o estado verde 14/06/2016

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Estiagem vai para o quinto ano seguido no Ceará. Quadra chuvosa fica bem abaixo da média histórica e, segundo Funceme, fenômeno “La Niña” pode ser fator positivo para 2017. PÁGINA 3 Entrevista com a agrônoma Margareth Benício revela que ainda não há desertos no Estado, mas 23% do território cearense já apresentam núcleos de desertificação. PÁGINAS 5 E 6 Ecotelhado, uma ideia não tão nova, porém inovadora e que pode fazer a diferença no clima e na estética de uma cidade. Em breve, Fortaleza pode ter lei de incentivo à técnica. PÁGINA 7 O ESTADO Ano VIII Edição N o 444 Fortaleza, Ceará, Brasil Terça-feira, 14 de junho de 2016 DESERTIFICAÇÃO Um dos maiores desafios ambientais do mundo globalizado PÁGINAS 4, 5, 6, 7 e 8

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Jornal O Estado (Ceará)

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Page 1: O Estado Verde 14/06/2016

Estiagem vaipara o quinto ano seguido no Ceará. Quadra chuvosa fica bem abaixo da média histórica e, segundo Funceme, fenômeno “La Niña” pode ser fator positivo para 2017. PÁGINA 3

Entrevista coma agrônoma Margareth Benício revela que ainda não há desertos no Estado, mas 23% do território cearense já apresentam núcleos de desertificação. PÁGINAS 5 E 6

Ecotelhado, uma ideia não tão nova, porém inovadora e que pode fazer a diferença no clima e na estética de uma cidade. Em breve, Fortaleza pode ter lei de incentivo à técnica. PÁGINA 7

O ESTADO Ano VIII Edição No 444 Fortaleza, Ceará, Brasil Terça-feira, 14 de junho de 2016

DESERTIFICAÇÃOUm dos maiores

desafios ambientais do mundo globalizado

PÁGINAS 4, 5, 6, 7 e 8

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2 VERDE

[email protected]

O Estado Verde é uma iniciativa do INVEXP, com apoio do jornal O Estado. EDITORA Tarcilia Rego JORNALISTA Fellipe Málaga DIAGRAMAÇÃO E DESIGN J. Júnior TELEFONES (85) 3033.7500/3033 7505 E (85) 8844.6873 ENDEREÇO Rua Barão de Aracati, 1320 — Aldeota. Fortaleza, CE — CEP 60.115-081. www.oestadoce.com.br/o-estado-verde

Prêmio Joaquim Feitosa

A Secretaria de Meio Am-biente (Sema) realiza dia 17, evento na Assembleia Legisla-tiva, em comemoração ao Dia Mundial de Combate à Deser-tificação e a Seca. Na ocasião, acontece cerimônia de entrega do Prêmio Ambientalista Joa-quim Feitosa, que este ano vai para a Cerâmica Tavares.

LançamentoNo mesmo evento haverá

o lançamento de dois livros: “Desertificação, Degradação da Terra e Secas no Brasil” e “Degradação neutra de terra: o que significa para o Brasil”, com apresentações do econo-mista Antônio Rocha Maga-lhães e de Eduardo Sávio, pre-sidente da Funceme. O comitê organizador do evento aguarda a confirmação das presenças do Ministro do Meio Ambien-te, Sarney Filho, do governador Camilo Santana e do prefeito Roberto Cláudio.

Exposiçãoem Tauá

A Fundação Bernardo Fei-tosa, em parceria com Coelce, Secult e Prefeitura de Tauá, promove a exposição "Veredas de um Sertanejo". A mostra or-ganizada por Fátima Feitosa e Salete Vale, com curadoria des-ta última e projeto museográ-fico de Xico Aragão, trata da trajetória de vida do ambienta-lista Joaquim de Castro Feitosa. Composta por dez expositores de painéis e dois expositores de objetos, a mostra aberta ao pú-blico, acontece no Museu Re-gional dos Inhamuns, em Tauá, desde último dia 28 de maio.

Contra cadeias de produção que cortam árvores

Ficou muito no passado, mas muito no passado, o tempo em que os ex-ploradores e guerreiros nórdicos derrubavam 90 mil árvores, de uma só vez, para erguer construções. A Noruega se tornou o primeiro país do mundo a se comprometer com o fim desmatamento em todo o território nacional, após recente decisão do Parlamento. Para cumprir com a meta, o governo proibiu o corte de árvores e baniu a compra e a produção de qualquer maté-ria-prima que contribua para a destruição de florestas no mundo.

