o conceito de instituição

29
 119 O CONCEITO DE INSTITUIÇÃO NAS MODERNAS ABORDAGENS INSTITUCIONALISTAS Octavio A. C. Conceição *  Faculdade de Ciências Econômicas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul  Av. João Pessoa, 52, 3º andar, CEP 90040-600, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil e-mail : [email protected] RESUMO A multiplicidade de elementos que se abrigam sob a designação de insti- tuição exige precisão teórica sobre o que se quer referir com tal termo. A necessida- de de inserir o conceito de instituição em seu respectivo contexto teórico explicita a importância das abordagens institucionalistas, que, mesmo tendo seu eixo analítico no referido conceito, abrigam diferentes enfoques, às vezes inconciliáveis. Tais dife- renças teóricas, conceituais e analíticas não inviabilizam o vigor do pensamento institucionalista, mas, pelo contrário, o fortalecem, dado que é a diversidade que o torna conceitualmente rico. O presente artigo discute alguns pontos do pensamen- to de Veblen, o corpo de conhecimento neo-institucionalista e a contribuição da Nova Economia Institucional de Coase e Williamson. Analisa também a importân- cia da Escola Francesa da Regulação e dos neo-schumpeterianos ou evolucionários para o pensamento institucionalista. Palavras-chave:  economia institucional; institucionalismo; custos de transação THE CONCEPT OF INSTITUTION IN MODERN INSTITUTIONALIST APPROACHES ABSTRACT This paper seeks to show that a clearly defined though not always con- vergent theoretical core is shared by the various institutionalist approaches. What distinguis hes them is the definition of institution itself, which may denote not only behavioral norms but also institutional forms, organization patterns or even prop- * Este estudo contou com o apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (FAPERS).

Upload: luiz-alberto-dos-santos

Post on 01-Nov-2015

26 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

conceito de instituição

TRANSCRIPT

  • 119

    O CONCEITO DE INSTITUIONAS MODERNAS ABORDAGENS

    INSTITUCIONALISTAS

    Octavio A. C. Conceio*

    Faculdade de Cincias Econmicas, Universidade Federaldo Rio Grande do Sul

    Av. Joo Pessoa, 52, 3 andar, CEP 90040-600, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasile-mail: [email protected]

    RESUMO A multiplicidade de elementos que se abrigam sob a designao de insti-tuio exige preciso terica sobre o que se quer referir com tal termo. A necessida-de de inserir o conceito de instituio em seu respectivo contexto terico explicita aimportncia das abordagens institucionalistas, que, mesmo tendo seu eixo analticono referido conceito, abrigam diferentes enfoques, s vezes inconciliveis. Tais dife-renas tericas, conceituais e analticas no inviabilizam o vigor do pensamentoinstitucionalista, mas, pelo contrrio, o fortalecem, dado que a diversidade que otorna conceitualmente rico. O presente artigo discute alguns pontos do pensamen-to de Veblen, o corpo de conhecimento neo-institucionalista e a contribuio daNova Economia Institucional de Coase e Williamson. Analisa tambm a importn-cia da Escola Francesa da Regulao e dos neo-schumpeterianos ou evolucionriospara o pensamento institucionalista.

    Palavras-chave: economia institucional; institucionalismo; custos de transao

    THE CONCEPT OF INSTITUTION IN MODERN INSTITUTIONALIST

    APPROACHES

    ABSTRACT This paper seeks to show that a clearly defined though not always con-vergent theoretical core is shared by the various institutionalist approaches. Whatdistinguishes them is the definition of institution itself, which may denote not onlybehavioral norms but also institutional forms, organization patterns or even prop-

    * Este estudo contou com o apoio financeiro da Fundao de Amparo Pesquisa do Estado do RioGrande do Sul (FAPERS).

  • 120 R. Econ. contemp., Rio de Janeiro, 6(2): 119-146, jul./dez. 2002

    erty rights issues. Such differentiation, however, does not invalidate the theoreticalcontributions made by each different approach but rather points to the very sourceof richness in institutionalist thought, the relevance of which lies precisely in inter-action and diversity. The article discusses the characteristics of Veblens contribu-tion, the institutionalist body of knowledge and the contributions made by RonaldCoases and Oliver Williamsons New Economic Institution. It further discusses theimportance of the French school of regulation and of neo-Schumpeterians or evo-lutionists to institutionalist thought.

    Key words: institutional economics; institutionalism; transaction costs

  • 121Octavio A. C. Conceio O conceito de instituio nas modernas abordagens...

    Institutional economics has had much ferment

    and controversy. Institutionalist analysis

    emphasises the conflitual rather that the

    presumptively harmonious nature of

    socioeconomic processes.

    Warren Samuels (1995)

    INTRODUO

    As noes de paradigma tecnolgico, ciclos ou ondas longas explicitam a

    existncia de um arcabouo terico que contempla um glue entre o regime

    de acumulao ou padro tcnico da economia e seu ambiente social, pol-

    tico e institucional. Isto revela uma complexa articulao que permite so-

    ciedade crescer e acumular capital. Em todas as variantes que adotam esta

    perspectiva h um elemento comum: a importncia do ambiente institu-

    cional e das prprias instituies na configurao desse perfil.

    Como as instituies so fundamentais compreenso das diferentes

    trajetrias de crescimento econmico, tanto em nvel macro quanto mi-

    croeconmico, torna-se necessrio defini-las, o que no tarefa to fcil

    como aparenta. Tal definio complexa e, s vezes, ambgua: conforme o

    autor, h diferentes enfoques, o que nos remete s abordagens instituciona-

    listas e comparao entre elas. Desta empreitada se descobre um rico e

    complexo campo de pesquisa, envolvendo vrias escolas de pensamento,

    que, na essncia, vm pesquisando temas relativamente comuns, possibili-

    tando estabelecer campos de convergncia altamente promissores cincia

    econmica, cujo elemento articulador a prpria noo de instituio.

    Em geral, o iderio conceitual e metodolgico do pensamento institu-

    cionalista est mais prximo do campo analtico heterodoxo do que do

    mainstream neoclssico, visto que os princpios institucionalistas origina-

    ram-se a partir da oposio aos fundamentos de equilbrio, otimalidade e

    racionalidade substantiva. Qualquer abordagem analtica que se pretenda

    institucionalista deve incluir path dependency, reconhecer o carter diferen-

    ciado do processo de desenvolvimento econmico e pressupor que o am-

    biente econmico envolve disputas, antagonismos, conflitos e incertezas.

    Reconhece-se, portanto, que existe um ncleo terico definido e nem sem-

    pre convergente entre as diversas abordagens institucionalistas, revelando,

  • 122 R. Econ. contemp., Rio de Janeiro, 6(2): 119-146, jul./dez. 2002

    ao contrrio do que possa parecer, a prpria fonte de riqueza do pensamen-to institucionalista (Samuels, 1995).

    Este artigo discute os principais pontos do pensamento de Veblen, ocorpo de conhecimento institucionalista formulado pelos neo-institucio-nalistas e a contribuio da corrente seguidora de Ronald Coase e OliverWilliamson, que consagraram a Nova Economia Institucional (NEI). Ou-tras abordagens relevantes para o pensamento institucionalista so a Escola

    Francesa da Regulao e a escola evolucionria ou neo-schumpeteriana.

    1. O LEGADO DO ANTIGO INSTITUCIONALISMO DE VEBLEN

    O conceito de instituio em Veblen pode ser resumido como um conjuntode normas, valores e regras e sua evoluo. Tais fatores resultam de uma si-tuao presente que molda o futuro atravs de um processo seletivo e coer-citivo, orientado pela forma como os homens vem as coisas, o que alteraou fortalece seus pontos de vista. H, portanto, um forte vnculo entre as es-pecificidades histricas e a abordagem evolucionria.1 Esses aspectos suge-rem que a relao entre a atividade humana, as instituies e a natureza evo-lucionria do processo econmico definiria diferentes tipos de economia.

    O velho institucionalismo de Thorsten Veblen, John Commons e Wes-ley Mitchel desenvolveu uma linha analtica mais descritiva, deixando adescoberto algumas questes tericas. Por conta dessa omisso, tal linha depensamento pagou um pesado tributo, como o de ser qualificada, por im-portantes autores, como Schumpeter e Marshall, como uma pseudoteoria(Hodgson, 2000). Gunnar Myrdal (1953), por exemplo, qualificou o antigoinstitucionalismo americano como empiricismo ingnuo, apesar de o re-ferido autor empregar o conceito de processo de causao circular, cujaorigem est na concepo de Veblen.

    O que torna os institucionalistas evolucionrios a negao de pensar aeconomia em torno da noo de equilbrio ou ajustamento marginal, rei-terando a importncia do processo de mudana e transformao. A abor-dagem de Veblen centra-se em trs pontos: na inadequao da teoria neo-clssica em tratar as inovaes, supondo-as dadas, desconsiderando ascondies de sua implantao; na preocupao com a maneira como se d amudana e o conseqente crescimento, e no com o equilbrio estvel; e na

    nfase no processo de evoluo econmica e transformao tecnolgica.

  • 123Octavio A. C. Conceio O conceito de instituio nas modernas abordagens...

