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O uso de imagens nos Portais de divulgação da produção historiográfica: um estudo de
caso a partir dos Laboratórios
Igor Lemos Moreira1
Márcia Ramos de Oliveira2
Neste artigo, apresentamos resultados parciais do Projeto mencionado, que encontra-se
em desenvolvimento desde 2014, vinculado enquanto linha de abordagem a experiência
adquirida no Laboratório de Imagem e Som (LIS/FAED) da Universidade do Estado de Santa
Catarina (UDESC). Diante dos objetivos do Projeto existe a proposta de analisar as distintas
atuações dos Laboratórios de História Oral e Imagem e Som nas instituições brasileiras a
partir da divulgação em suas plataformas digitais e sites, buscando-se identificar e estabelecer
aproximações quanto aos conceitos e/ou orientações teórico-metodológicas da História
Digital, História Pública e História do Tempo Presente. Considerando tais premissas como
atualizações no aparente ofício do historiador contemporâneo, a preocupação em estender os
resultados do trabalho de cunho historiográfico constitui-se o ponto em que a divulgação do
conhecimento desta área aproxima-se do universo da comunicação, e até certo ponto,
compartilha de interpretações relacionadas a História (Cultural) da Imprensa, ou mesmo da
História Social da Mídia. Basicamente, a pesquisa empírica sobre os sites apontados esteve
vinculada a identificação dos laboratórios e centros de memória articulando com as novas
linguagens digitais e técnicas na disponibilização dos conteúdos de cada área. Para além da
palavra escrita e das textualidades, buscou-se observar as relações estabelecidas com o
entorno social, além da esfera acadêmica, em especial a prática da História Oral. Como
destaca Bresciano (2010),
1 Graduando em História pela Universidade do Estado de Santa Catarina. Bolsista de Iniciação Científica no Projeto “A
experiência dos Laboratórios de História Oral e Imagem e Som diante da História Pública: Estudos e Caso e Reflexão”
(2014/2016). E-mail: [email protected] 2 Doutora em História. Orientadora/Coordenadora do projeto supracitado. Professora no Departamento de História/UDESC
com vinculo no PPGH e PROFHISTÓRIA/UDESC. Coordenadora do Laboratório da Imagem e Som. E-mail:
La Historia Oral, en cuanto subcampo disciplinario, no permanece
ajena a esas transformaciones, en la medida en que ciertos cambios
tecnológicos introducen modalidades originales de recabar, procesar,
analizar y difundir testimonios orales, que inciden en el plano
heurístico, hermenéutico, organizativo y discursivo de la propia
especialización disciplinaria. (BRESCIANO, 2010. p. 1)
Em uma primeira etapa realizamos um inventário através da plataforma de pesquisa
www.google.com.br dos Laboratórios de Imagem e Som e/ou História Oral , listando sites
e/ou plataformas digitais encontrados. Com esse levantamento, conseguimos relacionar,
inicialmente, 14 Laboratórios de História Oral e/ou Imagem e Som nas 5 grandes regiões do
Brasil, além de 11 Centros de Memória observados posteriormente durante a primeira etapa
do projeto. Posteriormente, a busca estendeu-se também a Centros de Memória, ampliando
parcialmente o escopo de observação. Para melhor sistematizar as informações apresentamos
a tabela, conforme espaços identificados em cada uma das grandes regiões.3
Região Portais (Laboratórios de Imagem e Som e
História Oral)
Acervo de Memória
S Laboratório de História Oral (Univille)
LABHORAL (UFSC)
Laboratório de Pesquisa em História Oral
(PUCRS)
LAPIS (UFSC)
LEDI (UEL)
LIM (UDESC)
DELFOS - Espaço de Documentação e
Memória Social
SE LABHOI (UFF)
Laboratório de História Oral
(CMU/UNICAMP)
Laboratório de História Oral - LHO (Univás)
Núcleo de História Oral (UFMG)
Centro de Memória da Unicamp
(UNICAMP)
Museu da Imagem e do Som (MIS- SP)
Museu da Imagem e do Som de
Campinas
3 Essa etapa da Pesquisa contou, além dos autores desse artigo, com a participação do Acadêmico Lucas Txai Fonseca,
bolsista do projeto entre Agosto de 2015 e Fevereiro de 2016.
