os desafios da escola pÚblica paranaense na … · para brotto (2001), quando aprendemos a jogar...
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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
JOGOS COOPERATIVOS COMO FERRAMENTA DE CONVIVÊNCIA NA ESCOLA
Jovani Cesar Sgarbozza¹
Christine Vargas Lima²
RESUMO
O presente artigo integra o Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), e apresenta uma articulação entre o Projeto de Intervenção Pedagógica e a Produção Didático-Pedagógica, bem como os resultados obtidos durante a implementação do projeto na escola. O estudo, desenvolvido sob o procedimento metodológico da pesquisa-ação, possui sob o mesmo ponto de vista o objetivo de oportunizar uma convivência mais harmoniosa e cooperativa entre alunos, através dos Jogos Cooperativos. Para tanto, foram desenvolvidas 32 aulas com aproximadamente 25 alunos de 6º ano do Colégio Estadual Duque de Caxias, no município de Saudade do Iguaçu – PR. A proposta, preocupou-se em criar, através dos jogos cooperativos, possibilidades metodológicas que auxiliassem nas relações conflitantes do cotidiano escolar, amenizando as divergências comuns entre os colegas e buscar possíveis encaminhamentos para a construção de valores. Após o desenvolvimento do projeto, pode-se constatar que é possível desenvolver um trabalho articulado com os jogos cooperativos e que os mesmos podem ser considerados ferramenta de melhoria na convivência na escola. Os resultados deste processo serão os norteadores do presente trabalho. Palavras-chave: Jogos cooperativos. Convivência. Alunos.
INTRODUÇÃO
Como decorrência das atividades realizadas no Programa de
Desenvolvimento Educacional (PDE), este artigo apresenta aspectos teóricos do
tema Jogos Cooperativos e a Convivência na Escola, bem como expõe e reflete uma
articulação entre o Projeto de Intervenção Pedagógica e a Produção Didático-
pedagógica. Esta pesquisa demonstra a importância dos Jogos Cooperativos para a
melhoria da convivência entre alunos do 6º ano do Colégio Estadual Duque de
Caxias, no município de Saudade do Iguaçu – PR.
___________________________
[1] Graduado em Educação física na FACEPAL - Faculdades de Palmas. Pós-graduado em Educação Física Escolar pela FAFIPAR - Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de Paranaguá. Professor efetivo do Governo do Estado do Paraná desde 2003, lotado no Colégio Estadual Duque de Caxias, no município de Saudade do Iguaçu - PR. Participante do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) 2013. [2] Graduada em Educação Física na universidade UFSM. Mestre em Educação na universidade UNICAMP. Professora do Departamento de Pedagogia DEPED/UNICENTRO. Ministra a disciplina de Pedagogia e Movimento: Jogos e Brincadeiras. Orientadora do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE).
Diante da linha de estudo, que são as convergências da Educação Física,
podemos afirmar que um dos grandes desafios nas aulas práticas de Educação
Física, bem como em sala de aula, é a heterogeneidade das turmas. É possível
encontrar entre colegas de classe, alunos com defasagem de idade e série,
diferentes níveis de desenvolvimento motor e de habilidade, desigualdades
socioeconômicas e culturais, que normalmente são causadores de divergências
entre os colegas de turma.
Além das diferenças em relação ao desenvolvimento físico e motor,
encontramos também nesta faixa etária, dificuldades de relacionamento em virtude
da inversão de valores morais, onde a competição para ser melhor que o outro em
tudo é imprescindível na escala de valores. Desta forma, percebe-se a necessidade
de um trabalho a ser desenvolvido neste sentido, com a tentativa de amenizar a
exclusão daqueles que apresentam dificuldades em vários aspectos ou não
pertençam a um determinado padrão social, pois são fatores que implicam
negativamente na formação do indivíduo. Neste sentido, o mesmo autor afirma:
A identificação, a autoafirmação são sentimentos de difícil elaboração. Experiências negativas em relação a eles podem levar muitos jovens ao caminho das drogas, ao fanatismo político ou religioso. Esses sentimentos podem ser mais bem elaborados em ambientes esportivos saudáveis (FREIRE, 2003, p.25)
A referida pesquisa surgiu da preocupação deste pesquisador em melhorar a
convivência entre os educandos e a busca por possíveis encaminhamentos para a
construção de valores humanos. Pois nesse sentido, percebeu-se que as
divergências na relação entre colegas de turma podem causar interferência no
processo de ensino-aprendizagem.
Diante disso, Reinaldo Soler (2009) afirma que a escola é o melhor lugar
para trabalhar os valores humanos, onde é possível ensinar, aprender e também
valorizar as diferenças individuais. De forma alguma a escola deve ser usada para
expor as pessoas umas contra as outras, ao contrário disso, é um local ideal para
dar oportunidades iguais a todos. Em conformidade com o assunto o autor
esclarece:
Não podemos pregar uma inclusão dentro das escolas e na prática realizar um trabalho em outra direção, criando atividades para poucos e deixando uma grande maioria sem ter acesso, e sem poder fazer parte de fato das aulas de Educação Física. (SOLER, 2009, p.61)
Sob o mesmo ponto de vista, o trabalho com os Jogos Cooperativos torna-se
aliado na tentativa de amenizar o problema de convivência, pois quando o desejo de
excluir o outro é substituído pela união com o outro para atingir objetivos comuns,
valores humanos são desenvolvidos. De acordo com Fabio Brotto:
Os Jogos Cooperativos são jogos de compartilhar, unir pessoas, despertar a coragem para assumir riscos com pouca preocupação com o fracasso e sucesso em si mesmo. Eles reforçam a confiança em si mesmo e nos outros e todos podem participar autenticamente, onde ganhar e perder são apenas referências para o contínuo aperfeiçoamento pessoal e coletivo. (BROTTO, 2001, p.55)
Desta forma, pretende-se neste estudo valorizar os Jogos Cooperativos nas
aulas de Educação Física, como um meio pedagógico possível de transformar o
relacionamento conflitante entre alunos, numa convivência mais harmônica e
colaborativa. Também os fazendo capazes de compreender as diferenças e as
limitações do outro, suficientemente a ponto de auxiliá-lo nas divergências do
cotidiano, pois se acredita que é necessário compreender as diferenças para
formarmos uma sociedade democrática. Neste sentido a pesquisa apresenta em
primeiro momento, a área conceitual dos jogos cooperativos e a convivência entre
colegas. Após serão apresentados os resultados obtidos durante a implementação
do projeto na escola.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 Conhecendo os Jogos Cooperativos
Os jogos cooperativos são atividades com um objetivo incomum aos jogos
tradicionais, onde “os participantes jogam uns com os outros, ao invés de uns contra
os outros” (DEACOVE,1974 apud BROTTO, 2001, p.54). Constituem-se como jogos
onde a meta principal é fazer com que todo o grupo ou equipe em conjunto atinja um
objetivo comum.