    A reiterada crtica ao pensamento neoclssico persiste pelo fato de o mes-

    mo ter por pressuposto uma falsa concepo da natureza humana. O indiv-

    duo equivocadamente visto em termos hedonsticos, sendo um ente so-

    cialmente passivo, inerte e imutvel (Veblen, 1919, p. 73). Tal hiptese,

    veementemente rejeitada por Veblen, estabelece como alternativa a tentati-

    va de construir uma teoria econmica evolucionria, em que instintos,

    hbitos e instituies exeram, na evoluo econmica, papel anlogo aos

    genes na biologia (Veblen, 1899, apud Hodgson, 1993, p. 17). Isto significa

    que linhas de ao habituais definem pontos de vista atravs dos quais os fa-

    tos e os eventos so percebidos. Como so as instituies sociais, a cultura e

    as rotinas que do origem a certas formas de seleo e compreenso dos da-

    dos, estabelece-se a partir da importante vnculo entre o pensamento evolu-

    cionrio e as concepes de Veblen sobre o papel das instituies.2

    O clssico artigo de Veblen Why is economics not an evolutionary

    science?, escrito em 1898, apesar de sugerir no ttulo o carter no-evo-

    lucionrio da economia, revela muita proximidade com o referido pensa-

    mento. J em 1919, Veblen salientava que a histria da vida econmica dos

    indivduos constitua-se em um processo cumulativo de adaptao dos

    meios aos fins, que, cumulativamente, modificava-se, enquanto o processo

    avanava. Isto implica reconhecer que Veblen adotou uma posio ps-

    darwiniana, enfatizando o carter de processo de causao to comum na

    concepo evolucionria. Veblen escreveu, em 1899, que a vida do homem

    em sociedade, assim como a vida de outras espcies, uma luta pela existn-

    cia e, conseqentemente, um processo de seleo adaptativa. A evoluo

    da estrutura social tem sido um processo de seleo natural de instituies

    (Veblen, 1899, apud Hodgson, 1993, p. 17). Esse processo de seleo ou

    coero institucional no implica que elas sejam imutveis ou rgidas. Pelo

    contrrio, as instituies mudam e, mesmo atravs de mudanas graduais,

    podem pressionar o sistema, por meio de exploses, conflitos e crises, le-

    vando a mudanas de atitudes e aes. Em qualquer sistema social h uma

    permanente tenso entre ruptura e regularidade, exigindo constante reava-

    liao de comportamentos rotinizados e decises volteis de outros agentes.

    Mesmo podendo persistir por longos perodos, as instituies esto igual-

    mente sujeitas a sbitas rupturas e conseqentes mudanas nas maneiras de

    pensar e nas aes, que so cumulativamente reforadas.

  • 124 R. Econ. contemp., Rio de Janeiro, 6(2): 119-146, jul./dez. 2002

    A complexidade das idias de Veblen o credencia a estar includo entre

    os grandes nomes do pensamento econmico, como Marx, Marshall e

    Schumpeter. Igualmente poderia faz-lo figurar entre os principais expoen-

    tes da economia evolucionria, uma vez que seu programa de pesquisa,

    assim como o de Schumpeter, procurava implicitamente explorar a aplica-

    o de idias da biologia s cincias econmicas. Isto, segundo Hodgson

    (1993), torna Veblen um evolucionrio, o que permite designar o pensa-

    mento institucionalista como institucionalismo evolucionrio.

    Neste sentido, Samuels (1995) afirma que o termo institucionalista

    usado sem prejudicar o termo evolucionrio,3 pois o que os une um cor-

    po de conhecimento comum, conforme ser visto no prximo item. O re-

    vigoramento do interesse em discusses de temas institucionalistas seguin-

    do a tradio dos velhos institucionalistas norte-americanos recolocou a

    necessidade de se aprofundarem algumas das noes propostas originaria-

    mente por Veblen. E foi tal objetivo de pesquisa que as abordagens neo-ins-

    titucionalistas propuseram-se desenvolver.

    2. A ABORDAGEM NEO-INSTITUCIONALISTA

    Aps hibernar por quase 40 anos, para utilizar expresso de Hodgson, o

    pensamento institucionalista ressurge no final dos anos 60, retomando seu

    vnculo com a antiga tradio norte-americana. Tal revigoramento se d,

    principalmente, atravs da Association for Evolutionary Economics (AFFE),

    responsvel pelo Journal of Economic Issues, que, sob a influncia de autores

    como Galbraith, Gruchy, seguidos de Hodgson, Ramstad, Rutherford, Sa-

    muels, Mark Tool, Stanfield e outros, constituiu a corrente neo-institucio-

    nalista. A idia de instituio nessa corrente semelhante de Veblen,

    Commons e Mitchell, deixando transparecer alguma discordncia em per-

    ceb-la apenas como a que estabelece as regras do jogo, como generica-

    mente o fazem alguns autores da NEI. Para os neo-institucionalistas, o con-

    ceito de instituio deve reportar-se a Veblen e Commons:

    Veblen defined an institution as a habit of thought common to the general-ity of men. Commons defined an institution as collective action in controland enlargement, or liberation, of individual action. The two definitions ap-pear at first glance to be in conflict but they are quite congruent and repre-

  • 125Octavio A. C. Conceio O conceito de instituio nas modernas abordagens...

    sent heuristic tools for analysis. Veblens definition stresses the cognitive as-pect of institutions, whereas Commons stresses the interpersonal or intere-lational aspect. (Samuels, 1995, p. 575)

    Hodgson (2000) apresenta uma outra definio, que complementa a an-

    terior, atualizando-a dentro dos novos enfoques econmicos:

    Institutions are durable systems of established and embedded social rulesthat structure social interactions. Language, money, systems of weights andmeasures, table manners, firms (and other organizations) are all institu-tions. In part, the durability of institutions stems from the fact that they canusefully create stable expectations of the behaviour of others. Generally in-stitutions enable ordered thought, expectation and action, by imposingform and consistency on human activities. They depend upon the thoughtsand activities of individuals but are not reducible to them.

    A abordagem neo-institucionalista resgata a importncia de conceitos

    centrais ao Antigo Institucionalismo Norte-americano e se alimenta do

    crescente vigor terico da tradio evolucionria. Alguns pressupostos defi-

    nem seu contedo.4 Por exemplo, Ray Marshall (1993) refere-se econo-

    mia institucional como a proposta por Wendell Gordon (1980), cujas idias

    podem ser agrupadas em quatro eixos: primeiro, a economia vista como

    um processo contnuo, que se ope s hipteses da economia ortodoxa,

    medida que a economia positiva no est relacionada a tempo, lugar e cir-

    cunstncias; segundo, as interaes entre instituies, tecnologia e valores

    so fundamentais; terceiro, a anlise econmica ortodoxa rejeitada por ser

    demasiadamente dedutiva, esttica e abstrata, constituindo-se mais em ce-

    lebrao das instituies econmicas dominantes do que em uma procura

    pela verdade e justia social; e quarto, os institucionalistas enfatizam aspec-

    tos ignorados por muitos economistas ortodoxos, como os trabalhos em-

    pricos e tericos de outras disciplinas, que conferem economia um car-

    ter multidisciplinar, ou seja, reconhecem a importncia de interesses e

    conflitos, a mudana tecnolgica e a inexistncia de uma constante (veloci-

    dade da luz, por exemplo) aplicvel vontade humana, o que torna difcil

    compreender a economia como uma teoria positiva (Marshall, 1993,

    p. 302). Portanto, importa economia institucionalista o processo histrico

    na formulao das idias e das polticas econmicas.

  • 126 R. Econ. contemp., Rio de Janeiro, 6(2): 119-146, jul./dez. 2002

    Warren Samuels v a economia institucional como uma alternativa no-

    marxista5 ao neoclassicismo do mainstream, caracterizada por uma varieda-

    de de abordagens, que podem ser aglutinadas segundo alguns pontos de

    confluncia. Para tanto, prope um paradigma institucionalista como

    forma de identificar os elementos e crenas comuns, que operam em nveis

    tericos e prticos semelhantes, sem, entretanto, deixar de distinguir as v-

    rias aplicaes especficas. O primeiro ponto desse paradigma o do papel

    do mercado como mecanismo guia da economia ou a concepo da eco-

    nomia enquanto organizada e orientada pelo mercado. Para os institucio-

    nalistas que questionam a escassez de recursos alocados entre usos

    alternativos pelo mercado , quem determina a real alocao em qualquer

    sociedade sua estrutura organizacional, em resumo, suas instituies, en-

    quanto o mercado apenas d cumprimento s instituies predominantes.

    O segundo ponto refere-se preocupao dos institucionalistas com a

    organizao e o controle da economia, que constitui um sistema mais

    abrangente e complexo do que o mercado. Isto implica reconhecer a impor-

    tncia de vrios aspectos, tais como: a distribuio de poder na sociedade; a

    forma de operao dos mercados (enquanto complexos institucionais em

    interao uns com os outros); a formao de conhecimento (ou o que leva

    ao conhecimento em um mundo de radical indeterminao sobre o futuro);

    e a determinao da alocao de recursos (nvel de renda agregada, distri-

    buio de renda, organizao e controle), onde a cultura geral tambm im-

    porta (Samuels, 1995, p. 571).