Região Portais (Laboratórios de Imagem e Som e
História Oral)
Acervo de Memória
Museu da Imagem e do Som (Rio de
Janeiro)
CO Laboratório de Estudos da Imprensa, Imagem
e Som – LEIIS (UFMS)
Museu da Imagem e do Som (Campo
Grande)
CEPEDOM (Centro de Pesquisa e
Documentação em Memória- UEG)
N Laboratório de Imagem e Som – LABI
(UFAC)
Museu de Imagem e Som – MIS
(Amapá)
Museu da Imagem e do Som do Pará
NE Laboratório de História Oral (UFPE)
LABORATÓRIO DE HISTÓRIA ORAL E
IMAGEM-LABHORI (UERN)
Museu da Imagem e do Som do Ceará –
MIS (Ceará)
Museu da Imagem e do Som de
Alagoas – MISA
CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO E
MEMÓRIA REGIONAL (CEDOC -
UESC)
Tabela produzida pelos autores (2015).
Como evidenciado na tabela, as regiões Sul e Sudeste apresentaram um concetrado
número de sites e plataformas, correspondendo indiretamente a uma maior concentração
também de instituições acadêmicas e iniciativas de pesquisa nestas duas grandes áreas do
país. Em parte, a ampliação do escopo da pesquisa integrando os Centros de Memória deve-se
a esta observação inicial no trabalho, a medida em que nestas regiões encontravam-se
instituições acadêmicas de maior tradição quanto ao ensino superior, no comparativo com as
demais regiões do país. O que justificava, em grande medida, também o maior número de
laboratórios e centros de pesquisa, e por consequência, dos sites e plataformas identificados.
Tal constatação, no entanto, não pode afirmar que nas regiões sul e sudestes encontre-se a
maior concentração de pesquisadores e produções no campo da história oral, e sim que nelas
existem mecanismos de divulgações mais utilizados/acessado no ambiente virtual.
Portais dos dois laboratórios: a história e as imagens
Enquanto estudo de caso, propriamente, propomos observar os Portais do Laboratório de
Estudos dos Domínios da Imagem (LEDI/ UEL) e Laboratório de História Oral
(LABHOI/UFF).
O LEDI, coordenado atualmente pela professora Edméria Ribeiro, como primeiro
estudo de caso observado, disponibiliza um portal vinculado a Universidade Estadual de
Londrina (UEL/ PR), que destaca em sua apresentação o objetivo de
de promover a integração entre professores(as), alunos(as) e
comunidade externa, através do tema da IMAGEM. Fomenta o
desenvolvimento da pesquisa a partir da imagem enquanto objeto de
estudo; a disseminação dos resultados das pesquisas junto às
comunidades escolar e externa; a elaboração de materiais didáticos
pedagógicos (livros, vídeos e exposições/banners) voltados para o
Ensino Fundamental e Médio; a realização de oficinas nas escolas
municipais e estaduais; o estudo em grupo de trabalho
problematizando a imagem como fonte e/ou objeto e organização do
evento bianual, de caráter internacional denominado
ENEIMAGEM/EIEMAGEM.
(Em: <<http://www.uel.br/cch/his/ledi/ledi2015/?page_id=39>>.
Acesso em 20 de Maio de 2016).
Com relação aos membros, consta na lista de organizadores e pesquisadores
associados especialmente a UEL, porém foi possível observar parcerias com outras
universidades tais como a UNESP e a UEM. Suas produções estão vinculadas a três eixso de
ação até o momento: A Revista Domínios da Imagem; o projeto História na Comunidade; e,
o Eneimagens (assim como seus anais).
