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LAZER E CURRÍCULO: UM OLHAR SOBRE O CURSO DE EDUCAÇÃO FÍSICA DA UNIVERSIDADE DO
ESTADO DO PARÁ ENTRE 1999-2008.
1Prof Esp. Gustavo Maneschy Montenegro2Prof. Msc. Vera Lúcia da Costa Fernandes (orientação)
RESUMO: O presente artigo é resultado de pesquisa desenvolvida no III Curso de Especialização em Lazer realizado pelo Curso de Educação Física da Universidade do Estado do Pará (UEPA), tendo por objetivo analisar a formação na área do lazer no currículo do curso em questão durante o período de 1999 à 2008. A metodologia abordou uma pesquisa participante, abordagem qualitativa, técnica e coleta de dados: entrevista semi-estruturada, análise do discurso e observação participante. Participaram como sujeitos da pesquisa quatro professores que trabalharam com a temática do lazer durante o período destacado. O problema: Como ocorreu a formação na área do lazer no currículo do curso de Educação Física da UEPA no período de 1999 à 2009?. Resultados: A formação no lazer foi realizada por meio da disciplina Fundamentos do Lazer I, que se fundamenta na indissociabilidade entre ensino-pesquisa e extensão. No entanto, vale destacar que nem todos os professores realizaram essa ação, percebendo-se a necessidade de consolidá-la, embora exista uma prática em comum entre eles, que entende o lazer como um direito social, e não somente como descanso e diversão. .Palavras-Chave: Currículo. Lazer. Formação profissional.
A CONSTRUÇÃO DA TEMÁTICA...
Este artigo é resultante de pesquisa desenvolvida durante o III Curso de
Especialização em Lazer realizado pelo Curso de Educação Física da
Universidade do Estado do Pará, Campus Belém, tendo por objetivo analisar a
formação na área do lazer no currículo do curso em questão durante o período
de 1999 à 2009
A construção e interesse pelo tema ocorreu a partir do contato
profissional com o lazer durante o período da graduação em educação física,
quando se teve a oportunidade de atuar durante o ano de 2007 como agente 1 Prof° Especialista em Lazer(UEPA), Mestrando em Educação-UFPA-; Prof° da disciplina Atividades Físicas, Recreação e Jogos(UEPA), Membro da linha de Pesquisa “Formação e Desenvolvimento de Pessoal em Politicas Publicas de Lazer”- NEPAEL-UEPA; [email protected] Profª Mestre em Educação- Docência Universitária/IPLAC-UEPA;Especialista em Lazer(UFMG); graduada em Educação Física(ESEFPA); Profª da disciplina Estudos do Lazer(UEPA); Coordenadora da linha de Pesquisa”Formação e Desenvolvimento de Pessoal em Politicas Públicas de Lazer”-nEPAEL-UEPA; Coordenadora do IV Curso de Especialização em lazer(UEPA); [email protected]/[email protected]
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de recreação no Serviço Social do Comércio-Ananindeua/PA (SESC-
Ananindeua/PA) com vivências para crianças, adolescentes e idosos. No
decorrer dessa fase, tinha-se uma percepção restrita do significado do lazer,
compreendendo-o apenas no eixo da diversão e do entretenimento.
A atuação era centrada no “fazer pelo fazer” de modo técnico e ingênuo,
uma práxis inserida no consumo acrítico e descontextualizada do lazer, muito
próximo a que Isayama (2002) tem criticado ao referir que a prática pedagógica
no lazer quando fica a mercê da reprodução de jogos e brincadeiras contribui
para a alienação e reprodução das desigualdades sociais.
É importante ressaltar que essa forma de atuar sempre causava
inquietações para os seguintes questionamentos: “lazer é só diversão?”; “lazer
é um momento para entreter os alunos?”; “afinal, o que é trabalhar com lazer?”.
Na busca de respostas para essas indagações e subsídios que me
possibilitassem uma práxis pedagógica orientada para a reflexão/ação/reflexão,
tive a oportunidade de exercer durante os anos de 2008-2009 a função de
monitor da disciplina Fundamentos do Lazer I, no curso de Educação Física da
Universidade do Estado do Pará que me possibilitou uma melhor compreensão
dos temas em questão.