De acordo com as DIRETRIZES CURRICULARES (2008), os jogos
cooperativos estão inseridos como Conteúdo Básico, dentro do Conteúdo
Estruturante Jogos e Brincadeiras, nas Diretrizes Curriculares da Educação Básica
do Estado do Paraná.
Reinaldo Soler (2008) sustenta que mesmo inconscientemente a cooperação
sempre existiu. Sob o mesmo ponto de vista, Terry Orlick (1989) assegura que
existem muitas evidências de que os homens pré-históricos conviviam em grupos,
onde colhiam frutas e caçavam com o máximo de cooperação e partilha dos seus
bens. Da mesma forma, Soler (2008) afirma que através de pinturas rupestres, com
cerca de quarenta mil anos, é possível analisar a cooperação e a preocupação do
homem pré-histórico com seu grupo. O autor ainda acrescenta:
“Nas comunidades primitivas o trabalho e a produção de bens eram coletivos, não existia quem fosse mais ou menos importante. Tudo era distribuído e não havia a exploração de uns pelos outros.” (SOLER, 2008, p.34)
Segundo Brotto (2001), não se joga para derrotar o outro, mas sim para
superar desafios ou para simplesmente gostar do jogo e sentir o prazer de jogar.
São estruturados para diminuir a pressão da competição e dos comportamentos
destrutivos. Tem como meta a integração e a participação de todos, onde se deixa
aflorar a espontaneidade e a alegria de simplesmente jogar. Semelhantemente a
citação a seguir nos faz entender que:
O jogo cooperativo consiste em jogos e atividades onde os participantes jogam juntos, ao invés de contra os outros, apenas pela diversão. Através deste tipo de jogo, nós aprendemos a trabalhar em grupo, confiança e coesão grupal. A ênfase está na participação total, espontaneidade, partilha, prazer em jogar, aceitação de todos os jogadores, dar o melhor, mudar regras e limites que restringem os jogadores, e no reconhecimento que todo jogador é importante. Nós não comparamos nossas diferentes habilidades nem performances anteriores, nós não enfatizamos a vitória e a derrota, resultados ou marcas. (SOBEL,1983 apud BROTTO, 2001, p.55).
Para Soler (2008), os jogos cooperativos foram desenvolvidos para diminuir a
competição exagerada, bem como a valorização do individualismo, que é algo
crescente em nossa sociedade moderna. Para tanto, os jogos cooperativos são
fundamentados em valores como o trabalho em grupo, que trazem em si diversos
sentimentos relacionados à cooperação. Relacionado a este assunto, o autor utiliza
a seguinte citação:
Jogos cooperativos são dinâmicas de grupo que tem por objetivo, em primeiro lugar, despertar a consciência de cooperação, isto é, mostrar que a cooperação é uma alternativa possível e saudável no campo das relações sociais; em segundo lugar, promover efetivamente a cooperação entre as pessoas, na exata medida em que os jogos são eles próprios, experiências cooperativas. (BARRETO, 2000 apud SOLER, 2008, p.68)
Para Brotto (2001), quando aprendemos a jogar dentro do estilo cooperativo,
desconstruímos a ideia de sermos separados e isolados uns dos outros. Dessa
forma, é possível sensibilizar sobre a importância de cada um ser o que realmente é,
respeitando a individualidade e compartilhar os caminhos para o bem-estar comum.
O autor ainda diz que quando jogamos cooperativamente também
descobrimos que é possível criar diversas possibilidades de participação e inclusão
através da reconstrução gradativa de regras e estruturas básicas do jogo.
Para Guillermo Brown (1994), o jogo cooperativo tem diversas características
libertadoras, muito coerentes com o trabalho em grupo:
Libertam da competição: a meta é que todos alcancem um objetivo comum, desta
forma assegura-se que todos participem sem se preocupar em ganhar ou perder, o
principal interesse está na participação.
Libertam da eliminação: o jogo cooperativo busca a integração de todos, incluir e
não excluir, ao contrário de muitos jogos que tem como foco eliminar e desvalorizar
os mais fracos, mais lentos, pouco hábeis, etc.
Libertam para criar: as regras são flexíveis, onde os participantes podem contribuir
para mudar o jogo, bem como construir ou adaptar aos recursos existentes.
Libertam da agressão física: busca-se eliminar estruturas que direcionam a agressão
contra os outros e qualquer contato físico do tipo destrutivo, adaptando jogos já
conhecidos, dando menor importância ao resultado final.
Uma das melhores definições sobre os jogos cooperativos foi descrita por
Brown, onde baseado na proposta de Terry Orlick sobre o assunto, resume suas
principais características:
Como é o jogo cooperativo? A gente joga com os outros e não contra os outros. Joga para superar desafios ou obstáculos e não para vencer os outros. Busca a participação de todos. Dá importância a metas coletivas e não a metas individuais. Busca a criação e a contribuição de todos. Busca eliminar a agressão física contra os outros. Busca desenvolver atitudes de empatia, cooperação, estima e comunicação. (BROWN, 1994, p. 25)
Diante da definição apresentada anteriormente, pode se destacar a
importância de trabalhar os jogos cooperativos na escola para criarmos uma cultura
de paz entre nossos educandos. Entende-se que a escola é o melhor lugar, depois
da família, para desenvolver valores humanos. Assim, sendo a escola a raiz da
sociedade, será possível sonharmos com uma sociedade mais justa e cooperativa.
