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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
CENTRO DE COMUNICAO E EXPRESSO
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM LINGUSTICA
Ruan de Souza Mariano
NOMINAIS NUS, TPICO E FOCO: TESTANDO A
ACEITABILIDADE EM SENTENAS EPISDICAS
Florianpolis
2013
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Nominais nus, tpico e foco: testando a aceitabilidade em sentenas episdicas
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Dissertao de Mestrado
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Ruan de Souza Mariano
NOMINAIS NUS, TPICO E FOCO: TESTANDO A
ACEITABILIDADE EM SENTENAS EPISDICAS
Dissertao submetida ao Programa de
Ps-Graduao em Lingustica da
Universidade Federal de Santa Catarina
como requisito para a obteno do Grau
de Mestre em Lingustica
Orientadora: Prof.. Dr. Roberta Pires
de Oliveira
Florianpolis
2013
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Nominais nus, tpico e foco: testando a aceitabilidade em sentenas episdicas
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Dissertao de Mestrado
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Ruan de Souza Mariano
NOMINAIS NUS, TPICO E FOCO: TESTANDO A
ACEITABILIDADE EM SENTENAS EPISDICAS Esta Dissertao foi julgada aprovada para obteno do Ttulo de Mestre
em Lingustica.
Florianpolis, 28 de janeiro de 2013.
Banca Examinadora:
________________________
Prof. Dr. Roberta Pires de Oliveira
Universidade Federal de Santa Catarina
Orientadora
________________________ Prof. Dr. Josias Ricardo Hack
Universidade Federal de Santa Catarina
Presidente
________________________
Prof. Dr. Sergio de Moura Menuzzi
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
________________________
Prof. Dr. Izabel Christine Seara
Universidade Federal de Santa Catarina
________________________
Prof. Dr. Mailce Borges Mota Fortkamp
Universidade Federal de Santa Catarina
________________________
Prof. Dr. Edair Maria Gorski
Universidade Federal de Santa Catarina
(suplente)
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Dissertao de Mestrado
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Maria nenm, minha bisav, cuja formao
acadmica no atingiu o ensino mdio, mas a quem
no hesito em lhe atribuir o ttulo de mestre.
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Dissertao de Mestrado
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Agradecimentos:
s Marias da minha vida: minha bisav, minha av e minha me
por me darem o suporte necessrio para a concluso da graduao e do
mestrado...
Aos seus respectivos Joss: meu pai Zenildo e meu av Milton,
por igualmente me apoiarem nesta empreitada...
Aos meus tios e tias, irmos e irm, pela fora que me animam...
Aos amigos, por me aturarem nos meus piores e melhores
momentos e pelos risos soltos e confortveis nos momentos mais
(in)oportunos de angstia e normalidade...
Aos colegas do NEG pelas tardes prazerosas conversando sobre a
lngua(gem) e sobre as peripcias da vida acadmica...
Roberta Pires de Oliveira, minha orientadora, pelo apoio
incondicional pesquisa e pelas conversas prazerosas de corredor...
...Os meus sinceros agradecimentos!
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Porque [...] dentro de todos e de
cada um, est um tesouro que
preciso estudar.
(Noam Chomsky)
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Dissertao de Mestrado
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RESUMO
O presente trabalho se insere numa perspectiva de interface entre
semntica, prosdia e psicolingustica e busca investigar a restrio (se
este for mesmo o caso) a nominais nus, isto , nomes desprovidos de
determinantes, em posio de sujeito de sentenas episdicas do
portugus brasileiro (PB). Realizamos, para tanto, trs experimentos
psicolingusticos com o intuito de testar nossas hipteses, quais sejam: a)
se nominais nus sujeitos de sentenas episdicas so gramaticais no PB,
embora possam ser contextualmente marcados; b) se a prosdia para
tpico contribui para a felicidade de sentenas com nominais nus sujeitos
de sentenas episdicas. Os resultados apontaram para a confirmao de
que os nominais nus so gramaticais na posio de sujeito de sentenas
episdicas do PB, mas no deram subsdios para sustentarmos que a
prosdia contribui para restituir a felicidade de sentenas contextualmente
infelizes. Sentenas episdicas com nominais nus sujeitos parecem ser
gramaticais e no necessitarem de suporte prosdico, contrariando as
expectativas de todos os tericos da rea.
Palavras-chave: nominais nus sujeitos, sentenas episdicas, prosdia,
semntica e psicolingustica.
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Nominais nus, tpico e foco: testando a aceitabilidade em sentenas episdicas
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Amostra da tela do experimento 1................................................................................................
48
Figura 2: Forma de onda, curva de F0 manipulada e descrio tonal da sentena-controle declarativa gramatical: Pedro
beijou
Manuela.................................................................................... 52
Figura 3: Forma de onda, curva de F0 e descrio tonal da sentena-alvo declarativa: Batata rolou do
saco........................................................................................... 53
Figura 4: Forma de onda, curva de F0 e descrio tonal da sentena-alvo declarativa: Gato subiu no
telhado........................................................................... 54
Figura 5: Forma de onda, curva de F0 e descrio tonal da sentena-alvo: BATATAT rolou do saco, em que o nominal
nu batata est na posio de tpico sentencial e sobre ele
incide o foco prosdico da
sentena........................................................................... 55
Figura 6: Forma de onda, curva de F0 com espectrograma e descrio tonal da sentena-alvo: GATOT subiu no telhado,
em que o nominal nu gato est na posio de tpico
sentencial e sobre ele incide o foco prosdico da sentena...... 56
Figura 7: Forma de onda, curva de F0 e descrio tonal da sentena-alvo: GARRAFAT rolou da mesa, em que o nominal
nu garrafa est na posio de tpico sentencial e sobre ele
incide o foco prosdico da sentena......................................... 56
Figura 8: Forma de onda, curva de F0 e descrio tonal da sentena-alvo: GELEIAT pingou na roupa, em que o nominal
nu geleia est na posio de tpico sentencial e sobre ele
incide o foco prosdico da sentena......................................... 57
Figura 9: Instrues para realizao do experimento........................ 58
Figura 10: Amostra da tela de execuo do experimento 3. Os quadrados em amarelo eram onde o informante precisava
clicar para registrar seu julgamento.......................................... 62
Figura 11: Instruo para realizao do Experimento 3................... 64
Figura 12: Exemplo da tabela de dados emitida pelo software Praat......................................................................................... 65
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1: resultado dos julgamentos dos informantes do
experimento 1; sentenas-alvo com proeminncia prosdica
[+ animadas].............................................................................. 66
Tabela 2: resultado dos julgamentos dos informantes do
experimento 1; sentenas-alvo com proeminncia prosdica [-
animadas]................................................................................... 66
Tabela 3: resultado dos julgamentos dos informantes do
experimento 1; sentenas-alvo sem proeminncia prosdica
[+ animadas].............................................................................. 67
Tabela 4: resultado dos julgamentos dos informantes do
experimento 1; sentenas-alvo sem proeminncia prosdica [-
animadas]................................................................................... 67
Tabela 5: resultado dos julgamentos dos informantes do
experimento 1; sentenas distratoras com e sem proeminncia
prosdica.................................................................................... 66
Tabela 6: resultado dos julgamentos dos informantes do
experimento 2; sentenas-alvo com proeminncia prosdica
[+ animadas].............................................................................. 72
Tabela 7: resultado dos julgamentos dos informantes do
experimento 2; sentenas-alvo com proeminncia prosdica [-
animadas]................................................................................... 72
Tabela 8: resultado dos julgamentos dos informantes do
experimento 2; sentenas-alvo sem proeminncia prosdica
[+ animadas].............................................................................. 72
Tabela 9: resultado dos julgamentos dos informantes do
experimento 2; sentenas-alvo sem proeminncia prosdica
[- animadas]............................................................................... 73
Tabela 10: resultado dos julgamentos dos informantes do
experimento 2; sentenas distratoras com ou sem
proeminncia prosdica............................................................. 73
Tabela 11: Legenda dos valores atribudos pelos informantes ao
Experimento 3............................................................................ 76
Tabela 12: Valores atribudos pelos informantes no Experimento 3.
Foco nos estmulos.................................................................... 77
Tabela 13: Valores atribudos pelos informantes no Experimento 3.
Foco nos informantes................................................................. 79
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SUMRIO
Resumo 13
Lista de Figuras 15
Lista de Tabelas 17
Sumrio 19
Introduo 21
1. Teorias em Discusso 31 1.1 O nominal nu um indefinido 31 1.2 O nominal nu denota a espcie 34
2. O Papel da Estrutura Informacional 39 2.1 A estrutura informacional 39
2.2 O foco 39
2.3 O tpico 40
2.3.1 Tpico discursivo (D-topic), tpico sentencial (S-topic) e
valor focal 42
2.4 O papel da estrutura informacional na felicidade das sentenas
episdicas em que nominal nu se encontra na posio de
sujeito 43
3. Metodologia dos Experimentos 47 3.1 Metodologia do Experimento 1 48
3.2 Metodologia do Experimento 2 59
3.3 Metodologia do Experimento 3 61
4. Resultados e Anlises 65 4.1 Resultado do Experimento 1 66
4.2 Resultado do Experimento 2 71
4.3 Resultado do Experimento 3 75
5. Consideraes Finais 95 Referncias Bibliogrficas 97
Anexos 103
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0. INTRODUO
Um grupo de amigos est conversando sobre a festa que ocorreu na
noite anterior e, ao comentar sobre um episdio especfico, um dos
rapazes profere, em tom de exclamao:
(1) MULHER discutiu futebol na festa ontem!
Esse proferimento, nessa situao, mostra uma avaliao do falante
sobre um episdio que ele vivenciou. Ele veicula sua surpresa pelo fato
de que mulher discutiu futebol, expressando que se trata de algo
incomum. Mas note que, do ponto de vista lingustico, temos uma
estrutura em que o nominal nu mulher est numa posio de
proeminncia prosdica, isto , marcado prosodicamente com acento de
foco ou tpico1. Seria possvel utilizar essa sentena de modo feliz sem
essa proeminncia, ou seja, com uma prosdia de declarao,
respondendo a pergunta: o que aconteceu ontem na festa?
(2) Mulher discutiu futebol.