A Revista Domínios da Imagem é um periódico acadêmico de caráter multidisciplinar
online publicado semestralmente, em circulação desde 2007, totalizando 18 números até o
momento. A edição mais recente corresponde ao seu 12º Volume e 18ª Edição4. O Projeto
“História na Comunidade” orienta-se pela produção de bibliografias voltadas a circulação
especialmente na grande região de Londrina. Segundo a proposta que consta no site do LEDI:
A coleção História na Comunidade constitui-se em produção
bibliográfica que faz parte das atividades desenvolvidas pelo LEDI –
Laboratório de Estudos dos Domínios da Imagem . Além dos livros
desta coleção, são produzidas também exposições (com o intuito de
circular as escolas de Londrina e Região) e vídeos – que juntos
constituem-se em uma das ações realizadas pelos membros do LEDI,
ou seja, trata-se de um conjunto de materiais, com o mesmo tema,
composto por uma exposição, vídeo e livro (Disponível em
<<http://www.uel.br/cch/his/ledi/ledi2015/?page_id=55>> Acesso
em: 20 de Maio de 2016).
Tal Projeto já disponibilizou uma série de e-books no site do LEDI e geralmente são
acompanhados de vídeos e/ou exposições. Até agora foram produzidos e disponibilizados
materiais de nove temas diferentes, incluindo proposições de trabalhos como “Imagens
Anarquistas”, a “Revista O Cruzeiro”, iconografias religiosas e a “América Hispânica”.
O terceiro eixo apresentado pelo site vem focado na realização eventos específicos na
área de análise da imagem, em prol da divulgação e circulação de produções acadêmicas que
abordam esta forma de linguagem no campo da historiografia. Foram realizados 2 eventos
bienais que ocorreram em 2007, no caso do primeiro, e 2013, o segundo. Trata-se,
respectivamente, dos “Encontros Nacionais de Estudos de Imagem” (ENEIMAGEM) e dos
“Encontros Internacionais de Estudos de Imagens”. Segundo o LEDI:
Os Encontros Nacionais de Estudos da Imagem (ENEIMAGEM) e
Encontros Internacionais de Estudos da Imagem (EIEIMAGEM) são
eventos que acontecem paralelamente a cada dois anos (2007, 2009,
2011, 2013, 2015) e congregam estudiosos e estudiosas da imagem de
diversas áreas de todo o Brasil e de outros países, com grande
participação da América Latina. (Disponivel em:
<<http://www.uel.br/cch/his/ledi/ledi2015/?page_id=57>>. Acesso
em: 20 de Maio de 2016).
4 Para saber mais acesse: http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/dominiosdaimagem.
No site encontram-se ainda disponíveis os anais e links das edições anteriores dos
eventos, porém ainda sem menção a realização de uma próxima programação, ainda que
inicialmente prevista para 2017.
Com relação ao acervo, o LEDI representa um caso em específico. Ele não possui um
acervo próprio ou trabalha na produção de documentação e/ou fontes históricas. Tem como
características promover os diversos bancos de dados e acervos online ligados a Laboratorios
e Associações, Museus, Revistas, Bibliotecas, Arquivos, Bancos de Imagens, Cinemas,
Associações, Instituições Parimôniais, entre outros de alcance nacional e internacional. Neste
sentido, deixa de disponibilizar um acervo próprio em termos documentais, mas uma memória
sobre as produções voltadas aos estudos da história diante da cultura visual, sendo sua
contribuição neste sentido justamente o acesso ao conhecimento integrado sobre o tema,
enquanto plataforma que vincula de informações locais às mais distintas fontes e referências
para a pesquisa na área. Assim, poderiamos pensar em sua sessão de “acervo” como uma
página integradora de informações sobre locais que disponibilizam fontes para pesquisa.