    O terceiro ponto que h nos institucionalistas vrias crticas ao neo-

    classicismo, embora Samuels (1995) julgue que exista uma certa comple-

    mentaridade entre ambas as escolas, com notveis contribuies dos lti-

    mos quanto ao funcionamento do mercado. Para os institucionalistas, a

    principal falha do pensamento neoclssico est no individualismo meto-

    dolgico, que consiste em tratar indivduos como independentes, auto-

    subsistentes, com suas preferncias dadas, enquanto que, em realidade, os

    indivduos so cultural e mutuamente interdependentes, o que implica ana-

    lisar o mercado do ponto de vista do coletivismo metodolgico. Mais ain-

    da, o conceito de mercado uma metfora para as instituies que formam,

    estruturam e operam atravs dele (Samuels, 1995, p. 572). Ao criticar a na-

    tureza esttica dos problemas e modelos neoclssicos, reafirmam a impor-

  • 127Octavio A. C. Conceio O conceito de instituio nas modernas abordagens...

    tncia de se resgatar a natureza dinmica e evolucionria da economia. Por-tanto, o paradigma institucionalista centra-se em trs dimenses: na cr-tica organizao e performance das economias de mercado, por se cons-titurem em mera abstrao; na gerao de um substancial corpo deconhecimento em uma variedade de tpicos; e no desenvolvimento de umapproach multidisciplinar para resolver problemas.

    O referido corpo de conhecimento institucionalista constitudo de oitoitens, que mais ou menos aglutinam as vrias abordagens institucionalistas.

    So eles: a nfase na evoluo social e econmica com orientao explicita-mente ativista das instituies sociais; o controle social e o exerccio da aocoletiva constituem a economia de mercado, que um sistema de controlesocial representado pelas instituies, as quais a conformam e a fazem ope-rar; a nfase na tecnologia como fora maior na transformao do sistemaeconmico; o determinante ltimo da alocao de recursos no o meca-nismo abstrato de mercado, mas as instituies, especialmente as estruturasde poder, que os estruturam; a teoria do valor dos institucionalistas nose preocupa com os preos relativos das mercadorias, mas com o processopelo qual os valores se incorporam e se projetam nas instituies, estruturase comportamentos sociais; a cultura tem um papel dual no processo dacausao cumulativa ou coevoluo, porque produto da contnua inter-dependncia entre indivduos e subgrupos; a estrutura de poder e as rela-es sociais geram uma estrutura marcada pela desigualdade e hierarquia,razo pela qual as instituies tendem a ser pluralistas ou democrticas emsuas orientaes; e os institucionalistas so holsticos, permitindo o recursoa outras disciplinas, o que torna seu objeto de estudo econmico, necessa-riamente, multidisciplinar.6

    Todas as abordagens, apesar das diferentes nuanas, aproximam-se do

    referido corpo de conhecimento, revelando um ponto em comum: a nega-o do funcionamento da economia como algo esttico, regulado pelo mer-cado na busca do equilbrio timo. Portanto, para o pensamento neo-insti-tucionalista, persistem srios antagonismos em relao ao neoclassicismo, oque no pode ser dito em relao aos tericos da NEI, para os quais h fortecomplementaridade entre sua respectiva concepo e aquela corrente. Essadivergncia distingue, talvez de maneira inconcilivel, o pensamento insti-tucionalista entre os dois referidos matizes: o neo-institucionalismo e a NEI,

    conforme se procurar discutir a seguir.

  • 128 R. Econ. contemp., Rio de Janeiro, 6(2): 119-146, jul./dez. 2002

    3. A NOVA ECONOMIA INSTITUCIONAL

    Desde meados dos anos 60 avanou, no meio acadmico, um grande inte-

    resse e a conseqente expanso de estudos na rea que ficou conhecida co-

    mo Nova Economia Institucional (NEI). Os principais autores que deram

    suporte a essa anlise foram Ronald Coase, Oliver Williamson e Douglass

    North. Para esses autores, as instituies, ao se constiturem em mecanis-

    mos de ao coletiva, teriam como fim dar ordem ao conflito e aumentar

    a eficincia.

    Commons , para a NEI, a principal referncia em relao ao antigo ins-

    titucionalismo. Para ele, a maior contribuio da economia institucional

    era a explicao da importncia da ao coletiva, cujo grau de cooperao

    exigido para se lograr eficincia surgia no de uma pressuposta harmonia de

    interesses, mas da inveno de instituies, que colocariam ordem no con-

    flito, entendendo-a como um conjunto de normas funcionais de ao co-

    letiva, onde a lei um caso especial (Commons, 1934, apud Williamson,

    1991a, p. 19). Sob esse enfoque, cabe destacar a definio de instituio pro-

    posta por Douglas North:

    Institutions are the humanly devised constraints that structure human in-teraction. They are made up of formal constraints (e.g. rules, laws, constitu-tions), informal constraints (e.g. norms of behaviour, conventions, self-im-posed codes of conduct), and their enforcement characteristics. Togetherthey define the incentive structure of societies and specially economies. (...)Institutions form the incentive structure of a society, and the political andeconomic institutions, in consequence, are the underlying, determinants ofeconomic performance. Time as it relates to economic and societal change isthe dimension in which the learning process of human beings shapes theway institutions evolve. (North, 1994, p. 359-360)

    Ao colocar as instituies no centro do processo de desenvolvimen-

    to ou evoluo da sociedade, North estabelece um elo de ligao das insti-

    tuies com a abordagem neoclssica cuja mediao feita pelo importante

    conceito de custos de transao de Coase (1960) e Williamson (1985). Na

    sua viso:

    Institutions and the technology employed determine the transaction andtransformation costs that add up to the costs of production. It was RonaldCoase (1960) who made the crucial connection between institutions, trans-

  • 129Octavio A. C. Conceio O conceito de instituio nas modernas abordagens...

    action costs, and neoclassical theory. The neoclassical result of efficient mar-kets only obtains when it is costless to transact. Only under the conditions ofcostless bargaining will the actors reach the solution that maximizes aggre-gate income regardless of the institutional arrangements. When it is costly totransact, then institutions matter. (North, 1994, p. 360)

    A NEI preocupa-se, fundamentalmente, com aspectos microeconmi-

    cos, dando nfase teoria da firma em uma abordagem no convencional,

    mesclada com histria econmica, economia dos direitos de propriedade,

    sistemas comparativos, economia do trabalho e organizao industrial. To-

    dos os autores reunidos enfatizam um ou outro destes aspectos.7 Em linhas

    gerais, esses estudos pretendem superar a microteoria convencional, cen-

    trando sua anlise nas transaes.8 A nfase em aspectos microeconmi-

    cos destaque em suas anlises, porm as noes de mercados e hierarquias

    (Dosi, 1995; Williamson, 1995) sofrem profunda redefinio relativamente

    abordagem neoclssica tradicional. Tal fato os distingue dos neoclssicos,

    muito embora eles prprios justifiquem sua permanncia na referida esco-

    la. Dentre suas preocupaes estruturais figuram uma compreenso relati-

    vamente maior com as origens e funes das diversas estruturas da empresa

    e do mercado, incorporando desde pequenos grupos de trabalho at com-

    plexas corporaes modernas. Trs hipteses de trabalho aglutinam o pen-

    samento da NEI: em primeiro lugar, as transaes e os custos a ela associa-

    dos definem diferentes modos institucionais de organizao; em segundo

    lugar, a tecnologia, embora se constitua em aspecto fundamental da organi-

    zao da firma, no um fator determinante da mesma; e, em terceiro lu-

    gar, as falhas de mercado so centrais anlise (Williamson, 1991a,

    p. 18), o que confere importncia s hierarquias no referido marco con-

    ceitual.

    O antigo institucionalista norte-americano John R. Commons , para os

    tericos da economia dos custos de transao, um de seus fundadores.9 Ao

    fundar a tradio institucionalista, tratou de explorar aspectos novos em-

    pregando uma linguagem quase-judicial, cuja unidade de investigao era a

    transao. Alm disso, via o conflito como algo natural, em face da existn-

    cia permanente de escassez na vida econmica.

    Ronald Coase, em seu artigo clssico de 1937, comea a estudar a empre-

    sa sob um enfoque alternativo ao convencional. Segundo ele, os estudos at

  • 130 R. Econ. contemp., Rio de Janeiro, 6(2): 119-146, jul./dez. 2002

    ento existentes sobre as empresas e os mercados preocupavam-se no em

    estabelecer princpios fundamentais de anlise fato que ele procurou rea-

    lizar , mas em elaborar anlises, de maneira arbitrria, sem quaisquer

    contedos tericos mais profundos. Seu artigo trata de dois pontos funda-

    mentais: primeiro, no a tecnologia, mas as transaes e seus respectivos

    custos que constituem o objeto central da anlise; e, segundo, a incerteza e,

    de maneira implcita, a racionalidade limitada constituem-se em elemen-

    tos-chave na anlise dos custos de transao. Portanto, a empresa teria co-

    mo funo economizar os custos de transao, o que se daria de duas ma-

    neiras: atravs do mecanismo de preos, que possibilitaria empresa

    escolher os mais adequados em suas transaes com o mercado, gerando

    economia de custos de transao; e substituindo um contrato incompleto

    por vrios contratos completos, uma vez que seria de se supor que contratos

    incompletos elevariam os custos de negociao.