A literatura prediz que a sentena em (2) marcada2
gramaticalmente se no houver auxlio prosdico, ou seja, a sentena
parece no ser estruturalmente bem construda, se a explicao for
sinttica, ou apresentar algum tipo de inconsistncia semntica. Assim,
utilizando-se de uma entoao de declarativa padro, a sentena deveria
ser contextualmente infeliz. esse de fato o caso?
Ambas as sentenas so episdicas, isto , denotam um
acontecimento especfico, um episdio em particular. Tambm
apresentam um nominal sem nenhum determinante aparente realizado
fonologicamente. A diferena que h entre uma e outra grosso modo o tipo de estrutura informacional que subjaz aos proferimentos. Enquanto,
1 Para os nossos propsitos, como veremos mais adiante, indiferente se o
nominal nu est marcado por acento de tpico ou foco. Por mais que as
estruturas informacionais de tpico e foco se distingam, interessa-nos, por
hora, apenas a proeminncia prosdica. Neste exemplo, contudo,
consideremos que o acento prosdico que marca o nominal nu mulher o
foco. As situaes criadas pretendem salientar essa interpretao de
informao nova. 2 Por marcada, entendemos as sentenas que soam como estranha ou pouco
naturais, nos termos de Ilari (1986).
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Nominais nus, tpico e foco: testando a aceitabilidade em sentenas episdicas
na primeira situao, temos um proferimento veiculado como foco
informacional, isto , como informao nova; no segundo, a possibilidade
de ocorrncia de uma sentena com informao totalmente nova sem uma
ancoragem contextual, ou seja, sem uma contextualizao prvia, no ,
por hiptese, feliz em PB. Aparentemente, segundo as teorias sobre o
nominal nu, no se pode chegar numa conversa e proferir:
(3) # Cachorro latiu no canil. 3
porque no h a introduo prvia dos acontecimentos que se sucedem:
no sabemos quem o referente e se ele executou a ao predicada no
verbo. Se algum falante quisesse introduzir esta informao numa
conversa, possivelmente acrescentaria algum determinante no incio da
sentena, ou modificaria a morfologia (e por conseguinte a concordncia)
do nominal cachorro para o plural ou ainda realizaria ambas as
mudanas mencionadas acima, como nos sugere o exemplo (4), abaixo:
(4) Alguns cachorros latiram no canil.
Nessa sentena, ao utilizar o artigo indefinido alguns, o falante
estabelece uma relao entre conjuntos, o conjunto dos cachorros e o
conjunto das coisas que latem. J em (3), o sintagma nominal nu
cachorro denota um nico conjunto: o dos indivduos que latiram.
Temos a leve impresso de que as sentenas (3) e (4) parecem dizer a
mesma coisa, mas no queremos transmitir aqui a falsa ideia de que
consideramos a sentena (4) sinnima de (3), uma vez que h inmeras
diferenas semnticas imbricadas ai, a comear pela morfologia de
singular utilizada na sentena (3) e a de plural na sentena (4); alm
disso, ainda h a introduo em (4) de um quantificador, enquanto em (3)
temos um nominal nu cachorro, que em nossa compreenso no pode
ser substitudo sem alterao da informao semntica por um sintagma
quantificado.
Utilizamos esta pequena anedota apenas para ilustrar um pouco da
pesquisa que desenvolveremos neste trabalho, que, entre outras coisas,
tem a ver com a estrutura informacional e com a interpretao de uma
determinada estrutura do portugus brasileiro (de agora em diante PB), os
nominais nus, em geral, e o singular nu em particular. Comecemos, ento,
por definir o objeto de pesquisa!
3 Utilizaremos o smbolo (#), para marcar sentenas contextualmente infelizes e
marcaremos as sentenas agramaticais com o smbolo (*). Quando no tivermos
certeza sobre qual juzo atribuir sentena, colocaremos em seu incio o smbolo
?.
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Dissertao de Mestrado
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J diria Saussure (1916) que o ponto de vista faz o objeto, assim,
a delimitao do objeto de pesquisa no uma tarefa simples de se
realizar. No tanto pelo objeto propriamente dito, mas muito mais pela
filiao a uma determinada epistemologia (o ponto de vista) que
pressupe o conhecimento das pesquisas que subjazem quela base
terica, bem como o conhecimento da tcnica empregada na aquisio
desse conhecimento. H, no ponto de vista, uma histria da compreenso
daquele objeto.
Nosso trabalho, nesse sentido, se arrisca um pouco mais, na
medida em que ele se insere numa perspectiva de interfaces: semntica-
prosdia-psicolingustica. Nos termos de Seara e Figueiredo-Silva (2007),
O estudo de interfaces nunca matria trivial. A
questo no simplesmente a de compatibilizar
dois vocabulrios advindos de fontes de
conhecimento distintas, [que] por si s j um
problema espinhoso; a questo , sobretudo, a de
colocar dois campos do conhecimento em uma
relao articulada de tal modo que certas
concluses sobre uma das interfaces possam servir
de argumento para sustentar hipteses a respeito de
fenmenos vrios na outra interface, o que implica
fazer algumas hipteses e tomar decises sobre a
estrutura da gramtica. (SEARA E FIGUEIREDO-
SILVA, 2007: 155)
Nesse sentido, a proposta que aqui fazemos de relacionar trs
campos do conhecimento distintos para buscar compreender um
determinado fenmeno do PB requer muita articulao. Em particular
porque estaremos testando uma hiptese semntico-pragmtica, na
medida em que envolve o significado do nominal nu e uma estrutura
informacional, utilizando experimentos psicolingusticos. A hiptese, que
aparece pela primeira vez em Schmitt & Munn (1999), que a curva
entoacional pode contribuir para a felicidade do fenmeno analisado. Isto
, parece que do ponto de vista sinttico-semntico as ocorrncias como
as de (1) so bem formadas (Cf. MARIANO, 2011), mas a sentena
requer um tipo de contexto em particular; a prosdia um recurso para
explicitar uma certa estrutura dada pelo contexto. Neste trabalho, vamos
verificar se esse de fato o caso. Para tanto, lanamos mo de alguns
experimentos psicolingusticos. Estamos, ento, no domnio da
Psicolingustica (experimental), porque utilizamos experimentos
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Nominais nus, tpico e foco: testando a aceitabilidade em sentenas episdicas
psicolingusticos para a avaliao e comparao de proferimentos com o
intuito de verificar se de fato a prosdia contribui para a felicidade do
nominal nu na posio de sujeito de sentenas episdicas. Veremos,
adiante, que, em outros contextos, ele ocorre sem necessidade de suporte
prosdico.
Assim, delimitar o objeto de pesquisa aqui implica entender
minimamente como funciona cada rea em especfico, a fim de no
corrermos o risco de sermos reducionistas ou tratarmos daquilo que no
sabemos.
Na literatura especfica da Semntica, h, pelo menos, trs grandes
propostas tericas para a descrio do nominal nu: Schmitt & Munn
(1999), entre outros, Mller (2002) e Pires de Oliveira & Rothstein (2011;
2012). Nossa inteno avaliar essas propostas. Vejamos mais
especificamente que fenmeno esse.
Diferentemente das outras lnguas romnicas, no PB temos um
chamado singular nu produtivo. Ele ocorre na posio de sujeito de
sentenas genricas, na posio de objeto de sentenas genricas ou
episdicas, sem apresentar qualquer restrio quanto ao aspecto
prosdico. Eis alguns exemplos:
(5) Criana chora muito.
(6) Joo odeia advogado.
(7) Carlos comprou livro ontem tarde.
Na literatura h uma controvrsia a respeito da aceitabilidade do
singular nu quando combinado com predicado de espcie. Mller (2002,
2004, entre outros) entende que a sentena em (8) agramatical, enquanto
os demais autores aceitam:
(8) Baleia est em extino.
Nesta dissertao, no iremos nos preocupar com esse tipo de
dado. Nosso objeto de estudos tambm controverso na literatura. Vamos
analisar sentenas com o singular nu em posio de sujeito de sentenas
episdicas. Observe as sentenas:
(9) A batata rolou do saco.
(10) Uma batata rolou do saco.
(11) Batatas rolaram do saco.
(12) # Batata rolou do saco.
(13) S batata rolou do saco.
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Dissertao de Mestrado
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(14) Ontem, na feira batata rolou do saco, ma caiu do cesto...
(15) BATATAT rolou do saco (e no outra coisa).4
Na sentena (9), temos um DP5 definido a batata conjugado a um
predicado episdico rolou do saco; em (10), temos um DP indefinido
uma batata conjugado com o mesmo predicado; j em (11), (12), (13),
(14) e (15), h uma controvrsia terica questionando se o que temos em
itlico so realmente DPs com o determinante no pronunciado ou, na
verdade, NPs6 (Cf. Mller, 2004). H tambm uma questo sobre a
aceitabilidade ou agramaticalidade de proferimentos como (12). Mller
entende que (12) agramatical, enquanto Schmitt & Munn (1999)
entendem que h necessidade de proeminncia prosdica (contexto de
lista) e Pires de Oliveira & Rothstein (2012) afirmam que a sentena
exige um contexto particular por causa do tipo de indivduo que o
sintagma nu denota, a espcie.7 Um dos objetivos do nosso trabalho , por
meio dos experimentos psicolingusticos, verificar se a proposta de
Mller (2002) se confirma ou no, isto , se de fato sentenas do tipo (12)
so agramaticais no PB.
Segundo Pires de Oliveira e Peruchi-Mezari (2012)8, os nominais
destacados em (11), (12), (13), (14) e (15), alm dos nominais mulher e
cachorro, das sentenas de (1), (2), (3) so nus, porque
no tm um determinante aparente, foneticamente
realizado, quer definido, como a ou as (...),
quer indefinido, como uma (...) isto , o nome
no vem acompanhado de artigo, por isso o
sintagma chamado nu.
Em (11), no entanto, temos o que a literatura chama de plural nu, porque o nominal batatas possui marca morfolgica de plural s
9; j em
4 Os nominais que estiverem em caixa alta contm acento prosdico de tpico ou
de foco. 5 Um DP (abreviatura do ingls: Deterniner Phrase) um sintagma encabeado
por um determinante, como o menino, a menina, todo menino, qualquer
menina, algum menino, um menino etc. 6 Um NP (abreviatura do ingls: Nominal Phrase) um sintagma encabeado por
um nome. 7 Discutiremos essa questo mais adiante. 8 Os exemplos dados pelas autoras so outros, mas os que fornecemos aqui se
encaixam perfeitamente na descrio por elas produzida.