Na sessão decisiva, o Parlamento também se responsabilizou a encon-trar uma maneira de fornecer alguns produtos essenciais, como carne, soja, madeira e óleo de palma, sem causar impactos no ecossistema. De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), esses quatros produtos são responsáveis por quase metade do desmatamento das florestas tropicais do planeta. A Noruega é a primeira nação a botar em prática a promessa feita junto à Alemanha e à Grã-Bretanha de promover esforços significativos con-tra cadeias de produção que gerem corte de árvores, assinada na Cúpula do Clima da ONU, em 2014.

Para esta edição, conversei com três especialistas em desertificação: Margareth Benício da Funceme, Francisco Campelo do Ministério do Meio Ambiente e Leonardo Tinoco, do Instituto Nacional do Semiárido (Insa). Todos concordam que as mu-danças climáticas agravam processos de desertificação, mas que também, é uma oportunidade de trabalhar-mos nossas potencialidades dentro de um contexto da adaptação.

Líderes globais do clima, da França e Marrocos, lançaram um plano detalhado para apoiar a implemen-tação do Acordo de Paris sobre as mudanças climáticas. Na agenda, ações de cooperação entre os governos, cidades, empresas, in-vestidores e cidadãos para reduzir as emissões de carbono e ajudar os países em desenvolvimento, adaptarem-se ao fenômeno, usan-do estratégias sustentáveis como a adoção de energia limpa.

Uma parte fundamental do plano inclui uma série de eventos na cons-trução até a cúpula do clima COP22

ONU em Marrakesh, Marrocos, que vai de novembro 07-18 de 2016.

Atualmente, o Brasil tem uma média de 45 mil animais capturados por ano. O País é um dos que mais apreende animais vivos no mundo, sendo que cerca de 90% do que é traficado são aves, informa a fiscali-zação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA).

Boa! A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) nº 65/2012 pode deixar de ser uma ameaça. O novo relator da proposta, senador Randol-fe Rodrigues (Rede-AP) garantiu que irá apresentar parecer pela inconsti-tucionalidade da PEC que acaba com o licenciamento ambiental. O novo relatório deverá ser votado esta se-mana, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado.

A PEC prevê que a simples apresenta-ção do Estudo de Impacto Ambien-tal é suficiente para garantir a obra, que não poderá mais ser suspensa ou cancelada por esse motivo.

CURTAS

"Os otimista são ingênuos, e os pessimistas amargos. Sou um realis-ta esperançoso. Sou um homem da esperança." Ariano Suassuna.

14 de junhoDia Mundial do Doador de Sangue

Hoje é o Dia Mundial do Doador de Sangue. Instituído em 2004 pela Organização Mundial de Saúde (OMS), o objetivo é conscientizar sobre a importância e a necessidade de hemocomponentes seguros para a população, e agradecer àqueles que salvam vidas através da doação de sangue.

Dados do Ministério da Saúde apontam que 1,9% da população brasileira são de doadores, o ideal é que até 3% doem sangue. Para doar é necessário ter entre 18 e 67 anos, pesar mais de 50 kg, evitar alimentos gordurosos 4h antes do procedimento e apresentar um documento oficial com foto. Em Fortaleza, procure o Hemoce (www.hemoce.ce.gov.br), telefo-ne 3101 2308.

17 de junhoDia Mundial de Combate à Desertificação e à Seca

Proclamado e celebrado anu-almente, desde 1995, pela Or-ganização das Nações Unidas (ONU), o objetivo do Dia Mun-dial de Combate à Desertificação e à Seca é chamar atenção para o problema mundial da destruição de terras férteis, que aumenta gradativamente, e sensibilizar nações, quanto à cooperação in-ternacional no combate à deserti-ficação e os efeitos da seca.

Neste ano, sob o slogan “Pro-teger a Terra. Restaurar os Solos. Envolver as pessoas”, a Conven-ção das Nações Unidas de Com-

bate à Desertificação (UNCCD) defende a importância da coo-peração inclusiva para restaurar e recuperar terras degradadas e contribuir para o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

A China é o país anfitrião das comemorações, e dia 17, em Beijing, acontecerá o principal evento da agenda comemorati-va global. Organizado pelo State Forestry Administration of Chi-na (SFA), órgão estatal chinês responsável pela administração florestal naquele país, anunciará, juntamente com outras nações e partes interessadas, o “One Belt and One Road Joint Action to Combating Desertification Ini-tiative”, um trabalho que apre-senta iniciativas e caminhos no combate à desertificação.

18 de junhoDia do Químico

O químico é comemorado desde o dia 18 de junho de 1956, quando, o então presidente da República, Juscelino Kubitschek, assinou a Lei N° 2.800, conheci-da por “Lei Mater dos Químicos”, criando os Conselhos Federais e Regionais de Química.

