obs mafaldajoão 76222

17
UA 2014/15 - Mestrado em Design - Semiologia Tipográfica - Discente Alvaro Sousa - Design Editorial Mafalda João - Tipografia: Univers LT Std, Swift - Impressão: Minerva RISOTTO BACALHAU PLANO JUNCKER MARILYN MONROE observador.pt - €1,30 pág.10 pág.26 pág.16 Domingo, 19 de Maio de 2015

Upload: mestrado-em-design-ua

Post on 22-Jul-2016

231 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

Trabalho desenvolvido por Mafalda João no âmbito da disciplina de Semiologia Tipográfica do mestrado em design da Universidade de Aveiro –2014/15, de redesenho para suporte papel do jornal Observador.

TRANSCRIPT

Page 1: Obs mafaldajoão 76222

UA

201

4/15

- M

estr

ado

em D

esig

n - S

emio

logi

a Ti

pogr

áfica

- D

isce

nte

Alv

aro

Sou

sa -

Des

ign

Edi

toria

l Maf

alda

Joã

o - T

ipog

rafia

: Uni

vers

LT

Std

, Sw

ift -

Impr

essã

o: M

iner

va

RISOTTO BACALHAU

PLANOJUNCKER

MARILYN MONROE

obse

rvad

or.p

t - €

1,30

pág.10

pág.26

pág.16 Dom

ingo

, 19

de M

aio

de 2

015

Page 2: Obs mafaldajoão 76222

Diretor-geral da Autoridade Tributária e Aduaneira demite-se

.04

Portugal teria défice excessivo a partir de 2016 sem renovação de

medidas temporárias

.06

Negociações técnicas com a Grécia “não estão a correr bem”

.08

PGR recolhe informação sobre lista de contribuintes VIP

.09

Imagens raras de Marilyn Monroe vão a leilão

.10Grécia, Alemanha e as reparações.

Uma guerra complicada

.12

“Plano Juncker” 315 mil milhões em 3 anos. Para quê?

.16

A retórica do crescimento

.19

Mónaco, de Leonardo Jardim, apura-se para os quartos de final da Liga dos Campeões

Ciganos do Alentejo numa exposição em Nova Iorque

.20

.21

Eles estão na faculdade. E podem ser expulsos a qualquer momento.

A guerra está nos tribunais

.22

Receita: Risotto de bacalhau.26

‘Leviatã’: a longa tragédia da sociedade russa

.29

Galp: Petrobras sairá do escândalo

“mais forte, competitiva e capacitada”

Torre Eiffel foi engolida pela poluição atmosférica

.30

.31

Page 3: Obs mafaldajoão 76222

Diretor-geral da Autoridade

Tributária e Aduaneira demite-se

António Brigas Afonso, diretor-geral da Autoridade Tributária e Aduaneira (AT), apresen-tou a demissão esta quarta-feira, na sequência da controvérsia com a “Lista VIP” de contribuintes, confirmou o Observador. O pedido foi aceite pelo Ministério das Finanças, confirma o Ministério em comunicado, sem adiantar para já qualquer informação adicional. Nada indica, para já, que o lugar de Paulo Núncio esteja em risco, apesar de a auditoria que foi determinada já ter indícios que a polémica lista, sempre categoricamente desmentida pelo Governo, poder existir.Em declarações aos jornalistas esta quarta-feira, transmitidas pela SIC Notícias, Paulo Núncio diz que “esta não é o momento para clarificar” a situação. O secretário de Estado dos Assuntos Fiscais garante estar “totalmente disponível” para ir ao Parlamento, “porque entendo que o Parlamento é o local certo para que sejam pres-tados mais esclarecimentos sobre esta matéria”. Paulo Núncio acrescentou que “o governo re-cebeu da AT a confirmação de que não existia essa lista mas, por outro lado, existem rumores e notícias em sentido contrário”.Ouvido pela TSF, Paulo Ralha, presidente do Sindicato dos Trabalhadores dos Impostos, diz que recebeu a notícia “com um misto de surpresa e de fatalidade”. “O Dr. Brigas Afonso não pode ser responsabilizado pelo que se passou com a Lista VIP, mas é responsável máximo da casa”, acrescentou Paulo Ralha, elogiando a “franqueza” do agora ex-diretor-geral da AT. Paulo Ralha diz que António Brigas Afonso terá sido “apanha-

do desprevenido” pela existência desta lista quando assumiu o cargo.A existência de uma lista de contribuintes VIP, personalidades mediáticas de várias áreas, terá sido divulgada numa formação para inspetores tributários estagiários realizada a 20 de janeiro. A notícia, avançada pela revista Visão, tem por base o testemunho de participantes na sessão que decorreu na Torre do Tombo, que contra-

Brigas Afonso apresentou demissão, na sequência da controvérsia com a "Lista VIP" de contribuintes. Pedido foi aceite pela ministra das Finanças. Paulo Núncio admite ir ao Parlamento dar explicações

04 05

riam a versão oficial do governo segundo a qual a tal lista não existe. Também o presidente do Sindicato dos Trabalhadores dos Impostos (STI), Paulo Ralha, veio a afirmar que existe uma bolsa de contribuintes VIP no Fisco.Depois de ter repetido que “nunca foram dadas instruções à Autoridade Tributária para elabo-rar qualquer tipo de listas de contribuintes”, o secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, Paulo Núncio, garantiu que a sua resposta não implica que esteja afastada a realização de uma auditoria ao caso da lista VIP de contribuintes, que foi

sugerida por um vice-presidente do PSD e defendida pelo PCP e Bloco de Esquerda. Paulo Núncio insistiu nunca ter

“elaborado ou entregado” qualquer lista de contri-buintes à Autoridade Tributária (AT), assim como nunca ter dado “instruções” para a AT o fazer.Na segunda-feira, inspetores da Autoridade Tributária denunciaram um “clima de medo, inse-gurança e intranquilidade” na sequência do aviso de que haveria uma lista VIP de contribuintes, que ao ser consultada faria disparar um alarme informático.Nesse mesmo dia, o Ministério das Finanças mandou abrir uma auditoria à alegada lista VIP de contribuintes da Autoridade Tributária. “Tendo em conta notícias vindas re-centemente a público, o Ministério das Finanças comunica que solicitou hoje à Inspeção-Geral de Finanças (IGF) a abertura de um inquérito sobre a alegada existência de uma lista de contribuintes na Autoridade Tributária e Aduaneira (AT), cujo acesso seria alegadamente restrito. Este inquérito, a realizar pela IGF, enquanto entidade externa da AT, destina-se a realizar o apuramento de todos os factos relativos a este assunto”, informou o gabinete de Maria Luís Albuquerque no dia 16.

Édgar Caetano David Dinis

Page 4: Obs mafaldajoão 76222

06

Ausência de renovação ou substituição das medidas temporárias em vigor, como o corte dos salários e da sobretaxa, fariam a economia crescer mais mas o défice seria superior a 3% a partir de 2016.

Portugal teria défice excessivo a partir de

2016 sem renovação de medidas temporárias

07

Portugal até conseguiria reduzir o défice orça-mental para menos de 3% do PIB este ano, mas, caso não sejam tomadas medidas para manter alguns dos cortes ou compensá-los, o défice voltará a superar os 3% em 2016 e nos anos seguintes até 2019, estima o Conselho das Finanças Públicas.Num relatório publicado sobre a situação e as condicionantes orçamentais no período 2015 a 2019, o Conselho das Finanças Públicas alerta para um crescimento do valor do défice nos anos posteriores a 2015.

Este cenário, no entanto, é explicado pela for-ma como o CFP faz as suas estimativas, que é através da utilização de um cenário de políticas invariantes, ou seja, o CFP não conta com as medidas que ainda não estão aprovadas e com aquelas medidas que exigem legislação anual para serem repostas.Entre estas medidas, e com grande impacto tanto no défice como na previsão de crescimento da economia, estão, por exemplo, os cortes salariais na Função Pública que devem desaparecer no próximo ano se não forem aprovados novos cor-tes (no seguimento de uma decisão do Tribunal Constitucional) e da sobretaxa de 3,5% em sede de IRS, que também precisa de renovação anual no Orçamento do Estado.Neste sentido, o CFP calcula que o défice este ano seria reduzido para 2,8%, mas este cresceria no-vamente para 3,3% em 2016 e 3,2% do PIB nos anos seguintes até 2019.Isto aconteceria, caso não avancem mais medidas, o PIB até cresceria mais que o previsto, superior a 2% de 2016 até 2019 (chegando mesmo aos 2,4% em 2017), mas mesmo com esse nível de crescimento, o problema das finanças públicas não seria resolvido e o défice mantinha-se nos valores referidos acima de 3%.

“Embora pareça viável a obtenção em 2015 de um défice inferior a 3% do PIB, permitindo encerrar o Procedimento por Défices Excessivos, na

ausência de políticas adicionais e não obstante a convergência da eco-nomia para o seu crescimento potencial, o défice voltará a superar essa marca a partir de 2016”, diz a instituição liderada pela ex-administrado-

ra do Banco de Portugal Teodora Cardoso.

“O simples facto de a ausência de medidas em 2016 levar a um cresci-mento maior da economia não resolve o problema do orçamento”,

afirmou esta quarta-feira Teodora Cardoso, durante a apresentação deste relatório na sede do CFP, em Lisboa.

Nuno André Martins

Page 5: Obs mafaldajoão 76222

08

As negociações técnicas entre a Grécia e os repre-sentantes das instituições credoras “não estão a correr bem”, disseram ao The Wall Street Journal fontes próximas do processo. No Parlamento de Atenas, o primeiro-ministro Alexis Tsipras defen-deu esta quarta-feira que a quinta avaliação do segundo resgate foi “cancelada” e que o que vale é o acordo obtido a 20 de fevereiro, um acordo que estendeu por quatro meses o acordo com a Grécia mas que fez depender a entrega de mais fundos do sucesso das negociações técnicas com Atenas. Tsipras garante que não se deixará “inti-midar por ameaças”.