2.2 A convivência entre colegas de turma
A palavra convivência tem como significado popular o modo de vivermos na
companhia do outro. Para ter uma boa convivência, necessita-se de um
relacionamento pacífico e harmonioso entre o sujeito e o grupo ao qual pertence,
bem como com outros grupos em um mesmo espaço.
Para Brotto (2001), somente pela boa convivência melhoramos a qualidade
de nossas relações interpessoais e sociais. Assim, aprimoramos nossa capacidade
de desenvolver formas para resolver divergências comuns e automaticamente
melhoramos tanto a nossa qualidade de vida tanto a dos indivíduos que nos cercam.
Muito se fala que o ser humano é um ser social. Para crianças e
adolescentes, pertencer a um grupo é condição necessária, para a aprendizagem
social. Neste sentido, Valter Bracht (1992, p.74) afirma que a “socialização significa
o processo de transmissão dos comportamentos socialmente aceitos”. Bem como
direciona a compreensão de normas de comportamento e valores que tornam o
indivíduo capaz de agir em sociedade. Em conformidade com o assunto, Piaget nos
diz:
“A sociabilidade do adolescente, afirma-se muitas vezes, desde o início, com o contato dos jovens entre si.” (PIAGET, 1999, p. 63)
Segundo Diane Papalia e Sally Olds (1981), o tempo que crianças e
adolescentes passam com amigos normalmente são bem aproveitados. É nesses
grupos que o indivíduo entende como se posicionar perante aos outros, pois muitas
vezes é analisando a opinião dos outros que se formam as próprias. Desta forma, os
grupos também ajudam a filtrar atitudes e valores, normalmente adquiridos na
família. No entanto, é necessário pertencer ao grupo, mas não ser regido por ele. As
autoras ainda citam os estudos de Lawrence Kolberg que apresenta os estágios de
raciocínio moral, onde enquadra indivíduos de 10 a 13 anos num nível chamado de
moralidade de conformidade ao papel convencional:
Nesta fase as crianças querem agradar outras pessoas. Ainda observam os padrões que essas pessoas têm, mas os internalizam até certo ponto. Agora querem ser consideradas boas por aqueles cujas opiniões têm valor. São capazes de assumir os papéis das figuras de autoridade suficientemente bem para decidir se alguma ação é boa de acordo com seus padrões. (KOLBERG, 1976 apud PAPALIA e OLDS, 1981, p. 339)
Na escola observa-se que os principais problemas de convivência são as
dificuldades de relacionamento em virtude da inversão de valores morais e sociais,
onde o ter é melhor que o ser, onde a competição para ser melhor que o outro em
tudo é imprescindível na escala de valores.
Estas dificuldades, segundo Soler (2008), são consequentemente geradoras
de conflitos e até mesmo de agressividade. Nesta perspectiva, em nossos dias, uma
das principais preocupações da escola é a agressividade, pois esta se torna um
agravante para a violência. Em virtude disso, é possível afirmar que a escola
necessita além de ensinar a ler, escrever e calcular, estar preocupada em ser um
elemento de mudança, ensinando valores humanos essenciais, pois tem um grande
poder de transformação. Quem faz parte da escola tem a missão de mudar,
oportunizando ao aluno uma melhor consciência em relação ao outro,
consequentemente abrangendo a sociedade como um todo.
Acredita-se que as aulas de Educação Física sejam fundamentais neste
processo de aprendizagem. Após diversos estudos na área das habilidades sociais,
a psicóloga e pesquisadora Zilda Del Prette (2001, p. 129) afirma que nas aulas de
Educação Física, “identifica-se a existência de algumas condições objetivas e já
disponíveis para promoção de habilidades sociais no contexto escolar”. Sugere
também, através destes estudos, que a implementação das habilidades sociais em
sala de aula estabelece uma possível direção para a desejada relação entre
desenvolvimento e aprendizagem na escola.
No entanto, segundo Brotto (2008), devemos analisar a forma como as
atividades são oferecidas para as crianças. Normalmente vemos jogos cheios de
agressividade, onde o principal objetivo é vencer a qualquer custo, mesmo sendo o
fracasso do outro a base disso. Neste meio as crianças aprendem a zombar dos
perdedores, onde obstinados ao resultado final que é vencer, já não usufruem da
alegria presente nos jogos. Pois se sabe, que também é por meio dos jogos que as
crianças se preparam para sua vida adulta.
Como já mencionado, é na escola que encontramos algumas das principais
divergências na convivência entre crianças e adolescentes. Neste sentido, a escola
precisa estar atenta para que os limites da tolerância sejam respeitados, não
permitindo que a agressividade, seja ela física ou verbal, prevaleça. Para tanto, é
necessário estar disposta para acompanhar o aluno que enfrenta dificuldades mais
severas na convivência com os colegas.
Da mesma forma, é necessário que a criança ou o adolescente seja capaz de
perceber suas limitações para então aperfeiçoar suas relações pessoais refletindo
na melhoria de sua autoestima. Neste sentido Del Prette afirma:
(...) desenvolver entre outras, as habilidades sociais tais como as de lidar com a raiva do outro, com provocações e chacotas, com críticas e recusas, de mediar conflitos, resolver problemas interpessoais e apresentar alternativas à agressão, além de habilidades empáticas e formas adequadas de recusar, expressar desagrado, criticar, discordar, etc. (DEL PRETTE, 2001, p.128).
Logo, agindo desta forma, a convivência entre amigos e colegas de turma
seria considerada mais adequada. Da mesma forma, em conformidade com a
citação, considera-se a assertividade, a empatia e a resiliência capacidades
fundamentais para a melhoria das habilidades sociais.