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Nominais nus, tpico e foco: testando a aceitabilidade em sentenas episdicas
(12), (13), (14) e (15), os nominais destacados so costumeira e
equivocadamente denominados singulares nus. Dizemos
equivocadamente porque, conforme j notaram vrios pesquisadores,
como Munn e Schmitt (2005), entre outros, estes nominais seriam, na
verdade, nomes contveis neutros para nmero, uma vez que poderiam
ser retomados tanto pelo pronome singular ela como pelo pronome
plural elas, como podemos notar nos exemplos abaixo, retirados de
Schmit e Munn (1999: no paginado):
(16) Coelhoi sempre rouba cenouras da Maria, por isso ela detesta eles i de corao.
(17) Coelhoi sempre rouba cenouras da Maria, por isso agora ?elei faz parte da sua lista de inimigos.
Assim, cham-los de singular nu sem perceber que eles poderiam ser retomados anaforicamente tanto por um pronome plural, quanto por
um pronome singular, pode configurar um equvoco terminolgico.10
Retomando os exemplos de (9) a (15), precisamos atentar para
algumas questes, como as que se seguem: a) as estruturas de (9) a (11)
ocorrem livremente em PB, isto , a combinao de um DP ou a
combinao de um plural nu com um predicado episdico no sofre
restrio nessa lngua? b) estruturas do tipo (12) so marcadas em PB,
isto , quando o nominal nu11
est na posio de sujeito de um predicado
episdico, aparentemente, a estrutura apresenta certas restries de uso?
c) em contextos nos quais o nominal prosodicamente proeminente (seja
marcado por curva de foco ou tpico) ou quando ele se encontra sob o
escopo de um item focalizador ou ainda, quando se insere num contexto
de lista, como notaram Schmitt & Munn (1999), a combinao de um
nominal nu sujeito de um predicado episdico se torna feliz no PB, como
podemos observar nas sentenas de (13) a (15)?
O objetivo da presente pesquisa, assim, entender se h
efetivamente uma restrio no exemplo (12) e por que h essa restrio,
isso , por que, aparentemente, a combinao de um nominal nu sujeito
com um predicado episdico gera uma estrutura marcada no PB. Somado
9 Strictu sensu a prpria marca de plural j seria suficiente para no considerar o
nominal como nu (Cf. Pires de Oliveira & Peruchi-Mezari, 2012). 10
Necessrio frisar que, para Pires de Oliveira e Rothstein (2011), as quais
embasam muitos aspectos da nossa pesquisa, os nominais nus no so neutros
para nmero, mas nomes que denotam sempre a espcie. 11
De agora em diante, toda vez que utilizarmos o termo nominal nu, estamos nos
referindo ao que fora conhecido como singular nu.
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Dissertao de Mestrado
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e subjacente a isso, procuramos confirmar se a intuio de Mller (2002;
2004) de que sentenas como (12) so agramaticais em PB se confirma,
uma vez que, sendo a estrutura agramatical, os falantes iriam julgar a
sentena como no-natural, o que aparentemente no o caso, como
veremos mais adiante.
Alm disso, nos propomos a investigar se a prosdia contribui para
a felicidade de sentenas do tipo (12). A nossa premissa terica se baseia
nos estudos de Mariano (2011) e Pires de Oliveira e Mariano (2011), para
os quais a prosdia contribui para uma maior aceitabilidade da sentena,
embora essa ideia j esteja presente tanto em Schmitt & Munn (1999)
quando os autores propem que o singular nu sujeito de sentenas
episdicas licenciado em contexto de foco como tambm, de certa
forma, em Mller (2004) quando a autora prope que o singular nu s
gramatical quando est numa posio de tpico, isto , numa posio no-
argumental. Mas, para Mller, isso ocorre porque o nominal nu s pode
ter leitura genrica. Como as sentenas de (12) a (15) no tem leitura
genrica, essas sentenas so agramaticais para a autora. Como veremos
adiante, Mller entende que essa posio de tpico para a qual o nominal
nu deve necessariamente se mover, s permite o fechamento pelo
operador genrico.
Para Mariano (2011) e Pires de Oliveira e Mariano (2011), a
combinao de um nominal nu com um predicado episdico no boa
porque, enquanto o nominal nu denota a espcie, o predicado episdico
denota um acontecimento especfico ocorrido com uma instanciao da
espcie ou com um espcime. Essa intuio aparece formalizada em Pires
de Oliveira & Rothstein (2012). Assim, para Mariano (2011) e Pires de
Oliveira e Mariano (2011), a prosdia contribui para uma maior
aceitabilidade da sentena medida que gera a informao de que h,
disponveis e salientes no contexto, instanciaes da espcie aptas a
realizarem ou a terem realizado o evento de que o predicado episdico
trata. H uma pressuposio de testemunhas do evento. Se isso for
verdade, esperaramos que sentenas como (15) fossem mais bem aceitas
que sentenas como (12) e justamente isso o que iremos testar
empiricamente.
No podemos descartar, contudo, a hiptese da prosdia implcita
de Fodor (1998; 2005). Para a autora, os informantes tm uma prosdia
internalizada, uma espcie de voz interior que reorganiza o input no intuito de obter o acesso informao contida na sentena. A prosdia
implcita, nesse sentido, provavelmente influenciaria num experimento
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Nominais nus, tpico e foco: testando a aceitabilidade em sentenas episdicas
psicolingustico, sobretudo em se tratando de testes de leitura. No nosso
caso no elaboramos nenhum teste de leitura, mas imperativo registrar o
fato de que os informantes possuem esse conhecimento prosdico
internalizado e que ele pode ser evocado com o fim de salvaguardar a
compreenso de determinados proferimentos, mesmo que fisicamente no
haja marcao prosdica.
Testaremos tambm se o tipo de indivduo relevante no que se
refere restrio que acontece em (12), isto , se o fato de o nominal nu
ser [ animado] interfere na restrio ou na felicidade da sentena. No
comeo da pesquisa no havamos atentado para o tipo de indivduo que
se combina com os predicados episdicos, mas essa investigao por tipo
de indivduo foi necessria porque o primeiro experimento ensejou essa
dvida, qual seja, a de que os informantes estariam julgando melhor as
sentenas cujo nominal nu apresentasse o trao [+ animado], em
detrimento das sentenas cujo nominal nu apresentasse o trao [-
animado]. Assim, reaplicamos o experimento 1 com o intuito de entender
se o tipo de indivduo pode favorecer ou no a felicidade da sentena.
A justificativa para o presente estudo que, embora algumas
teorias j tenham sido postuladas no tocante combinao de nominal nu sujeito + predicado episdico, nenhum autor, at onde sabemos, se
utilizou de uma metodologia experimental para ratificar suas teorias
empiricamente. No estamos aqui querendo negar a importncia da
intuio dos tericos, muito pelo contrrio: nossa pesquisa se prope a
contribuir para a literatura especfica no sentido de fornecer indicaes
para um estudo futuro mais acurado dos nominais nus, um estudo que
pondere a intuio do terico e a participao dos falantes por meio de
julgamento de sentenas ou outros tipos de testes experimentais.
Foi pensando justamente nessa interao entre intuio e
julgamento que realizamos trs experimentos psicolingusticos: dois de
julgamento de naturalidade de sentenas e um de comparao entre duas
estruturas, que no deixou, contudo, de inquirir dos informantes o
julgamento de naturalidade. Participaram, ao todo, da pesquisa 56
informantes, todos com nvel superior (concludo ou em curso).
A interface entre semntica e psicolingustica, como bem notou
Basso (2007), para muitos linguistas pode parecer inesperada. Para ns,
contudo, baseados na proposta de Basso (2007: p. 226), nos interessamos
justamente pelo desafio que a psicolingustica pode impor
composicionalidade, princpio basilar de uma teoria sobre a semntica
das lnguas naturais. Assim, observar como os informantes julgam as
sentenas-alvo pode nos fornecer pistas de como eles esto compondo
-
Dissertao de Mestrado
29
uma sentena, isto , como os informantes unem as partes que compem
o todo (um pensamento, uma proposio).
Sabemos tambm da dificuldade em realizar experimentos
psicolingusticos, justamente em virtude das crticas e, sobretudo das
desconfianas que a rea recebe no que concerne artificialidade a que
a lngua submetida. No raro encontrarmos linguistas nos mais
diferentes espaos bradando que nos dados e nos experimentos, tudo se
encontra. Nesse sentido, adicionaremos um ponto de interrogao a uma
afirmao de Basso (2007, p. 226), mas que no fundo tambm um
questionamento do prprio autor: o processamento de sentenas em uma
situao experimental to diferente do processamento em uma situao
rotineira que no [seja] possvel avaliar um pelo outro? A resposta
dada pelo autor, por ns adotada, a citao de um trabalho de Cunha
Lima (2005):
Primeiro, [o mtodo experimental] demanda alto
grau de detalhamento e hipteses muito bem
explicitadas: formular experimentos funciona como
um exerccio de reflexo sobre a teoria e de
grande ajuda para encontrar falhas e incoerncias
em nossas hipteses. Segundo, fazer experimentos
permite incorporar aspectos, como ateno,
memria, capacidade de processamento, aos
modelos de processamento lingstico, isto ,
permite dar um significado mais concreto na
tentativa de entender a cognio como algo
corporificado. (CUNHA LIMA, 2005: p. 214 apud
BASSO, 2007: p. 226)
Assim, propomo-nos a utilizar os mtodos experimentais da
psicolingustica, buscando acessar o julgamento de falantes nativos do
PB, como uma forma de entender o fenmeno por ns estudado, qual
seja, a restrio contextual de nominais nus na posio de sujeito de
sentenas episdicas.
No primeiro captulo deste trabalho, iremos discutir as teorias de
Schmitt & Munn (1999), Mller (2002; 2004) e Pires de Oliveira e
Rothstein (2011; 2012) e tambm de Pires de Oliveira e Mariano (2011).