“Responsáveis eleitos vão negociar com responsá-veis eleitos e os tecnocratas lidarão com tecno-cratas”, afirmou esta quarta-feira Alexis Tsipras no Parlamento, consubstanciando a notícia desta manhã do The Wall Street Journal que citava fon-tes próximas da negociação técnica que diziam que “os gregos não estão a cooperar” e que os técnicos do BCE, FMI e Comissão Europeia não

estão a conseguir ter acesso a dados importantes sobre as finanças do país.No Parlamento, Tsipras garante está “aberto ao diálogo e a suges-

tões”, mas assegura que “não irá deitar burocratas ditarem medidas”. O primeiro-ministro grego pediu uma reunião com Angela Merkel, François Hollande, Jean-Claude Juncker e Mario Draghi para, à margem do Conselho Europeu de amanhã e sexta-feira, negociar com estes responsáveis uma solução para o impasse que subsiste.A falta de progressos nestas negociações está a

gerar grandes dúvidas sobre a forma como a Grécia irá conseguir superar a crise de financiamento que enfrenta, algo que Tsipras chama

uma “pressão ao nível da liquidez”. O primeiro-ministro diz que não quer tratamento “especial”, apenas “tratamento igual” quando pede que o BCE aumente os limites ao financiamento da banca grega e aos montantes de dívida de curto prazo que aceita como garantia.O Estado grego conseguiu esta quarta-feira obter 1.300 milhões de euros num leilão de dívida a três meses, com uma taxa a rondar os 2,7%, o que ilustra as dificuldades de tesouraria de um país que já está a recorrer aos fundos de pensões públicos para financiar o Estado.Contrariando o que disse Yanis Varoufakis, mi-nistro das Finanças, na sexta-feira, Alexis Tsipras garante que o seu governo está “determinado a cumprir os compromissos assumidos durante a campanha”. O Ministro das Finanças da Grécia disse em Itália que, a bem da “construção da confiança com os parceiros europeus”, o governo poderia adiar promessas eleitorais.

Negociações técnicas com a

Grécia “não estão a correr

bem”

Responsáveis da Grécia e da zona euro estão a atirar as culpas uns para os outros. Alexis Tsipras diz no parlamento que a quinta avaliação foi cancelada e que não será “intimidado por ameaças”.

09

e Aduaneira (AT), explicando que este inquérito surgiu “tendo em conta notícias vindas recente-mente a público”.O presidente do Sindicato dos Trabalhadores dos Impostos (STI), Paulo Ralha, afirma que existe a referida lista de contribuintes VIP e que foi o chefe de divisão dos serviços de auditoria da Autoridade Tributária e Aduaneira, que informou os trabalhadores da sua existência numa ação de formação para 300 inspetores tributários.O sindicalista relaciona esta lista de contribuintes com os 140 processos disciplinares que foram abertos a trabalhadores que, alegadamente, acederam a informação de con-tribuintes dessa lista VIP.O STI acrescenta que os processos disciplinares aos trabalhadores dos impostos começaram a ser aplicados desde dezembro, depois de ter sido noticiado que os funcionários da AT estavam a ser investigados por alegadamente terem consul-tado os dados fiscais do primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho.Mas o diretor-geral da AT, António Brigas Afonso,

“desmente que tenha recebido qualquer tipo de lista da parte do secretário de Estado dos Assuntos Fiscais”, Paulo Núncio, tal como noticiou a revista Visão.Num debate no parlamento, também o primei-ro-ministro negou que exista na Autoridade Tributária uma qualquer ‘bolsa VIP’ destinada a contribuintes considerados especiais.

A Procuradoria-Geral da República (PGR) está a recolher informação sobre a existência de uma eventual lista de contribuintes VIP na Autoridade Tributária e Aduaneira (AT), com o objetivo de avaliar se vai dar início a algum procedimento, informou fonte da PGR.

“A PGR encontra-se a coligir informação sobre essa matéria, com vista a avaliar da necessidade de iniciar procedimentos que mostrem pertinentes, no âmbito das atribuições do Ministério Público”, refere a PGR numa resposta à Lusa.Na segunda-feira, o Ministério das Finanças anunciou ter solicitado à Inspeção-Geral de Finanças (IGF) a abertura de um inquérito sobre a existência desta lista na Autoridade Tributária

PGR recolhe informação

sobre lista de contribuintes

VIPResponsáveis da Grécia e da zona euro estão a atirar as culpas uns para os outros. Alexis Tsipras diz no parlamento que a quinta avaliação foi cancelada e que não será “intimidado por ameaças”.

Édgar Caetano

Agência Lusa

Page 6: Obs mafaldajoão 76222

Imagens raras de Marilyn

Monroe vão a leilão

Cópias de fotografias de “A Última Sessão” e de outras tiradas por um amigo da atriz vão ser leiloadas no próximo dia 10 de março. Uma oportunidade para quem é fã da loira mais famosa de Hollywood.

Bert Stern, que faleceu em 2013, não foi o pri-meiro homem a fotografar Marilyn Monroe, mas foi um dos últimos. Foi em junho de 1962 que o fotógrafo e a atriz norte-americanos se encontra-ram e se fecharam num quarto de hotel, em Los Angeles, durante três dias. O objetivo? Registar

aquelas que seriam as últimas fotografias profissionais da estrela que nasceu Norma Jeane Baker — as imagens ficaram conhecidas, muito a

propósito, como “A Última Sessão”. Pouco tempo depois, Marilyn aparecia morta.Recordada a lição de história/cultura, a notícia: um conjunto de impressões, incluindo das refe-ridas fotografias, vai ser leiloado no próximo dia 10 de março no Estado norte-americano do Texas, na Heritage Auctions Texas. Espera-se angariar, no total, cerca de 70 mil euros.Nas imagens de “A Última Sessão” – que fize-ram uma pequena excursão a Portugal em 2011, numa exposição temporária a ocupar a Fundação D. Luís I, em Cascais — é possível encontrar uma Marilyn sedutora, à semelhança do que sempre foi, mas também real. Rugas de expressão que a idade fez por vincar, poros da pele em evidência e até a cicatriz de uma operação à vesícula fazem parte de um registo artístico invulgar permitido pela estrela de Hollywood. Há fotografias marca-das a caneta vermelha, marcas dos negativos que a própria atriz rejeitou com um xis, na altura.Mas há também cópias de fotografias raras ti-radas um mês depois de Stern, escreve o jornal britânico Telegraph. O fotografo de serviço foi, desta vez, o amigo próximo da atriz, George Barris, homem que Marilyn conheceu quando estava a trabalhar no filme de 1955, O Pecado Mora ao Lado.

10 11

Ana Cristina Marques

Page 7: Obs mafaldajoão 76222

12

Grécia, Alemanha e as reparações.

Uma guerra complicada

A luta da Grécia pelas reparações de guerra vai muito além do atual Governo, mas a jurisprudência não parece estar do seu lado. Vai Atenas abrir mesmo uma nova frente de batalha com a Alemanha?

13

Os casos em causa

A 10 de junho de 1944, o corpo paramilitar do partido nazi conhecido como SS (Schutzstaffel) matou 218 mulheres, crianças e idosos na vila de Distomo, perto da cidade de Delfos. O caso foi levado aos tribunais alemães pelos gregos até ter sido rejeitado pelo Tribunal Europeu dos Direitos

do Homem, que considerou que os países estão “imunes” a processos movidos por “cidadãos”.Sem sucesso na Alemanha, os queixosos levaram a questão para a justiça grega que condenou a Alemanha a pagar 28 milhões de euros em repa-rações de guerra, que os alemães se recusaram a pagar. A justiça grega decidiu, então, tentar confiscar e vender propriedades do Governo alemão na Grécia, algo que foi bloqueado pelo Governo grego que não queria entrar em guerra aberta com Berlim. Eis que, em 2008, uma decisão da justiça italiana deu novo alento aos queixosos. O caso em mãos: a 29 de junho de 1944, as tropas alemãs mataram 250 civis na cidade de Civitella, na Toscânia. Mais de 40 anos após o massa-cre, os familiares das vítimas processaram a Alemanha na justiça italiana, exigindo reparações. Depois de muitos anos a lutar, um dos queixosos, um cidadão italiano chamado Luigi Ferrini, viu o Supremo Tribunal de Justiça de Itália dar-lhe razão. O Supremo con-siderou que os indivíduos que viram os seus direi-tos humanos violados podiam, de facto, processar um país e exigir reparações de guerra. Ferrini foi preso pelos soldados alemães e enviado para um campo de concentração, onde foi obrigado a trabalhos forçados na produção de armamento para o Exército alemão.Mas os tribunais italianos foram ainda mais longe e decidiram que as decisões dos tribunais gregos podiam ser aplicadas em solo italiano. Ou seja, os gregos que viram a Alemanha condenada a pagar-lhes reparações de guerra, podiam exigir a apreensão e venda de ativos alemães em Itália para fazer este pagamento. Para isso, foi orde-nada a apreensão e venda de uma propriedade alemã perto do lago Como, que servia de centro cultural italo-germânico.Os gregos exigem, ainda, a devolução de um em-préstimo que os nazis obrigaram (prática comum) o Banco Central da Grécia a dar à Alemanha, de 476 milhões de marcos. Sem contar com juros, este valor podia ultrapassar os 13 mil milhões de euros atualmente.

“A nossa obrigação histórica é reclamar o emprés-timo forçado e as reparações”. As palavras de Alexis Tsipras, primeiro-ministro grego, na segun-da-feira, são apenas mais um episódio daquela que ameaça ser uma longa saga em torno do tema das reparações de guerra. Esta quarta-feira, o ministro da Justiça, Nikos Paraskevopoulos, disse no Parlamento grego que estava pronto a assinar a lei a exigir reparações de guerra à Alemanha e a mandar apreender ativos alemães na Grécia. Do lado da Alemanha, um rotundo “não”. O Governo alemão acredita que a questão das re-parações ficou resolvida nas conversações entre as potências mundiais que levaram à reunião da Alemanha em 1990. “Acreditamos firmemente que a questão das reparações foi resolvida política e legalmente”, respondeu o porta-voz da chanceler alemã, Angela Merkel, na quarta-feira, em resposta ao ministro grego.Apesar de ter ganhado uma nova vida desde a eleição do Syriza para o Governo grego a 25 de janeiro, a questão das reparações alegadamente

devidas pela Alemanha por danos causados pelos nazis durante a Segunda Guerra Mundial à Grécia (e não só) é um imbró-glio de longa data e que ainda há pouco mais de dois anos estava em discussão no Tribunal de Justiça Internacional. Mas vamos por partes.