Responsável pelo estudo de substancias e materiais – na maioria proveniente da natureza – e suas transformações, o setor químico tem o estigma de ser aquele que mais causa danos ao meio ambiente. No entanto, não deixa de ser uma ciência estrei-tamente ligada à vida; é na área ambiental, que o profissional de química tem destacada atuação na detectação e análise de subs-tâncias, e os possíveis danos das mesmas aos ecossistemas natu-rais e urbanos.

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POR FELIPE MÁ[email protected]

Pelo quinto ano seguido, o Ceará vive dias de forte es-tiagem e as expectativas para 2017 não são das mais posi-tivas, pelo menos é o que diz a Funceme (Fundação Cea-rense de Meteorologia e Re-cursos Hídricos). Em boletim divulgado nesta terça-feira, na sede da entidade, Eduardo Sávio Martins, presidente da Funceme, explicou detalha-damente a avaliação da atual quadra chuvosa no Estado e as algumas projeções para o inverno seguinte.

Infelizmente, a condição invernosa cearense esteve bem abaixo do esperado. O quadrimestre (de fevereiro a abril/2016) apresentou um desvio percentual de -45,2%, sendo a média em torno de 600,7 mm e o observado atin-gindo singelos 329,3 mm, ou seja, um quadro ainda pior do que 2015, que já foi um ano difícil. A região Jaguaribana aparece como a mais afetada dentre as macrorregiões, com desvio de -54,5%, seguida pelo Sertão Central e Inhamuns (-52,3%) e Ibiapaba (-45,7%).

Os meses de março e abril são historicamente os perío-dos de maior intensidade de precipitações no Ceará, porém em tais meses só não choveu menos do que em fevereiro, que é o mês mais crítico do nosso inverno.

As previsões para 2017 não são muito animadoras, toda-via o presidente revela algu-

mas chances de um melhor inverno. “É muito cedo pra falar algo positivo para o ano que vem, mas já há um resfria-mento das bacias oceânicas nas últimas quatro semanas, isso não quer dizer que teremos ga-rantia de inverno, são apenas possibilidades, ainda é cedo”.

Condição de ‘La Niña’“O El Niño, sem dúvidas, foi

um fator decisivo para que ter-minássemos o período inver-noso com chuvas bem abaixo da média. Porém, com águas frias no Pacífico, que é a condi-ção de “La Niña”, temos aí uma projeção de 60% de chances de não termos o El Niño influen-ciando para 2017, só que é pre-ciso esperar um pouco mais, ainda não dá pra ter esperan-ças”, completou Eduardo.

Chuvas cessamNo segundo semestre, con-

forme a característica clima-

tológica do Ceará, quase não chove. Enquanto março e abril têm médias de 203,4 mm e 188 mm, em setembro e outubro, essas médias são de apenas 2,2mm e 3,9mm. “O Governo do Estado, através da Secreta-ria de Recursos Hídricos, têm priorizado a questão do abaste-cimento da população. Desde que lançamos o prognóstico de 2015 o esforço tem sido de se antecipar, garantindo as licita-ções para perfuração de poços”, destacou Martins.

Nada de desperdício “A população de Fortaleza

precisa ter a consciência de reduzir ao máximo o consu-mo de água, evitando todo e qualquer tipo de desperdício”. O conselho é do secretário executivo da pasta estadual de Recursos Hídricos, Ramon Rodrigues, acrescentando que os reservatórios estão com es-toque de água muito baixo,

porque o inverno deste ano não teve recarga.

“As recargas deste ano fo-ram péssimas, praticamente não aconteceram e foram muito abaixo das do ano passado que foram conside-radas muito fracas”, alerta. Conforme lembra, os esto-ques de água no Ceará em termos gerais estão entre 12 e 13%, acrescentando que o açude Castanho que abas-tece Fortaleza está apenas com estoque de 9% e vai bai-xar mais ainda.

“É preciso racionalizar o uso da água em Fortaleza, porque daqui até o fim do ano não há perspectiva de chuvas sendo necessário que cada pessoa tenha a consciência de que é preciso reduzir ao máximo o consumo desse precioso e ne-cessário líquido, porque ele é a razão da vida”, solicita. Ele não sabe se vai haver racionamento de água ainda neste ano.