No segundo estudo de caso, o LABHOI, Laboratório vinculado a Universidade
Federal Fluminense (UFF), sob a Coordenação da Profa. Hebe Mattos apresenta um site de m
layout claro e atrativo a primeira vista. As linhas de pesquisa do laboratório, que é também o
modo como o site é organizado, são unidas pelo eixo comum dos estudos sobre memória e
são: Memória, África, Escravidão; Memória, Artes, Mídias; Memória, Cidade, Comunidade.
Nesse artigo nos centraremos na segunda linha citada.
Segundo o próprio laboratório,
A linha se organiza em torno de uma história da arte como história da
imagem, assumindo o conceito de cultura visual como referência ao
enfatizar o estudo das práticas do olhar e da produção de sentidos nas
sociedades contemporâneas através das mídias visuais e sonoras.
Desenvolve também investigação sobre imprensa, fotografia, cinema,
rádio e televisão, compreendidos como dispositivos de mediação
cultural e agenciadores de culturas políticas. Neste sentido, interessa-
se por desenvolver estudos voltados para a identificação dos
mediadores culturais e análise do circuito social das mídias (produção,
circulação, consumo e agenciamento), dimensionando seu papel na
construção da memória social contemporânea. (Em:
<<http://www.labhoi.uff.br/midia>>. Acesso em 20 de Maio de 2016).
Ainda articuladas a linha, existem também cinco grandes projetos de pesquisa,
integrados enquanto visibilidade de outras tantas ações de pesquisa e como forte apoio de
captação externa a universidade, envolvendo recursos para o seu desenvolvimento. Podem ser
acessados através dos links disponibilizados, apresentados individualmente, indicando em
detalhes seus direcionamentos na pesquisa, objetivos, coordenadores, produções em geral. É
interessante notar que entre todos, apenas um possui recorte temporal anterior ao século XX, e
justamente por isso, foi escolhido para a observação realizada neste trabalho sobre a linha
“Memória, Artes, Mídia”. Até o último acesso (em 01 de Março de 2015), os projetos de
pesquisa eram os seguintes: O Olhar Engajado: Prática Fotográfica e os Sentidos da História,
Brasil 1960-1990; Memórias do Contemporâneo: narrativas e imagens do fotojornalismo no
Brasil do século XX; Imagens Urbanas no Brasil: escultura pública e grafite urbano
contemporâneo; SENTIDOS DA AMERICANIDADE: conferências interamericanas e
esculturas públicas americanas na cidade do Rio de Janeiro; Sentidos da arte estrangeira no
Brasil.
Com excessão dos dois últimos projetos, todos os demais possuem produções em
vídeo, acervo de imagens e sons, além de gravações de entrevistas e edições de livros
temáticos apontando para o interesse efetivo do Laboratório e da Linha
O site do LABHOI como um todo possui ricos acervos digitais tanto na área de
história da imagem quanto na área de História oral. No caso das entrevistas, estas são
referenciadas para a realização da pesquisa in loco na sede do Laboratório, através de
referências informativas (fichas) de identificação desta documentação. No caso do
LABHOI/UFF observamos que as produções estão muito ligadas a reflexão sobre a imagem,
tendo a fotografia e o fotojornalismo como um dos principais interesses e investigações, assim
como do banco de dados disponibilizados.
Conforme informado neste portal, o LABHOI é um espaço voltado ao
desenvolvimento da pesquisa e disponibilização de dados direcionado as reflexões sobre os
usos e estudo de imagens, constituído como um centro de referência para os estudiosos desta
área, como na afirmativa que segue,
Nesse sentido, reúne coleções de imagens virtuais constituídas no
âmbito de pesquisas desenvolvidas pelos professores, alunos de pós-
graduação e graduação, bem como por pesquisadores associados. As
coleções de imagens virtuais do LABHOI são disponibilizadas no site
eletrônico em séries organizadas pelas linhas de pesquisa do
laboratório, compondo um banco de imagens de finalidades didáticas
e de referência para a investigação histórica. O LABHOI possui ainda
uma videoteca voltada para o ensino de história. Mais recentemente, o
LABHOI tem promovido a produção de vídeos experimentais, com o
sentido de iniciar estudantes de história na videografia histórica e
documental, traduzindo o compromisso com a integração de ensino e
pesquisa e teoria e prática na formação do profissional de história
(Disponível em: <<http://www.labhoi.uff.br/node/30>> Acesso em:
20 de maio de 2016).