Nuno André Martins

Page 8: Obs mafaldajoão 76222

Alemanha ganha em Tribunal

A justiça italiana abriu a porta a pedidos de in-demnização de toda a Europa e a Alemanha de-cidiu rapidamente colocar a Itália em Tribunal. Em dezembro de 2008, a Alemanha entrou com um pedido no Tribunal Internacional de Justiça, em Haia, alegando que, ao permitir que civis exi-gissem reparações num processo cível contra um país, a Itália violou as suas obrigações perante a lei internacional, que dão imunidade à Alemanha.No centro da disputa, e que acabou por ser ful-cral na decisão, está o Tratado de Paz entre a Itália e os aliados – no qual a Alemanha nem sequer foi uma parte –, no qual a Itália aceita uma cláusula que abdica de pedir reparações de guerra. A Alemanha argumentava que esta ainda era válida, enquanto a Itália defendia que os acordos subsequentes (como o acordo de 1961 onde a Alemanha assume, voluntariamente, no-vas responsabilidades) criavam novas exigências. A Alemanha argumentou, por sua vez, que não se tratavam de novas exigências, mas de exigên-cias antigas. Finalmente, em 2012, os governantes alemães (e não só) respiravam de alívio. Depois de quatro anos de intensa disputa, o Tribunal Internacional de Justiça decidiu a favor da Alemanha. Segundo Haia, o caso italiano violava a imunidade da Alemanha de ser processada por tribunais nacionais, um princípio reconhecido pela lei internacional.Alguns especialistas argumentavam, na altura, que negar este princípio iria abrir um precedente que levaria à inundação dos tribunais. Mas outros, como a Amnistia Internacional, consideravam que a decisão era um “grande passo atrás em matéria de direitos humanos” e que violava o princípio consagrado na Convenção de Haia, de acordo com o qual “as vítimas de crimes de guer-ra podem processar o Estado responsável para obter reparações”.

O valor calculado pelos peritos não foi conhecido, tal como o relatório que não foi tornado público, mas o jornal grego To Vima, que diz ter tido aces-so ao relatório, afirma que este valor atinge os 162 mil milhões de euros, a soma exigida, agora, por Alexis Tsipras, que corresponde a cerca de metade da dívida púbica grega. Segundo a revista alemã Der Spiegel, este relató-rio foi entregue pelo Ministério das Finanças ao então ministro dos Negócios Estrangeiros grego, Dimitris Avramapoulos, e ao primeiro-ministro, Antonis Samaras. A decisão teria de ser tomada

ao mais alto nível, mas o relatório ficou na gaveta numa altura muito sensível do resgate. A Grécia tinha acabado a segunda

fase da sua reestruturação de dívida e tinha a pro-messa, feita em novembro de 2012, do Eurogrupo de que iria discutir a sustentabilidade da sua dívida assim que conseguisse um saldo primário nas finanças públicas.O ministro da Justiça, Nikos Paraskelopoulos, ameaça fazer cumprir exatamente a decisão de 2000 da justiça grega, relativa ao massacre de Distomo, e de apreender ativos alemães. Só o Governo pode tomar essa decisão, algo que o Executivo grego em 2000 não quis fazer.

A Alemanha deve reparações à Grécia?

Esta questão, a avançar o processo pela Grécia contra a Alemanha, terá muitas nuances com base nas interpretações diferentes de alguns tratados. Mas não só.A Alemanha pagou, em 1960, cerca de 115 mi-lhões de marcos alemães (cerca de 59 milhões de euros a valores da altura) de compensação às vítimas gregas dos crimes nazis. As vítimas dos campos de trabalhos forçados receberam compensações individuais. Alexis Tsipras alega que estas reparações não cobrem a destruição causada durante a ocupação nazi da Grécia, entre 1941 e 1944. Outra questão é a do valor das indemnizações que foi acordado. A certa altura, nas negociações de paz da conferência de Paris, a Grécia terá exigido 7,1 mil milhões de dólares de reparações de guerra à Alemanha. No entanto, este valor foi rejeitado e reduzido na altura para 45 milhões de dólares, que já terão sido pagos entre 1950 e 1990.Os empréstimos entram noutro pântano legal. Se for considerado uma espécie de dano de guerra, poderia ser objeto de reparação. Mas, de acordo com o tratado de 1990, a Alemanha não teria de pagar. Se for considerado apenas um empréstimo sem juros, o valor será muito reduzido. Sem juros, o empréstimo valeria cerca de 14 mil milhões de dólares a preços atuais. Com juros de 3% durante 66 anos, o valor em dívida subiria para 95 mil milhões de dólares.

Uma questão política

No final do dia, mesmo que o valor seja reduzido, a Alemanha garante que pagou o que tinha a pa-gar e que não vai ceder nesta questão. Legalmente, um pagamento à Grécia podia criar o precedente legal necessário para que outros países, alguns de maior dimensão (como a França), exijam re-parações à Alemanha.Outra das questões apontadas pela Grécia é o incumprimento da Alemanha de parte das dívi-das da primeira guerra. Em 1953, no âmbito dos acordos de Londres, a Alemanha beneficiou de uma reestruturação de grande dimensão, com um perdão parcial e uma boa parte dos prazos de pagamento da dívida pública alemã a serem também estendidos para prazos mais longos o muito longo prazo. Com esse acordo, a Alemanha

acabou por demorar 92 anos a pagar por completo essa dívida, desde o final da primeira guerra, até ao pagamento da última tranche em 2010.

A Grécia pode seguir nos próximos meses para os tribunais internacionais, mas as decisões mais recentes não inspiram grande confiança para os lados das pretensões gregas.

Grécia não desistiu

Na quarta-feira, o Parlamento grego aprovou a criação de uma comissão especial formada para todos os partidos para calcular o valor que a Alemanha alegadamente deve à Grécia em re-parações e em relação ao empréstimo forçado.No entanto, este trabalho não é pioneiro. Em 2013, o Ministério das Finanças da Grécia terá pedido um relatório a um grupo de especialis-tas para avaliar quanto seria o valor em causa.

“Quanto nos deve a Alemanha” será o título do relatório secreto, de acordo com a revista alemã Der Spiegel. Depois de meses de trabalho, o rela-tório de 80 páginas terá chegado à conclusão que a Grécia “nunca recebeu qualquer compensação, seja pelos empréstimos que foi forçada a dar à Alemanha ou pelos danos sofridos durante a guerra”.

Page 9: Obs mafaldajoão 76222

5

4Desde que a crise económica e financeira atingiu a Europa que os níveis de investimento caíram, e em alguns Estados-membros desceram mesmo de forma drástica.Assim, no segundo semestre do ano passado o in-vestimento na UE foi 15% inferior ao de 2007, an-tes do início da crise. Ou seja, comparativamente ao pico registado naquele ano, os investimentos diminuíram 430 mil milhões de euros, segundo a Comissão Europeia (CE) e o Banco Europeu de Investimento (BEI). Portugal (-36%) está no grupo de países onde a queda de investimento foi mais acentuada nos últimos anos juntamente com Itália (-25%), Espanha (38%), Irlanda (-39%), julho do ano passado.

Desde que a crise económica e financeira atingiu a Europa que os níveis de investimento caíram, e em alguns Estados-membros desceram mesmo de forma drástica.Assim, no segundo semestre do ano passado o in-vestimento na UE foi 15% inferior ao de 2007, an-tes do início da crise. Ou seja, comparativamente ao pico registado naquele ano, os investimentos diminuíram 430 mil milhões de euros, segundo a Comissão Europeia (CE) e o Banco Europeu de Investimento (BEI). Portugal (-36%) está no grupo de países onde a queda de investimento foi mais acentuada nos últimos anos juntamente com Itália (-25%), Espanha (38%), Irlanda (-39%), julho do ano passado.

3

2

1Desde que a crise económica e financeira atingiu a Europa que os níveis de investimento caíram, e em alguns Estados-membros desceram mesmo de forma drástica.Assim, no segundo semestre do ano passado o in-vestimento na UE foi 15% inferior ao de 2007, an-tes do início da crise. Ou seja, comparativamente ao pico registado naquele ano, os investimentos diminuíram 430 mil milhões de euros, segundo a Comissão Europeia (CE) e o Banco Europeu de Investimento (BEI). Portugal (-36%) está no grupo de países onde a queda de investimento foi mais acentuada nos últimos anos juntamente com Itália (-25%), Espanha (38%), Irlanda (-39%), Grécia (-64%).A crise produziu uma queda de investimento que, consequentemente, está a atrasar a recuperação económica na União Europeia, retoma essa que é ainda mais débil na zona euro. Por exemplo, para acompanhar o ritmo de investimento nos Estados Unidos, a UE deveria ter investido mais 540 mil milhões de euros, de acordo com as estimativas do executivo comunitário e do BEI.A principal razão avançada para explicar a debili-dade persistente dos níveis de investimento está no baixo nível de confiança dos investidores que, fatalmente, resulta na incapacidade de assunção de riscos. Trata-se portanto de quebrar o ciclo vicioso de falta de confiança e subinvestimento.Para voltar a colocar a UE na senda do crescimen-to e da criação de emprego, o atual executivo comunitário propôs no início do mandato, em novembro, um Plano de Investimento de 315 mil milhões de euros, também conhecido por “Plano Juncker”. “A minha primeira prioridade como presidente da Comissão será reforçar a compe-titividade da Europa e estimular o investimento para a criação de emprego”, afirmou o presi-dente Jean-Claude Juncker ao apresentar as suas orientações políticas no Parlamento Europeu, em julho do ano passado.

O Plano de Investimento assenta em três eixos: mobilizar financiamento, melhorar o ambiente para o investimento e fazer com que esse di-nheiro chegue à economia real com o objetivo principal de estimular o crescimento económico e a criação de emprego na UE.Trata-se de mobilizar energias, inverter a queda de investimento, corresponder às necessidades da economia europeia, de promover a competiti-vidade em setores estratégicos da UE, de reforçar o capital humano, a capacidade produtiva, as infraestruturas e as interconexões (energéticas) vitais para o mercado único comunitário.Segundo as previsões do executivo comunitá-rio, o Plano de Investimento tem potencial para acrescentar entre 330 mil milhões a 410 mil mi-lhões de euros ao PIB da União Europeia, e criar de 1 a 1,3 milhões de novos postos de trabalho até 2017.