TERRA SECA

Funceme revela que inverno no Estado teve -45,2% de desvio percentual. Para 2017, há expectativas de El Niño não influenciar e quadro chuvoso melhorar

Chuvas no Ceará ficam abaixo da média; estiagem continua

La Niña é um fenô-meno natural opo-sitor ao famoso El Niño e consiste na diminuição da tem-peratura da super-fície das águas do Oceano Pacífico Tropical Central e Oriental. Assim como o El Niño, sua ocorrência gera uma série de mudanças significativas nos padrões de precipi-tação e temperatura ao redor da Terra.

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DESERTIFICAÇÃO

Única região brasileira suscetível ao fenômeno, no atual contexto social e climático, é o Semiárido brasileiro. Em 2014 quase 24 milhões de pessoas viviam aliz

Um dos maiores desafios ambientais do nosso tempoPOR TARCILIA [email protected]

Mais uma vez, o mundo celebra o Dia Mundial de Combate à Deser-

tificação e à Seca. No próxi-mo dia 17, dois significativos temas estarão na ordem do dia, principalmente, para os povos que vivem nas cha-madas terras secas, como é o caso do Ceará que, de acordo com o Ministério do Meio Ambiente (MMA) tem 92% do seu território submetido à influência da semiaridez.

A desertificação está entre os maiores desafios ambien-tais do nosso tempo. No en-tanto, a maioria das pessoas sequer ouviu falar ou conhece o tema. Segundo a Convenção das Nações Unidas de Com-bate à Desertificação (UNC-CD), o fenômeno corres-ponde à degradação da terra nas zonas áridas, semiáridas e subúmidas secas, devido a vários fatores, como variações climáticas, atividades antrópi-cas insustentáveis e etc.

Semiárido Segundo o especialista em

solo, Leonardo Tinôco, pes-quisador do Instituto Nacio-nal do Semiárido (Insa), a única região brasileira susce-tível à desertificação no atual contexto social e climático, é o Semiárido brasileiro. “Ou-tras regiões no Sul do País tem

processos de formação de de-sertos, que é diferente do pro-cesso de desertificação”, disse.

“Estima-se que em áreas con-tínuas, uma variação de 250.000 a 600.000 hectares de área, este-ja de médio a avançado grau de desertificação em todo o Semiárido. Porém há diferentes avaliações nessas análises.”

Tinôco informou que o Insa, em conjunto com ou-tras instituições, vem desen-volvendo estudos no sentido de aprimorar essas análises e lançar o mais breve possí-vel um sistema de monitora-mento ambiental do processo de desertificação onde pro-porá a unificação das meto-dologias de análise e lançará protocolos de medidas para a mitigação dos efeitos e até a reversão do processo nas áreas mais afetadas.

SustentabilidadeA desertificação e a seca

estão inter-relacionadas com problemas sociais, tais como pobreza, má situação sanitá-ria e nutricional, inseguran-ça alimentar, e migração. A água é, por excelência, o fator limitativo mais relevante do Semiárido, tanto para a ocu-pação humana como para as atividades rurais. A seca é um fenômeno climático causado pela insuficiência de precipi-tação pluviométrica, em uma determinada região por um período de tempo prolongado.

O uso sustentável da Caa-

tinga é uma alternativa e um apoio ao processo de inclu-são, de acordo com o diretor do Departamento de Com-bate à Desertificação do Mi-nistério do Meio Ambiente (MMA), Francisco Campel-lo. “Não entendo o benefi-ciamento de outros produtos que não sejam aqueles pró-prios da Caatinga. Isto pas-sa pela compreensão de que posso conviver e valorizar os produtos postos pela própria natureza”, ressalta.

AdaptaçãoPara Campelo, o degrada-

dor é o próprio morador do Semiárido, simplesmente, por que ele não entende o bioma no qual vive. “Não saber fazer uso adequado e sustentável das potencialidades da região, o que resulta em degradação."

Não compensa tirar a Caa-tinga para colocar o capim. O capim precisa de água, é uma gramínea. A chuva por aqui é muito mais irregular do que na África, e a adaptação é a ques-tão fundamental. O engano é a troca de cultura. “O ambiente não aceita uma cultura dife-rente e não adequada às condi-ções daquele ecossistema.”

Como modelo de sustenta-bilidade, o diretor do MMA cita a Cerâmica Tavares que utiliza lenha proveniente de manejo florestal , um dos di-ferenciais dos negócios do grupo cearense, que emprega técnicas sustentáveis para a re-

tirada específica de certas ár-vores. “Inicialmente, foram 90 metros cúbicos, em 11 anos já foram retirados, 200 metros, e de forma sustentável.”

Nesse quesito, ele disse que o Ceará é referência. “A Caatinga é o único bioma com o mane-jo florestal validado, o que a Amazônia não tem”, encerra, afirmando que “trabalhar com sustentabilidade, mantendo os serviços ambientais, tem dado retorno, e é preciso.”