No captulo seguinte, abordaremos a questo da estrutura
informacional: o que tpico e foco e como essas estruturas contribuem
para a naturalizao de sentenas construdas com o nominal nu na
posio pr-verbal. Abordaremos, tambm, a curva entoacional do acento
-
Nominais nus, tpico e foco: testando a aceitabilidade em sentenas episdicas
de tpico, a fim de contrast-lo com as sentenas por ns construdas para
a elaborao e execuo dos experimentos.
No Captulo 3, descreveremos a metodologia dos experimentos por
ns utilizados para entender se: a) nominais nus sujeitos de sentenas
episdicas em PB so aceitos pelos falantes; b) a prosdia contribui para
a felicidade da sentena; c) nominais nus com o trao [+ animado] tornam
a sentena mais feliz do que quando se combina um nominal nu com o
trao [- animado] a um predicado episdico.
Em seguida, no Captulo 4, descreveremos os resultados obtidos na
aplicao dos trs experimentos, bem como a anlise dos resultados.
J no quinto captulo, trataremos das consideraes finais e dos
rumos que a presente pesquisa poder seguir.
Necessrio frisar, de antemo, que o nosso foco de anlise se
restringe ao nominal nu, entendido como o nome desprovido de
morfologia de plural e tambm de determinantes, conforme sugeriram
Pires de Oliveira & Peruchi-Mezari (2012).
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Dissertao de Mestrado
31
1. TEORIAS EM DISCUSSO
Como j dissemos, h uma grande discusso na literatura sobre se
nominais nus, chamados tradicionalmente de singular nu, so licenciados
ou no na posio de sujeito de sentenas episdicas em PB. Por um lado,
autores como Viotti e Mller (2003), Mller (2002, 2004), dentre outros,
defendem que no h licenciamento de nominais nus em posio pr-
verbal, no pelo menos em posio de sujeito com interpretao
existencial. Para outros autores como Munn e Schmitt (2002, 2005),
Schmitt e Munn (1999), Pires de Oliveira e Mariano (2011), Pires de
Oliveira e Rothstein (2011), Pires de Oliveira (2012) dentre outros,
defendem que nominais nus so licenciados na posio de sujeito de
sentenas episdicas.
Essa discusso est intimamente ligada a uma compreenso de
qual seja a denotao do nominal nu no PB. Autores como Mller (2002;
2004) defendem que o nominal nu um indefinido no sentido de Heim,
isto , eles so predicados do tipo , que introduzem uma varivel
que ser fechada por um operador sentencial, como o caso do genrico
ou do existencial; j autores como Schmitt e Munn (1999), entre outros,
defendem que nominais nus denotam espcie e so argumentos, do tipo e;
h ainda outros autores, como Dobrovie-Sorin (2012), que defendem que
o nominal nu ambguo: na posio de sujeito denota espcie e na
posio de objeto um indefinido. Discutiremos aqui as abordagens sobre
os nominais nus de Mller (2002; 2004), Schmitt & Munn (1999) e Pires
de Oliveira & Rothstein (2011).
Nosso objetivo entender: i) quais so as teorias que propem o
(no) licenciamento de nominais nus na posio pr-verbal de sentenas
episdicas; ii) se a prosdia contribui para a felicidade da sentena e de
que forma ela contribui; iii) os tipos de interpretao propostos pela
literatura para o singular nu quando na posio de sujeito de sentenas
episdicas.
1.1 O nominal nu um indefinido
A hiptese de que o nominal nu um indefinido tem como
principal defensor para o PB o trabalho de Mller (2000, 2002, 2004,
etc.). Para a autora, com base em Heim (1982), o nominal nu um
indefinido no sentido de que ele introduz uma varivel livre que presa
-
Nominais nus, tpico e foco: testando a aceitabilidade em sentenas episdicas
por um operador sentencial; assim, numa sentena como (18), abaixo, o
sintagma nominal menina, que aparentemente est numa posio
argumental, de sujeito do verbo brinca, na verdade apenas um
predicado que introduz uma varivel que est, por sua vez, fechada por
um operador genrico, provavelmente originado do aspecto verbal:
(18) Menina brinca de carrinho.
Assim, a sentena em (18) significa: geralmente, se algo menina,
esse algo brinca de carrinho.
Isso significa que a autora prope que o nominal nu um
predicado do tipo - portanto, um NP e no um DP - e que quando
ele se encontra em aparente posio de sujeito, na verdade, no sujeito,
mas tpico sentencial. Alm disso, para a autora, embasando-se na sua
intuio sobre alguns testes lingusticos (cf. Viotti & Mller, 2003) no
PB, a interpretao genrica se d numa posio acima de IP, ou seja,
numa posio no-argumental ou A-barra e a nica possvel para o
nominal nu. Assim, para ser preso a um operador genrico, o nominal nu
precisaria subir para a posio de tpico (que uma posio no-
argumental) e nessa posio ele s poderia ser fechado pelo operador
genrico. Segundo a autora, com base nos testes lingusticos realizados,
nessa posio que no PB o nominal nu preso pelo operador genrico.
H duas grandes afirmaes aqui na teoria proposta por Mller,
quais sejam: a de que o nominal nu um predicado e no um argumento
(um, NP, portanto, ao invs de um DP) e de que o nominal nu em
aparente posio de sujeito s pode ter interpretao genrica, porque est
numa posio acima de VP, onde ocorre o fechamento existencial. Para
isso, portanto, ele precisa subir posio de tpico da sentena, uma vez
que nessa posio, segundo a autora, que o nominal nu recebe a
interpretao genrica no PB. Assim, a interpretao da sentena (18)
acima seria a sentena (18) abaixo:
(18) Em geral, se x menina, x brinca de carrinho.
O problema da proposta de Mller que ela no se aplicaria a
sentenas como (19), em que teramos um nominal nu em aparente
posio de sujeito conjugado com um predicado episdico, a no ser que
a interpretao fosse genrica; nesse caso (19) deveria significar (19):
(19) * Mulher discutiu futebol. 12
(19) Em geral, se x mulher, x discutiu futebol.
12
Na interpretao de Mller (2004).
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Dissertao de Mestrado
33
O caso que a sentena em (19) no tem necessariamente essa
interpretao. Por isso, para a autora, se a sentena em (19) tiver
interpretao existencial, sinnima de algumas mulheres discutiram
futebol, ela agramatical no PB. A sentena em (20) , para a autora,
gramatical porque se trata de uma sentena genrica, enquanto a sentena
(21) agramatical porque no h como atribuir uma interpretao
genrica para a sentena com o nominal menino.
(20) Judeu est fazendo jejum hoje.
(21) * Menino est com fome. 13
A explicao que, enquanto em (20) o nominal judeu
projetado para uma posio acima de IP, numa posio no-argumental,
portanto, sendo preso pelo operador genrico; em (21) o nominal
menino forado a se mover para essa posio no argumental e
fechado pelo operador genrico, gerando a interpretao de que em
geral, se algo menino, algo est com fome. A sentena , no entanto,
agramatical se o nominal permanecer numa posio argumental e neste
caso ele deveria ser preso por um quantificador existencial, o que no
pode ser o caso, porque para a autora o nominal nu, em posio pr-
verbal, s pode ter interpretao genrica.
A proposta de Mller, nesse sentido, entende que proferimentos
como os exemplificado em (15) no seriam possveis, porque as sentenas
no so gramaticais, uma vez que o nominal nu batata est na posio
de tpico, mas no recebe interpretao genrica, como pode ser atestado
pela sentena: em geral, batata rolou do saco. Assim, para a autora, a
sentena (15) tambm agramatical no PB, justamente por conta da
impossibilidade de se atribuir uma interpretao genrica ao nominal nu,
mesmo que ele esteja numa posio A-barra.
A nossa proposta, nesse sentido, testar empiricamente se a
anlise de Mller se sustenta no PB. Para ns, a noo de gramaticalidade
em si j problemtica, porque estritamente sinttica. Como j notou
Mariano (2011), parece que, do ponto de vista sinttico, no h nada que
impea a combinao de um nominal nu com um predicado episdico.
Nesse sentido, seguindo a direo proposta por Pires de Oliveira e
Rothstein (2011), preferimos falar em condies de felicidade da
sentena, isto , a sentena carrega pressuposies sobre o contexto.
Assim, discordamos da teoria de Mller, para quem sentenas do tipo
13
Tambm na interpretao de Mller (2004).
-
Nominais nus, tpico e foco: testando a aceitabilidade em sentenas episdicas
(15) so agramaticais, isto , no so sintaticamente bem formadas, e
propomos, ao invs disso, que a sintaxe gera sentenas como (15), s que
fora de um contexto especfico, sentenas do tipo (15) so
contextualmente infelizes, porque h um descompasso entre a denotao
do predicado e a denotao do nominal nu, como veremos mais a frente.
Quando atribumos um contexto em especfico, as condies de felicidade
da sentena so reestabelecidas e essa uma das funes da prosdia. A
ttulo de ilustrao, tomemos o exemplo (15), retomado aqui como (22):
(22) # BATATAT rolou do saco. 14
Contexto (1): Seu Manoel e dona Bilica foram ao supermercado
fazer compras. Em casa, durante a arrumao das compras do
supermercado, o casal ouve um barulho e dona Bilica pergunta:
(a) O que aconteceu?
Ao que o marido responde:
(b) Eita! BATATAT rolou do saco.
A sentena (22) proferida fora de contexto parece, de fato, ser
contextualmente infeliz, ao passo que se a dispusermos num contexto,
como em (1), a aceitabilidade do proferimento melhora.
nesse sentido que propomos um experimento psicolingustico de
julgamento de aceitabilidade, por entendermos que h uma disputa terica
e que a interface com a psicolingustica pode nos fornecer pistas sobre a
melhor direo a ser tomada na concorrncia entre duas propostas.
1.2 O nominal nu denota a espcie
Para esta discusso, temos duas propostas que tambm se mostram
distintas, quais sejam, a proposta de Schmitt & Munn (1999), Munn &
Schmitt (2004), dentre outros, para quem o nominal nu denota a espcie,
mas possui restries na posio pr-verbal, e a de Pires de Oliveira &
Rothstein (2011), Pires de Oliveira (2012), dentre outros, para quem o
nominal nu denota sempre espcie e o que ocorre em (15) ou em (22)
uma restrio dada pela combinao de um nome de espcie com um
predicado episdico de instanciao da espcie e que se manifesta nas
condies de felicidade da sentena.