    Williamson salienta que Coase no aborda com a devida profundidade

    os aspectos internos da organizao, mas supera analiticamente a nfase no

    papel do mercado, o que constituiu um notvel avano para a poca. O con-

    ceito de custos de transao est intimamente associado racionalidade li-

    mitada e ao oportunismo, ambos inerentes organizao econmica e

    pressupondo a existncia de falhas de mercado. Portanto, a nfase nos as-

    pectos internos da firma, as noes de mercados e hierarquias e a presen-

    a de falhas de mercado constituem o campo de anlise da NEI. Saliente-se

    que o surgimento das referidas falhas de mercado resultante no da incer-

    teza, mas da reunio da racionalidade limitada com o oportunismo.10

    Como as transaes so fundamentais ao comportamento das empresas

    (Coase, 1972 apud Williamson, 1991b), elas tambm afetam a organizao

    interna das empresas, influindo em sua estrutura hierrquica e na forma

    como as atividades internas se decompem em partes operativas. Isto esta-

    belece a fuso da estrutura organizacional interna com a estrutura de mer-

    cado, o que permite explicar a conduta e o desempenho nos mercados in-

    dustriais e as subdivises da derivadas.11 Como todo o esquema de

    funcionamento da organizao econmica baseia-se na transao, que o

    seu objetivo central, deriva-se da a seguinte proposio bsica: assim como

    a estrutura de mercado importante para avaliar a eficcia do comrcio em

    atividades mercantis, a estrutura interna til para avaliar a organizao

  • 131Octavio A. C. Conceio O conceito de instituio nas modernas abordagens...

    interna. Portanto, fatores ambientais conjugam-se com fatores huma-

    nos para, dentro do enfoque de mercados e hierarquias, explicar quo cus-

    toso elaborar um contrato, coloc-lo em execuo e fazer respeitar suas

    complexas condies. Tais dificuldades, aliadas ao risco de se enfrentarem

    contratos incompletos, sob diversas condies no previsveis, podem fazer

    com que a empresa decida evitar o mercado e recorrer a modelos hierrqui-

    cos de organizao. H, portanto, uma conexo entre os trs conceitos fun-

    damentais da NEI: racionalidade limitada12 e oportunismo so hipteses de

    comportamento que justificam a existncia de custos de transao.

    O oportunismo manifesta-se na fraqueza da prpria razo e consiste na

    busca do auto-interesse com astcia.13 Relacionando oportunismo com a

    organizao interna da firma, observa-se que ele se manifesta atravs da fal-

    ta de sinceridade e honestidade nas transaes. Nos casos em que h rela-

    es de intercmbio altamente competitivas, as tendncias oportunistas

    apresentam pouco risco; em outros casos, muitas transaes que, no incio,

    envolviam licitadores qualificados tornam-se, ao longo do processo de exe-

    cuo do contrato e antes de sua respectiva renovao , custosas e ar-

    riscadas, quando a elas se une o oportunismo (Williamson, 1991a, p. 26).

    A combinao de racionalidade limitada e incerteza adicionada, em segun-

    da instncia, ao oportunismo somado s idiossincrasias origina a organiza-

    o interna da firma.

    Portanto, a economia dos custos de transao e a organizao indus-

    trial definem o ambiente institucional e, conseqentemente, as institui-

    es que orienta o processo de tomada de decises, em um meio per-

    meado por incerteza, racionalidade limitada e oportunismo,14 com vistas

    reduo dos custos de transao.

    Como normalmente acontece com conceitos centrais, como o de custos

    de transao, h uma tendncia a torn-lo tautolgico, j que, ao procurar

    explicar tudo, acaba no explicando nada. A tradio institucionalista se-

    guidora de Coase v os custos de transao, geralmente menos percept-

    veis e de menor facilidade de identificao do que os custos de produo,

    como importante fator de tomada de deciso das empresas. comum afir-

    mar-se que os custos totais so compostos de dois elementos: custos de pro-

    duo, de um lado, e custos de transao, de outro. As anlises convencio-

    nais centram-se apenas nos primeiros, desconsiderando os ltimos, j que

  • 132 R. Econ. contemp., Rio de Janeiro, 6(2): 119-146, jul./dez. 2002

    so formados em ambientes institucionais variados e heterogneos. Isto re-

    vela a importncia das questes levantadas por Coase (tais como: por que a

    firma existe?; por que as organizaes importam?; se os mercados fossem

    to eficientes, teria sentido haver instituies e/ou organizaes?). Como a

    operao de um mercado custa alguma coisa (Coase, 1937, p. 40), ento im-

    porta o contedo terico da NEI.

    comum surgir na literatura a fico de um custo de transao zero,

    como uma situao ideal a ser perseguida na atividade econmica. Entre-

    tanto, o sistema no comporta esta possibilidade e est irremediavelmente

    sujeito incidncia de custos de transao positivos. O fundamental no

    discutir a existncia desses fatores, mas sim estabelecer como e por que os

    custos de transao variam conforme os diferentes modos de organizao.

    Isto implica considerar os seguintes aspectos: a transao a unidade bsica

    de anlise; as transaes diferem quanto freqncia, incerteza e, especial-

    mente, especificidade dos ativos; cada forma genrica de governana

    (mercado, hbrido, agncia privada ou agncia pblica) definida por uma

    sndrome de atributos, em que cada uma revela discretas diferenas estrutu-

    rais, tanto de custo quanto de concorrncia; cada forma genrica de go-

    vernana sustentada por uma maneira distinta de contrato legal; as transa-

    es, que diferem em seus atributos, esto alinhadas conforme as estruturas

    de governana, que tambm diferem em custos e competncias; o meio am-

    biente institucional (instituies polticas e legais, leis, costumes, normas)

    o locus da mudana de parmetros que provocam alteraes nos custos de

    governana; e a economia dos custos de transao, sempre e em qualquer

    lugar, um exerccio de anlise comparativa institucional em que as com-

    paraes relevantes se do entre alternativas factveis, razo pela qual idias

    hipotticas so operacionalmente irrelevantes (Williamson, 1995, p. 27).15

    Dentre os crticos anlise de Williamson inclui-se Pitelis (1998), que

    afirma que o referido autor centra sua anlise na comparao de formas di-

    ferenciadas de organizao capitalista, sem ter propriamente uma clara de-

    finio do termo. J Zysman (1994, p. 274) afirma que Williamson constri

    uma microeconomia organizacional (da anlise do custo de transao) que

    coloca os agentes, no caso indivduos, buscando arranjar suas transaes da

    maneira mais eficiente. Nesta noo est implcito que a nica razo pela

    qual as naes industrializadas avanadas tm sistemas econmicos de mer-

  • 133Octavio A. C. Conceio O conceito de instituio nas modernas abordagens...

    cado, com firmas de mais de uma pessoa, a tentativa de reduzir os altos

    custos de transao, que so criados por trs foras: especificidade dos ati-

    vos, racionalidade limitada e oportunismo. Assim, para a NEI, a gerao da

    ao coletiva e a estruturao de arranjos contratuais apropriados para mi-

    nimizar custos de transao orientariam o comportamento e a definio das

    prprias instituies. Apesar da pertinncia dessas crticas, inegvel reco-

    nhecer o avano obtido no campo de pesquisa da NEI no tratamento terico

    dado s firmas e organizaes, superando enormemente os limites da anli-

    se convencional.

    4. OUTRAS ABORDAGENS PRXIMAS DOS INSTITUCIONALISTAS

    Conforme salientam autores como Boyer, Dosi, Samuels e Hodgson, h

    proximidade terica entre os antigos e os novos institucionalistas, bem co-

    mo certa afinidade com abordagens que no se denominam propriamente

    institucionalistas. o caso da Escola Francesa de Regulao e dos evolucio-

    nrios, que tm notveis pontos em comum com os institucionalistas, prin-

    cipalmente no sentido de constiturem uma teoria alternativa ao mains-

    tream neoclssico.

    4.1 A Teoria da Regulao

    O conceito de instituio nos regulacionistas subjacente ao conflito e

    violncia, ambos inerentes relao entre os homens. A necessidade de me-

    diar tais processos d origem ao conceito de instituio social que sustenta

    os termos do conflito, sob o imprio da violncia imediata e sob a corrosiva

    incerteza, que o antagonismo esconde (Aglietta, 1976, p. vii).16 Como as

    instituies constituem formas de mediao entre conflitos e antagonismos

    e sua normalizao, em termos de normas e regras, so dotadas de certa so-

    berania que lhes permite promulgar normas e elaborar referncias conven-

    cionais que transformam os antagonismos em diferenciaes sociais dota-

    das de uma estabilidade mais ou menos slida. esse papel que assegura a

    reproduo do sistema de maneira relativamente duradoura ou regulada.

    Como qualquer regulao pressupe um suporte institucional compatvel,

    Boyer props a definio de formas institucionais de estrutura.