Ceará: estudos recentes

De acordo com os estudos recentes e o mapeamento rea-lizado pela Funceme, as maio-res evidências de degradação continuam nas regiões dos Inhamuns/Sertões do Cra-teús, no município de Irau-çuba e regiões circunvizinhas e no Médio Jaguaribe, embora já tenham manchas espalha-das em outras regiões do es-tado. As estimavas apontam que, atualmente, o Ceará tem 16.810,38km2, equivalentes a 11,21%, de sua área em nível fortemente degradado, susce-tíveis à desertificação.

ODSEm setembro de 2015, lí-

deres mundiais, reunidos na sede da Organização das Na-ções Unidas (ONU), em Nova York adotaram formalmen-te uma nova agenda global, formado por 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável

(ODS), que devem ser imple-mentados por todos os países do mundo durante os próxi-mos 15 anos, até 2030.

Afirmando entre outros pontos que, “2,6 bilhões de pessoas dependem direta-mente da agricultura, 52% da terra usada para tal, é afetada, moderada ou severamente pela degradação do solo, e que anualmente, devido à seca e desertificação, 12 milhões de hectares são perdidos (23 hec-tares por minuto), o ODS 15 trata da questão do solo e tem como objetivo: “proteger, recu-perar e promover o uso susten-tável dos ecossistemas terres-tres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a de-sertificação, deter e reverter a degradação da terra e deter a perda de biodiversidade."

Saiba mais- As causas mais frequentes

da desertificação estão associa-das ao uso inadequado do solo e da água no desenvolvimento de atividades agropecuárias, na mineração, na irrigação mal planejada e no desmata-mento indiscriminado.

- Em 2014 quase 24 milhões de pessoas viviam no Semiári-do. Hoje, estima-se que esta-mos próximos de 25 milhões de habitantes. O Semiárido brasileiro é o mais populoso do mundo. Aqui não temos terras áridas, pelo menos até o momento ante esse contexto de mudanças climáticas.

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5VERDE

Uma empresa de energia positiva!

Uma empresa de energia positiva!

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que, dependendo do grau de degradação da terra e de ações de manejo do solo, é possível reverter o processo. O projeto em execução pela Funceme, que está trabalhando em uma área degradada na região do médio Jagua-ribe, mostra resultados positivos através da apli-cação de técnicas simples de manejo do solo.

Outras ações também mostram essa possibili-dade, como é o caso do Projeto de Desenvolvi-mento Hidroambiental (Prodham) da Secreta-ria de Recursos Hídricos (SRH) e o Projeto Manda-caru, que elabora estudos de suporte ao planejamen-to e à gestão de sistemas hídricos no Nordeste, com foco no abastecimento urbano e na operação de infraestruturas hídricas de uso múltiplo, e é executa-do pela Ematerce em con-vênio com o Fundo Clima do Ministério do Meio Ambiente (MMA), no município de Irauçuba.

Qual a melhor arma para combater a deser-tificação? Quais os pro-gramas que temos no Ceará?

Políticas adequadas de convivência com o Semi-árido, ações de assistência técnica e social no campo. Hoje, existem muitas al-ternativas adaptadas à re-alidade da região, visando o desenvolvimento sus-tentável, é o caso do Plano Estadual de Combate à Desertificação (PAE- CE) que, através da imple-mentação de suas diretri-zes, considero um bom caminho para combater a desertificação.

Na sua percepção, como o Governo Federal vem tratando a questão da desertificação?

Nosso sentimento é que o Governo Federal não trata o assunto como uma prioridade. Existe a Comissão Nacional de

Combate à Desertifica-ção (CNCD), presidida pelo MMA, e da qual a Funceme é membro. Tem como objetivo principal, cumprir os compromis-sos assumidos pelo Brasil na Convenção das Na-ções Unidas de Combate à Desertificação e Miti-gação dos Efeitos da Seca (UNCCD). Também, foi elaborado o Programa Nacional de Combate à Desertificação e Mitiga-ção dos Efeitos da Seca, com diretrizes claras a serem desenvolvidas, mas que não saíram do papel.

Existem programas e planos com foco na con-servação e utilização ra-cional do solo, que, de alguma forma, estão liga-dos ao tema. São exem-plos: Cadastro Ambiental Rural (CAR); Plano ABC; Programa Produtor de Água; Programa Bolsa Verde; Zoneamento Eco-lógico-Econômico e Zo-neamento Agrícola.