A partir dessa experiência houve motivos maiores para a investigação de
como se configurava a formação docente para o lazer em nível nacional, e em
especial nos cursos de educação física em Instituições de Ensino Superior
(IES) de Belém/PA. Às voltas com esta trajetória, a pesquisa ocorre para
aprofundar o conhecimento sobre a trajetória do lazer na formação do curso de
educação física da UEPA.
Com o avançar dos estudos, tornou-se evidente que o lazer se expandiu
a cada dia, principalmente pela descoberta de um mercado promissor, capaz
de gerar lucros significativos para aqueles que detêm e controlam os espaços e
equipamentos para o usufruto do tempo disponível das pessoas - padrões
meramente consumistas, alienante e acrítico no lazer. (WERNECK, 1998).
No que concerne à formação, ainda se depara com professores de lazer
atuante nos moldes da reprodução de jogos e de “pacotes” de atividades
recreativas sem um compromisso político, ou seja, colaboradores para a
manutenção da ordem e da apropriação do lazer pelas mãos do capital.
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Pensar nesse processo de formação/atuação não apresenta grandes
contribuições aos estudos do lazer, e sim, acreditar em um procedimento
dialógico, no qual professores e alunos são responsáveis por esta formação e
pela construção de um espaço democrático, dialético e científico, e ainda
convençam-se de que ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as
possibilidades para a sua produção ou a sua construção. (FREIRE, 1996, p.
22).
Portanto, compreende-se que a simples agregação dos saberes
produzidos em diferentes áreas do conhecimento não significa uma superação
das abordagens fragmentadas sobre o conteúdo, e aqui, em especial, o lazer,
mas que a formação seja refletida a partir da visão de Fernandes (2000, p. 13),
que defende:um processo que prepara o Homem “na” vida e “para” a vida, de modo que as decisões curriculares se assumam em correspondência não somente com os avanços científicos e técnicos, senão também atendendo aos diversos contextos e características culturais em que é desenvolvido.
Isso nos faz perceber que é necessário um maior envolvimento de
professores e alunos com vista a construir uma formação no lazer, aqui em
especial na educação física, que possa reconhecê-lo como um campo que
envolve saberes multi e interdisciplinares.
É fundamental ter a percepção e a clareza de que as ações pedagógicas
crítico-reflexiva no lazer só serão alcançadas por meio de um trabalho
integrado que envolva profissionais com diferentes formações, o que será
adquirido por meio da busca da inovação em termos do trabalho científico e da
pesquisa colaborativa, superando-se a sistemática das estruturas tradicionais.
(GOMES, 2006).
Então, as deveras reflexões acima realizadas detém o problema: Como ocorreu a formação na área do lazer no currículo do curso de Educação Física da UEPA no período de 1999 à 2008?.
Como procedimentos metodológicos adotamos: análise bibliográfica,
análise documental e pesquisa de campo realizada no Curso de Educação
Física da UEPA; como técnicas de coleta e análise de dados utilizamos: a
entrevista semi-estrutura, a observação participante e a análise de discurso.
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LAZER, CURRÍCULO E FORMAÇÃO SOB O PONTO DE VISTA DOS AUTORES...
Quando nos deparamos com questões que envolvem a problemática da
educação e das práticas curriculares na atualidade, percebe-se que estamos
diante de um grande desafio, tamanhas são as suas importâncias e relevâncias
para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.
Pensar nesses dois aspectos em tempos de neoliberalismo, de descaso
com a educação pública, de baixos salários para o corpo docente só vem a
reforçar a necessidade de educadores e educadoras assumirem um propósito
de mudança social, e de conceberem que a sua prática profissional não é
neutra e nem ingênua.
Para isso, partimos de uma concepção dialética da educação, pois nela:a formação do homem se dá pela elevação da consciência coletiva realizada concretamente no processo de trabalho (interação) que cria o próprio homem. (...) A questão central da pedagogia é o homem enquanto ser político, a libertação histórica, concreta, do homem contemporâneo. (GADOTTI, p. 157-158, 2006).
Trata de compreender que a educação não é um simples processo de
transmissão e reprodução do conhecimento, pois deve perpassar por uma ação
social e científica, na qual o seu propósito deve estar voltado para a construção
de um homem coletivo, crítico e criativo.
