normas de segurança são ignoradas durante travessias de ferryboat

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SALVADOR SALVADOR SÁBADO 26/2/2011 A4 REGIÃO METROPOLITANA [email protected] Editor-coordenador Cláudio Bandeira TRANSPORTE Veja até quando revalidar o Salvadorcard www.atardeonline.com.br Acidente continua sendo apurado pela Capitania A Capitania dos Portos da Ba- hia (CPBA) tem até o dia 16 de maio para divulgar o parecer do Inquérito Administrativo sobre Acidentes e Fatos da Na- vegação (Iafn), instaurado pe- la Marinha do Brasil, no dia 16 de fevereiro. Na data, o GM Astra do delegado José Ma- galhães, titular da unidade de Itaparica (19ª CP), caiu do fer- ry Anna Nery (o mais novo da frota), depois de um tranco na hora do desembarque. No momento do acidente, o policial estava na companhia de duas pessoas. Todos foram resgatados do mar, sofreram escoriações e foram atendi- dos numa unidade médica. Por enquanto, testemunhas estão prestando depoimen- tos, o que deverá servir de pro- vas para a “apuração da causa determinante do acidente, sua extensão e consequên- cias”, diz nota emitida pela Capitania dos Portos. Após a conclusão da apu- ração, o inquérito deve ser en- caminhado para o Tribunal Marítimo (TM), que poderá punir os responsáveis. Enquanto isso, os passagei- ros continuam praticando as irregularidades. Pessoas dor- mindo, falando ao celular e usando notebooks dentro dos carros: esse foi o cenário en- contrado pela reportagem. Irregularidades A maioria dos motoristas dos 66 automóveis que estavam no mesmo Anna Nery, ontem pela manhã, viajavam dentro dos carros. A economista alemã Uli Kramer, 27, mora desde abril na Bahia e trabalhava no lap- top durante a travessia. “Pre- ciso trabalhar todo o tempo. Não sabia da impossibilidade de ficar dentro do carro. Sem- pre mantenho o freio de mão acionado”, disse. Moradora da ilha há mais de 20 anos, a comerciante Te- reza Coelho, 51, afirmou que não lembra de acidentes gra- ves na travessia. “Normal- mente, saio do carro. Hoje, preferi viajar ao volante. Via- jei para a Europa recentemen- te e lá é diferente, ninguém fica nos carros”, admitiu. Os motoristas permanecem no interior dos veículos: fiscalização inexistente RISCOS Regras determinadas pela Capitania dos Portos após acidente com delegado são desrespeitadas Normas de segurança são ignoradas durante travessias de ferryboat HELGA CIRINO E ARIVALDO SILVA Alheio ao aviso do lado que orientava os passageiros a não permanecerem no inte- rior dos carros enquanto o ferryboat Anna Nery realiza- vaatravessiadeSalvador(Ter- minal São Joaquim) a Itapa- rica (Bom Despacho), ontem pela manhã, o empresário Jo- sé Chequer, 54, seguia viagem dentro da caminhonete Co- rolla Hillux. “A viagem assim é mais confortável”, ele argu- mentou. José fez a travessia sem ser interpelado por nenhum fun- cionário da TWB, operadora do sistema, apesar de, na úl- tima quarta-feira, a Capitania dos Portos ter divulgado uma nota informando a liberação da operação do Anna Nery, mediante o cumprimento de medidas de segurança. A obrigatoriedade é para que os veículos permaneçam com o freio de mão acionado, motor desligado, marcha en- grenada, luzes apagadas (caso seja noite) e rodas com, pelo menos, dois calços. E sem pas- sageiros. Desde quarta-feira, estas são algumas das regras a serem seguidas pelos mo- toristas durante a travessia Salvador/Itaparica,pelosiste- ma ferryboat. Também é obrigatória a di- vulgação no sistema de som, antes de desatracar, um alerta para todos os motoristas quanto ao perigo de manter o motor funcionando, o que ainda não está sendo feito na embarcação. Deverá ser