Por fim, é coerente citar Piaget, onde afirma que o fundamental para o ser
humano viver em harmonia é a busca do bom senso:
“Na realidade, a tendência mais profunda, de toda atividade humana é a marcha para o equilíbrio. E a razão – que exprime as formas superiores deste equilíbrio – reúne nela a inteligência e a afetividade.” (PIAGET, 1987, p. 65).
3 METODOLOGIA
O projeto em questão foi implementado com a turma do sexto ano “A” do
Colégio Estadual Duque de Caxias, no município de Saudade do Iguaçu – PR, com
aproximadamente 25 alunos participantes.
A metodologia da presente pesquisa baseou-se em uma abordagem
qualitativa, pois esta, de acordo com Gerhardt e Silveira (2009), não se preocupa
com a representatividade numérica, mas com o aprofundamento da compreensão de
um grupo social, buscando explicar o porquê das coisas, explanando o que
convenciona ser feito, mas não medindo os valores. Da mesma forma, o
procedimento foi a pesquisa-ação que, segundo Engel (2000), se considera um tipo
de investigação que procura unir a pesquisa teórica à prática, ou seja, desenvolver a
informação e a compreensão como parte da prática. Além disso, objetiva a
resolução de um problema coletivo, onde o pesquisador estará envolvido de forma
cooperativa ou participativa. A Produção Didático-pedagógica, bem como a sua
implementação na escola, se desenvolveu em uma linha sociointeracionista, que
segundo Vygostsky (2002) defende a interação do sujeito com o meio numa postura
ativa e interativa. Uma das bases da teoria é a zona de desenvolvimento proximal,
que de acordo com o autor:
“ (...) abrange todas as funções e atividades que a criança ou o estudante
consegue desempenhar apenas se houver ajuda de alguém. Esta pessoa
que intervém para orientar a criança pode ser tanto um adulto (pais,
professor, responsável) quanto um colega que já tenha desenvolvido a
habilidade requerida”. (VYGOSTSKY, 2002, p. 04)
Em conformidade com o assunto, se percebe a linha sociointeracionista
semelhante ao trabalho com os jogos cooperativos, pois os mesmos só poderão ser
assim considerados se houver a cooperação entre dois ou mais colegas.
3.1 A implementação: reflexão sobre as atividades desenvolvidas
As atividades apresentadas no projeto foram desenvolvidas durante o
primeiro semestre do ano letivo de 2014, iniciando em fevereiro e finalizando em
junho, totalizando aproximadamente 32 horas-aula. O projeto foi subdividido em
etapas, onde foram realizadas diversas atividades relacionadas com os objetivos
específicos de cada uma das etapas e com o objetivo geral do projeto.
A primeira etapa do projeto, executada em duas aulas, denominou-se como
“Sensibilização – Conhecendo o professor e os novos colegas”. Por ser a primeira
aula do ano letivo com a turma, aconteceu a apresentação pessoal do professor e
alunos. Na oportunidade, também foi explicado de forma resumida o
desenvolvimento do projeto. Esta etapa foi executada em duas aulas, onde por ser a
primeira aula do ano letivo com a turma, aconteceu a apresentação pessoal do
professor, doas alunos e também foi explicado de forma resumida o
desenvolvimento do projeto. Na sequência, foram desenvolvidas as vivências:
Autógrafos, Teia, Estou aqui por que... e Inspira, expira. Neste primeiro contato com
a turma, onde o objetivo principal foi a apresentação pessoal do professor e alunos,
bem como o entrosamento entre os mesmos, os resultados foram excelentes, pois
em todas as atividades apresentadas obteve-se a participação ativa de todos os
alunos da turma, percebendo desta forma, uma clara melhoria na descontração e no
entrosamento entre os colegas.
A segunda etapa, denominada Conhecendo o projeto, foi desenvolvida em
três aulas e considerada de grande importância, pois constituiu-se como o primeiro
contato teórico dos alunos com o tema jogos cooperativos e convivência.
Inicialmente foi entregue aos alunos um questionário diagnóstico, que segundo
Severino (2007, p. 125) “destina-se a levantar informações escritas por parte dos
sujeitos pesquisados”. O mesmo foi desenvolvido com o propósito de conhecer os
anseios, os conhecimentos sobre o tema jogos cooperativos e principalmente o nível
de convivência entre os educandos. O questionário foi respondido pelos 22 alunos
que compareceram à aula no dia da realização da atividade. Alguns aspectos
considerados relevantes foram que pouco mais da metade dos alunos (12)
conheciam os jogos cooperativos, grande parte gostava de sua nova turma, porém a
maioria considerava ter afinidade apenas com pequenos grupos de colegas.
Na sequencia, aplicou-se a atividade “Levantamento de expectativa” e a
apresentação do projeto, onde foram expostos aos alunos, os temas do projeto que
são os jogos cooperativos e a convivência na escola. Durante a apresentação foram
exibidos conceitos tanto dos jogos cooperativos como da boa convivência entre
colegas de forma descontraída, com utilização de imagens e pequenos vídeos que
refletem a importância do trabalho em equipe e a cooperação. Neste contexto foi
fundamental realizar uma apresentação sintética, contudo bastante coerente. Em
seguida, os alunos vivenciaram a atividade “Aprendendo conceitos”, a qual foi
desempenhada com bastante interesse entre os participantes. Durante o trabalho
desenvolvido em pequenos grupos, foi possível observar o bom entrosamento entre
os mesmos durante a realização da atividade.
Callado (2004) sugere vivências como rodas de conversas, caixa correio da
paz, entre outras, para promover condutas positivas nas aulas de Educação Física,
reforçando entre os alunos as condutas básicas para uma boa convivência. As
atividades são de curta duração, desenvolvidas sempre ao final das aulas que,
segundo o autor, apresentam grande eficácia quando postas em prática. Ao final de
cada aula, foi realizada uma roda de conversa, onde o assunto era uma reflexão
sobre as atividades realizadas no dia, bem como a reinteração dos objetivos de cada
atividade.