Um Plano de Investimento para a UE. Porquê?

Quais os objetivos?

Como funciona?

O Fundo Europeu de Investimentos Estratégicos (FEIE) deverá ter gestão e sede no Banco Europeu de Investimento. É cofinanciado pelo BEI (5 mil milhões de euros) e pelo orçamento da UE (16 mil milhões).O FEIE é um amortecedor de riscos, como uma garantia, serve de proteção parcial contra riscos, de proteção contra riscos iniciais. O objetivo é conseguir atrair projetos de risco mais eleva-do mas de alto valor estratégico para a União Europeia, e que de outra forma não encontrariam financiamento. Com esta assunção de riscos em relação a projetos decisivos e complexos, a UE vai mais longe do que os atuais programas co-munitários e do BEI.Esta “rede” contra riscos permitirá ao BEI ofe-recer produtos que cobrem mais riscos do que os seus produtos habituais. Assim, deverá ser possível investir em projetos de elevado valor acrescentado mas que por comportarem mais riscos não conseguem financiamento.O executivo comunitário estima que o Fundo (21 mil milhões) terá um efeito multiplicador até 15 vezes (daí o valor de 315 mil milhões). O efeito multiplicador é o quociente entre o vo-lume financeiro total dos projetos gerados em resultado da intervenção do Fundo e o capital público inicial mobilizado para lançar o Fundo. A lógica subjacente ao efeito multiplicador do FEIE é que uma pequena proporção de capital público utilizada como capacidade de assunção de riscos permitirá atingir uma quota muito maior de capital privado para investir nos projetos.

17

De onde vem o dinheiro?

O “Plano Juncker” pretende mobilizar pelo me-nos 315 mil milhões de euros durante os pró-ximos 3 anos. Uma mobilização de fontes de financiamento público e privado, em que cada euro será utilizado para gerar investimento privado suplementar e, ponto importante, sem aumentar a dívida.O objetivo é colocar a circular o dinheiro que está parado nas contas bancárias das empresas e cida-dãos e canalizá-lo para investimentos produtivos.

A base de todo o Plano é o novo Fundo Europeu para Investimentos Estratégicos (FEIE), criado em conjunto com o Banco Europeu de Investimento, com o objetivo de apoiar investimentos de longo prazo e facilitar o acesso das PME e empresas de média capitalização ao financiamento de risco.O FEIE funcionará como uma garantia que tem por base 16 mil milhões de euros do orçamento da UE, aos quais se juntam 5 mil milhões de eu-ros do BEI. No total, 21 mil milhões que servem como amortecedor de riscos, de garantia que absorverá o risco mais elevado em investimentos estratégicos.A Comissão e o BEI acreditam que o Fundo terá um efeito multiplicador até 15 vezes (daí o total de 315 mil milhões). Ou seja, cada euro mobili-zado através do Fundo vai trazer 15 euros de in-vestimento total. As duas instituições consideram que este investimento também será potenciado pelo efeito de alavanca dos fundos estruturais.Os vinte e oito Estados-membros foram convida-dos a contribuir para o Fundo, diretamente ou através dos bancos de fomentos nacionais, bem como os investidores privados. O FEIE deverá ser aprovado pelo Conselho e pelo Parlamento Europeu para estar operacional em junho.

Desde que a crise económica e financeira atingiu a Europa que os níveis de investimento caíram, e em alguns Estados-membros desceram mesmo de forma drástica.Assim, no segundo semestre do ano passado o in-vestimento na UE foi 15% inferior ao de 2007, an-tes do início da crise. Ou seja, comparativamente ao pico registado naquele ano, os investimentos diminuíram 430 mil milhões de euros, segundo a Comissão Europeia (CE) e o Banco Europeu de Investimento (BEI). Portugal (-36%) está no grupo de países onde a queda de investimento foi mais acentuada nos últimos anos juntamente com Itália (-25%), Espanha (38%), Irlanda (-39%), julho do ano passado.Desde que a crise económica e financeira atingiu a Europa que os níveis de investimento caíram, e em alguns Estados-membros desceram mesmo de forma drástica.Assim, no segundo semestre do ano passado o in-vestimento na UE foi 15% inferior ao de 2007, an-tes do início da crise. Ou seja, comparativamente ao pico registado naquele ano, os investimentos diminuíram 430 mil milhões de euros, segundo a Comissão Europeia (CE) e o Banco Europeu de Investimento (BEI). Portugal (-36%) está no grupo de países onde a queda de investimento foi mais acentuada nos últimos anos juntamente com Itália (-25%), Espanha (38%), Irlanda (-39%), julho do ano passado.

“Pla

no

Ju

nck

er”

315

mil

milh

ões

em

3 a

no

s.

Para

qu

ê?

“Estes investimentos suplemen-tares devem centrar-se nas in-fraestruturas, nomeadamente nas redes de banda larga e re-des de energia, bem como nas infraestruturas de transporte em centros industriais; na edu-cação, investigação e inovação; nas energias renováveis e na efi-ciência energética. É convenien-te afetar recursos significativos a projetos suscetíveis de ajudar os jovens a voltarem a encon-trar empregos”, anunciou Jean-Claude Juncker no Parlamento Europeu, em julho.Assim, a Comissão Europeia propôs que o novo Fundo apoie os investimentos nas infraestru-turas estratégicas (investimen-tos no digital e em energia, em consonância com as políticas da União), nas infraestruturas de transportes em centros indus-triais, educação, investigação e inovação, os investimentos criadores de emprego, designa-damente através do financia-mento de PME e de medidas a favor do emprego dos jovens e nos projetos sustentáveis e

“amigos” do ambiente.Para ser selecionado cada pro-jeto deve obedecer a vários cri-térios: ter valor acrescentado europeu (e apoiar os objetivos da UE), ser viável e representar valor económico, e ter início, o mais tardar, nos próximos três anos, ou seja, que represente uma expectativa razoável de investimento no período de 2015-17.Vai ser constituída uma reserva de projetos europeia. Esta lista dinâmica e atualizada faculta-rá informações aos investidores sobre os projetos disponíveis existentes e os futuros. Os in-vestidores podem assim tomar decisões com base em informa-ção fiável e transparente.Uma task force conjunta entre a Comissão e os BEI já identi-ficou cerca de 2000 projetos potenciais apresentados pelos Estados-membros, num mon-tante de 1,3 biliões de euros. Em Portugal, por exemplo, o aumento das interconexões elé-tricas com Espanha (e França) é um dos projetos que encaixa nos critérios de seleção.O facto de um projeto ser ins-crito na reserva não significa necessariamente que vai ser financiado pelo Fundo.

Que projetos serão escolhidos?

Desde que a crise económica e financeira atingiu a Europa que os níveis de investimento caíram, e em alguns Estados-membros desceram mesmo de forma drástica.Assim, no segundo semestre do ano passado o in-vestimento na UE foi 15% inferior ao de 2007, an-tes do início da crise. Ou seja, comparativamente ao pico registado naquele ano, os investimentos diminuíram 430 mil milhões de euros, segundo a Comissão Europeia (CE) e o Banco Europeu de Investimento (BEI). Portugal (-36%) está no grupo de países onde a queda de investimento foi mais acentuada nos últimos anos juntamente com Itália (-25%), Espanha (38%), Irlanda (-39%), julho do ano passado.

Desde que a crise económica e financeira atingiu a Europa que os níveis de investimento caíram, e em alguns Estados-membros desceram mesmo de forma drástica.Assim, no segundo semestre do ano passado o in-vestimento na UE foi 15% inferior ao de 2007, an-tes do início da crise. Ou seja, comparativamente ao pico registado naquele ano, os investimentos diminuíram 430 mil milhões de euros, segundo a Comissão Europeia (CE) e o Banco Europeu de Investimento (BEI). Portugal (-36%) está no grupo de países onde a queda de investimento foi mais acentuada nos últimos anos juntamente com Itália (-25%), Espanha (38%), Irlanda (-39%), julho do ano passado.

Vasco Gandra

Page 10: Obs mafaldajoão 76222

98

6

7Desde que a crise económica e financeira atingiu a Europa que os níveis de investimento caíram, e em alguns Estados-membros desceram mesmo de forma drástica.Assim, no segundo semestre do ano passado o in-vestimento na UE foi 15% inferior ao de 2007, an-tes do início da crise. Ou seja, comparativamente ao pico registado naquele ano, os investimentos diminuíram 430 mil milhões de euros, segundo a Comissão Europeia (CE) e o Banco Europeu de Investimento (BEI). Portugal (-36%) está no grupo de países onde a queda de investimento foi mais acentuada nos últimos anos juntamente com Itália (-25%), Espanha (38%), Irlanda (-39%), julho do ano passado.

Desde que a crise económica e financeira atingiu a Europa que os níveis de investimento caíram, e em alguns Estados-membros desceram mesmo de forma drástica.Assim, no segundo semestre do ano passado o in-vestimento na UE foi 15% inferior ao de 2007, an-tes do início da crise. Ou seja, comparativamente ao pico registado naquele ano, os investimentos diminuíram 430 mil milhões de euros, segundo a Comissão Europeia (CE) e o Banco Europeu de Investimento (BEI). Portugal (-36%) está no grupo de países onde a queda de investimento foi mais acentuada nos últimos anos juntamente com Itália (-25%), Espanha (38%), Irlanda (-39%), julho do ano passado.

Desde que a crise económica e financeira atingiu a Europa que os níveis de investimento caíram, e em alguns Estados-membros desceram mesmo de forma drástica.Assim, no segundo semestre do ano passado o in-vestimento na UE foi 15% inferior ao de 2007, an-tes do início da crise. Ou seja, comparativamente ao pico registado naquele ano, os investimentos diminuíram 430 mil milhões de euros, segundo a Comissão Europeia (CE) e o Banco Europeu de Investimento (BEI). Portugal (-36%) está no grupo de países onde a queda de investimento foi mais acentuada nos últimos anos juntamente com Itália (-25%), Espanha (38%), Irlanda (-39%), julho do ano passado.Desde que a crise económica e financeira atingiu a Europa que os níveis de investimento caíram, e em alguns Estados-membros desceram mesmo de forma drástica.Assim, no segundo semestre do ano passado o in-vestimento na UE foi 15% inferior ao de 2007, an-tes do início da crise. Ou seja, comparativamente ao pico registado naquele ano, os investimentos diminuíram 430 mil milhões de euros, segundo a Comissão Europeia (CE) e o Banco Europeu de Investimento (BEI). Portugal (-36%) está no grupo de países onde a queda de investimento foi mais acentuada nos últimos anos juntamente com Itália (-25%), Espanha (38%), Irlanda (-39%), julho do ano passado.