14
Necessrio frisar que esta sentena foi fabricada para o nosso experimento.
Nesse sentido, por estar em uma situao artificial, no se configura como uma
boa sentena.
-
Dissertao de Mestrado
35
O teste para definirmos se um dado nominal um nome de espcie
verificar a possibilidade de combin-lo com um predicado de espcie,
ou seja, predicados que denotam um acontecimento da espcie, como nos
exemplos abaixo:
(23) Banana abundante nesta regio do pas.
(24) Dinossauro foi extinto/est extinto.
(25) Macaco est em (risco de) extino.
(26) Batata rara nessa regio.
Os predicados em itlico so exemplos de predicados exclusivos
que se aplicam espcie. Assim, os nominais nus que se conjugarem com
aqueles predicados podem ser considerados nomes de espcie, nos termos
de Krifka et al (1995). bom salientar que Mller entende que todas as
sentenas acima so agramaticais no portugus brasileiro. Esse , na
verdade, seu argumento para descartar a hiptese de que o singular nu
denota a espcie. No esse, no entanto, o entendimento de Schmitt &
Munn (1999) dentre outros, para quem as sentenas acima so
gramaticais.
Segundo a proposta de Schmitt & Munn (1999), o nominal nu pode
ocorrer tanto na posio de sujeito quanto na posio de objeto, com
leitura genrica, mas aparentemente ele um tanto restrito na posio de
sujeito de sentenas episdicas fortes (strongly episodic sentences), que
so sentenas episdicas e que tm uma interpretao existencial. A
restrio s sentenas episdicas fortes desaparece se o nominal nu for
veiculado com foco prosdico ou sob o escopo de um item focalizador ou
ainda em contextos de lista, que tambm pressupe um contexto de foco
prosdico.
Assim, uma sentena como (19), , para esses autores, uma
estrutura marcada em PB, ao passo que sentenas como (27), (28), (29) e
(30) so estruturas no marcadas, de acordo com a proposta dos
pesquisadores, mas por motivos diferentes. A sentena em (27) no
fortemente episdica, porque indica o incio de produo de uma espcie
de relgio, o relgio digital.
(19) * Mulher discutiu futebol.
(27) Na dcada de 70, relgio digital passou a ser fabricado em Manaus.
(28) MULHERF discutiu as eleies.
-
Nominais nus, tpico e foco: testando a aceitabilidade em sentenas episdicas
(29) S mulher discutiu as eleies.
(30) Mulher discutiu as eleies, homem discutiu futebol...
J as sentenas de (28) a (30) so exemplos de sentenas cuja
restituio da felicidade dada via foco prosdico ou quando o nominal
nu se encontra sobre o escopo de um item focalizador (cf. sentena (29)
com o item focalizador s) ou ainda quando em contexto de lista, em
que, de alguma maneira, se evoca um contexto de foco contrastivo, como
em (30).
Schmitt e Munn entendem que o singular nu denota um predicado
neutro para nmero, portanto, do tipo 15
. Para que o nominal nu
possa ocupar uma posio argumental, os autores propem que o singular
nu precisa sofrer uma operao de type-shifting, isto , uma operao de
mudana de tipo semntico. A operao que gera um nominal nu, para Shmitt e Munn, a operao Down, que seleciona um predicado e
devolve um indivduo.
O problema da proposta de Schmitt e Munn que ela no explica o
porqu de sentenas como (8) serem infelizes em PB, e tampouco explica
qual a regra que subjaz s estruturas focalizadas que faz com que as
sentenas com nominais nus sejam mais felizes quando focalizados.
Alm disso, como bem notou Pires de Oliveira (2012), existem
sentenas no PB que apresentam nominais nus na posio de sujeito de
sentenas episdicas e que so felizes sem aparentemente estarem em
contexto de proeminncia prosdica, como no exemplo (27), acima de no
(31), abaixo:
(31) Ontem, rato comeu a comida do cachorro.
Sentenas como (31) segundo Schmitt e Munn (1999), podem
ocorrer com certa liberdade na fala coloquial dos brasileiros.
A teoria dos autores, no entanto, nos deu subsdios para questionar
o papel da estrutura informacional favorecendo ou no as condies de
felicidades da sentena. Na verdade, esta proposta est presente, como j
afirmamos, nos trabalhos de Pires de Oliveira e Mariano (2011) e
Mariano (2011), discutidos a seguir.
15
Predicados do tipo , so predicados que selecionam um indivduo - um e, portanto - e devolvem um valor de verdade t. So insaturados, isso , precisam de
um indivduo para se tornarem saturados. Um exemplo de predicado do tipo a expresso _____ inteligente, em que o predicado ser inteligente
requer um indivduo do tipo e para ser saturado.
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Dissertao de Mestrado
37
Para Pires de Oliveira e Rothstein (2011), o singular nu16
denota
sempre a espcie. Para elas, um nome raiz, isto , um nome em sua forma
original, um predicado do tipo , no podendo, portanto, ocupar
uma posio argumental, como j notaram Schmitt e Munn. Para que eles
possam ocupar uma posio argumental, ou seja, para que eles se tornem
um argumento do tipo e, precisam tambm sofrer uma operao semntica de type-shifting. A predio a mesma da de Schmitt e Munn:
a operao que gera um nominal nu aquela na qual o operador Down
seleciona um predicado e devolve um indivduo.17
Para Pires de Oliveira
e Rothstein, no entanto, essa operao nos d como denotao, para todo
mundo possvel, o indivduo que a soma mxima de uma situao
maximal e nesse sentido, ento, que o nominal nu denota o gnero,
substncia ou espcie, sempre.
Os nominais nus, assim, podem ento ocupar as posies
argumentais, mesmo a de objeto, como bem notado por Pires de Oliveira
(2012):
(32) Joo comeu ma.
Para as autoras, contrariando toda a tradio para a descrio de
nominais nus e no apenas no portugus, a sentena (32) denota uma
interao entre o indivduo Joo e a espcie ma. Isso no significa,
necessariamente, que Joo realizou uma interao de comer com a
espcie como um todo, mas com uma instanciao saliente num
determinado contexto, isto , basta para que a sentena seja verdadeira
que tenhamos um evento suficiente e relevante da ao de comer ma
pelo agente Joo que conte como um testemunho. Nesse sentido, at
mesmo uma plula de ma pode contar como testemunho de um evento
no qual Joo est numa interao de comer com a espcie ma.
A proposta de Pires de Oliveira & Rothstein (2011) suficiente
para explicar o que acontece em (18) e tambm para explicar a
infelicidade de sentenas como (19). Segundo a proposta das autoras, em
(19) temos a combinao de um nominal nu, mulher, que sempre denota
espcie, com um predicado de estgio que se aplica normalmente a
instanciaes de uma espcie, no sentido de Carlson (1977), isto , um
predicado que trata de estgios de indivduo, discutiu futebol, por isso a
combinao estranha. A assero de (19) sobre um evento envolvendo
16
As autoras ainda mantm o termo singular nu. 17
Cf. Chierchia (1988).
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Nominais nus, tpico e foco: testando a aceitabilidade em sentenas episdicas
uma discusso total ou parcial sobre futebol e a espcie mulher. , no
entanto, pragmaticamente estranho conjugar um evento de discusso, que
geralmente ocorre com um indivduo espcime, a uma espcie, da a
infelicidade da sentena. Quando isso ocorre, preciso transformar o
predicado episdico em um predicado que se aplique espcie.
Para Pires de Oliveira (2012), os nominais nus so sempre
licenciados; nesse sentido, a sentena verdadeira se houver pelo menos
um evento que conte como testemunha da participao de mulher na
discusso sobre o futebol. Pode ser uma nica mulher, desde que sua
participao seja representativa para a espcie. Isso explica por que a
sentena (32) contextualmente feliz no PB e tambm a sentena (22),
inserida no Contexto (1), porque o tpico retoma uma informao j dada
pelo contexto, a de que h instanciaes de batatas (que so compras de
supermercado), aptas a realizarem a ao predicada pelo verbo rolar.
Adotamos a proposta de Pires de Oliveira & Rothstein (2011) e
tambm de Pires de Oliveira (2012) para explicar o que acontece com os
nominais nus em posio pr-verbal; resta-nos, contudo, explicar o papel
da estrutura informacional na felicidade das sentenas. Para isso, iremos
recorrer s propostas de Pires de Oliveira & Mariano (2011) e Mariano
(2011), que tambm se embasam nas teorias das autoras acima
mencionadas.
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Dissertao de Mestrado
39
2 O PAPEL DA ESTRUTURA INFORMACIONAL
Como j notado por Schmitt e Munn (1999, 2002), Munn e
Schmitt (2001, 2005), a estrutura informacional pode incidir sobre o
nominal nu e alterar as condies de felicidades da sentena. Havamos
tambm mencionado que, para os nossos propsitos, no h relevncia
em ser tpico ou ser foco, desde que houvesse uma manifestao
prosdica da estrutura informacional. Isso, no entanto, no to simples
como parece.
Neste captulo, iremos discutir mais detidamente essas afirmaes,
explicando o porqu de termos eleito a estrutura de tpico como
estratgia para a restituio da felicidade da sentena, mesmo que, a rigor,
o foco tambm possa cumprir esse papel.
2.1. A estrutura informacional
A estrutura informacional, em linhas gerais, diz respeito
organizao e articulao do contedo lingustico, isto , ela tem a ver
com como o falante o organiza (informao nova ou informao velha) e
como esse contedo lingustico articulado, ou seja, que padro rtmico o
falante utiliza quando veicula uma informao relativamente nova e uma
informao relativamente velha. Nesse sentido, nos termos de Rodrigues
e Menuzzi (2011), a estrutura informacional um dos aspectos centrais
da organizao da linguagem [...] estando ela no centro das interaes
entre sintaxe, semntica e pragmtica (...), e, por isso, possui um carter
eminentemente de interface.