A terceira etapa, denominada “Conhecendo a si mesmo” foi desenvolvida em
três aulas e foram desenvolvidas vivências com o objetivo de conduzir o aluno a
uma reflexão sobre suas atitudes, bem como melhorar a consciência corporal e o
autoconhecimento, desta forma, todas as atividades foram realizadas
individualmente.
Inicialmente foi entregue aos alunos um texto para que respondessem
individualmente os dados pessoais, gostos, objetivos e atitudes relacionadas à vida
pessoal. O professor explicou que o texto não seria apresentado aos demais, no
entanto, alguns alunos pediram para ler suas produções aos colegas, desta forma
ocorreu o compartilhamento conforme solicitado pelos interessados. O principal
objetivo da atividade era uma reflexão em relação ao autoconhecimento. Todos os
alunos completaram o texto com bastante interesse.
Na segunda atividade “Compreendendo as diferenças” foi apresentada uma
montagem em vídeo com recortes do filme “Dumbo” aos alunos. O vídeo, apesar de
ser conhecido por boa parte dos alunos, emocionou-os bastante. Após a exibição,
uma roda de conversa constituiu-se e aconteceu um debate sobre as diferenças e os
valores de cada um. Muitos alunos contribuíram com suas opiniões e vários
descreveram situações parecidas onde foram alvos de chacotas entre colegas, onde
se percebeu que muitos já possuem uma visão negativa de si mesmo.
Segundo Freire (2003), a idade de onze anos é uma das fases mais bruscas
da vida, pois é, em média, o início da puberdade, que é um período de grandes
transformações em praticamente todos os aspectos, sejam elas físicas, intelectuais,
morais ou sociais. Naquele momento, houve uma conversa sobre a importância de
compreender as diferenças e que as pequenas imperfeições devem ser aceitas, pois
fazem parte do ser humano, bem como em relação ao não apontamento das
diferenças dos outros como piada ou preconceito. Um dos alunos expressou uma
opinião relevante: “quase todos os adolescentes ficam meio esquisitos no começo,
depois quando são adultos ficam mais bonitos”. Diante da situação, ressaltou-se a
necessidade da compreensão de que todos na idade em que a turma se encontra
estão iniciando uma transformação corporal que prosseguirá por alguns anos.
Depois de encerrada a roda de conversa, foi realizada a atividade prática
“Congela”, que por ser uma atividade com música cativou bastante os alunos. Para
Gainza (1988), a música é um componente de essencial importância, pois
movimenta, mobiliza e por isso colabora para a transformação e o desenvolvimento.
A música fez transcender emoções positivas entre os participantes, desta forma
todos participaram com ênfase da atividade. Como atividade de volta à calma, foi
desenvolvida a atividade “Alongamento e automassagem”, onde acompanhado de
música relaxante, o professor coordenou um alongamento seguido de uma
automassagem na sola dos pés. Inicialmente a massagem foi motivo de muita
risada, no entanto, com a retomada do professor, tomou seu propósito que era
relaxar. Ao encerrar esta etapa constatou-se que os principais objetivos foram
alcançados, principalmente em relação ao autoconhecimento, a consciência corporal
e o respeito às diferenças.
Segundo Callado (2004), nosso objetivo é ampará-los, desde o primeiro
momento, para que compreendam os aspectos positivos da sua individualidade e
que se percebam que são muito mais em qualidade do que eles idealizam como
negativos.
Na quarta etapa denominada “Convivendo com o outro”, desenvolvida em três
aulas, as vivências foram realizadas em duplas. O trabalho inicial de contato com os
colegas de turma e as atividades foram de grande importância para as etapas
seguintes, pois ocorreu aos poucos a melhora no convívio com diferentes colegas da
turma, trabalhando o respeito pelas diferenças e limitações do outro. Apenas na
primeira atividade, foi permitido que os alunos escolhessem suas duplas, depois em
cada atividade realizada constituíram-se novas duplas através das sugestões
apresentadas na unidade didática. Num primeiro momento, os alunos não gostaram
da forma estabelecida, contudo após conversa sobre a importância de se
relacionarem com vários ou todos os colegas, houve uma maior aceitação. Segundo
Callado (2004), é grande a tendência de alguns alunos trabalharem sempre com os
mesmos colegas, porém mesmo sendo algo normal é necessário mostrar aos alunos
a importância de trabalhar com colegas diferentes.
Após a organização das duplas, a primeira vivência foi “O barro e o escultor”,
onde um dos colegas que era o escultor moldaria o colega (o barro) conforme sua
criatividade. Todos participaram com ênfase, porém foi necessária a intervenção em
relação ao uso de gestos inadequados por parte de alguns participantes e também
foi observado que alguns alunos não queriam tocar nos colegas ou não serem
tocados. Após conversa, tudo ocorreu conforme planejado na atividade. Na atividade
seguinte “Levante-se” foi necessária uma divisão das duplas por ordem de tamanho,
para facilitar o desenvolvimento da mesma, pois em duplas, de costas um para o
outro e de braços dados, era necessário que levantassem sem apoiar-se no chão.
Grande parte das duplas conseguiu executar a tarefa sem problemas, apenas duas
duplas precisaram de auxílio dos colegas para concluir. Importante lembrar que para
Brown (1994, p.40) a superação de desafios apresentados ao grupo “necessita-se
da colaboração de cada um dos participantes, não somente dos melhores, dos mais
fortes ou dos mais ágeis”.