O FEIE será “governado” por dois órgãos. O Conselho de Direção (CD) determina a orienta-ção geral e em matéria de investimento, o perfil de risco, as políticas estratégicas e a repartição dos ativos do Fundo, em conformidade com as orientações políticas da CE.O Comité de Investimento é responsável perante o CD, examinará os projetos específicos e se-lecionará aqueles que vão beneficiar de apoio (não haverá quotas geográficas ou setoriais). Este órgão é composto por um grupo de peritos inde-pendentes e um diretor executivo que assumirá a gestão corrente do Fundo.Por outro lado, será aberto uma espécie de balcão único à escala da UE, uma plataforma europeia de aconselhamento ao investimento para asses-sorar, identificar e elaborar projetos, e facultar assistência técnica para os tornar mais atrativos para os investidores.

Os vinte e oito Estados-membros da UE apresen-taram cerca de 2000 potenciais projetos, num total de 1,3 biliões de euros. Destes, mais de 500 mil milhões de euros em projetos que podem ser realizados nos próximos 3 anos, segundo dados da Comissão e o BEI.Mas o facto de os projetos se encontrarem nesta lista preliminar não significa que vão ser finan-ciados pelo “Plano Juncker“. Apenas uma parte será escolhida. A constituição daquela lista é um primeiro passo. O objetivo é criar uma reserva de projetos transparente e viável que restabeleça a confiança dos investidores e permita desbloquear o financiamento do setor privado.Portugal apresentou até agora 113 projetos que atingem um valor global de 31,8 mil milhões de euros, dos quais 16,1 mil milhões euros no período 2015-2017. As áreas dos transportes e da energia são as que mais projetos incluem. De acordo com fontes do executivo português, a atual distribuição dos projetos nacionais candida-tos ao Plano de Investimento é a seguinte: trans-portes 31%, energia 30%, infraestrutura social 24%, recursos e ambiente 9%, e conhecimento, inovação e economia digital 6%.Alguns dos projetos mais emblemáticos na área dos transportes e da energia apostam no reforço das ligações entre Portugal e Espanha. Assim, por exemplo, a construção de uma ligação ferroviária para transporte de mercadorias entre os portos de Lisboa e Sines e Madrid, o reforço da linha ferroviária entre Portugal e Vigo, ou novas liga-ções rodoviárias entre os dois países. Na área da energia, vários projetos inserem-se no espírito da futura União Energética que pretende atingir 10% nas interconexões entre os Estados-membros. Estas interligações deverão permitir a Portugal e Espanha exportar energia elétrica para o resto do espaço comunitário.A escolha dos projetos enviados pelos Estados-membros não obedece a quotas geográficas nem setoriais. Certo é que nem todos os projetos que Portugal e restantes países apresentaram serão escolhidos. As propostas nacionais devem passar pelo crivo de um comité de peritos independen-tes e obedecer a uma série de critérios.

Quem selecciona os projetos? Portugal vai beneficiar do Plano de Investimento da UE?

Segundo a Comissão e o BEI, a garantia do orça-mento da UE permite ao BEI oferecer produtos com maior valor acrescentado, mas também intrinsecamente com maior risco. Mas os riscos deverão ser atenuados por uma gestão que bene-ficia da experiência e das competências do BEI.Por outro lado, o comité de investimento que junta peritos independentes vai supervisionar as atividades do FEIE. Haverá uma remuneração adequada do risco, que será mantida no Fundo para compensar perdas e é criada um Fundo de Garantia da UE que assegurará uma reserva de liquidez para o orçamento da União em relação a eventuais perdas incorridas pelo FEIE no quadro do apoio prestado aos projetos.É também garantida uma monitorização profis-sional do risco e a possibilidade de reajustar as orientações relativas aos riscos na eventualidade de uma evolução adversa no início da carteira.

Há o risco de os contribuintes europeus per-derem dinheiro?

Os vinte e oito Estados-membros da EU foram convidados a contribuir para o Fundo, diretamen-te ou através dos bancos de fomento nacionais ou de organismos públicos que sejam propriedade dos Estados-membros ou por eles controlados.Até agora só a Alemanha (8 mil milhões de euros), Espanha (1,5 mil milhões), França (8 mil milhões) e Itália (8 mil milhões) anunciaram contribuições para o Fundo.Estas contribuições nacionais não são tidas em conta para o cálculo do défice. Numa comunica-ção relativa ao recurso à flexibilidade prevista pelas regras atuais do Pacto de Estabilidade e de Crescimento, o executivo comunitário traçou em Janeiro as suas orientações sobre esta maté-ria. Por forma a estimular os Estados-membros a abrirem os cordões à bolsa, as contribuições nacionais para o FEIE não são tidas em conside-ração no quadro da avaliação do ajustamento orçamental.

Quais os países que já contribuíram?

Desde que a crise económica e financeira atingiu a Europa que os níveis de investimento caíram, e em alguns Estados-membros desceram mesmo de forma drástica.Assim, no segundo semestre do ano passado o in-vestimento na UE foi 15% inferior ao de 2007, an-tes do início da crise. Ou seja, comparativamente ao pico registado naquele ano, os investimentos diminuíram 430 mil milhões de euros, segundo a Comissão Europeia (CE) e o Banco Europeu de Investimento (BEI). Portugal (-36%) está no grupo de países onde a queda de investimento foi mais acentuada nos últimos anos juntamente com Itália (-25%), Espanha (38%), Irlanda (-39%), julho do ano passado.

Há qualquer coisa de obsessivo na ideia de cresci-mento económico em Portugal como no resto do mundo. Lê-se e ouve-se por todo o lado, sobretudo no terreno dos «slogans» políticos para uso ime-diato, e até se percebe porquê em contexto de cri-se. Contudo, a verdade é que se trata, em especial na União Europeia, de um objectivo ultrapassado pela realidade, contraditório com outros impor-tantes desideratos colectivos e contrariado por características sociais tão determinantes como o envelhecimento populacional.Com efeito, as sociedades maduras são demasiado

complexas para obedecer automaticamente ao estí-mulo económico decretado pelo Estado, daí que o recente «quantitative

easing» do BCE esteja condenado a esgotar os seus efeitos rapidamente. Em sociedades como as integradas na UE, em particular no euro-gru-po, há sempre forças a operar em simultâneo a favor e contra o crescimento económico, sendo o resultado final tudo menos automático.Vejamos. Numa recente lista do FMI – uma insti-tuição especializada em oferecer receitas milagro-

sas para o crescimento económico -, eram apontados os países com menor crescimento desde 1999 até ao esperado em 2019. Ora, oito dos nove países

mais relevantes dessa lista pertencem à UE (sete dos quais ao euro) e o outro é o Japão. Todos estes países, onde a Itália, o Japão e Portugal são os três com menor crescimento ao longo daquelas duas décadas (menos de 1% ao ano e os outros cinco países entre 1% e 1,5%), todos eles se caracteri-zam – uns mais, outros menos – por possuírem rendimentos per capita acima e, na maioria dos casos, muito acima da média mundial.Não se trata, portanto, de pobreza; comparati-vamente, são países ricos ou, pelo menos, reme-diados como Portugal. Em suma, estamos a falar

de sociedades que, tendo atingido um determi-nado patamar de prosperidade superior a 20.000 dólares por habitante, encontram dificuldades estruturais para crescer economicamente (na China são $7.000 e na Índia $1.500). As razões variam e certos países, como Portugal e a Grécia tipicamente, começaram a deixar de crescer mais cedo do que outros, como (por ordem da lista em questão) a Dinamarca, a Alemanha, a França, a Bélgica, a Holanda e até a Croácia (que ainda não entrou para o euro), todos abaixo de 1,5%.Independentemente das diferenças de riqueza e de cultura, há contudo semelhanças decisivas en-tre os países de mais lento crescimento, incluindo o Japão. São três os traços comuns mais impor-tantes: a demografia (elevada longevidade e baixa fecundidade); o consequente peso das reformas e das despesas de saúde, seja qual for o sistema de segurança social; e a melhor protecção ambien-tal do mundo (Portugal é, segundo o Eurostat, o 6º país da UE com maior peso das energias renováveis). É isto que se pretende trocar pelo crescimento do antigo «terceiro mundo»? Ou é por isto que a Europa tem os custos acrescidos e as dificuldades de crescimento que conhecemos?Para além desses três factores maciços, que não há partido político algum que os mude signi-ficativamente, em especial o demográfico, há ainda o factor do mercado de trabalho. As com-parações são mais complicadas mas é evidente que os mercados de trabalho europeus se res-sentem, do ponto de vista do crescimento, dos corporativismos sindicais que os USA e o Reino Unido já desmantelaram em parte, enquanto o «terceiro mundo» nunca os chegou a ter. Além desses corporativismos, de que as empresas es-tatais de transportes como a TAP são o exemplo mais flagrante, os mercados de trabalho são con-dicionados, uma vez mais, pela demografia e pelo conflito entre as velhas e as novas gerações, que afectam a composição da população activa e daí as crescentes migrações internacionais.Se e quando a Europa minimizasse os efeitos destes 3 + 1 problemas estruturais – demografia, «estado social» e ambientalismo, mais o mercado do trabalho – poder-se-ia falar sem demagogia de crescimento e da criação de emprego. Mas nessa altura restaria o último factor anti-desenvolvi-mentista, a saber, a adesão subjectiva de grande parte da população europeia à austeridade, não no sentido meramente fiscal mas sim cultural do termo, e é isto que ainda não foi entendido pelos economistas da era keynesiana…Há pois fortes indícios de que não é a falta de crescimento que condiciona os valores sociais e políticos. São, sim, a demografia, a defesa do «estado social» e do ambiente, assim como o fosso inter-geracional, que condicionam as opções eco-nomicistas ultrapassadas dos partidos que apenas sabem angariar votos prometendo mais gastos e mais empregos públicos. Prometer o crescimen-to é uma frase feita mas, além de falsa, já não corresponde àquilo que ambiciona porventura a maioria dos europeus, para quem não seriam necessários mais do que 2% de crescimento anual para 2% de inflação, segundo a fórmula mágica alemã. Em todo o caso, na minha opinião, o pro-blema da sociedade portuguesa é muito menos uma questão de crescimento do que uma profun-da questão de desigualdade interna; não é tanto um problema de competição externa como de redistribuição interna. Era disto que devíamos estar a falar para as próximas eleições.