Com tal perspectiva, o laboratório faz uma distinção entre imagens técnicas e imagens
artísticas. No primeiro caso, existe uma concentração no estudo da história da fotografia, do
cinema e vídeo, além da cartografia, através de uma abordagem crítica que objetiva
desnaturalizar os usos da fotografia e o papel do sujeito do olhar. Diante disso ainda enfatiza-
se as relações existentes entre a técnica, as mídias, a indústria cultural e a cultura de massas.
Sobre as imagens artísticas, existe uma preocupação em perceber as relações entre arte e
sociedade no que se refere a três vertentes principais: história de coleções, história de
exposições e história de obras em particular.
Trata-se de discutir os processos de institucionalização da arte, museus e
patrimônio cultural. Estudar história da imagem significa tomar o olhar
como objeto da investigação histórica. O olhar nunca é inocente! Assim,
trata-se de demarcar a visão como prática e construção que implica em
processos sociais de produção de sentidos ou significados. Nesses termos,
a imagem se define como fonte para o estudo da cultura visual (Disponível em: <<http://www.labhoi.uff.br/node/30>> Acesso em:
20 de maio de 2016).
O site do LABHOI destaca-se pelo rico acervo em conteúdos de produções
audiovisuais, desenvolvidas pelo Laboratório ou em parceria com outras instituições. No
banco de imagens disponíveis online este farto material foi catalogado e dividido em
“coleções”. Cada coleção surge acompanhada de um histórico ou um resumo sobre como foi
criada ou organizada, identificando os responsáveis pela elaboração. Vale ressaltar que este
banco de imagens contempla produções e/ou fontes doadas, adquiridas ou ainda, produzidas
pelos próprios membros do Laboratório. Algumas destas coleções são divididas em
“subcoleções”, identificando fases ou momentos em específicos das pesquisas, a exemplo do
material do fotógrafo Milton Guran, na Coleção intitulada “Milton Guran: Encontro na Bahia
79” integrada ao acervo expandido sobre Fotojornalismo contemporâneo.
Aproximando a observação sobre os dois laboratórios ...
Estendendo a reflexão deste trabalho a perspectiva do Projeto de Pesquisa que deu
origem a este texto, vale destacar que no caso dos dois Laboratórios analisados mediante
acesso através dos portais e sites digitais, estão sediados fisicamente nas regiões Sul (LEDI) e
Sudeste (LABHOI). Tal constatação, no entanto, não implica dizer que as demais regiões
estariam “atrasadas” ou “menos capacitadas”, em especial no campo da história oral, mas sim
afirmar que nestas regiões encontram-se disponibilizados mecanismos mais arrojados quanto
a divulgação dos resultados dos Laboratórios, a medida em que são visitados no ambiente
virtual. Nas regiões Norte e Nordeste, os meios de disponibilização e divulgação das
produções são menos elaborados quanto a sua especificidade, utilizando-se de vias mais
“práticas” ou “comuns”, a exemplo de elaborações com o apoio das plataformas Youtube e o
Blogger na divulgação de acervos e produções. Nestas regiões, o Youtube é o recurso mais
utilizado para divulgar produções em áudio e audiovisual – podcasts e vídeos -, deixando de
ser desenvolvidas ferramentas específicas para a guarda e suporte das produções destes
laboratórios e centros de memória, a exemplo da criação de repositórios digitais específicos.