    A proposta terica da Escola de Regulao nasceu do livro de Michael

    Aglietta (1976), como um campo de pesquisa bem delimitado, caracteriza-

  • 134 R. Econ. contemp., Rio de Janeiro, 6(2): 119-146, jul./dez. 2002

    do pela oposio s concepes de racionalidade substantiva do pensamen-

    to neoclssico, e, ao mesmo tempo, filiado ao pensamento de Marx. Neste

    sentido, as relaes sociais devem ser entendidas como atributos irredut-

    veis associados rivalidade, ao antagonismo e violncia, explicitando que

    a proposio terica e metodolgica da regulao confronta-se com a rigi-

    dez da teoria do sujeito racional e do equilbrio. A teoria da regulao do

    capitalismo a da gnese, do desenvolvimento e do desaparecimento das

    formas sociais, sem a preocupao de ressaltar uma finalidade a esse movi-

    mento (Aglietta, 1976, p. vi).

    H trs princpios metodolgicos na Escola da Regulao. O primeiro

    que os processos que fazem com que os antagonismos sociais se tornem for-

    mas de movimento originam-se de fortes polarizaes de conflitos. A exa-

    cerbao dessas polarizaes confere uma certa unanimidade ao processo,

    provocando sua exteriorizao. O segundo princpio da anlise sua lgica

    ambivalente oriunda da interao entre economia e poltica, que explicita

    ainda mais a funo das instituies sociais enquanto articuladoras entre o

    poltico e o econmico, em um meio ambiente conflitivo. O terceiro princ-

    pio metodolgico refere-se relao Estado-economia, que enuncia o Esta-

    do no como um sujeito exterior economia, nem como um conjunto de

    instrumentos disposio de uma classe social, mas como produto dos

    conflitos inerentes s separaes sociais, cuja regulao aberta, parcial e

    inacabada.17 Portanto, as instituies se constituem em inovaes sociais

    que regulam e normatizam a novidade, dando sustentao ao sistema.

    A perspectiva da regulao no concebe uma teoria das instituies, mas

    orienta sua anlise para o estudo das duas separaes da sociedade capita-

    lista: a relao salarial e a forma da concorrncia. Boyer (1990, p. 37) pro-

    ps-se consolidar o plano terico desta abordagem, reafirmando que as

    anlises em termos de regulao tambm dedicam uma ateno especial s

    formas assumidas pelas relaes sociais fundamentais num dado momento

    histrico ou numa dada sociedade, cuja importncia dada pelo conceito

    de forma estrutural ou institucional.18 Boyer distingue trs nveis para se

    compreender o processo de regulao: a noo de regime de acumulao, as

    formas institucionais e o modo de regulao. O regime de acumulao a

    instncia mais agregada das regularidades do sistema, ao passo que o modo

    de regulao a mais desagregada, pois sanciona as normas e regras de

  • 135Octavio A. C. Conceio O conceito de instituio nas modernas abordagens...

    conduta dos indivduos. Entre uma instncia e outra, tem-se uma noo in-

    termediria, composta pelas formas institucionais. Ou seja, as configura-es especficas que cada regime de acumulao pode seguir, conforme asrelaes sociais e particulares de cada pas, exigem uma instncia capaz decapt-las e traduzi-las para o comportamento coletivo. Tal o papel das for-

    mas institucionais (ou estruturais) que tm o objetivo de elucidar a origemdas regularidades que direcionam a reproduo econmica ao longo de umperodo histrico dado. Elas viabilizam tambm a interao entre a proble-mtica da acumulao e as relaes sociais, podendo, portanto, ser defini-das como a codificao de uma ou vrias relaes sociais fundamentais.Desta maneira, as formas institucionais asseguram o aparecimento de for-mas sociais compatveis com o modo de produo dominante. Esta noovisa substituir a teoria da deciso individual e o conceito de equilbrio geralcomo ponto de partida para o estudo dos fenmenos macroeconmicos(Boyer, 1990, p. 80).

    Villeval (1995) compara as vrias abordagens institucionalistas, questio-nando a possibilidade de formular uma nica Teoria das Instituies. Aoconcluir pela impossibilidade de unificao, reitera que os vrios programasde pesquisa institucionalista rumam para uma linha de confluncia. Agrupatais linhas em seis, a saber: o Antigo Institucionalismo Norte-Americano, osNeo-Institucionalistas, a Nova Economia Institucional, a Nova EconomiaIndustrial, os Austracos e a Teoria da Regulao. Da comparao entre osreferidos grupos fica claro que existe um dilogo mais prximo entre a Teo-ria da Regulao e as abordagens heterodoxas, como o Antigo Institucio-nalismo e os Neo-Institucionalistas. Todos enfatizam a anlise da dinmica

    do capitalismo (atravs da montagem das instituies de carter coletivo),da moeda (medida artificial e institucional da escassez, segundo Com-mons), das formas de empresa e da relao salarial. Para Villeval, a Teoriada Regulao e o Antigo Institucionalismo repousam em uma filosofiapragmatista, uma perspectiva holista, histrica e evolucionista (op. cit.,p. 487). Alm do possvel e necessrio dilogo dos regulacionistas com osinstitucionalistas heterodoxos, h tambm um campo de pesquisa comum Economia das Convenes. Isto porque a forma como emergem as conven-es pode desenvolver reflexes conjuntas sobre princpios de ao, estrat-gias das instituies e a nfase em instituies informais, que so muito

    pouco estudadas pelos regulacionistas.

  • 136 R. Econ. contemp., Rio de Janeiro, 6(2): 119-146, jul./dez. 2002

    A concluso que se extrai da avaliao conjunta das abordagens aqui dis-

    cutidas que h um amplo campo de pesquisa, ainda em aberto, que vem

    permitindo esboar uma incipiente Teoria das Instituies. Boyer, em Vers

    une thorie originale des institutions conomiques? (apud Boyer et Saillard,

    1995, p. 530), aponta a necessidade de um aprofundamento terico nesta li-

    nha de pesquisa, donde uma anlise de tempo real da crise atual pleiteia

    uma contribuio mais firme teoria da dinmica das instituies econ-

    micas. Enquanto no fordismo havia a preocupao com a precisa codifica-

    o da relao salarial, nos anos 90, a preocupao deslocou-se para as

    finanas, pois so elas que governam a dinmica das novas formas insti-

    tucionais. O novo a ser analisado exige a incorporao dos aspectos finan-

    ceiros (integrados) s inovaes tecnolgicas. Esse aspecto sugere uma cres-

    cente proximidade terica da regulao com a abordagem ps-keynesiana.

    Outra vertente exploratria da Teoria da Regulao avanar na formula-

    o do conceito de sistema social de produo, proposto por Boyer e Hol-

    lingsworth (1997), que estabeleceram novas relaes centradas no conceito

    de embedded institutions.

    4.2 As instituies e os evolucionrios

    O recente revigoramento do interesse em se estudar as instituies visto

    por Nelson (1995) como um embate entre duas posies. De um lado, h os

    economistas que explicam as diferenas entre naes como resultado de

    suas instituies, que Hodgson (1993) designa de velhos institucionalis-

    tas. Suas pesquisas, em geral, so de carter emprico e apreciativo, cujo

    empirismo atualmente tem avanado para alguma formalizao. De outro

    lado, h os que associam instituies ao desenvolvimento terico da Teoria

    dos Jogos, definindo-as como solues particulares de jogos com equil-

    brio mltiplo de Nash. Para esses estudiosos, cujos estudos avanaram ao

    longo dos ltimos quinze anos, o padro de comportamento associado a

    um equilbrio visto como institucionalizado (Nelson, 1995, p. 80).

    Fundamentalmente, o que distingue as vrias abordagens instituciona-

    listas a prpria definio de instituio. O termo encobre uma grande va-

    riedade de coisas que vo desde normas, leis, comportamentos at organiza-

    es, firmas e o prprio mercado. A velha tradio define instituio para

    referir-se ao que os tericos da evoluo cultural chamam de cultura, ou

  • 137Octavio A. C. Conceio O conceito de instituio nas modernas abordagens...

    aos aspectos da cultura que afetam a ao humana e organizacional. Sob

    esta perspectiva, as instituies referem-se complexidade de valores,

    normas, crenas, significados, smbolos, costumes e padres socialmente

    aprendidos e compartilhados, que delineiam o elenco de comportamento

    esperado e aceito em um contexto particular. Esta viso de instituies est

    viva e bem viva na moderna sociologia (Nelson, 1995, p. 80). A NEI adota

    uma definio prxima Teoria dos Jogos, tendo Douglass North (1991)

    sugerido que as instituies so as regras do jogo, pois dadas as motiva-

    es dos indivduos, as organizaes, a tecnologia e outras restries, (...)

    as regras do jogo determinam como e por que ele jogado desta forma

    (Nelson, 1995, p. 81). Uma terceira definio de natureza mais histrica as-

    socia instituies a fatos mais concretos, como a forma da moderna cor-

    porao, o tipo de pesquisa nas universidades, o sistema financeiro, o tipo

    de moeda, o sistema jurdico etc. Neste sentido, o termo instituio refe-

    re-se a estruturas particulares e corpos de lei como o GATT, que define um

    tipo de ordem pblica (Nelson, 1995, p. 81).