A retórica do crescimento

O crescimento na União Europeia é um objectivo ultrapassado pela realidade, contraditório com outros importantes desideratos colectivos e contrariado por características sociais determinantes.

18 19

Manuel Villa Verde Cabral

Page 11: Obs mafaldajoão 76222

20

O Mónaco, treinado pelo português Leonardo Jardim, qualificou-se na terça-feira para os quar-tos de final da Liga dos Campeões de futebol, ape-sar de ter perdido em casa com o Arsenal, por 2-0.Na segunda mão dos oitavos de final, o francês Olivier Giroud (36 minutos) e o galês Aaron Ramsey (79) deram o triunfo ao Arsenal, insuficiente contudo para o conjunto inglês dar a volta ao 3-1 na primeira mão, permitindo aos monegascos, que tiveram João Moutinho e Bernardo Silva em campo, chegar pela primeira vez aos ‘quartos’ desde 2003/04.No outro encontro da noite, o Atlético de Madrid, finalista em 2013/14, e o Bayer Leverkusen vão disputar o prolongamento, depois de Mario Suarez ter empatado a eliminatória, com um golo aos 27 minutos.

Mónaco, treinado pelo português Leonardo Jardim, qualificou-se para os quartos de final da Liga dos Campeões de futebol, apesar de ter perdido em casa com o Arsenal, por 2-0.

Mónaco, de Leonardo

Jardim, apura-se para os

quartos de final da Liga dos

Campeões

21

Já não é a primeira vez que Pierre Gonnord, fo-tógrafo francês com residência em Madrid, se dedica a fotografar comunidades marginalizadas de forma quase pictórica, a fazer lembrar retratos em tela do século XVII ou XVIII. Fê-lo em vilas isoladas de França e Espanha, na América do Sul, com membros da yakuza, no Japão, com jovens sem-abrigo, cegos, agricultores ou mineiros um pouco por toda a Europa.Para este trabalho, contudo, Gonnard veio até território nacional. Inserido numa residência no âmbito da Trienal no Alentejo, com quem colabora em vários projetos, o artista explorou

a fronteira raiana junto a Portalegre e encontrou nos ciganos nómadas do Alentejo as personagens perfeitas para The Dream Goes Over

Time (originalmente intitulado Au-Delà du Tage).Mais uma vez, e à imagem do seu trabalho an-terior, Gonnard assina uma coleção de retratos íntimos com um estilo pictórico muito acentuado, não só dos membros da comunidade da região mas também dos respetivos animais. O fotógra-fo deparou-se com a família, pela primeira vez, quando estes se deslocavam a bordo de uma car-roça a caminho do seu acampamento. Viajou e conviveu com eles durante semanas até ganhar confiança e afeto suficientes para os poder fo-tografar, sendo que muitos deles nunca sequer tinham visto uma câmara até aí.

Depois de já ter sido mostrado em 2013, em Évora, no âmbito da Trienal e em 2014 no Centro Andaluz de Fotografia, o tra-balho atravessa o Atlântico e chega agora a Nova Iorque: está patente na galeria Hasted Kraeutler até 25 de abril.

Ciganos do Alentejo numa exposição em

Nova Iorque

O artista francês Pierre Gonord fotografou os últimos ciganos nómadas do Alentejo e os respetivos animais ao estilo de retratos pictóricos do barroco. A exposição está agora em Nova Iorque.

Agência Lusa

Tiago Pais

Page 12: Obs mafaldajoão 76222

22

Pedro tem 23 anos e está no terceiro ano de medicina, na Universidade de Lisboa. Em 2012, foi um dos 183 alunos provenientes do ensino recorrente que acedeu ao ensino superior sem fazer exames nacionais, poucos meses depois de o ministro Nuno Crato ter mudado as regras de acesso e ter imposto a realização de exames. O Ministério recorreu da decisão dos tribunais e, no ano passado, Pedro re-cebeu um cartão vermelho, que é como quem diz uma carta da Direção-Geral do Ensino Superior (DGES) com ordem de expulsão da universidade. Não obedeceu.

“Lembro-me de ter visto no Facebook, no início do ano passado, que o Ministério da Educação estava a notificar os alunos que tinham vindo do ensino recorrente, mas como eu não tinha rece-bido carta nenhuma fiquei descansado. Até que em abril lá chegou a carta da DGES a dizer que a minha média tinha sido recalculada com base nas notas do ensino regular e como eu não tinha posto mais nenhuma opção de ingresso depois da Universidade de Lisboa, perdia a colocação”, recorda Pedro, que prefere manter o anonimato, por saber que “o recorrente é muito mal visto”.Pedro não abandonou a universidade porque o seu advogado voltou a recorrer para os tribunais, mas está longe de estar tranquilo. “Não sei o que é que hei de esperar do amanhã. Estou a estudar hoje e não sei se amanhã me podem mandar em-bora, nem posso fazer projetos. Os meus colegas vão todos de Erasmus no próximo ano e eu nem posso sequer pensar em concorrer”, lamenta, com o olhar caído sobre as mãos.

De 18,6 para 19,5 valores e entrada direta para medicina

Recuemos um pouco no tempo. Estamos em 2010 e Pedro termina o ensino secundário regular com uma média interna de 18,6 valores. Uma média elevada, mas não suficientemente alta para conseguir entrar num curso de medicina. Decide ficar mais um ano a fazer melhoria de notas. Matricula-se no ensino recorrente – uma vertente de educação para adultos que permite fazer o ensino secun-dário num só ano e até sem assistir a aulas – e prepara-se para os exames de ingresso ao cur-

Eles estão na faculdade. E podem ser

expulsos a qualquer momento.

A guerra está nos tribunais

Entraram na universidade e estão a tirar cursos superiores. Mas o Ministério entende que devem voltar a fazer exames e quer mandá-los embora. A guerra (e o percurso deles) está na mão dos tribunais.

"Não sei o que é que hei de esperar do amanhã. Estou a estudar hoje e não sei se amanhã me podem mandar embora, nem posso fazer projetos.

Os meus colegas vão todos de Erasmus no próximo ano e eu nem posso sequer pensar em concorrer".

alunos vindos do recorrente que acedessem ao ensino superior naquele mesmo ano e os alunos entenderam que não.

Alunos venceram em tribunal. Ministério não baixou armas e a “guerra” continua

O advogado Jorge Braga tem sido um dos rostos desta luta que opõe os alunos do recorrente ao Ministério da Educação. Em 2012 apresentou dois processos no Tribunal Administrativo do Circulo

de Lisboa, representando um total de 285 alunos, e venceu os dois. O advo-gado considerava que o diploma de fevereiro de 2012 devia conter uma regra de transição para estes alunos “que não tinham sido formatados para fazer exames naquele ano”, explicou ao Observador.Os alunos acabaram por poder candidatar-se e 183 conseguiram colocação. O Ministério, que recorreu das decisões, criou na altura 163 vagas adicionais para que os alunos do regular não fossem prejudicados.Um dos processos acabou por subir para o Tribunal Central Administrativo Sul e como este tribunal decidiu que “a própria norma era inconstitucional porque violava o princípio da confiança jurídica, o Ministério Público (MP) teve obrigatoriamente que recorrer para o Tribunal Constitucional”, conta Jorge Braga, lembrando que o recurso do MP dava razão aos alunos. O ou-tro processo, que entrou mais tarde, seguiu para o Supremo Tribunal Administrativo (STA) do Sul.Segundo o advogado, o Constitucional decidiu que a norma não era inconstitucional para “todos

os alunos matriculados no ensino secundário recorrente” e o STA seguiu a mesma linha. Jorge Braga recorreu do acórdão do TC para o Plenário

e do STA para o Constitucional. A resposta do Constitucional foi idêntica à primeira. A partir desse momento, Jorge Braga percebeu que só teria como salvaguardar os direitos dos alunos que tinham estado matriculados no recorrente antes de 2011/2012. Restavam-lhe 11 dos 183 que tinham entrado no ensino superior. E é por esses que se tem batido.Constitucional e do STA, a Direção-Geral do Ensino Superior (DGES) não perdeu tempo e co-meçou a notificar os alunos, numa carta em que decidia o seu futuro. Foi o pretexto para Jorge Braga contra-atacar: “eles aplicaram um ato ad-ministrativo antes do tempo, antes do trânsito em julgado das decisões, portanto violaram uma decisão judicial. Eu recorri e suspendi a decisão dos tribunais”, relatou.

23

so de medicina (biologia, matemática e física e química).Em 2011 Pedro termina o recorrente com uma média interna de 19,5 valores e consegue me-lhores notas nos exames das cadeiras específicas. Feitas as contas: 18,1 valores. Uma média que lhe valeu o ingresso nesse ano em medicina, embo-ra na última opção. A adaptação não correu da forma desejada e o estudante meteu imediata-mente na cabeça que no ano seguinte iria pedir transferência para outra universidade, com os exames, ainda válidos, que tinha feito em 2011 e aproveitando a nota interna do recorrente.Acontece que em 2012, já na primavera, Pedro apercebeu-se que o ministro Nuno Crato tinha alterado as regras de acesso ao ensino superior para os alunos do ensino recorrente e, a conselho de um amigo do pai, procurou a ajuda do advo-gado Jorge Braga, que já estava a defender um grupo de alunos nesta mesma causa.

“Só sei contar que ganhámos em tribunal, que en-trei na Universidade de Lisboa e não mais pensei no assunto, até a carta da DGES ter aparecido, no ano passado. Dizia que a minha matrícula seria anulada pois a minha média, recalculada, baixava e eu não tinha colocado mais nenhuma hipótese, naquele ano, a seguir a Lisboa. O meu pai está mais por dentro destas questões jurídicas do que eu. Na verdade não percebo muito bem a terminologia que o Dr. Jorge usa. Eu limito-me a estudar e desde que recebi a carta ainda tenho tirado melhores notas”, conta o estudante.

O que mudou com Nuno Crato?