infor- mado que o navio só poderá desatracar após todos os ocu- pantes dos veículos terem saí- do dos mesmos e se dirigirem a locais apropriados. De acordo com o capitão, a responsabilidade de fiscaliza- ção da execução das normas é conjunta. “Cabe à TWB, à Agência Estadual de Regula- ção de Serviços Públicos de Energia, Transportes e Comu- nicações da Bahia (Agerba) e à Capitania dos Portos”, avi- sou o oficial. Ele ressaltou que, por en- quanto, não haverá punição para quem não seguir as orientações. “Inicialmente vamos trabalhar com campa- nhas educativas. Depois, dis- cutiremos se cabem ou não punições”, completou. Calços Paulo Batoré avisou que a uti- lização de calços nos pneus é uma atribuição a ser provi- denciada pela TWB. Por in- termédio da assessoria de co- municação, a administradora do sistema informou que “A viagem assim é mais confortável” JOSÉ CHEQUER, empresário que ontem desafiava as normas de segurança e insistia em fazer a travessia no interior de uma caminhonete muitas das medidas já são adotadas e outras estão sendo implementadas. De acordo com a TWB, sistemas de vídeo serão instalados em todas as embarcações, orientando os passageiros a seguirem as medidas estabelecidas pela Capitania dos Portos. O diretor-executivo da Agerba, Eduardo Pessoa, des- tacou que a fiscalização das normas de segurança compe- te à Capitania dos Portos e à TWB. Em relação à saída de pe- destres pela área de desem- barque de veículos, Pessoa es- clarece que a Agerba está mul- tando a concessionária por conta dos descumprimentos. “Fiscalizamos a partir da terra em relação ao cumprimento de horários. O sistema ferry- boat tem que se adequar para prestar um bom serviço aos usuários”, sublinhou. RESPONSABILIDADES NA FISCALIZAÇÃO Quem vai fiscalizar as recomendações da Capitania dos Portos? A responsabilidade pela fiscalização é conjunta. Envolve a Capitania dos Portos, Agência Estadual de Regulação de Serviços Públicos de Energia, Transportes e Comunicações (Agerba) e TWB, empresa que administra o sistema Quem não obedecer pode sofrer punição? Por enquanto, não. Inicialmente, os órgãos pretendem iniciar campanhas educativas Quem é responsável pelos calços nos pneus? A responsabilidade é da TWB, que já foi informada da demanda e se comprometeu a providenciar os equipamentos “em curto espaço de tempo” Quem fiscaliza o passageiro comum (o que vai a pé)? Esta também é uma responsabilidade conjunta da Agerba, TWB e Capitania dos Portos É permitido que o passageiro a pé saia pelo mesmo portão dos carros? Não é recomendável. O ideal é que os carros deixem as embarcações antes dos passageiros. A Capitania dos Portos está analisando como ordenar o desembarque CAPITANIA DOS PORTOS Fotos Lúcio Távora / Ag. A TARDE / 25.2.2011 Acidente da semana passada, quando carro de delegado caiu ao mar, não foi suficiente para que passageiros dos ferries adotem medidas de segurança durante a travessia Travessia Ontem, a equipe de reporta- gem de A TARDE flagrou vá- rios motoristas infringindo as determinações para a tra- vessia. “Ainda no final de se- mana, nós vamos distribuir nos ferries panfletos educa- tivos e encaminhar um ins- petor naval para fiscalizar”, informou o capitão dos Por- tos da Bahia, Paulo Fernandes Batoré. COLISÃO EM 21 DE ABRIL DE 2010 O ferry Pinheiro chocou-se contra uma embarcação de pequeno porte na Baía de Todos-os-Santos. A vítima teve escoriações e foi liberada após ser atendida pelo Samu CARRO DE DELEGADO FOI AO MAR No último dia 16, o GM Astra em que viajavam o delegado José Magalhães e mais duas pessoas caiu na água, durante a atracação do ferry Anna Nery. Por sorte, ninguém se feriu