Nesse caminho, os estudos de Moreira e Silva (2001) nos ajudam a
compreender que o currículo há muito tempo deixou de ser uma área
meramente prática, voltada a questões relativas a procedimentos, técnicas,
métodos pedagógicos, ou seja, voltado ao “como” fazer, mas sim, guiada por
questões sociológicas, políticas e epistemológicas.
Consideramos que o currículo não se configura por ser um elemento
neutro e inocente no processo educativo, pois, ao construí-lo, estamos levando
em consideração uma concepção de mundo, de sociedade, relações de poder
e ideológicas, ou seja:Não é mais possível alegar qualquer inocência a respeito do papel constitutivo do conhecimento organizado em forma curricular e transmitido nas instituições educacionais. A teoria curricular não pode mais, se preocupar apenas com a organização do conhecimento escolar, nem pode encarar de modo ingênuo e não
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problemático o conhecimento recebido. (MOREIRA; SILVA, 2001.p. 20-21).
Não podemos perder de vista que o currículo transmite uma
compreensão de mundo, uma visão de coletividade, sendo de grande
importância para o propósito de sociedade que os profissionais de educação
física devam assumir para superar o entendimento da sua prática pedagógica
como eminentemente técnica e reprodutora, mas sim, envolvidos com a
construção de uma sociedade mais justa e mais harmoniosa.
No que concerne às questões teóricas sobre o lazer, tomamos como
suporte, dentre outros os estudos de Marcellino (2008) e Werneck (2000), por
serem marco histórico do Lazer no Brasil, e adentram-se pela discussão da
formação do profissional de lazer - espaços públicos e privados nos mostrando
o perfil sóciopolítico do mesmo, e a segunda descreve uma abordagem de
épocas das transformações sociais ocorridas desde Platão até os dias atuais.
Suas contribuições para os estudos nos possibilitam entender que
vivemos em uma sociedade marcada pela exclusão social, pelo desemprego e
pela privatização de bens sociais, a qual vem gerando a precariedade de
diversos serviços destinados a população, como a educação pública de
qualidade, condições satisfatórias de saúde e garantias de vivência críticas no
lazer.
O entendimento que se tem é que o lazer precisa ser compreendido na
perspectiva crítico-criativa – entendê-lo “ como gerado historicamente, e dele
podendo emergir, de modo dialético, valores questionadores da sociedade
como um todo, e sobre ele também sendo exercidas influenciais da estrutura
social vigente.”, que por outro lado significa dizer mudanças de atitudes
políticas, socais e educacionais (MARCELLINO, 2008, p.12).
Defende-se que a formação para a área do lazer deve ser alicerçada na
concepção proposta por Werneck (2000, p. 144), que busca: (..) sujeitos comprometidos com o processo de construção do saber, sujeitos que questionem a realidade, que perguntem pelo sentido de seu exercício profissional, que assumam uma atitude reflexiva face aos processos sociais e às contradições do nosso meio, fazendo do lazer não um mero (e alienante) produto a ser consumido, mas uma possibilidade lúdica, crítica, criativa e significativa a ser vivenciada com autonomia e muita responsabilidade.
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Portanto, quando se depara empiricamente com o processo
formativo na área por meio dos meios de comunicação de massa - jornal e
televisão, – observa-se profissionais enquanto recreadores se moldando ainda
as suas práticas pedagógicas à atividades voltadas tão somente para o eixo da
diversão e do entretenimento.
E a partir da experiência profissional na área, afirma-se que é
necessário discutir essas concepções, haja vista que as mesmas trazem um
debate acadêmico superador do entendimento tradicional de lazer se
fomentando um despertar no significado para um desenvolvimento político sob
a luz das políticas públicas de possibilidades acerca da transformação social
tendo o lazer como um direito social de fato.
Não podemos perder de vista também as contribuições de Isayama
(2002); (2004) no que concerne a formação, uma vez que o autor tem se
dedicado ao aprofundamento dessas questões no interior dos currículos dos
cursos de educação física em Instituições de Ensino Superior (IES).
O autor nos mostra que as discussões pertinentes ao lazer estão
cada vez mais presentes na educação física brasileira, gerando um maior
número de disciplinas específicas ligadas a essa temática nos currículos de
formação, em cursos de pós-graduação e aperfeiçoamento, além de maiores
espaços para debates como seminários, congressos, encontros etc.