    A definio de instituio gera inquietao, tanto pela sua amplitude e

    abrangncia na formulao dos velhos institucionalistas quanto pela sua

    interpretao como equilbrio de um jogo. Da a sugesto de defini-la

    como resultado de um processo evolucionrio (Nelson, 1995, p. 81). Ou

    seja, a instituio s tem sentido em um processo evolucionrio, porque a

    enorme diversidade de coisas que se abrigam sob tal designao exige refe-

    rncia a uma teoria de evoluo institucional19 de forma a constituir um

    processo de maneira plural, j que diferentes formas de instituio evo-

    luem de maneiras diferentes (Nelson, 1995, p. 82). O avano dramtico

    das naes industrializadas e o enorme progresso da decorrente so reco-

    nhecidamente atribudos ao desenvolvimento das novas tecnologias, mas

    inegvel que as estruturas institucionais tornaram-nas capazes de operar

    de maneira economicamente eficaz. Isto no implica interpretar as ins-

    tituies como mecanismos de otimizao de eficincia alocativa, mas

    entend-las como parte de um processo dinmico, contnuo e relativa-

    mente incerto, indissocivel de mudanas tecnolgicas e sociais. Neste sen-

    tido, (...) absurdo afirmar que o processo de evoluo institucional oti-

    miza: a prpria noo de otimizao pode ser incoerente em um conjunto

    onde a gama de possibilidades no bem definida. Entretanto, parece ha-

  • 138 R. Econ. contemp., Rio de Janeiro, 6(2): 119-146, jul./dez. 2002

    ver foras que param ou fazem rodar para certas direes a evoluo insti-

    tucional (Nelson, 1995, p. 83). Como o termo instituio definido de

    forma ampla e vaga, deve-se, antes de compreender como as instituies

    evoluem, desembrulhar e desagregar radicalmente tal conceito. A difi-

    culdade em realizar tal tarefa sinaliza os limites do poder da teoria econ-

    mica em compreender um conjunto de processos to complexos, como o

    do crescimento econmico.

    O pensamento evolucionrio muniu o institucionalismo de poderoso

    instrumental terico e analtico compreenso do complexo processo de

    mudana tecnolgica, que tem nas instituies um importante, mas no

    decisivo, fator de sustentao. Para Nelson (1995), a importncia do pro-

    cesso de mudana tecnolgica e institucional exige uma forma de teorizao

    diferente da realizada pela abordagem tradicional. A maioria dos economis-

    tas tem dificuldade em teorizar em situaes econmicas que envolvam ele-

    mentos de novidade como o avano tecnolgico e as novas formas de

    ao dele decorrentes. Para esses economistas, pensar fora do equilbrio

    deixa de ser objeto de elaborao de teoria, implicando o abandono da ele-

    gncia nos modelos de equilbrio geral, designando qualquer teoria que

    no parta de seus cnones como uma espcie de no-teoria.

    Sugere, desde a obra conjunta com Winter, de 1982, uma racionalizao

    da anlise econmica em duas propostas de naturezas diferentes, mas no

    necessariamente antagnicas: uma descrever e explicar, em um contexto

    onde importante ser sensitivo com os detalhes; outra, bem diferente,

    teorizar (op. cit., p. 49). A diferena entre ambas as concepes no se mani-

    festa na oposio entre no-fazer e fazer teoria, mas em fazer dois tipos de

    teoria. Para os evolucionrios, a linguagem do desenvolvimento ou da evo-

    luo no acredita que as noes de otimizao e equilbrio possam ex-

    plicar convenientemente os fenmenos, uma vez que o processo de evolu-

    o , por definio, fortemente path dependent e no comporta uma nica

    situao de equilbrio. Da o seu carter no-ortodoxo.

    As teorias evolucionrias do desenvolvimento econmico contm pelo

    menos trs componentes: path dependence, retornos crescentes dinmicos e

    a interao entre ambos. Nesses modelos, as firmas, no longo prazo, sobre-

    vivem influenciadas por eventos randmicos, que provocam especializao

    em tipos particulares de tecnologias, tambm resultantes de eventos ran-

  • 139Octavio A. C. Conceio O conceito de instituio nas modernas abordagens...

    dmicos preliminares. Portanto, as opes tecnolgicas desenvolvidas pelas

    firmas so tambm frutos de opes relativamente aleatrias, decididas em

    perodos anteriores.

    Em todas as teorias evolucionrias de mudana econmica as inovaes

    assumem o papel de porta de entrada das mutaes e elemento desenca-

    deador de mudanas, explicitando seu carter neo-schumpeteriano. Alm

    disso, o processo evolucionrio deve contemplar certas noes inexisten-

    tes nas teorias de mudanas de carter determinstico, tais como a presena

    de elementos randmicos, de elementos sistmicos e de elementos inerciais,

    que introduzem no sistema a possibilidade de mudanas permanentes, e

    conseqente adaptao dos mais hbeis ao referido processo.

    Neste sentido, h, para os evolucionrios, forte inter-relao entre de-

    senvolvimento, crescimento, inovao tecnolgica e aparato institucional,

    evidenciando que tais conceitos no podem ser compreendidos isolada-

    mente. Se para eles, de um lado, as instituies no se constituem em unida-

    de central de anlise como o fazem as abordagens institucionalistas ,

    de outro, so elementos indissociveis do processo dinmico de crescimen-

    to e mudana tecnolgica. Tal vinculao permite a conformao de uma

    trajetria natural (Nelson e Winter) ou paradigma tecnolgico (Dosi)

    ou ainda paradigma tecno-econmico (Freeman-Perez).20 A evoluo de

    instituies relevantes para certa tecnologia ou indstria revela uma com-

    plexa interao entre aes privadas de firmas em competio, associaes

    industriais, rgos tcnicos, universidades, agncias governamentais, apa-

    relho jurdico etc. A forma de evoluo dessas instituies, em conjunto, in-

    fluencia a natureza e a organizao das firmas, explicitando o carter dife-

    renciado e histrico dos vrios padres de desenvolvimento.

    5. CONSIDERAES FINAIS

    O que se procurou demonstrar neste texto que h um rico campo de pes-

    quisa em economia institucional, o qual deve ser comparado a partir do

    prprio conceito de instituio, que assume diferentes matizes. Apesar da

    existncia de divergncias entre as abordagens tais como a maior ou me-

    nor nfase no processo de mudana, na crtica ao pensamento neoclssico e

    na importncia do processo histrico , parece que o trao mais caracters-

  • 140 R. Econ. contemp., Rio de Janeiro, 6(2): 119-146, jul./dez. 2002

    tico da diferenciao entre as respectivas escolas a importncia do confli-

    to, como algo inerente atividade humana. Neste sentido, o Antigo Institu-

    cionalismo Norte-Americano, os Neo-Institucionalistas e os regulacionistas

    do mais importncia a esse aspecto do que os evolucionrios e a Nova Eco-

    nomia Institucional. Estes ltimos enfatizam mais diretamente o papel das

    firmas e organizaes no processo de atividade econmica.

    No que diz respeito possibilidade de se estabelecer certa unificao en-

    tre as abordagens institucionalistas aqui discutidas, observa-se que tal meta

    dificilmente poder ser alcanada. O campo analtico Neo-Institucionalista

    o que mais se aproxima do iderio do antigo ou velho institucionalismo de

    Veblen, e vem estabelecendo crescentes vnculos com o pensamento evolu-

    cionrio de Nelson, apesar de no demonstrar grandes avanos no sentido

    da constituio de um corpo terico prprio. J os avanos tericos obtidos

    no campo de pesquisa da NEI, se, de um lado, distanciam essa abordagem

    das proposies originrias do Antigo Institucionalismo, de outro, consti-

    tuem um frtil campo terico, com amplas e promissoras aplicaes no m-

    bito da teoria da firma e das organizaes econmicas. Por sua vez, os re-

    gulacionistas parecem estar mais voltados incorporao do processo de

    mudana, que afetou irreversivelmente as formas institucionais vigentes no

    fordismo, o que, no plano terico, aproximou-os dos neo-schumpeteria-

    nos, principalmente no que tange ao aprofundamento do conceito de sis-

    tema nacional de inovao e suas variantes. Alm disso, a nfase na neces-

    sidade de incorporao dos aspectos financeiros, que impe um certo

    padro de violncia da moeda, aponta para uma convergncia dos regula-

    cionistas com os aportes ps-keynesianos. Entretanto, tal aspecto tambm

    revela que a referida escola pouco avanou no tratamento microeconmico

    das firmas. J a contribuio neo-schumpeteriana providenciou tanto uma

    teoria da mudana e inovao tecnolgica quanto uma nova teoria microe-

    conmica da firma, estabelecendo amplas referncias com o ambiente ins-

    titucional. Este fato explicitou uma importante e decisiva fonte de interao

    com as modernas verses institucionalistas, de tal forma que conceb-las

    sem incorporar referncias aos atuais avanos do pensamento evolucion-

    rio esvazi-las de novos aportes tericos.