Na sequência, a atividade “Anjo da guarda” foi o ponto alto da etapa, onde
depois de divididas as duplas, um dos colegas foi vendado e posteriormente
conduzido pelo outro pelo pátio do colégio. Inicialmente os alunos foram orientados
sobre a responsabilidade dos condutores e da confiança dos “cegos” nos
condutores. A confiança nos jogos cooperativos é preciosa, pois segundo Brown
(1994, p.40), “esperança, confiança e comunicação são características dos jogos
cooperativos”. Mesmo assim houve muita insegurança por parte de alguns alunos
vendados, mas o professor acompanhou e incentivou os mesmos para que fossem
confiantes. Após o tempo estabelecido, aconteceu uma troca de papéis, onde o cego
passou a ser condutor e vice-versa. Ao final da atividade, uma roda de conversa
estabeleceu-se para a exposição de sentimentos em relação à atividade. Alguns
alunos descreveram que sentiram bastante insegurança diante da possibilidade de
ser “sacaneado” pelo colega que o conduzia. Diante disso, foi aproveitado o ensejo
para conversar sobre a importância das boas atitudes no dia a dia perante os
colegas para conquistar a confiança dos mesmos. Após a conversa, assistiram ao
vídeo “Parcialmente nublado: a amizade é tudo”, almejando a percepção sobre a
importância da cumplicidade e de uma amizade verdadeira. Após o vídeo foi
realizada uma nova roda de conversa onde os alunos fizeram vários comentários
sobre o vídeo, inclusive citando fatos semelhantes, vivenciados pelos mesmos no
cotidiano. Finalizando a etapa, foi realizada a atividade “Padeiro” que consistia em
fazer uma massagem nas costas do colega da dupla, orientados pelo professor.
Apesar das risadas, a atividade foi desenvolvida conforme planejada, onde se
percebeu um contato maior entre os colegas, sem maiores problemas em tocar no
outro como nas primeiras atividades. Desta forma, constatou-se que as atividades
alcançaram os objetivos propostos.
Na etapa “Elaboração do material pedagógico alternativo”, desenvolvida em
duas aulas, foi elaborado e confeccionado os materiais alternativos que foram
utilizados no decorrer do projeto. Esta atividade foi desenvolvida em conjunto com a
professora de arte, onde tinha como objetivos além de desenvolver o material,
estimular o trabalho em grupo e aperfeiçoar a capacidade criativa.
Os alunos foram divididos em quatro grupos, onde através de sorteio cada um
ficou responsável pela confecção de um dos materiais sugeridos pelos professores,
que eram: a “Caixa correio da paz” que consistia em decorar uma caixa com recortes
para usar como correio de mensagens para os colegas e professores; o “Painel
cooperativo” desenvolvido como um painel que posteriormente foi fixado na parede
da sala onde ficou disponível para recados, mensagens e fotos sobre o projeto. O
“Painel das estrelas” era um painel onde o professor foi colando as estrelas que a
turma conquistou pela ótima participação e colaboração durante as aulas. Por fim, o
“Quebra-cabeça gigante” que foi utilizado na gincana cooperativa ao final do projeto.
A colaboração dos alunos nesta atividade foi espetacular, houve a troca voluntária
de materiais e equipamentos entre os alunos, bem como a cooperação da
professora de arte que conduziu as atividades com sugestões e orientações, sempre
respeitando a opinião dos alunos. Como resultado, os trabalhos ficaram ótimos e
foram utilizados durante todo o projeto, inclusive após o encerramento do mesmo.
Na quinta etapa, denominada “Cooperando em pequenos grupos”, as
atividades foram desenvolvidas em seis aulas e eram realizadas em pequenos
grupos de três a oito participantes, dependendo da atividade. Os objetivos da etapa
eram aperfeiçoar a relação interpessoal através da formação de grupos diferentes
do habitual e possibilitar o contato entre colegas proporcionando novas amizades.
Desta forma, a cada atividade foram formados novos grupos, apresentando novas
possibilidades de contato entre os colegas. A partir desta etapa, os jogos
cooperativos passaram a ser muito evidentes em todas as atividades, pois todas
tinham como meta criar possibilidades cooperativas para resolução de problemas.
Segundo Callado (2004), devemos reforçar a seriedade de pertencer a um
grupo e juntos conseguir objetivos cada vez maiores. Assim sempre que um
companheiro for ajudado pelo grupo a superar seus limites, entenderá que pertence
ao grupo. Esta compreensão é muito importante para a compreensão autêntica do
projeto.
As vivências desenvolvidas foram: “Cada apito um grupo”, “Cadeirinha
amiga”, “João confiança”, “Ordem no banco”, “Alguém tem que ceder” (vídeo),
“Transporte com bastões”, “Espaguete humano”, “Lápis na garrafa”, “Aro de fogo”,
“Teia Gigante” e “Amizade verdadeira” (vídeo). A etapa serviu de adaptação ao
grande grupo. No entanto, os pequenos conflitos, que já eram esperados surgiram,
pois em grande parte das atividades, alguns alunos não percebiam as vivências
como atividades cooperativas e sim como uma competição entre grupos. Ou seja,
cooperavam no seu grupo, mas competiam com os outros. Desta forma, foi
necessária a mediação do professor diversas vezes, inclusive interrompendo a
atividade para uma necessária roda de conversa. Também pode se observar alguns
pequenos desentendimentos entre os colegas de grupo, por não haver concordância
entre os mesmos em determinadas atividades. Da mesma forma, houve intervenção
do professor, mas como mediador para que os mesmos fossem capazes de resolver
seus próprios conflitos.
Estas divergências foram necessárias para se chegar a um ponto comum
entre os participantes em várias vivências. No entanto, foi percebido que a cada
vivência realizada, melhorava o entrosamento nos pequenos grupos e aos poucos
podia se ouvir alguns alunos alertando os colegas de grupo que não era competição.
Um fato relevante foi durante a realização da atividade “Aro de fogo”, que
consistia em passar por um arco pendurado, sem encostar-se ao mesmo. Desta
forma, pelo fato do arco estar aproximadamente a altura do peito dos participantes,
os alunos concluíram que era necessário carregarem os colegas enquanto
atravessavam o arco. Neste momento uma das alunas começou a chorar e sentou-
se ao lado da quadra. Emoções que os jogos cooperativos fazem muitas vezes
florescerem, por isso sua importância no processo educacional. Ao conversar com a
mesma, constatou-se que se considerava obesa e achava que seria alvo de
chacotas dos colegas, pois os mesmos não conseguiriam levantá-la para
desenvolver a atividade. Enquanto o professor conversava com a aluna,
surpreendentemente os colegas do grupo vieram até onde a mesma estava e
convenceram-na a tentar desenvolver a atividade. Um dos colegas sugeriu a ajuda
do professor, desta forma o auxílio foi aceito e a atividade concluída com êxito.