No que tange a formação, o autor revela que a mesma vem se
concretizando, principalmente, sob duas perspectivas: - a primeira se
caracteriza por procurar formar um “profissional mais “técnico” e tem como
orientação primordial o domínio de conteúdos específicos e metodologia”.
Nesse caso, a formação compreende o lazer como apenas nos moldes da
diversão, sendo utilizada principalmente para entreter os participantes. (IDEM,
2002, p. 93-4).
A outra busca uma formação centrada no conhecimento, na cultura e na
crítica, concretizando-se por meio da construção de conhecimentos, na qual
docentes e discentes passam a ser sujeitos desse processo, alicerçados com
um novo olhar para a área, no qual o lazer pode contribuir para uma sociedade
mais justa e mais humana, denominada de tendência emancipatória na
formação. (IDEM, 2004.).
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Caminhar nessa perspectiva é de se reestruturar uma praxis
pedagógica-científica que envolva a técnica, a política, a filosófica, a
pedagógica e o conhecimento crítico da realidade para que ocorra uma
verdadeira consolidação da concepção emancipatória na formação, na qual a
ação docente possa ser fundamentada por um sólido arcabouço teórico.
Trata de concebê-lo como possibilidades consciente, de criação, que
carrega significados sociais, implica uma concepção mais ampla de lazer que
pode assumir um sentido construtivo de transformação de nossa realidade, por
isso o que se propõe em pauta para essas mudanças sociopolíticas se
converte sob a demanda de uma práxis de formação para além da conjuntura
neoliberal. (IDEM, 2002, p. 93).
Nesse contexto, as indagações aumentam sobre a formação de
professores para a área do lazer em Belém, em especial no curso de Educação
Física da UEPA, ou seja, trata de sabermos como esse processo está sendo
construído, pensado e articulado, por se tratar da instituição de ensino mais
antiga no que tange a formação de professores de educação física no Estado
do Pará, por ser uma referência na formação dentro do Estado e também, por
trazer em seu bojo, a discussão sobre o lazer desde o Projeto Político
Pedagógico implantado em 1999 no curso.
OS CAMINHOS DA PESQUISA...LOCAL, SUJEITOS E MÉTODO.
Trata-se de uma pesquisa participante, estudo descritivo e abordagem
qualitativa, considerada como possibilidades de explorar as características dos
indivíduos e cenários que não podem ser facilmente descritos numericamente,
coletada pela observação, descrição e gravação.. (MOREIRA e CALEFFE,
2006, p. 73).
Como técnica e analise dos dados utilizamos: análise do discurso,
entrevista semi-estruturada acompanhada de um roteiro gravada em fita k7,
outras respondidas pela internet e observação participante.
Primeiramente consultamos o Projeto Político Pedagógico (PPP) do
curso de Educação Física da UEPA implantado em 1999 e vigente até 2008.
Nele, identificamos a existência da disciplina Fundamentos do Lazer I que
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tratava acerca das questões que envolvem o lazer na formação de professores
de educação física.
Posteriormente entramos em contato com a coordenação do curso e
solicitamos documentos pertinentes à disciplina, tais como os planos de ensino
dos docentes, planos de atividades de monitores e trabalhos acadêmicos
realizados pelos discentes.
De posse desses documentos identificamos que oito professores haviam
ministrado a disciplina no período em questão. No entanto, para a realização
do estudo foi utilizada uma amostra de 4 (quatro) professores, a partir dos
seguintes critérios: por estarem a mais de um ano na docência da disciplina,
por terem vivenciado a construção histórica do lazer em Belém,
academicamente e na monitoria.
Quanto à entrevista, foi adotado o seguinte roteiro: 1) Quais barreiras
você aponta na formação do professor de educação física para a área do
lazer?; 2) Que contribuições você desenvolve com o trabalho na disciplina?;
3) Quais sugestões para a formação dentro do viés ensino-pesquisa-
extensão?; 4) Como você percebe as relações de ensino, pesquisa e extensão
dentro da formação para a área do lazer?