Nossa proposta de trabalho, contudo, no o de exaurir a definio
de estrutura informacional (tarefa por si s arduamente complexa),
seno apresentar brevemente os conceitos de informao velha e
informao nova (tpico e foco, respectivamente) e entender como essas
estruturas se relacionam ao nosso problema com os nominais nus na
posio pr-verbal de sentenas episdicas.
2.2. O foco
O foco tem a ver com a informao nova, dada por uma sentena
em um certo contexto. Do ponto de vista informacional, o foco uma
estrutura necessria, isto , est presente em todas as sentenas da lngua,
ao contrrio do tpico, que uma estrutura contingente.
Segundo Rodrigues e Menuzzi (2011),
-
Nominais nus, tpico e foco: testando a aceitabilidade em sentenas episdicas
O foco (...) definido como a instruo que sinaliza
ao ouvinte qual a contribuio original da frase,
no entender do falante, aquela que o interlocutor
deve incorporar em suas representaes mentais
como parte da atualizao destas. (RODRIGUES
E MENUZZI, 2011: p. 226)
Num par de pergunta/resposta, o foco corresponde ao constituinte
wh- da pergunta. Por exemplo, no par de pergunta/resposta, abaixo, o
foco corresponde informao requerida, isto , ao constituinte que
substitui a expresso wh- o que:
(A): E sobre x, o que podemos falar?
(B): x, P.
Em que x o tpico da sentena e P, o comentrio, a proposio, a
informao que adicionada sobre o tpico ou, em termos notacionais da
estrutura informacional, o foco da sentena ou a informao nova.
A rigor, a denotao do foco contm o conjunto de respostas
(salientes e adequadas) que podem substituir o constituinte wh-, isto , o valor do foco uma lista de respostas que podem ser utilizadas no lugar
do elemento wh-. Assim, no par de pergunta/resposta acima, o foco
seleciona uma das alternativas dispostas num determinado conjunto
(neste caso, o conjunto das coisas que podemos falar sobre x) e nega as
demais. Assim, dado o conjunto {vai jogar bola, saiu com o namorado,
trabalha na empresa x, defendeu o mestrado, ...}, o foco seleciona uma
dessas alternativas e nega as demais. Por exemplo, se elegermos sair com
o namorado como o foco da sentena, teremos a parfrase: x saiu com o
namorado e no vai jogar bola.18
2.3. O tpico
Como j mencionado, o tpico tem a ver com a informao dada
ou pressuposta, com aquilo sobre o que se fala ou com o tema. Na
verdade, no h consenso na nomenclatura utilizada nas literaturas
especializadas que discutem a organizao e articulao da informao
nova e da informao velha.
Para Ilari (1986), por exemplo, essa organizao nomeada como
Articulao Tema-Rema ou ATR, em que, grosso modo, o tema
18
Para a leitura desse exemplo, acrescente uma pausa aps x e acentue
prosodicamente saiu com o namorado e no. Assim temos alguma coisa como:
x, SAIU COM O NAMORADO e NO [ o caso que] vai jogar bola.
-
Dissertao de Mestrado
41
corresponde ao assunto sobre o qual se fala e o rema corresponde
quilo que se fala sobre o assunto. J para Chomsky (1971), a informao
velha chamada de pressuposio, enquanto a informao nova
chamada de foco.19
Em nosso trabalho, no entanto, adotaremos a definio e a
nomenclatura utilizada por Rodrigues e Menuzzi (2011), para os quais
tpico o constituinte que j foi, de alguma forma, introduzido no
discurso, ou seja, uma informao dada, uma informao velha ou
conhecida, enquanto que a informao nova chamada foco.
Segundo Rodrigues e Menuzzi (2011),
sujeitos so tipicamente interpretados como os
tpicos de suas frases. Intuitivamente, isso faz
pleno sentido: como observa Smith (2003, p. 193),
o sujeito de uma sentena, sendo o primeiro
elemento a ser processado pelo ouvinte, tende a
ligar-se diretamente ao discurso anterior isto ,
tende a ser o ponto de partida informacional da
sentena. Por isso o candidato ideal para indicar
onde a informao deve ser armazenada pelo
ouvinte e, em consequncia, para indicar sobre o
qu dever ser a sentena. (RODRIGUES E
MENUZZI, 2011: p. 216)
Simplificadamente, como j vimos para o foco, um tpico poderia
ser identificado com o constituinte que substitui o x da seguinte frmula:
(A): E sobre x, o que podemos falar?
(B): x, P.
Em que x o tpico da sentena e P, o foco da sentena ou
informao nova.
Bring (1996) distingue ainda tpico discursivo (D-topic) de tpico sentencial (S-topic). Apresentaremos essa distino porque ela ser
crucial para entendermos a proposta de Pires de Oliveira e Mariano
19
Necessrio registrar que, em algumas dessas discusses, no apenas uma
questo de nomenclatura, mas tambm o conceito e suas funes so distintos.
Para os nossos propsitos, no entanto, entender que essas discusses categorizam
o conhecimento lingustico em informao nova e informao velha ou
pressuposta suficiente.
-
Nominais nus, tpico e foco: testando a aceitabilidade em sentenas episdicas
(2011) sobre como a estrutura informacional auxilia na restituio da
felicidade do tipo de sentena que estamos analisando.
2.3.1. Tpico discursivo (D-topic), tpico sentencial (S-topic) e valor focal.
Para Bring (1996), o tpico discursivo corresponde ao assunto
geral sobre o qual estamos falando. Para delimitarmos o tpico
discursivo, criamos uma pergunta cuja denotao corresponde ao
conjunto de proposies que so as respostas possveis a uma dada
pergunta, de continuao da conversa. Assim, para cada sentena
declarativa, est implcita uma questo para a qual ela uma das
respostas. Mais robustamente, temos que, semanticamente, o tpico
discursivo denota um conjunto de alternativas que so as possveis
respostas para a pergunta. (PIRES DE OLIVEIRA e MARIANO, 2011:
p. 3749). Exemplificando:
(33) A: O que a Maria deu para o Joo?
B: A Maria deu [o LIVRO]F para o Joo.20
Num contexto em que Joo ganhou trs presentes, a pergunta A,
acima, requer do interlocutor a informao sobre o que a Maria deu para o Joo, isto , do conjunto dos presentes que Joo ganhou, qual deles foi o
que a Maria deu pra ele. Assim, podemos ter o seguinte conjunto de
respostas, supondo que o Joo ganhou uma bola, um livro e um
videogame: {A Maria deu a bola, A Maria deu o livro, A Maria deu o
videogame}. Esse conjunto de alternativas sobre as possveis respostas
para o que a Maria deu para o Joo corresponde ao tpico do discurso e
neste caso equivalente ao valor focal, ou seja, corresponde s
alternativas que podem ser substitudas pelo constituinte wh- da sentena. No exemplo acima, temos um caso de coincidncia entre o valor
focal, que no deve ser confundido com o foco, e o tpico do discurso,
mas nem sempre o caso. No exemplo abaixo, tambm extrado de Pires
de Oliveira e Mariano (2011), temos um caso de dissidncia entre o valor
focal e o tpico do discurso:
(34) A: O que os meninos fizeram?
B: [O Joo]T [brincou de BOLA]F.
No exemplo acima, o tpico discursivo corresponde ao conjunto de
respostas possveis para a pergunta A, isto {os meninos nadaram,
20
Exemplos extrados de Pires de Oliveira e Mariano (2011).
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Dissertao de Mestrado
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subiram na rvore, correram, ...}. J o valor focal corresponde
substituio do constituinte wh- da pergunta o que o Joo fez? e no do
constituinte wh- da pergunta A. O Joo, neste caso, o tpico sentencial, que, nos termos de Pires de Oliveira e Mariano (2011), indica
um afastamento da pergunta inicial e uma resposta em lista: O Joo
brincou de bola e o Pedro empinou papagaio.
Compreendidas essas distines, passaremos agora a tratar o papel
da estrutura informacional como estratgia para restituir a naturalidade de
uma sentena em que o nominal nu sujeito de um predicado episdico.
2.4. O papel da estrutura informacional na felicidade das sentenas episdicas em que nominal nu se encontra na
posio de sujeito
Apresentaremos aqui uma proposta elaborada por Pires de Oliveira
e Mariano (2011) e Mariano (2011) para entender como a prosdia, mais
especificamente o foco prosdico, atua nas sentenas episdicas com
nominal nu, restituindo a naturalidade. Importante frisar, no entanto, que
a discusso , ainda, embrionria e que tambm no nosso objetivo
exaurir o como e o porqu a prosdia contribui para a felicidade dessas
sentenas, justamente por entendermos que esse tema por si s
complexo e carente de maior ateno. Propomo-nos testar empiricamente
se a prosdia ou no relevante para a restituio da felicidade de
sentenas episdicas com nominal nu na posio de sujeito e a explicao
sobre o como e o porqu isso ocorre dever ficar para um trabalho
posterior.
Para Pires de Oliveira e Mariano (2011) e Mariano (2011), a
prosdia contribui para a felicidade das sentenas episdicas em que o
nominal nu se encontra na posio pr-verbal, medida que fornece a
informao de que h disponveis e salientes no contexto espcimes aptas
a realizarem a ao predicada pelo verbo e que podem contar como
testemunhas do envolvimento da espcie.
Para os autores, a restrio que ocorre na sentena (12), retomada
aqui como (35), pragmtica e se d porque a combinao entre um
predicado, que denota um acontecimento realizado com o espcime (ou
uma instanciao da espcie), e um nominal nu, que denota a espcie,
marcada em PB.
(35) # Batata rolou do saco.
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Nominais nus, tpico e foco: testando a aceitabilidade em sentenas episdicas
Pires de Oliveira e Mariano (2011) se valem da discusso proposta
por Bring (1996) para explicar o papel da prosdia na restituio da
naturalidade, em outros termos por que a sentena em (36) menos
marcada ou mais feliz:
(36) BATATAT rolou do saco.
Bring est discutindo um outro tipo de caso. Ele procura explicar
como possvel termos uma leitura definida do sintagma quantificado
com alguns, que indefinido. Para Bring (1996), a leitura partitiva
(especfica) de que alguns alunos decidiram ir para casa (e outros para
outro lugar) da sentena (37), abaixo, dada via estrutura informacional.
(37) ALGUNS alunos decidiram ir para CASA.