Chega a ser o meio mais comum de disponibilização das produções audiovisuais no Brasil e
diante do material observado na pesquisa grande parte dos laboratórios usam este canal ao
invés de efetivamente dedicar-se ao desenvolvimento de plataforma ou suporte próprio,
especialmente em função da gratuidade destas iniciativas previamente existentes. A
preocupação com os meios virtuais utilizados e as disponibilizações é uma constante por parte
das associações de história oral e os meios digitais, conforme atesta Juan A. Bresciano (2010),
de “uma variedade de grupos que funcionam na produção e na
distribuição de mídia para atender a seus interesses coletivos, de modo
que diversos especialistas interligaram suas análises do fandom num
discurso mais abrangente sobre a participação na mídia e por meio
dela.” (JENKINS; GREEN; FORD. 2014. p.25)
A presença do Youtube também levou a refletirmos sobre os usos da chamada “Cultura
Participativa” nas práticas desenvolvidas pelos laboratórios. Sob tal perspectiva de
abordagem, após o avanço da web 2.0 e a expansão da utilização e influência das redes
sociais na sociedade, percebeu-se as potencialidades destas e os novos na divulgação e
atualização de informações. Assim, o surgimento de novas possibilidades de
compartilhamento de mídia, de opinião virtual, indiretametne pode-se perceber que o
crescente movimento de “uma variedade de grupos que funcionam na produção e na
distribuição de mídia para atender a seus interesses coletivos, de modo que diversos
especialistas interligaram suas análises do fandom num discurso mais abrangente sobre a
participação na mídia e por meio dela.” (JENKINS; GREEN; FORD. 2014. p.25).
Tais discussões, especialmente sobre a disponibilização de fontes de pesquisa online,
vinculam-se diretamente aos debates sobre a formação da História Digital, que externava a
preocupação dos historiadores com a preservação e disponibilização de arquivos em formato
online. Segundo Oliveira (2014):
Nos Estados Unidos, o surgimento da chamada Digital History pode
ser localizado nos anos 90, quando no Center For History and New
Media (CHNM) da Universidade George Mason foram desenvolvidos
projetos na área das novas mídias. Neste espaço, foram pensadas
propostas em prol da preservação do passado, através de iniciativas
que usavam tecnologias de informática que buscavam democratizar o
acesso e a manipulação de conteúdos históricos na internet.
(OLIVEIRA, 2014. p. 09).
Com relação aos dois laboratórios aqui exemplificados atraves de seus portais de
acesso, pode-se afirmar também a a predominância das textualidades, apesar da abordagem
sobre a tradição e cultura visual que evocam. Nestes casos, ainda que o cerne das reflexões
sejam os estudos sobre visualidades como uso das linguagens no campo historiográfico, a
palavra escrita continua sendo determinante nas referências e produções que constróem a
reflexão na área, em detrimento, por exemplo, do uso do discurso audiovisual como
alternativa ao texto escrito.
A História Digital quando acompanhada da preocupação de disponibilizar fontes e
produções de caráter histórico acaba por aproximar-se e, em determinados momentos, até
confundir-se com a perspectiva e práticas da História Pública. Enquanto espaço e prática de
atuação, o campo da História Pública nos fornece
uma possibilidade não apenas de conservação e divulgação da história,
mas de construção de um conhecimento pluridisciplinar atento aos
processos sociais, às suas mudanças e tensões. Num esforço
colaborativo, ela pode valorizar o passado para além da academia;
pode democratizar a história sem perder a seriedade ou o poder de
análise. Nesse sentido, a história pública pode ser definida como um
ato de “abrir portas e não de construir muros” […] (ALMEIDA;
ROVAI; 2011. p. 07).