O DISCURSO DOS PROFESSORES
Considerando-se a ética na pesquisa os professores serão identificados
por letras. Na entrevista do professor A, identificou-se que o mesmo aponta
como principal barreira para a formação a “compreensão da disciplina pelos
alunos, que perpassa pelo entendimento da mesma como brincadeira e de não
seriedade”. Esse aspecto para o docente acaba ocasionando em uma
dificuldade do aluno em aprofundar os seus estudos na área do lazer.
Já na segunda pergunta, o mesmo indica que a sua contribuição para a
formação ocorre por “uma visão transformadora do lazer, e que a formação dos
alunos possa trilhar num único viés, ou seja, que o discente perceba que ele é
um profissional pesquisador”. Essa compreensão torna-se importante, pois nos
deparamos com uma realidade em que o processo formativo precisa buscar
essa prática transformadora, na qual o discente se reconheça como um
professor pesquisador crítico-reflexivo.
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Quanto à sugestão para a formação, aponta a “busca de um processo
interdisciplinar, introduzindo o que nós chamamos de pesquisa aplicada em
sala de aula, passando a trabalhar com eixos temáticos”.
Na última pergunta o professor A defende “a existência de uma relação
espiralada entre ensino-pesquia-extensão atuando automaticamente e num
constante diálogo”. Ou seja, trata de reconhecer que a formação não se dá
apenas no eixo do ensino, mas sim, que a prática da pesquisa, contribuindo
para a produção do conhecimento e a da extensão, como tentativa de
superação daquilo que se obtém como resultados integram o processo
formativo em uma perspectiva transformadora.
Já o professor B indica que a principal barreira para essa formação é a
“discriminação ao conceito de lazer e falta de interesse na disciplina”, gerando
um desinteresse dos discentes com a temática.
Quanto a sua contribuição, o mesmo nos aponta que a principal é “para
que os alunos tenham uma compreensão do que é lazer, que o mesmo seja
visto como direito social e não como bem de consumo”. Trata de “compreender
como o lazer se constitui na comunidade social, para que os mesmos (os
discentes) disseminem o lazer como direito social, ou seja, acessível a todos”.
(Fala do professor B).
Já nas suas sugestões, o mesmo nos fala da necessidade de se “ter
uma relação do poder executivo, legislativo e judiciário com a comunidade,
iniciando a relação entre os discentes com as comunidades de bairros”.
Quanto à relação ensino-pesquisa-extensão na formação para o lazer, o
professor denuncia a existência de uma grande lacuna quanto a essas
relações, que “ocorrem em virtude de uma preferência dos discentes para com
as disciplinas biológicas, gerando uma desmotivação para com os estudos na
área do lazer.”
Por sua vez, o professor C destaca outros aspectos como barreiras na
formação, iniciando pela “falta de conhecimento e de interesse sobre o lazer,
pouco aprofundamento na pesquisa e a obrigatoriedade da disciplina, fazendo
com que os alunos a façam por obrigação.”
Na sua contribuição, o mesmo aponta que seria a busca por “incentivar
que o aluno seja um pesquisador na área do lazer, e possa conceituá-lo dentro
de uma formação acadêmico-científica”.
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Assim, as suas sugestões sobre a formação na área são para “incentivar
a formação dos alunos dentro dos grupos de pesquisa, para que os mesmos
fiquem fortalecidos e que haja um maior envolvimento dos discentes, além da
participação de rodas de conversa, mesas redondas e divulgação da pesquisa
na área do lazer”.
No entanto, quando o mesmo é interrogado a respeito das relações de
ensino-pesquisa-extensão na formação, diz-nos que não reconhece “dentro da
UEPA as relações de pesquisa na área do lazer, devido a não se por em
prática o que é planejado, por uma disputa entre condicionamento físico e
lazer”.
Por outro lado, professor D afirma que as barreiras no processo de
formação são de ordem filosófica e política, pois “a primeira implica em
questões conceituais e subjetivas, no qual para muitos, lazer é descanso e
divertimento, enquanto para outros, lazer é trabalho”.
Já a segunda barreira diz respeito à classificação, uma vez que “(...)
entende-se o lazer apenas no eixo da diversão e do descanso, dificultando o
processo de desenvolvimento social, cultural, moral, político e educacional do
cidadão brasileiro (...)”.