Brown (1994, p.13) nos diz que “se de fato queremos fomentar valores
humanos que impliquem respeito à pessoa, que incentivem relações pessoais
justas, então nossas ações devem se coerentes com esses valores”. Assim conclui-
se que esta etapa foi muito proveitosa, pois a participação dos alunos foi excelente.
A escolha das atividades foi acertada, pois durante o desenvolvimento das mesmas
percebia-se um grande êxito entre os alunos ao realizá-las. Apenas a atividade
“Transporte com bastões” não foi realizada, pois os bastões disponíveis na escola
não apresentavam segurança para o desenvolvimento da atividade. No entanto,
foram providenciados novos materiais para a realização da gincana cooperativa ao
final do projeto.
A sexta etapa denominada “Convivendo no grande grupo”, desenvolvida em
dez aulas, foi o ápice de uma sequência pedagógica, pois considerou-se que todo o
trabalho realizado até então foi uma preparação para esta etapa, onde foi destacada
a real adaptação de todos ao grande grupo. Os objetivos de aprimorar a convivência
entre colegas de turma, resolver pequenos conflitos, recriar atividades e também
estabelecer estratégias em grupo foram em grande parte atingidos. Brotto (2004,
p.54) nos diz que “jogando cooperativamente temos a chance de considerar o outro
como um parceiro, em vez de tê-lo como adversário, operando para interesses
mútuos e priorizando a integridade de todos”. Desta forma foi muito importante o
entrosamento no grande grupo e a inclusão de todos os alunos para o bom
andamento das atividades.
As vivências realizadas nesta etapa foram: “Sessão de cinema: A fuga das
galinhas”, “A fuga”, “Dança das cadeiras cooperativas”, “Pessoa para pessoa”,
“Triângulo cego”, “Máquina humana”, “Navegar é (im) possível”, “Volençol”,
“Atravessar o grande rio minado”, “Aceitando as diferenças (vídeo Patinho Feio)”,
“Dança circular”, “Ritual do círculo mágico”. Diante das atividades programadas
apenas a atividade “A fuga” não aconteceu, por a escola não possuir um espaço
seguro para a realização da mesma. Também a vivência “Triângulo cego” que
consistia em transformar um círculo com as mãos seguras em uma corda num
triângulo, porém com os olhos vendados. Assim que se iniciou a atividade,
percebeu-se que a dificuldade para atingir o objetivo proposto, era muito complicada
para a faixa etária. A atividade foi reiniciada com a proposta de um dos alunos em
desenvolvê-la sem as vendas. Desta forma, a atividade foi concluída com êxito,
mesmo sendo recriada de acordo com as possibilidades dos participantes. As
atividades “Navegar é (im) possível” e “Atravessar o grande rio minado” foram as
atividades que mereceram atenção especial por serem bastante complexas e
necessitarem estratégias elaboradas pelos participantes antes de iniciarem a
atividade. Para surpresa e satisfação, a turma foi capaz de realizar as tarefas de
forma condizente com o previsto, apresentando estratégias bastante coerentes.
Depois de realizadas as vivências desta etapa percebeu-se que a turma se adaptou
aos jogos cooperativos, onde era necessário discutir com o grupo estratégias
coerentes para atingir os objetivos propostos pela atividade, sempre levando em
consideração a participação de todos, apesar das limitações de alguns. Foi possível
perceber alguns líderes positivos na turma, o que facilitou o desenvolvimento das
vivências de forma adequadas.
Na sétima e última etapa do projeto, denominada “Celebração da amizade”,
desenvolvida em cinco aulas, por compreender a importância de diversificar os
espaços para a realização das vivências, estava planejado um passeio com os
alunos, onde seria realizada uma gincana cooperativa e um piquenique cooperativo,
no entanto, diante da instabilidade do tempo que se apresentou frio e chuvoso por
várias semanas, as atividades foram desenvolvidas na quadra da escola, ficando o
passeio transferido para outra época. Esta mudança nos planos não tirou o brilho do
encerramento do projeto, pois a participação dos alunos na gincana cooperativa foi
excepcional, onde todos participaram de acordo com o planejado.
Na aula anterior à gincana, foram organizadas as equipes e toda a sequência
de atividades aplicadas, não havendo aparentemente insatisfações ao serem
divulgados os componentes de cada grupo. Conforme combinado anteriormente, foi
escolhido um nome para a equipe, e cada uma poderia sugerir atividades (provas)
para a gincana. Todas as sugestões foram vivências já desenvolvidas no projeto. O
professor elaborou quatro atividades e como foram formados apenas quatro grupos,
as atividades sugeridas pelas equipes permaneceram. Os alunos escolheram as
seguintes atividades: “Ordem no banco”, “Volençol”, “Lápis na garrafa” e “Aro de
fogo”. Também foram apresentadas pelo professor as atividades: “Transporte com
bastões”, “Espaguete humano”, “Teia Gigante” e “Dança circular”.
A gincana cooperativa foi realizada na quadra de esportes da escola, onde
foram montadas oito estações. Em cada estação era desenvolvida uma das
atividades descritas acima e as equipes faziam um rodízio entre as mesmas. Ao
desempenharem a tarefa proposta, conquistavam algumas peças de um quebra-
cabeça gigante, quando completaram todas as provas, cada equipe tentou montar
seu quebra-cabeça, no entanto perceberam que as peças que possuíam não eram
suficientes para a conclusão da tarefa. Um dos alunos sugeriu que fosse permitida a
troca de peças e uma das alunas fez outra sugestão, onde todos pudessem juntar as
peças para montar o quebra-cabeça completo. Foi “autorizado” a união dos grupos e
após a conclusão da atividade, todos aplaudiram satisfeitos com o resultado. O
principal objetivo da gincana era este, que todos se unissem para concluir esta
“celebração da amizade”. Na sequência foi realizado o piquenique cooperativo, onde
cada um trouxe um lanche para ser compartilhado com os colegas, esta atividade
aconteceu no saguão da escola e foi um momento de confraternização entre os
colegas participantes do projeto.