    Tais constataes, longe de tencionar esgotar esta discusso, apenas rei-

    teram que a diversidade e a variedade de abordagens institucionalistas cons-

  • 141Octavio A. C. Conceio O conceito de instituio nas modernas abordagens...

    tituem no uma ausncia de objetivo terico, mas sua prpria fonte de ri-

    queza, que no necessariamente eleger, no presente, a supremacia de uma

    nica teoria econmica das instituies.

    NOTAS

    1. Hodgson (1998a, p. 168) afirma: The core ideas of institutionalism concern institu-

    tions, habits, rules, and their evolution. However, institutionalism do not attempt to

    build a single, general model on the basis of those ideas. Instead, these ideas facilitate a

    strong impetus toward specific and historically located approaches to analysis. (...) The

    institutionalist approach moves from general ideas concerning human agency, institu-

    tions, and the evolutionary nature of economic processes to specific ideas and theories,

    related to specific economic institutions or types of economy. Accordingly, there are

    multiple levels, and types, of analysis. Nevertheless, the different levels must be linked

    together. A crucial point here is that the concepts of habit and of an institution help to

    provide the link between the specific and the general.

    2. A idia de que rotinas nas firmas agem como genes foi desenvolvida por Nelson e Win-

    ter (1982). Apesar de no se auto-referenciarem como institucionalistas, os evolucio-

    nrios analiticamente compatibilizam-se mais com o velho institucionalismo do que

    com o novo (Hodgson, 1993, p. 17).

    3. O termo economia institucional usado sem prejuzo ao de economia evolucio-

    nria, pois ambos so unidos por um campo de pesquisa comum. Segundo Samuels

    (1995, p. 576-577): (...) all have an interest in topics that are institutionalist in subs-

    tance and have no particular interest in contributing to the neoclassical paradigm. Some

    are specialists in particular areas of study, such as evolutionary analysis, organisation

    theory, and technology. These subjects require, as they see it, modes and methods of

    analysis often quite different from, though not necessarily totally in conflict with, neo-

    classical approaches to their subject. These modes and methods of analysis are more

    congruent with those of the US institutionalists, although they sometimes use tools and

    concepts originally developed by neoclassicists, such as transaction costs.

    4. Para Samuels (1995, p. 575), h no pensamento institucionalista (...) objection to the

    mechanistic quest by neoclassicists for static determinate optimum equilibrium results.

    For the institutionalists the economic system not only comprises more than the market,

    it is an ongoing cultural process with elements which coevolve through complex

    cumulative processes of cumulative causation.

    5. Para Samuels (1995, p. 570), [s]ome institutionalists consider their approach to be

    mutually exclusive with neoclassicism, whereas others, including this writer, consider

    institutionalism and neoclassicism to be supplementary. Some institutionalists consider

    their approach to be mutually exclusive with Marxism, whereas others, including this

    writer, consider institucionalism and Marxism as having significant areas of overlap.

    There has been considerable diversity within institutional economics. Such heterogene-

    ity is not pathological. It is a sign of richness and ferment.

  • 142 R. Econ. contemp., Rio de Janeiro, 6(2): 119-146, jul./dez. 2002

    6. Uma discusso mais detalhada desses pontos sugeridos em Samuels (1995) realizada

    em Conceio (2000 e 2000a).

    7. Para Williamson (1991a, p. 17), os estudos que tratam de forma mais direta ou indireta

    da NEI so os de Alchian & Demsetz (1972, 1973), Arrow (1969, 1974), Davis & North

    (1971), Doeringer & Piore (1971), Kornai (1971), Nelson & Winter (1973) e Ward

    (1971), e Williamson (1971, 1973).

    8. Williamson (1991a, p. 17) observa que: [l]os puntos comunes que vinculan estos di-

    versos estudios son: (1) un consenso evolutivo en cuanto a que la microteoria convenci-

    onal, tan til y poderosa para muchos propsitos, opera en un nivel de abstraccin de-

    masiado alto para permitir que muchos fenmenos microeconmicos importantes se

    aborden de manera expedita; (2) una sensacin de que el estudio de las transacciones,

    que ocup la atencin de los institucionalistas de la profesin hace alrededor de 40 aos,

    es en realidad un punto fundamental y merece renovada atencin. Sin embargo, a dife-

    rencia de los institucionalistas de antao, el grupo actual se inclina hacia el ecleticismo.

    Los nuevos economistas institucionales recurren a la microteoria y, en su mayora, con-

    sideran lo que hacen ms como un complemento que un sustituto del anlisis conven-

    cional.

    9. Geoffrey Hodgson (1998a) questiona esta paternidade, afirmando que quem primeiro

    utilizou o termo custo de transao no foi Commons, nem Coase, mas Veblen, em tex-

    to de 1904.

    10. A abordagem de Williamson difere do tradicional paradigma estrutura-conduta-de-

    sempenho, to em moda nos estudos de organizao industrial dos ltimos 40 anos,

    onde a empresa assume um comportamento (passivo) maximizador de utilidades, des-

    cuidando-se da organizao interna. Sob essa tica, o exterior visto em termos de

    medidas de mercado, como concentrao, barreiras entrada e demanda excessiva. J a

    distribuio de transaes entre empresa e mercado, que se constitui em um ponto fun-

    damental NEI, considerada como dada e, portanto, exgena no modelo da superada

    tradio.

    11. Para Williamson (1991a, p. 24), (...) ser de provecho prestar atencin a la organiza-

    cin interna al intentar estudiar la conducta y el desempeo de las organizaciones de

    cuasimercado y de las que no concurren a un mercado (las no lucrativas, tales como

    hospitales, universidades, fundaciones, etc., y las oficinas gobernamientales). Segn la

    opinin general, el paradigma convencional h tenido poca utilidad para evaluar este

    tipo de organizaciones. El anlisis de la organizacin interna promete tener una mayor

    aplicacin para el estudio de las instituciones que no pertencen a un mercado.

    12. Racionalidade limitada um princpio definido por Herbert Simon, a partir do reco-

    nhecimento do limite da capacidade da mente humana em lidar com a formulao e

    resoluo de problemas complexos em face da realidade. Em funo de limites tanto

    neurofisiolgicos quanto de linguagem, torna-se por demais onerosa a adaptao s

    sucessivas eventualidades futuras no previsveis. Por esta razo, os contratos de longo

    prazo precisam se antecipar aos referidos limites por meio de uma organizao interna

    tal que permita firma adaptar-se s incertezas, mediante processos administrativos de

  • 143Octavio A. C. Conceio O conceito de instituio nas modernas abordagens...

    forma seqencial. Assim, em vez de antecipar todas as circunstncias possveis (contra-to completo), a prpria organizao interna economiza os atributos de racionalidade li-mitada, tomando decises em circunstncias nas quais os preos deixam de ser estats-ticas suficientes e a incerteza assume a devida importncia.

    13. O comportamento oportunista exercido sob trs formas: o manifesto, o sutil e o natu-ral. No primeiro, o comportamento semelhante ao do Prncipe de Nicolau Maquiavel:sabendo que os agentes econmicos com quem tratava eram oportunistas, foi alertado ase engajar na recproca, rompendo contratos com impunidade, sempre que arbitrasseque as razes que mantinham o vnculo de obrigaes no mais existiam. No sutil, ocor-re o comportamento estratgico, descrito na forma de buscar ou perseguir o auto-inte-resse com sutileza ou astcia. Na forma natural de oportunismo, o sistema tratado demaneira marginal e as decises so tomadas visando a auto-interesses corporativos.

    14. H uma variedade de estudos que tratam do oportunismo, que expresso de modo in-completo no campo da microeconomia, principalmente nos modelos convencionais.Segundo Williamson (1991a, p. 23), os modelos econmicos standard tratam os indiv-duos como se jogassem um jogo com regras estabelecidas e obedecidas: no comprammais do que podem pagar, no malversam fundos e no roubam bancos. Ao contrriodas suposies convencionais, o oportunismo assume uma variedade de formas e tempapel central em sua anlise de mercados e hierarquias.

    15. Alguns conceitos derivados da NEI tm extrapolado os limites estritamente econmicos.Fala-se inclusive em uma nova sociologia econmica, oriunda da teoria das organiza-es. Por exemplo, as diferentes formas de organizao capitalista seriam resultantesde diferentes estruturas hierrquicas de custos, j que, dentre todas as formas factveisde organizao, dificilmente se encontraro custos idnticos. Os conceitos de oligar-quia, burocracias, adaptao, poltica, embeddedness e network exercem efeitos sobre aconformao institucional. Tal viso bastante diferente daquela dos antigos institucio-nalistas, em que o conflito, e no a busca de eficincia e racionalidade, o elemento cen-tral da anlise. Ambas, porm, reconhecem a importncia dos diferentes ambientesinstitucionais e dos aspectos culturais. Granovetter observa que as economias dos cus-tos de transao e de embeddedness so complementares em muitos aspectos, emboraele prprio julgue conveniente maiores aprofundamentos tericos (Williamson, 1995,p. 22).

    16. H, para Aglietta (1976, p. vii), a proeminncia da moeda perante as demais institui-es: Les institutions sociales, dont la plus fondamentale est la monnaie, exprimentlambivalence dun ordre fond sur des sparations. Elles sont la fois les produits duconflit social et en normalisent les terms.