Quanto a sua contribuição, ela ocorre em virtude de desenvolver uma
“(...) práxis pedagógica didática investigativa sob as bases de ação “Projeto”, o
que significa uma ação que se fundamenta na indissociabilidade entre ensino-
pesquisa e extensão (...)”.
Dessa forma, o professor D indica como principais sugestões para a
formação à oferta de cursos para a “qualificação profissional na área da
informática, os desafios de se viver nos princípios da coletividade e da
cooperação, o fortalecimento de parcerias para a concretização de Políticas
Públicas Universitárias bem como reservas financeiras para apresentação de
trabalhos científicos e aumento salarial para se viver com uma dignidade
profissional como pesquisador.”
Na última pergunta, o professor considera “de grande avanço político-
acadêmico o crescimento de ações pedagógicas desenvolvidas pela disciplina
lazer, criando-se incentivo a relações de estágio, monitoria e projetos de
ensino, extensão e pesquisa (...), tendo como carro forte o curso de
Especialização em Lazer”.
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Portanto, para compreender melhor essas falas é necessário realizar
uma análise mais abrangente dos discursos, levando-se em consideração o
desenvolvimento do trabalho pedagógico, planos de ensino, a compreensão
dos docentes sobre lazer e formação e o contato com bibliografias, com vista a
ampliar a percepção acerca da construção da proposta pedagógica dessa
disciplina.
RESULTADOS PRELIMINARES...
Antes do debate a respeito da proposta pedagógica da disciplina em
questão, faz-se necessário se refletir inicialmente acerca das barreiras e
dificuldades enfrentadas no processo formativo.
No desenvolver do estudo, pode-se identificar por meio das falas dos
professores a existência de barreiras na formação dos alunos, em virtude,
principalmente, do desconhecimento do processo histórico e sociopolítico pela
manutenção do status quo com relação ao conceito de lazer por parte dos
discentes, perpassados por uma compreensão de que lazer é a simples
brincadeira e a não seriedade, agravado pelo pouco aprofundamento dos
graduandos na pesquisa.
Os alunos precisam superar uma espécie de fragilidade na sua
formação, que ocorre em virtude de não reconhecerem a devida importância de
uma área do conhecimento que é bastante complexa, dificultando a sua
possibilidade de aprofundar os estudos e as pesquisas em um campo de
atuação da educação física que cresce a cada dia e que pode contribuir para
mudanças na ordem social vigente. (MARCELLINO, 2008).
No que tange ao trabalho pedagógico que foi desenvolvido na disciplina
Fundamentos do Lazer I, a tentativa de superar as concepções tradicionais de
formação (que concebem o lazer como sendo essencialmente brincadeira,
norteadas por concepções funcionalistas), vem ocorrendo a partir das
contribuições desenvolvidas no plano de ação dos docentes , na tentativa de
que o aluno possa se perceber enquanto um profissional de educação física
pesquisador na área do lazer, possibilidades de ampliar uma visão
transformadora e que o discente possa compreendê-lo como um direito social e
como o mesmo se articula na comunidade social.
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Werneck (1998 p.7), ao analisar a importância do processo de pesquisa
na formação do profissional do lazer, conclui que devemos buscar inovações em
termos do trabalho científico e da pesquisa colaborativa, superando assim a
sistemática das estruturas tradicionais. Corroborando com a autora, Pimentel
(2003, p. 76), afirma que a formação no lazer deve ter como um dos pilares
básicos a prática da pesquisa, pois por meio dela o acadêmico deve saber
avaliar, empregar e julgar resultados da pesquisa. Trata de se ter uma formação
“pela” e “para” a pesquisa, possibilitar aos alunos não só o consumo do que já
fora produzido pelos autores, mas sim estar envolvido com a produção de
conhecimento na área.
É preciso mencionar que nesse processo de construção da proposta
pedagógica da disciplina aparece como eixo sustentador do seu
desenvolvimento, à formação do profissional pesquisador a cerca dos
fenômenos socioculturais do lazer.