Depois de realizadas todas as atividades propostas na Produção Didático-
Pedagógica, os alunos responderam novamente o questionário diagnóstico,
realizado no início do projeto. Através da comparação dos questionários respondidos
pelos alunos no início e no final do projeto, pode-se constatar que todos os
participantes passaram a conhecer os jogos cooperativos. Ainda afirmaram que
compreenderam que os jogos cooperativos servem para não excluir os colegas das
atividades como também auxiliaram numa aproximação por terem uma afinidade
maior com os colegas após o desempenho das atividades em relação ao início do
projeto.
De forma paralela ao processo de implementação, também foi protagonizado
a tutoria do GTR (Grupo de Trabalho em Rede), junto a outros professores da
disciplina de Educação Física da rede pública do Paraná, ativos em diversas regiões
do estado, permitindo conhecer realidades e perspectivas diferentes que contribuirão
para o enriquecimento e fortalecimento na implementação da prática docente. A
participação dos cursistas nas atividades do GTR (Grupo de Trabalho em Rede) foi
extremamente valiosa, onde se percebeu através das considerações expostas, que
todos têm como objetivo melhorar sua prática pedagógica no ensino da Educação
Física.
“(...) por meio do conteúdo estruturante jogos e brincadeiras, conseguimos oportunizar, trabalhar e desenvolver todos os escolares na participação e convivência com os outros, pois, “os participantes jogam uns com os outros, ao invés de uns contra os outros” (DEACOVE,1974 apud BROTTO, 2001, p.54). Esse conteúdo nos proporciona liberdade de construir objetivos que vão ao encontro das dificuldades apresentadas pelos estudantes em sala de aula e quadra nas diversas esferas de aprendizagem, socialização, desenvolvimento psicológico e motor, entre outros.” (N. F. GTR-2014)
Através do depoimento dos participantes foi possível observar que o estudo
proporcionou uma apropriação do tema jogos cooperativos e a convivência na
escola, apresentando nas discussões uma grande preocupação com a boa
convivência de nossos educandos na escola. O comprometimento com o trabalho foi
espetacular, portanto é possível considerar que todas as contribuições foram muito
importantes e bastante pertinentes em relação ao tema trabalhado.
“(...) acreditar que a vida humana deve ser colocada acima de tudo. Nada deve ser mais importante que a vida humana e no nosso caso de preparar nossos alunos para serem pessoas que valorizem suas vidas e as dos outros. O jogo é o que o vocabulário científico chama de atividade lúdica, assim, concordo com Huizinga e Santim também, quando afirmam que o lúdico humaniza o humano e jogando de forma espontânea e lúdica, nos tornamos pessoas melhores.” (O. Z. GTR-2014)
Assim é possível constatar através das contribuições, que os participantes do
GTR compreenderam a importância dos jogos cooperativos para a construção de
uma Educação Física mais humanizada, capaz de contribuir positivamente para a
vida dos educandos. Esta permuta de experiências entre docentes é muito
apropriada para o refinamento do trabalho nas salas de aula, pois são reais e
pautam-se nas cobranças diárias do trabalho nas diferentes comunidades escolares.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O trabalho desenvolvido no PDE proporcionou uma mudança considerável na
forma de perceber as possibilidades que a Educação Física apresenta em relação
às práticas pedagógicas. Com a elaboração do Projeto de Intervenção Pedagógica e
da Produção Didático-Pedagógica, foi possível desenvolver uma boa fundamentação
teórica sobre o tema de estudo, ou seja, os jogos cooperativos e a convivência, bem
como conhecer novas práticas pedagógicas e metodologias inovadoras que poderão
ser desenvolvidas em nosso dia a dia ou em outros momentos além do projeto.
Depois de realizada a implementação do projeto na escola, foi possível
perceber que embora os jogos cooperativos não eliminem totalmente a competição e
a agressividade entre colegas de turma, constatou-se que podem contribuir para
uma convivência mais harmoniosa e cooperativa entre os alunos. Após o
desenvolvimento do projeto, verificou-se a permanência de um ótimo relacionamento
entre professor e alunos assim como entre alunos colegas de turma. Partindo desta
constatação, pode-se entender que houve um bom resultado referente à
implementação dos jogos cooperativos na melhoria da convivência entre colegas.
Em resumo, é inquestionável que os jogos cooperativos assumem grande
importância como elemento educacional na Educação Física. Através deles
podemos criar e recriar regras com o propósito de permitir a participação de todos.
Para tanto, precisamos ter como referência o tipo de sociedade que se quer e se
necessário, intervir na reflexão do aluno em relação aos valores humanos.
Da mesma forma, acredita-se na necessidade de continuidade do trabalho,
mesmo que paralelo ao conteúdo programático das aulas de Educação Física, para
que haja uma conservação ou mesmo um aprimoramento dos resultados adquiridos.
Sugere-se que as vivências desenvolvidas no projeto sejam utilizadas também com
professores e funcionários da escola em reuniões pedagógicas, para que além de
melhorar a convivência entre os mesmos, possam ser simpatizantes dos jogos
cooperativos, desenvolvendo os mesmos em suas atividades no cotidiano. Também
poderá ser desenvolvido um trabalho com a família dos alunos, seja em reuniões de
pais, ou em eventos festivos realizados pela escola ou pela comunidade. Desta
forma se entende que haverá um compromisso maior da comunidade escolar com o
educando em referência à reconstrução dos valores e respeito pelas diferenças, na
tentativa de direcioná-los para uma vivência mais honrada.
É possível considerar que este trabalho num todo, levou-me a considerar
novas ações e reflexões em relação à prática pedagógica propriamente dita. Assim,
também é admissível perceber-se mais consciente de um perfil profissional docente
responsável e capaz de criar possibilidades de transformação no ambiente escolar.
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exercício de convivência. Santos: Projeto cooperação, 2001.
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