Temos um instrumen-to relevante, mas que pre-cisa ser cumprido. É a Lei 13.153, de 30 de Julho de 2015, estabelece a Política Nacional de Combate à

Desertificação e Mitiga-ção dos Efeitos da Seca e define o processo de acor-do com a ONU. Mas, na realidade pouco se tem feito na prática. A nature-za precisa de muito mais e urgentemente!

Significa dizer que a política ainda não é efe-tiva?

A política nacional ain-da não foi instituída no País e a coordenação da questão da desertificação é feita no âmbito de um departamento no MMA, que não está formalmente

constituído na estrutura do Ministério. O Brasil cumpriu com uma das principais obrigações da Convenção, que é a ela-boração de um Plano de Ação Nacional para Com-bater a Desertificação, o PAN-Brasil. Contudo, a implementação está mui-to aquém do esperado, o PAN não é utilizado como um instrumento norteador das ações go-vernamentais e não go-vernamentais no combate à desertificação.

Qual o papel da Fun-ceme no combate a de-sertificação?

A Funceme é uma ins-tituição pioneira no trato desta temática. Ao cum-prir com sua finalidade, de realizar pesquisas e estudos para o melhor co-nhecimento da natureza do Semiárido, a partir da década de 90, aprofun-dou os conhecimentos sobre áreas degradadas suscetíveis aos proces-sos de desertificação no Ceará. Esse estudo con-tribuiu para a realização , em 1992,em Fortaleza, da primeira ICID - Confe-rência Internacional sobre Impactos da Variabilidade Climática e Desenvolvi-mento Sustentável em Re-giões Semiáridas. A partir daí, vários outros estudos e pesquisas sobre o tema foram desenvolvidos pela Funceme, que passou a ser um órgão de referência.

Nos últimos anos o pa-pel da Fundação deixou de ser apenas o de mape-ar e monitorar e passou a ter ações mais concretas e práticas. A instituição participou diretamente da execução do Plano Esta-dual de Combate à Deser-tificação e Mitigação dos Efeitos da Seca (PAE-CE) e de diversos projetos di-recionados ao assunto: o “Mata Branca”, Projeto de Conservação e Ges-tão Sustentável do Bioma Caatinga e o Prodham, com a ótica de promover

a sustentabilidade dos re-cursos hídricos, através de ações de conservação do solo, da água e da vege-tação em micro bacias hi-drográficas do Semiárido.

Que instrumentos de fomentos apoiam ações de convivência com o Se-miárido e que você con-sidera mais efetivos, no Ceará?

Existem algumas fon-tes de recursos que tem ajudado bastante as ações na área ambiental, com destaque para o Fundo Nacional de Mudanças do Clima do MMA. O Dnocs, a Agência Nacional de Águas (ANA), o BNB e a Petrobrás, também têm atuado nessa área, con-tribuindo para o melhor conhecimento e imple-mentação de ações de con-vivência com a realidade do nosso Semiárido.

Glossário Desertificação: é a degradação das terras em zo-nas áridas, semiá-ridas e subúmidas secas provenien-tes de atividades humanas ou mu-danças climáticas.

Seca: fenômeno climático causado pela insuficiência de precipitação pluviométrica, em uma determinada região por um período de tempo prolongado.

UNCCD: con-venção da ONU, específica para o tema desertifica-ção e que esta-belece diretrizes e compromissos para os países, que atendam às demandas socio-ambientais nos espaços áridos, semiáridos e subúmidos secos.

FOTO DIVULGAÇÃO

Atualmente, podemos dizer que ainda não existe deserto no Estado.Sobre os processos de áreas com risco de desertificação

Nosso sentimento é que o Governo Federal não trata o assunto como prioridade.Sobre como as autoridades agem com relação às áreas degradadas

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POR FELIPE MÁ[email protected]

Foi discutida, na sema-na passada, em audiência pública na Câmara dos Vereadores de Fortaleza, a implantação dos telha-dos verdes em residências e edificações pela Cida-de. O debate explicou detalhadamente como funciona a tecnologia, e apresentou vários exem-plos projetos de outros lo-calidades do mundo que fizeram a implantação da nova tecnologia verde.

Segundo o vereador Evaldo Lima (PC do B), o maior entusiasta político da ideia, a capital cearense está apta a receber tal ino-vação. “O telhado verde já é uma realidade em vários cantos do mundo, as cida-des de Recife e Santos, por

exemplo, já possuem uma legislação que estabelece a implantação do telha-do ecológico, mudando a realidade destes locais”, detalha o vereador.