Esse repensar o processo de formação, também deve estar pautado em
um projeto político emancipador das camadas populares, em que o lazer não
pode mais ser visto como um simples atenuante para as injustiças sociais,
permeado por valores assistencialistas e funcionalistas, mas sim, comprometido
com o propósito de transformação social, possibilitando a democratização das
práticas culturais do lazer. (TAFFAREL, 2009, p. 5)
Quanto à contribuição dos docentes para a formação, no processo de
análise - dois professores apontam a possibilidade de desenvolver uma prática
pedagógicacientífica investigativa sob as bases de PROJETO, baseada na
indissociabilidade ensino-pesquisa-extensão, a qual permiti que o aluno possa
desenvolver pesquisas na área, tendo a habilidade de dialogar com a literatura
do lazer a nível nacional e conceituá-lo dentro de uma formação acadêmica,
com um olhar para a democratização às camadas populares.
Os educadores defendem a existência de uma relação espiralada no
tripé ensino-pesquisa-extensão, como forma de corrigir a sua ação estanque e
fragmentada, atuando de forma essencial na formação dos discentes, embora
se reconheça lacuna nesse processo, que vão desde preferência dos discentes
para com disciplinas biológicas e falta de interesse na área do lazer.
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Assim, para que se torne solidificada e trazer avanços para a área no
Estado do Pará, os educadores sugerem que haja maiores investimentos na
pesquisa dentro da instituição, permeado por um processo interdisciplinar
dentro do curso de educação física da UEPA.
E ainda, para o avanço na discussão, sugere-se que a disciplina passe a
trabalhar com eixos temáticos, rompendo-se com a relação dos conteúdos
fragmentados, o que se chama de pesquisa aplicada em sala de aula, além de
incentivar uma maior participação dos discentes nos grupos de pesquisa e a
sua participação com as comunidades de bairros.
Essa prática entende a formação para além da simples agregação dos
saberes produzidos em diferentes áreas do conhecimento, mas sim na busca
de superar as abordagens fragmentadas sobre o lazer, uma vez que é preciso
buscar uma formação na qual o discente tenha uma visão crítica sobre a
prática, refletindo a todo o momento sobre o seu fazer pedagógico, pois é
pensando criticamente a prática de hoje ou de ontem que se pode melhorar a
próxima prática. (FREIRE, p. 39, 1996).
Em suma, os professores sugerem que ocorra um maior envolvimento
dos discentes com as pesquisas desenvolvidas na instituição, bem como, a
busca de uma relação do poder executivo, legislativo e judiciário com a
comunidade, e que dentro da instituição, possa haver maior divulgação de
produções científicas na área por meio de mesas redondas e palestras.
Por sua vez, com base nos planos de ensino consultados na
coordenação do curso, analisa-se que essa formação procura estreitar ações
pedagógicas de ensino-pesquisa-extensão, podendo ser assim articuladas:
Ações pedagógicas de ensino Estreitando relações no e do grupo; esclarecendo os caminhos na
disciplina;
Os padrões culturais do lazer: (conceitos, significados e correntes
filosóficas);
Tempo e a corporeidade - a relação lúdica da prática criativa;
As políticas públicas do lazer: formação e desenvolvimento para
atuação;
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A diferença entre políticas públicas, políticas sociais, movimentos
sociais;
O lazer da cidade e os parceiros nos programas/ eventos; gestão,
barreiras e desafios;
Lazer e qualidade de vida: a humanização em questão;
Ações pedagógicas de extensão: Elaboração de atividades de lazer nos espaços de intervenção do
profissional de Educação Física;
Participação em programas e eventos pedagógicos – científicos;
(Encontros, congressos, seminários etc)
EXTENSÃO – Brinquedoteca Joana D’arc entre outras esferas sociais
– escolas
Ações pedagógicas de pesquisa: Pesquisa Bibliográfica – conhecer e identificar as bases teóricas –
práticas do lazer; Pesquisa documental: análise crítica das bases teóricas e suas relações
com a prática;
Pesquisa de campo nos espaços de intervenção do profissional de
Educação Física – identificar e desvelar as bases teóricas – práticas do
lazer nos espaços públicos e privados
PESQUISA (científica) – publicações nos eventos e programas
científicos nacionais e locais
Por outro lado, os desafios estão atrelados a tentativas de superar uma
perspectiva curricular que historicamente compreende a educação física e o
lazer como um simples “saber-fazer”, na qual prática e teoria andam
separados, e a formação é baseada na reprodução de pacotes de jogos e de
recreação, contribuindo para o consumo a-crítico do lazer.
