og leme e o liberalismo moderno, j. o. de meira penna

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  • 8/3/2019 Og Leme e o Liberalismo Moderno, J. O. de Meira Penna

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    Og Leme e o Liberalismo ModernoJ. O. de Meira Penna

    Fevereiro de 2004

    Corre nos crculos internacionais do Liberalismo o moto otimista que os liberais vivem mais

    tempo (liberals live longer). A frase atribuda a um dos mais venerveis e mais ilustres,

    Friedrich Hayek, que faleceu aos 93 anos. Outros grandes economistas e escritores liberais

    foram agraciados com longas vidas para a defesa de idias que, infelizmente, nunca foram

    politicamente corretas num sculo dedicado ao crescimento da burocracia, ao culto do

    Estado hegeliano e ao genocdio blico que resulta dessas tendncias. Um dos mais

    eminentes economistas vivos, Milton Friedman, o guru de Chicago, tem 92 anos, continua

    produzindo e, ocasionalmente, freqenta reunies de seus discpulos ou as que so

    anualmente promovidas pela Sociedade do Mont Plerin (MPS) - uma ONG informal que

    possui hoje mais de quinhentos membros de 40 nacionalidades.

    Og Francisco Leme s tinha 81 quando faleceu, ms passado. Lamentado por seus amigos

    e admiradores, ele ainda muito poderia contribuir para a difuso de uma doutrina mal

    conhecida, mal vista e mal interpretada em nossa terra de tupiniquins estatizantes,

    botocudos iletrados e vira-bostas sedentos de cargos pblicos. Talvez os trs pontos

    culminantes na vida desse professor de atitude modesta, fina ironia, inteligncia brilhante,

    voz pausada e excepcional capacidade de aturar a imbecilidade alheia, foram a oportunidadeque teve de concluir seu mestrado na Universidade de Chicago; de trabalhar alguns anos

    em Santiago, na CEPAL; e de participar das atividades do Instituto Liberal do Rio de Janeiro,

    desde quando fundado h vinte anos. Em Chicago, Og estudou com Milton Friedman de

    quem absorveu as idias mais avanadas nessa disciplina. Ali tambm conheceu outro

    grande economista, Frank Knight, de ambos se tornando amigo e absorvendo no s os

    ensinamentos, mas o prprio esprito vibrante desses pensadores liberais. Paulista e

    formado na Faculdade de Direito da USP, Og obteve nos Estados Unidos o benefcio de se

    descontaminar do vrus da AIDS ideolgica que infesta os corredores daquela famosa

    instituio.

    Em seguida, no Chile onde permaneceu alguns anos, sua experincia foi curiosa e

    estimulante pela polmica que manteve com o argentino Raul Prbich, o maior representante

    do keynesianismo e do intervencionismo estatal no organismo onusiano, quando pde

    avaliar os malefcios que a Comisso Econmica para a Amrica Latina estava gerando

    neste continente malsinado. S mais tarde, de 1975 a 89, o Chile absorveria a prtica do

    liberalismo dos chamados Chicago boys que lhe granjearam um excepcional sucesso

    econmico sob o benemrito governo do general Pinochet. O pas o nico da Amrica do

    Sul que j penetrou no Primeiro Mundo e mantm altos ndices de crescimento econmico,

    graas elogivel deciso de dois presidentes socialistas de no mexerem na estrutura

    1http://www.meirapenna.com.br/

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    implantada. Com a crise argentina e a estagnao brasileira, seu percapita hoje o mais alto

    da Amrica Latina. Og costumava imputar a Ral Prbich a culpa pelos desastres que

    interromperam o milagre brasileiro a partir do governo de Geisel. As receitas da CEPAL se

    enraizaram, aqui como alhures, adicionando-se a uma espcie de nostalgia romntica e

    vocao para o sub-desenvolvimento que o Estado patrimonialista invariavelmente provoca,

    detendo qualquer crescimento material ou progresso social. Og conseguia, com imensa

    dificuldade, controlar sua indignao com as polticas calamitosas que inspiraram quase

    todos nossos governantes nesse perodo. Insistia, entretanto, que o Estado de Direito e o

    governo das leis (rule of law) so a base de uma sociedade liberal.

    Voltando ao Brasil em 64, trabalhou com Roberto Campos at o final do governo Castello

    Branco, aps o que lecionou e foi coordenador do CENDEC. Em 1983 e a convite de Donald

    Stewart, colaborou na fundao do Instituto Liberal do Rio de Janeiro onde permaneceu

    como consultor cultural at seu falecimento. Durante esse perodo foi o representante do

    Liberty Fund, organizando e presidindo os chamados seminrios socrticos que esse

    think-tank de Indianpolis, EEUU, patrocina. Foi num deles que melhor conheci e passei a

    admirar esse admirvel e dedicado scholarde to excepcional pertincia, coragem e viso

    no sentido de difundir em nossa terra os ensinamentos do Liberalismo. Alm de inumerveis

    artigos, ensaios e estudos que escreveu para o IL do Rio, Og tambm o autor de um

    pequeno ensaio, divertido, conciso e clarividente, com um ttulo que diz tudo Dos Cupins e

    dos Homens. Pois de fato, que mais devemos temer do que uma sociedade coletivista,

    dedicada no a produzir bens crescentes em nmero e qualidade na prtica da liberdade,

    mas a estagnar e corroer a nao na tirania e no marasmo burocrticos?

    (Originalmente publicado no Jornal da Tarde, 2 de Fevereiro de 2004.)

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