A mudança das regras de acesso ao ensino supe-rior para os alunos vindos do recorrente ocorreu a meio do ano letivo. Em fevereiro de 2012 foi publicado o diploma que aproxima as condições de candidatura ao ensino superior por parte dos alunos dos cursos científico-humanísticos do en-sino recorrente, daquelas a que estão sujeitos os alunos do ensino regular.Na prática, os alunos do recorrente que se que-rem candidatar ao ensino superior passaram a ter de fazer os exames finais nacionais como os alunos do ensino regular, sem prejuízo de ser suficiente a avaliação interna para os alu-nos que apenas queiram obter a certificação da conclusão desses cursos. Além disso impediu-se que os alunos que tivessem completado o ensino secundário regular se matriculassem em curso idêntico no recorrente para subir nota.

As alterações introduzidas vieram, sublinha o Ministério da Educação ao Observador, “restaurar a matriz do ensino recorrente”. “O seu propósito foi pois o de pôr termo à prática, que se veio a revelar abundante, de utilizar o ensino recorren-te como via rápida e acessível para o ingresso no ensino superior, frustrando as expectativas de todos os que seguiram o percurso normal”, acrescentou fonte oficial do Ministério de Nuno Crato. Os casos mais flagrantes e polémicos pren-diam-se com alunos que tiravam notas baixas no regular e iam subir notas para o recorrente para conseguir entrar em cursos de médias elevadas, Mas este diploma acabou por ser objeto de litígio. Isto porque o ministro Nuno Crato entendia que as novas regras se deveriam aplicar a todos os

"O propósito [das alterações às regras de acesso] foi pois o de pôr termo à prática, que se veio a revelar abundante, de utilizar o ensino recorrente como via rápida e acessível para o ingresso no

ensino superior, frustrando as expectativas de todos os que seguiram o percurso normal".

Marlena Carriço

Page 13: Obs mafaldajoão 76222

24

"O TC claramente excluiu da decisão os alunos que já haviam terminado o ensino recorrente, portanto esses alunos que eram detentores de um certificado de habilitações académicas podiam,

deviam e teriam sempre que se candidatar", argumenta o advogado.

O advogado apresentou providências cautelares individuais, uma por cada um dos 11 alunos, às quais ficou acoplada uma ação principal. Só a providência de Pedro não foi ganha. O Ministério voltou a recorrer e Jorge recorreu da decisão da providência do Pedro para o Supremo Tribunal Administrativo que, por sua vez, se recusou a revisitar o processo, obrigando o advogado a re-correr para o Pleno da Secção.Em resposta ao Observador, o Ministério esclare-

ceu que “está obrigado a executar todas as sentenças judiciais proferidas no âmbito de processos em que é parte, independentemente de o conteúdo

da sentença (acórdão) lhe ser favorável”. Assim, “foram retificadas as classificações de ensino se-cundário dos autores das ações que foram candi-datos ao concurso nacional de acesso e ingresso no ensino superior público para matrícula e ins-crição no ano letivo 2012-2013.E daí resultaram diferentes resoluções: aqueles que perderam a certificação de conclusão do se-cundário (por não terem feito exames nacionais) foram “excluídos”; os que, após retificação das notas (tendo em conta as do ensino regular que tinham frequentado anteriormente), não con-seguiram média para entrar em nenhuma das hipóteses apresentadas em 2012/13 perderam colocação; outros foram notificados para mudar de instituição de ensino.Sem adiantar números, o Ministério da Educação revela que “muitos dos alunos que moveram as

25

mencionadas ações não chegaram a candidatar-se ao concurso nacional de acesso de 2012” e

“dos que concorreram, uma parte significativa ou manteve a colocação ou foi colocada noutro par instituição/curso”. “Houve também alunos não colocados, nomeadamente por terem limitado as opções de candidatura, e só os alunos que não reuniam as condições de acesso ao ensino superior, por não terem realizado os exames finais nacionais, é que ficaram na situação de excluído, sendo este número residual”, concluiu.

Pedro já só pede para concluir este ano letivo

Desde que recebeu a carta da DGES que Pedro e a sua família têm vivido num “sobressalto”. E Pedro não é caso único. Há mais estudantes a viver idêntico dilema. Só Jorge Braga representa 11. E nem todos estão em medicina. Há alunos de engenharias, pilotagem e outros cursos.Pedro, com boa média e apenas uma cadeira em atraso do primeiro ano, que vai fazer agora no segundo semestre, já só pede tempo para

“acabar este ano letivo”. Concluindo o terceiro ano obtém o grau de licenciado o que lhe “daria oportunidade de concorrer a outras faculdades de medicina como licenciado”, explica.Se a decisão judicial chegar antes do final do ano letivo e tiver de sair da universidade, “apenas me garantem as cadeiras que fiz” e “terei de repetir exames de ingresso para voltar a aceder ao ensino superior”. “Fico com a nota interna do regular (186 valores) e teria de ficar um ano em casa para me preparar para os exames”, detalha.Mas o advogado Jorge Braga lembra que mesmo que Pedro tente concorrer a outra faculdade de medicina como licenciado, “vai sempre estar dependente do número de vagas para transfe-rências, que costuma ser inferior a 10% do total das vagas da instituição”.Neste momento, Jorge Braga só quer que as pro-vidências sejam todas decretadas. Quanto à ação principal? “Acho que temos uma boa probabilida-de de ganhar a ação porque o ato do Ministério, de expulsar os alunos, é nula”.E se os alunos entretanto já tiverem sido expulsos e vier a ser-lhes dada razão mais à frente, na ação principal? “Os alunos podem exigir uma indem-nização ao Estado, correspondente ao valor do salário que iriam auferir até ao fim da sua vida profissional”, exemplificou.

“Se eles perderem a ação principal perdem uma habilitação literária pois terão de fazer os exames nacionais pelo recorrente ou então terão de acei-tar ficar com a média mais baixa que já tinham obtido no regular”. Além disso terão de fazer os exames de ingresso no ensino superior e voltar a candidatar-se, podendo pedir equivalência das cadeiras já feitas.

“Acho que temos uma boa probabilidade de ganhar a ação principal porque o ato do Ministério, de expulsar os alunos, é nula. Se assim for e se os alunos já tiverem abandonado os estudos,

poderão vir a pedir uma indemnização ao Estado”.

Page 14: Obs mafaldajoão 76222

26

Receita Risotto de

bacalhauNo Masterchef Austrália chamam ao risotto

“o prato da morte”, mas Teresa Rebelo, do blogue Lume Brando, ajuda-o a sair vivo do desafio.Quando tinha aí uns três ou quatro anos, o meu filho mais velho chamava arroz maroto ao arroz malandro. Sempre que penso em risotto, lembro-me desta associação patus-ca, não só pela rima mas também porque o risotto pode revelar-se bem maroto na hora de o cozinhar. Não é à toa que no Masterchef Austrália o risotto é considerado o “prato da morte”: fazer e apresentar um risotto irreprovável, cremoso, nem demasiado en-sopado nem demasiado seco ou demasiado cozinhado, é um dos desafios que mais faz tremer os concorrentes.

Felizmente, a nossa cozinha não é o estúdio do Masterchef. Nela po-demos cozinhar sem cronómetro. Podemos ter amigos ao pé e um copo

de vinho na mão. O risotto é o prato ideal para conviver enquanto se cozinha: os braços vão-se revezando e temos a certeza de que estamos todos quando ficar no ponto. E se por algum motivo não sair perfeito, não há críticas do Matt Preston, nem desafio de eli-minação. Há é uma nova desculpa para nos juntarmos outra vez.

27

2 lombos de bacalhau8 fatias de bacon320 g de arroz para risotto1 cenoura2 cebolas5 dentes de alho1 folha de louro1 talo de alho francês1 ramo de salsa1 copo de vinho branco120 g de queijo da Ilha raladoAzeite qbSal qbPimenta preta qb

Para 4 pessoas

Num grelhador ou frigideira anti-aderente, cozinhe 4 fatias de bacon até estarem bem tos-tadas e crocantes. Retire-as e reserve-as sobre papel de cozinha.

Leve ao lume uma panela com água onde colocou os lombos de bacalhau, a cenoura

descascada e partida às rodelas, o alho francês lavado e partido em pedaços, dois dentes de alho esmagados, uma cebola descascada partida ao meio, a

folha de louro, metade do ramo de salsa e um fio de azeite. Deixe ferver e cozinhar até o bacalhau começar a lascar, o que deve ser muito rápido, uns 5 minutos

desde que começa a ferver. Retire o bacalhau para um prato e deixe arrefecer até conseguir

lascá-lo. Reserve.

Coe a água onde cozeu o bacalhau, que deve perfazer cerca de 1,3 litros. Prove este caldo, retifique de sal se for necessário e mantenha-o quente.

Entretanto leve a refogar num fundo de azeite a outra cebola e três dentes de alho, tudo pica-do, e ainda as restantes fatias de bacon partidas em pequenos pedaços. Deixe alourar e junte o arroz para risotto. Deixe fritar um pouco, mexendo sempre.

Adicione o vinho branco e mexa até evaporar. A partir daqui vá juntando aos poucos o caldo onde cozeu o bacalhau, mexendo sempre e juntando mais caldo sempre que já

tiver evaporado. Deve demorar cerca de 25 minutos, em lume médio, até o grão do arroz ficar cozinhado al dente e pode ser que não precise de

usar todo o caldo.

Quase no final da cozedura, junte as lascas de bacalhau, a restante salsa picada e metade do

queijo ralado.

Retifique o sal se necessário, e tempere com pimenta preta acabada de moer. Envolva bem e retire do lume. Sirva com mais queijo da Ilha rala-do e o bacon tostado partido em pedacinhos.