No entanto, vale destacar algumas contradições encontradas na
pesquisa, pois nem todos os professores reconhecem essa prática pedagógica
PROJETO que é desenvolvida como norteadora da disciplina, uma vez que o
professor C afirma não reconhecer “(...) dentro da UEPA as relações de
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pesquisa na área do lazer, devido a não se por em prática o que é planejado,
dificultando que haja ensino-pesquisa-extensão (...)”
Ainda sob análise se faz necessário consolidar essa ação docente, uma
vez que ela está em processo, em construção e não se encontra já consolidada
na formação no lazer.
Isso é agravado pela dificuldade que os professores têm em realizar um
plano de ação que envolva ensino-pesquisa-extensão em virtude de muitos
possuírem dois ou até três empregos, gerando grandes barreiras para que se
efetue uma formação verdadeiramente transformadora na área, aqui em
especial no curso de educação física da UEPA.
Portanto, o exercício que se deve fazer com vista a concretizar essa
prática pedagógicacientifica deve ser constante, fruto da dedicação de
professores e alunos que estejam sempre dispostos a apreender, a analisar,
resignificar e refletir sobre o seu fazer profissional, pois a luta é árdua, é difícil,
mas que sigam com a convicção de possibilidades de mudanças, e assim,
contribuições para uma sociedade que contemplem profissionais
comprometidos com uma atuação, formação e educação significativa, e assim,
continuidade da política social e avanços das políticas publicas do lazer..
CONSIDERAÇÕES FINAIS…
Não se pretende encerrar a discussão da formação de professores
para a atuação no lazer e nem propor “receitas” para a formação de docentes,
pois esse processo se caracteriza por ser aberto e dinâmico, perdurando-se
por toda a vida acadêmica e profissional do sujeito e propício a formulações de
novas idéias e novas concepções, impossibilitando o seu fechamento em um
ciclo ou em um “manual” de formação de professores.
Para isso, o lazer deve ser considerado como uma reivindicação
social, como uma atividade necessária ao desenvolvimento completo do ser
humano, e não apenas como um meio para descansar e/ou entreter-se.
A formação no lazer não se resume ao domínio de técnicas
recreativas ou habilidades, mas é definida como uma ação cultural que precisa
ser responsabilizada ética e politicamente, na busca para oportunizar com que
a maioria da população tenha acesso às atividades culturais do lazer de forma
crítica, educativa e emancipatória.
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Assim, precisa-se intensificar a discussão do lazer junto à sociedade
como agente transformador,bem como, viabilizar uma formação humanizante,
em uma reelaboração crítico-reflexiva do profissional a ser formado com base
numa intervenção pedagógica transformadora da realidade sustentada na
tríade ensino-pesquisa-extensão.
Enquanto profissional de Educação Física, a partir deste estudo,
compreende-se e defende-se a importância do lazer na vida das pessoas e no
cotidiano de uma determinada comunidade, uma vez que nesse processo está
o professor com possibilidades a gênese de um local pedagógico e de
vivências determinantes para uma melhoria da vida da população.
Em síntese, a formação na área do lazer no curso de Educação Física
da UEPA durante o período de 1999 à 2008 foi desenvolvida por meio da
disciplina Fundamentos do Lazer I, sendo realizada por alguns professores
uma prática pedagógica investigativa sob as bases de ensino PROJETO, que
visa articular ações de ensino-pesquisa-extensão.
, nem todos os professores realizam essa ação, pode-se constatar que
existe uma prática em comum entre eles, que entende o lazer como um direito
social, e não somente como descanso e diversão.
Como sugestão para aumentar o ciclo de debate sobre as ações
políticas do lazer se deve promovê-lo para outros campus na UEPA pelas vias
das práticas interdisciplinares; fortalecer os laços de parceria com as
instituições públicas (escolas, igrejas, hospitais, associações, centro
comunitários, ONGs, líderes comunitários, enfim) dada a responsabilidade
social de cada esfera política para que o compreenda como um direito social,
contribuição para tornar os cidadãos mais críticos perante o sistema
governamental político brasileiro, e assim, considerá-lo como uma
reivindicação social, promover o desenvolvimento completo do homem, e não
apenas como um meio para descansar e/ou entreter-se para manutenção do
status quo.
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