“Fortaleza está prepa-rada e precisa receber a tecnologia, que além de deixar a Capital estetica-mente mais bonita, trazen-do o verde para uma cida-

de predominantemente cinza, a medida ainda pre-vê a redução do calor e a melhoria da qualidade do ar”, completa. A intenção da proposta é que o proje-

to tramite e transforme-se em lei até o final da pre-sente legislatura, isto é, até o final deste ano.

IncentivoA iniciativa partiu de

uma união de pensa-mentos e ideias de repre-sentantes do Sindicato dos Engenheiros no Es-tado do Ceará (Senge), do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Ceará (Crea-CE), do Grupo de Trabalho do Meio Ambiente (GTMA), da Universidade de Forta-leza (Unifor) e da Univer-sidade Federal do Ceará (UFC), quando buscaram o apoio de Evaldo Lima na Câmara Municipal para viabilizar o projeto.

O vereador ainda ex-plica como o ecotelhado pode ser incentivado pelo

Governo. “Seja por meio de renúncias fiscais em impostos, por meio de al-guma outra política públi-ca, serão criadas medidas de incentivo para isso. O projeto se torna acessível a partir da adoção desses incentivos fiscais. Em vá-rias regiões, os cidadãos que aderiram à medida, tiveram isenção de parte do pagamento do IPTU, por exemplo”, disse.

No último encontro entre os interessados pela cobertura vegetal, o debate resultou na ela-boração de uma minuta que está servindo de base para o desenvolvimento do Projeto de Lei (PL), que deve ser protocolado até o fim deste mês, no Departamento Legislati-vo da Câmara Municipal de Fortaleza.

AMBIENTE URBANO

Projeto visa transformar em lei o incentivo ao uso dos ecotelhados na Capital. Proposta visa estimular e valorizar o meio ambiente, através de uma ideia nem tão nova, porém inovadora

Sai o cinza, entra o verde: Fortaleza de olho nos telhados ecológicos

O QUE É TELHADO VERDE? E em tempos de desertificações e mudanças climáticas, o telhado verde – “solução arquitetônica que consiste na aplicação de uma camada vegetal sobre uma base imper-meável, podendo ser uma laje impermeabilizada ou mesmo um telhado convencional” – pode ser uma boa opção. Esteticamente e ecologicamente corretos, é um tipo de cobertura que pode estabilizar o clima de uma edificação, evitando que esquente ou esfrie em demasia, servindo inclusive para melhorar as condições termoacústicas.

Beleza, lazer e economiaEm paisagens predominantemente urbanas, promove o reequilíbrio ambiental, trazendo os benefícios da vegetação para a saúde pública e a biodiversidade. Além da função embelezamento, possibilita a criação de novas áreas de lazer e proporciona serviços ambientais: diminui a temperatura urbana, umidifica o ar e retém a água das chuvas, e ainda, protege o edifício de temperaturas extremas, especialmente no verão, reduzindo as mesmas em até 3 graus centigrados.E mais, economiza energia. Estudos de bioclima-tismo indicam que, com o uso de coberturas vivas, é possível melhorar em 90% as condições térmicas

no interior da edificação, sem recorrer aos sistemas de climatização ou ar-condicionado, artificiais.

Edifício Matarazzo Um bom exemplo é o Edifício Matarazzo, no Centro Velho de São Paulo, também conhecido como Banespinha (já foi sede do extinto Banespa), e que tem um jardim com mais de 400 espécies vegetais e um pequeno lago com carpas, na cobertura. Com uma arquitetura neoclássica, o pré-dio, que abriga a Prefeitura de São Paulo desde 2004, foi inaugurado em 1939 e construído pela família Matarazzo.Se na década de 30 já era possível ter uma jardim com essas características sobre um prédio de 14 andares, imagine hoje, com tantas tecnologias verdes. Você não precisa esperar a criação ou aprovação da lei na Câmara Municipal, para começar o seu, na cobertura de sua casa, escritório, ou mesmo na guarita de seu condomínio. Abaixo, um passo-a--passo, caso você resolva começar o seu telhado verde, hoje.

Telhado verde: passo-a-passo 1. Sobre a superfície impermeabilizada através de lona ou manta asfáltica, estende-se uma manta geotêxtil mais conhe-cida como bidim. A manta vai filtrar a água fazendo com

que partículas de areia e terra ou raízes não passem pela tubulação de queda da água de chuva;2. Sobre essa manta, faz-se uma camada de argila expandi-da, um substrato leve que vai manter arejado o fundo da cobertura, impe-dindo o apodreci-mento das ra-ízes e facilitando o escoamento da água;3. Novamente utiliza-se mais uma camada da manta geotêx-til, a qual cobrirá a argila para que a terra não se misture a ela;4. Cobrir uma camada mínima de 10 cm de terra preta adubada;5. Posicionar as leivas de grama;6. Instalar rufos de fibra ou metálicos, para evitar infiltrações.