O quantificador alguns, para o autor, um quantificador fraco,
isto , no pressupe existncia. Isso quer dizer que alguns no poderia
pressupor que havia alunos aptos a realizarem a ao de ir para casa
(enquanto outros foram para outro lugar). Segundo Bring, contudo, no
necessria a criao de nenhum mecanismo especfico ou dispositivo
para que a interpretao partitiva seja gerada. Para o autor, o tratamento
adequado para lidar com esse fenmeno pragmtico. Considere que a
sentena (37) responde pergunta (38), abaixo:
(38) Aonde os alunos decidiram ir?
Assim, o quantificador alguns corresponde ao tpico da sentena
e ir para casa, corresponde ao foco sentencial. A interpretao partitiva
de (37) fornecida pela estrutura informacional e no pela forma lgica.
O caso que o nome aluno, j est dado pelo tpico discursivo
(sentena (38)), isto , j faz parte do fundo conversacional
compartilhado que h um conjunto de alunos que so conhecidos. Por ser
o tpico sentencial, alguns, de alguma forma retoma o tpico discursivo.
Assim, no o quantificador alguns quem pressupe a existncia de
alunos; essa pressuposio est assegurada pelo prprio discurso. Mas
note que isso s possvel se alguns est focalizado prosodicamente. O
foco indica que h uma pressuposio, no caso, a pressuposio de que h
um conjunto especfico de alunos sobre o qual se est falando. s nesse
contexto que alguns pode receber interpretao partitiva.
O raciocnio utilizado por Pires de Oliveira e Mariano (2011)
anlogo ao de Bring (1996), estendendo, porm, a proposta para os
nominais nus na posio pr-verbal de sentenas episdicas.
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Dissertao de Mestrado
45
Segundo os autores, o tratamento dado ao fenmeno no de
ordem sinttica ou semntica, mas pragmtica, uma vez que sentenas
como (36), no so agramaticais, mas sim inadequadas contextualmente.
O que acontece em (36) que o tpico do discurso pressupe as
instanciaes e o foco prosdico sobre o nominal nu introduz a
informao nova da espcie, permitindo assim a combinao de nominais
nus com sentenas episdicas, antes inviabilizada por conta da
incompatibilidade pragmtica entre um nominal nu e um predicado
episdico. Assim, o que o foco prosdico faz informar que
independente de quantas ou quais entidades realizaram a ao predicada
pelo verbo, essa ao conta como uma atividade representativa da
espcie, como um testemunho.
As interpretaes que podemos ter destas sentenas a de
contraste e exausto (MIOTO, 2003. p. 174). Na interpretao de
contraste, o foco elege uma dentre todas as possibilidades de indivduos
aptos a realizarem a ao predicada pelo verbo. Por exemplo, em (36), se
considerarmos o nominal nu batata como focalizado, temos que se
alguma coisa rolou do saco, esta coisa foi batata (e no ma, e no pera,
e no melo, ...). J na interpretao exaustiva, como a que ocorre em (9),
temos que, da lista de coisas possveis que tenham rolado do saco, a nica
e apenas ela foi batata (independente de quantos ou quais espcimes de
batata realizaram a ao).
A proposta de Pires de Oliveira e Mariano (2011), no entanto, no
explica o que acontece quando o nominal nu recebe o acento prosdico de
tpico. Este um assunto que precisa ser melhor discutido e investigado.
Ns, porm, entendemos que a curva de tpico, na esteira da curva de
foco, de alguma maneira contribui para a felicidade da sentena. esse o
ponto que gostaramos de discutir no nosso trabalho: a curva de tpico
contribui ou no para a felicidade da sentena?
2.5. Por que o tpico?
Neste trabalho, nos limitamos a testar empiricamente apenas a
curva de tpico como estratgia para a restituio da naturalidade da
sentena. A nossa principal motivao para isso est na proposta de
Mller (2002, 2004, dentre outros), para quem o nominal nu na posio
pr-verbal, na verdade no pode ser sujeito (porque, para a autora, o
singular nu um predicado e no um argumento), mas um tpico
sentencial, trata-se, portanto, de informao compartilhada.
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Nominais nus, tpico e foco: testando a aceitabilidade em sentenas episdicas
Assim, para testar essa predio de Mller, nossos experimentos
envolveram apenas a curva de tpico sobre o nominal nu.
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Dissertao de Mestrado
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3. METODOLOGIA DOS EXPERIMENTOS
Elaborar um experimento psicolingustico, como bem notou Cunha
Lima (2005), requer do pesquisador clareza das hipteses e detalhamento
do objeto de pesquisa. O desenvolvimento de experimentos pode
contribuir para a compreenso do fenmeno analisado, medida que
permite confirmar ou refutar nossas hipteses, atravs da participao dos
informantes. Alm disso, a situao experimental tal que permite
tambm a incorporao de aspectos que talvez no fossem utilizados em
uma situao enunciativa no controlada, como ateno e memria.
Nos termos de Leito (2008),
a psicolingustica experimental tem como objetivo
bsico descrever e analisar a maneira como o ser
humano compreende e produz linguagem,
observando fenmenos lingusticos relacionados ao
processamento da linguagem. Ou seja, esses
fenmenos so tratados e focalizados do ponto de
vista de sua execuo pelos falantes/ouvintes a
partir de seu aparato perceptual/articulatrio e de
seus sistemas de memria. (LEITO, 2008: p. 8)
Assim, os nossos experimentos buscaram, atravs da percepo
dos falantes, encontrar vestgios que possam nos orientar sobre como os
informantes avaliam o fenmeno em anlise. Utilizamo-nos de um
computador, um fone de ouvido e do software Praat previamente
instalado no computador. O ambiente de coleta de dados, por ocasio das
execues dos experimentos, estava tranquilo e sem a interferncia de
rudos que pudessem prejudicar a audio dos informantes.
Preocupamo-nos tambm em ter foco preciso no que queramos
entender e consequentemente no controle de todas (ou pelo menos da
maioria) das variveis em jogo. Nesse sentido, nos esforamos para que
os designs dos experimentos fossem tais que no conduzissem a
interpretao do informante a um nico caminho, i.e., nos empenhamos
em construir um modelo que no permitisse que todos os informantes se
comportassem da mesma maneira, sem que pudesse haver uma margem
para outro tipo de comportamento. Do contrrio, seriam desnecessrios a
construo e o empenho na aplicao do experimento, j que todas as
respostas dadas pelos informantes seriam exatamente as mesmas.
H ainda, ao menos, mais trs pontos que merecem destaque na
nossa pesquisa. Os primeiros so o tipo de coleta de dados e a maneira
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Nominais nus, tpico e foco: testando a aceitabilidade em sentenas episdicas
como o experimento realizado que, como bem notaram Seara e
Figueiredo-Silva (2007), dependendo do fenmeno analisado, podem
alterar significativamente os resultados. Um terceiro ponto, no menos
importante que os dois primeiros, a preocupao com o produto dos
experimentos, isto , no basta apenas obter um nmero significativo de
dados pertinentes; [o problema] obter um nmero de dados homogneos
em sua estrutura (SEARA & FIGUEIREDO-SILVA, 2007: no
paginado), o que, para os propsitos dos nossos experimentos, significa
que os informantes precisam ser coerentes nos seus julgamentos, ou seja,
seus julgamentos no podem ser aleatrios.
Abaixo, descrevemos a metodologia dos trs experimentos
realizados. Os dois primeiros so experimentos de julgamento de
naturalidade das sentenas. J o terceiro compreende a comparao entre
duas estruturas (que podem ser idnticas) a fim de que o informante
escolha, dentre as alternativas, a que mais natural.
Necessrio frisar que, entre a execuo dos Experimentos 1, 2 e 3,
havia um intervalo de tempo de pelo menos dois meses. Frisamos, ainda,
que alguns informantes participaram dos trs experimentos.
3.1 Experimento 1
O Experimento 1 consiste num teste de avaliao de naturalidade
de sentenas, com o objetivo de entender se: a) a combinao entre
nominais nus e predicados episdicos agramatical em PB; b) a prosdia
contribui para a felicidade da construo.
Cada informante, aps ouvir a sentena-alvo, marcou seu
julgamento numa faixa graduada com cinco valores, do menos natural ao
mais natural, conforme a Figura 1.
Figura (1):
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Dissertao de Mestrado
49
Amostra da tela do experimento 1. Na faixa central, os
informantes clicavam para informar seus julgamentos.
Essa faixa correspondia aos valores, da esquerda para a direita, mostrados
no Quadro (1): Quadro (1):
NO NATURAL NATURAL
5 4 3 2 1
...
Valores que os falantes atriburam s sentenas segundo sua
naturalidade.
Onde se l:
5: sentenas no-naturais que deveriam ter marcaes no primeiro
segmento de faixa da esquerda para a direita;
4: sentenas pouco naturais que deveriam ter marcaes no
segundo segmento de faixa da esquerda para a direita;
3: sentenas em que havia indeciso com relao sua
naturalidade e que deveriam ter marcaes no centro da faixa;
2: sentenas com mais naturalidade e que deveriam ter marcaes
no quarto segmento de faixa da esquerda para a direita;
1: sentenas com muito boa naturalidade que deveriam ter
marcaes no quinto segmento da faixa da esquerda para a direita.
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Nominais nus, tpico e foco: testando a aceitabilidade em sentenas episdicas
Esse tipo de avaliao se mostra eficaz, medida que permite ao
informante julgar a gradao, isto , ele no precisa dizer que a sentena
de todo no-natural ou natural, ele pode simplesmente dizer que a
sentena tem uma inclinao naturalidade ou no-naturalidade. Para
isso, basta clicar em um dos segmentos adjacentes s extremidades. A
indeciso para o julgamento se marca no segmento da faixa mais central.
Como o experimento envolveu tambm a contraparte
suprassegmental das sentenas-alvo, o software utilizado na elaborao e
aplicao do experimento foi o Praat, que bastante utilizado para
anlise e manipulao da fala, sobretudo na rea da Fontica Acstica.