    17. Ainda segundo Aglietta (1976, p. viii): Les luttes quengendrent la production et d-bordent le champ limit de la normalisation partielle opre par chaque institution so-ciale tablie. La rgulation est donc toujours doublement inacheve: dabord parce quele dynamisme des rapports privs contourne le champ des conventions tablies, fait re-surgir laffrontement conomique direct et provoque une transformation des institu-tions, ensuite parce que les institutions rgulatrices ne sont porteuses que de cohrences

    locales. (...) Le capitalisme doit donc tre saisi comme une nbuleuse de formes structu-

  • 144 R. Econ. contemp., Rio de Janeiro, 6(2): 119-146, jul./dez. 2002

    relles, qui est globalement mtastable. Ltat est en quelque sorte lexpression politique

    de cet inachvement de la rgulations sociale. La logique tatique est celle de linstitu-

    tionnalisation.

    18. Salienta Boyer (1990, p. 37) que (...) contrariamente ao que esta expresso pode suge-

    rir, no se trata de cair no ecletismo da escola deste mesmo nome. Na realidade, a filia-

    o marxista faz com que se privilegie uma definio estrutural e holista destas formas

    institucionais: todas elas derivam, fundamentalmente, seja da relao mercantil, da re-

    lao capital/trabalho ou ainda de sua interao. Desta forma, somos levados a buscar

    diferentes modos de regulao em oposio s concepes estruturalistas e marxistas da

    reproduo, e sobretudo noo de equilbrio geral.

    19. Nelson (1995, p. 82) afirma que: Abstracting from the enormous diversity of things

    that have been called institutions, there are several key matters that I believe any serious

    theory of institutional evolution must address. One is path dependency. Todays insti-

    tutions almost always show strong connections with yesterdays, and often those of a

    century ago, or earlier.

    20. Quando uma indstria se estabelece, ocorre no apenas o desenvolvimento tcnico e de

    produtos, mas novos padres de interao entre firmas, clientes e fornecedores. Estas

    relaes tornam-se incorporadas (embedded) nas relaes sociais, conforme Mark Gra-

    novetter (1985), e as pessoas tornam-se conscientes de que h uma nova indstria, que

    implica (novos) interesses coletivos e necessidades (Nelson, 1995, p. 76).

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    AGLIETTA, M. (1976) Rgulation et crises du capitalisme: lexperience des tats-Units. Paris:

    Calmann-Lvy.

    BOYER, R. (1988) Technical change and the theory of regulation. In: G. Dosi et al. (eds.),

    Technical Change and Economic Theory. Londres: Pinter Publishers, p. 67-94.

    ______ (1990) A teoria da regulao: uma anlise crtica. So Paulo: Nobel.

    ______ (1993) Labour institutions and economic growth: a survey and a regulationist

    approach. Labour 7, n. 1, p. 25-72.

    ______, SAILLARD, Y. (1995) Therie de la rgulation: ltat des savoirs. Paris: La Dcouverte.

    ______, HOLLINGSWORTH, J. R. (1997) How and why do social systems of production

    change?. In: H. Hollingsworth, J. Rogers e R. Boyer, Contemporary Capitalism: the em-

    beddedness of institutions. Nova York: Cambridge University Press, p. 189-195.

    COASE, R. H. (1993) 1991 Nobel Lecture: the institutional structure of production.

    In: O. E. Williamson e S. G. Winter, The Nature of the Firm: origins, evolution, and de-

    velopment. Nova York: Oxford University Press. 1. ed., 1937.

    COMMONS, J. R. (1934) Institutional Economics. Madison: University of Wisconsin Press.

    CONCEIO, O. A. C. (2000) Instituies, crescimento e mudana na tica institucionalista.

    Tese de doutoramento em Economia. Porto Alegre: PPGE/UFRGS. Mimeo.

  • 145Octavio A. C. Conceio O conceito de instituio nas modernas abordagens...

    ______ (2000a) As abordagens institucionalistas em busca da constituio de seu ncleo teri-

    co. Seminrio A situao atual da microeconomia: uma perspectiva metodolgica.

    Programa de Doutorado em Desenvolvimento Econmico, UFPR, Curitiba, 16-17 out.

    (Anais).

    DOSI, G. (1995) Hierarquies, markets and power: some foundational issues on the nature of

    contemporary economic organizations. Industrial and Corporate Change, v. 4, n. 1,

    p. 1-20.

    ______, ORSENIGO, L. (1988) Coordination and transformation: on overview of struc-

    tures, behaviours and change in evolutionary environments. In: G. Dosi et al. (eds.),

    Technical Change and Economic Theory. Londres: Pinter Publishers.

    DUGGER, W. (1988) Radical institutionalism: basic concepts. Review of Radical Political

    Eonomics, v. 20, n. 1, p. 1-20.

    ______ (1990) The new institutionalism: new but not institutionalist. Journal of Economic

    Issues, v. 24, n. 2, jun, p. 423-431.

    FERRARI FILHO, F., CONCEIO, O. A. C. (2001) A noo de incerteza nos ps-keynesianos e

    institucionalistas: uma conciliao possvel? VI Encontro Nacional da Sociedade Brasileira

    de Economia Poltica. So Paulo, 14-15 jun. Anais (CD).

    GORDON, W. (1980) Institutional Economics: the changing system. Austin: University of Te-

    xas Press.

    GRANOVETTER, M. (1985) Economic action and social structure: the problem of embed-

    dedness. American Journal of Sociology, v. 91, n. 3, nov, p. 481-510.

    HODGSON, G. M. (1993). Institutional economics: surveying the old and the new.

    Metroeconomica, v. 44, n. 1, p. 1-28.

    ______ (1998a) The approach of institutional economics. Journal of Economic Literature,

    v. 36, mar, p. 166-192.

    ______ (1998b) On the evolution of Thorstein Veblens evolutionary economics.

    Cambridge Journal of Economics, v. 22, p. 415-431.

    ______ (1998c). Introduction. Cambridge Journal of Economics, v. 22, p. 397-401.

    ______ (2000) The Hidden Persuaders: institutions and choice in economic theory. Seminrio

    A situao atual da microeconomia: uma perspectiva metodolgica. Programa de

    Doutorado em Desenvolvimento Econmico, UFPR, Curitiba, 16-17 out. (Anais).

    MARSHALL, R. (1993) Commons, Veblen, and other economists: remarks upon receipt of

    the Veblen-Commons award. Journal of Economic Issues, v. 26, n. 2, jun, p. 301-322.

    MITCHELL, W. C. (1984) Os ciclos econmicos e suas causas. So Paulo: Abril Cultursal (Os

    Economistas). 1. ed., 1941.

    MYRDAL, G. (1984) Aspectos polticos da teoria econmica. So Paulo: Abril Cultural (Os Eco-

    nomistas). 1. ed., 1953.

    NELSON, R., WINTER, S. G. (1982) An Evolutionary Theory of Economic Change. Cambridge,

    Mass.: Harvard University Press.

  • 146 R. Econ. contemp., Rio de Janeiro, 6(2): 119-146, jul./dez. 2002

    ______ (1995) Recent evolutionary theorizing about economic change. Journal of Eco-

    nomic Literature, 33, mar, p. 48-90.

    NORTH, D. C. (1991) Institutions. Journal of Economic Perspectives, v. 5, n. 1, Winter,

    p. 97-112.

    ______ (1994) Economic performance through time. The American Economic Review,

    v. 84, n. 3, jun, p. 359-68.

    PITELIS, C. (1998) Transaction costs and the historical evolution of the capitalist firm.

    Journal of Economic Issues, v. 32, n. 4, dez., p. 999-1.017.

    SAMUELS, W. J. (1995) The present state of institutional economics. Cambridge Journal of

    Economics, v. 19, p. 569-590.

    VEBLEN, T. (1998) Why is economics not an evolutionary science?. Cambridge Journal of

    Economics, v. 22, p. 403-414. 1. ed., 1898.

    ______ (1983) A teoria da classe ociosa: um estudo econmico das instituies. So Paulo: Abril

    Cultural (Os Economistas). 1. ed., 1899.

    VEBLEN, T. (1919) The Place of Science in Modern Civilisation and Other Essays. Nova York:

    Huebsch.

    VILLEVAL, M.-C. (1995) Une thorie conomique des institutions. In: R. Boyer e Y. Sail-

    lard, Thorie de la Rgulation: ltat des savoirs. Paris: La Dcouverte.

    WILLIAMSON, O. E. (1991a) Mercados y hierarquias: su anlisis y sus implicaciones anti-trust.

    Fondo de Cultura.

    ______ (1991b) Comparative economic organization: the analysis of discrete structural

    alternatives. Administrative Science Quarterly, v. 36, p. 269-296.

    ______ (1995) Hierarquies, markets and power in the economy: an economic perspective.

    Industrial and Corporate Change, v. 4, n. 1, p. 21-49.

    ZYSMAN, J. (1994). How institutions create historically rooted trajectories of growth. In-

    dustrial and Corporate Change, v. 3, n. 1, p. 243-283.