Fonte: Ecodhome arquitetura e consul-toria www.ecodhome.com.br

Page 8: O Estado Verde 14/06/2016

As praias arenosas cobrem aproxi-madamente 3/4 da costa mundial, po-

dem ser entendidas como locais costeiros com ecos-sistemas dinâmicos devi-do à interação das ondas e marés, sedimento (areia) e ventos. Também são con-sideradas como impor-tante região de transição entre mar e terra. Alguns especialistas descrevem este de ambiente, como o mais dinâmico da super-fície do planeta.

Devido a esse dina-mismo, os sedimentos são constantemente leva-dos e trazidos de uma re-gião para outra da costa através das correntes ma-rítima e eólica, mas isso, se não sofrerem ações do homem sobre estas cor-rentes. Um bom exemplo, no Ceará, infelizmente, é a Praia do Icaraí, no mu-nicípio de Caucaia

A construção do porto do Mucuripe, o aterro da Praia de Iracema e as su-cessivas construções dos espigões na orla de For-taleza são considerados algumas das causas para a invasão do mar na costa de Caucaia.

O fenômeno ocorre devido às correntes que passam pela nossa costa, ter sentido leste – oes-

te. Assim, os sedimentos que eram para chegar ao Icaraí, acabam ficando retidos em Fortaleza, fa-zendo com que as aguas cheguem à costa da praia com maior intensidade, ocasionando erosão.

Não deu certoAlgumas medidas já

foram tomadas, mas não trouxeram bons resulta-dos, como a implantação dos “bag wall” , pois a força do mar é grande ao ponto de destrui-los. O

“bag wall” é tecnologia co-nhecida como uma espé-cie de dominó, uma pedra em cima da outra.

Vale ressaltar que a região apresenta grande biodiversidade, que pode ser mais facilmente carac-terizada por zonações; de maneira simples o litoral pode ser dividido em três zonas ou regiões: suprali-toral, a região mais seca e onde é possível encontrar o caranguejo-fantasma; a médiolitoral ou entrema-rés, determinada pela su-

bida e descida da maré, e aonde é possível encontrar animais como moluscos, crustáceos, poliquetas e as famosas “conchinhas” e por fim, o infralitoral, que é a região sempre submer-sa pela agua do mar, na qual aninais, como alguns moluscos, crustáceos, po-liquetas e peixes, através do processo de adaptação com a água, podem ficar boa parte submersos.

MigraçãoA diversificação de

adaptações é o que mais chama atenção da biodi-versidade faunística, em praias arenosas, as es-pécies movimentam-se pelas zonações da praia, de acordo com suas ne-cessidades. Assim sendo, muitas vezes, a separação da fauna em praias are-nosas não será facilmente perceptível, pois muitos realizaram migração de acordo com a maré e for-ça das ondas, a procura de melhores condições de alimentação e/ou abrigo

contra predadores. Os estudos sobre a fau-

na em regiões de praia arenosa no Brasil é mais concentrado nas regiões, Sul e Sudeste, diferente do Nordeste, onde pesquisas sobre o tema são recentes.

Embora a exploração da fauna costeira, princi-palmente para a alimenta-ção, seja antiga, preocupa o desperdício encontrado em alguns lugares, pois muitos animais são capturados, mas por apresentarem pouco valor, acabam sendo mortos indevidamente.

No que se refere à ve-getação com influência marinha, alguns pesqui-sadores denominam como restinga, e normalmente está localizada em cam-pos de dunas, na região de pós-praia. Este tipo de vegetação tem a função de estabilização, através da contribuição de matéria orgânica e do acúmulo de umidade no substrato.

É importante destacar que além de proporcionar alimento e atividades re-creativas, as praias areno-sas são regiões abertas ao mar, e oferecem proteção contra ações marítimas, como as famosas ressa-cas; e, portanto, devem ser tratadas com zelo para o equilíbrio natural da re-gião costeira.

Praias arenosas do Ceará apresentam rica biodiversidade

FOTO FRANCISCO GABRIEL

Erosão na Praia do Icaraí e destruição da “bag wall”

INFORMAÇÃO AMBIENTAL

Por Francisco Gabriel Dias Mota Araújo*, Mariana Silva Alves Barbosa* e Bruno Edson Chaves***

*Informação Ambiental: é uma colaboração de alunos*e de professores ** da Universidade Estadual do Ceará (Uece).

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