3.1.1 Estmulos
Os informantes foram expostos a dez proferimentos: trs com
nominais nus com curva de tpico em posio pr-verbal de sentenas
episdicas, trs com nominais nus com entonao de declarativa padro
em posio pr-verbal de sentenas episdicas, duas distratoras sem
marcao prosdica em posio pr-verbal e duas sentenas distratoras
com curva de tpico em posio pr-verbal. Das distratoras, uma de cada
grupo era agramatical e a outra gramatical, para que se pudesse fazer o
controle das variveis. Os estmulos foram apresentados em ordem
aleatria gerada pelo prprio software.
O Experimento 1 se subdividia em experimento 1 e 1 para evitar
que os estmulos enviesassem o julgamento dos informantes. Assim, um
informante que ouvisse um proferimento como (39) no era exposto ao
proferimento em (40):
(39) Macaco subiu no galho.
(40) MACACOT subiu no galho.
Dessa forma, um informante exposto a um nominal nu marcado
com proeminncia prosdica de tpico na posio pr-verbal no foi
exposto a esse mesmo nominal nu com entonao no marcada por
tpico. Tomamos o cuidado, no entanto, de fazer com que cada
informante julgasse tanto nominais nus marcados com proeminncia
prosdica de tpico, quanto nominais nus no marcados deste modo, a
fim de que pudssemos observar se de fato um mesmo informante
mostraria sensibilidade aos nominais nus contrastados.
Como havia essa subdiviso nos experimentos, tomamos, da
mesma forma, o cuidado de fazer com que o informante julgasse
-
Dissertao de Mestrado
51
nominais nus com trao [+ animado] e [- animado]. Assim, houve uma
alternncia de traos entre o experimento 1 e o 1. Enquanto um possua
dois nominais nus topicalizados21
na posio pr-verbal com o trao [+
animado] e um com o trao [- animado], o outro possua o inverso: dois
nominais nus com trao [- animado] e um com o trao [+ animado], todos
com proeminncia prosdica de tpico e ocupando a posio pr-verbal.
O mesmo sucedeu com os nominais nus pr-verbais no topicalizados.
As sentenas foram elaboradas levando-se em considerao: a) o
tipo de nominal a ser avaliado; b) a exigncia do predicado episdico com
interpretao episdica; c) foco prosdico; e d) mtrica. Com relao ao
tipo de nominal nu, os estmulos apresentados continham, salvo algumas
distratoras, ou nominal [+ animado] ou [- animado]. Tambm havia
nominais nus do tipo contveis (como macaco) e do tipo massivos
(como geleia). As exigncias dos predicados episdicos, tais como
saturao do verbo, s-seleo, etc., foram satisfeitas, salvo os pares de
sentenas distratoras (41) (42) e (42) (44) que consideramos como
agramaticais.22
(41) * Banana comeu Joana.
(42) * BANANAT comeu Joana.
(43) * Banana comeu Mariana.
(44) * BANANAT comeu Mariana.
J, com relao ao foco prosdico, dez sentenas foram marcadas
com foco prosdico no nominal nu da posio pr-verbal (cinco no
experimento 1 e cinco no 1) e dez sentenas (tambm cinco no
experimento 1 e cinco no 1) foram veiculadas com prosdia de
declarativa padro, isto , uma sentena que segue uma linha entoacional
contnua e ao final apresenta uma entoao descendente. Para efeitos de
21
Por topicalizao estamos entendendo aqui a marcao prosdica de tpico e
no apenas o deslocamento de constituinte para a periferia esquerda da sentena.
Para compreender melhor o conceito de topicalizao e deslocamento esquerda,
confira o trabalho de Callou et al (2002). 22
Entendemos que banana deveria ser interpretado como argumento externo de
comer. Utilizamos, assim, a ordem das palavras para marcar os argumentos do
predicado. Como veremos, alguns informantes no interpretaram essas sentenas
dessa maneira.
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Nominais nus, tpico e foco: testando a aceitabilidade em sentenas episdicas
melhor compreenso, observe, na Seo 3.1.2 e na Sesso 3.1.3, as curvas
de pitch que subjazem s sentenas-alvo.
3.1.2 Curva de F0 de sentenas declarativas padro ou neutra23
Figueiredo-Silva e Seara (2006), seguindo os padres de Tenani
(2002), caracterizam uma sentena declarativa neutra (SVO) da seguinte
maneira: a) o acento principal da sentena sempre recai sobre a ltima
slaba acentuada, o que configura um evento tonal HL*24
; b) geralmente
uma sentena declarativa neutra sempre apresenta uma sequncia de
eventos decrescentes (FIGUEIREDO-SILVA E SEARA, 2006: p. 157),
o que quer dizer que o pitch da ltima slaba j se encontra mais abaixo
do que o da primeira slaba, em termos de Hz. Na nossa pesquisa
tentamos seguir essa generalizao a respeito da prosdia de declarativa
padro no PB.
A seguir, expomos a curva de pitch de uma sentena manipulada prosodicamente pelo Momel, com o intuito de ilustrar a definio dada
por Tenani (2002).
Figura (2):
Forma de onda, curva de F0 manipulada e descrio tonal da
sentena-controle declarativa gramatical: Pedro beijou Manuela.
23
F0 = Frequncia fundamental. a frequncia de vibrao das pregas vocais. 24
Do ingls, High e Low, que significam um movimento de subida e de descida.
Essa descrio utilizada pela Fonologia Entoacional para sintetizar a entoao
de uma sentena (cf. Figueiredo-Silva e Seara, 2006).
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Dissertao de Mestrado
53
A linha central, presente na segunda janela da Figura (2),
corresponde curva de F0 da sentena. Note que a linha, nessa figura,
est tendendo a um mesmo padro, isto , uma reta. Se observarmos, no
entanto, a descrio sintetizada pelo INTSIT25
, valores distribudos logo
abaixo da curva de Pitch, podemos verificar uma descendncia gradual ao
final da sentena (150Hz) . Esse movimento gradual descendente final
caracterstico das declarativas padro, segundo a literatura especfica.
Abaixo temos dois exemplos de curvas de F0 das sentenas
ouvidas pelos informantes no nosso experimento.
Figura (3):
Forma de onda, curva de F0 e descrio tonal da sentena-alvo
declarativa: Batata rolou do saco.
Note novamente a curva central, na segunda janela, que representa
a curva de frequncia fundamental da sentena-alvo. Perceba o
movimento ascendente-descendente antes do final da sentena e a queda
final que caracterstica das declarativas padro, de acordo com a
literatura especfica da rea. Podemos observar tambm que h uma
ampla subida antes da descida final. Esse amplo movimento de subida que antecede ao movimento gradual descendente final pode ter sido uma
25
Intsint: International Transcription Sistem for Intonation (do ingls, Sistema
de transcrio internacional para a entonao). um recurso do software Praat
para transcrever a curva de F0 para a notao internacional. Os valores gerados
pelo Intsint so: T (Top, pice), H (Higher, superior), U (Upstepped, elevado), S
(Same, invarivel), M (Midd, mediano), D (Downstepped, diminudo), L (Lower,
mais diminudo), B (Botton, inferior), em tradues livre.
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Nominais nus, tpico e foco: testando a aceitabilidade em sentenas episdicas
focalizao do objeto produzida pela nossa locutora. Segundo Ilari
(1986), geralmente, numa declarativa padro, a focalizao, ou seja, a
informao nova se localiza no ltimo constituinte, assim, seguindo este
padro, a nossa locutora pode ter focalizado o objeto. O valor em Hz
final (no terceiro plano da figura, na terceira linha, valores estilizados
pelo Intsint, 122), contudo, menor do que em qualquer outro ponto da sentena.
A seguir, fornecemos outro exemplo de curva de Pitch de
sentenas ouvidas no primeiro experimento.
Figura (4):
Forma de onda, curva de F0 e descrio tonal da sentena-alvo
declarativa: Gato subiu no telhado.
O movimento de F0 semelhante aos demais. H uma elevao no
final da sentena seguida de uma descida brusca. A elevao pode ter sido
uma focalizao do objeto, feita pela nossa locutora, enquanto a queda
final a generalizao que tomamos para classificar nossas sentenas
como declarativas padro ou neutras.
3.1.3 Curva de F0 de sentenas com o Nominal Nu como tpico.
Tomamos como referncia para a construo de sentenas com
tpico o trabalho de Callou et al (2002) que descreve alguns padres
prosdicos para construes de tpico e deslocamento esquerda do PB.
Este trabalho envolveu pesquisadores do grupo de sintaxe e fonologia do
projeto de descrio e anlise da Gramtica Portugus Falado no Brasil e
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Dissertao de Mestrado
55
utilizou o corpus do mesmo projeto. A ideia, entre outras coisas, era
investigar: a) h diferenas sintticas entre o que se conhecia por tpico e
deslocamento esquerda? b) h marcas prosdicas que distinguem tpico
de deslocamento esquerda e tpico e deslocamento esquerda das
construes de sujeito?
O trabalho de Callou et al (2002) evidenciou sete padres entoacionais para as sentenas analisadas, quais sejam, o padro
ascendente simples, ascendente duplo, ascendente-descendente,
ascendente-contrastivo, descendente, neutro e alto. Dentre esses padres,
o ascendente simples , segundo os autores, o padro mais frequente de
construo de tpico e se caracteriza por apresentar uma subida na slaba
tnica final ou na postnica do elemento topicalizado. J o padro
ascendente duplo, possui duas modulaes ascendentes no elemento
topicalizado, enquanto o ascendente-descendente tem uma modulao
ascendente na primeira tnica, segue alta at a pretnica final e desce na
ltima tnica. O padro ascendente-contrastivo, por sua vez, possui uma
modulao ascendente na pretnica ou na tnica mais acentuado do que o
padro simples, enquanto o descendente modula uma descendncia na
tnica final. Por fim, o padro neutro tem tessitura normal, isto , sem
modulao e o padro alto tem tessitura alta sem modulao.
Nas figuras a seguir, evidenciamos os padres encontrados nos
nossos dados. Eles esto em conformidade com os padres sugeridos por
Callou et al (2002).
Figura (5):
-
Nominais nus, tpico e foco: testando a aceitabilidade em sentenas episdicas
Forma de onda, curva de F0 e descrio tonal da sentena-alvo:
BATATAT rolou do saco, em que o nominal nu batata est na
posio de tpico sentencial e sobre ele incide o foco prosdico da