Assim, refletir sobre as relações entre história e seus públicos é também pensar de que
modo as produções acadêmicas podem chegar a um maior número de interessados. Nos dois
casos observados – LEDI e LABHOI - , mesmo que exista uma preocupação com o uso de
imagens, tanto de organização quanto de disponibilização, ainda é visivel a preferência para
as produções textuais tanto em nível de análise, como em propostas de usos. Observou-se que
isso é, como já citado, uma prática comum em laboratórios desta natureza por todo o território
nacional.
Destacamos também, mais especificamente no caso do LEDI, as possibilidades de
perspectivas transnacionais que os meios virtuais possibilitam para o trabalho com imagens.
A utilização de links de instituições de diversos países, com destaque a Inglaterra e EUA,
demonstram ainda uma postura voltada a internacionalização das pesquisas e de mapeamento
de documentos.
Com relação aos layouts é preciso fazer algumas ressalvas. Durante a etapa de
identificação dos portais na pesquisa, as primeiras impressões evocadas a partir de cada site
foram registradas levando em consideração o apelo visual e o impacto até mesmo emocional
dos contatos iniciais. A sedução no uso de cores e formas enquanto atração e permanência do
olhar e interesse na busca foram também aspectos considerados quanto ao processo de
aproximação da produção historiográfica presente nestes espaços e sua relação com o público
leitor. Assim, os registros procuraram contemplar além das cores, o presença de estruturas
sonoras ou musicais, a interatividade proporcionada pela página, a presença e a qualidade dos
vídeos adicionados, a escolha das fotografias ... A utilização de um conjunto de recursos
voltados a promoção da sedução do olhar do público interessado... Tudo que pudesse explicar
e/ou justificar a maior permanência do visitante atraído ao espaço virtual dos laboratórios e
instituições assim representadas.
Diante destas ressalvas, o que constato-se foi uma grande aproximação nos layout
observados nos dois estudos de caso abordados aqui. A semelhança apresentou-se pelo uso de
cores claras e neutras (predominio do branco e preto especialmente) com algumas excessões
quando buscavam chamar a atenção do visitante enfatizando tonalidades em azul ou rosa. O
uso de barras fixas e de menus na região superior também vem de encontro a um costume de
outros sites que traz uma sensação de familiaridade, além de facilitar o uso.
Tratando-se de sites sem fins lucrativos a ausência de propaganda também foi um
dado considerado importante diante da qualidade de informação e conhecimento que se
pretendia veicular, acompanhando a confiabilidade necessária acerca do material
disponibilizado. E, especialmente a ausência de imagens num primeiro momento, ou
apresentadas em quantidade reduzida diante das informações em texto, refletindo a
preocupaçao da área com relação ao excesso atribuído ao seu uso na contemporaneidade. A
banalização e excessiva exposição das imagens como parte da crítica presente nas reflexões
sobre o tema, talvez explique a dimensão restrita de seu uso nas aberturas dos portais, na
apresentação de seu perfil. De certa forma os sites consultados reinserem as imagens aos seus
ambientes de destino quanto a sua compreensão em cada contexto, assumindo a formação
discursiva, dialogando com o entorno onde se encontram. Deixavam de assumir estritamente a
função de adornos enquanto princípio ilustrativo dos portais para tornarem-se objetos de
estudo, assumindo a complexidade das formas de comunicação como exercício de
representação e linguagem.
Referências
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ALMEIDA, Juniele Rabêlo de; ROVAI, Marta Gouveia de Oliveira (Org.). Introdução à
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Trajetórias e Perspectivas. São Paulo: Unesp, 1999. p. 85-95.
SITE DO LABORATÓRIO DE DOMINIOS DE IMAGEM (UEL):
http://www.uel.br/cch/his/ledi/ledi2015/ Acessado em 20 de Maio de 2016.
SITE DO LABORATÓRIO DE HISTÓRIA ORAL E IMAGEM (LABHOI/UFF):
http://www.labhoi.uff.br/ Acessado em 20 de Maio de 2016