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Matéria publicada na página A4, do jornal A TARDE, do dia 26/2/2011. HELGA CIRINO E ARIVALDO SILVA. Fotos: Lúcio Távora. Alheio ao aviso do lado que orientava os passageiros a não permanecerem no interior dos carros enquanto o ferryboat Anna Nery realizava a travessia de Salvador ( Terminal São Joaquim) a Itaparica (Bom Despacho), ontem pela manhã, o empresário José Chequer, 54, seguia viagem dentro da caminhonete Corolla Hillux. “A viagem assim é mais confortável”, ele argumentou. José fez a travessia sem ser interpelado por nenhum funcionário da TWB, operadora do sistema, apesar de, na última quarta-feira, a Capitania dos Portos ter divulgado uma nota informando a liberação da operação do Anna Nery, mediante o cumprimento de medidas de segurança.

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Page 1: Normas de segurança são ignoradas durante travessias de ferryboat

SALVADORSALVADOR SÁBADO 26/2/2011A4

REGIÃO METROPOLITANA

[email protected]

Editor-coordenadorCláudio Bandeira

TRANSPORTE Veja até quando revalidar oSalvadorcard www.atardeonline.com.br

Acidente continua sendoapurado pela CapitaniaA Capitania dos Portos da Ba-hia (CPBA) tem até o dia 16 demaio para divulgar o parecerdo Inquérito Administrativosobre Acidentes e Fatos da Na-vegação (Iafn), instaurado pe-la Marinha do Brasil, no dia 16de fevereiro. Na data, o GMAstra do delegado José Ma-galhães, titular da unidade deItaparica (19ª CP), caiu do fer-ry Anna Nery (o mais novo dafrota), depois de um tranco nahora do desembarque.

No momento do acidente, opolicial estava na companhiade duas pessoas. Todos foramresgatados do mar, sofreramescoriações e foram atendi-dos numa unidade médica.Por enquanto, testemunhasestão prestando depoimen-tos,oquedeveráservirdepro-vas para a “apuração da causadeterminante do acidente,sua extensão e consequên-cias”, diz nota emitida pelaCapitania dos Portos.

Após a conclusão da apu-ração, o inquérito deve ser en-caminhado para o TribunalMarítimo (TM), que poderápunir os responsáveis.

Enquanto isso, os passagei-ros continuam praticando asirregularidades. Pessoas dor-mindo, falando ao celular eusando notebooks dentro doscarros: esse foi o cenário en-contrado pela reportagem.

IrregularidadesA maioria dos motoristas dos66 automóveis que estavamno mesmo Anna Nery, ontempela manhã, viajavam dentrodos carros.

A economista alemã UliKramer, 27, mora desde abrilna Bahia e trabalhava no lap-top durante a travessia. “Pre-ciso trabalhar todo o tempo.Não sabia da impossibilidadede ficar dentro do carro. Sem-pre mantenho o freio de mãoacionado”, disse.

Moradora da ilha há maisde 20 anos, a comerciante Te-reza Coelho, 51, afirmou quenão lembra de acidentes gra-ves na travessia. “Normal-mente, saio do carro. Hoje,preferi viajar ao volante. Via-jeiparaaEuroparecentemen-te e lá é diferente, ninguémfica nos carros”, admitiu. Os motoristas permanecem no interior dos veículos: fiscalização inexistente

RISCOS Regras determinadas pela Capitania dos Portos após acidente com delegado são desrespeitadas

Normas de segurança são ignoradasdurante travessias de ferryboatHELGA CIRINO EARIVALDO SILVA

Alheio ao aviso do lado queorientava os passageiros anão permanecerem no inte-rior dos carros enquanto oferryboat Anna Nery realiza-vaatravessiadeSalvador(Ter-minal São Joaquim) a Itapa-rica (Bom Despacho), ontempela manhã, o empresário Jo-sé Chequer, 54, seguia viagemdentro da caminhonete Co-rolla Hillux. “A viagem assimé mais confortável”, ele argu-mentou.

José fez a travessia sem serinterpelado por nenhum fun-cionário da TWB, operadorado sistema, apesar de, na úl-tima quarta-feira, a Capitaniados Portos ter divulgado umanota informando a liberaçãoda operação do Anna Nery,mediante o cumprimento demedidas de segurança.

A obrigatoriedade é paraque os veículos permaneçamcom o freio de mão acionado,motor desligado, marcha en-grenada, luzes apagadas (casoseja noite) e rodas com, pelomenos, dois calços. E sem pas-sageiros. Desde quarta-feira,estas são algumas das regrasa serem seguidas pelos mo-toristas durante a travessiaSalvador/Itaparica,pelosiste-ma ferryboat.