.01

.02

.03

.04

.05

.06

.07

Teresa Rebelo

Page 15: Obs mafaldajoão 76222

28

Os media, com a televisão à cabeça, têm o mau há-bito de reduzir uma obra de arte a um estereótipo, simplificando-a numa frase ou numa etiqueta para consumo colectivo e retirando-lhe assim a riqueza, os significados e a complexidade. A mais recente vítima desta tendência é “Leviatã”, a quar-ta longa-metragem do cineasta russo Andrei Zyvagintsev, que chega hoje a Portugal rotulado como “o filme anti-Putin”.Nada mais confrangedor e reducionista do que limitar a um libelo contra o actual ocupante do Kremlin o que é na realidade um filme sobre os trágicos atavismos culturais, políticos e sociais da Rússia – a corrupção de alto a baixo e do centro às periferias, a tirania tentacular do Estado, a promiscuidade da Igreja Ortodoxa com o poder, os vasos comunicantes deste com o mundo do crime, o peso da burocracia e a força dos tiranetes locais, a impotência do cidadão comum perante a arbitrariedade pública, o embrutecimento da sociedade pela bebida, o fatalismo da sociedade civil –, que Zyvagintsev ilustra através de histó-ria sobre a eterna impotência do cidadão russo perante a arbitrariedade estatal, perante o peso e a força de um monstro. Um leviatã que já se chamou czarismo e depois comunismo, e que se mantém com as roupagens de um novo regime, com novas caras e a mesma velha indiferença e prepotência para com as pessoas comuns.Putin é apenas mais um, aquele que controla o monstro nesta altura, como o realizador mostra na sequência em que o protagonista e a sua famí-lia e amigos vão fazer um piquenique de aniver-sário na natureza, que consiste essencialmente em beber vodka e fazer tiro ao alvo. Primeiro, a garrafas da bebida nacional, depois às fotografias dos homens que lideraram o país quando ainda se chamava União Soviética, e a seguir no pós-co-munismo. O leviatã do sistema sobrevive aos seus líderes, e resta aos governados disparar contra os seus retratos, para cevar toda a raiva, revolta e impotência que os amarfanha por dentroEste filme de Andrei Zyvagintsev é, no entanto, mais explicitamente “contra” o regime do que a sua obra de estreia, o magnífico e enigmaticamen-te alegórico “O Regresso”, que revelou o cineasta ao mundo vencendo o Festival de Veneza em 2003. Bem como a sua realização anterior, “Elena” (2011), que, pela subtileza na descrição das desi-gualdades e injustiças da actual sociedade russa, alguns poderão com toda a legitimidade preferir a este mais óbvio e demonstrativo “Leviatã” (são claros os paralelos feitos por Zyvagintsev com a narrativa bíblica de Job, só que no final do filme, o seu herói, Kolia, em vez de ser recompensado pelo sofrimento que lhe foi infligido, é ainda mais implacavelmente martirizado).Ironicamente, o realizador foi inspirar-se num facto real ocorrido em 2004 nos EUA (revoltado contra a Câmara Municipal da cidade onde vivia na sequência de um contencioso sobre terrenos, um homem meteu-se num tanque, destruiu vários edifícios públicos e depois suicidou-se) para escrever, com Oleg Negin, “Leviatã”, que ganhou o Prémio de Melhor Argumento no Festival de Cannes, o Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro e esteve candidato ao Óscar na mesma categoria.Kolia (estupendo Aleksei Serebryakov), um me-

cânico, vive e trabalha numa casa com vista para o Mar de Barents, que pertence à sua família há várias gerações. O mafioso presidente da câmara local cobiça o terreno e procura expropriar Kolia e a família manipulando a polícia e os tribunais e obrigando-o a aceitar uma indemnização ridícula, para, suspeita este, cons-truir uma mansão luxuosa para si ou especular no mercado imobiliário com os seus capangas do meio da construção civil. Kolia recorre a um velho amigo e camarada da tropa, Dimitri, advo-gado em Moscovo. Este recorre aos seus conheci-mentos na capital, compila um dossier com todos os podres do autarca, e confronta-o com ele. Só que nem este se deixa intimidar, como também Dimitri se envolve de forma imprudente com a mulher de Kolia. E tudo o que pode acontecer de mau, acontece.A Rússia que Andrei Zyvagintsev aqui filma é uma terra de homens e mulheres corruptos, desespe-rados, comprados ou resignados, onde a revolta é um gesto inútil que a máquina da burocracia, o peso do dinheiro ou a violência dos poderosos se encarregam de neutralizar, e onde toda a gente bebe vodka até ao entorpecimento.Mais do que um filme pessimista, “Leviatã” é um filme fatalista. E é um fatalismo pesado, ancestral, enraizado, profunda-mente russo, sem solução nem redenção, muito embora o realizador tenha dito que queria que

“Leviatã” fosse também entendido como “uma parábola universal” sobre a batalha do indiví-duo contra a omnipotência do Estado. Só que na Rússia essa batalha continua, século atrás de século, regime após regime, a ser trágica e repetidamente inglória.

29

Mais do que um mero libelo “anti-Putin”, o filme “Leviatã”, de Andrei Zyvagintsev, é uma história feia e bruta sobre os atavismos políticos, culturais e sociais da Rússia, da corrupção ao fatalismo.

‘Leviatã’: a longa

tragédia da sociedade

russaEurico de Barros

Page 16: Obs mafaldajoão 76222

A Petrobras vai sair do escândalo de corrupção em que está envolvida “mais forte, mais competi-tiva e mais capacitada”, afirmou Manuel Ferreira de Oliveira, presidente da Galp Energia, à mar-gem de uma intervenção em Lisboa.Considerando que o problema que se vive na petrolífera estatal brasileira “foi ali implantado” e “quanto mais depressa se resolver melhor”, Ferreira de Oliveira afirmou que a empresa “vai sair deste processo mais forte, mais competitiva e mais capacitada”.O presidente da Galp Energia falou à agência Lusa antes do início da palestra “Oportunidades de negócios decorrentes das descobertas de O&G [sigla inglesa para petróleo e gás] na CPLP”, or-ganizada no auditório da Auditório da SRS Advogados pelo Fórum de Administradores de Empresas no âmbito da iniciativa

“Encontros de Gestores”.Defendendo que a Petrobras “é, indiscutivel-mente, a empresa petrolífera do mundo com mais saber e mais experiência na exploração e produção de petróleo e gás no ‘ultra deep offsho-re’ [exploração em águas muito profundas] “, o responsável da Galp sublinhou que “o conheci-mento está lá, os profissionais estão lá, e são do melhor que há no mundo”.Apesar de considerar que o escândalo de cor-rupção em torno da Petrobras é “um processo difícil para todos os que estão a vivê-lo no dia-a-dia” e perante o qual a empresa brasileira “tem pela frente um trabalho gigantesco”, Ferreira de Oliveira disse acreditar que “o resultado vai ser positivo”.

“Esta situação entristece-nos a todos, entristece e muito a esmagadora maioria dos colaboradores da Petrobras, porque, às vezes, ao falar dos problemas que estão hoje nas páginas dos jornais, esquecemos que 99,99% dos trabalhadores da empresa são pessoas tão dignas, competentes e profissionais como todos nós”, sublinhou à Lusa, desejando que, “passada esta onda de preocupação, se regresse à normali-dade necessária para a Petrobras poder cumprir o seu dever”.

Galp: Petrobras sairá

do escânda-lo “mais forte, competitiva e

capacitada”Manuel Ferreira de Oliveira, presidente da Galp Energia, declarou que a Petrobras será

“mais forte, competitiva e capacitada” após o escândalo.

No início de fevereiro, o presidente da Galp Energia havia declarado não estar a sentir “im-plicações materiais” nos projetos em que estava envolvido com a Petrobras”.A situação na petrolífera brasileira levou a pre-sidente brasileira, Dilma Rousseff, a anunciar um conjunto de medidas, que submeterá ao Congresso, para reforçar o combate à corrupção.Entre as medidas propostas consta uma que regu-lamenta uma lei contra a corrupção já aprovada sobre as práticas ilícitas no setor privado, endurecendo as penas para os empregadores que se envolvam em crimes contra o erário público.Essa medida pode afetar diretamente 18 empre-sas privadas contra as quais a procuradoria-ge-ral instaurou dois processos administrativos por alegado envolvimento na rede de corrupção na Petrobras.No âmbito deste escândalo, estão também sob investigação 50 políticos, na sua maioria da base de apoio a Dilma Rousseff, e entre os quais o te-soureiro do Partido dos Trabalhadores (PT), João Vaccari, por supostas manobras para conseguir dinheiro da Petrobras para as campanhas do partido no poder.

Paris perdeu a Torre Eiffel entre as partículas da poluição, que formaram uma nuvem baça sobre a capital francesa durante esta quarta-feira. A notícia é publicada pelo ABC.

A Airparif, a companhia responsável por controlar a qualidade do ar parisiense, afirmou que os níveis de contami-nação são consistentes e que “se não tivermos ultrapassado os níveis máximos, não estaremos muito longe”.A poluição que está a sufocar Paris é criada pelos gases libertados pelos automóveis e pelas indústrias, que têm lançado para o ar as partículas mais nocivas para a saúde huma-na. Chamam-se PM10 e são capazes de penetrar nos pulmões e no sistema circulatório.A fraca visibilidade criada pelo smog que se aba-teu na cidade europeia obrigou as autoridades a diminuir os limites de velocidade nas estradas.

A polícia pode ainda proibir a entrada de carros na capital, obrigando a população a viajar em transportes públicos.

Esta foi uma medida adotada o ano passa-do, depois de uma crise ambiental de grandes dimensões.

Torre Eiffel foi engolida

pela poluição atmosférica

A capital pariense está debaixo de uma nuvem de poluição que obrigou as autoridades a diminuir os limites de velocidade em 20 quilómetros.

30 31

Agência Lusa

Observador

Page 17: Obs mafaldajoão 76222

A definição da data estava apenas dependente da rea-lização de testes técnicos, e o lançamento acaba por acontecer dentro do prazo inicialmente previsto - o primeiro semestre deste ano. José Manuel Fernandes, antigo director do PÚBLICO assume o cargo de publisher, enquanto David Dinis, antigo editor de po-lítica do semanário Sol, é o director executivo do jornal.

O diário online já tem uma página experimental onde se define como um meio de comunicação digital 100% português e que nasce «sem os condicionamentos do papel e assume o seu caráter inovador».

Para o financiamento do projecto vão contribuir 15 investidores, sendo o principal o empresário português Luís Amaral, radicado na Polónia e dono da Eurocash (maior grupo grossista do país). Deste grupo fazem ainda parte João Talon e António Pinto Leite.

Existirão cerca de 15 investidores no projecto. A garan-tia é de que o jornal será “independente”, “fruto de um novo grupo de comunicação social 100% português”.

1 ano de existência

online

Jornal Público

Jornal de Negócios

Jornal Económico

TVI 24