. Eu sei que você tá
chegando aqui agora. Eu tenho que tomar essa injeção todo
mês e eles não querem me dar. Eu sei que tem aí. Eu gravei a
moça falando que tem guardado só para as grávidas. Eles me
passaram um comprimido no lugar da injeção, mas eu não vou
ficar tomando comprimido todo dia. Tá acabando com meu
estômago."
"Fabiana, este medicamento está em falta no mundo todo. Está
faltando matéria prima para produzir."
"Não quero saber. Eu quero o meu. Que falte pras grávidas."
Silêncio... Coloquei os braços na mesa, inclinei o corpo pra
frente. Esperei que ela retomasse o fôlego, olhei dentro dos
seus olhos. Com um tom de voz bem mais baixo que o dela,
falei pausadamente.
"Além da receita, o que mais você gostaria que eu fizesse pra
te ajudar?"
"Eu estou sentindo dores de cabeça insuportáveis." E
começou a chorar compulsivamente. "Eu nunca tive
nada. Sempre fui saudável. Agora só fico assim.
Primeiro as inflamações das articulações, depois as
dores de coluna, agora essa dor de cabeça. O
neurologista falou que é enxaqueca. Gastei um tanto
de dinheiro com exames, tomografia, RX, exames de
sangue. Já tomei um tanto de remédio caro. Nada faz
melhorar isso. Não aguento mais. Vivo chorando,
estou perdendo peso, quase não saio de casa..."
"Há quanto tempo você vem sentindo isso?"
"Tem 3 anos."
"E o que aconteceu há 3 anos que mudou tanto a sua
vida?"
"Eu me separei..." Novamente um longo silêncio e muitas lágrimas. Fechou
os olhos. Parecia tentar buscar na memória as lembranças de quando se
sentia bem. "Eu tive um aborto, logo em seguida, outro... acho que isso
mexeu muito comigo. Tenho medo pois já me disseram que se eu não tratar
esse meu problema de saúde com as injeções, eu posso desenvolver
problema de coração e nunca mais poderei ter filhos."
"Tantas coisas, né, Fabiana?"
"Muitas coisas. Vivo sozinha, sem família aqui, fui despejada. Tô morando na
casa de uma amiga, num lugar que eu detesto. Ainda com essas
preocupações com a saúde... Pior coisa do mundo...... Ai doutora...... Você
acha que eu preciso de uma psicóloga?"
"Você acha?"
"Acho."
"Então, eu também acho. E acho que há medicamentos que podem te ajudar
com essa dor de cabeça. Quer tentar?"
"Quero. Quero, muito. O que você passar eu vou tomar."
"Posso marcar um reencontro nosso na semana que vem?"
"Sério?
"Sério! Sabe Fabiana, as vezes a tristeza vira doença, né."
"Doutora, a minha tristeza virou dor."
Ela seguiu seu caminho e eu fiquei aqui pensando em como
achei essa moça cruel, arrogante, agressiva, impiedosa e chata
antes de ouvir o que ela tinha pra dizer. Ainda bem que, como
toda Médica de Família, eu me alimento dessas histórias.
Preciso disso pra viver!
Desculpa aí, Fabiana! Sem saber da sua dor, eu te julguei
sentada aqui na minha cadeirinha confortável. Foi mal, mesmo.
Não repara.
(Por Julia Rocha, Médica de um PSF em MG, via Facebook)