Também é obrigatória a di-vulgação no sistema de som,antes de desatracar, um alertapara todos os motoristasquanto ao perigo de manter omotor funcionando, o queainda não está sendo feito naembarcação.Deveráserinfor-mado que o navio só poderádesatracar após todos os ocu-pantesdosveículosteremsaí-do dos mesmos e se dirigirema locais apropriados.

De acordo com o capitão, aresponsabilidadedefiscaliza-ção da execução das normasé conjunta. “Cabe à TWB, àAgência Estadual de Regula-ção de Serviços Públicos deEnergia, Transportes e Comu-nicações da Bahia (Agerba) eà Capitania dos Portos”, avi-sou o oficial.

Ele ressaltou que, por en-quanto, não haverá puniçãopara quem não seguir asorientações. “Inicialmentevamos trabalhar com campa-nhas educativas. Depois, dis-cutiremos se cabem ou nãopunições”, completou.

CalçosPaulo Batoré avisou que a uti-lização de calços nos pneus éuma atribuição a ser provi-denciada pela TWB. Por in-termédio da assessoria de co-municação, a administradorado sistema informou que

“A viagemassim é maisconfortável”JOSÉ CHEQUER, empresário queontem desafiava as normasde segurança e insistia emfazer a travessia no interiorde uma caminhonete

muitas das medidas já sãoadotadas e outras estão sendoimplementadas. De acordocom a TWB, sistemas de vídeoserão instalados em todas asembarcações, orientando ospassageiros a seguirem asmedidas estabelecidas pelaCapitania dos Portos.

O diretor-executivo daAgerba, Eduardo Pessoa, des-tacou que a fiscalização dasnormas de segurança compe-te à Capitania dos Portos e àTWB.

Em relação à saída de pe-destres pela área de desem-barque de veículos, Pessoa es-clarecequeaAgerbaestámul-tando a concessionária porconta dos descumprimentos.“Fiscalizamosapartirdaterraem relação ao cumprimentode horários. O sistema ferry-boat tem que se adequar paraprestar um bom serviço aosusuários”, sublinhou.

RESPONSABILIDADESNA FISCALIZAÇÃO

Quem vai fiscalizar asrecomendações daCapitania dos Portos?A responsabilidade pelafiscalização é conjunta.Envolve a Capitania dosPortos, Agência Estadual deRegulação de ServiçosPúblicos de Energia,Transportes e Comunicações(Agerba) e TWB, empresaque administra o sistema

Quem não obedecer podesofrer punição?Por enquanto, não.Inicialmente, os órgãospretendem iniciarcampanhas educativas

Quem é responsável peloscalços nos pneus?A responsabilidade é daTWB, que já foi informadada demanda e secomprometeu aprovidenciar osequipamentos “em curtoespaço de tempo”

Quem fiscaliza opassageiro comum (o quevai a pé)?Esta também é umaresponsabilidade conjuntada Agerba, TWB e Capitaniados Portos

É permitido que opassageiro a pé saia pelomesmo portão dos carros?Não é recomendável. O idealé que os carros deixem asembarcações antes dospassageiros. A Capitania dosPortos está analisando comoordenar o desembarque

CAPITANIA DOS PORTOS

Fotos Lúcio Távora / Ag. A TARDE / 25.2.2011

Acidente da semana passada, quando carro de delegado caiu ao mar, não foi suficiente para que passageiros dos ferries adotem medidas de segurança durante a travessia

TravessiaOntem, a equipe de reporta-gem de A TARDE flagrou vá-rios motoristas infringindoas determinações para a tra-vessia. “Ainda no final de se-mana, nós vamos distribuirnos ferries panfletos educa-tivos e encaminhar um ins-petor naval para fiscalizar”,informou o capitão dos Por-tos da Bahia, Paulo FernandesBatoré.

COLISÃO EM 21 DEABRIL DE 2010

O ferry Pinheiro chocou-secontra uma embarcação depequeno porte na Baía deTodos-os-Santos. A vítimateve escoriações e foiliberada após ser atendidapelo Samu

CARRO DE DELEGADOFOI AO MAR

No último dia 16, o GMAstra em que viajavam odelegado José Magalhães emais duas pessoas caiu naágua, durante a atracaçãodo ferry Anna Nery. Porsorte, ninguém se feriu